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WP4 – Desinvestimento estrangeiro: motivações endógenas e factores contextuais Vítor Corado Simões DIVEST DESINVESTIMENTO E IMPACTOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E TERRITORIAIS Projecto POCTI/GEO/34037/2000 LISBOA - 2002 FEDER

WP4 - Centro de Estudos Geográficos · especialmente os de acesso a custos de trabalho inferiores e os de racionalização – são muito mais móveis internacionalmente, na medida

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WP4 – Desinvestimento estrangeiro: motivações endógenas e factores

contextuais Vítor Corado Simões

DIVEST – DESINVESTIMENTO E IMPACTOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E TERRITORIAIS

Projecto POCTI/GEO/34037/2000

LISBOA - 2002

FEDER

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DIVEST – DESINVESTIMENTO E IMPACTOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E TERRITORIAIS

Projecto POCTI/GEO/34037/2000

Investigador Responsável: Mário Vale

Ficha Técnica: Título: Desinvestimento estrangeiro: motivações endógenas e factores contextuais. WP4, Projecto DivesT. Autor: Vítor Corado Simões. Composição / Revisão Texto: Rui Dias.

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3

ÍNDICE

Pág. 1. Introdução 4 2. Desinvestimento: conceitos e tipologias 6 3. Determinantes do desinvestimento internacional: uma revisão da literatura

11

3.1 Perspectiva genérica 11 3.2 A dimensão internacional 12

4. Motivações endógenas e factores contextuais: um novo quadro de análise para o estudo do desinvestimento

17

5. Conclusões

22

Bibliografia 24

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1. INTRODUÇÃO

Num mundo que encolheu e num tempo que acelerou, onde o ritmo de mudança

é cada vez mais acentuado e a flexibilidade e a rapidez de resposta são vectores

competitivos fulcrais, a renovação das estruturas empresariais intensificou-se. Tal renovação

está, por vezes, associada a processos de “destruição criadora” à la Schumpeter, mas

também a lógicas de “gestão do denominador”, respondendo às pressões dos accionistas

(HAMEL e PRAHALAD, 1994). Inerente ao processo de renovação empresarial está o

desinvestimento, enquanto instrumento de reconfiguração e de adaptação da empresa

aos novos desafios competitivos percepcionados. Neste sentido, FREITAS (1998) tem razão

quando sustenta que investimento e desinvestimento são duas faces da mesma moeda,

influenciados pela dinâmica da concorrência e pela natureza do ciclo de vida dos

produtos. Não surpreende, assim, que o desinvestimento tenha aumentado drasticamente

desde os anos oitenta (PADMANABHAN, 1993).

Este movimento é ainda mais acentuado no caso do investimento internacional.

Quase diariamente se depara com notícias de grandes restruturações em empresas

multinacionais – são casos recentes os da Philips, da General Motors, da Motorola, da

Hewlett Packard, da Ericsson ou da Cisco (THE ECONOMIST, 2000 e 2000a). As “âncoras de

fixação” e a responsabilização local das empresas multinacionais a um determinado

território de investimento no estrangeiro tendem a ser menos fortes (BODDEWYN, 1985; VAN

DEN BULCKE, 1985), gerando o síndroma da “branch plant” como sucede, por exemplo, no

Nordeste de Inglaterra (PYKE, 1998). Além disso, as decisões de localização internacional

das empresas são hoje muito mais diversificadas que as dominantes nos anos setenta,

quando o acesso aos mercados constituía o determinante básico da internacionalização

(SIMÕES, 1997; ROMÃO et al., 1998). Os investimentos no exterior são crescentemente

realizados também segundo lógicas de acesso a custos mais baixos, de acesso a

competências (em locais com fortes dinâmicas de inovação) ou de procura de eficiência,

conduzindo a investimentos racionalizados (DUNNING, 1988). Estes tipos de investimento –

especialmente os de acesso a custos de trabalho inferiores e os de racionalização – são

muito mais móveis internacionalmente, na medida em que os factores de ancoragem

local, designadamente a necessidade de abastecer o mercado, não estão presentes.

Portugal não tem ficado imune ao movimento de desinvestimento. FREITAS (1998)

estuda alguns casos interessantes verificados nos anos noventa, desde a “morte

anunciada” da Renault à sobrevivência – que se veio a verificar por tempo limitado – da

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Texas Instruments. No último ano, a imprensa tem revelado diversos casos de

desinvestimento iminente ou já concretizado, envolvendo nomeadamente empresas de

capital estrangeiro, no vestuário (Goela, Devernois), calçado (Clarks, Rieker), quimico-

farmacêutica (Bayer) e automóvel (Yazaki-Saltano). Estes desenvolvimentos reclamam uma

análise atenta das determinantes do desinvestimento internacional, de forma a

compreender as motivações subjacentes e a propor as medidas de política mais

adequadas, tanto no sentido de evitar a ocorrência de operações de desinvestimento

como de minorar os seus efeitos negativos. Sem embargo disso, pode-se admitir que certos

desinvestimentos são inevitáveis (FREITAS, 1998) e até, em termos globais, positivos, pois

decorrem de um processo de desenvolvimento da economia portuguesa. O projecto

DivesT, no qual o presente trabalho se insere, procura precisamente estudar os impactos

económicos, sociais e territoriais do desinvestimento, cruzando contribuições provenientes

de quatro disciplinas – geografia, sociologia, economia e gestão.

