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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’O S S E RVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Ano XLIX, número 21 (2.517) Cidade do Vaticano quinta-feira 24 de maio de 2018 y(7HB5G3*QLTKKS( +{!z!,!$!#! No Regina caeli o Pontífice anunciou que a 29 de junho próximo criará catorze cardeais Sinal da universalidade da Igreja E invocou paz e reconciliação para a Terra Santa e a Venezuela A santidade dos Papas No dia 29 de junho, o Papa realiza- rá um consistório para a nomeação de 14 cardeais, anunciou no final do Regina caeli de 20 de maio, do- mingo de Pentecostes, realçando que a sua proveniência exprime «a universalidade da Igreja que conti- nua a anunciar o amor misericordio- so de Deus a todos os homens da terra». A eles — entre os quais vai ser criado cardeal o português António dos Santos Marto, bispo de Lei- ria-Fátima — o Pontífice quis unir dois prelados e um religioso, «que se distinguiram pelo seu serviço à Igreja». Precedentemente, Francisco cele- brou a missa de Pentecostes na basí- lica vaticana; em seguida, da janela do gabinete do Palácio apostólico, guiou o tradicional encontro maria- no dominical, e em ambas as cir- cunstâncias comentou as leituras da solenidade. Na homilia da celebra- ção lançou um novo apelo a favor da paz na Terra Santa. Em seguida, ao «dedicar uma recordação espe- cial» à Venezuela, pediu «que o Es- pírito Santo dê a todo o povo — a todos, governantes e povo — a sabe- doria para encontrar o caminho da paz e da unidade». E em particular elevou preces «pelos presos que morreram» durante uma revolta no cárcere. O Papa frisou que o Pentecostes marcou «a origem da missão univer- sal da Igreja». Por isso, neste dia «é divulgada a mensagem para o próxi- mo dia missionário mundial». A propósito, Francisco recordou que no dia precedente foram celebrados os 175 anos desde o nascimento da Obra da infância missionária, «que vê as crianças protagonistas da mis- são, com a oração e os pequenos gestos diários de amor e serviço». PÁGINAS 2 E 3 Montini e Romero serão canonizados Dia missionário mundial Na escola dos santos PÁGINA 5 Sete novos embaixadores Acolher quem foge da guerra e da fome PÁGINAS 6 E 7 CONTINUA NA PÁGINA 8 Encontro com a diocese de Roma Para um novo êxodo PÁGINA 10 Giovanni Battista Montini e Óscar Arnulfo Romero Galdámez serão ca- nonizados no dia 14 de outubro, anunciou o Papa Francisco durante o Consistório ordinário público para o voto sobre algumas causas de cano- nização, realizado na manhã de 19 de maio. Nessa mesma cerimónia — à qual o Pontífice presidirá, enquanto no Vaticano terão lugar os trabalhos da 15ª assembleia geral ordinária do sínodo dos bispos sobre o tema: «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional» — serão proclamados outros quatro santos: dois sacerdotes italianos, uma irmã alemã e uma religiosa espanhola. Trata-se do lombardo Francesco Spinelli, fundador do instituto das irmãs Adoradoras do Santíssimo Sacramento, do campano Vincenzo Romano, de Maria Caterina Kasper, fundadora do instituto das pobres servas de Jesus Cristo, e de Nazaria Ignazia de Santa Teresa de Jesus, fundadora da congregação das irmãs missionárias cruzadas da Igreja. PÁGINAS 8 E 9 GIOVANNI MARIA VIAN O anúncio no consistório, da cano- nização de Giovanni Battista Monti- ni que, eleito no conclave de 1963, escolheu o nome de Paulo VI, intro- duz uma novidade na história da Igreja romana. Com efeito, durante o rito será aprovada também a santi- dade de Óscar Romero, arcebispo mártir, e de outras figuras exempla- res, predominantemente fundadoras e fundadores de ordens religiosas. E precisamente esta é a novidade, por- que ao longo dos séculos os Papas foram elevados às honras dos altares ou sozinhos ou, em anos recentes, juntamente com outros Pontífices. Sabe-se historicamente também que, desde quando no final do sécu- lo XVI a sede romana escolheu cen- tralizar e governar os processos para o reconhecimento formal da santida- de, são pouquíssimos os Papas cano- nizados ou beatificados. Com efeito, a maior parte dos sucessores de Pe- dro, tradicionalmente venerados co- mo santos, pertence aos primeiros seis séculos, ou seja, até Gregório Magno, autor da Regula pastoralis e modelo indiscutível de governo epis- copal, numa idealização hagiográfica que considera mártires todos aqueles que precederam a era constantinia- na. Meio milénio mais tarde, por vol- ta de 1075, Gregório VII, no Dictatus papae, afirma que «o romano Pontí- fice, se for ordenado canonicamente, pelos méritos do beato Pedro, torna- se sem dúvida santo». Nesta renova- da visão do Papa, à qual estava liga- da a reforma da Igreja, que precisa- mente de Gregório VII assume o no- me, inspira-se a celebração dos seus imediatos sucessores, nos afrescos do desaparecido oratório lateranense de São Nicolau, numa aproximação transparente entre as grandes figuras da tradição romana, Leão e Gregó- rio, e os Pontífices reformadores en- tre os séculos XI e XII. A santidade papal volta a apare- cer, não por acaso depois da perda do poder temporal e de certo modo para a compensar, graças ao reco- nhecimento formal do culto de um certo número de Pontífices medie- vais. Mas quem a volta a promover é

y(7HB5G3*QLTKKS( +{!z!,!$!#! Preço € 1,00. Número atrasado ... · universalidade da Igreja que conti-nua a anunciar o amor misericordio-so de Deus a todos os homens da terra»

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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00

L’O S S E RVATOR E ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Ano XLIX, número 21 (2.517) Cidade do Vaticano quinta-feira 24 de maio de 2018

y(7HB5G3*QLTKKS( +{!z!,!$!#!

No Regina caeli o Pontífice anunciou que a 29 de junho próximo criará catorze c a rd e a i s

Sinal da universalidade da IgrejaE invocou paz e reconciliação para a Terra Santa e a Venezuela

A santidade dos Papas

No dia 29 de junho, o Papa realiza-rá um consistório para a nomeaçãode 14 cardeais, anunciou no final doRegina caeli de 20 de maio, do-mingo de Pentecostes, realçandoque a sua proveniência exprime «auniversalidade da Igreja que conti-nua a anunciar o amor misericordio-so de Deus a todos os homens daterra».

A eles — entre os quais vai sercriado cardeal o português Antóniodos Santos Marto, bispo de Lei-ria-Fátima — o Pontífice quis unirdois prelados e um religioso, «quese distinguiram pelo seu serviço àI g re j a » .

Precedentemente, Francisco cele-brou a missa de Pentecostes na basí-lica vaticana; em seguida, da janela

do gabinete do Palácio apostólico,guiou o tradicional encontro maria-no dominical, e em ambas as cir-cunstâncias comentou as leituras dasolenidade. Na homilia da celebra-ção lançou um novo apelo a favorda paz na Terra Santa. Em seguida,ao «dedicar uma recordação espe-cial» à Venezuela, pediu «que o Es-pírito Santo dê a todo o povo — a

todos, governantes e povo — a sabe-doria para encontrar o caminho dapaz e da unidade». E em particularelevou preces «pelos presos quemorreram» durante uma revolta noc á rc e re .

O Papa frisou que o Pentecostesmarcou «a origem da missão univer-sal da Igreja». Por isso, neste dia «édivulgada a mensagem para o próxi-mo dia missionário mundial». Apropósito, Francisco recordou queno dia precedente foram celebradosos 175 anos desde o nascimento daObra da infância missionária, «quevê as crianças protagonistas da mis-são, com a oração e os pequenosgestos diários de amor e serviço».

PÁGINAS 2 E 3

Montini e Romeroserão canonizados

Dia missionário mundial

Na escola dos santos

PÁGINA 5

Sete novos embaixadores

Acolher quem fogeda guerra e da fome

PÁGINAS 6 E 7

CO N T I N UA NA PÁGINA 8

Encontro com a diocese de Roma

Para um novo êxodo

PÁGINA 10

Giovanni Battista Montini e Óscar Arnulfo Romero Galdámez serão ca-nonizados no dia 14 de outubro, anunciou o Papa Francisco durante oConsistório ordinário público para o voto sobre algumas causas de cano-nização, realizado na manhã de 19 de maio. Nessa mesma cerimónia — àqual o Pontífice presidirá, enquanto no Vaticano terão lugar os trabalhosda 15ª assembleia geral ordinária do sínodo dos bispos sobre o tema: «Osjovens, a fé e o discernimento vocacional» — serão proclamados outrosquatro santos: dois sacerdotes italianos, uma irmã alemã e uma religiosaespanhola. Trata-se do lombardo Francesco Spinelli, fundador do institutodas irmãs Adoradoras do Santíssimo Sacramento, do campano VincenzoRomano, de Maria Caterina Kasper, fundadora do instituto das pobresservas de Jesus Cristo, e de Nazaria Ignazia de Santa Teresa de Jesus,fundadora da congregação das irmãs missionárias cruzadas da Igreja.

PÁGINAS 8 E 9

GI O VA N N I MARIA VIAN

O anúncio no consistório, da cano-nização de Giovanni Battista Monti-ni que, eleito no conclave de 1963,escolheu o nome de Paulo VI, intro-duz uma novidade na história daIgreja romana. Com efeito, duranteo rito será aprovada também a santi-dade de Óscar Romero, arcebispomártir, e de outras figuras exempla-res, predominantemente fundadorase fundadores de ordens religiosas. Eprecisamente esta é a novidade, por-que ao longo dos séculos os Papasforam elevados às honras dos altaresou sozinhos ou, em anos recentes,juntamente com outros Pontífices.

Sabe-se historicamente tambémque, desde quando no final do sécu-lo XVI a sede romana escolheu cen-tralizar e governar os processos parao reconhecimento formal da santida-de, são pouquíssimos os Papas cano-nizados ou beatificados. Com efeito,a maior parte dos sucessores de Pe-dro, tradicionalmente venerados co-mo santos, pertence aos primeirosseis séculos, ou seja, até GregórioMagno, autor da Regula pastoralis emodelo indiscutível de governo epis-copal, numa idealização hagiográficaque considera mártires todos aquelesque precederam a era constantinia-na.

Meio milénio mais tarde, por vol-ta de 1075, Gregório VII, no Dictatuspapae, afirma que «o romano Pontí-fice, se for ordenado canonicamente,pelos méritos do beato Pedro, torna-se sem dúvida santo». Nesta renova-da visão do Papa, à qual estava liga-da a reforma da Igreja, que precisa-mente de Gregório VII assume o no-me, inspira-se a celebração dos seusimediatos sucessores, nos afrescos dodesaparecido oratório lateranense deSão Nicolau, numa aproximação

transparente entre as grandes figurasda tradição romana, Leão e Gregó-rio, e os Pontífices reformadores en-tre os séculos XI e XII.

