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MOSTRA CIENTÍFICA DAS ESCOLAS EM ARAÇUAÍ I- Introdução Algo que se pode destacar como uma qualidade de uma nação é a sua diversidade. O Brasil não é um país de cultura homogênea, mas sim uma nação plural com diversidade sociocultural e características socioeconômicas diferentes na extensão de seu território. Mais ainda, não é um país estático do ponto de vista da relação cultural entre seus povos. A cada momento, fervilham nesse caldeirão tropical, os saberes “cultos” e “incultos” que de tanto interagir já não são mais os mesmos. Projetam-se como conhecimento da aldeia para o mundo e do mundo para a aldeia, produzindo novos saberes e novas atitudes. Na comunhão dos saberes e dos fazeres diversos nessa pequena parte de Brasil situa-se este que é o estudo sobre a Mostra Científica das Escolas em Araçuaí-MOSTRAR. Nesse recorte deseja-se relatar e analisar criticamente um pouco do que se materializou enquanto evento de popularização de ciência, idealizado por um grupo de servidores do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais-Câmpus Araçuaí. O objetivo da MOSTRAR é incentivar a participação de estudantes do ensino básico das escolas da região na produção de trabalhos técnico-científicos, estimulando a capacidade criativa desses jovens como forma de iniciá-los no campo da pesquisa e de sua aplicação para a vida.Com o apoio do CNPq, através do Ministério da Ciência, Tecnologia e

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MOSTRA CIENTÍFICA DAS ESCOLAS EM ARAÇUAÍ

I- Introdução

Algo que se pode destacar como uma qualidade de uma nação é a sua

diversidade. O Brasil não é um país de cultura homogênea, mas sim uma

nação plural com diversidade sociocultural e características socioeconômicas

diferentes na extensão de seu território. Mais ainda, não é um país estático do

ponto de vista da relação cultural entre seus povos. A cada momento, fervilham

nesse caldeirão tropical, os saberes “cultos” e “incultos” que de tanto interagir

já não são mais os mesmos. Projetam-se como conhecimento da aldeia para o

mundo e do mundo para a aldeia, produzindo novos saberes e novas atitudes.

Na comunhão dos saberes e dos fazeres diversos nessa pequena parte de

Brasil situa-se este que é o estudo sobre a Mostra Científica das Escolas em

Araçuaí-MOSTRAR. Nesse recorte deseja-se relatar e analisar criticamente um

pouco do que se materializou enquanto evento de popularização de ciência,

idealizado por um grupo de servidores do Instituto Federal do Norte de Minas

Gerais-Câmpus Araçuaí. O objetivo da MOSTRAR é incentivar a participação

de estudantes do ensino básico das escolas da região na produção de

trabalhos técnico-científicos, estimulando a capacidade criativa desses jovens

como forma de iniciá-los no campo da pesquisa e de sua aplicação para a

vida.Com o apoio do CNPq, através do Ministério da Ciência, Tecnologia e

Inovação do Brasil, foram realizadas duas edições da MOSTRAR que servem

de base para esta pesquisa.

Partindo de uma contextualização sobre os desafios da popularização da

ciência no contexto regional, busca-se situar o município de Araçuaí e elencar

as suas condições de cidade polo. Dentre os fatores sociais, econômicos e

geográficos, analisa-se também o potencial difusor da ciência, através de

instituições públicas de ensino superior mais próximas do município. Essa

leitura possibilita enxergar a amplitude da pesquisa e, na sequência,

fundamentá-la através das reflexões sobre ciência e sociedade ...(...), as ideias

sobre a alfabetização em ciência, bem como as referências sobre a sua

popularização através de feiras científicas no Brasil.

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Os objetivos desse estudo estão elencados de sua forma geral à específica,

buscando analisar as etapas de desenvolvimento da MOSTRAR. Essas etapas

estão descritas em registros e depoimentos que configuram-se como base

instrumental da pesquisa. A análise e discussões desses documentos pelo

grupo de proponentes do projeto permitiram apresentar a síntese das duas

edições da MOSTRAR, bem como os projetos integrados que precederam e

sucederam os eventos.

A análise da MOSTRAR, a partir de fóruns e reuniões programadas com essa

equipe traduzem-se em momentos descritos como etapas metodológicas do

desenvolvimento da Mostra Científica das Escolas em Araçuaí. Dessa forma,

os resultados da segunda MOSTRAR servem como ilustrações desses

momentos metodológicos aplicados, evidenciando o caráter referencial desse

estudo na edição de evento de popularização da ciência.

II- Desafios da Popularização da Ciência no Contexto Regional

O município de Araçuaí situa-se, geograficamente, na região central do

Vale do Jequitinhonha, localidade tradicionalmente conhecida como Médio

Jequitinhonha. Essa localização torna o município uma espécie de elo natural

entre extremos e proximidades dessa macrorregião, ligando em seus caminhos

todas as cidades erguidas no curso do Rio Jequitinhonha.

Gráfico 1: Araçuaí em destaque no Vale do Jequitinhonha- Minas Gerais.

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Fonte: IBGE citado por Gomes(2009).

As proximidades as quais se referem podem ser entendidas como os

municípios limítrofes de Araçuaí. São eles: Itinga, Coronel Murta, Virgem da

Lapa, Francisco Badaró, Jenipapo de Minas, Novo Cruzeiro, Caraí, Padre

Paraíso e Ponto dos Volantes. Contudo, para o que se propõe discutir nesse

contexto, tona-se necessário estabelecer o que é chamado de extremidades

que tem como elo o município de Araçuaí. Por definição, estabelecem-se,

como extremos, todos os municípios que se encontram à distância limite

de150km de Araçuaí, ligadas por meio de estrada pavimentada ou não. A

tabela a seguir apresentam essas localidades, sua população geral e a

população jovem. Os números foram obtidos a partir do cruzamento dos dados

censitários do IBGE (....) e do Departamento de Estradas e Rodagem de Minas

Gerais

Tabela 6: Cidades até 150 km do município

Nº Cidade População População entre

18 a 24 anos

Distância de

CIDADE

01 Araçuaí 36.013 4626 0km02 Virgem da Lapa 13.619 1841 34km

03 Coronel Murta 9.117 1148 43km

04 Itinga 14.407 1776 44km

05 Itaobim 21.001 2516 74km

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06 Francisco Badaró 10.248 1609 44km

07 Jenipapo de Minas 7.116 1106 51km

08 Berilo 12.300 992 60km

09 Caraí 22.343 2834 72km

10 Chapada do Norte 15.189 2358 84km

11 Minas Novas 30.794 4913 104km

12 Turmalina 18.055 2633 130km

13 Veredinha 5.549 781 136km

14 José Gonçalves M. 4553 723 86km

15 Leme do Prado 4804 712 110km

16 Rubelita 7772 434 83km

17 Salinas 39178 4911 112km

18 Padre Carvalho 5834 855 129km

19 Novorizonte 4963 603 140km

20 Fruta de Leite 5940 704 149km

21 Josenópolis 4563 588 114km

22 Grão Mogol 15024 2118 137km

23 Comercinho 8298 924 88km

24 Medina 21026 2402 118km

25 Jequitinhonha 24131 2602 137km

26 Ponto dos Volantes 11345 1226 94km

27 Monte Formoso 4656 494 133km

28 Novo Cruzeiro 30725 3967 97km

29 Setubinha 10885 1364 141km

30 Itaipé 11798 822 127km

31 Catuji 6708 870 98km

32 Padre Paraíso 18852 2258 127km

Total 456.806 57.710

Fonte: DER-MG(2011)

Ao percorrer os olhos sobre o gráfico, identifica-se que o município de Araçuaí,

além de um centro geográfico, é um polo convergente acessível a uma

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população de quase meio milhão de pessoas distribuídas em 32 municípios,

ligados a uma distância de até 150km ao seu redor. Desse universo,

contabiliza-se quase 58mil Jovens entre 18 e 24 anos, idade de referência para

ingresso no ensino superior. Para melhor entender a razão desse levantamento

é preciso mostrar ainda a disponibilidade de cursos superiores presenciais e

gratuitos mais próximos de Araçuaí, através da tabela 8.

