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Caderno de resumos XXIII Encontro Estadual de História História: por quê e para quem? UNESP/Assis – 5 a 8 de setembro de 2016

XXIII Encontro Estadual de História História: por quê e ... · Circe Bittencourt História na escola: democratização da experiência e dos conhecimentos humanos (PUC-SP, ANPUH-SP)

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Caderno de resumos

XXIII Encontro Estadual de História

História: por quê e para quem?

UNESP/Assis – 5 a 8 de setembro de 2016

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 2

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

Diretoria - Gestão 2014-2016

Circe Maria Fernandes Bittencourt (PUC-SP) – Presidente

Wilton Carlos Lima da Silva (UNESP-Assis) – Vice-Presidente

Sylvia Bassetto (USP- FFLCH) – Secretária Geral

Antonio Simplicio de Almeida Neto (UNIFESP) – Primeiro Secretário

Denise Aparecida Soares de Moura (UNESP-Franca) – Segunda Secretária

Ana Maria Camargo (USP-FFLCH) – Primeira Tesoureira

Josianne Francia Cerasoli (UNICAMP) – Segunda Tesoureira

Conselho Consultivo – Gestão 2014-2016

Adriana Carvalho Koyama (CMU/Unicamp)

Ana Paula Tavares Magalhães (USP/FFLCH)

Cesar Agenor Fernandes (UNISANTOS)

Cristina Meneguello (UNICAMP)

Daniel Vieira Helene (Mundel Consultoria em Educação)

Edgar da Silva Gomes (NEHSC/PUCSP)

Eduardo Silveira Netto Nunes (UNICASTELO/UNISANT'ANNA)

Everaldo de Oliveira Andrade (USP/FFLCH)

Helenice Ciampi (PUC/SP)

Ival de Assis Cripa (UNIFIEO)

Jaelson Bitran Trindade (IPHAN)

Janes Jorge (UNIFESP)

Jéssica Camila Favero Pereira Pinto (SEE-SP)

José Alves de Freitas Neto (UNICAMP)

Lucia Helena Oliveira Silva (UNESP/Assis)

Paulo Fernando Campbell Franco (UNISANTOS)

Renato Alencar Dotta (Fapesp)

Roberto de Assis Tavares de Almeida (FAMS)

Rodrigo Cristofoletti (UNISANTOS)

Saverio Lavorato Junior (UNINOVE)

Silene Ferreira Claro (FACULDADE SUMARÉ)

Comissão Organizadora

Ana Maria de Almeida Camargo (FFLCH-DH/USP)

André Figueiredo Rodrigues (UNESP/Assis)

Andréa Lúcia Dorini De Oliveira Carvalho Rossi (UNESP/Assis)

Antonio Simplicio De Almeida Neto

Áureo Busetto (UNESP/Assis)

Carlos Alberto Sampaio Barbosa (UNESP/Assis)

Circe Fernandes Bittencourt (PUC-SP)

Denise Soares De Moura (UNESP/Franca)

Ivan Esperanca Rocha (UNESP/Assis)

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 3

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

Josianne Cerasoli (IFCH-DH/UNICAMP)

Lucia Helena Oliveira Silva (UNESP/Assis)

Paulo Cesar Gonçalves (UNESP-Assis)

S Paulo Henrique Martinez (UNESP/Assis)

Sylvia Bassetto (FFLCH-DH - USP)

Wilton Carlos Lima Da Silva (UNESP/Assis)

Apoio Administrativo

Felipe Landim Ribeiro Mendes (estagiário da ANPUH-SP)

Letícia Oliver Fernandes (estagiária da ANPUH-SP)

Comissão Científica

Adalberto De Paula Paranhos (Doutor/UFU)

Alexandre Pianelli Godoy (Doutor/UNIFESP)

Ana Carolina De Moura Delfim Maciel (Doutora/UFF)

Ana Paula Tavares Magalhães (Doutora/USP)

Andrea Borelli (Doutora/UNICSUL e PUC-SP)

Antonio Manoel Elibio Jr (Pós-Doutor/UFRN)

Aureo Busetto (Doutor/UNESP-Assis)

Carlos Gustavo Nobrega De Jesus (Doutor/PUC-SP)

Carlota Boto (Doutora/FE-USP)

Cecilia Helena De Salles Oliveira (Livre Docência/MP-USP)

Celio Losnak (Doutor/UNESP-Bauru)

Cristina Meneguello (Doutora/UNICAMP)

Dainis Karepovs (Pós-Doutor/UNICAMP)

Denilson Botelho De Deus (Doutor/UNIFESP)

Euardo Augusto Costa (Doutor/UNICAMP)

Eduardo Giavara (Doutor/FACIP-UFU)

Eduardo S. Netto Nunes (Doutor/UNICASTELO E UNISANT’ ANNA)

Eliane Morelli Abrahao (Doutora/UNICAMP)

Erika Zerwes (Doutora/MAC-USP)

Fabiana Schleumer (Doutora/UNIFESP)

Gislene Edwiges De Lacerda (Doutora/UNINOVE)

Helenice Ciampi (Doutora - PUC-SP)

Jose Luis Bendichio Beired (Doutor/UNESP-ASSIS)

José Roberto Zan (Doutor/UNICAMP)

Karina Anhezini De Araujo (Doutora/UNESP- ASSIS)

Kátia Rodrigues Paranhos (Doutora/UFU)

Lidia Maria Vianna Possas (Pós-Doutora/UNESP - Marília)

Luana Saturnino Tvardovskas (Doutora/UNICAMP)

Lucilene Reginaldo (Doutora/UNICAMP)

Luzia Margareth Rago (Livre Docência/UNICAMP)

Marcos Antonio Da Silva (Pós-Doutor/USP)

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Associação Nacional de História – Seção São Paulo

Maria Teresa Miceli Kerbauy (Doutora/UNESP-Araraquara)

Milena Da Silveira Pereira (Doutora/UNESP-Franca)

Olga Brites (Doutora/PUC-SP)

Pablo Emanuel Romero Almada (Doutor/UEL)

Paula Ferreira Vermeersch (Doutora/UNESP)

Paulo Eduardo Teixeira (Doutor/UNESP)

Raquel De Fatima Parmegiani (Doutora/UFAL)

Regina Maria De Oliveira Ribeiro (Doutora/UFRRJ)

Rodolfo Fiorucci (Doutor/IFPR-Jacarezinho)

Ronaldo Cardoso Alves (Doutor/UNESP- Assis)

Rosane Siqueira Teixeira (UNESP-Fclar/Fapesp)

Stella Maris Scatena F. Vilardaga (Doutora/USP)

Vera Regina Martins Colaço (Doutora/UFSC)

Wanessa Asfora Nadler (Doutora/UNICAMP)

Washington Dener Dos Santos Cunha (Doutor/UERJ)

Wilton Carlos Lima Da Silva (Livre Docência/UNESP-Assis)

Yone De Carvalho (Doutora/PUC-SP).

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 5

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

ÍNDICE

Apresentação ......................................................................................................................... 6

Programação .......................................................................................................................... 7

Conferências e Mesas Redondas .......................................................................................... 8

Seminários Temáticos ........................................................................................................... 10

Resumos das Conferências .................................................................................................... 13

Resumos das Mesas Redondas .............................................................................................. 14

Resumos dos Apresentadores de Trabalho ......................................................................... 17

Resumos de Pôsteres ........................................................................................................... 192

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 6

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

APRESENTAÇÃO

A ANPUH-SP tem a satisfação de convidar a comunidade de pesquisadores para o XXIII

Encontro Estadual, que ocorrerá de 5 a 8 de setembro de 2016, na UNESP-Assis-SP.

O XXIII Encontro da ANPUH-SP dará prosseguimento às suas reuniões científicas

bienais, reunindo historiadores, pesquisadores e estudantes de São Paulo e de diversos

estados brasileiros, bem como professores, de escolas de ensino fundamental e médio.

A temática do XXIII Encontro, História: por quê e para quem?,permite vislumbrar a

necessária avaliação das possibilidades do conhecimento histórico em apresentar à

sociedade respostas a problemas sociais, complexos e plurais, cada vez mais explicitados.

A reunião de uma gama diversificada de tendências, proporcionada pela programação do

Evento, apresenta-se como oportunidade extremamente fértil para o auto-

reconhecimento intelectual e para o enfrentamento de diferenças. Enseja a troca de

múltiplas experiências originárias do trabalho acadêmico, que vem progressivamente se

abrindo para questões presentes, com projetos voltados para uma intervenção mais

direta na vida social, marcada hoje pela velocidade da informação que, sem a reflexão

capaz de lhe atribuir sentidos e significados, acaba por gerar formas descartáveis de

consciência histórica na coletividade.

O Encontro constitui espaço privilegiado de discussão sobre os rumos que a política

educacional do Estado brasileiro vem assumindo para o ensino médio e fundamental, e

de suas repercussões educacionais e sociais. Daí a importância da participação dos

professores da escola básica, para qualificar o debate com outros níveis de ensino no que

se refere à produção e à transmissão do conhecimento histórico, principalmente numa

fase de mudanças de parâmetros de grande abrangência, como a que atualmente existe

no país. Afinal a História, mesmo enfrentando o problema de seu status como linguagem

social e os dilemas de seus sistemas de representação e interpretação da realidade, é o

campo do saber onde mais claramente se pode dimensionar a natureza das ações dos

sujeitos sociais no tempo, razão de sua identidade reafirmada nesta época de diluição das

fronteiras do conhecimento. Responder às questões do “por que e para quem” é nosso

desafio.

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 7

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

PROGRAMAÇÃO

HORÁRIO 05/09/2016 (2.a feira)

06/09/2016 (3a. feira)

07/09/2016 (4a. feira – feriado)

08/09/2016 (5a. feira)

8h – 10h Fórum de Graduação

Mini Cursos Mini Cursos Mini Cursos

10h – 12h Mesa Redonda: História Indisciplinada

Mesa Redonda: Áfricas e História

Mesa Redonda: História ambiental no Brasil: uma

visão de conjunto

Mesa Redonda: Conhecimento histórico escolar em tempos de

(des)politização

Exibição de filme: Menino 23

Mesa redonda: Percursos curriculares de História

nas universidades no século XXI

12h – 14h Intervalo Intervalo Intervalo Intervalo

14h – 16h Seminários Temáticos

Seminários Temáticos Seminários Temáticos Seminários Temáticos

16 h – 18h Assembleia Geral ANPUH-SP

18h - 19h Pôsteres Pôsteres Intervalo

19h30 Conferência de abertura:

História - por quê e para

quem?

Conferência: História e crise contemporânea

Lançamento de Livros e Confraternização

Conferência de Encerramento: História

na escola – democratização da

experiência e do conhecimento humano

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 8

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

CONFERÊNCIAS

19H30

Local: Salão de Atos (Prédio 1)

05 de setembro

Conferência de abertura

Maria Helena Capelato História, por quê e para quem? (USP, ANPUH-BR)

06 de setembro

Jorge Grespan História e crise contemporânea (USP)

08 de setembro

Conferência de encerramento

Circe Bittencourt História na escola: democratização da experiência e dos conhecimentos

humanos (PUC-SP, ANPUH-SP)

MESAS REDONDAS

10H-12H

06 de setembro

História indisciplinada

Wilton C. L. Silva (UNESP/Assis)– coordenador

Wilton C. L. Silva. (UNESP – Assis) Como e porque ser e não ser historiador

Silvana Rubino (UNICAMP). Fronteiras (in)disciplinares na cidade

Roberto de Andrade Martins (FESB, UNICAMP). Pode um cientista atuar como

historiador

Conhecimento histórico escolar em tempos de (des)politização

Antonio S. Almeida Neto (UNIFESP) – coordenador

Paulo Mello (UEPG). Conhecimento histórico escolar em tempos de (des)politização: o

movimento escola sem partido.

Ronaldo Cardoso Alves (UNESP – Assis). A contribuições da Didática da História para

reflexão a respeito da função pública da História

Josianne Cerasoli (UNICAMP). Por que e para que aprender história? O lugar do debate

sobre história na agenda das políticas públicas em educação.

07 de setembro

Áfricas e História

Maria Cristina Cortez Wissenbach (USP) – coordenadora

Cristina Wissenbach (USP). Histórias e mitos em torno das sociedades africanas

subsaarianas.

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 9

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

Patrícia Teixeira Santos (UNIFESP). Estados e Sociedades Africanas no século XX:

desafios pós coloniais?

Maria Antonieta Antonacci (PUC/SP). Desconstruindo sistemas de representação de

Áfricas e suas culturas em diáspora

08 de setembro

História ambiental no Brasil: uma visão de conjunto

Janes Jorge (UNIFESP) – coordenador

Kênia Souza Rios (Universidade Federal do Ceará) O Ceará dentro do panorama da

história ambiental no Brasil.

Elenita Malta Pereira (UNICENTRO/PR). História ambiental no Sul do Brasil.

Roger Domenech Colacios (LABHIMA/UNESP-Assis). História Ambiental paulista:

perspectivas teóricas e temáticas.

Percursos curriculares de História nas universidades no século XXI

Circe Bittencourt (PUC-SP, ANPUH-SP) – coordenadora

Maria Rita de Almeida Toledo (UNIFESP). O Professor Historiador e seu percurso

formativo na Unifesp.

Sylvia Bassetto (USP). O impacto de currículos prescritivos, federais e estaduais, na

formação do profissional de História.

Paolo Bianchini. (Università De Torino - Itália). Currículo de História nas Universidades

europeias pós Tratado de Bologna.

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Associação Nacional de História – Seção São Paulo

SEMINÁRIOS TEMÁTICOS

05 a 08 de setembro

14H-18H

01. A Infância e a Juventude: Histórias e Experiências

Coordenadores: Eduardo Silveira Netto Nunes (Doutor/

UNICASTELO/UNISANT’ANNA) e Olga Brites (Doutora/PUC-SP)

02. Áfricas em múltiplas dimensões: experiências de pesquisa, ensino e extensão

Coordenadoras: Fabiana Schleumer (Doutora/UNIFESP), Lucilene Reginaldo (Doutora/

UNICAMP)

05. As finalidades do ensino de história em questão: história das culturas,

disciplinas e currículos escolares

Coordenadores: Alexandre Pianelli Godoy (Doutor/UNIFESP), Helenice Ciampi

(Doutora/ PUC-SP)

06. Autoritarismos, nacionalismos e memória

Coordenadores: Carlos Gustavo Nobrega De Jesus (Doutor/PUC-SP), Rodolfo Fiorucci

(Doutor /IFPR-Jacarezinho)

10. Cultura Visual, Imagem e História

Coordenadores: Eduardo Augusto Costa (Doutor – IFCH/UNICAMP), Erika Zerwes

(Doutora – MAC/USP)

16. Ensino de História e Poéticas: Baseado em fatos irreais ma non tropo

Coordenador: Marcos Antonio Da Silva (Pós-doutor/USP)

18. Escrita da História – suportes, fundamentos, perspectivas.

Coordenadoras: Ana Carolina De Moura Delfim Maciel (Pós-Doutora/UNICAMP),

Cecilia Helena De Salles Oliveira (Livre Docência - Museu Paulista da USP)

19. Escrita da história: como contar o passado em língua portuguesa?

Coordenadoras: Karina Anhezini de Araujo (Doutora/UNESP-Franca), Milena da Silveira

Pereira (Doutora/UNESP-Franca)

22. Fazer história da alimentação no Brasil: atores, objetos, problemas e

abordagens

Coordenadoras: Eliane Morelli Abrahão (Doutora/UNICAMP), Wanessa Asfora Nadler

(Doutora/UNICAMP)

23. Fontes históricas na Didática da História: possibilidades de discussão a

respeito da função pública da História

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 11

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

Coordenadores: Regina Maria De Oliveira Ribeiro (Doutora/UFRRJ), Ronaldo Cardoso

Alves (Doutor/UNESP-Assis)

25. Gênero: desafios e possibilidades em um contexto de crise e mudanças

Coordenadores: Lidia Maria Vianna Possas (Livre Docência/UNESP-Marília), Paulo

Eduardo Teixeira (Doutor/UNESP)

26. História & Música Popular

Coordenadores: Adalberto Paranhos (Doutor/UFU), José Roberto Zan (Doutor/

UNICAMP)

27. História & Teatro

Coordenadores: Kátia Rodrigues Paranhos (Doutora/UFU), Vera Regina Martins Collaço

(Doutora - Universidade do Estado de Santa Catarina)

29. História da Educação: pensamentos, práticas e políticas

Coordenadores: Carlota Boto (Livre Docência/USP), Washington Dener Dos Santos

Cunha (Doutor/UERJ)

32. História e historiografia das Américas

Coordenadores: Jose Luis Bendicho Beired (Livre Docência/UNESP), Stella Maris Scatena

Franco Vilardaga (Doutora/USP)

34. História e Mídia: Fontes, Objetos E Aspectos Teórico-Metodológicos

Coordenadores: Aureo Busetto (Doutora/UNESP-Assis), Celio Jose Losnak (Doutor/

UNESP-Bauru)

36. História Social da Literatura

Coordenadores: Denilson Botelho de Deus (Pós-doutor /UNIFESP)

37. História, Sociedade e Natureza

Coordenadores: Eduardo Giavara (Doutor /UFU)

38. Produção escrita e representação da História na Idade Média: Igreja,

Sociedade e Poder

Coordenadores: Ana Paula Tavares Magalhães (Doutora/USP), Raquel De Fatima

Parmegiani (Doutora/UFAL), Yone De Carvalho (Doutora/PUC-SP)

39. Migração internacional: o debate sobre imigração no Brasil em períodos

históricos

Coordenadores: Maria Teresa Miceli Kerbauy (Pós-doutora/UNESP-Araraquara), Rosane

Siqueira Teixeira (Doutora /UNESP)

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 12

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

40. Mundos Do Trabalho: Trabalhadores, Lutas, Experiências e Culturas de Classe

Coordenadores: Dainis Karepovs (Pós-doutor - Divisão de Acervo Histórico - ALESP),

Paula Ferreira Vermeersch (Pós-doutora/UNESP)

42. O movimento estudantil e a ditadura militar brasileira: resistência, repressão

e os olhares sobre a memória

Coordenadores: Gislene Edwiges de Lacerda (Doutora/UNINOVE), Pablo Emanuel

Romero Almada (Doutor/UEL)

44. Patrimônio Cultural, Memória E Sensibilidades Urbanas

Coordenador: Antonio Manoel Elibio Jr (Pós-doutor/UFRN)

45. Práticas de resistência, insubordinações e contracondutas nos feminismos

contemporâneos

Coordenadores: Luana Saturnino Tvardovskas (Doutora/Unicamp), Luzia Margareth

Rago (Livre Docência/UNICAMP)

47. Trajetórias e biografias: modelos, limites, desafios e possibilidades

Coordenadores: Cristina Meneguello (Pós-doutora/UNICAMP), Wilton Carlos Lima Da

Silva (Livre Docência/UNESP-Assis)

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 13

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

RESUMOS: CONFERÊNCIAS

Circe Fernandes Bittencourt (Doutora/PUC-SP)

História na escola: democratização da experiência e do conhecimentos humanos

Esta apresentação aborda os compromissos da História na vida escolar contemporânea,

situando os desafios atuais para professores das futuras gerações em suas vivências

escolares. Situa os compromissos do ensino de História primeiramente quanto à

importância em situar os alunos no tempo vivido para o estabelecimento de diálogos

com outros tempos e experiências assim como possibilitar uma aprendizagem capaz de

dialogar com o local e com o internacional, de forma a garantir reflexões sobre os

conhecimentos humanísticos em diferentes escalas temporais e espaciais. Apresenta em

seguida os aspectos referentes ao conhecimento histórico no processo de formação dos

profissionais de História em função das novas tendências e desafios nos espaços

acadêmicos.

Maria Helena Rolim Capelato.

História, por que e para quem? ANPUH, por que e para quem?

Nesta conferência pretendo, por um lado, enfatizar a importância da história e do

historiador, não só no que se refere ao estimulo à produção e transmissão do

conhecimento histórico, mas também na formação de estudantes para o exercício pleno

da cidadania. Por outro lado, refletirei sobre a relação da Associação com seus associados

e seu papel no enfrentamento das questões colocadas neste encontro, destacando a

importância de sua necessária intervenção no debate público sobre temas de extrema

relevância para nossa área, nesse momento em que o país passa por grave crise.

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 14

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

RESUMOS: MESAS REDONDAS

Janes Jorge (Doutor/UNIFESP)

História Ambiental no Brasil: uma visão de conjunto

O objetivo da mesa é apresentar um panorama da historiografia ambiental desenvolvida

no Brasil, cuja produção aumentou consideravelmente ao longo do século XXI. Acredita-

se que essa visão de conjunto é importante para que se possa identificar, ainda que

inicialmente, quais temas e abordagens tem predominado na historiografia ambiental e

quais dimensões ainda não foram exploradas pelos historiadores (as), o que pode ser útil

para o fomento à pesquisa.

Josianne Francia Cerasoli (Doutora/UNICAMP)

Por que e para que aprender história? O lugar do debate sobre história na agenda das

políticas públicas em educação.

O aprimoramento da formação de professores, sobretudo para atuar na educação básica,

tem estado presente em uma série de políticas públicas (muitas vezes divergentes e

simultâneas), notadamente no ensino de história, com desdobramentos na composição e

desenvolvimento curricular. Propomos debater a relação entre a docência da disciplina,

em seus diferentes níveis, e as políticas públicas, tais como: discussões curriculares

(diretrizes, bases comuns, resoluções normativas etc.); programas de formação

continuada (Parfor, Redefor, Evesp etc.); produção de material didático (PNLD,

programa São Paulo Faz Escola etc.); reformulações ligadas aos sistemas de ensino

(planos nacionais e estaduais de educação, sistemas de avaliação etc.); políticas para

formação de professores (Prodocência, ProfHistória, PIBID etc.). Propomos discutir

possíveis impactos na formação de professores de história, norteando-se a análise por

duas questões principais: como a discussão sobre "por que e para que" se aprende e

ensina história se faz presente em tais políticas? Entendidas como políticas públicas, de

que modo participariam, historiograficamente, dos debates da chamada história política?

Maria Antonieta Martnes Antonacci (Doutora/PUC-SP)

Desconstruindo sistemas de representação de Áfricas e suas culturas em diáspora.

Partindo de ideias, escritas, representações de Áfricas, de povos africanos e suas

inculturas e infra-humanidade, em circulação na Europa nos séculos XVIII e XIX, ao

recorrer a narrativas de africanos escravizados em literatura oral no Nordeste do Brasil,

xilogravura, performances e seus meios de comunicação, pretende-se pontuar suas

formas de auto-representação em lutas culturais por sua humanidade e liberdade. Desde

expressões de seus universos cósmicos, modos de ser, pensar e viver, questionar

construções históricas do eurocentrismo então em expansão ao Ocidente.

Maria Cristina C. Wissenbach (Doutora/USP).

Histórias e mitos em torno das sociedades africanas subsaarianas.

A palestra visa explicitar a necessidade de restabelecer a ordem de historicidade às

interpretações sobre as sociedades africanas, no sentido de romper com uma serie de

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 15

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

estereótipos que cercam o olhar sobre os africanos, bem como paradigmas que dominam

o senso comum e parte dos estudos sobre as mesmas. São imagens impregnadas pelas

teorias evolucionistas, pela ideia de sociedades sem história, marcadas pela prevalência

do eurocentrismo e do exotismo e estranhamento.

Maria Rita de Almeida Toledo (Doutora/UNIFESP)

O Professor Historiador e seu percurso formativo na Unifesp

Com essa comunicação objetivo apresentar a configuração do curso de graduação em

História da Unifesp. Esse desenho resulta de um intenso processo de discussão do seu

corpo docente, entre 2006 e 2010. O curso de História da Unifesp já nasce sob a égide da

nova LDBEN (1996) e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação do Professor

de Ensino Básico, em nível superior (CNE/CP 009/2001). A organização do curso partiu

dos desafios colocados pela política educacional de articular em outros termos a relação

da formação do docente em História e a do historiador; de reconectar os ofícios da

pesquisa e da docência de modo que essas práticas passassem a ser referentes para o

docente que atuará na escola básica; e o de rearticulação prática e teoria no processo

formativo do ofício. Contudo, com as novas políticas educacionais, o desenho do curso

foi colocado em xeque, resultando no renascimento do desenho antigo antagonismo

entre licenciatura e bacharelado.

Patrícia Teixeira Santos (Doutora/UNIFESP)

Estados e Sociedades Africanas no século XX: desafios pós-coloniais?'

A palestra visa oferecer uma contribuição a discussão sobre os estados africanos no

século XX, abordando e problematizando as visões de tribalismo e conflitos étnicos que

perpassam as analises políticas e históricas dessas entidades, sobretudo em contexto de

estudos sobre violência e genocídio.

Roberto de Andrade Martins (Doutor/FESB, UNICAMP)

Pode um cientista atuar como historiador?

Em alguns campos do saber, em todo o mundo, a escrita e o ensino da história

disciplinar têm sido exercidos por profissionais sem formação em história: filósofos,

artistas, psicólogos, educadores, médicos, etc. Esta palestra apresentará uma discussão

sobre alguns dos aspectos positivos e negativos das abordagens desenvolvidas pelos

cientistas que atuam na pesquisa e no ensino da história das ciências – área na qual

tenho trabalhado durante décadas. Abordará também os conflitos que surgem entre

profissionais com formação acadêmica em história e os outros profissionais que se

dedicam à história de suas disciplinas – tanto as tensões puramente intelectuais quanto o

jogo de interesses profissionais, velado sob a forma de um discurso acadêmico. Será

defendida a validade de uma pluralidade de abordagens de excelente qualidade

acadêmica, que se complementam em vez de se excluir ou conflitar, a exemplo da

postura apresentada por Paolo Rossi em seu ensaio: “Sette Galilei? Meglio di uno”.

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XXIII Encontro Estadual de História – História: por quê e para quem? 16

Associação Nacional de História – Seção São Paulo

Silvana Barbosa Rubino (Doutora/UNICAMP)

Fronteiras (in)disciplinares na cidade.

Cientista social por indisciplinada formação (com freqüentação de cursos da filosofia e

na teoria literária), passei anos ouvindo que não era bem uma antropóloga dado meu

apreço, a cada dia renovado, pelos arquivos. Se muito já se parafraseou Lévi-Strauss, pois

tudo pode ser bom pra pensar, o mesmo pode-se dizer para a história. Questões de

impõem: diferentes temporalidades, abordagens, o lugar da dimensão simbólica. Sem

qualquer pretensão de esgotar a questão e suas possibilidades, quero abordá-la a partir

de minhas pesquisas em história e antropologia urbana.

Sylvia Bassetto (Doutora/USP)

O impacto de currículos prescritivos, federais e estaduais, na formação do profissional de

História

Trata-se avaliar o real significado do impacto das alterações curriculares propostas, nos

âmbitos federal e estadual, nos cursos de graduação em História das universidades

públicas paulistas, com ênfase na Universidade de São Paulo. Especial atenção será

conferida ao embate entre a formação plena do profissional da área e a insistente

presença, nos textos oficiais, do propósito de estabelecer escalas de diferenciação entre o

ensino e a pesquisa, entre o professor da escola básica e o historiador. Embate esse que, a

depender do rumo das prescrições, ocasionará danos irreparáveis à qualidade do ensino

Fundamental e Médio do Estado de São Paulo furtando do ensino superior seu principal

compromisso com a sociedade.

Wilton (Doutor/UNESP-Assis)

Como e porque ser e não ser historiador

Em 1968, trinta e cinco anos após o surgimento de Casa Grande e Senzala, Gilberto

Freyre lançou um livro intitulado Como e porque eu sou e não sou sociólogo, no qual

discutia a aproximação e o afastamento de sua forma de explicação da sociedade

nacional em relação a outras perspectivas analíticas sobre o mesmo tema/objeto. O

título provocativo do livro, de um autor já clássico no pensamento social brasileiro,

afirmava uma diversidade no campo teórico metodológico das ciências sociais brasileiras

ao longo do século XX e a possibilidade de se afirmar e se negar como parte desse campo.

A palestra ambiciona discutir de que forma na escrita (auto)biográfica, campo dentro do

qual minhas pesquisas se inserem, as abordagens historiográficas expressam ao mesmo

tempo alguns referenciais identitários e algumas tensões de fronteiras entre distintas

determinantes do ethos profissional e as desejadas ou necessárias relações de troca com

as ciências sociais e a teoria literária, e como isso se apresenta enquanto mapeamento do

campo profissional, desafio intelectual e convite ao reconhecimento de si.

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RESUMOS: APRESENTADORES DE TRABALHO

Aaron Sena Cerqueira Reis (Doutorando)

O conhecimento histórico em sala de aula: primeiras etapas de um estudo sobre progressão

da consciência histórica de estudantes do ensino básico

No âmbito da Didática da História, uma significativa parte dos pesquisadores se

interessam pelas formas como os estudantes se apropriam dos conhecimentos históricos.

Por um lado, isto nos possibilita refletir sobre a consciência histórica expressa por estes

sujeitos e, por outro, habilita pesquisadores e professores a elaborar estratégias capazes

de fornecer instrumentos necessários para que os jovens se relacionem com o passado de

maneira crítica, conseguindo, inclusive, orientar-se no tempo. Baseando-me nessas

ideias, apresento resultados parciais da tese em desenvolvimento na Faculdade de

Educação da Universidade de São Paulo cujo objetivo é entender a progressão da

consciência histórica de estudantes do Ensino Básico. Nesse sentido, discuto as primeiras

impressões acerca do campo de pesquisa, uma escola pública estadual, localizada no

bairro Butantã, em São Paulo, onde acompanho, como observador participante, a

maneira como estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e dos 2º e 3º anos do Ensino

Médio se relacionam com o conhecimento histórico produzido em aula. Tal investigação

contribuiu para a elaboração de um instrumento de campo, por meio do qual as

narrativas dos estudantes serão obtidas e analisadas posteriormente. (ST23)

Adalberto Coutinho de Araujo Neto (Doutor/Instituto Federal de São Paulo)

República, democracia, abolição e moralidade do trabalho: o discurso socialista brasileiro

em fins do Segundo Reinado

Esta comunicação apresenta algumas das principais características dos socialistas

brasileiros em fins do Segundo Reinado. Discute-se a historiografia a respeito e

questiona-se sobre seu republicanismo: seriam republicanos de esquerda que se

tornaram socialistas após a Proclamação da República, ou aderiram ao movimento como

condição de democratização da sociedade e da política, pré-condição para se chegar ao

socialismo? Outras questões básicas: Abolição como condição primeva para a

instauração da democracia e valorização do Trabalho e de sua moral e ética. O Trabalho

como elemento central para o progresso do país e da classe dos artífices e demais

trabalhadores. Tudo isso seria colocado em primeiro plano em uma República

democrática e livre da escravidão. (ST40)

Adalberto Paranhos (Doutor/UFU) Para além das "amélias": mulheres "liberadas" na música popular brasileira dos anos 1970 Na esteira de modificações comportamentais que encontraram um ponto de inflexão nos frementes anos 1960, a década de 1970 assistiu, em distintas partes do mundo, à consolidação de transformações que se manifestaram em diferentes campos. Por mais que ainda expressassem forças sociais minoritárias, ganharam terreno, então, movimentos de contestação a múltiplas formas de autoritarismo, aos quais se associaram, por vias diretas ou oblíquas, o feminismo em sua “segunda onda” e a contracultura. Fervilhavam ideias e ações que ousavam questionar, seja na teoria ou na prática, o engessamento de comportamentos pautados pelo conservadorismo. Tendências de há muito recalcadas passavam a ocupar a boca da cena política. Partia-se

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do princípio de que – se enxergada para além das viseiras que a reduzem aos marcos institucionais –, a política não se esgota no plano macropolítico, por exprimir-se também nas dimensões micropolíticas do cotidiano. Mais do que nunca fazia pleno sentido a palavra de ordem feminista “o pessoal é político”, com base na qual se exigia maior atenção para com as mil e uma faces do poder, que não pode ser resumido exclusivamente ao domínio de assuntos ligados ao Estado. Inserida nesse momento histórico, a música popular brasileira foi, igualmente, protagonista de um tempo de mudanças, apesar da implacável ditadura vigente no Brasil. Ela ajudou a puxar os fios de uma meada que não se desembaraça facilmente ao avivar a visibilidade de outros sujeitos sociais, como os gays e as mulheres “liberadas”, que se punham a quebrar resistências seculares. Compositores(as) e intérpretes se converteram, assim, em um dos vetores de propagação da diversidade comportamental/sexual, contribuindo para evidenciar a porosidade das fronteiras entre a política concebida sob a ótica lato sensu e stricto sensu. Afinada com essas novas realidades em ebulição, esta comunicação elege como foco prioritário representações femininas de comportamentos tidos e havidos como “desviantes”. Para tanto, apoia-se em canções gravadas nessa época e em capas de LPs tomadas como textos visuais. Como se verá, em muitos casos, quer se trate de obras assinadas por homens ou por mulheres, a régua pela qual se mediam as relações de gênero foi desconsiderada. Em certas situações, despontaram mulheres que transbordaram as normas de decoro e pudor que a política sexual hegemônica lhes impunha: a celebração do corpo como território do prazer tornou-se explícita. Em outras, foi cantado e decantado o amor homossexual, em meio a corpos embriagados de suor, num período em que a homossexualidade – historicamente estigmatizada como pecado, enfermidade, distúrbio, perversão –, ainda era catalogada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “doença mental”. (ST26) Adriana Aparecida Alves da Silva (Doutora/UNISO) A imigração japonesa em pilar do sul: novos agentes no campo social Este trabalho faz parte da pesquisa desenvolvida durante o doutorado, que teve como enfoque analisar a constituição do campo escolar de Pilar do Sul – SP (1934 -1976). A constituição do campo escolar desta cidade foi impulsionada após a chegada dos imigrantes japoneses em 1945. Considerando os imigrantes japoneses e descendentes como novos agentes no campo social e escolar, introduzindo novos hábitos e estabelecendo novas relações de poder, este trabalho apresenta a analise do processo de imigração japonesa para Pilar do Sul, as experiências vivências pelos imigrantes japoneses no Brasil, as dificuldades e as repressões no período da Segunda Guerra Mundial, os conflitos entre os japoneses no Brasil depois da guerra e a chegada e presença desses imigrantes em Pilar do Sul, buscando compreender a bagagem de vida e o habitus dos japoneses e descendentes que chegaram e permaneceram em Pilar do Sul. Foram utilizados documentos escritos, orais e iconográficos dos arquivos escolares, da Associação Desportiva Japonesa, dos órgãos públicos, jornais (A Tribuna; O Correio Paulistano), Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil e os guardados pessoais da população. Os depoimentos foram recolhidos em forma de narrativa de vida e história social. A análise evidenciou os imigrantes japoneses sofreram com os costumes, hábitos diferentes, preconceitos, perseguições e restrições, consequências da política nacionalista e da Segunda Guerra Mundial. Mesmo após a guerra, havia o preconceito e a falta de informações que gerou conflitos e perseguições entre os próprios japoneses. A esperança de enriquecer no Brasil e retornar para o Japão foi frustrada com as dificuldades diárias e com a derrota do Japão na guerra. Dessa forma, fugindo das regiões de conflitos entre japoneses vitoristas e derrotistas muitos imigrantes japoneses se estabeleceram em Pilar do Sul. A chegada e permanência dos japoneses e descendentes a Pilar do Sul gerou

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mudanças no campo social, introduziu nele novos agentes, diferentes, habitus, que geraram conflitos e um processo de interação entre os antigos moradores e os recém-chegados. Essa interação foi fruto do processo de adaptação nesse espaço de conflitos que é o campo, adaptação gradual no cotidiano, por meio das relações do trabalho e no espaço escolar. Os japoneses e descendentes contribuíram com as mudanças econômicas, introduzindo o cultivo de novos produtos e uma nova lógica de comercialização por meio das cooperativas agrícolas, o que estimulou os antigos moradores a se organizarem em instituições. Esse crescimento econômico auxiliou no processo de urbanização da cidade, melhorando sua infraestrutura, gerando mudanças no campo social e escolar com a fundação de novas instituições escolares e transformações nas práticas. (ST39) Adriana Salay Leme (Mestre/SENAC) Fome e comida - por uma história conceitual da alimentação Quando Luís da Câmara Cascudo nos apresenta sua grande obra – História da Alimentação no Brasil – ele nos conta sobre sua aproximação e conversa com Josué de Castro, notável pensador que teve ampla atuação na saúde pública e no combate a fome. A intenção era escrever um livro juntos, que abordasse a alimentação no Brasil e fosse bilíngue – este a partir da ótica da nutrição e Cascudo escrevendo com o aparato da etnografia. Porém, após algumas conversas e cartas, perceberam que pretendiam tratar do mesmo assunto, o alimento, mas a partir de dois espectros distintos, um da comida e outro da fome. Da mesma forma, Castro escreve no prefácio de Geografia da fome – a proposta de escrever a história da cozinha brasileira com Cascudo não foi possível concluir. Todavia, a concepção de fome e comida proposta pelos autores não fica clara e nós não temos, atualmente, ferramentas necessárias para problematiza-las. A partir desta constatação, percebe-se que, se por um lado, já possamos assumir que a história da alimentação constitui hoje um campo consolidado dentro do meio acadêmico, principalmente internacional, por outro também temos que atentar que ainda há um longo caminho a percorrer. Este artigo pretende abordar, portanto, a possibilidade de trazer para a história da alimentação uma metodologia já amplamente utilizada na história política – a história dos conceitos. A análise pretende investigar se a abordagem proposta por Reinhart Koselleck e a escola alemã teria ferramentas metodológicas úteis para aprofundarmos as pesquisas históricas referentes à alimentação no Brasil. (ST22) Agata Bloch (Doutoranda) Análise de Redes Sociais do Império Português O presente trabalho estuda as redes do império português e, portanto, requer os estudos aprofundados dos documentos preservados no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa bem como da própria natureza deste Arquivo. Por possuir vasta documentação do Conselho Ultramarino, é uma excelente fonte de informação para reconstruir as relações e a dinâmica do Império Português da época moderna. Além disso, procure-se entender melhor a história do Brasil colonial no contexto do Império Português setecentista e estudar a trajetória do Arquivo em causa. As pesquisas visam definir a identidade portuguesa no ultramar no período de 1600-1755, através do método matemático-informático chamado Análise de Redes Sociais que está sendo estudada em "R", uma linguagem de computação estatística para a análise de dados e imagens gráficas. A análise das redes sociais é apenas uma ferramenta que permitirá interpretar a estrutura sócio-política das relações entre os nexos socialmente estruturados nas colónias portuguesas. A análise histórica está sendo levada a cabo em dois níveis: quantitativo e qualitativo. A primeira está sendo realizada com base nos inventários publicados pelo Arquivo

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Histórico Ultramarino e os códices lá preservados, enquanto que a análise qualitativa requer trabalhos aprofundados com documentos disponíveis neste Arquivo. Para este fim foi estabelecida uma base de dados eletrônica apoiada nos inventários da época 1600-1755, publicados pelo AHU. Foi determinado o tipo de documentos em forma de correspondência missiva internacional, assim como definido o padrão básico de remetentes e destinatários. A colocação dos dados na aplicação google.maps permitiu criar o esboço das primeiras redes sociais lusófonas que refletissem as ligações geográficas do antigo império colonial. Foram igualmente criadas as primeiras redes sociais entre as instituições coloniais. O meu objetivo é conjugar o domínio da recém-criada ciência das redes com as ciências históricas. Acredite-se que a história tem que responder às determinadas perguntas e preocupações de cada geração. Portanto, se assumirmos que no mundo contemporâneo, caraterizado pela globalização e interligação, cuja marca principal são as redes sociais, estudar o passado através da perspectiva de rede pode trazer os resultados interessantes. A base de dados e os gráficos sociais serão disponibilizados na Internet, permitindo continuar pesquisas em várias áreas para levar a cabo uma análise comparativa de redes sociais modernos de outros impérios europeus. A percepção inovadora de estudos relativos à globalização no território dos PALOPs e o entendimento das redes sociais do império português permitirão entender melhor as relações contemporâneas entre Portugal e as suas antigas colónias. (ST10) Airton Jose Cavenaghi (Doutor/Anhembi Morumbi) Viagem e sertão: possibilidades para a interpretação da hospitalidade no interior paulista durante o século XIX. Este artigo analisa a narrativa do Visconde de Taunay quando esteve no então arraial de São José do Rio Preto-SP, em 1867. Descreve a narrativa de suas memórias e a compara com a produção cartográfica do momento da mesma, além de analisar a propagação dessa ação na construção da futura memória coletiva da região. A narrativa é observada, além desses aspectos, pela Hospitalidade, a luz das diretrizes teóricas do “Ensaio sobre a Dádiva” de Marcel Mauss. Ao conciliar duas análises teóricas, a historiográfica e a antropológica, procura-se observar elementos não perceptíveis pela simples exposição do documental historiográfico. Procuram-se, assim, outras possibilidades para a compreensão da memória narrada e sua análise documental. (ST16) Aldimar Jacinto Duarte (Doutor/PUC-Goiás) História e jovens pobres no Brasil O presente artigo analisa algumas representações sociais produzidas no Brasil, entre os primeiros anos do século XX até a década de 1970 acerca dos jovens, principalmente na sua relação com espaço urbano. Pretende-se destacar alguns aspectos considerados importantes para a compreensão da relação dos jovens com um espaço social definido: o meio urbano brasileiro, relação essa que é marcada por ambivalências e contradições acerca do que a sociedade espera e projeta para esse tempo de vida. (ST01) Alessandra Pedro (Doutora/UNiFEOB) Às margens: a biografia intelectual de Rocha Pombo e o conhecimento histórico Esta comunicação é um desdobramento da minha tese de doutorado sobre o jornalista, professor, historiador, político e escritor paranaense José Francisco da Rocha Pombo intitulada “Educação como missão: a obra didática e histórica de Rocha Pombo, 1900-1933”. A proposta que aqui se apresenta é a de discutir a importância e os limites para a construção de uma biografia intelectual no campo da historiografia. O estudo da trajetória e das obras dessa personagem objetivou a compreensão a construção de seu pensamento, de sua escrita histórica e didática, tendo como foco principal a constituição

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dos conceitos de nação e raça. Tal estudo mostrou-se como algo muito necessário para a apreensão da difusão das ideias constituídas nos meios intelectuais e propagadas, mesmo que ressignificadas, entre a população por meio do livro. Para isso, foi realizada a biografia intelectual dessa personagem que, nas primeiras décadas do século XX, por um lado firma-se como historiador, mas não consta no rol dos autores reconhecidos como grandes historiadores brasileiros; por outro lado, estabelece-se como um dos maiores autores de manuais e compêndios didáticos de história da primeira república. Assim, nesta comunicação a proposta é, além de apresentar os resultados já obtidos na pesquisa realizada, pensar e repensar o papel da biografia intelectual, especialmente aquela que não lida com indivíduos reconhecidos como ícones e ou grandes nomes, e suas contribuições para a construção do conhecimento histórico. (ST47) Alessandro Henrique Cavichia Dias (Doutorando) “O Sucesso Galopante do “Boiadeiro” Sérgio Reis”: A Indústria Fonográfica e os (Des)acertos na construção da imagem do intérprete. Ao abordarmos as transformações sofridas pela música rural no Brasil, ao longo do último século, torna-se de fundamental importância destacar a trajetória artística de alguns intérpretes deste gênero, e ponderarmos que quando existe uma releitura da obra artística, o intérprete acaba por inserir sua roupagem à música que, muitas vezes, termina por ganhar um sentido diverso do qual foi criado. Dentre esses vários intérpretes nos salta aos olhos a carreira artística de Sergio Reis, por se caracterizar por um dos poucos cantores que consegue transitar com maestria entre diferentes gêneros musicais, uma vez que Reis inicia sua carreira como intérprete da Jovem Guarda alcançando nesse seguimento musical reconhecimento nacional como cantor de música jovem, e posteriormente com o a saturação deste gênero musical, muda seu enfoque para a música rural brasileira. Com isso, cabe questionarmos como Sergio Reis realiza essa transição e quais são os elementos que vão contribuir para a cristalização de sua nova imagem, e quais foram os acertos e desacertos entre o intérprete e a Indústria Fonográfica, e os procedimentos adotados tanto pelo cantor quanto pelo seu produtor para o inserir nesse novo nicho de mercado e legitimá-lo dentro dele, uma vez que tal mudança foi realizada de tal modo que permitiu a ampliação de seu capital simbólico, possibilitando que atualmente ele seja reconhecido nacionalmente pela mídia “especializada” como “autêntico” representante da pura música rural, ou seja, um incansável defensor da tradição, frente à constante modernização sofrida pelo gênero. A trajetória artística de Sérgio Reis irá nos possibilitar compreender o alcance do poder da Indústria Fonográfica nos anos de 1970, no Brasil, principalmente no que se refere a moldar a imagem de um intérprete para que atendesse a demanda de um determinado público. Pois, com um mercado consumidor crescente, torna-se fundamental lançar produtos que atendessem a essa demanda. Dessa forma, devemos salientar que por vezes a Indústria Fonográfica possui capacidade de moldar o artista de acordo com os anseios de mercado, anseios estes que muitas vezes são impostos por ela mesma, Sérgio Reis passou de um jovem roqueiro intérprete e compositor de iê-iê-iê para um autêntico representante da música rural, graças ao poder de transformação que a Indústria Fonográfica possui, permitindo que determinado intérprete transite entre segmentos musicais tão distintos. (ST26) Alexandre Andrade da Costa (Doutor) As caricaturas da política internacional na revista Inteligência: mensário da opinião mundial (1935-1941) A revista Inteligência: mensário da opinião mundial nasceu do encontro entre Mário Graciotti, jornalista de descendência italiana e Samuel Ribeiro, homem de negócios da

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capital paulista. Inspirada no periódico francês Le Mois: synthèse de l'activité mondiale, passou a circular a partir de janeiro de 1935, composta por textos e imagens selecionados de periódicos da imprensa internacional. Do material coligido destacam-se as caricaturas da política internacional, extraídas de revistas que compunham os campos da democracia e do totalitarismo naquele conturbado momento da história contemporânea. Pretende-se, a partir desta comunicação, caracterizar este material iconográfico e desvelar seus significados cotejando-os ao material textual publicado pelo mensário. (ST06) Alexandre Augusto de Oliveira (Mestre) O trajeto da ação educativa "Jundiaí: múltiplas temporalidades" A ação educativa "Jundiaí: múltiplas temporalidades" visa problematizar aspectos da historicidade do espaço urbano de Jundiaí no âmbito das discussões acerca do patrimônio cultural e educação patrimonial, buscando novas leituras e sensibilidades do espaço da cidade. A referida ação consiste em mediações, com diferentes grupos, em alguns locais do centro da cidade que têm significativa importância para a história e memória dos moradores de Jundiaí. Alguns desses lugares têm o estatuto de “patrimônio cultural”, no entanto, outros de suma importância caíram no esquecimento. Pretende-se, a partir da dinâmica proposta aos participantes, um exercício de descortinar o olhar referente ao espaço urbano, pois a cidade não é simplesmente um cenário, sendo a materialização da vida social com todas as suas contradições e disputas de poder e traz a sua historicidade impressa nas suas marcas e esquecimentos. Assim, “ler a cidade” implica também em aguçarmos nossa sensibilidade em relação ao que já estamos acostumados e começarmos a desvelar as camadas de história que formam a cidade. Os participantes são orientados, no momento do percurso, a comparar as suas apreensões da paisagem atual com o material usado (um conjunto de pranchas que os participantes levam consigo com reproduções de fotografias e de documentos textuais relacionados aos locais em questão), concomitante às suas vivências e memórias afetivas. Assim, ao perceberem mudanças e permanências, registros e esquecimentos, os participantes tendem a uma maior acuidade na apreensão da cidade, compreendendo a sua historicidade não com uma apreensão linear da história, mas sim com uma ideia da superposição de temporalidades que constituem as camadas do espaço urbano. (ST44) Alexandre Ricardi (Doutorando) “Qual o crime que cometi?” Trabalhadores versus capital privado e autoridade na Primeira República Nessa comunicação abordaremos as relações entre os trabalhadores urbanos do setor de serviços, as autoridades públicas e as companhias de serviços ligadas ao capital forâneo, nos utilizando de artigos de jornais do começo do século XX e de documentação oficial de algumas dessas empresas. Este setor floresceu fortemente em algumas cidades como São Paulo e Sorocaba graças à atuação da The São Paulo Light and Power ao inaugurar os serviços de bondes à tração elétrica em 1900, construindo para fornecimento de energia às suas redes as usinas hidrelétricas de maior porte no Brasil de então, a de Parnaíba com 16 MW em 1901 e a de Itupararanga com seus 37,5 MW iniciais em 1914. Em período de grande expansão industrial em São Paulo, em que os trabalhadores ocupavam cada vez mais a cena política, lutando por seus direitos, mas não tendo ainda conquistas significativas, as empresas de serviços públicos eram formadas por capitais estrangeiros em sua maioria e possuíam administrações subordinadas a acionistas sediados no Canadá, nos Estados Unidos e Inglaterra. As public utilities rapidamente estabeleceram uma relação de quase subordinação das autoridades públicas, acusadas por alguns veículos de comunicação de serem a “caixeira de interesses particulares”,

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primando mais por preservar os interesses dessas companhias do que dos trabalhadores. Estes sofriam constrangimentos diversos desde a dificuldade de exercer a greve, de forma alguma reconhecida como um direito naquele momento, como até a violência física e o descaso quando acidentados. Existe ampla bibliografia que procura rediscutir o imaginário criado em torno da ideia quase idílica de ser empregado da Light, porém podemos verificar pelas matérias abordadas que nem tudo eram flores na relação da Light and Power com seus funcionários, assim como algumas ações que demonstram que a companhia seguia em direção do reconhecimento de alguns direitos a funcionários e parentes. A relação entre trabalhadores e companhias tem aparecido em documentação coletada ao longo de nossas pesquisas sobre a implantação e o desenvolvimento do setor elétrico no Brasil, cujo foco no doutorado é a consolidação da Brazilian Traction, representante de capital financeiro internacional, e a construção da usina do Itupararanga. Desta feita, nos propusemos a analisar a ação dos veículos de comunicação que denunciavam o tratamento injusto e as intimidações sofridas pelos trabalhadores, assim como a atuação das companhias a partir de memorandos internos que registram as providências em casos diversos relacionados a acidentes, desligamentos, recomendações ou a defesa jurídica de funcionários em incidentes ocorridos durante seu horário de trabalho. (ST40) Alfredo Moreno Leitão (Doutorando) As Lutas contra o salazarismo no Brasil: estudos a serem aprofundados Esta pesquisa que desenvolvo em meu doutorado tem como objetivo aprofundar os estudos, ainda recentes no Brasil, a respeito da luta antissalazarista organizada por refugiados portugueses. Nesta pesquisa procurarei analisar a luta que se organizou em São Paulo, entre os anos de 1945 e 1974, prioritariamente, estudando dos jornais de resistência antissalazarista, Portugal Democrático e Portugal Livre; os jornais nacionais “simpatizantes”, O Estado de São Paulo, Ultima Hora e Novos Rumos (comunista); livros de memórias; e a documentação do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (DEOPS-SP). (ST06) Alice Mitika Koshiyama (Livre Docente/ ECA-USP) Maternidade: obrigação, recusa e escolha O trabalho problematiza a maternidade como parte da vida das mulheres. O tema será abordado em obras de autoras que refletiram sobre a condição da mulher na sociedade e na perspectiva de mulheres que levantaram o tema em sites e blogs polemizando sobre a questão. Mudanças na perspectiva de que ser mãe é o melhor destino para as mulheres estimula discussões e permite repensar o tema sob um novo olhar sobre a história atual. (ST45) Aline Benvegnú dos Santos (Doutoranda) Conjuntos imagéticos e tipologia no Românico Catalão: uma proposta de análise A partir do século XII, observa-se, na região da Catalunha, a renovação monumental de diversos edifícios monacais segundo novos padrões arquitetônicos e decorativos. A maioria dos monastérios reformados já existia desde o século X; porém, as novas construções seguem uma topografia monacal onde o claustro assume um papel central no edifício, além de incorporarem uma profusão de elementos ornamentais esculpidos. Segundo a bibliografia especializada no românico catalão, esses edifícios podem ser classificados em uma “tipologia de claustros ornamentais”, onde a diversidade de elementos fitomórficos, animais e geométricos é grande, porém não há significativos ciclos narrativos. Assim, a partir da renovação material dos monastérios, eles teriam passado a compartilhar um mesmo estilo escultórico e arquitetônico.

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Tomando como objeto de estudo os capitéis esculpidos presentes em alguns desses monastérios, a reflexão que aqui apresentamos procura estudar as relações entre os elementos esculpidos e as dinâmicas sociais em curso naquele momento na Catalunha românica. Para isso, acreditamos ser necessário nos afastarmos das tradicionais noções de estilo, baseadas na dicotomia entre forma e conteúdo, para analisar como as imagens medievais estão intrinsecamente ligadas à sociedade da qual participavam. (ST38) Aline Michelini Menoncello (Mestranda) Pedro Lessa: Um juiz a serviço da história O presente trabalho analisará os pareceres que Pedro Augusto Carneiro Lessa (1859-1921) realizou como membro da Comissão de História do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Sob a luz da História da Historiografia é possível interrogar: quais eram os critérios e os valores atribuídos por Pedro Lessa ao analisar a obra de um candidato à sócio do Instituto? No dia 23 de agosto de 1901, Pedro Lessa (1859-1921) foi agraciado pelo IHGB com uma vaga de sócio correspondente, no entanto, só tomou posse quase seis anos mais tarde, em 10 de junho de 1907, quando realizou o seu discurso. Pedro Lessa era, até aquela ocasião, professor da Faculdade de Direito de São Paulo, e alguns dias mais tarde, foi convidado pelo Presidente Afonso Pena a substituir Lúcio de Mendonça no Supremo Tribunal Federal (STF). Residir no Rio de Janeiro possibilitou a Pedro Lessa, não só exercer a sua função de juiz, mas também uma maior participação das atividades no Instituto, deste modo, ele passou de sócio correspondente para sócio efetivo e a trabalhar para a construção da história nacional. Mesmo não frequentando com tanta assiduidade, Lessa participava de comissões e apresentava estudos; foi eleito primeiro vice-presidente em 1909; concorreu à função de orador do Instituto em 1910 e 1911, mas perdeu as duas vezes para o Conde de Afonso Celso; em 1912, Lessa subiu de categoria, passou para sócio honorário; em 1915 voltou a concorrer ao cargo de primeiro vice-presidente, entretanto perdeu para Manoel Cicero Peregrino da Silva; mas em 1918 e 1919 ele foi eleito segundo vice-presidente. Uma das comissões mais importantes no Instituto era a Comissão de História, seus membros, e toda a diretoria, eram eleitos em Assembleia Geral. A Comissão era composta por cinco membros, dos quais pelo menos três, sendo um o relator, emitiam parecer avaliando a obra de cada candidato à sócio do Instituto. Caso o parecer fosse de aprovação, a Comissão de História recomendava o encaminhamento para a Comissão de Admissão de Sócios. Pedro Lessa foi membro da Comissão de História entre 1908 e 1921 (exceto no ano de 1912) e avaliou os trabalhos emitindo pareceres dos processos de que foi relator. Analisar tais pareceres nos possibilitará compreender os critérios e valores atribuídos às obras consideradas históricas por um juiz na Primeira República. (ST19) Amanda Mantoan Sabino (Mestranda) Os frades franciscanos e o relato sobre os cultos no oriente (séc. XIII e XIV) Em meados do século XIII, os seguidores de Francisco de Assis, ao construírem as bases da Ordem dos Frades Menores, idealizaram uma comunidade de religiosos comprometidos não apenas com o ideal de pobreza, mas também com a conversão de almas para Cristo. Esse empenho missionário, tão característico da ordem, fez com que os seus membros buscassem converter novos cristãos para integrá-los ao corpo de fiéis da Igreja tanto nas terras latinas quanto no oriente, sobretudo em regiões, como o império tártaro-mongol, onde inimigos da cristandade poderiam criar resistência para a manutenção da fé cristã. Nesse momento, são enviados ao oriente os primeiros franciscanos para colher, inicialmente, informações sobre o inimigo, mas, posteriormente, para iniciar as missões evangelizadoras. Levando em conta que alguns frades franciscanos deixaram por escrito relatos como itinerários, relatórios e diários de

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viagem, nos quais descreviam desde as dificuldades encontradas pelo caminho, até informações detalhadas dos costumes dos povos que estavam submetidos ao poder dos tártaros-mongóis, esta comunicação busca analisar como os missionários franciscanos – imbuídos da tarefa de converter em terras distantes - descreveram os hábitos religiosos dos tártaros e dos demais povos que conheciam em suas missões. Em outras palavras, como os franciscanos descreviam, em seu encontro com o outro, o que diziam ver com os próprios olhos, cabe sondar, igualmente, suas impressões sobre as práticas religiosas dessa gente que eles taxaram ora como boas ora como maléficas. Mais precisamente, o objetivo desta comunicação é examinar como o conhecimento acerca dos costumes religiosos dos tártaros-mongóis contribuiu para a ação missionária franciscana. (ST38) Amanda Peruchi (Mestranda) A paisagem urbana do Rio de Janeiro nos jornais franceses A cidade do Rio de Janeiro, no século XIX, passou por uma significativa modernização, fomentado, entre outros motivos, pela reestruturação do cenário urbano e pela melhoria dos meios de comunicação. Nesse palco, os jornais franceses publicados no Rio de Janeiro foram conquistando um espaço na imprensa carioca e destinaram à cidade imperial a maioria de seus escritos, na tentativa de fazê-la conhecida por seus leitores. Como protagonista das publicações, a capital do Império foi abordada sob diferentes ângulos como, por exemplo, os escritos sobre as transformações ocorridas em sua paisagem urbana. Desse modo, o principal objetivo desta presente comunicação é analisar os registros desses impressos franceses a respeito de alguns melhoramentos na paisagem que tiveram como propósito deixar o Rio de Janeiro mais urbano e mais moderno. (ST19) Amélia Oliveira (Doutora/FAJOPA) A abordagem biográfica em história da ciência A produção de biografias heroicas está entre as mais antigas formas de escrita histórica sobre o passado do desenvolvimento científico e tem sido objeto de controvérsias na literatura historiográfica sobre a ciência. Neste trabalho, discutimos algumas considerações de Maurice Daumas, Hèléne Metzger e Herbert Butterfield acerca dos escritos biográficos na história da ciência, buscando mostrar como a inserção de novos tipos de abordagens trouxe consigo uma crescente crítica ao potencial histórico das biografias. A análise dessa crítica permite identificar uma mudança gradual na historiografia da ciência do século XX que, ao mesmo tempo em que evidencia as principais características da visão tradicional do desenvolvimento científico, suscita uma reavaliação do papel da escrita biográfica na história da ciência. (ST47) Amir Aparecido dos Santos Piedade (Doutorando) Os programas de livros de apoio para os professores de Educação Básica do Ministério da Educação no início do século XXI: política, história, ideologia Nos últimos anos, o Ministério da Educação (MEC) vem desenvolvendo uma extensa e silenciosa mudança nos livros de apoio pedagógico utilizados na formação contínua dos professores nas escolas públicas de Educação Básica de todo o país. A partir de sua edição em 2010, a criação do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) nas escolas públicas tornou-se um divisor de águas na produção de livros para docentes. O MEC tornou-se um indutor, como já havia feito com os livros didáticos na primeira década deste século, do modelo de material almejado nas escolas públicas, e isto também significa qual perfil dos professores é desejado. É sempre bom lembrar que, em quase todas as escolas públicas, os professores e os alunos têm disponível apenas os livros adquiridos e distribuídos pelo MEC. Dados a extensão geográfica do Brasil, a quantidade de escolas públicas, o número de alunos e de

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professores, o governo brasileiro tornou-se um dos maiores compradores de livros do mundo. Por isso, em uma ação política conectada com a dimensão ideológica que permeia esse processo, tomou também para si a responsabilidade de induzir autores e editores dos assuntos, teoria e metodologia que deseja ver contempladas nos livros, tanto didáticos quanto de apoio aos professores. Tal mudança mexeu significativamente com o mercado editorial e com os autores que antes norteavam as aquisições governamentais. Isto significava que aqueles que possuíam um trânsito político maior eram os mais contemplados. A pesquisa em andamento procura analisar os editais do MEC para o PNBE do professor neste início de século, a análise, seleção e impacto desses livros enviados às escolas públicas. (ST18) Ana Alice Silveira Corrêa (Pós-graduada) Suely Sani Pereira Quinzani (Pós-graduada) Daniela Vilela Peixoto (Pós-graduada) Revivendo a tradição: a doçaria típica da cidade de Itu no período do século XVI ao XIX Este artigo pretende resgatar a doçaria da cidade de Itu desde a época do bandeirantismo até meados do século XIX. Importante polo canavieiro no período colonial e importante conexão das entradas e bandeiras paulistas, a cidade possui relevantes tradições culinárias rurais, principalmente em doces, pelo fato de ter sido responsável por 20% da produção açucareira total paulista. Neste contexto, pretende-se reviver as doces lembranças dessa doçaria, famosa à sua época e que se perdeu no tempo deixando para trás um doce emblemático, a espingarda, que ficou no esquecimento. Utilizando-se de referencial bibliográfico, análise de receituário e história oral, pretende-se resgatar essa doçaria tão representativa da cidade de Itu e presente na mesa ituana no ciclo da cana de açúcar. Desta forma, perante o que a época representou para brasileiros e paulistas desta região, temos não só a formação da doçaria brasileira, notadamente de ascendência lusitana, mas a formação de uma aristocracia com base no latifúndio agrário, no engenho de açúcar e na escravidão africana. (ST22) Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel (Pós-doutoranda) "Remando contra a maré": a contraconduta na obra de Rita Lee O trabalho analisa como a contraconduta esteve presente na vida e na obra musical de Rita Lee. A compositora jamais se subordinou aos rótulos sociais e culturais impostos pelo patriarcado. Em sua obra, se insurgiu contra a censura, o controle dos corpos, das ideias e do desejo, mostrando que mesmo em tempos sombrios, as linhas de fuga podiam ser constantemente recriadas e reinventadas. A pesquisa se referencia pelo conceito de poética feminista estruturado a partir dos trabalhos de Lucia Helena Viana, Elaine Showalter, Linda Hutcheon, Rosi Braidotti, Margareth Rago e Heloísa Buarque de Hollanda, e pelas concepções teóricas de Michel Foucault, Suely Rolnik, Gilles Deleuze e Félix Guattari. (ST45) Ana Carolina De Moura Delfim Maciel (Pós-doutora/Centro de Memória UNICAMP) Societá Italiana del Lavoro e Progresso. Vittorio Palumbo e a memória italiana em Sousas – SP Assim como várias localidades brasileiras, o distrito de Sousas - situado na região de Campinas - recebeu imigrantes italianos durante as últimas décadas do século XIX. Nos primeiros anos do século XX o contingente populacional de 2 mil moradores radicados no vilarejo era predominantemente italiano, sendo que a este se somavam 28 mil habitantes da zona rural. Nessa época seu traçado urbanístico concentrava-se às margens do rio Atibaia, vindo posteriormente a se expandir para os arredores da Matriz de Sant’Anna, circundada por entrepostos comerciais animados pelos colonos das fazendas

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cafeeiras da região que ali circulavam em busca de serviços, compras e medicamentos. Nesse cenário havia espaço para um teatro onde funcionava a sede da “Societá Italiana del Lavoro e Progresso” fundada em 1894 para auxílio à comunidade imigrante. Tal edificação, bem como suas atividades de fomento à memória e à cultura italianas, resistiu ao tempo e, ainda nos dias atuais, prossegue difundindo a cultura italiana. Na presente comunicação apresentarei o depoimento audiovisual captado com o atual diretor da Societá, o italiano Vittorio Palumbo. Sua trajetória de vida, marcada pela imigração do pós II Guerra Mundial, bem sua atuação em prol da manutenção da memória italiana “sousense”, dão a tônica da referida entrevista. (ST18) Ana Gabriela Da Silva Santos (Pós-graduanda) A obra "Direito de Família" de Lafayette Rodrigues Pereira e a questão do casamento civil brasileiro Durante a primeira metade do século XIX no Brasil, a Igreja católica deteve exclusividade sobre os direitos matrimoniais, pois era a única instituição em que os registros dos atos da vida civil da população - nascimento (batismo), óbitos e casamentos - tinham reconhecimento jurídico. Com o aumento da população imigrante no país, sobretudo de protestantes, surgiram problemas do ponto de vista jurídico, pois por ser recusarem a celebrar o casamento em uma instituição católica, a união entre cônjuges acatólicos foi considerada neste momento como ilegítima perante a Igreja e o governo. Desta situação decorriam diversos problemas, dentre os quais podem-se destacar o divórcio e a sucessão dos bens pertencentes a estes. Diante essa situação, o governo promulgou a lei n. 1.144, de 11 de setembro de 1861, que reconhecia juridicamente o casamento de acatólicos. Este deveria ser celebrado conforme a religião dos cônjuges, por pastores autorizados e registrado no livro fornecido pelas Câmaras Municipais. Contudo, essa medida acabou por legitimar ainda mais a importância da religião no casamento, sendo a sua definição - um ato religioso ou um contrato estatal - um dos pontos principais do debate para a sua regulamentação. Diante à necessidade de uma organização das normas e o funcionamento dos diferentes tipos de casamentos, entre católicos e acatólicos, Lafayette Rodrigues Pereira (1834 - 1917) publicou, em 1869, a obra "Direitos de Família”. Advogado e jurista, sua obra foi considerada como importante fonte de doutrina para juristas e legisladores durante as décadas finais do século XIX e início do XX para tratar dos dispositivos legais que pretendia regular as condições, a forma e a validade do casamento, contribuindo, de sobremaneira, para à discussão e formação do casamento civil no período republicano. Com isso, pretende-se refletir a influência da obra de Lafayette no processo de regulamentação do casamento civil, no contexto da publicação de sua obra, em 1869, até a promulgação do primeiro Código Civil brasileiro, em 1916, que tornou o casamento civil como princípio base para a família. (ST36) Ana Heloisa Molina (Pós-doutora/UEL) Imagens sobre História do Paraná em livros didáticos de História e as construções visuais da paisagem: memória e identidade Essa comunicação propõe-se a refletir acerca das imagens sobre História do Paraná, em especial o tema paisagem, que circulam em livros didáticos de História voltados à Educação Básica em seus variados suportes e as construções ou as reafirmações de determinadas memórias de cunho regionalistas inscritas nesses documentos. Para tanto irá pensar acerca das questões relativas ao livro didático enquanto artefato cultural, as especificidades dos livros didáticos de história regional, as mudanças no livro didático em sua materialidade e em seu design e analisar alguns exemplos retirados de livros didáticos de História do Paraná como motes para pensar as memórias e identidades inscritas em tais páginas. Entendemos que os fragmentos de memória coletiva consubstanciados em imagens referentes à História do Paraná são portadoras de

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referências de construção social e significativa do passado que articulam os processos de formação da identidade e de memória coletivas com a trama vital de cada individuo. Concordamos com Carretero quanto ao conceito de memória coletiva como explicitada Memória coletiva para nos referirmos a processos de lembrança e esquecimento produzidos em coletividades, que se apoiam em instrumentos da lembrança, sejam objetos materiais (monumentos comemorativos, a toponímia urbana ou geográfica, nomes de prédios ou navios, imagens impressas em papel moeda), mediadores literários (relatos, mitos, etc), sejam rituais (comemorações, efemérides). Eles atuam como material, como argumento e como roteiro para a representação (sempre dramatúrgica) de algo já desaparecido, mas, que tem utilidade, pelo menos para alguns que participam, executam e dirigem os atos de lembrança que se sustentam sobre esses artefatos culturais. (CARRETERO e outros, 2007, p. 19) Nesse sentido, os autores alertam ainda “(...) Os atos de lembrança sempre estão a serviço das ações presentes, são recordados para que se possa sentir, evocar, imaginar, desejar ou sentir-se impelido a fazer algo, aqui e agora, ou em um futuro mais ou menos próximo”. (CARRETERO e outros, 2007, p. 19)A evocação ou imaginação que as imagens sobre a História do Paraná provocam em textos didáticos da Educação Básica significa pensar como essas em diferentes suportes sejam fotografias, pinturas, litogravuras, ilustrações entre outros constroem referências sobre história local e memórias em crianças em processo inicial de organização de conceitos e conhecimento escolar e jovens com trajetória escolar mais delineada. (ST10) Ana Paula Giavara (Mestre) A ANPUH-SP e as políticas educacionais paulistas para o ensino de História: diálogos Em um tempo de incessante desenvolvimento tecnológico, de imediatismo e de mídias massificantes, ganham força as tarefas de memória. Proliferam-se relações intrínsecas e contraditórias entre a aceleração do tempo e a vocação memorialista. Trata-se de uma cultura da velocidade e da nostalgia que propõe tarefas de “patrimonialização” e “musealização” do passado, inscritas como políticas de Estado, produção acadêmica e meios de comunicação. Nesse contexto, a história disciplinar passa por reformas, como a protagonizada desde 2008 pelo programa educacional São Paulo faz escola, implementado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo – SEE-SP, cujas ações incluíram a padronização dos currículos e a distribuição de materiais didáticos para todas as disciplinas do ensino fundamental – ciclo II e ensino médio estaduais. Esta atuação foi amplamente criticada pelos acadêmicos especializados, sobretudo pelo empobrecimento que relegou aos saberes específicos da disciplina histórica. Assim, surge a problemática: qual o posicionamento acadêmico frente à reforma empreendida pela SEE-SP? A resposta será buscada a partir do exame das comunicações dos Seminários Temáticos de Ensino de História da Associação Nacional de História – ANPUH/São Paulo, entre os anos de 2008 a 2014. A escolha de tais fontes justifica-se pelo histórico de participação da ANPUH nas questões relativas à defesa do ensino de História, sobretudo nos debates dos anos de 1980. De tal forma, objetiva-se investigar o posicionamento acadêmico ante as políticas educacionais paulista para o ensino de História. Para efetuação desse trabalho, dois recursos metodológicos serão adotados conjuntamente: “análise do discurso” e “estado da arte”. (ST05) Ana Paula Tavares Magalhães (Doutora/USP) Escrita da História e auto-representação na Ordem Franciscana (séculos XIII e XIV) Podemos dizer que, ao longo dos primeiros séculos de existência da Ordem, a elaboração de uma narrativa histórica teve implicações fundamentais para a formação de uma identidade franciscana. Ao buscar uma associação dos frades a suas origens e ao idealizar um papel histórico fundamental a Francisco e à sua Ordem, alguns franciscanos

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acabaram por definir as linhas de um pensamento histórico da Ordem de Assis. Há uma miríade de personalidades, posicionamentos e posturas entre esses intelectuais – desde a consagrada ortodoxia de São Boaventura (1221-1274) até o radicalismo dos Espirituais (com sua própria diversidade interna), de que são testemunhos os escritos de Pedro de João Olivi (1248-1298), Ubertino de Casale (1259-1328) e Ângelo Clareno (1247-1337). Procuraremos, aqui, traçar as linhas gerais de um discurso franciscano sobre sua a História – da Ordem, da Igreja e da humanidade. (ST38) Anderson Montagner Martins (Pós-graduando) Cinema e História: uma reflexão sobre o filme Redes e o contexto político e cultural do México Revolucionário da década de 1930 O presente trabalho tem como objetivo refletir como o filme Redes (1936) se insere no contexto político e cultural do México Revolucionário da década de 1930. O filme fez parte de um projeto financiado pelo governo mexicano através da SEP (Secretaría de Educación Pública) que pretendeu realizar uma série de filmes educativos com claro objetivo ideológico. Porém, devido a uma reorganização política, apenas Redes foi finalizado. Dirigido por Fred Zinnemann, co-dirigido por Emilio Gómez Muriel e fotografado por Paul Strand, além da participação de outros profissionais, como Silvestre Revueltas (trilha sonora), Gunther von Fritsch (montagem) e Ned Scott (fotografia de produção), o filme narra a luta de um grupo de pescadores de Alvarado, pequena cidade litorânea do estado de Veracruz, contra as injustiças impostas por um empresário e um político local. Acreditamos que o filme, além de fazer parte de uma tradição de produções culturais vinculadas ao governo mexicano, serviu como meio de divulgação dos ideais presentes na proposta de implantação da "educação socialista" no país elaborada pelo PNR (Partido Nacional Revolucionario), que tinha como objetivo a transmissão de um conhecimento científico da realidade social, livre de qualquer doutrinação religiosa. (ST10) André Camargo Lopes (Doutorando) Santa na foto: o trânsito entre a tradição oral e a Igreja na construção da devoção a imagem de Nossa Senhora Aparecida O presente trabalho objetiva expor a construção da devoção a Nossa Senhora Aparecida no trânsito das apropriações entre a tradição oral e o discurso oficial da Igreja. Deste modo a análise se desdobrará a partir da abordagem de duas fotografias realizadas entre as décadas de 1930 e 1980, por fotógrafos da Praça Nossa Senhora Aparecida no qual a presença de painéis narrativos promovem adequações da devoção aos discursos de origem e do símbolo nacional. Na primeira imagem, produzida em 1980, o primeiro elemento a ser estudado é a construção da narrativa de origem. Na segunda imagem, produzida após a consagração da Santa como Padroeira do Brasil, são os milagres da origem devocional, somados ao símbolo nacional que serão analisados. Em ambas as abordagens desdobrar-se-á a inclusão dos adereços narrativos, sua origem legitimadora e seus contextos geradores, especificamente os esforços da Igreja Católica em intervir sobre a devoção popular a partir de sua imprensa em idos de 1900 – especificamente em 1904 (quando da coroação) e em 1930 (consagrada Padroeira do Brasil). A análise se fecha com a definição de uma visualidade da Santa no imaginário devocional a partir das fotografias de Robin & Favreau (1869) e André Bonotti (1924). Consolidação esta, amplamente popularizada Imagem por impressos originários do trabalho destes fotógrafos, estabelecendo no imaginário popular as bases visuais de um conjunto de narrativas orais, compiladas pelos missionários católicos entre os séculos XVIII e XIX, que constituíram o universo devocional de Aparecida. (ST10) André Figueiredo Rodrigues (Doutor/UNESP Assis)

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Joaquim Silvério dos Reis e o sistema de contratos nas Minas Gerais colonial: leituras historiográficas e fontes de pesquisas A comunicação pretende discutir as leituras realizadas pela historiografia sobre o sistema de contratos das cobranças de direitos (dízimos) e de tributos (registros de passagens) na capitania de Minas Gerais, durante o período colonial, atentando-se para o caso do contratador Joaquim Silvério dos Reis, que arrematou o contrato das entradas para o triênio de 1º de janeiro de 1782 a 31 de dezembro de 1784. Para tanto, analisaremos as leituras historiográficas realizadas sobre os sistemas de contratos e as fontes de pesquisa existentes sobre as cobranças arrematadas por Silvério dos Reis, o primeiro denunciante da Inconfidência Mineira. (ST47) André Luiz Marcondes Pelegrinelli (Pós-graduando) Memória e Sensibilidade Imagética no Primeiro Século Franciscano: a multiplicação de sentidos nas imagens do episódio da pregação aos pássaros Memória e sensibilidade, entendido como forma de percepção, se fundem na imagética produzida durante o primeiro século da Ordem dos Frades Menores após a morte de Francisco de Assis (1182-1226). Amiúde, após a morte de um fundador, o grupo dele surgido precisa repensar sua própria identidade e escolher a herança difundida dos ideais primitivos. Nesse sentido, o conflito entre os grupos espirituais e conventuais no seio da Ordem Franciscana se liga a construção da memória do fundador buscando dar maior ênfase sob sua interpretação do ideal de vida do irmão franciscano, distanciando ou aproximando a imagem do fundador à imagem do frade desejado em seu tempo. A prática de ver imagens, ligada essencialmente aos sentidos, se revela valorosa ao pensar a construção do legado de Francisco nas imagens: não importa apenas o que é figurado, mas como é. Os afrescos “predica agli uccelli” do Maestro di San Francesco e de Giotto, ambos na Basilica di San Francesco, em Assisi, foram pintados, respectivamente, entre 1260-1265 e 1290-1295, e apesar dos elementos figurados serem bastante parecidos, a forma como são apresentados poderia alterar ou multiplicar os sentidos sob as imagens. Percorrendo a imagética do primeiro século franciscano referente ao episódio da pregação aos pássaros, refletiremos sobre essa potência de múltiplos sentidos oferecida pelas imagens das diferentes histórias da vida de Francisco de Assis. (ST38) André Rocha Leite Haudenschild (Doutor/UFU) Trovadores diaspóricos: tensões civilizatórias entre o sertão e a cidade na Música Popular Brasileira (1964-1985) A proposta do trabalho é identificar e problematizar algumas das tensões civilizatórias que se estabelecem entre os meios rurais e urbanos da vida social brasileira através da análise da música popular brasileira produzida entre as décadas de 1960 e 1970. Trata-se de investigar a constituição de uma tópica que se propaga como uma longeva tradição poética em nossa canção popular: a experiência diaspórica vivenciada por seus atores sociais, no trânsito migratório aos centros protagonistas do processo de modernização nacional, no decorrer do século XX, e que vai se manifestar como uma tensão civilizatória crescente entre os universos culturais do “sertão” e da “metrópole”. Ao tomarmos como objeto de análise um determinado escopo de canções e os depoimentos de seus próprios autores, almejaremos entender a constituição de uma experiência diaspórica, retrospectivamente - como uma temática germinal na cultura popular brasileira atrelada à invenção do “sertão” como um “espaço de memória”, físico e imaterial; e perspectivamente - como a manifestação de um sintomático “mal-estar civilizatório”, que vai se disseminar na canção popular brasileira a partir de meados da década de 1960. Para tanto, faz-se necessário compreender-se os processos identitários dessas representações culturais a partir do discurso musical de seus mediadores culturais, em sua maioria, compositores nordestinos, que, enquanto sujeitos sociais

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portadores de uma alteridade (Said, 2007), ousaram reinventar as imagens míticas e estereotípicas do universo sertanejo, através de suas próprias experiências diaspóricas (Hall, 2008). (ST26) Andre Rosemberg (Doutor/PUC-SP) A (in)disciplina na Força Pública (1870-1930) Este trabalho visa apresentar os resultados preliminares de pesquisa sobre a disciplina/indisciplina na Força Pública entre o final do Império e a Primeira República. É um trabalho que pretende escrutinar os meandros da construção da instituição policial, num momento chave da inserção do país na “modernidade”, se justifica plenamente. Ainda mais, se considerarmos a importância do arcabouço policial judicial na construção das bases politicas do Brasil emancipado, e, no regime republicano (principalmente em São Paulo), da mesma forma, a importância com se revestiu a legislação criminal e as burocracias policiais no controle de uma população submetida a um novo contrato, em que a cidadania (formal) foi investida para todo o corpo social e as expectativas de distribuição de capital politico e de benefícios sociais se reforçaram. Andrey Minin Martin (Doutorando) “Energia para o progresso”: o papel do periodismo no desenvolvimento energético nacional Durante as décadas de 1950 e 1960 consolida-se no Brasil um novo momento econômico, por meio da aprovação e desenvolvimento de projetos governamentais calcados em setores industriais, como energético e de bens de consumo. Buscou-se integrar o país em um projeto modernizador, que agregasse todas as regiões em um novo ritmo de desenvolvimento, ligado a uma transformação territorial dos investimentos juntamente com maciça migração interna. Neste contexto, o interior do Brasil ganha destaque na imprensa nacional a partir da instalação do denominado Complexo Hidrelétrico Urubupungá. O objetivo deste trabalho é analisar como este projeto foi articulado por uma gama de jornais e revistas como elemento central para modernização e desenvolvimento do país, a partir do planejamento e instalação de duas mega hidrelétricas, a Usina Hidrelétrica Engenheiro Souza Dias e a Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, no rio Paraná. Para tal análise, a partir de um debate teórico-metodológico entre memória e imprensa, ligadas a um corpo documental amplo, como atas de reuniões, documentos da CESP (Companhia Energética de São Paulo) elencamos periódicos dos estados fisicamente conectados a obra (Mato Grosso do Sul e São Paulo), quais sejam: O Estado de São Paulo e a Revista Visão, paulista, e o jornal Correio do Estado e a revista Brasil-Oeste, de sul-matogrossenses. Tais periódicos mostraram-se pertinentes na construção e divulgação de cada etapa do empreendimento, projetando não somente regional, mas nacionalmente os benefícios do empreendimento. Logo, a partir destas fontes, buscaremos analisar como o periodismo articulou uma série de transformações para o interior do país, modos de vida, a paisagem e as relações político-sociais, que se ligam diretamente a construção das memórias sobre este tempo histórico. Analisando as fontes, percebemos que o fluxo migratório e o crescimento econômico nacional ocorreram em meio a uma série de discursos legitimadores sobre a necessidade do empreendimento, seu ideário de progresso e uma nova imagem para o Brasil, isto mesmo antes do início das obras. Desta forma, interesses privados, disputas pela legitimidade, pelo poder e assim, memórias foram gestadas ao longo das décadas de 1950 e 1960 e marcaram a construção do complexo hidrelétrico até seu término na década de 1970, estabelecendo ligações com marcos de memória do passado e deixando desdobramentos para o futuro. (ST34) Angela Ribeiro Ferreira (Doutora/UEPG)

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Acervo digital, museu e formação de professores de História: uma experiência no colégio Regente Feijó em Ponta Grossa-PR Este trabalho visa discutir as possibilidades de trabalho com a memória escolar a partir da organização de arquivos escolares e museu. Trata-se de um projeto de pesquisa, ensino e extensão desenvolvido por professores do Curso de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG e do Colégio Estadual Regente Feijó. O escopo do projeto é organizar em acervo digital a documentação do colégio, cuja fundação data de 1927. Além disso, o projeto se propõe a organizar um Museu da Escola, com objetos e documentos da cultura escolar. Destaca-se no conjunto de atividades a interconexão entre a formação inicial de docentes e historiadores que através do Estágio Supervisionado integram o projeto; a relação com a formação continuada de professores; e o desenvolvimento de ferramentas e metodologias de digitalização e organização de acervos documentais digitais. (ST05) Angela Teixeira De Almeida (Mestranda) O Samba-Canção na década de 1950 A década de 1950 é conhecida como “Era Dourada do Rádio”, veículo de comunicação que propagava vários estilos musicais, como o carnavalesco, o baião, o tango, o bolero e o samba-canção, e por isso foi criticado pelo escritor e jornalista Ruy Castro, que afirmou que o cenário musical da época parecia uma grande “quermesse”. O artigo tem como objetivo analisar nesse cenário musical, o samba canção, um gênero pouco estudado na historiografia da música popular brasileira. A partir da identificação de seus principais compositores, interpretes e os ambientes desse estilo musical, busca-se caracterizar algumas de suas particularidades, de acordo com as transformações teórico-metodológicas e a problematização das letras de compositoras como material documental. O estilo samba-canção exalta o amor-romântico ou o sofrimento de um amor não realizado, conhecido também por dor-de-cotovelo ou fossa, sendo que Maysa e Dolores Duran ocuparam uma posição de destaque como compositoras e intérpretes desse estilo. Pretendemos, a partir da análise de letras compostas por essas mulheres identificar um ethos feminino dentro de tal gênero musical. (ST26) Angelica Müller (Doutora/UNIVERSO) O trabalho da CNV e das Comissões universitárias: novos arquivos e a construção de uma memória histórica sobre o período da ditadura nas universidades A instalação da Comissão Nacional da Verdade (CNV) – Lei n° 12.528, de 18 de novembro de 2011, motivou o surgimento de diversas comissões da verdade específicas nas universidades. Espalhadas por todas as regiões do país e, em grande parte, articuladas com a CNV, as diversas comissões universitárias enfrentaram situações diferentes em torno da efetivação de seus objetivos. Em comum, uma questão: romper com a cultura do silêncio e construir a cultura do acesso à informação, no sentido de reconstruir os episódios que marcaram os campi brasileiros durante os chamados “anos de chumbo”. O presente trabalho visa apresentar um panorama dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade juntamente com as Comissões da Verdade Universitárias realizados ao longo do ano de 2014, seus obstáculos e avanços bem como indicar caminhos de pesquisa através da nova documentação que vem sendo descoberta e trabalhada. Os esforços das comissões da verdade universitárias representam uma oportunidade única para a comunidade universitária reencontrar, contar, enfim, conhecer episódios que ocorreram na universidade durante os “anos de chumbo”. O contato da comunidade universitária com esses conjuntos documentais e com os testemunhos coletados poderá contribuir para a superação da cultura do silêncio e do sigilo que ainda assombra nossa sociedade. Assim, além da recuperação e da produção de novas fontes de pesquisa, tais iniciativas

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devem apontar para a superação de todas as manifestações da cultura política autoritária: na sociedade e nas universidades. Possibilitando, através do direito à informação e do direito à memória, a efetiva consolidação da democracia brasileira. (ST42) Annateresa Fabris (Livre Docente/USP) Presença da ausência A comunicação propõe-se a discutir a problemática da representação fotográfica da presença da ausência dos presos-desaparecidos na Argentina, Chile e Uruguai durante os regimes militares das décadas de 1970 e 1980. Para tanto foram selecionados três ensaios fotográficos que permitem analisar o significado da ausência no âmbito familiar e público: "Os filhos. Tucumán vinte anos depois "(1996-2001), de Julio Pantoja (Argentina); "Despedida - O amor diante do esquecimento" (2007), de Claudio Pérez (Chile); "Olhares ausentes" (2000), de Juan Ángel Urruzola (Uruguai). (ST10) Antonio Marco Ventura Martins (Doutorando) Escravidão e Estado na província de São Paulo no século XIX A necessidade em atender a crescente demanda por braços escravos na economia paulista do século XIX, constituiu-se em uma dinâmica que exigiu estratégias para a manutenção e redefinição do tráfico negreiro e da escravidão na província que conformou seu jogo político no momento de constituição do Estado nacional. No entanto, há carência de estudos que privilegiem abordagens que permitam conhecer com maior precisão as especificidades da construção histórica dessa relação entre Escravidão e Estado a partir da ótica provincial. Assim, a presente comunicação analisa a complexa relação desse binômio em São Paulo, no período compreendido entre os anos de 1831 e 1871. As balizas temporais foram definidas, respectivamente, a partir das consequências geradas pela lei que aboliu o tráfico atlântico negreiro para o Brasil e pela legislação do ventre livre. Tomou-se por hipótese que a escravidão se tornaria cada vez mais central como elemento definidor das esferas econômica e social na província, o que geraria uma articulação política que se refletiria na organização da própria dinâmica do poder provincial. Para o estudo foi selecionado um corpus documental composto pelos Anais da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo com o objetivo de contribuir para o avanço da compreensão das particularidades que a demanda por braços escravos africanos gestou ante a expansão econômica paulista oitocentista e seus alcances na conformação social e política da província. (ST19) Antonio Ricardo Calori De Lion (Mestrando) “É Fogo na Jaca”: performance drag queen no teatro de revista dos anos 1950 Este trabalho tem por tema discutir a atuação da drag queen Ivaná na peça de revista da Companhia Teatral Walter Pinto e na sociedade da primeira metade dos anos 1950. A pesquisa sobre esta “vedete transformista” está ainda em seu início e o que se tem no momento são resultados de reflexões sobre a apresentação dela na mídia impressa da época e sua estreia nos palcos brasileiros na revista teatral “É Fogo na Jaca”, em 1953. Objetiva-se pensar a projeção dessa sujeita queer no meio teatral nos anos dourados problematizando a repercussão de sua imagem enquanto “travesti” vedete (como era chamada naquele momento) propondo uma reflexão sobre o problema de gênero presente na performance do ator/atriz dentro dos pressupostos da Teoria Queer. Tanto os referenciais teórico-metodológicos sobre o uso das mídias impressas para a pesquisa histórica, quanto os pressupostos metodológicos de Robert Paris sobre o uso do texto teatral são as bases para se pensar as análises e reflexões acerca da atuação dessa drag queen no cenário artístico dentro do recorte temporal supracitado. O diálogo interdisciplinar entre História, Teatro e Teoria Queer é extremamente necessário para colocar a sujeita em questão como protagonista da construção de um olhar crítico acerca

