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INTRODUÇÃO Por muito tempo a posição da maioria dos psiquiatras foi de que a psiquiatria nada tinha a ver com religião e espiritualidade. Acreditava-se que crenças e religiões tinham uma base patológica e essa foi a idéia defendida pelos psiquiatras por mais de um século. A religião e a espiritualidade eram consideradas como um sintoma de doença mental. Sigmund Freud correlacionavam a religião com a neurose. Em Futuro de uma Ilusão (Freud, 1962) Freud escreve: “Religião seria assim a neurose obsessiva universal da humanidade... A ser correta essa conceituação, o afastamento da religião está fadado a ocorrer com a fatal inevitabilidade de um processo de crescimento… Se, por um lado, a religião traz consigo restrições obsessivas, exatamente como, em um indivíduo, faz a neurose obsessiva, por outro, ela abrange um sistema de ilusões plenas de desejo com um repúdio da realidade, tal como não encontramos, em forma isolada, em parte alguma senão na amência, em um estado de confusão alucinatória beatífica…”. Assim, Freud acreditava que as crenças religiosas tinham suas raízes em fantasia e ilusão e poderiam ser 1

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INTRODUÇÃO

Por muito tempo a posição da maioria dos psiquiatras foi de que a psiquiatria

nada tinha a ver com religião e espiritualidade. Acreditava-se que crenças e religiões

tinham uma base patológica e essa foi a idéia defendida pelos psiquiatras por mais de

um século. A religião e a espiritualidade eram consideradas como um sintoma de

doença mental. Sigmund Freud correlacionavam a religião com a neurose.

Em Futuro de uma Ilusão (Freud, 1962) Freud escreve: “Religião seria assim a

neurose obsessiva universal da humanidade... A ser correta essa conceituação, o

afastamento da religião está fadado a ocorrer com a fatal inevitabilidade de um processo

de crescimento… Se, por um lado, a religião traz consigo restrições obsessivas,

exatamente como, em um indivíduo, faz a neurose obsessiva, por outro, ela abrange um

sistema de ilusões plenas de desejo com um repúdio da realidade, tal como não

encontramos, em forma isolada, em parte alguma senão na amência, em um estado de

confusão alucinatória beatífica…”.

Assim, Freud acreditava que as crenças religiosas tinham suas raízes em fantasia

e ilusão e poderiam ser responsáveis pelo desenvolvimento de psicoses (embora nunca

tenha atribuído diretamente a causa da psicose à religião, apenas à neurose).

“Um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver

uma vida mais normal e completa.” (Sigmund Freud)

“A religião é comparável a uma neurose da infância.” (Sigmund Freud)

“Os judeus admiram mais o espírito do que o corpo. A escolher entre os dois, eu

também colocaria em primeiro lugar a inteligência.” (Sigmund Freud)

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“A crença em Deus subsiste devido ao desejo de um pai protetor e imortalidade,

ou como um ópio contra a miséria e sofrimento da existência humana.”

(Sigmund Freud)

Esta visão negativa de religião no campo da saúde mental permaneceu até os

tempos modernos por meio das obras de Ellis (1988) e Watters (1992), que enfatizaram

a natureza irracional das crenças religiosas e o seu potencial malefício.

O DSM III retratava a religião como negativa sugerindo que as experiências

religiosas e espirituais são exemplos de psicopatologia (American Psychiatric

Association – 1980 - Diagnostic and statistical manual of mental disorders - 3rd ed.).

Atualmente, porém podemos encontrar relatos na literatura médica que sugerem

que algumas áreas do cérebro, principalmente no hemisfério não-dominante, estão

envolvidas no reconhecimento e cumprimento dos valores espirituais (Abraham J.

2004; Timble M. 2008; Saver JL, Rabin J. 1997), relacionando assim a espiritualidade a

eventos cerebrais complexos e evidenciando o crescente interesse no estudo da

espiritualidade.

Embora hoje em dia possamos observar na literatura psicológica uma ênfase

crescente do tema espiritualidade (Crossley e Salter, 2005) o tema tem tido pouca

atenção na literatura psiquiátrica contemporânea. O conceito moderno de pesquisa em

psiquiatria é derivado da orientação positivista das ciências físicas, que se baseia em

fenômenos clinicamente comprovados. Esse modo de pensar determina quais

modalidades de tratamento serão estudados, não enfatizando atualmente questões

pessoais e questões existenciais como a espiritualidade (Marc Galanter 2008).

Apesar disso pode ser observado um aumento no número de psiquiatras que

acreditam que a religião e a espiritualidade são importantes na vida de seus pacientes. A

importância da espiritualidade na saúde mental é hoje amplamente aceita pela sociedade

psiquiátrica. Há inclusive relatos em pesquisas recentes que sugerem que, para muitos 2

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pacientes, a religião e a espiritualidade são recursos que os ajudam a lidar com o

estresse na vida, incluindo os relativos a sua doença. (Abraham Verghese 2008).

A importância da espiritualidade na sociedade vem crescendo nos últimos anos.

