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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ JAQUELINE DA SILVA BORGES VOTO ECONÔMICO E CONTEXTO POLÍTICO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE BRASIL E MÉXICO CURITIBA 2012

VOTO ECONÔMICO E CONTEXTO POLÍTICO: UMA ANÁLISE ... · Os estudos de comportamento eleitoral, enquanto reflexo de uma conjuntura político-social, que perpassa por diversas transformações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

JAQUELINE DA SILVA BORGES

VOTO ECONÔMICO E CONTEXTO POLÍTICO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

DE BRASIL E MÉXICO

CURITIBA

2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

JAQUELINE DA SILVA BORGES

VOTO ECONÔMICO E CONTEXTO POLÍTICO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

DE BRASIL E MÉXICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná.

Orientadora: Profª. Drª. Luciana Fernandes Veiga

CURITIBA

2012

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AGRADECIMENTOS

Já diria Gonzaguinha que "toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras

tantas pessoas, e é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que

a gente vá". Reflexão esta que está presente em cada etapa que se finda em minha vida: não

trata-se de uma conquista sozinha, mas a soma de diversas pessoas que passam em nossas

vidas, de forma transitória ou não, e deixam um pouco delas no que somos e levam consigo

um pouco de nós.

Agradeço a Deus por me dar discernimento e sabedoria para enfrentar as dificuldades

inerentes a minha formação.

Aos meus pais que com sua enorme paciência e devoção tornaram possível tudo isso.

O voto de confiança fez (e faz) toda a diferença em minha caminhada.

À minha orientadora Luciana Fernandes Veiga, que tornou essa trajetória acadêmica

prazerosa, carregada de aprendizado e de descontração. É muito gratificante ser bolsista de

uma profissional de tal qualidade.

Agradeço ao Renato Monseff Perissonotto, por me apoiar institucionalmente nesta reta

final, ao aceitar ser meu co-orientador.

Aos professores de Núcleo do Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública,

Emerson Urizzi Cervi e Nelson Rosário de Souza, ao qual também inclui minha orientadora,

Luciana Fernandes Veiga, que alem de espaço físico, me proporcionaram uma formação

científica que servirá de base para a construção de toda uma carreira profissional.

O agradecimento também se estende aos outros professores desta instituição de ensino

que direta, ou indiretamente fizeram parte de minha formação enquanto cientista social e me

apresentaram uma nova forma de compreender a realidade.

Aos amigos e amigas que propiciaram boas conversas de pátio ou de mesa de bar,

além de momentos de conforto, tornando possível o alcance de objetivos que por vezes

apresentavam um percurso estreito e cansativo. Com vocês todo o processo fica mais leve.

Em especial meus mais sinceros agradecimentos por tudo que representam em minha vida à

Jessica da Silva Borges, minha irmã-amiga, à Flávia Bozza Martins e Ellen da Silva, minhas

amigas-irmãs! Deixo registrado também meu agradecimento à Sandra Avi, que devotou

atenção, sempre disposta a estender a mão quando mais precisava.

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RESUMO

Os estudos de comportamento eleitoral, enquanto reflexo de uma conjuntura político-social,

que perpassa por diversas transformações no decorrer dos anos, tem o desafio de por em

prática suas premissas e estabelecer, se assim for o caso, novos quadros analíticos. A partir

desse panorama teórico-metodológico de estudos de comportamento eleitoral, este trabalho

tem por objetivo traçar os determinantes do voto no México em 2006 e no Brasil em 2010. A

fim disto, parte-se de preceitos da teoria da escolha racional conjugada com uma perspectiva

neoinstitucionalista, onde as normas institucionais não são importantes enquanto tais, mas

porque elas afetam o comportamento político. Assim, ao ter como variável dependente o voto

do presidente de ambos os países, averigua-se em que medida as variáveis institucionais se

mostram relevantes no vínculo que o eleitor estabelece entre desempenho de governo e voto

no incumbente. Estudos que visam apreender o comportamento eleitoral se apresentam como

relevantes quando se tem a problematização das democracias contemporâneas, inclusive

quando estas tem sua instauração recente, como é o caso dos países latinos em estudo. Para a

construção analítica foram utilizados banco de dados fornecido pelos “Comparative Study of

Electoral Systems” (CSES), referentes aos casos do Brasil (ano 2010) e México (ano 2006). A

análise permite inferir que os quadros institucionais e as regras eleitorais podem influenciar a

visão que o eleitor tem do meio político.

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SIGLAS PARTIDÁRIAS

Partidos do Brasil

DEM: Democratas

PCB: Partido Comunista Brasileiro

PCdoB: Partido Comunista Do Brasil

PCO: Partido Da Causa Operária

PDT: Partido Democrático Trabalhista

PEN: Partido Ecológico Nacional

PHS: Partido Humanista Da Solidariedade

PMDB : Partido Do Movimento Democrático Brasileiro

PMN: Partido Da Mobilização Nacional

PP: Partido Progressista

PPL: Partido Pátria Livre

PPS: Partido Popular Socialista

PR: Partido Da República

PRB: Partido Republicano Brasileiro

PRP: Partido Republicano Progressista

PRTB: Partido Renovador Trabalhista Brasileiro

PSB: Partido Socialista Brasileiro

PSC: Partido Social Cristão

PSD: Partido Social Democrático

PSDB: Partido Da Social Democracia Brasileira

PSDC: Partido Social Democrata Cristão

PSL: Partido Social Liberal

PSOL: Partido Socialismo E Liberdade

PSTU: Partido Socialista Dos Trabalhadores Unificado

PT: Partido Dos Trabalhadores

PTB: Partido Trabalhista Brasileiro

PTC: Partido Trabalhista Cristão

PTdoB: Partido Trabalhista Do Brasil

PTN: Partido Trabalhista Nacional

PV: Partido Verde

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Partidos do México

CDPPN: Convergencia por la Democracia Partido Politico Nacional

CONV: Convergência

PAN: Partido Acción Nacional

PAS: Partido Alianza Social

PRD: Partido de la Revolución Democrática

PRI: Partido Revolucionario Institucional

PSN: Partido de La Sociedad Nacionalista

PT: Partido del Trabajo

PVEM: Partido Verde Ecologista de México

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 8

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................... 10

2.1 Correntes clássicas de explicação do voto .................................................................................. 10

2.1.1 Escola de Michigan e explicação psicológica do voto ......................................................... 10

2.1.2 Perspectiva sociológica de explicação do voto .................................................................... 12

2.1.3 Avaliação econômica e explicação do voto: Teoria da escolha racional ............................. 13

2.2. Comportamento Político e Contexto Institucional ..................................................................... 16

3 ANÁLISE CONTEXTUAL ............................................................................................................... 24

3.1 BRASIL: Análise De Conjuntura do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) ......... 24

3.2 MÉXICO: Análise de Conjuntura do Governo de Vicente Fox Quesada (2000-2006) .............. 38

3.3. Síntese Comparativa ................................................................................................................... 48

4 ANÁLISE DE VOTO NO INCUMBENTE ...................................................................................... 54

4.1 Voto no Brasil em 2010 .............................................................................................................. 54

4.2 Voto no México em 2006 ............................................................................................................ 59

4.3. Comparativo ............................................................................................................................... 62

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 63

6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 65

7 ANEXOS............................................................................................................................................ 68

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1 INTRODUÇÃO

Com a proximidade de períodos eleitorais, a política passa a ocupar um espaço na

agenda diária da sociedade, que anteriormente, em sua maioria tem como foco preocupações a

vida doméstica. Tendo em vista este cenário peculiar e o papel desempenhado nas

democracias contemporâneas pelo individuo - que através de seu voto tem a possibilidade de

optar por determinado programa político-partidário e, assim, definir o quadro de agentes que

irão ocupar os cargos eletivos -, estudos que visam apreender os determinantes do voto se

fazem pertinente dentro do Campo da Ciência Política.

Tais estudos, enquanto reflexo de uma conjuntura política, social e econômica, que

perpassa por diversas transformações no decorrer dos anos, tem o desafio de por em prática

suas premissas e estabelecer, se assim for o caso, novos quadros analíticos. A partir desse

panorama teórico-metodológico de estudos de comportamento eleitoral, portanto, este

trabalho tem por objetivo verificar os determinantes do voto no México em 2006 e no Brasil

em 2010. A fim disto, parte-se das correntes clássicas de explicação de voto – sociológica,

psicológica e racional -, com maior enfoque para os preceitos da teoria da escolha racional e

intenta-se conjugá-la com uma perspectiva neoinstitucionalista, onde as normas institucionais

não são importantes enquanto tais, mas porque elas afetam o comportamento político.

Tendo por base a discussão traçada por Anderson (2000) e Powell e Whitten (1993),

far-se-á uso de conceitos como claridade de responsabilidade, claridade das alternativas

disponíveis e organização partidária que compõe determinada gestão. Ao considerar o eleitor

enquanto agente racional que tenderia a votar analisando retrospectivamente, punindo ou

recompensando o incumbente, espera-se que contextos com desenhos institucionais que

facilitam a compreensão da accountability tenham maior impacto da avaliação de governo na

direção do voto. Ou seja, aqueles onde há maior claridade de responsabilidade do governo,

claridade das alternativas disponíveis e maior é o tamanho do partido situacionista na base de

governo e no legislativo, haverá maior conexão entre avaliação de governo e voto no

incumbente.

Estudos que visam apreender o comportamento eleitoral se apresentam como

relevantes quando se tem a problematização das democracias contemporâneas, inclusive

quando estas tem sua instauração recente, como é o caso dos países latinos em estudo. Na

literatura há autores que apontam para a fragilidade institucional da América Latina, no

sentido de estabilização da democracia, tendo em vista a configuração sistema de governo

presidencialista e proporcional. Em contrapartida há estudos, como o de Mainwaring e

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Shugart (2002) que apontam para a fragilidade argumentativa de pesquisadores que exaltam o

sistema parlamentar, em relação ao sistema presidencialista – onde se enquadraria o sistema

político latino-americano-, na medida em que este ultimo pode ganhar contornos específicos,

tendo o vista o contexto social e político, como também o fato de a consolidação da

democracia também ser explicada pelo desenvolvimento do país e a presença de cultura

política. Assim, aprofundar esta discussão a respeito da relevância do desenho institucional e

atrelá-la à corrente explicativa do comportamento eleitoral aparece de forma profícua.

Para a construção analítica, alem de dados extraídos de sites oficiais, foram utilizados

banco de dados fornecido pelos “Comparative Study of Electoral Systems” (CSES), referentes

aos casos do Brasil (ano 2010) e México (ano 2006). Tem-se como principal vantagem o uso

de tais bancos sua devida abrangência, permitindo pesquisas que abranjam vários países da

América Latina e do mundo, entretanto, é falha ao limitar as possibilidades de variáveis a ser

empregadas em pesquisas. Como ocorre nesta pesquisa, a variável avaliação econômica,

sendo esta sociotrópica ou individual, presente no banco do Brasil, não se encontra disponível

no banco de dados do México, restringindo o estudo, neste país, à variável que mede a

satisfação com o governo. Todavia, é preciso lembrar que a satisfação com o governo é uma

variável explicativa clássica da Teoria da Racionalidade, sendo sempre muito pertinente o seu

uso.

Tendo isto, o trabalho se seguirá da seguinte maneira: a primeira seção tratará do

enfoque teórico, abordando a discussão a respeito das correntes clássicas de explicação do

voto, bem como dos preceitos da teoria neoinstitucionalista da escolha racional. Em um

segundo momento será feita a exposição de uma análise conjuntural do Brasil, de 2002 a

2010, e do México, de 2000 a 2006. Compreendendo a discussão teórica e o mapeamento dos

países expostos anteriormente, ter-se-á uma síntese comparativa a fim de explicitar a hipótese

deste trabalho. Na sequência será averiguado de que modo esta diferença institucional

explicaria o vínculo que o eleitor estabelece entre avaliação de governo e voto no incumbente.

Em vias de conclusão, buscará explicitar os principais achados no que diz respeito aos

determinantes do voto no Brasil e no México e quais discussões podem vir a suscitar.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Correntes clássicas de explicação do voto

Uma vez que o eleitor, em democracias contemporâneas, tem a possibilidade de optar

por determinado programa político-partidário, em eleições que ocorrem regularmente, e,

assim, definir o quadro de agentes que irão ocupar os cargos eletivos, estudos de

comportamento eleitoral se fazem pertinente dentro do campo da Ciência Política. Questões

que dizem respeito às motivações que levam as pessoas a votarem, e quais critérios fazem

com que o voto seja em determinada direção tem sido indagações, dentre outras possíveis, que

se tem intentado compreender. Além disso,

Explicar o voto (...) é o mesmo que revelar como variadas motivações e percepções

se agregam na opção por um candidato. (...) Nesse sentido, adquire particular relevo

o estudo das semelhanças ou diferenças no comportamento de distintas camadas

sociais, pois é na acentuada ou na neutralização das propensões destas que se

encontra quase sempre o cerne de uma estratégia eleitoral (Lamounier, 1978:14,

grifo no original apud Figueiredo, 2008, p. 17)

A fim de explicar os determinantes do voto vê-se, em meados do século XX, a

emergência de três correntes, sendo elas a corrente sociológica, corrente psicológica e a teoria

da escolha racional.

2.1.1 Escola de Michigan e explicação psicológica do voto

Na corrente psicológica de explicação do voto parte-se de um individualismo

metodológico para apreender o comportamento político. Ou seja, de acordo com o modelo de

Michigan, resultado de um trabalho liderado por Angus Campbell, tem-se por unidade de

análise o indivíduo ao qual caberia compreender as motivações que levam este à ação.

De acordo com esta corrente as motivações que levam o individuo a ação estariam no

nível psíquico, decorrente do ambiente social em que este está inserido, sendo a família uma

das principais bases estruturantes. As atitudes apresentariam, portanto, um caráter estável já

que, uma vez cristalizada em decorrência da socialização, o individuo tenderia a agir de modo

similar em diferentes contextos. Neste ponto, todavia, como a leitura de Figueiredo nos

mostra, Converse aponta que apenas em torno de 15% da população com altos níveis de

politização, em países desenvolvidos, apresentam um sistema de crença cristalizado

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(Figueiredo, 2008). Tendo em consideração a situação em que se encontra a maior parte da

população com sistema de crenças com baixa coerência, Converse sugere a verificação do

grau de centralidade e motivação para a política. Ainda que o nível educacional seja um

relevante indicador de nível de sofisticação conceitual, bem como o grau de centralidade de

temáticas publicas, averiguar o grau de motivação para a política com a estruturação do

sistema de crenças é mais assertivo.

Atentando, deste modo, que as atitudes, formadas por motivações psicológicas e

estabelecidas durante o processo de socialização política, sejam propensões em determinadas

direções, faz-se necessário apreender a motivação que leva a ação. Para isto faz-se importante

a teoria da alienação política behaviorista. Pelo viés da psicanálise, em Figueiredo (2008),

Robert Lane, defende que “(Alienação política) implica mais do que desinteresse; ela implica

em rejeição, no sentido psicanalítico do termo ’alienação’, mas não na versão marxista”

(Lane, 1962:162 apud Figueiredo, 2008, p.32).

Assim, Lane faz uso conceituação de Franz, onde a “[...] alienação política é a rejeição

consciente de todo o sistema político” (Figueiredo, 2008, p. 33), uma vez que não veem

através de sua ação uma mudança no cenário em questão. Esta alienação política, para este

autor, pode ser decorrente da “síndrome de três atitudes”, onde o individuo não se enxerga

enquanto sujeito, mas objeto passivo do sistema político, há falta de reconhecimento de seus

interesses nas pautas políticas e deslegitimação das regras que vigoram o meio político.

Outra linha de teoria de alienação política incorporada, pelos seguidores ao modelo de

Michigan, foi a psicologia social, iniciado em 1959 por um grupo liderado por Melvin

Seeman, e posteriormente por Joel Aberbach e Ada Finifler.

Tendo em mente, portanto, a “síndrome da alienação política” e a explicação

psicológica de constituição atitudinal, de forma sucinta, podemos intuir que

A síndrome “engajamento-alienação” constitui a predisposição ou propensão do

indivíduo para agir ou não; e o sistema de crenças constitui a predisposição ou

propensão do individuo agir em determinada direção. Estes dois ‘campos’

atitudinais não são estanques entre si, mas formam um ‘campo de forças

psicológicas’ interativas (Figueiredo, 2008, p. 38)

De tal modo, a teoria psicológica aposta no valor da ideologia e da identidade

partidária como explicação para o voto. Na ausência de ideologia e identidade partidária, os

temas da atualidade e a imagem dos candidatos ganham relevância. São exatamente estes

casos que se percebe maior volatilidade eleitoral.

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2.1.2 Perspectiva sociológica de explicação do voto

Uma segunda corrente clássica de explicação do voto é a de caráter sociológica que

tem em vista um modo de análise que tem por enfoque o coletivo para sustentar seus

pressupostos. Para ater-se, assim, a uma discussão de comportamento político caberia

apreender o cenário social e político ao qual o indivíduo está inserido, tendo em vista o papel

da interação social na dinâmica política (Figueiredo, 2008).

Neste modelo, o comportamento ou fenômeno a ser explicado depende da interação

social para a formulação de preferências que levarão, por consequência, o individuo à ação.

Para que este processo efetive-se, há três premissas sociológicas, regidas por leis

probabilísticas, que devem ocorrer: a) a dimensão social em questão não deve ser abrangente

a ponto de dispersar os membros e dificultar a interação social; b) quanto mais amplos forem

os grupos, menor será a probabilidade “[...] que dois indivíduos com diferentes características

sociais se encontram e interajam entre si” (Figueiredo, 2008, p.50); c) “[...] probabilidade

teórica de que duas opiniões ou comportamentos sejam concordantes, em uma mesma

dimensão” (idem, p.52).

Tais premissas garantem o poder preditivo desta corrente na medida em que se tem a

preocupação em relação a logísticas interacionistas, que é variável explicativa do

comportamento político, aos quais os grupos estão submetidos e meios que facilitam ou

dificultam a coesão deste.

