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X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação SEPesq – 20 a 24 de outubro de 2014 Espaços da memória: a história não pode ser esquecida Giulie Anna Baldissera Arquiteta e Urbanista, Mestranda no PPAU Uniritter/Mackenzie Uniritter [email protected] Alex Carvalho Brino Professor Mestre UNIVATES/UNISC [email protected] Carolina Knies Arquiteta e Urbanista, Mestranda no PPAU Uniritter/Mackenzie Uniritter [email protected] Resumo: O presente artigo objetiva a ampliação da compreensão de diversas interpretações através da arquitetura sobre diferentes experiências históricas. A memória e a concepção de espaços mnemônicos sempre estiveram presentes na história, mas a criação de espaços da memória e sua trajetória sofrem mudanças ao longo de distintos períodos. O conceito desses lugares se caracteriza por ter uma identidade que se relacione diretamente com a história para associação e interpretação do conteúdo de valor e função simbólicos. Sendo assim, o artigo reflete a história, conceito e reprodutibilidade na arquitetura desses espaços. Para isso, é feito um breve estudo da história, memória e espaços da memória. Dentro dos exemplares brasileiros de espaços da memória, o artigo analisa dois: o Monumento a Estácio de Sá de Lucio Costa (1973), no Rio de Janeiro (RJ), e o Memorial da Imigração Japonesa de Gustavo Penna e Mariza Machado (2009) em Belo Horizonte (MG). Nas duas obras serão analisadas estratégias de projeto: implantação, entorno, materialidade, volumetria e esquema de composição. O artigo visa ampliar o conhecimento e interesse acerca do tema. Palavras-chave: espaços da memória; memória; espaço mnemônico; Lucio Costa; Gustavo Penna e Mariza Machado 1 Considerações Iniciais Uma comunidade que não conhece a sua história dificilmente poderá transmitir sua importância para a sociedade. Para que os cidadãos possam transmitir seus valores, é importante valorizar e assumir os acontecimentos históricos, buscando o interesse coletivo. Através da arquitetura é possível estimular a visão e o olhar sobre os fatos que constituem a história da cidade e/ou do país. Isso acontece através de instituições que valorizem a memória. Por essa razão, é importante a compreensão do papel destes equipamentos.

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Centro Universitário Ritter dos Reis

X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação SEPesq – 20 a 24 de outubro de 2014

Espaços da memória: a história não pode ser esquecida

Giulie Anna Baldissera Arquiteta e Urbanista, Mestranda no PPAU Uniritter/Mackenzie Uniritter [email protected] Alex Carvalho Brino Professor Mestre UNIVATES/UNISC [email protected] Carolina Knies Arquiteta e Urbanista, Mestranda no PPAU Uniritter/Mackenzie Uniritter [email protected]

Resumo: O presente artigo objetiva a ampliação da compreensão de diversas interpretações através da arquitetura sobre diferentes experiências históricas. A memória e a concepção de espaços mnemônicos sempre estiveram presentes na história, mas a criação de espaços da memória e sua trajetória sofrem mudanças ao longo de distintos períodos. O conceito desses lugares se caracteriza por ter uma identidade que se relacione diretamente com a história para associação e interpretação do conteúdo de valor e função simbólicos. Sendo assim, o artigo reflete a história, conceito e reprodutibilidade na arquitetura desses espaços. Para isso, é feito um breve estudo da história, memória e espaços da memória. Dentro dos exemplares brasileiros de espaços da memória, o artigo analisa dois: o Monumento a Estácio de Sá de Lucio Costa (1973), no Rio de Janeiro (RJ), e o Memorial da Imigração Japonesa de Gustavo Penna e Mariza Machado (2009) em Belo Horizonte (MG). Nas duas obras serão analisadas estratégias de projeto: implantação, entorno, materialidade, volumetria e esquema de composição. O artigo visa ampliar o conhecimento e interesse acerca do tema. Palavras-chave: espaços da memória; memória; espaço mnemônico; Lucio Costa; Gustavo Penna e Mariza Machado

1 Considerações Iniciais

Uma comunidade que não conhece a sua história dificilmente poderá transmitir sua importância para a sociedade. Para que os cidadãos possam transmitir seus valores, é importante valorizar e assumir os acontecimentos históricos, buscando o interesse coletivo.