A atenção para a espiritualidade é agora exigida pela Comissão Mista de Acreditação

(Joint Commission on Accreditation) de Organizações de Saúde como parte da

avaliação psiquiátrica, e foram recentemente adicionadas aos requisitos de treinamento

para residências psiquiátricas (Marc Galanter 2008). Temas relacionados à

espiritualidade e religião vêm sendo abordados de forma crescente nas sessões de

terapia nos EUA, alcançando índices de significância semelhantes aos do trabalho,

família, amigos e sexualidade. (Miovic et al., 2006).

Apesar do crescente interesse pelo tema somente nos últimos anos, os benefícios

da espiritualidade para o tratamento de doença psiquiátrica já haviam sido observada

pelo Dr. Carl Gustav Jung no início da década de 30 do século passado (apêndice 1).

Em 26 de Janeiro de 1961, Bill W., co-fundador de Alcoólicos Anônimos (AA),

enviou uma carta a Jung que prontamente a respondeu.

Nela Bill W. relata o ocorrido com Rowland H., já falecido na época da

correspondência, que havia sido paciente de Jung (apêndice 1).

A carta chama a atenção pela compreensão do alcoolismo àquela época por parte

do Dr. Jung. A despeito de todos os tratamentos oferecidos, o paciente Rowland H. não

permanecia abstêmio. Dr. Jung admite a falência do tratamento médico e psiquiátrico e

então recomenda que Rowland procure Deus. Recomendou que buscasse uma

experiência espiritual que o completasse.

“Sua avidez por álcool era o equivalente a um nível baixo de sede de nosso ser

por completude, expresso em linguagem medieval: a união com Deus”

(apêndice 2)

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Bill W. relata em sua carta que vários membros de AA experimentam um

despertar espiritual.

“O Sr, também irá interessar-se em saber que somado à “experiência

espiritual”, muitos AAs descrevem uma grande variedade de fenômenos

psíquicos, sendo considerável seu peso cumulativo”

(apêndice 1)

A última frase da carta do Dr. Jung a Bill W. “Veja, Álcool em Latim é

“spiritus” e usamos a mesma palavra para a mais alta experiência religiosa assim

como para o mais depravante veneno. A formula auxiliadora, portanto é: “spiritus

contra spiritum” (apêndice 2). Essa revela a essência desta monografia: demonstrar o

papel da espiritualidade no tratamento da dependência química.

No livro Só Por Hoje de Narcóticos Anônimos no dia 17 de fevereiro está escrito

que um dependente químico “Pode ser analisado, aconselhado, persuadido, pode se

rezar por ele, pode ser ameaçado, surrado ou trancado, mas não irá parar até que queira

parar”. E para que consiga parar será preciso mudar a maneira de viver e praticar o

programa de Doze Passos (Bem vindo a Narcóticos Anônimos -Folheto Informação ao

Público no 22).

Esta mudança começa com a prática dos princípios espirituais, dentre eles a

honestidade, mente aberta e boa vontade.

DEFINIÇÃO DE ESPIRITUALIDADE

Definir espiritualidade é uma tarefa difícil, já que religião e espiritualidade por

vezes se misturam.

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Para muitos a espiritualidade é a crença e a obediência a um poder superior

normalmente chamado de Deus, que controla o universo e o destino do homem. A

espiritualidade envolve as maneiras pelas quais as pessoas cumprem o que eles pensam

ser o objetivo de suas vidas, ou seja, uma busca pelo sentido da vida além de ser uma

forma de conexão com o universo. A espiritualidade é universal se estendendo a todos

os credos e culturas. Ao mesmo tempo, ela é uma experiência muito pessoal e única

para cada pessoa. O desenvolvimento e a vivencia da espiritualidade produz no homem

qualidades tais como amor, honestidade, paciência, tolerância, compaixão, um

sentimento de fé desprendimento, e esperança (Abraham Verghese 2008).

A Wikipedia define espiritulidade como uma dimensão da pessoa humana que

traduz, segundo diversas religiões e confissões religiosas, o modo de viver característico

de um crente que busca alcançar a plenitude da sua relação com o transcendental.

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Espiritualidade)

Espiritualidade e religião se complementam mas não se confundem. A

espiritualidade existe desde que o ser humano irrompeu na natureza, há mais de 200 mil

anos. As religiões são recentes, não ultrapassam 8 mil anos de existência.

(http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?

cod_Canal=53&cod_noticia=19929)

Dentro da sua própria definição, a espiritualidade pode ser considerada uma

extensão da religião (Fleck e Skevington 2007) o que faz com que as por vezes ambas

estejam interligadas. Por exemplo: Miller coloca que um dos objetivos da religião é o

de facilitar o desenvolvimento da espiritualidade de seus membros (Miller, 1998).

Contudo alguns autores enfatizam a diferença entre religião e espiritualidade.

Galanter (2008) diz que embora a espiritualidade possa ser incorporada em uma

orientação religiosa, ela também pode ser entendida como o compromisso com os

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ideais mais amplos ou para o bem-estar dos outros, sendo a espiritualidade definida por

essas profundas crenças que dão sentido à vida de uma pessoa.

Para Sullivan (1993) a espiritualidade é uma característica única e individual que

pode ou não incluir a crença em um “Deus”, sendo aquela responsável pela ligação do

“eu” com o Universo e com os outros, a qual também está além da religiosidade e da

religião.