Figueiredo aponta que esta corrente sociológica releva que

[...] de uma maneira geral as diferentes formas de participação política tem

‘diferentes causas e consequências e relacionam-se diversamente com diferentes

tendências sociais e econômicas’ (Huntington; Nelson, 1976:14, 55; Przeworski;

Soares; Sprague, 1986:18-9;144-3). (idem. P. 54)

Ou seja, cabe ver também o ambiente social e econômico em que estas interações

ocorrem. De acordo com esta corrente, quanto maior é o grau de desenvolvimento econômico,

maior será a probabilidade de respostas participativas às demandas políticas. Conforme

desenvolvimento socioeconômico altera-se o comportamento que leva, por consequência às

alterações políticas. Além de fatores da ordem social e econômica, a participação é

influenciada pelo “[...] estado ou natureza das interações sociais, [...] e dos apelos políticos ou

forças momentâneas de curta duração” (idem, 58). Contrariando a perspectiva psicológica,

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caso o individuo não se posicione não é porque este se sente impotente, mas por não perceber

o voto enquanto objeto de mudança.

O voto seria decorrente de uma identidade cultural, formada em um processo de

interação social, ou em uma “consciência de classe” que a partir de uma situação de classe ter-

se-á um voto classista.

2.1.3 Avaliação econômica e explicação do voto: Teoria da escolha racional

Esboços de uma teoria da escolha racional têm seus primórdios em meados do século

XIX com Jeremy Betham, teórico liberal, e Vilfredo Pareto, expoente da revolução

marginalista, entretanto é com o modelo de democracia economicista de Anthony Downs que

se consolida um encadeamento teórico racional para estudo de comportamento político.

(Mantilla e Pinilla, 2008)

Nesta perspectiva teórica em exposição por Figueiredo (2008) e proposta por Anthony

Downs

[...] seu homus politicus é racional, movido por razões egoístas, e procura minimizar

os efeitos da condição de incerteza inerente à vida política. O “cidadão racional”

downsiano é o homem mediano que compõe a grande maioria do eleitorado. Para

ele, são irrelevantes as características psicológicas do homem. Mas ele não sugere

que o homem seja apenas uma fria máquina calculista, como o homus economicus

das teorias utilitaristas (Downs, 1957 apud Figueiredo, p.105).

Ou seja, o individuo racional, quando exposto a uma situação que exige que ele tome

uma decisão, organizará suas preferências hierarquicamente, de forma transitiva, e buscará

averiguar qual direcionamento lhe renderá ganhos e custos razoáveis, ao mesmo tempo em

que em busca um equilíbrio com seus desejos particulares.

Apreendendo a perspectiva procedimental de democracia exposta por Dahl, um

comportamento racional, todavia só é compreensível quando o arranjo institucional em que

desenrola uma competição política é caracterizado como estável. Para que o individuo haja

racionalmente requer previsibilidade, sendo a informação, experiências passadas base para

este fator.

Na teoria da escolha racional o ato de votar, que tem um papel essencial na ideia que

faz de democracia, na perspectiva de Riker, exposto por Figueiredo (2008), ganha um caráter

essencialmente instrumental e estratégico, em que busca-se um beneficio sendo este social ou

econômico. Assim,

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A visão épica da obrigação cívica cede lugar ao realismo histórico da luta política

em defesa de interesses sociais e econômicos, individuais ou coletivos. Ideologia,

identidades políticas e culturais e valores são reduzidos a sistemas codificados de

interesses, com a função instrumental de simplificar a aquisição e processamento de

informações necessárias para uma decisão política importante (Downs, 1957) O

homus psicologicus e o homus sociologicus cedem lugar ao homo economicus: os

eleitores votam por seus bolsos. (Figueiredo, 2008, p. 75-76)

Esta abordagem teórica faz-se uso, portanto, do individualismo metodológico

distanciando-se da perspectiva sociológica que invoca organizações sociais como fatores

altamente explicativos. Em sua essência também se distancia da corrente psicológica, ainda

que esta também faça uso de individualismo metodológico, na medida em que o que levaria o

individuo racional a agir seria seu calculo estratégico, ao passo que na corrente psicológica

fatores incorporados durante a socialização seriam o aspecto motivacional explicativo do

comportamento eleitoral.

Figueiredo aponta que na obra de Kenneth Arrow encontram-se os alicerces básicos de

uma teoria do comportamento político-racional: o eleitor diante de propostas eleitorais

divergentes irá buscar aquela opção que melhor corresponda ás suas expectativas futuras.

Caso o que se espera ganhar sobreponha-se ao custo intrínseco do ato de votar, o eleitor

votará. Cabe salientar, todavia, que tal desutilidade do voto é marcado por desigualdade entre

os indivíduos na medida em que o custo para obtenção e processamento de informação pode

vir a variar em uma dada sociedade (Figueiredo, 2008).

Contrapondo-se às exigências de um comportamento racional exposto por Downs,

cabe salientar que o fato de o cidadão não ater-se ao meio político com assiduidade não o

inibe de tomar decisões coerentes. Lançando-se em busca da diminuição de incertezas,

resultado de pouco conhecimento do contexto político, o eleitor seleciona informações amplas

e reduzidas para a tomada de decisão, fazendo uso, assim, do que é usualmente chamado de

atalho cognitivo.

Segundo a perspectiva de Popkin, apresentada por Veiga (2001), o eleitor é racional,

no modelo de Downs, na medida em que seleciona partidos, perfis de candidatos e busca

minimização nos custos para adquirir informação. Mesmo que esta leitura da realidade seja

em fragmentos, o fato de haver referências de contextos e experiências adquiridas em seu

cotidiano que influenciam nesse processo cognitivo, faz com que a tomada de decisão não

seja aleatória. Outro autor, elucidado por Porto (1998), que é desta linha racional é Lupia e

McCubbins. Para estes autores, o atalho cognitivo em destaque é o conselho de outras

pessoas.

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Com o intuito de estabelecer os critérios de decisão que o eleitor faz uso podemos ver

dois tipos de comportamento nesta corrente: o maximizante, como prevê as teorias

econômicas do voto, embasadas no modelo downsiano, e o satisfacionista, conforme a teoria

economicista de explicação do voto.

Key, como mostra leitura de Camargos (2003), foi um dos fundadores da teoria

satisfacionista onde “[...] se a economia vai bem, os governantes ganham mais votos, se vai

mal, a oposição é favorecida, ou seja, o eleitor vota retrospectivamente” (Camargos, 2003,

p.119), num sistema punição-recompensa. Deste modo, o critério de decisão do

comportamento satisfacionista é obter o mínimo de satisfação possível no cenário apresentado

a partir da avaliação do desempenho da gestão que se finda. Considerando que esta

abordagem foi desenvolvida em uma realidade política bipartidária, ela se torna insuficiente

para explicar eleições onde tenham mais de uma oposição.

O comportamento maximizante diferencia-se da abordagem exposta anteriormente na

medida em que defende que o eleitor busca satisfazer ao máximo suas necessidades,

avaliando o passado e vendo dentre as opções disponíveis a que mais lhe agregue ganhos

futuros (Figueiredo, 2008). Assim, o voto ganha um caráter prospectivo.

Como crítica ao modelo de Key, Kramer e Downs, Fiorina, segundo Camargos (2008),

salienta que a identidade partidária, variáveis sócio-demográficas e expectativas quanto ao

futuro são fatores que não podem ser negligenciados. O caráter prospectivo influenciaria

diretamente na direção do voto, ao passo que as expectativas retrospectivas influenciariam as

perspectivas futuras, além de incidir sobre a formação de preferência partidária.

Kiewiet, que salienta a importância da economia enquanto determinante do voto,

como nos mostra Camargos (2003), acrescenta mais uma dimensão ao processo de decisão do

eleitor, além do voto retrospectivo e prospectivo: “[...] peso que os eleitores atribuem a

diferentes tipos de fatos econômicos e de experiência pessoal” (Camargos, 2003 p. 122).

Assim, podem-se ter eleitores que votam retrospectivamente, avaliando o desempenho da

economia a partir de sua realidade econômica (voto retrospectivo individual) ou aqueles que

avaliam tal cenário econômico a partir da realidade que encontra seu país (voto retrospectivo

sociotrópico). O mesmo valeria para o voto prospectivo.

Temos, assim, o eleitor racional, onde a busca por atingir a sua finalidade, está

relacionada ao benefício e custo do meio adequado que se utiliza para chegar ao fim desejado.

Exposta tal perspectiva de comportamento eleitoral, cabe acrescentar desdobramentos

recentes que apontam a necessidade de fazer uma análise que não se restrinja ao individuo e

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os atributos de sua escolha, mas que averigue, também, o ambiente em que ocorrem tais ações

(McFadden, 1974 in Sniderman e Levenduscky, 2007).

2.2. Comportamento Político e Contexto Institucional

Ao ter em vista a preocupação de compreender como se dá o comportamento político,

têm-se desdobramentos recentes que ressaltam o papel de questões institucionais nesse

processo de formulação de escolhas. Como salienta Christopher Anderson (2007), a maior

disponibilização de surveys, que abrange diversos países, e avançados modelos estatísticos

multiníveis, que conjuga a análise contextual e dados individuais, faz com que seja possível a

operacionalização analítica, de forma aprofundada, desta emergente preocupação.

Em tal perspectiva teórica tem-se a necessidade de se empreender o processo de

formulação política a partir de uma estrutura interna, para captar a preferência do eleitor por

determinada diretriz frente às alternativas disponíveis, e outro fator de caráter externo para

averiguar as alternativas que se tornam disponíveis para a comunidade, sobre determinado

contexto, uma vez que tal disposição interfere na escolha do eleitor (Sniderman e

Levenduscky, 2007). Neste sentido, Anderson argumenta que

As pessoas não vivem em um vácuo. Eles formam atitudes e fazem escolhas em

ambientes variáveis, que vem na forma de regras formais institucionais que

governam o comportamento das pessoas ou na forma de diferentes condições

econômicas, sociais e políticas, que moldam a interpretação e a forma de ação das

pessoas. (Anderson 2007, p.590)

Atentar para a configuração política, assim, é pertinente, uma vez que as instituições,

além de impor os constrangimentos sociais decorrentes de “regras do jogo” (Anderson, 2007,

p.592), possuem meios para restrições informais que influenciam o comportamento do eleitor.

No sentido de reforçar a relevância das instituições no comportamento eleitoral, Anderson

(2007) aponta o estudo de Powell que vê nos tramites de registros para participação do

processo eleitoral no Estados Unidos um impeditivo e que justificaria o baixo

comparecimento às urnas, bem como o estudo de Bravo e Hojman, que veem nas práticas de

corrupção um desestimulo a participação política dos eleitores. Anderson, entretanto, ressalva

que o contexto político pode gerar consequências adversas, sendo possível, mesmo em um

cenário nacional, haver influências institucionais divergentes entre os eleitores.

Assim sendo, a configuração política pode vir a afetar o comportamento do eleitor,

segundo Anderson (2007), de três maneiras: diretamente, indiretamente e de forma interativa.

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Compreende-se por efeitos de forma direta, por exemplo, a definição de diretrizes

institucionais que poderão fazer o eleitor racional se abster do ato de voto, ou de se dirigir às

urnas, enquanto que o de forma indireta, refere-se a uma influência em que se afeta uma

variável independente, que por sua vez irá afetar a variável dependente. Um exemplo desse

efeito indireto seria as regras eleitorais que modificam o cálculo e o comportamento dos

dirigentes, e, assim, tem-se modificações no “cardápio” disponível para escolha do eleitor.

Por fim, compreende a influência de forma interativa quando se têm uma terceira variável na

análise em questão. Dentre essas possibilidades de consequências institucionais no

comportamento do eleitor, Anderson (2007) salienta que tanto teoricamente, como

empiricamente, quando se aprofunda a discussão, os efeitos são mais de caráter secundários

ou indiretos, do que direto propriamente dito.

Em vistas de reaplicar os estudos de Paldam, que vai ao encontro com esse anseio de

compreender o comportamento político tendo em vista a configuração política, Powell e

Whitten (1993) fazem uso de uma análise multivariada que abrange 102 eleições de 19

democracias industrializadas dentre 1969 e 1988. Os autores têm por objetivo ver de que

modo a imagem ideológica do governo vigente, a base eleitoral tendo em vista a votação em

eleições anteriores, e nível de claridade de responsabilidade das políticas implementadas são

fatores influentes no processo de elaboração de escolhas eleitorais ao moldar a perspectiva

econômica do meio ao qual estão inseridos.

Powell e Whitten partem do pressuposto que há quatro fatores do contexto político que

devem ser levados em consideração, já que influenciam a perspectiva econômica que o

cidadão depreenderá. Como um primeiro fator, tem-se a preocupação de pensar o desempenho

econômico do país em estudo, com vistas em outras democracias industrializadas, na mesma

faixa temporal. Além do saldo de votos do incumbente em eleição anterior, tanto a imagem

ideológica do governo quanto a claridade de responsabilidade são fatores contextuais

relevantes para se compreender o comportamento eleitoral.

Em relação ao primeiro fator, é relevante pensar dentro de uma conjuntura mundial, na

medida em que, conforme autores hipoteticamente apontam, um eleitor tenderá a punir mais

seu governo quando a taxa de inflação estiver em torno 10%, em comparação com outros

países, que nessa mesma época estejam com uma média de 3%, do que quando estes últimos

estiverem com 11%. No que concerne ao balanço de votos em eleições anteriores se faz

interessante para compreender a base de governo com a qual o incumbente tem apoio (Powell

e Whitten, 1993).

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Outro ponto que denota a atenção dos autores quando se analisa o impacto

institucional no voto, é a tendência ideológica do governo, na medida em que, conforme tal

orientação no espectro esquerda-direita, ter-se-iam formas distintas de lidar com políticas

econômicas. Enquanto o governo de esquerda voltaria sua gestão para sanar questões

atinentes à renda populacional, e assim, fazendo um uso do Estado de maneira mais ostensiva,

com enfoque em classes trabalhadoras urbanas, uma plataforma de governo que pudesse ser

localizada no espectro ideológico como direita estaria mais vinculadas à preocupação de

caráter inflacionário e medidas de controle de impostos, com enfoque em eleitores de classe

média suburbana e rural. (Powel e Whitten, 1993, p 404)

Considerando este peculiar direcionamento de medidas econômicas, espera-se que o

eleitor avaliará o governo, tendo em vista tal distinção, sendo assim fator relevante no

processo de formulação da escolha. Além deste delineamento programático dos partidos, que

fará com que o eleitor olhe de forma diferente para diferentes questões, tendo em vista

posição ideológica do incumbente, Sniderman e Levenduscky (2007) salienta que os partidos

políticos têm poder de agendamento ao focalizar e deixar para segundo plano determinadas

temáticas. A identificação partidária do eleitor, assim, é um meio pelo qual fará o eleitor ter

maior atenção sobre determinadas problemáticas.

Por fim, claridade da responsabilidade, que, de acordo com o objetivo do trabalho, terá

maior enfoque, está relacionada ao ambiente de formulação de políticas e a capacidade de o

eleitor discernir a produção efetiva do governo para puni-lo ou recompensá-lo. Ao ter em

vista tal discussão acerca da influência institucional sobre o comportamento do eleitor

racional, Powell e Whitten (1993) aludem que

[...] a ligação crítica de atribuição do eleitor de responsabilidade para o governo não

é meramente uma idiossincrasia a nível individual ou racionalização. Pelo contrário,

refletem fortemente a natureza da formulação de políticas na sociedade e da

coerência e controle que o governo pode exercer sobre essa política. Quanto maior o

controle percebido unificado de políticas por parte do governo em exercício, mais

provável é que o cidadão atribua a responsabilidade por resultados econômicos e

políticos ao incumbente. (Powell e Whitten, 1993, p.398)

Ou seja, o ambiente institucional de formulação de políticas pode vir a amenizar ou

reforçar o impacto da accountabilitty no voto econômico, ao facilitar ou dificultar a percepção

de responsabilidade do governo sobre determinadas pautas.

Dentre os fatores que auxiliariam na claridade de responsabilidade, pode-se considerar

uma elevada inserção partidária do partido situacionista em comissões no sistema legislativo,

uma vez que se tem a possibilidade de ocupação das cadeiras de maneira igual entre todos os

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partidos, inclusive da oposição, e, assim, esta teria o poder também, de interferência na

formulação política. Espera-se que em sistemas políticos onde há envolvimento da oposição

na formulação de políticas, os incumbentes tendem a perder menos votos (ou ganhar mais

votos), uma vez que serão menos penalizados, em decorrência da baixa claridade de

responsabilidade.

O conceito de claridade de responsabilidade exposto por Powell e Whitten também

está relacionado à configuração do sistema legislativo. Em determinados países, onde o

sistema legislativo é bicameral, sendo dividido entre a Câmara de Deputados e Senadores,

para fazer uma gestão com alto grau de claridade de responsabilidade, o partido do

incumbente deverá contar uma maioria em ambos os segmentos, na medida em que são meios

relevantes na elaboração de leis e projetos.

Para apreender a produção legislativa, todavia, cabe averiguar também como é a

relação com o Executivo. Em sistemas presidencialistas, como é o caso dos países em estudo,

o presidente detêm poderes constitucionais e partidários que possibilitam ou dificultam a

capacidade de o executivo ditar a agenda legislativa. Por poderes constitucionais

compreendem-se aqueles de forma proativa que visam alterar o status quo (como a emissão

de decreto) e poderes reativos que prezam pela manutenção do status quo (veto e veto

parcial), que independem de uma aprovação do legislativo. Na América Latina, Mainwaring e

Shugart (2002), tendo em vista o momento de estudo, mostram que o sistema presidencialista

apresenta variações e há países, como a Colômbia e Chile após Pinochet, que apresentam

presidentes com abrangentes poderes constitucionais, ao passo que há países, como Costa

Rica e Venezuela, que seus poderes, em uma análise comparada, são mais restritos. No que

concerne aos poderes partidários, seria a capacidade de o presidente modelar as políticas

implementadas frente ao sistema de partido. Como exemplo, Mainwaring e Shugart (2002)

citam México, em que o partido do presidente pode ocupar uma maioria na Câmara

Legislativa, e o Brasil, que representaria o outro extremo, já que seria mais difícil para um

partido situacionista obter a maioria.

Dentre as características consideradas como problemáticas do presidencialismo,

Mainwaring e Shugart (2002) aponta a maior probabilidade de se construir um governo de

minoria, quando se compara a um regime parlamentarista. Considerando que as eleições

ocorrem de maneira independente, não existem meios que assegurem que o presidente

governe com uma maioria parlamentar. Isto pode ser visto como positivo na medida em que o

ato de legislar detém um caráter autônomo, entretanto, pode ser problemático em países

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caracterizados como multipartidário, gerando imobilismo, como seria o caso da realidade

política brasileira.