Este trabalho tem como objectivo traçar um quadro conceptual para a análise do

desinvestimento internacional, com base numa revisão crítica da literatura existente sobre

o tema. A nossa démarche assenta em duas considerações básicas. A primeira é a de que

o desinvestimento (para utilizar um termo genérico, cujos contornos importará depois

precisar) pode ser encarado numa perspectiva de evolução da filial. Neste sentido, o

encerramento da filial insere-se no mesmo processo que pode conduzir à sua afirmação

como centro de excelência (BIRKINSHAW e HOOD, 1997 e 1998; HOLM e PEDERSEN, 2000;

TAGGART, 1997). Existe uma trama comum de elementos que levam ao desinvestimento,

ao reforço (ou não) da autonomia da filial (SIMÕES, BISCAYA e NEVADO, 2001) e à criação

de centros de excelência (SIMÕES e NEVADO, 2000). Daqui decorre a segunda

consideração: a análise do desinvestimento deverá ser escorada na interacção entre

factores endógenos e factores contextuais. Os primeiros têm duas vertentes: uma

associada ao grupo multinacional (estratégia, lógica de actuação, dinâmica de inovação,

racionalização de actividades, competências distintivas); outra, atinente à filial e a sua

inserção no grupo. Os factores contextuais podem ser também divididos em dois grupos:

aspectos sectoriais (estrutura das forças competitivas, trajectórias tecnológicas) e aspectos

locacionais, relativos à capacidade de atracção exercida pelo território de investimento.

A abordagem que nos propomos efectuar é marcadamente preliminar. Trata-se de

um primeiro contributo para um análise que pretendemos ir refinando gradualmente. O

texto desenvolve-se em quatro secções, para além desta introdução. A primeira será

dedicada à delimitação dos conceitos, procurando aprofundar as diferentes perspectivas

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da noção genérica de desinvestimento. Na segunda procede-se a uma breve revisão da

literatura, tentando identificar os principais determinantes do desinvestimento. Partindo da

crítica da literatura existente, a terceira parte procura definir um novo quadro de análise

para o estudo do desinvestimento. Na última proceder-se-á à síntese das principais

conclusões e à proposta de linhas de investigação sobre o desinvestimento internacional.

2. DESINVESTIMENTO: CONCEITOS E TIPOLOGIAS

Num dos trabalhos mais influentes sobre o desinvestimento na área da gestão,

DUHAIME e GRANT (1984, p. 301) definem desinvestimento como “a decisão de uma

empresa de alienar uma parcela significativa dos seus activos”. O desinvestimento estaria,

assim, associado ao desmantelamento de uma relação de propriedade (VALE, 2001).

Outros autores, designadamente da área da geografia económica associam

desinvestimento e encerramento de unidades fabris (CLARK e WRIGLEY, 1997).Todavia,

pode haver cessação da actividade fabril com manutenção do estabelecimento e da

respectiva propriedade. O caso da ex-fábrica de iogurte da Nestlé/Longa Vida em

Matosinhos, que passou a ter exclusivamente funções logísticas e não industriais, é um bom

exemplo dessa situação. Ela corresponde, genericamente, ao que designámos por

transformação de filiais réplica em meras filiais comerciais (SIMÕES, 1989 e 1992). Por outro

lado, pode haver mudança de propriedade sem alteração significativa da actividade

corrente da empresa. Exemplo desta situação é a AutoEuropa, onde a Ford vendeu a sua

posição ao parceiro na então joint venture – a Volkswagen. Estas considerações mostram

que importa precisar melhor a noção de desinvestimento, tendo em conta que ela é

contingente em função da perspectiva de análise (por exemplo, grupo internacional, filial,

país de acolhimento).

BENITO (1997, 1997a) distingue entre desinvestimento forçado e deliberado. O

primeiro corresponderia a situações em que a mudança de propriedade das unidades no

estrangeiro é imposta ao investidor (nacionalização, expropriação, confiscação). O

desinvestimento deliberado, por seu turno, assentaria em considerações estratégicas

conduzindo à liquidação ou venda voluntária da totalidade ou parte das operações no

estrangeiro. Este é, sem dúvida, o que mais nos interessa – e o relevante para efeitos do

nosso trabalho. Importa ressalvar, no entanto, que os dois blocos considerados estão longe

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de serem realidades uniformes. Por exemplo, a obrigação de alienar uma determinada

unidade por razões de política de concorrência (como sucedeu com a venda da CFEC,

pela Fiat à Autosil) é um tipo de desinvestimento forçado diferente da nacionalização. Em

certas situações, passe o jogo de palavras, o desinvestimento deliberado é “forçado” por

entidades exteriores à empresa, por exemplo por um grande cliente (pensemos, por

exemplo, nas unidades situadas no parque industrial da AutoEuropa quando esta

eventualmente vier a fechar as portas).

Encarando o desinvestimento como encerramento de unidades fabris, WATTS e

STAFFORD (1986) e posteriormente WATTS (1991) propõem uma distinção entre

encerramento por cessação (por a empresa sair do negócio, abandonar a linha de

produtos em causa ou optar pelo outsourcing) e selectivo (quando a produção é

transferida para, ou mantida em outras fábricas). No domínio do negócio internacional,

diversos autores sentiram também a necessidade de estabelecer distinções. Por exemplo,

MATA e PORTUGAL (1997 e 2000), nos dois únicos estudos econométricos sobre o

desinvestimento estrangeiro em Portugal, distinguem entre “desinvestimento”,

correspondente à alienação da empresa ou da posição no capital de uma entidade

portuguesa1, e “encerramento”, em que a filial é liquidada. MARIOTTI e PISCITELLO (1997)

consideram dois tipos básicos de desinvestimento – fracasso e reestruturação. O primeiro

traduziria o insucesso da filial em causa, ao passo que o segundo estaria associado a

estratégias mais amplas de reconfiguração da carteira de negócios/filiais da empresa.

Também HENNART, KIM e ZENG (1998), analisando a longevidade das joint ventures de

empresas japonesas nos Estados Unidos, confrontam o caso da liquidação (isto é, a morte

da subsidiária) com o da venda da posição no capital.

Tendo em conta os elementos apresentados, pensamos ser possível propor uma

tipificação genérica e abrangente de formas de desinvestimento internacional. Esta

tipificação parte do cruzamento de duas dimensões (propriedade e actividade da filial),

como se apresenta na Figura 1. A dimensão propriedade traduz a perspectiva de

desinvestimento “tradicional” – expressa na definição de DUHAIME e GRANT (1984), acima

referida – ou a manutenção da filial na órbita do grupo. A dimensão actividade exprime a

continuação da actividade corrente da empresa ou, alternativamente, o seu downgrading

e eventualmente encerramento.

