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divagações no barco águas claras e rasas não ensinam segredos o barco mostra do que é feito é na tempestade deixar-se estar calmo sabendo que tudo pode ser a véspera do naufrágio os itinerários perdidos e o espanto nos olhos do peixe não podem comprados nem pesados nos mercados o olho do menino se ilumina mais com o que não se vê saber que no fundo ao que se busca não há mapa em tudo ser todo EiS TUDO poema breves O NAVIO: monótona música de aço turvando o líquido silêncio ali só meu olho vê o que vem da margem: um menino e seu casco mas como rimar motor e remo? como rimar infância e ferro? O MOTOR rumina água mas seu alimento é óleo por isso não se mistura ao mister

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divagações no barco

águas claras e rasas não ensinam segredoso barco mostra do que é feito é na tempestade

deixar-se estar calmo sabendoque tudo pode ser a véspera do naufrágio

os itinerários perdidos e o espanto nos olhos do peixenão podem comprados nem pesados nos mercados

o olho do menino se ilumina mais com o que não se vê

saber que no fundoao que se busca não há mapaem tudo ser todoEiS TUDO

poema breves

O NAVIO:monótona músicade aço turvando o líquido silêncio

ali só meu olho vêo que vem da margem: um menino e seu casco mas como rimar motor e remo? como rimar infância e ferro?

O MOTORrumina águamas seu alimento é óleopor issonão se mistura ao mister ao mistério e indiferente passa na superfície

no seu rastro restammenino e canoa: nau frágil

meus olhos impotentes dizem adeusos dele me acusam (ele nem sabe)os olhos do menino a vazar os meus

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moderno antimilagre:multiplicar a fome entre peixesmultiplicar o luto entre o verde

profissão

ser um não noturnosem nome

professar versos como um joão heregeno deserto pregaria:vem, em ti mora um messiascapaz de converter em mistérios de

vinhoas águas paradas dos dias

para não calar para que não se chamede conflito à chacinade paz à políciae violência de segurançae manipulação de imprensae falácia de justiçavoltemos ao silêncio

não àquele que é omissonão àquele com um Scom passos de coturnoe curvas de assassinopluralizando covas e viúvas

voltemos ao silênciopara que se ouçaque ter nascido humanoainda não é ser genteque ainda não é estar vivoo apenas ser sobreviventeque não disparar o tiroainda não é ser inocente

voltemos ao silênciopara dar princípioao verbo que se faça atodando novos sentidosaos velhos fatos

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que o verbo ensine:o viver plenodemanda alimentar com vida a vidacomo com pássaros se alimenta o diacomo com estrelas a madrugadacomo se alimenta o poema com poesia para zé claudio e maria do espírito santo

uma árvore tombadavive ainda mesmo que ao avessocomo a poesia ainda não escritavive dentro do silêncio

a outrora sombra úmida líquidaé agora luz árida meio dia

o outrora fêmeo sumo da frutaé agora a fome que se nutre da falta

quando uma árvore tombanão tomba só sua matéria

com seus galhoscom sua madeiratombam também gargalhosgritos de meninostombam também com suas folhassonos sem horacantos de pássarosaromas de auroratudo o que já forae o que já não agora

também o homem quando tombanão morre só nem só em sua matéria

o não escutar suas ideiassua voz agora não ouvidasua casa agora vaziaa ausência de seus hábitosa ausência de seus gestoscausam nos vivosum estado de óbito

e mais se adensaa morte aindase os mortos quando vivosdefendiam a vida

e mais se adensa esta morte aindaquando não vem a que na vidachega na idadede todo homem de todo fruto de toda árvorecomo o fim da tarde

e mais se adensa esta morte aindaquando ela vem outra numa versão covardea que durante o pleno vôo abate a ave

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esta morte sem nomenos vivos não passanos vivos não morrenos vivos não some

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o tempo

o tempo no rostose estampacomo na pedra a ondaamanhã será rotoo que hoje é pura pompa

a grande romaa grécia e seus temploso tempo leva mesmo o que leva tempo

ao tempo tudo o que existeé a véspera de um necrológionada lhe resistenem os relógios

centauro

quantos mil cavalosno cio de aço ?

pode o poema corroerdo antiquíronesse corrertão cego quanto ágil& mostrarhaverdentro (e fora)desses centaurosuma maquinaria frágil?

pode o poemamostrarnão ser a sedede vencer tempo e espaçoum sentido único?

pode o poemaimpedirque do motornasçao morto?