No sistema presidencialista brasileiro, ainda que com a constituição de 88 tenha a

garantia de poderes pró-ativos e reativos, para que reformas substanciais sejam

implementadas ela passa por um crivo que torna complexo o processo, uma vez que o sistema

partidário em questão é fortemente fragmentado e impede, assim, que o partido situacionista

ocupe uma grande parcela de cadeira nas esferas legislativas. Neste cenário, a fim de o

executivo conseguir estabelecer uma agenda legislativa, ele faz uso de coalizões (Mainwaring,

2002).

Como expõe Abranches (2003), a fragmentação partidária brasileira é decorrente de

uma heterogeneidade social, econômica e política. O presidencialismo, federalismo,

bicameralismo, multipartidarismo e a representação proporcional, cuja combinação tem sido a

fundamentação para ingovernabilidade brasileira, seriam, para Abranches (2003), resultantes

desse cenário complexo brasileiro. Assim, para a formação de maiorias, não basta apenas

alterações em regras de representação, nem diminuir o número de partidos, já que o cenário

político-institucional retrata interesses e valores de segmentos heterogêneos arraigados na

sociedade. Pelo contrário, qualquer tentativa de simplificar tal ambiente poderia ser visto

como ilegítimo. Destarte, as formações de alianças aparecem como um meio de compreender

esta realidade heterogênea. Mas cabe salientar, entretanto, que é um sistema instável, onde

faz-se necessário negociações para que a coalizão mantenha-se e assim seja possível a

elaboração e implementação de políticas essenciais, bem como administração de programas e

recursos. (Abranches, 2003)

Como meio de garantir a duração dessa coalizão e seu apoio parlamentar poder-se-ia

citar a concessão de cargos ministeriais1. Entre 1946 e 1964, Mainwaring (2002) observa que

a formação de gabinetes brasileiros apresentam características multipartidárias, que, por sua

vez, aproxima-se da ideia de uma democracia consociacional, ao invés de uma democracia

majoritária, como é proposto por Lijphart. Assim, ainda que o sistema brasileiro seja

fragmentado, há regras e instituições que permitem a governabilidade no país.

Powell e Whitten (1993) veem este cenário de coalizões partidárias como fator que

diminui a claridade da responsabilidade do partido situacionista para o eleitor, ainda que se

verifica a sua pertinência, de acordo com o contexto em questão.

1 Cabe acrescentar que mecanismos de urgências de líderes partidários, e constituição de mesas-diretoras e

comissões do Congresso Nacional que contam com as presidências de lideres de partidos da base

governamental, também são meios utilizados para que o Executivo garanta a definição de agenda ao

Legislativo (Pasquarelli, 2010).

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Outra questão que pode vir a prejudicar a claridade de responsabilidade de uma

determinada gestão, tendo em vista o processo em que se dá a relação entre executivo e

legislativo, seria a ausência de coesão em votações do partido que compõe o governo. O

partido, que seria “[...] o grande unificador para o eleitor na urna” (Powell e Whitten, 1993, p.

399), ao não votar de forma coesa disponibilizaria meios para que a oposição interferisse na

formulação de políticas. A capacidade de agendamento legislativo do partido situacionista e

de sua coalizão depende de lealdade e disciplina partidária dos componentes da base

governista. Em um cenário em que não se tenha lealdade e disciplina partidária, a relação

executivo-legislativo é imprevisível, embora isto possa ser visto como positivo na medida em

que o presidente pode vir a negociar. (Mainwaring, 2002) Quando o comportamento da base

governista no legislativo tende a ser coeso, pressupõe-se que a elaboração e implementação de

políticas ganharão contornos específicos, sendo estes discerníveis para o eleitor ao elevar a

claridade de responsabilidade. Por isto, além de ocupar uma maioria parlamentar, é

importante verificar se há disciplina partidária.

De uma forma geral, os fatores que tendem a diminuir a claridade da responsabilidade

estão interligados, já que

Sistemas legislativos [que tenham] arranjos institucionais que garantam a

participação da oposição na formulação de políticas, tendem a ser aquelas com

representação proporcional e mais multipartidária e governos minoritários (Powell e

Whitten, 1993, p. 406)

Tendo em vista tais desdobramentos conceituais, Powell e Whitten analisaram

dezenove países, separando entre aqueles que possuem as características que auxiliam na

claridade da responsabilidade daqueles que não tem. Nos oito casos que se enquadraram com

baixos índices de claridade, os efeitos econômicos tenderam a explicar pouco o voto no

incumbente, ao passo que nos demais onze países, o impacto do desempenho econômico

sobre a escolha eleitoral é relativamente mais forte. Cabe salientar, todavia, que os autores

não desmerecem a relevância do desempenho econômico em qualquer democracia.

Anderson (2002), ao tentar replicar em 13 democracias europeias o conceito de

claridade de responsabilidade, acrescenta dois fatores que se conjuga com esta perspectiva,

que seria a claridade das alternativas disponíveis bem como o tamanho do partido do

incumbente. Sabido que há diversas formas possíveis de problematizar o contexto político a

fim de averiguar o impacto econômico sobre o voto, o autor em questão faz uso destes três

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pontos expostos anteriormente, que pressupõe o eleitor racional que tenderá a punir ou

recompensar a gestão vigente.

Considerando que o eleitor tenderia a ter um comportamento racional, a claridade de

responsabilidade faz sentido quando se tem alternativas viáveis a que está em vigência

(Anderson, 2002). No entanto, a quantidade de alternativas pode vir a fazer diferença. Como

advertem Sniderman e Levenduscky, (2007), a restrição do número de alternativas disponíveis

em um pleito é uma forma estratégica de escolha eleitoral. Estudos apontam que a coerência

nas escolhas pode vir a variar inversamente ao número de alternativas, uma vez que a

restrição é um fator relevante para a consistência do sistema de crenças. Como a leitura de

Sniderman e Levenduscky (2007) nos indica, estudos de Sullivan e Bishop evidenciam esta

lógica ao ver que quando expostos a duas alternativas bem delineadas, os eleitores teriam

maior facilidade em alinhar seus ideais com o que está sendo disponibilizado. Ao invés de o

deixarem confuso, a polarização das alternativas vem a auxiliar estes eleitores, uma vez que

se não está de acordo com um segmento tende a ir para o outro lado. Destarte, a natureza do

sistema partidário é fator relevante para apreender os efeitos da macroeconomia na escolha

eleitoral, na medida em que sistemas multipartidários, que tendem a ter um índice alto de

partidos efetivos, dificultam o discernimento entre as alternativas para o eleitor. (Anderson,

2000) O incumbente, assim, estaria menos “exposto” a beneficiar-se ou ser punido por seu

desempenho em questões econômicas, uma vez que a claridade das alternativas disponíveis

seria baixo. Para mensurar esta variável faz-se relevante mensurar o número de partidos

efetivos, a partir da formula Lakso e Taagepera, que compõe um determinado pleito. A

vantagem de usar esta formula, ao invés de apenas contabilizar os candidatos, é devido a sua

capacidade de distinguir partidos que sejam de fato significativos, daqueles com menos

expressividade.

Outro ponto de destaque para Anderson (2000) seria em relação ao tamanho do partido

do incumbente, que vai ao encontro com a ideia de claridade da responsabilidade, mas que, no

entanto, discerne de Powell e Whitten, ao ter em vista que enquanto a estrutura institucional

tende a não mudar muito numa escala temporal, os resultados eleitorais e negociações

políticas alteram os agentes que compõe o ambiente político. Assim, faz-se relevante ver

como este fator, que pode vir a sofrer mudanças em decorrências das eleições, interage com as

estruturas institucionais que tendem a ser mais permanentes, no processo de claridade de

responsabilidade. Em sua análise, Anderson (2000), mensura o tamanho do partido

situacionista a partir do número de cadeiras ocupadas na Câmara legislativa, bem como a

ocupação em cargos ministeriais que compõem a base governamental. É relevante ressaltar

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que tais pressupostos teóricos têm em vista sistemas políticos estáveis, onde o eleitor entende

minimamente a complexidade da formação parlamentar.

Ao ter como variável dependente o voto no presidente e como variável independente a

avaliação econômica retrospectiva sociotrópica e egoísta, bem como variáveis de controle

(religião, classe social e ideologia), Anderson (2000), conclui que o contexto político

desempenha um salientado papel na relação entre voto no incumbente e avaliação econômica.

Ou seja, onde há níveis altos de claridade da responsabilidade, menor índice de partidos

efetivos pleiteando uma vaga e maior inserção do partido situacionista na base de governo e

no meio legislativo, o eleitor tenderá a punir ou recompensar mais seu representante, na

medida em que ter-se-á melhor delineado o responsável por determinada medida. Em

contrapartida, naqueles países em que se têm impeditivos para uma claridade da

responsabilidade, o incumbente, mesmo desempenhando de forma negativa uma gestão, não

está tão exposto a perder votos como estaria caso o desenho institucional facilitasse o

processo de compreensão da accountabillitty (Anderson, 2000).

Partindo de tais premissas teóricas, Camargos (2006) faz uma análise do voto

econômico em 62 eleições presidenciais de dezoito países componentes da América Latina

que sucederam entre 1980 e 2000. Ao ter por base o crescimento do PIB per capita, variação

da inflação e a variação de emprego vê-se que quando diminui os índices de inflação e

diminui também as taxas de desemprego, tende a haver um aumento do apoio do eleitor ao

mandatário. O crescimento do PIB per capita não apresentou significância estatística. Quando

aplica o conceito de claridade de responsabilidade, tendo em vista o estudo feito por Lewis-

Beck e Powell e Whitten, Camargos averigua que o cenário econômico é fator que incide

mais na aprovação ou recusa do mandatário quando há maior índice de clareza de

responsabilidade. Fatores como o papel da aprovação da imagem do incumbente e efeito da

recorrência de crises também foram abordado enquanto possíveis influentes do voto

econômico nesse estudo. Países que apresentam maior instabilidade, como seria o caso das

economias latinas fariam com que os eleitores prestassem mais atenção em relação ao papel

desempenhado pelo governo para o controle inflacionário. No que concerne à popularidade do

incumbente, este seria um fator de caráter mais mediador do que explicativo da elaboração de

escolhas do eleitor.

Destarte, para uma mensuração aprofundada do processo de escolha eleitoral,

portanto, a integração de fatores de macroestruturais se mostra pertinente. Cabe, todavia,

ressaltar que se reconhece que o processo não se restringe a esses fatores, podendo haver, por

exemplo, relação com o capital social e cultural de cada componente da sociedade.

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3 ANÁLISE CONTEXTUAL

3.1 BRASIL: Análise De Conjuntura do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-

2010)

Vivenciando um regime militar de 1964 a 1985, o Brasil, como aponta Arturi (2001),

começa a ter os primeiros traços de transição democrática em meados de 1974. De forma

lenta e gradual, a liberalização política iniciada em tal cenário político fez com que fosse

possível o controle por parte de dirigentes autoritários neste processo, bem como sua

manutenção e, inclusive, sua participação no meio político após democratização. Como

ilustrativo disso, poder-se-ia citar o espaço e legitimação ocupada pelas Forças Armadas,

como também, medidas que previam anistia aos torturadores durante o período ditatorial. Para

Arturi (2001), isto se deu de maneira satisfatória

[...] ao sucesso da estratégia de liberalização do regime autoritário implementada

com alto grau de voluntarismo e controle do processo político pelas presidências

Geisel e Figueiredo. Isso, não obstante as dificuldades encontradas pelo General

Figueiredo para conduzir o processo político e sua sucessão nos últimos anos de seu

governo, devido às pressões e à mobilização crescente da oposição e de amplos

setores sociais que exigiam a democratização efetiva e imediata do país. (Arturi,

2001, p.12)

Arturi, assim, compreende a dissolução do regime autoritário entre meados 1974 a

1985, tendo como principal marca o desenvolvimento de meios para um continuísmo da

lógica vigente, e adequação dos agentes opositores às regras que irão se estabelecer. Tais

práticas vieram a ter suas consequências na fase de construção democrática durante a gestão

do Sarney (1985-1990) em que houve a promulgação da Constituição de 1988 e a expansão

do sufrágio universal, garantindo os direitos dos analfabetos em 1985. Marcando um período

que pode ser compreendido como o inicio consolidação democrática brasileira, em 1989

houve a realização de eleições diretas em que foi eleito, como presidente do Brasil, Fernando

Collor de Mello. Numa eleição de dois turnos, Fernando Collor do PRN derrotou Luiz Inácio

Lula da Silva, que concorria à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT). O

impeachment de Collor em 1992, como salienta Arturi (2001), todavia, vem a reforçar que se

tem instaurado um regime democrático, ainda que com reservas, na medida em que se tem,

por exemplo, um sistema partidário frágil.

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Outro ponto pertinente nesse cenário de consolidação da ordem democrática,

decorrente da forma que foi conduzida a transição, diz-se respeito à continuidade de elites

políticas do período autoritário no poder. Arturi defende que caso o candidato de esquerda, do

partido dos trabalhadores, fosse eleito em 1989, o Brasil passaria por uma “[...] verdadeira

prova de fogo” (Arturi, 2001, p.25) ao ter-se uma efetiva alternância no poder.

Com a posse de Itamar Franco, em decorrência do impeachment de Collor, em 1994

houve a segunda eleição direta para presidência que elegeu Fernando Henrique Cardoso do

PSDB, derrotando novamente o candidato Petista, Lula. Com a implementação da

possibilidade de reeleição, em 1998, Fernando Henrique Cardoso é eleito para exercer seu

mandato por mais quatro anos. Em 2002, após perder três eleições (1989, 1994 e 1998), Lula

é eleito presidente do Brasil, marcando a ascensão de um ex-operário, de um partido

localizado à esquerda no espectro ideológico ao cargo em questão.

Seu discurso, como elucida Panke (2010), há alterações, sendo possível sua

compreensão em três segmentos: extrema esquerda, transição e centro esquerda. Na primeira

fase extrema esquerda podem-se enquadrar os discursos sindicais (1968-1980), fundação do

partido dos trabalhadores e sua disputa para deputado federal em 1986, bem como sua

primeira candidatura a presidência da república em 1989. Nesta fase, seu “[...] discurso era

contra o capitalismo, contra o governo e a favor da liberdade de expressão” (Panke, 2010, p.

62). No que concerne à fase de transição considera-se seus discursos no “[...] governo

paralelo, caravanas da cidadania, candidatura às eleições presidenciais, de 1994 a 1998”

(idem, ibdem). Na fase centro esquerda compreende o período posterior às eleições de 2002,

que com a Carta ao Povo Brasileiro marca uma nova forma retórica mais amena e

aproximação com a social democracia.

As eleições de 2002 e a quarta tentativa de Luiz Inácio Lula da Silva candidatar-se à

presidência foram um marco na apresentação de um “Lulinha paz e amor” e um novo PT, com

enfoque na capacidade de negociação e articulação, sem ferir interesses das classes

dominantes. (Panke, 2010)

Em torno da imagem de Lula, independente destas fases, tinha o ideário que devido a

seu histórico marcado pela pobreza e seus valores dignos, seria o propulsor de mudanças

efetivas na sociedade. De acordo com seu estudo, Panke averigua que no decorrer de sua

carreira política há apenas a ampliação do público alvo. Cabe salientar, todavia, que não é

possível enquadrar Lula como populista na medida em que sua ascensão está atrelada à

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[...] mais notável insurgência sindicalista do último terço do século, criando o

primeiro — e até agora único — partido político moderno do Brasil que se tornou o

veículo da sua ascensão. (Anderson, 2011, p.24)

No primeiro turno, em 2002, ele angariou 39,4 milhões de votos (46,4%), pela

Coligação Lula presidente (PT, PL, PC do B, PMN e PCB), contra José Serra do PSDB que

obteve 19,7 milhões (23,2%). Ele foi eleito no segundo turno com 53 milhões de votos

(61,3% dos votos válidos), sendo a maior votação em 19 pleitos de eleição nominal direta.

Tem-se, destarte, como aponta Panke (2010) o caráter simbólico que representa o resultado

eleitoral do primeiro turno em 2002, num cenário democrático, onde um operário migrante

pode vir a ocupar a presidência.

Segundo Perry Anderson (2011), Luiz Inácio Lula da Silva pode ser considerando um

político muito bem sucedido para sua época, não só pelo fato de terminar seu mandato com

alto grau de popularidade, mas, também, pelo fato de tal popularidade estar atrelada á

radicalizações, ao invés de amenização ou moderação de determinados problemas sociais.

Como Anderson aponta,

Esse sucesso se deve muito a um excepcional conjunto de dons pessoais, uma

mescla de sensibilidade social afetuosa e frio cálculo político, ou — como sua

sucessora Dilma Rousseff formulou — avaliação racional e inteligência emocional,

para não falar no jovial bom humor e encanto pessoal. Mas esse conjunto também é,

em sua origem, inseparável de um importante movimento social. (Anderson, 2011,

p. 24)

Ao ter em vista o momento em que encontrava-se o Brasil em sua primeira gestão, o

presidente eleito em 2002, deparou-se com um cenário econômico herdado da gestão anterior

que não lhe foi favorável já que

[...] a dívida pública — metade da qual avaliada em dólares — tinha dobrado, e o

déficit em conta de então era duas vezes a média da América latina, as taxas de juros

nominais estavam acima dos 20%, e a moeda havia perdido metade do seu valor na

corrida eleitoral. A Argentina havia declarado o maior calote da história e aos olhos

do mercado financeiro o Brasil parecia à beira do mesmo precipício. (idem, ibdem)

A fim de solucionar o problema ao qual o Brasil passava, Lula montou uma equipe

econômica, envolvendo o Banco Central e Ministério da Fazenda, mas esta “[...] elevou ainda

mais a taxa de juros e fez cortes no investimento público para atingir um superávit primário

maior do que o próprio FMI havia recomendado” (idem, ibdem). Assim, os preços praticados

no mercado e desempregos cresceram e a economia apresentou um decréscimo em seu

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crescimento. O cenário apresenta melhorias em 2004 com exportações, ainda que a dívida

pública e taxa de juros ascendem.