A santidade papal volta a apare-cer, não por acaso depois da perdado poder temporal e de certo modopara a compensar, graças ao reco-nhecimento formal do culto de umcerto número de Pontífices medie-vais. Mas quem a volta a promover é

página 2 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 24 de maio de 2018, número 21

L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

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w w w. o s s e r v a t o re ro m a n o .v a

GI O VA N N I MARIA VIANd i re t o r

Giuseppe Fiorentinov i c e - d i re t o r

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Como soa doloroso hoje o nome de GazaApelo a favor da Terra Santa durante a missa de Pentecostes

juventude, apesar de todas as tenta-tivas para a prolongar, mais cedo oumais tarde passa; ao contrário, é oEspírito que impede o único enve-lhecimento maléfico: o interior. Ecomo faz? Renovando o coração,transformando-o de pecador em per-doado. Esta é a grande mudança: deculpados que éramos, faz-nos justose assim tudo muda, porque, de es-cravos do pecado, tornamo-nos li-vres; de servos, filhos; de descarta-dos, preciosos; de desanimados, es-perançosos. Deste modo, o Espírito

tamente de descobrir, onde é prota-gonista o Espírito — assistimos a umdinamismo contínuo, rico de surpre-sas. Quando os discípulos menos es-peram, o Espírito envia-os aos pa-gãos. Abre caminhos novos, comono caso do diácono Filipe. O Espíri-to impele-o por uma estrada deserta,de Jerusalém a Gaza (como este no-me soa doloroso, hoje! Que o Espíri-to mude os corações e as vicissitudese dê paz à Terra Santa!). Naquelaestrada, Filipe instrui o funcionárioetíope e batiza-o; em seguida o Es-

ríodos mais escuros, o Espírito susci-tou a santidade mais luminosa! Por-que Ele é a alma da Igreja, sempre areanima com a esperança, enche-ade alegria, fecunda-a de vida nova,dá-lhe rebentos de vida. Como nafamília, quando nasce uma criança,esta complica os horários, faz perdero sono, mas traz uma alegria que re-nova a vida, impelindo-a para afrente, dilatando-a no amor. Domesmo modo o Espírito traz à Igrejaum «sabor de infância». Realiza re-nascimentos contínuos. Reaviva oamor do começo. O Espírito lembraà Igreja que, não obstante os seusséculos de história, é sempre uma jo-vem de vinte anos, a Noiva jovempor quem está perdidamente apaixo-nado o Senhor. Não nos cansemos,então, de convidar o Espírito paraos nossos ambientes, de o invocarantes das nossas atividades: «Vinde,Espírito Santo!».

Trará a sua força de mudança,uma força única que, por assim di-zer, é ao mesmo tempo centrípeta ecentrífuga. É centrípeta, isto é, impe-le para o centro, porque atua dentrodo coração. Infunde unidade nafragmentação, paz nas aflições, forta-leza nas tentações. Assim no-lo re-corda Paulo na segunda Leitura,quando escreve que o fruto do Espí-rito é alegria, paz, fidelidade, auto-domínio (cf. Gl 5, 22). O Espírito dáintimidade com Deus, a força inte-rior para avançar. Mas, ao mesmotempo, Ele é força centrífuga, isto é,impele para o exterior. Aquele queconduz ao centro é o Mesmo queenvia para a periferia, rumo a toda aperiferia humana; Aquele que nosrevela Deus impele-nos para os ir-mãos. Envia, torna testemunhas e,para isso, infunde — escreve aindaPaulo — amor, benignidade, bonda-de, mansidão. Somente no EspíritoConsolador proferimos palavras devida e encorajamos verdadeiramenteos outros. Quem vive segundo o Es-pírito permanece nesta tensão espiri-tual: encontra-se inclinado conjunta-mente para Deus e para o mundo.

Peçamos-lhe que nos faça assim.Espírito Santo, rajada de vento deDeus, soprai sobre nós. Soprai nosnossos corações e fazei-nos respirar aternura do Pai. Soprai sobre a Igrejae impeli-a até aos últimos confins,para que, levada por Vós, nada maisleve senão Vós. Soprai sobre o mun-do o suave calor da paz e a frescarestauração da esperança. Vinde, Es-pírito Santo, mudai-nos por dentro erenovai a face da terra. Amém!

Santo faz renascer a alegria, assimfaz florescer no coração a paz.

Por isso, aprendamos hoje o quedevemos fazer, quando precisamosde uma verdadeira mudança. Equem de nós não precisa? Sobretudoquando nos encontramos por terra,quando nos debatemos sob o pesoda vida, quando as nossas fraquezasnos oprimem, quando avançar é difí-cil e amar parece impossível. Entãoservir-nos-ia um forte «reconstituin-te»: é Ele, a força de Deus. É Ele —como professamos no Credo — «quedá a vida». Como nos faria bem to-mar diariamente este reconstituintede vida! Dizer, ao acordar: «Vinde,Espírito Santo, vinde ao meu cora-ção, vinde acompanhar o meu dia!».

Depois dos corações, o Espíritomuda as vicissitudes. Como o ventosopra por todo o lado, assim Elechega às situações mesmo às maisimprevistas. Nos Atos dos Apóstolos— um livro que necessitamos absolu-

pírito leva-o a Azoto, depois a Cesa-reia: sempre em novas situações, pa-ra difundir a vida nova de Deus. Te-mos também Paulo que, «obedecen-do ao Espírito» (At 20, 22), viaja atéaos últimos confins do mundo entãoconhecido, levando o Evangelho apopulações que nunca tinha visto.Quando está presente o Espírito,acontece sempre qualquer coisa;quando Ele sopra, nunca há bonan-ça, nunca.

Quando a vida das nossas comu-nidades atravessa períodos de «lassi-dão», em que se prefere a comodi-dade doméstica à vida nova deDeus, é um mau sinal. Quer dizerque se busca abrigo do vento do Es-pírito. Quando se vive para a auto-conservação e não se vai ao encontrodos distantes, não é um bom sinal.O Espírito sopra, mas nós amaina-mos as velas. E todavia, muitas ve-zes o vimos realizar maravilhas!Muitas vezes, precisamente nos pe-

Na primeira leitura da liturgia dehoje, a vinda do Espírito Santo noPentecostes é comparada a uma«forte rajada de vento» (At 2, 2).Que nos diz esta imagem? A rajadade vento sugere uma força grande,mas não finalizada em si mesma: éuma força que muda a realidade. Defacto, o vento traz mudança: corren-tes quentes quando está frio, frescasquando está calor, chuva quando hásecura... O vento faz assim. O mes-mo, embora a nível muito diferente,faz o Espírito Santo: Ele é a forçadivina que muda, que muda o mundo.Assim no-lo recordou a Sequência: oEspírito é «descanso na luta, confor-to no pranto»; e por isso lhe supli-camos: «Lavai nossas manchas, aaridez regai, sarai os enfermos e atodos salvai». Ele penetra nas situa-ções e transforma-as; muda os cora-ções e muda as vicissitudes.

Muda os corações. Jesus dissera aosseus Apóstolos: «Ides receber umaforça, a do Espírito Santo (...) e se-reis minhas testemunhas» (At 1, 8).E assim aconteceu: aqueles discípu-los que antes viviam no medo, fe-chados em casa, mesmo depois daressurreição do Mestre, são transfor-mados pelo Espírito e — como Jesusanuncia no Evangelho de hoje —«dão testemunho d’Ele» (cf. Jo 15,27). De hesitantes, tornam-se corajo-sos e, partindo de Jerusalém, lan-çam-se até aos confins do mundo.Medrosos quando Jesus estava entreeles, agora são ousados sem Ele,porque o Espírito mudou os seus co-rações.

O Espírito liberta os espíritos pa-ralisados pelo medo. Vence as resis-tências. A quem se contenta commeias-medidas, propõe ímpetos dedoação. Dilata os corações mesqui-nhos. Impele ao serviço quem sedesleixa na comodidade. Faz cami-nhar quem sente ter chegado. Fazsonhar quem sofre de tibieza. Esta éa mudança do coração. Muitos pro-metem estações de mudança, novoscomeços, renovações portentosas,mas a experiência ensina que nenhu-ma tentativa terrena de mudar ascoisas satisfaz plenamente o coraçãodo homem. A mudança do Espíritoé diferente: não revoluciona a vidaao nosso redor, mas muda o nossocoração; não nos livra de um mo-mento para o outro dos problemas,mas liberta-nos dentro, para os en-frentar; não nos dá tudo imediata-mente, mas faz-nos caminhar con-fiantes, sem nos deixar jamais cansarda vida. O Espírito mantém jovem ocoração, uma renovada juventude. A

Hoje o nome de Gaza soa particularmente«doloroso». Por isso, o Papa Franciscona homilia da missa de Pentecostes, celebradana manhã de domingo 20 de maio, na basílicade São Pedro, manifestou o desejo de que

«o Espírito Santo transforme os coraçõese as vicissitudes, levando a paz à Terra Santa».Concelebraram 27 cardeais e 16 prelados.No momento da consagração estavam diantedo altar os purpurados Bertone, Arinze, Tomko

e Kasper. Com os presentes no rito estavam, entreoutros, os arcebispos Gallagher, secretário para asRelações com os Estados, e Gänswein, prefeito daCasa pontifícia; e monsenhor Sapienza, regenteda Prefeitura.

número 21, quinta-feira 24 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 3

Sinal da universalidadeda Igreja

O Papa criará catorze cardeais a 29 de junho

«Sinto-me feliz por anunciar que a 29 de junho,presidirei a um Consistório para a criação de 14novos Cardeais»: anunciou o Papa no final doRegina caeli recitado com os fiéis presentes na praçade São Pedro ao meio-dia de domingo, 20 de maio.Antes da antífona mariana o Pontífice comentou asleituras da solenidade de Pentecostes.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!Na h0dierna festa de Pentecostes tem o seu ápiceo tempo pascal, centrado sobre a morte e ressur-reição de Jesus. Esta solenidade faz-nos recordar ereviver a efusão do Espírito Santo sobre os Após-tolos e sobre os outros discípulos, reunidos emoração com a Virgem Maria no Cenáculo (cf. At2, 1-11). Naquele dia teve início a história da santi-dade cristã, pois o Espírito Santo é a fonte dasantidade, que não é um privilégio para poucos,mas vocação para todos.

Com efeito, mediante o Batismo, todos somoschamados a participar na mesma vida divina deCristo e, com a Confirmação, a tornarmo-nos suastestemunhas no mundo. «O Espírito Santo derra-ma a santidade, por toda a parte, no santo povofiel de Deus» (Exort. ap. Gaudete et exsultate, 6).«Aprouve a Deus salvar e santificar os homens,não individualmente, excluída qualquer ligaçãoentre eles, mas constituindo-os em povo que Oconhecesse na verdade e O servisse santamente»(Const. dogm. Lumen gentium, 9).

Já por meio dos antigos profetas o Senhor ti-nha anunciado ao povo este seu desígnio. Eze-quiel: «Dentro de vós porei o meu espírito, fazen-do com que sigais as minhas leis e obedeçais epratiqueis os meus preceitos. [...] sereis o meu po-vo e Eu serei o vosso Deus» (36, 27-28). O profe-ta Joel: «derramarei o Meu Espírito sobre toda acarne: os vossos filhos e as vossas filhas profetiza-rão. [...] Naqueles dias, derramarei o Meu espíritotambém sobre os escravos e as escravas. [...] Todoo que invocar o nome do Senhor será salvo» (3, 1-2.5). E todas estas profecias se realizam em JesusCristo, «mediador e garantia da perene efusão doEspírito» (Missal Romano, Prefácio depois da As-censão). E hoje é a festa da efusão do Espírito.

A partir daquele dia de Pentecostes, e até aofim dos tempos, esta santidade, cuja plenitude éCristo, é proporcionada a quantos se abrem àação do Espírito Santo e se esforçam por ser dó-ceis. É o Espírito que faz experimentar uma ale-gria plena. O Espírito Santo, derramando-se so-bre nós, derrota a aridez, abre os corações à espe-rança e estimula e favorece a maturação interiorna relação com Deus e com o próximo. É quantonos diz São Paulo: «o fruto do Espírito é: carida-de, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade,fidelidade, mansidão, temperança» (Gl 5, 22). O

Espírito faz tudo isto em nós. Por isso hoje feste-jamos esta riqueza que o Pai nos dá.