Através da arquitetura é possível estimular a visão e o olhar sobre os fatos que constituem a história da cidade e/ou do país. Isso acontece através de instituições que valorizem a memória. Por essa razão, é importante a compreensão do papel destes equipamentos.

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Para o entendimento de um espaço da memória, é crucial o entendimento de memória, sendo assim, o artigo inicia discorrendo sobre a história da memória, e a importância em exaltá-la. Após, são discutidos os diferentes espaços da memória, e a seguir, dois exemplares são analisados, destacando suas diferenças e conexões.

2 História e memória

A memória está presente em qualquer lugar que observarmos. Nela está contida a cultura, ou seja, significados, valores e crenças. Apesar de não serem sinônimos, existe uma estreita relação entre história e memória: a história deve esclarecer a memória e ser imparcial, enquanto a memória é a interpretação da história, envolvendo a percepção. É possível entender melhor a ligação através da explicação de Pierre Nora:

A história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a história, uma representação do passado. [...]. A memória se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto. A história só se liga às continuidades temporais, às evoluções e às relações das coisas. A memória é o absoluto e a história só conhece o relativo. (NORA, 1984, p. 9)

A memória pode parecer um sentido individual, porém Maurice Halbwachs, nos anos 20-30, afirma que se pode interpretar a memória de forma coletiva e social. O autor diz que, apesar de um evento precisar de apenas um indivíduo, para lembrar são necessários outros. Sendo assim, a história pode ser individual, mas a memória é coletiva e passível de uma multiplicidade de interpretações. Michael Pollak (1989) discorre ainda sobre os elementos que constituem a memória: acontecimentos, personagens e lugares, as pessoas envolvidas na memória podem ou não tê-la vivenciado, pois pode ser herdada, através de “fenômenos de projeção ou transferência”, que ocorrem quando um acontecimento é tão impactante que afeta pessoas não envolvidas diretamente.

Bomcompagno (YATES, 1966) classifica a memória como natural e artificial. Trataremos aqui da memória artificial, aquela que requer estratégias da mente, artifícios derivados da arte para que seja recordada. Sendo assim, espaços da memória são recursos, materializações, formas de evocar a memória artificial coletiva.

A história não é um simples repositório de fatos imutáveis, mas um processo, um conjunto de posturas e interpretações vivas e mutáveis. [...] Todo espectador, em qualquer período – em qualquer momento, de fato –, inevitavelmente transforma o passado de acordo com a sua própria natureza. Referências absolutas não existem nem para o historiador nem para o físico; ambos produzem descrições relativas a uma situação específica. (GIEDION, 2004. p. 32-33)

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A partir disso, entende-se que não se trata de apenas materializar a memória, mas também interpretá-la. Nota-se então, a importância de pontos de contato entre memórias, de uma base comum, para evitar que sejam falsificadas, pois muitas vezes a memória é idealizada pela nostalgia. Genicót (1980) sugere que para a materialização da memória coletiva, é imprescindível a imparcialidade e objetividade do arquiteto, buscando avaliar a importância e relevância dos fatos. 3 História e memória

Os espaços da memória sofreram mudanças ao longo de diferentes períodos. Sobre o início da aplicação da memória em espaços arquitetônicos, Renata La Rocca (dissertação de mestrado, 2007) fala sobre as invasões bárbaras, que causaram uma mudança social refletida na Arte da Memória. A partir da queda do Império Romano, a Igreja se empenha em difundir a fé católica, buscando a sobrevivência da cultura e da língua do Império Romano através de artifícios da memória. Em sequência, foi possível a popularização de memoriais através de tratados escolásticos italianos, que buscavam a disseminação da memória artificial. No renascimento a noção de memorial está ligada ao belo e sagrado, porém, a partir do movimento moderno se transforma, passando a incorporar os conceitos de economia de meios e relação com o lugar.