Um ponto que merece atenção também é a organização político-institucional

brasileira. Para Abranches (2003,) o Brasil

Trata-se de um caso de heterogeneidade econômica, social e política e cultural

bastante mais elevado, seja na base técnica e nos níveis de produtividade na

economia, seja no perfil de distribuição de renda, seja nos graus de integração e

organização das classes, frações de classes e grupos ocupacionais, apenas para

mencionar algumas dimensões mais salientes do problema (Abranches, 2003, p.24)

Em decorrência disso, portanto, ter-se-ia a emergência de uma pluralidade de

interesses e valores, ao quais deveriam ser incorporado para a instauração de um regime

devidamente democrático. No entanto, há dificuldades institucionais de organização políticas

que contemple esse cenário. Assim,

O dilema institucional brasileiro define-se pela necessidade de se encontrar um

ordenamento institucional suficientemente eficiente para agregar e processar as

pressões derivadas desse quadro heterogêneo, adquirindo, assim, bases mais sólidas

para sua legitimidade, que o capacite a intervir de forma mais eficaz na redução de

disparidades e na integração da ordem social (idem, ibdem)

A fragmentação partidária presente no cenário brasileiro, assim, seria decorrente dessa

conjuntura política, social e cultural. Na Câmara dos Deputados entre 2003 e 2007,

culminando com este ambiente multipartidário, há a presença de 19 partidos ocupando 513

cadeiras. Qualquer medida que visasse simplificar este meio aparece como problemático, na

medida em que afetaria a representação de setores da sociedade. Neste sentido, dentre as

possibilidades

Os sistemas proporcionais ajustam-se melhor à diversidade, permitindo admitir à

representação e, ao mesmo tempo, coibir a proliferação artificial de legendas,

criadas para fins puramente eleitorais e sem maior relevância sociopolítica

(Abranches, 2003, p. 35)

Uma vez que a gestão será gerida neste ambiente multipartidário, a solução encontrada

para sanar problemas de governabilidade seria a construção de coalizões que abrangem essa

heterogeneidade social, além de considerar as lideranças regionais, que detêm sua relevância

em um sistema federalista.

Ainda que o PT tenha elegido seu candidato no cargo executivo federal com 61% dos

votos, não obteve maioria na composição partidária das cadeiras do Congresso. De um total

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de 513 cadeiras, o PT ocupa apenas 91, que totaliza 17,74%. Assim, para que não haja

imobilismo, recorre-se a coalizões. Em sua primeira gestão, Lula detinha uma base composta

por oito partidos sendo eles o PCdoB, PDT, PR (PL), PPS, PSB, PT, PTB e PV.

Posteriormente, ingressaram nessa coalizão o PMDB, PP (PPB) e saiu o PDT. Assim, em um

primeiro momento sua base de governo conta com 218 cadeiras na Câmara de Deputados, e

com a inserção de PMDB e PP (PPB) em 2004, o percentual sobe de 42,5% para 66,6% (342

cadeiras). Quando se analisa a fracionalização2 da 52ª Legislatura, observa-se que esta se

aproxima de um, caracterizando um sistema altamente fracionalizado, com 0,88. No que

concerne ao número de partidos efetivos, o resultado encontrado é de 8,49.

TABELA 01 – COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DA 52ª LEGISLATURA - CÂMARA DOS DEPUTADOS

(2003-2007)

PARTIDO N %

PT 91 17,74%

PFL 84 16,37%

PMDB 75 14,62%

PSDB 70 13,65%

PPB 49 9,55%

PTB 26 5,07%

PL 26 5,07%

PSB 22 4,29%

PDT 21 4,09%

PPS 15 2,92%

PC do B 12 2,34%

PRONA 06 1,17%

PV 05 0,97%

PSD 04 0,78%

PST 03 0,58%

PMN 01 0,19%

PSC 01 0,19%

PSDC 01 0,19%

PSL 01 0,19%

TOTAL 513 100,00%

Fonte: www.camara.gov.br

2 O índice de fracionalização é “[...] baseado na probabilidade que dois eleitores escolhidos aleatoriamente

tenham votado em partidos diferentes em uma dada eleição” (Nicolau, 2004, p.104), ou seja, quanto maior for

o índice de fracionalização, maior a probabilidade de eleitores escolherem partidos diferentes, e, por

consequência, pode-se caracterizar o sistema político como mais ou menos multipartidário.

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Considerando que o sistema brasileiro é bicameral, cabe também averiguar a

composição partidária do Senado3. O partido situacionista, como também ocorre na Câmara

de Deputados, ocupa uma pequena parcela, com 13,58% das cadeiras. O maior percentual,

quando analisa o partido em si, independente de coalizão, é o PMDB, partido comumente

caracterizado como centro, com 24 cadeiras que representa 29,63%. Compreendendo a base

governista, Lula contaria até 2004 com um apoio de 33,3%, e com a inserção do PMDB a

coalizão contabiliza 58% de apoio. Com a presença de 14 partidos ocupando oitenta e uma

cadeiras no senado, o número de partidos efetivos é de 6,38 e o índice de fracionalização é de

0,84.

TABELA 02 – COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DA 52ª LEGISLATURA - SENADO (2003-2007)

Partido N %

DEM 06 7,41%

PDT 04 4,94%

PFL 06 7,41%

PL 01 1,23%

PMDB 24 29,63%

PR 03 3,70%

PRB 01 1,23%

PSB 03 3,70%

PSC 01 1,23%

PSDB 14 17,28%

PSOL 01 1,23%

PT 11 13,58%

PTB 05 6,17%

PV 01 1,23%

Total 81 100,00%

Fonte: http://www.senado.gov.br

Estes números indicam que se tem um cenário propício para a elaboração e

implementação de políticas de acordo com as demandas observadas pelo partido situacionista.

Mas cabe salientar, todavia, que tendo em vista o conceito de claridade de responsabilidade,

preconizado por Powell e Whitten, e tamanho de partido situacionista, variável utilizada por

Anderson, esta conjuntura político-partidária não favorece o discernimento do eleitor de quem

é o autor efetivo de projetos políticos, já que há a profusão de diversos partidos. Mas mesmo

assim, é pertinente aferir se esta coalizão vota de maneira coesa ou não, não só pra ver a

3 Estas 81 cadeiras são ocupadas para uma gestão de oito anos, onde em uma eleição é renovado um terço, e na

eleição subsequente é renovado os dois terços restantes.

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legitimação de tal base governista, como pelo fato de ela poder, também, intensificar ou

diminuir a claridade de responsabilidade.

Em seu estudo, Limongi (2006) aponta que a realidade brasileira apresenta coesão

partidária

A disciplina média da base do governo — proporção de deputados filiados a

partidos que receberam pastas ministeriais que votaram em acordo com a indicação

expressa do líder do governo — é de 87,4% nas 842 votações ocorridas no período.

A variação entre presidentes é pequena: a menor média foi registrada sob Sarney,

com 78,4%, e a maior, 90,7%, no segundo governo de Fernando Henrique. O

governo Lula, para dissipar falsas imagens, contou com apoio médio de 89,1% dos

deputados da base do governo em 164 votações. (Limongi, 2006, p. 24)

Assim, além de estabelecer maiorias no Senado e na Câmara de Deputados, o

Executivo tem garantido a coesão dos partidos que compõem a coalizão. Este ponto elucida

que a perspectiva critica de Abranches, em relação à instabilidade de tais coalizões na medida

em que estão não são feitas sob preceitos partidários, tem que ser vista com cautela. Em

relação ao conceito de claridade, este ponto aponta positivamente para o discernimento do

eleitor, ainda que se reconheça que as coalizões são vistas como fatores que diminui a

claridade de responsabilidade do partido situacionista.

Em meados de 2005, insurgiram denúncias de pagamento de propinas pelo governo

para que houvesse apoio de parlamentares. A verba que alimentava esse esquema,

denominado mensalão, advinha de fundos ilegais controlados pelo partido situacionista, tendo

como principal operacionalizador o chefe de gabinete de governo, José Dirceu e o tesoureiro

Delúbio Soares. Cabe, como expõe Anderson, colocar tal ocorrido político que desmoralizou

em alguma medida o Partido dos Trabalhadores em perspectiva histórica, já que

O financiamento ilegal de campanhas por doadores secretos em troca de favores

sempre foi generalizado na política brasileira: o presidente do principal partido da

oposição, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, foi alvo da mesma acusação e

teve de renunciar em meio ao mesmo escândalo. A compra de votos no Congresso

não era novidade. Era sabido que Cardoso tinha molhado a mão de deputados do

Amazonas para garantir a mudança constitucional que lhe permitiu concorrer a um

segundo mandato. O legislativo brasileiro há muito vinha sendo um covil de

venalidade e oportunismo. (Anderson, 2011, p. 25)

Ainda que fosse prudente um estudo aprofundado para averiguar a cobertura midiática

a respeito do mensalão, Anderson aponta que houve uma postura hostil ao PT, e uma

cobertura massiva em torno desse ocorrido, não havendo inclusive, uma separação de uma

postura institucional e atitudes deletérias individuais.

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Mesmo com esse cenário marcado por um grande esquema de corrupção que

prejudicava sua imagem, Lula beneficiou-se de um crescimento econômico, devido ao

exterior, entre 2004 e 2006, onde PIB alcançou a média de 4,3%. Outro fator que contou a seu

favor diz respeito às políticas sociais. Ainda que o programa Fome Zero não tenha sido bem

sucedido em seu intento de auxiliar os menos favorecidos, o programa Bolsa Família

conseguiu alcançar seu fim e ficou fortemente associado ao petista. Este Programa, que usa

em torno de 0,5% do PIB, consiste em um depósito mensal para famílias de baixa renda, onde

a contrapartida seria o envio de seus alunos à escola, bem como cuidados referentes à saúde.

Numa conjuntura nacional,

O custo efetivo do programa é uma ninharia, mas seu impacto político tem sido

enorme. Não apenas porque tem ajudado, ainda que modestamente, a reduzir a

pobreza e a estimular a demanda nas regiões mais carentes do país. Mas também

devido à mensagem simbólica contida no programa: a de que o Estado se preocupa

com as condições de todos os brasileiros, não importa o quão miseráveis ou

oprimidos, como cidadãos com direitos sociais em seu país. (Anderson, 2011, p.28-

29)

Além deste crescimento econômico e programas sociais, o aumento no salário mínimo

e a elaboração do estatuto do idoso, em 2003 foram fatores que estiveram a favor de Lula. No

que concerne ao emprego, houve a abertura de novas oportunidades com reaquecimento do

mercado interno, ao ter elevado o salário mínimo e instituições que promoviam a liberação de

crédito. Assim, em seu governo, com tal crescimento econômico e o estabelecimento de

programas sociais, foi possível a alteração do quadro de pobreza no cenário nacional:

Estimativas que apontavam, de acordo com Anderson (2011), uma média de 50 milhões de

pobres caíram para 30 milhões em um intervalo de seis anos. De acordo com o Coeficiente de

Gini4, houve uma relevante diminuição de desigualdade que passou de 0,58 para 0,538. Neste

sentido, Marques e Mendes (2006) salientam que

Mais do que em qualquer outra área, as ações do governo Lula no campo social

revelam os contornos de seu projeto de poder, sua compreensão sobre a realidade e

sua ideia de que é possível um governo representar as diferentes classes sociais.

(Marques e Mendes, 2006, p. 58)

Neste cenário favorável, Lula candidatou-se para presidência novamente em 2006,

pela coligação A Força do Povo (PT, PRB e PCdoB). Nestas eleições, sua campanha era

4 Coeficiente de Gini é um índice para medir a desigualdade, desenvolvido por Corrado Gini. Comumente

utilizado para medir distribuição de renda, varia de 0 a 1, onde 0 indica que há igualdade de renda e 1 indica a

completa desigualdade de renda.

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essencialmente retrospectiva em relação às realizações feitas em sua gestão e detinha um

cunho emotivo, ainda que mais ameno se comparado à estratégia eleitoral de 2002. Houve

também a presença de ataques incisivos à oposição em decorrências das privatizações

ocorrida nos oito anos de governo de FHC do PSDB. Outro ponto que merece destaque nas

eleições de 2006, como salienta Rennó e Cabello (2010), é a possibilidade de o eleitor, ao

votar retrospectivamente, comparar o desempenho do partido PSDB e PT. Como aponta

Panke o processo eleitoral em 2006, teve uma relevante marca de polarização econômica

entre os candidatos, onde Lula estaria em prol das classes mais abastadas, ao passo que seu

principal rival, Geraldo Alckmin (PSDB) teria um publico de classe média e alta. Aqueles

cidadãos pertencentes à classe média que apoiaram Lula em 2002 teriam deixado de apoiá-lo

nas eleições seguintes em decorrência do mensalão. (Anderson, 2011)

Havendo eleição em dois turnos, Lula elegeu-se com 58.295.042 votos (60,8%), contra

39,2% dos votos válidos, feito Geraldo Alckmin (PSDB). Há estudos (Rennó, 2006, 2007;

Carvalho, 2006; Rennó e Hoepers, 2010) que apontam que esta eleição deu-se em dois turnos

em decorrência do esquema de corrupção que veio a tona, onde simpatizantes da gestão

votaram como punição no primeiro turno. Do contrário, o candidato petista tinha condições

suficientes para ser eleito em primeiro turno.

A fim de averiguar o contexto político em que se enquadrou esta segunda gestão de

Lula, e assim traçar expectativas quanto à governabilidade e claridade de responsabilidade,

cabe analisar a composição partidária do Senado e da Câmara de Deputados, bem como das

pastas ministeriais.

Na Câmara dos Deputados, o partido situacionista ocupa na 53ª Legislatura 83

cadeiras (16,18%), sendo o segundo partido com maior número de cadeiras, ainda que, se

comparado à legislação anterior, tenha decrescido em quantidade. Tendo sua base de governo

composta por PCdoB, PDT, PMDB, PP (PPB), PR (PL), PRB, PSB, PT, PTB e PV, PSC, seu

apoio parlamentar aumenta consideravelmente. A base governista conta com 345 cadeiras

(67,25%).

Com o objetivo, ainda, de averiguar o grau de dispersão dos partidos na Câmara de

Deputados far-se-á uso do índice de fracionalização e índice do número efetivo de partidos.

Na Câmara dos Deputados brasileira no ano de 2006, que conta com a presença de 21

partidos, este índice de fracionalização foi de 0,89. Em análise ao número de partidos

efetivos, com o uso da fórmula Laakso Taagepera, foi possível verificar que na Câmara dos

deputados, o número é de 9,29, evidenciando, desta forma, um alto índice de partidos

relevantes.

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No que concerne à disciplina partidária da coalizão na Câmara de Deputados, a partir

da análise de 882 votações nominais entre 2003 e 2008, Pasquarelli (2010), aponta que houve

disciplina partidária, com um índice de 85,5%. Ou seja, o Executivo conseguiu ditar a agenda

legislativa.

TABELA 03 – COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DA 53ª LEGISLATURA - CÂMARA DOS DEPUTADOS

(2007-2011)

PARTIDO N %

PMDB 89 17,35%

PT 83 16,18%

PSDB 66 12,87%

PFL 65 12,67%

PP 41 7,99%

PSB 27 5,26%

PDT 24 4,68%

PL 23 4,48%

PPS 22 4,29%

PTB 22 4,29%

PCdoB 13 2,53%

PV 13 2,53%

PSC 09 1,75%

PMN 03 0,58%

PSOL 03 0,58%

PTC 03 0,58%

PHS 02 0,39%

PRONA 02 0,39%

PAN 01 0,19%

PRB 01 0,19%

PTdoB 01 0,19%

TOTAL 513 100

Fonte: www.camara.gov.br

No que concerne à composição partidária do Senado entre 2007 e 2011, averigua-se

que o partido dos trabalhadores detém nove cadeiras de um total de 55 cadeiras (16,36%).

Mantendo o padrão observado na composição partidária da 52ª Legislatura, o PMDB é o

partido com maior porcentagem de assentos (25,45%), seguido do PT e PSDB, ambos com

16,36%. Ao ter em vista os partidos que compõe a base governista, o apoio neste segmento

legislativo é de 69% com 38 cadeiras das 55 totais. Com valores muito próximos dos

encontrado na legislatura anterior, o índice de fracionalização do Senado entre 2007 e 2011 é

de 0,85 e o número de partidos efetivos é de 6,66.

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TABELA 04 – COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DA 53ª LEGISLATURA – SENADO (2007-2011)

Partido N %

DEM 06 10,91%

PDT 04 7,27%

PFL 02 3,64%

PMDB 14 25,45%

PR 03 5,45%

PRB 01 1,82%

PSB 02 3,64%

PSC 01 1,82%

PSDB 09 16,36%

PT 09 16,36%

PTB 03 5,45%

PV 01 1,82%

Total 55 100,00%

Fonte: http://www.senado.gov.br

Os ministérios, que são pastas encarregadas de determinados segmentos em uma

gestão, ao não ser cargos eletivos, mas selecionados pelo presidente, são meios utilizados para

garantir apoio parlamentar e assim manter a coesão das coalizões então formadas. Assim, é

compreensível que para comportar um sistema multipartidário haverá maior presença de

partidos distintos, a fim de garantir a governabilidade. Tendo em vista a composição

partidária dos ministérios brasileiros5, todos os nove partidos que detêm cargo no inicio da

gestão/ fim da gestão pertencem à base de governo. O partido situacionista ocupa a maior

porcentagem de pastas (40,54% no inicio da gestão e 54,17%6). É saliente também o alto

percentual de cargos ocupados por técnicos (independentes). Comparando com a presença do

partido no Congresso Nacional, verifica-se que a presença do PT, que ocupa 16,18% na

Câmara dos Deputados e 16,36% no Senado é descontinuo com a porcentagem de cadeiras

ocupadas no ministério. O PMDB, por sua vez, que é um partido altamente expressivo tanto

no Senado como na Câmara dos Deputados, no inicio da gestão detêm duas cadeiras em

pastas ministeriais, ascende, chegando ao fim da segunda gestão de Lula com seis cadeiras

(25%).

5 Compreendeu-se 24 ministérios, além de secretarias e órgãos que apresentam status de ministério (ligado a

Presidência da República). Para maiores detalhes, ver anexo.

6 Houve 37 alterações ministeriais, com maior relevância para os ministérios Minas e Energia, Ministério da

Previdência Social, Secretaria de Relações institucionais, que durante o segundo mandato do governo Lula teve

quatro ministros assumindo o cargo.