1 Dadas as limitações da base de dados, MATA e PORTUGAL (1997 e 2000) não consideram a situação de alienação da posição a uma outra entidade não residente.

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Figura 1 – Tipologia das Operações de Desinvestimento

“Business as usual”

(não há desinvestimento)

• Desinvestimento “forçado”

• Venda da filial a terceiros

• Venda da posição em joint

venture

• MBO

• Alienação parcial da

participação

Manutenção

ACTIVIDADE

Redução

• Recessão in situ

• Downgrading

tecnológicos

• Diluição da relevância

(abandono da actividade industrial;

concentração em actividades de

menor valor acrescentado)

• Liquidação da filial

• Venda de posição com

redução ou downgrading da

actividade

Manutenção PROPRIEDADE Redução

As operações de desinvestimento – consideradas em sentido amplo –

correspondem aos quadrantes 2, 3 e 4. O primeiro traduz uma situação em que não há

desinvestimento: a actividade e propriedade da filial mantêm-se inalteradas. No segundo

quadrante existe uma alienação da propriedade (um desinvestimento na perspectiva do

grupo multinacional) mantendo-se basicamente a actividade da empresa. Com

1

4 3

2

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excepção das situações de desinvestimento “forçado”, este movimento insere-se numa

reconfiguração estratégica, a nível local, regional ou global, da carteira de activos do

grupo. A reconfiguração pode decorrer das dificuldades do grupo ou da insuficiente

performance da filial, mas tal não acontece necessariamente. Por vezes, vendem-se

precisamente algumas das “jóias da coroa” precisamente par obter fundos para financiar

movimentos de reorientação estratégica. A “geometria variável” da actividade dos

grandes grupos multinacionais conduz frequentemente ao abandono de certas divisões ou

à autonomização de unidades, segundo lógicas pensadas a nível mundial e, portanto,

independentes do desempenho concreto de uma filial específica. Em certas ocasiões,

operações de fusão de actividades entre grandes grupos podem determinar a alienação

de posições, total ou parcial. Por exemplo, a fusão das actividades de fundição da Renault

e da Fiat na Teksid provocou uma alteração da composição do capital da ex-Funfrap (e,

consequentemente, um desinvestimento da Renault), sem que a actividade daquela

tenha sido posta em causa. Outras vezes, tais fusões constituem como que o prelúdio do

abandono de certos negócios, mas as vantagens específicas de cada filial concreta

podem continuar a ser reconhecidas pelo novo investidor: o caso da divisão

hidromecânica da ex-Sorefame, que se assumiu como “centro de excelência” no seio da

ABB e que manteve este estatuto mesmo após o estabelecimento da joint-venture

ABB/Alsthom no domínio da energia, confirma a nossa observação (SIMÕES e NEVADO,

2000). A alienação da propriedade pode respeitar também especifica e exclusivamente à

filial – como sucede nos MBO ou na venda da posição em joint ventures. Como KOGUT

(1991) mostrou, as joint ventures podem ser encaradas como opções pelos parceiros,

sendo a decisão de manter ou de abandonar tomada em função das expectativas e

interesses relativos dos parceiros na evolução do negócio. Nestas condições não

surpreende que a “morte” das joint ventures enquanto tal não ocorra principalmente por

liquidação da empresa, mas por alienação das posições (HENNART, KIM e ZENG, 1998);

aliás, o mais frequente é um dos parceiros adquirir a parte do outro.

No terceiro quadrante englobam-se as situações de encerramento de unidades

que constituem o exemplo mais visível e socialmente sensível de desinvestimento. Todos os

tipos de encerramento considerados por WATTS e STAFFORD (1986) e WATTS (1991) se

integram nesta célula: abandono do negócio, abandono da linha de produtos,

outsourcing, encerramento selectivo mantendo-se outras fábricas em actividade, e

encerramento selectivo com abandono da produção no país. Neste caso, a filial (ou o

estabelecimento) é liquidada, reflectindo a incapacidade de responder às exigências em

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termos de desempenho e/ou de reconversão para novas linhas de produtos. Todavia, se

uma performance inferior torna a filial mais vulnerável e exposta a operações de

desinvestimento (BENITO, 1997 e 1997a), nem sempre a decisão de encerramento é

consequência desse facto: ela pode reflectir, por exemplo, a dimensão relativa dos

estabelecimentos (WATTS e STAFFORD, 1986) ou dos mercados, ou ainda o rendimento

proporcionado por utilizações alternativas do espaço (CLARK e WRIGLEY, 1997).

Finalmente, o último quadrante corresponde às situações em que a propriedade se

mantém, mas se assiste a uma redução ou a um downgrading da actividade da filial. Ela

engloba três situações por vezes inter-relacionadas: recessão in situ, downgrading

tecnológico e diluição da relevância. A recessão in situ – termo que retirámos de VALE

(2001) – traduz um emagrecimento e “anemia” da empresa, através da diminuição da sua

actividade produtiva e eventualmente da redução do emprego. O downgrading

tecnológico corresponde à situação em que a filial: (1) se especializa no fabrico de

produtos de gama baixa, pouco intensivos em tecnologia e em trabalho qualificado; ou (2)

mantém o fabrico de produtos antigos por ter sido incapaz, no âmbito da concorrência

inter-filiais, de conseguir captar linhas de produto mais recentes. A diluição da relevância

pode ser considerada como um “emagrecimento” da empresa, em resultado de uma

nova filosofia de abastecimento do mercado e de localização da actividade industrial do

grupo. A filial vê reduzida (ou eliminada) a sua dimensão industrial, e o emprego,

transformando-se basicamente numa unidade comercial. Este grupo de situações parece-

nos da maior relevância em termos de política de desenvolvimento do IDE, pois pode –

como sugeriu FREITAS (1998) – constituir a antecâmara da liquidação da filial. Na verdade,

é possível considerar uma trajectória de redução do envolvimento de um grupo

multinacional em que a manutenção da propriedade com redução do

conteúdo/intensidade da actividade constitui um passo intermédio entre o “business as

usual” e a liquidação. Por outras palavras do primeiro para o terceiro quadrante faz-se

frequentemente através do segundo. Para efeitos do presente trabalho, as três células mais

relevantes são aquelas que envolvem redução de actividade e/ou redução de

propriedade. Os dois aspectos são importantes para caracterizar a redução do

envolvimento do grupo multinacional num país e para compreender o declínio de interesse

numa determinada filial – o qual pode conduzir, em última análise, ao seu encerramento.