Koenig et al. (2001) conceitua religião como um sistema organizado de crenças,

práticas, rituais e símbolos projetados para auxiliar a proximidade do indivíduo com o

sagrado e/ou transcendente e define espiritualidade como:

“a busca pessoal pela compreensão de respostas para as perguntas

fundamentais sobre a vida, o significado e a relação com o sagrado ou o

transcendente que pode (ou não) levar a ou originar-se do desenvolvimento de

rituais religiosos e da formação da comunidade”.

Segundo Cook (2004), espiritualidade é um conceito mais individualizado que a

religião, caracterizada por uma relação pessoal com algo que é transcendente ou além

do “self’ (sic).

O’Connell enfatiza a total desvinculação da espiritualidade da religião ao

apresentar dados de dezoito países onde agnósticos e ateus são capazes de relatar a

espiritualidade relacionada à sua qualidade de vida, o que os ajuda a enfrentar a

adversidade (O’Connell e Skevington et al., 2004).

Resumindo: A religião é uma instituição; a espiritualidade, uma vivência.

(http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?

cod_Canal=53&cod_noticia=19929).

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Espiritualidade significa cultivar um lado do ser humano: seu espírito; pela

meditação, pela interiorização, pelo encontro consigo mesmo e com Deus (poder

Superior). Esta diligência implica certo distanciamento da dimensão da matéria ou do

corpo. (http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros/espiritualidade.htm)

ESPIRITUALIDADE E DEPENDENCIA QUÍMICA

O ponto de vista médico/científico

Na literatura médica é repleta de artigos que relacionam a espiritualidade com o

tratamento da dependência química.

Aqueles que desejarem se aprofundar no assunto podem ler as observações em

itálico abaixo. Contudo esses artigos não serão abordados na aula.

Sanchez e Nappo (2007) apresentaram uma revisão de literatura de questões relativas à

religiosidade, à espiritualidade e ao consumo de drogas em levantamento pelo PubMed e Scielo** de

publicações entre 1976 e 2006 e evidenciaram um valor protetor da religiosidade (aqui entendido como

prática de uma religião) ao uso de drogas.

* PubMed: ferramenta de busca de artigos científicos pela Internet

(www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/) **Scielo: Scientific electronic library online (www.scielo.org).

Um dos mais antigos estudos que se referem à relação existente entre a religião e as drogas foi

realizado na Irlanda e teve como amostra 458 estudantes universitários daquele país. Notou-se maior

consumo de álcool entre os estudantes com menor crença em Deus e menor freqüência aos cultos

religiosos (Parfrey, 1976).

Cronin (1995), em um estudo com 216 estudantes, verificou que o consumo de drogas foi

significativamente maior nos do ensino médio que davam pouca importância para a religião e para a

espiritualidade.

Booth e Martin (1998), analisando os dados existentes na literatura científica até 1997, afirmaram

que se observa claramente uma relação inversa entre a religiosidade e o uso de drogas.

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Níveis mais elevados de religiosidade e espiritualidade tem sido associados com a saúde física

e mental melhores (Ellison e Levin, 1998; George, Larson, Koenig e McCullough, 2000; Larson, Swyers,

e McCullough, 1997; Powell, Shahabi e Thoresen, 2003), porém o papel da espiritualidade na facilitação

do bom resultado do tratamento só recentemente foi identificada como uma área de potencial importância

para estudos sobre alcoolismo e prática clínica.

Mesmo com a escassez de pesquisas nesta área, a espiritualidade tem se mostrado um

importante fator preditor independente de recuperação e/ou de melhoria nos índices dos resultados de

tratamento de pacientes dependentes químicos (Avants, Warburton, e Margolin, 2001; Carter, 1998;

Heinz, Epstein, e Preston, em imprensa; Kendler, Gardner e Prescott, 1997; Piemonte, 2004).

Existem evidências de que os níveis de espiritualidade nos pacientes tendem a aumentar entre o

início do tratamento e as fases mais tardias da recuperação (Borman e Dixon, 1998; Mathew, Georgi,

Wilson, e Mathew, 1996; Pardini, Plante, Sherman e Stump, 2000), demonstrando o que Nracótico

Anônimos afirma em no livro Isto resulta Como e Porquê (página 09), onde se lê que princípios espirituais

podem ser desenvolvidos e aprendidos ao longo da recuperação na irmandade.

Têm-se observado que os níveis de espiritualidade parecem ser maiores em indivíduos cuja

recuperação é bem sucedida quando em comparação com aqueles que recaíram (Jarusiewicz, 2000), o

que poderia sugerir que altos níveis de espiritualidade estão ligados ao sucesso da recuperação.

Observou-se que o compromisso com um poder superior pode diminuir a gravidade dos

episódios de recaída (Morgenstern, Frey, McCrady, Labouvie e Neighbors, 1996) e a espiritualidade

parece ter uma relação positiva com o tempo de abstinência (Carter, 1998; Poage, Ketzenberger e Olson,

2004).

Em estudos retrospectivos, adictos em recuperação freqüentemente relatam a espiritualidade

como um componente importante de seus esforços de recuperação (Flynn, Joe, Broome, Simpson, e

Brown, 2003a, 2003b; Koski-Janes e Turner, 1999).