Peçamos à Virgem Maria que obtenha tambémhoje para a Igreja um Pentecostes renovado, umajuventude renovada que nos proporcione a alegriade viver e testemunhar o Evangelho e «infundaem nós um desejo intenso de ser santos para amaior glória de Deus» (Gaudete et exsultate, 177).

No final do Regina caeli o Papa fez um apelo afavor da paz na Terra Santa e na Venezuela, erecordou que «o evento de Pentecostes marca aorigem da missão universal da Igreja» e saudou osfiéis presentes, entre os quais o grupo do Colégio S.Tomás de Lisboa.

Queridos irmãos e irmãs!O Pentecostes leva-nos com o coração a Jerusa-lém. Ontem à noite uni-me espiritualmente à vigí-lia de oração pela paz que teve lugar naquela Ci-dade, santa para judeus, cristãos e muçulmanos. Ehoje continuamos a invocar o Espírito Santo paraque suscite vontade e gestos de diálogo e de re-conciliação na Terra Santa e em todo o MédioO riente.

Desejo dedicar uma recordação especial à ama-da Venezuela. Peço que o Espírito Santo concedaa todo o povo venezuelano — todo, governantes,povo — a sabedoria para encontrar o caminho dapaz e da unidade. Rezo também pelos detidosque morreram ontem.

O evento de Pentecostes marca a origem da mis-são universal da Igreja. Por isso hoje é publicada aMensagem para o próximo Dia Missionário Mun-dial. E apraz-me também recordar que ontem secompletaram 175 anos do nascimento da Obra daInfância Missionária, que vê as crianças protago-nistas da missão, com a oração e com os pequenosgestos diários de amor e de serviço. Agradeço eencorajo todas as crianças que participam na difu-são do Evangelho no mundo. Obrigado.

Por fim o Papa anunciou o consistório para anomeação de catorze novos purpurados.

Queridos irmãos e irmãs!Sinto-me feliz por anunciar que a 29 de junho, te-rei um consistório para a nomeação de 14 novosCardeais. A sua proveniência expressa a universa-

lidade da Igreja que continua a anunciar o amormisericordioso de Deus a todos os homens da ter-ra. Além disso, a inserção dos novos Cardeais nadiocese de Roma manifesta o vínculo inseparávelentre a sé de Pedro e as Igrejas particulares difun-didos no mundo.

Eis os nomes dos novos Cardeais:1. Sua Beatitude Louis Raphaël I Sako — Pa -

triarca de Babilónia dos Caldeus.2. Sua Ex.cia D. Luis Ladaria — Prefeito da

Congregação para a Doutrina da Fé.3. Sua Ex.cia D. Angelo De Donatis — Vi g á r i o -

Geral de Roma.4. Sua Ex.cia D. Giovanni Angelo Becciu —

Substituto para os Assuntos Gerais da Secretariade Estado e Delegado Especial junto da SoberanaOrdem Militar de Malta.

5. Sua Ex.cia D. Konrad Krajewski — Esmolei-ro Apostólico.

6. Sua Ex.cia D. Joseph Coutts — Arcebispo deKa r a c h i .

7. Sua Ex.cia D. António dos Santos Marto —Bispo de Leiria-Fátima.

8. Sua Ex.cia D. Pedro Barreto — Arcebispo deHuancayo.

9. Sua Ex.cia D. Desiré Tsarahazana — A rc e b i s -po de Toamasina.

10. Sua Ex.cia D. Giuseppe Petrocchi — A rc e -bispo de L’Aquila.

11. Sua Ex.cia D. Thomas Aquinas Manyo[Maeda] — Arcebispo de Osaka.

Juntamente com eles unirei aos membros doColégio Cardinalício: um Arcebispo, um Bispo eum Religioso que se distinguiram pelo seu serviçoà Igreja:

12. Sua Ex.cia D. Sergio Obeso Rivera — A rc e -bispo Emérito de Xalapa.

13. Sua Ex.cia D. Toribio Ticona Porco — P re -lado Emérito de Corocoro.

14. Rev.do Pe. Aquilino Bocos Merino — C l a re -tiano.

Rezemos pelos novos Cardeais, a fim de que,confirmando a sua adesão a Cristo, Sumo Sacer-dote misericordioso e fiel (cf. Hb 2, 17), me aju-dem no meu ministério de Bispo de Roma para obem de todo o santo Povo fiel de Deus.

Macha Chmackoff«Pentecostes no cenáculo»

Audiências do Santo PadreNo dia 18 de maio o

Papa recebeu emaudiência os membros

do conselho diretivo daFederação europeiapara a Vida e a

dignidade do Homem“One of us” (àesquerda) e os

membros do Comitépermanente daComissão dos

episcopados dacomunidade europeia

(Comece)

página 4 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 24 de maio de 2018, número 21

Aos fiéis da diocese francesa de Pontoise

Te s t e m u n h a snum mundo ferido

A exortação a ser «testemunhas audazes do amor de Deus num mundo ferido»foi confiada pelo Papa aos fiéis da diocese francesa de Pontoise que, de 19 a 20de maio, se reuniram na “grande assembleia” de Pentecostes, sobre o tema: «Amissão é a nossa vocação». Francisco transmitiu uma mensagem vídeo aosparticipantes nas celebrações, que se concluíram com a missa solene, durante aqual foram crismados mais de mil jovens e adultos.

abundantes frutos de amor, alegria,paz, paciência, benevolência, magna-nimidade, fidelidade, mansidão edomínio de si (cf. Gl 5, 22-23).

Hoje, mais de mil jovens e adul-tos recebem o sacramento da Cris-ma. Assim, tornar-vos-eis testemu-nhas audazes do amor de Deus nummundo ferido, especialmente nas pe-riferias existenciais, onde inúmeroshomens e mulheres esperam a con-solação do Senhor.

Que aquela consolação possa che-gar a eles através de vós, autênticos

discípulos missionários de Cristo;que ela alcance quantos se sentemabatidos ao longo do caminho, atra-vés da ternura das vossas palavras edas carícias das vossas obras, e queassim se propaguem a misericórdia eo amor de Deus, difundindo-se co-mo o perfume do óleo santo da

Confirmação, que hoje recebereis!Maria, Mãe de Jesus, que noscongrega em oração, vos ajude aacolher fecundamente o EspíritoSanto na vossa vida. Abençoo todosvós com carinho. E, por favor, nãovos esqueçais de rezar por mim.O brigado!

Caríssimos irmãos e irmãsda Diocese de Pontoise!Hoje estais reunidos na alegria desta“Grande Assembleia” de Pentecos-tes. Juntamente convosco, como opastor com o seu rebanho, presideao encontro o meu estimado irmãono episcopado, D. Stanislas Lalanne,a quem desejo dirigir uma especialsaudação.

Como é bom ver quinze mil cris-tãos rezarem com o coração dispostoa acolher o Espírito Santo de Deus!A sua ação eficaz proporcionar-vos-á

A “grande assembleia” de Pentecostes em Pontoise

Passar da competição para a colaboraçãoMensagem aos muçulmanos por ocasião do ramadão

No final dos encontros

Fr a n c i s c oaos bisposchilenos

Na tarde de 17 de maio o Papacompletou, no local adjacente àsala Paulo VI, o último dos quatroencontros com os 34 bispos chile-nos, comunicou a Sala de impren-sa da Santa Sé, recordando tam-bém que, no final deste períodode discernimento e de encontrofraterno, o Pontífice entregou umacarta a cada prelado.

No texto, o Papa agradeceu an-tes de tudo aos «irmãos no episco-pado» por terem aceite o convite afazer juntos «um discernimentofranco diante dos graves factosque prejudicaram a comunhãoeclesial e enfraqueceram o traba-lho da Igreja no Chile nos últimosanos». Francisco recordou que «àluz destes acontecimentos doloro-sos, relativos aos abusos — de me-nores, de poder e de consciência»,estes encontros foram ocasião paraaprofundar «a gravidade» de taisfactos e «as trágicas consequênciasque tiveram sobretudo para as víti-mas». Vítimas às quais, frisou, «eumesmo pedi perdão de coração».Perdão ao qual os prelados se uni-ram «numa única vontade e como firme propósito de reparar osdanos provocados».

Concluindo, renovou a gratidãoaos bispos pela «plena disponibili-dade que cada um manifestou,aderindo e colaborando em todasestas mudanças e resoluções quedevemos pôr em prática a curto,médio e longo prazo, necessáriaspara restabelecer a justiça e a co-munhão eclesial». E, «depois des-tes dias de oração e reflexão»,convidou os prelados «a prosse-guir na construção de uma Igrejaprofética, que saiba pôr no centroo que é importante: o serviço aoseu Senhor no faminto, no preso,no migrante e no abusado».

renças, recordemos aqueles valoresreligiosos e morais que partilhamos.Reconhecendo o que temos em co-mum e manifestando respeito pelasnossas legítimas diferenças, pode-mos estabelecer com mais firmezaainda um sólido fundamento para asrelações pacíficas, passando da com-petição e do conflito para uma coo-peração eficaz a favor do bem co-mum. Isto beneficia, especialmente,os mais necessitados e permite a to-dos nós oferecer um testemunho crí-vel do amor do Omnipotente pelahumanidade inteira.

Todos nós temos o direito e o de-ver de dar testemunho do Omnipo-tente ao Qual prestamos culto, de

partilhar as nossas crenças com osoutros, no respeito pelas suas reli-giões e pelos seus sentimentos reli-giosos. Para poder encorajar rela-ções pacíficas e fraternas, trabalhe-mos juntos e honremo-nos recipro-camente.

Deste modo, daremos glória aoOmnipotene e promoveremos a har-monia na sociedade que se torna ca-da vez mais multiétnica, multirreli-giosa e multicultural.

Concluímos renovando-vos osnossos melhores bons votos por umfrutuoso jejum e um jubiloso ‘Id,garantindo-vos a nossa solidariedadena oração.

Vaticano, 20 de abril de 2018

Documento sobre o atual sistema económico-financeiro

O homem antes do dinheiro«Diante da imponência e da capacidade de penetração dos sistemas eco-nómico-financeiros hodiernos», não devemos «resignar-nos ao cinismo.Na realidade, cada um de nós pode fazer muito, especialmente se não fi-car sozinho»: eis a conclusão principal à qual chegou o documento daCongregação para a doutrina da fé e do Dicastério para o serviço do de-senvolvimento humano integral Oeconomicae et pecuniariae quaestiones, quecontém «considerações para um discernimento ético acerca de alguns as-petos do atual sistema económico-financeiro». Aprovado pelo Papa Fran-cisco, que ordenou a sua publicação, o documento está disponível a par-tir de 17 de maio, no site da Santa Sé e, no mesmo dia, foi apresentadona Sala de Imprensa pelo arcebispo Luis Francisco Ladaria Ferrer e pelocardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeitos respetivamente da Con-gregação e do Dicastério. «É incrível pensar — observou o prelado — quedez pessoas possam deter quase metade da riqueza mundial». Por suavez, o purpurado auspiciou «um sistema económico graças ao qual po-der responder ao grito atual dos pobres e da terra».

Queridos irmãos e irmãsmuçulmanos!Na sua Providência, o Omnipotenteofereceu-vos a oportunidade de ob-servar novamente o jejum do Rama-dão e de celebrar ‘Id al-Fitr.