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das possibilidades do período, que alavancou a carreira artística de um artista que dava vida a uma personagem feminina, se deslocando do palco para a sociedade com certo carisma que é percebido nas publicações em que Ivaná aparece na primeira metade dos anos 1950, elegendo sua estética feminina “superior” a aparência masculina do ator que lhe dava vida: Ivan Monteiro Damião. Neste contexto queer, entre a estranheza de conotar beleza a Ivaná e tratar seu corpo masculino enquanto abjeto frente a sua personagem pode ser destacado, talvez, uma inversão de valores sociais em que a drag queen é colocada em nível mais elevado do que a condição masculina cisgênera do ator que a vive. Se montar para Ivan Damião se torna mais do que uma questão artística, é uma profissão que o mantém no estrelato por algum tempo, aclamada sua atuação enquanto vedete do teatro de revista de Walter Pinto e – após o sucesso inicial – com a companhia teatral de Zilco Ribeiro. A peça “É Fogo na Jaca” coloca Ivaná em destaque, e pela crítica especializada da época torna-se um grande espetáculo de variedades em seus quadros que possibilita o seu encantamento pelo público. É percebido que o sucesso de Ivaná se deve por ela não ter a pretensão de se passar por uma “amapô”, e sim por já ser tratada enquanto “travesti” pela mídia justamente por atrair as atenções ao espetáculo, se tornando parte de uma grande campanha publicitária realizada pela Companhia Walter Pinto. (ST27) Antonio Simplicio de Almeida Neto (Doutor/UNIFESP) Paulo Eduardo Dias De Mello (Doutor/UEPG) Memórias e escritos do ensino de história: apontamentos iniciais Nas últimas cinco décadas o ensino de história vem se constituindo como campo profícuo de pesquisas no Brasil, notadamente a partir dos anos 1980, o que se traduz na profusão de práticas e propostas curriculares e que se projetam em diversos encontros da área; em programas de Pós-Graduação específicos; na constituição de diversos grupos de pesquisa; na ampla literatura especializada e no processo de internacionalização dessas pesquisas. A história do ensino história revela que desde a constituição dessa disciplina escolar no Brasil no século XIX, diversos intelectuais e docentes atuaram na elaboração, debates e difusão de propostas para reformulação, renovação ou reestruturação do ensino de História praticado nas escolas sem, contudo, pelo menos até meados dos anos 70, situarem-se num campo específico vinculado ao espaço acadêmico das universidades. As tentativas de balanços acerca do campo de pesquisas sobre o Ensino de História que buscam entender os caminhos de sua constituição e as transformações pelas quais passou ao longo das décadas de 70 e 90 do século XX e na primeira década do atual século são fortemente marcados por divergências e disputas em torno da memória sobre o campo, além de sofrerem uma decisiva influência de processos relacionados à globalização ou hibridização cultural que afetam as pesquisas em âmbito internacional, resultando em interpretações diferenciadas sobre o processo de formação e consolidação do campo, denotando formas de aproximação e apropriação diferenciadas da pesquisa de âmbito internacional e disputas internas. O trabalho aqui apresentado refere-se a projeto de pesquisa interinstitucional em andamento (CNPq processo nº 471240/2014-1, envolvendo a UNIFESP, a UEPG e a UFRN), cujo propósito é investigar os processos de constituição do campo do ensino de história nas últimas cinco décadas no Brasil e mapear como se configuraram as dinâmicas de sua delimitação “territorial” de pesquisa a partir de registros diversos, enfatizando aspectos históricos e socioculturais com destaque para suas origens e transformações, a constituição de sua comunidade, os programas de pesquisa, os eventos, as publicações e os projetos, suas relações com a formação dos professores e as formas de intervenção nas políticas educacionais. Assim, intentamos: a) identificar e b) mapear alguns dos principais pesquisadores/autores dessa área no Brasil, promover um c) levantamento de sua obra e d) coletar suas narrativas orais, sempre que possível, de

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modo a construirmos um e) amplo painel das contribuições desses pesquisadores em suas f) várias tendências e g) transformações, produzindo um h) banco de dados organizado em i) polos de pesquisa localizados na UNIFESP, UEPG e UFRN e a constituição de j) acervos de livros e outras publicações. (ST05) Antonio Thomaz Júnior (Livre Docente/UNESP Presidente Prudente) Trabalho e Saúde do Trabalhador no Ambiente Degradado do Agrohidronegócio no Brasil Temos utilizado o conceito de agrohidronegócio nos nossos estudos, por entendermos que o capital quando busca terras planas, férteis, com logística favorável etc., fecha o ciclo das decisões para formatar seu projeto de controle do território se apoderando também da disponibilidade hídrica. Assim, seja superficial, seja de aquíferos, a água está no centro das disputas e conflitos territoriais. Vale destacar os Perímetros Irrigados, no Nordeste; os povos cerradeiros, no Centro-Oeste, ou em Goiás, que foram expulsos para as bordas das Chapadas com o avanço dos monocultivos para exportação (soja, milho), e no Mato Grosso, também o algodão; da cana-de-açúcar, na Zona da Mata, Cerrados e na Mata Atlântica, do Centro-Sul, com as atenções para Aquífero Guarani, segundo maior do planeta. É necessário acrescentar nessa rota de exclusão, nos últimos anos, mais intensamente, que milhares de famílias camponesas estão sendo desterreadas da "periferia" do "progresso" pelo capital e pelo Estado, com a construção de PCH's e UHE's, claro, que, em nome do desenvolvimento. Sem nos esquecer que os aquíferos são objeto de cobiça do capital há séculos e nós não enxergamos essa invisibilidade que tem garantido poder e vantagens diferenciadas para o projeto monocultor/latifundista/agroexportador, que tanto tem penalizado e condenado milhões de trabalhadores à exclusão, à desterreação, e a população em geral às doenças, aos riscos crônicos das contaminações, das doenças de toda monta e, como se constata por meio das pesquisas que muitos de nós estamos envolvidos, numa nova fase da exclusão social no ambiente do agrohidrongécio, essa, pois, referenciada na "revolução química", que no limite, nos condena a todos. (ST40)

Arleandra de Lima Ricardo (Doutoranda) Adalgisa Cavalcanti: Bela, comunista e 1ª Deputada Estadual de Pernambuco Essa discussão do tipo ideal de mulher: “bela, prendada e do lar”, permeou para não retroagirmos muito na periodicidade, toda a década de trinta (após a liberação do voto feminino de 1932), quarenta e adentrou à década de 1950. Como observamos esta em alta em pleno século XXI, nos idos anos de 2016 em que pela segunda vez uma Presidenta, Dilma Rousseff ocupa na história o maior cargo político de um país patriarcal, moralista, machista e sexista. Romper essa mentalidade de mulher “ideal”, nos anos de 1930 a 1950 – para não se dizer em todo período contemporâneo que estamos inseridos, era o mesmo que desestruturar a função da mulher. Os “poderosos conservadores da boa família com Deus” acreditaram que poderiam conservar o velho paradigma “bela, prendada e do lar”. (ST45) Arrovani Luiz Fonseca (Doutorando) Cronistas da cidade na Belle Époque cafeeira: entre o passado e o tempo presente No interior paulista da marcha cafeeira a cidade de São Carlos despontou com um dos municípios mais dinâmicos dessa economia. Como forma de registrar as transformações pelas quais perpassaram tanto o espaço urbano simbolizado pelo epíteto do progresso e de projetos urbanísticos que procuravam forjar uma identidade alinhada com a modernidade capitalista (a Belle Époque) como o rural foram produzidos seis almanaques no período que recobre a Primeira República. Em seus conteúdos havia como marca característica a ideia de atualização dos dados da localidade, crônicas sobre a história local, fotografias, anedotas, textos de ciência e filosofia, publicidade, tabelas de

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horários de trens, etc. Focalizando como parte de pesquisa que vimos realizando sobre tais almanaques, apresentamos uma análise sobre as crônicas da cidade de São Carlos produzidas por Cincinato Braga(1894), Philipe Ladeia de Faria(1915) e Theodorico Leite de Camargo (1915) pessoas ligadas a atividades políticas locais que demarcaram em suas escritas uma memória sobre a cidade bem como o tempo de sua mudança. Procuramos analisar tais textos na medida que eles enunciam uma dada imagem da cidade de São Carlos em cada cronista. (ST18)

Arthur Daltin Carrega (Mestrando) A questão da terra e da pequena propriedade no boletim da “Sociedade Central de Immigração” no final do século XIX. Este texto pretende desenvolver uma reflexão sobre a questão da terra e da pequena propriedade nas páginas do boletim “A Immigração” da “Sociedade Central de Immigração”, publicado entre os anos de 1883 a 1891. O incentivo a pequena propriedade era considerado pela Sociedade um dos principais atrativos para a imigração espontânea de famílias europeias. Influenciados pelo modelo imigrantista dos Estados Unidos e por ideias do liberalismo inglês, a SCI acreditava que os imigrantes europeus seriam agentes do desenvolvimento material, social, econômico e cultural do Brasil, considerado como uma “nação atrasada”. (ST39) Artur Sinaque Bez (Doutorando) História e documentário no Brasil: Nelson Cavaquinho, de Leon Hirszman (1969). Trata-se de indagar-se acerca das representações sobre o popular e o nacional produzidas no documentário "Nelson Cavaquinho" (1969), do brasileiro Leon Hirszman. O filme é rodado um dia após a promulgação do AI-5, e mostra o sambista carioca Nelson Cavaquinho em companhia de amigos e familiares. Em meio a canções e depoimentos, o documentário traz a tona um homem triste pela perda recente de um sobrinho, mas também um cineasta preocupado com a situação política de seu país. Por meio da análise fílmica, incitaremos o debate a respeito da montagem no documentário brasileiro, num momento de readaptação do documentário direto no país. (ST34) Aureo Busetto (Doutor/UNESP Assis) Entre política e ficção televisiva – as minisséries “O Marajá” e “O Brado Retumbante” . Produzida e anunciada, em 1993, pela extinta TV Manchete, a minissérie “O Marajá”, cuja trama se baseou na culminância e queda política de Fernando Collor, ficou longe dos olhos dos telespectadores. Fruto de determinação da Justiça a pedido do ex-presidente, mesmo fatos da vida pessoal e política dele terem sido ampla e cotidianamente enfocadas até então por telenoticiosos. Levada ao ar pela TV Globo, em janeiro de 2012, a minissérie “O Brado Retumbante”, cujo protagonista é um político que, no cargo de presidente da Câmara dos Deputados, acaba por assumir a Presidência da República, não colheria grande audiência, quer por desfavoráveis elementos referentes ao período e horário de exibição quer pela trama política ficcional não se prender a fundo histórico, expediente muito apreciado pelo telespectador típico de minisséries, ou não conseguir evidenciar para o público em geral uma proximidade com o quadro político então vigente. As tramas de ambos os conteúdos televisivos se desenrolam num quadrante em que a democracia é ameaçada pela corrupção política, resultando, cada qual à sua maneira, em processos de impeachment. No primeiro caso, obviamente, a realidade se entranharia no enredo e forneceria o seu final, ou seja, o impeachment do presidente. No segundo, o enredo engloba processo de impeachment, porém, sua motivação e o seu resultado diferem dos que a vida política nacional vivenciaria em 1992. Mas a trama política da minissérie da Rede Globo fica em aberto, a se resolver num possível futuro (teledramatúrgico e/ou político). Elementos relativos à produção e veiculação, assim

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como os de forma e conteúdo, das duas minisséries quando compreendidos à luz das principais relações históricas entre TV e política fornecem subsídios à reflexão sobre o campo de possibilidades para a teledramaturgia enfocar temas, agentes e processos políticos da recente história democrática do Brasil. (ST34) Beatriz Da Costa Pan Chacon (Mestre/USP) These three e The children's hour: dois retratos, duas histórias Este trabalho visa analisar as duas versões do filme Infâmia, que tem como cerne uma mentira e seus desdobramentos, o preconceito e a intolerância. Em 1936, a mentira diz respeito a uma jovem que manteria envolvimento com o noivo de sua amiga e, em 1961, aponta para um relacionamento entre duas mulheres. Como a mentira surge, se infiltra na vida de três pessoas e as consequências que gera na vida deles e toda a comunidade à volta. Quais os preconceitos envolvidos e sua origem. A intolerância é ou não é um fenômeno temporal? O filme, em sua 2ª. versão, ainda no faz tomar contato e promover uma reflexão sobre um período vital da história norte-americana, isto é, o período macarthista que, por sua vez, insere-se no auge da Guerra Fria. (ST16)

Benedito Inácio Ribeiro Júnior (Mestre) As mulheres entre duas histórias: narrativas historiográficas, gênero e mulheres no Brasil (1997 e 2012) As obras "História das Mulheres no Brasil" (PRIORE, 1997) e "Nova História das Mulheres no Brasil" (PINSKY; PEDRO, 2012) marcam a produção historiográfica contemporânea como obras de referência para os estudos feministas, das relações de gênero e sobre as mulheres. Publicadas num intervalo de 15 anos, as histórias e as mulheres presentes nelas refletem expectativas e experiências políticas, institucionais, acadêmicas, editoriais, historiográficas e de gênero características de cada momento. Também expõem como e se os estudos acadêmicos acompanharam as movimentações sociais, culturais e políticas operadas pelos feminismos das últimas décadas. Além disso, os dois trabalhos apresentam diferentes objetivos, métodos, fontes, recortes temporais e narrativas acerca da história das mulheres quando analisados em perspectiva comparada, bem como quando cada um deles é estudado internamente. Nesse sentido, essa comunicação busca refletir sobre a publicação das duas obras em questão com a intenção de evidenciar os esforços historiográficos para compreender experiências passadas das mulheres brasileiras e, da mesma maneira, olhá-las a partir de seus contextos acadêmico e político de produção. (ST45) Bianca Melzi de Domenicis (Mestre) Nos fundos da sociabilidade: usos e funções dos quintais nos cortiços de São Paulo (final do século XIX e início do XX). Apesar de existirem até hoje na capital paulista, os cortiços foram fadados ao desaparecimento através de legislações sanitárias e medidas de transformação urbana por estarem fora dos padrões higiênicos e estéticos moldados para São Paulo a partir do final do século XIX. Entre as causas para a permanência dos cortiços em São Paulo, está a resistência espontânea: a coletividade dos cortiços gerou uma versão de sociabilidade necessária e enraizada nas famílias populares da cidade que, de acordo com Richard Morse, demandaria uma reeducação da população no sentido de transformar sua forma de vida. Morse ainda acentua que essa transformação não precisaria ser total, pois a organização dos cortiços proporcionou aos seus habitantes a criação de uma vida em comunidade que poderia ser preservada para o convívio na metrópole industrial que se desenhava.

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Essa sociabilidade se constrói na própria coletividade do cortiço. A vida neste tipo de habitação é administrada de modo a transitar entre o particular e o compartilhado. Nesse sentido, há um lugar onde a coletividade atinge seu ápice dentro do compartilhamento de espaços do cortiço: o quintal. Entre outras coisas, o quintal serve como espaço de aprendizagem, lugar onde se divide experiências, trabalhos e se compartilham brincadeiras e hábitos alimentares. A própria configuração de família transmuta-se no quintal. Podendo multifacetar-se em espaço de lazer, educação, trabalho, alimentação ou banheiro, o quintal pode ter uma ou diversas funções dentro do cortiço dependendo dos moradores que o habitam e da configuração física da casa, mas em todos os casos, mantém sua característica coletiva. (ST37) Breno Girotto Campos (Graduado/UNESP Assis) O filme como documento histórico: o caso de O Álamo (1960), de John Wayne A utilização de filmes como documento histórico, campo ainda limitado mas crescente no Brasil, permite a compreensão da história no âmbito das mentalidades. A partir dela, podemos questionar qual a visão que determinado grupo faz sobre o seu "outro", como na questão das produções que envolvem conflitos entre EUA e México. No caso das encenações da Batalha do Álamo, um importante episódio para ambas as nações que até hoje é relembrado a partir de filmes, suas constantes refilmagens permite entender qual é a memória que os EUA mantém deste episódio e qual é a relação que se estabelece com seu vizinho latino. Tendo em vista o papel pedagógico dos filmes, o questionamento sobre qual a representação do México difundida nos EUA se faz de extrema importância para se entender a perspectiva posta pelos americanos perante a América Latina. Tomando o filme como um difusor de ideias e admitindo seu caráter pedagógico, há de se questionar quais são as intenções do diretor ao produzir um filme. Dessa forma, a presente comunicação tem como objetivo apresentar o filme O Álamo, dirigido por John Wayne, como um rico documento histórico sobre os anos de 1960, assim como sobre a representação do México e mexicanos no cinema norte-americano. (ST10) Bruna Dos Santos Beserra Pereira (Mestranda) Mulheres internadas no Sanatório Pinel de Pirituba (1929-1944) Análise de casos de pacientes do sexo feminino em instituição psiquiátrica particular nas primeiras décadas do século XX na cidade de São Paulo, visando compreender os discursos normativos impostos às mulheres, produzidos e legitimados pela medicina. (ST25) Bruna Grasiela Da Silva Rondinelli (Doutoranda) João Caetano, Intérprete do Drama Romântico e Melodrama nos Palcos Brasileiros do Século XIX: dramaturgia e arte da cena A partir de uma tendência metodológica proveniente da História da Literatura, que privilegia o estudo do texto dramático nacional em detrimento das manifestações nos palcos, a historiografia teatral brasileira do século XX compartimentou, frequentemente, a história do teatro de acordo com a ideia de evolução das escolas literárias (do neoclassicismo ao romantismo, depois ao realismo, e assim por diante). Além disso, diferenciou uma dramaturgia que seria de elevado valor literário, realizada pelas penas de autores canonizados pela História da Literatura, de uma dramaturgia menor, constituída por gêneros de pouco prestígio literário, como o melodrama e a opereta. Como consequências, temos: 1) o que fazia referência aos palcos foi tratado como uma narrativa anedótica ou um acontecimento chave para se estabelecer datas que marcariam o início, o auge ou o fim de um movimento dramático; 2) autores e obras foram relegados ao esquecimento. Este trabalho, um desdobramento da pesquisa de Doutorado que desenvolvemos acerca do repertório de dramas românticos e melodramas

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representados nos palcos brasileiros durante a primeira metade do século XIX, aborda três pontos: em um primeiro momento, discutimos como as recentes contribuições da História Cultural e o advento de tecnologias da informação (principalmente as bases de dados que facilitaram o acesso aos periódicos e manuscritos do século XIX, como a Hemeroteca Digital e a BNDigital, ambas mantidas pela Biblioteca Nacional) imprimiram novo fôlego aos estudos de história do teatro brasileiro oitocentista; em seguida, ponderamos sobre a consideração dos intérpretes e das companhias dramáticas atuantes nas salas de espetáculos do Brasil, tanto da Corte do Império quanto das províncias, na primeira metade do século XIX, como elementos primordiais para um estudo mais concreto do texto dramático; por fim, analisamos o papel do ator e empresário teatral João Caetano dos Santos (1808-1863) como um dos principais intérpretes do repertório romântico. Assim, concluímos que a história do teatro brasileiro da primeira metade do século XIX pode ser enriquecida se considerarmos a ação dos intérpretes, agentes essenciais na criação de uma peça nos palcos e sua difusão para o público. (ST27) Bruna Queiroz Prado (Doutoranda) Nas entrelinhas da performance: o papel das cantoras de MPB na produção de reflexão crítica sobre a ditadura militar. O campo da música popular é caracterizado, desde seu surgimento no Brasil, pela atuação, majoritária, dos homens como compositores e letristas e das mulheres como cantoras-intérpretes. Sendo assim, em busca de apreender a contribuição feminina para a produção de conhecimento histórico por via da música proponho, no presente trabalho, a análise da performance - entendo-a como a inscrição de narrativas em uma ação vocal e corporal - de Elis Regina no espetáculo Falso Brilhante (1976), cuja importância foi atestada pela quantidade de público e de crítica que mobilizou, tendo sido um dos discos mais vendidos da história da MPB. Adotando a forma de espetáculo de música teatralizado, o trabalho apelou para os sentimentos e sensações do público através da força expressiva da intérprete, somada ao figurino, iluminação, arranjos musicais e direção cênica. Utilizando-se das canções de maneira metafórica obteve, ainda, o êxito de realizar a crítica à ditadura militar pelas entrelinhas. Recentemente tivemos acesso a documentos da época da censura que demonstram que o roteiro passou ileso pelos seus analistas, embora tenha sido descrito posteriormente, por diversos historiadores, como Marcos Napolitano, como uma obra de crítica ao regime. Dominando o campo da performance vocal e corporal as mulheres tiveram, pois, um papel preponderante na produção de conhecimento histórico e político no Brasil nesta época, ao se valerem de formas expressivas cujas narrativas passaram despercebidas pela censura, centrada no discurso direto e objetivo das palavras, levando ao exílio compositores considerados como porta-vozes da esquerda política no período, como Chico Buarque e Caetano Veloso. Assim, mais do que veículo das obras, considero estas cantoras como tendo igual importância, em relação aos autores, na produção de uma visão crítica da ditadura militar, ao mobilizarem o público por meio de algo mais profundo e subjetivo que o texto, sensibilizando-o e contribuindo para a geração de uma História oficial que descreveu o período como sendo de sombra e violência. Entendendo a performance, seguindo Paul Zumthor, como um diálogo entre artista e público, selecionaremos um trecho do espetáculo mencionado onde seja possível captar, de maneira mais acentuada, esta interação, ou seja, momentos em que a cantora arranca reações da plateia, em forma de palmas, gritos, risadas, entre outras demonstrações de emoção. Analisaremos, então, os conteúdos simbólicos que estão além da palavra: a voz em sua materialidade (timbre, dinâmica e cor), os gestos corporais, entre outros

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elementos capazes de mobilizar o ouvinte mesmo que este não compreenda o que a letra da canção quer dizer. (ST26) Bruno José Zeni (Mestrando) Ditaduras Militares brasileira e argentina: Um olhar sobre a Propaganda Política Oficial no Cinema. O presente trabalho tem por objetivo repensar a maneira como as Ditaduras Militares brasileira e argentina atuaram no ramo cultural, mais especificamente no Cinema para veicular a propaganda política dos regimes. Para atingir esse objetivo, utilizaremos uma produção cinematográfica de cada país. No caso brasileiro, à película utilizada para a pesquisa é “Batalha dos Guararapes” (1978), e, no caso argentino, “De Cara ao Cielo” (1979). Estas películas serão pensadas de duas formas. Em primeiro lugar, buscaremos evidenciar seus elementos em comum, elos de ligação, como o fato de ambas recorrem à eventos históricos caros a cada um dos países em questão, de se utilizarem dos militares como personagens centrais dos filmes, bem como também o fato de ambos os filmes terem sido financiados por empresas estatais e órgãos de regulamentação durante o seu contexto de produção. E, em um segundo momento, pensar como estas produções fílmicas podem ser analisadas em suas especificidades, sobretudo no tocante aos eventos ocorridos em seus respectivos países nos contextos ditatoriais. A partir de 1966 e mais especificamente a partir de 1973 o regime militar brasileiro voltou seus olhos para o cinema nacional criando nesse período órgãos governamentais para fomento, produção e divulgação de seus feitos. Um destes foi a Empresa Brasileira de Filmes S. A. (EMBRAFILME) que garantia aos cineastas o financiamento, a produção e a divulgação dos filmes que contivessem o selo da empresa estatal. Todavia, antes da criação desta empresa já existia o Instituto Nacional de Cinema (INC), desde o ano de 1966. No caso argentino, desde 1957 já existia órgão semelhante, que nos anos ditatoriais da década de 1970 ganhou novo formato, atuando no sentido de controle da produção cinematográfica daquele país. Outro órgão reutilizado pelos argentinos foi o “Ente de Calificacion Cinematográfica”, criado em janeiro de 1969 e reaproveitado durante a última ditadura argentina. Assim, as produções fílmicas do período, aqui utilizadas como fonte documental, mas também como objeto central da pesquisa se configuram em importantes caminhos para que se possa compreender como os regimes ditatoriais em questão atuaram no ramo cinematográfico para difundir e propagar seu conteúdo ideológico, e através disto, reforçar e solidificar sua manutenção no poder. (ST10) Bruno Moreschi (Doutorando) Novos modos de visitação - Experiências em museus históricos e nacionais O presente trabalho está relacionado ao projeto de doutorado realizado pelo pesquisador Bruno Moreschi no Instituto de Artes da Unicamp e na University of the Arts of Helsinki (Finlândia). Moreschi realiza uma pesquisa que propõe uma série de visitas não tradicionais em museus históricos em diversos locais do mundo, sempre com a intenção de problematizar e revelar os mecanismos ideológicos da narrativa oficial dessas instituições. No Brasil, o pesquisador realiza experiências no Museu Paulista, em São Paulo (SP). De 2013 a 2022 (data prevista), a instituição encontra-se fechada ao público para a realização de uma complexa reforma. Todo o acervo da instituição será deslocada, com exceção de sua mais conhecida obra: a pintura Independência ou Morte, realizada em 1888, por Pedro Américo. O projeto pretende discutir uma série de questões teóricas/conceituais desse momento em que um museu histórico e uma das mais icônicas pinturas históricas do Brasil permanecem indisponíveis. Como tratar agora as reproduções fotográficas da tela; suas diversas releituras e o imaginário produzido por ela aos milhões de visitantes que ali já estiveram?

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No primeiro semestre de 2016, Moreschi foi selecionado pela CIMO Fellowship para ampliar sua pesquisa e propor novas maneiras de se visitar museus na Europa. De janeiro à junho, o pesquisador realizou aproximações diversas em instituições históricas e nacionais - cada qual de acordo com o contexto. Os museus escolhidos foram: Ateneum, Helsinki, Finlândia; Arktikum Museum e Korundi Museum, Rovaniemi/Lapônia, Finlândia; Hermitage, St. Petersburgo, Rússia; Museu Nacional de Artes da Romenia, Bucareste; Kadriorg Palace, Tallin, Estônia; National Gallery of Art, Vilna, Lituânia; National Museum of Latvia, Letônia; Nordic Museum e National Museum, Stockholm, Suécia. National Museum e The Viking Ship Museum, Oslo, Noruega; National Museum, Warsaw, Polônia; Museu Nacional da Catalunha, Barcelona; e Museu do Prado, Madri, Espanha. Para cada uma dessas instituição, uma nova maneira de se visitar. Dois exemplos: no Hermitage, St. Petersburgo, Moreschi decidiu visitar o museu três vezes, mas sempre sem abrir os olhos, guiado por diferentes pessoas. Desse modo, reconstruiu parte do museu a partir de fotografias que tirava sem enxergar e a partir das descrições das pessoas que o conduziram - decidir jamais ver as obras de um museu histórico pode ser um ato político? No Ateneum, Helsinki, o pesquisador frequentou quase que diariamente o café do museu e listou os principais acontecimentos ali para entender como um museu histórico pode também ser visto como um ponto de encontro em uma cidade. Experiências como essas serão relatadas em sua apresentação a partir das práticas realizadas até o momento e de bibliografia relacionada ao tema. (ST44) Bruno Omar De Souza (Doutorando) Poéticas da história no Antigo Regime português: os poetas, a história e o lugar-comum da pacificação dos afetos sediciosos nas letras luso-brasileiras. A comunicação investiga o regime de historicidade do gênero histórico-poético das epopeias luso-brasileiras produzidas no século XVIII, em Portugal e na América portuguesa. Teorizada por Voltaire, em 1726, no Ensaio sobre o poema épico, a noção de histórias poéticas, à maneira das epopeias, aparece em ocasiões distintas e segundo interesses diversos dos letrados do Império português, e se refere a práticas letradas típicas do período, que devotam respeito à ordem social hierárquica da monarquia e aos pactos de sujeição entre as diferentes partes do Império. Fazendo uso das técnicas de linguagem disponíveis àquele período, tais como o lugar-comum, a imitação, a prescrição de comportamentos sociais e a definição do caráter dos personagens heroicos para a efetiva mímesis do público, os textos representam o dever-ser da sociedade, segundo o direito. O texto analisa duas dessas obras: o poema épico Joanneida ou A Liberdade de Portugal defendida por D. João I, de Jozé Correa de Mello e Britto d´Alvim Pinto, publicada em 1782, em Lisboa; e o poema Vila Rica, do árcade Cláudio Manuel da Costa, escrito em 1773, em Minas Gerais. O primeiro trata da narrativa dos conflitos gerados pelas guerras de sucessão monárquica no século XIV, em Portugal, conhecidas como Revolução de Avis, e tem como herói o aclamado rei, d. João I; o segundo, narra a história da pacificação das Minas, no início do século XVIII, na América, por obra de Antônio de Albuquerque, que governou a capitania das Minas durante o conflito que opôs paulistas e emboadas, entre 1709 e 1710. Vila Rica tem como herói a figura deste governador. Ambas as obras aplicam e desenvolvem técnicas retóricas que definem aspectos do comportamento virtuoso do herói pacificador dos afetos sediciosos das multidões. Os autores definem versões da história luso-brasileira, que no contexto em que são produzidas, mostram a eficácia simbólica com que o Estado cumpre seu dever, pacificando os afetos e promovendo a ordem num mundo de hierarquias e conflitos de legitimidade. (ST19)

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Bruno Sanches Mariante Da Silva (Doutorando) A puericultura entre ciência e educação: uma análise dos Boletins da Legião Brasileira de Assistência Fundada em 1942, sob o comando da primeira-dama Darcy Vargas, na conjuntura do esforço de retaguarda brasileiro na Segunda Guerra Mundial, a Legião Brasileira de Assistência logo se ocupou do amparo às famílias dos soldados brasileiros enviados ao combate mundial na Europa. Nesse contexto, a partir de 1945, a LBA passou a publicar o Boletim da Legião Brasileira de Assistência, com o propósito primeiro de manter informados os soldados na Europa sobre suas famílias, e também estas sobre os pracinhas brasileiros em guerra, com grande ênfase na troca de correspondências e amparos a ambos grupos (família e combatentes). Contudo, com o fim do conflito mundial, as ações da LBA e de seu Boletim voltaram-se à proteção à infância e à maternidade no Brasil. A puericultura, os cuidados com o bebê, as medidas higiênicas e o combate à mortalidade infantil passam a preencher as páginas dos Boletins. Em verdade, há a divulgação de preceitos de uma maternidade moderna. A mulher, entendida como essencialmente mãe, é a grande interlocutora dos Boletins e alvo das ações da LBA em todo o Brasil, é para elas que são escritas as matérias tanto sobre puericultura quanto sobre a maternidade moderna, do ponto de vista médico-higienista e comportamental; e também para elas que são realizados cursos de puericultura por todo o território nacional (não só para as mães, mas também para as parteiras e as chamadas “curiosas”, vistas como possíveis disseminadoras do conhecimento). Corroborado (e fomentando) a elaboração de uma maternidade “moderna” são publicados nos Boletins da LBA preceitos de uma alimentação moderna, de uma higiene moderna e, sobretudo, de sociabilidades e educação modernas. A proteção à infância (e nisso inclui-se a proteção às gestantes) é entendida como um grande ato civilizatório e, sobretudo, patriótico, uma vez que salvaguarda as gerações futuras de cidadãos da pátria. Desse modo, na presente comunicação, espera-se poder refletir sobre a construção de sentidos sobre a maternidade moderna, largamente apoiada na puericultura, e os debates deles decorrentes nas edições do Boletim no ano de 1951. (ST01) Camila Bueno Grejo (Doutora/UEL) A Revista de Derecho, Historia y Letras: política interna e problemas argentinos no início do século XX Desde meados do século XIX as revistas expressavam a vida intelectual dos países latino-americanos. Utilizadas como um instrumento menos efêmero que o jornal, as revistas de caráter político e intelectual transformaram-se no local onde os intelectuais construíam sua notoriedade. Este trabalho visa demonstrar a importância da Revista de Derecho, Historia y Letras na produção editorial argentina do início do século XX, uma vez que esta se constituiu num importante espaço aberto por Estanislao Zeballos para discutir as inquietudes e propósitos daqueles que queriam construir a nação movidos pelo impulso intelectual, bem como o espaço aberto pela revista para discutir o movimento operário e as experiências políticas da esquerda argentina no início do século XX a partir da perspectiva da elite dirigente. (ST32) Camila Rodrigues Da Silva (Mestre) Entre Maria e as dores: cotidiano e subjetividades de mulheres em situação de violência doméstica, Marília – SP (2006-2014). A pesquisa tem como objetivo identificar os impactos da implementação da Lei Maria da Penha/2006, após a confirmação de sua constitucionalidade (2012), priorizando relatos orais de mulheres em situação de violência doméstica residentes na cidade de Marília e região. O método utilizado baseado na História Oral foi entendido como instrumento analítico-metodológico para apreender as experiências vividas e as trajetórias de vida

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femininas evidenciando que elas são sujeitos da história e portadoras de direitos. O acesso ao método das oralidades nos possibilitou trazer indagações a respeito das dificuldades a elas apresentadas em relatar a sua história diante do processo traumático e de violência a que foram submetidas. Foi possível evidenciar as resistências do judiciário local quanto à aplicabilidade da Lei Maria da Penha e a interiorização da dor, sofrimento e silêncio rodeados pela desproteção e descaso que as rodeiam, quando, ao procurarem atendimentos especializados, não são respaldadas pela lei. Essas mulheres foram consideradas por nós sobreviventes da violência doméstica e de cada ato violento cometido contra elas, tornando-se prisioneiras dos seus próprios lares ao longo dos anos. Deste modo, na prática, a lei se encontra falha quanto a sua real efetivação e aplicabilidade na cidade de Marília e em outras cidades do país e as dificuldades e barreiras para sua implementação são de ordem material e de recurso humano, como também os fatores culturais e as representações de gênero arraigados na mentalidade daqueles que são ou foram responsáveis por sua execução. Diante desse cenário pudemos problematizar as múltiplas identidades femininas que no processo de identificação assumem e produzem uma variedade de possibilidades e novas posições, tornando as identidades mais posicionadas, políticas, plurais, menos fixas e unificadas compreendendo como são (re)significados os papeis identitários de ser mulher, mãe, companheira, dona-de-casa e profissional dessas mulheres que constantemente assumem novos posicionamentos cotidianos além-sobrevivência. Por fim, a pesquisa procurou romper com estereótipos de passividade entendida como condição feminina, evidenciando termos como agência e empoderamento para designar a existência do elemento ativo da ação individual; no caso, as ações individuais dessas mulheres e suas mobilizações em grupo. (ST25) Carla Drielly Dos Santos Teixeira (Mestre) A radiodifusão como prática comercial e cultural, 1931-1937 O setor radiofônico, nos anos de 1930, esteve marcado por contradições que se refletiam na estrutura organizacional das estações e em sua grade de programação. Em meio a projetos culturais e comerciais, no Brasil, o rádio instalou-se na fronteira entre o modelo europeu, cuja programação deveria produzir os frutos de cultura e educação tão carentes à população, e o modelo norte-americano, que possuía na propaganda publicitária a fonte de sua sobrevivência financeira. Por contar com certo desenvolvimento técnico e com as primeiras experiências de conglomerados midiáticos compostos por rádio e jornal, a radiodifusão adquiriu contornos de atividade comercial voltada à difusão cultural. Este trabalho busca expor os limites e possibilidades da atuação comercial do rádio brasileiro com base na consulta das edições diárias dos jornais Diário de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Folha da Manhã, O Globo, Jornal do Brasil e Correio da Manhã. (ST34) Carlos Alberto Menarin (Doutor/UNESP Assis) Meio ambiente, Museus e História(s) das cidades no vale do Médio Mogi-Guaçu (1969-2012) Promover um estudo crítico da história apresentada pelos museus dos municípios de Descalvado, Pirassununga, Porto Ferreira e Santa Rita do Passa Quatro, localizados no vale do rio Mogi-Guaçu. Vestígios da ocupação indígena, cafeicultura, ferrovia, imigração, organização da vida urbana, são temas recorrentes nesses museus e articulados a um espaço comum, definido pela presença marcante do rio Mogi-Guaçu. Ao revisitá-los criticamente, buscamos maximizar as conexões entre essas instituições, seus acervos e a história local com o entorno, em suas dimensões socais e ambientais. (ST37)

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Carlos Alberto Sampaio Barbosa (Doutor/UNESP Assis) Fotógrafos brasileiros na América Latina durante a Ditadura Militar: primeira aproximação Juca Martins e Pedro Martinelli Na década de 1950 e os primeiros anos de 1960 as fotografias cujo tema era a América Latina estampadas na imprensa comercial brasileira em geral reforçavam os estereótipos negativos: espaço dos golpes, das rebeliões, da instabilidade política e dos ditadores. Essa representação recebeu uma nova camada de interpretação com a Revolução Cubana, que se num primeiro momento a vitória dos "barbudos de Sierra Maestra" foi saudada como heróica, com a definição do novo regime como socialista, passou a ser retratada como um Estado violento e tirânico, símbolo do perigo vermelho sobre o continente. (Baitz, 2003) No Brasil após o Golpe de Estado de 1964 e a instauração do regime militar o país e o fotojornalismo se transformam, surgem novos periódicos e ocorre uma reorganização na profissão do fotógrafo de imprensa. O objetivo dessa comunicação é apresentar os primeiros avanços de uma investigação referente aos fotógrafos brasileiros que registraram eventos políticos na América Latina durante o regime militar brasileiro. Busco verificar como as imagens produzidas encontraram um circuito de distribuição tendo em vista o Estado de exceção e verificar se a representação de nosso sub-continente foi diversa do período anterior. Nessa apresentação vamos nos deter nos fotógrafos Juca Martins e Pedro Martinelli e suas atuações no conflito da Nicarágua e El Salvador. (ST10) Carlos Gustavo Nobrega De Jesus (Doutor/PUC-SP) O Nacionalismo antilusitano nas páginas de Gil Blas A revista Gil Blas surgiu em fevereiro de 1919, em meio à sucessão presidencial e num contexto histórico marcado pelo crescimento do ideal nacionalista. Eixo aglutinador de tais propostas, o estudo da revista nos auxiliou a compreender parte das iniciativas que viriam compor as diretrizes da direita e extrema direita surgida nos anos 1930, entre elas o Integralismo e a militância católica. No entanto, diferentemente do que fizera a historiografia até o momento, o periódico não pode ser estigmatizado segundo esse único viés. Ao longo de sua trajetória (1919-1923), a publicação atravessou várias fases, manifestas na alteração de seu subtítulo, materialidade, objetivos e colaboradores, ao sabor de interesses diversos. Desta forma, pretende-se salientar a fase inicial da revista, quando optou-se por divulgar um nacionalismo xenófobo de cunho antilusitano, proposta que estava na ordem do dia, principalmente no Rio de Janeiro, então Capital Federal. Além disso, a análise aprofundada de uma série específica de artigos nos permite levantar a hipótese que tal postura, também, pode ser entendida como resposta a um nacionalismo português extremado divulgado por intelectuais portugueses em publicações nacionalistas lusitanas da época, entre elas destaca-se o periódico O Povo de Aveiro, publicado pelo jornalista Francisco Manuel Homem Christo, entre a décadas de 1890 a 1940. (ST06) Carolina Melania Ramkrapes (Pós-graduanda) Amizade e subjetividade nos movimentos feminino e feminista do Ceará: Rosa da Fonseca, Maria Luiza Fontenele e Célia Zanetti Entre as décadas de 1960 e 1980, os movimentos feminino e feminista do Ceará se organizaram politicamente e criaram espaços de luta contra a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), assim como apontaram problematizações referentes à cultura machista que marcava a sociedade cearense. Juntos, constituíram vínculos de afeto, resistindo ao imaginário excludente das mulheres para a amizade. As disputas amorosas, intrigas, ciúmes e rivalidades, ligadas exclusivamente ao universo privado, estabeleciam um lugar comum para as relações femininas, há décadas em processo de desconstrução por parte dos feminismos. Portanto, o objetivo é apresentar reflexões acerca dos deslocamentos

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subjetivos e as relações de amizade tecidas no espaço de militância política, no Ceará, entre Rosa da Fonseca, Maria Luiza Fontenele e Célia Zanetti. Vivenciando a experiência da tortura, clandestinidade e perseguição política, os elos estabelecidos entre essas mulheres trazem amizade, política e feminismos, que se entrecruzam continuamente, na desconstrução de discursos e práticas que reafirmam lugares, identidades e impossibilidades de afeto. O dissenso, a tensão, o embate poderiam compor quadros para uma relação que se denomina como “amizade”? Parto da ideia que as relações entre as mulheres, em suas lutas femininas e feministas, desestabilizaram os “regimes de verdade” das amizades masculinas, intimistas e fraternais, conforme descreve Jacques Derrida. Seguindo o desafio lançado por Michel Foucault em 1984, se fizermos da amizade um modo de vida diferente, uma elaboração contínua de si na relação com outro, a constituição de subjetividades éticas e livres torna-se um questionamento relevante para a historiografia do período. Na atuação no MFPA e UMC, Rosa, Célia e Maria criticaram estereótipos, subverteram papeis sociais, tecendo laços com outras mulheres que politizavam suas ações cotidianas. Pergunto, assim, pelos deslocamentos subjetivos e afetivos no espaço da militância, através de vínculos menos ilusórios e mais reais, menos masculinos e mais femininos, menos misóginos e mais filóginos. (ST45)

Caroline Sauer Gonçalves (Mestranda) A produção de alimentos em Minas Gerais colonial: a fazenda Borda do Campo A alimentação vem ocupando cada vez mais seu lugar na História, mostrando-se como uma vertente extremamente rica em possibilidades de investigação. O ato de comer não é simples e vai além da necessidade biológica e da abordagem estritamente cultural, pois implica uma série de ações e atividades e requer inúmeras funções comerciais, dentre elas as atividades agrícolas. Dessa forma, partindo do conhecimento da historiografia colonial e da historiografia da Conjuração Mineira, e conhecendo suas personagens, o presente artigo pretende analisar a alimentação, a prática agrícola e o comércio de alimentos em Minas Gerais colonial, usando como exemplo a produção e o comércio de alimentos praticados por José Aires Gomes na Fazenda Borda do Campo, de sua propriedade. (ST22) Cássia Abadia Da Silva (Doutoranda) Entre imagens, folhas amareladas e recordos: a beleza e magia de "O percevejo" na cena brasileira Aventurando num encontro entre História e Teatro é que desenvolvemos nossa pesquisa, tendo como objeto a encenação brasileira de "O Percevejo". O texto escrito em 1928, pelo poeta russo Vladímir Maiakóvski é traduzido e levado a cena brasileira pelo diretor Luís Antonio Martinez Corrêa, uma adaptação livre que agitou a temporada do Rio de Janeiro em 1981 e a de São Paulo em 1983. O trabalho realizado por Luís Antonio e grupo de adaptação foi acompanhado pela crítica, que em sua maioria ressaltava esse empreendimento audacioso, o qual recebeu vários prêmios. Todos nós sabemos que arte teatral é impossível de tomá-la em sua completitude, portanto nos cabe apanhar os vestígios, os restos e as sobras e tentar compreender o que outrora fora uma encenação, como a de "O percevejo". Dentre um significativo número de materiais de pesquisa, que nos possibilitam analisar o processo de produção da referida montagem é que escolhemos para presente ocasião tomar os materiais sobre a peça em cena, tais como áudio do espetáculo, entreatos cinematográficos e principalmente fotografias das duas temporadas. Nossa proposta é pensar quais olhares e leituras esses materiais permitem fazer acerca da encenação pesquisada, que outros vestígios nos desvelam. (ST27) Cássia Natanie Peguim (Mestre)

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Energia e desenvolvimento sustentável: o Brasil no contexto pós Rio 92 Observamos, no período pós 1992, uma mercantilização crescente dos recursos naturais, aliada a maior demanda por bens derivados de petróleo e dependentes da oferta energética. Nesse contexto, a posição emergente do Brasil na economia mundial faz com que o país ocupe uma posição privilegiada no debate sobre as políticas ambientais. No entanto, esta posição muitas vezes não se transformou em ações internas. Colocando para o historiador a necessidade de avaliar a adequação da posição brasileira em relação ao horizonte de interesse dos países latino-americanos na área das políticas energéticas e do desenvolvimento sustentável. Esta comunicação de pesquisa objetiva apresentar um histórico das políticas energéticas brasileiras no decorrer dos anos 1992 a 2015. Período balizado pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento e pelo término da campanha para obtenção dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio – ODM. Trata-se de levantamento necessário ao desenvolvimento da pesquisa para a obtenção doutorado em História, intitulada “Políticas energéticas e desenvolvimento sustentável: o Brasil na inserção internacional da América Latina segundo a CEPAL (1992-2015)”. A pesquisa tem como objetivo problematizar o papel das políticas energéticas brasileiras na inserção internacional da América Latina, particularmente a partir da análise promovida pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – CEPAL, partindo da hipótese de que o Brasil apresenta uma contradição nas políticas energéticas empregadas quando comparadas às políticas promotoras do desenvolvimento sustentável acordadas internacionalmente, bem como possui o potencial de direcionar e influenciar as políticas energéticas latino-americanas devido à disponibilidade de recursos naturais hipervalorizados economicamente. (ST37) Cecilia Helena De Salles Oliveira (Livre Docente/Museu Paulista USP) Escrita da História e Espaço Museológico O objetivo primordial desta comunicação é problematizar os nexos que se constituíram, desde o século XIX, entre os museus de História nacional e a escrita da História. A despeito das inúmeras críticas produzidas, na atualidade, sobre o papel desempenhado pelos museus no âmbito da divulgação de histórias nacionais, que não encontrariam mais fundamentação na historiografia contemporânea e nos conteúdos ensinados nas escolas, é importante considerar que até passado recente esses espaços autenticavam interpretações correntes acerca do percurso histórico da sociedade brasileira e se ajustavam às demandas de professores e escolares na direção de “presentificar”, como nomeou Stephan Bann, aquilo que manuais escolares e obras de divulgação veiculavam. Partindo em especial do lugar importantíssimo ocupado pelo Museu Paulista da USP na configuração do imaginário nacional, pretendo abordar de que maneira a decoração do edifício-monumento do Ipiranga, formulada por ocasião das comemorações dos 100 anos de Independência, articulou-se ao movimento de cristalização de um núcleo de protagonistas dos episódios de 1822 cujas ações foram interpretadas como imprescindíveis e heroicas, pois teriam “provocado” acontecimentos e representado perfis políticos sem o que a separação de Portugal não teria sido possível. Particularmente, um desses personagens, Joaquim Gonçalves Ledo, chama a atenção porque, ao contrário dos demais retratados no Salão de Honra do Museu e nos espaços da escadaria monumental, sua fisionomia é reconhecidamente ficcional, o que não obstou a produção de sua efígie, tomada desde então como seu retrato definitivo. Mais do que este detalhe, porém, sua presença nesse panteão esta a merecer investigação acurada. O retrato de Ledo inserido entre os próceres da Independência consolidou uma memória recortada do protagonista e dos episódios que até hoje resiste a modificações. Simultaneamente, parcela relevante do percurso político que Ledo construiu na primeira metade do século XIX permanece obscurecida, lembrando-se que foi Taunay um dos mais importantes responsáveis pela recuperação da imagem positiva com a qual se

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tornou conhecido, a partir da década de 1920. Por que na literatura da segunda metade do século XIX a atuação de Ledo se tornou secundária aos eventos que teriam marcado a fundação do Império? Quais seriam as significações historiográficas e políticas de sua recuperação no centenário de 1922? Que peso teve a decoração do Museu Paulista nesse processo de construção de uma escrita da História sobre a Independência e o Império ainda hoje tão enraizada? (ST18) Célia Regina Da Silveira (Pós-doutora/UEL) A trajetória de Gaspar da Silva na imprensa luso-brasileira em fins do século XIX: mediador cultural entre os dois lados do Atlântico Esta pesquisa apresenta como objeto de investigação a trajetória do português Gaspar da Silva na imprensa luso-brasileira de fins do século XIX, considerando-o como mediador cultural entre os dois lados do Atlântico. Ele atuou em diversos jornais da capital paulista, tanto na condição de colaborador como na de proprietário e redator. Em 1876, iniciou-se nas lides da imprensa brasileira, no periódico A Província de São Paulo, no qual divulgava a produção de autores portugueses – especialmente os da chamada “geração nova” – e fornecia atualizações sobre os assuntos referentes à conjuntura política de Portugal. Juntamente com o conterrâneo Leo da Fonseca, fundou, na cidade de São Paulo, o jornal Diário Mercantil (1884-1890), no qual propiciou oportunidades para jovens poetas brasileiros, além de ter tornado mais abrangente a publicação e os comentários sobre a literatura portuguesa. De regresso a Portugal, em 1890, passou a ser um dos diretores da Edição Quinzenal Illustrada (1897-1898). Ao propor, nesta comunicação, tratar do itinerário desse homem de letras na imprensa luso-brasileira objetiva-se averiguar como se davam as conexões e interações político-culturais entre os dois lados do Atlântico. Para isso, tomam-se como referenciais os conceitos de “transferências culturais” e de “mediador cultural” de Michel Espagne. (ST36) Celio Jose Losnak (Doutor/UNESP Bauru) Trajetória de Octávio Frias de Oliveira: história e memória em construção A década dos anos 2000 foi fértil em torno da produção de material sobre a História da Folha de S. Paulo, particularmente centrada na trajetória pessoal e empresarial de Octávio Frias de Oliveira. Em 2002, foi instituída a cátedra de Jornalismo “Octavio Frias de Oliveira” pela Faculdade de Comunicação Social do Centro Universitário Alcântara Machado (UniFiam-Faam). Naquele ano, ocorreram vários eventos, tais como cerimônia de homenagem ao patrono, palestras de convidados a falar sobre ele, sobre a História da Folha de S. Paulo nas últimas décadas, seminários sobre questões do jornalismo contemporâneo e concurso para estudantes de graduação. O desdobramento foi a produção de dois livros (Octavio Frias de Oliveira. 40 anos de Liderança no Grupo Folha, de 2002; Um País Aberto: Reflexões sobre a Folha de S. Paulo e o jornalismo contemporâneo, de 2003) contendo os trabalhos apresentados e objetivando divulgar e registrar o momento de produção sobre a história da empresa e de seu publisher. Posteriormente, em 2006, foi lançada a obra A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira redigida pelo jornalista Engel Paschoal e, um ano depois, republicada pela Publifolha. Os depoimentos/palestras, presentes nos dois primeiros livros, convergem para algumas imagens idealizadoras do empresário. Produzidos em eventos e cerimônia de homenagem, os textos centram-se nas características ímpares e exemplares para a gestão da produção jornalística do Brasil. A perspectiva dos autores, todos com algum vínculo social/profissional/afetivo com Frias, apontam para a trajetória do ator social como defensor da liberdade de impressa, criador de uma empresa jornalística moderna, plural, imparcial, independente e apartidária, desbravador de novas possibilidades para o jornalismo brasileiro, empreendedor exemplar que transformou um jornal secundário no principal do país, líder que optou por abrigar grupos opositores à ditadura criando

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espaço de expressão de pensamentos diversos e independentes. O livro biográfico segue a mesma linha de delinear o empresário empreendedor modelar e destacam-se alguns elementos importantes, além daqueles já citados no evento/obra sobre a cátedra. Um deles é a meta do empresário em superar o Estado de S. Paulo tornando-se o principal diário do país, tanto em tiragem como em credibilidade de um jornalismo imparcial e informativo. Este trabalho visa apresentar reflexões, em perspectiva da memória e da escrita da história, sobre essas produções e estratégias de intelectuais, jornalistas e da empresa Folha da Manhã. (ST34) Chrislaine Janaina Damasceno (Mestranda) A análise da temática indígena no livro didático do 7° ano em conformidade com o PCN-Pluralidade Cultural e a Lei 11.645/08. O presente artigo analisa o conteúdo de história indígena brasileira presente no livro didático do 7° ano do ensino fundamental Projeto Araribá, obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna PNLD 2014/2015/2016 -FNDE Ministério da educação. Verificando se o conteúdo veiculado na narrativa e nas imagens deste material estão em conformidade com as propostas governamentais do PCN-Pluralidade Cultural e a Lei 11.645/08 ou, se ainda transmitem argumentos excessivamente etnocêntricos e eurocêntricos, marcados pela sobreposição da ação dos brancos de origem européia e seu aspecto “civilizador”, valorizando uma “brancura”, relegando a um caráter excludente as contribuições indígenas e reproduzindo um imaginário onde os indígenas permanecem como povos ausentes, imutáveis, a-históricos e algumas vezes tidos como vítimas de uma terrível “injustiça histórica” que lhes tiraram o direito da terra. (ST05) Cicero João Da Costa Filho (Doutor/USP) Gustavo Barroso: um pensador católico, autoritário e racista brasileiro Nas décadas de 1920 e 1930, o Brasil experimentou um momento particularmente conturbado de sua história. A tensa conjuntura política do país, que vivia uma disputa de hegemonia entre setores agrários e grupos industriais urbanos, do fortalecimento do proletário e da suposta ameaça do comunismo, somado aos efeitos da crise de 1929, proporcionou o surgimento de várias tendências políticas, suscitando inúmeros “projetos de brasis”. Políticos, intelectuais, profissionais liberais, participaram ativamente do projeto político do país, dentre estes Gustavo Barroso. Figura importante como escritor e político brasileiro, presidente da ABL e inspirador do Museu Nacional, Barroso, em sua vasta produção bibliográfica, propôs um projeto de Brasil extremamente autoritário e corporativo, combatendo os movimentos de esquerda. Segunda figura na hierarquia integralista, Barroso denunciou uma suposta ameaça judia, caracterizando o judeu como o eterno conspirador, ganancioso, que dificultaria a construção da identidade nacional brasileira. O antissemitismo aberto de Barroso, diferente do de Plínio Salgado e Miguel Reale, é parte integrante de seu projeto nacional. O escritor buscou entender o Brasil e argumentou que o judeu era o responsável pelo atraso econômico desde os tempos coloniais, um povo que não se misturava em um momento em que o Brasil precisava de identidade. Com os regimes de extrema direita surgidos na Europa e as influências destes no movimento integralista brasileiro, Barroso foi simpático ao governo do Hitler e a particularidades pontuais do governo de Mussolini. Tais simpatias tornam Gustavo Barroso um pensador que merece cuidadosa discussão, chamando atenção para a compreensão de seu antissemitismo, compreendendo-o pelo viés propriamente racial ou não, em um momento intelectual e político em que o argumento de raça perdia ímpeto no Brasil. Profícuo escritor que se dedicou aos mais variados assuntos, considerado importante pesquisador de folclore, a hostilidade aos judeus foi tema central no projeto

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político brasileiro de Barroso. Estudando a figura de Gustavo Barroso, entenderemos aspectos significativos do cenário turbulento do Brasil da época. (ST06) Cinthia Midori Shimada (Mestranda) Considerações sobre os políticos eugenistas em guarda contra o imigrante indesejado Em diversos momentos da história podemos observar vários tipos de migrações pelo mundo. Ao longo do tempo, como um ato natural do ser humano, muitos grupos transitaram de um canto a outro do hemisfério à procura de melhores condições de vida. Atualmente, os motivos pelos quais levam milhares de pessoas a se locomoverem pelo mundo não são muito diferentes. No geral, diversos grupos fogem de seu país de origem devido a conflitos bélicos, fome ou péssimas condições de sobrevivência. Todavia, nem sempre eles são bem recebidos no destino almejado. Pois, muitos acabam se tornando vítimas de ataques xenofóbicos. O Brasil, por exemplo, ao longo de sua história, foi destino certo de uma série de imigrantes de diversas nacionalidades. Atualmente, a entrada de haitianos no país ganhou grande destaque na imprensa devido, principalmente, às condições encontradas em sua chegada e o trato que lhes fora dispensado após a sua permanência. Neste caso, o que se sucede é que muitos deles são constantemente discriminados e ofendidos tanto fisicamente, quanto moralmente. Neste sentido, esta questão migratória, se apresenta como um desafio tanto para aqueles que emigram, quanto para os Estados que recebem grandes levas de imigrantes. Assim sendo, é de extrema importância regressar ao passado na tentativa de entender o tempo atual, buscando assimilar suas continuidades e rupturas no trato com o imigrante. Devemos, assim, lançar luz a esta temática, questionando os motivos que transformaram, em determinados momentos da história, alguns imigrantes em inimigo do país que os recebiam. Além disso, faz-se necessário também identificar a origem dos discursos de ódio e intolerância que foram proferidos contra o imigrante indesejado. Neste sentido, este trabalho visa discutir os debates em torno da questão imigratória presentes sobretudo na Assembleia Constituinte de 1933, identificando seus principais interlocutores. Assim, além de compreender como se deu o processo de construção de um discurso negativo acerca de certos tipos de imigrantes, com especial atenção para o caso japonês, verificar-se-á quais as ideologias políticas e bases teóricas que formaram as principais elites políticas contrárias a este tipo de imigração. Por fim, busca-se entender como a política de Estado deste momento fez uso de conceitos científicos para manter um controle maior sobre os corpos destes imigrantes considerados seus “supostos inimigos”. (ST39) Cinthia Sayuri Tsukimoto (Pós-graduanda) Com que rapidez o mau se pode tornar bom? Considerações sobre a desnazificação (1945-1947) Esse trabalho discutirá o processo de desnazificação, a partir de algumas percepções contidas na revista satírica alemã der Simpl acerca das principais medidas adotadas na zona de ocupação americana entre anos de 1945 e 1947. A rendição alemã, assinada em maio de 1945, pôs o fim do conflito bélico deflagrado por Hitler em 1939. Conforme o fim do conflito aproximava-se, não tardaram a aparecer as primeiras imagens e relatos dos campos de concentração, povoadas por figuras esqueléticas de formas humanas. Muitas já haviam sucumbido e os poucos sobreviventes eram testemunhas e vítimas do projeto alemão, que batalhava para garantir aos alemães, isto é, ao povo ariano, uma sociedade saudável e forte, erradicada de males como, por exemplo, diversidade étnica e distúrbios psicológicos. Outros milhares de figuras também compunham o quadro europeu de destroços humanos no pós-45, os de refugiados e deslocados de guerra. Diferentes cenários compostos por esses e outros

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grupos eram uma evidência clara de que o nacional-socialismo e sua ideologia não se findariam apenas com o fim da guerra. Entende-se, portanto, que considerar a rendição alemã como um símbolo da derrota do nazismo ou do triunfo da democracia na Europa é subestimar a ideologia do nacional-socialismo e seu significado. Por desnazificação denomina-se o processo de expurgo de elementos ligados ao nacional-socialismo da Alemanha, implicando na remoção de sua simbologia dos espaços públicos, bem como de sua ideologia, a partir da reformulação de currículos escolares e da imprensa, tendo como objetivo “arrancar-lhe as raízes e plantar as sementes da democracia e da liberdade na vida pública alemã” (JUDT, 2008: 70). Na zona de ocupação americana, essa incumbência coube ao Gabinete do Governo Militar dos EUA (OMGUS, na sigla em inglês), cuja principal incumbência era garantir que a implementação de medidas que contemplassem os 4-Ds do pós-guerra fosse bem-sucedida: democratização, desnazificação, desmilitarização e descentralização. Assim, debater o processo de desnazificação é um trabalho que não apenas permite ao pesquisador compreender os atores e interesses que a circundavam durante os anos de sua formação e implementação, mas lhe oferece ferramentas que o auxiliam a pensar sobre os problemas “atuais” europeus, como o surgimento de grupos neonazista e a resistência em relação aos imigrantes. (ST06) Cintia Goncalves Gomes Oliveira (Doutoranda) Rocha Pita e a História da América Portuguesa no contexto de Portugal na primeira metade do século XVIII – Primeiras ideias A proposta deste trabalho é apresentar algumas ideias iniciais relacionadas ao projeto de pesquisa de doutorado em andamento, no qual analisamos a obra de Sebastião da Rocha Pita História da América Portuguesa dentro do contexto das lutas por uma recuperação econômica no início do século XVIII em Portugal. Isso, pois, as obras de Pita são constantemente analisadas do ponto de vista literário, como poeta e historiador e, quando seu texto literário ganha destaque, tem sido visto como documento de cunho nativista, que buscou exaltar as qualidades do Brasil dentro do projeto da agremiação da Academia Brasília dos Esquecidos. Rocha Pita durante sua vida ocupara cargos importantes na sociedade baiana, como coronel do regimento privilegiado de ordenanças, fidalgo da casa real além de membro supranumerário da Academia Real de História Portuguesa. Ao se referir aos problemas enfrentados pela Bahia em finais dos seiscentos, o autor fez seus apontamentos de modo descritivo, sempre se referindo às fontes que utilizou para recolher tais informações e aparentemente, sem emitir julgamentos. Esse fato favoreceu a publicação de seu livro História da América Portuguesa “com todas as licenças necessárias”, como aparece na contra capa da obra. Este comportamento do autor se torna de extrema importância se levarmos em consideração a conjuntura em que vivia e favorece a compreensão de permanências e rupturas, bem como as iniciativas e atitudes tomadas por pessoas e instituições para tentarem sanar ou ao menos melhorar os problemas enfrentados. Assim, diante da conjuntura complexa de Portugal no início dos anos setecentos, buscaremos apresentar as primeiras ideias de nosso projeto de como Pita vivenciou tal momento, qual a possível posição ele adotou diante de tal situação e como toda essa conjuntura influenciou na escrita de sua História da América Portuguesa, pois, até o momento nenhum estudo tomou como base tal perspectiva. (ST36) Claudia Regina Alves Prado Fortuna (Doutora/UEL) Por uma educação política da memória: arte contemporânea e ensino da história No contexto de fortalecimento de uma cultura histórica marcada pela amnésia e de exclusão dos elementos subversivos da memória, pretendemos nos aproximar das

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estratégias pelas quais o passado é reinterpretado a partir do tempo presente sob a forma de experiências estéticas. Selecionamos para este projeto alguns trabalhos de duas artistas plásticas brasileiras - Rosângela Rennó e Leila Danzinger, especialmente os que apresentam narrativas sobre a condição humana e tematizam a memória e o esquecimento social. É neste campo de análise e considerando o ensino da história não apenas como disciplina, mas como percepção racional e sensível sobre o mundo, que acreditamos ser possível fortalecer uma educação política da memória capaz de movimentar, a partir do presente, outras formas de ver, sentir, pensar e agir. De acordo com Rancière (2012), as estratégias dos artistas para realizar o trabalho da ficção, não como um mundo imaginário oposto ao real, mas como trabalho que realiza dissensos, que muda as coordenadas das representações, os modos de apresentação sensível e as formas de anunciação, criam uma "paisagem inédita do visível, formas novas de individualidades e conexões, ritmos diferentes de apreensão do que é dado, escalas novas" (p.85). Neste campo de referências, entendemos as produções estéticas na obra dessas artistas como formações históricas e sociais que originam discursos capazes de revelar a movimentação de sentidos, as batalhas de percepções, as ambivalências e outras sensibilidades na sua relação com a história, a memória e a temporalidade. Consideramos que os procedimentos estéticos de abordagem dos acontecimentos, das fotografias, das imagens, do simbólico, entre outros, oferecidos pela dimensão estética podem nos ajudar a pensar o ensino da história não apenas como disciplina, mas como percepção racional e sensível sobre o mundo. Poderemos, assim, examinar o que entendemos por educação histórica nos seus modos de explicação, compreensão, expressão e inserção nas questões culturais e de identidade, não apenas com as referências exclusivas da operação histórica, mas com as de outros espaços de circulação do sensível e do visível. (ST16) Cleonice Elias Da Silva (Doutoranda) A participação das cineastas no Cinema da Retomada Ao compararmos a participação das mulheres diretoras na realização de filmes no cenário cinematográfico brasileiro com a dos homens, deparamo-nos com uma disparidade: o número de mulheres ainda é relativamente pequeno, sendo que o cinema nacional conta com uma presença majoritariamente masculina. Todavia, esta realidade vem passando por um processo de transformação. Filmes realizados por mulheres, mesmo ainda sendo minoria, estão ganhando notoriedade entre o público e a crítica, um bom exemplo a ser citado é o filme Que horas ela volta? (Anna Muylaert, 2015). Em linhas gerais, esta comunicação pretende apresentar um breve panorama sobre a participação das mulheres na realização de filmes na cinematografia brasileira, dando maior enfoque para o período iniciado em meados da década de 1990, o Cinema da Retomada, no qual se percebe um aumento significativo no lançamento de filmes dirigidos por mulheres. De acordo com Lúcia Nagib (2002:15), o crescimento da participação feminina na realização de filmes, junto com outros fatores, tais como, as diversificações geográficas e etárias dos diretores possibilitam que o cinema brasileiro traga à tona “uma imagem mais acurada do país”. O período referido pode ser resumido como o momento que cinema nacional recupera-se de uma crise, esta intensificada pelo fim das atividades da Embrafilme, no governo de Fernando Collor. Nota-se na conjuntura da segunda metade dos anos de 1990 um reconhecimento internacional dos filmes realizados no Brasil; o surgimento de novos cineastas; e a presença feminina na realização (ALVES, 2010: 2). A análise de filmes dirigidos por mulheres, os quais têm como centralidade suas subjetividades, pode contribuir, de acordo com Maria Célia Orlato Selem (2013: 2), “para

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a crítica cultural às sociedades patriarcais, propiciando outros sentidos para o imaginário social”. (ST45) Cleyton Rodrigues Dos Santos (Doutor/Faculdade La Salle de Lucas do Rio Verde-MT) Diálogos político-escravistas em Machado de Assis. Este trabalho propõe um estudo, sob a perspectiva da história social, sobre uma questão crucial na literatura machadiana: o escravismo. Trata-se de promover o diálogo entre a História e a Literatura, refletindo sobre as relações escravistas presentes na obra literária de Machado de Assis. Assim, o presente trabalho consiste em analisar as especificidades e relações entre história e literatura nos escritos de Machado de Assis, focalizando-se o modo como os temas relacionados à escravidão emergiram na literatura machadiana, bem como submeter essa literatura ao interrogatório sistemático que habitualmente se aplica a qualquer testemunho histórico. (ST36) Clifford Andrew Welch (Pós-doutor/UNIFESP) A escrita da história da alimentação e abastecimento na terra do Fome Zero Pesquisar e escrever a história da alimentação tem que começar no fator mais elementar do processo: o solo. No Brasil, todos os alimentos ainda vem do solo (KNABBEN, 2015). Assim, as relações sociais que tomem conta da terra e organizem a produção agropecuária formem-se a primeira instancia da história da alimentação. A questão do abastecimento do país foi historiada pela primeira vez de maneira sistemática por uma equipe liderada pela Maria Yedda Linhares a partir dos anos 1970, sob patrocínio do Ministério da Agricultura da ditadura (LINHARES; LOBO, 1979; LINHARES; SILVA, 1979). Apesar de suas origens no âmbito de um governo autoritário capitalista, fica claro a orientação marxista no método de materialismo histórico aplicado. Incialmente, o Programa Fome Zero implementado a partir de 2003 pelo governo democrático do Presidente Luís Inácio Lula da Silva também enfatizou a vida material em seu esforço de mobilização da sociedade civil para ensinar populações pobres e malnutridas como captar agua e produzir alimentos essências para começar a superar suas condições perpetuas de subalternidade (ARAÚJO, 2004). Em outros programas, como o Programa Nacional de Reforma Agrária de 2004, também foram desafiadas as relações de poder sobre o solo responsáveis pela subordinação e assim a mal-nutrição do povo brasileiro. Mas a implantação destas políticas públicas logo driblaram estratégias de confronto com estruturais socioeconômicas em preferência pela estabilidade e gradualismo (SILVA et al, 2010). Os programas novos no âmbito do Fome Zero – Bolsa Família do Lula e Brasil sem Miséria da Presidenta Dilma Rousseff – foram elaborados como formas de assistência social que desmobilizaram a sociedade civil, trocando os ensinamentos e suportes de auto-sustentação pelos pagamentos mensais que reforçaram a dependência e submissão do povo. Antes de que a História de Alimentação do Brasil seguisse uma trilha desenhada exclusivamente pela história cultural (SANTOS, 2005; CARNEIRO, 2005), estaria bem lembrar as contribuições da história social sobre a questão do abastecimento do país e suas aplicações para entender uma formação social do capitalismo bastante distinta dos da França e dos Estado Unidos, inovadores importantes no campo da culinária. O presente trabalho tem a pretensão de oferecer uma análise da historiografia da história da alimentação a partir da história das políticas públicas de abastecimento da perspectiva da interpretação materialista no pressuposta de que, antes da gustação, teria que ter “criar condições para que todas as pessoas [no Brasil] possam comer decentemente três vezes ao dia, todos os dias, sem precisar de coações de ninguém” (LULA apud SILVA et al, 2010, p. 7). (ST22)

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Crhistophe Barros Dos Santos Damazio (Doutorando) Da crônica ácida ao romance velado: Carlos Heitor Cony e as relações entre história, memória e literatura na ditadura militar brasileira Este trabalho pretende analisar como o escritor Carlos Heitor Cony, um dos primeiros jornalistas a se opor à ditadura militar, fez a transição das críticas ao governo, após prisões e perseguições políticas, do espaço das crônicas para o romance. Partindo dos pressupostos da nova história política que valoriza, entre outras fontes, a literatura como espaço de análise das representações e da manifestação das relações poder na sociedade, acreditamos que o estudo da obra de Cony pode abrir uma janela para a compreensão do conturbado contexto social e político brasileiro pós-64. Neste trabalho, vamos nos ater às crônicas publicadas pelo jornalista no jornal "Correio da Manhã" entre abril e dezembro de 1964 e ao romance "Pessach: A Travessia", publicado em 1967. Por meio dessas obras, acreditamos que é possível traçar um panorama da trajetória da escrita do autor que, de um cronista dos mais populares em 1964, teve que se restringir à escrita de romances a partir de seu afastamento do meio jornalístico em 1965. Além disso, a análise das crônicas e do romance podem ajudar na compreensão de como o escritor e jornalista carioca, que observava a situação política de seu país com olhar crítico, utilizou a escrita como forma de exteriorizar episódios marcantes de sua memória individual e como, por meio das críticas feitas ao seu trabalho, esses fatos narrados e/ou romancizados por ele, encontravam ressonância como a memória coletiva de seus contemporâneos. (ST36) Crislayne Fátima Dos Anjos (Pós-graduanda) Somos todos pecadores: As minúcias por trás das câmeras do filme A Bruxa (2016). Lançado no Brasil em março deste ano, depois de aclamado pelos críticos estrangeiros, o filme de terror A Bruxa (2016), surpreende não apenas pelas características intrínsecas de seu gênero, mas também pela mensagem que sua história transparece a seu espectador. Ambientado no século XVII, mais especificamente no ano de 1630, a história gira em torno de uma família, cujo patriarca Willian, sua esposa e os cinco filhos, são expulsos de uma comunidade puritana ultraconservadora por serem considerados hereges. A partir desse momento, a família se estabelece em um vale fora das fronteiras da comunidade, entretanto, passam a ser ameaçados por fenômenos inexplicáveis, que logo julgam serem práticas de bruxaria. O objetivo dessa discussão concerne, portanto, em analisar o imaginário por trás das propostas do diretor Robert Eggers, que promove um brilhante espetáculo ao associar religiosidade e misticismo, cristianismo e natureza. A bruxa do título pode ser tanto a figura concreta da feiticeira quanto a metáfora do elemento dissonante, perseguido pela comunidade. Neste sentido, busca-se ampliar o debate acerca do imaginário sócio religioso durante a intitulada “caça as bruxas”, uma discussão que nos parece tão distante, porém atual. (ST38) Cristina De Lima Cardoso Person (Mestre/Secretaria de Educação do Estado de São Paulo) O nó da cultura A partir dos estudos propiciados pela pesquisa de mestrado e das participações sociais, percebo que o termo "CULTURA" tem sido entendido e empregado de maneiras peculiares e aquém do que a historiografia espera. Se deixarmos de lado as discussões acadêmicas e perguntarmos: “o que é cultura?”, o termo será associado por muita gente, ao conhecimento institucionalizado, por exemplo, uma pessoa estudada é tida como alguém culto. Nessa mesma linha de raciocínio, não podemos definir ou classificar cultura popular ou cultura erudita, tudo é Cultura, pois, tudo é produção dos povos no seu tempo. São os sujeitos, que vivem histórias em diferentes épocas e cotidianos, os produtores culturais, manifestam lutas e glórias em suas produções, concretizadas nas atitudes, nos gestos,

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nos movimentos e pensamentos que transformam-se em produções culturais ou simplesmente caracterizam uma gente de um determinado lugar. (ST44) Cristina Meneguello (Pós-doutora/UNICAMP) Arte e revolução industrial a partir do trabalho de Francis Klingender A representação do trabalho e do trabalhador como um novo objeto pictórico, que se confundia à função social de retratar as diferenças entre a vida na cidade e no campo foi pioneiramente estudado por Francis D. Klingender (1907-1955), na obra ainda paradoxal Art and the Industrial Revolution (1947). A obra teve um nascimento peculiar. No ano de 1945, o Sindicato dos operários técnicos (Amalgamated Engineering) do Reino Unido pediu à Associação Internacional dos Artistas (Artists International Association) que organizasse, para comemorar o seujubileu de prata, uma exposição com o tema amplo de “A engenharia e a vida britânicas”. O processo da preparação desta exposição forçou o sociólogo inglês Francis D. Klingender a pensar (ao longo dos anos da Segunda Guerra) sobre o impacto que a Revolução Industrial tivera sobre as artes de maneira geral a partir do século XVIII. A partir desta experiência, Klingender sua obra. No ano de 1968, mais de uma década após a precoce morte de Klingender, o historiador Arthur Elton reeditou sua obra, trazendo alterações ao argumento tradicional, fortemente marxista, buscando “suavizar” a obra para os leitores, tornando-a simultaneamente menos densa, com menos citações e mais palatável ao leitor, ocultando o enorme esforço de pesquisa e documentação realizados na edição original. Klingender não se limitou a identificar apenas a ocorrência do tema da indústria e do trabalho nas artes, mas também a própria transformação da linguagem das artes pela entrada da produção mecânica das imagens, pela expansão técnica da gravura e de sua reprodutibilidade, permitindo a circulação visual destes novos objetos industriais (minas, forjas, moinhos de fiação), retratados como aparições sublimes em meio a paisagens e cenários antes aprazíveis. As gravuras técnicas que ilustravam enciclopédias ou manuais vieram a ganhar, posteriormente, a categoria de arte. Em termos de historiografia, Klingender faz parte de uma linhagem da história social da arte de cunho marxista, ao lado de Antal e Hauser. Klingender também produziu Marxism and Modern Art: an approach to social realism em 1943 e recentemente se soube, por arquivos liberados pelo MI5, que Klingender foi vigiado sistematicamente pelo serviço secreto inglês. Importante ativista cultural, ele promoveu a disseminação de filmes soviéticos em exibições na Grã-Bretanha, sendo que nos anos 1930 e 1940 foi um membro ativo do Partido Comunista Britânico. De certo modo, sua defesa do realismo – que vê em uma longa tradição até chegar ao século XX – é a defesa da forma de representação mais próxima ao trabalhador e à sua tradição. (ST47) Daive Cristiano Lopes De Freitas (Mestre) Pedagogia das imagens: a arte e os multimeios como potencializadores do saber histórico O trabalho tem como objetivo abordar as possibilidades para se trabalhar de forma articulada com recursos imagéticos e áudios-visuais através de softwares para a apresentação de aulas expositivas e suas influências nas práticas pedagógicas nas escolas de ensino fundamental, identificando permanências, rupturas e mudanças no cotidiano do aprendizado dos alunos e explorar o uso da linguagem visual ao lado da linguagem textual para enriquecer o saber histórico escolar. Busca igualmente explorar as práticas de ensino de História no ensino fundamental com o uso articulado de meios imagéticos e audiovisuais. A partir da proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, (PCN), diretrizes elaboradas pelo Governo Federal que orientam a educação no Brasil, que, dentre outros objetivos previstos no ensino fundamental, propõe que os alunos sejam capazes de “saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos” é que este projeto se dirige. Em meio ao processo de

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democratização das informações no contexto da globalização urge pensar, em termos de educação, sobre as possibilidades de o professor fazer uso destas empregando-as na forma de conhecimento na sala de aula. Pensadores da educação vêm discutindo nos últimos anos nesse processo de inserção dos multimeios no processo de ensino-aprendizagem. A partir desta reflexão que este mini-curso parte das experiências e práticas em sala de aula sobre o uso articulado de fontes iconográficas fotográficas, artísticas e jornalísticas, obras plásticas, charges, mapas e outros; músicas e videoclipes e; produções cinematográficas com o objetivo de facilitar o aprendizado dos alunos com relação ao conteúdo, abrindo a possibilidade de compreender melhor através de seus discursos o conteúdo estudado não apenas de forma textual, mas imagética. (ST10) Daniel Martins Valentini (Doutorando) Censura e memória no Teatro Oficina dos anos 1960 Entre o fim dos anos 1950 e início dos 1970, o Teatro Oficina esteve entre os grupos teatrais brasileiros mais criativos. Desejando sempre renovar sua linguagem, queimava suas etapas, inicialmente, porém, com um caminho mais voltado para as discussões da cultura brasileira e de sua relação com as forças políticas e econômicas, numa crescente que levou ao contraditório movimento tropicalista e que se transformou, num segundo momento, em mera contestação moral, em delírios e sonhos individualistas narcisistas, já com um elenco muito modificado e sem o notório brilho do grupo fascinante que construiu o nome deste teatro para o Brasil e para o mundo. Neste texto discutiremos rapidamente aspectos dos dois assuntos que mais nos interessam: a censura ao Teatro Oficina e o uso das memórias de seus integrantes na recomposição de sua trajetória. (ST27) Daniel Rincon Caires (Mestrando) Arte Degenerada – A crítica de arte científica de Max Nordau Este trabalho tem a finalidade de apresentar os resultados de uma análise das ideias sobre arte e cultura presentes na obra “Degeneração”, de Max Nordau, publicada pela primeira vez em 1892. Frequentemente apontado como cultor do conceito de Arte Degenerada, Nordau aparece na bibliografia especializada como um precursor das ideias nazistas que culminaram no confisco de milhares de obras de arte, na destruição de muitas delas e na perseguição aos artistas que incorriam numa concepção estética distinta daquela pregada pelo Terceiro Reich. Procurou-se nesse trabalho apresentar as ideias de Nordau em seu contexto, articuladas com as questões e tensões de seu tempo. Para tanto, procurou-se uma visão mais ampla sobre o conceito de degeneração e sua penetração na mentalidade ocidental na segunda metade do século XIX. (ST06) Daniela Fagundes Portela (Mestranda) As primeiras Escolas Maternais de São Paulo. A experiência educativa de Anália Franco (1853-1919). A presente comunicação é parte integrante da pesquisa de Doutorado em andamento intitulada Revelando a trajetória da Educadora Anália Emília Franco em São Paulo (1853-1919). O estudo investiga a trajetória profissional da educadora Anália Franco em São Paulo, destacando o pioneirismo das suas ações destinada a educação da infância, ressaltando a sua atuação com formação de professores, a intensa produção de revistas e jornais pedagógicos, elaboração de manuais pedagógicos exclusivos para docentes da educação infantil, fundando liceus, cursos profissionalizantes, associações educativas e as primeiras escolas maternais de São Paulo que será o objeto de discussão nessa comunicação.

