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Texto . Emília Freire

Fotos . David Oitavem

“Com a água de Alqueva vamos poder produzir o que sempre esperámos”Os três irmãos sócios da Herdade Paço do Conde sempre acreditaram que a água de Alqueva

ia chegar, mas nunca ficaram à espera. Com um sistema de bombas e canalizações regavam

a partir do Guadiana, numa solução a prazo e sempre a ter de racionalizar a água. “O que

tínhamos era para aguentar a produção, agora com a água de Alqueva vamos poder produzir o

que sempre esperámos e aumentar claramente as produtividades”, diz Pedro Schmidt.

CULTURAS EM ALQUEVA

O conjunto de propriedades geridas pela Herdade Paço do Conde, em Baleizão, so-ma já 3200 hectares, onde “mais de metade foram compras que fomos fazendo, aqui à volta. Só há três áreas separadas, mas per-to”, refere o administrador, filho de uma das sócias. “Além dos 50 hectares de vinha que temos na Vidigueira para os nossos vinhos brancos”, acrescenta Pedro Schmidt.A água de Alqueva chegou poucos dias an-tes de fazermos a nossa reportagem, a 10 de junho. “Tivemos a água no dia que a EDIA disse, agora é só abrir as torneiras e regar”, afirma o administrador com um sorriso de felicidade. Conta que “quando a minha mãe e os meus tios receberam a herdade de volta, depois da ocupação, estava dedicada à cerea-licultura de sequeiro, bem como à criação de

ovinos e bovinos, e começaram logo a apro-veitar os incentivos que havia para o regadio”.O tio José António Castelo Branco, também administrador, adianta que “começámos a regar como podíamos, com regadio assistido e através de licenças para bombear água do Guadiana e para fazer barragens, com aju-das comunitárias, o que nos permitiu acu-mular capital técnico”.Hoje, têm nove barragens e charcas e duas bombagens do Guadiana com 6,5 km, tota-lizando uma capacidade de 1,2 milhões de metros cúbicos de água. Mesmo assim, “o que tínhamos era para aguentar a produção, agora com a água de Alqueva vamos poder produzir o que sempre esperámos e aumen-tar claramente as produtividades”, diz Pe-dro Schmidt. As produtividades e as áreas:

o olival, que começou logo em 1996, atingirá os 1500 hectares no início de 2016 e a vinha, plantada em 1998, “está também a ser au-mentada, ficaremos com 200  ha (incluindo os 50 da Vidigueira), no início do próximo ano”, revela o administrador, salientando que “tudo está em produção integrada”.

A certeza de que a água viria

O azeite representa 60 a 70% do volume de negócios da Herdade Paço do Conde e o vi-nho cerca de 25%, mas produz-se também ga-do bovino, com duas vacadas cruzadas de Li-mousine de 300 cabeças cada, uma nos limi-tes da herdade, “em zonas mais inclinadas”, e outra numa das propriedades separadas, e “guardámos as nossas melhores terras para os pivots, sempre a acreditar que quando che-

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gasse a água de Alqueva íamos ter produções muito mais interessantes. São 300 ha onde te-mos feito várias culturas”, desde o milho aos hortícolas, passando pela luzerna e forragens para os animais, e também papoila, “mas sempre com limitações e a racionalizar a água”, lembra, acrescentando: “só agora é que podemos fazer um verdadeiro planeamento das culturas”, para rentabilizar terra e água. As vacas vendem para carne e a vacada tem uma taxa de nascimentos na ordem dos 82%. “Já trabalhámos com o Pingo Doce, com vi-tela e vitelão, mas agora vendemos no leilão da ACOS, em Beja”, que tem uma periodici-dade mensal, mas cujas previsões indicam que deverá passar a quinzenal.“Só há cinco ou seis anos é que houve a cer-teza de que este Bloco iria ser feito, mas até já estava infraestruturado com olivais e vi-nhas”, adianta Pedro Schmidt.O responsável conta à VIDA RURAL que “os primeiros olivais eram só para azeitona de mesa porque não podíamos plantar varieda-des para azeite nesta zona”. Atualmente, nos 1300 hectares de olival intensivo as varieda-des plantadas são Arbequina (40%), Picual (30%), Cobrançosa (25%) e Frantoio (5%), em compassos que “começaram por ser de 7 ≈ 7, depois 7 ≈ 6, 7 ≈ 5 e mais recentemente aper-támos para 6 ≈ 4”, afirma Pedro Schmidt. A estes vão juntar-se os 200 hectares de olival superintensivo da cultivar Arbequina, que “estão a ser plantados com um compasso de

7 ≈ 1,5”, explica Filipe Castelo Branco (filho de José António Castelo Branco e que tam-bém já trabalha na herdade).