Tabela 8: Os 7 Campus de Universidade Pública mais próximos, a distância até

eles e número de cursos oferecidos.

Cidade do

Campus

Universidade Distância Número de Cursos

Diamantina- UFVJM 307km 23

Teófilo Otoni-MG UFVJM 253km 9

Governador

Valadares-MG

UFJF 406 km Em implantação

Vitória da

Conquista-BA

UFBA 309km 5

Janaúba-MG UFVJM e

UNIMONTES

336km Em implantação

Teixeira de

Freitas-BA

UFESBA 386km Em implantação

Montes Claros* UNIMONTES e

UFMG

332km 48

Fonte: DER(2011)

O que é curioso nesse levantamento é que, apesar do município de Araçuaí

constituir-se como polo microrregional, cujas distâncias até 150km ligam uma

enorme população, o ensino superior ainda é espacialmente distante de muitos

jovens dessa região que desejam prosseguir seus estudos por aqui mesmo. A

universidade mais próxima encontra-se a 253Km do município, revelando um

vazio de Espaço Educacional Superior.

Mas o que isso tem a ver com a Popularização da Ciência? Não é preciso

muito esforço intelectual para constatar que a Universidade é um dos principais

centros de difusão da ciência e tecnologia no Brasil. Em geral, é daí que se

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difunde e populariza a ciência através do poder que tem a universidade de

encampar museus, observatórios, parques temáticos, dentre outros projetos

extensionista na área de ciência. Portanto, para a análise da intensidade e

relevância de um projeto de popularização da ciência, sempre é importante ter

em mente o contexto em que esse conceito se aplica. Numa realidade de

grandes centros urbanos, apesar de ter outros desafios, é razoável inferir que a

concentração de instituições de ensino superior favorece a emergência de

espaços como centros, observatórios e museus de ciências, em geral, mais

envolvidos com as atividades de popularização de ciência. Por aqui, no Vale do

Jequitinhonha, a falta de instituições públicas de ensino superior, interpretado

nas tabelas ((.....)) dão a verdadeira dimensão do desafio que é trabalhar com a

Popularização da Ciência onde não existem espaços não formais de educação

dedicados a essa finalidade. Mas essa ainda é uma face da carência com a

qual se depara na região.

Em termos socioeconômicos, o município está situado numa das regiões

consideradas mais pobres do Brasil. O Índice de Gini, que mede o grau de

desigualdade existente na distribuição de indivíduos, segundo a renda

domiciliar per capita, é de 0,46 para o município de Araçuaí com variações

entre 0,42 e 0,50. Considerando que o valor nulo para esse índice sugere que

não haja desigualdade e que o valor 1 ocorra a concentração máxima de renda

por uma só pessoa, na amostra avaliada, entende-se que Araçuaí apresenta

desigualdade num próximo da média.

Embora seja importante para reconhecer como a renda é distribuída,

esse critério não dá a noção de riqueza. Para isso, é relevante observar o

Indicador Social de Pobreza. Segundo essa mesma fonte, a Incidência de

pobreza absoluta no município de Araçuaí é de 56,21% e o índice de pobreza

subjetiva é de 56,30 %. A pobreza absoluta é medida a partir de critérios

definidos por especialistas que analisam a capacidade de consumo das

pessoas, sendo considerada como pobre, aquela pessoa que não consegue ter

acesso a uma cesta alimentar e de bens mínimos necessários a sua

sobrevivência. A medida subjetiva de pobreza é derivada da opinião dos

entrevistados e é calculada levando-se em consideração a própria percepção

das pessoas sobre suas condições de vida. Como se constata, estes dois

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resultados são aproximadamente os mesmos. Segundo o Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o IDH do Município de

Araçuaí era de 0,597 em 1991 e subiu para 0,687 em 2000. Embora não se

disponha de dados mais recentes, a evolução deste indicador em uma década

representou cerca de 15% do seu valor inicial. As medidas de distribuição de

renda, a medida da pobreza e do IDH têm relações diretas com a educação,

permitindo entender que a política de regionalização da educação superior no

Vale do Jequitinhonha é um caminho para a melhoria da condição de vida

dessa população.

Diante dessa ausência, a expectativa da população volta-se sobre os

benefícios do recém-implantado Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do

Norte de Minas Gerais, no município de Araçuaí. O IFNMG é uma instituição

pública que oferta cursos técnicos e tecnológicos, podendo legalmente,

oferecer ainda as mesmas modalidades de cursos de uma universidade, o que

não é o caso do Câmpus Araçuaí. A base indissociável entre ensino, pesquisa

e extensão caracteriza a natureza do IFNMG e o contexto regional dá a

dimensão da sua complicada missão: torna-se um desafio muito grande elevar

a autoestima, principalmente de jovem estudante desse lugar, quando o círculo

que se projeta ao seu entorno é o de estigma de região pobre, da região em

que não se pode ter, nem tão pouco ser. Nesse sentido, a figura do “ser

cientista”, por aqui, torna-se um mito para jovens cujo contato com o mundo

acadêmico é distante espacial e culturamente falando.

No entanto, a ausência da instituição de meios de popularização

científica na região não pode ser entendida como ausência de saber. Uma ideia

que tem ficado nítida na mente da equipe que promove a MOSTRAR é que a

ciência tem um aspecto amplo e diverso. A natureza de sua construção é

humana e, por essa razão, há de se referir também à leitura do universo

cultural que caracteriza e integra a população desse lugar.

Em contraste com a ausência histórica do poder público, em especial

quanto à política educacional, formou-se por aqui uma cultura popular

caracterizada pelos cantares, os dançares e o saberes, expressos pela

herança dos diversos povos que a formou: indígenas, africanos e europeus.

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Segundo Burlandy e demais organizadores (2006), o Arraial dos Crioulos,

localizado na periferia da cidade, e as famílias Aranãs foram reconhecidos,

respectivamente, como remanescente de quilombo e pertencentes ao povo

indígena Borun, como povo indígena ressurgido. O Centro de Referência da

Cultura Afro-indígena de Araçuaí-QUIGEMM, dentre outras ações, tem

contribuído para o resgate cultural da aldeia Pankararu-Pataxó que se

reconstituiu recentemente no município próximo, formada por 11 famílias

indígenas, além do povo Aranã e Baú – comunidades remanescentes

quilombolas que vivem no município de Araçuaí.

Seus cantares e dançares podem ser ilustrados pela Irmandade de Nossa

Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Araçuaí-uma entidade que se

identifica com a comunidade em geral, através dos seus Tamborzeiros que

animam a tradicional festa do Rosário da cidade. Seus corais e grupos teatrais,

como expressão viva desta cultura, cantam e encantam mundo afora e constitui

um grande patrimônio imaterial de Minas Gerais, destaque em reportagens de

circulação nacional. Os corais Meninos de Araçuaí, Trovadores do Vale, Coral

Nossa Senhora do Rosário, Coral Araras Grandes e Coral Santa Tereza

constituem uma demonstração desta riqueza presente no município.