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Uma das grandes preocupações de Anália Franco era a inexistência de instituições destinadas ao atendimento dos filhos de escravizados que nasceram, após a promulgação da lei do Ventre Livre, em São Paulo, essa condição social, dessa nova modalidade de infância que emergia é a mola propulsora da criação das primeiras escolas maternais da Capital, as quais atendia prioritariamente os filhos e filhas de escravizados. A pesquisa está inserida no campo da história e historiografia da educação brasileira. O corpus documental do estudo é constituído fontes documentais de natureza primária, artigos de jornais, registros fotográficos das instituições fundadas pela educadora, manuais e as revistas pedagógicas: “ A voz Maternal” e “Álbum de Meninas”, ambas produzidas pela própria educadora Anália Franco, o corpus da investigação também é composto por fontes documentais “oficiais” circunscritas, aos temas da historiografia da educação, feminização do magistério, história da infância, imigração e escravidão, as quais serão analisadas de forma conjugada, a opção por esse procedimento metodológico tem como propósito descrever e demonstrar de que modo, o contexto cultural , político e social, no qual Anália Franco estava inserida perpassaram a sua trajetória pessoal e profissional e, também influenciaram na formulação do seu projeto socioeducativo para crianças. O marco temporal da investigação é compreendido entre o período de 1853-1919 referente, aos anos de nascimento e morte da educadora Anália Franco, embora saibamos que a sua obra perdura até os dias de hoje. Os resultados parciais da pesquisa apontam que ao longo de aproximadamente 17 anos, Anália Franco construiu 110 instituições infantis, incluindo instituições profissionalizantes para mulheres pobres, liceus, todas distribuídas nas regiões da Capital e Interior do Estado de São Paulo. (ST01) Daniela Fernanda De Almeida (Pós-graduanda) Italianas: trajetórias, lutas e resistências sob a vigilância da polícia política (1930-1945) O presente projeto de pesquisa pretende apresentar, discutir e encaminhar um possível entendimento sobre a atuação das italianas no espaço público e privado principalmente da cidade de São Paulo e seus arredores, no período de 1930 a 1945. A opção por um recorte cronológico mais restrito busca apreender a relação da imigrante com a formação de um Estado autoritário, para com isso, captar o momento de maior repressão social em São Paulo, e assim entender a repressão exercida pela polícia política sobre esse conjunto de mulheres. O estudo se baseia em bibliografia especializada, mas, sobretudo na pesquisa elaborada a partir de uma documentação privilegiada, qual seja o conjunto dos prontuários organizados pela polícia política do Estado de São Paulo, instituição criada em 1924 e extinta nos finais da ditadura militar, o DEOPS. Estudar a imigração sob o ponto de vista destas mulheres permitirá também conjecturar sobre sua inserção em São Paulo, na qual tiveram uma contribuição fundamental para sua construção e desenvolvimento. Portanto, pretendemos identificar as razões pelas quais as italianas foram implicadas com a polícia política e suas ações, avaliar o conjunto dessa relação tantas vezes conflituosa entre mulheres estrangeiras e repressores nacionais, e enfim investigar como estavam estruturadas as relações sociais da mulher italiana na sociedade paulista. (ST39) Daniele Cristina Mistretta Vieira César (Mestre) Teorias dialógicas e a discussão sobre gênero e violência no ensino fundamental: uma proposta de direitos humanos na escola. As teorias dialógicas têm como eixo o diálogo, a comunicação e a interação entre as pessoas, inclusive em sala de aula. Estas teorias argumentam em favor da intersubjetividade e da reflexão, trazendo esperança e a utopia de dias melhores, pautado em ações que possibilitam, além do diálogo, o entendimento de si e do mundo e a

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capacidade que cada indivíduo tem para realizar a mudança social. As teorias dialógicas contribuem para transformarmos a escola em um espaço mais democrático e reflexivo. Para isto é necessário que professores trabalhem de forma diferenciada aliando competência nos conteúdos de ensino e compromisso político com a emancipação dos alunos através do diálogo e da reflexão. Uma proposta que a Educação em Direitos Humanos pode cumprir. No Brasil, a resolução n°1 de 30 de maio de 2012, publicada pelo Conselho Nacional de Educação, alterou as diretrizes educacionais. A resolução tornou obrigatória a inserção de conteúdos de Educação em Direitos Humanos da Educação Básica ao Ensino Superior, ordenando, inclusive que sejam revistos os Projetos Pedagógicos Institucionais e Políticos das escolas. Tal resolução apresenta-se como resultado dos programas e planos mundiais e nacionais que reconhecem a educação voltada para a convivência humana sob a ótica de uma cultura de paz e reconhecimento de direitos, como base da formação do ser humano E o que significa uma educação em direitos humanos? Significa uma educação que defenda a liberdade dos homens, o respeito às diferenças, sejam elas de raça, gênero, etnia, religião, sexualidade e qualquer outra forma de diferença que possa propiciar a exclusão social e a exclusão escolar. Significa respeito às particularidades, as especificidades e a equidade. Discutir gênero no ensino fundamental através de teorias que privilegiem o diálogo possibilita o reconhecimento das diferenças que são responsáveis por situações de violência contra as mulheres e as meninas e que estão arraigadas na sociedade brasileira. Através da discussão sobre gênero, violências contra a mulher, Lei Maria da Penha, masculinidades, homofobia, entre outros, os alunos do ensino fundamental pode revelar suas angústias e também transmitir conhecimento sobre suas experiências dentro e fora da comunidade escolar, o que possibilita uma ampla rede de discussão unindo escola, família e comunidade de entorno. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo refletir sobre a importância das teorias dialógicas no ensino fundamental para os estudos de gênero na escola, como possibilidade para enfrentarmos os retrocessos que estamos vivendo e divulgar a importância da reflexão dos estudos em Direitos Humanos em sala de aula. (ST25) Danilo Wenseslau Ferrari (Doutorando) A circulação internacional de personagens caricaturais: Zé Povinho no jornal O Besouro Nesta comunicação, apresenta-se análise do personagem Zé Povinho no jornal O Besouro, periódico elaborado pelo desenhista português Rafael Bordalo Pinheiro, no Rio de Janeiro, entre 1878 e 1879. Bordalo foi artista de destaque na cultura portuguesa. Como desenhista, foi apontado como pioneiro da caricatura moderna em Portugal, além de ceramista, dono da Casa de Faianças Caldas da Rainha e homem de imprensa, sendo proprietário de diversas publicações ilustradas e satíricas, nas quais interveio nas questões políticas, sociais e culturais de seu tempo. O ilustrador viveu no Brasil entre 1875 e 1879, onde sua atuação inspirou outros artistas e foi decisiva para sua carreira. O caricaturista criou o Zé Povinho, em 1875, no jornal Lanterna Mágica, quando ainda vivia em Portugal. O personagem representava o homem do campo, analfabeto e um tanto parvo. Com ele, Bordalo criticava a excessiva cobrança de impostos do governo português. O boneco teve grande aceitação e tornou-se símbolo da identidade portuguesa. Bordalo utilizou a figura do Zé Povinho em diversos comentos, como comentador de sua obra, nas publicações periódicas que idealizou. No Brasil, o personagem foi retomado em O Besouro. A publicação destacou-se na história da imprensa brasileira pelo seu projeto gráfico e, mais precisamente, pelo uso inovador de reproduções de imagens fotográficas. N’O Besouro, Bordalo posicionou-se a respeito dos problemas do país, tais quais a escravidão, a política monarquista, a seca no Nordeste,

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entre outros. A polêmica atuação do ilustrador rendeu-lhe problemas que culminaram com a sua volta para Portugal, em 1879. Nesse sentido, procurou-se analisar as aparições do Zé Povinho n’O Besouro, com o objetivo de identificar as funções do personagem no âmbito do projeto gráfico de Rafael Bordalo Pinheiro para o Brasil. Além de quantificar tais figurações, pretendeu-se averiguar como se deu a adaptação de uma criação ligada ao contexto português, no Brasil. Zé Povinho também se difundiu entre os ilustradores brasileiros, sendo recriado em diversas publicações periódicas. Para compreender este processo de transfiguração é fundamental analisar as recriações do personagem que o próprio Bordalo executou em O Besouro, nos seus jornais cariocas, comentando e encenando as questões do Brasil imperial. (ST10) Darlan Damasceno (Mestrando) Religiosidade e fronteiras simbólicas: A construção da identidade ucraniana na colônia de Rio Claro - Paraná 1895-1950 Os fenômenos migratórios colocam em evidência para os historiadores questões referentes à identidade, práticas e representações de determinadas etnias. Ao pensarmos as grandes levas migratórias ocorridas no Brasil durante o final do século XIX e início do XX, delimitamos para este estudo a análise da imigração dos povos denominados “ucranianos” para o estado do Paraná, mais especificamente localizado na colônia de Rio Claro, atual distrito do município de Mallet. Nesse contexto, temos por objetivo compreender como a identidade ucraniana foi construída historicamente nessa localidade durante os anos das maiores levas migratórias para a região (1895-1950). Nossa hipótese baseia-se na delimitação da religiosidade deste grupo como principal fator de diferenciação frente ao “outro”, através da constituição de fronteiras simbólicas. A presença da igreja católica de rito ucraniano na região oferece um conjunto de práticas e representações próprias que compõem as relações e a vivência desta população, assim como, elemento demarcador da constituição de um campo onde a identidade ucraniana-brasileira é constantemente negociada frente a diversos outros grupos étnicos que integram a região centro-sul do estado do Paraná, tais como poloneses, caboclos e indígenas. Em termos teóricos e conceituais, optamos por utilizar os conceitos de práticas e representações propostos por Roger Chartier e os conceitos de campo e poder simbólico apontados por Pierre Bourdieu, para possibilitar uma melhor compreensão de como as disputas em torno da identidade desta população foram historicamente construídas. Como fontes, utilizaremos depoimentos dos primeiros imigrantes a se estabelecerem na colônia de Rio Claro e de seus descendentes. (ST39) David William Aparecido Ribeiro (Doutorando) Jaime Cortesão, museólogo: história, imagem e modernidade na "Exposição de história de São Paulo no quadro da história do Brasil" (1954-1955) O intelectual português Jaime Cortesão (1884-1960), banido pelo salazarismo de seu país, viveu no Brasil entre 1940 e 1957. Na Biblioteca Nacional e no Ministério das Relações Exteriores, instituições em que trabalhou, Cortesão esteve em contato com documentos que lhe permitiram compor uma história da “formação territorial do Brasil” com o extenso recurso à cartografia histórica. A serviço do Itamaraty, Cortesão viajou a Portugal, quando também reuniu documentos para a comissão organizadora das comemorações do quarto centenário paulistano, trabalho este que lhe rendeu o convite para a montagem de uma exposição. Realizada entre 1954 e 1955 no pavilhão hoje conhecido como Oca, no Parque Ibirapuera, a "Exposição de história de São Paulo no quadro da história do Brasil" apresentou documentos como a Carta de Caminha e obras de artistas do modernismo brasileiro e também do português, contando com a assistência de pessoas que deixaram suas marcas nos museus paulistanos. Ao discutir os

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usos da imagem para narrar a história de São Paulo na exposição comemorativa, esta comunicação busca também abordar o trabalho de museólogo exercido por Cortesão, que após o seu retorno a Portugal continuou a dedicar-se a esse campo, uma das expressões da escrita histórica "tridimensional". (ST18) Deivid Aparecido Costruba (Doutorando) Por um feminismo estratégico: Júlia Lopes de Almeida e o relato de viagens em Cenas e Paisagens do Espírito Santo (1912). Este texto tem como objetivo averiguar como a escritora Júlia Lopes de Almeida incentivou seus leitores a conhecer o Brasil. Segundo a escritora, precisava-se não só fazer propaganda na Europa, como também no próprio país. Tendo este fito em comum, Júlia Lopes, em uma de suas viagens ao Espírito Santo, realizada no ano de 1912, relatou sua rotina diária, criticou a devastação das florestas com a construção da estrada de ferro da Leopoldina, além de tecer comentários elogiosos ao governador do estado do Espírito Santo à época, Jerônimo Monteiro. De acordo com as suposições da pesquisa em curso, cabe destacar, que o “feminismo estratégico” mencionado acima, faz alusão à forma como Júlia Lopes consegue se inserir na seara intelectual masculina, ao produzir textos que compartilhavam dos mesmos valores patriarcais. (ST45) Deividi De Santana Silva (Pós-graduando) Publicidade e Consumo Infantil: Estratégias publicitárias e resultados econômicos (São Paulo, 1969 a 1978) Uma das marcas das crianças no Brasil contemporâneo é a Cultura do Consumo, como elemento distintivo, das mais variadas formas de sociabilidade infantil. Entre os fatores fundamentais para consolidação de uma infância marcada pelo Consumo de bens e produtos e novas vidências foram às transformações no espaço Público que, entre nós, tem sido marcada por transformações fortemente influências por viés mercadológico, sobretudo, a partir da segunda metade do século XX nos centros urbanos. Deste modo, a presente apresentação irá mostrar os resultados da pesquisa de mestrado que apontam a proeminência do nicho de mercado publicitário que percebe as crianças como consumidores “autônomos” como elemento fundamental para consolidar, entre os pequenos, a famigerada Sociedade do Consumo. Cabe dizer, que era apenas do ponto de vista publicitário que as crianças eram percebidas como consumidores “independentes”, pois do ponto jurídico e social elas eram tuteladas pelos adultos que na pratica eram os que detinham a o poder aquisitivo e a decisão se a criança deveria ou não consumir determinado bem ou mercadoria. Irei apresentar a analise dos resultados dos debates publicitários, realizados nos mais variados veículos, na cidade de São Paulo entre 1969 e 1978, período de intenso debate publicitário, que culminou a criação do Conselho Nacional de Autoregulamentação, o Conar, em 1978 - órgão responsável por regular a publicidade infantil-, bem como a Cultura Visual da Publicidade Infantil impressa que se consolidou na cidade de São Paulo no período em questão. (ST01)

Denilson Botelho De Deus (Pós-doutor/UNIFESP) Sobre objetividade e isenção no jornalismo da Primeira República Considerando a participação de Lima Barreto (1881-1922) em diferentes periódicos cariocas da Primeira República (como o Rio-Jornal, Braz Cubas, Correio da Manhã, Revista Souza Cruz, Gazeta da Tarde, Argos e A Voz do Trabalhador), esta comunicação aborda o processo de modernização da imprensa, notadamente o fenômeno que se pode denominar como “despersonalização” - ou seja, a publicação de textos sem assinatura, com o propósito de conferir mais força, objetividade e homogeneidade aos jornais. Como se trata de um processo histórico conflituoso, essa perspectiva é confrontada por críticas, que permitem formular uma compreensão do papel da imprensa e do jornalismo na

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sociedade brasileira contemporânea. Adota-se aqui a perspectiva teórica da história social como instrumento de análise tanto do texto jornalístico quanto da literatura - que é utilizada como fonte, nos moldes preconizados por Raymond Williams. No que tange à imprensa, parte-se do princípio de que é necessário operar um deslocamento no sentido de deixar de considerar jornais e revistas apenas como fonte, para tomá-los também como objeto de investigação. Já quanto à literatura, entende-se que ela não é apenas reflexo da realidade, nem expressão artística que guarda distanciamento do seu contexto de origem, visto que inevitavelmente atua sobre os indivíduos e participa do movimento da história. Desta forma, ao analisar alguns textos ficcionais, percebe-se a formulação de um contraponto ao discurso hegemônico da isenção e imparcialidade que se constrói na imprensa nas décadas iniciais do século XX no Brasil. (ST36) Denise Aparecida Soares De Moura (Doutora/UNESP) O acervo da Mapoteca e do Arquivo Histórico do Itamaraty: materiais para uma abordagem ibérica e atlântica da História do Brasil-colônia. Dentro da proposta deste Simpósio Temático de discussão de arquivos e documentos para a história do Brasil colônia esta comunicação pretende apresentar o potencial do acervo da Mapoteca e do Arquivo Histórico do Itamaraty para a realização de pesquisa em perspectiva ibérica e atlântica do Brasil-colônia no século XVIII. Com a dissolução da união entre as duas Coroas ibéricas, em 1640, as conexões entre Portugal e Espanha e seus domínios na América não foram interrompidas. Contrariamente, elas prosseguiram fortalecidas em virtude dos desdobramentos de suas disputas territoriais no âmbito da diplomacia, do comércio à rigor tido como ilegal, mas amparado em várias brechas institucionais, da troca de conhecimentos geográficos do território da América, da mobilidade espontânea ou forçada de suas populações e da comunicação entre seus funcionários ultramarinos. A historiografia brasileira, contudo, tende a focalizar estas conexões em dois recortes cronológicos específicos: durante a união entre as duas Coroas (1580-1640) e o das vésperas da independência (1808-1822). Por outro lado, o século XVIII tendeu a ser entendido predominantemente do ponto de vista dos impactos político-administrativos, econômicos e sociais advindos da exploração mineral. O acesso à documentação mais diretamente relacionada à política internacional da Coroa Portuguesa no século XVIII contribui, contudo, para que a abordagem da história do Brasil neste período seja mais ampla e conectada à história dos outros domínios hispânicos situados na América, como os do vice-reinado do Peru e do Rio da Prata. Pesquisas que venho realizando com coleções de documentos mantidos no Arquivo e Mapoteca do Itamaraty para o projeto FAPESP intitulado “Conhecimento da bacia hídrica dos sertões do Tibagi e diplomacia na formação dos limites meridionais do Brasil (1768-1773)” têm me mostrado que estas instituições conservam um vasto acervo de mapas, plantas, desenhos, cartas e correspondência diplomática que possibilitam abordar a história do Brasil-colônia ao longo de todo o século XVIII nesta perspectiva. Na historiografia brasileira alguns autores fizeram uso de documentos deste acervo. para investigar temas do século XVIII. Contudo, a rica e variada coleção de documentos do Itamaraty ainda é pouco explorado pela pesquisa histórica sobre o Brasil-colônia, pois pode-se considerar que ainda paira sobre ela a herança de uma “cultura do sigilo”, conforme indicada por José Honório Rodrigues. O uso de sua documentação, munido de referências teóricas da história atlântica promete avanços na história do século XVIII do Brasil do ponto de vista temático e da abordagem, como será indicado nesta comunicação. (ST32)

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Desire Luciane Dominschek Lima (Doutoranda) O jornal “o escudo” - o uso do impresso para a prática de formação técnica e formação ideológica O objetivo primeiro do jornal “O ESCUDO” foi a aplicação prática dos alunos/aprendizes no curso de artes gráficas da escola SENAI de Curitiba, desenvolver o jornal desde sua editoração até a impressão eram exercícios práticos da oficina, mas o jornal além de exercício da prática apresentava forte conteúdo ideológico sobre a formação profissional dos aprendizes. O Jornal circulou por 44 anos, a publicação do periódico indica uma boa organização da Associação de Alunos do SENAI, a fragilidade da organização da A.A.S. parece ter também influência a organização dos redatores do jornal, que até a década de 1970 é massivamente composta por alunos. “ O ESCUDO”, cumpriu por muito tempo com seu papel de reproduzir as ideologias hegemônicas da escola SENAI, mas não conseguiu se alinhar a revolução tecnológica, e com o acesso a internet a produção do jornal e a participação dos alunos foi secundarizado.“O ESCUDO” um jornal da Associação dos Alunos da escola SENAI-PR que foi publicado entre as décadas de 1940 e 1990, e constituiu-se como veículo de comunicação e expressão dos alunos e da associação, representativo de ideias em um período longo de 44 anos, através dos temas abordados no jornal conhecemos um pouco da cultura institucional do SENAI da cultura Curitibana e Paranaense. (ST29) Diego Batista Penholato (Mestrando) O FUNTEC e a Modernização das Universidades Brasileiras Em julho de 1964, poucos meses após o golpe civil-militar de março daquele ano, tomou posse na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – (BNDE), o economista José Garrido Torres. Um dos apoiadores do movimento golpista, através de sua atuação no IPES, Garrido Torres implementou uma série de transformações no banco. Entre essas mudanças, a criação do Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico – (FUNTEC), feito ainda em 1964, explicitou a importância que os investimentos na área de educação, sobretudo no ensino superior, passaria a ter daquele momento em diante. O presente trabalho buscará explicitar a importância do referido projeto para ampliação dos cursos de pós-graduação no Brasil, bem como a relação que a implementação do projeto possuía com os pressupostos políticos e intelectuais que José Garrido Torres defendeu antes e depois do do golpe de 1964. Avaliaremos de que maneira a criação do FUNTEC foi fruto de mudanças na concepção dos investimentos daquele Banco, as dificuldades de implementação do projeto, sua importância para capacitação profissional dos profissionais na área de engenharia e os debates em torno de sua expansão para além dos cursos das áreas tecnológicas que passou a ser cogitado após os primeiros anos. (ST29) Diego Becker Da Silva (Mestrando/USP) Comunistas e campesinato: a experiência de Nestor Vera no movimento camponês Segundo a nova narrativa hegemônica do Brasil atualmente o campo e a agricultura são partes de um setor moderno e competitivo na escala mundial que contribui para a ordem e progresso do país. Esta narrativa faz parte de uma longa luta de formação da grande lavoura, algo que foi especialmente intensivo a partir do final da II Guerra Mundial. Foi neste período que se formou no Brasil um movimento camponês que permanece vivo até hoje, apresentando visões alternativas de um campo menos monopolizado pelo capital. Um dos protagonistas mais presentes durante as três décadas iniciais deste movimento foi o camponês Nestor Vera, militante destacado do Partido Comunista do Brasil (PCB) para atuar no meio rural. Até seu assassinato em 1975 pela ditadura civil-militar, em seus anos de luta política Vera foi presidente de uma Liga camponesa, membro do Comitê Estadual do PCB, dirigente do jornal Terra Livre, secretário da ULTAB, organizador do

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Congresso de Belo Horizonte (1961), fundador e tesoureiro da CONTAG. Com o presente trabalho pretendemos problematizar a narrativa atual da hegemonia do agronegócio com um estudo da trajetória política de Vera, até agora pouca reconhecida na historiografia brasileira. A periodização proposta é de 1946 a 1975, se concentrando em três períodos que condicionaram a dinâmica do desenvolvimento da ação política e pensamento de Nestor Vera e assim o movimento camponês, começando por 1946 a 1954 marcado pela luta em torno das Ligas Camponesas e Associações rurais, a qual Vera teve participação na Liga Camponesa de Santo Anastácio, momento que teve forte apelo ao enfrentamento direto ao latifúndio, há também a mudança da política do PCB de luta armada para a busca dos direitos trabalhistas, momento da formação da ULTAB; depois 1954 a 1964 marcado pela atuação da ULTAB, o qual tem por proposta a sindicalização rural, e que marca uma radicalidade no discurso e uma prática voltada mais as questões trabalhistas e de reformas, além da formação e dominação da CONTAG no meio camponês; 1964 a 1975, já emergido na ditadura civil-militar brasileira Nestor Vera viu o movimento camponês se desfalecer, ser colocado na clandestinidade, dos enfrentamentos e rachas dentro do partido, surgimento de outras formas políticas de organização e luta armada, passou para uma luta democrática reforçada pelos sucessos eleitorais em 1974, até seu assassinato em abril de 1975. (ST40) Dirceu Casagrande Junior (Doutorando) Gérman A. De la Reza: estudos historiográficos sobre o Ciclo Confederativo e a História da Integração Latino Americana no século XIX As intenções de promover a integração das nações latino americanas imediatamente após os processos de independência das colônias da América Espanhola, datam do início do século XIX. Os movimentos de integração foram identificados pela historiografia latino americana e ficaram conhecidos como Ciclo Confederativo. De acordo com o historiador mexicano Gérman A. de la Reza, autor de vários estudos e ensaios sobre o tema, o Ciclo Confederativo latino americano se articulou em torno de três processos ou etapas: a dos tratados confederativos da Gran Colômbia até o Congresso do Panamá, em 1826; do pacto de família até o Congresso de Lima de 1846-1847; e do Tratado Continental de 1856 até o Segundo Congresso de Lima de 1864-1865. Sua importância reside no esforço de responder a ameaças externas aos processos de independência na região a partir da formação de um exército comum, bem como, de um congresso de nações com faculdades arbitrais, a fim de evitar que os participantes da aliança confederativa na América Latina entrassem em guerras uns contra os outros. O Ciclo Confederativo latino americano porém, malogrou coincidentemente com a ocorrência das primeiras guerras de conquista entre os hispano-americanos e o florescimento hegemônico do Estados Unidos da América na segunda metade do século XIX, entre outros fatores. Os objetivos desse trabalho são conhecer e apresentar os principais aspectos e elementos que configuram o Ciclo Confederativo e a História da Integração latino americana. (ST32) Dora Shellard Correa (Doutora/UNIFIEO) O Estado, as agências internacionais e os camponeses na luta pela água no Cabo Verde. O arquipélago do Cabo Verde uma extensão do Sahel continental, como o próprio Sahel, é um país de clima árido e semi-arido com escassos recursos hídricos. Está exposto a períodos de seca que resultaram em crises alimentares seríssimas no passado. Estima-se que nos anos de 1940, 45276 pessoas morreram de fome, o que representava por volta de 25% da população residente naquela década. Vários estudos têm ressaltado positivamente as medidas legais e práticas empreendidas após a independência de Portugal em 1975, que promoveram a construção de unidades de dessalinização a água do mar, o reflorestamento, a valorização dos recursos hídricos e a gestão racional da

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água. Buscou-se reconstituir a flora das ilhas e minorar os efeitos das secas e da fome. Nesta comunicação iremos relatar essas ações e discutir o papel do Estado, das agências internacionais e dos camponeses nos resultados obtidos. (ST37) Douglas Henrique De Souza (Mestrando) “Pela Polícia”: um estudo dos casos de homicídio veiculados no jornal A Notícia (1935-1939) A partir do levantamento dos casos de homicídios reportados em A Notícia (1935-1949), jornal sediado no município de Assis, a comunicação pretende analisar as colunas policiais de circulação na primeira fase do semanário. Comparativamente aos Processos Crimes da Comarca, o trabalho delineará o perfil dos envolvidos presentes nas notas e investigará os critérios de seleção do impresso, ao informar determinadas ocorrências da localidade em omissão às outras demais, complementando a avaliação dos níveis de impunidade daqueles casos que não desfecharam em inquérito. Para tanto, salientam-se alguns elementos pertinentes a serem indagados nas notícias: a classe social dos acusados e das vítimas; o local do crime; os precedentes e as ações situacionais do delito, além da distinção dos fatores inusitados agravantes da tragédia, aspecto decisivo para o uso estratégico da linguagem sensacionalista. De antemão, sabe-se que nem todos os acontecimentos tiveram os mesmos espaços e atenções dedicadas nas páginas do periódico, preenchidas aliás em sua maioria por assuntos da esfera política, um dos motes editoriais da publicação. A imprensa assisense, nesse sentido, fundou-se sobre as bases partidárias dos grupos dirigentes da cidade, característica marcante de A Notícia, representante do Partido Constitucionalista (PC) que rivalizou com o Jornal de Assis (1920-1963), defensor da ideologia do Partido Republicano Paulista (PRP). O público (e)leitor depositava a confiança em um dos hebdomadários na leitura de notícias persuasivas e revestidas da quimérica imparcialidade e neutralidade propalada pelas folhas, princípios justificativos do discurso de salvaguarda dos interesses populares colocados em pauta. A criminalidade do município, problema enfrentado pelos moradores que não teve igual proporção aos outros elencados em A Notícia, sinalizava o processo da venda de uma imagem pacificada de Assis, desejosa no projeto de valorização do progresso disseminado no imaginário da população pelo jornal. Entretanto, as contradições da sociedade dificilmente seriam relegadas ao absoluto silêncio. Em A Notícia, totalizaram-se 7 casos de homicídio, dos quais apenas 2 tiveram envolvimento de mulheres. A coluna variavelmente denominou-se “Pela Polícia”, tal como indicado no título, e teve aparições irregulares até ser substituída pela nova seção “Justiça Local” que destinou formato diferente ao conteúdo ali registrado. Momentos antes da decretação do Código Penal de 1940, os idos anos de 1930 matizaram no Brasil um quadro de instabilidades políticas, resultado dos antagonismos travados entre as forças getulistas propugnadoras de iniciativas modernizadoras e os resquícios persistentes dos mandonismos regionais herdados da Primeira República. (ST34) Douglas Maris Antunes Coelho (Pós-graduando) Feitiçaria e cultura popular na Obra de Carlo Ginzburg O presente trabalho tem por objetivo abordar e analisar as reflexões sobre feitiçaria e cultura popular desenvolvida pelo historiador italiano Carlo Ginzburg durante os primeiros anos de sua produção intelectual (1961-1972), abarcando suas principais obras desse período, I benandanti (Os andarilhos do bem, 1966), Il nicodemismo. Simulazione e dissimulazione religiosa nell'Europa del Cinquecento (Nicodemismo. Simulações e dissimulações religiosa na Europa do Quinhentos, 1970) e Folklore, magia, reglione (Folclore, magia e religião, 1972), atentando-se aos seus interlocutores, a recepção crítica e a emergência de uma prática de pesquisa que marcou a historiografia do século XX. (ST18)

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Eder Adriano Pereira (Mestrando) Um estudo sobre o contexto das leis de amparo ao menor (1940-1990): o crime de sedução de menores na região de Assis e a relação de poderes entre a justiça, o réu e as vítimas. Esta pesquisa pretende pela análise de fontes processuais do CEDAP - Centro de Documentação e Apoio a Pesquisa situado na UNESP/ Assis, distribuídos pela natureza catalográfica do 3º Ofício (Inquéritos e Processos Criminais), apresentar o tratamento judicial dado aos réus e as vítimas inseridos no crime de sedução de menor no período anterior a estruturação do Estatuto da Criança e do Adolescente na Região de Assis. Para esse fim, utilizaremos um corpus de 17 processos e inquéritos datados entre: 1940 a 1990. Estes, previamente escolhidos no acervo da Comarca Judicial do CEDAP, nos evidenciarão em suas linhas gerais de documentação, quem eram esses réus (familiares ou não) e como a justiça encaminhava os casos dentro da conjuntura das leis. Para isso, os dezessete processos já catalogados ou em fase de transcrição deverão passar por uma ampla análise de leituras, reflexões e questionamentos inserindo os discursos processuais ao âmbito jurídico e social da época em abordagem. (ST01) Eder Aparecido Ferreira Sedano (Mestrando) Bezerra da Silva: Problemáticas do cotidiano nos morros cariocas, nas décadas de 1980 e 1990. O presente trabalho, que se concretizará em dissertação de mestrado, tem o intuito de pesquisar algumas questões do cotidiano nos morros cariocas, nas décadas de 1980 e 1990, problematizando a produção artística do sambista Bezerra da Silva. Entre outras questões, sua obra expõe o cotidiano dos denominados “excluídos da história”, personagens antes ignorados pela historiografia tradicional de cunho positivista, que na obra de Bezerra da Silva se fazem representar pelos moradores dos morros da cidade do Rio de Janeiro, no período entre as décadas de 1980 e 1990. Partindo da história local (micro-história) pretende-se expandir a problematização da pesquisa para o contexto histórico e social brasileiro no período citado, seguindo a metodologia da História Cultural, surgida com as renovações que marcaram decisivamente a historiografia, ao final da década de 1960, promovendo a consolidação de uma nova tendência historiográfica e a expansão dos tipos de fontes, documentos, sujeitos e dos objetos na pesquisa histórica. A história Cultural é categorizada como pertencente à Nova História, descendente direta do grupo de historiadores franceses dos Annales. É também vinculada a alguns trabalhos do renovador grupo de historiadores sociais ingleses, que possuem papel importante na expansão dos horizontes historiográficos. No período entre as décadas de 1980 e 1990, o intérprete Bezerra da Silva selecionou e reuniu letras musicais e melodias de inúmeros compositores – em sua grande parte, moradores dos morros cariocas e das áreas periféricas da Baixada Fluminense – desconhecidos do grande público, para juntar às músicas de sua autoria na formação do seu repertório e na gravação dos seus discos. Essas músicas se inserem no contexto citado como formas de protesto e de denúncia contra a precariedade vivida pela população carente dos morros cariocas. Mais do que isso, expressam a visão de mundo, os anseios, os descontentamentos, o cotidiano e as táticas de sobrevivência e resistência desses moradores e da população pobre de todo o país, gerando uma grande identificação desse nicho populacional com o artista e com a sua obra. Essa própria população divulgará o seu repertório pelos quatro cantos do território brasileiro. A obra de Bezerra da Silva nas décadas de 1980 e 1990 será priorizada como fonte histórica, abrangendo as letras de suas músicas, melodias e as imagens contidas nas capas de LP’s e CD’s. Além disso, serão utilizados documentários, entrevistas em jornais e revistas, com destaque para o documentário “Onde a coruja dorme”, dos diretores Márcia Derraik e Simplício Neto. Esse documentário possui depoimentos gravados no

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fim da década de 1990 do artista Bezerra da Silva e dos compositores que lhe acompanhava. (ST26) Eduardo Amando De Barros Filho (Doutorando) As bases para a criação da Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa A inauguração oficial da televisão no Brasil ocorreu no dia 18 de setembro de 1950, quando foram ao ar as primeiras imagens da TV Tupi, canal 3, de São Paulo, segunda emissora da América Latina, cujo concessionário era Assis Chateaubriand. Com base no padrão televisivo norte-americano, televisão brasileira nasceria e se desenvolveria em grande medida a partir da iniciativa privada e sob o modelo comercial. Apesar do estabelecimento de um modelo ancorado em uma programação que priorizava o entretenimento, visando à audiência e, principalmente, aos rendimentos das emissoras, desde o início dos anos de 1950, existiram iniciativas voltadas à transmissão de programas educativos, ainda que com espaço espaços reduzidos na composição das grades de programação televisivas. No final da década de 1950 e início da de 1960, além do aumento de programas educativos, principalmente por meio de parcerias entre as emissoras privadas e universidades e/ou poder público, embora ainda em número ínfimo, quando comparado aos demais gêneros, surgiram as primeiras emissoras educativas. Alguns anos adiante, as definições e iniciativas em direção a uma televisão educativa foram encampadas pelo Estado, então, sob o mando do regime militar. Estes governos elaboram projetos para incentivar a implementação de emissoras educativas e intentar constituir uma rede de tais emissoras sob o comando do poder federal. Nessa direção, em 1967, foi criada a Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa (FCBTVE), com vistas a atuar como centro produtor e distribuidor de programas educativos. Portanto, está comunicação tem como objetivo analisar historicamente os debates e iniciativas advindos da imprensa, empresários televisivos, particulares, universidades e poder público, as quais possibilitaram à constituição de alternativas ao modelo televisivo comercial, dando bases para a criação da FCBTVE e para o projeto de uma rede oficial de emissoras educativas. (ST34) Eduardo Augusto Costa (Doutor/UNICAMP) Três publicações do IPHAN: Diálogos entre fotografias e patrimônios. O artigo ‘A Fotografia no Brasil’, publicado em 1953; o número 27 da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, publicado em 1998 e dedicado exclusivamente ao tema da fotografia; e o número 4 dos Cadernos de Pesquisa e Documentação do IPHAN, publicado em 2008 e dedicado à “fotografia na preservação do patrimônio cultural” formam um pequeno conjunto de excepcional relevância para o entendimento da fotografia no interior do IPHAN. Apesar de alguns destes textos terem sido objeto de reflexões e avaliações, a associação entre eles ainda não foi tema de investigação. Essa questão se revela importante na medida em que se identifica que estas são as únicas publicações editadas pelo IPHAN com dedicação exclusiva ao tema da fotografia, caracterizando-as, portanto, como documentos contundentes das abordagens, valores e entendimentos associados à fotografia na sua relação com o patrimônio. É, portanto, oportuno identificar certas características e particularidades individuais de cada uma destas publicações, assinalando aspectos chaves para a compreensão da fotografia em diálogo com as noções de patrimônio. Noções que funcionaram e funcionam como balizas para os debates patrimoniais realizados por especialistas, historiadores e arquitetos. (ST10) Eduardo Giavara (Doutor/UFU) Movimento ambiental em Portugal: novos programas e novas agendas

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A luta ambiental nunca encontrou espaço fácil em meio a política do Estado Novo português, a Liga para a Proteção da Natureza – LPN – criada em 1948, tinha como objetivo denunciar o processo de destruição da Serra da Arrábida, situada na península de Sétubal. A entidade desempenhou papel importante nesse processo de conscientização da degradação do território, mas sempre circunscrita em sua atuação. Ao longo de sua existência desempenhou papel conservacionista e a militância ambiental e ações de critica mais contundente não encontrava respaldo do governo. Em abril de 1974, com o final do regime e a iminente crise energética colocaram o novo governo diante de novas demandas para que o país pudesse se modernizar e integrar o bloco europeu, dentre essas novas exigências estava à necessidade de uma nova orientação para agricultura e a produção de recursos energéticos. Essas exigências pensaram a comunidade portuguesa e grupos ambientalistas, cientes do perigo, engrossavam as reclamações em torno das questões ambientais. As entidades se multiplicaram, tendiam a discursos mais radicalizados, alguns libertários, outros associados ao marxismo, no entanto o mais expressivo foi o Movimento Ecológico Português – MEP –, sob a liderança de Afonso Cautela, tinha como pauta as denúncias do uso da energia nuclear e os resíduos radioativos como maior perigo. Essa investigação está centrada na produção bibliográfica das duas entidades, o período de catalogação se estende de 1948, criação da LPN, até o ano de 1977, momento que se encerra o periódico Frente Ecológica do MEP. (ST37) Eduardo Jose Afonso (Doutor/UNESP-Assis) Como se cria um estereótipo : Walt Disney no Brasil O artigo que ora apresentamos busca retratar, na década de 40 do século XX, como os EUA articularam a política de boa vizinhança na construção de um discurso de amizade e “reconhecimento”. Tomamos, aqui, a visita de Walt Disney ao Brasil, em agosto de 1941, e a criação de uma figura, que “representasse” o brasileiro comum, o Zé Carioca, para discutir os meios usados pelo governo norte-americano de então, para angariar as simpatias da sociedade brasileira para uma causa que interessava , naquele momento, muito mais os interesses estadunidenses no Brasil do que `a própria sociedade daquela época. (ST16) Eduardo Norcia Scarfoni (Doutorando) Democracia e perspectivas educacionais brasileiras pela ótica dos dirigentes do ensino privado no XX Congresso Nacional dos Estabelecimentos Particulares de Ensino - CONEPE (1985) Esse trabalho corresponde a um recorte temático de uma pesquisa de doutorado em desenvolvimento que examina o processo de privatização do ensino no período da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985). Os Congressos Nacionais dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (CONEPEs) têm início em 1944 e objetivavam debater questões educacionais e o papel da escola particular, para articular uma atuação conjunta dos dirigentes de estabelecimentos particulares de ensino. Diversas questões sobre a educação nacional eram selecionadas e debatidas nesses encontros, a partir dos interesses desses sujeitos, que as entendiam como cruciais para intervir no desenvolvimento educacional do país. A Federação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (FENEN) era a principal organizadora desses congressos, centralizando suas ações, sempre buscando fortalecer os interesses das escolas privadas. Diferentes posicionamentos sobre a educação nacional foram debatidos nos CONEPEs, sendo possível observar as diferenças entre as posições e opiniões ali debatidas, desde membros da Associação de Educação Católica (AEC), até empresários sem qualquer vínculo confessional. Esses sujeitos se constituíam como uma força social ativa, que em momentos decisivos, se mantinham coesos para defender seus interesses.

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Os dirigentes de estabelecimentos particulares de ensino são entendidos aqui como intelectuais que atuam diretamente para homogeneizar sua classe. Não no sentido que todos se tornarão iguais, mas que em determinados momentos defenderam como em uma frente única interesses comuns. Tomamos como base as noções de Gramsci quando este coloca que não existe o não intelectual, todos veem de uma atividade profissional específica, o que se altera são os diversos graus e funções da atividade intelectual. As relações sociais que compõem a vida de cada pessoa e as condições de trabalho em determinadas relações interfere diretamente no conceito de intelectual de Gramsci (2011) onde esse “[...] conjunto do sistema de relações na qual estas atividades se encontram no conjunto geral das relações sociais”. Com isso, o objeto central do presente artigo é a conferência Democracia e Perspectivas Educacionais Brasileiras, pronunciada por Claudio de Moura Castro, à época membro da Secretaria de Educação Superior do Ministério de Educação e Cultura, apresentada no XX CONEPE, realizado na cidade de Florianópolis, no estado de Santa Catarina, entre os dias 14 e 18 de julho de 1985. A temática central desse congresso foi “Democracia e Liberdade de Ensino” em um momento em que o país vivia em intensa disputa entre sujeitos ligados a educação pública e privada devido a sua abertura para o regime democrático e a elaboração da nova Constituição Federal. (ST29) Eduardo Silveira Netto Nunes (Doutor/Unicastelo) Representações da infância e da política em Cuba contemporâneas a partir da reflexão sobre o filme Numa Escola de Havana As vivências infantis e as representações sobre elas servem para inúmeros propósitos nos discursos dos adultos. Apresentar ou melhor, construir retratos de experiência de crianças tem sido utilizado como um recurso narrativo para, em diferentes circunstâncias, se oferecer olhares críticos à sociedade na qual se vive. O filme Numa Escola de Havana, ao retratar a experiência de uma criança estudante (o personagem Chala), procura construir uma representação da infância popular de Havana, Cuba, em interação com o sistema cubano, no caso focado a partir de uma Escola que representaria as contradições/dilemas do regime de Cuba e que estaria expresso nas experiências da professora Carmela. Com esse trabalho analismos as representações construídas sobre a infância cubana e a relação dessa infância representada com os olhares dos diretores a respeito da sociedade e do regime político cubano contemporâneo (2014). (ST01) Elaine Caramella (Doutora/PUC-SP) História, História da Arte e historicidade na concepção de imagem Este texto objetiva estabelecer relação entre História e História da Arte, diferenças epistemológicas e contaminações, a partir da cultura da imagem. Elege para estudo obras de diferentes tempo e espaço, mediado por uma rede de conceitos de Didi-huberman, Walter Benjamin, Derrida. A arte imagética como documento História, mas também como processo de deformação e produção da diferença peça ação trabalho escritural do artista, construindo concepções de historicidade. (ST10) Elaine Lourenco (Doutora/UNIFESP) De aluno a professor: relatos de jovens docentes de História Os estudos de currículo chamam a atenção para a diferenciação entre o currículo prescrito e o currículo em ação. De maneira análoga, podemos considerar as diferenças entre a prescrição e prática do currículo de formação inicial dos professores nos cursos de licenciatura e sua expressão nas práticas cotidianas dos jovens docentes egressos destes cursos. O que o presente trabalho examina, por meio de entrevistas de História Oral, é como egressos do curso de História da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) avaliam sua formação acadêmica em relação a suas práticas profissionais, elas

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próprias ainda bem recentes. Tal balanço se reveste de particular importância, uma vez que o curso iniciou suas atividades em 2007 com um projeto pedagógico que integrava a formação do bacharel e do licenciado; além disso, o Estágio Supervisionado é assumido como uma modalidade de pesquisa, que parte da análise da cultura escolar da unidade de campo e, a partir daí, propõe um projeto de regência adequado à situação. Desta forma, espera-se perceber como se constituiu o saber desses jovens docentes, como este se expressa no cotidiano escolar, qual relação estabelecem com os currículos prescritos, com os materiais escolares, com os outros docentes e, inclusive, o impacto da experiência de estágio em sua atuação docente. Busca-se contribuir, desta forma, para o entendimento dessa experiência em particular, bem como refletir de maneira mais geral sobre o papel das licenciaturas na formação de professores. (ST05) Elena Schembri (Mestre) Luce Fabbri e a revista “Studi Sociali”, uma história de contracondutas. A história de Luce Fabbri e de sua família, constrangida a fugir da Itália pelas perseguições políticas após a instauração do regime fascista, possui muitos pontos em comum com a história de tantos fuoriusciti que fugiram da ditadura e se refugiaram em países mais ou menos distantes da península italiana. A revista “Studi Sociali, Rivista di Libero Esame” publicada em Montevidéu de 1930 a 1946, foi fundada por anarquistas italianos exilados em Uruguai. Nos primeiros cincos anos de sua vida, a publicação em língua italiana foi redigida por Luigi Fabbri, figura relevante do anarquismo internacional e profundo amigo de Errico Malatesta, enquanto após o 1935 e a morte do mesmo fundador, passou a ser dirigida pela filha, Luce. Este segundo periódo, sobre o qual pretendemos focar nossa atenção é também o tema da minha pesquisa de doutorado, um trabalho através do qual o objetivo é reconstruir os aspectos biográficos da vida da diretora e seu papel de militante anarquista, exilada política e intelectual, em suma, uma história de contracondutas, conforme o termo foucaultiano, e de resistências aos poderes repressivos como aquele fascista. Luce Fabbri (1908-2000), prolifica escritora e defensora de um anarquismo pedagógico de cunho liberal, foi e ainda é relativamente pouco conhecida no pensamento libertário internacional e acadêmico. Apesar disso, seu trabalho como escritora e diretora foi muito importante no mundo do fuoriuscitismo de marco anarquista e, de fato, seu periódico era destinado principalmente à publicação e à difusão das ideias libertárias entre os italianos migrantes e perseguidos pelo regime de Mussolini. Eram anos difíceis ao longo dos quais a Europa sofria a imposição do fascismo na Itália, o nazismo ganhava o poder na Alemanha e a Guerra Civil Espanhola culminava com a instauração da ditadura de Franco. O título escolhido, “Studi Sociali”, tornava claro as intenções da publicação, ou seja, aquelas de analisar os problemas sociais e fazer um balanço, em uma situação distante das problemáticas europeias, das atividades desenvolvidas naquele momento histórico tão confuso e perturbado. A revista enfrentava assim temas ligados à atualidade política e social, com artigos que discutiam casos particulares, graças à fértil correspondência com os combatentes e resistentes europeus, e refugiados em diferentes cantos do mundo, mas também funcionava como meio de informação pedagógico, dedicando muitos parágrafos à teoria anarquista e revolucionária e à formação dos militantes. Novas e velhas questões dentro do pensamento anarquista que precisavam ser investigadas e entendidas e que Luce soube enfrentar com lucidez e firmeza. (ST45) Elisielly Falasqui Da Silva (Mestranda) O ordinário como precioso: drogas e comidas nas descrições de Gabriel Soares de Sousa (1587) e de Guilherme Piso (1658) Através de uma análise comparativa entre os escritos do cronista português Gabriel Soares de Sousa (década de 1540-1591) e do médico neerlandês Guilherme Piso (1611-

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1678), pretendemos observar como cada um construiu a descrição de aspectos alimentares e relacionados à restauração ou manutenção da saúde a partir de seus interesses – individuais ou coletivos –, bem como de sua formação e do contexto político e intelectual no qual estavam inseridos. Longe de elaborar uma comparação que busque classificar as obras como mais ou como menos completas, por exemplo, nossa intenção é explorar as possibilidades oferecidas pela análise das duas obras para a abordagem da história da alimentação e dietética, ajuizando as especificidades, inclusive cronológicas, das experiências de cada autor. Considerando a extensão das obras de Sousa e de Piso, Tratado descritivo do Brasil em 1587 e História Natural e Médica das Índias Ocidentais, respectivamente, optamos por selecionar para uma análise mais detalhada a descrição de três produtos bastante significativos para nossa abordagem: a mandioca, descrita à larga pela maioria dos cronistas, que viam nela o pão da terra, substituto do trigo; o tabaco, cujas virtudes logo se sobrepuseram ao seu polêmico, na visão dos europeus, uso pelos indígenas; e as palmeiras, louvadas pela diversidade de espécies e de víveres que ofereciam. Os três produtos selecionados são elencados por Guilherme Piso como as três preciosidades americanas, para as quais ele não encontra correlatos no Velho Mundo, em grau de nobreza e excelência. Buscaremos observar se Piso, sendo médico, enfatizou exclusivamente ou primordialmente os aspectos medicinais desses produtos, e em que sentido as descrições dele e de Sousa diferem ou convergem, perquirindo, como já dissemos, os interesses e os conhecimentos mobilizados na elaboração de tais descrições. Consideramos que, apesar das especificidades, há um aspecto que torna as duas obras passíveis de comparação: tanto Sousa quanto Piso estão inseridos, cada um a seu modo, em momentos de contato inicial entre Velho e Novo Mundo e precisam lidar com a incorporação das novidades que se seguem à descoberta da América ao mesmo tempo em que sua própria sobrevivência é colocada em jogo, uma vez que ambos residiram no Brasil e se depararam com situações, cotidianas inclusive, que até então eram absoluta ou parcialmente desconhecidas pelos europeus. Nesse sentido, observar como os autores abordaram questões tão essenciais à sobrevivência como a alimentação e a conservação da saúde apresenta-se como uma rica possibilidade de pensar não apenas a alimentação e a medicina, mas o próprio contato entre Velho e Novo Mundo. (ST22) Elson Luiz Mattos Tavares Da Silva (Mestrando) Lugares de memória das Ditaduras: As experiências no desenvolvimento das políticas de memória no Brasil e na Argentina a partir de lugares edificados Entre os anos de 1960 e 1970 a América Latina vivenciou sucessivos golpes militares para a instalação de ditaduras de segurança nacional. Já a década de 1980, por outro lado, foi marcada pela reabertura política em alguns desses países. Entendendo que esses processos políticos, traumáticos pela tamanha violência em diversos sentidos, geraram memórias difíceis e, com isso, criaram um desafio às respectivas sociedades: preservar ou esquecer? Dessa forma, a preservação de lugares em que funcionaram órgãos do terrorismo de Estado tem sido um instrumento importante para, ao menos, permitir o reconhecimento público desse passado violento. Assim, têm sido observados lugares no Brasil e na Argentina, a partir de edificações em São Paulo e Córdoba, em perspectiva comparada. No caso brasileiro, o Portal do Presídio Tiradentes, o Memorial da Resistência, e as instalações do antigo DOI-CODI; e, no caso argentino, o Archivo Provincial de la Memoria, La Perla e La Ribera. Verificando então as próprias construções, suas transformações e historicidade, principalmente os processos de transição de instituições da repressão para lugares de preservação da memória, busca-se compreender o papel dos lugares de memória no conjunto de políticas de reparação e de justiça de transição. (ST32)

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Elton Bruno Ferreira (Doutorando) O lugar da literatura de Cornélio Pires nos primórdios do século XX Após migrar de Tietê, interior de São Paulo, em 1902, para a pensão da Tia Belisário, Cornélio Pires passara a transitar entre os mundos de uma cidade em expansão e o seu local de nascimento, com características caipiras. A capital se tornou o espaço no qual o escritor e agente cultural passou a apresentar o seu tipo de caipira através de apresentações teatrais, usando o recurso do humor, ou apresentando violeiros trazidos da região tieteense. Foi na urbe que em 1910 lançou seu primeiro livro com inspiração do gênero, Musa Caipira. A partir disso, seguiram-se vários outros que, em sua maioria, visavam dar conta de um tipo de organização cultural representado pelas ideias do escritor. Em seus escritos é frequente o diálogo entre o urbano e o rural, sendo que na maioria dos casos a cidade é vista sob a ótica do caipira, ou na relação entre este e os imigrantes que muitas vezes compunham a cena dos seus escritos. Cornélio usava a oralidade como forma de aproximar seus personagens daqueles que ele buscava representar, sendo marcante os sotaques nas falas ou mesmo nos “poemas caipiras”. A literatura era uma ferramenta que possibilitava ao escritor tieteense dar vasão às suas ideias frente à figura do caipira nos primórdios do século XX. Para além disso, a literatura se mostrava, naquele momento, um artifício na possibilidade de criar tradições em um país que tinha uma jovem república e buscava uma identificação enquanto nação. Dessa forma, se salienta a necessidade de, a partir de Cornélio, adentrar um período que refletia e discutia variadas representatividades para o caipira, buscando entender como se propunha ou pensava a sua organização cultural em contato com a cidade em transformação. (ST36) Erika Zerwes (Pós-doutoranda) A nova mulher como fotógrafa de guerra Esta apresentação pretende explorar algumas formas com as quais a vida e obra de Kati Horna e Margaret Michaelis – em especial seu trabalho como fotógrafas durante a Guerra Civil Espanhola – podem ter sido impactadas, bem como podem ter ajudado a consolidar, a noção de mulher moderna. Na Europa durante as primeiras décadas do século XX estava sendo construída, juntamente com uma certa noção de modernidade incorporada pelas vanguardas artísticas, também a noção de mulher moderna, por sua vez incorporada por muitas mulheres artistas. Eminentemente internacional, esta mulher moderna foi chamada de neue Frau na Alemanha, garçonne na França, ou flapper nos EUA. Uma parte importante da recente bibliografia sobre o assunto localiza este mulher moderna das artes justamente em Paris e na Alemanha de Weimar durante o período entre-guerras. Neste período, ao mesmo tempo em que uma geração viu algumas de suas musas se transformares elas mesmas em artistas por seu próprio mérito, também uma geração de moças das classes médias teve a possibilidade de fazer da fotografia seu métier, um dos poucos socialmente aceitos para mulheres. Tanto a húngara Horna, quando a austríaca Michaelis estudaram e atuaram com fotografia na Alemanha nos de 1930. Da mesma forma, as duas estavam na Espanha na segunda metade desta década, onde fotografaram o conflito civil associadas a grupos anarquistas. Esta experiência foi fundamental na vida de ambas de muitas formas mas, especialmente, levou à fuga da Europa, e à vida como refugiadas em outros continentes: Horna no México e Michaelis na Austrália. Este trabalho engajado fotografando o conflito espanhol foi uma ruptura na biografia e no trabalho que as duas vinham produzindo até então. Da mesma forma, ele não seria retomado depois da imigração. A possibilidade de escolher um papel essencialmente masculino, como é o de fotógrafo de guerra, foi criada em um contexto específico, o de maior liberação das mulheres no pós-Primeira Guerra Mundial, e o de suspensão

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temporária das regras durante a guerra na Espanha. As vidas destas mulheres marcam, assim, um momento de transição, porque versão delas da mulher moderna ultrapassou a de mulher profissional e independente, e encontrou uma voz e atuação política. (ST10) Érito Vânio Bastos De Oliveira (Doutorando) Gente do rádio: arquivo de lembranças na Amazônia paraense Em fevereiro de 1978, portanto, dois meses antes das comemorações dos cinquenta anos do rádio no Pará, o presidente da FUNTELPA (órgão público do governo estadual responsável pela organização e implementação de políticas públicas para o que era considerado e valorizado como “cultura” e “comunicações” no Estado), o ex-radialista Orlando Carneiro informou, pela imprensa e pelo rádio, qual seria um dos escopos principais da política pública do governo: montar um “arquivo de lembranças” com “gente do rádio” do passado e daqueles que ainda atuavam na mídia no presente. Segundo reportagem do jornal O Liberal de 05 de fevereiro de 1978, a ideia formadora do projeto assentava-se em “gravar entrevistas com os mais antigos homens de rádio no Pará”, pressupondo, dessa maneira, que a construção e organização de uma memória gravada e arquivada seria, na verdade, uma forma de “deixar registrada a história, desde há vinte anos passados, do rádio paraense”. Ora, espreitando as falas de Orlando em reportagens como essa, pode se desvelar alguns aspectos do pensamento que guiava esse projeto de “arquivo de memórias” do rádio no Pará. Inicialmente o que estava em jogo era a própria definição conceitual do que se estava fazendo com e a partir desse “arquivo” e, nesse sentido, essa política pública estadual do final dos anos 70 misturou, indistintamente, o que seria memória e história. Logo, estava em questão a própria ideia de um passado passível de ser captado por intermédio da memória, porém, ao mesmo tempo, devedor da instrumentalização da história. Era a Clio dizendo para Mnemosyne de que maneira deveria evocar o passado. Noutra direção, porém, a “história” não escrita que se desejava construir e contar não seria a própria memória registrada enquanto arquivo? Aliás, a própria noção de arquivo mobilizada, correntemente associada a documentos escritos, impressos e ilustrações que se atribuem ao ofício e interesse dos historiadores, estava sendo relacionada e colocada em uso para o que se considerava a memória do mundo do rádio e sua cultura. Porém, como em tantas experiências dos homens, o arquivo está longe de ser ponto pacífico ou admitir unicidade de sentido. Isso vale, no meu entender, para o pensamento que o procura definir, organizar e enunciar. A ideia dos agentes da política pública cultural era, razoavelmente, clara: o resultado da ação de instituições públicas no sentido de registrar e conservar os depoimentos gravados da “gente do rádio” de que se interessa ter lembrança e “manter a livre disposição”. Contudo, considero que há algo mais para ser pensado sobre esse arquivo. As fotografias antigas, as entrevistas, os depoimentos publicados na imprensa de Belém, os discursos e as celebrações com sua teatralização da memória passaram a funcionar socialmente. (ST34) Eva Aparecida Dos Santos (Mestranda) Os indígenas na história do Brasil: algumas possibilidades Não há como negar a participação dos indígenas na construção da sociedade brasileira e em toda sua história. Porém, nas escolas nada aprendemos sobre a agência desses povos. Nas aulas de história, os indígenas estão presentes no momento da invasão do território e em episódios pontuais até a independência. Mas sua participação nos acontecimentos serve apenas para ilustrar o protagonismo de outros atores sociais: o invasor, o negociante do pau-brasil, o colono, o bandeirante... Tupinambá, Guarani, Botocudo, Xavante, Bororo, Terena, genericamente chamados de índios, aparecem apenas como figurantes. Em 2008, foi promulgada a lei 11.645 , que determinou a obrigatoriedade do estudo da história e cultura das populações indígenas, nos estabelecimentos de ensino

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fundamental e médio, para todas as áreas do conhecimento, sobretudo, educação artística, literatura e história. Com a obrigatoriedade, a expectativa era que o quadro visto até então se alterasse. Mas, passados mais de oito anos da publicação do decreto, pouco mudou em relação à presença do indígena na história do Brasil. Noções básicas, como a diversidade dos povos e as numerosas línguas indígenas, não têm sido ensinadas ainda para a maioria da população. O desconhecimento está presente, inclusive, entre os educadores, considerando que muitos não receberam formação para trabalhar com o tema. O objetivo desse trabalho é discutir os motivos que dificultam o ensino que trate da presença do índio na história do Brasil e apontar algumas possibilidades e metodologias para iniciar o tema com estudantes do ensino básico. (ST05) Fábio Da Silva Sousa (Doutor/UFMS) O homem por trás do mito: os últimos dias de Ricardo Flores Magón em suas cartas pessoais (1922) Ricardo Flores Magón nasceu em Oaxaca, México, no dia 16 de setembro de 1874 e faleceu aprisionado no Fort Leavenworth, localizado no estado de Kansas, Estados Unidos, em 21 de novembro de 1922. Em seus 48 anos de vida, Flores Magón notabilizou-se pela oposição à ditadura de Porfirio Díaz (1876 – 1911), por meio da liderança do Partido Liberal Mexicano (PLM), e também por ter realizado uma leitura libertária da Revolução Mexicana (1910 – 1920), nas páginas do periódico Regeneración. Até a atualidade, o oaxaqueño é considerado, pela historiografia mexicana, o principal articulador da ideologia anarquista em solo asteca. Diante dessa trajetória, as pesquisas sobre Flores Magón concentraram-se, principalmente, em seu período de atuação no PLM e nos artigos publicados no Regeneración (1901 – 1918). Há uma lacuna de pesquisa da vida do intelectual mexicano após a sua prisão pela polícia estadunidense, ocorrida em 1918. Em seu cárcere, que durou de 1918 até 1922, Flores Magón escreveu diversas cartas, onde expôs os seus pensamentos políticos e as suas inquietações pessoais. Apresentado esse preâmbulo, nessa comunicação, será discutida as cartas que o anarquista mexicano escreveu em seu último ano de vida, 1922. Nesse período, Flores Magón redigiu 51 cartas para alguns interlocutores, como Ellen White e Nicólas T. Bernal. Essa documentação, ainda não investigada em sua totalidade, nos apresenta as agruras da prisão, a debilidade física, os sonhos, as desilusões, entre outros pensamentos de Flores Magón, que foram além dos seus textos militantes e ideológicos, que já se tornaram escritos clássicos da historiografia política mexicana. Isto posto, por meio de uma seleção dessa documentação epistolar, procuraremos apresentar um Ricardo Flores Magón além do herói romântico e revolucionário, ou seja, o homem por trás do mito. (ST32) Fábio Dantas Rocha (Mestrando) Saindo das sombras: negros e pobres em São Paulo (1890-1940) A presente pesquisa tem como objetivo analisar aspectos da vida cotidiana da população negra e pobre em São Paulo entre os anos de 1890 e 1940. Busca-se o entendimento do imediato pós-Abolição e das primeiras décadas do regime republicano como uma forma de compreender o processo de socialização de negros e pobres na cidade. Pretendo construir uma cartografia dos espaços que essa população ocupou, para compreender suas experiências e seus modos de vida diante de uma cidade que, em meio ao grande crescimento populacional e econômico, modernizou-se de forma contraditória aos costumes e expectativas dos ex-escravos. Assim, espera-se acompanhar outros processo, quais sejam, os de formações das consciências raciais, sempre relacionadas às experiências no mundo do trabalho. Para tanto, será utilizada uma documentação que evidencia o processo de especialização do espaço urbano e o choque entre a modernização urbana e as práticas sociais cotidianas, tais como processos-crime,

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imprensa de grande circulação, boletins de ocorrência médicas policiais e legislação. (ST40) Felipe Bueno Crispim (Mestre) A paisagem como patrimônio cultural em São Paulo: estudo das ações de preservação das paisagens paulistas pelo Condephaat (1969-1989) A comunicação trata dos resultados da dissertação de mestrado “Entre a Geografia e o Patrimônio: estudo das ações de preservação das paisagens paulistas pelo Condephaat 1969-1989” desenvolvida no Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de São Paulo em 2014. A pesquisa analisou as ações de preservação de áreas naturais desenvolvidas entre as décadas de 1970 e 1980 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico (Condephaat). A presença dos geógrafos no patrimônio paulista é o fio condutor da análise empreendida nesse estudo considerando o texto do geógrafo Aziz Nacib Ab Saber “Diretrizes para uma política de preservação das reservas naturais do estado de São Paulo (1977)” norteador na instrução de processos de tombamento de grande envergadura política no período como são os casos do tombamento do Maciço da Juréia (1979) e da Serra do Mar (1985), indícios da incorporação da paisagem como bem cultural e patrimônio ambiental paulista. O trabalho visou mapear a natureza das ações que deram forma a essa experiência na construção de um debate sobre a relação entre paisagem e patrimônio em São Paulo, revelando suas singularidades. (ST37) Felipe Eugênio De Leão Esteves (Mestrando) Contradições em Jorge Amado e a noção de literatura negra Este artigo reflete sobre as fronteiras da noção de literatura negra tomando como fonte de análise Jorge Amado e sua obra literária escrita em 1969, tenda dos milagres. Entende-se que o escritor carrega algumas ambiguidades na relação entre a cultura negra baiana, com a qual conviveu e a afirmou, e a idealização de mestiçagem a qual alterou a ordem de seu discurso. Propomos ponderar sobre as aproximações e afastamentos entre as fronteiras amadianas e as fronteiras de um possível conceito de literatura negra, o que nos possibilita farejar em alguns discursos complexos quadros de construção identitária. Discute-se, portanto, uma conceituação literária de cunho histórico social tomando como fonte de representação o próprio escritor e sua obra, o qual induz contrapontos aos pressupostos desta noção, entendendo que amado se remete ao negro da Bahia, mas o faz reagindo essencialmente ao seu tempo histórico. É desse modo que compreende-se aqui a literatura como documento possível a ser aferido na contribuição historiográfica, se abordado por uma metodologia que considere as subjetividades de um documento artístico. Procura-se entender, então, as funções históricas a qual tenda dos milagres cumpriu em seu realizar-se – como compreende Antonio Cândido (2011), que identifica essa função na estrutura literária, a qual tem relação direta com as significações do lugar de onde essa obra foi gestada. Nesse entendimento, identificamos que a obra nos apresentou imagens refratadas de uma vivência que se deu por entre uma negritude diaspórica-baiana em seus territórios e em suas práticas; e esse interior textual não coaduna com uma formulação historiográfica predita sobre Jorge Amado como um autor que exaltou a mestiçagem – em suas descrições específicas e em um lugar específico - como vias de entendimentos raciais. O trabalho se dá, portanto, a repensar amado por dentro de sua própria criação, não procurando respostas cimentadas da história na literatura ou o contrário, mas encontrar rastros de retroalimentação entre esses campos, o que nos leva a sujeitos, panoramas, rupturas e continuidades históricas. (ST36) Felipe Roberto Petenussi (Mestrando) Consumo: para além do utilitarismo

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Este artigo irá abarcar o conceito de consumo por meio de duas perspectivas: a antropológica e a sociológica. Esta análise parte de autores clássicos como Thorstein Veblen (1988) que escreveu sua obra A teoria da classe ociosa em 1965 e Marcel Mauss (2003) que publicou Ensaio sobre a dádiva em 1974 - que não estavam dedicados especificamente ao estudo do consumo - até autores mais atuais como Mary Douglas (2006) que apesar de ter escrito sua obra clássica O mundo dos bens na segunda metade dos 1970, é uma autora clássica sobre o tema do consumo e muitas das suas teorias são ainda atuais; além de Marshall Sahlins (2004), Pierre Bourdieu (2008), Lipovetsky (2007), Featherstone (1995), Bauman (2001, 2008), Appadurai (2008), Baudrillard (1991), Daniel Miller (2004) entre outros autores, para mencionar somente alguns dos mais importantes e citados estudiosos. Essa perspectiva analítica vem se constituindo a partir da crítica às análises economicistas, utilitaristas e reducionistas do conceito e do papel do consumo. Essa nova abordagem advindas de estudos antropológicos e sociológicos surgiram a partir de críticas às interpretações realizadas pelas teorias economicistas que reduziam o fenômeno do consumo à esfera individual (consumidor racional que buscaria na compra sempre a escolha que maximiza-se sua utilidade), ou seja, buscando obter sempre o maior retorno possível para seus investimentos. Está lógica economicista não dá margem para a dimensão simbólica e social do consumo, postulada inicialmente por Veblen (1988) e Mauss (2003). Conforme enfatiza Mary Douglas e Baron Isherwood (2006: 8) o consumo está posto na contemporaneidade como algo ativo e presente no cotidiano, nele ocupa um papel central como estruturador de valores simbólicos que constrói e manipula identidades e regula relações sociais e de poder. (ST01) Fernanda Borsatto Cardoso (Doutoranda) O ensino de História e Cultura Indígena nas escolas municipais de São Paulo – 2008 a 2015 Esta pesquisa de doutorado está em andamento e tem como objetivo investigar como o Ensino de História e Cultura Indígena, proposto pela Lei Federal nº 11.645/08, que alterou o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, tem sido implementado nas escolas de Educação Básica da Rede Municipal de Ensino de São Paulo a partir de sua promulgação. Nesta perspectiva a pesquisa se insere nas investigações sobre a história das disciplinas, currículos e sobre educação e diversidade. Neste sentido, esta pesquisa parte de dois pontos centrais de análise. O primeiro se refere a investigação das políticas desencadeadas pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo a partir da promulgação da Lei 11.645/08, identificando as ações de implantação, os cursos de formação os materiais de apoio e a orientações didáticas produzidas. Parte-se então da hipótese que as formas de implementação da Lei, no que se refere ao Ensino de História e Cultura Indígena, pela SME-SP têm sido feitas de forma descontínua e esta descontinuidade, que pode ser observada através cursos de formação continuada oferecidos, tem eficiência restrita para auxiliar os professores de história a contemplar a complexidade de ações que envolvem o ensino de história e cultura indígena. Um segundo ponto de análise refere-se à implementação que acontece independente das ações realizadas pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, que se relaciona com a iniciativa dos professores. Neste sentido, a hipótese apresentada é que a iniciativa de implementação da Lei parte de um engajamento pessoal dos professores, algo que está ligado a um projeto de vida dentro do seu contexto social, que Goodson (2007) chama de aprendizagem narrativa: Um tipo de aprendizagem que se desenvolve na elaboração e na manutenção continuada de uma narrativa de vida ou identidade. Entre os motivos que emergem na aprendizagem narrativa estão o trajeto, a busca e o sonho. (...). Esse tipo de aprendizagem passou a ser visto como central para o entendimento

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como as pessoas aprendem ao longo da vida, e ele requer uma maneira diferente de pesquisa e elaboração para se compreenda esse tipo de aprendizagem formal ou informal. (GOODSON, 2007, pp. 248) Investigar o currículo a partir da promulgação da Lei 11.645 de 2008, nestas perspectivas, permite, a meu ver, o entendimento dos processos de pensamento, de conflitos, de organização e de ação de que tem se constituído através das práticas curriculares. (ST29) Fernanda Capri Raposo (Mestre) Apresentação e metodologia de análise referente à pesquisa documental do Fundo Institucional Centro Israelita De Nilópolis custodiado pelo Arquivo Histórico Judaico O presente artigo tem por objetivo apresentar alguns apontamentos teóricos e metodológicos sobre a pesquisa documental na documentação que compõe o Fundo Institucional Centro Israelita de Nilópolis (FI0018), custodiado pelo Arquivo Histórico Judaico Brasileiro – AHJB. (ST18) Fernanda Cristina Pereira Drumond (Mestranda) Estratégias para ampliação do consumo de bens culturais na cidade do México A cidade é entendida como um espaço de conflitos e circulação de ideias; criadora e criatura de um sistema de memórias coletivas e individuais, sempre seletivas e parciais. Priorizando o contexto contemporâneo do centro histórico da cidade do México, intenciona-se refletir acerca das memórias conflitantes que permeiam os bens culturais, bem como sobre a maneira como cada grupo se apropria desses espaços e das narrativas memoriais. Pretende-se, ainda, analisar os constantes processos políticos, históricos e sociais que perpassam a dinâmica do espaço urbano, bem como sua relação com os diversos grupos que circulam por esse espaço, permitindo que tal interação gere um valor simbólico específico para esse espaço; valor este que é essencial para que um local planejado arquitetonicamente se torne um espaço de vivência e, portanto, significante na concepção dos sujeitos que circulam por esse ambiente. O Centro Histórico da cidade do México personifica a sobrevida de elementos de sociedades temporalmente distintas em um mesmo espaço físico, bem como propicia questionamentos sobre as escolhas políticas que culminaram em sua eleição como patrimônio cultural da nação mexicana. Em 1980, o governo mexicano criou estratégias visando “revitalizar” o centro histórico tido, então, como em declínio. Neste projeto, os bens culturais localizados nessa área tiveram variados usos, a maioria dos quais permaneceu distante das práticas culturais populares. Pergunta-se, então, quais memórias foram priorizadas na construção desse projeto político. Intenta-se, portanto, apresentar novas formas de ocupar o espaço urbano e de consumo dos bens culturais, baseando-se em uma linguagem que se distancia daquela geralmente utilizada para o público-ideal das instituições culturais, que já possuem um capital cultural prévio. Portanto, através dos estudos sobre o público, faz-se necessário um olhar externo dessas instituições que vise incrementar o número do público visitante dos bens culturais na cidade do México, bem como combater a desigualdade no acesso à cultura. (ST44) Fernanda Lédo Flôres (Mestranda) Ana Montenegro (1915-2006) Nascida em Quixeramobim em 13 de abril de 1915, Ana Lima Carmo (ou Ana Montenegro) foi uma das figuras mais expressivas dentre os militantes do Partido Comunista ao longo do século XX. Em 2005, um ano antes da sua morte, foi indicada ao Nobel da Paz. Por 61 anos membro do Partido Comunista, a suposta primeira mulher a ter sido exilada após o golpe civil-militar de 1964 (permaneceu no exílio na Alemanha

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oriental trabalhando na Federação Democrática Internacional de Mulheres por quinze anos) é objeto central da pesquisa para a dissertação de mestrado que se encontra em andamento na Universidade Federal da Bahia. Dividida em três capítulos: o primeiro que versa sobre Ana Montenegro por ela mesmo, ou seja, a análise de todos os documentos que ela produziu em vida e que foram encontrados nas 14 caixas do acervo na casa da filha da militante (o qual fui a responsável pela organização e digitalização) e nas 57 pastas no arquivo do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher- NEIM/UFBA, bem como nas sete obras que escreveu; o segundo sobre Ana na mira da repressão em que trabalho com as fontes colhidas do acervo da SNI no Arquivo Nacional e no da PIDE na Torre do Tombo em Portugal; e um terceiro capítulo que versa sobre a memória de Ana pelos outros, em que me dedico à História Oral debatendo as questões de silenciamento e disputa de memória em entrevistas com a família, a antiga e nova geração do partido, bem como entre os amigos mais próximos. Para este evento, me proponho a apresentar a discussão inicial do trabalho de dissertação e que está na introdução e se fará presente na conclusão, sobre a defesa da escrita biográfica. Nesse cenário, levantarei questões importantes sobre memória, a função social da memória nos estudos de Ditadura, gênero, história das mulheres, erudição e biografia histórica. (ST47) Fernanda Mendonça Pitta (Pós-doutora) A história da arte através das imagens: a seção ‘Exposição Retrospectiva’ da Exposição de Arte Francesa no Liceu de Artes e Ofícios, em 1913. Em 1913, realiza-se no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo a Exposição de Arte Francesa. Organizada pelo Comitê France-Amérique, a exposição trouxe para a cidade pinturas, esculturas, objetos decorativos, contendo também uma seção intitulada “Exposição Retrospectiva”. Esta seção era composta de 1.025 itens, entre cópias fotográficas, gravuras, modelagens e medalhas. Esse conjunto formava um Museu de Arte Francesa em São Paulo, cumprindo a função de servir de modelo didático para artistas e estudantes na cidade, tornando-se exemplo para outras cidades americanas. Entre os itens da seção retrospectiva destaca-se o conjunto de cópias fotográficas e gravuras. Elas compunham claramente uma narrativa visual da arte francesa, procurando identificar os exemplos principais da história de sua arquitetura, pintura e escultura, que progressivamente se definia enquanto uma “escola”. Esse “museu de reproduções” era algo que o comissário da exposição Louis Hourticq vinha desenvolvendo para divulgar a arte francesa. Hourticq, que se tornaria um importante historiador da arte francês e na ocasião era inspetor de Belas Artes da cidade de Paris, foi responsável por obras de sistematização e divulgação da história da arte da França, às quais se dedicou com muito empenho. Elas se amparavam em uma metodologia visual de estudos, propiciada pelos meios da imagem fotográfica, mas também por croquis e desenhos de detalhes feitos diante das obras. Nela, as imagens ocupam um estatuto privilegiado em relação à narrativa escrita, funcionando como um relato visual de primeira ordem em que se apoiava o discurso escrito, e não o contrário. Hourticq se dedicou a desenvolver essa metodologia em direto confronto com o que chamava de “método documental”, baseado em fontes escritas. O método pretendia-se intuitivo, baseado na observação das qualidades visuais das obras de arte, e visava ser uma alternativa superior à pesquisa iconográfica, buscando retirar das obras conhecimentos intrínsecos a elas, e não derivados de fontes externas aos objetos artísticos. Hourticq assim desenvolvia um método que pretendia conferir à história da arte uma posição estratégica no campo do conhecimento dado que, para ele, submeter às obras de arte ao documento escrito ou aos textos literários seria fazer da disciplina um recurso acessório à história, e não um campo independente. Através da discussão do conjunto de pranchas conservadas na Pinacoteca, o presente trabalho visa refletir a respeito do dispositivo imagético, em especial da fotografia, como

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modo de exposição e de narração dessa história da arte. Busca-se assim compreender a proposta de uma mostra e de um ‘museu’ didáticos que cumpriam o desafio de investigar e narrar a história através das imagens. (ST10) Fernando Braga Franco Talarico (Doutor) Dimensões histórico-críticas do diálogo entre o longa-metragem "O padre e a moça" (Joaquim Pedro de Andrade, 1965) e "O padre, a moça" (Carlos Drummond de Andrade, 1962). Joaquim Pedro de Andrade confeccionou seu primeiro longa-metragem ficcional ("O padre e a moça") entre 1964 e 1965. Para tanto, tomou por base poema ("O padre, a moça") que Carlos Drummond de Andrade publicara na coletânea "Lição de coisas", em 1962. Anterior ao golpe de 1964, o poema irá sugerir ao longa-metragem uma compreensão alegórica sobre o processo de modernização conservadora: processo entretanto incapaz de superar traços arcaizantes de sociabilidade. Daí, a figuração da aporia, que atravessa os diversos níveis do poema: dimensão erótica (amor entre padre e moça); dimensão dramática (confronto entre amantes e perseguidores); dimensão trágica (tensão máxima entre normativas societárias e impulsos de individuação, tendo a morte como desfecho); dimensão épica (narrativa que parte do domínio público para acompanhar desdobramentos de fundo factual, mas figurados de acordo com aspectos do imaginário, de modo a ficcionalizar percursos inerentes a todo um modo de vida de determinado território). Sob todos esses aspectos, entretanto, ressalta a perspectiva lírica de poema e longa-metragem: perspectiva que organiza todas as demais dimensões ficcionais, nos termos a um tempo intelectivos e afetivos. O engajamento drummondiano, de que a poética fílmica soube apropriar-se, serve à reflexão sobre aspectos do impasse no desenvolvimento da sociabilidade brasileira, excentricamente inserida nos percursos mais amplos do Ocidente; e tal reflexão toma a individualidade como fulcro. A densidade da figuração, quando se considera a dimensão dialogal entre poema e longa-metragem, termina por revelar a denúncia da aporia figurada, mas, sob a figura da aporia, a ficcionalização aponta caminhos de superação. A potência do empenho participante, em suma, resulta dum empenho estético de natureza dialogal, em que a perspectiva lírica permanece como decisiva. Curioso é notar que, assim como poema e longa-metragem, outros percursos intelectuais contemporâneos recorreram à imagem da aporia para refletir sobre os impasses da modernização contemporânea (com destaque à sociologia crítica de Florestan Fernandes). Não menos importante é notar que, por sob a escassa fortuna crítica de Joaquim Pedro de Andrade, as considerações relativas à dimensão lírica (ou "intimista") do diretor têm sido feitas em detrimento da dimensão participante e intelectiva: aspecto que termina por sublinhar a importância duma abordagem integrativa. Sendo assim, as relações entre eu e mundo (tão caras ao empenho drummondiano) repercutem na poética fílmica de Joaquim Pedro de Andrade. A consideração dialogal sobre o empenho estético e político do longa-metragem procurou (nos termos duma tese de doutoramento) refletir, também, sobre a adequação dos aspectos de teoria e método. (ST16) Fernando Lucas Garcia De Souza (Mestrando) A ressignificação cultural da tatuagem no Brasil A prática da tatuagem moderna, desde sua chegada ao Brasil na segunda metade do século XIX, foi relegada às camadas marginais da sociedade, caracterizando-se como um estigma. Porém, após os anos de 1980, e mais intensamente na virada do século, estaríamos vivenciando um processo de ressignificação cultural da prática, abarcando novos sujeitos, novas técnicas e consequentemente um novo significado, de adorno corporal ou objeto da moda.

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Este trabalho pretende discutir o processo de transformação ou ressignificação da prática da tatuagem e sua representação na sociedade brasileira contemporânea, discutindo os fatores que historicamente contribuíram para tal, como o surgimento dos estúdios de tatuagem como ambientes clinicamente seguros; a profissionalização do ofício do tatuador e sua elevação ao status de artista; o papel da mídia, por meio da exposição, e dos órgãos públicos, mediante regulamentação, na suposta "validação social da prática". (ST10) Fernando Muratori Costa (Doutorando/UFPI) Veja: a invenção jornalística do rock nacional nos anos 1980 O cenário político no Brasil estava mudando e a abertura estava chegando ao seu ponto máximo na primeira metade dos anos 1980. Além disso, o país se encontrava em uma das piores crises econômicas de sua história, o que também afetava de forma cruel o mercado fonográfico, que precisou descobrir novas atrações. Esse foi o cenário para que a revista Veja desse enorme projeção jornalística aos artistas da geração anos 1980 do rock nacional, que já faziam muito sucesso nas vendas de LPs, nas listas das mais tocadas das rádios e no público presente aos seus shows. Neste trabalho, analisei matérias da revista Veja sobre os artistas do rock nacional dos anos 1980, procurando identificar os elementos que a revista utiliza para construir uma imagem desses músicos e um perfil para a “nova música brasileira”. (ST26) Fernando Omar Silveira Almeida (Pós-graduando) A Formação da Identidade Mestiça da Música Brasileira entre o Império e a República Este trabalho tem por objetivo discutir a formação da identidade mestiça da música brasileira no contexto de transição entre o Império e a República, no Brasil, abordando a temática da mestiçagem por meio das matrizes culturais aqui existentes e do nacionalismo, uma vez que a construção da identidade passa pelo ideal de nação. Para isso, buscamos no debate historiográfico e na análise das obras de alguns compositores, e suas biografias elementos para entender esse processo de mestiçagem da identidade musical nesse período que compreende a segunda metade do século XIX e início do XX. O trabalho não pretende ser conclusivo mas, longe disso, o objetivo é apontar algumas discussões possíveis dentro do debate em torno do conceito identidade mestiça presentes nas composições dos músicos brasileiros deste período. (ST39) Flávio Benedito (Doutorando) Governos progressistas latino-americanos: perspectivas em meio à crise do capitalismo Os governos ditos progressistas – que passaram a desempenhar um papel preponderante no cenário político latino-americano desde os últimos anos do século passado (vale lembrar: em 1998, Hugo Chávez vence a eleição presidencial na Venezuela e inaugura o período progressista no continente) – construíram parte de sua justificativa político-ideológica calcada no imperativo histórico de combate às políticas neoliberais, então em vigor, e na defesa de políticas sociais inclusivas, preteridas pelo neoliberalismo e suas leis de mercado. A consolidação do progressismo latino-americano, embora tenha enfrentado violentas reações dos setores sociais conservadores nos diversos países da região – reações que, em vários casos, materializaram-se em movimentos golpistas, bem-sucedidos ou não – coincidiu, no entanto, com uma conjuntura econômica regional favorável entre, aproximadamente, os anos de 2005 e 2012 (a despeito da crise irrompida já em 2007-8 nos países centrais do capitalismo). Partindo de casos concretos, como o Brasil e a Venezuela, é lícito afirmar que esses anos de desempenho econômico positivo serviram de base material à adoção de políticas públicas caracteristicamente assistencialistas, cujo resultado foi o de ampliar – em sentido contrário aos ditames neoliberais – a função social provedora e protetora do Estado Nacional. Em ambos esses

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países, as políticas de conteúdo popular implementadas representaram avanços sociais significativos, incidentes sobre o problema crucial da desigualdade social – principalmente se considerados os indicativos sociais dos anos imediatamente anteriores. Quanto aos fundamentos ideológicos dessas políticas, no caso do governo do Partido dos Trabalhadores, o discurso socialista (presente nas raízes do partido, quer sob a forma social-democrática quer sob a revolucionária) foi inteiramente abandonado, e seu lugar foi ocupado pelo ideal de desenvolvimento autônomo e democracia para todos. No caso do Movimento V República, o socialismo (que na origem do movimento não existia como formulação ideológica) emergiu, a partir de 2005, como um projeto histórico (o "socialismo do século XXI") de transformação radical da sociedade venezuelana e de nova inserção da economia nacional no sistema produtivo internacional. Tendo isso em vista – e levando-se em conta a aguda crise econômica que se instalou na região nos últimos quatro anos, bem como a instabilidade político-institucional que se lhe seguiu – esta proposta pretende discutir o alcance histórico do progressismo latino-americano, cristalizado, em princípio, em indicadores de desempenho econômico e social – de par com uma questão também crucial, e que tem ocupado os meios acadêmicos e políticos: experimentamos hoje o fim do ciclo progressista? (ST32) Franciele Ruiz Pasquim (Doutoranda) Lenyra Fraccaroli e bibliotecas infantis na história da educação brasileira Com o objetivo de contribuir para a compreensão da história da educação no Brasil, destacam-se aspectos da atuação profissional da bibliotecária Lenyra Camargo Fraccaroli (1906-1991) na condição de Chefe da Divisão de Bibliotecas Infanto-Juvenis de São Paulo-capital, entre os anos de 1936 e 1961. Mediante abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio da utilização dos procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontes documentais, analisaram-se aspectos da configuração textual do livro Bibliografia de literatura infantil em língua portuguesa (1953), organizado por Lenyra Fraccaroli. Os resultados obtidos até o momento permitem compreender que Bibliografia de literatura infantil em língua portuguesa tornou-se uma obra de referência, para professores e catalogadores das bibliotecas infantis e escolares, na seleção de livros de literatura infantil, tendo contribuído para a formação de acervos de bibliotecas infantis e escolares no Brasil, em especial no estado de São Paulo. (ST29) Francisco Carlos Ribeiro (Pós-graduando) A missão na literatura: a redução jesuítica em A Fonte de O Tempo e o Vento O trabalho tem como problemática central a análise do episódio A fonte, do romance O continente, da trilogia O tempo e o vento de Erico Verissimo, dentro do debate intelectual desenvolvido durante os anos de 1930-1940 entre a matriz lusitana (Moysés Vellinho) e a matriz platina (Manoelito de Ornellas) da historiografia gaúcha sobre a importância de Sete Povos das Missões no processo de formação do Rio Grande do Sul. A relevância desse estudo se justifica pelo fato de não existirem muitos estudos acadêmicos tomando como base específica o episódio A fonte dentro do contexto do já mencionado debate historiográfico dos anos 30. O tema do trabalho foi construído a partir do contexto histórico em que Erico Verissimo viveu e produziu a sua trilogia. Procurou-se explorar também o episódio A fonte visando estabelecer um diálogo entre as possíveis relações do texto narrativo ficcional com o texto narrativo historiográfico no processo de desenvolvimento de construção do conhecimento histórico. (ST36)

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Francisco Luiz Corsi (Doutor/UNESP) A crise de sobreacumulação aberta em 2007 em perspectiva histórica A crise de sobreacumulação de capital aberta em 2007 e que se arrasta até os dias de hoje se manifesta pela existência de capacidade ociosa em escala mundial em setores importantes; pelo alto nível de desemprego, particularmente em alguns países desenvolvidos; pelo acirramento da concorrência, pelo aprofundamento do processo de centralização de capitais e sobretudo pela existência de uma enorme soma de capital fictício. Capital que não consegue valorizar-se na produção e, desta maneira, busca fazê-lo por meio da especulação. O objetivo da discussão proposta é mostrar que as raízes da crise atual remontam a crise de sobreacumulação da década de 1970, que não teria destruído o excesso de capital, apesar de ter criado as condições para recompor a sua rentabilidade. Daí a exacerbada instabilidade da economia mundial, o ritmo lento da acumulação de capital no centro do sistema, o inchaço da esfera financeira e a crescente importância das bolhas especulativas para o capitalismo nas últimas décadas. Isto ocorreu não obstante a reestruturação do modo do produção, levada pelo capital sob a égide das políticas neoliberais. A reestruturação foi baseada no desmonte do Estado de Bem-Estar Social, na abertura das economias nacionais, na desregulamentação dos mercados financeiros, na reestruturação produtiva, na precarização das condições de trabalho, na nova onda de inovações tecnológicas e na reconfiguração espacial da acumulação de capital, que implicou na abertura de novos espaços dinâmicos de acumulação na Ásia, em especial na China, e nas ex-repúblicas soviéticas. Abriu-se um espaço não capitalista, que, em pouco tempo, seria incorporado pelo capital. Um dos mecanismos de valorização do capital que ganhou relevo, não só nessas áreas, mas em todo o sistema, foi o que D. Harvey denominou de acumulação por espoliação. Esses processos deram fôlego para o capital e reorganizaram a divisão internacional do trabalho, com enorme repercussão para a periferia do sistema. Mas a formação de inúmeras bolhas especulativas indica a fragilidade do processo de valorização do capital. Fôlego que parece ter esmorecido com a crise de 2007 e seus desdobramentos, entre eles a atual desaceleração da economia chinesa, que enfrenta queda de exportações, que tinham sido um dos principais motores de seu crescimento, excesso de capacidade ociosa em inúmeros setores produtivos, superprodução no setor imobiliário e elevado endividamento de instituições financeiras e empresas. Estes problemas sugerem que a acumulação de capital continuará desacelerando. (ST40) Frederico Papali (Mestrando) Cultura e espaço: o graffiti do Campo dos Alemães em São José dos Campos/SP como modo de apropriação do espaço Sendo o espaço urbano um campo de significação que comporta um conjunto de relações históricas, políticas, econômicas, sociais, estéticas e culturais, procura-se entender o grafitti como forma de expressão de identidades que se revelam no ambiente urbano. Este artigo descreve o projeto de pesquisa em Mestrado em andamento, - que tem o mesmo título deste artigo - em Planejamento Urbano e Regional do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraíba – Univap, e que procura indagar em que medida o graffiti, como expressão de democratização da exposição da arte nos espaços da rua, apresenta-se como expressão de linguagem, delimitação de território, forma de dizer e construção/afirmação de identidades. Na pesquisa pretende-se analisar os graffiti que cobrem os muros do bairro Campo dos Alemães, bairro da zona sul da cidade de São José dos Campos/SP, que concentra essa produção artística na cidade. A pesquisa procurara interpretar como as pessoas percebem o graffiti, que significado e sentido têm essa expressão e que relação se pode estabelecer entre a comunidade do graffiti e a cidade. Percebe-se que o graffiti, ao criar espaços de ação demarcados, configura-se como base de relações que situa os espaços desenhados social

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e culturalmente. Na pesquisa, como método, se utilizará do registro fotográfico e cartográfico dos graffiti no bairro citado e do recolhimento de depoimentos de grafiteiros e moradores do bairro para a percepção do espaço. Nesta etapa da pesquisa, apresenta-se levantamento bibliográfico sobre o tema, a caracterização do bairro objeto de análise e do evento que produziu uma série de graffiti no ano de 2013, bem como um primeiro levantamento desta produção, a partir de imagens obtidas no Google Street View. (ST10) Gabriel Amato Bruno De Lima (Mestre) Os comportamentos sociais dos estudantes diante do Projeto Rondon durante a ditadura militar (1967-1985) Esta pesquisa tem como tema o programa de extensão universitária Projeto Rondon entre a sua criação pela ditadura militar, em 1967-68, e o fim do regime autoritário em 1985. Iniciativa que imbricava os imaginários nacionalista e anticomunista, o Rondon foi utilizado por parte da base social do regime como um argumento de que os militares “dialogavam” com os “verdadeiros” estudantes, especialmente nas crises estudantis de 1968 e 1977. Parte significativa dos universitários brasileiros participou de suas operações, mas isso não significava uma passividade dos jovens estudantes diante desta iniciativa da ditadura que tinha como objetivo aproximar os militares dos meios universitários. Entre os anos 1960 a 80, houve boicotes do movimento estudantil ao Rondon, bem como participações a longo prazo e comportamentos sociais ambíguos com relação à iniciativa. Houve também estudantes que, seguindo uma orientação da UNE na década de 1980, utilizavam da estrutura oferecida pelo programa com o objetivo de resistir à ditadura “por dentro”. Nesse sentido, este trabalho analisa as relações entre a ditadura militar e os estudantes universitários no Projeto Rondon a partir de um duplo questionamento: da memória social construída desde 1979, defensora da tese do estudante como um oposicionista “nato” da ditadura; e de parte da historiografia mais recente sobre o tema, que vê no apoio de certos grupos sociais ao autoritarismo um “consenso” em torno do regime militar. Defende-se, ao contrário, a existência de uma multiforme dinâmica social do regime político instaurado em 1964 capaz de comportar uma diversidade de comportamentos adotados pelos universitários ao longo do tempo, tais como a adesão, a apatia, a resistência e a acomodação. (ST42) Gabriel Carlos De Souza Santos (Mestrando) A cicatriz da Serra: indústria, natureza e habitação na composição do patrimônio industrial cubatense A Usina de Cubatão foi inaugurada em 1926 e era, à época, a maior hidroelétrica do país. Representou um enorme empreendimento industrial, o qual requeria o intenso uso de mão-de-obra. A partir de 1930, essa mão-de-obra passou a habitar a Vila Light, vila operária criada no entorno da usina para abrigar funcionários e suas famílias. Esta comunicação pretende discutir um elemento em particular dessa usina, a saber, seu conjunto de adutoras. O objetivo central é debater o estabelecimento deste elemento industrial na paisagem cubatense e seu papel na alteração da visualidade e na criação de uma identidade comunitária na Vila Light. Assim, como se pretende demonstrar, as adutoras se inserem como marco simbólico, visual e material do enfrentamento do homem à Serra do Mar – elemento natural de grande importância para a constituição de Cubatão – e representam a complexa relação entre indústria, natureza e habitação no município. Objetiva-se, apresentando-se as articulações entre alterações urbanas, vias de deslocamento, setores produtivos, elementos naturais e identidades operárias, debater a possibilidade de sua compreensão a partir do campo do Patrimônio Industrial, em uma perspectiva relacional. (ST44)

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Gabriel Ferreira Gurian (Mestrando) Leituras e fontes sobre o álcool no Brasil Holandês Esta apresentação propõe uma breve reflexão acerca das escassas leituras historiográficas sobre o álcool durante a presença holandesa no Brasil setentrional, no século XVII, em contraste com a vasta documentação disponível, e traduzida para o português, sobre o período. Por si só, os estudos sobre o álcool na história do Brasil colonial não são numerosos, e a presença de relatos do período de dominação neerlandesa, nestes poucos trabalhos, é superficial, auxiliando majoritariamente reflexões etnohistoriográficas acerca do consumo etílico entre os habitantes nativos. Por ser um período singular da Colônia, em que variados costumes etílicos entraram em contato (as cauinagens indígenas, a assiduidade alcoólica dos holandeses e a privação motivada por temperança e escassez de recursos dos luso-brasileiros), além de serem descritos em diversos âmbitos (nas naus em alto mar, em banquetes, rituais religiosos, saques), por diversas mãos (clérigos, cronistas, marinheiros, naturalistas, proprietários de engenho, Conselheiros empregados pela Companhia das Índias Ocidentais), merece maior atenção. De forma a complementar a reflexão proposta, caberá também uma breve descrição do que é possível encontrar nestes documentos acerca dos hábitos etílicos no chamado Brasil Holandês. (ST22) Gabriel Ignácio Garcia (Mestrando) Em defesa da pátria: a dissertação de Antonio Correa do Couto em meio à guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) Esta pesquisa tem por finalidade análisar uma publicação editada e lançada em meio à guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), representação das preocupações de um brasileiro frente aos acontecimentos de seu tempo. Como respaldo metodológico, destacamos as indicações de Luiz Gonzaga Motta (2013). Segundo ele, uma narrativa deve ser compreendida como um ato de construção de sentido da vida, permeada dos valores políticos e morais do seu criador. O livro aqui pesquisado trata-se da Dissertação sobre o actual governo da republica do Paraguay, escrito por Antonio Correa do Couto, datado de 1865. A narrativa que se desenvolveu, pode ser resumida em torno de duas questões. A primeira delas, a preocupação com a necessidade de fortalecimento de pontos estratégicos para a defesa brasileira, detalhando a condição em que se encontravam os soldados paraguaios e as características geográficas do Paraguai para uma eventual incursão das tropas imperiais. A segunda questão abarca as duras críticas ao Paraguai e seu presidente Francisco Solano Lopez, principalmente, em razão da captura do vapor brasileiro Marquês de Olinda e a invasão de Mato Grosso em 1864, culminando na deflagração da guerra. Existem ainda lacunas que futuras investigações podem ajudar a esclarecer, como, por exemplo, a identidade do autor e a sua posição naquele contexto histórico, mas não há dúvidas que o conteúdo dessa dissertação, se apresenta como uma rica fonte histórica para problematizarmos a relação de alteridade entre brasileiros e paraguaios durante a guerra, assim como, as representações e visões que foram cunhadas de ambos os lados. (ST32) Gabriela Rodrigues Lima (Mestranda) A feitiçaria andina na medicina colonial do Peru - séculos XVI e XVII As práticas de curas dos povos andinos foram interpretadas como práticas mágicas e tidas como feitiçaria pelos espanhóis ao chegarem ao Novo Continente. Tal fator se concretizou nas Extirpações de Idolatrias, onde os visitadores foram os que se encarregaram da ação, tentando desarticular os nativos em suas práticas e rituais, julgando-as como diabólicos com o intuito de evangelizar. Ao realizarem tais extirpações se apropriaram da farmacopéia dos nativos, pois estas novas plantas poderiam ser eficazes na melhoria de sua medicina. Assim, ao mesmo tempo em que essas práticas aconteciam, houve a preocupação da coroa espanhola em mandar expedições para a