O Pontifício Conselho para oDiálogo Inter-Religioso aprecia aimportância deste mês assim como ogrande esforço por parte dos muçul-manos do mundo inteiro para jejuar,rezar e compartilhar os dons doOmnipotente com os mais pobres.

Cientes dos dons que brotam doRamadão, unimo-nos a vós na açãode graças a Deus misericordioso pelasua benevolência e generosidade, edirigimo-vos os nossos mais cordiaisbons votos. As reflexões que gosta-ríamos de partilhar convosco nestaocasião dizem respeito a um aspetovital das relações entre cristãos e mu-çulmanos: a necessidade de passarda competição à colaboração.

No passado, as relações entre cris-tãos e muçulmanos foram marcadasdemasiadas vezes por um espírito decompetição, do qual se veem as con-sequências negativas: ciúmes, recri-minações e tensões. Nalguns casoselas levaram a confrontos violentos,especialmente quando a religião foiinstrumentalizada, sobretudo porcausa de interesses particulares e demotivações políticas. Esta rivalidadeinter-religiosa marcou negativamentea imagem das religiões e dos seusseguidores, alimentando a ideia deque elas não são fontes de paz mas,ao contrário, de tensão e violência.

Para prevenir e superar estas con-sequências negativas, é importanteque nós cristãos e muçulmanos,mesmo reconhecendo as nossas dife-

Publicamos a mensagem — assinada pelo cardeal presidenteJean-Louis Tauran e pelo bispo secretário Miguel ÁngelAyuso Guixot — enviada pelo Pontifício conselho para odiálogo inter-religioso à comunidade muçulmana por ocasiãodo mês do Ramadão, que este ano começou aproximada-

mente no dia 16 de maio, e da festa de ‘Id al-Fitr 1439 h./ 2018 a.d., que se celebra por volta de 16 de junho. Amensagem, cujo título é «Cristãos e muçulmanos: da compe-tição à colaboração», foi divulgada também em francês, in-glês e árabe.

número 21, quinta-feira 24 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 5

Na escola dos santosDia missionário mundial

«Juntamente com os jovens levemos o Evangelho a todos»: eis o convite que oPapa Francisco dirigiu na mensagem para o nonagésimo segundo dia missionáriomundial, que será celebrado a 21 de outubro, o mês em que a Igreja estarácomprometida — de 3 a 28 — na décima quinta assembleia geral ordinária dosínodo dos bispos, sobre o tema: «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional».Segundo a tradição, a mensagem pontifícia é publicada na solenidade dePentecostes.

Anunciamo-vosJesus Cristo

A Igreja, ao anunciar aquilo quegratuitamente recebeu (cf. Mt 10, 8;At 3, 6), pode partilhar convosco,queridos jovens, o caminho e a ver-dade que conduzem ao sentido doviver nesta terra. Jesus Cristo, mortoe ressuscitado por nós, oferece-se ànossa liberdade e desafia-a a procu-rar, descobrir e anunciar este sentidoverdadeiro e pleno. Queridos jovens,não tenhais medo de Cristo e da suaIgreja! Neles, está o tesouro que en-che a vida de alegria. Digo-vos istopor experiência: graças à fé, encon-trei o fundamento dos meus sonhose a força para os realizar. Vi muitossofrimentos, muita pobreza desfigu-rar o rosto de tantos irmãos e irmãs.E todavia, para quem está com Je-sus, o mal é um desafio a amar cadavez mais. Muitos homens e mulhe-res, muitos jovens entregaram-se ge-nerosamente, às vezes até ao martí-rio, por amor do Evangelho ao ser-viço dos irmãos. A partir da cruz deJesus, aprendemos a lógica divina daoferta de nós mesmos (cf. 1 Cor 1,17-25) como anúncio do Evangelhopara a vida do mundo (cf. Jo 3, 16).Ser inflamados pelo amor de Cristoconsome quem arde e faz crescer,ilumina e aquece a quem se ama (cf.2 Cor 5, 14). Na escola dos santos,que nos abrem para os vastos hori-zontes de Deus, convido-vos a per-guntar a vós mesmos em cada cir-cunstância: «Que faria Cristo nomeu lugar?»

Transmitir a fé atéaos últimos confins da terra

Pelo Batismo, também vós, jo-vens, sois membros vivos da Igrejae, juntos, temos a missão de levar oEvangelho a todos. Estais a desabro-char para a vida. Crescer na graçada fé, que nos foi transmitida pelossacramentos da Igreja, integra-nosnum fluxo de gerações de testemu-nhas, onde a sabedoria daqueles quetêm experiência se torna testemunhoe encorajamento para quem se abreao futuro. E, por sua vez, a novida-de dos jovens torna-se apoio e espe-rança para aqueles que estão próxi-mos da meta do seu caminho. Naconvivência das várias idades da vi-da, a missão da Igreja constrói pon-tes intergeracionais, nas quais a féem Deus e o amor ao próximo cons-tituem fatores de profunda união.

Por isso, esta transmissão da fé,coração da missão da Igreja, verifica-se através do «contágio» do amor,onde a alegria e o entusiasmo ex-pressam o sentido reencontrado e a

plenitude da vida. A propagação dafé por atração requer corações aber-tos, dilatados pelo amor. Ao amor,não se pode colocar limites: fortecomo a morte é o amor (cf. Ct 8, 6).E tal expansão gera o encontro, otestemunho, o anúncio; gera a parti-lha na caridade com todos aquelesque, longe da fé, se mostram indife-rentes e, às vezes, impugnadores econtrários à mesma. Ambientes hu-manos, culturais e religiosos aindaalheios ao Evangelho de Jesus e àpresença sacramental da Igreja cons-tituem as periferias extremas, os «úl-timos confins da terra», aos quais,desde a Páscoa de Jesus, são envia-dos os seus discípulos missionários,na certeza de terem sempre com eleso seu Senhor (cf. Mt 28, 20; At 1, 8).Nisto consiste o que designamos pormissio ad gentes. A periferia mais de-solada da humanidade carente deCristo é a indiferença à fé ou mesmoo ódio contra a plenitude divina davida. Toda a pobreza material e es-piritual, toda a discriminação de ir-mãos e irmãs é sempre consequênciada recusa de Deus e do seu amor.

Hoje para vós, queridos jovens, osúltimos confins da terra são muitorelativos e sempre facilmente «nave-gáveis». O mundo digital, as redessociais, que nos envolvem e entre-cruzam, diluem fronteiras, cancelammargens e distâncias, reduzem as di-ferenças. Tudo parece estar ao alcan-ce da mão: tudo tão próximo e ime-diato... E todavia, sem o dom queinclua as nossas vidas, poderemoster miríades de contactos, mas nuncaestaremos imersos numa verdadeiracomunhão de vida. A missão até aosúltimos confins da terra requer odom de nós próprios na vocação quenos foi dada por Aquele que nos co-locou nesta terra (cf. Lc 9, 23-25).Atrevo-me a dizer que, para um jo-vem que quer seguir Cristo, o essen-cial é a busca e a adesão à sua voca-ção.

Testemunhar o amorAgradeço a todas as realidades

eclesiais que vos permitem encon-trar, pessoalmente, Cristo vivo nasua Igreja: as paróquias, as associa-ções, os movimentos, as comunida-des religiosas, as mais variadas ex-pressões de serviço missionário.

Muitos jovens encontram, no volun-tariado missionário, uma forma paraservir os «mais pequeninos» (cf. Mt25, 40), promovendo a dignidadehumana e testemunhando a alegriade amar e ser cristão. Estas expe-riências eclesiais fazem com que aformação de cada um não seja ape-nas preparação para o seu bom êxitoprofissional, mas desenvolva e cuideum dom do Senhor para melhor ser-vir os outros. Estas louváveis formasde serviço missionário temporâneosão um começo fecundo e, no dis-cernimento vocacional, podem aju-dar-vos a decidir pelo dom total devós mesmos como missionários.

De corações jovens, nasceram asPontifícias Obras Missionárias, paraapoiar o anúncio do Evangelho a to-dos os povos, contribuindo para ocrescimento humano e cultural demuitas populações sedentas de Ver-dade. As orações e as ajudas mate-riais, que generosamente são dadas edistribuídas através das POMs, aju-dam a Santa Sé a garantir que,quantos recebem ajuda para as suasnecessidades, possam, por sua vez,ser capazes de dar testemunho nopróprio ambiente. Ninguém é tãopobre que não possa dar o que teme, ainda antes, o que é. Apraz-me re-petir a exortação que dirigi aos jo-vens chilenos: «Nunca penses quenão tens nada para dar, ou que nãoprecisas de ninguém. Muita genteprecisa de ti. Pensa nisso! Cada umde vós pense nisto no seu coração:muita gente precisa de mim» (En-contro com os jovens, Santuário deMaipú, 17 de janeiro de 2018).

Queridos jovens, o próximo mêsmissionário de outubro, em que terálugar o Sínodo a vós dedicado, serámais uma oportunidade para vostornardes discípulos missionários ca-da vez mais apaixonados por Jesus epela sua missão até aos últimos con-fins da terra. A Maria, Rainha dosApóstolos, aos Santos Francisco Xa-vier e Teresa do Menino Jesus, aoBeato Paulo Manna, peço que inter-cedam por todos nós e sempre nosacompanhem.

Vaticano, 20 de maio de 2018Solenidade de Pentecostes.

Juntamente com os jovenslevemos o Evangelho a todos

Queridos jovens, juntamente convos-co desejo refletir sobre a missão queJesus nos confiou. Apesar de me di-rigir a vós, pretendo incluir todos oscristãos, que vivem na Igreja a aven-tura da sua existência como filhosde Deus. O que me impele a falar atodos, dialogando convosco, é a cer-teza de que a fé cristã permanecesempre jovem, quando se abre à mis-são que Cristo nos confia. «A mis-são revigora a fé» (Carta Enc. Re-demptoris missio, 2): escrevia SãoJoão Paulo II, um Papa que tantoamava os jovens e, a eles, muito sededicou.

O Sínodo que celebraremos emRoma no próximo mês de outubro,mês missionário, dá-nos a oportuni-dade de entender melhor, à luz dafé, aquilo que o Senhor Jesus vosquer dizer a vós, jovens, e, atravésde vós, às comunidades cristãs.

A vida é uma missãoTodo o homem e mulher é uma

missão, e esta é a razão pela qual seencontra a viver na terra. Ser a t ra í -dos e ser enviados são os dois movi-mentos que o nosso coração, sobre-tudo quando é jovem em idade, sen-te como forças interiores do amorque prometem futuro e impelem anossa existência para a frente. Nin-guém, como os jovens, sente quantoirrompe a vida e atrai. Viver comalegria a própria responsabilidadepelo mundo é um grande desafio.Conheço bem as luzes e as sombrasde ser jovem e, se penso na minhajuventude e na minha família, recor-do a intensidade da esperança porum futuro melhor. O facto de nosencontrarmos neste mundo sem serpor nossa decisão faz-nos intuir quehá uma iniciativa que nos antecede efaz existir. Cada um de nós é cha-mado a refletir sobre esta realidade:«Eu sou uma missão nesta terra, epara isso estou neste mundo»(Exort. Apost. Evangelii gaudium,273).

Eric Wagoner«Voar alto»

página 6 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 24 de maio de 2018, número 21

Novos embaixadoresTanzânia, Lesoto, Paquistão, Mongólia,Dinamarca, Etiópia e Finlândia: eis ossete países de proveniência dos novosembaixadores que na manhã de quin-ta-feira, 17 de maio, apresentaram aoPapa Francisco as cartas com as quaissão acreditados junto da Santa Sé.Durante a audiência, que teve lugarna Sala Clementina, o Pontífice recebeuas credenciais de cada representante di-plomático; depois, dirigindo-se a eles aaos seus colaboradores e familiares, pro-nunciou o discurso que publicamos napágina seguinte. Aos novos embaixado-res, no momento em que se preparampara desempenhar o seu alto cargo, onosso jornal transmite as mais cordiaisfelicitações.