Existem evidências de que programas que se auto definem como espirituais, tais como os de

Narcóticos Anônimos (NA) e Alcoólicos Anônimos (AA), são muito eficazes na obtenção e manutenção da

abstinência de dependentes químicos e alcoólatras. (Fiorentine, 1999; Fiorentine e Hillhouse, 2000;

Giffen, 1997; Weiss et al., 1996, Marc Galanter 2008).

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Willian et cols.(2008) diz que a espiritualidade tem sido considerada como um importante

componente na recuperação da adicção. Baseado nesta crença publica um trabalho em que analisa os

resultados de dois estudos controlados que avaliaram a orientação espiritual como adjuvante no

tratamento da dependência química.

No Estudo 1, 60 participantes foram aleatoriamente divididos em dois grupos onde receberiam

ou não doze sessões de orientação espiritual guiada (SG)* durante e após o tratamento de internação,

além do tratamento habitual (TAU)**. (*SG - spiritual guide - que consistia de prece e meditação ** TAU –

therapy as usual - que consistia de terapia cognitivo e comportamental e orientação)

No Estudo 2, dois grupos de 40 pacientes foram acompanhados. Um grupo foi tratado com TAU

e recebiam SG durante sua internação e o outro grupo somente tratado com TAU durante a sua

internação, sem receber SG.

Contrariamente à previsão, não houve impacto significativo da intervenção espiritual na

abstinência às substâncias.

É importante salientar que Willian et cols.(2008) analisa em seu estudo a prática espiritual

isoladamente, ou seja, sem associação a grupos de mútua-ajuda no formato de doze passos. A terapia

de orientação espiritual no grupo 1 foi oferecida por clérigos profissionais ( certified professional spiritual

directors) e no grupo 2 pelo staff da clínica de internação.

De forma distinta, nos grupos de 12-passos a recuperação é compartilhada entre adictos, entre

iguais, sendo a espiritualidade fruto desta comunhão e não promovida ou orientada por profissionais:

“Em Narcóticos anônimos não temos profissionais do 12º Passo. Utilizamos antes a linguagem

simples da empatia a fim de partilharmos livremente uns com os outros a experiência espiritual a

que chamamos recuperação”

(Isto Resulta Como e Porquê, página 215 – 12ª Tradição)

ou ainda,

“Ao nos juntarmos anonimamente numa irmandade, com outros adictos em recuperação,...

nosso próprio crescimento espiritual é aumentado desmedidamente...”

(Isto Resulta Como e Porquê, página 219 – 12ª Tradição)

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Esse parece ser um importante viés para tal discordante achado de Willian et cols. quando

comparado com os demais autores abaixo, onde todos avaliaram a espiritualidade associada a um grupo

de mútua-ajuda.

Dr. George E. Vaillant, em sua palestra “Alcoólicos Anônimos: Culto ou Pílula Mágica?” no 13º

Congresso Barsileiro de Alcoolismo em 1999, afirma que “há quatro fatores habitualmente presentes na

recuperação da maioria das dependências, incluindo o fumo, o comer compulsivo e o jogo. Estes quatro

fatores são supervisão compulsória, dependência de um comportamento substitutivo, novas relações de

amor, e um aumento da espiritualidade ou da filiação a grupos de ajuda... os quatro fatores são

importantes, não para a desintoxicação, mas para EVITAR RECAÍDAS”.

“...(P)arece importante a filiação a grupos de ajuda altruísticos, por ... que tal envolvimento

espiritual produziu uma diminuição da culpa alcoólica, um aumento em esperança e moral, e talvez um

substituto não farmacológico para o prazer "oceânico" produzido pela dependência . Em meu estudo, a

importância da espiritualidade era relativamente baixa entre os dependentes de heroína, porque o estudo

foi realizado antes que Narcóticos Anônimos se firmasse. Entre os alcoólatras tratados a porcentagem

envolvida num programa espiritual era incomumente alta, porque durante oito anos estes 100 alcoólatras

tiveram acesso a aconselhamento gratuito e a grupos de pacientes ambulatórias. O enfoque desta

terapia era encaminhar os alcoólatras a AA”. (George E. Vaillant, 1999)

“...(A)s vítimas de outras dependências aparentemente incuráveis sentem-se derrotadas, más e

impotentes. Elas invariavelmente sofrem de baixa auto-estima. Se elas quiserem se recuperar, devem

ser descobertas novas e poderosas fontes de auto-estima e esperança. A espiritualidade oferece um

novo alento, tanto para a esperança quanto para um maior cuidado consigo mesmo. Os alcoólatras, ao

contrário da maioria dos pecadores, não são apenas desagradáveis. Freqüentemente, os alcoólatras

infligiram enorme dor e prejuízo aos outros. Assim, quando sóbrio, o alcoólatra pode sentir uma culpa

quase insuperável. Embora seja um tranqüilizante pobre e um antidepressivo desprezível, o álcool é

talvez o solvente mais poderoso que a farmacologia moderna possui para uma consciência culpada. Em

casos deste tipo, a absolvição vinda de um "poder superior a nós mesmos" se torna uma parte

importante do processo curativo.” (George E. Vaillant, 1999)

Marc Galanter (2008) afirma que Alcoólicos Anônimos é um exemplo de um movimento dirigido

a um transtorno psiquiátrico que defende um regime com base em espiritualidade. Sua ampla adoção,

com mais de 2 milhões membros no mundo inteiro, merece a atenção para compreender o seu suposto

valor na abordagem dos comportamentos adictivos. A Espiritualidade na irmandade de AA parece

desempenhar um papel na promoção da remissão dos sintomas alcoolismo.