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América, com o motivo de pesquisar sobre as ervas e até mesmo sobre os animais que poderiam ser usados na medicina, ou seja, a cultura dos nativos não foi excluída. A apresentação tem como objetivo a reflexão por estabelecer como se deu a transmissão do curandeirismo andino, no caso específico do Peru, nas práticas médicas dos espanhóis que viviam na colônia e qual a importância que o país que acabara de ter contato com o “Novo Mundo” deu para as plantas medicinais, partindo da análise de documentos de processos de Extirpação de Idolatrias colhidos no Arquivo Arzobispal de Lima, Crônicas e Tratados Médicos do final do Século XVI e Século XVII. A preocupação é como se deu a utilização das plantas pelos espanhóis no período da colonização e se o contato com a farmacopéia ultrapassou as barreiras do preconceito e da religião chegando a ser utilizado pelos colonos espanhóis, modificando sua forma de curar. Tratados e Processos de Extirpação de Idolatrias levam em direção de que essa preocupação existiu e que os remédios naturais andinos impulsionaram a medicina colonial e posteriormente a europeia. As lacunas sobre os fármacos andinos são muitas, colocar em prática este trabalho significa ampliar um tema que tem muita relação com a atualidade. Diante desse contexto os tratamentos naturais sempre estiveram presentes nas sociedades, no Peru ainda é fortemente utilizado. Estudar como no final do século XVI e durante o século XVII as plantas andinas fizeram sucesso e inovaram o olhar da medicina dos colonos e posteriormente na Europa é importante para verificar as raízes da atual maneira que as pessoas se utilizam para curar suas enfermidades, pois apesar de consumirem remédios industrializados, os unguentos e receitas naturais que muitos passam de forma tradicional nunca perderam a força. (ST32) Gerson Alves De Oliveira (Doutorando/IFTO) Terra, território e identidade: memórias quilombolas no Tocantins Este texto tem como proposta elaborar uma discussão acerca de um sentimento étnico enquanto expressão de uma identidade quilombola fundamentada no território enquanto organização social. A pesquisa terá como ponto de partida, entrevistas realizadas na comunidade de remanescente quilombo de Cocalinho, localizada no extremo norte do Estado do Tocantins. Partimos da perspectiva de que há uma memória/história que funciona como referencial simbólico, uma espécie de “mito fundador”, no qual destacar-se tanto com um sentimento de pertencimento a uma coletividade quanto um processo de luta resistência em torno de um território, visto como materialização de uma organização que se contrapõe ao modelo agrário dominante na região. Neste caso, a memória e a história servem como reforços na formação de um sentimento étnico, de uma organização social e de uma habilidade política. (ST40) Getúlio Nascentes Da Cunha (Doutor/UFG) A infância e o crescimento em "O Ateneu" e "Infância" A presente comunicação se baseia na convergência entre história, literatura e gênero e pretende discutir as representações da infância e do processo de amadurecimento em dois obras clássicas da literatura brasileira: O Ateneu, de Raul Pompéia e Infância, de Graciliano Ramos. Publicadas em épocas distintas e focalizadas em regiões geográficas muito distantes e, portanto, com realidades sociais bastante distintas, os dois livros têm em comum o fato de poderem serem como "romances de formação", nos moldes goethianos. A partir da relação entre história e literatura, trabalhada principalmente a partir do conceito de representação presentes nas obras de Roger Chartier e fundamentados numa perspectiva de gênero, preocupada com as formas como as sociedades definem os diferentes papéis sociais ligados aos gêneros, a abordagem buscará compreender como o processo de amadurecimento vivido pelos personagens centrais, levam à construção de uma dada masculinidade que era hegemônica no Brasil

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do final do século XIX e se mantinha forte ainda no início do século XX. Trabalhando a partir de uma teoria feminista de gênero que valoriza a construção social das identidades, a ideia central é discutir como apesar das diferenças sociais e culturais, provocadas pelo pertencimento a classes sociais diferentes e a mundos culturais também outros, os processos de amadurecimento e de afirmação da masculinidade dos personagens passam por processos semelhantes de auto afirmação. Ainda assim, esse processos são bastante diferentes entre si, onde cada um deles toma um caminho pautado nas demandas que são colocados pelos ambientes culturais e familiares em que as crianças estavam inseridas. Em "O Ateneu", o papel da definição da sexualidade na construção da masculinidade tem um papel muito parecido com aquele que a autoafirmação cultural vai ter em "Infância". É na solução dos conflitos em torno desses aspectos que os personagens constroem abandonam sua infância e começam seu caminho para a vida adulta e como homens que definiram suas masculinidades. (ST01) Gilberto Da Silva Guizelin (Doutorando) Um Posto do Primeiro Escalão: O Papel Almejado pela Diplomacia do Segundo Reinado para o Consulado do Brasil na Província Portuguesa de Angola Em 1854, após anos de negociação com o Governo de Portugal, o Governo Imperial enfim obteve autorização para reabrir o seu Consulado em Luanda, capital da província africana lusa de Angola, fechado desde 1828. Da conquista do aval português à abertura efetiva do Consulado, em 1858, a Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros tomou todos os cuidados para a organização daquela que deveria ser – e de fato foi – a principal representação do Império na África Oitocentista. A começar pela (re)definição do status da nova representação no quadro do Sistema Consular do Segundo Reinado; passando pela escolha dos nomes aptos à ocupar a sua chefia, e a redação pelo próprio ministro dos Negócios Estrangeiros de instruções precisas quanto às principais matérias de competência da nova representação consular do Império. Quais sejam: fomentar as relações comerciais entre o Império e Angola na era pós-tráfico; resgatar e zelar pelas propriedades dos brasileiros falecidos e residentes naquela província ultramarina portuguesa; e cooperar com as autoridades portuguesas e inglesas na costa da África Centro-Ocidental para a supressão definitiva do tráfico transatlântico de escravos. Como procuraremos demonstrar nesta comunicação os preparativos que cercaram a reabertura do Consulado do Brasil em Angola, em consonância à agenda de atuação do Consulado definida diretamente pelos subsequentes ministros dos Negócios Estrangeiros da década de 1850, fizeram da representação em Angola um caso ímpar entre outras representações consulares mantidas pelo Império no mesmo período. Neste sentido, buscaremos enfatizar também a necessidade de maiores estudos que aprofundem o conhecimento sobre as relações diplomáticas mantidas entre o Império e as organizações políticas – coloniais ou não – do continente africano no século XIX, assunto ainda hoje pouco visitado pela comunidade acadêmica brasileira. (ST02) Gilvana De Fátima Figueiredo Gomes (Graduada) Cultura histórica e narrativas sobre o passado em A Divulgação (1947-1955) A proposta deste trabalho é investigar a produção historiográfica publicada pelo periódico paranaense A Divulgação, a partir da identificação dos responsáveis pelos textos e, dos recortes temáticos e temporais priorizados nas análises. A revista circulou entre 1947 e 1965, ininterruptamente, sob a batuta do militar Arnauld Ferreira Velloso. Para os fins desta análise, será abordado somente o período de novembro de 1947 até os meses finais de 1954, momento em que há produção constante de artigos devotados a narrar o passado, tanto do Paraná como do Brasil. Destaca-se de início, que os textos de História publicados em A Divulgação estavam afinados com um projeto intelectual e político que visava o reforço de uma dada identidade para o estado, nos moldes do

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movimento paranista; este último é um elemento importante para a compreensão da cultura política local. Os responsáveis pelos artigos de História publicados na revista tinham itinerários diversos e se ocupavam da historiografia como atividade paralela àquela desenvolvida no campo profissional, embora guardassem como característica comum a atuação na vida pública e a vinculação a instituições como Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense e o Centro de Estudos Bandeirantes, agremiações relevantes na vida intelectual paranaense, na primeira metade do século XX, e que foram fundamentais para a constituição de uma dada cultura histórica. É possível divisar duas linhas de análise histórica priorizadas em A Divulgação, que demandavam os mesmos esforços dos articulistas: de um lado, narrativas marcadas pela descrição de grandes fatos, personagens e seus feitos com predominância de recortes temporais que valorizavam o passado próximo (século XIX e início do XX). De outro, narrativas que visavam os séculos anteriores à emancipação política paranaense e enfatizam as similaridades entre a identidade paranaense e paulista focada, principalmente, na ação dos bandeirantes. O passado, em ambos os casos, era apresentado como o vaticínio do destino grandioso reservado aos paranaenses, desde que se mantivessem a fibra moral daqueles que, na primeira hora, desbravaram e fundaram o território e o Estado, respectivamente. Por fim, é importante enfatizar que tais produções não representavam a totalidade de interpretações sobre passado elaboradas por intelectuais paranaenses, mas são dados históricos significativos de um projeto desenvolvido desde o início do século XX e que encontrou guarida e reforço nas mais variadas instituições públicas do Estado. (ST19) Giovane Pazuch (Doutorando) Imigração Italiana na Colônia de Silveira Martins - RS: poderes, lutas e resistências (1877-1930) A pesquisa objetiva estudar a fundação e o desenvolvimento econômico, social e político da colônia italiana de Silveira Martins entre os anos de 1877 e 1930. A colônia italiana de Silveira Martins foi criada no centro do estado do Rio Grande do Sul e recebeu este nome em homenagem a Gaspar Silveira Martins , Ministro da Fazenda do Brasil em 1877. A sede provisória foi nomeada de “Colônia de Santa Maria da Boca do Monte” por pertencer ao município de Santa Maria da Boca do Monte e foi dividida em 716 lotes coloniais com 22 hectares cada um. Posteriormente foi rebatizada de “Città Nuova” e, por fim, a 25 de abril de 1884, é denominada “Colônia Silveira Martins”, qual passou a ser denominada de Quarta Colônia Imperial, porque foi a quarta colônia italiana criada no Rio Grande do Sul depois de Conde D’Eu (Garibaldi), Dona Isabel (Bento Gonçalves) e Campo dos Bugres (Caxias do Sul). A Colônia foi organizada pelo Império do Brasil para receber agricultores italianos oriundos do Vêneto, situado no Norte da Itália. Em novembro de 1877 e início de 1878 chegaram aproximadamente cem famílias na localidade de Val de Buia na Serra de São Martinho entre os municípios de Santa Maria e Cachoeira do Sul, onde no início da colonização da região se instalaram 1600 pessoas. Os loteamentos para os imigrantes italianos não eram contíguos, porque nas partes mais planas já haviam propriedades de nacionais portugueses e alemães, o que impediu a unificação ou emancipação da Colônia já no século XIX. Silveira Martins seguiu um desenvolvimento diverso do de Conde D’Eu, Dona Isabel e Campo dos Bugres, pois a Colônia de Silveira Martins foi extinta em 1882 e as vilas que surgiram em seu território foram divididas pelo Decreto Provincial de 1886 entre os municípios de Santa Maria, Cachoeira do Sul e São Martinho, adiando para o século XX a emancipação de Silveira Martins e dos nove municípios surgidos de seu território. Desse modo, a divisão do território de Silveira Martins, a falta de representatividade política dos imigrantes no Governo Provincial e Municipal do Rio Grande do Sul e a vida dos imigrantes restrita a seus lotes de terra e aos problemas locais ligados à sobrevivência, procrastinou o

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processo de emancipação política das vilas da Colônia. O tema proposto para o desenvolvimento da tese é: “Imigração italiana na Colônia de Silveira Martins: poderes, lutas e resistências (1877-1930)”. O projeto da tese pretende discutir a identificação do imigrante italiano a sua família, a seu lote de terra através do trabalho e a sua Sociedade da Capela através da religião, que levou à fragmentação da Colônia de Silveira Martins e seu distanciamento institucional da política local e regional. (ST39) Giselda Brito Silva (Pós-doutora/UFRPE) Memórias da Resistência ao Colonialismo Português em África Este trabalho versa sobre a memória da resistência ao colonialismo português nas colônias africanas sob a dominação do chamado império português. A meta é contribuir para os estudos do regime do Estado Novo salazarista, enfocando a desconstrução dos discursos civilizatórios do regime a partir de seus doutrinadores e intelectuais católicos em contraposição às memórias da resistência de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, que fazem várias denuncias acerca do "modo português de estar no mundo", contradizendo a teoria luso-tropicalista de Gilberto Freyre, em relação à política colonial de dominação e exploração do trabalho forçado e de uma educação excludente, imposta aos nativos das suas colônias. (ST06) Gislene Edwiges De Lacerda (Doutora/UNINOVE) Memórias de uma geração esquecida: o movimento estudantil dos anos 1970 e 1980 Neste artigo analisamos as memórias da geração estudantil que atuou politicamente durante o período da transição democrática brasileira (1974 - 1985). O período da transição democrática foi marcado atuação de diferentes movimentos sociais, entre eles o movimento estudantil. Diferentemente da geração anterior, a geração de militantes do Movimento Estudantil que atuou entre meados dos anos 1970 e meados dos anos 1980, pautou-se na luta democrática como forma de resistência à Ditadura Militar brasileira e obteve significativas vitórias, sendo responsável pelo alargamento dos limites do projeto de transição "lenta, gradual e segura" apresentado pelo general Geisel. Contudo, a transição democrática ainda se constitui como um campo em disputa na memória sobre a Ditadura. As narrativas estudantis da geração da transição demandam pelo seu reconhecimento no tempo presente, demonstrando um ofuscamento da importância política dos estudantes neste contexto. Abordamos o processo de construção da memória do movimento estudantil na ditadura militar no Brasil e buscamos analisar o lugar da transição democrática nas memórias estudantis sobre a ditadura militar e as relações entre memória e esquecimento no caso da geração da transição. (ST42) Guilherme De Paula Costa Santos (Doutor/FMU) Imbricações entre política, memória e escrita da história do reconhecimento da Independência e do Império do Brasil A comunicação discutirá as projeções da obra de Augustus Granville Stapletton, The Political Life of George Canning (Londres, 1831) sobre a historiografia do Primeiro Reinado, especialmente, sobre os estudos que se dedicaram ao reconhecimento da Independência e da formação do Império. O eixo central da apresentação é problematizar o momento de produção da obra, escrita pelo secretário particular de Canning e publicada após sua morte. Pauta-se na análise no décimo primeiro capítulo que narra a ação de Canning – secretário do Foreign Office entre 1822 e 1827 – nas negociações diplomáticas ocorridas ao longo da década de 1820 entre enviados da Corte fluminense e da Corte portuguesa. Por seu tom encomiástico e memorialístico, a análise do texto possibilita tecer considerações acerca das imbricações entre política, memória e escrita da história, já que marcos cronológicos das negociações diplomáticas; eleição de episódios; seleção de protagonistas; conjunturas econômicas e políticas da década de

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1820; e o papel da Grã-Bretanha como árbitra-mediadora das tratativas internacionais foram elementos inaugurados por Stapletton e consagrados pela historiografia especializada que se apropriou, reproduziu e desenvolveu a perspectiva e os argumentos do autor britânico. A proposta permite, assim, encaminhar discussão acerca dos fatos, ações, personagens, bem como problematizar interpretações consideradas inquestionáveis sobre a formação do Império, ensejando a possibilidade de rediscutir temas tidos por consolidados. Do mesmo modo, ela também oferece interrogações sobre fundos documentais e sua veiculação, particularmente os arquivos diplomáticos, uma vez que foram organizados a partir dessa memória consagrada. Tais circunstâncias sugerem, portanto, a necessidade de reflexão do historiador sobre sua prática profissional e sua escrita, justamente por se encontrar preso à teia da política, da memória e da história. (ST18) Gustavo Dos Santos Prado (Doutorando) “Não engavetem os zines” - as contradições da cena punk underground presente nos fanzines (anos 80) Pretende-se, nesse texto, problematizar as dificuldades enfrentadas pela cena punk underground brasileira através da análise de fanzines. Para tanto, o artigo analisa fragmentos de "punzkines" que foram produzidos em várias cidades e regiões brasileiras ao longo dos anos de 1980. Ao analisar as contradições da cena punk underground através dos fanzines, o artigo acredita que possibilitará um diálogo profícuo com relação aos desafios do historiador em trabalhar com novas fontes provenientes de mídias alternativas. (ST34) Gustavo Henrique Gomes De Almeida (Doutorando) O nacionalismo moral dos imigrantes japoneses - Shindo Renmei e ouros conflitos internos da colônia durante a Segunda Guerra Durante e após a Segunda Guerra uma série de atentados perpetrados por japoneses contra outros patrícios varreu a colônia nipônica radicada no Brasil. O ponto mais dramático se caracterizou por ataques pessoais e violentos ocorridos logo após o fim do conflito mundial. Japoneses acusados de assumirem a derrota de seu país, faltarem com respeito ao imperador e outras atitudes ditas antipatrióticas passaram a sofrer tentativas de assassinatos. Em tal episódio, o grupo Shindo Renmei ganhou notoriedade e acabou se consagrando como uma referência dentro da história da imigração nipônica. Entretanto mesmo sendo emblemático, tal grupo não é representante exclusivo do que a historiografia convencionou chamar de ações ultranacionalistas. Embora coerente à primeira vista, tal termo torna-se problemático na medida que, ao se analisar as ações ditas ultranacionalista, surge uma contradição acentuada. Apesar da retórica nacionalista usada por parte dos japoneses, ao contrário do esperado, os ataques e conflitos evidenciavam uma divisão entre os nacionais. Além disso, assim como o uso de nacionalismo ou nação, uso do termo ultranacionalismo tende a ocultar a diversidade de pensamento e relações. Vários autores que trataram sobre o tema do nacionalismo, Marcel Detienne, Benedict Anderson e mesmo Eric Hobsbawm, ressaltam o caráter subjetivo do nacionalismo. Creio que em boa medida tal subjetividade poderia ser traduzida como uma dívida do sujeito para com a nação. Afinal, a própria identidade nacional é expressa como um dívida ancestral; torna-se um nacional nascendo em determinada nação já existente ou herdando a nacionalidade de seus progenitores. A nação também costuma ser apresentada como uma construção histórica na qual sua origem é tributária de emblemas como mártires, pais fundadores ou, para usar o exemplo de Anderson, o estranho caso do cenotáfio do soldado desconhecido. Neste sentido, não parece exagero colocar o nacionalismo subjetivo como uma dívida e, portanto, uma questão moral.

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Ao ler depoimentos de japoneses suspeitos de executarem ataques, fica claro que o patriotismo particular é posto como uma condição moral elevada. Entretanto mesmo a formação da moral não é descolada de uma materialidade ou isenta de uma historicidade. Como demonstrou o historiador inglês E. P. Thompson no artigo "A Economia Moral da Multidão Inglesa", a moral pode assumir significados de acordo com o lugar social do sujeito. Neste sentido, o presente trabalho pretende investigar o significado social do nacionalismo dos imigrantes japoneses ditos ultranacionalistas, que assume instâncias de superioridade moral, legitimando, inclusive, o conflito intra-étnico e entre nacionais. (ST39) Gustavo Silva De Moura (Mestrando) Rock, Imprensa e contestação: Jornal Inovação e a “Cena Rock” em Parnaíba-PI na década de 1980. Este trabalho apresenta uma análise dos conteúdos presentes no jornal Inovação que têm relação direta com o estilo musical/comportamental do Rock. Em face da expansão da “Cena Rock” em Parnaíba, no Piauí, na década de 1980, este periódico apresenta várias referências ao tema em questão. Ao examinar as percepções da imprensa sobre o Rock, é possível compreender como se difundiu essa expressão cultural no Nordeste brasileiro. O jornal Inovação integrava o movimento da imprensa alternativa nas décadas de 1970 e 1980 no litoral piauiense. Para esta exposição, definimos a década de 1980 como recorte temporal por ser o período em que o Rock é citado com mais frequência no referido jornal. Esta análise estabelece as conexões necessárias com o contexto do país naquele período em que o Brasil era cenário de intensa agitação política, social e cultural, tendo em vista que estava em pleno processo de redemocratização, após duas décadas de ditadura comandada por militares. O foco da abordagem desenvolvida contempla basicamente dois elementos que estiveram ativamente envolvidos nessa agitação: a imprensa alternativa e a música – mais especificamente o Inovação e o Rock parnaibano. Ambos evidenciam as estratégias de contestação empregadas, objetivando problematizar a realidade social brasileira, seja nas grandes cidades, assim como no interior do país – como foi o caso de Parnaíba, segunda maior cidade do estado do Piauí. Vale considerar que se observa na década de 1970 o crescimento do mercado fonográfico nacional, alcançando números ainda mais expressivos na década de 1980. E nessa expansão, o Rock começa a ganhar força, alcançando novos públicos e, consequentemente, novos contextos culturais e sociais. Cabe notar que uma das principais características do Rock é uma íntima relação entre local e global, característica essa que pode ser percebida nas páginas do jornal Inovação. Outro aspecto relevante na cena do Rock de Parnaíba diz respeito à juventude do litoral piauiense e seu papel contestador naquele contexto. As notícias sobre shows e bandas são bastante expressivas desse viés de engajamento dos jovens através do Rock. Em síntese, pretende-se analisar especificamente os modos como o Rock era abordado nesse periódico. Esta análise inscreve-se no campo da história social e tem na obra de Raymond Williams um importante referencial teórico, particularmente no que tange aos trabalhos deste autor sobre cultura numa perspectiva materialista. Este trabalho é resultado parcial de pesquisa de mestrado em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. (ST34) Helenice Ciampi (Doutora/PUC-SP) Alexandre Pianelli Godoy (Doutor/UNIFESP) O tema central deste artigo é análise de uma entrevista a partir da metodologia da história oral temática (ALBERTI, 2005) com uma professora da área de Letras que lecionou no sistema municipal de ensino da cidade de São Paulo durante a ditadura militar entre 1971 a 1974 e que, posteriormente, foi a responsável por organizar e responder pelo arquivo da Memória Técnica Documental (MTD) do Departamento de

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Orientação Técnica (DOT) da Prefeitura Municipal de São Paulo a partir dos anos 1990. Além de atuar como arquivista, sem ter formação de origem na área, foi revisora da revista Escola Municipal no início dos anos 1970, publicação oficial do ensino municipal naqueles tempos, e também fez parte dos quadros do Departamento Municipal de Ensino (DME) na equipe de Letras, responsável pela formulação de propostas pedagógicas para a rede nos anos 1970 e 1980. Desta forma, sua trajetória profissional é uma confluência entre “memórias institucionalizadas” e “memórias da instituição”. A primeira refere-se aquilo que Paul RICOUER (2007) denominou de “memória-recordação”, pois acaba por reiterar a “memória-monumento” da instituição como um “lugar do próprio” (CERTEAU, 1996) como, por exemplo, ao se tornar revisora do periódico oficial da rede e formuladora de propostas pedagógicas, a segunda trata-se da “memória-lembrança” por resguardar a “memória-documento” (LE GOFF, 2003) na instituição pela apropriação de sua linguagem, isto é, como professora de Letras e arquivista amadora que recria e reorganiza códigos de acesso ao presente e ao passado em sua prática diária, conferindo voz aos outros por meio de sua voz. (ST05) Hélio Moreira Da Costa Júnior (Doutor/UFAC) Caminhando pela transamargura: análise fílmica de Iracema – uma transa amazônica O objetivo desse artigo é fazer uma leitura fílmica de Iracema, uma transa amazônica, filme de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, produzido em 1974, na cidade de Belém, capital do Pará. O enredo transcorre nos áureos anos de chumbo, e no que pese a tensão política brasileira, o cinema nacional vivia naquele momento, um momento de expansão no período conhecido como segunda fase da Embrafilme. Dentre alguns aspectos que podemos destacar nessa obra fílmica, uma em especial será alvo de nossa análise: a fronteira entre ficção e realidade. Trata-se de uma obra de complexa classificação quanto ao gênero e não é à toa que os próprios diretores sentiram essa dificuldade: falam em semidocumentário, docudrama, cinema-denúncia ou cinema-realidade. Por fim, ele não se presta a rótulos fáceis. É um filme que transita com fluidez entre as fronteiras da ficção e da realidade, nua e crua. (ST16) Heloisa Pires Fazion (Graduada) Abordagens sobre o Ensino de História da América no Brasil e análise do livro paradidático "A Descoberta da América" de Carlos Guilherme Mota Atualmente os conteúdos de História da América estão presentes de forma mais regular nos currículos e programas de História; entretanto, estes conteúdos enfrentaram um longo percurso para se estabelecerem assiduamente. Tendo em vista isto um dos objetivos deste trabalho é realizar uma apresentação sobre a trajetória do Ensino de História da América no Brasil, procurando elucidar os diferentes estudiosos que contribuíram para que estes conteúdos - que durante muito tempo sofreram exclusão – se estabelecessem nos currículos e no cotidiano da sala de aula. Além disso, objetiva-se também apresentar a análise do livro paradidático “A Descoberta da América” de Carlos Guilherme Mota produzido no ano de 1992. Os livros didáticos e paradidáticos apresentam inúmeras possibilidades de análise; entretanto, é importante destacar que aqui será realizada uma investigação considerando seu conteúdo, não discutindo, por exemplo, a apropriação deste recurso por parte de seus leitores e as influências exercidas pelo mercado editorial. Mais especificamente será realizado um estudo com o objetivo de demonstrar se ocorrem relações entre texto escrito e visual, de modo que “respeitando as diferenças e as especificidades entre palavra e imagem, devemos considerar as interfaces e o diálogo no intervalo destes dois espaços culturais” (MOLINA, 2007, p.16). Esta análise levará em conta as três denominações de imagens propostas por Schröder (2003): “imagem decorativa”, “imagem ilustrativa” e “imagem documental”. (ST23)

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Hermano Carvalho Medeiros (Doutorando/UESPI) A Música Popular Brasileira em Teresina: Práticas, espaços, produção e sociabilidades na construção do universo da canção nos anos 1970-1980 Esta comunicação se propõe a trazer para a reflexão os passos iniciais de minha pesquisa sobre a música popular brasileira produzida na cidade de Teresina, capital do Piauí nas décadas de 1970-1980. Estas duas décadas são marcadas por intensas movimentações artísticas praticadas pelos sujeitos pertencentes ao universo musical teresinense: compositores, intérpretes e músicos que através de shows, espetáculos musicais e debates estéticos ideológicos sobre os fazeres da música popular no país movimentaram a capital piauiense. Estas atuações permitem perceber uma articulação entre essas duas décadas, onde uma específica produção musical urbana teresinense dos anos 1970 buscava se vincular estética-ideologicamente à MPB de fins dos anos 1960 a partir de práticas de artistas que começavam a se inserir e a produzir os espaços e as dinâmicas musicais da cidade de Teresina ao longo dos anos 1970. Esses artistas se consagraram como as principais referências musicais na década seguinte por meio de um determinado discurso da música popular em Teresina veiculado principalmente em jornais impressos. (ST26) Iara Lis Franco Schiavinatto (Doutora/UNICAMP) Entre o objeto e o arquivo: sobre uma imagem de Hercule Florence Esta proposta busca, numa primeira aproximação, discutir a biografia de um objeto hoje considerado fotográfico criado por Hercule Florence na década de 1830 em Campinas que é considerado um objeto da primeira geração dos objetos fotográficos. Gostaria de apontar as balizas de sentido deste objeto e certas noções de arquivos com as quais estão atreladas. Foucault já apontou que o arquivo em seu processo de enunciação define os significados dos objetos ali inseridos, catalogados, classificados e, hoje notamos, que os arquivos em si possuem, no mais das vezes, uma história intelectual que os ordena tanto quanto o arquivo, bem advertiu Derrida, designa um futuro para uma ordem de enunciados e objetos. Assim esta proposta gostaria de colaborar para o debate da noção de cultura visual como um campo que também reflete sobre os objetos em suas biografias, os arquivos e as coleções, como modos de produção social de significado de uma peça existente. (ST10) Igor Pasquini Pomini (Mestre) Sindicalismo e Autogestão O presente trabalho tem como objeto de estudo as relações entre os sindicatos da Confederação Nacional do Trabalho – CNT –, de tendência anarquista, e os diversos comitês surgidos durante a Revolução Espanhola, de 1936 a 1939. Com o início da Revolução, muitas empresas foram arrebatadas de seus respectivos donos. Surgiram os comitês de empresa, que passaram a gerir as empresas diretamente, num processo denominado “coletivização” – hoje se diz “autogestão”. Apareceram também os comitês de bairro, de povoado ou de cidades, formados após a derrocada das instituições republicanas. Também surgiram as milícias operárias, formadas por partidos e sindicatos, que inicialmente conseguiram frustrar os planos dos militares insurretos. Assim, a ordem política, econômica e social existente até então foi desmoronada, embora não completamente. Mas logo apareceram os primeiros conflitos. Os comitês se chocaram com os partidos republicanos, que queriam reinstaurar a velha ordem burguesa; com o Partido Comunista – PCE –, que, segundo as diretrizes da III Internacional, deveria chegar a um acordo com os partidos de esquerda republicanos para que se consolidasse na Espanha a “revolução burguesa”; e com o Partido Socialista Operário Espanhol – PSOE –, que

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praticava uma política intermediária entre as outras forças. Para todos esses, de uma forma ou de outra, os comitês eram considerados inoportunos e deveriam desaparecer ou serem subjugados. Mas tais comitês também encontraram aliados. Em um primeiro momento, tiveram como aliados um partido marxista dissidente, o Partido Operário de Unificação Marxista – POUM –, e principalmente os sindicatos anarquistas. Estes últimos formavam a maior parte da base destes movimentos autogestionários. Mas ambas organizações acabaram envolvidas dentro de uma lógica de políticas de alianças com as outras organizações de esquerda, o antifascismo, e que, na prática, acabou se sobrepondo aos objetivos revolucionários. Os comitês acabaram ficando isolados de seus principais impulsionadores. No caso dos anarquistas, o abandono de suas posições iniciais se tornou ainda mais grave na medida em que os comitês foram privados de sua maior base impulsionadora. Entretanto, principalmente no campo industrial e agrícola, estes comitês tinham muita importância para o próprio processo de Guerra Civil, já que eles eram decisivos no esforço de guerra, não apenas pela produção, mas também porque muitas vezes forneciam os produtos com um custo menor ou mesmo gratuitamente. Daí a importância de se compreender as relações destes comitês com os sindicatos cenetistas, que eram seus maiores impulsionadores. Neste trabalho são usados como fontes alguns órgãos da CNT, como o Solidaridad Obrera, o Tierra y Libertad, e algumas atas dos comitês de empresa. (ST40) Isabel Camilo De Camargo (Doutora) O papel social da escrava na Lista do Fundo de Emancipação de 1874 de Sant´Ana de Paranaíba (província de Mato Grosso) O objetivo desta apresentação é discutir sobre o papel social da escrava na sociedade de Sant’Ana de Paranaíba no século XIX. Sant’Ana de Paranaíba pertencia à província de Mato Grosso e era um ponto de parada e passagem para pessoas que iam e vinham das províncias de Minas Gerais e São Paulo rumo a Cuiabá e Goiás. Hoje, esse entroncamento equivaleria a uma parte da região leste do atual estado do Mato Grosso do Sul. Essa localidade começou a ter destaque após a ocupação por entrantes vindos de Minas Gerais e São Paulo. Esses entrantes traziam consigo suas famílias, esposas e filhas, além de bens como carros de bois, carregamentos de víveres, ferramentas e homens e mulheres escravizados para o trabalho. A principal fonte histórica a ser trabalhada aqui é a Lista do Fundo de Emancipação de 1874. Pela lei 2.040, de 28 de setembro de 1871, conhecida como lei do Ventre Livre e que tinha como objetivo libertar as crianças nascidas após aquela data, foi criado o Fundo de Emancipação que visava libertar anualmente em cada província a quantidade de escravos correspondentes ao valor arrecadado pelo Fundo. O Fundo arrecadaria dinheiro para as futuras emancipações de várias formas, por meio de: taxas de escravos; dos impostos sobre a transmissão de propriedades; do tesouro de seis loterias anuais e da décima parte das que ocorressem na capital do Império; das multas impostas por essa lei; de quotas advindas dos orçamentos geral, provinciais e municipais e de doações. Os dados mostram que dos 142 escravos listados em Sant’Ana de Paranaíba, setenta e sete eram mulheres (54,2%) e sessenta e cinco eram homens (45,8%). É importante ressaltar que todos os requisitos de cor, idade, estado civil e profissão foram relatados pelos senhores e estes serão debatidos detalhadamente na apresentação. (ST40) Ismael De Oliveira Gerolamo (Mestre) Opinião de Nara: canção popular e crítica na trajetória de Nara Leão nos anos 60 Nos anos de 1960, a canção popular adquiriu estatuto privilegiado no âmbito artístico brasileiro. Algumas modalidades de canção produzidas nessa década, cujas origens se remetem à bossa nova, desenvolveram inegável componente crítico. Ao modo da arte

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moderna, a canção operou criticamente em relação a si mesma, a seus aspectos formais, de maneira metalinguística; e desdobrando tal atitude crítica ao contexto, ao plano externo, dirigindo-se a questões culturais e políticas, a canção passou a articular arte e vida. Com efeito, é nessa época que a música popular brasileira se tornou 'lócus' por excelência dos debates estéticos e culturais do país, suplantando mesmo outras áreas artísticas tradicionalmente de maior envergadura intelectual. Figura de destaque no âmbito cultural efervescente da década de 1960, a cantora Nara Leão delineou uma trajetória artística singular e esteve na linha de frente em momentos e fenômenos artísticos distintos –desde a Bossa Nova até a Tropicália. Atuando como intérprete e, eventualmente, como atriz (a exemplo de 'Pobre menina rica', 'Opinião' e 'Liberdade, liberdade'), Nara assumiu posicionamentos pouco convencionais para a época, em que pese sua condição de mulher e cancionista, desempenhando, em certa medida, papel central em discussões culturais e no estabelecimento de um novo cenário musical no país. A contundência e intensidade da atuação da cantora é traço definidor daquilo que podemos nomear como sendo sua "personalidade artística" (noção aqui pensada em termos amplos, de modo a englobar toda sua produção musical, sua performance, o repertório e sonoridade de seus discos, até suas tomadas de posição em relação à política e à cultura). Nesse sentido, parece possível descrever três linhas de atuação que conformam a trajetória artística da cantora. Uma primeira, diz respeito ao seu trabalho como intérprete, à sua performance propriamente dita (a ideia de performance aqui posta, para além da interpretação vocal, será também pensada em termos amplos, como uma noção que engloba, no universo das poéticas transmitidas pela voz, todo um conjunto de elementos que tendem a cristalizar-se em (e para) a percepção de modo decisivo). Uma segunda via de sua atuação consiste na maneira pela qual a artista opera como “intelectual da cultura” e projeta-se de maneira ampla no cenário público do período. Uma terceira linha se refere à relativa autonomia com que atuou no sistema artístico: sua intervenção em variadas frentes permite aferir para a constituição de um espaço relativamente autônomo no qual se desenvolveu sua produção. Pretende-se, portanto, examinar a atuação de Nara Leão a partir da imagem de "cancionista crítica" constituída por sua produção e trajetória.(ST26) Ivan Esperanca Rocha (Livre Docência/UNESP) Arqueologia experimental: o vinho de Roma Antiga na Sicília moderna A arqueologia experimental, recentemente criada, se apresenta como uma ciência auxiliar da história e da arqueologia e busca realizar experimentos para recriar aspectos materiais e estruturais do passado. Formulam-se hipóteses, muitas delas baseadas em fontes históricas, e passa-se à experimentação de sua viabilidade. Mas se a experiência é o esteio da ciência moderna, qual seria a diferença entre arqueologia experimental e ciência arqueológica? Aponta-se como objetivo da arqueologia experimental a reprodução de circunstâncias anteriores e a réplica de fenômenos passados. Os pesquisadores que se envolvem com esta atividade buscam recriar artefatos, estruturas e processos que aconteceram no passado. E assim se estabelece uma clara distinção entre a arqueologia experimental e outras formas de ciência arqueológica. Os resultados dos experimentos são veiculados de diferentes formas, mas particularmente em EuroREA, uma revista europeia dedicada à arqueologia experimental. A revista possui 15 números publicados, entre 2012 e 2016, e estão disponibilizados online. Seus artigos se referem a diferentes experimentos, como a construção de habitações da Idade da Pedra, fundição de metais com técnicas da Idade do Bronze, produção de vidro e sal a partir de restos arqueológicos romanos, dentre outros.

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Nesta comunicação nos deteremos no projeto Arqueologia do vinho na Itália: uma experiência siciliana que está sendo desenvolvido junto ao Istituto per i beni archeologici e monumentali del Consiglio nazionale delle ricerche (Ibam-Cnr) e em parceria com a cátedra de Metodologias, cultura material e produções artesanais no mundo clássico da Universidade de Catânia. O experimento se propõe reproduzir na Sicília moderna uma vinha seguindo as instruções que se encontram em textos romanos dos séculos I a.C. a II d.C., com destaque para as informações contidas nas Geórgicas de Virgílio e no De Re Rustica de Columella. (ST22) Ivania Valim Susin (Doutoranda) Fotografia de morte: fotojornalismo e a circulação da violência. A entrada das fotografias de violência em periódicos, alterou o âmbito da circulação da morte, que deixou de ser privada e familiar para tornar-se pública, anônima e referenciada por eventos de ordem nacional, como é o caso de conflitos civis. A fotografia atingiu, assim, a partir de sua circulação na imprensa, o ponto máximo de seu status de documento e, com ele, a noção de ser uma prova verídica dos fatos. Em uma perspectiva preliminar, a análise de uma dimensão visual do Bogotazo (Bogotá, Colômbia, 1948) compreende alguns problemas imediatos. O primeiro seria verificar de que forma a fotografia do assassinato de Gaitán acionou novos sentidos nas disputas políticas e sociais da sociedade colombiana daquele período. Ao mesmo tempo, é premissa compreender o alcance da violência, enquanto tema, no desenvolvimento da técnica fotográfica naquele país, bem como na forma dos artefatos e da sua circulação e consumo, verificados a partir dos jornais e revistas ilustradas. Aqui, admite-se que tanto o surgimento da imprensa e dos fotojornalistas, enquanto profissionais de comunicação, foi responsável por uma circulação ampliada de imagens que, conseqüentemente, ampliou também o seu consumo. Para tanto, é relevante o circuito da fotografia latino-americana e os novos usos conferidos à morte, à violência e à sua representação, a partir das redes de relações sociais possíveis de serem recriadas, entre os estúdios, os fotógrafos, seus equipamentos, técnicas, formatos e a população que consumia fotografia nesta época. Em um segundo momento, analisar a relação dos fotógrafos com causas políticas e líderes revolucionários, já no século XX; a forma dos conflitos à época e a influência deles nas pequenas cidades e na conformação de uma nova visualidade para a violência, com a guerrilha e a morte tornando-se temas rentáveis aos fotógrafos. Interessa, neste momento, verificar as alterações no circuito visual da imagem que interferem na forma de sua circulação, altera os modos de representação/apresentação da fotografia, e amplia e diversifica a sua recepção. Esta pesquisa levará em consideração, sobretudo, o caráter material da imagem e as características que a definem enquanto objeto. (ST10) Janaina De Paula Do Espírito Santo (Doutoranda) Quadrinhos como narrativas de cultura histórica: o zero eterno Neste texto, tomamos parte das reflexões de uma pesquisa em andamento, sobre mangás de conteúdo histórico publicados no Brasil com a temática de segunda guerra mundial. Seu objetivo é, a partir da análise do passado feito enredo, apontarmos alguns tensionamentos presentes no processo de apreensão do passado e da construção, portanto, de espaços coletivos de cultura histórica. Busca-se, portanto, pensar em cultura histórica como algo, que para além estabelecer sentido, significado e valor ao passado do indivíduo, também, influencia na constituição de um passado geral, uma imagem base, que ao ser tomada pela cultura de massas, pode, em certa medida, ser globalizado. O mangá (quadrinho em estilo japonês) pode ser encarado com um objeto, como tantos outros, em que a cultura histórica se manifesta e o modo como nos relacionamos com o conhecimento histórico pode ser apreendido, em seu sentido de uso público: aqui

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definido, como a história a que temos acesso sem o adendo da intencionalidade. No Brasil foram publicados entre os anos de 1999 - 2015, sete títulos de mangás que tem como fundo histórico e/ ou argumento principal a Segunda Guerra Mundial. Neste texto, o foco é o mangá O Zero Eterno, publicado durante o primeiro semestre de 2015. O mangá de Souichi Sumoto é adaptado de um romance histórico com o mesmo título, de autoria de Naoki Hyakuta . Grande fenômeno editorial no Japão, razão pela qual foi adaptado para os quadrinhos, cinema e televisão, o enredo se concentra em um relato histórico romanceado que se vale de situações reais vividas durante a segunda guerra mundial pela Tokkotai, a esquadra de pilotos suicidas japoneses, os conhecidos kamikazes. A preocupação com o passado é a tônica de toda a narrativa que intercala a atualidade e as lembranças evocadas por diferentes personagens. A junção do uso que se faz dia memoração e do saber histórico com o fator de entretenimento, pode fazer perceber o quadrinho histórico como elemento de análise sobre os diferentes posicionamentos e apropriações históricas deste objeto de cultura mundializada e de massas e portanto, de ampliação do entendimento dos diferentes espaços de construção do sentido e do raciocínio histórico. (ST16) Janaina Salvador Cardoso (Mestranda) O Auxiliador da Indústria Nacional e a veiculação das ciências naturais no Rio de Janeiro. Fundada em 1825, a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN) foi uma associação de letrados que, partilhando de ideias práticas e utilitárias, criou projetos de modernização e diversificação da agricultura, além de um maior aproveitamento dos recursos naturais existentes a fim de introduzir as bases para a industrialização brasileira. Como as demais agremiações científicas e literárias fundadas no Oitocentos, a SAIN partia da ideia de que o conhecimento para ter utilidade deveria ser compartilhado e, com isso, recorreu à imprensa periódica como forma de expandir as ideias e propostas debatidos por seus membros, criando, em 1833, a revista mensal O Auxiliador da Indústria Nacional. Assim, partindo da análise das memórias sobre agricultura, maquinários e os diversos assuntos acerca do cotidiano rural presente no Auxiliador, pretendemos apresentar como essa imprensa periódica, com o seu discurso assumidamente pedagógico, desempenhou um importante papel no processo de divulgação das ciências naturais no Brasil e inserção desta recente nação independente nos parâmetros considerados modernos no século XIX. (ST19) Janes Jorge (Doutor/UNIFESP) Os mananciais e a metrópole: a preservação e a degradação das águas na região de São Paulo entre fins do século 19 e os dias atuais. Quem acompanha a história dos mananciais de água que abastecem a cidade de São Paulo se depara com uma situação perturbadora: desde fins do século 19 eles vêm sendo destruídos apesar das necessidades crescentes de água na cidade. O ritmo com que essa destruição avança varia ao longo do tempo, mas não parece que tal processo será interrompido nos próximos anos. Nesse período a capacidade de tratamento da água destinado ao abastecimento público foi aprimorada e houve a incorporação de novos mananciais ao sistema. Esses dois fatores garantiram que São Paulo fosse abastecida mesmo com o intenso crescimento de sua população e de suas atividades produtivas. A utilização da água de poços, rios e nascentes, passando ou não pelo sistema oficial, foi significativa em certas épocas ou regiões da cidade. Mas será que o aprimoramento técnico do tratamento das águas e a utilização de mananciais cada vez mais distantes, inclusive, de outras bacias hidrográficas para além da Bacia do Alto Tietê na qual se localiza a cidade, impediu que a destruição dos mananciais fosse percebida pela sociedade e poder público como um grande desastre para São Paulo e região? Ou esse desastre foi constatado e nada pode ser feito? Hoje,

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diante da grave crise no abastecimento de água que atinge a Região Metropolitana de São Paulo, mais uma vez, a incorporação de novos mananciais ao sistema oficial é a solução que aparece com mais destaque nos debates sobre o tema. Mas recuperação e preservação dos mananciais existentes não devia ser também prioridade? (ST37) Jaqueline Moraes De Almeida (Doutoranda) Contracondutas da sexualidade feminina nas entrelinhas: as produções de Helena Ferraz e Heloneida Studart na grande mídia impressa brasileira Essa comunicação tem por objetivo enfocar os posicionamentos de Helena Ferraz (1906-1979) e de Heloneida Studart (1932-2007) expressos na grande imprensa e que podem ser interpretados, seguindo o conceito de contraconduta formulado por Michel Foucault, como lutas contra os procedimentos postos em prática para conduzir os outros. Por “outros”, no caso, enquadro mulheres pertencentes às camadas médias, principais leitoras de revistas femininas e de variedades. Helena, mais conhecida pelo pseudônimo masculino Álvaro Armando, foi colunista de diversos jornais. Também trabalhou em segmentos de rádio e televisão, e em revistas de ampla circulação, como A Cigarra e Manchete. Apesar de nunca ter assumido publicamente uma postura feminista, algumas de suas produções dão margem a uma leitura capaz de relacionar suas ideias a uma crítica de gênero. Heloneida foi Deputada Estadual do Rio de Janeiro; e, expressamente feminista, defendeu a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Na Manchete, foi responsável por cobrir o Congresso Internacional da Mulher, realizado no México, em 1975; e aproveitou a oportunidade para expressar suas ideias acerca da condição das mulheres, denunciando a opressão presente na sociedade. Helena foi diretora e cronista de “A Cigarra Feminina” (suplemento de A Cigarra) entre 1948 e 1954; Heloneida foi redatora de Manchete nos anos 1970. Ao trabalhar sob esse recorte cronológico e a partir da análise de alguns números das revistas mencionadas há pouco, evidenciarei os trabalhos dessas mulheres que podem ser interpretados como formas de contraconduta, especialmente aqueles relacionados à temática da sexualidade. Ao integrar veículos impressos de grande tiragem e circulação - instrumentos de poder cuja intenção é justamente a de conduzir pessoas - como essas jornalistas resistiram aos discursos dominantes, propondo, muitas vezes nas entrelinhas, formas de subjetivação? (ST45) Jean Marcel Caum Camoleze (Mestrando) Preservação da documentação de Movimentos Sociais. Fundo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Este trabalho tem por finalidade realizar um debate sobre a importância, as problemáticas e possibilidades de organização e identificação documental dos movimentos sociais, através do Fundo do Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terras – MST – depositado ao acervo no Centro de Documentação e Memória (CEDEM) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). A história dos movimentos sociais sempre foi importante nos estudos da historiografia do país e na composição de nossa identidade coletivas. Então os movimentos sociais se fazem de forma ativa e consciente, como algo que acontece nas relações humanas, criando experiências que forma a cultura, por meio das tradições, dos valores, ideias e instituições (THOMPSON, 1999, p. 10/11). Para Thompson, este fato se analisa que “os fins são escolhidos pela nossa cultura, que nos proporciona, ao mesmo tempo, nosso próprio meio de escolher e de influenciar nessas escolhas”. Com isso, as formações dos movimentos sociais não ocorrem pelas estruturas determinadas, mas são formadas por um processo histórico composto de saberes, informações e organização cultural que se transmite pelas vivências e experiências coletivas. A trajetória com mais de 30 anos do Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terras – MST permitiu um acúmulo documental fundamental para a compreensão da história

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atual do país. Porém a organização dos acervos documentais de movimentos sociais são pouco estudas e precisam debater e discutir os campos teóricos/metodológicos desta área do saber. A organicidade do Movimento e sua produção documental cria uma dinâmica em vários aspectos, principalmente informacional e educacional. Desta forma existe uma produção documental ativa, que não é sistematizada em seu arquivamento e dificulta sua disposição. Este conjunto documental do MST, auxilia na formação da memória do movimento e não tem uma metodologia consolidada de organização. Assim abranger o Fundo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é contribuir para a pesquisa de elementos para a identificação documental de movimentos sociais. (ST40) Jefferson de Lara Sanches Junior (Doutorando) Ciência, tecnologia e militarismo na América Latina: uma análise comparada entre Brasil e Argentina (1956-1985) A América Latina se caracteriza por sua grande heterogeneidade e complexidade. Tal fato evidencia-se ao notarmos desde os diferentes sotaques no idioma espanhol que predomina em boa parte do continente e o isolamento linguístico vivido pelo Brasil até questões concernentes a desenvolvimento econômico e social. Essa complexidade apresentada também se refere em relação a ciência e a tecnologia. Considerada como região de desenvolvimento tardio na área, a América Latina vê no século XX um período de constantes mudanças que condicionaram socialmente e economicamente a região. Mesmo havendo a existência de institutos de pesquisa desde o século XIX, principalmente voltados aos estudos de questões relativas a região tropical, como agricultura e patologias, a América Latina sofre um impulso considerável em seu desenvolvimento científico e tecnológico com a intensificação de seu processo de industrialização a partir de 1930, marcadamente pautado por demandas externas, o que não provocou, segundo Amilcar Herrera condições necessárias para o desenvolvimento de uma indústria baseada em sua própria capacidade de inovação (HERRERA, p. 78, p. 1995). Fator preponderante na região desde o período colonial, a agricultura não foi esquecida nesse processo, seja para gerar divisas ou fornecer matéria prima para as indústrias em expansão. Para atender a tamanha demanda, alguns países latino-americanos passam a desenvolver sistemas nacionais de pesquisa agropecuária, visando justamente conceder a esta área o respaldo científico para tamanha empreitada. Após a Segunda Guerra Mundial, há uma intensificação desse processo, visto o papel desempenhado pela ciência no conflito e a crença em seu poder para a superação dos obstáculos do desenvolvimento latino-americano. Neste contexto, destacam-se também os institutos de pesquisa agropecuária, que a partir de então passam cada vez a mais a abranger os territórios nacionais, em um contexto onde a agricultura e pecuária eram vistas como fator-chave para a expansão econômica da região, tendo na ciência e tecnologia o fator principal para o seu desenvolvimento. Nesta comunicação, toma-se como objeto de estudo o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuaria (INTA), na Argentina, e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), buscando compreender a relação existente com os respectivos governos militares e a sua inserção no contexto da Guerra Fria, avaliando-os à luz da história comparada, de Marc Bloch, e dos conceitos de campo e capital científico, de Pierre Bourdieu. (ST32) Jefferson de Lima Picanço (Doutor/UNICAMP) "As Agoas E As Altas Serras": um registro dos eventos hidrologicos extremos no litoral do Paraná (1796 - 1892) O evento meteorológico de março/2011 pegou os habitantes do litoral do estado do Paraná de surpresa. Embora acostumados as grandes tempestades, vendavais e ressacas

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(Lima e Lima, 2002), a forte chuva deixou a população das cidades de Paranaguá, Antonina e Morretes perplexa pela intensidade dos danos. A chuva intensa e contínua, que chegou a 250 mm acumulados em 24 horas provocou grandes escorregamentos de terras e inundações, destruiu trechos inteiros de bairros urbanos e rurais, matou três pessoas, desalojou cerca de três mil pessoas, causando grandes prejuízos econômicos. Conforme relatado aos jornais, nunca as pessoas haviam presenciado um espetáculo natural de tamanha magnitude na região. No entanto, em 1850, na “Memorias Histórica de Morretes”, o historiador parnanguara Antônio Vieira dos Santos registra que a inundação registrada em 1846 em Morretes só havia tido igual o “Dilúvio” ocorrido em 1796. Segundo Vieira dos Santos, “ambas durarão dois a três dias a despejarem nas bahias paranaguenses suas agoas, transformando as salitrosas em agoas doces no espaço de alguas legoas”. Este trabalho tratar somente dos eventos hidrológicos registrados entre 1796 e 1892. Trata-se de informações sobre eventos hidrológicos obtidos a partir das monografias de Antônio Ferreira dos Santos e de noticias dos jornais curitibanos da época. As noticias dos jornais, cuja circulação abrange o período 1854 – 1900, faz parte de um levantamento efetuado no site da hemeroteca digital da Biblioteca Nacional (http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/). Os jornais levantados foram: ”Dezenove de Dezembro”, “Commercial”, “A Republica” e “Gazeta Paranaense”. Foi elaborado um banco de dados com os relatos dos eventos meteorológicos na área dos municípios de Paranaguá, Antonina e Morretes no período analisado. Por estes dados se percebe que os maiores eventos no período ocorreram 1796, 1846, 1873 e 1883. Os eventos de 1796 e 1846 foram narrados por Vieira dos Santos, sendo os restantes recuperados pelas noticias de jornais. O uso destes dados permite considerações importantes sobre os eventos climáticos e a maneira como a sociedade os entendia e enfrentava. E nos traça um paralelo com as inquietações provocadas pelos eventos climáticos extremos de nosso tempo. (ST37) Jéfferson Luiz Balbino Lourenço da Silva (Mestrando) Telenovela e Sociedade: A questão do merchandising social na teledramaturgia brasileira A telenovela é uma importante expressão da cultura brasileira ocupando um grande espaço na vida da sociedade. Com isso, é necessário analisar qual o papel que essa forma de entretenimento ocupa no meio social, verificando as relações que se estabelecem entre os dois meios. Para isso vamos avaliar, sobretudo, a obra de dois novelistas brasileiros: Gloria Perez e Manoel Carlos, observando qual a contribuição que eles e a teledramaturgia brasileira como um todo oferecem nas discussões de problemas sociais no Brasil. (ST10) Jesiane Debastiani (Mestranda) Júlio De Revorêdo e seu debate imigratório A política imigratória ao longo dos anos 30 sofreu um intenso debate, políticos, intelectuais, médicos se mostraram preocupados com o futuro da imigração no Brasil, entre estes, Júlio de Revorêdo, um autor que através de seu livro Imigração vai expressar suas considerações acerca da politica imigratória adotada pelo país. O presente artigo pretende analisar as principais ideias do autor, ao mesmo tempo realizando uma comparação entre as suas sugestões para a politica imigratória e o que foi adotado nos anos de 1940-1945. (ST39) João André Brito Garboggini (Doutor/PUC-Campinas) Do Ator ao Não Ator: proposta de um percurso A metodologia de Boal (Teatro do Oprimido), iniciada por volta de 1971 foi o primeiro método teatral inventado no Hemisfério Sul e adotado no Hemisfério Norte.. Há mais de

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centena de grupos de Teatro do Oprimido registrados na África, América Latina, nos EUA, Canadá, Ásia, chegando a ensaiar atores da Royal Shakespeare Company. Essa comunicação apresenta o início de uma pesquisa que leva em conta a premissa do “ator e do não ator” proposta por Augusto Boal em dialogo com o cinema neorrealista italiano, sobretudo nos filmes de Visconti, Rossellini, De Sica entre outros procurando observar o trabalho cinematográfico dos atores e dos não-atores em filmes brasileiros e italianos, compreendidos entre o final da década de 1950 e o final da década de 1970. (ST27) João Augusto Neves Pires (Mestre) “Nossa vida é bandida e o nosso jogo é bruto”: Música funk, corpos sujeitos e subjetividades consumistas no Brasil contemporâneo. A intelectualidade brasileira conseguiu organizar uma vasta obra crítica sobre os anos que sucederam a ditadura civil-militar (1964 – 1985) no pais. Foram muitos os trabalhos que se debruçaram sob os aspectos políticos, econômicos e culturais que conformaram esse período histórico. Dessas analises foram forjados conceitos e perspectivas teóricas para pensar a formação cultural brasileira na virada do milênio. No entanto, mais uma vez, a historiografia e demais ciências humanas deixaram para segundo plano questões e problemáticas circunscritas as praticas culturais produzidas no seio das camadas populares. Assim, expressões como a da musica Funk, a qual pretendo aprofundar nesta comunicação, foram marginalizadas e descredenciadas para se pensar o Brasil contemporâneo. Na contramão dessa “tradição” pretendo trazer algumas reflexões sobre sentimentos, subjetividades e cultura popular nas décadas de 1990 e 2000. Para isso terei como principal eixo e fonte analítica as produções circunscritas a cultura funk. E, a partir desses rastros, discutirei, por via da teoria foucaultiana, a sujeição dos corpos e a produção de sujeitos na sociedade de consumo e das maquinas de guerras fomentados no seio das politicas implantadas no país. (ST26) Joao Do Prado Ferraz De Carvalho (Doutor/UNIFESP) Trilhando os caminhos pelos quais uma criança descobre a história: o conhecimento histórico escolar nos anos inicias do ensino fundamental e os direitos das infâncias. A naturalização dos processos de escolarização resultante da criação de sistemas educacionais tendentes à universalização é um marco da modernidade. A escola como instituição produzida e produtora da modernidade e espaço de cultura própria (JULIA: 2001) guarda forte relação com os processos de disciplinarização geracional. A impressão que temos é que “a infância e boa parte da juventude tem um papel vinculado: a de serem escolares” (SACRISTÁN: 2005). A naturalização da escola enquanto instituição educacional impôs o aluno como categoria geracional. O objetivo aqui é discutir o ensino de história nos anos iniciais do Ensino Fundamental tendo como foco principal atentar para o sujeito escolarizado, a criança e o viver diferentes infâncias, suas expectativas e leituras de mundo, tendo como referencial a compreensão de que o aluno é uma invenção cujos valores, representações e atitudes dizem respeito às representações dos adultos sobre uma determinada fase da vida das gerações que estão sob sua guarda. Nesse sentido, pretende-se discutir o ensino de história na escola da infância na perspectiva dos direitos das crianças. Isso implica pensar diferentes formas de viver um tempo de ser criança na sua relação com as condições históricas desse tempo da vida, portanto, pensar em infâncias no plural. As reflexões sobre as questões resumidas acima são nutridas e instigadas pelo desenvolvimento e acompanhamento de alguns projetos e ações em escolas de educação básica participantes do PIBID Unifesp -Subprojeto de Pedagogia, desenvolvido desde 2012 na região dos Pimentas na cidade de Guarulhos- SP. Na busca da compreensão de caminhos metodológicos possíveis para pensar como as crianças descobrem a história enquanto conhecimento na sua relação com memória social (ARIÈS: 2013), o estudo de meio e a pedagogia de projetos foram os

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caminhos pelos quais procurou-se produzir práticas pedagógicas tendo como premissa pensar o sujeito criança vivendo uma determinada infância, territorialmente demarcada e temporalmente contextualizada. A possibilidade do desenvolvimento educacional no sentido da produção de uma sensibilidade histórica (BLOCH: 2001) foi pensada a partir da ideia de letramento (SOARES) e da defesa da tese de que não existe alfabetização sem ensino de história nos anos iniciais do ensino fundamental (FONSECA: 2009). A inclusão da temática geracional no debate sobre o ensino de história na escola da infância visa colaborar no sentido de superar dilemas (OLIVEIRA: 2011) sobre o que seria o ensino de história nessa etapa de escolarização. (ST05) João Leopoldo e Silva (Mestrando) Terrorismo e mídia: a abordagem de um discurso sobre o terror A presente pesquisa tem como objetivo compreender de que maneira o Ocidente constrói uma visão sobre os conflitos árabes e sobre a ‘Primavera Árabe’, assim como exporta discursos sobre o que denomina como terror. Para tal serão analisados três documentários jornalísticos produzidos pela VICE News, uma das seções jornalísticas da empresa de jornalismo global VICE. As produções são frutos de séries de filmagens e entrevistas realizadas ao longo de poucas semanas que seus correspondentes passaram no local da gravação. Os documentários são: The Islamic State (trad. ‘O Estado Islâmico’), A City Left in Ruins: The Battle for Aleppo (trad. ‘Uma cidade deixada em ruínas: A batalha por Aleppo’) e Ghosts of Aleppo (trad. ‘Fantasmas de Aleppo’); todos foram filmados e produzidos em 2014 e são contemporâneos ao conflito que ocorre na Síria e no Iraque: o combate entre forças do chamado Estado Islâmico e forças do governo ditatorial de Bashar al-Assad. (ST10) João Muniz Junior (Doutorando) A escrita autobiográfica de Nelson Werneck Sodré Esta comunicação de pesquisa tem o objetivo de refletir sobre aspectos da obra memorialística de Nelson Werneck Sodré. Para tanto, propusemos fazer esse estudo a partir da seguinte obra: Memórias de um soldado (1967), a fim de ler, mapear e interpretar a memorialística do autor; bem como discutir determinantes sociais, políticas e culturais da construção da memória por meio de um relato específico de natureza autobiográfica; identificar os referenciais narrativos que se fazem presentes na escrita de si de Nelson Werneck Sodré e delimitar diferentes dimensões da narrativa proposta pelo autor, como um passado e um espaço social projetado na sua descrição de situações e comportamentos. O estudo do memorialismo desse autor é uma oportunidade de discutir sobre o gênero autobiográfico e suas relações com a narrativa literária e a escrita da história. Além disso, podemos questionar a temporalidade e a noção de história compartilhada pelo texto, bem como sobre o seu método de narrativa autobiográfica. Vale ressaltar que a nossa pesquisa de doutorado em História se encontra em fase embrionária, portanto, os resultados ainda são um tanto incipientes. (ST47) João Paulo Berto (Doutorando) Um museu de história, um acervo em disputa: a reabertura do Museu Histórico e Pedagógico “Major José Levy Sobrinho” (Limeira-SP) A presente comunicação pretende abordar os procedimentos curatoriais que envolveram a reabertura do Museu Histórico e Pedagógico “Major José Levy Sobrinho”, na cidade de Limeira, São Paulo, bem como as distintas relações que marcaram sua trajetória institucional. Fundado em 26 de janeiro de 1964, o referido museu foi constituído no amplo movimento do governo de São Paulo que almejava fomentar a importância paulista no imaginário republicano. Desenvolvido entre as décadas de 1950 e 1970, esta proposta levou à constituição de 79 instituições museais espalhadas pelo território do estado. Tais espaços de memória e história procuraram resguardar a cultura material das

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cidades em que se localizavam, bem como de suas regiões, além de um amplo conjunto de acervos de caráter diverso. Esta referida diversidade foi fruto, muitas vezes, das diferentes gestões e da falta de políticas de aquisição de acervos ou planos museológicos bem definidos. O mesmo ocorreu para o museu limeirense, cujas coleções são formadas por cerca de 6500 itens, entre documentos textuais, iconográficos, audiovisuais, sonoros e tridimensionais. Contudo, os conjuntos são extremamente fragmentados e os itens não possuem dados que, de fato, confirmem elementos como autoria, datação ou mesmo procedência. Desde o ano de 1984, o museu histórico passou a ocupar o prédio do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira de Camargo, e, em 2009, foi desativado com o objetivo de restauro de sua sede, pendência que se arrastou até maio de 2016, quando foi reaberto. Neste ínterim, o acervo foi alvo de infestação de insetos xilófagos e agentes biológicos, além de diversas pendências que envolveram desde acusações do envio de obras para a decoração de espaços do executivo municipal, roubos e mobilizações por parte da população e das imprensas local e regional. Com o intuito da reabertura do espaço museológico, foi definida uma agenda de atividades e estudos do acervo, bem como de reflexões acerca do ato e do fazer museológico. Desta forma, procura-se entender qual o papel desempenhado pelo museu histórico no contexto da cidade de Limeira, tendo sempre no horizonte sua dimensão como local de disputas pela manutenção de uma determinada forma de interpretar e ressignificar o passado da cidade – creditada como “berço da imigração europeia de cunho particular”, “capital da citricultura nacional” e “capital da joia folheada”–, na maior parte das vezes, carregando os ânimos, sempre políticos, de determinadas personagens. Intenta-se, ainda, apresentar os elementos que nortearam a composição da linha curatorial e da seleção dos itens que compuseram a exposição de média duração, entendida como um experimento onde se regimentam processos de seleção, apagamentos e abordagens. (ST18) João Paulo Charrone (Doutorando) As relações diplomáticas de Gregório I (590-604) com a corte imperial bizantina através do Registrum Epistolarum Este trabalho pretende abordar as epístolas remetidas por Gregório I (590-604) ao mundo oriental, mais precisamente a classe dirigente do Império Bizantino. A proposta consiste em identificar nas missivas papais não apenas sua concepção política-religiosa, fundamentalmente, alicerçada na ideia de que a Igreja e o Império são as únicas instituições universais, ou mesmo, que era tarefa do Imperador, como escolhido por Deus, zelar pela paz da Igreja e agir no sentido de garantir a salvação de seus súditos. Mas também, perceber a atuação diplomática deste pontífice, agindo como intelectual orgânico da Igreja, articulando um projeto de hegemonia papal junto a tal instância de poder. (ST38) João Rodolfo Munhoz Ohara (Doutorando) De Mortuis Nihil Nisi Bonum: virtudes epistêmicas e condutas exemplares em obituários e artigos de homenagem de historiadores brasileiros (1980-1990) Obituários são fontes preciosas a quem deseja entender melhor o funcionamento de determinados modelos de conduta profissional no ambiente acadêmico. Se, por um lado, o gênero costuma seguir um tom apologético e benevolente em relação à obra do homenageado, por outro, uma leitura atenta permite identificar ao menos parte dos repertórios intelectuais mobilizados no trabalho do historiador. De maneira semelhante, os artigos de homenagem a colegas e professores já falecidos costumam delinear trajetórias pessoais ou dar ênfase a determinadas linhas temáticas consideradas inovadoras na produção profissional do homenageado. A partir da leitura desses dois

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tipos particulares de texto em periódicos acadêmicos de história entre 1980 e 1990, este trabalho busca investigar o uso de linguagem axiológica por parte dos historiadores para fazer menção a (1) disposições consideradas epistemicamente virtuosas e (2) condutas consideradas exemplares no exercício da atividade historiadora. A hipótese que norteia este trabalho é a de que o historiador está sujeito a um processo de subjetivação ao longo do qual aprende a ser historiador. Neste sentido, os cursos de formação e a vivência do campo historiográfico não ensinariam apenas técnicas de trabalho e ferramentas de análise, mas também uma série de disposições subjetivas de posse das quais um indivíduo seria capaz de realizar adequadamente seu trabalho aos olhos de seus pares. Busca-se, assim, delimitar as virtudes epistêmicas e os modelos de persona acadêmica disponíveis no período delimitado a fim de melhor compreender a produção de subjetividade do indivíduo historiador. (ST19) José Jonas Almeida (Doutor) Os Primórdios da Exploração da Castanha-do-Pará na Amazônia Um produto que, no seu próprio nome, nos remete ao país do qual é originário. Desde o final do século XVIII, a designação Brazil nut era utilizada pelos ingleses quando se referiam à noz trazida da região amazônica. Aqui, a denominação mais comum é castanha-do-pará, a qual apesar das várias medidas visando alterar o nome para castanha do Brasil, ainda persiste. O seu consumo no exterior, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos conheceu uma tendência crescente durante todo o século XIX. A partir da década de 1920, com o declínio da borracha, a castanha-do-pará passou a ocupar, em poucos anos, a posição de principal produto de exportação de alguns Estados da Amazônia, como foi o caso do Pará, tendo também papel de destaque na arrecadação de tributos para essas unidades da federação. (ST37) José Luiz Dos Santos Pereira Filho (Mestre) A voz publica do mestre. Relações entre poder e conhecimento no século XII. Minhas pesquisas giram em torno da busca por indícios das marcas de individuação da pessoa através das relações entre os diversos sistemas de categorizações sociais, e a construção do lugar social ocupado pelos mestres (magistri) do século XII. Os sistemas de ordenação presentes no século XII, herdados de séculos anteriores ou produzidos nesta época, demonstram um dinamismo variado. Alguns desses sistemas permitem o trafego entre as categorias e possuem estruturas hierárquicas próprias. A rigidez e a complexidade destes sistemas também são variáveis. O sistema de Pedro Abelardo (1079-1142) pode ser dito dinâmico, pois a ideia de ofícios originários de um dom divino garante uma relativização destas categorias dentro da perfeição evangélica, não especificamente a mobilidade entre categorias. O abade não deixa de ser um continente por que tem deveres administrativos como os dos reitores, o bispo não deixa de ser um reitor quando estuda para melhor julgar as questões para administrar a justiça, os casados não deixam de ser categorizados como são por serem justos ou se dedicarem a continência. As categorias de fiéis, como vistos, são definidas pelas virtudes ou dons que recebem. Cada dom da graça não exclui outro, ao contrário, por serem compostos, o que daria o nome a categoria a que cada um pertence seria a abundancia ou a dominância de dos dons. No sistema de ordenação de Abelardo os dons de Deus permitem uma relativização do ofício que a pessoa deve prestar. No sistema político medieval o dom é pessoal, ou seja, inaugura uma relação pessoal entre o doador e o beneficiado. O mesmo ocorre com o dom de Deus neste sistema de ordenação. Dependendo do dom que Deus concede, este não pode ser percebido por outras pessoas, a não ser por seu efeito, ou confirmação. É o

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caso do dom para as letras, que diferente de um cargo de poder, só pode ser percebido pelo seu efeito individualmente. Neste sistema de ordenação o magister que apesar de possuir dons como o dos monges, está categorizado pela preponderância de beatitudes, como um reitor. Este lugar neste sistema de ordenação garante ao magister uma função política e uma voz pública. Porem vários outros sistemas endossam a ideia do magister ser visto como pertencente a categoria daqueles que devem dirigir a sociedade. A ascensão desta nova classe, deste novo ator na sociedade do século XII, o mestre, e sua relação com as tradicionais classes dominantes é o começarei a explorar neste artigo. (ST38) José Roberto Soares Junior (Graduado) A falta que uma praça faz: Peter Burke e a necessidade de um oásis social para cidade de São Paulo. Este artigo foi escrito como parte complementar de meu objeto de estudo no mestrado que curso atualmente em História Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Discutirei aqui a importância que o historiador inglês Peter Burke dá ao fato da cidade de São Paulo necessitar de um “oásis”, um lugar especial onde os cidadãos desta imensa cidade possam desfrutar de momentos agradáveis, onde a experiência partilhada pelos seus habitantes não seja totalmente caótica e restritiva, como efetivamente a cidade vem mostrando ser pelo menos há um século. É necessário ter em mente que a cidade de São Paulo é a maior cidade ao sul do Globo Terrestre, uma cidade que faz parte de uma área metropolitana exercendo força centrípeta em relação às demais cidades que se encontram a sua volta. Desta maneira, São Paulo possui cerca de 11 milhões de habitantes, mas, toda área metropolita alcança facilmente uma população gigantesca de 20 milhões ou mais de pessoas, que muito provavelmente tem uma relação muito mais intensa com a cidade de São Paulo, do que com a cidade onde residem. Por todos os fatos citados acima, este artigo pretende trazer ao embate de ideias não só de historiadores como portadores de inferências acerca da cidade, mas também, incluir neste, principalmente, alguns geógrafos, que sem dúvida alguma são os responsáveis primordiais, embora não únicos, como leitores especializados do espaço geográfico. Afinal como dizia o grande historiador Fernand Braudel: “um bom historiador também dever ser um bom geógrafo e, um bom geógrafo também deve ser um bom historiador”. Os autores que corroboram para esse projeto são: Walter Benjamin; Peter Burke; Rogério Haesbaert; Sandra Jatahy Pesavento; Carlos José Ferreira dos Santos; Milton Santos; Edward Palmer Thompson. Ao fim do artigo procuro dar resposta sobre a proposição de Peter Burke sobre a necessidade de uma praça para São Paulo, o que tornaria uma cidade muito mais sociável e, talvez ajudasse a acabar um pouco com o aspecto caótico da urbe paulista, amenizando também problemas para população em geral, valorizando não só a “classe dominante”, mas, valorizando o espaço a todos e, principalmente as “classes subalternizadas”. (ST44) José Roberto Zan (Doutor/UNICAMP) O Povo Canta: canção e luta hegemônica no Brasil dos anos de 1960 Em 1962 o Centro Popular de Cultura (CPC), vinculado à União dos Estudantes (UNE), lançou o LP compacto de 33 1/3 rotações 7", intitulado O Povo Canta, com as músicas: “Canção do subdesenvolvido”, de Carlos Lyra e Francisco de Assis; “Canção do trilhãozinho”, dos mesmos autores; “João da Silva”, de Billy Blanco; “ Zé da Silva é um homem livre”, de Geny Marcondes e Augusto Boal, e “Grileiro vem, pedra vai”, de Rafael de Carvalho. As canções foram interpretadas por Nora Ney, Carlos Lyra, Rafael de

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Carvalho, Nara Leão, Vera Certel e o coro do CPC. A gravação foi feita em condições bastante amadoras na sede da UNE no Rio de Janeiro e as 11 mil cópias produzidas foram distribuídos por quase todo o País. O objetivo deste trabalho é verificar de que modo as canções contidas nesse disco traduzem aspectos da ideologia nacional desenvolvimentista formulada especialmente pela ala esquerda do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e que fora incorporada ao Anteprojeto do CPC, texto que estabeleceu as diretrizes de atuação desse órgão. Tanto nos aspectos textuais como nas escolhas de gêneros e estilos musicais, nos arranjos e nas performances dos intérpretes, ideias como as de imperialismo, nação, subdesenvolvimento, alienação e de povo brasileiro aparecem de modo explícito ou implícito nos discursos cancionísticos desse repertório elaborados de maneira didática e persuasiva. Embora com repercussão restrita principalmente ao público universitário, uma vez que pelo caráter de produção independente não entrou no circuito midiático da época, o LP cumpriu importante papel como instrumento de trabalho no plano da política cultural do CPC. Além disso, estabeleceu alguns marcos simbólicos a respeito do engajamento da música popular ao processo político brasileiro naquele período que orientaram os processos de luta e disputas no interior do meio artístico naqueles anos. Uma das hipóteses deste estudo é que essa produção, dentre outras ações realizadas pelo CPC, contribuiu para a construção da hegemonia do ideário nacionalista de esquerda no plano cultural e artístico do Brasil dos anos de 1960. (ST26) Josefa Neves Rodrigues (Pós-graduada) As políticas de Ação Afirmativa na USP e a Meritocracia em Questão Este trabalho parte da experiência da autora, no decorrer da pesquisa de mestrado intitulado: “Caminhos e Descaminhos da Meritocracia Contra as Políticas de Ação Afirmativa na Universidade de São Paulo”. Cujo objetivo é analisar a resistência dos dirigentes daquela universidade em adotar as políticas de ação afirmativa, pois em pleno século XXI ainda se fundamentam em pressupostos da “meritocracia”, conceito descartado pelas políticas de inclusão racial e social aprovadas pelo Supremo Tribunal federal e pela legislação vigente leis: 10.639 e 12.711. Esse debate vem suscitando polêmicas e levantando questões sobre a importância da implementação de cotas raciais nesta instituição, reivindicadas pelos movimentos negros e sociais, especificamente pelo Núcleo de Consciência Negra (NCN) e Ocupação Preta. Essas políticas de ação afirmativa na educação superior brasileira tornaram-se uma realidade e tem como objetivo combater a discriminação histórica perpetrada contra os negros, assim como se constituírem como um instrumento de justiça social. No âmbito dos Direitos Humanos, a desigualdade racial é vista como uma violação da igualdade e da diferença. As ações afirmativas, destinadas à população negra, justificam-se não apenas pelas perdas históricas incomensuráveis, mas, sobretudo, pelas perdas educacionais e políticas. (ST02) Joyce Aparecida Pires (Mestranda) Cotidiano, cultura e vida religiosa: possibilidades etnográficas Esta comunicação envolve uma pesquisa de cunho etnográfico sobre a vida cotidiana no convento Pobres Filhas de São Caetano, localizado na cidade de Cândido Mota, estado de São Paulo, Brasil. O trabalho foi iniciado a partir da análise das trajetórias de vida destas Irmãs Conventuais, tendo a princípio os trabalhos de Pierre Bourdieu como inspiração. O objetivo é contribuir para uma melhor compreensão de como as feminilidades são construídas e ressignificadas na vida cotidiana dessas freiras. Foram observadas as condições e os lugares que elas ocupam na sociedade brasileira, especificamente as freiras de diferentes faixas etárias e procurou-se compreendê-las através da análise da rede de complexas relações sociais em que essas religiosas estão situadas e onde vieram suas motivações pessoais e espirituais. As jovens que estão passando pelo período de

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formação religiosa e aquelas que já estão inseridas na instituição, auxiliaram a pensar sobre o que elas trazem de seus contextos sociais e geográficos específicos, quando contribuem de forma criativa para a VR e, ainda sobre seus dramas e tensões experimentados vivendo em comunidade. (ST25) Júlia Amabile Aparecida De Souza Pinto (Mestranda) A história do antigo Horto Florestal de Rio Claro e características do seu tombamento (1909-1977). O objetivo deste ensaio é apresentar os resultados parciais da pesquisa de mestrado desenvolvida no espaço conhecido como horto florestal de Rio Claro (atual Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade –FEENA) entre os anos de 1909 à 1974, ou seja, período de formação e construção do horto e que também engloba seu tombamento pelo Condephaat (1974-1977). Compreender esse período, assim como os agentes envolvidos nesse processo, é chave fundamental para as reflexões que a pesquisa propõe: estudar, através da investigação histórica e olhar da história ambiental, o que esse espaço patrimonializado nos diz sobre a relação sociedade e natureza. A pesquisa, no recorte apresentado para esse trabalho, se pautou na literatura que aborda o horto e discussões sobre patrimônio cultural e ambiental, além de analisar o documento administrativo que resultou em sua patrimonialização, o “processo de tombamento”, e, também as atas de conselho do Condephaat referentes a esse processo. (ST37) Juliano Custódio Sobrinho (Doutor/Universidade Nove de Julho) A representação social do negro nos livros didáticos regionais para a História do Estado de São Paulo: ensino, narrativas e currículos. O presente artigo propõe analisar os livros didáticos regionais para o Ensino Fundamental I, aprovados no PNLD 2016 e utilizados nas escolas públicas da rede municipal de São Paulo. Especificamente, esta análise versará sobre as narrativas referentes às temáticas do eixo “história e cultura africana e afro-brasileira”, de acordo com as prerrogativas da Lei 10.639/03 e das Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de Aprendizagem para o E.F. – ciclo I, da cidade de São Paulo. Além das demandas voltadas para a produção de um material didático sobre história regional, a comunicação pretende problematizar as narrativas construídas acerca da participação negra na história, levando em consideração o contexto regional, o diálogo com a historiografia, os currículos e o PNLD 2016. Não trata-se de prescrever o que as recentes pesquisas historiográficas apontam para o tema, mas analisar a relação saber acadêmico/saber histórico escolar, trazendo à tona as problemáticas envolvidas na produção e usos dos materiais didáticos em sala de aula. (ST05) Julio César De Oliveira Vellozo (Doutorando) Nicolau Pereira Vergueiro e a luta pelo poder de dizer o direito no primeiro reinado. Nicolau Pereira Vergueiro (1778-1859) foi um dos líderes políticos mais importantes do primeiro reinado. Fazendeiro de grande fortuna em São Paulo, formou ao lado de Francisco de Paula Souza (1791-1851) e Diego Antonio Feijó (1784-18430 o que a historiografia chamou de grupo liberal paulista. Esse grupo sustentou na primeira metade do século um verdadeiro programa político, que tinha relação com o modelo de estado a ser erigido no pós-independência. Temas como a fim do Conselho de Estado, a eleição por círculos, o fortalecimento do poder provincial, a defesa adoção de uma série de medidas que enfraqueceriam o poder moderador, marcaram praticamente a vida política inteira desses homens. Dentre os elementos centrais desse programa, esteve a defesa do estabelecimento do primado da lei e da subordinação do judiciário a esta. Os líderes do grupo liberal paulista, no debate de uma série de projetos de lei que visavam regulamentar a

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constituição, buscaram esvaziar o poder da magistratura togada e de construir mecanismos de autogoverno. Dentre os projetos sustentados com ênfase pelo grupo estiveram os que fortaleciam a figura do juiz de paz - eletivo e leigo - e o estabelecimento do juri, tanto nas causas crimes quanto nas causas cíveis. Esses debates dividiram a Câmara dos Deputados em dois grupos bastante demarcados, um que sustentava as reformas "antijurisprudenciais" outro que resistia a elas, defendendo as velhas prerrogativas interpretativas que os juízes detinham desde o antigo regime. Tratava-se, portanto, do que Antonio Manuel Hespanha chamou de uma luta pelo poder de dizer o direito, entre o parlamento, responsável pela feitura das leis, e os magistrados, que queriam manter as suas prerrogativas de realizar interpretações. A defesa do grupo liberal paulista da construção de uma justiça cidadã, baseada nos juízes de paz com amplas prerrogativas e no estabelecimento do júri, foi uma parte muito importante dos trabalhos da primeira legislatura, iniciada em 1826, concluída em 1829. A luta entre essas concepções teria ainda episódios importantes na aprovação do Código de Processo Criminal, no Ato Adicional e nas políticas do regresso. Nosso trabalho, que se foca na primeira legislatura, pode dar uma pequena contribuição para que olhemos a Câmara dos Deputados para além da oposição entre Pedro I e os Deputados, enxergando outras divisões importantes entre diferentes projetos para o que viria a ser o Estado brasileiro. Também pode ajudar a mostrar que a primeira legislatura, para além de ter minado as bases do poder do Imperador, também teve uma obra importante na chamada construção da ordem, através da discussão/aprovação de uma série importante de leis regulamentares e códigos. (ST47) Júlio Cezar Bastoni Da Silva (Doutor) A atuação de João Antônio na imprensa alternativa João Antônio, escritor e contista paulistano, foi um dos mais prolíficos colaboradores e incentivadores da imprensa alternativa brasileira na década de 1970. Egresso da revista Realidade, na fase dirigida pelo jornalista Paulo Patarra, a qual, além de seu valor ímpar entre as publicações brasileiras, significou verdadeiro laboratório para a imprensa alternativa da década seguinte, João Antônio colabora em praticamente todos os periódicos de importância do momento, como O Pasquim, Opinião, Movimento, Ex-, Crítica, Versus, dentre outros. A atuação de João Antônio marcou uma confluência típica na produção alternativa na década de 1970, qual seja a união entre a produção literária e a jornalística, ambas confluindo para o mesmo desvendamento do assim chamado Brasil real durante o período da ditadura militar brasileira. Assim, tanto em sua produção ficcional pura quanto em reportagens na qual recende o caráter estético de sua construção – em especial a forma do chamado “conto-reportagem”, já presente na revista Realidade – a produção do autor participa do que programa político das publicações, na qual avultava a oposição ao regime autoritário e o desvendamento da situação social nacional pós-“milagre” econômico. O objetivo deste trabalho, assim, é apresentar a participação de João Antônio na imprensa alternativa – por ele alcunhada de “nanica” – considerando os pontos principais presentes em seus textos e a forma na qual eles se integravam no panorama geral das publicações do período. (ST36) Julio Cezar Oliveira De Souza (Doutorando) Crise econômica e Plano Collor II, um debate sobre as posições da esquerda e da direita Ao fim do mês de janeiro de 1991, fora implementado o Plano Collor II. Este plano representou uma nova tentativa de estabilização econômica, principalmente no que tange ao controle da inflação, que girava em torno de 1.140,267 % ao ano no mês de seu

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lançamento. O governo, diante da pressão da sociedade civil (principalmente empresários e sindicatos), temerosa de um novo choque econômico, procurou apresentar o Plano Collor II como continuidade do primeiro. Dentre seus objetivos estavam um ajuste fiscal mais duradouro, que possibilitasse a retomada de investimentos e o resgate da dívida social, segundo o governo. A desindexação e a reforma financeira foram as principais medidas adotadas pelo novo plano econômico. A extinção de vários índices de preços tinha o claro objetivo de combater a inércia inflacionária, trabalhando no sentido de desconstruir a memória relativa à inflação precedente. Para o governo, essa prática era fundamental na medida em que impedia a reprodução da inflação pretérita no presente, dessa forma, segundo a acepção da equipe econômica, seria criado um ambiente econômico estável, propício a investimentos com um maior nível de confiança. Quanto à reforma financeira, o plano criou fundos de investimento, cujo mais proeminente foi Fundo de Aplicações Financeiras, que ficou mais conhecido como “Fundão”. É sobre esse cenário econômico que pretendemos realizar uma sucinta discussão. Lançando mão do debate entre políticos e economistas de esquerda e de direita, nossa proposta é lançar luz sobre os efeitos e interesses em jogo naquele momento de crise econômica. (ST40) Kamila Rosa Czepula (Mestranda) Os indesejáveis chins: a imigração chinesa nas páginas do Jornal Gazeta de Notícias (1879) Em 1879, os debates e projetos com relação à substituição da mão-de-obra escrava pela chinesa como uma solução temporária, tornaram-se nacionais, mediante a publicação de artigos em periódicos, panfletos e obras de cunho propagandístico. Neste sentido, esta comunicação tem como objetivo demonstrar que, além dos discursos sobre o imigrante de origem chinesa no Brasil, produzidos nos gabinetes e tribunas desde meados do século XIX, existe outro campo discursivo a ser explorado, o dos discursos divulgados pela imprensa, principalmente da cidade do Rio de Janeiro. Dessa forma, pretendemos identificar e analisar como o debate referente à imigração chinesa figura em um dos jornais de maior importância e circulação no período, Gazeta de Notícias, e quem foram as pessoas que entraram nesse debate por meio do periódico, assim como as formas utilizadas por elas, suas interpretações e a difusão dessas ideias no restante da sociedade. (ST39) Karla Adriana Martins Bessa (Doutora) Escrita da história: relações de gênero e audiovisual na década de 1970 A década de 1970 foi intensa em produção de formas alternativas de resistir aos mecanismos censores da política repressora militarista do momento. O uso da câmera de Super 8 (e os clubes alternativos de exibição) propiciou experiências estéticas que desafiaram os cânones da arte e da política do momento. Nesta apresentação pretendo refletir sobre os usos que dela fizeram cineastas cariocas e paulistas, na produção de curtas-metragens voltados para questões do corpo e da sexualidade, afinados com as demandas globais de uma "revolução sexual". Na análise destas películas duas questões se cruzam: 1) como este suporte (filme super 8) possibilitou expressar inquietações de uma geração; 2) como a historiografia lidou com estes objetos culturais na produção de uma leitura das questões culturais da época em tela. Nesta análise, atenção especial será dada às poucas mulheres cineastas que participaram da Marginália 70, experimentalismo no cinema brasileiro. (ST18) Kátia Rodrigues Paranhos (Doutora/UFU) Dias Gomes e “Dr. Getúlio”: música, dramaturgia engajada e encenação no Brasil sob a ditadura militar A prática do teatro musical no Brasil remonta à segunda metade do século XIX, sobretudo às três últimas décadas. Gênero de vigência instável, que tem conhecido