TANZÂNIA

Sua Excelência o senhor AbdallahSaleh Possi, novo embaixador daTanzânia junto da Santa Sé, nasceuem Dar es Salaam a 25 de agosto de1979. É casado. Obteve uma licencia-tura e, sucessivamente, um mestradoem direito na universidade de Dar esSalaam (2007 e 2008). Em seguida,obteve um doutoramento em direitoconstitucional na universidade deFriedrich Alexander em Nuremberg,

obteve uma especialização em direi-to no mesmo ateneu (1998). É advo-gado. Desempenhou os seguintescargos: juiz de segunda instância

MONGÓLIA

Sua Excelência o senhor LundegPurevsuren, novo embaixador daMongólia junto da Santa Sé, nasceua 24 de dezembro de 1964. É casadoe tem dois filhos. Obteve um mes-trado em estudos sobre a Europaocidental no Moscow State Instituteof International Relations (1989).Sucessivamente, frequentou um cur-so para jovens diplomatas da Europaoriental e da Ásia central na escolade diplomacia do ministério dos Ne-gócios estrangeiros da República fe-deral da Alemanha (1993); um cursoespecial para diplomatas na VictoriaUniversity de Wellington, na NovaZelândia (2000-2001); um curso so-bre os problemas da segurança parasenior executives no centro de estu-dos sobre a segurança da região daÁsia-Pacífico, no Havaí, EstadosUnidos da América (2003) e umexecutive program na Harvard Ken-nedy School (2012). Desempenhou,entre outros, os seguintes cargos:adido do departamento de Adminis-tração pública no ministério dos Ne-gócios estrangeiros (1989-1991); intér-prete na embaixada alemã na Mon-gólia (1991-1993); adido e, sucessiva-mente, terceiro secretário do depar-tamento para a Europa e a América

Alemanha (2014). É advogado, tabe-lião e comissário para juramentos.Além disso, desempenhou os seguin-tes cargos: assistente no instituto deadministração judiciária, Lushoto(2005-2006); funcionário num escri-tório de advocacia (2006-2007); con-sultor jurídico num escritório de ad-vogados e leitor na Open Universityof Tanzania (2007-2010); assistenteleitor (2010-2014) e professor (2015)na universidade de Dodoma; mem-bro do Parlamento e vice-ministrode Estado no gabinete do primeiro-ministro para pessoas com deficiên-cia (de dezembro de 2015 a janeirode 2017). Desde 24 de março de 2017é embaixador em Berlim.

LESOTO

Sua Excelência o senhor Retšeli-sitsoe Calvin Masenyetse, novo em-baixador do Lesoto junto da SantaSé, nasceu a 4 de maio de 1970. Ècasado e tem duas filhas. Licenciou-se em direito na National Universityof Lesotho (1994) e, sucessivamente,

(1994-1998); juiz titular (1998-2000);conselheiro, chefe da Chancelariajunto do ministério dos negócios es-trangeiros (2001-2007); vice-secretá-rio principal (2007-2010) e tambémsecretário principal (2010-2012) noministério da Justiça; membro doParlamento na Assembleia nacional(2012-2015); presidente da comissãopara a Reforma da lei e do comitépara a Segurança pública, membrodo Parlamento na Assembleia nacio-nal (2016-2017). Desde 2017 é embai-xador na Alemanha, com residênciaem Berlim.

PAQUISTÃO

Sua Excelência o senhor AhmadNaseem Warraich, novo embaixadordo Paquistão junto da Santa Sé, nas-ceu em 1965. É casado e tem dois fi-lhos. É licenciado em business admi-nistration e tem um mestrado emeconomia. Empreendeu a carreira di-plomática em 1992 e, além de ter de-sempenhado vários encargos no mi-nistério dos Negócios estrangeiros,prestou serviço nas seguintes repre-sentações diplomáticas: Berna (1997-2000), Londres (2004-2005), Cairo(2007-2010), Onu, Nova Iorque(2010-2014). Até agora era diretor-geral no ministério dos Negócios es-t r a n g e i ro s .

no ministério dos Negócios estran-geiros (1993-1995); segundo e primei-ro secretário de embaixada em Bonn(1995-2000); primeiro secretário econselheiro do departamento para aEuropa no ministério dos Negóciosestrangeiros e do comércio (2001-2009); conselheiro do presidente daMongólia para a Segurança nacionale a Política externa (2009-2014); mi-nistro dos Negócios estrangeiros(2014-2016); conselheiro do presiden-te da Mongólia para a Política es-trangeira (2016-2017). Desde 5 demarço de 2018 é embaixador nasNações Unidas e nas outras Organi-zações internacionais em Genebra.

DINAMARCA

Sua Excelência o senhor KarstenVagn Nielsen, novo embaixador daDinamarca junto da Santa Sé, nas-ceu em Copenhaga a 9 de junho de1953. É casado e tem dois filhos.Obteve uma licenciatura magistralem ciências políticas na Aarhus uni-versitet (1979), e desempenhou, en-tre outros, os seguintes cargos: pro-fessor universitário de história polí-

tica dinamarquesa no ateneuAarhus (1978-1979); funcionário noministério dos Negócios estrangei-ros (1979-1982); secretário de embai-xada em Londres (1982-1985); res-ponsável do departamento de polí-tica internacional de Transportes noministério dos Negócios estrangei-ros (1985-1991); conselheiro da re-presentação permanente junto daUnião europeia em Bruxelas (1991-1995); responsável do departamentode Relações bilaterais com os paísesindustrializados no ministério dosNegócios estrangeiros (1995-1997);vice-chefe do departamento para acoordenação da Política comercialno ministério dos Negócios estran-geiros (1997-1999); chefe do departa-mento para a coordenação com aUnião europeia no ministério dosNegócios estrangeiros (1999-2001);chefe do departamento para o Co-mércio e os Assuntos internacionaisno ministério dos Negócios estran-geiros (2001-2005); embaixador darepresentação permanente junto daOrganização mundial do comércio(Omc) em Genebra (2005-2008);embaixador no departamento parao Comércio e os Assuntos interna-cionais no ministério dos Negóciosestrangeiros (2008-2010); e sucessi-vamente embaixador na Eslovénia(2010-2014), na Roménia (2014-2018) e na Bélgica, onde reside des-de 2018.

ETIÓPIA

Sua Excelência o senhor Ali Sulai-man Mohammed, novo embaixador

CO N T I N UA NA PÁGINA 7

número 21, quinta-feira 24 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 7

Recomendação do Papa a sete diplomatas acreditados junto da Santa Sé

Acolher e protegerquem foge da guerra e da fome

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 6

da Etiópia junto da Santa Sé, nasceua 13 de janeiro de 1952. É casado.Formou-se em direito na Addis Aba-ba University (Faculty of Law, 1986)e desempenhou, entre outros, os se-guintes cargos: juiz no supremo Tri-bunal (1987-1994); juiz do supremoTribunal do Estado regional de Am-hara (1994-1996); presidente do su-premo Tribunal do Estado regionalde Amhara (1997-2001); vice-ministroda Justiça (2001-2005); comissário daComissão de ética e anticorrupçãoda Etiópia e responsável da Agênciade anticorrupção (a partir de 2005).Desde 2017 é embaixador na França.

FINLÂNDIA

Sua Excelência o senhor RistoPiipponen, novo embaixador daFinlândia junto da Santa Sé, nasceuem Lahti a 12 de agosto de 1957. Écasado e tem três filhos. Obteve ummestrado em economia na TurkuSchool of Economics and BusinessAdministration (1980) e em direitona universidade de Helsinki (1984).Sucessivamente, obteve um diploma

em Estudos superiores europeus noCentro europeu universitário deNancy, França (1983) e um diplomainternacional em administração pú-blica na École nationale d’adminis-tration de Paris (1996). Desempe-nhou, entre outros, os seguintes car-gos: funcionário no ministério dosNegócios estrangeiros (1987-1988);segundo secretário de embaixada emCamberra (1989-1991); primeiro se-cretário de embaixada em Argel(1991-1992); primeiro secretário noSecretariado para a União europeia(1995); conselheiro de embaixada emParis (1995-2000); diretor da direçãopara os Assuntos gerais e coordena-ção com a União europeia no minis-tério dos Negócios estrangeiros(2000-2004); embaixador em Chipre(2004-2008); embaixador no Canadáe nas Bahamas (2008-2012); diretor-geral para a África e o Médio Orien-te no ministério dos Negócios es-trangeiros (2012-2013); e embaixadorna França e no Principado de Mó-naco (2013-2017). Desde 2018 é em-baixador na Croácia.

Excelências!Sinto-me feliz de vos receber porocasião da apresentação das Car-tas com as quais sois acreditadosjunto da Santa Sé como Embai-xadores extraordinários e pleni-potenciários dos vossos países:Tanzânia, Lesoto, Paquistão,Mongólia, Dinamarca, Etiópia eFinlândia. Gostaria de vos pedira amabilidade de transmitir osmeus sentimentos de gratidão ede respeito aos vossos Chefes deEstado, com a certeza da minhaprece por eles e pelos vossosconcidadãos.

O trabalho paciente da diplo-macia internacional em promo-ver a justiça e a harmonia noconcerto das nações funda-se naconvicção partilhada da unidadeda nossa família humana e dadignidade inata de cada um dosseus membros. Por esta razão, aIgreja está persuadida de que afinalidade global de toda a ativi-dade diplomática deve ser o de-senvolvimento integral de cadapessoa, homem e mulher, criançae idoso, e o das nações no âmbi-to de um quadro geral de diálo-go e de cooperação ao serviçodo bem comum. Este ano, quemarca o septuagésimo aniversá-rio da adoção, por parte das Na-ções Unidas, da Declaração Uni-versal dos Direitos do Homem, de-veria servir de apelo para um re-novado espírito de solidariedadepor todos os nossos irmãos e ir-mãs, sobretudo por quantos so-frem os flagelos da pobreza, dadoença e da opressão. Ninguémpode ignorar a nossa responsabi-lidade moral no desafio à globa-lização da indiferença, fazer decontas que nada acontece face àstrágicas situações de injustiçaque requerem uma resposta hu-manitária imediata.

Queridos Embaixadores, onosso é um tempo de mudançasdeveras epocais, que exigem sa-bedoria e discernimento da partede todos os que se preocupampelo futuro pacífico e prósperodas gerações futuras. Faço votosde que a vossa presença e ativi-dade no âmbito da comunidadediplomática junto da Santa Sécontribua para o crescimento da-quele espírito de colaboração eparticipação recíproca, essencialem vista de uma resposta eficazaos desafios radicais de hoje. Porsua vez, a Igreja, convicta da res-

integrar quantos fogem da guer-ra e da fome ou são obrigados adeixar as suas terras devido adiscriminações, perseguições, po-breza e degradação ambiental.Como tive ocasião de recordarna minha mensagem para o DiaMundial da Paz deste ano, talproblema tem uma dimensão in-trinsecamente ética, que trans-cende os confins nacionais e asconcessões limitadas acerca dasegurança e do próprio interesse.Não obstante a complexidade ea delicadeza das questões políti-cas e sociais implicadas, cadauma das nações e a comunidadeinternacional são chamadas acontribuir do melhor modo pos-sível para a obra de pacificação ede reconciliação, mediante deci-sões e políticas caraterizadas so-bretudo por compaixão, clarivi-dência e coragem.

ponsabilidade que temos uns pe-los outros, promove todos os es-forços para cooperar, sem violên-cia nem engano, para a constru-ção do mundo num espírito defraternidade e paz genuínas (cf.Gaudium et spes, 92).