Pierre Nora (1989) diz: “Há lugares da memória porque não existem mais meios de memória”. Como não existe mais a memória natural de determinados acontecimentos, é importante a existência dos lugares da memória para a organização, homenagem e/ou recordação da história. Não se trata de reconstruir o passado, pois ele já não existe mais, foi transformado através das experiências e valores do presente. A tentativa da recuperação de formas do passado leva a um aprisionamento temporal, e sem uma interpretação através das informações do presente, é improvável que eles influenciem no futuro. Então espaços da memória espelham a reflexão dos fatos e devem ser passíveis de adaptação a evolução da cultura.

O conceito desses lugares se caracteriza por ter uma identidade que se relacione diretamente com a história para associação e interpretação do conteúdo (um evento, cultura ou pessoa) de valor e função simbólicos. Sendo assim, funcionam como catalizadores, que podem servir tanto como recordação da história como ensinamentos para futuros visitantes.

Para James Young, a função da arquitetura nesse contexto é estabilizar a memória coletiva, pois o espaço criado será uma metáfora. O grande desafio desses espaços é ter características mnemônicas, ou seja, ter uma identidade que se relacione diretamente com a memória para associação do conteúdo. A estratégia projetual requer extrema sensibilidade e integração, para que se

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Centro Universitário Ritter dos Reis alcance um “meio” emocional universal, uma narrativa dinâmica, funcional e objetiva, onde o visitante compreenda a memória sem necessariamente conhecer a história.

É importante que a localização dos espaços da memória tenha ligação direta entre essência e existência para atingir seu objetivo. Halbwachs destaca que “não há memória coletiva que se desenvolva fora de um marco espacial”. A relação com o entorno é de extrema relevância, pois em um lugar isolado corre o risco de se tornar obsoleto.

Huyssen aponta a necessidade de materializar apenas a memória produtiva, ou seja, atualmente há excesso de memória, sendo assim, devemos selecionar memórias produtivas com relação à importância, diferenciando passados “usáveis dos passados dispensáveis” (HUYSSEN, 2000. p.37). Essa preocupação merece destaque no contexto contemporâneo, pois a lógica vigente é a mercadológica, o interesse capitalista e individual. Ou seja, a produção e o consumo em massa da indústria da memória, disfarçados com uma falsa valorização da história, acabam por prejudicar a própria causa. 4 Monumento a Estácio de Sá

O Monumento a Estácio de Sá é projeto de Lucio Costa, inaugurado em 1973, no Rio de Janeiro (RJ). Foi projetado em homenagem ao fundador da cidade do Rio de Janeiro, além de servir como marco de celebração da fundação da cidade. Está localizado na extremidade junto a enseada de Botafogo, no Aterro do Flamengo.

Figura 1 Vista do Monumento Estácio de Sá.

Fonte: do autor (Alex Brino).

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Com planta baixa triangular, o monumento aponta para o exato local de desembarque e fundação da cidade: a base do Pão de Açúcar. Apresenta estrutura muito simples, seguindo o fundamento de elementaridade do movimento moderno.

Figura 2 Implantação do Monumento Estácio de Sá

Fonte: Pesquisa Lucio Costa Obra Completa.

Encontramos, na sucessão de triângulos, uma plataforma como base,

que secciona um obelisco e cria então um espaço semi-enterrado para a cripta. A plataforma se eleva em relação ao nível da calçada, configurando assim, um plano de base elevado, o que destaca ainda mais o obelisco, em meio ao aterro do Flamengo. Sendo assim, o acesso acontece através de duas rampas, a primeira dá acesso a parte superior do monumento, um terraço que oferece uma vista panorâmica e integrada do local de fundação e ao mesmo tempo do Rio de Janeiro sempre contemporâneo; a segunda, desce para o nível mais baixo, mais introspectivo, local de silêncio e memória do fundador, local que permite a concentração e foco no objeto. O obelisco triangular tem 14m de altura total, sendo 11m a partir da plataforma e uma base de 5m.