Palco do teatro internacional e cenário do cinema nacional, Araçuaí é uma

referência quando o assunto é cultura. Merecem destaque o Grupo Vozes,

ligado ao Centro Cultural Luz da Lua que tem como projeto-piloto o K-iau em

cena- Festival Nacional de Teatro de Araçuaí-MG. O evento faz parte do

calendário cultural da cidade e ocorre anualmente.

No cinema, o município foi cenário escolhido para o filme Kenoma (significado)

que aborda a saga do ator principal numa busca quixotesta de construir um

motoperpétuo, máquina proibida pela segunda lei da termodinâmica. Nesse

ramo cinematográfico, destacam-se as produções de filmes de curta metragem,

realizados pelos Meninos de Araçuaí, grupo ligado ao Centro Popular de

Cultura e Desenvolvimento- CPCD. Essa organização não governamental

também promove atividades de formação em oficinas de artesanato,

permacultura e fabriqueta de softwares. O nível de profissionalismo desses

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jovens aprendizes pode ser medido pelo site da MOSTRAR e o vídeo do

evento produzido por eles (ref.)

Por toda essa diversidade humana e cultural, não se pode ignorar a

existência de um saber popular que se engendra de forma diferente do saber

científico acadêmico. Por essa razão, a compreensão da equipe da MOSTRAR

é que a Popularização da Ciência tenha um aspecto dialógico que, não só vai

ao encontro da necessidade das pessoas, como também provoca novas

necessidades.

Nesse sentido, a distância epistemológica e cultural da ciência produzida

na universidade até a população tem implicações diretas com a distância

espacial que mesma população se encontra da academia. Essa conformação

pode ser sintetizada pelo ditado popular onde se ouve: “O que os olhos não

veem o coração não sente”. O coração das pessoas passa a sentir a

necessidade da ciência quando a elas é dado o direito de ter ao menos o

contato com esse universo.

Essa é uma das principais motivações da MOSTRAR, ou seja, é preciso

despertar o gosto de jovens pela ciência, provocando neles o desejo de

mostrar que são capazes de valorizar e construir o próprio conhecimento

quando são mobilizados e orientados para isso. Portanto, uma equipe que se

dispõe a popularizar a ciência deve ter uma compreensão ampla dos fatores

contextuais, considerados subjacentes, pois são eles que, em geral, dão

sentido à ação projetada.

III- Fundamentação teórica (justificativa e fundamentações)

A MOSTRAR é um evento.....A realização de feiras ou mostras de ciências

cumpre papel social relevante ao aproximar o público, em geral, do meio

acadêmico e sua produção científico-tecnológica, permitindo o diálogo com a

população, conforme define o professor Antônio Carlos Pavão, um entusiasta

das feiras de ciência no Brasil:

“Do ponto de vista metodológico, as feiras de ciências podem ser

utilizadas para repetição de experiências realizadas em sala de

aula; montagem de exposições com fins demonstrativos; como

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estímulo para aprofundar estudos e busca de no vos

conhecimentos; oportunidade de proximidade com a comunidade

científica; espaço para iniciação científica; desenvolvimento do

espírito criativo; discussão de problemas sociais e integração

escola-sociedade.” (PAVÃO apud BRASIL, 2006).

A razão que a equipe da MOSTAR vê em se popularizar a ciência consiste na

compreensão de que ela é um poderoso instrumento de leitura do mundo

moderno, necessário à formação humana e consequentemente um meio de

inserção social. Sobre esse aspecto linguístico, Chassot (2013) defende que a

ciência seja uma linguagem; assim, ser alfabetizado cientificamente é saber ler

a linguagem em que está escrita a natureza. É um analfabeto científico aquele

incapaz de uma leitura do universo. Para o autor, existe um fazer científico que

está comprometido com a elaboração dessa explicação do mundo natural e a

alfabetização científica que deve propiciar o entendimento ou a leitura dessa

linguagem.

Embora a alfabetização científica seja um propósito da Educação Formal, pode

se admitir que a Popularização da Ciência também assume essa tendência

uma vez que possibilita a interface entre o Público e o conhecimento científico,

com a diferença de flexibilizar os espaços e tempos onde essa interação

ocorre. Para fulano ( falar sobre interface ciência e tecnologia)

O fato de muitos projetos de feiras científicas ocorrerem, tradicionalmente,

através de demonstrações de experimentos das ciências da natureza traz um

inconveniente quanto à concepção de ciência que se deseja construir. A

ciência, para a equipe da MOSTRAR, não é definida nesse sentido restrito. Ela

tem um sentido amplo. A ciência não é só saber fazer um equipamento que

demonstre um fenômeno da natureza, uma investigação em determinada área

ou transmitir informação de um dado conhecimento. Ela também é um

instrumento que torna nossos sentidos habilidosos para apreciar a beleza do

universo, de uma música ou de qualquer outra manifestação artística. O caráter

investigativo da ciência possibilita o despertar da consciência, contribuindo

para o reconhecimento e valorização da identidade do indivíduo em comunhão

com a sociedade onde vive. A ciência, que parece estar presente em tudo, é

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esse instrumento pelo qual lemos o mundo, no entendimento de que “ler o

mundo”, como afirma Paulo Freire, é algo anterior à leitura da palavra.

Dentre os trabalhos que se enquadram na área de popularização da ciência,

alguns se pode dizer que são de grande abrangência e importância por

assumirem, em seu planejamento, um público e extensão geográfica muito

grande. Nesse cenário, destaca-se a Semana Nacional de Ciência e

Tecnologia com temática predefinida e número de atividades muito grande. Por

outro lado, a Mostra Científica das Escolas em Araçuaí-MOSTRAR é um

evento que tem uma abrangência regional e

IV-Objetivo:

Partindo do conhecimento da realidade local, o estudo em questão constitui-se

de um relato das experiências vivenciadas no processo de concepção,

planejamento, elaboração e execução da Mostra Científica das Escolas em

Araçuaí nas edições de 2012 e 2014. O objetivo desse trabalho é apresentar

aspectos metodológicos na área de Popularização da Ciência a partir das

ações desenvolvidas no âmbito das edições da Mostra Científica das Escolas

em Araçuaí- MOSTRAR.

V- Metodologia

Esse estudo consiste em relatar e analisar as etapas metodológicas das

edições da MOSTRAR que vai desde a concepção do projeto, passando pela

sua preparação e culminância até o acompanhamento de estudantes nas

principais feiras de ciências do Brasil. Para isso, foi preciso realizar uma

investigação bibliográfica e de campo sobre o contexto socioeconômico e

territorial no qual o município sede da MOSTRAR está inserido e situar os

desafios que fazem frente às ações de popularização de ciência no âmbito

regional. Essa abordagem contextual da pesquisa é caracterizada como fase

de concepção do projeto e sua formulação está baseada em levantamento de

dados, geográficos, estatísticos, socioeconômicos e censitários sobre a região.

O estudo dessa realidade foi feito antes da formulação da primeira edição do

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projeto, o que permitiu integrar a equipe em torno de uma ideia de

popularização de ciência.