Entre as questões humanitáriasmais urgentes que a comunidadeinternacional tem agora diantede si encontra-se a necessidadede acolher, proteger, promover e

Estimados Embaixadores, noinício da vossa nova missãoapresento-vos os meus votos sin-ceros. Aproveito também a opor-tunidade para vos garantir a soli-citude constante dos vários de-partamentos da Cúria romanapara vos assistir no cumprimentodas vossas responsabilidades. So-bre vós e vossas famílias, sobreos vossos colaboradores e todosos vossos concidadãos, invocobênçãos divinas de alegria e paz.

A «responsabilidade moral» de «acolher, proteger, promover e integrarquantos fogem da guerra e da fome ou são obrigados a deixar a suaterra devido a discriminações, perseguições, pobreza e degradaçãoambiental» foi reafirmada pelo Papa no discurso que dirigiu a seteembaixadores que, na manhã de quinta-feira, 17 de maio, na SalaClementina, apresentaram as cartas com as quais são acreditados juntoda Santa Sé.

número 21, quinta-feira 24 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 8/9

Históriade um pequeno quadro

Coisas novase coisas velhas

A nossa missão evangélica no mundo

Montini e Romeroserão canonizados a 14 de outubro

Juntamente com outros quatro servos de Deus

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 1

A santidade dos Papas

— ou seja, no caso em que outro grave e prolon-gado impedimento a isso seja igualmente obstáculo,

de renunciar ao nosso sagrado e canónico ofício,quer como Bispo de Roma, quer como Chefe damesma santa Igreja católica, nas mãos do SenhorCardeal Decano do sagrado Colégio Cardinalício,deixando a ele, conjuntamente pelo menos aos Se-nhores Cardeais responsáveis dos Dicastérios da Cú-ria Romana, e ao nosso Cardeal Vigário para a cida-de de Roma (sempre que sejam normalmente con-vocáveis; e em caso contrário aos Senhores CardeaisChefes das ordens do Sagrado Colégio), a faculdadede aceitar e de tornar ativa esta nossa demissão, quesó o bem superior da santa Igreja nos sugere, e acujo bem nós esconjuramos com todo o coração deprovidenciar o melhor possível, auspiciando a nossaapostólica bênção.

PAU L U S P P. VI

Dado em Roma, junto de São Pedro,no domingo do bom Pastor,

2º depois da Páscoa, a 2 de maio de 1965,II do nosso Pontificado.

sobretudo Pio XII que, em cinco anos,beatifica e canoniza Pio X, predecessorpor ele servido pessoalmente, e proclamabeato Inocêncio XI.

Tudo muda na década seguinte quan-do, opondo-se às polarizações no seio daIgreja, que se intensificaram na época doVaticano II, Paulo VI decide para os seusdois imediatos predecessores o início, si-multâneo e por via normal, das causasde canonização, como declara aberta-mente no Concílio a 18 de novembro de1965: assim «evitar-se-á que qualquermotivo, que não seja o culto da verda-deira santidade, isto é, a glória de Deuse a edificação da sua Igreja, recomponhaas suas autênticas e amadas figuras paraa nossa veneração», diz Montini.

Portanto, no novo século sucedem-se abeatificação de Pio IX e de João XXIII, a3 de setembro de 2000, a rapidíssimabeatificação de João Paulo II, no dia 1 demaio de 2011, a canonização de Roncallie Wojtyła, a 24 de abril de 2014 e, seismeses mais tarde, a 19 de outubro, du-rante uma assembleia sinodal, a beatifi-cação de Montini. Agora, pela primeiravez, um cristão que se tornou Papa seráproclamado santo juntamente com ou-tras figuras exemplares. «Para ser santonão é necessário ser bispo, sacerdote, re-ligiosa ou religioso», reiterou na últimaexortação apostólica o seu atual sucessor.E com a decisão anunciada hoje no con-sistório, Bergoglio sublinha que a raiz dasantidade é a mesma em cada mulher eem cada homem testemunhas de Cristo.

Seguiram-se a celebração da Hora terceira, com osSalmos 118 e 33, recitados de forma alternada; e aproclamação da lectio brevis, tirada da Carta do Após-tolo São Paulo aos Romanos (5, 10-11). Em seguida,coube ao cardeal Amato a peroração das causas, prece-dida pela leitura, em italiano, de um breve perfil bio-gráfico dos novos santos. Depois de ter recebido o pa-recer dos cardeais, o Pontífice decidiu inscrever os seisbeatos no álbum dos santos.

Sucessivamente, os cardeais Leonardo Sandri, diá-cono dos Santos Brás e Carlos “ai Catinari”, Giovan-ni Lajolo, diácono de Santa Maria Libertadora noMonte Testaccio, Josef Paul Cordes, diácono de SãoLourenço “in Piscibus”, Stanisław Ryłko, diácono doSagrado Coração de Cristo Rei, e Raffaele Farina,diácono de São João da Pinha, pediram para poderpassar para a ordem presbiteral. O arcebispo secretá-rio do Colégio cardinalício apresentou ao Papa omesmo pedido, em nome do cardeal Angelo Comas-tri, diácono de São Salvador “in Lauro”. O Papa au-torizou os seis purpurados a manter as respetivas dia-conias, elevadas pro hac vice a título presbiteral. Porfim, o mestre das celebrações litúrgicas pontifícias,monsenhor Guido Marini, convidou monsenhor Leo-nardo Sapienza, protonotário apostólico, a redigir oinstrumento público ad perpetuam rei memoriam.

Em seguida, pouco antes das 10h30, o Papa Fran-cisco permaneceu só com os cardeais presentes, paradar continuidade ao debate.

Publicamos a transcrição do bilhete autógrafo de PauloVI ao cardeal secretário de Estado e, a seguir, da cartaao decano do colégio cardinalício.

A carta aqui anexada, dirigida ao Senhor CardealDecano do Sacro Colégio, poderá ser lida pelo Se-nhor Cardeal nosso Secretário de Estado, e será porele entregue, para os relativos efeitos, ao mesmo Se-nhor Cardeal Decano, no caso de nossa doença, oude qualquer outro impedimento grave, que não nospermita, segundo as previsões, por um longo perío-do de tempo, exercer com suficiente eficácia o nossoministério apostólico.

PAU L U S P P. VI

2 de maio de 1965

Reservadaao Senhor Cardeal Decano

do Sacro Colégio

Nós Paulo sexto, por Divina Providência Bispo deRoma e Pontífice da Igreja universal,

na presença da santíssima Trindade Pai, Filho eEspírito Santo — depois de termos invocado o San-to nome de Jesus Cristo, nosso Mestre, nosso Se-nhor e nosso Salvador, a ele devemos todo o amor etodo o serviço que nos é possível e de cujo sumopoder pastoral estamos indigna mas autenticamenterevestidos — confiantes na assistência benigna deMaria Santíssima, de São João Batista e de São Jo-sé, de São Pedro apóstolo, cujas chaves nos foramconfiadas, e de São Paulo apóstolo, do qual quere-mos assumir como exemplo e proteção o nome, dosSantos e dos Anjos todos,

conscientes da nossa responsabilidade diante deDeus, e com o coração cheio de reverência e de cari-dade, que nos unem à santa Igreja católica, e recor-dando a nossa missão evangélica para com o mun-do.

declaramos:

— no caso de enfermidade, que se presuma incu-rável, ou de longa duração, e que nos impeça deexercer suficientemente as funções do nosso ministé-rio apostólico;

Li com admiração estas cartas de Paulo VI, que meparecem um testemunho humilde e profético deamor a Cristo e à sua Igreja; e uma ulterior provada santidade deste grande Papa.

Diante da terrível missão que lhe foi confiada; pe-rante às contestações, e a uma sociedade em mudan-ça vertiginosa, Paulo VI não se subtrai às suas res-p onsabilidades.

O que lhe importa são as necessidades da Igreja edo mundo. E um Papa impedido por grave enfermi-dade, não seria capaz de exercer com suficiente efi-cácia o ministério apostólico.

Por esta razão, em consciência, e depois de umaamadurecida reflexão, indica as suas específicas von-tades, para o bem superior da Santa Igreja.

Devemos agradecer a Deus, o único que guia esalva a Igreja, por ter permitido que Paulo VI conti-nuasse até ao último dia de vida, a ser pai, pastor,mestre, irmão e amigo.

Cidade do Vaticano, 8 de dezembro de 2017

Giovanni Battista Montini e Óscar Arnulfo RomeroGaldámez serão canonizados no dia 14 de outubropróximo, anunciou o Papa Francisco durante o Con-sistório ordinário público para o voto sobre algumascausas de canonização, realizado na manhã de 19 demaio. Na mesma cerimónia — à qual o Pontífice pre-sidirá, enquanto no Vaticano terão lugar os trabalhosda décima quinta assembleia geral ordinária do síno-do dos bispos sobre o tema: «Os jovens, a fé e o dis-cernimento vocacional» — serão proclamados outrosquatro santos: além de Paulo VI e do arcebispo mártirde San Salvador, serão elevados às honras dos altaresdois sacerdotes diocesanos italianos, uma irmã alemãe uma religiosa espanhola. Trata-se do lombardoFrancesco Spinelli, fundador do instituto das irmãsAdoradoras do Santíssimo Sacramento, do campanoVincenzo Romano, de Maria Caterina Kasper, funda-dora do instituto das pobres servas de Jesus Cristo, ede Nazaria Ignazia de Santa Teresa de Jesus (no sé-culo, Nazaria Ignazia March Mesa), fundadora dacongregação das irmãs missionárias cruzadas da Igre-ja. Depois da recitação da Hora terceira e da perora-ção feita pelo cardeal Angelo Amato, prefeito daCongregação para as causas dos santos, o Pontíficeestabeleceu a data para as canonizações no 28º do-mingo do tempo comum.

O Papa chegou por volta das 10h00 à sala do Con-sistório do Palácio Apostólico, onde o aguardavam

quarenta e seis cardeais, entre os quais Angelo Sodano,decano do Colégio cardinalício, e Pietro Parolin, secre-tário de Estado. Estavam presentes também os arcebis-pos Georg Gänswein, prefeito da Casa pontifícia, An-gelo Becciu, substituto da secretaria de Estado, PaulRichard Gallagher, secretário para as Relações com osEstados, Ilson de Jesus Montanari, secretário do Colé-gio cardinalício, e Marcello Bartolucci, secretário daCongregação para as causas dos santos, com padre Tu-rek Bogusław, subsecretário do mesmo dicastério. Esta-vam ainda presentes quatro dos seis postuladores: o re-dentorista Antonio Marrazzo, para Paulo VI; o frademenor Giovannangelo Califano, para Vincenzo Roma-no; a irmã Concetta Dipietro, para Francesco Spinelli;e a irmã Maria Jesus de Miguel, para Ignazia de SantaTeresa de Jesus.

pado milanês e sobretudo aos quinze anos depontificado. São dramáticos os documentossobre o caso Lefebvre, mas impressionamprincipalmente os autógrafos dos textosque Paulo VI escreve a 2 de maio de1965 ao seu secretário de Estado e aodecano do colégio cardinalício, «emcaso de nossa enfermidade ou de outroimpedimento» que o impossibilitassede «exercer com suficiente eficácia onosso ofício apostólico». Inéditos que oautor publicou, com o encorajamento doPapa Francisco, juntamente com um brevecomentário do próprio Pontífice, datado de 8de dezembro de 2017.