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TABELA 05 - COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DOS MINISTÉRIOS – BRASIL (2006-2010)

Inicio da Gestão Fim da Gestão

PARTIDO N % N %

Independente 11 29,73% 11 45,83%

PRB 01 2,70% 00 0,00%

PCdoB 01 2,70% 01 4,17%

PMDB 02 5,41% 06 25,00%

PDT 00 0,00% 01 4,17%

PP 01 2,70% 01 4,17%

PR 01 2,70% 01 4,17%

PSB 04 10,81% 02 8,33%

PT 15 40,54% 13 54,17%

PV 01 2,70% 01 4,17%

TOTAL 37 100,00% 37 100,00%

Fonte: http://www2.planalto.gov.br/

Como já foi observado na composição partidária do Congresso Nacional, o desenho

institucional-partidário que se apreende na formação de gabinetes tenderia a dificultar a

claridade de responsabilidade do eleitor, na medida em que, para garantir a governabilidade,

na elaboração e implementação de uma plataforma de governo, o partido situacionista tem

que formar um gabinete multipartidário.

Dentre os principais desafios enfrentados por Lula em sua segunda gestão, poder-se-ia

citar a quebra da Wall Street, em 2008, que impactou em grande escala a economia norte-

americana. Em suas declarações, o presidente brasileiro apontava que o Tsunami que ocorria

nos Estados Unidos significaria uma “marolinha” na economia brasileira e assim ocorreu de

fato:

As medidas de contenção foram imediatas e eficazes. Apesar da queda na

arrecadação fiscal, a distribuição de renda aumentava, as reservas foram reduzidas, o

investimento público subiu, e o consumo doméstico foi amparado. [...] O otimismo

de Lula era funcional: como lhes diziam para não ter medo, os brasileiros saíram às

ruas e consumiram, e a demanda foi mantida. (Anderson, 2011, p.31)

Além desta postura plausível frente a um cenário econômico mundial preocupante, a

economia possuía um crescimento acima de 7%. Em vista de um cenário internacional,

Anderson aponta que sua política externa favoreceu a integração regional, enfocando a

Mercosul e a relação com países sul americano. Estabelecendo uma relação menos submissa,

Lula, que figurava um governante popular de uma relevante economia nacional, conquistou o

respeito de diversas regiões do mundo, e evidenciou em uma perspectiva global a emergente

potência brasileira, sendo este, inclusive um dos pontos que pode explicar sua popularidade,

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uma vez que gerou uma aura patriótica por parte dos brasileiros, ao ter em vista a repercussão

internacional do Brasil (Anderson, 2011).

Outro ponto relevante diz respeito à cobertura midiática brasileira da gestão de Lula.

Anderson afirma que as notícias veiculadas em veículos internacionais como Economist e

Financial Times não coincide com os jornais nacionais. Estes últimos apresentavam uma

visão negativa da forma de governo petista, já que pressupunha que faltava-lhe conhecimentos

a cerca da economia, sendo, inclusive, uma ameaça à propriedade privada e à democracia. Em

contrapartida, no cenário internacional, sua forma de conduzir a gestão, como as medidas

econômicas implantadas, era vistas como condizentes com as necessidades nacionais.

Anderson afirma que esta postura da imprensa brasileira poderia vir a ser explicada pela

conexão direta entre governante e governado estabelecida por Lula, relegando para segundo

plano a relevância dos meios de comunicação na formação do cenário político. Além disso,

tinha público que compactuava com esta visão, mas não que de fato havia prejuízos de ordem

econômica para estas pessoas. Apenas para ilustrar, a Bovespa, entre 2002 e 2010, ascendeu

523%, destacando-se de demais bolsa de valores do mundo e as elevadas taxas de juros

aumentaram os rendimentos nas cadernetas de poupança.

Lula termina seu segundo mandato com aprovação de gestão acima de 80%, de acordo

com Institutos de pesquisas (CNI-Ibope/ Datafolha/ CNT/ Sensus). Neste cenário favorável a

Lula, Dilma Rousseff candidata-se a presidência pela Coligação Para o Brasil Seguir

Mudando (PRB, PDT, PT, PMDB, PTN, PSC, PR, PTC, PSB e PC do B), em 2010. Advinda

de uma classe média alta e tendo um histórico político de luta e resistência ao regime militar,

ela não era muito conhecida até então e, ao contrário de seu antecessor, não detinha carisma e

tinha uma personalidade forte. Além de ocupar um cargo na secretaria de Energia, Minas e

Comunicações de um governo estadual petista, durante a gestão de Lula foi ministra de Minas

e Energia do Brasil e ministra-chefe da Casa Civil. Ela se mostrou muito competente em

administração, e enquanto ministra da Energia assegurou que o país não sofresse de blackouts

como foi recorrente no segundo mandato de FHC. Dentre suas promessas eleitorais, estava a

garantia de ampliação de programas habitacionais e infraestrutura, bem como melhorias na

saúde.

Nesta eleição, havia nove candidaturas homologadas. Dentre essas salienta-se

preponderância de três candidatos: Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva.

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TABELA 06 – CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DO BRASIL EM 2010

Candidato Partido Coligação

Dilma Rousseff PT Para o Brasil Seguir Mudando (PRB, PDT, PT, PMDB,

PTN, PSC, PR, PTC, PSB e PC do B)

Ivan Martins Pinheiro PCB Sem coligação

José Levy Fidelix da Cruz PRTB Sem coligação

José Maria de Almeida PSTU Sem coligação

José Maria Eymael PSDC Sem coligação

José Serra PSDB O Brasil Pode Mais (PTB, PPS, DEM, PMN, PT do B)

Maria Osmarina Marina da

Silva Vaz de Lima PV Sem coligação

Plinio Soares de Arruda

Sampaio PSOL Sem coligação

Rui Costa pimenta PCO Sem coligação

Fonte: www.tse.jus.br

No primeiro turno, Dilma Rousseff obtém 46,91% dos votos, seguida de 32,6% de

votos obtidos por José Serra. No segundo turno, com 56,05% dos votos, Dilma Rousseff é

eleita, representando a primeira mulher a ocupar a presidência da República Federativa

Brasileira. A fim de mensurar a claridade das alternativas disponíveis nas eleições de 2010,

por fim, vê-se que o número efetivo de partidos em disputa é de 2,75.

TABELA 07 - RESULTADO ELEITORAL DAS ELEIÇÕES PRESIDÊNCIAS NO BRASIL EM 2010

Candidato Partido N %

Dilma Rousseff PT 47.651.434 46,91%

Ivan Martins Pinheiro PCB 39.136 0,04%

José Levy Fidelix da Cruz PRTB 57.960 0,06%

José Maria de Almeida PSTU 84.609 0,08%

José Maria Eymael PSDC 89.350 0,09%

José Serra PSDB 33.132.283 32,61%

Maria Osmarina Marina da Silva Vaz de Lima PV 19.636.359 19,33%

Plinio Soares de Arruda Sampaio PSOL 886.816 0,87%

Rui Costa pimenta PCO 12.206 0,01%

Fonte: www.tse.jus.br

Com diz Anderson, em sua posse ela quebrou o protocolo ao homenagear militantes

que se posicionaram contra a ditadura. Em análise às suas primeiras tomadas decisões,

verifica-se que elas não se distinguem da forma de gestão ortodoxa utilizada por Lula no

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inicio de seu mandato, já que mantém “[...] o salário mínimo baixo e altas as taxas de juros, e

prometendo controles mais rígidos sobre os gastos públicos. (Anderson, 2011, p.47)

3.2 MÉXICO: Análise de Conjuntura do Governo de Vicente Fox Quesada (2000-2006)

O histórico eleitoral mexicano tem apontado para avanços democráticos muito

recentemente. Com o aparecimento de diversas mobilizações da sociedade mexicana e seu

descontentamento perante o modelo político instituído, dentre os quais podem ser elucidados

o movimiento ferrocarrileros em 1958 e a organização do movimento estudantil em 1968

(Kuschick, 2002), houve a necessidade de repensar o desenho institucional, com a

implantação de reformas eleitorais. Tendo em vista tal cenário, entre 1977 e 1986 houve o

estabelecimento da garantia de abertura do espaço político para a participação da oposição

(Leycegui e Souki, 2006). Ainda que não se tenha bem estabelecido o período da transição

democrática mexicana, Hoyos (2007) salienta que seria um consenso que as eleições de 1988,

ao ter um alto nível de competitividade, fragilizou o partido até então hegemônico e teve-se a

necessidade de repensar o cenário político a fim de se adequar a estes novos quadros a nível

federal e local. Entre 1990 e 1994 estabeleceram-se instituições eleitorais encarregadas de

tornar o processo eleitoral transparente, como o Instituto Federal Eleitoral (IFE) e, além disso,

houve ajustes institucionais até 1996 a fim de promover a consolidação de um processo

eleitoral democrático (Leycegui e Souki, 2006). Assim estabelecidas tais alterações no regime

político mexicano e havendo uma emergente configuração partidária, Kuschick (2002) aponta

que a partir de 1977 houve mudanças relevantes na opinião pública, na participação política,

como também o papel desempenhado pelos meios de comunicação.

Em nível federal, a alternância de poder em 2000 reflete como um fator de

consolidação do regime democrático e legitimidade do processo eleitoral. Desde 1929,

ascendeu ao poder, de forma ininterrupta, o Partido Nacional Revolucionário (PNR), que

posteriormente passou a ser denominado Partido da Revolução Mexicana (PMR) e que

atualmente é designado como Partido Revolucionário Institucional (PRI). Contudo, tal

hegemonia rompe-se quando Vicente Fox Quesada é eleito presidente do México pela

coligação Alianza por el Cambio, composta pelo Partido da Ação Nacional (PAN) e pelo

Partido Verde Ecologista de México (PVEM).

Pleiteando a vaga para executivo federal, Vicente Fox desenvolveu uma trajetória

peculiarmente diferente do quadro de atores políticos mexicanos a começar pela sua

experiência profissional, onde adveio da iniciativa privada, enquanto que seus antecessores,

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comumente ocuparam cargos burocráticos (Leycegui e Souki, 2006). Outro fator relevante é

sua trajetória intrapartidária. Como coloca Leycegui e Souki (2006), a trajetória política de

Vicente Fox dentro do PAN - que seria um partido com traços meritocráticos onde o fator

tempo tem sua relevância na atribuição de funções -, é um tanto peculiar: recém-filiado, em

1988 foi eleito representante federal na Câmara dos Deputados, ocupando posteriormente a

cadeira do governo do estado Guanajuato, até chegar à presidência em 2000.

Com o auxílio de uma organização civil denominada “Amigos de Fox”, que teria

raízes empresariais, Fox declarou ter interesse em candidatar-se presidente nas eleições que

iriam ocorrer em 2000 antes mesmo de ser lançado como candidato pelo partido ao qual é

filiado. Governador pelo PAN no estado Guanajuato e empresário, Fox soube adequar-se e

utilizar a lógica do empreendedorismo para obter visibilidade e vender uma imagem que

atendia as demandas da sociedade. O Projeto Millenium, elaborado no interior desta

organização civil, ditou a operacionalização da pré-campanha, antes de seu lançamento oficial

pelo PAN, bem como na campanha eleitoral em si. Neste projeto previa medidas para que o

candidato tivesse visibilidade, portando-se de determinadas maneiras, caracterizando, assim,

um verdadeiro manual inspirado em questões empreendedoras a fim de vender determinada

mercadoria. Buscava-se construir, através dos meios de comunicação, “[...] a reputação de

Fox como servidor público íntegro, inovador, profissional e moderno” (Ávila, 2005 p.75),

sendo um representante de uma mudança efetiva.

Outro ponto que intentava tal organização civil, que se iniciou em 1998, era conseguir

uma inserção em associações intermediárias da sociedade civil, apoio de lideranças para

endossar a campanha, como também angariar fundos (Ávila, 2005). Além disso, os “Amigos

de Fox” tornaram-se um meio para que eleitores de diferentes orientações e carreira que não

teriam uma identidade partidária se pronunciassem em meio a um cenário marcado pela falta

de credibilidade nos partidos. Destarte, a campanha de Fox, dotada de uma linguagem simples

que aproximava o eleitor do candidato, ia ganhando visibilidade e consolidando uma imagem

de

[...] provinciano, pertencente a uma família de classe média alta sem relações

políticas, profissional, rancheiro e empresário exitoso, político de oposição com

experiência governamental, católico, separado de sua mulher mas responsável pelo

quatro filhos adotados durante o matrimônio, de caráter extrovertido, seguro de si

mesmo, sensível e sincero. Estes e outros traços agregados a sua trajetória e

experiência em diversos âmbitos da vida pública e privada de Vicente Fox

permitiram com que ele se apresentasse como um homem capaz, confiável e com

possibilidades reais de êxito. (Benavente, 2003, p.107)

Assim,

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Votar em Fox foi considerado uma aposta para transformar o país, representou a

esperança de que as condições de cada cidadão melhorariam e, sobretudo, alimentou

a possibilidade de conseguir o que até então parecia impossível: que a presidência

do país fosse assumida por um candidato não priista (Benavente, 2003 p.107-108)

Isso justificaria, inclusive, segundo Leycegui e Souki, (2006) o fato de Vicente Fox

angariar voto de diversas orientações ideológicas, uma vez que através de uma imagem

carismática passou confiança e credibilidade, mostrando ser, de fato, um candidato da

mudança que a sociedade queria ver. O fato de ser candidato do PAN passaria para segundo

plano, devido a esta conjuntura.

No que se refere a suas propostas, ela se caracterizam como ambiciosas. Dentre a sua

plataforma programática, poderíamos destacar os seguintes pontos, como descreve Leycegui e

Souki (2006):

[...] 1) iniciar um novo milagre econômico ao prometer um crescimento de 7%; 2)

que o desenvolvimento seja visível para todos ao mudar o combate da pobreza por

geração de riqueza; 3) Viver em paz, com segurança e justiça, consolidando o

Estado de Direito; 4) Ter um bom governo, que seja eficaz, que tenha valores,

liderança e que tudo que se desenvolva tenha surgido da comunidade, e 5) contar

com mais recursos para o desenvolvimento por meio de contribuição do sistema

financeiro e impulso da bancada social (Leycegui e Souki, 2006, p. 299-300)

Seu projeto político buscava apreender interesses e aspirações políticas de amplos

setores da sociedade, com um projeto humanista a fim de

[...] consolidar uma república e um Estado eficaz e socialmente responsável.

Falava-se também da fortaleza da família como condição fundamental para o

fortalecimento da sociedade e da nação. (Leycegui e Souki, 2006. p.306)

Além disso visava “[...] encontrar um equilíbrio institucional entre um Estado forte,

responsável e uma sociedade forte e responsável” (idem, ibdem), assim como

[...] uma serie de reformas nas instituições, cujo propósito era mudar as estruturas e

funções do regime para adequá-las aos preceitos de uma democracia. (idem, p. 307)

Seu principal adversário, Francisco Labastida que era candidato pelo PRI, todavia,

adotou um discurso que desqualificava a oposição, mas não obteve o sucesso esperado, e,

além disso, perdia credibilidade uma vez que suas propostas destoavam da realidade vista pela

sociedade, onde em torno de 40% da sociedade estava em estado de pobreza, com carência de

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serviços de energia elétrica e 10% da população mexicana fazia uso de língua indígena

(Benavente, 2003).

Compreendido tal cenário eleitoral, em 2000, de acordo com dados do Instituto

Federal Eleitoral (IFE), Vicente Fox Quesada (PAN e PVEM) obteve 42,52% dos votos,

seguido de Francisco Labastida Ochoa (PRI) com 36,11%, e em terceiro Cuauhtémoc

Cárdenas Solórzano (PRD e PT) com 16,64%.

Em sua composição de gabinetes, - que seriam ocupações não eletivas, responsáveis

por setores específicos da sociedade dentro de uma gestão - verifica-se que prevaleceram

perfis e carreiras profissionais em detrimento de carreira e lealdade partidária (Capetillo,

2005). Tal formação não foi bem quista uma vez que

A escassa inclusão de panista com trajetória no gabinete, gerou confrontos entre a

estrutura partidarista e o futuro governo, assim como evidentes diferenças entre o

programa político do partido e as políticas públicas implementadas, que responde

mais a interesses da equipe do governante, intercruzados por pressões de grupos de

interesse que impulsionaram a candidatura de Fox para o Executivo Federal.

(Capetillo, 2005, p.57)

Mas como expõe Capetillo (2005), não foi algo que gerou espanto. Dentre os

integrantes havia políticos de outras designações partidárias, intelectuais, indivíduos do setor

empresarial. Aqueles que seriam do PAN enquadrariam-se numa perspectiva neopanista.

TABELA 08 - COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DOS MINISTÉRIOS - MÉXICO

INÍCIO DE GESTÃO FIM DE GESTÃO

PARTIDO N % N %

PAN 09 45% 13 65%

Independente 06 30% 02 10%

Nueva Alianza 01 5% 01 5%

PRI 01 5% 01 5%

Militar 03 15% 03 15%

TOTAL 20 100,0% 20 100,0%

Fonte: http://fox.presidencia.gob.mx/gabinete/

Uma vez que se observam diversas mudanças no decorrer da gestão, é que se mostrou

pertinente um comparativo entre a formação de seu gabinete após sua eleição, e no seu ultimo

ano de mandato em 2005.7 Um fator que chama atenção diz-se respeito ao percentual de

7 Houve 19 mudanças ministeriais, sendo que o ministério que houve mais alterações na faixa temporal em

questão foi a Secretaria da Energia, que teve quatro ministros.

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cadeiras ocupadas por carreiras independentes, sem uma ligação partidária, e seu decréscimo,

havendo uma transferência para aqueles políticos do PAN, que termina o mandato ocupando

65% das cadeiras. Há um ministério que foi ocupado pelo PRI e outro pelo Nueva Alianza,

sendo este fator interessante também, na medida em que oferece à oposição meios de ação em

sua gestão, ainda que o tamanho do partido situacionista ocupe o maior percentual das

cadeiras.

Quando eleito em meio a tantas expectativas, como aponta Mancera (2004), Vicente

Fox depara-se com uma realidade social e econômica que não lhe favorece. Nas eleições em

2000, houve também a eleição daqueles candidatos que iriam compor a LVIII Legislatura del

Congreso de La Unión de México. Como o sistema é bicameral, houve a eleição de 500

candidatos para ocupar a Câmara dos Deputados e 128 cadeiras ocupadas no Senado8.

Quando tem em vista a composição partidária do Senado, observa-se a saliência do partido de

oposição PRI, que ocupa 45,31% das cadeiras, seguido do partido situacionista PAN, com

36,72%. Este fator, aliado também a predominância de governadores de partido da oposição

eleito, como aponta Mancera (2004), vem a dificultar a autonomia de Vicente Fox e de seu

partido na implementação de políticas, uma vez que terá a necessidade de negociação com a

oposição.