Portanto, as etapas metodológicas da pesquisa consistem em análises da

memória registrada do evento, através da releitura do projeto de fomento e dos

projetos integrados, da revisão dos relatórios, da inspeção de mídias e

reexame das fichas de avaliação, anais do mostra e livro de presença das

edições realizadas. Todo o registro de memória dos eventos foi então

disponibilizado e discutido com o grupo por meio de fórum virtual de discussão

e 3 encontros programados. Essas reuniões foram gravadas em áudio e

ocorreram nos dias...., tendo, respectivamente, as seguintes

durações: ....minutos. A equipe é composta por 7 integrantes, sendo que um

dos integrantes foi substituído, por conta da sua transferência para outro

Câmpus.

No primeiro encontro, foi feita uma apresentação de slides com fotos da

MOSTRAR em suas duas edições, buscando apresentar e dialogar sobre

alguns momentos marcantes do projeto. Nessa reunião, discute-se a

importância do edital como processo de regulamentação da atividade de

popularização de ciência intencionada. O site é reapresentado e sua relevância

no processo é discutida. Um filme editado com duração de 19 minutos sobre a I

MOSTRAR foi apresentado.

No segundo encontro, foi analisado o relatório e sua consistência com o projeto

submetido ao órgão de fomento (CNPq- 2011). Como a II MOSTRAR ainda

está vigente, o estudo limitou-se à análise apenas de seu projeto submetido

(CNPq-2013), fotos e 3 filmes não editados de algumas atividades

desenvolvidas. No Terceiro e último dia a equipe organizou-se para produzir

sínteses avaliativas sobre o processo e os resultados das duas edições da

MOSTRAR, tendo como parâmetro, os relatórios de avaliação do público, anais

e livro de presença da mostra científica, bem como as observações feitas nos

encontros anteriores. O fórum foi permanente e os objetos de discussão e

análise giravam em torno das discussões desencadeadas nas reuniões

presenciais.

VII- O evento

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A primeira edição da MOSTRAR ocorreu em 2012 através de um série de

atividades programadas. Essas atividades são estabelecidas a partir de

parcerias firmadas com outras instituições e com a colaboração de servidores

internos e externos à instituição proponente. A tabela a seguir, apresenta a

síntese da programação da 1ª edição do evento.

21 de novembro

Atividades Responsáveis

Abertura Oficial do Evento Coral Araras Grandes e Filarmônica

Virgolapense

22 de novembro

Mostra de trabalhos científicos I Expositores das escolas da região

Planetário Itinerante Equipe do planetário da UFJF

Parque da ciência Itinerante Equipe do Parque da Ciência da

UFVJM

Oficinas, Minicursos e Palestra Professores do IFNMG

23 de novembro

Mostra de trabalhos científicos II Expositores das escolas da região

Planetário Itinerante Equipe do planetário da UFJF

Parque da ciência Itinerante Equipe do Parque da Ciência da

UFVJM

Oficinas e Minicurso Professores do IFNMG

Encerramento Grupo de teatro Ícaros do Vale

Esse cronograma é estruturado em função das ações que foram

desenvolvidas, o que se difere um pouco das ações planejas. Portanto, é

necessário não só estabelecer as parcerias, mas promover atividades de

integração cujo resultado é o comprometimento das equipes responsáveis por

cada ação programada. No caso da primeira MOSTRAR os responsáveis pelas

atividades foram: a equipe do parque da ciência da UFVJM- Universidade

Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Monitores do Planetário da

UFJF-Universidade Federal de Juiz de Fora, Professores do IFNMG, Escolas

de ensino básico da região e Grupos artísticos locais.

Com a experiência da realização do primeiro evento e a repercussão que

houve com a viagem dos bolsistas premiados, a Segunda MOSTRAR,

realizada em 2014, torna-se uma expectativa para as escolas participantes.

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Após dois anos da realização da primeira edição, a segunda edição é

programada conforme a tabela (...) a seguir.

19 de novembroAtividades Responsáveis

Abertura Oficial do Evento Artistas Instrumentais-Professores

20 de novembro

Mostra de trabalhos científicos I Expositores das escolas da região

Planetário Itinerante Equipe do planetário da UFMG

Como a luz traz informação dos

astros.

Equipe da UFMG

Oficinas, Minicurso, Palestras e

Seminário.

Professores do IFNMG e da UFMG

23 de novembro

Mostra de trabalhos científicos II Expositores das escolas da região

Planetário Itinerante Equipe do planetário da UFMG

Observações astronômicas Equipe da UFMG

Oficinas e Minicurso Professores do IFNMG e da UFMG

Encerramento Equipe do Segundo IF SHOW

O que as duas edições desse evento têm em comum é a diversidade temática

e metodológica de suas apresentações. Um desses fatores marcantes são as

apresentações artísticas de grupos da cultura local. Essas apresentações

ocorrem, principalmente, durante a abertura e o encerramento, caracterizadas

por apresentações musicais, instrumentais e teatrais, típicas da região. A

abertura é seguida de palestra e explicação sobre os objetivos e importância do

evento, visita ao “Corredor Cósmico” e ao Planetário. Nos dias que se seguem

são apresentados minicursos, oficinas, seminário e palestras paralelas à

exposição de trabalhos das escolas da região.

Como desfecho, a mostra científica encerra-se através de uma apresentação

cultural. TERRA: A História de João Boa Morte – Cabra Marcado Para Morrer, esta foi

peça encenada pelo Cia de teatro Ícaros do Vale. No pátio da escola, o drama dos

despossuídos na luta pela terra ilustra a situação da chacina de camponeses sem

terra no Vale do Jequitinhonha. A ideia de unir arte e ciência tem ganhado força. O

encerramento teve de ser ampliado, uma vez que o IF SHOW, que é uma espécie de

show de talentos da região, veio a se integrar à Segunda MOSTRAR.

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Quanto à mostra científica das escolas, elas são diversificadas e cada temática

se enquadra nas seguintes categorias gerais de trabalhos: a) Montagem; b)

Investigatório; c) Informativo. No primeiro caso, a exibição se caracteriza por

evidenciar algum fenômeno da natureza a partir de um dispositivo cujo princípio

é explicado por meio do experimento que se demonstra no momento. Os

grupos apresentam dispositivos ou fenômeno como prensa hidráulica, reações

químicas, robôs, aquecedor e fogão solar, entre outros. Já os trabalhos

investigatórios classificam-se assim por caracterizarem-se como estudo de um

problema definido, em geral pesquisa de campo, cujos resultados são

apresentados por meios gráficos. Aqui, destacam-se trabalhos como o de

investigação da qualidade da água em cisternas de placas, o quadro local de

leishmaniose canina, a qualidade do leite quanto à infecção por mastite, etc.

Por fim, os trabalhos informativos, são baseados em levantamento bibliográfico

sobre um determinado tema que, em geral, buscam informar e conscientizar a

população. Por exemplo, Doenças Sexualmente Transmissíveis, Exploração do

Trabalho Infantil, A violência sobre a população negra no Brasil, etc.

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Enquanto os alunos apresentam suas atividades em cada estande, são

realizadas oficinas, minicursos, palestras sobre diversos temas nas

dependências do Câmpus. Essas atividades são multitemáticas e sua definição

fica a cargo da especialidade de cada colaborador. Dessa forma, o professor

de biologia apresenta a oficina “otólitos- a caixa preta da vida dos peixes”, por

sentir afinidade com o tema e reconhecer na região uma potencialidade para a

pesquisa sobre as espécies dos rios que cruzam o município. Com o mesmo

formato apresenta-se outras atividades das quais destacam-se as oficinas

sobre geoprocessamento, estudo ambiental sobre um bairro de Araçuaí,

Geometria Dinâmica, propagação de plantas, Como a luz nos traz informações

dos astros, astronomia indígena, seminário sobre empreendimento da

economia solidária, dentre muitas outras apresentações.