Em todo o caso, as duas células correspondentes à redução da actividade da filial são,

para nós, as mais interessantes, uma vez que permitem articular desinvestimento e

evolução das competências da filial.

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3. DETERMINANTES DO DESINVESTIMENTO INTERNACIONAL: UMA REVISÃO DA

LITERATURA

3.1 Perspectiva Genérica

A literatura sobre as determinantes do desinvestimento é diversificada, tanto na

perspectiva da geografia como na da organização industrial e da gestão estratégica.

WATTS e STAFFORD (1986) apresentam uma longuíssima lista de 49 variáveis determinantes

do encerramento de unidades em empresas multi-estabelecimento. Tal lista inclui quatro

grandes grupos que reflectem, de algum modo os interesses dos autores: factores regionais,

características da empresa, características sectoriais e variáveis-chave. Estas são

consideradas as mais importantes como elementos explicativos dos encerramentos

selectivos, distinguindo-se entre as relativas à unidade fabril e as relativas aos aspectos

locacionais; incluem tópicos tão diversos como a imbricação regional e empresarial da

unidade em causa, o acesso a mercados, as características do trabalho e das condições

laborais, a organização, a tecnologia e as condições da envolvente. Por razões de

economia de espaço não vamos aprofundar os factores considerados. Bastará, por agora,

referir que eles traduzem sobretudo a perspectiva da unidade fabril e da região de

implantação, facultando um elenco de indicadores útil mesmo para análises

internacionais.

As barreiras à entrada e à saída constituem o núcleo estruturante das análises sobre

o desinvestimento numa lógica de organização industrial. A existência de activos

dedicados, cujo valor se reduz substancialmente no caso de utilizações alternativas

(WILLIAMSON, 1985), gera barreiras à saída. A existência de elevados investimentos em

activos tangíveis ou intangíveis, que funcionam como custos irrecuperáveis, dissuade o

desinvestimento (PORTER, 1976). Curiosamente, alguma desta literatura é recuperada por

geógrafos (CLARK e WRIGLEY, 1995 e 1997) e por estudiosos do negócio internacional

(BENITO, 1997). Por outro lado, os trabalhos sobre organização industrial mostram que a

probabilidade de desinvestimento é mais elevada em empresas diversificadas, estando

também associada à alavancagem dos recursos da empresa, ao governo da empresa e,

em menor escala, a características estruturais dos mercados (HAYNES, THOMPSON e

WRIGHT, 2000).

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP4

12

Para a literatura sobre estratégia, o desinvestimento é relacionado sobretudo com a

gestão e a lógica de articulação de uma carteira de negócios. De um modo geral verifica-

se que os ganhos com o desinvestimento são maiores para empresas que se defrontam

com problemas de controlo devidos à dimensão e à diversidade das actividades. Um dos

estudos primeiros nesta área (DUHAIME e GRANT, 1984) constatou que as empresas que

desinvestem tem posições financeiras mais débeis e que as unidades desinvestidas têm

activos limitados e pouca interdependência com as outras unidades do grupo. Neste

sentido, o desinvestimento pode ser explicado pela necessidade de concentração nos

negócios nucleares da empresa e pela percepção da relação estratégica entre a

empresa-mãe e a unidade em causa (HAMILTON e CHOW, 1993).

Sem pôr em causa a relevância dos resultados acima referidos, pensamos, no

entanto, que o desinvestimento internacional coloca desafios específicos e apresenta

factores diferenciados que importa ter em conta. Tal especificidade é acentuada

nomeadamente pelas restrições no acesso e processamento da informação internacional

(KOBRIN, 1988; PETERSEN e PEDERSEN, 1997; MACLACHLAN, 1992), pela imbricação dupla

das filiais no estrangeiro face ao grupo e ao espaço de acolhimento (SIMÕES, BISCAYA e

NEVADO, 2001; ANDERSSON e FORSGREN, 1996; BIRKINSHAW e HOOD 2001), pelo maior

distanciamento das decisões dos gestores face aos investimentos no exterior (BODDEWYN,

1985) e pela interacção entre as vertentes negócio, função e região nos modos de gestão

e estruturas organizacionais (BARTLETT e GHOSHAL, 1981). Em síntese, o desinvestimento

internacional assume características diferenciadas em resultado dos equilíbrios

estabelecidos ou pretendidos entre os imperativos económico, organizacional e político

(PRAHALAD e DOZ, 1987)2.

3.2 A dimensão internacional

Parece existir, na literatura sobre negócio internacional, uma atracção implícita

pela análise do desinvestimento como contra-imagem do investimento no estrangeiro.

BENITO e WELCH (1997) encaram alguns movimentos de desinvestimento como indicadores

de “des-internacionalização”, reflectindo uma inversão ou reorientação no processo de

internacionalização. Tal “des-internacionalização”, que não significa necessariamente

2 Deve assinalar-se, no entanto, que os estudos comparativos do comportamento de empresas nacionais e estrangeiras relativamente à evolução do emprego não detectaram diferenças significativas ente o comportamento dos dois grupos (MCALEESE e COUNAHAN, 1979; SIMÕES, 1987).

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menor empenhamento genérico nas operações internacionais, seria como que um

“momento” de reajustamento no caminho que vai da exportação à empresa com uma

lógica global de operação.