Pode o poema ensinaro ócio além do açopara que caibamtodos os tempos no tempo

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todos os espaços no espaçopoema para os voltam à noite para a periferia

para reinado guaxe

não morreremos no calor de palavras de ordem não morreremos empunhando pedras e bandeirasnão morreremos entrincheirados na guerra contra o tiranonão morreremos guerrilheirosgritando hasta la vitoria siempresequer morreremos junto à pessoa amada

morreremos nas madrugadas das periferiasem uma rua escurapor causa de quatro reais e vinte três centavos e nessa hora o sapato valerá mais que nóse será o cano da pistola em nossa boca sem palavrasem nossa cabeça sem pensamentosem nosso peito feito de carne e osso e medo

morreremose todas as janelas e todas as portase todos os olhose todos os coraçõesestarão fechados e gradeados

nessa hora nem mesmo os cães da rua vão latire da nossa morte não nascerá nenhuma flor vermelhanenhuma cançãoe nenhuma criança ganhará o nosso nome

e se não morrermos na horaseremos levados a um hospital públicoe haverá uma inscrição na porta de entrada:“ao entrares aqui abandona toda a esperança”e morreremos em uma maca suja em um corredor sujoe virão no máximo um fotógrafo e um repórter policial para perfurar os nossos olhos e revirar mais as nossas chagas

mas o fato é que morreremos morreremose não nos restará nem mesmo a última pergunta:por quê?

e se não morrermos de mala sortemorreremos de medo da morte

e se não morrermos mataremosdesesperadamentemataremose nessa hora já terão matado em nós algo que um dia fôramos e deus não virá para nos condenarnem às nossas gerações[não haverá gerações]nem o diabo virá para se rire nos levar[pois será o gatilho que estará puxando o nosso dedo]

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estaremos sósabsolutamente sós irrevogavelmentesósnuma rua escura

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quase poema

quase primaveramos as pragasquase incendiamos parisquase celestiamos as praçasquase mudamos o paísquase vietnamos yankeesquase derrubamos o muroquase paramos os tanquesquase inventamos o futuro e nós que já fomos kamikaseshoje só queremos cama e casae nós que já fomos quase tudohoje somos quase nada.

gravidade clandestina tu que não tens casasó tens esta asa esquerdaquebradaessa cara de bestate bastapara tuaque d

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a guerra

Iguerra é guerradesde o princípio dos diasguerra é guerraseja no centro ou na periferiaguerra é guerraem qualquer língua

geninauschwitzcurva do “S”canudoscandelária

é sempre a mesma mortemesmo que mudem as justificativas

fosse a guerra uma hollywoodiana tela friatodo mulçumano seria terrorista todo cubano seria castristatodo russo suspeito e maus todos os vietnamitas

o homem morto não teria famíliae no final da cena com certezao figurante se levantariae no fim do filme juntosherói e heroínamas guerra é guerra é outra maquinariae onde guerra é guerraa vida não tem mais valiavida é outra coisa

quando muito um empecilho para o avanço da economia

nesta estranha matemática de estatística friaquanto mais a vida é subtraída mais a soma se amplia

guerra é uma para quem morre uma para quem matae outra para quem fica

II

e há guerras em que morrer é de repentee outras em que morrer leva uma vida

há guerras declaradase outras não tão explícitas feitas de estados de terror e de estados terroristas

há também guerras de guerrilhase outras como esta brasileiraonde mais vidas que balas são perdidase que acontece (quase) às escondidas. e onde há dois pesos e duas medidasnela assassinar-se um pobre é normalé notícia que no máximo morre na página policialmas assassinar-se um ricoé o sinal dos temposé coisa que escandaliza