VI. Projetos Integrados

Mesmo que se busque explicar as edições da MOSTRAR em termos das suas

programações, ainda não será possível alcançara a amplitude desse projeto.

Para isso, é preciso relatar alguns projetos que antecederam ou sucederam o

evento, descrevendo a natureza processual desta laboriosa ação de

popularização da ciência que se transformou a MOSTRAR.

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6.1 CURSO FIC

O curso de extensão “Oficinas de Capacitação de Professores da Rede Escolar de Araçuaí-MG na Área de Instrumentação para o Ensino Ciências (Física e Química) na Educação Básica Utilizando Materiais de Baixo Custo”, é conhecido atualmente como curso de Formação Inicial e Continuada

de Professores de Ciências (FIC). Ele foi concebido por professores do IFNMG

e implementado pela primeira vez ao longo de 2012. Pelo fato da execução do

curso coincidir com o ano da 1º Mostra Científica das Escolas em Araçuaí, viu-

se uma grande possibilidade de integrações com as escolas da região através

dos professores participantes. O curso foi estruturado em uma carga-horária

total de 80horas distribuídas em 10 encontros programados aos sábados,

sendo 4horas de química e 4horas de física para cada encontro. A proposta

tem como metodologia a utilização de recursos e materiais de baixo custo na

construção e elaboração de experimentos simples que abrangem temas das

áreas da Física e Química. No entanto, ao longo do seu desenvolvimento pôde-

se promover diálogos com os professores, buscando refletir sobre a atual

situação do ensino de ciência na região. A foto a seguir evidencia uma

atividade que faz uso do computador como ferramenta para o ensino de

ciência. Ao todo, foram capacitados 27 professores oriundos dos municípios

próximos à cidade de Araçuaí. Ao término do curso, os docentes receberiam 5

kits de ciência que foram explorados durante o desenvolvimento das

atividades.

Fig 3: Participantes do curso em aula nos laboratórios virtuais

Uma das tarefas que os professores participantes tinham no curso era a de

trazer os seus alunos para apresentar e visitar a Primeira MOSTRAR. Isso não

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só ocorreu como foi destaque no evento. Um dos projetos selecionados teve

orientação de um professor participante do curso FIC. Com o sucesso dessa

metodologia, buscou-se em 2014 aplicar o curso novamente. Dessa vez, no

entanto, o número de participantes foi bem menor, apenas 5 professores. A

razão para isso foi identificada como sendo a implantação de projeto do

Estado, conhecido como PACTO, que promove ação justamente aos sábados,

garantindo a todos os docentes participantes uma bolsa de estudos. Ainda

assim, esses poucos professores, participantes do curso FIC, juntaram-se aos

professores da primeira edição para uma ação conjunta de lançamento da II-

MOSTRAR, onde ocorreu a entrega dos kits de ciência. Novamente, os

docentes submeteram projetos e trouxeram seus alunos para apresentar e

visitar a MOSTRAR atual, sendo, mais uma vez contemplados com projeto

premiado (figura...).

6.2 Robótica Educacional

A Robótica Educacional é um projeto que já vem se desenvolvendo no

câmpus desde 2011, quando a 1ª MOSTRAR ainda estava sendo planejada. A

primeira ação desse projeto refere-se à Oficina de Robótica promovida por

colaboradores da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri-

UFVJM, visando a aprendizagem dos alunos sobre a montagem e

programação de um robô, em temos introdutórios da linguagem de

programação específica.

Imagem 1: 1º oficina de Robótica no Campus Araçuaí. Fonte: http://www.ifnmg.edu.br/artigo?

id=1669

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Este evento desencadeou o interesse de alunos pela pesquisa nesta

área, o que resultou na proposição do projeto “Criação de modelos educacionais demonstrativos de aplicação da robótica em processos sustentáveis de uso de recursos naturais.” O seu propósito inicial era o de

criar um robô que servisse de um modelo para aplicação de metodologia de

ensino nos cursos de meio ambiente e informática, do IFNMG, de forma a

promover uma integração entre eles. Contudo, o desdobramento dessas

atividades de pesquisa, possibilitou formas bem mais amplas de integração.

Em 2012, os orientandos desse projeto, deixaram de se participantes e

passaram a ministrar a II Oficina de Robótica junto com a equipe da UFVJM,

como uma atividade da Primeira MOSTRAR.

Em 2013, deu-se continuidade ao projeto que passou, então, a ser

intitulado como “Criação de modelo educacional demonstrativo: montando um

robô ecológico”. Neste estudo, a intenção era criar uma automação para fins

ecológicos. Nesta fase, foi possível adquirir, com recursos do próprio

pesquisador, um microcontrolador Arduino Uno e montar um Irrigador

Automatizado (MOSTRAR, 2014). O dispositivo foi apresentado na XIX Ciência

Jovem e serviu de modelo para a demonstração em sala de aula. A

participação desse grupo nessa feira nacional repercutiu tão intensamente que

os alunos das turmas sequentes passaram a montar grupos de estudos para

criar seus robôs. Essas atividades foram acompanhadas por alunos mais

experientes, orientandos do projeto de Robótica Educacional. Em 2014, esses

alunos voluntários participaram da Olimpíada Brasileira de Robótica,

destacando-se por terem criado alguns componentes eletrônicos, ao invés de

comprá-los. Foram criados dispositivos como sensor de linha e sensor

fotoelétrico para acionamento automático. Ainda nesse ano, os alunos

apresentaram 2 projetos na segunda MOSTRAR, além de ministrarem,

sozinhos, a III Oficina de Robótica Educacional.

6.3 Astronomia na Escola

O projeto Astronomia na Escola é uma ação de Popularização da Ciência que

tem o objetivo de tornar acessível aos estudantes e professores das escolas do

município de Araçuaí a prática de observação astronômica por meio de um

telescópio. Nesse projeto, os orientandos de iniciação científica são preparados

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para realizarem sessões de observação do céu envolvendo o próprio IFNMG

como escolas do município e região. Na sua execução, foram realizadas

montagens de objetos didáticos tais como maquetes eletrônicas de algumas

constelações, preparação de cartas celestes e pesquisas de softwares

gratuitos de planetários virtuais. Apesar de nenhum dos objetos requeridos no

projeto terem sido adquiridos, foi possível realizar, de agosto até o momento, 4

sessões no pátio do IFNMG, mais 2 sessões em cidades vizinhas e outra numa

comunidade quilombola conhecida como Arraial dos Crioulos, em Araçuaí.

Numa dessas expedições, foi ministrada uma Oficina de Astronomia para

estudantes de licenciatura em física na cidade de Salinas, onde também existe

um Câmpus do IFNMG.

Enquanto fazia a exposições, a equipe desse projeto divulgava a II MOSTRAR,

buscando sensibilizar alunos e comunidade a participarem desse evento. No

período de sua realização, tivemos a visita de duas escolas e participação de

representantes da comunidade quilombola no seminário sobre

“empreendimentos de economia solidária”. Foram estabelecidos contatos com

colaboradores da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG que

apresentaram oficinas, cursos e palestras. O planetário inflável foi uma das

oficinas mais visitadas e encantou o público. Os alunos do projeto Astronomia

na Escola monitoraram a equipe de colaboradores externos, entrando ao vivo,

em cadeia nacional de rádio para falar da importância dessa ação, através

programa “Universo Fantástico”, dirigido pelo professor comunicador Renato

Las Casas.