Num outro registo, ainda que com uma “tonalidade” análoga, BODDEWYN (1985)

argumentou que a teoria do desinvestimento internacional poderia ser construída

invertendo as condições da teoria do investimento internacional. Tomando como

referência a teoria ecléctica proposta por John DUNNING (1981, 1988), BODDEWYN (1985)

considera que o desinvestimento de operações no estrangeiro tem lugar quando a

empresa deixa de: (1) ter vantagens específicas sobre empresas de outros países; ou (2)

considerar vantajosa a exploração internalizada dessas vantagens; ou (3) encontrar

justificação para explorar essa vantagem fora do seu país de origem. Posteriormente,

DUNNING (1988) retomou e aprofundou a abordagem de BODDEWYN, cruzando-a com a

teoria da organização industrial e com as expectativas da empresa sobre os

desenvolvimentos futuros das suas competências, do padrão de concorrência e das

oportunidades tecnológicas e de marketing. Pensamos, no entanto, que a proposta de

BODDEWYN é datada e limitada. O abandono das operações internacionais pode ter lugar

sem estarem em causa a vantagem específica da empresa e o seu interesse na respectiva

exploração internalizada: pode tratar-se basicamente de uma reconfiguração de

localizações, tendo em conta factores relativos à I&D, à produção, à logística e ao

abastecimento e serviço dos mercados. Além disso, o desinvestimento relativamente a

uma determinada operação não pode deixar de ter em conta a história das relações

estabelecidas entre a sede e a filial e os investimentos específicos e não recuperáveis

realizados nesta. Por último, se o investimento pode ser visto exclusivamente na óptica da

empresa investidora, o desinvestimento tem a ver com dois parceiros, ainda que com

pesos eventualmente desequilibrados – o grupo investidor e a filial.

A Figura 2 sintetiza os principais resultados dos trabalhos que analisámos sobre as

determinantes do desinvestimento internacional. A sua comparação deve ser feita com

algumas cautelas, uma vez que a definição de desinvestimento não é igual em todos os

estudos; em certos casos, existe mesmo o confronto entre diferentes formas de

desinvestimento (MARIOTTI e PISCITELLO, 1997; HENNART, KIM e ZENG, 1998; MATA e

PORTUGAL, 2000). Na nossa perspectiva, são cinco os elementos mais interessantes a reter.

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DivesT – Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais, WP4

14

BANE &

NEUBAUER

(1981)

DAVIDSON &

MCFETRIDGE

(1984)

LI

(1995)

BARKEMA,

BELL &

PENNIGS

(1996)

BENITO

(1997)

LARIMO

(1997)

MARIOTTI &

PISCITELLO

(1997)(1)

HENNART,

KIM & ZENG

(1998)(2)

SHIN

(2000)

MATA &

PORTUGAL

(2000)

Risco Político + +***

Crescim. Económico País -*** -*** +/+*

Crescimento Industria - -*/-** -***/-*** +/+

Distância Cultural +* + +

Presença estrang. anterior -/-

Joint Venture +*** + +** +/+*** +/+*** -/+

Aquisição +*** +*** +*** + +*/+*** +/+**

Experiência Internacional - + - -*** -***/+***

Experiência País Destino -* - - -/+

Diversificação +*** - +*** +*/+** -/+**

Dimensão Emp.Investidora + -*** + - -***/+* -/+**

Intensidade I&D +/- +/-*** +***/-

Idade Filial +* - -*** +**/+** -/+ -

Dimensão filial +**/nd -/-

Intensidade em Capital -***/-***

% Capital Detido +*

Modo Entrada: Greenfield -/+

Capital Humano Filial -/-

N.º fábricas filial -/nd

14

Economias Escala -/+

(1) Insucesso/Restruturação (2) Liquidação/venda posição (3) Venda Posição (desinvestimento)/Encerramento

+ significa maior probabilidade de ocorrência do desinvestimento

Figura 2 – Síntese de Resultados dos Estudos sobre Desinvestimento Internacional

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Em primeiro lugar, a influência diferenciada de um mesmo factor consoante o

modo como o desinvestimento é definido. Este contraste é particularmente nítido na

influência da experiência internacional (MARIOTTI e PISCITELLO, 1997), na dimensão da

empresa investidora (MARIOTTI e PISCITELLO, 1997; HENNART, KIM e ZENG, 1998), ou no efeito

dos modos de entrada (MATA e PORTUGAL, 2000). Observa-se também no caso das joint

ventures, cujo desaparecimento, como constatam HENNART, KIM e Zeng (1998) tende a

ocorrer sobretudo por venda da posição e não por liquidação. Segundo, confirmando as

indicações teóricas fornecidas tanto pela teoria da organização industrial como pela

gestão estratégica, as operações de aquisição e de diversificação determinam uma

probabilidade acrescida de desinvestimento, definido como encerramento da unidade e

não como venda da posição (MATA e PORTUGAL, 2000). Em terceiro lugar, embora os

factores caracterizadores do país de destino sejam limitados, parece haver consenso no

sentido de que o risco político acentua a probabilidade de desinvestimento (LARIMO,

1997), enquanto o crescimento económico a reduz, excepção feita ao trabalho de Mariotti

e PISCITELLO (1997). Em contrapartida, o efeito da distância cultural, embora positivo, não é

muito forte; esta conclusão não nos parece surpreendente se tivermos em conta que a

distância cultural terá sobretudo um efeito ex-ante, dissuadindo o investimento,

especialmente por PME. A quarta observação respeita às variáveis relativas a empresa

investidora: claramente, não existe convergência quanto ao impacto da dimensão; em

contrapartida, a experiência internacional reduz a probabilidade de desinvestimento3.

Estas condições vêm legitimar o argumento de que existem fenómenos de aprendizagem

no processo de internacionalização, havendo transposição de lições de umas experiências

para as outras no seio do mesmo grupo4. Por outras palavras, como sustentou KOGUT

(1983), a internacionalização é um processo sequencial, mas o mesmo não sucede com a

des-internacionalização (BENITO e WELCH, 1997), a menos que ela suceda no contexto de

fracasso da empresa investidora. Finalmente, uma referência às características da

subsidiária. Dado o enviesamento das bases de informação disponíveis (em regra,

investimento de grupos de um determinado país no exterior), a generalidade dos autores

sub-alternizou as variáveis relativas à subsidiária, excepção feita à idade5, ao modo de

entrada e à estrutura do capital. Apenas dois trabalhos incluem variáveis mais específicas

3 A única excepção é, naturalmente, o resultado obtido por MARIOTTI e PISCITELLO (1997) para o desinvestimento como reestruturação. Este só tem lugar, em regra, em empresas já multinacionalizadas e, portanto, com uma forte experiência internacional. 4 SHAVER, MITCHELL e YEUNG (1997), mostram também que, em certas condições, é possível aprender com a experiência internacional de outros. 5 Refira-se, a propósito, que os resultados a este respeito não são concludentes.