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momentos produtivos, seguidos por períodos menos ricos, o musical conheceu uma de suas fases mais férteis, no país, durante as décadas de 1960 e 1970. Nesses anos, o teatro brasileiro frequentemente se organizou sob o formato de espetáculo cantado para responder, de modo crítico, ao regime militar instaurado em 1964. As soluções estéticas mobilizadas nessas peças reeditaram as práticas nacionais da farsa e do teatro de revista, assimilaram influências estrangeiras (como dos alemães Erwin Piscator e Bertolt Brecht e do musical americano) e, acima de tudo, afirmaram caminhos artísticos originais, capazes de envolver o público. Por sinal, vale realçar que os textos musicais registraram instantes históricos, ao mesmo tempo em que fixaram tendências que transcenderam aquela conjuntura específica e deixaram lições estéticas às quais se pode voltar hoje. As estratégias épicas, isto é, as narrativas (por exemplo, a maneira de a música se inserir no enredo) e os diálogos em verso estão entre essas lições. Em sintonia com tais práticas, este trabalho aborda a importância política do teatro musical na obra de Dias Gomes. Tomo por base Dr. Getúlio, sua vida e sua glória (1968)/Vargas (1983) e enfatizo como características fundamentais a mistura entre música, dramaturgia engajada e encenação. Examinar esse musical equivale a revisitar, de certa forma, o momento vivido no Brasil, que essa peça denuncia e subverte, enquanto nos possibilita uma aproximação com estilos narrativos diferenciados de representação do poder institucionalizado. Nessa esteira, entendo que o discurso musical afeta o espectador não só por meio dos parâmetros sonoros, mas igualmente pela sua capacidade de sugerir imagens e de inventar espaços e lugares ao criar figurações cênico-dramáticas. A propósito, convém lembrar que a música sempre foi uma referência importante no trabalho de Dias Gomes, no que se refere à sua escritura teatral. Daí a pertinência da discussão que envolve o contraponto entre as linguagens musicais e plásticas na composição da polifonia intrínseca do seu teatro. Disso decorre ainda, mais especificamente, o interesse em analisar a junção da música e da obra teatral como expressões de engajamento e de intervenção sonora que fluíam nos palcos e para fora deles nos tempos difíceis da ditadura militar brasileira, que ainda mostraria fôlego para perdurar, com maior ou menor força, por longos 21 anos. (ST27) Kauan Willian dos Santos (Mestrando) O internacionalismo anarquista e as articulações políticas e sindicais nos grupos e periódicos anarquistas Guerra Sociale e A Plebe na segunda década do século XX em São Paulo. Os periódicos confeccionados e lidos pelas classes subalternas, trabalhadores e militantes no contexto da Primeira República em São Paulo foram um dos principais vetores de divulgação e mobilização política. Nesse sentido, é evidenciado o papel que tiveram os grupos anarquistas, igualmente importantes na configuração dos movimentos reivindicatórios nesse processo. Visando aprofundar o tema em questão, o objetivo central na pesquisa que está sendo apresentada foi adentrar o estudo dos periódicos A Plebe e Guerra Sociale e os seus grupos militantes em conjunto, buscando compreender, de maneira mais ampla, a construção e a condução de estratégias políticas e sindicais frente às mobilizações que ascenderam no contexto proposto, ressaltando também suas conexões transnacionais e seus projetos internacionalistas. Diante disso, foi possível evidenciar o fortalecimento de diversas propostas que tais grupos estavam desempenhando, tal como as que levavam em consideração os contextos internacionais, que estavam influenciando o movimento operário na cidade - como a Primeira Guerra Mundial - as articulações e militância de orientação sindical que visavam a união de diversas tendências políticas, regionais e de oficio e a união dos grupos especificamente anarquistas, a chamada Alliança Anarquista. Para tal, buscams primeiramente as condições que possibilitaram o surgimento das estratégias e políticas anarquistas que

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serão reavaliados pelos grupos estudados e, depois, percorremos a construção e atuação dos periódicos mencionados a partir de seus discursos e propostas bem como de práticas e as formações de seus militantes dentro de condições materiais precisas e de eventos históricos condicionantes, entre elas a conjuntura das greves e manifestações de 1917-1920 que tinham o sindicalismo revolucionário seu principal vetor social, análise que se dá também comparando tais práticas com suas influências teóricas e os debates e articulações internacionais anarquistas. (ST40) Kettuly Fernanda Da Silva Nascimento dos Santos (Mestranda) Os 'Hipócritas' do Evangelho de Mateus: uma análise sobre a retórica antijudaica cristã no I século d.C. Este trabalho tem por objetivo desenvolver uma análise sobre o Evangelho de Mateus, o qual está inserido num quadro de estudos relacionados à formação da identidade cristã a partir de uma retórica antijudaica e que tem voltado seu olhar para o processo de separação do ‘judaísmo antigo’. O trabalho procura identificar as circunstâncias da constante denuncia da ‘Hipocrisia’ dos escribas e fariseus, assim como também busca investigar se estas denúncias se referem realmente aos escribas e fariseus ou se são ataques à própria comunidade cristã, como acontece no Evangelho de Lucas, tendo em mente que o Evangelho de Mateus tem sua comunidade formada por uma maioria de judeus cristãos (cristãos de origem judaica) e onde acreditam que Jesus não suprime a Lei mosaica, mas deseja levá-la a perfeição, tornar a sua observância correta. Portanto, a pesquisa se desenvolverá conduzindo a análise sobre a formação da identidade cristã a partir da comunidade mateana. Pensando que a identidade do indivíduo é construída a partir da sua relação com o outro (em que características são adquiridas ou repelidas durante a formação de sua identidade). Desse contato similaridades e particularidades começam a se destacar nos permitindo enxergar que as relações identitárias são fluidas e, mesmo que não aceite, ocorre uma relação de troca cultural. Com isso a etnicidade está diretamente ligada à construção subjetiva da identidade na relação cultural compartilhada, é uma relação onde o indivíduo se reconhece e se molda a partir do contato com o outro, podendo ocorrer na relação dentro de um mesmo grupo ou até mesmo em uma relação social mais ampla. (ST38) Kleber Antonio De Oliveira Amancio (Pós-doutorando) Biografia e(na) História da Arte: uma discussão teórica Essa comunicação visa a discussão teórica mais aprofundada de um assunto subaproveitado, embora latente, em minha tese de doutorado. Naquela oportunidade estava envolvido na tarefa de edificar a biografia (ou a trajetória) de Arthur Timotheo da Costa, o pintor, negro, carioca da virada do século XIX para o século XX, e, ao mesmo tempo, dar conta de analisar sua obra artística. Minha proposta foi, a partir dessa sui generis combinação, alcançar aspectos concernentes a maneira como esse sujeito subalterno expressou-se por meio de tintas, pincéis e engenho. Minha proposta acontece, destarte, ao refletir em que medida acompanhar a vida dessa personagem auxiliou-me no esclarecimento de sua obra; questões que por vezes ambíguas na sua maneira de proceder, encontraram novos rumos e permitiram-me avançar numa linha de interpretação mais segura, sem, porém, cair em determinismos simplificadores. (ST47) Lara Jogaib Nunes (Doutoranda) Pelas crônicas de jornais, o nascimento do Rio de Janeiro turístico Nos dias atuais, dizer que o Rio de Janeiro é uma cidade turística é uma verdade quase inquestionável. Elementos como suas belezas naturais e seu povo acolhedor atraem visitantes do Brasil e do mundo durante todo o ano. A proposta desse trabalho é, justamente, observar o início do processo que levou à construção da vocação turística da

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cidade nas primeiras décadas do século XX, quando ainda nem se falava, formalmente, de turismo no Brasil. Tal investigação será baseada nas crônicas escritas por João do Rio, na coluna “A Cidade”, do jornal Gazeta de Notícias, e por Lima Barreto, na revista Careta. A modernização do Rio de Janeiro ganhou impulso a partir do governo do presidente Rodrigues Alves, dando uma nova feição para a capital federal brasileira, que então se preparava para entrar na modernidade. Um espaço moderno estava sendo montado e, com ele, ressaltavam-se elementos importantes para o nascimento do turismo na cidade – atividade própria da era moderna. João do Rio era um entusiasta da modernização e utilizavas as páginas da Gazeta para elogiar o processo ou criticar sua lentidão. Na Careta, Lima Barreto, na esteira oposta, escrevia para ressaltar a exclusão das camadas populares das benesses da modernização que elas viam acontecer diante de seus olhos. A divulgação desses dois lados nos jornais foram, portanto, elementos importantes para a configuração da realidade moderna em construção no Rio de Janeiro, dentro da qual a atividade turística faz sentido. (ST34) Laura Candian Fraccaro (Doutoranda) Pequenos cultivos em meio ao açúcar: produção, lei e arranjos sociais. Campinas, século XVIII-XIX. A expulsão de pequenos agricultores na fronteira mercantil por grandes senhores escravistas, orientados para a exportação, é um tema clássico na historiografia brasileira. Mesmo assim, há poucos estudos de história social que procurem abordar a questão, e pouquíssimos que tentem enfocar a análise nas perspectivas e estratégias dos pequenos produtores. O presente trabalho tem como objetivo fazer isso, num estudo de caso centrado em Campinas, SP, na virada do século XVIII para o XIX. Utilizam-se na pesquisa os métodos da micro-história e a ligação nominativa de fontes, que permitem reconstruir as biografias de indivíduos e grupos de parentesco, para intuir suas estratégias econômicas e sociais. A região de Campinas, chamada de Vila de São Carlos entre 1797 e 1842, passou por um crescimento muito rápido e intenso a partir das últimas décadas do século XVIII. A população livre, entre o período de 1789 e 1801, passou por um intenso crescimento. Esse constante crescimento demográfico de Campinas sofreu uma alteração brusca no período entre 1814-1829. A população nesse período se manteve praticamente estagnada, revelando um cenário muito diferente do crescimento apresentado anos antes. A rápida expansão da produção de açúcar, concentrada em propriedades escravistas dedicadas a esse cultivo, indica que tais empresas agrícolas invadiram as terras de muitas famílias, ocasionando um amplo êxodo. O presente trabalho tem como objetivo analisar como se deram as relações entre os pequenos produtores livres, especialmente aqueles de cor, e a produção de açúcar que se expandia, buscando as estratégias traçadas por esses agricultores frente ao avanço dos engenhos e à perspectiva de terem suas terras “expropriadas” pelos senhores desses empreendimentos. São questionados os sentidos da pequena produção e de suas possibilidades de sobreviver e crescer em uma sociedade estruturada cada vez mais por uma economia de plantation. É utilizado o método de ligação nominativa de fontes, cuja proposta é seguir, ao longo dos anos e em todo tipo de documentação, os produtores de alimentos descritos como pardos nos recenseamentos para que se possam analisar as estratégias traçadas em momentos diferentes da expansão da produção de açúcar e as possibilidades de ascensão. Essa comunicação tem como objetivo também escrutinar as leis e as ferramentas legais que permitiam ou restrigiam o acesso à terra. (ST40)

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Léa Mattosinho Aymoré (Mestranda) O Pasquim no contexto de formação da indústria cultural no Brasil O Pasquim, periódico semanal de enorme sucesso desde seu lançamento em junho de 1969, apenas seis meses após o estabelecimento do AI-5, foi de extrema importância para toda uma geração. Pois com seu humor inteligente promovia uma reflexão crítica sobre a realidade brasileira, além de ser porta voz de uma série de mudanças comportamentais pelas quais passava a nossa sociedade entre os anos de 1960 e 1970. Sobreviveu à censura prévia com o apoio da maior parte da intelectualidade carioca, a chamada “esquerda festiva”, responsável também por sua criação e se manteve independente por mais de uma década até perecer economicamente na primeira metade dos anos 1980. Um dado importante é que O Pasquim surge num momento em que ocorre o processo de consolidação da indústria cultural no Brasil. Pois, se por um lado o semanário constantemente sofria com a censura previa instituída pelo regime militar, por outro lado, ele teve uma vida longa, se comparado a outros jornais alternativos, por ser um sucesso de vendas, e contar ao longo de sua historia com anunciantes de peso. A longevidade do Pasquim pode ser analisada partindo dessa dicotomia, o semanário era um importante instrumento contra-cultural nos anos de 1970, mas ao mesmo tempo um produto altamente lucrativo, e neste aspecto, estava plenamente inserido nos ditames de uma indústria, que como qualquer outra o que mandava eram os dividendos, independentemente das posições político-ideológicas do veiculo. (ST34)

Leandro Antonio Guirro (Doutorando) Dois mundos em um só: portugueses e africanos em Moçambique colonial (1929) A colonização da África por europeus é assunto que demanda pesquisas e discussões aprofundadas, tamanha a complexidade intrínseca ao tema. Partindo desta premissa, o presente trabalho aborda um estudo de caso sobre a sociedade moçambicana com intuito de inferir a dinâmica das relações socioculturais estabelecidas entre portugueses e nascidos em solo africano. Para tal, vale-se dos Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colônia de Moçambique, produzidos em 1929 por colonos lusitanos. Observa-se que as linhas que tentaram separar o que foi considerado civilizado e primitivo ou tradicional e moderno confabularam polarizações interessantes para a para a ritualização da submissão e manutenção do poder no contexto colonial. (ST02) Leandro Maia Marques (Mestrando) Os trabalhadores das empresas mecânicas de Ribeirão Preto, de 1870 a 1930: breve análise econômica, política e social Nesse trabalho, reconstituiremos parte da experiência dos operários das pequenas indústrias, em uma realidade econômica específica, do município de Ribeirão Preto/SP, de 1870 a 1930 , a partir de suas ações e reflexões conforme suas condições de existência diária e cotidiana. Usaremos a metodologia de análise bibliográfica de obras que abordam especificamente os operários ribeirão-pretanos - as obras de Geraldo, Rosa, Borges, Tuon, Bemporad & Figlio e Silva. E análise dos documentos, Estatística Industrial do Estado de São Paulo de 1928 a 1930, dos quais levantamos dados de apenas 47 empresas num total de 551, sobre os operários, devido ao acesso limitado aos documentos, à destruição de boa parte deles, e à sua não existência, devido à predominante informalização e não documentação das relações de trabalho em Ribeirão Preto até 1930. Elegemos três âmbitos inter-dependentes e principais de análise: primeiro: na produção econômica, com duas distintas categorias de operários - operários regulares e de operários ocasionais, as condições degradantes e insalubres de seu cotidiano de trabalho - o trabalho infantil de criança abaixo de 12 anos, horas extras não pagas, salários atrasados, acidentes de trabalho, jornada acima de 12 horas diárias, esforço muscular exagerado pois haviam ferramentas rústicas e poucas máquinas, como

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fatores para a eclosão de lutas e resistências dos operários visando garantir melhores condições de trabalho e de vida, patente no segundo âmbito: sua organização política nas Ligas Operárias, na União Geral dos Trabalhadores (UGT) e a organização de um núcleo local do PCB em Ribeirão Preto, desde 1922, e suas lutas, resistências, greves, protestos, criação de jornais operários e os consensos e acomodações dos operários para garantir melhores condições de trabalho e de vida, através da postura individualista e/ou coletivas na relação do operário individual com a classe operária, as relações ora conflitiva ora submissa dos operários com os patrões; e, terceiro: fatores sociais formadores desse movimento operário: suas principais origens étnicas: negros, italianos, espanhóis , portugueses e brasileiros , sua moradia em casas em bairros pobres e em algumas vilas operárias, suas práticas ociosas e de lazer , gozadas em seu tempo livre do trabalho como praticar e assistir jogos de futebol e assistir filmes nas salas de cinema de bairro, de ingressos mais baratos. (ST40) Leandro Ribeiro Gomes (Doutorando) O imaginário político no mundo operário: as esquerdas do Brasil e a imprensa militante (1922-1935). Este trabalho visa apresentar os resultados preliminares de uma pesquisa que objetiva trabalhar com a imprensa operária no Brasil em suas várias vertentes ideológicas, para um maior entendimento de suas disputas políticas internas. Para tanto, conceitos como o de imaginário e cultura política, e de práticas e representações, são fundamentais na compreensão das identidades políticas dos grupos que estavam envolvidos nesta produção jornalística. O foco no período compreendido (1922-1935) visa destacar um momento em que o movimento operário brasileiro estava sofrendo profundos embates políticos e ideológicos, pois, no plano mundial, a revolução na Rússia em 1917 e, no plano nacional, a fundação do PCB em 1922 obrigaram os anarquistas e sindicalistas revolucionários – correntes antes majoritárias e mais antigas nas lutas sociais e trabalhistas no Brasil – a repensarem muitas de suas formulações teóricas diante das tentativas de se colocarem em prática as teorias marxistas. Portanto, defendemos a tese de que tal fato criou uma diversidade de perspectivas e de novas ideias no pensamento político que era produzido e que até desafiavam as moldagens das tradições das correntes políticas que estavam envolvidas. (ST40) Leopoldo Fernandes Da Silva (Doutorando) O comércio de alimentos na cidade de São Paulo, na virada do século XIX para o XX Este artigo possui o objetivo de analisar as mudanças no abastecimento de gêneros alimentícios na cidade de São Paulo, na virada do século XIX e nas duas primeiras décadas do XX, no bojo das transformações econômicas, urbanas e sociais verificadas na cidade. No período, a inversão de capitais oriundos da produção de café – para as atividades urbanas de transporte, comércio e indústria, bem como na própria formação do mercado de trabalho assalariado – encontrou na cidade o local ideal para sua reprodução. A passagem da cidade colonial para a cidade industrial, em meio aos investimentos do capital cafeeiro, provocou, junto à expansão urbana, a formação dos bairros populares onde as famílias operárias compartilhavam pequenos cômodos nos cortiços e pensões, em ruas sem calçamento ou pavimentação, esburacadas, sem rede de esgoto. A centralidade de São Paulo na execução do complexo cafeeiro se revelava também por ser o local de comércio de produtos manufaturados importados da Europa e EUA, de máquinas agrícolas, ferragens, louças, tecidos, alimentos enlatados e bebidas refinadas. Neste contexto, o aumento na demanda por gêneros alimentícios, concomitante a diversificação nos hábitos alimentares da população, com mudanças significativas na sua

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composição social e demográfica, implicaram na reorganização da estrutura de abastecimento urbano, assim como em sua distribuição espacial pela cidade. Conforme desenvolveremos ao longo do artigo proposto, na cidade colonial, o comércio de alimentos era realizado nos mercados das ruas das Casinhas e da Quitanda, no interior do triângulo, e pelas ruas da cidade, de forma itinerante, pelas famosas negras de tabuleiro, com suas quitandas, doces e petiscos. Na cidade industrial, surgem outros equipamentos urbanos, como os Mercados Públicos, situados nos arredores do triângulo, constituindo uma nova centralidade no abastecimento de gêneros alimentícios. Os atacadistas de secos e molhados que, ao negociarem mercadorias com práticas de crédito, como a venda em comissão e a compra em consignação, ampliavam o estoque de produtos que incluía manufaturados importados ou nacionais, e também produtos agrícolas como os cereais. Esses novos estoques de produtos compunham o sortimento dos armazéns de secos e molhados, os quais, por sua vez, constituíam a principal fonte de abastecimento de alimentos nos bairros populares. Paralelamente, o comércio de alimentos nesses bairros era complementado pela presença ostensiva de vendedores ambulantes. A pesquisa a ser apresentada baseou-se em pesquisa bibliográfica, nos relatos dos memorialistas, nos inventários de famílias de comerciantes de secos e molhados, em notas fiscais e propagandas dos atacadistas, nos jornais da época. (ST22) Letícia Gonçalves Alfeu de Almeida (Doutorando) Jean Gerson e a teologia mística no século XV No início do século XV, Jean Gerson, então reitor da Universidade de Paris, começou a explorar o tema da contemplação e da teologia mística em alguns de seus textos dirigidos aos laicos em língua vernácula e também em suas aulas proferidas na própria universidade, reunidas posteriormente no tratado De mystica theologia, uma exegese do texto homônimo de Dionísio Areopagita, fonte fundamental para os teólogos medievais a respeito do conhecimento místico de Deus. Deste modo, este trabalho interroga como Jean Gerson, naquele início do século XV, releu as autoridades sobre a teologia mística, não apenas Dionísio, mas especialmente seus exegetas do século XIII, tais como Boaventura e Hugo de São Victor, com uma postura de reforma, que tinha como alvos específicos, ao mesmo tempo, a condução pedagógica da devoção da laica, de um lado, e a crítica aos teólogos da universidade de Paris, de outro. Pretende-se examinar, portanto, como essa releitura de um conhecimento teórico sobre a união mística entre o cristão e Deus foi importante para Gerson naquele momento, tanto em seu diagnóstico sobre os problemas da Cristandade, como em sua concepção de soluções para os impasses que, segundo o teólogo, estavam relacionados ao Cisma e à perda do sentimento religioso por parte, sobretudo, dos clérigos. (ST38) Lidia Maria Vianna Possas (Livre docência/UNESP-Marília) Oralidades e emotividade: “genderizar” a fuga de mulheres do presídio de Buen Pastor Pretendo nesse texto evidenciar que há uma distinção entre a escrita e o oral quanto a captação do imaginário, do relato de um acontecimento de curta duração. Como escrevente a narrativa transforma-se na busca de um tom racional, consequente, quase linear com preocupações próximas das clássicas autobiografias. E o aspecto do fantástico, carregado em seu apelo emotivo, subjetivo e surpreendente é diluído pelo senso de compromisso de uma construção com legitimidade e autoria. A experiência com a oralidade em uma pesquisa sobre situações de viuvez durante a ditadura militar no Cone Sul, colocou-me diante de memórias orais de mulheres, presas políticas. Nesse caso reporto-me, com um corte temporal, a uma fuga bombástica de mulheres do presídio de Buen Pastor, na cidade de Cordoba, Argentina em 24 de maio de 1975. A autoapresentação e a(s) identidade (s)feminina(s), distinta da masculina são modos de

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lembrar e de comunicar as lembranças. As narrativas diferenciam-se conforme o gênero, sem querer exaltar uma visão essencialista. A oralidade das mulheres reservam espaço para a memória coletiva de caráter discursivo ao mesmo tempo, que recorrem ao privado e ao íntimo, ao particular. (ST25) Lilian Henrique De Azevedo (Pós-doutoranda) É Brincadeira, É Tradição: Gênero e Violência nas Universidades. Com o ingresso em uma universidade pública brasileira inicia-se o processo de superação de desafios que transcendem os currículos organizados oficialmente e conteúdos cobrados ao longo da vida acadêmica. Boa parte do corpo discente da UNESP provém de cidades diferentes dos campi onde iniciam sua trajetória acadêmica e igualmente diversas são suas origens culturais, sociais e ideológicas. Porém, o que para muitas/os pode parecer um convite ao cosmopolitismo não raro perde a aura libertadora colocando em segundo plano o horizonte de superação de dificuldades com matérias e ritmo de leituras e estudos. O que dizer das violências e dos preconceitos de gênero, dos trotes que apelam às provas e aos desafios com conotação sexual, machista e sexista justificados como tradições simulando “rituais de passagem” a servirem de passaporte a um status superior? Diversas matérias jornalísticas, postagens em redes sociais virtuais e pesquisas utilizadas nesta investigação parecem demonstrar que os altos níveis de preconceitos e violências de gênero nas escolas e universidades não têm encontrado resistências capazes de minimizá-los. Junto a isso se tem os recentes debates sobre os planos estaduais e municipais de educação, muitos deles questionando e até negando a legitimidade de se discutir sobre questões de gênero nas escolas. Nas Universidades, a pertinência das ações dos grupos de discentes que empreendem, ano após ano, trotes, humilhações, coerções e as mais diversas intimidações que geram violências físicas e psicológicas são justificadas por tradições que não são questionadas de modo a refutá-las e extingui-las. A partir de algumas matérias jornalísticas e de estudos sobre práticas trotistas e demais tipos de violências de gênero em universidades no Brasil nesta oportunidade estão sendo discutidas como se apresentam e se justificam tais práticas como tradições. Essa via permite a compreensão do que está sendo tomado como “tradicional” nas rotinas abusivas que humilham, provocam dor e sofrimento psicológico, legitimam práticas machistas, homofóbicas, sexistas apesar das campanhas e do apelo de variados segmentos a demonstrarem repúdio àquelas práticas. Espera-se com essas reflexões contribuir para a ampliação do debate sobre o sentido que um conjunto de tradições inventadas pode ter entre grupos que disputam por poder e representatividade nas Universidades. (ST25) Lilian Marta Grisolio (Doutora/UFG) A função social da Educação, o papel do Estado e da sociedade civil: o caso do ensino de História no Brasil Esta comunicação se insere na proposta de uma reconstrução do diálogo entre duas importantes áreas do saber, a História da Educação e o Ensino de História. Busca-se assim, entre outros aspectos, a elaboração e reelaboração de novas teorias e questões sobre a Educação e a História, problematizando a função social da educação, o papel do Estado e da sociedade civil. Considerando tal como Dermeval Saviani, a educação como o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida histórica e coletivamente, aquilo que a humanidade produziu é referência para desenvolver uma educação que de fato leve a humanização e desenvolvimento pleno da sociedade. Dessa forma, este trabalho se insere na perspectiva de que se os professores de História querem de fato compreender o significado de sua atuação e função social que cumpre a disciplina é preciso reconhecê-la dentro do contexto histórico em que foi produzida e suas consequências.

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É preciso considerar que não basta o professor de história dominar os conteúdos, mas ter clareza do papel do ensino daqueles conceitos e conteúdos na formação do educando. Assim, a articulação entre os campos da educação e o ensino de história são essenciais para compreender como os saberes são recriados e reelaborados no cotidiano escolar. Considera-se assim, essencial entender a educação em perspectiva histórica, o que favorece um ensino de história mais próximo da realidade de professores e alunos. Acredita-se assim, que este debate permita um enriquecimento e um refinamento do ofício do professor/pesquisador, com resultados longos, profundos e duradouros, não sem grandes desafios e dificuldades, mas que constituem o cotidiano da prática educativa. (ST05) Liliane Pereira Braga (Doutoranda) Cinemas afrodiaspóricos contemporâneos: modos de ser e viver em crítica a ethos coloniais norte-hemisféricos Utilizando cinemas contemporâneos afrodiaspóricos como fonte de pesquisa, propõe-se neste artigo analisar modos de ser e viver de afrodiásporas em práticas representacionais críticas a racismos culturais, xenofobias, intolerâncias em voga desde a supremacia do mundo eurocêntrico em aproximações teóricas com estudos pós e des-coloniais. Nesta análise, interações performáticas, memórias do corpo, gestos e cantorias são entendidos como transgressão ao individualismo e a competições personalistas próprios do Ocidente e a estratégias de racialização e colonialidade presentes em eurocentrismos logocentristas. Cinemas afro-brasileiros, haitianos e cubanos conformam uma contranarrativa a padrão presente em narrativas cinematográficas realizadas em perspectivas euro-ocidentais ao apresentarem a unidade cósmica própria de modos de ser e viver de povos de África e da diáspora africana detentores de saberes outros, que constituem insurgências a ethos norte-hemisféricos pautados em perspectiva racional-iluminista da qual é proveniente epistemologia excludente, racista, colonial e concepção de história universal, racional, linear, progressiva, como expõe Maria Antonieta Antonacci no artigo “Descolonizando histórias de África, culturas africanas e da diáspora” (MULLER, T.; COELHO, W. & FERREIRA, P. (orgs.). Relações étnico-raciais, formação de professores e currículo. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2015). Cosmogonias da África subsaariana ressignificadas em práticas culturais afrodiaspóricas – do campo da espiritualidade (candomblés, vodus, santerías...) e do campo das artes cênico-musicais (samba, konpa, rumba) – contrapõem-se a episteme e visão histórica coloniais a partir de temporalidades espirais e concepção de sujeitos coletivos (“ubuntu” ou “sou porque somos” em universo cultural-linguístico zulu-bantu). Reunindo tradições orais africanas veiculadas em provérbios, aforismos, mitos e cantos; rituais, ritmos, danças e festas; imagens, metáforas e arquitetura gestual de corpos negros em diáspora, tais cinemas constituem-se em ricos arquivos para o fazer historiográfico e o fazer pedagógico, tão importantes quanto produções bibliográficas à pesquisa e ao ensino de História e Cultura Africana, Afro-Brasileira e Afro-Diaspórica. (ST02) Linive De Albuquerque Correa (Mestranda) “Diário vespertino de maior circulação em Mato Grosso”: Correio do Estado – de Jornal a Conglomerado Midiático (1954-1980) A presente comunicação constitui-se a partir dos primeiros resultados de minha pesquisa para a escrita da dissertação, onde, com o objetivo de promover uma análise histórica do Grupo Correio do Estado, propõe-se o estudo crítico de sua formação e primeiros desenvolvimentos, bem como das principais relações dele com os campos político e econômico. Intenciona-se com esta proposta de pesquisa dotar de historicidade a

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trajetória inicial do Grupo, gestado em torno de um jornal, e posteriormente consolidado como a maior empresa de comunicação do Estado do Mato Grosso do Sul. O conglomerado teve seu início em 1954, na cidade de Campo Grande, quando José Barbosa Rodrigues comprou o jornal Correio do Estado, nas décadas seguintes passou a integrar diferentes veículos midiáticos, além de empresas de publicidade e produtora de vídeos. Seus primeiros desdobramentos e a conquista por concessão televisiva, obtida em meados da década de 1970, representam para os negócios do Grupo um marco rumo à sua consolidação no mercado midiático sul-mato-grossense através do domínio de grande parte da mídia e dos canais de comunicação do estado. Elencamos ainda como objetivos a compreensão histórica da montagem da estrutura do Grupo e das principais dinâmicas empreendidas por este no campo midiático regional, sobretudo em termos de concorrência com demais empresas de jornalismo e comunicação social e de suas relações com agentes, individuais ou coletivos, atuantes no campo político e econômico, de influência regional e nacional. (ST34) Luana Saturnino Tvardovskas (Doutora/UNICAMP) Insubordinações feministas nas práticas artísticas de Adriana Varejão Essa comunicação tem por objetivo abordar a poética visual da artista contemporânea brasileira Adriana Varejão, que nasceu no Rio de Janeiro em 1964, analisando como suas obras de arte desconstroem imagens e representações tradicionais acerca da história brasileira, sobretudo por meio de críticas culturais às práticas misóginas, à violência da escravidão e ao colonialismo. Observo as relações entre os estudos feministas, a arte e a história, discutindo como esses desdobramentos são repletos de significados políticos e éticos. Tendo em vista que as mulheres foram criadoras silenciadas pelas correntes históricas dominantes, essa discussão também responde à emergência de um campo feminista da história da arte que confronta a posição de subalternidade do feminino dentro da cultura ocidental. Por fim, trata-se de pensar, norteados pelos estudos feministas e pelo “pensamento da diferença”, sobretudo pelas reflexões de Michel Foucault, Gilles Deleuze e pelos estudos pós-coloniais, em novos olhares sobre o passado do Brasil que desfaçam e desmontem o imaginário patriarcal sobre os corpos femininos – esfera na qual as práticas artísticas atuam de modo surpreendente e revelador. (ST45) Lucas Alves De Camargo (Mestrando) A luta pelos direitos humanos na cidade de Osasco (1977 a 1983) – A Atuação das comunidades na construção do Centro de Defesa de Direitos Humanos de Osasco (CDDHO). Nossa pesquisa, em andamento, tem o objetivo de reconstruir o processo de formação e a atuação do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco (CDDHO) a partir da experiência das comunidades de base organizadas em paróquias da cidade. Buscamos compreender a luta pelos direitos humanos através da elucidação das formas de organização construídas por sujeitos coletivos que se formaram em Osasco durante os anos de 1977-1983. Entendemos que sujeitos vinculados às comunidades eclesiais de base e aos movimentos de trabalhadores organizados nos bairros, compuseram uma rede de atuação pelos direitos humanos que possibilitou a formação do Centro de Defesa dos Direitos Humanos e a sua estruturação em diversas comunidades da cidade. Assim, buscamos compreender este processo de atuação que acreditamos ter existido a partir de uma intensa rede de colaboração que partia das comunidades de base e alcançava movimentos coletivos organizados no interior da igreja católica. Estes sujeitos coletivos construíram práticas, atuações e reivindicações contrárias às instituições do Estado ditatorial. Consolidaram reivindicações sobre o poder público que partiam de suas necessidades relacionadas em sua experiência partilhada. Percebemos que no período analisado a cidade de Osasco se constituía enquanto palco de luta popular pelo acesso

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aos direitos, quando diversos coletivos se formavam para reivindicar o direito a moradia, saúde e educação. Estavam organizados a partir de comissões de moradores, de comunidades eclesiais de base e coletivos de trabalhadores motivados por aspectos de sua experiencia em comum. Lutavam pela instalação de estruturas públicas, pela moradia e contra a violência cotidiana e policial. Questionavam o papel do Estado, promoviam aulas públicas, faziam abaixo-assinados, pequenas passeatas, se dirigiam até a prefeitura, entravam com procedimentos jurídicos nas secretarias de gestão da cidade, recorriam a advogados para apoio jurídico, buscavam divulgar e compartilhar as suas práticas ações. Construíam sobre a cidade suas estratégias coletivas de luta pelos direitos. A documentação que analisamos evidencia intensa relação desses diversos grupos, que se comunicavam através de uma atuação interligada dos sujeitos. A partir de 1977 as comunidades atuantes ajudam a construir um movimento popular pelos direitos humanos que se consolida a partir da atuação do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco, entidade que unia projetos pastorais, movimentos trabalhistas e a atuação comunitária. A partir desta entidade os coletivos de bairro se projetaram na luta por seus direitos. Objetivamos compreender este processo e seus desdobramentos na luta popular pelos direitos humanos construída nos anos finais da ditadura civil-militar na cidade de Osasco. (ST40) Lucas Jurado Taoni (Mestrando) História e música: possibilidades de tratamento. Já é sabido e bem aceito, pelo menos desde a contribuição dos Annales (1929), que os interessados em reconstruir e às vezes analisar o passado se empenham numa espécie fazer híbrido. Regularmente, historiadores tomam de empréstimo conceitos de outrem, no limite usufruem do seu repertório conceitual e de objetos, articulação tão habitual que não leva à descaracterização do olhar historiográfico. Esta especificidade de fazer totalmente plural não poderá ser encontrada em outras disciplinas, justamente porque decorreu de uma trajetória historiográfica particular, na verdade, da conjunção dos fatores históricos entre o papel que ocupou no desenvolvimento das sociedades e o seu desdobramento científico posterior. Ao passo que a sensibilidade dos historiadores foi alterada, devido à imprescindibilidade de reorientação do olhar e de expansão teórico-metodológica, sobreveio a necessidade de equipá-la com contornos epistemológicos mais específicos. Desta feita, convencionou-se escalar toda sorte de objetos até então obscurecidos numa taxonomia maior de ¨História Cultural¨, que não é monolítica, porque multifacetada e refratária, ou tampouco imune às crises da ciência e recessões da sociedade, mas que conservou durante seu itinerário um núcleo de interesse vinculado à construção dos significados, às representações, às formas tanto materiais como imateriais do desenvolvimento humano e ao papel social das artes. Neste sentido, é sintomática a incorporação da cultura popular nas suas mais variadas expressões pelos historiadores, pois, dela perscrutaram um elemento primoroso: uma fonte da consciência popular – pouquíssimo vasculhada senão após a década de 1960. Neste caso, a música é a expressão sui generis, afinal, não existe uma única sociedade que não produza música e durante muito tempo acadêmicos hesitaram em inseri-la como objeto ou fonte de estudo, ou por desconhecer ferramentas metodológicas que pudessem dar conta do código musical, ou porque seu poder de significação e comunicação socialmente conferido foi subestimado. Como o historiador pode abordá-la? De todos os ângulos possíveis, quais escolher? Sob quais dados sonoros estão os significados primordiais da música? Qual o papel da música na coletivização do ser humano? Como se dá o processo de comunicação musical? Eis algumas questões que buscaremos se não responder, mas sugerir algumas possibilidades, no desenvolvimento do artigo. (ST34)

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Lucas Mateus Vieira De Godoy Stringuetti (Mestrando) O Brigadeiro Eduardo Gomes: Uma análise de suas obras biográficas Este texto tem por objetivo realizar uma análise comparativa das obras biográficas que foram escritas ao longo do tempo sobre o Brigadeiro Eduardo Gomes. Assim, serão analisadas as seguintes biografias: "Brigadeiro Eduardo Gomes" (1945), de Gastão Pereira da Silva, "O Brigadeiro da Libertação" (1946), segunda edição do livro, de Paulo Pinheiro Chagas e "O Brigadeiro. Eduardo Gomes, trajetória de um herói" (2011), escrito por Cosme Degenar Drumond. Deste modo, a ideia é discutir como o perfil político do Brigadeiro Eduardo Gomes foi retratado pelos autores em suas obras, na eleição em que o Brigadeiro foi candidato a Presidência da República pela UDN em 1945, e ao mesmo tempo, averiguar além de proximidades e diferenças , como essas obras apresentam suas abordagens do ponto de vista documental e histórico. (ST47) Lucas Patschiki (Doutorando) Organizar-se contra o povo: A criação do Instituto Millenium (2005-2007). Neste artigo iremos analisar a fundação do Instituto Millenium (daqui para diante IMIL) por Patrícia Carlos de Andrade e Denis Rosenfield em 2005, quando ainda era chamado de Instituto da Realidade Nacional (troca de nome no ano seguinte). Assim, primeiro avaliaremos os atores envolvidos, seus vínculos políticos e sociais, suas experiências e interesses que convergiram para a participação ativa no IMIL. Segundo, iremos verificar a organização inicial, como estes atores constituírem uma hierarquia organizativa para o IMIL e como estes relacionam-se na sociedade civil e política. Por fim, iremos avaliar a identidade ideológica conformada pelo IMIL neste primeiro momento, ou seja, os pontos mais básicos na conformação de um discurso e de uma agenda política. O IMIL hoje é avaliado como o 33º maior “think tank” da América Latina (Global To Go Think Tanks Index Report 2014 – University of Pennsylvania), constando como número 10.890 entre todos os sites brasileiros, e número 354.306 em comparação global (ALEXA, 13.09.12). Atua como um aparelho privado de hegemonia por excelência (GRAMSCI, 1999, p. 321), dado que não está diretamente ligado às relações de produção, distribuição e venda (não cumpre as responsabilidades de sindicato patronal, federação de industriais, associação comercial, etc.), agindo como um partido não formal, uma “nomenclatura de classe” para a expansão do grupo social do qual se origina (GRAMSCI, 2002, p. 313). Seu “Histórico” afirma que foi lançado “com a finalidade de promover valores e princípios de uma sociedade livre”, entendendo como prerrogativas para esta a “liberdade individual, propriedade privada, meritocracia, estado de direito, economia de mercado, democracia representativa, responsabilidade individual, eficiência e transparência” (IMIL, 2005). É responsável por organizar uma série de conferências e palestras, debates e colóquios públicos; um “canal” de televisão online (transmitindo programas por podcast); boletim eletrônico; um projeto para “sala de aula” e outro para “redações”; além de manter diversas campanhas (geralmente através de anúncios em revistas e jornais de grande circulação). Conta atualmente com uma equipe fixa de dez pessoas e mais de duzentos colaboradores. (ST06) Lucia Helena Oliveira Silva (Pós-doutora/UNESP) Biografias e prosopografia: onde começa e aonde acabam as histórias de militância Benedito de Evangelista 1909-2000 Esta comunicação de pesquisa objetiva realizar uma pequena reflexão sobre a dinâmica da vida social, política e cultural de um grupo de afrodescendentes e a disposição de uma pessoa quase anônima chamada Benedito Evangelista. Eles foram minha porta para recuperar parte das dinâmicas de sobrevivência e enfrentamento do racismo institucionalizado no interior do estado de São Paulo. Queria entender tais dinâmicas fora dos grandes de tradição afro-brasileira como Rio de Janeiro, Salvador, Maranhão. Sei

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que nestes lugares a presença majoritária apontou a força da tradição em atividades culturais como o samba, a religiosidade, a culinária, as festividades profanas e religiosas, bem como no mercado de trabalho como apontou Cruz (2000) na área portuária do Rio de Janeiro. Busquei ao me voltar para São Paulo, saber como foi a vida de afrodescendentes em lugares menores e/ou mais distantes dos grandes centros de tradição afro. Não que acreditasse que as tradições africanas e afro-brasileiras deixassem de existir em outros lugares, mas principalmente como seria estar, resistir e manter e recriar novas dinâmicas em lugares espacialmente mais delimitado diferentes das capitais. Benedito Evangelista e os irmãos/associados da irmandade e Liga Humanitária dos Homens e Cor situava-se em Campinas. Benedito nascido em Campinas e filho de ex-escravos, cresceu , estudou, trabalhou e militou pela cidadania de seu grupo. Participante ativo na luta contra o racismo Benedito Evangelista foi um lutador árduo em defesa da instrução e construção da cidadania de negros paulistas através de sua luta pelo Colégio São Benedito entidade particular criada para atender a educação dos filhos dos associados da irmandade de São Benedito. Entre os anos de sucesso e o término das atividades pode-se conhecer um pouco da luta do grupo de militantes para a sobrevivência de sua instituição que tinha importância impar para a comunidade negra da cidade. Entendo que estudar este processo histórico é em parte contribuir para a recuperação da memória dos grupos afrodescendentes mantida à revelia das narrativas da história oficial, portanto construções dinâmicas e permeadas de embates. Podemos afirmar que a história do grupo de militantes de Evangelista faz parte de uma perspectiva maior que envolve o século XX. Ou seja, sua vida se passou contemporaneamente a criação de entidades supranacionais em prol dos direitos políticos e civis no mundo todo, a criação de uma imprensa negra aqui e fora e a conjugação de esforços para a libertação dos povos africanos do processo de colonialismo e contra o “apartheid”. (ST47) Lúcia Iaciara Da Silva (Mestranda) Estudo de caso das condições de trabalho ao longo do tempo na agroindústria da cana-de-açúcar no pontal do Paranapanema: município de Caiabu-SP No Pontal do Paranapanema além dos intensos conflitos em torno da questão do uso e da posse da terra, também surge a questão do capital e do trabalho ligados ao setor sucroalcooleiro. Intensificam-se as relações de Latifundiários com a agroindústria canavieira. O setor sucroalcooleiro ganho forças advindas principalmente de políticas públicas setoriais, em especial da metade do século XX até os dias atuais. Nutrido com o discurso de fazer prosperar as regiões onde se instala, o setor acaba atraindo contingentes de trabalhadores com baixa escolaridade e pouca qualificação para o corte da cana ou para suas unidades fabris. O que se indaga neste trabalho são as condições de trabalho a que estes trabalhadores (migrantes ou não) se sujeitam, principalmente no Município de Caiabu-SP, que aqui será tratado. (ST40) Luciana Cavalcanti Mendes (Mestre) Diários fotográficos de bicicleta em Pernambuco: os irmãos Ulysses e Gilberto Freyre na documentação de cidades na década de 1920. Esta pesquisa de mestrado interdisciplinar centrada no segmento da fotografia de acervo de intelectual apresenta o estudo de caso de 84 imagens feitas pelo fotógrafo amador Ulysses Freyre de alguns prédios e ruas das cidades de Olinda e do Recife entre 1923 e 1925. Ulysses fotografou durante passeios de bicicleta aos domingos ao lado do irmão, o sociólogo Gilberto Freyre. Objetivou-se evidenciar este fotógrafo até então desconhecido em sua obra que transita entre o amador e o profissional, além de traçar os dois usos dados por Gilberto às fotos de Ulysses: de base aos desenhos do artista gráfico Manoel Bandeira para o “Livro do Nordeste”, organizado pelo sociólogo em 1925 para o centenário do jornal Diário de Pernambuco; e como parte da concepção de inventário de

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edificações da arquitetura civil que serviu à Inspetoria de Monumentos Estaduais em 1928 em Pernambuco. Vale-se do campo acerca do circuito fotográfico nestas cidades - que estavam sob reformas urbanas no início do século XX -, com o fim de situar e revelar a fotografia de Ulysses como artefato de memória propulsor do embrionário projeto político-intelectual de Gilberto neste período. Deu-se importância à geografia afetiva inerente à dinâmica de trabalho de Gilberto e Ulysses, fundamental na construção da obra embrionária de Gilberto. O amor à província, as relações familiares, o afeto a cada canto das cidades e principalmente a enorme influência de Ulysses na vida intelectual de Gilberto foram fundamentais para o início do que posteriormente viria a ser o sociólogo na categoria de pensador social do Brasil. As fotos de Ulysses foram divididas em: 37 de fachadas e ruas das cidades irmãs e 47 de detalhes de luneta de 'bandeiras', componente da arquitetura presentes em portas e janelas de casas à época. As fotografias estão no acervo da Fundação Gilberto Freyre, em Recife, Pernambuco e as imagens aqui apresentadas trazem ineditismo à pesquisa, pois este acervo específico de Ulysses até o momento não foi investigado em outros estudos. É a primeira vez que é revelado a público. (ST10) Luciana Silva Leal (Mestranda) Civilidade e instrução de meninas negras nos primeiros anos do Brasil Republicano (1889 - 1910) Este trabalho refere-se à pesquisa ainda em andamento, com vistas à obtenção do título de Mestre no Programa EHPS - Educação: História, Política, Sociedade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP e tem como objetivo analisar o processo de civilidade e instrução das meninas negras na Escola Doméstica Nossa Senhora do Amparo, que funciona ininterruptamente até os dias atuais, atendendo exclusivamente meninas carentes. O recorte temporal da pesquisa tem início nos primeiros anos do Brasil Republicano, período em que se discutia a necessidade de civilizar e instruir a população negra para que esta ocupasse um "lugar" na sociedade republicana. (ST05) Luis De Castro Campos Junior (Doutor/UNESP) Relações entre História e Cinema: possibilidades e limitações Com o desenvolvimento da globalização no final do século XX novas formas de comunicação encontraram o campo aberto para sua proliferação. O cinema como fruto da segunda Revolução Industrial no século XIX apresentou um desenvolvimento notável em função das novas tecnologias implementadas no tratamento da imagem. Neste trabalho a preocupação seria discutir a relação entre história e cinema apontando possibilidades e interações quanto ao tipo de mensagem veiculada e os valores que estão implícitos além da visão de sociedade que muitos diretores querem empreender quando tornam públicos seus trabalhos. (ST34) Luiz Carlos Checchia (Mestrando) Chão De Fábrica, Chão De Cena A experiência do Grupo Osasquense de Teatro Amador O artigo "CHÃO DE FÁBRICA, CHÃO DE CENA, A experiência do Grupo Osasquense de Teatro Amador", aborda a experiência do Grupo Amador de Teatro de Osasco (GOTA), formado por operários e operárias da COBRASMA, compreendendo-a como parte da formação da consciência operária naquele momento e naquela cidade. Destaca-se, ainda, a forma como a organização política do operariado se estende das comissões de fábrica para a atividade teatral, formando um único construto social. Para isso, o artigo ampara-se em aporte teórico que tem no pensamento de Edward Thompson e Raymond Williams suas principais referências. (ST40) Luiz Fernando Dos Reis Sossio (Mestrando)

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A imprensa na contramão, Mayoria: uma publicação de exilados uruguaios na Suécia durante o regime cívico-militar no Uruguai, 1982 – 1984. O presente trabalho tem como objetivo principal analisar como fonte e objeto de pesquisa o periódico publicado na Suécia entre 1982 e 1984, Mayoria, produzido por exilados uruguaios durante o período da ditadura cívico-militar (1973-1985), imposta no Uruguai. A publicação foi editada por membros do Partido Comunista Uruguaio durante seu tempo de atuação no exílio. Busca-se entender no processo de pesquisa as motivações da produção deste periódico de oposição durante o período que o editor Rodolfo Porley e os principais colaboradores estiveram no exílio. Trabalharemos com as práticas culturais de produção e as representações que os exilados passam para seus leitores, analisando os editoriais e as notícias internas com destaque para as seções de política nacional, internacional e cultural. Busca-se entender o período das ditaduras militares na América Latina, em especial no Cone Sul e nossa hipótese é que o periódico Mayoria nos revelará uma face das atividades políticas dos exilados uruguaios em especial dos comunistas nesse momento final da ditadura. (ST32) Luiz Guilherme Sanita (Mestrado) A batida diferente do baterista Wilson das Neves Wilson das Neves é baterista, compositor e cantor brasileiro, nascido em 14 de junho de 1936, no bairro da Glória, na cidade do Rio de Janeiro. Sua trajetória musical remonta os tempos de criança em que já participava dos cultos e rituais do candomblé. Seus familiares, alguns migrantes da Bahia, traziam consigo seus costumes culturais e religiosos como parte integrante das festas que promoviam em suas casas. Nesses encontros, as rodas de samba para o canto dos orixás, os cantos do partido-alto, conjuntos de choro e até as jazz bands compunham o repertório musical eclético dessas festas. Todo esse ambiente musical ao qual estava inserido foi decisivo na formação do baterista. Mais tarde, decidido a estudar o instrumento, tomou aulas com Edgar Nunes Roca. Despontou no cenário profissional da música a partir da década de 1950, trabalhando com orquestras e conjuntos em shows e gravações. No ano de 1958, passou a integrar o Conjunto Ubirajara Silva e, no ano seguinte, fez a sua estreia em estúdio gravando pela Copacabana Discos. Já integrado ao mercado musical, o baterista passou a dividir seu tempo entre rádio, gravações e shows. Nos anos 60, trabalhou na TV Excelsior, TV Tupi, TV Rio, TV Continental. Foi contratado da Rádio Nacional e integrou a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal (após ser aprovado em concurso), onde tocou em óperas, balés e concertos sinfônicos. Participou de vários conjuntos, entre eles o do Steve Bernard em 1963 e da Orquestra de Astor Silva em 1964. Neste mesmo ano fundou, junto com o trombonista Astor Silva, o grupo “Os Ipanemas”, registrando o único álbum Os Ipanemas (1964). Wilson das Neves gravou e acompanhou nomes como Elizeth Cardoso, Elis Regina, Elza Soares, Egberto Gismonti, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Eumir Deodato, Moacir Santos, Sara Vaughan, entre outros. Em meados da década de 60 e ao longo dos anos de 1970, além de gravar importantes discos de intérprete para cantores(as), compositores e ou arranjadores. Dentre eles, podemos citar: Impulso (1964), de Eumir Deodato e os Catedráticos;Coisas (1965), de Moacir Santos; Elza Soares baterista: Wilson das Neves (1968); sua participação junto aos tropicalistas nos últimos discos registrados antes de deixarem o país: Caetano Veloso 1969 e Gilberto Gil 1969; e Canto das três raças e Claridade ambos de 1975, da cantora Clara Nunes. Além disso, o baterista registrou quatro importantes trabalhos como líder no período em questão: Juventude 2000 (1968); Som quente é o das Neves (1969); Samba-tropi (até morreu neves) (1970) e O som quente é o das Neves (1976). Sua história percorre importantes movimentos estéticos de nossa música e observar sua trajetória musical significa compreender sentidos e escolhas, dentro desse campo, que depuraram um estilo peculiar do músico. (ST26)

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Luzia Margareth Rago (Livre-docente/UNICAMP) Foucault, Neoliberalismo e Contracondutas Feministas Essa comunicação pretende discutir os desafios que se colocam aos feminismos em tempos de fortalecimento do neoliberalismo e de difusão da teoria do capital humano, que postula o indivíduo autônomo entendido como “empresário de si mesmo”. Tem por referência as instigantes reflexões e problematizações de Michel Foucault sobre a governamentalidade neoliberal, o direito e a ética, assim como os aportes da filosofia feminista que debatem esses temas. Entendendo que os feminismos defendem a autonomia das mulheres, como enfrentar a questão relativa à necessidade de políticas feministas da subjetividade no contexto das profundas transformações sociais, políticas e culturais, vividas no país? (ST45) Magda Fernandes Garcia Ventura (Mestre) Associação Cívica Feminina, em Santos: alfabetização e campanhas contra a carestia, pela integração da mulher na vida social e cultural da cidade (1933-1945) O objetivo desta comunicação é analisar as condições que propiciaram a fundação da Associação Cívica Feminina (ACF), na cidade de Santos, e sua colaboração para a elevação cultural de grande número de mulheres a partir da sua congênere da Capital - desde os anos iniciais da década de 1930 até seu desligamento, em 1945. A partir daí, iniciou vida própria, adotando o nome de Sociedade Cívica Feminina de Santos. A inauguração da ACF (1933), em Santos, contou com o apoio do Rotary Clube de Santos e, inicialmente, foi idealizada para atender as vítimas da Revolução Constitucionalista de 1932, colaborando, inclusive, com a Cruz Vermelha da cidade. Pretende-se mostrar como essa associação, organizada por um grupo de mulheres da elite santista, contribuiu para a alfabetização de estratos carentes da população feminina, visando uma maior integração social. Nesse contexto, foi fundamental a figura de Fileta Presgrave do Amaral, sobrinha de Vital Brazil, que batalhou para a manutenção da instituição e para o seu engrandecimento cultural. Evidencia-se, na trajetória de Fileta Presgrave, uma rede de parentesco e de relações pessoais, sociais e profissionais no desenvolvimento de ações filantrópicas da referida associação e, também, da Federação Internacional Feminina. A ACF surgiu num contexto de necessidade da educação, segundo os moldes da época, e de ampliação dos direitos femininos. A leitura do acervo documental e a utilização dos procedimentos historiográficos revelam a participação efetiva de mulheres da sociedade na obra educativa. Este estudo utilizou a metodologia histórico-documental e as fontes são provenientes do livro de Ofícios Expedidos encontrado no arquivo da Associação Feminina Santista, associação que mantinha diversas escolas na cidade; de impressos como os periódicos de A Tribuna além dos jornais digitalizados disponíveis na Hemeroteca Digital Brasileira (A Noite; Correio Paulistano; Gazeta de Notícias; O Estado de São Paulo; O Paiz; e outros), onde foram pesquisados, também, materiais iconográficos, discursos e comunicados. Entre os resultados, já alcançados, estão as escolas para crianças e adultos, os cursos profissionalizantes, as campanhas alfabetizadoras e as campanhas contra a carestia nos anos 1940, além do seu corpo administrativo e docente. Em Santos, na década de 1930, as realizações educacionais se intensificam principalmente através de iniciativas de instituições filantrópicas. Foram fundamentais para a compreensão geral deste estudo: June Hahner (1981); Susan K. Besse (1999); Maria Izilda S. de Matos (1997); Joan Scott (1992) e Jane Soares de Almeida (2011). (ST47)

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Mara Cristina Gonçalves Da Silva (Mestranda) O Ensino de História na Escola Técnica Getúlio Vargas: 1911 – 1954 A intenção da pesquisa é analisar o ensino de história na Escola Técnica Paulista Getúlio Vargas do Centro Paulo Souza. Terá como fonte o Centro de Memória da mesma instituição que está em processo de organização. Paralelamente a organização do acervo analisara sua documentação procurando identificar quais foram as interfaces do ensino de história com o ensino técnico profissionalizante, para a formação de trabalhadores técnicos durante o avanço da industrialização de São Paulo. Nossa hipótese é que o caráter fortemente ideológico da disciplina de história, em especial no ensino da Etec Getúlio Vargas, no período em estudo, têm atribuído significados variados, mas prevalecendo o de cunho nacionalista em conformação com as diretrizes e reformas curriculares realizadas pelo governo federal /estadual no período em estudo. (ST05) Marcela Boni Evangelista (Doutoranda) Aborto e responsabilização: mulheres, homens e decisão Quando se fala sobre aborto, importa reconhecer suas variações. Nesta explanação, falamos do aborto induzido, ou seja, aquele que perpassa a noção de decisão a respeito da continuidade ou não de gestações não planejadas ou desejadas. Além disso, consideramos que tal experiência envolve em sua quase totalidade como personagens centrais mulheres e homens que, em função de seu envolvimento, tiveram como resultado a gestação. Atualmente, vivemos momento em que tal temática perpassa espaços público e privados e movimenta opiniões que versam, sobretudo, acerca da questão dos direitos. Direitos estes que dizem respeito à vida, à morte, à interrupção de gestações, à autonomia das mulheres e, em menor medida, ao papel dos homens nestas situações. Nesta apresentação pretendo abordar o tema do aborto induzido a partir da noção de direitos e as possíveis significações que assume quando falamos de mulheres e homens como protagonistas desta experiência. Se em grande medida o debate se ampara no direito das mulheres à autonomia de seus corpos e, portanto, à decisão sobre o aborto, tenho a intenção de agregar à discussão aspecto não prosaico acerca da questão de gênero que a envolve. Qual seria o papel dos homens neste contexto? A luta pela autonomia das mulheres traria desdobramentos negativos como a desresponsabilização dos homens no processo? Afinal, ao direcionar a decisão sobre o aborto para as mulheres não estaríamos promovendo a manutenção de uma sociedade marcada por desigualdades de gênero? Isto posto, falamos da experiência masculina e sua minimizarão no processo, tendo em vista melhor compreender as consequências dos casos de aborto para os envolvidos. A reflexão parte de resultados parciais da pesquisa de doutorado "O aborto em questão: moral, subjetividades e direitos", realizada no âmbito do Programa de Pós-graduação em História Social da USP, que tem como suporte teórico e metodológico a história oral. (ST25) Marcelo Da Silva Murilo (Doutor/UFAC) Encontrando a História em espaços inusitados, de Dorothy Eady a Omm Sety: possibilidades inspiradoras. Neste trabalho discute-se a função do ensino de história no contexto de experiências, em que a noção de invenção, faz parte dos processos de aprendizagem. Tais processos são considerados preponderantes na redefinição do tipo de apropriação que se faz da história no âmbito da vida prática. As análises estão pautadas no exame das vivências de Dorothy Eady (também conhecida como Omm Sety), relatadas na obra A noviça e o faraó, de autoria de Hermínio C. Miranda. O encontro de Dorothy com o antigo Egito abre-nos

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um leque de indagações, acerca do lugar ocupado pela história na vida de cada um. (ST16) Marcelo De Souza Silva (Doutor/UFTM) A polícia no Triângulo Mineiro: análise da obra "Memórias do 4BPM de Uberaba" Este trabalho faz parte das atividades desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos do Sertão da Farinha Podre, que conta com a participação de docentes e discentes da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em Uberaba. Esta sendo desenvolvido, dentre outras atividades, o levantamento de fontes e debate historiográfico acerca da instalação das ações de policiamento na província, e depois estado, de Minas Gerais entre a segunda metade do século XIX e início do XX. Para tanto, fizemos, nesta primeira fase, a análise da obra intitulada "Memórias do 4o BPM de Uberaba", escrito pelo Coronel Hely Araújo da Silveira e editado em 1991 pelo Arquivo Público de Uberaba. Nesta obra, escrita no ímpeto da comemoração dos duzentos anos da morte de Tiradentes, patrono da polícia mineira, o autor dá ênfase ao fato de como a criação do Quarto Batalhão da Polícia Militar foi instrumento de manutenção da segurança da comunidade, que vinha sofrendo com a criminalidade crescente desde 1903, com a retirada do Segundo Corpo Militar de Polícia da cidade de Uberaba. O livro foi desenvolvido com o auxílio dos pesquisadores do Arquivo Público de Uberaba, que ajudaram especialmente no levantamento de histórias em notícias do Jornal "Lavoura e Comércio", que circulava na cidade desde 1899. Na apresentação é informado ao leitor que não se trata de uma obra de homenagem à polícia militar, entretanto, a estrutura é construída no sentido de dar ênfase às ações dos diversos comandantes que passaram pelo batalhão, as dificuldades que enfrentaram e as batalhas que ocorreram na luta contra a desordem e a criminalidade. O período abarcado vai desde a colônia até a década de 1980, podendo ser classificado mais como uma coleção de pequenas histórias que cercavam o trabalho da polícia naquela região durante este tempo. Sendo assim, esta obra nos fornece a possibilidade de reconhecer os marcos criados para a compreensão da história da polícia e qual o sentido que sua ação deveria ter naquela região, considerada terra de jagunços e de criminosos violentos que deveriam encontrar na ação policial o seu fim. A análise da obra foi acompanhada pelo levantamento das principais pesquisas realizadas sobre a polícia no estado mineiro, no sentido de complementar nossas possibilidades de interpretação do objeto. (ST18) Marcelo Elias Bernardes (Mestrando) Memória coletiva e contos de assombração: uma abordagem sobre a identidade e a tradição da cultura popular em Caldas, Minas Gerais. Esta pesquisa se ocupa de uma prática secular no município mineiro de Caldas, fundamentada em uma oralidade e que se debruça na contemporaneidade mesmo diante do intenso processo de racionalização, os contos de assombração. Nesse sentido, entendemos que eles não se configuram unicamente como um estrato da cultura popular brasileira, mas trazem consigo elementos que nos permite alocá-los dentro de uma religiosidade popular tradicional com traços de um catolicismo que historicamente se convergiu com cosmovisões nativas e africanas e ainda se encontra em constante recriação. O catolicismo popular possibilitou a confecção de um imaginário híbrido que se desdobra no cotidiano caldense através da crença na existência destes seres fantásticos, famosos por suas aparições e que se tornam contos mediante o processo de transmissão oral e circulação das ideias. Estas narrativas carregam discursos cosmológicos que são capazes de orientar e servir de referência para a população local no cotidiano como manifestações dos saberes coletivos. Ao partir da tradição oral e considerando que não existem relatos escritos, optamos por utilizar a metodologia da história oral, que

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permite-nos usar outras fontes e assim valorizar o discurso destes agentes privilegiando a memória do vivido por quem a viveu. Ao considerarmos os contos de assombração enquanto patrimônio cultural imaterial, ancorado no medo e na religiosidade, entendemos que a memória coletiva ocupa um papel central na manutenção deste universo mental e na cristalização destas narrativas, o que nos possibilita vislumbrá-la como um monumento de sustentação desta tradição. Não obstante, podemos articulá-la também a construção da identidade local, a partir de uma herança cultural e religiosa que perpassa por inúmeras gerações e circula horizontalmente entre a população local. O dinamismo das ideias, conceituado por Ginzburg como circularidade cultural, se materializa de forma significativa também na produção das representações coletivas acerca de igrejas, ruas, casas e fazendas. Estas últimas, ao adquirirem o sentido de assombradas acabam perpassando por um processo de desuso e abandono, o que promove dificuldades de locação. Ao colocarmos em perspectiva estes locais da memória, percebemos que o imaginário acerca destas assombrações permite que haja uma ligação entre o mundo dos vivos e o dos mortos, uma vez que vários contos trazem como protagonistas a aparição de antigos moradores, já falecidos, que são lembrados por seus pecados e servem como exemplos de uma conduta moralmente inaceitável. A memória ainda elucida-nos a pensar a associação entre passado e presente dentro da construção da tradição e do pertencimento, o desenvolvimento da história local e a perpetuação destes contos e personagens no cotidiano. (ST44) Marcelo Garson Braule Pinto (Pós-doutorando) Jovem Guarda, consumo e hedonismo Em agosto de 1965, o musical Jovem Guarda estreava na TV Record de São Paulo. Sob o comando de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, uma nova geração de intérpretes fazia sucesso junto à juventude, com canções que falavam de namoros e diversão. Influenciados pelo rock and roll norte-americano, pelo pop italiano, pelo bolero, samba-canção e ainda pelos Beatles, rapidamente se tornaram ídolos nacionais. Através de letras de canções, programas de TV, filmes, ensaios fotográficos, reportagens e sessões de entrevistas, exibiam um estilo de vida suntuoso, atravessado por bens materiais – carrões, apartamentos, indumentária, joias – festas e conquistas amorosas. Através delas, buscavam retrabalhar os valores tradicionalmente associados à sua origem social, negociando um status social desejável. Convertendo suas aquisições em emblemas de sucesso, construíam suas narrativas de vida como narrativas de consumo. Vindos das classes populares, os intérpretes da Jovem Guarda representavam o triunfo do self made man, o herói da sociedade liberal que sai “de baixo” e “vence na vida” a partir do esforço individual. A lógica meritocrática, portanto, fazia crer que a ascensão social estava ao alcance de todos, bastava “dar duro”, afinal, como dizia um sucesso de Erasmo Carlos, “pra ter fom fom, trabalhei, trabalhei”. Assim, os artistas não vendiam somente música, mas antes um estilo de vida que tem no consumo o campo de articulação privilegiado e no hedonismo seu valor capital. Esse processo estava intimamente ligado à modernização dos espaços públicos e privados da sociedade brasileira, atravessada por bens e capitais norte-americanos, que se tornavam a expressão ideológica da prosperidade capitalista do pós-guerra. Isso se torna bastante revelador em um momento em que a música popular se reconfigurava estrutural e simbolicamente: a televisão e, não mais o rádio, passava a ser o seu epicentro, subordinando uma nova geração de interpretes a novos modos de produzir e vender cultura. Assim, é difícil compreender a popularidade da Jovem Guarda se não atentarmos à maneira como dialogava com uma nova gama de valores dominantes, não no sentido de refleti-los mecanicamente, mas antes problematizá-los.

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Através de letras de canções, capas de disco, material de imprensa e registros audiovisuais, o objetivo deste trabalho, portanto, é analisar como a Jovem Guarda construiu uma determinada noção de “vida bem sucedida”, diretamente ancorada na esfera do consumo e fortemente infundida por uma dimensão fantástica e ficcional - herdada de filmes, desenhos animados e históricas em quadrinhos - quem nem por isso é menos reveladora de uma nova realidade social. (ST26) Marcelo Henrique Leite (Graduado) “Quantas histórias conta o Museu Republicano “Convenção de Itu”? Um estudo sobre Ensino de História e Museu na cidade de Itu (2006-2014)." O presente estudo tem o intuito de compreender como se dá a relação entre a instituição “Museu Republicano Convenção de Itu” e os ambientes escolares. Nesse sentido, se faz necessária a discussão da apropriação dos museus pelos estudantes para a produção do conhecimento histórico, essencialmente, no que se refere à história regional, desde a criação do programa Ação Educativa, em 2006. Como aporte teórico, são mobilizadas as contribuições de Edward Thompson (1998), importantes para apreender se o conhecimento histórico, produzido entre escola/museu, ressalta as experiências de outros agentes históricos silenciados na construção da narrativa museológica e nas salas de aula. Os livros de visitantes preenchidos de 2006 a 2014 serviram como fontes da investigação proposta, isso porque é a partir desses registros que mensuraremos a periodicidade das visitas das escolas de Itu ou de outras regiões e se foram ou não desenvolvidos projetos em parceria com a instituição em questão com escolas públicas ou privadas. Isso também a partir dos relatórios anuais da Ação Educativa e das entrevistas com professores dos Anos Finais do Ensino Fundamental citados em tais documentos. Em linhas gerais, a proposta é analisar o Museu Republicano Convenção de Itu como Laboratório da História (Cf.: MENESES, 1994), observando como esses espaços interagem nas abordagens do ensino de história, como determinam saberes, não como Teatro da Memória que evoca, celebra e encultura; mas sim, e principalmente, como o lugar de trabalho sobre a memória que é, mais do que um objetivo, um objeto de conhecimento. (ST05) Marcelo Luiz Da Costa (Doutorando) Educação e crítica social no Brasil do início do século XX: trabalhadores e libertários. Embora hoje desligada em grande parte da crítica social, no início do século XX não foi bem assim. A elaboração das pedagogias, desvendadas em sua história, denunciam suas defesas, omissões e negligências. Na história brasileira, caracterizada, do ponto de vista político-social, muito mais por continuidades que por rupturas, adotando processos de mudanças como transição e não como revolução, as pedagogias alternativas, revolucionárias ou radicais sempre estiveram à margem das discussões e padeceram de um imenso e não casual silêncio. Talvez por isso, na tradição pedagógica brasileira a discussão sobre a crítica social inerente à educação tenha sido gradativamente abandonada em prol do enfoque no “problema do método”. Nos antecedentes da instalação parcial, precária e instável de um sistema escolar primário, a educação do povo foi uma questão aberta ao debate. Trabalhadores e movimento operário formularam princípios pedagógicos libertários, de início, sob inspiração da educação libertária anarquista e, depois, enraizados nas questões e nos problemas brasileiros. Naquela época o dualismo da educação, como forma de expressão da dominação social era evidente e os projetos e iniciativas não descuraram de dar voz à cultura e à memória popular operária. Desde 1902 escolas, centros culturais e bibliotecas eram criados pelos anarquistas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas tais fatos não foram resultado de “teóricos” da pedagogia ou tecnocratas senão realizações do próprio movimento operário, conforme atestam os congressos operários de 1906 e 1912. É assim que o termo

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“libertário” se associa intimamente à crítica social, já que para os anarquistas só poderia haver emancipação com a emancipação do povo, sob vários aspectos, econômico e social. Por isso não entendiam a educação como panaceia, distanciando-se do que mais tarde se poderia identificar no entusiasmo pedagógico em torno dos métodos ativos. Essas reflexões colocam em questão as qualificações de movimentos e pedagogias na história brasileira como “libertárias” ou “libertadoras” ou mesmo sobre os “libertarismos” em educação. (ST29) Márcia Elisa Teté Ramos (Doutora/UEL) Noções de alunos do ensino médio sobre a narrativa histórica presente na cidade de Londrina – PR Apresenta os resultados de pesquisa de pós-doutorado (USP) sobre as apropriações que alunos do Ensino Médio de escolas públicas realizam sobre a(s) história(s) que circula(m) na cidade de Londrina – PR. Para isso, utilizou-se da Teoria Fundamentada (Grounded Theory) cruzando resultados de três estudos: estudo exploratório, com a técnica de Grupos Focais e de “chuva de ideias” no espaço do Museu Histórico de Londrina; estudo piloto com a metodologia da História Hipotética e finalmente com o estudo principal, através da netnografia, com 19 questões aplicadas. Prioriza-se nesta comunicação de pesquisa, a parte final do trabalho, quando se trabalhou com questões que mesclavam História Hipotética e análise de evidências históricas, no caso, uma reportagem da revista Veja sobre a cidade (2010) e duas reportagens divergentes do Jornal de Londrina (2014) sobre a colonização da região. As questões foram respondidas por 116 estudantes neste estudo principal, do qual dispomos a seguir em forma de discurso-síntese: os alunos apresentam desconhecimento referente às informações históricas em relação à cidade, ao entendê-la como resultante de colonização ou imigração inglesa, desta forma corroborando o “mito fundador” circulante na cidade; constroem a explicação histórica sobre a cidade de Londrina por meio das narrativas familiares, mas muito mais pela mídia ou monumentos, do que pelo Museu Histórico de Londrina ou livros na área; o que implica que as representações construídas sobre a história de Londrina são sustentadas pelas experiências que estes sujeitos travam no cotidiano para além da educação formal. Predomina a noção de progresso: como uma temporalidade que se movimenta sempre para frente, como avanço, sem tensões, em constante melhoramento e orientado pela ação de determinados personagens. Mais precisamente, a colonização ou ocupação da região é vista como resultado da ação de personagens importantes – os chamados “pioneiros” –, com suas supostas qualidades heroicas. Nesta narrativa, outros agentes sociais, como negros, indígenas e mulheres, não são reconhecidos como sujeitos históricos. A região é considerada na época de colonização como “vazio demográfico”, corroborando uma permanência da História Oficial da cidade, o que não pode ser vista de forma individualizada, mas que encontra referências comuns recorrentes, valores compartilhados e tensionais. Contudo, a pesquisa demonstra que tais sujeitos apresentam um grande potencial de explicação histórica (comparação, argumentação, contraposição) quando utilizam a imaginação histórica (com a História Hipotética) e quando interpretam documentos que se replicam (como as duas reportagens do Jornal de Londrina). (ST23) Márcia Regina Da Silva Ramos Carneiro (Doutora/UFF) Contornando os anos 1930. Narrativas / depoimentos de intérpretes da primeira década de Vargas presidente. Este trabalho busca enumerar e analisar obras sobre os anos 1930 que se tornam documentos históricos por conterem análises sobre o tempo em que foram produzidas, ou, no âmbito da História do tempo presente, cabem em sua contemporaneidade. Entre

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os autores analisados, Hélio Silva, Edgar Carone, Alvaro de Carvalho, plínio Salgado, Miguel Reale, Gustavo Barroso, entre outros. (ST06) Marco Alexandre De Aguiar (Doutor) Refletindo sobre uma experiência: a Mostra de curta-metragem da Diretoria de Ensino de Botucatu. A Mostra de curta-metragem da Diretoria de Ensino de Botucatu iniciou-se em 2014, e o tema cultura afro-brasileira, alinhou-se a lei 10.639/03. Em 2015 houve um enfoque sobre as redes sociais e neste ano o tema escolhido pelos alunos foi Curtas-metragens inspirados nos filmes de Charles Chaplin. A iniciativa busca estimular uma perspectiva crítica, tanto por professores e alunos, em relação à produção audiovisual. Vários pesquisadores apontam o potencial da utilização deste recurso como forma de inovação no ensino fundamental e médio. (ST16) Marcos Antonio Da Silva (Pós-doutor/USP) Tropicalismo em música popular – tensões e continuidades (Brasil, 1965/1972) As apresentações de "Alegria, alegria" (Caetano Veloso) e "Domingo no parque" (Gilberto Gil) no III Fertival da Canção da TV Record (São Paulo, 1967) foram imediatamente saudadas por Augusto de Campos, em artigos jornalísticos depois reunidos em livro, como mudança na tradição musical do país. Tal perspectiva foi reforçada desde então por estudos acadêmicos e escritos memorialísticos. A presente comunicação mescla esse viés com experiências musicais e artísticas anteriores, associando-o ao debate sobre a ditadura e ao cenário político e cultural internacional daquele momento. (ST16) Marcus Baccega (Doutor/UFMA) Ecos da Idade Média: Direito e Formas da História na Idade Média Central (séculos XI-XIII) Esta comunicação pretende analisar a evolução dos direitos e liberdades do "ius commune" medieval, sobretudo no Sacro Império Romano e na Inglaterra, enquanto lugar da memória (Pierre Nora) que permite reconstituir as transformações da civilização feudal em sua época clássica (Idade Média Central, séculos XI-XIII). Visa-se aqui, por conseguinte, a uma História Política que possa evidenciar as contribuições de longa duração (Fernand Braudel) para os direitos e garantias constitucionais hoje tão discutidos no Brasil, em virtude da crise política instaurada em torno do processo de impedimento da Presidente Dilma Rousseff. Desta forma, procura-se uma interface analítica presente-passado-presente, em que as tensões verificadas nas relações feudovassálicas possam atuar como fatores de macro-inteligibilidade dos desvãos e caminhos percorridos pelo Ocidente contemporâneo. (ST38) Marcus Vinícius De Moura Telles (Doutorando) Da relação entre passado e presente em Hayden White Em diferentes momentos de sua obra, Hayden White pode ser lido ora como um pensador dualista (é por isso que comentadores como Hans Kellner e Frank Ankersmit o consideram um kantiano), ora como pensador dialético atento à negociação de sentidos entre o “sujeito” historiador e os “objetos” também humanos de sua narrativa (dimensão que aparece especialmente à centralidade da “lógica poética” de Vico em seu pensamento). No primeiro caso, ele aborda o passado de maneira “construtivista”, o que também implica dizer, compatível com uma noção “moderna” de temporalidade. No segundo, ele pode ser forçado a reconhecer que, ao seguir os passos hegelianos encontrados em dois de seus mais relevantes “ancestrais intelectuais”, Erich Auerbach e R. G. Collingwood, o “passado” mais compatível com suas teses é aquele espectralmente presente, prestes a ser ativado, ou ressignificado, por meio de preenchimento. Esta

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possibilidade de leitura: (a) aparece com clareza já em seus textos de juventude; (b) permanece em Metahistory, que não apenas trata de constantes preenchimentos figurais de uma figura de linguagem por outra (a metáfora é preenchida pela metonímia, esta pela sinédoque, esta pela ironia), como também concede que o sistema representativo pode ser rompido por acontecimentos externos, que exigem rearticulação pela linguagem. Sua própria escolha temática não poderia deixar isto mais claro: o motor principal da “imaginação histórica” do século XIX foi a experiência traumática da Revolução Francesa; (c) é retomada a partir de sua participação em Probing the Limits of Representation (1990, publicada em 1992), por meio da tese de que os “eventos modernistas” demandam novas formas de representação, o que equivale a dizer, uma vez mais, que, devido às necessidades de expressão emocional, posicionamento ético e ações práticas, as experiências do passado impõem demandas sobre a linguagem que as expressa no presente; e (d) reaparece uma vez mais na tese de que mesmo os eventos traumáticos têm estrutura figural, de modo que, até que o preenchimento de uma figura ocorra, aquele evento sobrevive enquanto latência. Este evento “passado” obviamente não pode ser pensado em termos unicamente cronológicos, construtivistas, como aparece em uma das formas possíveis de ler White. Todas estas elaborações se harmonizam com a tese que ele expôs em alguns textos entre 1967 e 1973: sistemas históricos não morrem da mesma forma que sistemas biológicos morrem; eles podem ser reativadas por qualquer outra sociedade futura que os adote retroativamente como ancestrais. (ST18) Maria Alda Barbosa Cabreira (Doutoranda) Memória e História na Representação de Tiradentes na Numismática Brasileira A comunicação pretende analisar a representação criada em torno da figura do alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido pelo apelido de Tiradentes, ao patamar de herói da pátria. Para tanto, discutiremos como a historiografia analisou a percepção de herói ao longo dos anos e como Tiradentes foi alçado à condição de maior herói nacional, materializado, por exemplo, na iconografia veiculada na numismática brasileira, principalmente na moeda. (ST47) Maria Angélica Da Costa Silva (Pós-graduanda) Saneamento em Ituiutaba - MG no final do século XX: os reflexos da instalação da autarquia municipal SAE Este trabalho visa apresentar os resultados parciais da pesquisa sobre a consolidação da autarquia municipal SAE - Superintendência de Água e Esgotos de Ituiutaba - MG, cidade localizada na região do Triângulo Mineiro. Observando a redução dos índices de morbidade infantil por diarreia, entre os anos 1970 e 1990, é possível constatar a melhora na condição de vida da população atendida pelo abastecimento de água. Os principais documentos que comprovam esses índices no período em questão são os livros de registro dos cemitérios da cidade, os quais apresentam a causa do óbito, a idade e o local de domicílio do indivíduo. O período de instalação e consolidação da autarquia abarca a existência de dois projetos nacionais votados ao saneamento, sendo eles a FSESP (Fundação Serviço Especial de Saúde Pública) e o PLANASA (Plano Nacional de Saneamento). Dessa forma, será feito um breve histórico acerca das políticas públicas de saneamento no Brasil, a contextualização da instalação da autarquia SAE como resultado dessas políticas, além da discussão dos possíveis efeitos desse processo através da observação da redução da morbidade infantil, tomada como um dos efeitos da oferta de água tratada e coleta de esgotos na área urbana do município. (ST37)

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Maria Aparecida Chaves Ribeiro Papali (Doutora/UNIVAP) A Infância Desvalida e a Exploração do Trabalho Infantil no Pós-Abolição: Vale do Paraíba Paulista (1888-1895) Este artigo tem o objetivo de discutir uma problemática que vem se tornando constante à medida que nossas pesquisas avançam no sentido de descortinar as tensões estabelecidas no âmbito das relações de trabalho, ocorridas no pós-abolição em cidades do Vale do Paraíba paulista. No caso específico desta pesquisa tais cidades são Jacareí, São José dos Campos e Paraibuna. As referidas cidades são geograficamente próximas e, no período estudado, pouco significativas no âmbito da agroindústria cafeeira, tão cara à região. No período escravocrata, tais cidades continham, em sua maioria, pequenos e médios proprietários, com um grande contingente de homens pobres livres. Ao levantarmos a documentação forense dessas cidades no período estipulado, ao lado de Processos Crimes e Processos Cíveis, os documentos encontrados em maior número foram as Tutelas e Soldadas aplicadas a órfãos pobres, menores desvalidos, filhos de ex-escravas, libertas e mulheres solteiras pobres em geral. (ST01) Maria Aparecida De Aquino (Pós-doutora/USP) Golpe e Golpismo. Todos os golpes se parecem? 1964-2016 no Brasil Com base na análise do material da chamada "Operação Lava Jato" e com a documentação analisada acerca do golpe de Estado de 1964, no Brasil, pretende-se fazer uma comparação com o espectro golpista que ronda o país e que sempre vitima a população quando são ameaçados os interesses das chamadas camadas dominantes. A possibilidade de compreensão desses momentos resulta no aumento das possibilidades de análise sobre as características das camadas médias brasileiras. (ST06) Maria Clara Gonçalves (Doutoranda) Revisitando Qorpo-Santo: a presença das práticas teatrais oitocentistas na dramaturgia qorpo-santense A presente comunicação visa apresentar o contexto cultural no qual se desenvolveu o escritor José Joaquim de Campos Leão Qorpo-Santo (1829-1883). O interesse em mapear quais atividades artísticas circularam na cidade de Porto Alegre através dos periódicos gaúchos, a saber Jornal do Commercio, O Mercantil, O Novo Rio-Grandense e Rio-Grandense, entre os anos de 1852 a 1877, tem por objetivo tentar reconstruir o universo artístico em que o escritor possivelmente teve acesso e, desse modo, entender as influências teatrais do período em sua concepção dramática. Qorpo-Santo escreveu suas comédias no ano de 1866 e as editou em sua obra intitulada Ensiqlopédia ou Seis Mezes de huma Enfermidade, em 1877; porém, apenas em 1966 aconteceu a primeira encenação de suas peças. Desde sua redescoberta a crítica teatral brasileira, em sua maioria, filiou a dramaturgia qorpo-santense a procedimentos teatrais do século XX, posicionando-o como um escritor alheio a produção dramática do século XIX. O lugar difuso em que a crítica situou o seu teatro é um ponto sensível e questionável da historiografia teatral brasileira. Por isso, ao compreender quais práticas teatrais circularam no contexto próximo a Qorpo-Santo, pode-se estabelecer uma nova leitura sobre a dramaturgia do escritor e, assim, analisar seu teatro mais alinhado ao seu ambiente histórico. (ST27) Maria Cristina Correia Leandro Pereira (Doutora/USP) O papel das imagens na construção de uma genealogia cluniacense: o caso da Miscellanea de Saint Martin des Champs (Ms BNF Lat 17716) A forte importância da genealogia para a cultura medieval é bastante conhecida pelos estudiosos, e dela são testemunhas, por exemplo, as Tábuas genealógicas presentes nos manuscritos do Comentário ao Apocalipse do Beatus ou as arbores iuris, diagramas com relações de parentesco, famosas nos séculos XI a XIII. O objetivo desta comunicação é

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contribuir para esse dossiê através do estudo de uma fonte de tipo distinto: nela não há uma preocupação explícita com a linhagem – embora haja, claramente, um projeto de se estabelecer uma genealogia “ideal”. Trata-se de um manuscrito que contém uma compilação de textos cluniacenses produzido provavelmente (segundo os conservadores da Biblioteca Nacional da França) no mosteiro de Cluny para o priorado cluniacense de Saint Matin des Champs, em Paris, que recebeu o título de Miscellanea secundum usum ordinis Cluniacensis (Ms BNF Lat 17716) e que teria sido encomendado por Guillaume II, abade de Cluny de 1207 até 1215. A escolha dos textos e, sobretudo, das imagens (tanto as miniaturas quanto as iniciais historiadas) demonstra o objetivo daquele abade de se colocar como herdeiro de dois outros abades cluniacenses poderosos, Pedro e Hugo, além de incluir Saint Martin des Champs na linhagem mais prestigiosa de Cluny. (ST38) Maria Cristina Cortez Wissenbach (Pós-doutora/USP) Imbricamentos políticos e soberanias no comércio de escravos no Índico: a administração lusa, os xecados e os negreiros da costa sudeste africana (1840 - 1860) A produção mais recente sobre a história de Moçambique tem permitido problematizar questões relativas ao comércio de escravos e sua continuidade no Índico, apesar das interdições intentadas pelos europeus ao longo da primeira metade do XIX. O que se pretende nessa comunicação é mostrar como o tema deve estar referido à confluência de interesses diversos: os da Coroa portuguesa, os dos xecados da costa e suas hierarquias, e os dos negreiros que atuavam na região. O jogo politico entre diferentes soberanias encontra-se registrado em correspondência que segue diferentes caminhos e que denota a impossibilidade de uma restrição mais direta do comércio de escravos, nesta região especificamente e no Índico de forma mais geral. (ST02) Maria Cristina Floriano Bigeli (Doutoranda) Desconstrução de estereotipias pelo Ensino de História: trabalhar a temática indígena nas escolas através de propagandas Diversas representações acerca dos povos indígenas fazem parte do imaginário da população brasileira não indígena. Concepções romantizadas, como as criadas e difundidas na literatura do século XIX, do indígena belo, defensor da floresta, inocente, e/ou imagens estigmatizadas, por exemplo, a do indígena preguiçoso, aculturado, perigoso ou atrasado, ainda são adjetivos e características associadas aos povos indígenas brasileiros, demonstrando que pouco se conhece a respeito das histórias e culturas desses povos e, consequentemente, sobre a própria história e cultura da sociedade brasileira. Embora o contato entre europeus e indígenas seja um dos pontos iniciais da história oficial do Brasil, até a última década do século XX se desconsiderou e/ou pouca ênfase foi dada na relevância dos indígenas na constituição da nação brasileira, portanto, tais povos – exceto à época do “descobrimento” – pouco se faziam presentes em currículos escolares, em livros didáticos e em aulas de História (contudo, quando eram abordados, não havia contextualização sobre suas culturas e histórias, eram enfocados apenas no passado, vistos como coadjuvantes e jamais como sujeitos históricos). Entretanto, ao pensarmos sobre a constituição do imaginário, devemos levar em consideração que as Representações Sociais não são elaboradas somente nas relações entre os indivíduos e o campo da Educação e tampouco apenas nas aulas de História, mas também nos espaços em que os sujeitos transitam diariamente, assim como nas relações sociais, nas convivências dos grupos dos quais pertencem, nos veículos de comunicação, nos espaços acadêmicos, ou seja, em tudo o que circunda as suas vivências. Este artigo tem como objetivo problematizar a elaboração de Representações Sociais acerca dos indígenas pela sociedade não indígena buscando desconstruir estereotipias. Utilizamos, como fonte, as produções publicitárias veiculadas pelos sistemas de