6.5 Visitas Técnicas

As visitas técnicas são ações que só se tornaram possíveis a partir do

momento em que a instituição passou a ter veículo apropriado para tal fim. Daí

a razão de ocorrerem apenas nas fases preparatórias para a II MOSTRAR.

Nesse tipo de atividade, busca-se estabelecer o contato dos alunos do IFNMG

com museus da ciência, levando-os a despertar o interesse pela participação

mais efetiva no evento. As visitas ao Parque da Ciência da UFVJM e ao Museu

Itinerante Ponto UFMG, ilustradas a partir da imagem (...) retratam essas

atividades.

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A atividade ocorreu em dois dias, totalizando 40 alunos. Eles visitaram o

Parque da Ciência da UFVJM, em Teófilo Otoni, que esteve presente na 1ª

MOSTRAR. A parceria entre o Parque da Ciência e coordenação do evento é

de longa data, já que o coordenador da MOSTRAR foi membro da equipe que

criou esse museu. Na oportunidade os alunos também visitaram o Ponto

UFMG que fazia itinerância nessa mesma época na cidade. Além do aspecto

lúdico, a visita possibilita essa interação do estudante da escola básica com a

Universidade mais próxima da cidade, o que permite também despertar neles o

desejo de prosseguirem em seus estudos.

6.4 Feiras Afiliadas

A Mostra Científica das Escolas em Araçuaí é um evento que permite aos

participantes irem além dos limites regionais. Isso porque o projeto é filiado às

duas principais feiras de ciência do Brasil: a Ciência Jovem-PE e à FEBRACE-

SP. Essas feiras nacionais funcionam a partir da participação das escolas

públicas, principalmente de ensino básico, de todos os Estados da Federação.

Há duas formas de participar, uma pela inscrição geral das escolas e outra

pelas feiras de ciências afiliadas.

Dos três projetos escolhidos para representar Minas Gerais na XIX Feira

Nacional da Ciência Jovem, na cidade de Olinda - Pernambuco, dois foram do

IFNMG- Campus Araçuaí. Os alunos apresentaram um Irrigador Automatizado

e um estudo sobre o uso de biofertilizante como base nutricional para

diferentes culturas (Imagem...). Ambos os projetos foram egressos da 1ª

MOSTRAR. Adotando inovações sobre o uso do biofertilizante, uma das

equipes apresentou o seu trabalho também na FEBRACE-2012 (imagem..)

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Na Segunda MOSTRAR foram selecionados três trabalhos, dois do ensino

médio e um do ensino fundamental. A reconstrução de um microscópio

alternativo com alcance e resolução semelhantes à de um microscópio de

ensino foi destaque na feira e já está inscrito para a FEBRACE-2015. Além

desse, há o projeto sobre método de construção de células fotovoltaicas e uma

montagem que demonstra fenômenos do sistema Terra-Lua- Sol, ambos com

submissão prevista para a próxima edição da Ciência Jovem em 2015.

A partir desse relato, percebe-se que a MOSTRAR busca integrar-se não só

em nível regional com as escolas do município e de localidades em torno de

Araçuaí, mas no âmbito nacional com as principais feiras de ciência do país.

Essa busca cresce à medida das oportunidades e seus horizontes ultrapassam

os limites regionais, buscando agora conectar os saberes e fazeres daqui com

os saberes e fazeres globais, permitindo o binômio Vale-Mundo, ligado pela

ciência.

VII- Resultados da MOSTRAR

Os resultados da MOSTRAR são descritos em dois momentos. No primeiro

momento, busca-se caracterizar a 1ª MOSTRAR e, em outro, aborda-se o

frutos da segunda edição do evento. Contudo, as comparações quantitativas

devem estar acompanhadas da leitura de totalidade que representa o processo

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de desenvolvimento que vai de uma realização à outra do evento, obsevando

que a Segunda MOSTRAR ainda se encontra em andamento.

I MOSTRAR II MOSTRAR

Número de projetos Inscritos:40 trabalhos 65 trabalhos

Público participante1484 1682

Número de projetos apresentados34 trabalhos 58 trabalhos

Atividades integradas:3 5

Orientações 5 bolsistas 8 bolsistas

Apresentação e participação em eventos-3 Nacionais --3 Regionais -

Repercussão na mídia [referência] 1 Matéria em site da instituição: [1] 1 Matéria em site da instituição [7]1 Histórico no Site do evento: [2] 1 Apresentação em programa Nacional de

Rádio[...]1 Matéria em Blog Regional: [3] -1 Matéria em tele Jornal da Região: [4]

-

1 Vídeo para escolas: [5] -1 Matéria em Portal Nacional: [6] -

VII-Análise metodológica do evento- preparação e desdobramentos.

A análise dos discursos obtidos a partir das gravações de reuniões agendadas

e dos comentários do blog possibilita compreender como as etapas

metodológicas da MOSTRAR se estruturam. A investigação permite

reconhecer momentos estratégicos do evento através das seguintes etapas de

organização: concepção; diagnóstico; parcerias; integração; regulamentação; divulgação; culminância, avaliação; acompanhamento de bolsistas. Embora essas etapas não tenham sido pensadas e discutidas na

fase de planejamento das edições da MOSTRAR, a partir desse estudo, elas

tornam-se evidentes e necessárias para a estruturação de futuras edições do

evento.

Primeiro, apresenta-se qual é a ideia de ciência compartilhada pela equipe e

qual é a importância dada à Popularização de Ciência, no âmbito da

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MOSTRAR. As discussões com a equipe revelam momentos em que a etapa

de concepção de popularização da ciência ficou bem clara no que se refere a

sua forma de tornar acessível o conhecimento científico como forma de ampliar

a visão de mundo das pessoas.

Ao refletir sobre a popularização da ciência, a professora L argumenta que o

conhecimento científico é visto como instrumento de emancipação das

pessoas, ideia que se completa na interpretação do professor H ao reconhecer

a sua popularização como uma forma de tornar a ciência cada vez mais

acessível a todos. A aluna B vê a popularização da ciência como uma forma de

interação entre o conhecimento escolar e a prática. A aluna J argumenta que a

popularização da ciência, através de eventos como a MOSTRAR, abre a visão

de mundo, possibilitando enxergar outras possibilidades: A gente fica baseada

em algumas profissões e a gente olha para outros pontos.

Certamente, as discussões sobre a importância da popularização da ciência

desenvolvem uma noção mais objetiva do que esperar de um evento e seu

processo de construção. “[...]quando a gente caminha pelos estandes, a

sensação que tenho é que ali é um espaço que tem objetivo de trazer para o

visitante a ciência que ele não tem acesso em outro espaço. Trazer a esse

visitante, que pode ser um adolescente, uma criança, ou um adulto, várias

visões sobre o mundo.

Concepções espontâneas como essas surgem ao longo dos diálogos,

permitindo entender as motivações da equipe. Contudo, nenhum objetivo de

popularização da ciência deve ignorar os aspectos da realidade do público ao

qual se destina. Dessa forma, o diagnóstico é enfatizado nos discursos como

desafios de popularizar a ciência numa região em que essa prática não é uma

realidade.