TABELA 09 – COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DO SENADO LVIII E LIX DA UNIÃO DO MÉXICO9

PARTIDO N %

Independente 03 2,34%

PAN 47 36,72%

PRD 15 11,72%

PRI 58 45,31%

PVEM 05 3,91%

TOTAL 128 100,00%

Fonte: http://www.senado.gob.mx/index.php?ver=old&mn=5

Uma vez que o sistema é bicameral, cabe também verificar a composição partidária da

Câmara dos Deputados, já que esta pode vir a interferir no processo de elaboração e

8 Para ocupação destas vagas, o processo eleitoral se dá de duas formas: Uma parcela das cadeiras é por voto

distrital e o restante por um sistema proporcional. No senado, são eleitos três por cada estado da Federação

(que totaliza 96 cadeiras), e as 32 cadeiras restantes são preenchidas proporcionalmente à cinco subdivisões do

México. Na Câmara dos Deputados, por sua vez, 300 são eleitos de acordo com distritos e o restante é eleito

proporcionalmente a partir de uma lista nacional.

9 Considerando que aqueles eleitos para a Câmara de Deputados permanecem em seu cargo, sem possibilidade

de reeleição, por apenas três anos e aqueles ocupante ao Senado ocupam por seis anos, estes últimos participam

de duas Legislaturas.

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implementação de plataformas políticas. Na LVIII Legislatura que vigorou de 01 de setembro

de 2000 a 31 de agosto de 2003, percebe-se uma pequena vantagem do PRI sobre o PAN. E

como assinalado anteriormente, o fato de o PAN não obter maioria faz-se a necessidade de

negociações com a oposição. Outro ponto relevante diz respeito a expressividade dos partidos.

Ainda que conte com a presença de oito partidos, três deles (PRI, PAN e PRD) ocupam

93,6% das cadeiras. Quando se verifica o índice de fracionalização, que é a probabilidade de,

aleatoriamente, pegar cadeira de partidos diferente, este índice é de 0,64. No que concerne ao

número de partidos efetivos, o valor é 2,8. Corroborando este ponto, Hoyos (2007) afirma que

o sistema partidário mexicano tende a ser tripartidarismo a nível nacional, ainda que haja

contrastes a nível estadual e local, onde há formatos bipartidaristas, tripartidaristas ou

dominante.

TABELA 10 – COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS – LVIII LEGISLATURA

DA UNIÃO DO MÉXICO (setembro de 2000 a agosto de 2003)

Partido N %

PRI 208 41,60%

PAN 207 41,40%

PRD 53 10,60%

PVEM 16 3,20%

PT 08 1,60%

PSN 03 0,60%

PAS 02 0,40%

CDPPN 03 0,60%

TOTAL 500 100,00%

Fonte: http://www.diputados.gob.mx/inicio.htm

Ao ter em vista um índice que compreende as regras eleitorais, regras intrapartidárias e

regras internas da legislatura que viriam a propiciar disciplina partidária, Martínez (2009)

aponta que o PRI obteria 0,67, o PAN teria 0,62, e o PRD, por sua vez teria 0,53. Ao se

aproximarem de um, estes valores indicariam que os partidos tenderiam a ser disciplinados.

Fator este que viria a auxiliar na claridade de responsabilidade. Quando se averigua a

disciplina partidária da LX Legislatura da Câmara de Deputados, constata-se alto índice de

disciplina partidária. A média fica entre 83% (PRD) e 98% (PAN). Em análise às legislaturas

anteriores verifica-se que houve uma tendência a altos índices de disciplina partidária. Assim,

considerando que não houve alteração institucional, as pequenas diferenças de disciplina

partidária seria explicada ao tipo de tema que se trata.

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Considerando que o presidente é eleito para um mandato de seis anos e a Câmara dos

Deputados é renovada a cada três anos, para que se possa apreender a gestão como um todo,

faz-se pertinente ter em vista as duas legislaturas que perpassa tal recorte temporal. Tendo

vigência entre 01 de setembro de 2003 e 31 de agosto de 2006, a LIX Legislatura do

Congresso da União do México apresenta, como já visto anteriormente, a saliência da força

do PRI, PAN e PRD, totalizando 89,2%. O partido situacionista, entretanto, mostra um

decréscimo relevante, afastando-se do PRI. PRD, por sua vez, apresenta um crescimento de

8,8%. Ao ter em vista o índice de fracionalização, este valor na LIX Legislatura é de 0,71,

um pouco mais elevado que o observado na composição partidária da legislatura anterior.

Quando se averigua o número de partidos efetivos, este valor é de 3,4.

TABELA 11 – COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS – LIX LEGISLATURA DA

UNIÃO DO MÉXICO (setembro de 2003 a agosto de 2006)

Partido N %

PRI 201 40,20%

PAN 148 29,60%

PRD 97 19,40%

PVEM 17 3,40%

PT 6 1,20%

CONV 5 1,0%

SP 26 5,20%

TOTAL 500 100,00%

Fonte: http://sitl.diputados.gob.mx/LIX_Legislatura/indice.html

Um ilustrativo da dificuldade sofrida pelo partido situacionista quando não obtém

maioria em tais esferas é a reforma elétrica, proposta pela gestão de Fox. Como expõe

Mancera (2004), durante a gestão de Adolfo Lópes Mateos (1985-1964), o setor elétrico foi

nacionalizado, entretanto não teve subsídios que garantisse sua manutenção e expansão.

Assim, Vicente Fox tinha por intento fazer mudanças constitucionais que permitissem o

investimento privado para que, assim, a indústria elétrica fosse aperfeiçoada, sem, no entanto,

privatizá-la em sua totalidade. Como tal proposta não obteve apoio de trabalhadores desse

setor bem como da bancada opositora, sua operacionalização foi impedida.

Outra proposta de governo significativa, mas que não foi bem vista, foi a reforma

fiscal integral. Como Mancera (2004) aponta,

Seu Secretário da Fazenda, Francisco Gil Díaz, elaborou um pacote de medidas

fiscais em que incluíam principalmente as seguintes: redução de imposto sobre a

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renda e homogeneização do imposto ao valor agregado em um nível de 15%.

(Manceira, 2004, p.16)

Entretanto tal medida econômica teve uma repercussão negativa, uma vez que

encareceu o preço de produtos básicos, como medicamentos e alimentos, e não houve

habilidade de negociação da gestão para contornar a situação. Além disso, durante a sua

campanha eleitoral, Fox prometeu um crescimento econômico anual de 7%, entretanto o

balanço dos três anos mostra um crescimento bem abaixo do esperado.

Ainda que tenha especialista que acreditem que o México estivesse passando por uma

crise econômica, Mancera (2004) defende que a economia mexicana passa por um processo

de estagnação, mas não se tem, ao menos por enquanto, sinais de instabilidade

macroeconômica. O grande problema da gestão de Vicente Fox “[...] consiste em alcançar um

crescimento econômico significativo, assim como manter a estabilidade dos principais

agregados macroeconômicos” (Manceira, 2004, p 16). O México enfrenta dificuldades

econômicas nos últimos 20 anos, e ainda que não se queira construir uma imagem pessimista,

Mancera (2004) adverte a capacidade de condução de políticas econômicas pelos governantes.

No que concerne à política externa, sua plataforma de governo previa medidas

[...] proativa e diversificada, uma maior participação em organizações

internacionais, uma ampliação do comércio exterior, a defesa dos direitos dos

mexicanos que vivem no extrangeiro e um papel mais dinâmico das embaixadas e

consulados do México. (Velázquez Flores, 2008, p.82)

Com um ambiente internacional favorável a negociações, em decorrência da ascensão

de um partido panista, que legitimou o país enquanto uma democracia, verifica-se dentre os

maiores ganhos, em âmbito multilateral, a incorporação do México no Conselho de Segurança

da ONU, a realização de reuniões tendo como sede o país, a nomeação de mexicanos em

organizações internacionais. A partir de um balanço, averigua-se, entretanto, que as medidas

não visaram o interesse nacional, já que não se vê avanço econômico e social internamente.

Os principais beneficiários foram as elites econômicas e políticas (Velázquez Flores, 2008).

Assim, ainda que seja saudável a alternância de poder, para Mancera (2004) a gestão

de Vicente Fox for marcada por um

[...] governo sem capacidade de liderança e extremamente ineficiente na condução

dos assuntos mais triviais, assim como os mais significativos. No que diz respeito ao

crescimento econômico e geração de empregos, as respostas do governo tem sido

insuficientes algumas vezes e inexistentes na maioria delas. Na metade do sexênio, o

governo do presidente Vicente Fox carece de linha de condução, e como afirmaram

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os clássicos, “Não há bom vento para quem não sabe para onde se dirige”. (Mancera,

2004, p.16)

Mesmo a gestão não sendo bem avaliada por estudiosos e especialistas, a opinião

pública se mostrou favorável ao trabalho desenvolvido pelo panista, com 61% de aprovação,

de acordo com uma pesquisa encomendada pelo períodico “reforma”. Magar e Romero (2007)

apontam que tal aprovação estaria atrelada à economia estável, assim como programas sociais

com enfoque em saúde e moradia. Outro fator relatado pelos os autores, que auxilia nesta

avaliação, poderia ser uma satisfação genérica com a democracia em decorrência da posse de

Vicente Fox, que foi o responsável por “[...] sacar al pri del poder” (Magar e Romero, 2007,

p.189)

Em 19 de janeiro de 2006 iniciou as campanhas eleitorais pra presidente, com um

ambiente que corresponderia às expectativas democráticas. Andrés Manuel Obrador, pelo

PRD, aparecia na frente nas pesquisas eleitorais, seguido Felipe Calderón, candidato

situacionista, que logo começou a crescer gradativamente por conta de erros estratégicos e de

comunicação do candidato do PRD (Magar e Romero, 2007). Candidato do PRI não tinha

chances reais de se eleger, de acordo com o cenário apresentado pelas pesquisas de opinião.

TABELA 12 – CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DO MÉXICO EM 2006

Candidato Partido Coligação

Felipe Calderón Hinojosa PAN Sem Coligação

Roberto Madrazo Pintado PRI Alianza por México (PRI e PVEM)

Andrés Manuel López Obrador PRD Coalición Por el Bien de Todos (PRD, PT

e Partido Convergencia)

Patricia Mercado Castro Partido Alternativa

Socialdemócrata y Campesina Sem Coligação

Roberto Campa Cifrián Partido Nueva Alianza Sem Coligação

Fonte: http://www.ife.org.mx

Felipe Calderón Hinojosa, candidato situacionista foi coordenador da bancada panista

em San Lazaro na LVIII Legislatura, sendo posteriormente, por um curto prazo, ocupante da

Secretaria de Energia.

Como aponta Romero (2006), as propostas eleitorais de Calderón enquadram-se numa

perspectiva onde o Estado seria o regulador, de acordo com um modelo neoliberal, ou seja, a

essência de sua ação estaria na regulação das relações estabelecidas entre produtores e

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consumidores, numa sociedade marcada pelo livre comércio. Seu principal adversário, por sua

vez, detinha propostas que caracterizava um Estado

[...] comprometido com uma política social que colocasse ênfase na distribuição de

renda, que mantivesse a propriedade estatal de empresas estratégicas e que marcasse

uma distância das esferas de participação e influência privada e estatal. (Romero,

2006, p.77)

Destarte, como coloca Romero (2006), Felipe Calderón partiria de uma perspectiva

mais clássica da política, onde prevaleceria a política enquanto uma extensão para obter

benefícios em negócios privados e a questão financeira que aparece como suporte

imprescindível da campanha. O candidato do PRD tenderia a adotar uma perspectiva

heterodoxa de fazer política, sem unir-se às elites políticas e prevalecendo um canal direto de

comunicação com a sociedade.

Num cenário eleitoral muito acirrado, incluindo denúncias que colocaram em dúvida a

veracidade da apuração por parte do candidato do PRD, Felipe Calderón Hinojosa, candidato

situacionista é eleito com 35,89% dos votos. A diferença para o segundo lugar, ocupada por

Andrés Manuel Lópes Obrador, é de apenas 0,58%, uma vez que no México as eleições são

decididas em um turno. Em terceiro lugar está o candidato do PRI, Roberto Madrazo Pintado,

com 22,26%. Quando se calcula o número de partidos efetivos em tal eleição, a partir dos

votos recebidos, averigua-se o valor 3,1. Ou seja, em tal eleição houve a presença de três

grandes forças partidárias (PAN, PRI e a dissidente ala esquerdista do PRI, PRD).

TABELA 13 – RESULTADO ELEITORAL DAS ELEIÇÕES PRESIDÊNCIAS NO MÉXICO EM 2006

Candidato Partido N %

Felipe Calderón Hinojosa PAN 15.000.284 35,89%

Roberto Madrazo Pintado PRI 9.301.441 22,26%

Andrés Manuel López Obrador PRD 14.756.350 35,31%

Patricia Mercado Castro Partido Alternativa

Socialdemócrata y Campesina 1.128.850 2,70%

Roberto Campa Cifrián Partido Nueva Alianza 401.804 0,96%

Nulos 904.604 2,16%

Não registrado 297.989 0,71%

Fonte: http://www.ife.org.mx

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Por fim cabe contextualizar esta eleição no cenário latino-americano. De acordo com

Cerrada (2008), ainda que se reconheça que há grupos divergentes dentro do PAN, Calderón

seria um líder incontestável do neopanismo. Tal perspectiva doutrinária tem como quatros

pilares de um dito “humanismo político”: “[...] a eminente dignidade do ser humano, a

solidariedade, o bem comum e a subsidiariedade” (Cerrada, 2008, p.22). Destarte, poder-se-ia

inferir que tal partido seja compreendido à esquerda dentro de um espectro ideológico. No

entanto, ele é comumente classificado como direita na medida em que seus membros ativos e

militantes têm suas ações pautadas por questões de caráter conservador, o que, segundo

Cerrada (2008), mostra a relevância de saber discernir a instituição e seus militantes. Este

delineamento ideológico visto em âmbito latino é chamativo na medida em que o presidente

eleito Felipe Calderón (e seu antecessor, Vicente Fox) no México diverge da emergência de

presidentes populistas e esquerdistas que tem havido nos últimos anos em tal região. Dentre

os governos populistas poder-se-ia citar Hugo Chávez, presidente da Venezuela. Outro

governo de mesma linha esquerdista que emerge no cenário latino-americano é a Bolívia com

a eleição, em 2005, do membro da comunidade indígena Evo Morales. Compreendendo

aqueles governos que se enquadrariam como uma esquerda moderada uma vez que adotam

“[...] políticas ortodoxas e visando a resolução dos principais problemas nacionais por meio

do fortalecimento das instituições democráticas” (Pereira, 2006), cita-se o Chile (Michele

Bachelet), Peru (Alan Garcia), Argentina (Nestor Kirchner) e Brasil (Luiz Inácio Lula da

Silva). Cabe mencionar, todavia, um governo que, assim como o México, apresenta também

uma conduta conservadora: Álvaro Uribe, presidente da Colômbia eleito em 2006.

3.3. Síntese Comparativa

Traçar os determinantes do voto no caso brasileiro e mexicano se mostra pertinente na

medida em que ambos passam por um processo de consolidação democrática recente,

conforme apontado anteriormente. Além desta peculiaridade contextual, estes países são

presidencialistas, com eleição direta para o cargo executivo, e um sistema legislativo

bicameral, que compreende o Senado e Câmara de Deputados, eleito através de um sistema

proporcional. No que concerne ao sistema partidário, entretanto, eles divergem em sua

essência, uma vez que o Brasil é compreendido como um sistema multipartidário, ao passo

que o México detém um sistema partidário que tende ao tripartidarismo.

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva no caso brasileiro, em 2002, e de Vicente Fox

Quesada no caso mexicano, em 2000, detêm como interessante ponto de convergência a

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imagem que buscou-se passar na campanha eleitoral, ao se apresentarem como candidato da

mudança. Lula, em decorrência de sua origem social e política, além de sua imagem

carismática, teria atrelado a sua candidatura a esperança de uma mudança efetiva da realidade

brasileira, marcado por altos índices de desigualdade social. Com um perfil empresarial,

distanciando assim do candidato ao executivo brasileiro, Vicente Fox, por sua vez, era visto

como aquele político que iria promover a mudança ao tirar o partido priista do governo,

garantindo, assim como se espera em um regime devidamente democrático, a alternância de

poder. Lula, em oposição a Fox, detinha maior visibilidade e construiu uma trajetória

intrapartidária no PT, ao qual não teve dissociação em nenhum momento.

Apreendido tais traços do Brasil e México, far-se-á uso do conceito de claridade de

responsabilidade exposto por Powell e Whitten (1993), além do conceito de claridade das

alternativas disponíveis e tamanho de partido, utilizado por Anderson (2000), para estabelecer

algumas expectativas quanto ao impacto da avaliação de governo sobre o voto no incumbente,

tendo em vista o desenho institucional ao qual o individuo está inserido.

Em análise comparada a composição partidária do Senado nos casos em estudos

verifica-se preliminarmente a maior fracionalização e maior número de partidos efetivos no

caso brasileiro em ambas gestões do governo Lula. Enquanto o numero de partidos que detêm

cadeiras nesta casa legislativa brasileira, na faixa temporal em questão, varia de doze a

quatorze partidos, este número decresce para quatro na realidade mexicana. No que concerne

à ocupação do partido situacionista, o PT ocupa entre 16,36% e 13,58% ao passo que o PAN

ocupa 36,72%. Na configuração partidária mexicana, entretanto, o partido de oposição ocupa

o maior percentual de cadeiras, com 45,31%, evidenciando assim a necessidade de negociação

para a implementação de medidas políticas. Este fator também é observável no caso

brasileiro. Como o cenário é marcado pela heterogeneidade social, econômica e política,

como aponta Abranches, e por consequência disto tem-se um sistema multipartidário, é difícil

que o partido do incumbente ocupe uma maioria. Para que haja governabilidade, portanto,

recorre-se às coalizões. Considerando tais coalizões, a base de governo no Senado contaria até

2004 com um apoio de 33,3%, e com a inserção do PMDB a coalizão contabiliza 58% de

apoio. O mesmo se verifica na segunda gestão do governo petista que conta com 69% de

apoio quando visto a coalizão. Ainda que estas coalizões permitam maior governabilidade

para o caso brasileiro, se comparado com o México, estas, de acordo com o marco teórico em

uso, dificultam a claridade da responsabilidade. Se fossemos ver por este aspecto, do tamanho

do partido situacionista no governo, eleitores mexicanos tenderiam a responsabilizar mais o

incumbente do que os brasileiros.