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comunicação, pois, ao se representar indígenas, grande parte das propagandas os caracteriza de forma clichê, folclorizada e descontextualizada, o que pode favorecer a desinformação e a manutenção de preconceitos. Considerando que essas produções podem influenciar na elaboração das Representações Sociais, além de serem compreendidas como expressões do período em que ocorrem, sugerimos que os docentes trabalhem com narrativas dos alunos a respeito das propagandas, visando desconstruir imagens clichês cristalizadas, colaborando com o desenvolvimento da criticidade e com a construção da consciência histórica. (ST23) María Laura Osta Vázquez (Doutora/FLACSO-Uruguay) Crianças órfãs e expósitas, uma História uruguaia do século XIX A maioria dos historiadores tem esquecido as crianças como objeto de estudo, e ainda mais as crianças órfãs, os mais pobres dos pobres. A pesquisa parte dum olhar foucaultiano, no intuito de dar voz a quem ainda não a tem. A partir da história dos conceitos contextualizamos algumas praticas e ideias, palavras utilizadas nos documentos da Inclusa, que depois se chamará Asilo de Expósitos y Huérfanos de Montevideo. Através da análise de registros, estatísticas, plano de estudos, regulamentos internos e correspondência, espera-se uma aproximação as formas de viver, pensar e regularizar a infância do torno, aquelas crianças pertencentes ao rubro de “população infame” em termos foucaultianos. Transitando en el discurso histórico, Colin Heywood, la infancia sólo puede ser entendida como una construcción social, o sea, los términos “niño” e “infancia” son comprendidos de formas diferentes, en diversas épocas y lugares, estando condicionados a cuestiones culturales, filosóficas, económicas y muchas veces religiosas. El autor concluye que no existe solamente una infancia, sino varias. (HEYWOOD, 2004). José Pedro Barrán, durante o período «civilizado» o do disciplinamento, os supostos culturais sofreram modificações: a criança começou a ser vista como um ser diferenciado dos adultos, com direitos e deveres próprios de sua idade. Crianças e adultos foram separados rigorosamente em suas atividades, de seus dormitórios, almoço, educação, diversões e espetáculos (BARRÄN, 1990. P.111). (ST01) Maria Leandra Bizello (Doutora/UNESP) Da intimidade e do trabalho científico: acervos de mulheres cientistas Este trabalho tem como objetivo discutir a constituição de acervos de mulheres cientistas que trabalharam e trabalham na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – campus de Botucatu. Essa unidade universitária foi criada no início dos anos 1960 como Faculdade de Medicina, Medicina Veterinária e Ciências Agrárias. No ano de 1976 constituiu junto com outros institutos isolados do interior paulista a UNESP. Em face do trabalho de organização dos arquivos da UNESP vimos a necessidade de refletir sobre a documentação que os (as) cientistas produzem no exercício de suas atividades acadêmicas, isto é, o ensino, a pesquisa e a extensão. A escolha de uma unidade totalmente voltada para as ciências da saúde e ciências agrárias se deve à importância que a Faculdade de Medicina atribui atualmente aos seus arquivos criando um Centro de Documentação e Memória que guarda a documentação administrativa produzida pela faculdade e abrindo espaço para custodiar conjuntos documentais de seus professores e cientistas. Mais um recorte para nosso trabalho é que trataremos de conjuntos documentais produzidos por mulheres cientistas: professoras e pesquisadoras que atuaram e atuam nessa faculdade desde os anos 1960. Metodologicamente trataremos de maneira exploratória o objeto ao fazermos um levantamento das mulheres docentes desde o início da faculdade e de seus possíveis conjuntos documentais. Recorreremos também ao método da história oral, para a coleta de entrevistas no intuito de

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compreendermos tanto a atuação docente quanto de pesquisa dessas mulheres cientistas e sua inserção na vida acadêmica e na constituição da ciência no Brasil. Articularemos a constituição de acervos pessoais e institucional no fazer ciência de mulheres em diferentes períodos da história de si e da instituição em que atuaram e atuam. Por fim procuraremos refletir como as reflexões sobre gênero contribuem para discutirmos arquivos pessoais no âmbito da ciência. (ST25) Maria Ribeiro Do Valle (Pós-doutora/UNESP) O Estado de S. Paulo e 1968, Dez Anos Depois O artigo aborda a análise do jornal O Estado de S. Paulo em 1978 sobre os movimentos contestatórios, particularmente os estudantis, que eclodiram em 1968. Ao chamar a atenção para o fato de que a violência se espalhou por todo o mundo, o matutino dividirá a análise dos protestos em dois blocos, de um lado, os EUA e a Inglaterra que conseguirão sobreviver à essa onda e de outro os países da Europa Ocidental, Alemanha, Itália, Espanha e, inclusive o Brasil, que serão supostamente orquestrados pela França. O exame do jornal aproxima-se ao posicionamento intelectual e político de Hannah Arendt inscritos na tradição liberal-conservadora, enaltecendo a excepcionalidade americana em detrimento da revolução francesa e rechaçando a tradição hegeliano marxista que tem como norte a revolução e que é revigorada pela Nova Esquerda na conjuntura dos anos 60. (ST42) Mariana De Paula Cintra (Mestranda) Modas e modistas: o comércio de roupas francesas no Rio de Janeiro na primeira metade do Oitocentos Com a chegada da família real e sua Corte aos trópicos, em 1808, o Rio de Janeiro tornou-se a cidade mais importante do Brasil oitocentista. Quando da abertura dos portos às nações amigas, o fluxo de mercadorias e pessoas estrangeiras aumentou consideravelmente e o cotidiano dos que aqui residiam passou a incorporar alguns traços de urbanidade e modernização. Partindo da ideia de que a vinda dos profissionais europeus, especialmente os ingleses e franceses, foi responsável por introduzir alguns hábitos até então desconhecidos pelos brasileiros, esta pesquisa objetiva analisar, por meio da literatura de viajantes europeus e dos anúncios de jornais cariocas oitocentistas, o espaço dedicado ao comércio de modas e artigos desta mesma natureza na capital carioca. Partiremos, pois, da chegada das modistas e costureiras francesas no início do século XIX que, em geral, se instalavam nas lojas da Rua do Ouvidor e lá ofereciam tudo quanto poderia interessar às senhoras abastadas: chapéus, luvas, vestidos, leques, tecidos finos e ornamentos variados. Procurar-nos-emos investigar em que medida a indumentária francesa ofertadas pelas modistas através de seus anúncios, passaram a ser, em meados do século, objetos de desejo das cariocas abastadas. Em suma, o propósito desta apresentação é entender a contribuição do comércio de roupas vindas da França para o despertar de um cuidado mais atento com a moda no Rio de Janeiro. (ST19) Mariana Pincinato Quadros De Souza (Pós-graduanda) Sobre cópia e circulação de modelos figurativos no medievo: o mosaico de Torcello A fim de contribuirmos para o debate proposto pelo Simpósio Temático sobre as narrativas e imagens, em seu contexto de produção e reprodução ao longo da Idade Média, debruçar-nos-emos, no presente trabalho, sobre a circulação de modelos figurativos através de cópia e de readequação de um mesmo conjunto iconográfico em diferentes contextos. Na busca pela reflexão sobre os mecanismos de recepção, reprodução e recriação, bem como sobre os perfis de público a que a produção se destina, utilizaremos como objeto de análise o mosaico do Juízo Final da Basílica de Santa Maria Assunta em Torcello, uma das ilhas da Laguna de Veneza. Neste painel de

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mosaico, datado do século XI e classificado como de estilo bizantino, encontramos componentes iconográficos muito semelhantes a exemplares provindos do Oriente cristão, da mesma época. Segundo a historiografia da arte tradicional, o mosaico de Torcello pertence a uma tradição iconográfica de figurações do Juízo Final provinda do Oriente, chamada de “modelo bizantino clássico”. Tendo essa afirmação como ponto de partida, refletiremos sobre as noções de modelo e cópia, muito utilizadas na história da arte para pensar as produções imagéticas medievais. Tomaremos como base as ideias de Daniel Russo e Eliana Magnani sobre as possibilidades de usos de modelos e estilos, os quais possuíam a capacidade de gerar outras imagens, porém com variantes e derivações. Na lógica da produção das imagens medievais, apenas era tomado como modelo algo que fosse considerado conveniente e digno de ser reproduzido e, sobretudo, adequado ao lugar onde se encontrava. (ST38) Mariarosaria Fabris (Pós-doutora/USP) Os saraus da fisicoloucura Já no início de 1910, poderia falar-se em teatro futurista, embora os principais textos teóricos nesse campo tenham sido lançados a partir do ano seguinte: “Manifesto dos dramaturgos futuristas” (11 de janeiro de 1911), “O teatro de variedades” (1º de outubro de 1913) e “O teatro futurista sintético” (11 de janeiro-18 de fevereiro de 1915). Isso porque as chamadas serate (noitadas, saraus) podem ser consideradas a primeira atividade cênica do grupo capitaneado por Filippo Tommaso Marinetti. Caracterizando-se como verdadeiros happenings, as noitadas futuristas representaram uma intervenção impetuosa na monotonia do dia a dia, subvertendo o tipo de relação entre palco e platéia, ao provocarem o público a participar do espetáculo. (ST27) Marilda Ionta (Pós-doutora/UFV) Amizades femininas como práticas de resistências Nesta comunicação busco cotejar o filme “A fonte das mulheres” (2005), do diretor francês Radu Mihaileanu com o clássico texto de “Lisístrata” de Aristófanes (411 a.C), com o objetivo de cartografar experiências femininas de amizade a luz das seguintes questões: quais implicações éticas e políticas das relações tecidas pelas mulheres? Que tipos de afetos as amizades femininas estimularam e estimulam a se sublevar? Leio as amizades femininas a partir das reflexões tecidas por Michel Foucault em interseção com os estudos feministas. Para Foucault, na modernidade, a amizade livre das codificações sociais, coações hierárquicas e obrigações presentes na Antiguidade clássica à torna extremamente atraente para ser retraçada, pois cria espaços intersticiais capazes de fomentar tanto necessidades individuais quanto coletivas levando em consideração as diferenças e autonomias. Por isso, a amizade pode ser uma prática de autotransformação e aperfeiçoamento que possibilita modificar a própria vida e retraçar o político, criar novos estilos de vida e comunidade que escapam as formas de subjetivação ligadas ao medo, ao ódio, a obediência, a lei e ordem. (ST45) Marilea De Almeida (Doutoranda) As artes de governar: as experiências de lideranças quilombolas do estado do Rio de Janeiro Tomando como ponto de partida a recente visibilidade das mulheres e das práticas quilombolas nos discursos acadêmicos, midiáticos e jurídicos, este trabalho interroga as condições de possibilidades que permitiram essa emergência e os jogos de forças que atravessam o processo de tornar-se uma mulher quilombola. Para tanto, focalizo as práticas das lideranças quilombolas femininas no estado do Rio de Janeiro por meio dos seus múltiplos agenciamentos em torno da ampliação dos direitos para suas

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comunidades. Interessa tornar visível a forma como as lideranças ao negociarem, ao traduzirem e ao problematizarem discursos normatizadores e formas de governo sobre seus corpos, práticas e saberes criam um modo singular de fazer política que articula, a um só tempo, as demandas em torno dos direitos básicos como o acesso a terra e educação e, também, aos circuitos dos afetos, dos corpos e das subjetividades. Para tanto, a discussão desdobra-se em três eixos analíticos: o primeiro, ligado ao eixo do saber, refere-se à análise das condições históricas que favoreceram a emergência da categoria remanescente de quilombo no ornamento jurídico brasileiro e as configurações de raça e gênero permitidoras da visibilidade das experiências femininas quilombolas em diferentes práticas discursivas. O segundo, destinado ao eixo da analítica do poder, relaciona-se à análise dos processos de normatização quilombola que, por meio da noção do passado como um dado, transforma a ancestralidade em um dos dispositivos da governabilidade neoliberal. Aqui, interessa narrar estratégias e práticas de resistência que são criadas nesse processo. O terceiro, destinado ao domínio das práticas, retoma o tema do governo para descrever os agenciamentos das lideranças femininas quilombolas que reivindicam simultaneamente direitos como a posse da terra, saúde e educação, e que introduzem políticas educativas em torno do afeto, do corpo, da memória. Propostas essas análises, o trabalho inspira-se teoricamente nas abordagens feministas interseccionais, em especial àquelas problematizadoras dos essencialismos de raça, classe e gênero, e nos enfoques da filosofia da diferença, sobretudo nas abordagens do filósofo Michel Foucault sobre o governo, a governamentalidade neoliberal e o direito. (ST45) Marilia Pugliese Branco (Doutoranda) A produção do ofício Liturgico Francorum Rex, no século XIV, para comemorar a figura do rei Luís IX. No intuito de contribuir a discussão sobre a produção escrita e representação na Idade Média, este trabalho objetiva analisar os ofícios litúrgicos escritos para o rei Luís IX (1214-1270), produzido no século XIV em Paris. São Luís nasceu em Poissy, no dia 25 de abril, provavelmente, no ano de 1214. Filho mais velho de Luís VIII e Branca de Castela, neto de Filipe II Augusto e avô de Filipe, o Belo. Em 1226, tornou-se o rei Luís IX e governou de 1226 a 1270. Os ofícios litúrgicos foram produzidos por franciscanos, no momento posterior à canonização de São Luís para evidenciar a construção do culto ao santo rei; esses documentos pertencem a Ordem Franciscana, cujo autor é desconhecido, e foram ilustrados em Paris na primeira metade do século XIV. O entendimento do ofício enquanto gênero discursivo é importante para a compreensão dos modelos e das especificidades contidas na fonte, centrada na figura desse rei, sob a ótica da questão do serviço atribuída ao seu governo. A noção isidoriana, largamente tributária da concepção de Gregório Magno (590-604), de que todo poder é serviço, a Idade Média pode ser considerada como um período essencialmente marcado, do ponto de vista do pensamento político, pela noção de “poder ministerial”. Tais características são importantes para entendermos como este rei foi emblemático para este período e para pensarmos em uma produção de uma obra que apresenta como figura central o rei Luís. (ST38) Marina Rodrigues Tonon (Doutoranda) Projetos para o Brasil: comentários de Álvaro Bomílcar ao livro A América Latina de Manoel Bomfim No ano de 1905 chegava às livrarias da capital brasileira um livro que suscitaria certa polêmica, A América Latina: males de origem de Manoel Bomfim (1868-1932). Apesar de ter obtido boa receptividade por parte dos pensadores do período, esta obra gerou incômodo em um de seus principais críticos, o temido polemista Silvio Romero (1851-

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1914) que dedicou um total de vinte e cinco artigos, publicados no semanário Os Anais, à contestação do pensamento contido na obra de Bomfim. Uma das principais críticas de Romero, que posteriormente reuniria estes artigos em um livro intitulado A América Latina: análise do livro de igual título do Dr. M. Bomfim (1906), se refere à acusação de que existiriam contradições estruturais na obra, o que levaria à desqualificação da mesma como um trabalho científico, além da clara recusa de Bomfim às teorias raciais defendidas por Romero. Mais tarde no ano de 1915, a propósito do décimo aniversário do lançamento de A América Latina, Álvaro Bomílcar (1874-1957) escreveu um longo texto sobre o livro. Bomílcar, nascido no Ceára e diplomado em direito foi um importante jornalista, literato e sociólogo, fundou no Rio de Janeiro com Jackson Figueiredo e Damasceno Vieira a mensário Braziléa, além de organizar o movimento propaganda Nativista (PN) e participar da criação da Ação Social Nacionalista (ASN), entre suas principais obras estão O Preconceito de Raça no Brasil (1916) e Políticas no Brasil ou o Nacionalismo Radical (1920). Ao refletir a respeito do livro de Bomfim, Bomílcar, diferentemente de Romero, produziu um texto em que o analisa de forma bastante positiva, arquitetando uma “outra” perspectiva a respeito da obra. Neste gesto de análise, Bomílcar constrói sua visão a respeito das ideias postas por Bomfim e, desta forma, destaca objetos, temas e enfoques, forjando, assim, seus valores, construindo seus mitos, desenvolvendo sua moral, enfim, produzindo um passado. A comunicação a ser apresentada tem como principal objetivo realizar uma análise a respeito da crítica produzida por Álvaro Bomílcar a cerca do livro A América Latina: males de origem. Pretende-se dar atenção às construções realizadas por este autor referentes ao tema do Brasil como nação, buscando identificar como o mesmo compreendia o projeto para o Brasil apresentado por Bomfim. Para tanto, nos debruçaremos sobre o texto intitulado “A América Latina” publicado na revista Gil Blas por Bomílcar no ano de 1919 com a intenção de investigar as questões aqui postas. Espera-se que ao fim da análise possamos ter iluminado parte da relação existente entre o pensamento destes dois autores e seus projetos para o Brasil. (ST19) Marina Simões Galvanese (Doutoranda) “Ei-los que partem”: masculinidade e políticas de emigração em Portugal (1961-1974) O artigo masculino “los” da música de Manuel Freire (citada no título) ao transmitir a ideia de universalidade, mascara o gênero dos sujeitos migrantes como se as migrações fossem realizadas por pessoas destituídas de gênero. Tal percepção foi consequência do crescimento da literatura sobre mulheres migrantes, que trouxe, à superfície dos estudos migratórios, sujeitos “engendrados”. Ao compreender que as mulheres vivenciam o processo migratório de forma particular, reconhecemos tratar a experiência masculina como norma. Isso significa não apenas que negligenciamos questões colocadas exclusivamente a homens migrantes (cujas experiências devem-se também às características atribuídas ao masculino), mas que muito do conhecimento produzido sobre as migrações apoia-se em discursos que, sem o dizer, estão carregados de noções de masculinidade. O foco nas mulheres evidenciou o quanto a categoria “migrantes” é geralmente composta por homens sem que se considere a masculinidade como o construto social que é. Este trabalho busca contribuir com os estudos das políticas de emigração portuguesa, propondo que essas sejam interrogadas a partir de uma perspectiva que reconheça a masculinidade da categoria “emigrante”. Uma breve análise da legislação de emigração permite perceber que as regras estipuladas para controlar o fenômeno emigratório se dirigiam, em norma, a emigrantes-homens. As mulheres eram alvo de regulamentação própria, de caráter mais restritivo. Tais restrições têm sido interpretadas sob o viés dos “interesses econômicos”. Ao deixarem o país para se juntar aos maridos, elas poriam em risco as remessas dos emigrantes, razão pela qual a emigração feminina deveria ser

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evitada. A interpretação oblitera a ordem de gênero que informa os regulamentos e não atenta para o fato de toda a regulamentação restante dirigir-se a homens. Visando indagar a pertinência de se trazer para dentro dos estudos da emigração portuguesa as noções de masculinidades hegemônicas e subalternas, de ordem de gênero e as reflexões sobre gênero, nação e migração, analisaremos as políticas de emigração e os debates sobre o tema realizados na Assembleia Nacional entre 1961 e 1974. No momento em que o regime salazarista vivenciava tensões internas, tentava combater os movimentos de independência nas colônias e visava provar ao Ocidente que a África era parte da “nação portuguesa”, o emigrante-homem poderia representar um soldado, um colono e um trabalhador a menos, logo, uma perda ao projeto de nação imperial que se buscava manter. No mais, aqueles que deixavam a pátria evidenciavam o fracasso do homem novo que Salazar ambicionara criar. Quais foram as propostas para lidar com a redução do capital masculino pelo crescente fluxo emigratório rumo à França? Em que medida foram acatadas? (ST39) Marisa Saenz Leme (Doutora/UNESP) Uma interpretação de Brasil em tempos da Constituinte de 1823 Em 1823, ano em que se reuniu a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil, Jozé Bernardino Baptista Pereira D´Almeida, futuro ministro, sucessivamente, da Fazenda e da Justiça, do governo de D. Pedro I no crítico ano de 1828 – em que se produziu um ensaio de governo passível de se classificar como parlamentarismo – publicou um pequeno livro sintomaticamente intitulado “Reflexões historico-politicas”. Nesse trabalho, após uma breve reflexão sobre a colonização e a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, o autor se dedicou à análise dos acontecimentos sequenciais à Revolução do Porto, de agosto de 1820, com especial ênfase à Constituinte e às propostas de organização socioeconômica e política do novo país. Objetiva-se, na presente comunicação, avaliar a visão histórica desse personagem político, num momento crucial para a institucionalização do estado naquele país em formação. (ST18) Marly Spacachieri (Mestre/UNISO) Majestade, mucama, dona, sinhá! As mulheres dos tempos coloniais portugueses Este texto pretende ser um item dentro de um capítulo que abordará a presença das mulheres na vida cotidiana das colônias cuja posse coube a Portugal desde os séculos XV aos finais do XIX. Notadamente nosso olhar recairá sobre a África oriental portuguesa no período do emprazamento de suas terras como forma de reforçar e garantir a posse da colônia frente ao mundo imperialista que se avizinhava nos anos dos oitocentos. E essa maneira de dotação do território do então conhecido Moçambique dará o toque original com suas donas e seus mozungos protegidos pelas armas diversas de seus exércitos particulares: os achicunda. (ST02) Marly Terezinha Castro Porto (Graduada) Fotoclubismo paulista: contexto, intercâmbio e rede (1940 a 1960). A pesquisa tem por objetivo o estudo sobre fotoclubismo no estado de São Paulo. Parte-se da hipótese de que na década de 1950 houve o florescimento de uma ativa rede de fotoclubes, tendo o Foto Cine Clube Bandeirante como modelo. Nesse processo será destacada a atuação de Eduardo Salvatore, presidente do Foto Cine Clube Bandeirante durante 47 anos, que além de fotógrafo, teria sido um importante articulador desse fenômeno. Para mapear a constituição dessa rede de fotoclubes paulistas um estudo detalhado das diversas edições do Salão Paulista de Arte Fotográfica organizadas pelo Bandeirante, no período de 1942 a 1960, está sendo realizado tendo como fonte principal os catálogos, os boletins e as notícias publicadas na imprensa. Embora venham sendo realizados diversos estudos sobre fotoclubismo no Brasil nos últimos anos não há, até o

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momento, pesquisas que tratem do papel dos salões fotoclubistas para a constituição de uma cultura visual específica e sua contribuição para a fotografia brasileira. (ST10) Marta Gouveia De Oliveira Rovai (Doutora/UNIFAL-MG) Ser mineira, ser homossexual, ser universitária: narrativas de jovens do interior mineiro sobre a experiência de gênero na Universidade de Alfenas A pesquisa tem como objetivo conhecer as experiências de jovens do interior de Minas Gerais, a partir da entrada na Universidade e da descoberta ou afirmação de sua sexualidade fora dos padrões heteronormativos. Em que medida a vivência no ensino superior, novas referências intelectuais e a militância em grupos estudantis podem ressignificar as suas vidas? Que implicações a vida acadêmica traz para a formação das subjetividades de jovens advindos do interior, em especial da zona rural? Que experiências sexuais e de gênero o espaço universitário permite, estimula ou restringe? Que mudanças nas relações com a família tradicional, com as perspectivas de futuro, com o corpo e com a noção de juventude/sexualidade a nova experiência ajuda a construir ou desconstruir. A pesquisa utiliza da história oral de vida com estudantes que militam ou que simpatizam pela militância em grupos de LGBTTT, na Universidade da cidade de Alfenas, Minas Gerais. (ST01) Martiniliano Souza Silva (Mestrando) O potencial educativo do Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) enquanto recurso didático: algumas reflexões sobre o ensino de história indígena. O ensino de história indígena, ainda insipiente na educação básica, tem produzido fortuitos trabalhos com vista à superação de uma história eurocêntrica e vitimista. Nessa perspectiva, o presente trabalho busca resgatar a agência desses povos no tocante ao período em que os militares estiveram no poder (1964-1985). Buscar o protagonismo indígena, no que se refere à resistência a ditadura militar, não significa, contudo, ignorar o aspecto genocida impetrado pelo Estado ditador. Com intuito de cumprir com esse objetivo essa analise procura refletir sobre o potencial educativo, para o ensino de história, do Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) enquanto recurso didático, no que concerne sua abordagem sobre os povos indígenas. Haja vista que o tão famigerado “milagre econômico” se estrutura também pela espoliação da terra e sob a égide do genocídio indígena no cerne das relações estabelecidas no campo, abordagem omissa do ponto de vista educativo. Os dados estatísticos aludem à truculência do regime militar com os grupos nativos, denúncia de uma história esquecida e silenciada nos livros didáticos, mas presente no relatório da CNV. Tal perspectiva reflete a agência, o combate e a recusa de uma não aceitação passiva frente ao governo militar, que lançou mão de muitos arbítrios – legais e ilegais – para tirar o direito a terra dessas populações. No rastro dessas histórias, pois muitos foram os grupos combatentes, algumas perguntas que se impõem são de cabal consideração: é possível usar tal documento como material didático? Quais imagens ele pode consolidar? Como usar esse relatório em uma situação didática? Quais estratégias? Longe de buscar uma análise exaustiva e respostas exatas, esse trabalho pretende tecer algumas considerações sobre o relatório da CNV no tocante as questões educacionais, pertinentes ao ensino de história que tem como preocupação a agência das populações indígenas, e propor algumas formas de trabalhar com ele. (ST16) Matheus De Oliveira Lopes (Pós-graduando) Relações de Poder na Irlanda Cristã (Séculos V-VII) Situada no horizonte das preocupações de historiadores da Religião e da Política, o estabelecimento do cristianismo na Irlanda tem sido objeto de pesquisa sobretudo em função de seu caráter potencialmente comparativo. Trata-se de estabelecer uma contraparte em relação ao cristianismo “ideal”, ou seja, tal como se concretizou a partir

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do século II nas terras do Império – a saber, a partir da fórmula do episcopado. Essa história, essencialmente comparativa, tende a não observar pesquisas que visem a um estudo orientado para a particularidade do caso irlandês, independentemente de seu eventual (e muitas vezes artificial) contraste com a Igreja no continente. Acreditamos que uma tal pesquisa deve compreender que o estabelecimento e a consolidação do cristianismo na Irlanda foram marcados por peculiaridades - tais como a ausência de uma centralização criada pela existência de uma abadia, diocese ou ainda um mosteiro importante. Tais aspectos tornam o caso singular sem implicar, contudo, no estabelecimento de prerrogativas externas para sua análise – a importância do caso irlandês radica no próprio caso irlandês, sendo necessário compreender suas dinâmicas sociais – que independem de um tipo ideal. A penetração do cristianismo na região irlandesa foi diferente da efetuada no restante da Europa, tendo sido marcada pela ação de monges e peregrinos, os quais, segundo Collins, eram os agentes mais adaptados para substituir de uma só vez tanto a figura do druida quanto a do fillid (poeta), ambas fundamentais para o funcionamento da religião pagã irlandesa. Tais monges agiam na Irlanda e dela partiam para outras regiões, ajudando a definir as características que especificaram o Cristianismo irlandês e suas ações serão importantes para compreender como a religião, um dos fatores de maior importância ao analisarmos a Idade Média, é capaz de adaptar-se às mais diversas realidades e contextos, e como ela se relaciona com o poder secular. Esta pesquisa se fundamenta principalmente na análise de fontes que tratam, direta ou indiretamente, da vida e obra das mais importantes figuras envolvidas na expansão do Cristianismo em direção à Irlanda – e o modo como este se relacionava com os poderes locais, fossem esses líderes políticos, religiosos ou militares –, notadamente São Patrício, São Columba e São Columbano. Patrício teria sido o precursor da evangelização irlandesa; Columba e Columbano foram, reconhecidamente, os principais monges irlandeses a expandirem o cristianismo de Patrício para outros territórios, por meio de escritos e peregrinações. Entre as principais obras analisadas, estão a Confissão e as Cartas de Patrício, a Regra de São Columba e o Penitencial de São Columbano, bem como as Vidas de cada um dos três monges, além de outros textos. (ST38) Matheus Henrique Da Silveira (Pós-graduando) A Escolarização da Infância Problema: primeiros apontamentos sobre as fichas do Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental do Distrito Federal (1934-1939) e suas relações com a sociedade carioca Este artigo intenta apresentar os primeiros apontamentos na tentativa de compreender as relações entre educação e sociedade na cidade do Rio de Janeiro na década de 1930. Esta proposta surge com a análise, de forma inicial, das fichas de observação comportamental de alunos das escolas experimentais do Rio de Janeiro, organizadas pelo Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental, criado em 1934 por Arthur Ramos na reforma educacional de Anísio Teixeira (1931-1935). Tais fichas foram catalogadas em pesquisa que vem sendo desenvolvida no mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da FE/UNICAMP e foram organizadas a partir do livro A Creança Problema (1939) escrito por Arthur Ramos e também a partir do acervo pessoal mesmo autor, presente na Biblioteca Nacional. É por meio destes documentos que se busca produzir um estudo sobre as relações entre os saberes especializados sobre a infância e as formas de governo das crianças na família e na escola. Utilizando-se do conceito de Cultura Escolar, busca-se através das fichas de comportamento analisar os discursos propostos pelas teorias médico-higienistas presentes no período e a forma como estes se relacionam com aspectos da formação sociopolítica do então Distrito Federal do Brasil, além, sobretudo, dos modos como a escola lida com esses discursos no processo de escolarização. Para tais fins, foi importante levar em conta também os conceitos de tática e estratégia propostos

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por Michel de Certeau, ampliando as possibilidades dos documentos no que se refere ao protagonismo das crianças e suas maneiras de convivência com as políticas de conformação propostas sobre seus corpos e sobre os meios de governo voltados aos adultos responsáveis por seu cuidado e educação. Faz-se necessário assim também, a utilização das ideias de Michel Foucault quanto a análise dos discursos e quanto aos meios de controle social, além de referenciais da antropologia (no que se refere a conceito de apropriação) e da sociologia (no que tange a relação entre o espaço privado, urbano e o espaço escolar). (ST29) Mauricio Aparecido Pelegrini (Doutorando) Michel Foucault, Gary Becker e a teoria do capital humano Em seu curso O Nascimento da Biopolítica, ministrado no Collège de France em 1979, Michel Foucault apresenta uma leitura original e inovadora dos neoliberalismos alemão e americano. Um dos eixos norteadores desse neoliberalismo pós segunda guerra é a teoria do capital humano, elaborada pelo economista Gary Becker. Segundo essa teoria, o indivíduo deve se colocar no mercado como empresário de si mesmo, desenvolvendo e aprimorando seu corpo e suas capacidades como capitais em livre concorrência. Pretendo apresentar a leitura crítica de Foucault aos movimentos neoliberais contemporâneos. (ST45) Mauricio Gomes Da Silva (Pós-graduando) Diálogos com Jorge Amado: O Amor do Soldado como um documento histórico Uma obra literária é, antes de tudo, um documento histórico que, quando questionado, nos revela as tramas sociais do tempo de sua criação. Nela, também podemos encontrar faces da identidade de seu autor: sua concepção de mundo, estética, influências artísticas, posições políticas, etc. O livro O Amor ao soldado, de Jorge Amado, não foge a essas regras. Constitui-se em uma peça de teatro que aborda episódios biográficos do poeta Castro Alves. Escrita no ano de 1944, faz referências a liberdade e a democracia, questões candentes naquele momento. Problemáticas que estavam na ordem do dia naquele ano que antecedia o fim da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo- e a peça quer contribuir para esses fins. A opção por abordar tais temas está relacionada diretamente às posições políticas do autor: Jorge Amado era militante do Partido Comunista do Brasil, que foi, durante o Estado Novo, ferrenhamente reprimido pelas forças de segurança do regime ditatorial.Tal agremiação política combatera o fascismo tanto em terras nacionais quanto internacionais.Consta o envio de combatentes comunistas brasileiros para a Espanha e França e até mesmo a presença de praças integrando a Força Expedicionário Brasileira na Itália. Nesse sentido, a peça de Jorge Amado é uma intervenção dramatúrgica na cena política brasileira e mundial e pode ser compreendida como documento histórico sobre a luta contra tais ditaduras. (ST16) Mauricio Mario Monteiro (Doutor/Universidade Anhembi Morumbi) As Engenhosas Moralidades: Música e colonização da América Latina A proposta pretende estudar e compreender como a atividade musical foi essencial para o processo de colonização da América Latina desde o século XVII até o século XVIII. Esse processo de colonização, como uma marcha para o oeste ou ainda, como disse Montaigne, uma cruzada geograficamente oposta, teve mais interesses que a simples expansão territorial; tratou-se, principalmente, de uma proposta de propagação dos conceitos de civilização e cultura europeus. Conquista espiritual ou colonização do imaginário seriam, talvez, expressões mais apropriadas para definir o caráter do processo de descobrimento e colonização das Américas Hispânica e Portuguesa e, nisso, a atividade musical foi predominantemente imprescindível. O processo de formação da estilística da música nas Américas foi desencadeado dentro de uma mesma

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funcionalidade, isto é, o da conquista e o da catequese. Nos inícios do século XVI, o Papa criou dois sistemas que proveriam os reis ibéricos de poder sobre os corpos e sobre as almas. Foram então criados os sistemas de Padroado Régio e Patronato Régio, esse último para os reis espanhóis. O primeiro problema encontrado foi o tempo: Kronos x Kairós. Com base nas tradições cristãs, Deus seria a medida de todas as coisas, o tempo seria e deveria somente ser dado por ele, daí surgiu a expressão: Deos Modulator, que é na verdade o Deus como medida, um Deus que faça as modulações, um Deus cantor. Esse Deus deveria então criar o tempo onde não havia o tempo, cantar e solfejar, ou seja, organizar os sons do mundo frente à barbárie indígena era uma questão moral. Baseada durante todo processo de colonização no sistema tonal, a atividade musical latino-americana pode ser compreendida em quatro momentos estilísticos importantes: musica renascentista, musica barroca, musica pré-clássica e musica clássica, segundo a cronologia sugerida na Historia da Musica Ocidental. Cada um deles com predominâncias distintas sejam na melodia, harmonia e ritmo, através do exagero e do equilíbrio. Contudo, a questão é, em todos os casos, relacionada ao tonalismo e a uma gramática musical sedutora e persuasiva, capaz de convencer e de direcionar o indivíduo, seja autóctone ou europeu, a determinadas atitudes e pensamentos. Isso é muito significativo se pensarmos em termos da busca, definição e estrutura do sistema tonal. (ST26) Max Alexandre De Paula Gonçalves (Doutorando) História e Videogame: a construção do conhecimento histórico em games – o caso Assassin’s Creed Em consonância com a proposta desse Simpósio Temático, a saber, “História e Linguagens: aproximações”, marcado pela pluralidade de linguagens contemporâneas – por exemplo, a televisão, o rádio, a mídia impressa e a virtual – o presente trabalho vai ao encontro da mesma ao escolher o videogame como objeto de reflexão para a proposta. Ao entendermos esse objeto como uma amálgama de diversas linguagens, ainda mais quando pensamos os modelos criados a partir da primeira década do século XXI, podemos observar que o lúdico é um elemento presente nos diversos games criados. No entanto, e nesse caso não estamos mais falando apenas dos consoles, mas também de uma parte material essencial para esse componente, é interessante notar também que muitos jogos eletrônicos utilizam eventos e períodos históricos a fim de envolver o público nas diversas narrativas criadas. Dessa forma, surgem já de início algumas indagações: qual é o conhecimento histórico veiculado nesses jogos? Como se constrói a história neles? E qual é o limite de atuação do jogador na construção desse conhecimento? Assim, para compormos a nossa análise, escolhemos o jogo “Assassin’s Creed: Brotherhood” e a sequência “Assassin’s Creed: Revelations”. Pretendemos com isso dispor de uma reflexão a partir de um arcabouço teórico constituído por diversas áreas do saber, para que assim possamos elevar o debate para a História. (ST10) Maysa Silva Oliveira (Mestranda) Contra os filhos do Império Celeste: Breve análise do imaginário brasileiro com relação ao imigrante chinês, sob a visão de Angelo Agostini O propósito deste trabalho é analisar a reação da mentalidade brasileira ao considerar a hipótese da imigração chinesa. Para isso, usaremos os trabalhos de Angelo Agostini, fiel chargista da sociedade no século XIX. A partir de então, teremos uma base concisa para analisarmos as charges do artista sob o prisma da imigração asiática. Neste trabalho, estudaremos uma parte do século XIX e algumas de suas transformações. Há que se levar em consideração que o fim do tráfico negreiro impôs modificações nas relações econômicas e sociais numa sociedade que já estava acostumada com a figura do escravo, dentro do sistema colonial. Esta é uma afirmação válida para o Brasil. A entrada de

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imigrantes na América desperta interesse, pois uma cultura totalmente alheia aos americanos estabeleceu-se e criou a possibilidade de analisar como essas relações sociais, políticas, econômicas e até mesmo religiosas adaptaram-se ao longo do período abordado. Em suma, a figura do chinês será alvo de discussões calorosas sobre sua entrada no país e uma analise de como suas charges o apresentavam mostram-se válidas para uma melhor compreensão do contexto em que ocorreram. (ST39)

Milena Da Silveira Pereira (Pós-doutoranda/UNESP-Franca) A escrita da história nas primeiras memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa Fundada em 1779, na capital portuguesa, a Academia Real das Sciencias de Lisboa veio a lume com o projeto de gerar conhecimentos científicos úteis aos portugueses e às suas colônias, por meio da produção de memórias e de grandes obras no âmbito da matemática, da mineralogia, da astronomia, da geologia, das artes, da história e das letras. O objetivo desta exposição, partindo do mapeamento e da análise das primeiras produções desta Academia..., é examinar a proposta dessa associação para escrever a história da América Portuguesa, ou seja, o que os acadêmicos julgaram importante registrar a respeito de sua principal colônia num tempo em que o saber em Portugal buscava afirmação sobre novos parâmetros. (ST19) Mirian Cristina De Moura Garrido (Doutoranda) Como se constrói (auto)biografias de militantes negros nos Estados Unidos e no Brasil. Biografias e autobiografias são corpos documentais singulares para pesquisadores que elegem os movimentos sociais negros como objeto de estudo. Em geral, esses indivíduos estão excluídos dos círculos detentores de poder político e econômico e agem para a reversão da situação de preterimento ao qual seu grupo étnico está submetido. Destas informações denotam o caráter excepcional da (auto)biografia de militantes negros, pois, não inseridos entre a elite (intelectual, política ou econômica) de um país não escrevem de lugares consagrados, mas ao contrário, buscam consagrar a importância de suas lutas por meio da descrição de suas trajetórias. A apresentação buscará traçar as linhas gerais das (auto)biografias de militantes negros estadunidenses e brasileiros, optando por indicar proximidades e distanciamentos. Para análise elegeu-se quatro obras, uma para cada militante selecionado, sendo estes: Malcolm X, Martin Luther King Jr., Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez. O critério de escolha foi a representatividade que esses indivíduos possuem dentro do universo militante. Metodologicamente farei uso da literatura atenta aos procedimentos da Escrita de Si, em especial dos textos de Pierre Bourdieu e Philippe Artières. Preliminarmente pode-se afirmar que não configuram esses documentos um único discurso, mas estão dotados de características gerais comuns, em especial a construção da narrativa que segue: o percurso antes da militância, o compreender-se negro, a denúncia do preterimento racial, as formas de atuação e as proposições para o futuro. (ST47) Moisés Stahl (Mestre) Dois Destinos para o Império: Van Delden Laerne e a Sociedade Central de Imigração no final do século XIX O Objetivo desse trabalho é examinar as ações da Sociedade Central de Imigração contra a imagem de futuro do Império que o holandês Van Delden Laerne construiu. Em 1885 Delden Laerne publicou o livro "Le Brésil et Java rapport sur la culture du café en Amérique, Asie et Afrique", onde relatou os modos de produção da cultura do café nas regiões produtoras dos três continentes destacados no título do livro. A maior parte de mais de seiscentas páginas do livro foi dedicada à produção cafeeira do Vale do Paraíba e Oeste Paulista. No livro Laerne asseverou que a produção cafeeira brasileira seria extinta ao mesmo tempo em que fosse abolida a escravidão. O holandês fechava o horizonte da

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produção cafeeira com esse diagnóstico pessimista. Para tanto, para contestar o que asseverou o holandês, a Sociedade Central recorreu aos trabalhos do cientista francês Louis Couty a fim de contrapor os argumentos que maculavam a imagem do Império no exterior. A partir da publicação do livro de Delden Laerne, a Sociedade Central mobilizou uma série de ações de defesa do Império e de seu futuro, posto que seu projeto de modernização via imigração pode ser entendido como parte do projeto de um terceiro reinado que não existiu. Assim, veremos nas ações da Sociedade Central a apropriação das ideias do cientista francês Louis Couty na luta contra o que argumentou Delden Laerne. O livro de Laerne, segundo Rafael Bivar Marquese, pode ser entendido como uma obra crucial para compreender as transformações culturais e formação da economia global no longo século XIX. (ST39) Mônica Do Nascimento Pessoa (Doutoranda) Entre Áfricas e Brasil: Trajetórias de um Projeto de Pesquisa O presente trabalho busca expor algumas trajetórias de um Projeto Pesquisa Intitulado “Vozes Griots: (Re) significações das práticas griôs em África-Brasil”. É um projeto inicial, que objetiva discutir possíveis caminhos para a inscrição de uma epistemologia africana, que como Aimé Cézaire afirma “chegou a hora de nós mesmos”. Através de narrativas compreenderemos como os Griôs - contadores de histórias da região do Mali, em África - construíram mecanismos de educação nas Áfricas antes da colonização, e depois, com a diáspora africana, ressignificaram seus papéis em diversos lugares, com práticas nas danças, nas músicas, na forma de educar através das artes, que objetivavam falar de uma ancestralidade africana. Como essas histórias foram ressignificadas e promoveram espaços de luta anti-racista no Brasil e em seus lugares e experiências diversas? Como essas populações estabelecem formas de auto-inscrição? Pelos caminhos dos griôs em África será possível observar o debate em torno da questão da violência colonial e as diversas identificações que construíram para resistir ao colonialismo, com suas memórias. (ST02)

Muhana Mustapha Bon Nassif (Graduada) O ensino de História e o uso de diferentes linguagens: um estudo da temática do negro e da abolição da escravidão no Brasil sob novas abordagens A abordagem tradicional empregada no ensino de História, baseada na memorização de fatos e datas, deteriorou-se com o passar do tempo e perdeu o sentido nos dias de hoje, encontrando-se extremamente ultrapassada. Isto porque a História, muito além de ser decorada, deve ser compreendida, promovendo reflexões no estudante, quer enquanto indivíduo,quer enquanto cidadão. Nessa perspectiva, o uso de novas linguagens, torna-se uma das possibilidades para auxiliar na questão por ser um instrumento eficaz, na medida em que propicia aulas mais atrativas e permite maior aproximação com a realidade do jovem, estimulando-o a refletir e a desenvolver o seu senso crítico. Nesse sentido, considerar-se-á a temática do negro somada à abolição da escravidão no Brasil, não só pela afinidade com o tema, mas por serem questões interligadas e ainda em pauta na história brasileira, contendo, por sua vez, algumas lacunas. O presente trabalho, portanto, visa analisar e problematizar a abordagem contida nos livros didáticos sobre a abolição da escravidão e a questão do negro no Brasil, incorporando linguagens alternativas na prática docente a ser desenvolvida em sala de aula com alunos do Ensino Fundamental II. Objetivando, desse modo, desconstruir a ideia preconcebida acerca do tema proposto e apresentar novas possibilidades pedagógicas para o ensino de História. (ST23)

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Munir Abboud Pompeo De Camargo (Mestrando) O edifício escolar e o ideário republicano durante a segunda metade do século XIX em Campinas: grupos, projetos e ideias A pesquisa insere-se no campo da História da Educação com enfoque nas edificações das instituições de ensino no final do século XIX no Brasil. Procura-se compreender as discussões a respeito da educação no período, na cidade de Campinas, um dos palcos do movimento republicano, tendo como foco os ideais dos intelectuais republicanos que propuseram a construção dos edifícios escolares, levando em conta os projetos pedagógicos e arquitetônicos compatíveis ao pensamento político educacional da época. Dessa forma serão pensadas as questões relacionadas às concepções de educação que os grupos republicanos possuíam, essas vinculadas à ideais liberais vindos principalmente dos EUA, em especial dos presbiterianos da Pensilvânia. Além de concepções belgas vindas por parte do engenheiro Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Nessas discussões do período um dos pontos pensados era o de um projeto concebido nas bases da racionalidade científica, isso incluía a própria ideia de espaço, sendo criadas novas concepções arquitetônicas, e o desenvolvimento do edifício-escola, surgia uma especialização dos espaços vinculada as próprias ideias educacionais, moldando assim uma identidade para a escola. Ocorreram diversas apropriações por parte dos republicanos em relação às ideias pedagógicas em voga no período, estes reinterpretando e utilizando-se dessas concepções. É então realizado um movimento para a compreensão das tensões relacionadas às concepções dos edifícios educacionais, sua implantação e posteriormente a propagação do prédio quanto discurso. Uma vez que o edifício-escola é pensado como possuidor de função no meio inserido, sendo utilizado de diversas formas, apresentando assim uma comunicação e sua utilização gerada como um produto cultural. Assim, as discussões dirigem-se desde as concepções de escolas e educação no núcleo republicano campineiro, desenvolvendo-se para os escritórios de arquitetura e engenharia e a materialização no espaço unida com as repercussões finais. (ST29) Nadia Gaiofatto Gonçalves (Pós-doutora/UFPR) História do ensino de história: produção acadêmica em periódicos brasileiros (1970-2014) O objetivo deste trabalho é discutir como a produção acadêmica publicada em periódicos nacionais, no período de 1970 a 2014, abordou a História do Ensino de História. Para isto, foi realizada pesquisa do tipo estado da arte em 95 periódicos nacionais classificados no Qualis CAPES entre A1 e B3, das áreas de Educação, História e Ensino, com objeto que voltado especificamente ao Ensino de História. Como referenciais, foram utilizadas as contribuições de Pierre Bourdieu, principalmente os conceitos de habitus e de campo, no caso, intelectual; e de Roger Chartier, de lutas de representações. Foram identificados 133 artigos sobre o tema, mais concentrados no século XXI. Dentre os temas mais abordados nestes trabalhos, destacam-se recursos didáticos, história da disciplina e conteúdos específicos da disciplina escolar história. (ST05) Nashla Dahás (Doutora/UFSC) Violência e Política na estrutura discursiva das esquerdas brasileiras entre as décadas de 1960 e 70 O trabalho pretende analisar as estruturas discursivas que marcaram a relação entre violência e política no seio das esquerdas brasileiras nas décadas de 1960 e 70. Consideramos que, naquele período, o impasse entre reforma e revolução envolveu diferentes perspectivas acerca da violência como instrumento político, gerando uma memória errática e fragmentada, construída em grande parte pelos próprios agentes históricos, com destaque para os movimentos estudantis. Para compreender a construção dessas memórias e, ainda, suas formas de atuação política no tempo presente,

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nos serviremos de um encaminhamento teórico que inclui as reflexões de Hannah Arendt sobre desobediência civil e violência, o conceito Foucaultiano de discurso e sua crítica ao pensamento político tradicional. (ST42) Natália Cristina Batista (Doutoranda) História e memória: a invasão da UNE sob o olhar artístico-político de João das Neves O artigo tem como objetivo articular história e memória na peça O quintal, escrita pelo diretor e dramaturgo João das Neves, em 1977. O autor problematizou em seu texto o golpe militar de 1964 e a atuação de três importantes pólos da esquerda nesse período: o CPC, o PCB e a UNE. O enredo trata do momento em que o Teatro CPC-UNE foi invadido, no dia seguinte ao golpe militar. O autor se encontrava na sede da instituição e procurou registrar, através da obra citada, suas impressões sobre o evento. De 1961 a 1964, o CPC do Rio de Janeiro realizava seus trabalhos na sede da UNE, na Praia do Flamengo, 132. No mês de abril de 1964, o Centro Popular de Cultura realizaria um sonho antigo: a inauguração do Teatro CPC-UNE, com sede na mesma instituição. A inauguração do teatro seria feita com a estréia da peça Os Azeredos Mais Os Benevides, de Oduvaldo Viana Filho. No entanto, no dia primeiro de abril de 1964, o Teatro CPC, assim como toda a sede da UNE, foi invadido por grupos de direita, principalmente lacerdistas, que saquearam e incendiaram o espaço. Um dos interesses deste artigo é perceber as reflexões autobiográficas e históricas contidas no texto “O quintal”, assim como articular história, memória e ficção a partir das referências construídas em torno da UNE e da resistência estudantil. Visando apreender a multiplicidade de entrecruzamentos e fontes, optou-se por investigar três temporalidades: 1964, 1977 e 2013. Estes eixos temporais permitem compreender o próprio texto, o contexto de produção e ressignificação da obra no fluir do tempo. A primeira temporalidade proposta refere-se ao espaço-tempo contextual em que a peça se passa. Em um primeiro momento, interessou-nos perceber as relações entre a política, o movimento estudantil e o campo artístico no período anterior ao golpe, assim como as aproximações entre o PCB, UNE e CPC, a posição dessas instituições diante do golpe civil-militar de 1964 e a desilusão da esquerda diante de uma grande modificação de seu horizonte de expectativa. A segunda temporalidade trata do contexto de produção da peça, no momento que o autor escreveu a cena curta, em 1977. Objetiva-se discutir a necessidade de encontrar os “responsáveis” pelo golpe civil-militar de 1964, a memória construída em torno da juventude, assim como a visão pessoal do autor sobre esses acontecimentos, que, em alguma medida, ser percebidos em seu texto. O terceiro marco diz respeito ao contexto de produção das entrevistas a partir da metodologia da História Oral, realizadas com João das Neves durante o ano de 2013. Buscar-se-á compreender como João das Neves, enquanto sujeito histórico, refaz sua narrativa do passado, assim como sua percepção sobre a produção artística, o movimento estudantil, assim como o próprio contexto ditatorial brasileiro. (ST42) Natália Cristina Sganzella De Araujo (Doutoranda) Currículo de Sociologia e Gênero: uma análise do material didático de Sociologia para Ensino Médio da Rede Pública de Educação de São Paulo O presente artigo tem como objetivo analisar a forma como os conceitos de gênero e sexualidade são apresentados no Currículo Oficial de Sociologia para Ensino Médio, oferecido pela Rede Estadual de Educação de São Paulo. A partir da contribuição de Joan Scott (1995) compreende-se a leitura de gênero, como categoria relacional na qual as concepções de masculino e feminino se tratam de posições construídas socialmente ao redor do sistema de sexo-gênero, criando uma teia complexa de significados e interesses econômicos, políticos, linguísticos e culturais. Ao propor esse método de análise conceitual do material didático busca-se pensar que o gênero é uma forma primeira de

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relação de poder e que não deve ser estudada apenas como história das mulheres ou de temas relacionados à sexualidade, família, crianças, mas como uma categoria analítica útil para compreender as relações de poder ao longo da História. A análise da proposta contida no material didático de Sociologia apresenta o tema de gênero e sexualidade inserido em três eixos principais de discussão - a diferenciação de gênero, como um elemento da estratificação social e a organização social (Volume Dois, 1º ano do Ensino Médio); violência contra mulher (Volume Dois 2º ano do Ensino Médio) e enquanto situação política ao tratar do movimento feminista e LGBTT (Volume Um, 3º ano do Ensino Médio). A pesquisa em desenvolvimento terá como natureza metodológica a análise dos documentos oficiais produzidos pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para a formação do Currículo de Sociologia e sobre relações sociais de gênero. Em um segundo momento, será realizado a pesquisa de campo, onde será feito entrevista abertas e observação com as equipes organizadoras do material de Sociologia e também com os técnicos educacionais responsáveis pela formação dos agentes multiplicadores, como professores coordenadores dos núcleos pedagógicos (PCNPs) de Sociologia. A análise do material didático revelou, de modo preliminar, os temas gênero e sexualidade são tratados, seja na forma de apresentação dos conteúdos ou em sua problematização conceitual, negligenciam experiências subjetivas seja no campo das identidades de gênero como na esfera da sexualidade. Há um ocultamento dos temas de sexualidade, uma marginalidade no que se refere a questões dos direitos e dilemas LGBTT que serão abordados ao longo desse texto. (ST25) Natália Dorini De Oliveira (Mestranda) História e memória da práxis associativista na Unesp - concepções políticas, ideológicas e sociais (1976-1984) A pesquisa tem por objetivo resgatar a história da Associação dos Docentes da UNESP (ADUNESP) enquanto movimento político de resistência ao regime militar e espaço de construção democrática dentro da universidade. A história da Associação dos Docentes da UNESP (ADUNESP) mistura-se com a própria história da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), criada pelo governador do estado de São Paulo, Paulo Egydio Martins, pelo decreto 952 em 30 de janeiro de 1976. Tanto a universidade quanto a associação dos docentes, surgem sob o signo da repressão e do medo, sem democracia interna, sendo reproduzido em seu meio aquilo que a sociedade brasileira vivia, a ditadura militar (1964-1985). Em 05 de junho de 1976, contando com trinta e cinco professores, foi fundada a Associação de Docentes da UNESP, primeira associação deste tipo criada após o golpe de 1964. A associação buscou promover espaços de debates e de denúncias das ações antidemocráticas dentro da universidade, estabelecendo-se como um espaço de resistência e luta pela democracia. Os embates foram muitos, pois o primeiro reitor, Luiz Ferreira Martins, não reconheceria a associação, alegando que haveria disparidades entre o estatuto da associação e o da universidade, o Conselho Nacional de Educação também negou-se a protocolar a documentação que comprovaria a existência legal da associação. Os processos dentro da universidade foram levados de forma autoritária e antidemocrática e em entrevista para a revista comemorativa pelos vinte anos da associação, Martins reafirma suas posições e diz que faria tudo de novo. Assim, buscaremos resgatar a história desta associação, que resistiu aos desmandos do Estado, buscando construir um espaço democrático e acessível. (ST42)

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Nathalia Fernandes Vieira (Mestranda) Programa “São Paulo Faz Escola”: uma discussão sobre os fundamentos teórico-metodológicos da bibliografia acerca do Currículo do Estado de São Paulo O texto apresenta um levantamento dos trabalhos acadêmicos desenvolvidos nos últimos anos sobre o Programa “São Paulo Faz Escola”. O levantamento bibliográfico foi realizado a partir da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações e do Google Acadêmico utilizando-se das palavras “são paulo faz escola” e “currículo são paulo” para a busca. Diversos trabalhos foram encontrados e selecionados pelo critério de serem da área de História ou Educação. Foram selecionados, então, onze trabalhos para análise, em sua maioria teses e dissertações, além de três artigos científicos. Os elementos analisados foram: Objeto/Recorte Temporal, Problema, Metodologia/Referências e Resultados/Conclusões. A hipótese da pesquisa foi de que as análises existentes adotam uma pluralidade de perspectivas teóricas, no entanto, em que pese à diversidade de perspectivas, os trabalhos apresentam críticas severas ao documento da SEE. A maioria dos autores utiliza-se de alguma forma do viés marxista, colocando o currículo como instrumento de poder e de hegemonização cultural, o que explica a relação entre as reformas educacionais e as reformas neoliberais do Estado. Uma constante em todo o levantamento foi a rígida crítica ao programa em questão, tanto seu caráter de projeto político, como seu processo de elaboração, seu documento curricular, seus materiais didáticos e sua implantação. (ST05 ) Nathalia Theophilo Lobato (Mestranda) Osvaldo Bruno Meca Santos Da Silva (Mestrando) Mappin Stores - Os Ecos do Consumo na Sociedade Paulistana Discutiremos o papel da loja de departamento Mappin no fomento da sociedade de consumo paulistana. Sua importância parece óbvia já que se trata da primeira loja de departamento aberta na cidade de São Paulo, há quase um século, 1913. No entanto, pouco se escreveu sobre o assunto e nestas oportunidades frisou-se que a loja aqui estabelecida diferenciava-se de suas congêneres pelo fato de ter-se mantido, paradoxalmente, uma loja para as elites, em pleno século XX, o que parecia subverter a própria lógica das lojas de departamento. Tratar-se-ia de um fenômeno típico paulistano, cujo comércio não teria conseguido até então expandir-se a ponto de promover o hábito do consumo em outros segmentos sociais. Tal hipótese baseou-se em depoimentos eventuais de antigos frequentadores, que relataram só frequentar a loja em tempos de liquidação, e também na constatação de que os preços praticados eram altos. Sustentamos, no entanto, que a loja Mappin teve um impacto muito mais amplo do que inicialmente se supôs. Pretendemos demonstrar, ainda que em breves linhas, como a estrutura social paulistana já apresentava desde finais do século XIX uma notável diversidade no que identificamos como segmentos médios, ávidos por ostentar as marcas de sua ascensão social e que encontraram na propriedade de uma casa um de seus maiores signos de distinção. Consideramos ainda a estrutura familiar típica paulistana que, ao contrário do que se imaginava, afastou-se dos modelos de família extensa. Para famílias nucleares que pouco cultivaram a transmissão cotidiana da cultura de seus ancestrais, a publicidade teria preenchido, mais cedo do que supúnhamos, funções pedagógicas importantes. Uma dessas lições foi ensinar à mulher como esta poderia, por meio de sua exibição corporal e de sua atuação no espaço doméstico, constituir formas materiais de produção de uma nova identidade, moderna e urbana. Discutiremos ainda como o Mappin praticou seus preços, desenvolveu narrativas publicitárias e incentivou práticas complexas de convívio. A loja sedimentou e expandiu vivências com artefatos domésticos e de uso pessoal (roupas e acessórios) que se iniciaram no século XIX em São Paulo. (ST10)

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Nelson Tomelin Junior (Doutor/UFAM) Trabalho e contradição em fatos (su)rreais, ma non troppo: a narrativa da justiça em processos trabalhistas e a luta dos trabalhadores por seus direitos e memória (Itacoatiara, 1973/1980). A presente pesquisa reflete sobre a realidade social do trabalho a partir da problematização de processos trabalhistas produzidos nos anos de 1973 a 1980 na Junta de Conciliação e Julgamento de Itacoatiara, no interior do estado do Amazonas. Lemos a contrapelo nessas narrativas, a resistência, mesmo em ocultamentos da fala dos trabalhadores, que por suas demandas iniciais evidenciam a aposta no futuro como trama processual que tecem em nome próprio, a partir de reais utopias e saberes, opondo obstáculos à divisão da sociedade em classes. Evidenciamos no período a luta pelo direito ao trabalho, em reclamações referentes ao pagamento de horas extras noturnas, de diferença salarial, de gratificação natalina, do FGTS, do registro em carteira, do gozo das férias, pela saúde, num conjunto de reivindicações que, por anotações sumárias nesses processos, exigem reflexão e crítica, quando eventualmente arquivados pelo não comparecimento dos interessados nas audiências, ou conciliações por valores irrisórios. Por essas fontes sabemos ainda de capatazes em unidades produtivas, violências contra gestantes, kafkanianas sustentações pela “justa causa”, suspensões punitivas, expropriação do tempo do trabalhador, inclusive do direito ao descanso semanal, em que a mais das vezes denúncias dos trabalhadores restam sem desdobramentos legais. Compõem esses processos fotografias de locais de trabalho, registros de deslocamentos evidenciando o difícil cotidiano das formas de trabalho na região, laudos médicos, o trabalho infantil, crianças eventualmente nascidas no isolamento de empreitadas seringalistas, o funcionamento da prática do “barracão”, com o endividamento dos trabalhadores, na formação de uma cidade-latifúndio dividida em bairros de produção. São dimensões da ditadura civil-militar brasileira que surgem nessa documentação, bem como perspectivas das lutas de homens, mulheres e crianças que resistiram na Amazônia ao golpe de 1964, permanecendo daqueles esforços “conciliatórios” a memória preponderante de inconciliáveis contradições, dando historicidade para o que naquele momento se pretendeu como justiça do trabalho. (ST16) Odair Da Cruz Paiva (Pós-doutor/UNIFESP) Imigração musealizada: museus da imigração japonesa no Estado de São Paulo Os primeiros museus de imigração no Estado de São Paulo surgem no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, período de mudança no perfil dos grupos estabelecidos no país. A criação de lugares para a preservação da memória das correntes imigratórias tradicionais – estabelecidas a partir do final do século XIX –materializou-se, dentre outras formas, na produção de museus. Estas instituições servem como espaços que fixam a memória e a presença destes sujeitos na paisagem, especialmente em realidades marcadas por transformações econômicas e culturais intensas. No momento em que a presença imigrante deixa de ser inconteste, criam-se condições para o surgimento dos museus. Para além da profusão de museus voltados a nacionalidades ou etnias específicas como os japoneses, italianos, holandeses, estadunidenses, letos, etc., alguns destes grupos construíram vários destes espaços, produzindo, em decorrência, formas variadas para a representação de sua memória. Apresento neste Encontro reflexão que faz comparação entre três museus de imigração da comunidade japonesa. Situados nos municípios de São Paulo, Registro e Pereira Barreto, estes possuem discursos expositivos que revelam formas variáveis na produção da memória do grupo. Do museu que busca a materialização de todos os aspectos que cercam a imigração e presença dos japoneses no Brasil, como é o caso do museu da capital paulista, passando pelo registro de dinâmicas e memórias locais, os museus da imigração japonesa são territórios importantes para compreendermos a produção de patrimônios culturais na atualidade. Esta reflexão faz

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parte de um projeto mais amplo que, ao analisar onze museus de imigração em São Paulo, dialoga com questões como o patrimônio cultural e a problemática das identidades coletivas. (ST18) Olga Brites (Doutora/PUC-SP) A menoridade penal na década de 1970 e a luta pela redemocratização a partir da atuação do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco Os debates sobre a redução da maioridade penal tem uma longa história no Brasil do século XX. Em diversos momentos o tema foi tratado pelo Parlamento, representado em projetos de lei. No final da década de 1970, em especial, foram apresentados projetos defendendo o tema, a justificativa: combater o aumento da percepção da violência urbana, supostamente resultante da atuação de crianças e adolescentes dos setores populares nas grandes cidades, o que era chamado de “problema do menor”. Reagindo à ditadura militar, lutando pela redemocratização e pelo fim do autoritarismo, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Osasco (CDDHO), encabeçou mobilizações de setores organizados e populares para confrontar as propostas de redução da maioridade penal. Nessa pesquisa nos propomos analisar a atuação do CDDHO na mobilização de setores populares e defensores dos direitos das crianças e adolescentes contra projetos de lei que visavam criminalizar a infância brasileira, nos anos finais dos anos 1970. Para isso revisamos fontes primárias do CDDHO (inéditas), da Câmara dos Deputados, recortes jornalísticos e textos legais. (ST01) Ozeas De Oliveira (Mestre) “Mostre-me os vossos dentes e eu direi o grau de civilização que tens”: corpos saudáveis e comportamentos civilizados (Mato Grosso, 1930-1945) Este artigo procura tratar de algumas questões que entrelaçam saúde e educação, levantadas durante a realização da pesquisa de mestrado (OLIVEIRA, 2013), que analisou as representações da infância na mídia impressa em Mato Grosso, nos anos de 1930 a 1945, sob o tripé família, educação e saúde. Na pesquisa realizada, é possível perceber indícios da ação do discurso médico-odontológico agindo sobre o saber pedagógico para a constituição de cidadãos modernos e civilizados. Desse modo, esse texto tem a intenção de dialogar, em nível nacional, com estudos que estão sendo produzidos e que procuram problematizar a relação entre discurso médico-odontológico e saber pedagógico. Por outro lado, procura dar continuidade à pesquisa sobre a história e a educação da infância em Mato Grosso, principalmente por meio da mídia impressa. Visamos, assim, contribuir com o debate que compreende a relação entre saber médico e saber pedagógico, haja vista que a preocupação com a higiene infantil ocupou espaço na sociedade brasileira desde o final dos séculos XIX e XX. Isto posto, busca-se investigar as especificidades desses discursos no espaço geográfico mato-grossense entre os anos de 1930 a 1945, que aproximaram saber médico e educacional. É a partir das observações de OLIVEIRA (2012;2014), que assinalam a necessidade da história da saúde bucal e da odontologia no Brasil ser escrita, contada, lida e cartografada, que esse artigo tem por objetivo estabelecer a articulação entre o discurso médico-odontológico e o educacional, problematizando os discursos proferidos pelos cirurgiões-dentistas Theodorico Corrêa, Durval Gomes Monteiro e Agrícola Paes de Barros. Tais discursos, difundidos pela mídia impressa, sensibilizaram a sociedade mato-grossense sobre as necessidades de hábitos de higiene e comportamentos considerados saudáveis e imprescindíveis à modelagem do novo homem. Entendemos que tais discursos estavam em consonância com os ideais e aspirações do Governo Vargas ao instituir, a partir de 1930, uma política nacional de construção do novo homem brasileiro, desenvolvimento da nação e fortalecimento do Estado. (ST01)

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Pablo Emanuel Romero Almada (Doutor/UEL) Resistência e Repressão: Movimento Estudantil e Ações Coletivas no Contexto Ditatorial de Brasil e Portugal Os movimentos estudantis foram atores protagonistas na contestação de regimes autoritários nas décadas de 1960 e 1970 de vários países, com ações que resultaram em confrontos com os governos. Destaca-se que tais mobilizações incorreram por conta de diferentes concepções, das organizações estudantis e das autoridades governamentais em torno das reformas universitárias, contrastando distintas concepções de transformação ou de manutenção das estruturas sociais vigentes. O artigo procura compreender estas diferenças, apresentando, no sentido de uma sociologia histórica comparada, os desenvolvimentos das ações coletivas ocorridas durante a Ditadura Militar do Brasil (1964-1985) e ao final do Estado Novo de Portugal (1962-1974), para compreender as características dos principais momentos, em contextos bastante diferentes, em que a violência e a repressão policial foram utilizadas como método de mediação política. Ressalta-se que, nas duas ditaduras, a resistência estudantil se articulou perante questões referentes às reformas universitárias, gerando, a partir desse elemento aglutinador, maior amplitude à oposição política, o que permite contextualizar a contribuição desses conflitos para as transições democráticas em nível macro-sociológico. (ST42) Pamela Cristina Da Penha (Mestranda) Revista Grande Hotel: diálogos com o feminismo (1970 – 1982) O objeto de estudo desta pesquisa é as mudanças pelas quais passou a revista Grande Hotel, a partir da efervescência das pautas do movimento feminista no Brasil nos anos 1970. O ponto central desta pesquisa está na análise e discussão acerca de como revistas femininas, constantemente criticadas pelos movimentos feministas constituíram de suma importância na quebra dos paradigmas ao se apropriarem das pautas feministas, trazendo-as a tona, para fora de debates acadêmicos e políticos. Transformando em mercadorias as ideias revolucionárias do feminismo, estas revistas permitiram que mulheres fora da academia e alheias a debates políticos tivessem contato com discussões acerca da sexualidade feminina, da igualdade entre homens e mulheres, dos direitos das mulheres. Embora de forma sutil pois ainda estavam permeadas pelo conservadorismo e ligadas à lógica do mercado, muitas revistas femininas adaptaram sua forma de escrever e produzir ao seu público leitor, acompanhando as transformações que estavam ocorrendo provocadas pelos movimentos sociais, como expresso no pensamento de Williams, a imprensa estava inserida na experiência ativa desse processo dinâmico de transformação social. Como ressaltado por Cruz e Peixoto, a imprensa como fonte não pode ter descaracterizada suas especificidades e sim buscar compreende-las, principalmente sua relação conteúdo/sociedade. A imprensa voltada ao público feminino além de retratar o período na qual foi produzida ainda permite analisar qual o papel designado à mulherdiante da sociedade na qual estava inserida. Ainda como referência, estas autoras pontuam que é necessário ao trabalhar com a imprensa como fonte compreender suas particularidades, suas relações imprensa/sociedade, pois, a imprensa assume projetos e também busca atender as necessidades mercadológicas. Não há expectativas ou pretensões em elencar a revista Grande Hotel como porta voz do movimento feminista no Brasil, mas sim demonstrar como este conteúdo esteve presente em suas páginas, diluído em entrevistas com astros da televisão brasileira, nas cartas dos leitores ou ainda representados nas personagens das histórias das fotonovelas. Para embasar o alcance de público da revista, esta pesquisa compõe-se da análise de seu editorial, a partir da quantidade de exemplares circulantes e principalmente toma-se como referência duas pesquisas que trabalham diretamente com a receptividade do público, a obra de Éclea Bosi e a tese de doutorado de Isabel Sampaio as quais a partir de

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relatos de leitoras e leitores de revistas de fotonovelas, elucidam como entre outras, a Grande Hotel era recebida pelo seu público. (ST25) Pâmela Torres Michelette (Doutoranda) IV Concílio de Toledo (633) e a construção de um conceito de monarquia visigoda Nesta apresentação analisaremos IV Concílio de Toledo (633) que ocorreu no reino visigodo no reinado de Sisenando (631-636) e que foi organizado pelo bispo Isidoro de Sevilha. Com o propósito de percebermos: a participação da Monarquia nesta assembleia conciliar; a importância que ela teve tanto para a elaboração de um conceito de Monarquia católica como suas estruturas e, também, o fortalecimento que deu para a mesma, para a Igreja e seus prelados e, por fim, a efetiva participação de Isidoro de Sevilha e suas contribuições para com o poder régio. (ST38) Paola Lili Lucena (Mestre) Representações de Gênero e Família nas páginas do jornal Lar Católico Os órgãos de imprensa participam dos processos de construção e reprodução de discursos sobre as relações de gênero. Assim, contribuem para a consolidação de representações acerca do papel feminino no âmbito da família e da sociedade. A Igreja católica, ciente desse poder exercido pela imprensa, durante todo o século XX, buscou criar jornais e rádios e canais de televisão de modo a dinamizar o exercício da evangelização e promover a disseminação de suas ideologias no tocante à família e ao comportamento feminino. Dentro dessa lógica se encontra o periódico mineiro Lar Católico. Criado em 1919 pela Congregação do Verbo Divino, esse periódico circulou até 1986, em Juiz de Fora. Ao longo desse período, as transformações nas relações familiares e no comportamento sexual, produziram impacto no discurso do jornal sobre a família e as mulheres. Nota-se que a estratégia do jornal ora esteve vinculada à defesa da manutenção de uma percepção tradicional das relações familiares e de gênero, ora à problematização do papel da mulher na sociedade e no contexto familiar. Para evidenciar essas estratégias do jornal, foi estabelecido um recorte temporal que privilegia os últimos anos de sua circulação. Portanto, esse artigo enfocará as estratégias discursivas adotadas pelo Lar Católico, no que concerne à normatização das relações familiares e de gênero, entre 1956 e 1986. (ST34) Patrícia Antunes Serieiro Silva (Doutoranda) A polêmica anti-herética em Moneta de Cremona: estratégias heresiológicas de refutação na Summa Adversus Catharos et Valdenses Os dominicanos foram os principais atores da polêmica anti-herética medieval. O comprometimento com as funções inquisitoriais, em 1233, a pedido do papa Gregório IX (1144-1241), exigiu dos membros da Ordem dos Pregadores a necessidade de suportes textuais de identificação e refutação das crenças heréticas, de aprofundamento de pontos teológicos controversos, bem como de subsídios que justificassem e autorizassem as ações nem sempre bem vistas dos inquisidores. Dentre os escritos da polêmica anti-herética dominicana destaca-se a Summa Adversus Catharos et Valdenses, composta entre os anos de 1235-1244, pelo frade pregador e, supostamente, inquisidor, Moneta de Cremona. Trata-se, na verdade, de um tratado heresiológico, um tipo de gênero literário, inaugurado por Justino (100-165), cuja finalidade é mostrar a falsidade e a perversão das crenças heréticas, por meio da exposição e da objeção de suas crenças e práticas. Como a maior parte dos documentos anti-heréticos do século XIII, a Summa de Moneta visa combater os dois principais grupos heréticos daquele tempo: os Cátaros e, numa escala bem menor, os Valdenses. Esta comunicação, parte da pesquisa de doutorado em andamento, tem como objetivo analisar algumas estratégias heresiológicas de refutação

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recorridas pelo frade no Livro V do tratado. Percebeu-se grande influência dos modelos refutatórios da heresiologia antiga na Summa do dominicano. (ST38) Patricia Cerqueira Dos Santos (Mestre) História e Cultura Indígena na escola regular: por que e para quem ensinamos? Em 10 de Março de 2008 foi sancionada a Lei 11.645, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena na educação básica. A tomada de conhecimento sobre a redefinição da Base Curricular Comum para a disciplina escolar de história, o debate a favor e contra a inclusão de estudos sobre esses grupos sociais, as possibilidades de releituras da atuação e protagonismo de sujeitos históricos oriundos desses etnias e a elaboração de uma nova orientação ou proposta curricular para a rede de ensino da cidade de São Paulo, parece clamar pela participação da/o professora/o na discussão sobre currículo e diversidade. A apresentação de um projeto didático que teve como público alvo estudantes do 6o ano do ensino fundamental, ciclo interdisciplinar, de uma escola municipal no extremo sul da zona sul da cidade de São Paulo sobre a história e a cultura dos Guarani Mbya – Aldeia Krukutu - na Cidade de São Paulo, pretende contribuir no processo de questionar e responder sobre como tem sido o desenvolvimento efetivo de atividades cotidianas em sala de aula com esta temática na disciplina escolar de história, bem como, sobre o lugar que o ensino da história e cultura indígena na escola regular ocupa, “por que e para quem” deve servir. O trabalho da professora na mobilização dos recursos necessários, a experiência vivida e compartilhada pelos estudantes na preparação para a ida à aldeia, no encontro com os Guaranis, a participação das famílias dos estudantes e de outros profissionais na escola para realização do projeto constituem-se como elementos importantíssimos na análise das demandas sobre currículo, formação e prática docente e cultura escolar (ST05)

Patrícia Lessa (Pós-doutora/UEM) Práticas de resistência e poéticas lesbianas nas obras de Karin Schwarz e Alma López Essa proposta visa estudar as poéticas visuais de artistas latino-americanas abordando as relações estabelecidas entre a produção artística contemporânea e a teoria feminista libertária. O objetivo central é analisar algumas obras caracterizadas como arte visual e arte gráfica para pensar as relações entre política, religião, ativismo e arte. O feminismo libertário ajuda a pensar as figurações plurais do humano e os modos de subjetivação que resistem as normatizações através do ativismo social e das experimentações artísticas. Serão foco de nossas analises as artistas: Alma lópes e Karin Schwarz. (ST45) Paula Carolina De Andrade Carvalho (Mestranda) “Going Native”: Islã e alteridade em Personal Narrative of a Pilgrimage to Al-Madinah & Meccah, de Richard Francis Burton A proposta inicial desta pesquisa propõe examinar as representações de muçulmanos que aparecem no livro "Personal Narrative of a Pilgrimage to Al-Madinah & Meccah", de Richard Francis Burton (1855-57), principalmente a partir da dicotomia entre o que é considerado “civilizado” – ideia aqui associada ao imperialismo inglês – e “bárbaro” – que neste estudo assume a forma do Islã. Nesse relato de viagem, Burton escreve como realizou a peregrinação, o "hajj", às cidades sagradas do Islã de Meca e Medina sob o disfarce do personagem muçulmano Shaykh Abdullah, uma vez que a visita às cidades sagradas do Islã é proibida a não seguidores da religião islâmica. Assim, o explorador procurou viver como um muçulmano por seis meses, passando por cidades do Egito e da Península Arábica para chegar a Meca e Medina. Na narrativa, o Islã e outros aspectos culturais tidos como “orientais” servem para Burton refletir sobre o suposto universalismo da civilização britânica; ao mesmo tempo, contudo, ele procura reafirmar o protagonismo da Inglaterra na empresa colonialista. Este projeto trata, portanto, sobre

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a representação do “outro” islâmico no século XIX, além de refletir sobre a própria representação que Burton faz de si mesmo como o outro no papel de Shaykh Abdullah. Além de existirem poucos estudos no Brasil sobre a obra de Burton, consideramos que esta pesquisa traz uma contribuição importante para os estudos de história contemporânea, ainda mais em um momento em que persiste o estranhamento entre os chamados Oriente e Ocidente, principalmente quando esse Oriente é representando pelo mundo islâmico, retratado como “bárbaro” diante dos “civilizados” ocidentais. A forma como Burton lidou com o contato com o “outro” também pode auxiliar a pensar sobre a relação da sociedade ocidental com grupos considerados “diferentes”, e até que ponto chegam essas diferenças. (ST47) Paula Da Silva Ramos (Doutoranda) Nueva Revista de Buenos Aires: integração regional e transnacional (1881-1885) Ao definir sua linha de atuação no cenário político e cultural argentino nos anos 1880, a Nueva Revista de Buenos Aires se posicionou frente a temas prementes. Trataremos nesta comunicação da integração do país em um sentido mais amplo e das relações com as demais nações latino-americanas. O primeiro debate traz consigo a reflexão acerca dos conflitos de interesses entre Buenos Aires e as províncias do interior, que permearam a cena política argentina ao longo do século XIX e que continuavam reverberando na argumentação do periódico sobre as políticas culturais do país. O segundo discute a atuação bem sucedida do mensário no tocante aos intercâmbios culturais no continente, sobretudo com o Brasil, que teve como principal elo o romancista Franklin Távora. (ST32) Paulo Eduardo Teixeira (Doutor/UNESP) Adultério e machismo no discurso popular do século XIX. Utilizando dois Autos de Querela envolvendo casos de adultério registrados em Campinas, no ano de 1830, queremos destacar as redes de amizade e solidariedade que se apresentaram nos referidos processos entre os autores e os réus. As relações de poder entre homens e mulheres foram expostas de maneira clara durante os processos, principalmente porque o adultério “era considerado como falta grave para ambos os sexos”, conforme atestou Samara em seu estudo sobre As mulheres, o poder e a família. Enfim, os depoimentos das testemunhas serviram para entender as representações do poder estabelecidos no dia-a-dia da população, e que “nem sempre estão inseridas em sistemas ideológicos e de moral que servem de controle da ordem social estabelecida.” (ST25) Paulo Gustavo Da Encarnação (Doutor) Cabeludos e guedelhudos: o rock e o roqueiro na imprensa brasileira e portuguesa Esta comunicação é resultado de reflexões realizadas durante nossa pesquisa de doutorado intitulada “Rock cá, rock lá: a produção roqueira no Brasil e em Portugal na imprensa – 1970/1985”. Objetivamos apresentar, pontualmente, a partir de um caso noticiado na imprensa que envolveu os Beatles e os governos do general-presidente Castelo Branco e do ditador António Salazar, em meados dos anos 1960, algumas considerações acerca da imagem e do estereótipo do roqueiro, sobretudo, a respeito da figura do guedelhudo e do roqueiro na imprensa brasileira e portuguesa. A imagem do roqueiro durante os anos 1960 e 1970 foi muito marcada, moldada e, mesmo, estereotipada a partir das referências dos Beatles, das bandas do hard rock, do rock psicodélico ou do rock progressivo, além de associações com comportamentos da contracultura/movimento hippie. A partir do final da década de 1970 e durante os anos 80, outros atributos foram somados à imagem e ao estereótipo em decorrência da popularização, em diversas partes do mundo, do heavy metal e do punk rock, inclusive

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muitos deles se mantendo até os dias atuais no senso comum sobre o rock e o roqueiro. Assim, esta comunicação objetiva refletir histórica e pontualmente a associação e incorporação da imagem do roqueiro e do guedelhudo como uma construção que envolveu visões e apreciações de roqueiros, agentes culturais e midiáticos, sobretudo, noticiadas na imprensa. (ST26) Paulo Henrique Martinez (Livre-docente/UNESP) História ambiental do petróleo: diretrizes para uma exposição museológica A comunicação apresenta as diretrizes estabelecidas para a montagem de uma exposição museológica sobre a história ambiental do petróleo no Brasil. São examinados os procedimentos da pesquisa e da seleção de objetos, imagens e registros sonoros integrantes de três módulos temáticos: geodiversidade e geopolítica do petróleo; indústria petrolífera e meio ambiente no Brasil; biodiversidade marinha e unidades de conservação na zona costeira de São Paulo. Os elementos que compõem os referidos módulos foram definidos em vista das possibilidades de ação educativa junto a escolas do Ensino Fundamental e Médio e do curso de Graduação em História. (ST37) Paulo Rodrigues De Andrade (Pós-graduando) “Possão tranquillas ocupar-se nos seus serviços”: os trabalhadores brasileiros, a ferrovia e a guerra O texto aborda a fuga de trabalhadores brasileiros do recrutamento para o Exército e da designação para a Guarda Nacional durante a Guerra do Paraguai, para as obras de construção da São Paulo Railway (SPR), que ocorreu durante os anos de 1860-1867. Por outro lado, trata também da "caçada humana" no leito ferroviária, ou seja, a captura de operários nacionais empregados nos canteiros de obras e na operação da ferrovia, promovida pelos agentes da rede do recrutamento da província de São Paulo. A despeito de esses trabalhadores possuírem isenção para o Exército e a Guarda Nacional, conforme previsto nos artigos oitavo e nono do decreto 1.759 de 26 de abril de 1856, que autorizou a construção da primeira estrada de ferro em terras paulistas, muitos deles acabaram caindo nas garras dos temíveis agentes do recrutamento e muitos outros foram designados para o serviço ativo na Guarda Nacional. O que poderia significar, no período do maior conflito Sul-americano, uma chance real de serem mandados para o teatro da guerra. A historiografia que se debruça sobre a Guerra do Paraguai e o recrutamento militar nesse momento de convulsão observou como a lei e as garantias terminaram sendo atropeladas e inúmeras ilegalidades promovidas, sem que o Estado, na necessidade de braços para o conflito bélico, fosse capaz de barrar esse processo. Assim, como vários homens que praticavam determinados ofícios, os casados, os menores de 18 anos, arrimos de família entre outros casos, que possuíam isenção legal do imposto de sangue, mas que não por isso, deixaram de ser recrutados, trabalhadores brasileiros engajados na via férrea inglesa também se viram vitimados pelas "ordens apertadas" e quiçá, muitos não acabaram se transformando em "bucha de canhão". (ST40) Paulo Sergio Micali Junior (Mestrando) Escrever também é um esporte de contato: acerca da imprensa londrinense e o pugilismo Neste artigo, propomo-nos a discutir a utilização de fontes periódicas na historia. Para ser mais específico, empregamos uma temática local/regional ao problematizarmos a cobertura jornalística esportiva referente ao boxe realizada pelo Folha de Londrina, um jornal pertencente ao Grupo Folha de Comunicação. Fundado em Londrina ainda na década de 1940, este jornal atende não só ao município que o denomina, mas, também, já há décadas, a centenas de outras cidades paranaenses, principalmente aquelas localizadas no norte do estado. Para cumprirmos com nossa proposta, então, tomamos como documentos de estudo algumas matérias daquele jornal que, microfilmadas,

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concernem ao boxe, datam entre 1970 e 2000 e localizam-se no Centro de Documentação e Pesquisa Histórica (CDPH) da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Quanto ao nosso recorte temporal, é importante ressaltar que este se circunscreve a um período no qual o Brasil contava com boxeadores campeões mundiais, fator que talvez explique a existência de uma maior cobertura jornalística referente ao pugilismo durante esse período. Ademais, a fim de analisarmos nossos documentos, tomamos como referencial teórico-metodológico as propostas de Tânia Regina de Luca contidas em seu Fontes impressas: história dos, nos e por meio dos periódicos (2005). Por fim, buscamos contribuir tanto para com a “história por meio dos periódicos” quanto para com a historia do esporte, campos estes que, dentro de nossa proposta, confundiram-se de uma forma conveniente, complementar e agradável. (ST34) Pedro Aurélio Dos Santos Luiz (Mestrando) Ideias de adolescentes sobre as mudanças no futebol. O seguinte estudo procura analisar as ideias dos alunos da instituição da Casa do Bom Menino de Arapongas/PR sobre as transformações ocorridas no futebol de meados do século XX, mais especificamente dos anos de 1940 e 1950, até 2013. A realização do mesmo, amparou-se na concepção de Hilário Franco Jr. a respeito do futebol, que o designa como um fenômeno cultural total, devido a capacidade desta temática em se relacionar com diversos outros campos do saber. Foram aplicados questionários para analisar os conhecimentos prévios dos alunos, houve a implementação de uma atividade, sendo posteriormente aplicado outro instrumento de pesquisa na forma de questionário para ver a mudança ou não de concepções dos estudantes. Ainda, utilizou-se de jornais de diferentes épocas como fontes para a periodização dos contextos históricos. Estudos em torno da aprendizagem significativa foram utilizados para a elaboração das 3 aulas que compuseram a atividade. Concluiu-se que o conhecimento dos adolescentes em torno da prática futebolística já era válido. Os alunos conheciam muitas características do esporte e, em sua maioria, concebiam que motivações que o caracterizam se alteraram no decorrer do tempo. Sendo primeiramente produzidas pela aceitação à prática e posteriormente à fama e as quantias monetárias envolvidas neste fenômeno cultural, fazendo com que o futebol fosse reconhecido como símbolo de identidade nacional. Posteriormente a aplicação do estudo percebeu-se que o tema favorece o estudo e reflexão da experiência humana no tempo, pois facilita a percepção de mudanças e permanências. (ST23) Pedro Panhoca Da Silva (Pós-graduado) O livro-jogo no ensino de História O presente trabalho se dispõe a analisar uma possibilidade de atividade lúdica voltada a crianças e jovens por intermédio de uma leitura não-linear promovida pelos livros-jogos em língua portuguesa, versões simplificadas dos jogos de RPG, tão adorados pelo público-alvo o qual os conhece, unidas à história e/ou (boas) adaptações da mesma, apresentadas em livros e endereços eletrônicos, para que se facilite a assimilação de conteúdos e interesses em temas diversos. Pretende-se mostrar também ao iniciante - jovem - leitor o quão prazeroso pode ser o seu aprendizado e suas consequências positivas para a sua formação como ser pensante. Tornado o ambiente do Ensino-Aprendizagem em algo descontraído, agradável e prazeroso promove-se o despertar a curiosidade, a pesquisa e a produção original no leitor, o qual, simultaneamente, pensará estar se divertindo enquanto estará, além disso, aprendendo de forma original, nova e muito mais atrativa tudo o que seria dificultoso ou desinteressante. Trata-se de uma proposta para repensarmos se os antigos métodos de ensino de História ainda podem ser válidos e eficazes devido à situação socioeconômica e cultural das diferentes partes da sociedade atual. Conhecendo a contribuição de seus livros e jogos infanto-juvenis,

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conhecemos sua real proposta, que muitas vezes é maldosamente prejulgada por quem a prejulga. Baseado em propostas e pesquisas de outros estudiosos do tema e pesquisas próprias, veremos o que os leitores ganham com tal experiência e seus futuros benefícios, além de manter a prática da leitura como tradição fundamental para o desenvolvimento do espírito crítico, cognitivo e produtivo. (ST29) Pedro Ragusa (Doutorando) Arqueologia e Estruturalismo: Encontros e Desencontros A proposta para realização desse texto versa sobre um tema muito caro para a metodologia e para a teoria da disciplina da História: A possível relação entre a pesquisa arqueológica e a filosofia estruturalista. Mas qual o ponto de encontro que torne possível essa relação? Na trajetória metodológica da arqueologia durante os anos de 1960 podemos encontrar uma forma bem específica de aproximação dos trabalhos de Foucault com o método estruturalista, que foi seguida posteriormente por um declarado afastamento. Essa trajetória do método arqueológico foi acompanhada por uma variação de componentes metodológicos, sendo que esses componentes lhe serviam como um eixo metodológico podendo ser destacado a fenomenologia a hermenêutica e o próprio estruturalismo. Para tanto, ao dissertar sobre o tema proposto teremos como objetivo evidenciar uma possível aproximação na relação entre duas formas de metodologia no campo da História e das ciências humanas, sendo uma delas um projeto individual, e a outra, uma corrente metodológica muito genérica na filosofia e demais ciências humanas. Teríamos assim o estruturalismo temporal de Foucault contra o estruturalismo atemporal. Não queremos com isso fazer de Foucault um filósofo estruturalista afastado do tempo, da mudança e do histórico, mas ao contrário. A arqueologia sem se desligar da história procura nesse momento de filiação ao estruturalismo descobrir as “regras estruturais” que apenas tornam possível o aparecimento e as transformações e rupturas do discurso em sua dimensão temporal. (ST18) Pedro Vagner Silva Oliveira (Mestrando) Entre as pedras e o mar: natureza e periodismo no litoral do Piauí (1973-1985) Esta comunicação tem por objetivo analisar as concepções que a imprensa da cidade de Parnaíba-PI tinha entre 1973 e 1985 sobre paisagem da praia de Pedra do Sal. O texto aqui apresentado é parte de uma pesquisa desenvolvida no âmbito do mestrado em História da Unifesp, sobre as experiências e o cotidiano de pescadores marítimos da região de Pedra do Sal, no litoral do Piauí. Os periódicos que circulavam entre o período de 1973 a 1985, pouco mencionavam os pescadores que lá moravam e trabalhavam. Contudo, a natureza protagonizava várias matérias, editoriais e manchetes dos periódicos parnaibanos. Ponto em comum nos jornais que circulavam em Parnaíba nos idos de 1973 a 1985, as belezas de Pedra do Sal eram destacadas de forma recorrente na imprensa. Os discursos sobre a natureza foram veiculados nos jornais da cidade no início da década de 1970 e ecoados até a primeira metade da seguinte. Tendo em vista que o jornal é um espaço de debate, escolhas e mesmo militância política, faz-se necessário refletir sobre os usos e concepções que a imprensa fazia acerca da natureza, mais precisamente a praiana, bem como a seleção desse tema nas páginas dos jornais. Discutiremos não apenas a valorização da praia na imprensa de Parnaíba dos anos 1973 a 1985, mas também os silêncios desta fonte sobre o cotidiano do pescador. Com o intuito de analisar as concepções sobre a praia nos periódicos, fazem parte do nosso corpus documental, exemplares dos jornais que circulavam em Parnaíba e que se encontram acessíveis e preservados, sendo eles: Folha do Litoral, Norte do Piauí, Inovação de Parnaíba e A Libertação. Para entender o homem e suas relações históricas com a natureza lançaremos mão dos estudos de Corbin (1989), Drummond (1991), Pádua (2010) e Woster (1991). (ST37)