Quando escreve estes textos, Montini é Papa hámenos de dois anos. Poucas semanas mais tarde, a30 de junho de 1965, segundo aniversário da sua co-roação, escreverá as célebres «Notas para o nossoTestamento», completado com breves acréscimos em1972 e 1973. «Conscientes da nossa responsabilidadeperante Deus, e com o coração cheio de reverência ede caridade, que nos unem à santa Igreja católica,sem esquecer a nossa missão evangélica em relaçãoao mundo», lê-se no meio do texto.

Escrito que o seu atual sucessor define «um hu-milde e profético testemunho de amor a Cristo e àsua Igreja», ressaltando que o Pontífice «não sesubtrai às suas responsabilidades», mas concluindoque «devemos dar graças a Deus, o Único que guiae salva a Igreja, por ter permitido que Paulo VI con-tinuasse até ao último dia de vida, a ser pai, pastor,mestre, irmão e amigo». Com uma declaração queconfirma a admiração de Bergoglio pelo seu prede-cessor, cuja santidade proclamará daqui a poucosmeses.

Com requinte, Leonardo Sapienza escolheu paraa capa do livro o detalhe de um pequeno quadro deAldo Carpi, inspirado na viagem à Terra Santa eoferecido a Paulo VI pelo artista. Para ilustrar a rela-ção entre Montini e o Apóstolo Pedro, mas tambéma navegação nem sempre tranquila do seu pequenobarco, que é o do pescador mas que, segundo a in-terpretação de muitos autores, representa também oda Igreja no mundo.

GI O VA N N I MARIA VIAN

Folheando o último livro de monsenhor LeonardoSapienza sobre o Papa Montini (La barca di Paolo,Cinisello Balsamo, Edizioni San Paolo, 2018, 240páginas), vem imediatamente ao pensamento as pa-lavras de Jesus, citadas pelo Evangelho de Mateus(13, 52), sobre o escriba que, «tornando-se discípulodo Reino dos céus, é comparado com um pai de fa-mília, que tira do seu tesouro coisas novas e ve-lhas». E o novo mistura-se precisamente com o ve-lho nos textos encontrados e comentados pelo autor,numa espécie de reconstrução biográfica ideal.

De forma singular, o livro começa e acaba comdois fragmentos que remontam ao pontificado dePio XII, fielmente servido por Montini durante quaseum quarto de século na secretaria de Estado. No dia3 de janeiro de 1955, na véspera da partida para Mi-lão, o novo arcebispo agradece ao Papa numa cartaautógrafa de três páginas, reproduzida em fac-símile,ao passo que remontam ao final do mesmo ano bre-ves anotações do substituto, Angelo Dell’Acqua,também elas reproduzidas em fac-símile, «sobre aaparição de Nosso Senhor» ao Pontífice, em 2 dedezembro de 1954, confirmada pela edição de L’O s-servatore Romano de 11 de dezembro de 1955 e logoa seguir confirmada pelo próprio Papa ao substituto.

São dezenas os textos, precisamente novos e ve-lhos, publicados por Sapienza, relativos ao episco-

«Ao querido e ilustre Professor AldoCarpi um sincero agradecimento pelabonita pequena pintura que nos ofereceue que nos representa, cansados epensativos, no momento em que estamosa ouvir a exortação do Pescador, oApóstolo Pedro, o qual do seu barco, coma voz e com o gesto, nos convida aenfrentar a sua corajosa e misteriosanavegação»: era 29 de janeiro de 1971quando Paulo VI escreveu ao artista paralhe agradecer. «Descobrimos com gratidão— prossegue Montini — a sua intençãoconfortadora neste artístico dom, que nosconvida a ousar o empreendimentoevangélico, com coragem, com confiança.A cena simbólica oferece-nos uma palavraelevada, forte e boa; é bonita, ésignificativa; pousamos de bom grado oolhar nela». O relacionamento entre osdois tinha nascido em Milão quandoMontini era arcebispo da cidade, econsolidou-se quando o pintor foichamado a seguir Paulo VI na históricaviagem à Terra Santa (4-6 de janeiro de1964). As obras que nasceram naquelesdias sobre o Papa peregrino que voltavaaos lugares de Cristo representam atentativa, por parte de Carpi, com quaseoitenta anos, de se identificar com asrazões daquela viagem rapidíssima. Opequeno quadro de 1971, que agora seencontra em Concesio, nunca teve umtítulo específico: ora citado como Paulo VI

p e re g r i n o , ora como Paulo VI na margem dolago de Tiberíades, nos escritos de Carpi ésimplesmente definido O barco.

Textos inéditos de Montini no livro de Leonardo Sapienza «La barca di Paolo»

Testemunho humilde e proféticoComentário de Francisco ao escrito de Paulo VI

página 10 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 24 de maio de 2018, número 21

As enfermidades espirituais no centro do encontro do Papa com a diocese de Roma

Para um novo êxodo

Como se descobrir IgrejaQuais são as «enfermidades espirituais» da comunida-de cristã de Roma e como se recuperar delas?

Eis a questão debatida diretamente pelo Papa Fran-cisco e pela sua diocese, ao encontrar-se no final datarde de segunda-feira, 14 de maio, por uma hora emeia na basílica de São João de Latrão, para recapitu-lar o percurso de reflexão empreendido em setembronas paróquias e nas prefeituras, a convite do arcebispovigário Angelo De Donatis. Juntos, em busca — afir-mou o Papa — «daquilo que nos torna Igreja», dos ca-minhos que podem ajudar a encontrar «a harmonia doEspírito». Depois da leitura do trecho evangélico (Jo15, 1-8) no qual Jesus fala de si mesmo como da «ver-dadeira videira», o Papa ouviu em primeiro lugar o re-latório no qual o padre Paolo Asola, da Pontifícia uni-versidade Lateranense, sintetizou o trabalho da comis-são diocesana que reuniu todos os relatórios, enviadospelas várias prefeituras, relativos ao tema das “do ençasespirituais”.

Em nome da assembleia, o arcebispo vigário dirigiuao Pontífice quatro perguntas, salientando o difícil eprofundo exame de consciência feito pela diocese nes-tes meses e a necessidade de que esta experiência derevisão se torne ocasião de crescimento para toda a co-munidade. Diante de tantas feridas abertas — a reco-nhecida dificuldade de fazer comunhão, o cansaço quese respira entre sacerdotes, religiosos e leigos, perante amiríade de compromissos e iniciativas, os riscos de dis-persão de energias preciosas e de superficialidade, a di-ficuldade de ouvir o grito dos jovens — D. De Donatispediu conselho, conforto e palavras claras ao bispo deRoma.

E, improvisando, Francisco não se subtraiu, recor-dando antes de tudo que nas dificuldades é preciso tersempre em mente que o único que pode curar o ho-mem é o Senhor. Portanto, é fundamental deixar de la-

do a autorreferencialidade, confrontar-se, pedir conse-lhos na comunidade, entregar-se a boas leituras, semcorrer exageradamente atrás de todas as novidades. Aocontrário, é preciso ter sempre uma boa dose de realis-mo saudável, apostando no essencial: procurar o ali-mento que faz crescer como Igreja. Em seguida, o Pa-pa recomendou que se evite o perigo do gnosticismo,que faz perder o contacto com a vida “encarnada”. Eum “sistema imunitário” infalível contra as “do ençasespirituais”, recordou, é o povo de Deus, que deve sersempre valorizado.

Francisco deu três conselhos simples e práticos, trêspontos concretos que podem ajudar a comunidade aencontrar a harmonia do Espírito: Evangelho, oração eobras de misericórdia. E dedicou o último pensamentoaos jovens, dos quais apreciou muito o trabalho reali-zado na recente assembleia pré-sinodal. Francisco con-vidou a comunidade a ouvir o “grito” dos jovens, víti-mas da alienação cultural de uma sociedade na qualeles são presa fácil. Depois, brincando sobre o hábitocompulsivo do uso dos telemóveis, abordou um temaque para ele é muito delicado: o perigo de que as no-vas gerações, fascinadas pelo mundo virtual, percam ocontacto com a realidade. Também aqui, o antídotoproposto é muito simples e concreto: as obras de mise-ricórdia. É necessário habituar os jovens a fazer algopelos outros. Eles podem receber uma ajuda, concluiuo Papa retomando um tema que lhe está a peito, doconfronto com os idosos: com efeito, para progredir,eles devem voltar a encontrar as suas raízes.

Na conclusão das repostas às perguntas do arcebis-po, o Pontífice leu o discurso preparado para esta oca-sião comentando o trabalho da comissão diocesana.Em seguida, depois da recitação do Pai-Nosso e docanto do Regina caeli, encerrrou o encontro conceden-do a bênção a todos os presentes.

Publicamos a seguir o texto do discursopronunciado pelo Papa Francisco naconclusão do encontro que teve lugarno final da tarde de segunda-feira, 14de maio, na basílica de São João deLatrão.

Prezados irmãos e irmãs!O trabalho sobre as doenças espiri-tuais deu dois frutos. Primeiro, umcrescimento na verdade da nossacondição de necessitados, de enfer-mos, que emergiu em todas as paró-quias e nas realidades que foramchamadas a confrontar-se sobre asenfermidades espirituais, indicadaspor D. De Donatis. Segundo, a ex-periência de que desta adesão à nos-sa verdade não vieram apenas desâ-nimo ou frustração, mas sobretudo aconsciência de que o Senhor nãodeixou de usar misericórdia paraconnosco: neste caminho, Ele ilumi-nou-nos, sustentou-nos, encetou umpercurso sob certos aspetos inéditode comunhão entre nós, e tudo istopara que possamos retomar o nossocaminho no seu seguimento. Torna-mo-nos mais conscientes de ser, sobdeterminados aspetos e em certas di-nâmicas que sobressaíram das nossasaveriguações, um “não-p ovo”. Estapalavra “não-p ovo” é bíblica, muitousada pelos profetas. Um “não-p o-vo” chamado a fazer, mais uma vez,aliança com o Senhor.

Chaves de leitura como estas jános reconduzem, até só intuitiva-mente, àquilo que viveu o povo daantiga aliança, o primeiro que se dei-xou guiar por Deus para se tornar oseu povo. Também nós podemos

deixar-nos iluminar novamente peloparadigma do Êxodo, que narra pre-cisamente como o Senhor escolheu eeducou um povo ao qual unir-se,para fazer dele o instrumento da suapresença no mundo.

Sendo paradigma para nós, a ex-periência de Israel tem necessidadede uma conjugação para se tornarlinguagem, ou seja, para ser compre-ensível e para nos transmitir e fazerviver algo também hoje. A Palavrade Deus, obra do Senhor, procuraalguém com o qual conjugar-se,

unir-se: a nossa vida. Com este povoque somos nós hoje Ele agirá me-diante o seu poder, com o qual agiu,libertando o seu povo e conceden-do-lhe uma nova terra.

A história do Êxodo fala de umaescravidão, de uma saída, de umapassagem, de uma aliança, de umatentação/murmuração e de uma en-trada. Mas trata-se de um caminhode purificação.