Kaskutas LA et cols. (2003) avalia alcoólatras que iniciaram o tratamento em uma série de

programas comunitários. Entre os pacientes que, em seguida, passaram a freqüentar AA, aqueles que

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relataram ter um despertar espiritual tiveram três vezes mais chance de estar abstinentes após três anos

do início do estudo do que aqueles que não tiveram tal despertar.

Randolph (2007) afirma que os grupos de mútua-ajuda possuem um papel vital no tratamento de

abuso de substâncias nos Estados Unidos. O resultado de sua análise sugere que estar ativamente

envolvido em um grupo de mutua-ajuda melhora significativamente as chances de um dependente

químico permanecer em abstinência quando comparados aos dependentes químicos que não

freqüentam tais grupos.

A participação no programa foi medida utilizando-se uma escala de nove itens, que foi criada

pela combinação de sete de cinco pontos da Escala de Likert sobre os comportamentos relacionados a

um grupo com outras duas variáveis para medir a freqüência dos entrevistados às reuniões dos grupos

de apoio. Os sete itens da escala Likert incluíram perguntas sobre com que freqüência os entrevistados

participaram de discussões de grupo nas reuniões, sua participação em encontros da irmandade,

sugestões ao grupo, participação na ajuda da limpeza das salas de reunião, leitura da literatura da

irmandade fora das reuniões, ajuda aos recém-chegados, conversa com membros fora do ambiente da

reunião, e atividades com a participação de outros membros que não estavam diretamente relacionadas

com a recuperação (por exemplo jantares e filmes). Finalmente, um item pedia aos entrevistados

informações sobre o número de diferentes grupos que haviam freqüentado.

Da mesma forma, desde que esteja participando ativamente de um grupo de mútua ajuda, o tipo

de religião não influencia diretamente as chances de permanecer sóbrio (Randolph et cols., 2007).

Esta pesquisa indica que a própria religiosidade facilita a permanência no grupo e aumenta

significativamente a probabilidade de participar ativamente de um programa de grupo de ajuda mútua de

apoio (Randolph et cols., 2007)..

Conseqüentemente, a combinação de crenças filosóficas de um indivíduo e a participação em

um programa de 12-passos pode indiretamente aumentar o número de dias em que permanece sóbrio

(Randolph et cols., 2007).

Corroborando com Randolph está Stephen et cols. (2003), onde seu estudo conclui que a

espiritualidade parece facilitar a adesão ao programa de 12-passos, facilitar a promoção da saúde mental

e adesão à medicação por parte dos pacientes. Da mesma forma Day (2003) observou que aqueles que,

além de freqüentarem as reuniões do grupo de mútua ajuda, tinham um vínculo com alguma religião,

apresentavam mais sucesso na manutenção da sua abstinência.

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A uma conclusão semelhante chegaram Turner et al. (1999) que, no seu estudo com uma

população exclusivamente de mulheres em recuperação, enfatizaram a importância da associação de um

programa de 12 passos a uma prática religiosa regular.

Alguns autores chegam a afirmar que a simples ida à igreja contribui para a diminuição do

consumo de drogas como a cocaína, sem necessariamente nesses locais existir um tratamento formal.

No entanto, quando associadas aos grupos dos 12 passos, a eficácia parece ser maior (Richard et al.,

2000).

ESPIRITUALIDADE E OS GRUPOS DE 12 PASSOS - O GRUPO

OXFORD, A ORIGEM DO AA, DOS DOZE PASSOS E DOS

PRINCÍPIOS ESPIRITUAIS.

Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA) são irmandades

voltadas respectivamente para a abstinência e recuperação de adictos ao álcool e a todas

as outras drogas, inclusive o álcool e medicamentos de abuso.

Tais irmandades são baseadas em doze passos e vários princípios espirituais. No

programa de Narcóticos Anônimos podemos observar uma série de princípios

espirituais, onde “três deles que são indispensáveis são a honestidade a mente aberta e a

boa vontade” (Isto Resulta: Como e Porquê, páginas 17 e 18).

Tais princípios e passos foram compilados de diversas fontes; publicações de

Willian James, dos ensinamentos de Sam Shoemaker e das lições de um grupo religioso

conhecido como Grupo Oxford (Levar Adiante, página 217), sendo o fundador de

Alcoólicos Anônimos, Willian Wilson (Bill W.), o responsável pela publicação desses

passos e princípios pela primeira vez como sendo ferramentas necessárias para a

abstinência de substâncias (Levar Adiante, capítulo 11).