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Philippe Arthur Dos Reis (Mestrando) Novos olhares sobre a urbanização e expansão da cidade de São Paulo: o bairro do Brás entre a passagem do século XIX para o XX A historiografia sobre as cidades vem caminhando a passos largos, dado este que pode ser empiricamente verificável pela diversificação das suas fontes, e aos novos olhares que podem ser lançados àqueles comumente utilizados por pesquisadores. Mediante a atuação do poder público, bem como de agentes privados, a porção leste da cidade de São Paulo, conhecida e oficializada como Brás sofreu intensas transformações entre as três últimas décadas do século XIX e os primeiros anos do século XX. Chácaras foram loteadas, ruas abertas e casas construídas, definindo-se uma “paisagem” que se firmou na memória coletiva e mesmo na historiografia como a “típica paisagem de um bairro operário, imigrante e fabril” com indústrias e linhas férreas, visão esta construída a partir da segunda metade do século XX e ainda hoje consagrada, embora a nosso ver careça de problematização. Acreditamos ser fundamental historicizar o seu processo de urbanização e por luz à pluralidade de atores sociais envolvidos e nas múltiplas atividades ali existentes por meio do estudo de novas fontes documentais e da releitura da historiografia consagrada sobre a urbanização paulistana. As permissões de construção que integram o acervo do Arquivo Histórico de São Paulo, permite introduzir novos atores no cenário referente ao processo de formação do bairro, sem excluir os personagens eleitos pela historiografia consagrada. Ausentes da historiografia que privilegiou as oligarquias e o operariado, os “setores médios” vem ganhando luz em estudos recentes como os de Maria Luiza Ferreira de Oliveira (2005), Luciana Além Gennari(2005) e Sheila Schneck (2010), autoras que vem demonstrando seu papel em nada coadjuvante na produção e apropriação da cidade. Juntamente com este dado, a bibliografia sobre a história cidade de São Paulo caminhou a passos largos no tocante às formas de compreensão do seu passado econômico, social, cultural, político, e notadamente de sua produção arquitetônica, enfocando diferentes fontes documentais e relendo outras de outro ponto de vista. Obras seminais sobre a História de São Paulo e o desenvolvimento da cidade foram produzidas na primeira metade do século XX e tiveram ampla repercussão, formando um discurso continuamente reiterado sem críticas. Estudos recentes vem desvelando essa trama narrativa e, entre eles, destaca-se o de Rodrigo Silva que analisa o processo de construção de um certo discurso hegemônico sobre a História da cidade de São Paulo, um projeto que remonta ao último quartel do século XVIII, que fora trabalhado por intelectuais do começo do século XX, e que auxiliou na formação de uma história da urbanização e expansão da cidade sem um aprofundamento detido, como o clássico "História e tradições da cidade de São Paulo" de Ernani Silva Bruno. (ST18) Prisciéle Maicá Silveira (Mestranda) Narrativas de alunos do 1º e 4º ano do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Londrina: um olhar sobre o curso (2014) O objetivo deste trabalho é investigar o que os alunos do 1º e 4º ano do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Londrina – UEL, pensam sobre o mesmo. Em especial, a expectativa dos alunos do 1º ano com relação ao curso, e possíveis questionamentos feitos pelo 4º ano ao curso, bem como a concepção de história das duas séries, ingressantes em 2011 e 2014. Este desenvolvimento realizou-se basicamente em três etapas: a aplicação de questionários, a análise e por fim a categorização das respostas. Os questionários são diferenciados considerando que os alunos do primeiro ano do curso se inserem em um contexto diferente daqueles que já estão no último ano, por exemplo, no que diz respeito à experiência de estágio obrigatório e/ou de pesquisa e extensão. Assim, procuramos, através da análise e categorização das respostas dos

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alunos, narrativas que apontem como eles pensam questões como: sua escolha pelo curso de História, sua visão sobre o curso antes de entrar na universidade e após o seu ingresso, o que é História, se gostariam de dar aulas de História, para qual “nível” de ensino e porque, e o que achou mais difícil no curso até o momento. A presente pesquisa foi apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para o curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Londrina (UEL) no ano de 2014, sob orientação da Prof.ª e Dr.ª Maria de Fática da Cunha. Submetemos ao XXIII Encontro da ANPUH - SP, que ocorrerá na UNESP da cidade de Assis, a fim de contribuirmos para as discussões no campo da História no que diz respeito ao ensino de História. (ST05) Priscila Da Silva Nascimento (Doutoranda) O movimento de mulheres indígenas frente as políticas indigenistas do Estado mexicano no contexto neoliberal da década de 1990. Desde o início do movimento indígena mexicano, década de 1970, podemos localizar as primeiras expressões de uma organização que começava a exigir novas formas de participação política, principalmente as estabelecidas com o Estado, denunciando as medidas integracionista por parte do Estado mexicano. Com isto, a década seguinte é marcada pelo o que o antropólogo mexicano Díaz-Polanco chamou de uma “nacionalização das lutas indígenas”, na qual os indígenas rompem um isolamento histórico e saem de uma conformação comunitária para manifestarem-se publicamente nas ruas. Nos anos 80 também podemos observar um significativo crescimento de implantação de políticas públicas, bem como, de ações de agencias não-governamentais nacionais e internacionais neste país. Se por um lado é notável a conquista de alguns direitos no plano formal, bem como uma maior visibilidade do movimento indígena mexicano mais amplo, por um outro é preciso problematizar o modo como estas ações foram realizadas, muitas vezes, reproduzindo os erros das décadas anteriores, qual seja, colocar em pratica projetos na perspectiva do para os indígenas e não com os indígenas. Na década de 1990 as mulheres indígenas do campo e da cidade irão denunciar uma outra consequência desta perspectiva impositiva, como o total desconhecimento destas instituiçoes para com as particularidades étnicas e relações de gênero no interior dos grupos. Indígenas de varias etnias como as tzotzil, tzetal, tojolabal entre outras, começam a denunciar a necessidade de ações para a alfabetização das meninas, saúde ginecológica, demanda por creches entre muitas outras reivindicações que revelaram que o elemento étnico por si só não representava a integralidade dos direitos que eram considerados importantes por elas. Assim, embora o percurso do movimento indígena tenha sido importante para a visibilidade de uma causa indígena, nota-se que um espaço reservado para o tratamento de demandas específicas das mulheres indígenas não aparece desde o início da consolidação de um movimento deste grupo no México, nesse sentido, discutimos nesta pesquisa as estrategias e os percursos adotados pelo movimento de mulheres indígenas no México na década de 1990 para a afirmação de seus direitos e em especial os avanços e limites enfrentados por elas para a inclusão de seus alguns deles na Constituição em 2001. (ST25) Priscila Piazentini Vieira (Doutora/UFPR) As Sufragistas e as transformações da subjetividade pela militância política Esta comunicação discute o filme As Sufragistas, lançado em 2015, a partir dos seguintes temas: o jogo que as sufragistas praticam com os direitos, tendo como principal objetivo aprovar o voto das mulheres na Inglaterra no início do século XX; as transformações subjetivas pelas quais as mulheres passam ao entrarem para a militância sufragista, prestando atenção nas suas relações com os maridos, os patrões e os filhos; e a importância do corpo para a vida militante das personagens. O texto também levanta outras discussões, que se inspiram, mas também ultrapassam o enredo do filme: Qual é o

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espaço que o corpo possui dentro da militância política? Trata-se de seu sacrifício? Ou de uma ética que deve ser explicitada não somente por palavras, mas por ações e pelo emprego do corpo como a expressão da verdade? Essas indagações serão desdobradas a partir das reflexões de Michel Foucault sobre o governo das condutas, a ética, o militantismo, a coragem da verdade, o cinismo e o novo direito. (ST45) Priscilla Prado De Faria (Mestranda) Racionais Mc's: Técnica, comunicação e educação na São Paulo dos anos 90 Em 1992 o grupo Racionais Mc's lança o álbum Escolha Seu Caminho, no qual os integrantes do grupo aparecem com armas e drogas na capa e folheando livros na contra capa. Em reportagem da Folha de São Paulo de 5 de Novembro de 1992 sobre o álbum KLJ, um dos membros do grupo, é perguntado: “Armas de um lado e livros de outro?” e responde: “Sim para mostrar que os pretos só tem dois caminhos: o estudo ou a malandragem, que leva a morte.” A pesquisa de mestrado a ser apresentada, procura a partir da analise das músicas de Rap, compostas pelo grupo Racionais Mc’s na década de 1990, compreender a relação entre Rap e educação na cidade de São Paulo, bem como entender de que maneira o Rap pode ser considerado uma tradição viva das culturas orais africanas que tem na performance eixo fundamental de comunicação que atinge de forma certeira parte da juventude das comunidades periféricas de São Paulo. Reconhecendo essa potencialidade de comunicação a Secretária Municipal de Educação de São Paulo elaborou o projeto pedagógico Rap...ensando a Educação que levou o Rap para dentro de algumas escolas do município no mesmo ano de 1992. Walter Beijamim em seu trabalho o Narrador traz um questionamento acerca da dificuldade contemporânea de narrar um fato, uma história. Para ele está “cada vez mais rara a possibilidade de encontrarmos alguém verdadeiramente capaz de historiar algum evento”. (BENJAMIN, 1975. P.63) A distância entre o narrador e realidade vivida dificulta a comunicação entre aquele e seu ouvinte. Nesse sentido, esta pesquisa tem como eixo central analisar criticamente como o tema educação está problematizado nas poesias compostas por esses meninos, qual a visão desses jovens sobre escola/educação e de que maneira o próprio poder público reconheceu na performance desse grupo, uma tentativa de intervenção pedagógica. Paul Zumthor relata a importância da Performance como fator determinante do alcance da poesia oral. Segundo Zumthor as regras da performance (tempo, lugar, finalidade da transmissão, a ação do locutor e a resposta do público) são importantes para comunicação “tanto ou ainda mais do que as regras textuais postas na obra na sequência das frases: destas, elas engendram o contexto real e determinam finalmente o alcance”. (Zumthor, 2007. P. 31) Por fim, como a própria titulação do estilo musical que quer dizer Ritmo e Poesia, buscamos analisar letra e música em conjunto para que possamos entender de que maneira a sobreposição de ritmos, sons, batidas e músicas está relacionado com a mensagem que o autor quer passar e a partir das fontes entender como esses garotos transformaram seus próprios sentimentos e emoções em olhar político. (ST26) Rafael Freitas Ocanha (Mestre) Travestis paulistanas na mira da Polícia Civil: a prática da Contravenção Penal de Vadiagem (1976-1977) Em 1976, a Polícia Civil de São Paulo designou o delegado Guido Fonseca para iniciar um estudo de criminologia com travestis , que visava enquadrá-las no art. 59 da Lei das Contravenções Penais, a chamada vadiagem. Ao todo, 460 transgêneros da região central de São Paulo foram sindicadas para o estudo. Encaminhadas à delegacia, deveriam

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comprovar vínculo empregatício, e eram fichadas em documento chamado de Termo de Declarações, no qual constavam desde dados pessoais até os valores pagos pelas roupas e perucas. Uma grande parte das sindicadas trabalhava registrada durante o dia e se prostituía à noite, criando um empecilho para a formulação de inquérito por vadiagem. O estudo foi publicado com o título A Prostituição Masculina em São Paulo, na revista Arquivos, no final de 1977, e recomendava que todas as travestis da cidade fossem sindicadas com fotografias, para que os juízes pudessem avaliar sua periculosidade. Esta pesquisa tem como objetivo analisar a perseguição e a violência contra os considerados vadios pela ditadura civil-militar, explicitando as relações de poder da Polícia Civil perante a classe trabalhadora, por meio da Lei de Contravenções Penais. Ao traçar a história social do crime e da criminalidade, o artigo realça práticas de esquadrinhamento da sexualidade julgada criminalizável e associada à pobreza, em São Paulo. (ST25) Rafael Paiva Alves (Mestrando) A "Revolução" da Realidade Virtual e a "evolução" da TV Digital A possibilidade de imersão em ambientes virtuais, através da escrita, do rádio, cinema, televisão e games sempre instigou os seres humanos. Contudo, com o advento da internet, e principalmente, através da denominada Realidade Virtual (RV) é possível navegar no ambiente e descrever a aparência de objetos em múltiplos pontos de vista, suas relações com os elementos que compõem o cenário, seus impactos, riqueza de detalhes, orientação espacial, tornando o ambiente mais atrativo que as interfaces tradicionais. A realidade virtual surge então como uma nova geração de interface, na medida em que, usando representações tridimensionais mais próximas da realidade do usuário, permite romper a barreira da tela, além de possibilitar interações mais naturais. No ambiente virtual, os sentidos e as capacidades das pessoas podem ser ampliados em intensidade, no tempo e no espaço. É possível ver, ouvir, sentir, acionar e viajar muito além das capacidades humanas. Pode-se, assim, ser tão grande (a nível das galáxias) ou tão pequeno (a nível das estruturas atômicas) quanto se queira, viajando a velocidades muito superiores à velocidade da luz e aplicando forças descomunais. Ao mesmo tempo, pode-se ampliar a medida do tempo, para que as pessoas possam observar ocorrências que duram frações de segundos, implementando o conceito de câmera lenta, ou reduzir a medida do tempo, acelerando-o, para observar ocorrências e fenômenos que poderiam se estender por séculos. Ao pensar qual influência exercerá no meio televisivo, pode-se dizer que, a TV Digital ainda é uma construção e a médio prazo, espera-se uma verdadeira transformação do atual conceito conhecido de TV a partir da convergência intensa com a Internet avançada (fixa e móvel) e o desenvolvimento de meios eletrônicos interativos minimamente invasivos (dispositivos portáteis, interfaces naturais, microsensores e atuadores). Fato que poderá permitir inovações na capacidade bidirecional de intercâmbio de dados multimídia; o relacionamento mais sensitivo, personalizado e intuitivo entre o usuário e a TV/Internet; a individualidade no acesso à informação; e a integração de vários serviços à TV/Internet como a automação doméstica, segurança, telejogos, teleducação, telemedicina, telecomércio, dentre outros. Enfim, esta comunicação buscará pontuar elementos tanto da Realidade Virtual como da Televisão Digital, a fim de pensar, a convergência digital das mídias. (ST34) Rafaela Basso (Doutoranda) A alimentação e espaço público: O comércio de alimentos e bebidas na cidade de São Paulo (1765-1828) A proposta da presente pesquisa é estudar o desenvolvimento da alimentação de rua na cidade de São Paulo entre os anos de 1765 a 1828, acompanhando a dinâmica envolvida desde a produção, circulação até o consumo dos gêneros alimentícios nas ruas e nos

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espaços públicos da capital paulista. O objetivo é investigar não só os alimentos produzidos e consumidos no locus própria rua, ou seja, nos tabuleiros e no comércio ambulante, mas também as variadas formas de comer fora de casa, nos espaços que surgiram em função do incipiente processo de urbanização, tais como tavernas, vendas, botequins, entre outros. Deve-se ressaltar que no período em questão, São Paulo vivia um período de transformações, motivadas pelos negócios desenvolvidos em torno da produção e comercialização de gêneros agrícolas e/ou da pecuária. Essa dinamização socioeconômica foi responsável por um crescimento demográfico contínuo. O constante vai e vem de pessoas nas ruas da capital da província, em finais do século XVIII traz consigo a necessidade do desenvolvimento de uma estrutura para atender às necessidades desse contingente populacional. Neste contexto, o pequeno comércio de alimentos se desenvolveu na cidade, trazendo possibilidade de sobrevivência para um grupo composto por negras de tabuleiros, donos de vendas, quitandeiras, que se aproveitavam do intenso fluxo diário de pessoas nas ruas para angariar sua subsistência. Através de um estudo focado nos diferentes ramos do comércio de alimentos, pretendemos tecer algumas considerações sobre a circulação de alimentos e pessoas na trama urbana de São Paulo colonial, tendo em vista levantarmos algumas questões teórico-metodológicas que possam contribuir para o estudos das práticas alimentares como instrumento de interações sociais, culturais e políticas ocorridas na urbe paulistana entre os séculos XVIII e XIX. (ST22) Rafaela Carvalho Pinheiro (Mestranda) Entre a ficção e a realidade: notas sobre a questão do trabalho em “Memórias póstumas de Brás Cubas” O século XIX foi um período de grandes transformações para o Brasil. Entre sediar a capital do império português, proclamar-se livre e consolidar-se como nação, o debate sobre a abolição da escravatura esteve presente e atuante, contribuindo efetivamente para a construção da História nacional. Com efeito, a elite agrária se sustentava através da mão de obra escrava e, em consequência disso, toda a estrutura social gravitava em torno dessa estrutura produtiva, essencialmente servil. Nesse sentido, é passível de observação o fato de uma obra literária realista, escrita à época, apresentar-se como instrumento de análise da realidade social. Publicada em 1881, a obra magna de Joaquim Maria Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas, uma vez que se configura sob os moldes realistas, se apresenta como explicação da realidade brasileira. Nessa sociedade, o autor apresenta a condição de classe do escravo, descrito na figura de Prudêncio, como mera mercadoria de composição dos modos produtivos. Comparados a máquinas, animais e objetos – ou seja, propriedade privada –, tal relação de dominação é sintomática, porque se por um lado os escravos são tratados como sub-humanos, como coisas, por outro são eles quem produz toda a riqueza de seus senhores e, no limite, fazem a sociedade funcionar. Não obstante, a própria condição da classe pobre, dita livre, encontra-se indiretamente dependente da escravidão, já que a manutenção do escravismo do Brasil dificultou o desenvolvimento do capitalismo. Por isso, a classe dos agregados e dependentes, desprovidos dos meios de produção e sem poder vender sua força produtiva, também fica a mercê da elite dominante, como é o caso de Dona Plácida. Mostrando as incoerências da sociedade escravista, explicitadas nos contrastes entre a situação de escravos e dependentes e a justificação e defesa de seus dominadores, Machado de Assis, usando de uma ironia gritante, e uma complexa volubilidade da personagem central, Brás Cubas faz ferrenhas críticas à realidade, ao mesmo tempo em que convida os leitores a refletirem sobre tal situação. Com efeito, e não sem mérito, Machado é considerado o mestre do realismo no Brasil. (ST36)

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Rafaela Cristina Martins (Doutoranda) O espaço do trabalho doméstico e o papel da mulher através da revista Casa & Jardim (1960) A imagem da mulher em propagandas de revistas e jornais parece estar desde há muito tempo vinculada aos produtos domésticos, como eletrodomésticos e produtos de limpeza, especialmente nas propagandas. A partir dessa questão parece haver uma mensagem quase explícita do papel da mulher para o consumo e utilização de produtos vinculados ao trabalho doméstico, sendo este pouco ou nada valorizado. Este trabalho propõe fazer indagações sobre determinadas propagandas, de apelo visual, destinadas ao público feminino. A proposta aqui é analisar como esses anúncios definem o papel da mulher em seu espaço privado através da análise de propagandas de eletrodomésticos e artigos veiculados na revista Casa & Jardim na década de 1960. (ST10) Raissa Monteiro Dos Santos (Mestranda) Mulheres e homens nos anúncios publicitários do Mappin: um relato metodológico Esta comunicação é parte de uma pesquisa de mestrado, ainda em andamento, cujo objetivo é compreender como as relações de gênero eram representadas em imagens e descrições nos anúncios publicitários da loja Mappin entre os anos 1931 e 1945, para com isso discutir os modos de interação dos corpos masculinos e femininos com objetos e com os espaços ali representados. Tomando como referencial teórico os estudos da área de cultura material, partimos do pressuposto de que a representação das figuras femininas e masculinas – bem como seus acessórios pessoais, indumentária, objetos cenográficos e espaciais – possuem papel ativo na configuração de identidades sociais. Para que os padrões visuais disseminados por essas imagens pudessem ser analisados, todos os 3154 anúncios foram organizados num software por meio do qual foi possível inserir um vocabulário controlado previamente criado a fim de caracterizar cada imagem individualmente. Esse procedimento permitiu a constatação de padrões visuais, suas mudanças e permanências, bem como o levantamento quantitativo de artefatos e posturas recorrentes nas imagens. Este trabalho tem como objetivo apresentar o processo metodológico utilizado e a primeira análise dos padrões visuais notados. (ST10) Raphael Cesar Lino (Mestrando) Autores-personagens: Os enredos teóricos da micro-história italiana A micro-história italiana surgiu nas décadas de 1970 e 80 e teve como uma de suas marcas a heterogeneidade e o desenvolvimento não linear, resultado da combinação de diferentes preocupações de um grupo de historiadores que se articulavam em torno da revista Quaderni Storici della Marche, fundada em 1966. Embora não houvesse consonância entre suas posturas teóricas, ou seus temas de pesquisas, tinham preocupações em comum, especialmente pelo estudo local e pelo interesse em casos circunscritos e reduzidos, prática metodológica que ficou conhecida como microanálise. Nesse sentido, nossa apresentação versa por apresentar algumas das características desta prática historiográfica a partir da trajetória intelectual de três importantes autores, protagonistas dessa história, Edoardo Grendi, Giovanni Levi e Carlo Ginzburg. Pontuar cada uma dessas posturas ajuda a compreender melhor este capítulo da história da historiografia, dado o contexto em que se insere e a celeuma em que estão envolvidas diretamente (como a crise dos paradigmas, especialmente do estruturalismo e do marxismo). Além disso, ter em conta as diferenças internas que existem ao redor do nome micro-história é fundamental para compreender seus desdobramentos em outros contextos historiográficos e outras apropriações que ocorreram, dado o amplo alcance que vem tomando desde então. (ST18)

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Raquel De Fatima Parmegiani (Doutora/UFAL) Jerônimo de Strídon contra os Setenta Tradutores O processo de constituição do cânone bíblico cristão na Europa de língua latina, durante a antiguidade tardia, nos dá vestígios importantes sobre a relação entre escrita e poder neste período. O ocidente europeu conheceu inúmeras versões de tradução destas escrituras, estas foram quase tão diversas, quanto foram os códices de lhe deram suporte. Os autores cristãos não se cansavam de alertar em seus trabalhos, do risco de corrupção dos textos, a partir da forma como o mundo editorial se configurava naquele momento. A bíblia, como a conhecemos hoje foi, sem dúvida alguma, palco de uma complexa disputa em que se entrecruzaram poderes, saberes e polemicas dogmáticas que foram características da sociedade cristã tardo antiga. E dentre desse processo, os comentários bíblicos se colocaram como o locus principal da defesa de uma sequência de leitura (ou mesmo de edição) desse texto (a bíblia), a partir do posicionamento de autores como Jeronimo e Agostinho. Nossa proposta neste trabalho é pensar como se construiu as redes de citação que tornaram possível a constituição dessa biblioteca (a bíblica), a partir das discussões feitas por são Jerônimo em relação as traduções dos livros bíblicos e comentários a eles, aos quais teve acesso. Nos utilizaremos dos prefácios e posfácios que este autor escreveu para seus próprios trabalhos de comentador, na qual ele destaca questões como: comparações entre o texto da Septuaginta e as passagens do Antigo Testamento que aparecem nos livros dos Evangelhos; a necessidade do conhecimento da língua original do livro no trabalho de tradutor e comentador, uso da cultura clássica à serviço da exegese cristã etc. (ST38) Raquel Gryszczenko Alves Gomes (Pós-doutoranda) Fragmentos narrativos: protagonismos femininos nas literaturas contemporâneas da África Austral Os estudos pós-coloniais questionaram, ao longo dos anos, a possibilidade de apreensão e registro da chamada “voz do subalterno”. Dialogando com e também questionando alguns dos pressupostos engendrados por esse argumento, é minha intenção discutir aqui como a literatura – em especial aquela produzida por mulheres – consolida-se como um espaço de reflexão sobre as principais tensões legadas pela experiência pós-colonial nos territórios da África Austral: o chamado choque entre o tradicional e o moderno, a fragmentação territorial e cultural após as guerras de independência e as guerras civis e os desafios de constituição dos Estados nacionais. Para tanto, concentro-me expecialmente na produção de Nadine Gordimer (África do Sul, 1923-2013), Yvonne Vera (Zimbábue, 1964-2005) e Paulina Chiziane (Moçambique, 1955), atentando para como a voz feminina expõe, no campo do literário, os desafios lançados ao protagonismo feminino na África Austral contemporânea. (ST02) Reinaldo Sudatti Neto (Mestrando) A redescoberta das raízes das famílias de descendentes de imigrantes italianos, por meio do Círculo Italiano de Jundiaí No final dos anos 80, a crise de aceleração temporal leva a um definhamento da memória, levando a um retorno na busca de memórias étnicas e sua preservação, gerando a fundação do Círculo Italiano de Jundiaí, que como instituição memorialista, tem tido como objetivo,levar a cabo medidas que propiciassem o não desaparecimento das memórias das famílias de imigrantes. Dentre as medidas executadas pelo Círculo Italiano de Jundiaí, para o não desaparecimento das memórias das famílias de descendentes de imigrantes italianos, estão as homenagens feitas, baseadas nas histórias orais que são contadas pelas famílias

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homenageadas, levando à preservação da memória e do estreitamento dos laços entre estas famílias e seus ancestrais. O objetivo da pesquisa será o estudo sobre o papel do Círculo Italiano de Jundiaí, na preservação da memória das famílias descendentes de imigrantes italianos. Para se conseguir de forma efetiva o objetivo da pesquisa e não deixar o foco muito difuso, devido a extensa documentação que existe sobre o assunto, optou-se por centralizar o trabalho em fontes orais produzidas pelo Círculo Italiano de Jundiaí e obras que versem sobre história oral, deixando as outras fontes como complementares ao trabalho. A metodologia focará o papel do Círculo Italiano de Jundiaí na preservação da memória das famílias descendentes de imigrantes italianos, analisando os tipos de memórias escolhidas por esta instituição de memória e estratégias utilizadas na construção e preservação de uma memória imigrantista, italiana em Jundiaí. (ST44) Rejane Aparecida Rodrigues Candado (Mestra/UFMS) A História e Conhecimentos Tradicionais na Escola Indígena Tekoha Guarani: os anos iniciais do Ensino Fundamental As escolas indígenas e suas respectivas comunidades tem promovido nos últimos anos, um movimento permanente para repensar a educação escolar, e os seus embates com projetos étnicos e ou planos de vida. Diversas dessas experiências têm sido relatadas por meio de pesquisas e projetos de autorias, desenvolvidas por professores e pesquisadores indígenas e não indígenas, no sentido de ressignificar a escola, as práticas e as relações que implicam na vida escolar. Esses estudos promovem a tentativa de provocar transformações na escola, que desde os tempos coloniais, serviu para catequizar, assimilar e civilizar os povos indígenas, ao atender as diversas orientações políticas e ideológicas dos colonizadores. Após 1988, com a promulgação da Constituição Federal, outras legislações específicas foram criadas, com o objetivo de assegurar a autonomia e a participação dos indígenas em todos os projetos e programa a serem implementados em seus territórios. Dito isto, esta comunicação tem como objetivo apresentar as considerações preliminares da pesquisa que integra o projeto de tese em Educação na Universidade Católica Dom Bosco-UCDB. A partir da etnografia pós-moderna, das observações e dos resultados dos grupos de discussões, a pesquisa em desenvolvimento, volta-se para as práticas pedagógicas nos primeiros anos do ensino fundamental, do ensino de história e do conhecimento tradicional, desenvolvidas por professores Guarani da Escola Indígena Municipal “Tekoha Guarani”, da aldeia Porto Lindo, Japorã, localizado no extremo sul de Mato Grosso do Sul. A escola aqui será entendida como o entre lugar preconizado por Homi Bhabha (2003), como o lugar privilegiado de encontro de conhecimentos, sejam os de tradição da ciência moderna, e os saberes tradicionais indígenas. Portanto, a Escola é o lugar onde as traduções são possíveis, produzindo experiências e políticas subversivas, provisórias e até mesmo incompreendidas. A partir da orientação do projeto político pedagógico e dos estudos e formações continuada, os professores Guarani decidiram, em 2015, conduzir o planejamento das aulas de forma coletiva e inspirada metodologia de Paulo Freire. As observações têm apontado para a ampliação do espaço ocupado pelo conhecimento indígena no currículo escolar, quanto na pedagogia indígena, ou seja, na relação ensino aprendizagem Guarani. Assim, as práticas produzidas a partir do olhar indígena têm indicado para o desenvolvimento de pesquisas junto às lideranças tradicionais e idosos da Comunidade indígena de Porto Lindo, atribuindo a memória, a história, e o arandu (conhecimento) na centralidade dessas experiências, à medida que desestabiliza a disciplinarização tradicional escolar. (ST29) Renan Branco Ruiz (Mestrando)

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O Grupo Um,a Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista Na bibliografia que analisa e debate os elementos em torno da comumente chamada Vanguarda Paulista é possível visualizar a estruturação de uma espécie de representantes oficias dessa movimentação, característica que geralmente acompanha a construção memorial sobre uma determinada geração de músicos interligados socialmente. Buscando contribuir para a ampliação dos estudos sobre Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista, este trabalho intentou reconstruir a trajetória artística do conjunto de jazz-fusion instrumental brasileiro Grupo Um (que gravou três álbuns de 1979-1982, dois independentes e outro lançado pelo selo Lira Paulistana Instrumental, já em pareceria com a Continental), tentando encontrar os motivos das aproximações e distanciamentos entre seus integrantes e as diversas ações desenvolvidas pelo Lira Pauslitana - seja enquanto local para temporada de apresentações, ou nas negociações enquanto selo fonográfico, entre outras atividades. Vale ressaltar que este trabalho não intenta colocar o nome do Grupo Um junto aos representantes geralmente considerados “oficias” desse momento da música paulistana, mas sim, contribuir para construção de um campo de estudos mais abrangente sobre as diversas realizações partilhadas pelo Lira Paulistana e pela Vanguarda Paulista junto aos variados artistas e gestores envolvidos nesse momento recente e heterogêneo da música paulistana independente. (ST26) Renata Cordeiro Dos Santos (Mestranda) A fotografia como poética crítica no período pós-ditadura militar Na presente pesquisa trataremos da fotografia como arte contemporânea. O foco é estudar o realismo que se inscreve nos trabalhos fotográficos dos artistas que se comprometem com uma poética crítica principalmente no período atual, pós-ditadura militar. Nosso recorte compreende o espaço do centro da cidade de São Paulo, nos arredores da Estação Pinacoteca, o antigo prédio do DEOPS (Departamento de Ordem Política e Social) dos anos de ditadura militar brasileira, onde os trabalhos dos artistas Fernando Piola e Tuca Vieira parecem fundar, em períodos distintos, uma espécie de cartografia política atrelada às suas poéticas particulares, por meio do ato de fotografar. Portanto, a pesquisa compreende a poética da passagem/deambulação pelos ambientes da cidade, abordando fotografias dos arruinamentos da paisagem urbana, bem como as relações dessas imagens com o cotidiano, com a vida social, cultural da cidade de São Paulo. (ST16) Renata Duarte Simões (Doutora) Educação física e juventude: o jornal como dispositivo doutrinário O Governo Vargas caracterizou-se por mudanças relevantes em inúmeras áreas, principalmente na política e na educação. Os jovens, os imigrantes e os trabalhadores foram os alvos principais das campanhas educadoras do novo regime, destacadamente durante o Estado Novo. A educação era uma das grandes preocupações do governo, cujo objetivo era modernizar e fortalecer a Nação. A Ação Integralista Brasileira (AIB), compartilhando das ideias do período, difundia um discurso de preservação da saúde física, de propagação da educação moral e de formação intelectual desde a mais tenra idade, investindo esforços para que os plinianos fossem educados de acordo com os preceitos do Sigma, pois seriam eles os continuadores da luta pela formação de uma Nação integralista. A AIB dedicou amplo espaço, em seus jornais e em suas campanhas, à Educação Física voltada à mocidade, com intuito de adaptar o corpo para a vida prática e preparando a alma para servir conscientemente ao Brasil, ideias defendidas pelo movimento. Considerando os aspectos apontados, objetivou-se investigar como o integralismo lançava mão de seus dispositivos textuais, destacadamente o jornal A Offensiva, como meio de propagar a Educação Física e a prática de esportes entre os jovens. Para concretização da pesquisa, delimitou-se o período a ser estudado entre 1932

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e 1938, tendo como justificativa para data inicial ser ela o ano de fundação da AIB e, para data final, quando do início do governo ditatorial de Getúlio Vargas o integralismo despojou-se, aparentemente, de sua ação política, funcionando até 1938 como Associação Brasileira de Cultura, quando foi extinto e seus líderes foram enviados para o exílio. Como fonte documental, foram analisados os números do jornal A Offensiva que se encontram no Fundo Plínio Salgado do Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro-SP e os arquivados na Biblioteca Nacional-RJ. O corpus documental da pesquisa foi constituído por 748 exemplares. (ST06) Renata Peixinho Dias Vellozo (Mestranda) Pedidos de anistia dos servidores públicos civis e militares (1986 - 1987) e os usos do passado constitucional brasileiro A partir da análise de um conjunto de mensagens individuais que foram enviadas à Comissão de Constituição e Justiça – CCJ, do Senado Federal, ao longo de 1986 e que se encontram inseridas em uma base de dados chamada Sistema de Apoio Informático à Constituinte – Saic, organizada pelo Centro de Informática e Processamento de Dados do Senado Federal – Prodasen, com o título: Sugestões da população para a Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Buscamos analisar os usos do passado constitucional brasileiro em prol da anistia dos servidores públicos civis e militares, para além do período relativo aos governos militares vivenciados no Brasil entre 1964 e 1985. Para tanto, identificamos as referências desses missivistas a incisos, alíneas ou parágrafos de Constituições brasileiras anteriores ao processo constituinte (1985 - 1988) que foram utilizadas como recurso discursivo e argumentativo, com a finalidade de encaminhar propostas e fazer críticas concretas. (ST40) Renato Alencar Dotta (Doutorando) "Sois a Tradição e a Renovação": O I Congresso de Estudantes do Partido de Representação Popular (PRP) - Campinas, 1949 Com o objetivo de perpetuar seu movimento, os integralistas sempre elegeram os jovens como um dos principais receptores de sua propaganda política, escolha que teve relativo sucesso, pois o movimento integralista, desde suas origens, sempre teve grande número de estudantes, sobretudo universitários. Assim foi nos anos 1930 com a Ação Integralista Brasileira (AIB). Assim foi também a partir da segunda metade dos anos 1940, quando os integralistas - após terem sido banidos da vida política brasileira pelo Estado Novo - retornam à cena através do Partido de Representação Popular (PRP). Num momento desfavorável, devido à associação que vários setores da sociedade fizeram dos seguidores de Plínio Salgado com o nazifascismo, então recém-derrotado na II Guerra Mundial, os integralistas fazem vários esforços para renovar a imagem do seu movimento político. Ao mesmo tempo, e como parte dessa retomada, voltam a direcionar suas atenções ao movimento estudantil, organizando um congresso nacional em Campinas, em 1949, que será um marco relativamente bem sucedido em sua retomada desse setor da sociedade. O congresso, contudo, também chamou a atenção de adversários, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), e militantes vinculados ao Partido Comunista do Brasil (PCB) - já na ilegalidade - que lançaram panfletos e atuaram contra a organização do evento. Essa pesquisa é baseada em documentação apreendida pelo DOPS, que demonstrou grande interesse pelo Congresso. (ST06)

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Renato Cancian (Doutor/UNINOVE) Militância estudantil e militância política O objetivo deste trabalho é problematizar o movimento estudantil da década de 1970 tendo como foco de análise a adesão dos jovens ao movimento como uma forma de estruturação da identidade política dos militantes estudantis. (ST42) Renato Cesar Santejo Saiani (Doutorando) O rearmamento naval brasileiro e a crise com a Argentina: o debate na imprensa entre o Barão do Rio Branco e Estanisláo Zeballos (1904-1910). As relações entre Brasil e Argentina sofreram inúmeras mudanças ao longo do século XIX e início do XX. Durante a gestão do Barão do Rio Branco à frente do Ministério das Relações Exteriores, 1902-1912, tais vínculos foram marcados por etapas de concórdia, entremeadas por períodos de rivalidade acentuada. O projeto de rearmamento naval brasileiro, aprovado pelo Congresso em 1904, foi o catalisador de um dos momentos mais delicados das relações políticas entre os dois países. A nomeação de Estanisláo Zeballos para o Ministério das Relações Exteriores, em 1906, exacerbou a situação. Foram intensas as discussões entre os diplomatas e os representantes em Buenos Aires e no Rio de Janeiro, observando-se uma grande exaltação da opinião pública de ambos os lados. Essa ebulição foi incitada, em grande medida, pela utilização que Rio Branco e Zeballos faziam da imprensa para movimentar o cenário político da época. Assim, este trabalho tem por objetivo analisar os artigos, publicados tanto na imprensa brasileira como na argentina, no intuito de compreender como se desenrolou esse debate e qual sua influência na crise armamentista que abalou as relações políticas entre as duas nações. (ST32) Renato de Mattos (Doutor/FMU) Política, Memória e escrita da História: problematizando as interpretações e os significados da Abertura dos Portos (1808) O objetivo primordial da comunicação é o de discutir como tradicionalmente o episódio da Abertura dos Portos às Nações Amigas (1808) tem sido compreendido pela historiografia enquanto fato definido e irredutível, perfeitamente encadeado aos demais eventos que compõem a cronologia consagrada do processo de formação da nacionalidade e do Estado brasileiros. A presente análise fundamenta-se nas reflexões formuladas por Lucien Febvre, Carlos Alberto Vesentini e Cecilia Helena Salles Oliveira acerca da necessidade de problematizarmos os fatos históricos enquanto “agentes ativos da memória”. Sob esta perspectiva, examinaremos de que maneira a narrativa da história da Independência erigida por José da Silva Lisboa no início do século XIX, bem como as apropriações da Carta Régia de Abertura dos Portos empreendida pelos organizadores da Exposição Nacional do Rio de Janeiro de 1908, contribuíram decisivamente para a monumentalização do referido episódio, alçado ao status de efetivo marco de transformações e rupturas nas relações mercantis estabelecidas entre o Brasil e as demais partes do Império luso. Ademais, discutiremos de que modo o tratamento de outros tipos documentais produzidos no período joanino – notadamente os passaportes expedidos às embarcações mercantes – oferecem novos horizontes de análise das circunstâncias que presidiram a deliberação da Abertura dos Portos e, especificamente, suas implicações no Centro-Sul da colônia. (ST18) Renatto Sérgio Costa da Silva (Mestre) Reunindo Memórias. A História Oral e as relações intergeracionais As considerações apresentadas aqui são fruto de um projeto aplicado aos alunos de Ensino Médio da rede pública paulista. Essa experiência ocorreu devido a proposta de aproximar duas instituições: a E. E. Ibrahim Nobre e o Grupo de Assistência ao Idoso, à

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Infância e à Adolescência – GAIA. Com a necessidade de reabrir a Unidade Escolar para a comunidade local tornou-se imprescindível fazer com que os alunos obtivessem um sentimento de pertença ao bairro e de garantir à comunidade local a ideia de que a escola é um espaço de todos. O convívio intergeracional que o projeto criou possibilitou que noções de ética e cidadania fossem desenvolvidas. Baseado na proposta curricular, o trabalho permitiu aos alunos perceber como é feita a construção do conhecimento histórico, a importância da memória coletiva, da história oral e principalmente a valorização do convívio entre as gerações. Aos idosos permitiu a possibilidade de ser o agente histórico, ser aquele que é, ao mesmo tempo, narrador e personagem da história. (ST23) Ricardo Sequeira Bechelli (Pós-doutorando) Cinema é história: a obra de Alfred Hitchcock e a segunda guerra mundial O objetivo do trabalho é analisar e expor as obras que o cineasta Alfred Hitchcock trabalho sobre a segunda guerra mundial, realizadas no contexto da guerra: Correspondente estrangeiro, o Sabotator, 1 barco e nove destinos e como epílogo do pós-guerra, Interludio e Festim Diabólico. Assim sendo, será possível estabelecer tanto a visão da guerra pela visão da sua época e também o pós-guerra, mostrando o cinema como História. (ST16) Rilton Ferreira Borges (Doutorando) Entre a escrita e a produção: naturalismo e história da França em Germinal O presente texto tem como objetivo analisar as condições de escrita (trabalho intelectual) e produção (trabalho industrial/comercial) da obra Germinal, de Émile Zola. Através desta dupla chave de análise (escrita/produção). Propomos uma análise de como o autor usa sua proposta naturalista, cuja literatura usa um método que confira cientificidade ao romance, para contar uma história “natural e social” da França a partir a descrição das personagens e sua condição de vida e trabalho. Sem perder de vista as relações entre seus interlocutores e o contexto histórico em que vivia, propomos uma leitura da obra de Zola enquanto testemunho de sua época e síntese de diversas ideias que circulavam durante o contexto de sua escrita e produção. Para isso, trabalharemos não só com o texto editado e publicado, mas também com os manuscritos, rascunhos e dossiês preparatórios escritos por Zola e que serviram como plano, não apenas para Germinal mas para toda a série em que esta obra estava inserida, Os Rougon-Macquart. (ST36) Roberto Manoel Andreoni Adolfo (Doutorando) Novas fontes, novos escravos: uma análise das mudanças documentais na historiografia brasileira da escravidão A partir dos anos 1980, com a consolidação dos cursos de pós graduação pelo país, a historiografia brasileira passou por diversas reformulações teórico-metodológicas. O mesmo se deu com a historiografia da escravidão. Se nos anos 1960 e 1970 os estudos ligados a esta temática foram marcados por abordagens preocupadas em entender as diretrizes econômicas do sistema escravista, nos anos 1980 houve uma tendência a enfatizar a dimensão cultural das relações sociais escravistas. Enquanto autores, como Jacob Gorender (1923-2013) e Fernando Henrique Cardoso, buscaram valorizar um modelo teórico de viés marxista, preocupado com um entendimento sistêmico da sociedade colonial, os historiadores dos anos 1980 abriram diálogo com as renovações marxistas, principalmente vindas de E. P. Thompson, e passaram a focar suas análises nas dimensões micro históricas, valorizando a abordagem sobre o cotidiano dos escravos. Estes redirecionamentos possibilitaram a emergência de um novo enunciado sobre o escravo; se no modelo historiográfico precedente os escravos eram compreendidos como

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peças (escravo-coisa) dentro de um sistema econômico maior, os redirecionamentos teórico-metodológicos dos autores dos anos 1980 permitiram que os escravos pudessem ser concebidos como agente-históricos. Um dos elementos que contribuiu para a emergência de tal enunciado foi a renovação que aconteceu tanto nos tipos de fontes como nos modos de abordá-las. Diante disso, nossa proposta é, através da análise de alguns autores-chaves neste processo, especificar as mudanças nas fontes, assim como os modos de interpretá-las, que atuaram no redirecionamento da historiografia da escravidão entre os anos 1960/70 e 1980. Para a realização de tal tarefa, por parte da historiografia setentista, escolhemos abordar O escravismo colonial (1978) de Jacob Gorender, historiador que além de estar situado no ponto máximo do debate acerca da natureza dos “modos de produção” brasileiro, também foi o principal crítico dos posteriores trabalhos sobre a escravidão. Já por parte da historiografia oitentista, trataremos de três estudos fundamentais: Ser escravo no Brasil (1982) de Kátia Mattoso, historiadora pioneira a enunciar o escravo como agente histórico; Rebelião escrava no Brasil (1986) de João José Reis e Campos da violência (1988) de Silvia Hunold Lara, historiadores que ajudaram a consolidar as análises preocupadas com a dimensão cultural da escravidão, assim como aprofundaram as reflexões sobre as relações cotidianas entre senhores e escravos. (ST18) Rodolfo Fiorucci (Doutor) A "Quarta Humanidade": raça e gênero em tons integralistas. O trabalho propõe discutir as concepções integralistas no tocante às questões de raça e gênero no contexto dos anos 1930 no Brasil, especificamente as expostas em sua principal revista, Anauê!. A AIB apresentou um projeto eugênico que visava criar uma nova raça brasileira, forte o suficiente para enfrentar as nações colonizadoras, e, para isso, seria necessário higienizar não apenas as características físicas do sujeito nacional, mas principalmente as comportamentais e morais. Nesse sentido, orientava seus militantes e leitores a seguirem determinadas diretrizes para a formação do homem, mulher e criança do futuro. (ST06) Rodrigo Aparecido De Araujo Pedroso (Doutorando) A Primeira Guerra em cartaz O presente artigo tem como objetivo expor um projeto de atividade interdisciplinar entre as disciplinas de História e Inglês. Que foi realizada no primeiro bimestre de 2014 e 2015 com alunos dos 9º anos da escola municipal Dr. Rabindranath Tagore dos Santos Pires, localizada na cidade de São Roque em São Paulo. O projeto consistiu em atividades de tradução e interpretação de cartazes Norte-americanos e Britânicos produzidos durante a Primeira Guerra Mundial. A atividade desenvolvida teve como objetivo principal viabilizar o contato dos estudantes com fontes históricas e, com o auxílio das professoras de Inglês, fornecer aos estudantes meios para decifrar, analisar e interpretar estas fontes históricas. (ST16) Rodrigo Da Silva (Doutor) Cidade documento: as cidades como documentos para o estudo da história O presente trabalho procura fomentar a discussão a respeito do emprego das cidades e suas representações como documentos para o estudo da história. Recorrentemente as cidades e suas representações (iconografia, cartografia, documentação escrita e impressa) são enclausurados nos universo da história urbana ou de uma suposta história das cidades. Tal enclausuramento desconsidera ou negligencia a importância e a riqueza que as próprias cidades - nossas contemporâneas - representam para o estudo da história, em suas mais diversas vertentes, temáticas, recortes ou balizamentos. Também não se pode circunscrever o emprego das cidades como documento às discussões - volumosas - da cultura material (as quais compõem, mas não esgotam o problema). Certamente a

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materialidade é de fundamental importância ainda que recorrentemente escanteada nas pesquisas históricas; entretanto as dimensões do emprego das cidades como documento trazem justamente características de serem objetos de gigantesca complexidade e oferecerem um cenário de interconexão entre suportes, temporalidades, grupos sociais, culturas. É justamente nessa amplitude - e nos desafios metodológicos implicados - que reside a riqueza do emprego da cidade-documento. (ST18) Rodrigo José Da Costa (Doutorando) A memória comunista sobre o golpe de 1964 em Alagoas O objetivo desta comunicação é discutir aspectos relativos à memória dos militantes comunistas alagoanos sobre o Golpe Civil e Militar de 1964. Tomando por base alguns livros de memórias editados por um ex-membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no estado e algumas entrevistas realizadas com ex-militantes, procuro entender a leitura - a posteriori - que os comunistas fizeram a respeito da conjuntura imediatamente anterior ao golpe, dos desdobramentos do Comício das Reformas realizado em Maceió em 29 de março de 1964 e o posterior impacto que a instauração da Ditadura trouxe para o Partido. (ST06) Rodrigo Marzano Munari (Mestrando) O governo representativo e os presidentes de província: a constituição de uma jurisprudência sobre as leis eleitorais no Império (São Paulo, 1840-50) Este trabalho visa, preliminarmente, caracterizar as funções e o lugar do presidente de província no governo representativo brasileiro, que foi instaurado pela Constituição de 1824 e tinha por base, principalmente, a prática eleitoral de cada circunscrição em que se dividia o Império. Se a Constituição imperial estabelecia eleições indiretas e censitárias para deputados e senadores, sucessivas leis regulamentares definiram o modo prático pelo qual tais eleições deveriam se realizar. Em geral, essas leis entregaram a condução do processo eleitoral nas mãos de autoridades eletivas estreitamente relacionadas às localidades (Câmaras municipais, juízes de paz, eleitores etc.). Consoante boa parte da historiografia, entretanto, eram os presidentes provinciais, diretamente nomeados pelo governo central, que determinavam a sorte de qualquer eleição. Agentes dos ministérios em cada província, os presidentes seriam responsáveis por fazerem a vitória dos candidatos governistas nos pleitos, cometendo, para tanto, vasta gama de fraudes e irregularidades. Embora as evidências dessas práticas sejam muitas e não possam ser minimizadas, esta pesquisa pretende demonstrar, tomando como exemplo a província de São Paulo na década de 1840 – década da primeira e mais duradoura reforma eleitoral aprovada pelo Parlamento (lei de 1846) –, que os presidentes não se ocupavam apenas com o manejo dos resultados eleitorais; mas estavam atentos, sobremaneira, à execução das leis que os regulavam. Analisando a correspondência oficial da presidência de São Paulo nesse período, algumas questões relevantes podem ser levantadas. Emitindo interpretações sobre particularidades dessas leis, respondendo a inúmeras dúvidas de autoridades locais, por vezes consultando o governo imperial a esse respeito, os presidentes teciam um extenso conjunto de decisões, frequentemente reiteradas; que, tanto quanto as copiosas resoluções sobre pareceres do Conselho de Estado, constituíam uma jurisprudência sobre os regulamentos eleitorais, no sentido de adequar as normas às situações de fato, resolvendo diversos problemas que apareciam nas eleições. Essa jurisprudência, conquanto se considere seu teor político substancial, revela os embates que se produziam, em torno da lei, entre os atores políticos locais, disputando a legitimidade de sua "correta interpretação"; como é observável, sobretudo, da participação constante de diversas autoridades que oficiavam ao governo em busca de solução para suas dúvidas e queixas, pelas quais a lei se tornava, bem ao contrário de "letra morta", motivo e cerne de tantas disputas. Desvelam-se, assim, as feições de um

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regime representativo que se encontrava em real processo de construção, consideradas as dificuldades e entraves com que deparava para se efetivar plenamente. (ST19) Rodrigo Medina Zagni (Doutor/UNIFESP) “Decifra-me ou devoro-te”: o enigma do nazi-fascismo na obra de Erich Fromm O artigo tem como objetivo identificar os referenciais teórico-conceituais a partir dos quais Erich Fromm, autor inscrito na tradição de uma Esquerda Freudiana, propôs sistemas explicativos para o fenômeno do nazi-fascismo. Fromm o fez do olho do furacão, no ano de 1941, com a Segunda Guerra ainda em curso e o governo nazista no poder. Mais amplamente, procura-se verificar que contributos estes referenciais puderam legar às Ciências Humanas e Sociais na forma de elementos explicativos, provenientes das teorias da psicanálise, para a tamanha complexidade deste objeto histórico. (ST06) Rodrigo Pezzonia (Doutorando) Augusto Boal, José Celso Martinez Corrêa e a Revolução dos Cravos: dois olhares em dois momentos. Em 25 de Abril de 1974, Portugal abandonava quase meio século de domínio fascista do regime salazarista. O país se encontrava em grau de desenvolvimento muito distante dos seus vizinhos de continente. Faltava-lhes trabalho, terra, teto, educação, saúde e, claro, cultura. Assim, a Revolução dos Cravos se fundamentava enquanto fenômeno que traria esperança de novos tempos para o povo português. Cruzando o Atlântico, a notícia de uma revolução à esquerda realizada por militares trazia desconfiança, mas ao mesmo tempo esperança. Em 1974, o golpe contra Salvador Allende já se consolidara como uma triste realidade, a Argentina parecia querer seguir os mesmos passos e outros países latino americanos já flertavam, ou estavam sob jugo da influência de ditaduras financiadas pelo “irmão do norte”. Assim, o número de exilados da ditadura brasileira só aumentara com a proliferação dos golpes, tendo ficado impossível permanecer em território sul americano sem o medo do pior. Portugal, assim como outros países europeus, tornou-se um dos caminhos viáveis para o movimento do exílio daquele momento até a edição da lei de Anistia brasileira em 1979. Bem, é neste ambiente retratado que a afluência de brasileiros a Portugal se insere e é também assim que dois dos mais importantes personagens do teatro nacional terão contato com a revolução portuguesa. Zé Celso e Augusto Boal participarão deste processo em dois momentos distintos e, por isso mesmo, terão duas visões quase que opostas sobre este movimento da segunda metade da década de 1970. Enquanto o primeiro lembrará dos eventos com euforia e encanto, o segundo só externa o sentimento de frustração. Por fim, o objetivo desta comunicação é tentar compreender as trajetórias destes dramaturgos através de seu exílio em Portugal e, acima de tudo, identificar quais os motivos que levaram a impressões tão díspares no que se refere à sua estada lusitana. (ST27) Rodrigo Seidl (Mestre) O teatro como fonte histórica no ensino e na pesquisa Este trabalho tem como objetivo discutir o uso do teatro como fonte histórica no ensino e na pesquisa acadêmica. A primeira parte será dedicada à discussão essencial sobre a natureza do fenômeno teatral para poder ampliar nosso entendimento dos vários processos e contextos que geram a performance teatral. Muitas vezes, o texto dramático se torna o foco de pesquisas do teatro, mas ele é apenas um elemento entre muitos outros que constituem a performance. Temos que considerar todo o processo da encenação teatral como, por exemplo, os usos do espaço, a formação dos atores e do

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público, as relações entre os artistas e as instituições de poder, etc. Acreditamos que uma análise completa do teatro como prática social pode enriquecer a pesquisa do historiador e também oferecer uma oportunidade para abordagens interdisciplinares de história no ensino médio. A segunda parte do trabalho será dedicada aos exemplos práticos do uso do teatro como fonte no ensino de história. Iremos aplicar as ideias discutidas na primeira parte do trabalho e sugerir formas pelas quais esta abordagem pode ser implementada numa aula para enriquecer a aprendizagem no ensino de história. (ST16) Roger Domenech Colacios (Pós-Doutorando) A Environmental Protection Agency/EUA: por que e para quem? (1970-1979) Resultante da articulação entre movimentos sociais, setores da sociedade política e imprensa, a Environmental Protection Agency dos EUA inaugurou na década de 1970 uma nova forma de regulação econômica. As políticas ambientais que compuseram o escopo de ferramentas da agência serviram aos propósitos de limitar e readequar os meios produtivos e o consumo no país. O Clean Air Act e o Clean Water Act, as duas principais leis, foram seguidas por outras, criadas para atender questões ambientais consideradas fulcrais pela sociedade civil estadunidense. Ao reportar-se diretamente à presidência, a EPA consequentemente respondia aos interesses da agenda política em vigor. A agência é retratada pela bibliografia especializada como um paradoxo no meio político dos EUA dos anos 1970, ao promover a regulação em meio a um clima de conservadorismo econômico, social e político e em plena consolidação do projeto neoliberal. O objetivo desta comunicação é questionar essa interpretação tradicional ao mapear a composição que formou os quadros sociais e políticos daqueles que tinham interesse na criação da agência e promulgação das leis ambientais. Apesar do ineditismo da EPA a intenção é mostrá-la como um aparelho de hegemonia do Estado nos EUA, servido aos propósitos de reforma política passiva e atendimento aos interesses da classe dominante no país. (ST37) Ronaldo Aurélio Gimenes Garcia (Doutor/UFFS) A constituição da escola e suas práticas no sudoeste do Paraná (1950-1980) A carência de estudos sobre a constituição das escolas da região do Sudoeste do Paraná impulsionou a realização da presente pesquisa. O objetivo aqui é investigar a história das escolas (do campo e urbanas) a partir de obras de memorialista e historiadores locais que deixaram produções escritas. Trata-se de um estudo que pretende investigar a constituição das escolas e suas práticas educativas nos municípios que compõem esta parte do estado do Paraná. Se comparadas a outras áreas brasileiras o sudoeste paranaense foi de ocupação muito recente, ou seja, por volta da segunda metade do século XX. O local foi durante muito tempo ocupado por indígenas e caboclos que viviam da agricultura de subsistência. Periodicamente o lugar era visitado por exploradores de madeira e erva mate, muitos deles vindos da Argentina. Como forma de marcar a presença brasileira na fronteira e evitar o contrabando de produtos nativos, o governo incentivou a ocupação da área. A partir da década de 1950, famílias vindas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina chegam à região em busca de novas terras para expansão da agricultura. Esses por sua vez eram descendentes de famílias de imigrantes europeus (italianos, alemães, polacos e outros) que chegaram ao sul do Brasil desde o final do século XIX. A disputa por terras envolvendo colonos, posseiros e companhias de colonização levou a uma grande revolta de colonos em 1957 que representa um marco importante para história regional. Em virtude desse contexto constituíram-se propriedades agrícolas de pequeno e médio porte e a predominância da agricultura familiar. Em meio a disputas e conflitos agrários se instalaram cidades e povoados com pouca estrutura. No entanto é constante nos relatos a presença da escola como um elemento muito valorizado pelas comunidades e autoridades, mesmo que para funcionar

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tivesse que contar com poucos recursos e professores leigos. Analisar a constituição e funcionamento destas escolas e o papel que desempenhavam nas comunidades em que se inseriam faz parte dessa investigação. O registro da memória desde período de ocupação e seus desafios está presente em diferentes publicações. Percebe-se o esforço de perpetuar uma memória que sirva como referência para as futuras gerações e ao mesmo tempo uma identidade histórica comum aos moradores da região. (ST29) Ronaldo Cardoso Alves (Doutor/UNESP-Assis) Discussões em torno da função pública da História: o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Didática da História – LEPEDIH-UNESP/Assis A comunicação tem como objetivo apresentar alguns elementos que deram origem ao Laboratório de Estudos e Pesquisas em Didática da História da UNESP/Assis - LEPEDIH, a fim de mostrar diferentes possibilidades de pesquisa em Ensino de História, por meio do repertório epistemológico da teoria da consciência histórica (RÜSEN, 2001), proveniente da Didática da História, tendo em vista a discussão a respeito da função pública da História. Era necessário construir um espaço de experiências novo na UNESP-Assis, com a finalidade de abrir um horizonte de expectativas (KOSELLECK, 2006) para a pesquisa em ensino de História e a qualificação da formação de professores-historiadores. Uma série de frentes de trabalho relacionando as três áreas que compõem o sustentáculo da universidade - o ensino, a pesquisa e a extensão (ALVES, 2014) – se constituiu para, paulatinamente, promover a compreensão de que o Ensino de História apresenta uma plêiade de possibilidades de pesquisa dada sua característica de ser região de fronteira entre a História e a Educação (MONTEIRO; PENNA, 2011). (ST23) Rosane Siqueira Teixeira (Pós-doutoranda) Imigração de trabalhadores estrangeiros no Nordeste, final do século XIX e início do XX. No Nordeste, o tema da imigração de trabalhadores estrangeiros, do final do século XIX e início do XX, ainda não recebeu a devida atenção da historiografia. Talvez porque seja ponto pacífico, entre os estudiosos da questão da mão de obra, afirmar que havia mais disponibilidade de braços do que uma falta absoluta deles e, desse modo, a lavoura nordestina podia prescindir do trabalho do imigrante. Esta comunicação tem por interesse identificar os debates sobre imigração travados no âmbito das classes dominantes dos estados nordestinos, para descobrir se houve interesse em introduzir trabalhadores estrangeiros e se esse intento foi concretizado. Averiguou-se que a disponibilidade de braços era relativa e, mesmo passando por experiências malsucedidas com imigrantes, a classe dominante tinha expectativas na introdução de trabalhadores estrangeiros por meio da imigração espontânea. (ST39) Rosangela Ferreira Leite (Pós-doutora/UNIFESP – Guarulhos) Escalas, Bens e Créditos, Rio de Janeiro 1808- 1821 Esta comunicação tem por objetivo analisar os conceitos e as práticas de escalas, bens e créditos, na praça comercial do Rio de Janeiro, no período entre 1808 e 1821. Três ordens de acontecimentos interligados favorecem este exame: as relações diplomáticas entre Portugal e Grã-Bretanha, a partir da transferência da Corte Portuguesa para o Brasil; a entrada de novos produtos, em consequência da abertura dos portos às nações amigas; e a alavancagem do mercado de créditos neste contexto de transmigração. Todos estes fatores são analisados pelo viés que assinala a fecundação de novas práticas de consumo em meio aos rearranjos político-econômicos que testemunharam a formação do Brasil Contemporâneo. (ST39)

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Rosiléia Santana Da Silva (Mestranda) Teresa Cristina Silva De Souza Souto (Pós-graduada) Luiz Marcio Santos Farias (Doutor/UFBA) Por que não posso ensinar a origem do mundo e do homem a partir do mito yorubá? Em busca de ecologia para a origem do mundo e do homem na cosmogonia yorubá, no ensino de história do 6º ano Afinal, qual a importância do mito para os povos da diáspora e comunidades tradicionais africanas? Qual a relevância epistemológica, para o ensino de História, ao abordarmos sobre a Origem do Mundo e do Homem na perspectiva cosmogônica yorubá? As questões manifestadas partem de uma pesquisa em andamento, “Os Mitos da Origem do Mundo e do Homem: a Cosmogonia Yorubá como uma proposta didática para a explicação dos mitos da origem do mundo e do homem no ensino de História do 6º Ano, onde buscamos espaços, ensino e funcionalidade de saberes oriundos das populações supracitadas. O presente artigo tem a proposta de apresentar resultados parciais da referida investigação, sem, contudo, respondê-los, mas, contextualizá-los histórica e epistemologicamente como o conceito Mito, para explicar a origem do mundo e do homem, foi/é dinamizado do contexto acadêmico para o escolar, desde o início da sua institucionalização. Compreender e explicar como se deu a origem do mundo e do homem é uma das sagas humanas desde que o homem passa a ter consciência de si no mundo, e ao propormos construir propostas didática para a educação básica com essa temática, percorremos o desafio de ruptura epistemológica alicerçada na perspectiva eurocêntrica, no caso contextual, de base científica. A mola que alavanca a discussão surge por considerar a existência de efetivas lacunas no processo didático do ensino de História, no que se refere à implementação de saberes oriundo das populações africanas e afro-brasileiras, culminando na não garantia do ensino referente e, consequentemente, na não efetivação da lei 10.639/03. A pesquisa é alicerçada na base teórica da Teoria Antropológica do Didático – TAD - de Yves Chevallard (1999), na qual trazemos à reflexão as implicações didático-epistemológica de referência, ao longo dos seus quinze anos, no ensino, considerando um Modelo Epistemológico Dominante, mesmo diante de relevantes trabalhos acadêmicos, que repercute nas práticas de professores presentes nas instituições escolares. Utilizamos a Engenharia Didática como metodologia, e diante das suas finalidades propomos mecanismos didáticos referendados na TAD, onde a mesma nos propõe uma ruptura epistemológica restritiva que contribua na prática efetiva e na presença constante dos saberes referentes em sala de aula. (ST02) Rui Campos Dias (Mestrando) As relações entre conteúdos digitais de história dos PNLDs 2014, 2015 e 2016 e a história pública: reflexões iniciais. Nosso objetivo com o presente trabalho é apresentar algumas reflexões iniciais de pesquisa sobre as relações entre conteúdos educacionais digitais de história (vinculados aos livros didáticos de história adquiridos no Programa Nacional do Livro Didático de 2014, 2015 e 2016) e a história pública. A pesquisa encontra-se na fase inicial e corresponde ao mestrado em História Social da Universidade Estadual de Londrina, com o título “As apropriações dos professores de história dos conteúdos digitais dos PNLD 2014, 2015 e 2016”. As reflexões referem-se ao livro didático e aos conteúdos educacionais digitais como ferramentas para difundir o conhecimento histórico para amplas audiências, para além dos historiadores profissionais. O objeto de estudo, ou seja, os OED e os livros didáticos digitais são importantes em uma sociedade mediada pela cultura midiática/tecnológica, e nos interessa saber na pesquisa concluída, as apropriações que os professores fazem deste material, além de relacionar o alcance desses conteúdos de história para outros públicos, já que eles ultrapassam as fronteiras do ensino superior. Por ora, vamos analisar os editais e guias dos PNLDs como

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documentos representantes dessa política pública e, assim, procurar entender qual seria a proposta desses documentos envolvidos nas prescrições, para posteriormente investigar se o que se prescreve é aceito, assimilado, praticado, entendido ou mesmo transgredido pelo professor no âmbito do processo de construção do conhecimento histórico em sala de aula. (ST23) Sandra Maret Scovenna (Mestre) Nas Entrelinhas do Riso: as crônicas humorísticas de Belmonte na primeira metade da década de 30. O objetivo da apresentação desse trabalho de mestrado é propor uma análise do contexto histórico dos anos 30 e das crônicas humorística de Benedito Bastos Barreto, o Belmonte. Procuramos, também, estabelecer diálogos entre as possibilidades abertas pela análise do trabalho literário de Belmonte e o ensino de história na educação básica. Minha dissertação de mestrado almejou analisar a produção literária de Belmonte, escrita entre 1932 e 1935, e teve como eixo as temáticas mais constantes na escrita de Belmonte: a rejeição do governo de Getúlio Vargas e do Nazi-fascismo e as severas críticas à modernidade técnica. Em suas críticas ao Nazi-fascismo, elaboradas na primeira metade da década de trinta do século passado, o cronista demonstrou precocidade e ineditismo frente aos jornalistas e jornais paulistas da época, sendo que estes tendiam a se calar ou a demonstrar simpatia perante a ascensão dos governos Fascistas de Hitler e Mussolini. Essa apresentação para a ANPUH de 2016 pretende apresentar um panorama geral da época, da história dos jornais paulistanos, e as concepções do escritor com relação ao Nazi-fascismo. E, ao elaborar críticas à modernidade técnica, sugerimos que Belmonte não apenas repudiava o incrível potencial bélico demonstrado com ineditismo na Primeira Guerra Mundial, como também apontava para a complexa e problemática modernização da cidade de São Paulo, assim como a aspectos atribulados da sua história recente. (ST16) Sandro Heleno Morais Zarpelão (Doutorando) Os jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo no processo de construção da legitimidade da Guerra Videogame, no Brasil (1990-1991) Em 17 de janeiro de 1991, os céus de Bagdá, no Iraque, viram os primeiros mísseis da coalizão de 34 países, liderada pelos Estados Unidos, caírem sobre a cidade. As baterias antiaéreas iraquianas passaram a rechaçar o ataque estadunidense cujas imagens foram captadas ao longo dos dias subsequentes pelas lentes televisivas da CNN como se fosse uma Guerra Videogame. Ressalta-se que era uma época de profunda agitação marcada pela Queda do Muro de Berlim, em 1989, seguida por revoluções no Leste Europeu, a unificação alemã e a implosão da URSS, em 1991, fatos que prenunciavam o final do Mundo Bipolar. A euforia da economia de mercado, do neoliberalismo e da democracia representativa marcaram as relações internacionais da década de 1990. Os jornais dos Estados Unidos, da Europa Ocidental e da América Latina alardeavam o fim iminente da Guerra Fria e o “fim da História”, defendido por Fukuyama. O ataque à Bagdá marcou o início da Guerra do Golfo, quando os Estados Unidos colocaram em movimento a sua máquina militar, por meio da Operação "Tempestade no Deserto" contra o Iraque. Era a Doutrina Powell sendo aplicada no campo militar e estratégico. Para vários meios de comunicação, televisivos, radiofônicos e impressos, a guerra era justa e legítima e pouco se discutiu se ela era realmente necessária e inevitável. Mesmo estando longe do teatro de operações, no caso o Oriente Médio, no Brasil havia grande apreensão, curiosidade e medo com relação ao embate no Golfo Pérsico. Nesse sentido, dois dos maiores jornais brasileiros, em 1990 e 1991, no caso “Folha de São Paulo” e “O Estado de São Paulo”, cada um a sua maneira ajudaram no processo de construção da legitimidade do citado conflito no Brasil. O objetivo do trabalho, então, é analisar, por meio de metodologia

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comparativa, como os mencionados meios de comunicação escritos auxiliaram no processo de construção de legitimidade sobre a Guerra do Golfo em território brasileiro. Para tanto, será feita uma análise de como a imprensa brasileira escrita, no caso os jornais "O Estado de São Paulo" e "Folha de São Paulo" fizeram a cobertura do conflito no Kuwait e no Iraque. A metodologia empregada foi a análise comparativa, por meio de História Comparada, de referências que se debruçam sobre a política externa dos EUA e sobre a histórias dos jornais O Estados de São Paulo e Folha de São Paulo. (ST34) Sávio Luis Stoco (Doutorando) Identidade, política e rios do Alto-Amazonas: o pano de boca de Chrispim do Amaral no Teatro Amazonas Nesta apresentação pretendo abordar a constituição do discurso sobre um marco natural que se relaciona à Manaus e foi representado por meio de uma série de obras, sobretudo visuais, a partir de meados do século XIX. Para isso analisarei uma das poucas pinturas monumentais encomendadas pelo governo do Amazonas, o pano de boca do Teatro Amazonas (c. 1897), que tematiza e exalta o encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Uma imagem produzida na época de crescimento econômico por conta da exportação internacional da borracha e que se relaciona ao projeto da elite amazonense de forjar uma identidade local, atualizando a tradição colonial de enaltecimento da natureza. Empreendida por Chrispim do Amaral (1858-1911), artista pernambucano radicado em Belém, esta grande pintura demarca a geografia, descrevendo o local e articulando significados por meio de figuras alegóricas. O problema da “leitura” desta obra parece se esclarecer ao considerarmos a provável referência do pintor a um verbete do Diccionario topographico, histórico, descriptivo da comarca do Alto-Amazonas (1852), escrito pelo militar baiano e sócio do IHGB, Araújo Amazonas (1803-1864). Ele também distingue, descreve e alegoriza a confluência dos rios, criando uma imagem textual de notável proximidade com a tela. Além disso, é significativo este cotejo por ser um livro realizado durante o período de emancipação do Estado, e, com o passar dos anos, este volume ter se notabilizando não apenas como fonte de informações para a intelectualidade manauense, mas por contribuir na formação identitária daquela região demarcando as particularidades da região do Alto-Amazonas em diferenciação ao Pará. Tal intertextualidade nos falaria da intensão desta elite de se remeter à independência política estadual por meio de monumentos urbanos; noção reforçada ao observarmos o diálogo entre o TA, o Monumento de Abertura dos Portos (do rio Amazonas) e o que homenageia o primeiro governador amazonense Tenreiro Aranha (atuante em 1852). A partir dessa análise, histórica e estética, buscaremos aprofundar as compreensões sobre os desejos de representação da sociedade financiadora do TA por meio da tradição que ela engendrou, contornando a carência de documentação sobre o contrato e o projeto de Amaral. Esta investigação integra o esforço geral de traçar a genealogia dos discursos visuais amazônicos que vão em direção aos longas-metragens realizados, nos anos 1920, pelo cineasta português radicado em Manaus Silvino Santos (1886-1970) e que narrativizam grandes viagens pelos rios da região. Estas obras exaltaram a natureza abordando o comércio regional, financiadas por capitais de instituições envolvidas na política do final do XIX, como a principal delas, a empresa J. G. Araújo & Cia. (1877). (ST10) Selma De Araujo Torres Omuro (Doutora) A questão racial nas letras das canções populares brasileiras O artigo analisa a percepção da questão do preconceito racial no Brasil no conteúdo das letras de canções populares que fizeram sucesso no país ao longo do século XX. Faz-se um paralelo entre a produção da música popular brasileira e as análises sociológicas que explicam a relações raciais no Brasil, ora contribuindo para a construção do “mito da

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democracia racial”, ora desmistificando-o. A questão racial foi um tema crucial na construção da identidade nacional brasileira e esteve sempre presente na obra dos intelectuais brasileiros e na produção artística e cultural da população. É possível identificar elementos do chamado “mito da democracia racial”, construção ideológica que afirma que não há racismo no Brasil, nos versos de canções como “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso, 1939) e “Brasil Pandeiro” (Assis Valente, 1941). Da mesma forma, localiza-se elementos de desconstrução desse mito nas músicas “A mão da limpeza” (Gilberto Gil) e “Haiti” (Caetano Veloso, 1992). Na análise destas produções musicais pode-se perceber o diálogo com a produção acadêmica de sociólogos como Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala, 1933) e como Florestan Fernandes (A integração do negro na sociedade de classes, 1964), refletindo os dilemas da questão racial no Brasil. (ST26) Senia Regina Bastos (Doutora/Anhembi Morumbi) Refugiados e deslocados de guerra em São Paulo nos anos 1950 Após a finalização da Segunda Guerra Mundial a imigração foi retomada no Brasil com o objetivo de dinamizar o progresso do país sem, no entanto, comprometer os interesses do trabalhador nacional, preservando a composição étnica e a ascendência europeia. O artigo versa sobre os refugiados e deslocados de guerra que entraram durante o período 1947 a 1951, valendo-se de levantamento bibliográfico, do banco de dados que reúne registros de estrangeiros que se encaminharam à Hospedaria do Imigrante de São Paulo nesse período e prontuários do Departamento de Ordem Política e Social (DEOPS). Elabora um perfil desse grupo oriundo dos campos de refugiados da Alemanha e da Áustria, cujas trajetórias são perseguidas nos prontuários do DEOPS. (ST39) Silene Ferreira Claro (Doutora/Faculdade Sumaré e Faculdades Integradas Campos Salles) Representações da Colônia Portuguesa na América no filme Caramuru - a invenção do Brasil Durante as comemorações dos quinhentos anos do descobrimento do Brasil ocorreram várias manifestações comemorativas. Dentre elas destaca-se a minissérie, depois transformada em longa-metragem, Caramuru - a invenção do Brasil. Trata-se de uma adaptação da epopeia escrita no século XVIII pelo religioso Santa Rita Durão e que pretendia ser para a América Portuguesa o que Os Lusíadas era para Portugal. Desta forma esta análise procura identificar e discutir como a obra de Guel Arraes interpretou os escritos oitocentistas, num contexto comemorativo. (ST34) Silvia Helena Zanirato (Pós-doutora/EACH – USP) Os sentidos de tempo, espaço e interdisciplinaridade e a História Ambiental O objetivo da comunicação é o de discutir como os historiadores têm abordado a temática ambiental, considerando os desafios epistemológicos que se apresentam para o desenvolvimento desse tipo de história. Os problemas mais relevantes, ao nosso ver, se expressam na forma como a disciplina história é pensada, como o tempo e o espaço são tratados nessa escrita e como a interdisciplinaridade se apresenta em produções históricas que tratam com temas socioambientais. (ST37) Simone Andriani Dos Santos (Mestre) Senhoras e criadas: representações femininas, São Paulo (1870-1920) Este trabalho tem o objetivo de analisar as representações de patroas e empregadas domésticas presentes em manuais femininos de prescrição de comportamento, publicados entre as décadas 1870 e 1920. Tais obras circularam pela cidade de São Paulo, em um momento em que as mudanças advindas com os novos hábitos de consumo, intensificados pela modernização da infraestrutura e diversificação das atividades e

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agentes urbanos, foram aprofundadas e disseminadas. A capital paulista se tornou um grande atrativo para aqueles em busca de emprego. O serviço doméstico absorveu grande parte dos desempregados, sobretudo mulheres e crianças, que passaram a trabalhar como cozinheiras, criadas, lavadeiras, passadeiras, arrumadeiras, copeiras, amas-de-leite e amas secas, pajens e ajudantes. Destinados sobretudo ao público leitor feminino, os manuais prescritivos de conduta ensinavam o que era ser uma mulher elegante, educada e civilizada, prescreviam ações em eventos sociais e festas, davam dicas de higiene (pessoal e da habitação), ajudavam a organizar a rotina de trabalhos domésticos, forneciam informações sobre como tratar os empregados e, sobretudo, informavam o que era ser uma boa mãe, esposa e administradora do lar. Ao se pensar os preceitos veiculados por meio de tais obras e a forma como buscavam transmitir um ideal de comportamento à mulher, pode-se dizer que eles contribuíram para a construção de representações e papeis sociais destinados ao gênero feminino. Analisando como patroas e empregadas eram representadas em tais obras, observa-se que elas eram retratadas de forma distinta, quase de forma oposta. Dessa forma, a intenção é refletir sobre as distinções feitas dessas mulheres. Considera-se que o uso desse recurso tinha a função de engajar as leitoras dos manuais no papel de mãe, esposa e dona de casa. Fazendo a intersecção entre diferentes categorias de análise das diferenças, além da de gênero, pretende-se contribuir para o debate frente ao ressurgimento de ideologias conservadoras. (ST25) Sônia De Oliveira Camara Rangel (Pós-doutora/UERJ) Debates em torno da criação dos tribunais para crianças no jornal A Gazeta de Notícias nas décadas de 1910 a 1920 Antenados com os debates produzidos na Europa e nos Estados Unidos da América do Norte, a intelectualidade brasileira leitora das ideias e matrizes em circulação internacional, a partir de finais do século XIX, refletia quanto à pertinência dos modelos para se pensar a realidade da infância. Pensaram acerca dos problemas envolvendo a miséria moral e material do ambiente, as influências maléficas da imprensa, do cinema, das profissões perigosas, da rua, do industrialismo, como também dos elementos constitutivos de nossa formação racial. Nessa perspectiva, debates foram mobilizados pela imprensa quanto a criação de instituições destinadas a julgar, a preservar e a regenerar à infância considerada degenerada, nas primeiras décadas do século XX. O destaque atribuído ao tema deveu-se, em parte, às precárias condições de funcionamento das instituições prisionais e de correção existentes no país e, de outro, à repercussão e o entusiasmo que as ideias apresentadas no Primeiro Congresso Internacional dos Tribunais da Infância, realizado em Paris, em 1911, produziram sobre a intelectualidade brasileira. Nessa direção, o jurista Athaulpho de Paiva publicou no Jornal do Comércio, o artigo A Nova Justiça. Os Tribunais para Menores, em que além de enaltecer as proposições apresentadas, conclamava os poderes instituídos a colocarem o Brasil no “trilho da modernidade e do progresso”. Para efeito desta comunicação, interessa-nos compreender os efeitos advindos com esses debates e, em particular, do inquérito, intitulado: Tribunais para a Criança, publicado pelo jornal carioca, A Gazeta de Notícias, durante o mês de maio de 1911. Numa campanha de mobilização dos poderes públicos e dos setores organizados da sociedade, o jornal iniciou o inquérito, convidando personalidades, a exemplo de: Maurício de Medeiros, Astolpho Rezende e Alfredo Pinto. Com a publicação do inquérito esperava-se agenciar uma campanha de mobilização a fim de propor soluções para os problemas que envolviam, por um lado, o abandono e a delinquência infantil e, por outro a criação de instituições especificas para o atendimento à infância. O movimento assentava-se no intuito de se instituir mudanças na justiça, organizando instâncias referendadas nos pressupostos advindos com o Novo Direito. A

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proposta que agitou o meio jurídico, ao qual o inquérito do jornal foi expressão, mobilizou a circulação de notícias pela imprensa carioca, durante as décadas de 1910 e 1920. Esse movimento objetivava, com isso, afastar a criança da área penal em prol de uma reforma que perspectivasse a sua tutela, proteção e regeneração em instituições educativas especificas. Esta intenção se materializou, em 1927, com a aprovação do Código de Menores, primeira legislação brasileira neste campo. (ST01) Sueli Soares Dos Santos Batista (Pós-doutora) “Fazendo de pequenos indígenas, agricultores esclarecidos”: análise dos relatórios de atividades das escolas do Serviço de Proteção aos Índios nas décadas de 1950 e 1960. O recorte temporal da pesquisa apresentada neste artigo é o período concernente às décadas de 1950 e 1960, período em que se teve a elaboração de um primeiro plano educacional para as comunidades indígenas no Brasil e as primeiras iniciativas em termos de formação de professores para suas escolas. O corpus documental analisado se refere a relatórios de atividades escolares produzidos pelos postos indígenas e encaminhados às inspetorias regionais do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) neste período. Estes relatórios se constituem de listas de presença dos alunos, provas realizadas pelas crianças indígenas e observações gerais sobre o rendimento escolar escritas pelos auxiliares de ensino. O objetivo deste estudo é aprofundar sobre a educação escolar indígena no período do SPI tematizando e problematizando o que seriam as propostas e contradições destas propostas no que diz respeito às relações entre educação e trabalho. Se pensarmos apenas nas rupturas entre educação indígena promovida desde a colonização até as experiências recentes da Funai antes dos anos 80 em contraposição às atuais propostas de interculturalidade, vamos deixar de avaliar quão problemático é introduzir em comunidades tradicionais conceitos de valorização do trabalho e aproveitamento do tempo livre, valorações de caráter capitalista que só têm sido incrementadas ao longo do processo de escolarização das crianças indígenas e não indígenas. (ST01) Sylvia Xavier (Pós-graduanda) Currículo de Educação de Jovens e Adultos O artigo é uma parte da pesquisa realizada durante o mestrado sobre a história do currículo de Suplência, tendo como fonte o boletim — Xerete! — produzido pelo Curso Supletivo do Colégio Santa Cruz (CSC), em São Paulo, SP, entre os anos de 1983 e 1991. Esse boletim faz parte do acervo colecionado nesse curso, desde 1974. O Xerete! constitui parte da reflexão sobre a dinâmica do projeto político-pedagógico que elabora propostas que visam criatividade, consciência política e atuação social. Escrito por professores, direção e coordenação, relata, determina, analisa e avalia práticas focadas em habilidades, valores e atitudes que propiciem a ampliação de horizontes de reflexão e da participação no mundo letrado. A consistência desse supletivo é legitimada no diálogo com movimentos sociais e políticos brasileiros e internacionais, reflexões acadêmicas e no envolvimento dos alunos. A análise identifica os temas pedagógicos que constam nos Xeretes! e o que se quer modificar em relação ao currículo. O que propõem os autores, quais imposições surgem e que táticas e estratégias ocorrem. Desde o estabelecimento das funções da suplência, na década de 1970, a prática pedagógica fez desse curso, o lugar da contestação da suplência e do currículo escolar prescritivo. Ao concebê-lo como lugar social de recuperação de tradições culturais e de estímulo à continuação dos estudos, para aqueles que são excluídos econômica e culturalmente, a bricolagem é constante. (ST05)

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Taiane Vanessa Da Silva (Mestranda) A investigação histórica no museu: considerações sobre o acervo de fontes orais do Museu Histórico de Londrina O presente texto é resultado de um projeto de mestrado – aprovado pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Estadual de Londrina – que tem como objetivo geral estabelecer relações entre as temáticas de depoimentos presentes no acervo de fontes orais do Museu Histórico de Londrina (MHL), localizado no norte do Paraná, com a historiografia produzida sobre aquela região a fim de perceber possíveis aproximações e/ou distanciamentos das entrevistas com as reformulações historiográficas ocorridas ao longo do século XX. A pesquisa também visa compreender como o MHL lida com a história de Londrina e do norte do Paraná e quais versões ele dissemina. É válido ressaltar que a pesquisa da dissertação está em andamento e ainda não apresenta resultados referentes da análise de fontes. Desta forma, serão apresentados o caminho teórico e metodológico utilizado para a elaboração do projeto assim como discussões pertinentes à investigação histórica em museus. Ao utilizar depoimentos orais enquanto fontes de estudo, a pesquisa se embasa, principalmente, nos conceitos de memória de acordo com Michael Pollak (1992), Pierre Nora (1993) e Maurice Halbwachs (1990), e documento/monumento segundo Jacques Le Goff (1984), além de estudos referentes a História Oral e ao tratamento de fontes orais. Também serão usadas pesquisas voltadas para a preservação, investigação e comunicação de acervos considerando os museus como espaços destinados à construção e disseminação de conhecimento na sociedade. No que diz respeito ao método de seleção dos depoimentos, será analisada a tipologia dos entrevistados – gênero, idade, profissão, entre outras características – em busca de grupos hegemônicos delimitados pelo critério de saturação proposto por Roque Moraes (2003). Em linhas gerais, a pesquisa visa problematizar o acervo de depoimentos do MHL, suas relações com as reformulações historiográficas e, consequentemente, memórias selecionadas que dizem acerca da representação da história da cidade de Londrina e região construída pelo Museu. Além disso, almeja-se ampliar a comunicação daquele acervo ao acesso futuro, justificando assim a sua preservação. (ST18) Thais Klarge Minoda (Graduado) O jardim da Luz como cenário e paisagem nos cartões postais Esta apresentação faz parte do primeiro capítulo da dissertação de mestrado e pretende analisar a construção da paisagem do Jardim da Luz a partir dos projetos, remodelações levadas a cabo pelo poder público, cartões postais e relatos de viajantes, com o intuito de entender como o jardim foi concebido e projetado, vale dizer, quais as referências estéticas e urbanas para o traçado, o mobiliário urbano e os elementos paisagísticos e em que medida esses elementos materiais foram mobilizados por representações iconográficas para a construção de modelos visuais capazes de enunciar formas de sociabilidade. (ST10) Thaís Schmidt Salgado Vaz De Castro (Mestranda) A distinção pelo alimento a partir do habitus: considerações históricas Este artigo discute os fatores que contribuem para a formação do gosto alimentar, como este gosto funciona como um elemento de distinção entre as classes sociais e aponta alguns momentos históricos onde isso acontece. Utiliza como principal norteador o conceito de hábitus, de Pierre Bourdieu, além das contribuições de Jean Louis Flandrin e Mariana Corção. O artigo inicia apontando como a alimentação se tornou foco dos estudos históricos, a partir da década de 1970, com a História dos Annales. o primeiro apontamento é em relação à pré-história, quando antes da sedentarização os indivíduos estavam a mercê da geografia e da disposição dos alimentos próximos às aldeias. Com a