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sobre a filial (MARIOTTI e PISCITELLO, 1997; MATA e PORTUGAL, 2000)6. Uma das conclusões

mais interessantes do estudo de MATA e PORTUGAL (2000) é precisamente a constatação

de que o capital humano da filial (percentagem de licenciados no emprego total) constitui

um importante elemento dissuasor do desinvestimento, tanto na perspectiva da venda da

posição a nacionais como na do encerramento da filial.

Em conclusão, os estudos econométricos fornecem indicações relevantes sobre os

factores determinantes do desinvestimento, confirmando nomeadamente as pistas de

algumas abordagens teóricas relativamente aos riscos do investimento no estrangeiro. A

distinção estabelecida, por alguns autores, entre formas de desinvestimento é

particularmente relevante, pois mostra como o mix de influências varia consoante a

definição utilizada. Neste particular, o confronto proposto por MARIOTTI e PISCITELLO (1997)

entre desinvestimento por fracasso e por restruturação é particularmente instrutivo,

especialmente na perspectiva da gestão de grupos internacionais. Todavia, a literatura

existente apresenta debilidades significativas em pelo menos três aspectos. O primeiro é a

ausência de uma óptica longitudinal: o enfoque tem sido colocado nos factores que

influenciam o resultado, esquecendo-se a análise (ou mesmo a modelização através de

sistemas de equações estruturais) das principais facetas do processo de desinvestimento

(MACLACHLAN, 1992). O segundo, ligado ao anterior, tem a ver com a envolvente

económica do país de destino e a sua evolução ao longo do tempo. Como referiremos

mais adiante, pensamos que existe uma co-evolução entre as condições de acolhimento

proporcionadas pelo país receptor e as características dos investimentos estrangeiros aí

estabelecidos. Quando as condições oferecidas não correspondem às características

locacionais pretendidas pelos investidores, poderá ocorrer o desinvestimento, na linha

sugerida por BODDEWYN (1985) ou DUNNING (1988). Isso não reflecte necessariamente

insuficiências do país, especialmente no caso de investimentos originariamente motivados

pela redução de custos de produção. A terceira nota respeita à caracterização da

subsidiária: mais importante que o modo de estabelecimento da subsidiária ou a sua idade

será, em muitos casos, o papel por ela desempenhado. Curiosamente, nenhum dos

trabalhos recenseados procurou integrar uma tipologia de subsidiárias – embora as

conclusões de MATA e PORTUGAL (2000) indiquem que tal seria vantajoso. Cremos, assim,

que o estudo do desinvestimento não pode prescindir da tipificação das características

6 Poderá mencionar-se neste âmbito o estudo de MCALEESE e COUNAHAN (1979) sobre as determinantes da redução de emprego (não necessariamente por desinvestimento) das filiais estrangeiras na Irlanda. Os factores relevantes identificados foram a dimensão e a autonomia comercial da filial.

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das subsidiárias7 e da análise da sua evolução ao longo do tempo (TAGGART, 1998;

BIRKINSHAW e HOOD, 1997).

4. MOTIVAÇÕES ENDÓGENAS E FACTORES CONTEXTUAIS: UM NOVO QUADRO DE

ANÁLISE PARA O ESTUDO DO DESINVESTIMENTO

Os comentários acima efectuados sugerem que o estudo do desinvestimento

deveria, teoricamente, ser efectuado numa perspectiva longitudinal e processual tendo

em conta factores de dois tipos: endógenos e contextuais. Os factores endógenos podem

ser estruturados ao longo de dois eixos principais. O primeiro respeita aos elementos

estratégicos, de gestão e de “posicionamento” internacional que condicionam ou

estimulam as decisões de investimento e, sobretudo, de desinvestimento na óptica

empresarial. O segundo concerne às características, competências e iniciativa da filial e à

sua imbricação no grupo – isto é, o que na gíria do negócio internacional se designa por

corporate embeddedness (ANDERSSON e FORSGREN, 1996; SIMÕES, BISCAYA e NEVADO,

2001). Também os factores contextuais assumem duas dimensões principais: sectorial e

local. A dimensão sectorial compreende aspectos como a estrutura do mercado, a

dinâmica competitiva da indústria e a respectiva trajectória de inovação. A dimensão

local – das duas a que mais nos interessa – tem a ver com as condições de investimento

proporcionadas pelo local de acolhimento e com as dinâmicas territoriais geradoras (ou

não) de aprendizagens para a filial e para o grupo. Desnecessário se torna dizer que as

quatro dimensões referidas se encontram estreitamente interligadas, constituindo, de certo

modo, a filial o centro de confluência de todas elas.

Somos assim conduzidos à proposta de um novo quadro de análise para o estudo

do desinvestimento, apresentado na Figura 3. É interessante verificar que as quatro

dimensões por nós consideradas haviam sido já mencionadas por MARIOTTI e PISCITELLO

(1997) no seu trabalho sobre desinvestimento. No entanto, a nossa proposta apresenta três

diferenças significativas: uma vertente processual e longitudinal mais marcada; uma melhor

explicitação das inter-relações entre as dimensões; e uma caracterização mais

aprofundada dos factores potencialmente relevantes. 7 Existem diversas tipologias de subsidiárias que poderão ser utilizadas neste âmbito. Para um síntese, veja-se TAGGART e MCDERMOTT (1993) e TAGGART (1997). Para uma aplicação no caso português, cf. SIMÕES (1989 e 1992).