Duplicar capacidade do lagar e da adega

A água permite assim concretizar os novos projetos de aumentar áreas e produção, pelo que está em curso também a ampliação do lagar, que tem hoje uma capacidade de ex-tração pura de 12 milhões de quilos de azei-tona, para os 30 milhões de quilos, mais do que duplicando, “o que irá acontecer já nesta campanha”, diz Pedro Schmidt, adiantando que “daqui a quatro ou cinco anos espera-mos moer dos nossos olivais cerca de 16 milhões de quilos de azeitona e prestar tam-bém serviços para terceiros”.“Na última campanha, o lagar processou cer-ca de 7,8 milhões de quilos de azeitona, dan-do origem a um milhão de quilos de azeite, uma vez que ainda há muito olival que está no início”, frisa José António Castelo Branco.O administrador revela que “90% do azeite é exportado a granel para Itália e vendemos, também a granel, para os Estados Unidos, para uma cadeia que tem 190 lojas e vende o azeite em pequenas ânforas de barro, onde está indicado o país de origem e, no nosso caso, também o produtor”.Em Portugal o azeite é comercializado sob a marca Paço do Conde e vendido em garrafas de 0,5 e 0,25 L e garrafões de 3 e 5 L.Também a adega, que pode produzir até 1,5

milhões de garrafas, será alvo de um pro-jeto de duplicação desta capacidade. “Tudo vai crescendo gradualmente”, diz-nos Pedro Schmidt e acrescenta: “O projeto inclui tam-bém uma parte dedicada ao enoturismo, com uma sala de provas, uma loja e uma sala de refeições com cozinha e pátio. Hoje recebe-mos as pessoas aqui na sala de barricas mas, por vezes, também em nossas casas, quando são grupos de distribuidores, por exemplo”.O administrador salienta que “sempre hou-ve um esforço muito grande dos sócios em reinvestir na empresa, porque, felizmente, não precisam diretamente dos rendimentos da herdade para viver”.A herdade está também a construir um pro-jeto de reutilização de toda a água do lagar e da adega, através da armazenagem em lagoas de evaporação, que passará depois por uma ETAR e, após análises, servirá para rega.

Castas nacionais predominam

As castas Aragonez, Trincadeira, Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Syrah repre-sentam 75% das variedades tintas plantadas na Herdade Paço do Conde, mas há também Touriga Franca, Petit Verdot, e Merlot, bem como algum Castelão, “que é uma casta que demora mais tempo a atingir o nível de qua-lidade”, diz o sócio da exploração, acrescen-tando: “E Cabernet Sauvignon, que dá um bom aroma, vinhos mais complexos e com potencial de envelhecimento”.

Pedro Schimidt, José António Castelo Branco e Filipe Castelo Branco

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Na Vidigueira, em vinhas plantadas no sé-culo passado, as castas são Antão Vaz (80%), Arinto, Roupeiro, Rabo de Ovelha, Verdelho e Viognier.A enologia é orientada por Rui Reguinga e a consultoria de viticultura pela ATEVA. A empresa aposta em duas marcas: Paço do Conde e Albernoas, mas tem também a Vi-lares (marca de entrada) e que “trabalhamos mais para exportação”, refere Pedro Schmidt, adiantando que “o mercado nacional foi um pouco esquecido pois exportamos cerca de 80% da nossa produção”. A aposta foi em paí-ses como o Canadá, “onde o Albernoas é o 2.º vinho português mais vendido no mercado”, e também no Brasil, Angola, Suíça, Alema-nha, Holanda e China. “Estamos em cerca de, apenas, dez países, mas onde estamos, estamos bem”, frisa o administrador.“Em Portugal, decidimos reinventar o proje-to fazendo a distribuição própria dos nossos vinhos, montando a marca a partir daqui”, afirma Pedro Schmidt, explicando como es-tão a proceder: “Vendemos diretamente pa-ra grandes superfícies como a Auchan e os Intermarchés de Beja e Serpa, onde temos as marcas Paço do Conde e Albernoas, e atra-vés de 55 distribuidores comerciais regio-nais, controlados por um diretor comercial, que trabalham os Intermarchés, o HoReCa, garrafeiras e os supermercados ‘boutique’”.Da marca Paço do Conde o produtor faz vi-nho Tinto, Branco, Rosé, Colheita Seleciona-