nesta guerra brasileira

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há muitos culpados e muito mais vítimasuns são vítimas do medodo que se pode encontrar na próxima esquinamas esses se silenciam são culpados como pilatos que ante o crimelava suas mãos na pia

mas outros são só culpadosserpentes da mentiraque se movimentam na surdinados bastidores da política

se alimentam de votos e de vidasseus coletes são seus cargossuas armas são sutis mas fazem um grande estrago na gente da periferia

são silenciosos genocidaspois também se matapelo que não se faz ou se desviaassim matam com seus hospitais de morimbundas filascom suas escolas fa-lidascom suas infâncias perdidase suas ruas mal paridas

assim alimentam a fome que criao traficante o pistoleiroo sequestrador e o homicidae tanta coisatanta que aqui não caberia até mesmo um estado paralelo que o terror do estado mais ampliamas naquele há também vítimas

como é quem não tem outra saídacomo é quem só conhece o estado no passadoatravés do capitão do matoe no presente porbatidas e procedimentos de revistas

nesta guerra brasileiraa pobreza seja preta seja índiadesde o princípiose trata com o braço da polícia

nesta guerra difícil é mirar o inimigo(que esse não mostra a imprensanem o julga a justiça)e fácil é entrar na mira das estatísticas

e em meio a essa guerraseja o poema -bala invertida-para matar em nósa morte que nos paralisa.

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balada líquida para joãopara joãocabral de melo neto

era um dia secono ar seco de brasíliana capital onde se semeia a morte e a vida severinaum rio humana marcha contra o que corta o curso da vida

e nele eu prosseguiapela consciência de quede fatoé difícil defender só com palavras a vida

e lá íamos todos severinosiguais em tudo na vidana mesma cabeça grandemas agora de cabeça erguida

pela parte da tardeo sol já se pondo iae os severinos de toda partemostravam que a arte da palavra não é só a poesia

o discurso que cada um fazia era como um canto de galoe cada canto fazia um haloe halo com halotecíamos um novo dia

eram todos engenheirosengendrando o seu futuro

tendo ainda na memóriauma morte ainda vivaassinada pelo covarde e executada pelo genocida

e foi nesse morrer do diaque a morte me veio avisarda vida que se ia

foi uma voz no alto-falante:“neste instanteacaba de falecer joãocabral de melo neto,autor de morte e vida severina”

aquela morte foi chegandocom seus dois olhos de rapinae na tarde seca, nasceu uma dor estranhamente líquidapelo poeta de sólida escrita

ao redor toda a gentee até gente no verso esclarecidame perguntava: por que choras irmão das almas?

dali saí com aquela mortalha friae comigo veio um companheiropor ter entendido o que eu sentiapor perceber o quanto é solitárioo solidário ofício da poesia.

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máquinas

as máquinas de guerrasão lógicas e táticasas táticas cínicascínica e trágicas

as máquinas nas lojas são lúdicas e mágicasas mágicas efêmerasefêmeras e flácidas

as máquinas nas fábricas são rígidas e práticasas práticas ríspidase antropofágicas

a máquina fez do homem uma máquina hemorrágica.

guerra democrática

outrora fora a flor atômicaa bomba cínicaagorana democraciaé a guerra clínica outrora na boca não havia palavra ao que o olho em volta viamas agora é uma nova guerrae uma nova línguae o que outrora se soubera covaem linguagem novaé guerra preventivaé agora colateral o efeitodo outrora feito morticinal agoradepois de tudo refeitoao inimigo o fogo fátuoao aliado o fogo amigo outrora se soubera:guerra é guerramorte é morte ferida é feridamas são estes outros tempose agora tudo é uma questãode ponto de vistapois pela democraciapode-se até apoiar um tiranoe em nome da democraciadepois destituí-loe ao povo massacrá-lo