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A observação das relações básicas explicitadas na Figura 3 permite ressaltar dois

aspectos. O primeiro é a admissão do gradualismo do processo, através da inclusão de

uma situação de redução do empenhamento, anterior à decisão mais drástica de

desinvestimento pela venda da participação ou pelo encerramento da filial. Como

dissemos anteriormente, a redução do empenhamento pode constituir a antecâmara do

desinvestimento. As motivações subjacentes à venda da participação tendem, em regra,

a ser mais ambíguas que as associadas ao encerramento, na medida em que pressupõem

a atractibilidade da filial para outra(s) entidade(s). O segundo aspecto a sublinhar é a

perspectiva da filial como locus principal de convergência de inter-acções. Na verdade, a

filial tem uma imbricação tripla: empresarial (no grupo), local e sectorial. As duas primeiras

são, em nossa opinião, as mais relevantes, exprimindo a double appartenance da filial –

elemento de um grupo multinacional e “comunidade” de actividade (DE GEUS, 1997),

inserida num espaço territorial. De certo modo, a venda da participação corresponde a

uma expressão da filial como “comunidade” dinâmica, capaz de responder à mudança

(um MBO, por exemplo, traduz essa confiança na viabilidade da empresa, mesmo sob

outra propriedade), ao passo que o encerramento traduz a ausência de “persona” – para

usar o termo de DE GEUS (1997), isto é, a incapacidade da filial para sobreviver fora do

grupo em que se integrava8. Nesta perspectiva, reforça-se a nossa convicção de que o

desinvestimento pode ser analisado no contexto do processo de evolução da filial.

8 Embora não se devam excluir casos em que o grupo internacional encerra a filial com o objectivo de evitar que as suas capacidades venham a ser aproveitadas, mais tarde, por um concorrente.

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Figura 3 – Quadro de Análise das Decisões de Desinvestimento

CONTEXTO LOCAL

• Clima de investimento • Crescimento económico • Dimensão do mercado • Custos do trabalho • Disponibilidade de

recursos laborais • Qualificação do trabalho • Condições e clima laboral • Política fiscal • Política comercial

• Investimentos em I&D • Estrutura produtiva • Infra-estrutura física • Infra-estrutura

tecnológica e de TIC • Concorrentes locais • Relações com

fornecedores locais

CARACTERÍSTICAS DO GRUPO MULTINACIONAL

• Estratégia • Dimensão • Experiência internacional • Grau de diversificação • Mecanismos de coordenação • Proximidade psicológica face ao país

de investimento • Processo de tomada de decisão

CARACTERÍSTICAS DA FILIAL • Motivações da criação da filial • Estrutura de propriedade • Modo de estabelecimento • Orientação de mercado • Papel desempenhado • Dimensão • Mono-estabelecimento/Multi-

estabelecimento • Experiência • Capital Humano • Actividades de I&D • Competências produtivas e de marketing • Especificidade dos produtos • Comércio intra-grupo • Relevância das competências p/ grupo • Características e iniciativas da gestão • Sofisticação unidade fabril • Relações de trabalho

Venda da Participação

Redução do empenhamento

Encerramento de unidades/filiais

CONTEXTO SECTORIAL • Estrutura do mercado internacional/país • Dinâmica de crescimento • Trajectória de modernização tecnológica • Intensidade em I&D • Intensidade em capital • Economias de escala

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Apresentando a Figura 3 uma especificação dos elementos considerados

relevantes de cada uma das quatro dimensões, torna-se dispensável a sua apresentação

exaustiva. Existem, todavia, alguns aspectos que merecem um breve comentário.

Relativamente às características do grupo multinacional gostaríamos de destacar a

estratégia e os mecanismos de coordenação utilizados, pois influenciam o modo de gestão

das subsidiárias e, em última análise, a lógica das decisões de desinvestimento. Por

exemplo, seguindo a tipologia de BARTLETT e GHOSHAL (1989), as empresas com

estratégias multinacionais terão genericamente uma menor propensão ao desinvestimento

que as internacionais ou as transnacionais; a flexibilidade exigida por estas últimas poderá,

em particular, estimular operações de desinvestimento. Por outro lado, o recurso a

mecanismos de coordenação do tipo centralização ou formalização eleva, de certo

modo, o grau de discricionariedade da casa mãe e a satisfação de normas pelas filiais,

tornando menos problemáticas e conflituais, ao nível do grupo, as decisões de

desinvestimento. Em contrapartida, a socialização e a adopção de lógicas de

organização não hierárquicas (HEDLUND, 1986; WHITE e POYNTER, 1990) podem contribuir

para atenuar movimentos de desinvestimento.

Relativamente às características da filial, parecem-nos existir três vectores chave: a

inserção do grupo, a inserção local e as competências da filial. Curiosamente, o jogo entre

estes vectores para o caso do desinvestimento não é exactamente o mesmo que para a

autonomia da filial (SIMÕES, BISCAYA e NEVADO, 2001). A inserção no grupo é uma

condição fundamental para reduzir o risco de desinvestimento, como mostraram, aliás,

DUHAIME e GRANT (1984)9. O elemento chave para a filial sobreviver como tal é a

promoção de relações de interdependência – não de dependência nem de estrita

autonomia. Estas duas últimas situações são geradoras de maior vulnerabilidade: a primeira

devido à ausência de “voz” e de capacidade de afirmação intra-grupo; a segunda por

estimular a “descolagem” entre os interesses do grupo e os da filial. As relações de

interdependência são favorecidas por modelos organizacionais multi-centros,

nomeadamente pela definição de centros de excelência (HOLM e PEDERSEN, 2000), e

evidentemente pela acumulação de competências por parte da filial. Neste âmbito, uma

das condições-chave é a afirmação da filial na concorrência intra-grupo pela captação

de novos projectos e de recursos (MUDAMBI, 1999; FREITAS, 1998); uma incapacidade de

afirmação neste contexto pode comprometer a sobrevivência.