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TABELA 14 - COMPARATIVO ENTRE BRASIL E MEXICO DA COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DO

SENADO

Senado

Brasil México

(2003-2007) (2007-2011) (2000-2006)

Número de Cadeiras 81 55 128

Número de Partidos 14 12 04

Fracionalização dos Partidos 0,84 0,85 0,64

Número de Partidos efetivos 6,38 6,66 2,8

% de cadeira ocupada pelos partidos da base

aliada 33,3% -58% 69,00% 40,63%

% de cadeira ocupada pelo partido do

presidente 13,58% 16,36% 36,72%

Fonte: http://sitl.diputados.gob.mx/LIX_Legislatura/indice.html e http://www2.camara.gov.br/

Uma vez que o sistema legislativo é bicameral, cabe apreender também a configuração

partidária da Câmara dos Deputados. Como se observa no Senado, o Brasil detém o maior

número de partidos, quando se compara ao México, fator este que reflete na fracionalização

do partido e no número de partidos efetivos. O partido do incumbente brasileiro ocupou entre

16,16% e 17,74% das cadeiras, base parlamentar esta que cresce acentuadamente quando se

considera a coalizão. No que concerne à realidade mexicana o partido situacionista ocupa

41,3% das cadeiras ao passo que o partido oposicionista ocupa 41,6% entre 2000 e 2003. Um

ponto a ser salientado sobre o México, ainda, é que três partidos (PRI, PAN E PRD) ocupam

93,6% entre 2000 e 2003 e 89,2% entre 2003 e 2006.

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TABELA 15 - COMPARATIVO ENTRE BRASIL E MEXICO DA COMPOSIÇÃO PARTIDÁRIA DA

CÂMARA DE DEPUTADOS

Câmara de Deputados

Brasil México

(2003-2007) (2007-2011) (2000-2003) (2003-2006)

Número de Cadeiras 513 513 500 500

Número de Partidos 19 21 08 07

Fracionalização dos Partidos 0,88 0,89 0,64 0,71

Número de Partidos efetivos 8,49 9,29 2,8 3,4

% de cadeira ocupada pelos partidos

da base aliada 42,5% - 66,6% 67,25% 44,60% 33,00%

% de cadeira ocupada pelo partido

do presidente 17,74% 16,18% 41,30% 29,60%

Fonte: http://sitl.diputados.gob.mx/LIX_Legislatura/indice.html e http://www2.camara.gov.br/

A partir de tais dados explicita-se que em ambas as casas legislativas tem-se um

cenário similar em cada país em questão. Verifica-se que nenhum dos casos em análise teria

condições ideais para permitir a máxima claridade de responsabilidade, entretanto, por uma

perspectiva comparativa verifica-se que o México garantiria maior índice de claridade de

responsabilidade do que o Brasil.

O Brasil é marcado por um cenário multipartidário e em decorrência disso com baixo

nível de claridade de responsabilidade, uma vez que não é possível assegurar maioria nas

casas sem coligar com outro partido. A realidade mexicana, por sua vez, tende ao

tripartidarismo, ainda que haja necessidade de coligar para a implementação de medidas.

Outro fator, além do tamanho do partido, que estaria atrelado ao conceito de claridade

de responsabilidade é quanto à coesão em votações da bancada parlamentar. Como já se

ressaltou, Limongi (2006) aponta para o alto grau de disciplina partidária no caso brasileiro.

Quando se analisa 882 votações nominais entre 2003 e 2008 o índice de disciplina partidária é

85,5% (Pasquarelli, 2010). No que concerne ao México, a partir de configurações

institucionais, verifica-se na LX Legislaturas e suas anteriores uma tendência à disciplina

partidária (Martínez, 2009). Assim, em ambos os países em estudo verifica-se que este quesito

vem a auxiliar o individuo a responsabilizar o partido pelas medidas implementadas. Um

ponto que merece ser pontuado, no entanto, por fugir um pouco do objetivo, não será

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aprofundado diz respeito ao caso brasileiro e as críticas quanto ao problema de

governabilidade em decorrência de seu cenário multipartidário. Ao haver alto índice de

disciplina partidária, a coalizão torna-se um meio eficiente para que o Executivo consiga ditar

a agenda legislativa.

Outro ponto institucional que merece atenção é a composição partidária dos

ministérios, até porque estes são meios que por vezes vem a assegurar a governabilidade, ao

garantir a participação de partidos em troca de apoio parlamentar. O gabinete mexicano detém

a preponderância de perfil e carreiras profissionais em detrimento de carreira e lealdade

partidária. Outra questão que chama a atenção para este é a presença de uma cadeira por um

candidato da oposição. Com 19 mudanças de ministros mexicanos, com maior destaque para

Secretaria de Energia que houve quatro mudanças em seis anos, este é composto por apenas

três partidos e categorias independentes. No caso brasileiro, por sua vez percebe-se a presença

de mais partidos, sendo todos da base de apoio governamental. No que concerne ao partido do

presidente, percebe-se que os maiores percentuais encontram-se na realidade mexicana, sendo

isso plausivelmente explicado pelas características partidárias e necessidades de coligação

para garantia de governabilidade que difere entre os países em questão.

TABELA 16 - COMPARATIVO ENTRE BRASIL E MÉXICO SOBRE FORMAÇÃO DE GOVERNO

Brasil (2006-2010) México (2000-2006)

Início de

Gestão Fim de Gestão

Início de

Gestão Fim de Gestão

Número de ministérios 37 37 20 20

Número de partidos nos

ministérios 08 08 03 03

Número de partidos da base

aliada nos ministérios 08 08 00 00

% de cadeira ocupada pelo

partido do presidente 40,54% 54,17% 45,0% 65,0%

Fonte: http://www.brasil.gov.br/ e http://fox.presidencia.gob.mx/gabinete

Por fim cabe averiguar a claridade das alternativas disponíveis, compreendendo que a

racionalidade em relação ao voto varia inversamente ao número de alternativas, na medida em

que a restrição é um fator relevante quando se empreende a consistência de um sistema de

crenças.

O candidato situacionista Felipe Calderón disputou sem coligação, numa competição

com mais quatro candidatos. O número efetivo de partidos, a partir do total de votos recebidos

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é de 3,1, ao passo que na realidade brasileira o número de partidos efetivos é mais baixo, com

2,71. A eleição brasileira contou com nove candidatos, mas merece destaque o partido

situacionista com a candidata Dilma Rousseff, o candidato oposicionista José Serra e Marina

Silva que aparecia enquanto uma terceira via.

Assim delineado o quadro comparativo e compreendendo que onde haja níveis altos de

claridade da responsabilidade, menor índice de partidos efetivos pleiteando uma vaga e maior

inserção do partido situacionista na base de governo e no meio legislativo, o eleitor tenderá a

punir ou recompensar mais seu representante, na medida em que se terá melhor delineado o

responsável por determinada medida, temos as seguintes hipóteses:

- No caso mexicano, dada as características do sistema partidário que tende ao

tripartidarismo, sua disciplina partidária e maior presença do partido situacionista nas casas

legislativas e em cargos ministeriais, a avaliação do governo estará mais correlacionada ao

voto no incumbente em 2006, quando comparado ao caso brasileiro;

- No caso brasileiro, dada as características do sistema partidário que tende ao

multipartidarismo e necessita recorrer a coligações, menor presença do partido situacionista

nas casas legislativas e em cargos ministeriais, a avaliação do governo estará menos

correlacionado ao voto no incumbente em 2010, quando comparado ao caso mexicano.

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4 ANÁLISE DE VOTO NO INCUMBENTE

4.1 Voto no Brasil em 2010

Em busca de verificar em que medida a avaliação da gestão de 2003 a 2010,

encabeçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores,

converteu-se em voto para sua incumbente, Dilma Rousseff, temos a tabela 17. Dentre

aqueles que avaliaram o governo como Muito bom, 74,4% direcionou seu voto á candidata

situacionista, ao passo que 90,5% daqueles classificaram como péssima a gestão petista

votaram em outros candidatos. Estes valores se confirmam tanto pelo peso da correlação de

Spearman (-0,364) quanto pelo resíduo padronizado10

. Tem-se ausência de respondentes que

votaram em outros candidatos e avaliaram como muito bom o governo (-8,1), como, também

teve ausência, entre aqueles que classificaram como péssimo o governo e votaram no

incumbente (-2,7). Destarte, verifica-se que há uma correlação entre avaliação e voto no

incumbente, onde a medida que aumenta a satisfação com a gestão anterior, os eleitores

tenderiam a votar no incumbente nas eleições de 2010 no Brasil.

10

A análise de resíduos padronizados é a verificação dos valores que representam a relação biunívoca (nas duas

direções) com probabilidade de chances de ocorrências. Ou seja, são os valores que sobram quando a

distribuição não é aleatória na relação o observado e o esperado. Ao se estabelecer 95% de intervalo de

confiança, essas chances de ocorrência são de ± 2,5%. Elas servem de pontos de corte para o nível de

significância de falta ou excesso de ocorrência entre as variáveis. Assim, ela permite distinguir as relações de

ocorrências casuais das não-casuais. Como o valor na tabela para o intervalo de confiança de 95% é de 1,96,

pode-se considerar que valores de resíduos padronizados acima de + 1,96 ou abaixo de – 1,96 apresentam

excessos de casos, sendo, portanto, causas das relações não-aleatórias apontadas pelo qui-quadrado (CERVI,

2011).

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TABELA 17- AVALIAÇÃO DO GOVERNO * VOTO NO INCUMBENTE

Voto no incumbente

Total

voto em outro

candidato voto no incumbente

Avaliação do

governo

Muito bom N 147 428 575

% 25,6% 74,4% 100,0%

Std. Residual -8,1 7,9

Bom N 623 465 1088

% 57,3% 42,7% 100,0%

Std. Residual 3,8 -3,8

Ruim N 80 5 85

% 94,1% 5,9% 100,0%

Std. Residual 5,9 -5,8

Péssimo N 19 2 21

% 90,5% 9,5% 100,0%

Std. Residual 2,7 -2,7

Total N 869 900 1769

% 49,1% 50,9% 100,0%

Fonte: CSES – Brasil, 2010. Sig: 0,000. Coeficiente Qui-quadrado de Pearson: 239,737. Spearman: - 0,364.

Visando averiguar em que medida a satisfação com o cenário econômico do Brasil é

fator explicativo da direção do voto no incumbente, tem-se a tabela 18 que indica que se pode

rejeitar a hipótese nula. Entre os respondentes que classificaram como melhor a situação de

seu país, 55,9% votaram em Dilma Rousseff, contra 44,1%. Eleitores classificaram como

péssima a situação econômica do país tenderam a votar em outros candidatos, que não o

situacionista, com 61,1%. Em suma, a avaliação econômica sociotrópica retrospectiva se

mostrou correlacionada com o voto dado pelo eleitor, já que à medida que tende a haver uma

avaliação melhor do cenário econômico, maior é a probabilidade de o eleitor ter votado no

incumbente.

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TABELA 18 - AVALIAÇÃO ECONÔMICA SOCIOTROPICA RETROSPECTIVA * VOTO NO

INCUMBENTE

Voto no incumbente

Total

voto em outro

candidato

voto no

incumbente

Avaliação econômica

sociotropica retrospectiva

Melhor N 420 532 952

% 44,1% 55,9% 100,0%

Std. Residual -2,5 2,5

Igual N 382 296 678

% 56,3% 43,7% 100,0%

Std. Residual 2,4 -2,4

Pior N 58 37 95

% 61,1% 38,9% 100,0%

Std. Residual 1,5 -1,5

Total N 860 865 1725

% 49,9% 50,1% 100,0%

Fonte: CSES – Brasil, 2010. Sig: 0,000. Coeficiente Qui-quadrado de Pearson: 28,713. Spearman: -0,129.

Quando verificado a correlação entre avaliação econômica individual retrospectiva e

voto no incumbente ou em outros candidatos, no caso brasileiro, verifica-se a mesma

tendência encontrada anteriormente: quando melhor é avaliada sua situação econômica, maior

é a tendência de este eleitor encontrar-se entre aqueles que votaram na candidata situacionista

Dilma Rousseff. Pelos valores padronizados isso fica evidente, já que tende a haver uma

ausência entre aqueles respondentes que avaliaram como melhor sua situação econômica e

votaram em outros candidatos (-2,3), ao passo que há uma presença entre aqueles que

avaliaram como péssima e votaram em outros candidatos (2,4).

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TABELA 19 - AVALIAÇÃO ECONÔMICA INDIVIDUAL RETROSPECTIVA * VOTO NO

INCUMBENTE

Voto no incumbente

Total

voto em outro

candidato

voto no

incumbente

Avaliação econômica

individual retrospectiva

Melhor N 393 499 892

% 44,1% 55,9% 100,0%

Std. Residual -2,3 2,3

Igual N 367 320 687

% 53,4% 46,6% 100,0%

Std. Residual 1,5 -1,4

Pior N 108 66 174

% 62,1% 37,9% 100,0%

Std. Residual 2,4 -2,3

Total N 868 885 1753

% 49,5% 50,5% 100,0%

Fonte: CSES – Brasil, 2010. Sig: 0,000. Coeficiente Qui-quadrado de Pearson: 25,787. Spearman: -0,120.

E a fim de ter em consideração às demais teorias clássicas de explicação do voto, será

considerada as variáveis classe social e ideologia. Em busca de ver em que medida a classe

social é fator explicativo do voto para presidente da Republica Federativa Brasileira em 2010

temos a tabela 20. Dentre aqueles classificados como classe média baixa, 56,5% votaram em

outro candidato, ao passo que entre aqueles de classe social alta 51,6% votaram no

incumbente. Estatisticamente falando, entretanto, não se pode rejeitar a hipótese nula, ou seja,

não correlação entre estas variáveis.

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TABELA 20 - CLASSE SOCIAL * VOTO NO INCUMBENTE

Voto no incumbente

Total

voto em outro

candidato

voto no

incumbente

Classe social Classe social média baixa N 70 54 124

% 56,5% 43,5% 100,0%

Std. Residual 1,1 -1,1

Classe social média N 80 66 146

% 54,8% 45,2% 100,0%

Std. Residual ,9 -,9

Classe social Alta N 731 780 1511

% 48,4% 51,6% 100,0%

Std. Residual -,6 ,6

Total N 881 900 1781

% 49,5% 50,5% 100,0%

Fonte: CSES – Brasil, 2010. Sig: 0,091. Coeficiente Qui-quadrado de Pearson:4,794. Spearman: 0,052.

Outra variável de controle de pesquisa que se faz uso para averiguar os determinantes

do voto é a autolocalização no espectro ideológico. Aqueles que se colocam a esquerda,

63,2% votaram no incumbente, contra 36,8% que votaram em outros candidatos que

pleiteavam a vaga. Tanto os eleitores centristas quanto os direitistas votaram com maior

incidência em outros candidatos que não o incumbente (58,8% e 52,9%, respectivamente).

Em suma, a partir dos valores residuais confirma-se a maior presença de pessoas esquerdistas

entre os votantes no incumbente, o que confere uma coerência ideológica, na medida em que a

candidata Dilma Rousseff que pleiteia a vaga na qualidade de incumbente, pertence ao Partido

dos Trabalhadores, que é comumente classificado como centro-esquerda.

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TABELA 21 - AUTO-LOCALIZAÇÃO NO ESPECTRO IDEOLÓGICO * VOTO NO INCUMBENTE

Voto no incumbente

Total

Voto em outro

candidato

Voto no

incumbente

Auto-localização no

espectro ideológico

Esquerda N 71 122 193

% 36,8% 63,2% 100,0%

Std. Residual -2,9 3,0

Centro N 167 117 284

% 58,8% 41,2% 100,0%

Std. Residual 1,6 -1,7

Direita N 285 244 529

% 53,9% 46,1% 100,0%

Std. Residual ,6 -,6

Total N 523 483 1006

% 52,0% 48,0% 100,0%

Fonte: CSES – Brasil, 2010. Sig: 0,000. Coeficiente Qui-quadrado de Pearson: 23,905. Coeficiente de

Contingência: 0,152.

No caso brasileiro, destarte, dentre as variáveis testadas, verifica-se que o voto no

incumbente é explicado pela avaliação do governo, avaliação sociotrópica e individual e pela

variável independente de controle ideologia. No que se refere à classe social, nada pode ser

inferido.

4.2 Voto no México em 2006

Com o objetivo de averiguar em que medida a avaliação do desempenho do governo

de Vicente Fox Quesada do Partido da Ação Nacional (PAN), eleito em 2000, reverteu em

voto para Felipe de Jesús Calderón Hinojosa, pelo mesmo partido em 2006, temos a tabela 22.

Seguindo o mesmo padrão do caso brasileiro, verifica-se que entre aqueles que avaliaram

positivamente o governo (muito bom) tenderam a se concentrar entre aqueles eleitores do

incumbente com um alto valor residual (8,1), e somando um percentual de 83,7%. Quando se

observa aqueles que enquadraram o desempenho do governo como muito ruim, há

expressivos 96,7% que votaram em outros candidatos, ao invés de votar no situacionista. Os

valores residuais reforçam tais números ao indicar uma elevada ausência entre os

respondentes que classificaram como muito ruim o desempenho de Vicente Fox Quesada e

votaram no Felipe de Jesús Calderón Hinojosa (-6,7). Destarte, no caso mexicano, com valor

expressivo de correlação (Spearman -0,464), verifica-se que o voto no incumbente é

explicado pela avaliação econômica: na medida em que aumenta a satisfação com o governo,

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maior será a probabilidade de o eleitor votar no candidato situacionista Felipe de Jesús

Calderón Hinojosa.

TABELA 22 - AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO GOVERNO * VOTO NO INCUMBENTE

Voto no incumbente

Total

voto em outro

candidato

voto no

incumbente

Avaliação do

desempenho do

governo

Muito Bom N 28 144 172

% 16,3% 83,7% 100,0%

Std. Residual -7,1 8,1

Bom N 410 362 772

% 53,1% 46,9% 100,0%

Std. Residual -1,4 1,6

Ruim N 145 19 164

% 88,4% 11,6% 100,0%

Std. Residual 5,3 -6,1

Muito Ruim N 117 4 121

% 96,7% 3,3% 100,0%

Std. Residual 5,8 -6,7

Total N 700 529 1229

% 57,0% 43,0% 100,0%

Fonte: CSES – México, 2006. Sig: 0,000. Coeficiente Qui-quadrado de Pearson: 26,886. Spearman: -0,464.