“Na nossa região, as pessoas não se acham capazes de fazer e participar de

assuntos relacionados à ciência”, argumenta a aluna B que conclui: “Acho que

o desafio é a conscientização. A professora L explica essa ideia, dizendo que

“a região é enxovalhada de conceitos de que a gente é menor, de que a gente

não pode, da região oprimida” e termina dizendo que é preciso incentivo. A

aluna J também destaca o fator social “porque aqui as pessoas têm uma

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cultura que vai crescendo e tem que trabalhar para ajudar a família. A

professora L lembra que “O fato de estar longe de grandes centros de

pesquisa, talvez intimide a popularização, mas a nossa presença na região é

importante para acabar com esse mito de que ciência só se faz nos grandes

centros.”

Esses argumentos vão de encontro com a realidade contextualizada no início

desse estudo. A caracterização social de pobreza, mantidas pela ausência de

políticas públicas, dentre elas a que se refere à educação, situa a região num

circuito distante da influência acadêmica, fazendo com que a ciência seja uma

entidade fora do alcance da população. Ao se referir à “nossa presença” como

sendo a presença do IFNMG, assume-se uma responsabilidade da iniciativa,

buscando incentivar outras intuições a assumirem o papel de tornar a ciência

mais acessível ao público.

Naturalmente, há uma compreensão da equipe sobre os limites de suas ações,

dada as condições materiais e humanas necessárias à popularização da

ciência na região. Nesse sentido, o professor N argumenta que a principal

dificuldade é dar suporte para que eventos tal como a MOSTRAR aconteça,

referindo-se à logística, financiamento e parcerias diversas.

Embora a MOSTRAR seja um projeto financiado, a parceria exigida em um

evento vai além de apoio financeiro. As parcerias revelam-se nos discursos

como ações colaborativas e de fomento ao projeto concebido teoricamente. No

que se refere ao fomento, destaca-se apenas a limitação de recursos. Na

última edição foram destinados R$ 22.500,00 para despesas com o evento

mais R$ 6.000, de bolsas para premiação dos projetos em destaque. Os

colaboradores caracterizam-se como aqueles cujas ações se integram ao

projeto e contribuem continuamente ou pontualmente. Os colaboradores que

formam a equipe proponente têm uma participação mais intensa e contínua,

enquanto que o coordenador de uma oficina colabora mais pontualmente.

Esses perfis, contudo, constituem extremos da estruturação executora em

vários níveis que nem sempre são tão colaborativos quanto se espera.

O professor H expõe, como exemplo, as instituições de educação situadas no

próprio município que “não prestigiam tanto como as cidades visinhas”. A

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compreensão sobre tal assunto é complexa e passa pela diferenciação da

política estabelecida por conta de redes de ensino Federal, Estadual, e

Municipal. Em geral, cada rede trabalha com suas metas e orbitam em torno de

sua cultura institucionalizada. Não há um diálogo sistemático entre essas

redes educacionais, nem mesmo um espaço que as permitam discutir sua

realidade, ainda que estejam situadas num mesmo município.

Para o professor A, “a MOSTRAR vem resgatar essa ideia de integração.

Porque não existe a educação federal, estadual, a municipal. Senti essa

necessidade de integração no momento de visita às escolas quando convidava

as pessoas para participarem da MOSTRAR. Eu senti que trabalhamos de

forma isolada.”

Sobre essa integração, evidenciada na fala do professor, ela mais do que

necessária já que a MOSTRAR é uma apresentação das escolas para as

escolas. Isso implica em exercício de ampla articulação com a rede de

educação básica, buscando encorajar professores e alunos quanto à

participação no evento. Para isso, são criados e desenvolvidos projetos que

encurtam as distâncias entre IFNMG e os professores e estudantes externos. O

curso FIC, Astronomia na Escola, Robótica Educacional são alguns exemplos

de projetos integradores que si diferenciam do evento pelo fato de ocorrerem

continuamente e não só durante a sua culminância da MOSTRAR.

A professora L destaca o papel do projeto FIC de professores que está

associado à MOSTRAR. “Ele está baseado em oficinas de materiais de baixo

custo e uma coisa vivenciada é esses professores produzindo feiras de

ciências em suas instituições e trazendo para nós como exemplo”. “Eventos

como esses também são multiplicadores”, conclui a professora.

Aluna B define a MOSTRAR como “espaço de integração” e avalia “a dinâmica

relação de troca de conhecimento entre o projeto Astronomia na Escola e a

equipe do Observatório da UFMG”, demonstrando que essa interação ocorre

não só com as escolas da região, mas entre a Universidade e o Instituto. Na

visão do professor N, “a integração também acontece porque é um momento

de divulgação. De saber o que seu colega faz, como ele faz, quais os

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resultados, já que nem todos tem conhecimento da ciência que está sendo

produzida até mesmo internamente.

Constata-se que a integração é um dos grandes resultados subjetivos

produzidos com essas ações. Alunos cujos trabalhos se destacam na

MOSTRAR são levados às feiras nacionais as quais o evento é filiado. Esses

diversos níveis de integração, escola-instituto, instituto-universidade, instituto-

feira nacional, impactam significativamente a visão dos participantes que

parecem ampliar as perspectivas a cada evento, como evidenciado nos

comentário da professorar L a seguir:

Na primeira versão do curso FIC, os professores que participaram trouxeram

seus alunos e fomos surpreendidos por uma professora que argumentou que

os seus alunos nunca tinha saído da comunidade. Foi a primeira vez que

sairam da comunidade à 40km para visitar Araçuaí. Nesse ano, um dos

prêmios foi para duas estudantes da comunidade. É um exemplo de como a

MOSTRAR serviu para ampliar os horizontes dos alunos daquela região.

O Professor H fala que “um resultado importante é quando você vê no rosto do

aluno a alegria da descoberta de um novo conhecimento. Quando você vê a

expressão das pessoas ao visitar os estandes [...] e não há como medir isso.”

Certamente, o impacto desses resultados, avaliados como algo positivo pela

equipe e a população acabam por retroalimentar o próprio evento, permitindo

criar novas expectativas quanto às edições futuras. Nas próximas edições o

professor A sugere que “a MOSTRAR seja também esse espaço para que

professores da região possam ser estimulados a apresentar suas experiências

na forma de relatos, comunicações, entre outros trabalhos sistematizados.”

A repercussão interna e externa do evento são fatores que contribuem com a

sua própria continuidade, mas no caso de iniciativas como a MOSTRAR, com

somente duas edições, é preciso de múltiplas formas de divulgação. O site de

domínio www.mostrar.ifnmg.edu é uma das ferramentas que, além de ser um

meio de divulgar as regras contidas no edital que regulamenta o processo,

possibilita o controle de inscrições, submissão e a divulgação das atividades

dentro de uma programação.

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Apesar desse meio permitir uma forma rápida de interagir com o público

participante, observa-se que não é suficiente esperar que as inscrições

ocorram no ambiente virtual sem que haja uma constante presença nas

escolas. Tão pouco, pode se esperar que haja participação do público com

uma equipe panfletária com a tarefa de visitar as escolas. É preciso que o

pessoal envolvido com a divulgação se comprometa com evento e acredite no

seu sucesso. Nesse sentido, as estratégias de divulgação da MOSTRAR se

diferenciam dos meios tradicionais por que atingem as escolas principalmente

através dos projetos de integração anteriormente descritos.