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Figura 3 Fachada Oeste do Monumento Estácio de Sá

Fonte: Pesquisa Lucio Costa Obra Completa.

A porta de entrada do subsolo, que está na descida da rampa, é toda em bronze, ostentando o brasão de Estácio de Sá e um mapa da Baía de Guanabara de 1574 em alto relevo.

Figura 4 Detalhe da porta contendo o brasão de Estácio de Sá e mapa.

Fonte: do autor (Alex Brino).

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Inicialmente a proposta era de que a cripta guardaria os restos de Estácio de Sá, porém, sem que um acordo possível fosse feito, estão no local hoje apenas réplicas da lápide do militar português e do marco de fundação da cidade (os originais estão guardados na Igreja de São Sebastião dos Capuchinos, na Tijuca). As réplicas estão em uma das laterais do triângulo, escondidas em relação ao acesso principal, para que o visitante a “descubra” conforme a visitação. Para a sua valorização há um rasgo triangular na plataforma, destinado a uma zenital, para iluminação natural de efeito que demarca o espaço da lápide e do marco.

Figura 5 Detalhes da zenital e réplicas

Fonte: do autor (Alex Brino).

O espaço também se comporta hoje como um centro cultural,

promovendo exposições mensais. Como pode ser observado na figura 05. A sobriedade na materialidade é compatível aos elementos da

arquitetura moderna. Construído em pedra, o piso da plataforma é todo revestido em placas de granito retangular, com faixas de dimensões variáveis. Acredita-se que a base da plataforma tenha sido construída em pedras provenientes das demolições ocorridas nos anos 60 cais do flamengo. O uso simultâneo dessa materialidade revela a sintonia entre o novo e o antigo, constituindo um contraste passível de ser distinguido. Em um conjunto de obras de Lucio Costa percebe-se a reutilização de materiais que se comportam como um elo entre a nova intervenção e o sítio original, evidenciando a Nova Arquitetura e a arquitetura então vigente no país, como por exemplo nas Rampas da Igreja do Outeiro da Glória (1959).

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Figura 6 Detalhes da materialidade

Fonte: do autor (Alex Brino).

5 Memorial da Imigração Japonesa

O Memorial da Imigração Japonesa é projeto de Gustavo Penna e Mariza Machado, inaugurado em 2009, em Belo Horizonte (MG). Projetado como símbolo da comemoração de 100 anos da imigração japonesa no Brasil. Está localizado no Parque Ecológico Promotor Francisco Lins do Rego, na região da Pampulha. É possível perceber a simbologia ao longo de todo o percurso, na materialidade, na monumentalidade e no paisagismo.

Figura 7 Vista do Memorial da Imigração Japonesa

Fonte: do autor (Alex Brino).

A dupla de arquitetos criou uma ponte suspensa sobre um espelho

d’água, que representa uma metáfora ao oceano que separa Brasil e Japão.

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Centro Universitário Ritter dos Reis Em planta, o espaço se assemelha a uma hélice: o corpo principal do pavilhão é circular, com duas rampas em extremidades opostas. As rampas fazem analogia ao acesso de cada um dos países, uma com percurso de ipês-brancos e outra de cerejeiras, flores características do Brasil e Japão, respectivamente.

O memorial eleva-se sobre o terreno e torna livre a fluída a visual do sítio. A leveza do desenho dada tanto pelas curvas, quanto pelo afunilamento dos elementos resistentes, pois as laterais das rampas, que constituem as vigas do conjunto possuem suas finalizações pontiagudas quando direcionadas ao observador, justamente para amenizar sua presença.

Figura 8 Implantação do Memorial de Imigração Japonesa

Fonte: da autora (Giulie Anna Baldissera).