9 E também, embora num outro plano, KOENING (1988).

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A inserção local é também importante como forma de captação de mercado,

recursos e saberes para o grupo. Isso não sucede apenas em países com sistemas

nacionais de inovação muito dinâmicos ou estrategicamente relevantes (BARTLETT e

GHOSHAL, 1989), mas também em contextos menos avançados, onde a exploração de

oportunidades locais pode apoiar a criação de competências distintivas por parte da filial

(SIMÕES, BISCAYA e NEVADO, 2001; SIMÕES e NEVADO, 2000).

Somos assim conduzidos ao terceiro vector – competências e papel da filial. Se a

filial é basicamente uma fábrica, igual a outras, sem competências de marketing e

fabricando produtos com pouca incorporação de valor acrescentado, a dependência da

filial é elevada. Neste caso – a menos que a filial seja capaz de se reconverter pelo

upgrading da actividade – a sobrevivência estará ameaçada, a mais ou menos breve

trecho, pelo próprio processo de desenvolvimento económico e de aumento de salários

nominais (e reais) do país receptor; alguns desinvestimentos ocorridos recentemente em

Portugal nas indústrias de vestuário e calçado são ilustrativos desta situação. Recorrendo à

tipologia de filiais por nós proposta (SIMÕES, 1989), as plataformas de transformação

directa e as filiais produtivas racionalizadas são as mais expostas a operações de

desinvestimento.

O contexto sectorial não reclama comentários específicos, pelo que passaremos

imediatamente para o contexto local. A multiplicidade de factores referidos, ainda assim

menos ampla que a de WATTS e STAFFORD (1986), mostra que no contexto local se cruzam

também vectores diferenciados, com ritmos de mudança distintos. Transpondo estas

observações para a realidade portuguesa, diremos que a propalada falta de

competitividade de Portugal como localização está, em boa medida, associada à

dificuldade (ou mesmo incapacidade) de gerir e de dinamizar a transição da perificidade

(disponibilidade de trabalho, remunerações relativamente reduzidas, incentivos ao

investimento) para a integração numa sociedade de conhecimento globalizada, onde as

dinâmicas locais de inovação e de acumulação de conhecimento são decisivas.

Importará, por outro lado, reconhecer que a influência de um determinado contexto local

nas decisões de desinvestimento não é independente da avaliação relativa de contextos

alternativos. Por exemplo, o abandono da Renault não pode ser desligado dos

desenvolvimentos políticos da Europa Central e nomeadamente da oportunidade de

investimento na Eslovénia. Como exemplo ainda mais claro desta relatividade poder-se-á

mencionar a súbita decisão da Seagate de encerrar a fábrica na Irlanda (onde havia

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investido há menos de dois anos), transferindo a produção para a Malásia, após a

desvalorização da moeda malaia, na sequência da crise asiática de 1997.

5. CONCLUSÕES

A reflexão efectuada mostra que a análise do desinvestimento internacional

reclama, por um lado, uma clarificação e “afinamento” do conceito de desinvestimento e,

por outro, uma convergência de factores explicativos, frequentemente interligados. A

clarificação do conceito de desinvestimento passa, ante do mais, pela distinção entre o

encerramento da filial e a sua sobrevivência. No entanto, sendo o desinvestimento em

muitos casos um processo e não um acto, o declínio da actividade da filial pode prefigurar

futuras operações de desinvestimento – o que é relevante não apenas numa lógica de

estudo do ciclo de vida da filial, mas também no plano da política de investimento

estrangeiro. Relativamente aos factores explicativos, pensamos que os quatro eixos

propostos são decisivos. A inter-acção entre eles assume indubitavelmente contornos

distintos consoante a especificidade de cada caso. A envolvente sectorial é relevante, e

as vicissitudes sectoriais, especialmente em indústrias caracterizadas por grandes

amplitudes de variação dos ciclos de negócio, influenciam as decisões de

desinvestimento. Os outros três eixos são, todavia, os que encerram um maior potencial de

estudo e reflexão. A inserção local é crítica, especialmente quando o enfoque de análise

está no território ou na política nacional face ao investimento estrangeiro. A hipótese de

co-evolução entre as condições económicas locais e as características e competências

das filiais parece-nos uma pista de estudo que merece um maior aprofundamento. O peso

do grupo multinacional é óbvio: em última análise é ele que toma a decisão de redução

de actividade, de venda ou de encerramento da filial. Contudo, a filial é, como afirmámos

acima, o locus de convergência dos vários factores. A filial não pode ser, por isso,

considerada como um peão inocente que sofre passivamente as consequências de

decisões superiormente tomadas a nível do grupo, as vicissitudes sectoriais e as alterações

da actividade e da política económica do país onde está implantada. A estratégia, as

competências acumuladas e a dinâmica própria da filial são factores que não podem ser

secundarizados ao estudar o desinvestimento.

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O quadro de análise proposto sugere também implicações em termos de política

económica e designadamente de investimento estrangeiro. Em certas condições, e

salvaguardando os aspectos sociais negativos decorrentes do encerramento de unidades

industriais, o desinvestimento estrangeiro pode ser positivo, inserindo-se numa lógica de

restruturação económica e criação de novos factores competitivos. Da mesma forma que

as empresas se reestruturam (ENDERWICK, 1989; HAMEL e PRAHALAD, 1994) e o padrão de

investimento no estrangeiro se transforma (OZAWA, 1993), também o perfil de investimento

estrangeiro num país se moderniza. Isso envolve três tipos de movimentos: encerramento de

unidades que deixaram de ser viáveis; evolução e adaptação de filiais às novas

circunstâncias, quer mantendo a sua integração no grupo quer sob novas formas de

governação; e entrada de novos investimentos estrangeiros. Em termos de política, a

questão não é só atrair investimentos nem chorar sobre o leite derramado dos

desinvestimentos irreversíveis (atenuando, no entanto, as suas consequências sociais). É

fundamental prevenir e promover formas de dinamização das filiais existentes no âmbito de

processos de co-evolução entre a filial e o contexto local e de afirmação das

capacidades e competências da filial no seio de grupo em que se integra. Para isso,

estudos mais aprofundados sobre os processos de gestão das filiais e as estratégias

internacionais de reconfiguração dos grupos são indispensáveis.

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