O Grupo Oxford era um movimento evangélico ecumênico. Era conhecido

inicialmente como Comunidade Cristã do Primeiro Século. Somente em 1928 tornou-se

conhecido como Grupo Oxford. Tal movimento se apoiava em denominadores comuns

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de todas as religiões, que seriam poderosos o suficiente para modificar a vida de

homens e mulheres (Levar Adiante, página 137). Seus membros descreviam o

movimento como algo que era estruturado em princípios espirituais, sendo mais

espiritual que religioso (Levar Adiante, página 122, 137).

Seus quatro princípios espirituais eram: honestidade absoluta, pureza absoluta,

desprendimento absoluto e amor absoluto (Levar Adiante, páginas 123 e 137).

Bill W. toma conhecimento do Grupo Oxford em novembro de 1934, através de

um conhecido Ebby T. Nesta época o grupo Oxford vinha sendo adotado por muitos

alcoólatras como uma alternativa para livrarem-se do vício do álcool (Levar Adiante,

página 107 e 119).

É a partir da sua experiência com o programa do Grupo Oxford é que Bill W.

inicia seus estudos dos autores já citados. Através da leitura do livro “As variedades da

experiência Religiosa” de Willian James, Bill W. tira uma série de conclusões sobre

essas experiências. Identifica três pontos em comum a todas elas: a derrota total, a

admissão da derrota e um pedido de socorro a um Poder Superior (sic) (Levar Adiante,

páginas 133, 134).

O Grupo conhecido como Alcoólicos Anônimos foi fundado em 1935. Estava

inicialmente associado ao Grupo Oxford, mas separou-se desse em 1937 (Levar

Adiante, páginas 133, 134).

Os grupos anônimos se dizem não religiosos. O caráter excessivamente religioso

do Grupo Oxford foi um dos motivos que levou a AA a se desvincular deste (Levar

Adiante, página 215).

Bill W. decide então tornar o AA independente. Escreve os passos iniciais de

AA, seis a princípio, que posteriormente viriam a se tornar os doze passos atuais, que

são a base de todas as irmandades de doze passos atualmente existentes (Levar Adiante,

página 215).13

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São eles:

1) Admitimos que havíamos sido derrotados e que ermos impotentes em

relação ao álcool.

2) Fizemos um inventário moral de nossos defeitos ou pecados.

3) Confessamos ou partilhamos em confiança nossas deficiências a outra

pessoa.

4) Fizemos reparações a todos aqueles que prejudicamos.

5) Tentamos ajudar a outros alcoólicos sem visar nenhuma recompensa em

termos de dinheiro ou prestígio.

6) Rogamos a qualquer Deus que acreditássemos existir, pedindo forças

para praticar esses princípios (Levar Adiante, página 215).

Posteriormente Bill W. amplia os seis passos originais para doze, a seguir:

1) Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos

perdido o domínio sobre nossas vidas.

2) Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia

devolver-nos à sanidade.

3) Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na

forma em que O concebíamos.

4) Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.

5) Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser

humano, a natureza exata de nossas falhas.

6) Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses

defeitos de caráter.

7) Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.

8) Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos

dispusemos a reparar os danos a elas causados.

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9) Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre

que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.

10) Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados,

nós o admitíamos prontamente.

11) Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato

consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o

conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa

vontade.

12) Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses Passos,

procuramos transmitir essa mensagem aos alcoólicos e praticar esses princípios

em todas as nossas atividades (Levar Adiante, página 216, 217).

APÊNDICE 1

Carta de 26 de Janeiro de 1961 de Willian Wilson ao Dr Carl Gustav Jung (tradução livre)

Caro Dr. Jung

Esta carta de grande apreciação era devida a longo tempo. Permita que me apresente, sou Bill

W., um co-fundador da Sociedade Alcoólicos Anônimos.

Ainda que o Sr, certamente, tenha ouvido de nós, eu duvido se o Sr. esteja consciente de que

uma certa conversa que teve com um de seus pacientes, o Sr. Rowland H., no início dos anos 30, teve um

papel critico na fundação de nossa Irmandade. Apesar de Rowland ter falecido a bom tempo, as

recordações de sua experiência marcante, enquanto em tratamento consigo, tornou-se parte da história

de Alcoólicos Anônimos . Nossa lembrança das afirmações de Rowland H. sobre sua experiência consigo

foi assim:

Tendo esgotado outros meios de recuperação de seu alcoolismo, cerca de 1931 ele tornou seu

paciente. Eu acredito que permaneceu sob seus cuidados por talvez um ano. Sua admiração pelo senhor

era sem medida, e ele o deixou com um sentimento de muita confiança.15

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Para sua grande consternação, logo ele recaiu. Certo de que o senhor era sua corte do “último

recurso” ele retornou a seus cuidados. Então seguiu-se a conversa com o senhor que tornou-se o

primeiro elo de uma cadeia de eventos que conduziu à fundação de Alcoólicos Anônimos.

Minha lembrança do que me relatou sobre essa conversa é isso: primeiro de tudo, o Sr. disse

francamente a ele de sua desesperança, quanto a qualquer tratamento médico ou psiquiátrico que

pudesse ser útil. Essa sua afirmação cândida e humilde foi sem sombra de duvida a primeira pedra da

base sobre a qual nossa Sociedade tem sido levantada.