A fim de averiguar o status sócio econômico dos eleitores e sua relação com o voto no

incumbente, no México em 2006, para fins de controle de pesquisa, temos a tabela 23. Entre

os empresários 58,5% votaram em outro candidato, contra, 41,5% que votaram no

incumbente. No que se refere ao trabalhador assalariado, 46,8% votaram no candidato

incumbente. Analisando estatisticamente, entretanto, os testes mostram que não se pode

rejeitar a hipótese nula, ou seja, não há relação entre status econômico e a direção do voto.

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TABELA 23 – STATUS SOCIO ECONÔMICO * VOTO NO INCUMBENTE

Voto no incumbente

Total

voto em outro

candidato

voto no

incumbente

Status Econômico Empresário N 240 170 410

% 58,5% 41,5% 100,0%

Std. Residual ,0 ,0

trabalhador

assalariado

N 58 51 109

% 53,2% 46,8% 100,0%

Std. Residual -,7 ,8

Fazendeiro N 36 25 61

% 59,0% 41,0% 100,0%

Std. Residual ,1 ,0

Autônomo N 67 40 107

% 62,6% 37,4% 100,0%

Std. Residual ,6 -,7

Total N 401 286 687

% 58,4% 41,6% 100,0%

Fonte: CSES – México, 2006. Sig: 0,572. Coeficiente Qui-quadrado de Pearson: 2,003. Coeficiente de

Contingência: 0,054.

Quando se verifica a relação entre auto-localização no espectro ideológico e o voto no

incumbente, por sua vez, constata-se que entre aqueles eleitores que se posicionaram a

esquerda, tenderam a votar, expressivamente, em outro candidato, ao invés do situacionista,

com 89%. No que se refere aos eleitores situados ao centro, 64,4% não votaram no

situacionista, ao passo que entre aqueles eleitores localizados mais a direita tenderam a votar

no incumbente, confirmando isto pelo valor de resíduos padronizados positivo (3,7), e com

um percentual de 53,2%. Assim como no caso brasileiro, é perceptível uma coerência

ideológica na medida em que o partido situacionista mexicano é comumente localizado á

direita.

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TABELA 24 – AUTO-LOCALIZAÇÃO NO ESPECTRO IDEOLÓGICO * VOTO NO INCUMBENTE

Voto no incumbente

Total

voto em outro

candidato

voto no

incumbente

Auto- localização

no espectro

ideológico

Esquerda N 130 16 146

% 89,0% 11,0% 100,0%

Std. Residual 5,3 -6,0

Centro N 130 72 202

% 64,4% 35,6% 100,0%

Std. Residual 1,5 -1,7

Direita N 311 354 665

% 46,8% 53,2% 100,0%

Std. Residual -3,3 3,7

Total N 571 442 1013

% 56,4% 43,6% 100,0%

Fonte: CSES – México, 2006. Sig: 0,000. Coeficiente Qui-quadrado de Pearson: 93,537. Coeficiente de

Contingência: 0,291.

Destarte, no caso mexicano, ainda que se reconheça que necessite de mais variáveis

para averiguar os determinantes do voto em 2006, tanto o desempenho do governo quanto a

ideologia se mostraram relevantes na decisão do eleitor nas urnas.

4.3. Comparativo

Tendo em vista, assim, esse cenário institucional, ao olhar a relação entre avaliação do

governo e voto no incumbente, confirma-se que quanto maior claridade da responsabilidade

do governo, claridade das alternativas disponíveis e maior o tamanho do partido no governo,

maior é o vinculo entre desempenho do governo e direção de voto. Isto é visível ao ter em

vista a correlação de Spearman, onde no caso mexicano o valor foi maior com 0,464, contra

0,364 da correlação entre voto no incumbente e desempenho da gestão do governo brasileiro.

Se a atenção voltar-se aos percentuais, por conseguinte, verifica-se que, entre aqueles que

avaliaram como muito bom o desempenho do governo, no caso Mexicano 83,7% votaram no

incumbente contra 74,4% no caso brasileiro. Outro ponto relevante que merece destaque neste

quadro comparativo é em relação a rejeição do incumbente quando a avaliação é

extremamente negativa (muito ruim), onde no caso mexicano 96,7% votou em outro

candidato, contra 90,5% no caso brasileiro.

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63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudos que visam apreender o comportamento eleitoral se apresentam como

relevantes quando se tem a problematização das democracias contemporâneas, inclusive

quando estas tem sua instauração recente, como é o caso dos países latinos em estudo.

Ao ter por foco de análise uma discussão sobre determinantes de votos, cabe atentar-se

para as correntes clássicas de explicação do voto, emergentes do século XX – psicológica,

sociológica e racional – e as limitações que decorrem destas para a explicação fenômenos

contemporâneos. A fim de apreender este processo de formulação de preferências, que por

vezes é marcado por questões metodológicas de difícil mensuração, buscou-se inserir nesse

debate uma perspectiva neoinstitucionalista, onde as normas institucionais não são

importantes enquanto tais, mas porque elas afetam o comportamento político.

Compreendendo o eleitor com um comportamento maximizador, portanto, esse buscará um

resultado ótimo tendo em vista os constrangimentos institucionais.

A aplicação deste modelo teórico obteve-se poder explicativo, já que objetivando

traçar os determinantes do voto no caso brasileiro em 2010 e no caso mexicano em 2006,

verifica-se que as variáveis institucionais se mostram relevantes no vínculo que o eleitor

estabelece entre desempenho de governo e voto no incumbente. Ou seja, o ambiente

institucional de formulação de políticas pode vir a amenizar ou reforçar o impacto da

accountabilitty no voto econômico, ao facilitar ou dificultar a percepção de responsabilidade

do governo sobre determinadas pautas.

A validade deste trabalho centra-se no fato de aplicar um modelo teórico à realidade

latina que, dada as peculiaridades históricas, são países que podem suscitar fecundas

discussões a respeito de aspectos democráticos. Por outro lado, todavia, cabe também

salientar as limitações dessa perspectiva teórica decorrentes do cenário institucional e cultural

em que teve sua gênese. Questões que auxiliam na claridade de responsabilidades e a

necessidade de se ter um tamanho relativamente grande do partido situacionista, por exemplo,

são fatores que evidenciam um modelo majoritário de democracia. Quando se pensa numa

realidade brasileira, como já aponta Abranches (2003), que é marcada por altos índices de

heterogeneidade social, econômica e política, um modelo consensual se apresenta de maneira

mais democrática. Ao buscar garantir a representação de diversos segmentos, a necessidade

de recorrer às coalizões para que haja governabilidade, assim, torna-se pertinente e, como o

estudo de Limongi (2006) demonstra, a disciplina partidária é um meio de análise pelo qual se

confirma a eficiência dessas, evitando uma possível paralisia decisória do regime.

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Destarte, embora ao reaplicar este desenho teórico nos dois países latinos e visto que

os quadros institucionais e as regras eleitorais podem influenciar a visão que o eleitor tem do

meio político, cabe cautela ao ter em vista o Brasil, uma vez que não é possível inferir que,

em decorrência dos baixos índices de claridade institucional, que implicaria em

ingovernabilidade, não haja racionalidade por haver representatividade.

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7 ANEXOS

COMPOSIÇÃO MINISTERIAL DO GOVERNO DE VICENTE FOX (2000-2006)

Ministério Nome Partido Duração

Secretaria de Governo

Santiago Creel Miranda PAN 01/12/2000 a

01/06/2005

Carlos Abascal Carranza PAN 01/06/2005 a

30/11/2006

Secretaria De Relações

Exteriores

Jorge Castañeda Gutman Independente 01/12/2000 a 01/2003

Luis Ernesto Derbez PAN 01/2003 a 30/11/2006

Secretaria da Fazenda e Crédito

Público Francisco Gil Díaz PRI

01/12/2000 a

30/11/2006

Secretaria da Defesa Nacional Gerardo Clemente Ricardo Vega

García Militar

01/12/2000 a

30/11/2006

Secretaria da Marinha Marco Antonio Peyrot González Militar 01/12/2000 a

30/11/2006

Secretaria de Economia

Luis Ernesto Derbez PAN 01/12/2000 a 01/2003

Fernando Canales Clariond PAN 01/2003 a 28/09/2005

Sergio García de Alba Independente 28/09/2005 a

30/11/2006

Secretaria de Desenvolvimento

Social

Josefina Vázquez Mota PAN 01/12/2000 a

06/01/2006

Ana Teresa Aranda PAN 06/01/2006 a

30/11/2006

Procuradoria Geral da

República

Rafael Macedo de la Concha Militar 01/12/2000 a

27/04/2005

Daniel Francisco Cabeza de Vaca Militar 27/04/2005 a

30/11/2006

Secretaria de Segurança Pública

Alejandro Gertz Manero PAN 01/12/2000 a 2004

Ramón Martín Huerta PAN 2004 a 20/09/2005

Eduardo Medina Mora PAN 20/09/2005 a

30/11/2006

Secretaria da Função Pública Francisco Barrio Terrazas PAN 01/12/2000 a 2003

Eduardo Romero Ramos PAN 2003 a 30/11/2006

Secretaria De Comunicações e

Transportes Pedro Cerisola y Weber PAN

01/12/2000 a

30/11/2006

Secretaria do Trabalho e

Previdência Social

Carlos Abascal Carranza PAN 01/12/200 a 02/06/2005

Francisco Javier Salazar Sáenz PAN 02/06/2005 a

30/11/2006

Secretaria do Meio Ambiente e

Recursos Naturais

Víctor Lichtinger Independente 01/12/2000 a 2003

Alberto Cárdenas Jiménez PAN 2003 a 23/06/2005

José Luis Luege Tamargo PAN 24/06/2005 a

30/11 2006

Secretaria de Energia

Ernesto Martens Independente 01/12/2000 a 2003

Felipe Calderón Hinojosa PAN 2003 a 01/06/2004

Fernando Elizondo Barragán PAN 01/06/2004 a 2005

Fernando Canales Clariond PAN 2005 a 30/11/2006

Secretaria da Agricultura,

Pecuária, Desenvolvimento

Rural, Pesca e Alimentação

Javier Usabiaga Arroyo PAN 01/12/2000 a

28/09/2005

Francisco Mayorga Castañeda PAN 28/09/2005 a

30/11/2006

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Secretaria da Educação Pública Reyes Tamez Guerra Nueva Alianza 01/12/2000 a

30/11/2006

Secretaria da Saúdes Julio Frenk Mora Independente 01/12/2000 a

30/11/2006

Secretaria De Turismo

Leticia Navarro Independente 01/12/2000 a

29/07/2003

Rodolfo Elizondo Torres PAN 29/07/2003 a

30/11/2006

Chefe da Oficina da Presidência

Ramón Muñoz Gutiérrez PAN 01/12/2000 a

29/07/2003

Juan Carlos Murillo Flores PAN 29/07/2003 a

30/11/2006

Secretaria da Reforma Agrária

María Teresa Herrera Tello Independente 01/12/2000 a 2003

Florencio Salazar Adame PAN 2003 a 21/04/2006

Abelardo Escobar Prieto PAN 21/04/006 a 30/11/2006

COMPOSIÇÃO MINISTERIAL DO GOVERNO LULA (2006-2010)

Ministério Nome Partido Duração no cargo

Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento

Luis Carlos Guedes Pinto Independente 03/07/2006 a 23/03/2007

Reinold Stephanes PMDB 23/03/2007 a 31/03/2010

Wagner Gonçalves Rossi PMDB 31/03/2010 a 01/01/2011

Ministério da Ciência e

Tecnologia Sergio Machado Rezende PSB 21/07/2005 a 01/01/2011

Ministério da Cultura Gilberto Passos Gil Moreira PV 01/01/2003 a 01/08/2008

João Luiz Silva Ferreira PV 28/08/2008 a 01/01/2011

Ministério da Defesa

Franciscom Waldir Pires de

Sousa PT 03/04/2006 a 25/07/2007

Nelson Azevedo Jobim PMDB 25/07/2007 a 01/01/2011

Ministério da Educação Fernando Haddad PT 01/08/2005 a 01/01/2011

Ministério da Fazenda Guido Mantega PT 28/03/2006 a 01/01/2011

Ministério da Justiça

Marcio Thomaz Bastos Independente 01/01/2003 a 16/03/2007

Tarso Fernando Herz Genro PT 16/03/2007 a 10/02/2010

Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto Independente 10/02/2010 a 01/01/2011

Ministério da Pesca e

Aquicultura Altemir Gregolin PT 30/07/2008 a 01/01/2011

Ministério da Previdência Social

Nelson Machado Independente 22/07/2005 a 29/03/2007

Luiz Marinho PT 29/03/2007 a 04/06/2008

José Barroso Pimentel PT 11/06/2008 a 31/03/2010

Carlos Eduardo Gabas PT 31/03/2010 a 01/01/2011

Ministério da Saúde José Agenor Álvares da Silva Independente 02/08/2006 a 16/03/2007

José Gomes Temporão PMDB 16/03/2007 a 01/01/2011

Ministério das Cidades Marcio Fortes de Almeida PP 22/07/2005 a 01/01/2011

Ministério das Comunicações

Helio Calixto da Costa PMDB 08/07/2005 a 31/03/2010

José Artur Filardi Leite PMDB 31/03/2010 a 01/01/2011

Fernando Rodrigues Lopes de

Oliveira Independente 05/08/2010 a 01/01/2011

Ministério das Minas e Energia Silas Rondeau Cavalcante Silva Independente 08/07/2005 a 24/05/2007

Nélson José Hubner Moreira Sem partido 25/05/2007 a 20/01/2008

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Edson Lobão PMDB 21/01/2008 a 31/03/2010

Marcio Pereira Zimmermann Independente 31/03/2010 a 01/01/2011

Ministério das Relações

Exteriores Celso Luiz Nunes Amorim PT 01/01/2003 a 01/01/2011

Ministério do Desenvolvimento

Agrário Guilherme Cassel PT 27/06/2006 a 01/01/2011

Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate a fome

Patrus Ananias de Sousa PT 23/01/2004 a 31/03/2010

Marcia Helena Carvalho Lopes PT 31/03/2010 a 01/01/2011

Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior

Luiz Fernando Furlan Independente 01/01/2003 a 29/03/2007

Edson Lupatini Junior Independente

Miguel João Jorge Filho Independente

Ministério do Esporte Orlando Silva de Jesus Júnior PCdoB 03/04/2006 a 01/01/2011

Ministério do Meio Ambiente

Maria Osmarina Marina da Silva

Vaz de Lima PT 01/01/2003 a 15/05/2008

Carlos Minc Baunfeld PT 27/05/2008 a 31/03/2008

Izabel Mônica Vieira Teixeira Independente 31/03/2010 a 01/01/2011

Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão Paulo Bernardo Silva PT 22/03/2005 a 01/01/2011

Ministério do Trabalho e

Emprego

Luiz Marinho PT 12/07/2005 a 29/03/2007

Carlos Roberto Lupi PDT 29/03/2007 a 01/01/2011

Ministério do Turismo

Walfrido Silvino dos Mares Guia

Neto PSB 01/01/2003 a 23/03/2007

Marta Teresa Suplicy PT 23/03/2007 a 04/06/2008

Luiz Eduardo Pereira Barreto

Filho PT 19/09/2008 a 01/01/2011

Ministério dos Transportes

Paulo Sérgio Oliveira Passos PR 03/04/2006 a 29/03/2007

Alfredo Pereira do Nascimento PR (PL) 29/03/2007 a 31/03/2010

Paulo Sérgio Oliveira Passos PR 31/03/2010 a 01/01/2011

Ministério da Integração

Nacional

Pedro Brito do Nascimento PSB 03/04/2006 a 16/03/2007

Geddel Quadros Vieira Lima PMDB 16/03/2007 a 31/03/2010

João Reis Santana Filho PMDB 31/03/2010 a 01/01/2011

Secretarias com status de ministério (ligadas à Presidência da República)

Secretaria de Assuntos

Estratégicos

Roberto Mangabeira Unger PRB 24/07/2008 a 03/07/2009

Daniel Barcelos Vargas Sem partido 04/07/2009 a 19/10/2009

Samuel Pinheiro Guimarães Neto Independente 20/10/2009 a 01/01/2011

Secretaria de Comunicação

Social Franklin de Souza Martins Independente 29/03/2007 a 01/01/2011

Secretaria dos Direitos

Humanos Paulo Tarso Vannuchi PT 21/12/2005 a 01/01/2011

Secretaria de Políticas de

Promoção da Igualdade Racial

Matilde Ribeiro PT 21/03/2006 a 01/02/2008

Édson Santos PT 20/02/2008 a 30/03/2010

Eloi Ferreira de Araújo PT 11/03/2008 a 01/01/2011

Secretaria de Políticas para as

Mulheres Nilcéa Freire PT 23/01/2004 a 25/03/2010

Secretaria de Portos Pedro Brito do Nascimento PSB 15/05/2007 a 01/01/2011

Secretaria-Geral da Presidência Luiz Soares Dulci PT 01/01/2003 a 01/01/2011

Secretaria de Relações

Institucionais

Tarso Fernando Herz Genro PT 03/04/2006 a 16/03/2007

Walfrido Silvino dos Mares Guia

Neto PTB 23/03/2007 a 26/11/2007

José Múcio Monteiro Filho PTB 26/11/2007 a 28/09/2009

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71

Alexandre Rocha Santos Padilha PT 28/09/2009 a 01/01/2011

Órgãos com status de ministério (ligados à Presidência da República)

Advocacia-Geral da União

Álvaro Augusto Ribeiro Costa Sem partido 01/01/2003 a 12/03/2007

José Antonio Dias Toffoli

12/03/2007 a 23/10/2009

Luís Inacio Lucena Adams Sem partido 23/10/2009 a 01/01/2011

Banco Central Henrique Meirelles PMDB 01/01/2003 a 01/01/2011

Casa Civil Dilma Vana Rousseff PT 21/06/2005 a 31/03/2010

Erenice Alves Guerra Sem partido 31/03/2010 a 17/09/2010

Controladoria-Geral da União Jorge Hage Sobrinho Independente 27/06/2006 a 01/01/2011

Gabinete de Segurança

Institucional Jorge Armando Feliz Independente 01/01/2003 a 01/01/2011