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pela segurança persegui-lopela liberdade vigiá-lo outrora fora a carnificinamas agoracomo num filmepelo filtro da tela friao rosto já não fica atônitoo morto já não fica pútridoe o sangue já não é trágico agoraem plena democraciasó o poema gritamas ele não aparece na imprensanão dá entrevistanão é palavra de especialistanão influencia na bolsanem muda pesquisaele é só poemae só o poema outrora como agoraé fratura expostana palavra em carne viva

protesto

este é um poema de protestocomo o beijo é um protestocontra a solidão

como o afago é um protesto contra a agressão

como a andorinha é um protestocontra a prisão

como a rede às três da tardeé um protesto contra a exploração

ainda que não griteou assine manifestostodo poema é um poema de protesto.

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carpe diem grito ao que me quer mortosoco ao que me quer ocogozo ao que me quer purotorto ao que me quer santofogo ao que me quer vácuobarco ao que me quer portopreto ao que me quer brancopedra ao que me quer brandolouco ao que me quer sanotudo ao que me quer pouco  

guerra santa

para que explodir bombas?dividir línguas?antes a vida ávidaas línguas unidas(saliva com saliva)antesa ogiva do peitoexplodindosob a blusa

antes o sangue que ferve ao que coagulaantes o espasmo do gozoe o olho que rutilaao olho que se fechae ao espasmo do corpo quando a bomba o mutila

antes a luta da carne na carneque fundemembro e vagina

antes a guerra outrade outra arte onde precisar de armas é ser covarde

nessa guerra (ó guerra santa)há outra regra:no tatame-camaganha maisquem mais

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se entrega

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loba

entre as rugas de tuas formasentrevejo as curvasde outrorae miro tua carne entre o que fora e o agorao gozo que lutacontra o luto das horas

a carne para alê

a boca do beijo não é a do verboa carne é tornar transitivo o corpo a carne é tornar intransitivo o gesto

É onde a carícia se confunde com o palavrãoÉ onde o sólido se confunde com o líquidoé onde a cegueira se confunde com a visãoé onde o morrer se confunde com o estar vivo

a carne é quando num instante moratoda a eternidade numa única plethora

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musamedusa

meu aneloteu cabelo

teu veludosenti-loa contrapelo

teu corpoquero(em tua crina seguro)cavá-lo

navegação

preamarmansos diálogos entre vento e vela

doces carícias entre quilha e água entre o rioe o céuas vagassão asas

as cristas das ondassão plumas de espumasse voamse curvame se sabem quebrar e sob o peso do vento da vaga e da vela o tempo se verga

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o co(r)po vazio

vão pelas ruasapolos e musasforjados em ferros de um frio hefesto

esfinges ocas laicas

asas presasem vítrea casavitrine vivaaos olhos fálus fátuos

nada em ti maturacorpo que se vê SÓverdetemendo no tempoa ronda dos vermes

quem dera fora outraa febre de tuas fibras:ser carne da carne de DionísiobArco para uma invisível viagem

para o aquiles

toda água à criança é docemesmo quando salgada

a gravidade fica levee a queda já não maltrata

dissolve-se em brincadeiras líquidaso dia de sol a sol, suores e lágrimas

rio ou marjanaína ou iaraa água é fêmeaútero terno que abraça

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igarapé

havia um tempoem que a água era igaraem que igara era agoraem que agoraera ágora

canoa

canoa é quando o claro ama o escuroe o sólido ama o líquidoe o seco ama o úmidofronteirasnaufragadasentre rio e homemduas margens de um úniconome

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o poema e o tempo

a página branca do poema se decompondoa língua do poema na página branca se decompondoa mão que escreve o poema se decompondo

o poema só diante do tempo

o avião

vista do aviãoa cidade é uma babel adormecida

vista do avião as vidas da cidade parecem mais unidas

vista do aviãoas luzes da cidade são uma constelação

vista do aviãome pergunto: como nesta cidade ainda a solidão?

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infânciapara aquiles e diadorim

criança é quandoo vento a onda o mundoviram brinquedospoças virando lagospapeis virando barcos

criança é quando tudo que se tocavira sonho