O pavilhão tem como materialidade principal o aço, significativo por ter

sido a comunidade japonesa responsável pela capacitação tecnológica à Minas Gerais. O volume é branco, denotando a leveza do projeto (Figura 9A). Além da forma principal ser alusiva à bandeira do Japão (círculo), o espaço interno tem como única cor a vermelha (Figura 9B), presente não só nessa bandeira, como também na de Minas Gerais. A continuidade visual que a materialidade permite sem a presença marcante de uma estereotomia, reforça a noção de unificação do prédio assim como das culturas.

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Figura 9 a. Vista externa b. vista interna

Fonte: Revista Projeto Design Edição 356, out. 2009. pág 59

É um espaço de contemplação e reflexão, aproximando-se ao caráter de um templo da cultura japonesa.

Figura 10 Vista do Memorial da Imigração Japonesa

Fonte: Revista Projeto Design Edição 356, out. 2009. pág 58

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Centro Universitário Ritter dos Reis 6 Considerações Finais

O passado se resgata para a reconstrução da memória e através deste artigo percebemos que existem diferentes maneiras de criar espaços da memória. A função do arquiteto é delimitar e indicar estas percepções, expandindo a relação entre pessoas e espacialidade.

A análise de dois espaços da memória aponta similaridades e correlações, assim como diferenças na prática e relação entre memória e lugar. Cada um deles entende e explora a individualidade da sua história, solucionando o partido de forma a buscar a potencialização do espaço.

Com essa análise foi possível perceber que as soluções usam o menor número de elementos possível para criar o espaço, associando conceitos entre uso e forma. Com isso é nota-se, por exemplo, a nitidez geométrica: ambos projetos partem de figuras geométricas primárias, e elas estão evidenciadas tanto em planta como elevações. O triângulo no Monumento a Estácio de Sá e o círculo no Memorial da Imigração Japonesa.

Os valores dos espaços da memória em questão não estão explícitos, são um convite para a descoberta e reconhecimento de maneira livre ao visitante. A liberdade e fluidez espacial (interno/externo) sugerem a interpretação do espaço. Nos dois casos os acessos principais e circulações verticais acontecem através de rampas, criando percursos graduais ao próximo espaço e indicando as visuais desejadas.

A beleza natural das paisagens dos dois exemplos exige formas simples e puras, para não competir com a contemplação da natureza do entorno. A relevância dos conjuntos não está na sua dimensão física, mas ainda assim, elas se impõem com relação ao entorno, pois ambos os projetos possuem força expressiva na composição.

As associações e inter-relações entre eventos, espaços da memória e sociedade é o que realmente pode levar à excelência destes lugares.

Percebe-se que para a melhor compreensão de um espaço da memória é importante objetividade e clareza na solução espacial, relação com o entorno e história, para evidenciar a homenagem. Caso contrário o espaço pode passar desapercebido e ser desvalorizado. Nota-se também a importância dos espaços da memória terem caráter essencial como elemento conservador da história, não necessariamente na representação física, mas na simbologia do espaço.

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Centro Universitário Ritter dos Reis Referências CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Editora Unesp, 2001.

GIEDION, Sigfried. Espaço, Tempo e Arquitetura: o desenvolvimento de uma Nova Tradição. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

HALBWACHS, Maurice. A memória Coletiva. São Paulo, SP: Editora Vértice, 1990.

HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.

LA ROCCA, Renata. Arte da Memória e Arquitetura. Dissertação (mestrado) PPGAU – EESC/USP. São Carlos, 2007.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1990.

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YATES, F. A. The Art of Memory. Chicago: The University of Chicago Press, 1984. (Orig. 1966).

Revista Projeto Design Edição 356, out. 2009. pág 56-61

http://rioartecidade.com.br/estacio-de-sa-1520-1567/ - acesso ago/2014

http://vejario.abril.com.br/blog/rj450/uncategorized/5-curiosidades-sobre-o-monumento-a-estacio-de-sa - acesso ago/2014