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fixação do homem na terra e a descoberta da agricultura a disposição dos alimentos também se modificou, de modo que o homem passou a ter o controle do que era produzido e do que fazia parte de sua alimentação. Durante a Idade Antiga até o século XVII, foi a medicina hipocrática influenciou as escolhas alimentares dos indivíduos, pois relacionava a alimentação com a cura de doenças e o equilíbrio dos fluidos corporais e até dos temperamentos. Depois disso, na Idade Média a forma de distinção pelo alimento se dava com o serviço exagerado nas quantidades e a preocupação com a apresentação dos alimentos. Quanto mais variedade e quantidade, mais riqueza se demonstrava. O consumo de pão também era diferente entre os mais ricos e os camponeses. Os mais abastados comiam pão branco feito com farinha branca enquanto os mais pobres comiam pão preto feito com outros cereais pouco panificáveis. Situação que se inverteu nos dias atuais, os mais ricos consomem pães não feitos com trigo e os pobres o pão branco. Isso demonstra que as elites não mantêm um padrão de distinção, que os fatores que apresentam a distinção das classes se moldam ao longo do tempo. As especiarias e o açúcar, ambas do século XVII, mas em lugares deferentes, são exemplos de utilização do alimento como fator de distinção social pela elite. Nos dias atuais as influências externas continuam determinando o que se leva à boca, como as dietas de moda e da constante gourmetização dos alimentos. A aquisição destas dietas ou de alimentos gourmetizados se tornou um modo de distinção entre os indivíduos e entre as classes sociais. Além do habitus, o conceito de memória de Jaques Le Goff contribui no que diz respeito à formação do gosto individual, quando os sabores dos alimentos ofertados na infância contribuem para determinar ou não o que é agradável de comer na vida adulta. Tanto o habitus quanto a memória partilhada contribuem para a formação do gosto de determinada classe, de determinado grupo. Dessa forma, estudar os hábitos alimentares na história é compreender o processo de construção histórico por outro olhar, o cotidiano. (ST22) Thiago De Faria E Silva (Doutorando) O caso do filme "Cabra Marcado Para Morrer": leituras fílmicas e ensino de História O trabalho realiza uma análise das diversas leituras sobre o filme "Cabra Marcado para morrer" (1984) em diferentes áreas do conhecimento e momentos históricos. Com isso, pretende contribuir para ampliar as discussões sobre a Ditadura Civil-Militar nas aulas de História. (ST16) Thiago Fernando Dias (Mestrando) A edificação do poder eclesiástico na Primeira Idade Média: o exemplo da Vita Caesari Episcopi Arelatensis. A partir do final do século V, a desordem provocada pelos recorrentes movimentos migratórios dos germânicos – que remontam o terceiro século – e um prolongado tempo de problemas militares, ocasionaram a desestruturação da unidade Imperial no Ocidente. Com a transferência das insígnias imperiais para Constantinopla, o estabelecimento de diversos reis germânicos por diversas regiões e o consequente desmantelamento da unificada organização administrativa, exacerba uma crise de autoridade estatal. Nesse momento, uma nova realidade foi posta diante da estrutura da hierarquia eclesiástica, o que obrigou-a tomar medidas para garantir e propagar os prestígios adquiridos anteriormente. Nesse novo contexto, como elemento para suprir a falta da autoridade anteriormente estabelecida, a autoridade episcopal começa a ser ainda mais notório. O bispo, muitas vezes considerado homem santo – consequentemente uma autoridade na hierarquia eclesiástica – desempenhou um papel de destaque como liderança política, econômica e administrativa de diversas regiões. Este processo foi visível no sul da Gália, sobretudo na Provença, que no fim do século V e início do VI, passou por conflitos e mudanças que proporcionaram um prestígio ainda

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maior para os prelados da região, especialmente para o bispo de Arles, Cesário, prelado que atuou por mais de trinta anos na cidade e teve constante ligação com os governantes germânicos. Deste modo, a comunicação pretende apresentar algumas características da edificação do bispo como um líder citadino que conseguiu assimilar e desempenhar vários papéis dentro de suas funções eclesiásticas. (ST38) Thiago Henrique Sampaio (Mestrando) Novos tempos, novas formas de dominação: a construção do caminho de ferro de Beira em Moçambique (1891-1897) Os caminhos de ferro tornaram-se um dos símbolos da modernidade e do avanço industrial no século XIX. Em finais de Oitocentos, as ferrovias passaram a ser utilizadas não com propósitos meramente econômicos, mas também coloniais. Sendo uma forma de ocupação e integração de territórios até então incontroláveis pelas metrópoles em outros continentes. Normalmente, eram construídos para ligar o hinterland de uma localidade ao porto mais próximo para vazão da produção. No caso do caminho de ferro de Beira, sua construção buscou uma integração regional de Moçambique com outros territórios da África Central, pois serviria para escoar a produção destas localidades. O presente trabalho tem por objetivo analisar a construção do caminho de ferro de Beira em Moçambique, na última década do século XIX, como instrumento de dominação de um território que até então despertava pouco interesse para a política colonial metropolitana. (ST02) Tiaraju Pablo D'andrea (Doutor) Samba raíz e redemocratização A comunicação que este resumo propõe pretende problematizar o denominado samba de raíz entre os anos 1984 e 1990, período marcado pelo processo de redemocratização no Brasil e pelo denominado “ascenso do movimento de massa”. Esta apresentação se enquadra em uma pesquisa em andamento que visa entender o estabelecimento de três gêneros musicais populares e sua relação com determinado período sócio-histórico, a saber: o samba no segundo quinquênio da década de 1980; o rap na década de 1990 e o funk no correr dos anos 2000. Para tanto, leva-se em consideração as camadas populares urbanas de São Paulo e Rio de Janeiro. Com relação ao samba de raíz, a hipótese que embasa a pesquisa é a de que esse gênero foi popular nesse período devido ao seu discurso potente e adequado àquele momento histórico. Unindo a percussividade de suas matrizes africanas com melodías típicas da forma canção, parece que este sub-gênero do samba possuiu a forma mais bem acabada musicalmente para expressar o otimismo e as esperanças do país naquele momento (TROTTA, 2011; BRAZ, 2013). Já na década de 1970, marcada pelo estabelecimento de gêneros musicais estrangeiros cuja tônica eram os bailes blacks, alguns sambistas repensaram o posicionamento do samba enquanto gênero popular e nacional. Neste âmbito, cabe destacar a pauta pública colocada pelo sambista Candeia, quando da fundação por este da escola de samba G.R.A.N. Quilombo, e João Nogueira, fundador do Clube do Samba. Ao que parece, estes movimentos pioneiros acabam por ganhar potencialidade na década de 1980 e por obra de outros sambistas, que conseguiram recolocar o samba em um lugar de destaque no cenário musical brasileiro, numa espécie de “volta por cima do samba”. Trata-se aqui do samba de partido alto, defendido e interpretado por sambistas como Beth Carvalho, Leci Brandão, Zeca Pagodinho e Fundo de Quintal, estes últimos liderando o movimento cultural originado nas rodas de samba do Clube Cacique de Ramos, no começo da década de 1980 (LOPES, 2008). Em síntese, o objetivo desta comunicação é apresentar a relação entre a importância do samba no período de redemocratização do país, vinculando-o ao imaginário popular

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daquele momento histórico, bem como problematizar algumas letras desse gênero musical que retratavam a organização popular e as esperanças que se abriam naquele período. (NAPOLITANO, 2007). (ST26) Tony Hara (Doutor) Sobre o cinismo de massa: escolher a vida ou participar da festa dos suicidas? Existe hoje em dia um tipo de cinismo difuso que pouco tem a ver com os antigos filósofos cínicos, discípulos de Antístenes e de Diógenes. A partir de abordagens diferentes, Peter Sloterdijk (Crítica da Razão Cínica) e Michel Onfray (Escultura de Si e Cinismos) investigam esse conformismo astuto, imprescindível para o funcionamento das sociedades de massa. Onfray sem meias palavras: Os novos cínicos “ilustram a mais radical das imoralidades. Sem ética que os sustente, sem valores que os estilizem, não hesitam em praticar o desvio do termo, a fabricação de uma reputação de cobertura, a promoção de um ideal teórico indexado segundo a encomenda do maior número.” Sloterdijk: “o cinismo é a falsa consciência esclarecida”. O cínico moderno sabe, mas não age de acordo com o que sabe, por imposições da sobrevivência, desejo de conforto, de autoafirmação, etc. Essa comunicação gira em torno de duas perguntas: O “empresário de si mesmo”, figura visada por Michel Foucault, é um novo cínico? A rememoração dos gestos filosóficos de Diógenes, Antístenes, dos cínicos antigos, é útil para resistir aos cinismos de agora? (ST45) Uassyr De Siqueira (Doutor) Música caipira e política em João Chiarini (Piracicaba, 1940-1950) João Chiarini nasceu em 1919, na cidade de Piracicaba. Entre 1942 e 1943, cursou sociologia na Escola Superior de Sociologia e Política de São Paulo. Nas décadas de 1940 e 1950, escreveu vários artigos sobre folclore na imprensa piracicabana, abordando gêneros como o cururu e a moda-de-viola. Em 1945 se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, no mesmo ano, foi fundador do Centro de Folclore de Piracicaba, organização criada como o intuito de preservação e difusão do folclore, mas também com contornos políticos. Em 1948 Chiarini foi nomeado membro da Subcomissão de Folclore do Estado de São Paulo. O que pretendemos abordar na comunicação são as análises de João Chiarini sobre a música caipira durante as décadas de 1940 e 1950, período de intensificação do denominado Movimento Folclórico Brasileiro. Escrevendo sobre o folclore regional, abordou sobretudo o cururu e a moda-de-viola, gêneros pertencentes ao universo musical caipira. Participando da organização e da direção de uma associação folclórica, Chiarini também dialogou com outros intelectuais, como Mario de Andrade, deixando também a marca de suas concepções políticas em suas análises sobre o folclore, concepções essas certamente relacionadas à sua militância no PCB. Se posicionou ainda enquanto um ávido defensor das manifestações da cultura regional, defendendo certas tradições da música caipira num momento em que ela passava por um processo de consideráveis transformações. No exercício de suas atividades, deixou valiosas informações sobre o cururu e a moda-de-viola, sobretudo as relacionadas ao perfil social dos violeiros e cantadores. (ST26) Valdir Donizete Dos Santos Junior (Doutorando) Viajar, colonizar, comparar: a dimensão comparativa da colonização europeia e da escravidão nas Américas nos relatos de viagem de Michel Chevalier (1833-1836) Os temas da colonização e da escravidão podem ser considerados tópicos centrais na constituição da história e da historiografia das Américas pelo menos desde os processos emancipatórios ocorridos no subcontinente a partir dos anos iniciais do século XIX. Tais questões foram debatidas em grande medida não somente por intelectuais, políticos e

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representantes de outros setores sociais das diversas nações americanas, mas também pelos estrangeiros que estiveram no Novo Mundo, particularmente durante o Oitocentos. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é discutir a construção de uma abordagem sobre essas temáticas nos relatos de viagem escritos pelo engenheiro e economista saint-simoniano francês Michel Chevalier, que visitou os Estados Unidos, Cuba e o México entre os anos de 1833 e 1835, publicando seu célebre relato "Lettres sur l'Amérique du Nord" no ano de 1836. A discussão aqui proposta visa compreender a utilização do recurso comparativo pelo autor como forma de defender projetos políticos específicos a respeito dos temas da colonização e da escravidão. Além de verificar a presença da comparação em sua abordagem, pretende-se demonstrar sucintamente como muito do que se argumentou no início do século XIX sobre esses temas contribuiu para formular chaves interpretativas acerca dessas questões que adentraram o século XX, forjando perspectivas que posteriormente se tornaram muito difundidas em relação às temáticas da colonização das Américas pelos europeus e da escravidão africana no continente. (ST32) Valéria Regina Zanetti (Doutora/UNIVAP) Memória das estâncias climáticas de São José dos Campos e Campos do Jordão (1920 a 1950) Como seriam as relações de convívio num município que se torna estância de tratamento da tuberculose? Como a população do local convive com a população de doentes em busca de tratamento? Que relações se estabelecem entre os espaços de tratamento e os espaços públicos da cidade? Como se estabelecem relações de convívio entre doentes e sãos? Essas e outras questões são objetos de estudo de uma pesquisa financiada pela Fapesp com a finalidade de entender as práticas cotidianas estabelecidas nos espaços das estâncias climáticas de São José dos Campos e Campos do Jordão no inicio do século XX, quando os dois municípios foram importantes centros de tratamento da tuberculose e sofreram rígida disciplina sanitária. Para a realização da pesquisa utilizou-se do recurso da história oral a partir da coleta de depoimento de doentes, de moradores ou de pessoas que viveram a realidade das estâncias ou que, “por tabela” ouviram falar dela, ou seja, viveram pelo grupo ou pela coletividade à qual a pessoa se sente pertencer. Por meio dos depoimentos e da memória, compreendida como um fenômeno social e coletivo foi possível entender o cotidiano das estâncias de tratamento, campos de permanente tensão e disputas. (ST44) Vandré Aparecido Teotônio da Silva (Doutorando) Manhãs Literárias: o jornal A Manhã e as leituras poéticas do Estado Novo O presente trabalho procura estabelecer as possíveis leituras da realidade política e social durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945) valendo-se de publicações do jornal A Manhã, Rio de Janeiro. O periódico, ressuscitado pelo regime autoritário do Estado Novo, relacionava a produção artística de diversos campos da cultura (artes plásticas, teatro, cinema, literatura etc.) com a cultura política oficial. Recriado em 1941, o matutino foi dirigido pelo poeta Cassiano Ricardo, um dos grandes ideólogos da ditadura getulista, o qual serviu a um projeto político de comunicação social oficial que buscava a legitimação política do governo federal. Responsável por divulgar a cultura política estadonovista, A Manhã serviu como porta-voz da produção artística carioca ao divulgar em suas páginas publicações que eram carregadas de sentidos e mensagens direcionadas aos leitores que tinham como um de seus objetivos a produção de um provável consenso social sobre a ação política do regime nos mais variados campos da sociabilidade, notadamente o da cultura. Nesse sentido, constatou-se a existência de um projeto de comunicação social onde elementos da realidade política eram trabalhados para a

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utilização de elementos poéticos que dialogassem com a realidade política e o projeto de Brasil imposto pelo Estado Novo. (ST16) Vanessa De Faria Berto (Doutora/UNESP) À sombra de Francisco: representações e vocações religiosas medievais e contemporâneas. As análises que abarcam a relação Gênero/ Religião ainda configuram um campo pequeno e pouco explorado pela Academia brasileira. Nesse sentido, a proposta deste trabalho, que configura parte de minha Tese de Doutoramento defendida e aprovada em 2015, é uma tentativa de contribuição para incentivar o preenchimento destas lacunas na área das investigações científicas. A construção da imagem de monges e freiras – enquanto pessoas calmas, silenciosas, obedientes e servis, recolhidas da multidão – remete à Igreja Católica Medieval e seu Clero Regular, submisso às regras de suas Ordens e isolado em seus Mosteiros. Tal representação ainda está presente, nos dias de hoje, nas falas e nas práticas dos que se responsabilizam a estabelecer, oficialmente, o que é ser um homem e/ou uma mulher a serviço de Deus. Contudo, o cotidiano nem sempre comprova a teoria. Neste sentido, a partir da revisão bibliográfica acerca da literatura centrada na representação das vocações masculina e feminina no Catolicismo, especificamente, dentro da Ordem Franciscana, e tomando por base justamente o mundo de significados que emerge do cotidiano da Ordem dos Frades Menores Franciscanos e da Ordem das Irmãs de Santa Clara, ambas situadas na cidade de Marília-SP, procurarei refletir sobre as dinâmicas das relações de gênero circunscritas a estes espaços, onde decisões políticas são tomadas, e captar os “processos invisíveis” dos quais homens e mulheres, membros do clero católico, se utilizam para subverter os diversos obstáculos que inevitavelmente se interpõem em seus caminhos (significativamente, o uso da violência simbólica), antes de alcançar os níveis nos quais a influência e a autoridade são exercidas. (ST38) Vera Regina Martins Collaço (Doutora/UDESC) Aproximações e envolvimentos no ensino de História do Teatro Eu ministro, no Curso de Licenciatura em Teatro, no Centro de Artes (CEART), da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), uma disciplina denominada de História do Teatro I. Nesta disciplina perpasso das origens, ao magnifico teatro grego, ao desencanto com o teatro romano e a “ressureição” do teatro na Idade Média. Com um total de 4 créditos, o conteúdo é ministrado na primeira fase do curso. Trabalho, portanto, com os acadêmicos que estão iniciando suas atividades cênicas, e em sua maioria muito jovens. Creio que já ministrei esse conteúdo umas 15 vezes ao longo de minha carreira docente. E toda vez que vou começar um semestre me vem na mente a juventude de meus alunos. E questões me envolvem, tais como: Como motivar e levar os acadêmicos a se interessar pelo conteúdo histórico tão distante de sua realidade contemporânea? Como faze-los adentrar nas tragédias gregas, nas comédias romanas e na sacralidade do teatro medieval? Assim, a temática desse XXIII Encontro, História: por que e para quem?, veio ao encontro da possibilidade de refletir sobre o meu trabalho. Nesta comunicação pretendo expor alguns encaminhamentos que consegui trilhar no sentido de alcançar a motivação e o envolvimento necessário para aproximar períodos históricos distantes da problemática contemporânea. (ST27) Verônica Karina Ipólito (Doutoranda) O PCB sob o olhar da DOPS no paraná (1945-1953) A pesquisa em tela analisa os mitos políticos modernos que se formaram na relação entre a Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS/PR) com o comunismo e atividades desenvolvidas pelo Partido Comunista do Brasil (PCB) no Paraná durante os anos de 1945 a 1953. Ao realizar um trabalho meticuloso de vigilância e repressão, a polícia política não

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somente coletou, registrou e ofereceu dados sobre suspeitos a outros setores ou Delegacias Regionais, mas associou o comunismo a características negativas, atribuiu a seus adeptos um alto grau de periculosidade e identificou na doutrina comunista elementos que supostamente visavam destruir o mundo ocidental e seus valores. Tais características contribuíram para a formação do mito da conspiração comunista, o qual se alimentava da disseminação do medo de que o “inimigo vermelho” poderia estar em todos os lugares, com grande força e blindado por suas características maléficas. O aumento significativo da participação popular em discussões sobre temas variados preocupava as autoridades, as quais não tardaram em confeccionar mecanismos jurídicos destinados a minar a atuação de inimigos internos e externos. A Lei de Segurança Nacional (LSN) de 1953 foi um desses dispositivos de intimidação. Promulgada pelo Congresso e elaborada essencialmente pelo governo, a LSN de 1953 simbolizou o poder de atuação do Executivo e seus esforços em ajustar a política pública de segurança. Para a escrita do trabalho foram utilizadas fontes de natureza imagética, jornalística, entrevistas, depoimentos, relatórios e demais evidências arquivadas no Fundo DOPS do Arquivo Público do Estado do Paraná. O foco principal se concentrou no esforço de identificar na documentação indícios de mitos políticos modernos, em especial o mito da conspiração comunista. Pessoas comuns, militantes, agentes policiais, todos esses personagens foram analisados de forma a demonstrar que os mitos políticos adquirem roupagens diferenciadas em consonância com o pensamento que se deseja legitimar por um indivíduo, instituição ou grupo. O imaginário articulado e disseminado pela polícia política formulava imagens utilizadas para legitimar e justificar determinados sistemas políticos e construir novas doutrinas. Tais imagens implicaram na concretização de mitos, a exemplo do complô comunista, em razão dos bolcheviques serem considerados um corpo estranho e prejudicial aos princípios de brasilidade e unidade nacional. (ST06) Victor Callari (Mestre/FMU) Imprensa, liberdade e segurança nacional na série Guerra Civil da editora Marvel Comics As Histórias em Quadrinhos configuram-se como fontes cada vez mais profícuas nas pesquisas em História ao permitirem uma leitura do contexto histórico em que foram produzidas e como fontes capazes de veicular valores e projetos políticos de uma determinada época, configurando, então, novas possibilidades de compreensão e reflexão, seja sobre o passado distante ou até mesmo sobre o tempo presente, também domínio da História. A série Guerra Civil publicada pela editora Marvel Comics, entre 2006 e 2007, caracteriza-se por ir além de um reflexo da sociedade que a produziu. Constitui-se como uma tentativa de intervenção política da editora, uma vez que cobrava seus leitores que escolhessem um dos lados na Guerra Civil dos super-heróis, uma metáfora para o início do processo de polarização política da sociedade estudinidense, consequência dos atentados ao World Trade Center, em 2001, e a adoção de políticas de segurança nacional que limitavam as liberdades civis. No conjunto de revistas publicadas pela editora, o embate entre as liberdades civis e a necessidade de segurança nacional são o elemento fundamental da trama, e não foram apenas os super-heróis que foram obrigados a se posicionar, mas a imprensa e, em última instância, os próprios artistas e a editora. (ST16) Victor Henrique Silva Menezes (Mestrando) De Cinaedus Romulus à Bithynicam Reginam: os discursos acerca da virilidade de Júlio César A ser aceita a tradição historiográfica e literária antiga, Júlio César foi tido por alguns de seus contemporâneos como o grande sedutor de matronas romanas e o amante de reis e de rainhas. Ao ser visto dessa maneira ele foi alvo de chistes e olhares de censura por parte de alguns de seus contemporâneos que seja por intuitos políticos, seja pelo mero

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prazer de fazer mexericos, lhes ofereceram algumas alcunhas pejorativas. As mais emblemáticas, por certo, foram a de “Rômulo efeminado” (cinaede Romule) dada pelo poeta Catulo e a de “Rainha da Bitínia” (bithynicam reginam) oferecida por seu colega de consulado, Bíbulo. Esses apelidos, junto às historias a respeito de seus relacionamentos amorosos que circularam ao longo de sua vida (em escritos como os de Cícero e Catulo) e também após a sua morte (em Suetônio, Plutarco e Díon Cássio), demonstram que na Antiguidade a virilidade de César foi posta em questão por diversas vezes. Isto posto, nessa comunicação terei como objetivo tratar dos possíveis significados que podemos oferecer às críticas que César recebeu em relação às suas práticas sexuais e gostos. Não tenho por intuito cotejar provas para afirmar se César teve ou não relações com o rei da Bitínia ou se de fato era um efeminado, mas, sim, trabalhar com a ideia de que outros discursos, para além daqueles que o afirmaram como um grande líder militar e político (em autores como Júlio César, Lucano e Plutarco), foram produzidos na Antiguidade (como em Suetônio e Catulo). Os significados dessas críticas à luz dos estudos modernos sobre a uirilita romana serão considerados. Assim, em um primeiro momento discutirei brevemente os ideais e protocolos de virilidade presentes na sociedade contemporânea a César, para num segundo momento analisar os escritos dos autores antigos que trataram ou mencionaram os seus amores e práticas sexuais. (ST25) Victor Sá Ramalho Antonio (Mestrando) Thiago Kater Pinto (Graduado) A imigração britânica e a introdução do rugby no Brasil (1891-1933) Regulado pela primeira vez em 1845, na Escola de Rugby (Rugby School), na Inglaterra, o esporte-irmão do futebol (do Football Association) tem longo histórico de prática no Brasil, tendo chegado ao país no fim do século XIX, já na Primeira República, devido à íntima ligação com a imigração britânica e sua influência. Entretanto, sua restrita difusão pelo país o coloca ainda como uma prática estranha e de pouca intimidade com a grossa camada da população brasileira, refletido em sua ínfima presença na literatura acadêmica nacional. Na última década, o crescimento do rugby no Brasil, dissociado, dessa vez, da preponderância de imigrantes, vem sendo acompanhando pelo florescimento da modalidade como tema de trabalhos acadêmicos em todo o país, de artigos científicos a dissertações de doutorado, com pesquisas, por exemplo, nas áreas de educação física e ciências da atividade física, comunicação, gestão esportiva e relações públicas. Não obstante tal difusão de trabalhos, a realização de investigações no campo da História Social ainda se encontra em estágio embrionário, com a notável ausência de estudos que se aprofundem no período de introdução do rugby no Brasil, entre o final do século XIX e o fim da Primeira República – período que, no rugby, ainda pode ser estendido para a Segunda Guerra Mundial e o retorno de muitos ingleses e anglo-descendentes à Europa, levando a um aparente hiato na prática do esporte no Brasil. Esta apresentação tem por objetivo expor algumas discussões que vem sendo realizadas no LUDENS - Laboratório de Estudos sobre o Futebol e Modalidades Lúdicas da USP - acerca da introdução do rugby no Brasil e de sua íntima ligação com os imigrantes ingleses. O período de 1891 - data mais recuada para a criação de um clube voltado à prática do rugby no Brasil a - a 1933, ano de criação da Federação Brasileira de Futebol e do avanço do profissionalismo no futebol brasileiro -, foi selecionado a fim de restringir as investigações ao período da República Velha, e seu contexto de difusão dos esportes ditos modernos, e o período de amadorismo - ao menos formal - do futebol no país, caracterizado pela defesa do amadorismo, tão cara ao rugby. (ST39)

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Vilma Cristina Soutelo Assunção Noseda (Pós-graduanda) Era uma casa... muito engraçada... A Memória entorno de uma "Casan Bandeirista" Este trabalho visa refletir como o Sítio do Mandú, bem patrimonial tombado pelo IPHAN localizados no município de Cotia, é compreendido, internalizados e reelaborados no cotidiano dos diferentes grupos sociais que compõem sua população e de que maneira a questão do patrimônio, da preservação e a história são articuladas. Pretende-se investigar também de que modo o discurso e a prática dos órgãos públicos de preservação tanto na esfera federal (IPHAN) como na municipal (Secretária da Cultura e do Turismo) influem nesse processo e qual a concepção de patrimônio e história que está presente em suas intervenções. Durante o ano de 1954 a Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo empreendeu a restauração de uma “casa rural paulista” no bairro do Butantã. Luís Saia, que coordenou as obras como representante do IPHAN. Ao final dos trabalhos foi convidado a escrever um pequeno ensaio de apresentação da obra restaurada intitulado: A“Casa Bandeirista”: uma interpretação. A patrimonialização e a monumentalização do Sítio do Mandú foi conduzida pelo Estado como memória nacional para a sociedade sem, no entanto, contar com a participação desta. O que por sua vez acarretou em um processo de ressignificação do Sítio do Mandú por parte de sua comunidade. Consideraremos o Sítio do Mandú como ‘lugares de memória’, não pela definição realizada por Pierre Nora (1993: 04), de que “... os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações não naturais”. Mas seguindo as críticas de HARTOG sobre o conceito, para ele: a noção ‘lugar de memória’ não poderia ser lida apenas de forma literal. “O lugar não é simplesmente dado”. Como ele cita “é construído e reconstruído sem cessar, podendo ser interpretado como encruzilhada onde se encontram ou deságuam diferentes caminhos de memória” (HARTOG, 2006:.261-273) .Estes edifícios-monumentos10 podem adquirir um valor orientador dentro da sociedade porque funciona como negociador entre o passado e o presente, “é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação” (LE GOFF 1996:472) Mas o monumento tem como característica ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou não das sociedades. Nesse sentido, o que define sua característica de monumento não é o algo em si da coisa, mas sua utilização pelo poder. Portanto, este trabalho visa refletir como o Sítio do Mandú, bem patrimonial tombado pelo IPHAN localizados no município de Cotia, é compreendido, internalizados e reelaborados no cotidiano dos diferentes grupos sociais que compõem sua população e de que maneira a questão do patrimônio, da preservação e a história são articuladas. (ST44) Viviane Becker Narvaes (Doutoranda/UNIRIO) O teatro do sentenciado de Abdias Nascimento O foco deste trabalho é refletir sobre o Teatro do Sentenciado, a partir da compreensão de que este teatro se refere às expressões de setores subalternizados da sociedade brasileira e, para este fim, tratamos de apontar os estudos sobre o teatro e o universo prisional com vistas a situar os referencias teóricos deste campo. O Teatro do Sentenciado é termo cunhado por Abdias do Nascimento para descrever e nomear as experiências de encenação desenvolvidas no interior da unidade prisional em que esteve encarcerado no Estado de São Paulo, na década de 1940, a saber, a Penitenciária do Carandiru. Durante sua prisão foram realizadas 6 (seis) encenações, quase todas em 1943, algumas cenas curtas, ou “cenas brasileiras” conforme as identifica Abdias, e números musicais. Os espetáculos que constituem o repertório do teatro do sentenciado foram: “O dia de

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Colombo” “Revista Penitenciária” “Patrocínio e a República” “Defensor Perpétuo do Brasil” “Zé Bacoco” e “O preguiçoso”. As cenas brasileiras foram “Apertura de Simplício e Zé Porqueiro”, “Pimpinelli e suas extravagâncias” e números de ilusionismo e prestidigitação. Os números musicais eram apresentados pelos grupos “ Jaz Cristal” e pelo Regional “Anjos do Ritmo”. Neste trabalho é explorada a trajetória de Abdias Nascimento buscando estabelecer os pontos de contato entre sua atuação militante no movimento negro e sua inserção no sistema prisional. Ao examinarmos a conformação do campo da história do teatro no Brasil, percebe-se que a fração dedicada ao estudo do teatro vinculado aos setores populares é infinitamente menor do que aquela dedicada às expressões da cultura dominante, portanto uma visada sobre este teatro permite examinar um capítulo do teatro brasileiro que tem sido esquecido. (ST27) Vivianny Bessão e Assis (Doutoranda) Leonardo Arroyo e a coleção "Biblioteca de Educação", da Editora Melhoramentos (SP) Com os objetivos de contribuir para compreender a história da literatura infantil no Brasil, sua relação com a educação brasileira e compreender o lugar ocupado pelo escritor, jornalista e historiador paulista, Leonardo Arroyo (1918-1985), nessa história, focalizam-se aspectos do livro Literatura infantil brasileira: ensaio de preliminares para sua história e suas fontes (1968), publicado na coleção “Biblioteca de Educação”, pela editora Melhoramentos (SP). Mediante abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio de procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontes documentais, elaborou-se um instrumento de pesquisa contendo referências de textos de e sobre Arroyo. Dentre os textos localizados, destaca-se o livro mencionado, com o objetivo de verificar sua permanência e circulação na produção acadêmica da área de educação no Brasil. A partir dos resultados obtidos até o momento, é possível compreender que, o livro de Arroyo tornou-se bibliografia básica para os estudos e pesquisas sobre literatura infantil, vinculados, principalmente, às áreas de Educação e Letras. Ainda, foi possível compreender sua contribuição para a formação de um campo de conhecimento específico sobre literatura infantil e a relação desse tema com a história da educação brasileira. (ST29) Walquiria De Rezende Tofanelli Alves (Mestranda) Expectativas para o Império luso-brasileiro: a Memória histórica e filosófica sobre o Brasil de Joaquim José da Silva Maia (1820-1824) Durante a década de 1820 inúmeros projetos políticos ganharam espaço na cena pública luso-brasileira devido aos diversos grupos de proprietários que disputavam o mercado e os cargos públicos e divulgavam seus interesses políticos na imprensa periódica. Foi na década de 1820 que “portugueses da Europa”, através da Revolução do Porto, reivindicaram ao rei D. João VI que retornasse ao Reino e jurasse a Constituição a ser elaborada em Lisboa. Por outro lado, desde 1815 o Brasil havia sido elevado à condição de Reino Unido a Portugal e a Algarves e projetos políticos, como os de d. Rodrigo de Sousa Coutinho, já haviam apontado as potencialidades de um poderoso e vasto Império a ser fundado na América. A transferência da Corte para o Rio de Janeiro em 1808, também marcou, se não inteiramente, uma novidade na experiência da monarquia portuguesa, um novo horizonte de expectativas como trânsito físico e simbólico do poder régio para um território colonial. As experiências portuguesas no Brasil passaram a se dar de forma mais célere, seja num âmbito de transformação espacial com reformas nas principais cidades e no fluxo de atividades comerciais, seja na concepção do tempo histórico, com referências à Independência dos Estados Unidos, às luzes do século, à Constituição de Cádiz, à Revolução de Pernambuco, entre outras, presentes cotidianamente nas gazetas e

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memórias. Nelas se modificaram não só a forma de ver o passado - na medida em que este passou a ser visto de maneira mais crítica - mas também o modo de escrita da história contemplando disputas inscritas nos diversos projetos então na ordem do dia. A imprensa alcançou destaque nesta ocasião com temas políticos que circulavam entre vários países comportando papeis incendiários muitos dos quais anônimos. As memórias históricas, por sua vez, se tornaram um subgênero importante, especialmente por seu propósito histórico-político em relatar um acontecimento rapidamente composto por começo, meio e fim cuja coerência e seleção dos fatos dependiam do enlevo político dado pelo autor. Visto isto, a proposta deste trabalho é analisar a "Memória histórica e filosófica sobre o Brasil" escrita por Joaquim José da Silva Maia, comerciante da Bahia de origem portuguesa, que propondo projeto divergente daquele articulado no Centro-Sul e favorável à Independência, recebeu pouco destaque na historiografia contemporânea. Nesse sentido, propomos dois pontos a serem investigados: o primeiro é compreender o projeto para o Império luso-brasileiro de Silva Maia, bem como suas estratégias textuais e seus usos políticos na escrita de uma memória. O segundo é o de traçar hipóteses sobre o porquê Silva Maia foi pouco destacado na historiografia sobre a Independência visto que é autor de significativa produção no Brasil e em Portugal. (ST18) Wellington Amarante Oliveira (Doutorando) Um “canal do conhecimento”: as representações do surgimento do Canal Futura nas páginas da imprensa brasileira Este trabalho tem por objetivo central apresentar os resultados parciais da pesquisa intitulada “Muito além do conhecimento: a TV educativa no Brasil e na França, o canal Futura e a Cinquième (1994-2002)”, no que concerne às fontes ligadas a imprensa brasileira sobre a inauguração do canal educativo da Fundação Roberto Marinho. A análise foi realizada a partir do clipping produzido pela emissora: são 260 notícias, distribuídas por mais de 60 veículos de comunicação de todas as regiões do Brasil, cobrindo os meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 1997. Nota-se, a partir da análise das notícias veiculadas no período, que o processo de divulgação de informações sobre o projeto estava atrelado a construção da imagem do novo canal: um "canal do conhecimento", produzido pela "iniciativa privada", em prol da "educação brasileira". (ST34) Willians Alexandre Buesso Da Silva (Pós-graduando) As cores de gênero: memórias sobre o trabalho doméstico no Oeste Paulista (SP) Diante das tensões políticas evidentes no país, algumas conquistas como a inclusão das discussões de gênero sobre políticas públicas tem perdido espaço por conta de enfrentamentos conservadores sobre valores sociais. Um dos ganhos das pesquisas sobre gênero na área das Ciências Sociais e Historia sobre a condição de mulheres são os estudos sobre Trabalho Feminino. Enquanto categoria analítica, o conceito de gênero tem desvendado não só questões sobre a dualidade masculino/feminino, como outras, sobre o mercado de trabalho e ocupação de mulheres em seus diferentes setores. Este texto trata sobre a contribuição desta categoria de analise dentro da História ao comparar diferentes contextos de mulheres sobre os estratos de classe, gênero e cor e a divisão do Trabalho Doméstico. Para isso, utilizamos uma entrevista de uma antiga moradora do município de Marília (SP), a qual trabalho como empregada doméstica em boa parte de sua vida e comparamos com a bibliografia sobre a categoria profissional em diferentes momentos da história da formação do Oeste Paulista, assim como famílias em ascensão durante o período prospero do café. (ST25)

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Wilton Carlos Lima Da Silva (Livre Docência/UNESP – Assis) As Virtudes no Ofício: a dimensão autobiográfica em memoriais acadêmicos A presente comunicação busca pontuar e discutir alguns marcadores discursivos que se fazem presentes e/ou ausentes de forma recorrente entre alguns memoriais acadêmicos de concursos de livre-docência e titularidade no Departamento de História da UNICAMP, entre 2000 e 2013. Tais documentos, situados entre o ego-documento e a narrativa autobiográfica, são produzidos para satisfazer exigências institucionais nos concursos públicos de progressão na carreira docente, com o autor descrevendo sua trajetória, com ênfase em suas atividades de pesquisa, publicações em periódicos indexados, atividades em cursos de pós-graduação, palestras e material didático qualificado produzido, cursos de extensão e demais atividades pertinentes à sua área de atuação. A fala do intelectual sobre si mesmo, abordando opções, práticas, vivências e memórias, adquire tanto a dimensão de "experiência" quanto a de “trajetória”, de modo que a escrita autobiográfica - condicionada por uma tradição intelectual e institucional – se desenvolve com distintos níveis de subjetivação, com a proeminência de modelos narrativos que enfatizam a formalidade (cartesianos), adotam maior subjetividade (hermenêuticos), ou mesclam tais ênfases (híbridos). (ST47) Yves Samara Santana De Jesus (Mestre) Btaismo de Africanos na Freguesia de São José das Itapororocas,Feira de Santana O presente trabalho se propõe a analisar a conjuntura política, econômica e social de Feira de Santana, Freguesia de São José das Itapororocas, nos séculos XVIII e XIX (1785-1826), uma vez que, os estudos da escravidão têm privilegiado a capital e o Recôncavo Baiano, afirmo a possibilidade de superação dos limites geográficos e conceituais sobre a historiografia do Agreste Baiano. No tocante da sociabilidade, busca-se contextualizar a inserção dos africanos recém – chegados, analisando os interesses e as especificidades da propagação da religiosidade cristã instituídos pelos europeus e disseminada na diáspora africana. Ressalta-se a abordagem dos padrões de apadrinhamentos de cativos encontrados nos livros de batismos de escravos juntamente com as redes de solidariedade criadas entre o batizado e o mundo secular. Portanto, o trabalho sugere uma abordagem dos registros de batismos de africanos, na perspectiva, dos estudos sobre a composição étnica da região feirense, tal como, a solidariedade africana na escravidão baiana no período trabalhado. (ST40) Zuleika De Andrade Câmara Pinheiro (Doutorando) Identidades Infames de Moradores(as) de Rua: Performatizações de Gênero como Meio de Sobrevivência O espaço urbano tem se revelado como lugar onde circulam inúmeros sujeitos, cujo deslocamento contínuo ou nômade define suas maneiras de morarem nas ruas. Este morar produz sucessivos embates que determinam formas de resistências e lutas com regras e códigos próprios das sociabilidades das ruas. Este processo de sobrevivência se situa nas fronteiras do humano com o não humano; normas e transgressões, cujas tensões não ocorrem sem conflitos e subversões. Gênero não é precisamente o que o sujeito “é”, nem é exatamente o que o sujeito “tem”. Gênero é o aporte pelo qual a fabricação de normalização do masculino e feminino se revela, junto às formas intersticiais, físicas e performativas que gênero assume. O objetivo deste estudo é analisar a partir de narrativas de homens e mulheres de rua como se dá o processo de agência para adaptarem suas identidades infames às experiências no espaço da rua os quais utilizam de performatizações de gênero para sobreviverem. Na linguagem das ruas há várias expressões de gênero e as pirangueiras são mulheres consideradas perigosas; as giriquitas são mulheres que fazem qualquer coisa para obter drogas ou comida; os

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michês são homens que, apesar de praticarem sexo com outros homens não se percebem nem como gays nem como travestis; os travecos, também chamados de bichas, os nóias, homens que passam o dia sob efeito de drogas. É possível observar nos espaços das ruas os jogos de gênero onde papéis sexistas e tradicionais são práticas de sobrevivência ao mesmo tempo, de resistência. Os jogos de gênero sugerem que gênero toma forma de máscara, fazendo parte da misen-scene. Como num jogo de xadrez os atores políticos têm o poder de intervir no tabuleiro das ruas. Os jogos do gênero são mecanismos cuja dinâmica é iniciada por crises, redefinindo as relações entre homens e mulheres levando os sujeitos a se ajustarem, ou seja, se instrumentalizarem com gênero a seu favor. As políticas de regulação de gênero estão diretamente estruturadas através da dinâmica de regras e normas que regem o comportamento e a aceitação dos sujeitos. A constituição da pelo sujeito é um desafio que deve satisfazer aos limites da aprovação e superação das diferenças, distinguindo no Outro, pelo princípio da negação, aquilo que ele pode e tem de ser. Este estudo faz parte de uma pesquisa mais ampla no contexto do cotidiano dos moradores de rua no qual são realizadas etnografias em três locai no centro de Fortaleza/Ce: Praça do Ferreira, Centro POP e Parque da Liberdade. Tendo uma abordagem antropológica urbana em conexão com estudos históricos a partir de teóricos pós-estruturalistas este estudo busca contribuir para a compreensão de aspectos macrossociais que ajudem a situar estratégias de políticas públicas para pessoas em situação de rua. (ST25) Silvia Cristina Martins de Souza (Pós-doutora/UEL) “Quantos poetas perdidos para sempre, quanta rima destinada ao olvido da humanidade!”: produção e circulação de poesias no Rio de Janeiro de fins do século XIX e início do século XX. Este artigo elege como locus de observação a cidade do Rio de Janeiro de fins do século XIX e início do XX, e nele busca-se analisar a produção e circulação de poesias compostas por pessoas comuns, com pouca ou nenhuma formação letrada, e os possíveis usos e funções que seus autores e receptores conferiram a estes poemas. Palavras chave: História; poesia; Rio de Janeiro; séculos XIX e XX. (ST36)

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RESUMOS: PÔSTERES

Alberto Morgado Junior O Código Penal Republicano e o espiritismo popular no pós-abolição em São José dos Campos/SP (1917-1939) Este artigo busca analisar o momento do pós-abolição e da primeira República sob a ótica do movimento religioso espírita, constatando a resistência ao espiritismo popular neste período por meio da negação do misticismo e sincretismo religioso, principalmente o aderido pelo negro, evidenciado pelo código penal republicano de 1890. O estudo será realizado a partir da análise da ata de reunião do Centro Espírita Divino Mestre e do recorte de dois jornais do início do século XX na cidade de São José dos Campos/SP, o periódico A Caridade e O Correio Joseense. O primeiro jornal, de edição católica, representando o movimento de romanização que chegou ao Brasil em fins do século XIX, e o segundo jornal, de circulação popular não religioso, apontando a influência positivista muito presente na primeira República, renegando a cultura negra e ampliando para o cenário nacional a questão da intolerância institucionalizada. Alex Junio Candido Lei dos Sexagenários: o município de São José dos Campos/SP e as ações de liberdade dos sexagenários de 1887 O referido artigo tem como objetivo dissertar sobre a atuação da Lei dos Sexagenários número 3270 de 1885, no município de São José dos Campos/SP, contextualizando com o período histórico em que se passava no Brasil Império. Foram encontrados no Arquivo Público do Município dois documentos de ações forenses do 2º Cível de São José dos Campos de 1887 e transcritos, totalizando 145 páginas. Mesmo a cidade de São José dos Campos não tendo grande influência na escravidão do Vale do Paraíba Paulista, foi encontrado um número expressivo de escravos libertos pela Lei dos Sexagenários. Nos documentos é possível visualizar características como: sexo, idade, cor, estado civil, que serão abordados no trabalho qualitativamente e quantitativamente por meio de gráficos. Ana Carolina Alves da Silva Mateus Henrique Obristi Castilho Wanderson Emanoel dos Santos A fuga como construção da liberdade em processos de tutela e contratos de soldada no pós-abolição no Vale do Paraíba paulista (1888-1899). Esta pesquisa tem como objetivo analisar a Fuga presente em Ações de Contrato de Soldada e Tutela nas cidades do Vale do Paraíba Paulista , nos anos de 1888 a 1899 ocorridas no Pós-Abolição. As Ações de Contrato de Soldada eram documentos que regulavam a contratação do trabalho de menores e órfãos. As Ações de Tutela eram utilizadas para nomeação de tutores aos órfãos considerados desvalidos. Tais fontes têm contribuído com o avanço dos estudos sobre a utilização do trabalho infantil no pós-abolição. Busca-se também evidenciar as relações, conflitos e tensões que se deram nos processos de tutoria dos menores assoldadados/tutelados e seus respectivos tutores. Para isso, utilizou- se como fonte documentos de Contratos de Soldada e Tutela, encontrados nos Arquivos Públicos de Paraibuna/SP, São José dos Campos/SP e Jacareí/SP. Ana Carolina Lamosa Paes Gabriela Leite e a prostituição na historiografia feminista brasileira Esta pesquisa de iniciação científica tem como foco estudar a construção social da prostituta, utilizando-se da obra biográfica de Gabriela Leite. Nossos objetivos são:

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verificar como acontece a construção social da prostituição na obra de Gabriela Leite, intitulada: “Filha, mãe, avó e puta”; estudar a questão da prostituição na perspectiva do feminismo libertário; e, analisar o filme “Corpos que escapam”, dirigido por Ângela Donini, no qual temos a participação de Gabriela Leite. Nossa metodologia se insere na perspectiva dos estudos biográficos, pois entendemos que o trabalho de Gabriela é uma “escrita de si”, para isso, selecionamos como fontes de pesquisa: a obra biográfica e o filme acima citado. Como base teórica, os estudos feministas na perspectiva de Margareth Rago, que busca a relação entre os feminismos e os estudos de Foucault referentes a produção de subjetivação e o conceito de estética da existência. Em seu livro, Gabriela nos conta sobre a sua vida e como ela caminhou para a prostituição, assim como, a discussão que ela levanta sobre os conceitos de prostituta e de puta e suas implicações sócio-bio-politicas, enfrentando toda uma sociedade marcada pelo machismo-patriarcalismo. A partir de algumas de suas experiências de vida, Gabriela escreve e afirma que é preciso buscar respaldo legal para garantir direitos às mulheres marginalizadas. Ela iniciou seu ativismo em 1987 quando participa da organização do Primeiro Encontro Nacional de Prostitutas, depois disso fundou a Organização Não Governamental (Ong) “Da vida” e, posteriormente, a grife “Daspu”, que colaborou para financiar a Ong. Faleceu em 2013 e deixou um legado de lutas, mantido vivo pelo projeto de lei que leva seu nome. O projeto de lei, do deputado Jean Willys, trata da regulamentação da profissão de prostituta, afim de legitimar e garantir direitos básicos. O curta-metragem de Angela Donini tem duas camadas: uma de entrevistas com João Nery e Gabriela Leite e outra com a atriz Juliana Dorneles performando em uma proposta entendida no cinema feminista como pós-pornô, as filmagens foram realizadas em uma antiga habitação utilizada como casa de prostituição. O ambiente é abandonado e entulhado, com poeira e teia de aranhas, dando a sensação de abandono que pode se assemelhar a situação a qual as prostitutas estão submetidas na sociedade que constantemente tenta higienizar seus corpos. Ana Paula Santana Bertho Nós vamos festejar o que?: O Primeiro de Maio e a reorganização do operariado (1968-1984) Este trabalho analisa a celebração do Primeiro de Maio no Regime Militar brasileiro na Grande São Paulo, focando-se em datas que abrangem suas diversas conjunturas políticas (a saber, 1968, 1971, 1974, 1977, 1979, 1980, 1983 e 1984). A partir da identificação de que diversos tipos de agentes – como o Estado, os sindicatos, os partidos, as organizações de esquerda e a Igreja Católica- disputavam narrativas e ações durante este dia, procurou-se mapeá-las e refletir sobre os atores envolvidos e suas práticas culturais. Inserida em debates relativos à reorganização do operariado nos anos 1970 e aos lugares de memória da classe operária, a abordagem aqui proposta possibilita destacar novos elementos sobre a reconstrução, no plano simbólico e identitário, da imagem do trabalhador/operário brasileiro em um período de desmobilização e forte repressão política. Anne Mayara Almeida Capelo A tectônica da dor: patrimônio como justiça de transição - DOI-CODI/SP Este projeto de Trabalho Final de Graduação procura compreender as dimensões presentes em um antimonumento proveniente da Ditadura Militar brasileira tombado pelo CONDEPHAAT, ou seja, o conjunto de edifícios que serviram ao uso do DOI-CODI na cidade de São Paulo. Procura-se, através deste estudo, entender as práticas patrimoniais usadas para legitimar o tombamento desse espaço, uma vez que o conjunto não possue uma característica material definidora de um pedido “comum” de tombamento. Procura-se entender se esta característica peculiar – este processo que

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explicita o combate entre o imaterial e o material - é erigida sobre a perspectiva de uma política de prática transicional, ou seja, como parte da chamada Justiça de Transição. Por fim, aqui, é também questionada a possibilidade compositiva entre tombamento, justiça de transição, testemunho e luto. Partindo da referente analise, compreender-se-á o espaço de forma que possibilite o entendimento do espaço através de vestígios e da oralidade dos que lá foram presos no período de repressão. Utilizando para tanto a metodologia proposta pelo IPHAN em seu programa MONUMENTA, que consiste em estudos físicos e históricos em relação ao edifício, porém aqui propomos o acréscimo das características supracitadas. Aryane Cristina da Silva Papel dos livros didáticos na formação da identidade brasileira - Governo Vargas A elaboração do livro didático buscou em cada fase da História do Brasil, atender necessidades específicas de cada governo. A exemplo, o governo de Getúlio Vargas que utilizou-se dos livros didáticos de História como instrumento pedagógico que tinham como objetivo transmitir a ideologia e sentimento nacionalista começando pelos mais jovens, em fase de formação intelectual. A educação no Brasil no governo Vargas foi utilizada como um dos mecanismos de controle do Estado, e buscava construir uma sociedade forte e unida, voltada para o desenvolvimento do país. Brenda Letícia de Souza Pinto Para ver se era melhor tratada viu-se forçada e ceder seus desejos: um caso de abuso sexual no pós-abolição em São José dos Campos/SP (1890). Esta pesquisa tem como objetivo discutir a questão do mundo do trabalho infantil no Pós Abolição, na cidade de São José dos Campos/SP. Propõe-se analisar também como essa mão de obra era recrutada e todas as suas complexidades. Tem-se como foco principal o caso da órfã Júlia, a qual acusa seu responsável, o assoldadante João Gonçalves de Freitas de sujeitá-la a cometer atos sexuais sob a expectativa de receber melhor tratamento. Procura-se compreender como as representações de ofensor e vitima eram construídas nesse período, por meio da análise de um documento de 396 páginas, sobre uma Colônia Orfanológica em São José dos Campos/SP, datado do início do ano de 1888 e concluído em 1907. Calebe Laridondu Viana O Significado da Palavra Parrhesia no Evangelho de Marcos e Atos dos Apóstolos sob a Óptica de Michel Foucault Esta pesquisa foi realizada a partir do pensamento do filósofo Michel Foucault e se concentrou no conceito de parrhesia, que é uma das técnicas do “cuidado de si”, que seria uma “força” que um sujeito exerce sobre si mesmo com a intenção de transformar-se. A questão da parrhesia está associada ao mundo antigo, assim como ao cânon do Novo Testamento e aqui caberá estudar sua aparição no evangelho de Marcos e Atos. Parrhesia é o ato de falar com coragem”, falar tudo, pois é a coragem de dizer a verdade diante de um risco e, no caso mais extremo, o risco de morte. A verdade na antiguidade era um problema de ordem moral, diferentemente da modernidade, na qual é uma questão epistemológica. Carlos Henrique Neres dos Santos A Lanterna em imagens: entre o anticlericalismo e a antirreligiosidade (São Paulo, 1919-1916) O jornal A Lanterna – folha anticlerical e de combate foi fundado em 1901 pelo anarquista Benjamin Mota, e retomado em 1909 por Edgar Leuenroth, após ter deixado de circular em 1904. Assumidamente anticlerical, o periódico utilizava as ilustrações para

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enfatizar seu posicionamento, inserindo nelas críticas e ataques ao clero. Nesta comunicação buscaremos indagar sobre até que ponto é possível distinguir as fronteiras entre o anticlericalismo e a antirreligiosidade nas imagens do semanário, ou ainda se de fato essa delimitação era uma preocupação do corpo editorial. Lançaremos a hipótese de que num primeiro momento o que predominava nas figuras do jornal era o anticlericalismo, todavia, com o passar do tempo as críticas tiveram seu teor acentuado de uma tal maneira que não foi mais possível distinguir qual bandeira A Lanterna levantava, se era o anticlericalismo, a antirreligiosidade ou ambas. Analisaremos algumas imagens para verificar nossa hipótese fazendo uso do método de descrição iconográfica e iconológica, de Erwin Panofsky (1972), e da ideia de representação de Roger Chartier (1988). Demonstraremos como a investigação das imagens dos jornais libertários pode nos lançar luz a inúmeros aspectos da cultura operária do Brasil no início do século XX. Cássio Raimundo Terloni História Indígena Brasileira nos Anais do Museu Paulista: Novos Caminhos se Abrem para a História dos Índios no Brasil O projeto História Indígena Brasileira nos Anais do Museu Paulista surge por iniciativa das professoras Antonia Terra de Calazans Fernandes e Circe Maria Fernandes Bittencourt, responsáveis pelo LEMAD e pela ANPUH São Paulo respectivamente, ao receberem como doação do Museu Paulista mais de trinta caixas contendo números variados de cera de cento e dez publicações do museu, de datas também variadas, representando uma grande amostra de seus periódicos. Os participantes higienizaram três de cada, quando possível, e organizaram esses volumes em um acervo que foi criado na sede da ANPUH. Uma pesquisa com o caráter de iniciação científica foi desenvolvida para que os estudantes estabelecessem uma maior relação com o Museu Paulista e sua produção, aprofundassem seus conhecimentos sobre a história das sociedades indígenas brasileiras e para que a montagem da coleção tomasse um sentido prático no ensino de graduação desde já. Foi feita uma pesquisa preliminar sobre a história do museu e das publicações, após a qual, escolhemos um extenso recorte de tempo, entre 1895 e 1973, compreendendo o período dos quatro primeiros diretores, cuja atuação no museu buscamos perceber por meio de textos de apoio e do material publicado durante suas direções. Os trabalhos foram divididos pelos bolsistas de modo que cada um se dedicou a um ou dois diretores e, através da análise de alguns dos seus escritos publicados quando diretores e das suas ações desenvolvidas na instituição, foi feita a investigação de como a temática indígena foi abordada por cada um e o que trouxeram para o campo da História Indígena no Brasil. A posição desses diretores é extremamente relevante, pois sendo todos intelectuais influentes no debate sobre os índios no país, contribuíram para moldar os rumos da pesquisa no estado de São Paulo. Felipe Carmello Rodrigues A visão de Flávio Josefo sobre a resistência em Massada O primeiro século de nossa era, ou séc. I d. C. foi marcado por acontecimentos muitos importantes na Judéia e que possuem grande influência até a atualidade. Como exemplo pode-se citar a vida e morte de Jesus de Nazaré, mas o foco aqui se restringe a um pouco depois, na grande revolta judaica de 66-70, a qual os rebeldes lutavam contra o domínio romano em seu território. Nesse momento, o Império Romano do Ocidente estava em seus momentos de expansão e controlava grande parte do mundo, incluindo a Judéia, o que muito mais do que um mero domínio geográfico, representava, para a maior parte dos judeus um ataque contra sua Lei, conta a Torá, a qual pregava que apenas Deus poderia ser o senhor desse povo, o único, Yahweh, mais nenhuma divindade e nenhum povo. Deve-se destacar também que apesar disso tudo, o foco de tal trabalho aqui é

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social, sendo que nesse período mais de noventa por cento da população judaica era constituída por camponeses, os quais sofriam uma dupla tributação, pelos romanos e pela elite judaica que estava aliada aos mesmos, alegando que tal tributo era destinado ao templo. Pode-se dizer que uma maioria trabalhadora sustentava uma minoria que gozava de privilégios e tinha a posse das terras, e para piorar a situação na Judéia não era fácil, já que nesse mesmo século ocorreu um período de escassez de alimentos. A principal fonte que se tem sobre tais acontecimentos na região e período aqui analisados são os escritos do polêmico historiador Flávio Josefo. O problema é que tal fonte é muito problemática, uma vez que apresenta muitas contradições em seus escritos, muitas invenções, exageros além de muito marcada pelo emocional do autor, por isso deve ser analisada com muita cautela. O foco de tal pesquisa é analisar essa fonte, Flávio Josefo, em específico sua visão sobre a resistência judaica que o correu na fortaleza de Massada. Não se pode esquecer que está sendo analisado os relatos de Flávio Josefo, um aristocrata, ou seja, membro da elite, sobre a revolta em Massada, a qual lutava conta o domínio dos romanos e seus aliados, nos quais inclui a elite judaica. Flávio Josefo utiliza-se de seus interesses e privilégios para escrever de forma hostil aos revoltosos, mostrando assim que a grande disputa social do momento pode ser analisada através da obra de um "historiador antigo", deixando claro que a maior parte da população com uma opressão, problema até a atualidade. Gabriela Marta Marques de Oliveira Profissionalismo do futebol paulista e suas consequências imediatas e de longo prazo O trabalho trata da profissionalização do futebol paulista na primeira metade da década de 1930, e se concentra em olhar para este esporte como um campo que evidencia os conflitos da cidade de São Paulo no período. A escolha do problema foi feita com base em nossa percepção sobre como o futebol era apropriado pelos diferentes agentes sociais da cidade. Para isso, nos utilizamos do conceito de “campo” de Pierre Bourdieu, da discussão sobre identidade nacional proposta por Jeffrey Lesser, e de algumas questões levantadas por E. P. Thomposon, como a agência dos grupos explorados, suas formas de negociação e resistência e suas experiências.

Gabriela Simonetti Trevisan Transgressões femininas em Júlia Lopes de Almeida: A viúva Simões (1897) e Cruel Amor (1911) O século XIX, no Brasil, foi marcado pela emergência de discursos biologizantes sobre as mulheres. Associadas à reprodução pelos seus corpos, elas foram colocadas como ligadas naturalmente à maternidade e ao cuidado do lar e da família. Era no espaço privado e no casamento que elas deveriam encontrar sua realização pessoal, de acordo com os discursos médicos e masculinos da época. No mesmo momento histórico, porém, emerge uma série de escritoras, como Júlia Lopes de Almeida, com quase trinta obras publicadas entre romances, contos, crônicas, peças de teatro, manuais e até livros escolares, além da contribuição em periódicos. Essa autora levanta uma série de temáticas consideradas propriedade apenas dos “especialistas”, como o desejo sexual feminino e a natureza da maternidade, além de problematizar o casamento, a amizade entre mulheres e a violência de gênero. Em A viúva Simões, publicado em 1897, por exemplo, Júlia debate a competição entre mãe e filha pelo mesmo homem, desmistificando o amor materno. Além disso, sugere que os lugares sociais destinados às mulheres não corresponderiam às suas subjetividades, como é o caso da viúva, mãe e esposa, mas também dotada de desejos sexuais, o que iria contra a ideia de mulher honesta” dos discursos masculinos científicos.

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Já em Cruel Amor, de 1911, a autora apresenta duas personagens femininas que buscam fugir de relacionamentos abusivos com seus noivos. No desfecho, uma delas é assassinada por ciúme e a outra foge, na tentativa de realizar seu sonho de escolher sobre seu próprio futuro. Portanto, viso mostrar como Júlia critica as violências sofridas pelas mulheres com o cerceamento de suas possibilidades de vida pelos discursos masculinos. Suas personagens femininas transgridem essa normatividade, ou seja, buscam outras formas de conduzirem a si mesmas, além do poder patriarcal, entendendo-se como múltiplas e passíveis de agência. Nesse sentido, busco perceber essas formas de revoltas dessas mulheres nas duas obras citadas de Júlia, ainda que a autora reproduza os discursos masculinos em alguns momentos. Gabrielle Nascimento Batista A imagem da nação: a invenção do Brasil nas lentes de Jean Manzon e José Medeiros Este trabalho se propõe a investigar os discursos que influenciaram a formação da imagem nacional, no governo Vargas, bem como o papel que a fotografia exerceu na difusão dessa identidade”. As fotografias, nesse período, eram utilizadas como meio de difusão dos ideais nacionalistas e, por isso, havia o cuidado em se veicular apenas fotografias em que os discursos narrativos não comprometessem a unidade nacional. Assim, havia espaço para a invenção”, para a construção de imagens que dessem consistência visual para o imaginário nacional que se desejava. As imagens fotográficas utilizadas para descrever o povo brasileiro, objetivavam demonstrar uma certa ideia de irmandade, integrando todos aqueles que se encontravam no Brasil, camuflando as tensões relacionadas às questões raciais e sociais. Neste trabalho, será apresentado o olhar do fotógrafo francês Jean Manzon e do brasileiro fotógrafo José Medeiros, refletindo a maneira que eles narraram fotograficamente e contribuíram na construção da imagem oficial de “nação”, de “povo” e de “cultura brasileira. Será utilizado como suporte metodológico a ideia de representação coletiva e de constituição de identidade a partir das noções apresentadas por Benedict Anderson, além do diálogo constante com teóricos que falam sobre fotografia, a fim de compreender o significado das imagens apresentadas Iracy Freire da Silva Francischini Cadeias e correção: Exclusão Social e ressocialização da população carcerária na visão dos próprios detentos. O presente trabalho tem por objetivo conceituar cadeias e punição na Europa no século

XIX, bem como sua influência no Brasil e investigar os fatores que levaram os ex-

detentos, sentenciados que já passaram pela prisão a reincidir, uma vez que, hoje o

sistema penal trabalha com projetos de ressocialização. Para tanto, utilizaremos o

método de História oral, para conhecer a história de vida dos detentos, faremos um

amplo estudo bibliográfico sobre o sistema carcerário brasileiro visando descortinar o

abismo entre o discurso oficial de ressocialização dos detentos com as práticas sociais

concretas de exclusão impostas pelo próprio sistema carcerário e a sociedade brasileira

como um todo.

Para isso procuramos estudar paralelamente, o perfil da população carcerária da

Penitenciária Masculina de Ribeirão Preto e o Centro de Detenção Provisória (CDP),

interior do Estado de São Paulo Brasil. Tendo como fio condutor os trabalhos realizados

pelos presos das referidas unidades prisionais para sua ressocialização.

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Isadora Rabelo Nunes

Misoginia na Mitologia e Filosofia Grega: Analisando o mito de Pandora e as ideias de Aristóteles. Esse projeto de pesquisa visa analisar o mito de Pandora e a filosofia de Aristóteles na busca de fatores que denunciem a crença na inferioridade da condição feminina. Não buscamos estabelecer juízos de valores em relação à época anteriores, mas sim através dessas fontes buscar auxílio na compreensão da sociedade grega. De início é necessário a apresentação do conceito de misoginia utilizado na pesquisa, tendo em vista que Misoginia (do grego miseó, "ódio"; e gyné, "mulher") é o ódio, desprezo ou repulsa ao gênero feminino e às características a ele associadas (mulheres ou meninas). Existe a teoria de que a palavra é derivada do verso de Aristófanes (Lisístrata 1018), no qual o corifeu declara: egô misôn gynaikas, "porque eu odeio as mulheres". Entendemos desse modo, misoginia como a crença na inferioridade das mulheres e ódio relacionado ao feminino. A ideia de trabalhar filosofia e mitologia deriva da premissa da ampla influência das mitologias nas sociedades e consequentemente na filosofia, prova disso é que a misoginia é encontrada em ambas as fontes. Para tanto, cremos que elucidar a estrutura e a função do mito contribui para a compreensão de uma etapa do pensamento humano e mais do que isso, para o entendimento da forma como pensamos hoje em dia. O mais notável e conhecido exemplo que podemos citar na mitologia grega em que uma mulher é desprezada é o mito de “Pandora”, criada como um flagelo para atormentar os homens (FARIA, 2008). Segundo Hesíodo relata em sua Teogonia, fora criada por Zeus com o único objetivo: castigar os homens, após estes terem recebido de Prometeu o fogo dos deuses, roubado do Olimpo. Segundo a ótica de Aristóteles, a causa da inferioridade feminina seria uma deficiência recorrente da Natureza: Porque as mulheres são mais fracas e mais frias na sua natureza, deveríamos olhar para o estado feminino como uma deformidade, ainda que ocorra no curso normal da Natureza. (Arist. GA 775a) Ivan Lima dos Santos A Propaganda Republicana positivista e a apropriação da imagem de Tiradentes através das obras de Décio Villares e Eduardo de Sá No livro “O Corpo do Herói” da autora Maria Alice Milliet em sua introdução é destacado que a imagem de um Tiradentes infame e traidor, durante a monarquia, é intencionalmente modificada para a imagem de um herói pelos propagandistas republicanos, fazendo do mesmo um símbolo de contestação a Monarquia. Essa alternância em relação a Tiradentes é percebida na propaganda republicana positivista para legitimar o novo regime e contestar o anterior. Ela é alimentada pelas justificativas ideológicas que se manifestam nos discursos, porém, para uma população com serias dificuldades para a alfabetização, para além dos discursos escritos e falados em prol da República, se faz necessário à utilização de símbolos, mitos e heróis, divulgados através de estátuas, imagens e monumentos para a disseminação do novo regime na formação do imaginário popular. Como menciona José Murilo de Carvalho na introdução de seu livro “A Formação das Almas”, os símbolos, mitos e heróis (considerando que tais termos não são sinônimos) falam muito mais daqueles que os propagam do que deles em si mesmo, por isso, não estou preocupado neste trabalho em responder à pergunta sobre “quem foi Tiradentes?” Mas, como os Republicanos (positivistas) representaram sua imagem nas obras sobre Tiradentes de Décio Villares e Eduardo de Sá e com qual finalidade?

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Ivan Sicca Gonçalves A Legislação sobre o Trabalho Forçado nas Áfricas Portuguesas (Séculos XIX a XX) Este projeto de iniciação científica, em vigor entre agosto de 2014 e julho de 2016, procurou desenvolver um estudo sobre a legislação referente a trabalho forçado e contratado nas colônias portuguesas em África (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe) durante os séculos XIX e XX. Minhas atividades durante esse período orientaram-se principalmente na realização de um levantamento bibliográfico sobre o tema e na análise, alimentação e edição do material legislativo já existente e a ser inserido na Base de Dados "Legislação: Trabalhadores e Trabalho em Portugal, Brasil e África Colonial Portuguesa" (disponível online no endereço http://www.ifch.unicamp.br/cecult/lex/web/), mantida pelo Centro de Pesquisa em História Social da Cultura (Cecult), do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/UNICAMP). Essa bolsa de iniciação científica é vinculada ao Projeto Temático “Entre a escravidão e o fardo da liberdade: os trabalhadores e as formas de exploração do trabalho em perspectiva histórica”, que procura analisar situações e contextos em que ocorre coexistência ou até complementaridade de diferentes formas de trabalho que transitam entre os ambíguos limites estabelecidos entre escravidão e trabalho livre; contrapondo-se assim à visão que estabelece rigorosa distinção entre essas duas realidades e que defende uma inquestionável progressão de uma forma para a outra. Com a abolição gradativa da escravidão nas colônias ultramarinas portuguesas, concomitantemente aos projetos de consolidação da colonização sobre os territórios africanos, foi sendo produzida uma série de normas legais com a agenda ambígua de libertar da escravidão e, ao mesmo, regular e manter o controle da mão de obra nativa. Tal produção legal instituiu várias formas de trabalho compulsório utilizadas para forçar as pessoas livres a trabalhar em atividades fundamentais para a exploração e manutenção das colônias africanas. Dessa forma, esse projeto analisou essa extensa produção de normas legais, que vão desde os primeiros esforços de combate ao tráfico de escravos na primeira metade do século XIX, até as vésperas das independências dos países africanos de língua oficial portuguesa, quando ainda existiam diferenciações legais entre os direitos dos trabalhadores da metrópole e os das províncias ultramarinas, material que ainda carece de grandes repertórios que o sistematize. Como um dos resultados dessa pesquisa, com a colaboração de outros membros da equipe do projeto temático, estará disponível online nessa base de dados um acervo de mais de 500 normas legais referentes a essa temática. João Lucas Poiani Trescentti João Vitor Pelizzaro Morales Gravuras na imprensa ilustrada: intercâmbios entre A Ilustração (1884-1892) e o Le Monde Illustré (1857-1940/1945-1956) A revista A Ilustração (1884-1892) particulariza-se pelo fato de ser impressa em Paris para seguir por navio para Lisboa e o Rio de Janeiro. Era dirigida pelo jornalista português Mariano Pina, que entre 1882 e 1886 foi o correspondente do jornal Gazeta de Notícias em Paris. Como indica o nome, a revista era fartamente ilustrada e inseria-se na tradição das ilustrações, inaugurada em 1842 pelo Illustrated London News e logo seguida pela francesa l’Illustration, lançada no ano seguinte. Tendo em vista que a revista foi longeva e somou 184 edições, foi necessário organizar um banco de dados para catalogar sistematicamente os conteúdos textuais e iconográficos. Por ser editada pela mesma empresa que produzia o Le Monde Illustré, a revista de Pina valia-se do arquivo do editor francês. O objetivo desta apresentação é verificar as escolhas feitas pelo editor da

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Ilustração e qual era a distância temporal entre a publicação das imagens na revista francesa e naquela que se destinava ao Brasil e a Portugal.

Kaliny Ferraz A Escola e Foucault: um estudo do sujeito e o poder Foucault ensinou que o sujeito pedagógico é constituído ou moldado e esse fenômeno ocorre, essencialmente, nas instituições, através de relações de poder. Quando se fala em abrangência, a Escola é a instituição mais evidente, posto que os alunos permanecem nela desde pequenos até a maturidade. Dessa forma, concluímos que a escola moderna não somente molda um sujeito, mas sim, toda uma sociedade. Por conseguinte, Foucault aponta que essas relações de poder têm efeitos subjetivantes relacionado com seu período histórico, ou seja, ao se estudar a Escola temos que considerar a organização das relações de poder em seu dado momento. As relações de poder são aliadas das práticas discursivas e constituem um regime discursivo que impõe o que é saber. As práticas discursivas são a gênese do saber, por isso temos que considerar como um binômio a relação entre práticas discursivas e o poder, surgindo o saber-poder. Isto posto, a Escola tem seu efeito de sujeição do indivíduo a partir do instante em que é reconhecida como detentora do saber por meio de seus discursos. Além disto, o poder disciplinar exercido na instituição tem como resultado a docilização dos corpos para que eles se tornam moldáveis de acordo com certas funções e utiliza seus três eixos: a sanção normalizadora, a vigilância hierárquica e o exame. Destarte, o presente artigo visa elucidar como as práticas subjetivantes e o poder disciplinador estão inseridas no cotidiano escolar.

Larissa de Carvalho Nascimento A representação e a construção do Urbano e da Urbanidade em Anhaia Mello e Prestes Maia (1918-1934) Esta pesquisa, de cunho bibliográfico e documental, procura, de modo geral, analisar as distintas considerações, projeções e soluções dos engenheiros Luiz Ignácio de Anhaia Mello e Francisco Prestes Maia sobre a cidade de São Paulo, de 1918 até 1934. São Paulo nos anos 20 passava por um boom de crescimento e urbanização e, aos poucos, procurava se projetar como uma metrópole moderna. Havia uma convulsão de derrubadas e construções de novas vias, jardins, pontes, prédios públicos que representam a construção da imagem de uma capital moderna. Em meio a este cenário, o urbanismo ia se transformando em disciplina autônoma. A partir dos anos 20, a palavra urbanismo se torna de uso corrente. Ela não designa apenas uma pratica como melhoramento, mas pretende conceituar uma área de conhecimento e atividade profissional. A literatura que explora o pensamento urbanístico paulistano deste período tende a situar Luiz de Anhaia Mello como um contraponto para o engenheiro Francisco Prestes Maia. Tomando como base as produções de ambos os engenheiros entre os anos 1920, 1930 e 1940, há uma consagrada oposição entre Anhaia Mello: o “teórico”, o professor formador de opinião e Prestes Maia: aquele que “efetivamente transformou a cidade. Revisitando esta oposição, esta pesquisa explorará o início da atuação de ambos, tanto quanto docentes como gestores da cidade. Desta forma, pretendemos compreender não apenas os conflitos entre estes engenheiros-arquitetos como também a construção do urbanismo enquanto saber e prática. Maiara Sanches Leite Thaís Lisboa Roussille Bandeira de Mello Robson da Silva Oliveira

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Sanatório Maria Imaculada na história de São José dos Campos: cotidiano e representação social O objetivo deste estudo é analisar a história do sanatório Maria Imaculada, fundado em 1935 em São José dos Campos, como lugar de cura da tuberculose destinado apenas à mulheres. O sanatório foi um dos maiores e mais importantes da cidade, quando esta era considerada Estância climática” adequada ao tratamento de doentes acometidos pela tuberculose. O sanatório recebia moças de vários lugares e acabou por se tornar residência de muitas delas, já que, na maioria dos casos, o tratamento era duradouro e intenso, o que as tornava afetivamente ligadas tanto à cidade quanto às enfermeiras que as tratavam. Discutiremos também o sistema de convívio e as relações de solidariedade que permeavam o cotidiano do sanatório. Mariana Adami Entre memórias e letras: Revolução Mexicana e Guerra Cristera na novela "Los recuerdos del porvenir", de Elena Garro (1963) De 1926 a 1929, o México viveu um violento conflito entre Estado e população, motivado por questões religiosas e fundiárias após a definição das bases políticas do governo revolucionário, na Constituição de 1917. Tal embate é chamado Guerra Cristera e apresentou-se como um forte movimento de contestação da Revolução Mexicana por camponeses católicos que tiveram sua liberdade de culto cerceada pelas leis anticlericais postas na Constituição revolucionária e por agraristas descontentes com a não efetivação da reforma agrária prevista pela Revolução. A Cristera foi, por muito tempo, ofuscada pela memória oficial, mas encontrou espaço na literatura e, posteriormente, na historiografia. O presente trabalho busca analisar a construção da imagem de cristeros e revolucionários na obra Los recuerdos del porvernir, de Elena Garro (1963) e os usos da literatura como fonte histórica. Maurício Diogenes Neto Tavares Religião e religiosidade nas Minas Gerais Setecentistas (1700-1745) A religião católica nas Minas Gerais surgiu contemporaneamente ao descobrimento do ouro naquele território. Foi numa época de grande movimento populacional rumo às minas de ouro, onde pessoas das mais diferentes classes sociais, regiões e até mesmo países se estabeleceram na região, com essa grande quantidade de pessoas e a necessidade da formação de um clero regular que atendesse as necessidades religiosas da crescente população fez com que o “recrutamento” de membros se desse de maneira pouco transparente, e não raramente via-se padres que confundiam suas obrigações religiosas com as seculares, e buscavam ouro nas minas das redondezas. Neste universo, a religiosidade principiou-se com a instalação das primeiras ermidas pelos aventureiros que ali chegavam. Os primeiros religiosos que se estabeleceram em Minas Gerais, muitas vezes, relegaram a fé em troca do ouro. As funções laicas e eclesiásticas misturavam-se. A constituição de uma religiosidade católica na capitania começou por meio de iniciativas populares, onde esta era vista como uma forma de escapar da realidade de penúria causada pela ausência do Estado português na região. Em virtude disto, os religiosos da capitania eram todos seculares, pois a entrada das ordens religiosas foi proibida desde os primeiros decênios de exploração aurífera. Tal condição, como nos ensina Caio César Bochi, deixava aqueles homens fora de uma organização mais autocontida e independente, capaz de conexões internacionais. Teoricamente, estariam, por meio do sistema de padroado, subordinados à Coroa. Ensina-nos Laura de Mello e Souza, no Prefácio do livro O clero e a Conjuração Mineira, que a rala estrutura eclesiástica, que só começou a se implantar de fato na América portuguesa após o Primeiro Sínodo da Bahia, em 1707, deixava os padres soltos, quase ao Deus-dará, perdidos em terras subordinadas a bispados longínquos e, não raro, a jurisdições conflitantes. Em Minas, tal como em

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outras capitanias, a situação não foi diferente. A má organização da estrutura eclesiástica somava-se ainda a formação intelectual precária. Portugal, ao contrário dos espanhóis, não zelou pelos estudos superiores nas suas terras de ultramar, fossem os universitários, fossem os religiosos. É sabido que o povoamento da região de Minas Gerais se deu pelo ouro, tendo isso em vista, não havia moral, religião ou costumes quando o que se estava em jogo era a feitura de uma fortuna rápida. José Ferreira Carrato nos mostra que a “imoralidade cega e brutal tomava conta daqueles que buscavam ouro”, tanto que houve até um dito do período que dizia que “todo aquele que atravessava a Serra da Mantiqueira aí deixava dependurada ou sepultada a consciência”. Mayara Carrobrez O sagrado feminino através de Diana em Aradia (1899), de Charles G. Leland. Buscamos, nesse trabalho que é fruto de uma pesquisa de iniciação científica, tecer algumas reflexões sobre as irrupções do “sagrado feminino” na literatura, em especial, em uma obra de cunho folclórico, investigando sobre a imagem da deusa Diana na configuração arquetípica de mulher selvagem a partir da obra “Aradia, o evangelho das bruxas, escrita por Charles G. Leland, em 1899, onde a mesma é a figura central da obra e de certas práticas religiosas conhecidas como “Stregheria”. A obra, escrita por um folclorista, apresenta Diana enquanto Deusa da lua, esposa de Lúcifer e mãe de Aradia, que, na presente obra tem papel de figura messiânica. Nossa pesquisa de iniciação científica pretende investigar Diana enquanto um símbolo do sagrado feminino e arquétipo de mulher e deusa selvagem. Nesse sentido, a metodologia da pesquisa será de cunho bibliográfico, pois terá como ponto de partida a leitura da obra acima citada e, a partir de um levantamento bibliográfico à realizar-se no início do trabalho. Inicialmente, utilizaremos como base as análises literárias de Ribeiro (2001) e Rapucci (2011) sobre o “sagrado e princípio feminino”, assim como outros autores de tendência junguiana poderão ser acrescidos durante o período realização da pesquisa.

Monaliza Caetano dos Santos Tutorial gvSIG Aplicado aos Estudos Históricos: Avanços e Possibilidades. O presente trabalho tem como principal objetivo a apresentação dos percursos e resultados obtidos na confecção do tutorial gvSIG aplicado aos estudos históricos. O uso de sistemas de informações geográficas (SIG) para investigações no campo da História, configura-se como possibilidade de grande potencial para análises que enfoquem espacialidade, banco de dados e geografia, no entanto, seu uso em trabalhos historiográficos têm-se apresentado de forma limitada e com relativa defasagem, enfrentando desafios de incorporação. Percebendo este problema e buscando contorná-lo, o grupo Hímaco (História, Mapas e Computadores) busca explorar, desenvolver, democratizar e autonomizar esta tecnologia no Departamento de História da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da UNIFESP e também no arquivo público do Estado de São Paulo, possuindo como base a utilização do software livre gvSIG; a criação e constante aperfeiçoamento do tutorial aplicado a estudos históricos busca emparelha-se à essas demandas, assim como supri-las.

Paola Sabrina de Oliveira Silva Anais do Museu Paulista: pesquisas sobre os indígenas na perspectiva do Museu e seus diretores - Affonso de Taunay: índios e bandeirantes na disputa pelo território O objetivo da pesquisa é analisar alguns números dos Anais e Revistas do Museu Paulista procurando identificar as diferentes perspectivas e paradigmas relativos à abordagem da história do indígena que vive no território brasileiro, com a preocupação de identificar momentos históricos-intelectuais distintos no tratado do tema ao longo dos anos.

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Com isso, esse trabalho irá focar na produção bibliográfica no período em que Affonso de E. Taunay foi diretor do museu paulista, traçando a perspectiva do diretor frente a questão indígena. Phelipe Kauê Ferreira da Silva Anatol no País do Futebol: Uma releitura sobre o racismo e a ascensão social do negro no Brasil através do match (1900-1930) A leitura de Anatol Rosenfeld tem o intuito de analisar algumas características determinantes para a construção de uma realidade proletária no esporte bretão. Em sua obra Negro, Macumba e Futebol” bem como seu texto originalmente escrito em alemão para o Anuário do Instituto Hans-Standen sob o título de “Das Fussballspiel in Brasilien” no ano de 1956,o autor demonstra como é findada a propriedade exclusiva da elite sobre o futebol para a insurgência de jogadores e torcedores negros, imigrantes, mulatos, pardos e pobres. A intenção principal é analisar as prerrogativas sociais do jogo e os acontecimentos históricos que levaram à profissionalização do esporte com sua abrangência em nível nacional e participação efetiva de negros e classes menos favorecidas em sua construção ideológica de democracia racial. Se trata de uma análise da forma com que a figura do negro no Brasil se entrelaça numa teia de relações sociais e culturais de pertencimento a uma nova nação no ínicio do século XX. O povo negro constrói aqui uma nova identidade perante a sociedade e como forma de resistência termina enraizando seus traços culturais juntamente de outros cultos e ritos; estes que doravante serão ainda mais inerentes ao futebol e a sociedade brasileira contemporânea. Sendo assim, é através da experiência do alemão de nascimento e brasileiro por adoção Anatol Rosenfeld, que se torna possível uma análise externa da problemática racial, cultural e social no período de transição do amadorismo para o profissionalismo no futebol, como também acerca dos aspectos pitorescos que rondaram a chamada popularização do esporte neste processo civilizador. Raquel de Souza Martins Lima Sara Carolina Noce Bortoncello Libertas e solteiras pobres em São Jose dos Campos, SP, no Pós-abolição (1888) O trabalho discute as condições sociais a partir das experiências vividas pelas mulheres pobres e libertas durante o período do pós-abolição, compreendido aqui entre 1888 e 1892, na cidade de São José dos Campos, SP, situado no Vale do Paraíba Paulista. A abolição da escravidão não trouxe grande alteração instantaneamente à vida das ex-escravas. O novo espaço social surgido com o fim da escravidão construirá uma formação de identidade das mulheres pobres e libertas que ainda tem clara ligação com as relações de trabalho, diversas formas de discriminação e violência, preconceitos raciais, exclusão social, relações hierárquicas familiares, vividas ainda hoje no Brasil. A investigação se deu por meio da interpretação de processos de tutela de órfãos do ano de 1888 a 1892, do 2° Cartório de São José dos Campos. Stefan Artur Gerzoschkowitz Pinheiro Maria Helena Alves da Silva Breve estudo sobre o tuberculoso em São José dos Campos e Campos do Jordão na primeira metade do século XX Esse trabalho tem como objetivo explorar como os moradores das cidades de São José dos Campos e de Campos do Jordão, estâncias de tratamento da tuberculose na primeira metade do século XX, interagiam com os doentes, além de mostrar a relação entre o apagamento da memória da tuberculose em São José dos Campos e Campos do Jordão com a sua industrialização. Para a realização dessa pesquisa, foram utilizados materiais como jornais e entrevistas obtidos através do projeto FAPESP número 14/11849-0

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“Memória da fase sanatorial em São José dos Campos e Campos do Jordão, SP (1920-1960)". Foi possível concluir que mesmo com a preocupação tardia do Estado em aplicar políticas que viabilizassem a profilaxia e o tratamento da tuberculose, a tísica deixou suas marcas no interior paulista muito antes de 1930 e que, no geral, encontramos jornais e revistas representando de formas diferentes o tuberculoso nas duas cidades. Enquanto a mídia joseense discutia seu inevitável futuro como Estância Climática, a mídia de Campos do Jordão divulgava amplamente os avanços da estrutura sanatorial da cidade, ao mesmo tempo que "vendia" seu clima com fins turísticos.

Stephanie Thomas Anais do Museu Paulista: pesquisas sobre os povos indígenas da perspectiva do Museu e seus diretores O objetivo da pesquisa é analisar alguns números dos Anais e Revistas do Museu Paulista procurando identificar as diferentes perspectivas e paradigmas relativos à abordagem da história do indígena que vive no território brasileiro, com a preocupação de identificar momentos históricos-intelectuais distintos no tratado do tema ao longo dos anos. Iniciando-se a partir da criação dos anais, com o primeiro diretor do museu, Hermann Von Ihearing e a perspectiva do mesmo no trato com os índios, seguindo uma análise cronológica até os dias atuais e como o museu evoluiu seu olhar sobre a questão até o presente. A partir da leitura dos Anais e Revistas do Museu Paulista, junto à pesquisa dos principais diretores do Museu, procuramos localizar as produções bibliográficas que pudessem contribuir para o entendimento de como a História Indígena tem sido fundamentada. O intuito é colaborar com subsídios para reflexões e produções historiográficas contemporâneas a respeito do tema. Foram analisados cerca de cento e cinco títulos, provindos de doação do próprio Museu Paulista à Associação Nacional dos Professores de História de São Paulo - ANPUH-SP, e que agora compõem o acervo dessa instituição. As obras datam do período final século XIX até os dias atuais, e, de cada uma, foram separados três exemplares. Estes livros foram higienizados e posteriormente digitalizados. As Revistas e Anais com artigos indígenas foram disponibilizadas no site do LEMAD-USP (Laboratório de Ensino e Material Didáticos).

Thairine Melinski Belmiro Le Gil-Blas: o impresso em língua francesa do Rio de Janeiro (1877-1878). No que se refere à diversidade étnica brasileira, o século XIX constitui-se num momento histórico chave, tendo em vista o adensamento da imigração europeia frente ao fim da escravidão. Os franceses, entretanto, não entraram no país em quantidade expressiva, como foi o caso dos italianos, espanhóis e portugueses, esta circunstância, porém, não impediu que sua contribuição para a esfera cultural e intelectual fosse significativa. Tendo em vista esse contexto, a pesquisa tem por objetivo estudar a imprensa em língua francesa no Rio de Janeiro, mais especificamente o jornal satírico Le Gil-Blas. Para tanto, é fundamental entender suas opções editoriais, o que demanda compreender as escolhas em termos de formato, organização do seu conteúdo, temáticas e funções desempenhadas pelo humor. Vale assinalar que a situação política na França, então às voltas com a consolidação da República, instalada em 1871, era um dos tópicos de destaque na publicação. Thais Cristina Buchwietz Alonso Representações da indumentária antiga na televisão e cinema: análise do figurino da série Roma (2005)

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O presente projeto busca explorar a historicidade da indumentária romana, tendo uma visão artística e principalmente política da vestimenta, considerando-a parte da expressão cotidiana das sociedades, e por isso, Na sociedade romana, isso se comprovava pelo fato de as vestimentas inicialmente distinguirem os gêneros. No caso dos homens era composta em geral por uma túnica (uma espécie de camisa fechada que ia até o joelho), e uma toga (um tecido drapeado sobreposto a túnica). Já as mulheres usavam uma camisa (roupa de baixo), um vestido, e como sobreveste, um tecido semelhante a uma capa e um véu. A roupa feminina deveria cobrir quase todo o corpo. A veste era usada principalmente para distinguir a classe social e em alguns casos a profissão. Por exemplo, apenas os operários saiam de casa só com a túnica, pois a toga e qualquer outro tipo de sobreveste eram extremamente inconvenientes para o seu trabalho. Os primeiros a adotar algum tipo de "calça" em Roma foram os soldados. Para, tal propósito será analisada a telessérie Roma, especialmente a produção de moda e figurino envolvida na mesma. A série é uma mega produção envolvendo A emissora americana Home Box Office (HBO),a inglesa British Broadcasting (BBC) e a italiana Radiotelevisione Italiana (RAI), contando com um dos maiores orçamentos da história televisiva, cerca de cem milhões de dólares por temporada, contando com um mega elenco de mais de 350 atores além de uma cidade cinematográfica na Itália. A série se passa no contexto do Primeiro e Segundo triunvirato, dos anos 50 a.C, na véspera da Guerra contra Pompeu, até a Guerra do Àcio, em 33-31 a.C. Devido á suas particularidades, a série é objeto de estudo de diversos ramos sobre a Antiguidade. Thiago Lenz José de Alencar e a circulação das Cartas de Erasmo no Segundo Reinado No século XIX, José de Alencar (1829-1877), romancista e político, publicou, com o pseudônimo Erasmo, três séries de cartas abertas denominadas Cartas de Erasmo (1865-1868), que circularam na imprensa nacional. O objetivo desse trabalho é analisar a circulação desses escritos políticos, com destaque para as temáticas abordadas: a Guerra do Paraguai, a política e a emancipação dos escravos. No Rio de Janeiro, o Jornal do Commercio (1866) publicou um artigo que reconhecia a repercussão delas, justificada pela referência aos acontecimentos contemporâneos, como ressaltou o jornal carioca Opinião Liberal (1866) e o pernambucano O Conservador (1867). Em São Paulo, o Correio Paulistano (1867) divulgou críticas às cartas, sobretudo em torno do tema da emancipação, com um texto que lamentava a defesa da escravidão por Erasmo, diferente do artigo do Jornal do Commercio, que interpretava Erasmo apenas como contrário a uma medida legislativa para tal fim.