Vindo do senhor a quem ele admira e confia tanto, o impacto sobre ele foi imenso. Então,

quando ele lhe perguntou se havia alguma outra esperança, o Sr, disse a ele que podia haver, uma vez

que ele poderia ser o sujeito de uma experiência espiritual ou religiosa – em resumo, uma conversão

genuína. O Sr. Apontou-lhe como tal experiência, se acontecesse, poderia motivá-lo quando nada mais

poderia fazê-lo. Mas o Sr, pediu cuidado, pois apesar de que tais experiências algumas vezes trouxeram

sobriedade a alcoólatras, elas são relativamente raras. O Sr, recomendou que ele se colocasse em uma

atmosfera religiosa e esperasse pelo melhor. Isso foi, eu  creio a substância de seu conselho.

Logo após isso, o Sr. H. ingressou nos Grupos Oxford, um movimento evangélico então no pico de seu

sucesso na Europa, e que sem duvidas o Sr, é familiar. O Sr. se lembrará sua grande ênfase nos

princípios de auto avaliação, confissão, restituição, e dar-se em serviço a outros. Eles enfatizam

fortemente a meditação e a oração.  Nesse ambiente, Rowland H. passou por uma experiência de

conversão que o livrou até agora de sua compulsão por beber.

Retornando a New York ele tornou-se muito ativo com os “G.O.” ali, e liderado por um pastor

episcopal, Dr. Samuel Shoemaker.  Dr. Shoemaker foi um dos fundadores daquele movimento, e sua forte

personalidade transmitia imensa sinceridade e convicção.

Por esse tempo (1932-34) os Grupos Oxford já tinham um número de alcoólatras sóbrios, e

Rowland, sentindo que ele podia identificar-se especialmente com esses sofredores, apresentou-se a si

mesmo para ajudar a estabilizar outros. Um desses por acaso era um meu antigo colega de escola,

Edwin T. (“Ebby”). Ele estava sob ameaça de prisão, mas o Sr. H e outro ex-alcoólatra membro dos

“O.G.” procuraram sua liberdade condicional e o ajudaram a conseguir sua sobriedade.

Enquanto isso, eu segui o curso do alcoolismo e eu mesmo estava sob ameaça de prisão.

Felizmente eu fiquei sob os cuidados de um medico, o Dr. William D. Silkworth – que era

maravilhosamente capaz de compreender alcoólatras. Mas assim como o Sr. abriu mão de Rowland, ele

abriu mão de mim.

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Era sua teoria que alcoolismo tinha dois componentes – uma obsessão que compelia o sofredor

a beber contra sua vontade e desejo, e algum tipo de dificuldade metabólica que ele então chamou de

uma alergia. A compulsão garantia que o beber do alcoólatra continuaria adiante, e a alergia tornaria

certo que o sofredor iria deteriorar-se finalmente, tornar-se-ia insano ou morreria.

Apesar de eu ser um dos poucos que ele pensava que era possível ajudar, ele finalmente foi

obrigado a me falar de minha desesperança; eu, também,  teria que ser trancafiado. Para mim, isso era

um golpe devastador. Assim como Rowland foi preparado para sua experiência de conversão pelo Sr.,

assim meu maravilhoso amigo, Dr. Silkworth, preparou-me.

Ouvindo de minha situação, meu amigo Edwin T. veio ver-me em minha casa, onde eu estava

bebendo. Era então novembro de 1934. Há muito tempo tinha  marcado meu amigo Edwin como um caso

sem esperança. No entanto ali estava ele em um estado bem evidente de “livramento” que poderia sem

dúvidas ser creditado por sua mera associação de pouco tempo com os Grupos Oxford. No entanto esse

obvio estado de livramento, tão distinto de sua depressão usual, era tremendamente convincente. Porque

ele era um parceiro de sofrimento, ele podia inquestionavelmente comunicar-se comigo em grande

profundidade. Eu soube no ato que deveria encontrar uma experiência como a dele, ou morreria.

Voltei novamente aos cuidados do Dr. Silkworth onde eu pude novamente voltar a estar sóbrio e

conseguir uma visão mais clara da experiência de livramento de meu amigo, e da aproximação de

Rowland H a ele.

Desintoxicado novamente do álcool, senti-me terrivelmente deprimido. Isso parecia ser causado

pela minha inabilidade de conseguir a menor fé. Edwin T visitou-me novamente e repetiu as fórmulas

simples dos Grupos Oxford. Assim que ele saiu eu fiquei ainda mais deprimido. Em grande desespero eu

gritei, “Se existir um Deus, que ele se mostre a si mesmo.” Imediatamente veio uma iluminação de

grande impacto e dimensão, algo que tentei descrever no livro “Alcoólicos Anônimos” e em “AA

Alcança a Maioridade” , textos Básicos que estou lhe enviando. Meu livramento da obsessão pelo álcool

foi imediato. Eu sabia que era um homem livre no ato. Logo depois de minha experiência, meu amigo

Edwin veio ao hospital trazendo-me uma copia de William James “As Variedades da Experiência

Religiosa”. Esse livro me deu a percepção de que a maioridade das experiências de conversão, seja qual

for sua variedade, tem um denominador comum do colapso do ego em profundidade. A pessoa enfrenta

um dilema impossível. Em meu caso o dilema foi criado pelo meu beber compulsivo e o profundo

sentimento de desesperança foi grandemente aprofundado pelo meu médico. E foi mais aprofundado

ainda por meu amigo alcoólatra quando me contou de seu veredicto de desesperança a respeito de

Rowland H.