Como um evento bianual, a MOSTRAR teve a sua culminância em duas

edições, até o momento. Suas programações são apresentadas, sucintamente,

nas tabelas (...) e estão seguidas das descrições das atividades. O evento

ganha proporções mais intensa nesse momento, implicando em fatores de

risco de ser bem sucedido ou não. Esse aspecto eventual manifesta-se por

diversos fatores, dentre eles a impossibilidade de se prever e controlar todas as

circunstâncias de uma mostra científica, dado o seu caráter criativo e inusitado.

Além disso, existem funções solidárias entre a equipe de organização, os

colaboradores, participantes e visitantes que não se adéquam a um controle

rígido. Daí a razão de se promover estudos como esses para discutir e

analisar os desdobramentos da MOSTRAR, produzindo resultados coletivos da

sua avaliação. Nesse sentido, a avaliação da MOSTRAR não se resume à

impressão do coletivo proponente. Ela possibilita reconhecer as experiências

de eventos anteriores em termos de suas limitações e potencialidades, também

a partir do olhar do público sobre o evento. A tabela a seguir apresenta a

avaliação de 289 visitantes sobre 7 critérios durante a segunda MOSTRAR.

Critério Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo

O espaço físico da II MOSTRAR foi: 186 78 13 5 1

Na sua opinião os horários de apresentação dos

trabalhos foram:

116 127 39 2 3

Classifique a II MOSTRAR quanto à relevância

técnico-científica:

157 101 29 2 -

Os trabalhos apresentados na II MOSTRAR

foram:

158 111 18 - 2

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A programação da II MOSTRAR foi: 137 106 38 5 2

Com relação às suas expectativas a II MOSTRAR

foi:

150 100 28 6 3

As informações prestadas pela equipe

organizadora durante a II MOSTRAR foram:

178 86 23 - 2

Ao concentrar atenção sobre as justificativas da insatisfação dos que

consideram o evento ruim ou péssimo, verifica-se como principais

reclamações: as mudanças, de última hora, na programação; dificuldade de

visitar o planetário; falta de informação; ausência de avaliadores em alguns

estandes; e explicação do projeto. Ainda que as reclamações sejam pontuais,

elas retratam muito bem os problemas que foram constatados pela equipe,

compondo, junto com a avaliação dos proponentes, um quadro mais amplo de

diagnóstico do evento e seus resultados.

A avaliação, tem esse aspecto formativo que permite reconhecer o

amadurecimento do evento e entendê-lo não só como um resultado de um

período culminante, mas como um processo construtivo e continuado. O

sentido de continuidade completa o caráter eventual da MOSTRAR quando se

discute a etapa que sucede o evento. Trata-se do Acompanhamento de Bolsistas cujos projetos são selecionados com base em critérios previstos em

edital. Nessa etapa, tanto os estudantes quanto os seus coordenadores de

projetos recebem orientações da equipe da MOSTRAR e são inscritos para a

participação em feiras nacionais.

O professor A argumenta que “isso é um incentivo, pois, à medida que os

estudantes veem os trabalhos premiados, eles começam a sentir necessidade

de produzirem também. Os alunos vão querer que seu trabalho seja

selecionado e que seja apresentado em feira nacional.”

Esse resultado da MOSTRAR é impactante, sobre tudo, por despertar nos

estudantes um desejo de ir além dos limites tradicionais da sala de aula. Nesse

sentido, trata-se de um mergulho num mundo que não fazia parte da sua

cultura educacional. Embora a MOSTRAR selecione poucos alunos para os

eventos nacionais, o efeito disso sobre os estudantes e a população é a

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desmitificação da ciência como algo inacessível, o que implica em incentivo à

participação que se renova a cada evento.

O caminho que conduz a todos os resultados discutidos nesse estudo revelam

etapas metodológicas da MOSTRAR pelas quais perpassam a própria

regulamentação do evento. Nessa etapa esta implícita a concepção de

ciências através da temática que se admite nas categorias de submissão de

trabalhos, o que faz pensar sobre o que se pode admitir como trabalho

científico ou não. Nesse sentido, é preciso levar em conta que a ciência por

aqui está presente nos fazeres e saberes culturalmente construídos.

Então, o diagnóstico deve ser essa leitura da realidade para a qual as regras

de participação devem ser pensadas. Mas há normas que extrapolam a

autonomia do evento de fazer o que melhor entende. Especificamente, quem

financia também tem sua ideia de ciência e o mesmo vale para qualquer outra

forma de parceria e integração.

A própria divulgação da MOSTRAR é, fundamentalmente, a sua explicação

em função das regras de participação: a forma de submissão de trabalhos,

suas categorias temáticas, o público ao qual se destina, a programação e a

inscrição de visitantes. Toda essa ação, articulada com os projetos de

integração conduz à culminância, que é o evento propriamente dito. Na

confluência das atividades planejadas estão, de um lado, os visitantes e os

expositores, ambos em interação com o objeto de aprendizagem. Alguns, mais

tarde, irão integra-se a outros espaços de popularização da ciência em feiras

nacionais. A seleção desses estudantes é precedida de critérios previstos em

edital que avalia o comportamento alinhado ao mérito científico e à

possibilidade de continuidade do trabalho no que se define como etapa de

acompanhamento de bolsista.

Finalmente, retornamos à etapa de avaliação que, embora possa ser prescrita

em alguma forma de planejamento, sempre é mais ampla por se dar na

dimensão de análise dos fatos. Trata-se desse momento de pesquisa sobre o

qual se de dedicam alguns outros momentos de reflexão sobre a prática, por

meios de grupos de discussão. Daí a importância de se perceber este estudo

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Avaliação Regulamentação

Parcerias

Culminância Divulgação

Acompanhamento de bolsita

Integração

Diagnóstico

Concepção

não só como um relato de experiência, mas sobretudo, como instrumento de

inovação para as próximas edições da MOSTAR.

A seguir, apresenta-se um mapa das etapas da MOSTRAR, ilustrando o fluxo

desses conceitos e sua interdependência.

Os aspectos centrais desse quadro são: a regulamentação, a integração e a

avaliação. Isso se explica pela capacidade nutriente da avaliação em promover

a inovação no processo que delineia o evento quando a mesma decorre de um

resultado de discussão integrado. Esse também é o sentido de participar que

está presente nesse estudo, coforme define.... Para o autor, participar é fazer

parte das conquistas e tomar parte nos resultados. Quanto à concepção, ela se

posiciona no alto, por representar a motivação de essencial de se popularizar a

ciência. O acompanhamento de bolsistas constitui-se de etapa mais específica,

posicionando-se na parte inferior como forma de ilustrar a etapa final do

projeto. O diagnóstico e a parceria são etapas que se emparelham pelo

aspecto conectivo e situacional, relativo à realidade da população. Enquanto a

divulgação e culminância, num nível mais abaixo, representam fases de

contornos mais expoentes do evento, onde já se pode percebê-lo com uma

identidade através da programação. Obviamente, todas essas etapas estão

interligadas sem sentido privilegiado por força de seu aspecto orgânico de

totalidade.

VIII Conclusão

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Portanto, compreende-se que a MOSTRAR, embora tenha essa conotação de

evento, é caracterizada por etapas que antecedem e sucedem a sua

culminância. De forma conclusiva, percebe-se que esses momentos

metodológicos dão a ela um caráter processual e subjetivo capaz de tornar

acessível ao público, seja ele escolar ou não, o conhecimento científico e

tecnológico como instrumento de ampliação da visão que tem do mundo.