A área de vinha vai chegar aos 200 ha em 2016

A Herdade já produz um milhão de quilos de azeite

Pingo Doce e leilões da ACOS escoam a produção animal

A exploração aposta na diversificação cultural

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PU

Bda (Tinto e Branco) e Reserva (Tinto, o Branco será lançado depois do verão) e em outubro do ano passado lançou o Wine-maker Selection (Tinto Premium). Dos Albernoas a empresa tem as gamas Tinto, Branco, Bag-in-Box (Tinto e Branco) e Reserva (Tinto), enquanto da marca Vilares aposta em Tinto, Branco, Bag-in-Box (Tinto) e Reserva (Tinto).

Aposta na diversificação cultural

“Agora queremos ter os 300 ha de pivots a produzir em pleno, seja com o que for”, diz o responsável, “vamos estudar quais as melhores culturas, reativar parcerias, que tivemos de aban-donar porque como a água não era suficiente, guardávamos para a vinha e o olival”. A vinha está instalada nos solos mais fracos, “porque não queríamos grandes produções mas sim privilegiar a qualidade”, diz Pedro Schmidt, salientando que “as terras intermédias e algumas boas ficaram para o olival”.A exploração já fez melão, meloa e melancia para a Luís Vi-cente e cebola para a McDonald’s, através do seu fornecedor, a INEASA do grupo Vegenat, e vai agora fazer brócolos para a Monliz. O administrador explica que “para já serão apenas 10 hectares, porque a empresa quer ver se adquirimos know--how, mas depois, se tudo correr bem, faremos mais e talvez também outras hortícolas”.Pedro Schmidt defende, todavia, que “falta na região um agru-pamento de produtores forte ao nível dos hortícolas que possa negociar contratos com a grande distribuição, por exemplo”.Para comercialização através da Cooperativa de Beja e Brin-ches, “fizemos também milho e girassol. Apostámos em 50 ha de milho porque tínhamos as barragens cheias, corremos o risco…”.A herdade tem também 110 ha de papoila, que estava mesmo na fase de corte quando visitámos a herdade. “É uma cultu-ra muito interessante, que está fora do perímetro porque não consome muita água, e é boa para rotação uma vez que só se pode fazer de quatro em quatro anos”, refere o responsável, salientando que “temos contratos com a MacFarlan Smith e com os australianos da TPI Enterprises e a papoila é vendida seca, precisando apenas de uma ceifeira normal para cortar o que é valorizado: o pé e a cabeça”.A farmacêutica escocesa MacFarlan Smith já tem uma unida-de na região para o armazenamento e processamento da pa-poila, nomeadamente a separação das sementes do resto das plantas e, numa segunda fase, para extrair morfina para fins medicinais.O administrador diz-nos ainda que “vamos deixar também uma área de 40 a 80 hectares para fazermos pastagens e for-ragens para acabamento dos vitelos e alimentar o gado, como luzerna, pois a área de pastagem das vacas tem estado a en-colher”. Todavia, a exploração fez já 17 hectares de sorgo para forragem, “de regadio, mas com pouca água”.O responsável anuncia ainda que “vamos fazer também Mon-tanheira, com 80 leitões Alentejanos certificados que vamos comprar em Portugal e fazer a engorda durante cerca de ano e meio numa das herdades que temos, com cerca de 600 hecta-res de azinheira (90%) e sobreiro.A Herdade do Paço do Conde tem 32 tratores e outras má-quinas agrícolas e um quadro fixo de 60 colaboradores, todos da região, “mas na época das vindimas e apanha da azeitona contratamos mais cerca de 100 pessoas, durante três meses, primeiramente aqui da região e depois recorremos a uma em-presa de mão de obra”, diz Pedro Schmidt.