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Na seqüência de minha experiência espiritual veio uma visão de uma sociedade de alcoólatras,

cada um identificando-se com e transmitindo sua experiência ao próximo – ao estilo de corrente. Se cada

sofredor levasse a notícia da desesperança científica do alcoolismo a cada novo interessado, ele poderia

se capaz de fazer todo recém chegado aberto a uma experiência espiritual transformadora. Esse conceito

provou ser o fundamento de tal sucesso como Alcoólicos Anônimos desde então alcançou. Isso tornou as

experiências de conversão – quase que todas as variedades descritas por James – disponíveis quase que

em uma base por atacado. Nossas recuperações sustentadas pelo último quarto de século somam cerca

de 300.000. Na America e pelo mundo há hoje 8.000 grupos.

Assim ao Sr, ao Dr. Shoemaker dos Grupos Oxford, a William James, e ao meu próprio medico

Dr. Silkworth, nós de AA devemos essa tremenda benfeitoria. Como o Sr, agora verá com clareza, essa

surpreendente cadeia de eventos na realidade começou muito antes em seu consultório, e está

diretamente baseada em sua própria humildade e profunda percepção.

Muitos AAs atentos estudam seus escritos. Por que é nossa convicção de que o homem é algo

mais que intelecto, emoção, e de dois dólares de medicação, o Sr se tornou encantador para nós.

Como nossa Sociedade cresceu, desenvolveu suas Tradições para unidade e estruturou seu

funcionamento será visto nos textos e material em panfletos que estou lhe enviando.

O Sr, também irá interessar-se em saber que somado à “experiência espiritual”, muitos AAs

descrevem uma grande variedade de fenômenos psíquicos, sendo considerável seu peso cumulativo.

Outros membros têm – seguindo-se a sua recuperação em AA – se beneficiado muito por seus médicos.

Uns poucos têm se intrigado pelo “I Ching” e sua notável introdução àquele trabalho.

Por favor, esteja certo de que seu lugar na afeição e na história da irmandade é como nenhum

outro.

Gratamente seu

William G. W.

Co-fundador de Alcoólicos Anônimos.

APÊNDICE 2

Resposta do Dr. Carl Gustav Jung a Bill W. - 30 de janeiro de 1961

Sr. William G. Wilson

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Alcoólicos Anônimos

Caixa Postal 459 Grand Central Station

New York 17, N.Y.

Caro Sr. Wilson

Sua carta foi muito bem vinda realmente.

Não tinha mais notícias de Roland H., e freqüentemente imaginava qual seria seu destino.

Nossa conversa que ele adequadamente reportou ao Sr, tem um aspecto do qual ele não soube.

A razão pela qual não pude lhe dizer tudo era que naqueles dias eu estava excessivamente cuidadoso

com o que dizia. Descobri que fui mal entendido de todos os modos possíveis. Por isso estive tão

cuidadoso quando falei a Roland H. Mas o que eu realmente pensei sobre isso foi o resultado de muitas

experiências com homens desse tipo.

Sua avidez por álcool era o equivalente a um nível baixo de sede de nosso ser por completude,

expresso em linguagem medieval: a união com Deus.

Como alguém pode formular tal insight em uma linguagem que não seja mal entendida por outros.

A única e legítima forma de tal experiência é, que isso acontece a você em realidade e isso só

pode acontecer a você quando você caminha numa trilha que o leva a uma compreensão mais alta. Você

pode ser conduzido àquele alvo por um ato de graça ou através de um contacto com amigos ou através

de uma alta educação da mente além dos confins do mero racionalismo. Eu vejo de sua carta que Roland

H. escolheu  o segundo caminho, que é, sob as circunstancias, obviamente o melhor.

Estou fortemente convencido de que o princípio do mal prevalecente neste mundo conduz a

necessidade espiritual não reconhecida à perdição, se isso não for contraposto ou por um insight

religioso real ou pelo muro protetor da comunidade humana. Uma pessoa comum, não, protegida por

uma ação vinda de cima e isolada em sociedade não pode resistir ao poder do mal, que é chamado muito

adequadamente de Diabo. Mas o uso dessas palavras levanta tantos erros que alguém deve manter-se

longe delas tanto quanto possível.

Essas foram as razões porque eu não puder dar uma explanação completa e suficiente a Roland

H. mas estou arriscando-a com você porque concluo de sua muito decente e honesta carta, que você

adquiriu um  ponto de vista acima das platitudes enganosas que ouvimos usualmente quanto ao

alcoolismo.

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Veja, Álcool em Latim é “spiritus” e usamos a mesma palavra para a mais alta experiência

religiosa assim como para o mais depravante veneno. A fórmula auxiliadora, portanto é: spiritus contra

spiritum.

Agradecendo-lhe novamente sua gentil carta, eu permaneço seu sinceramente,

Carl Gustav Jung

“Como a corça anseia por águas correntes, a  minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo”. Salmo 42:1

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