Começando esta nova etapa deum caminho eclesial, que em Romacertamente não tem início agora

mas, ao contrário, perdura há doismil anos, era importante perguntar-nos — como fizemos durante estesmeses sobre quais são as escravidões,as doenças, as escravidões que nosprivam da liberdade — que acabarampor nos tornar estéreis, assim comoo Faraó queria que fosse Israel, semfilhos que por sua vez gerassem. Es-te “sem filhos” faz-me pensar na ca-pacidade de fecundidade da comuni-dade eclesial. É uma questão quevos deixo. Deveríamos, talvez, iden-tificar também quem é hoje o Faraó:este poder que se pretende que sejadivino e absoluto, e que quer impe-dir que o povo adore o Senhor, quelhe pertença, tornando-o ao contrá-rio escravo de outros poderes e deoutras preocupações.

Será necessário dedicar tempo(talvez um ano?) para que, reconhe-cendo humildemente as nossas debi-lidades e partilhando-as com os ou-tros, possamos sentir e fazer a expe-riência deste facto: há uma dádivade misericórdia e de plenitude de vi-da para nós e para todos aquelesque moram em Roma. Este dom é aboa vontade do Pai para nós: nósindivíduos, nós povo. É a sua toma-da de iniciativa, o seu preceder-nosao atestar-nos que em Cristo Ele nosamou e nos ama, tem a peito a nos-sa vida e nós não somos criaturasabandonadas ao próprio destino e àssuas escravidões. Que tudo é para anossa conversão e para o nosso bem:«Aliás — como diz São Paulo — nóssabemos que todas as coisas concor-rem para o bem daqueles que amama Deus, daqueles que são os eleitos,segundo os seus desígnios» (Rm 8,28).

A análise das enfermidades pôsem evidência um cansaço geral esaudável das paróquias, tanto de ca-minhar sem rumo, como de ter per-dido o caminho a percorrer. Ambasestas atitudes são desagradáveis e fa-zem mal. Caminhar sem rumo é umpouco como estar num labirinto; eperder o caminho é seguir veredaserradas.

Talvez nos tenhamos fechado emnós mesmos e no nosso mundo pa-roquial, porque na realidade descui-damos ou não fizemos seriamente ascontas com a vida das pessoas quenos foram confiadas (as do nossoterritório, dos nossos ambientes devida quotidiana), enquanto o Senhorse manifesta sempre encarnando-seaqui e agora, ou seja, também e pre-cisamente neste tempo tão difícil deinterpretar, neste contexto tão com-plexo e aparentemente distante dele.Ele não se enganou, colocando-nosaqui, neste tempo e com estes desa-fios à frente.

Talvez por isto nos encontremosnuma condição de escravidão, isto é,de limitação sufocante, de depen-dência de coisas que não são o Se-nhor; pensando talvez que istobastasse ou até fosse aquilo que Elenos pedia para fazer: estar ao ladoda panela da carne, e amassar tijo-los, que depois servem para cons-truir os depósitos do Faraó, ao servi-ço do mesmo poder que a escravi-dão exerce.

CO N T I N UA NA PÁGINA 11

número 21, quinta-feira 24 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 11

Contentámo-nos com aquilo quepossuíamos: nós mesmos e as nossas“panelas”. Nós mesmos: e aqui estáo grande tema da “hipertrofia do in-divíduo”, tão presente nas averigua-ções: do ego que não consegue tor-nar-se pessoa, viver de relacionamen-tos, julgando que não precisa da re-lação com os outros; e as nossas “pa-nelas”: ou seja, os nossos grupos, asnossas pequenas pertenças, que nofinal se revelaram autorreferenciais,não abertas à vida inteira. Concen-tramo-nos nas preocupações do diaa dia, de sobrevivência. Quantas ve-zes ouvimos isto: “Os sacerdotes vi-vem atarefados, devem fazer as con-tas, têm que fazer isto, isso, aqui-lo...”. E as pessoas sentem-no. “Éum bom sacerdote, mas por que nosdeixamos dominar por este vórticedelirante?”. É interessante.

É bom que esta situação nos te-nha cansado, este cansaço é umagraça de Deus: ele leva-nos a desejars a i r.

E para sair, temos necessidade dachamada de Deus e da presen-ça/companhia do nosso próximo. Épreciso ouvir sem medo a nossa sedede Deus e o clamor que se eleva danossa gente de Roma, perguntando-nos: em que sentido este grito expri-me uma necessidade de salvação, ouseja, de Deus? Como vê e ouveDeus esse brado? Quantas situações,entre aquelas que foram evidencia-das pelas vossas averiguações, expri-mem na realidade exatamente essegrito! A invocação que Deus se ma-

nifeste e nos faça sair da impressão(ou da experiência amarga, que fazmurmurar) de que a nossa vida éinútil e como que expropriada dofrenesi das coisas para fazer e de umtempo que escapa continuamentedas mãos; expropriada das relaçõesexclusivamente utilitaristas/comer-ciais e pouco gratuitas, do medo dofuturo; expropriada inclusive de umafé concebida somente como coisaspara fazer e não como uma liberta-ção que nos renova a cada passo,abençoados e felizes com a vida quelevamos.

Como entendestes, convido-vos aempreender outra etapa do caminhoda Igreja de Roma: num certo senti-do, um novo êxodo, uma nova parti-da, que renove a nossa identidadede povo de Deus, sem arrependi-mentos por aquilo que teremos ded e i x a r.

Como eu dizia, será preciso ouviro clamor do povo, como Moisés foiexortado a fazer: sabendo interpretarassim, à luz da Palavra de Deus, osfenómenos sociais e culturais nosquais estais imersos. Ou seja, apren-dendo a discernir onde Ele já estápresente, em formas comuns de san-tidade e de comunhão com Ele: en-contrando e frequentando cada vezmais pessoas que já vivem o Evange-lho e a amizade com o Senhor. Pes-soas que talvez não façam catecismo,e no entanto souberam dar um sen-tido de fé e de esperança às expe-riências elementares da vida; que jáfizeram do Senhor o significado dasua existência e, precisamente dentrodos problemas, dos ambientes e das

situações das quais a nossa pastoralhabitual normalmente permanecedistante. Penso agora em Fua e Sé-fora, as duas parteiras que se opuse-ram à ordem homicida do Faraó eassim impediram o extermínio (cf.Êx 1, 8-21). Sem dúvida, também emRoma existem mulheres e homensque interpretam o seu trabalho detodos os dias como uma labuta des-tinada a dar vida a alguém e não atirá-la, e fazem-no sem ordens parti-culares da parte de ninguém, masporque “temem a Deus” e o servem.A vida do povo de Israel deve muitoàquelas duas mulheres, assim comoa nossa Igreja deve muito a pessoasque permaneceram anónimas masque prepararam o porvir de Deus. Eo fio da história, o fio da santidade,é levado em frente por pessoas quenão conhecemos: os anónimos,quantos estão escondidos e levamtudo em frente.

Para fazer isto será necessário queas nossas comunidades se tornem ca-pazes de gerar um povo — isto é im-portante, não o esqueçais: Igrejacom o povo, não Igreja sem o povo— ou seja, capazes de oferecer e ge-rar relacionamentos nos quais a nos-sa gente possa ver-se conhecida, re-conhecida, acolhida, estimada, emsíntese: parte não anónima de umtodo. Um povo no qual se experi-menta uma qualidade de relaciona-mentos já é o início de uma TerraPrometida, de uma obra que o Se-nhor realiza para nós e connosco.Fenómenos como o individualismo,o isolamento, o medo de existir, afragmentação e o perigo social... tí-picos de todas as metrópoles e pre-sentes até em Roma, já têm nestasnossas comunidades um eficaz ins-trumento de mudança. Não temosque inventar mais nada, já somos es-te instrumento que pode ser eficaz,contanto que nos tornemos sujeitosdaquela à qual algures chamei a re-volução da ternura.

E se a guia de uma comunidadecristã é tarefa específica do ministroordenado, ou seja, do pároco, o cui-dado pastoral está incardinado noBatismo, floresce da fraternidade enão é tarefa unicamente do párocoou dos sacerdotes, mas de todos os

batizados. Este cuidado difundido emultiplicado pelas relações poderáanimar também em Roma uma re v o -lução da ternura, que será enriqueci-da pelas sensibilidades, pelos olha-res, pelas histórias de muitas pes-soas.

Tendo esta como primeira tarefapastoral, poderemos ser o instru-mento mediante o qual experimenta-remos a ação do Espírito Santo nomeio de nós (cf. Rm 5, 5) e veremosvidas transformadas (cf. At 4, 32-35).Assim como através da humanidadede Moisés, Deus interveio a favor deIsrael, do mesmo modo a humanida-de purificada e reconciliada dos cris-tãos pode ser o instrumento (quaseo sacramento) desta ação do Senhor,que quer libertar o seu povo de tudoaquilo que o torna “não-p ovo”, coma sua carga de injustiça e de pecado,que gera morte. Mas é preciso olharpara este povo, não para nós mesmos,deixando-nos interpelar e incomo-dar. Isto produzirá certamente algonovo, inédito e agradável ao Senhor.

Há uma passagem prévia de re-conciliação e de consciência que aIgreja de Roma deve fazer para serfiel a esta sua chamada: ou seja, re-conciliar-se e recuperar um olharverdadeiramente pastoral — atento,cuidadoso, benévolo, participativo —quer em relação a si mesma e à suahistória, quer em relação ao povo aoqual é enviada.

Gostaria de vos convidar a dedi-car tempo a isto: a fazer com que, jáo próximo ano seja uma espécie depreparação da mochila (ou da baga-gem), para começar um itinerário dealguns anos, que nos leve a alcançara nova terra que a coluna de nuveme de fogo nos indicará; ou seja, no-vas condições de vida e de ação pas-toral, mais correspondentes à missãoe às necessidades dos romanos destanossa época; mais criativas e mais li-bertadoras também para os presbíte-ros e para quantos colaboram maisdiretamente na missão e na edifica-ção da comunidade cristã. Para nãotermos mais medo daquilo que so-mos e do dom que temos, mas parao fazer frutificar. O caminho podeser longo: para o povo de Israel fo-ram 40 anos. Não desanimemos, va-mos em frente!

O Senhor chama-nos a “ir e darf ru t o ” (cf. Jo 15, 16). Na planta, ofruto é aquela parte produzida e ofe-recida para a vida de outros seres vi-vos. Não tenhais medo de dar fruto,de vos deixar “engolir” pela realida-de que encontrardes, não obstanteeste “deixar-se engolir” se assemelhemuito a um desaparecer, a um mor-rer. Talvez algumas iniciativas tradi-cionais tenham que ser reformadas,ou até cessar: só o poderemos fazer,se soubermos para onde caminha-mos, porquê e com Quem.

Convido-vos a interpretar assimalgumas das dificuldades e dasdoenças que encontrastes nas vossascomunidades: como realidades quetalvez já não sejam boas para comer,já não possam ser oferecidas para sa-ciar a fome de alguém. Isto não sig-nifica de modo algum que já nãopodemos produzir nada, mas quedevemos enxertar novos rebentos:enxertos que hão de dar novos fru-tos. Ânimo e em frente! O tempo énosso. Em frente!

Instrução «Cor orans» sobre a vida contemplativa

Lei e vidaao serviço do Evangelho

Sobriedade e moderação no uso dos meios de comuni-cação para salvaguardar o recolhimento e o silêncio: se-rá tarefa do capítulo conventual «estabelecer a modali-dade de utilizo destes meios», pedindo às monjas «ma-turidade de opinião e capacidade de discernimento, esobretudo amor à própria vocação contemplativa». Éum dos pontos principais da nova instrução Cor oransda Congregação para os institutos de vida consagradae as sociedades de vida apostólica. O documento foiapresentado a 15 de maio, na Sala de imprensa da San-ta Sé, pelo arcebispo secretário José Rodríguez Carbal-lo, juntamente com o subsecretário, o cisterciense Se-bastiano Paciolla.

Um novo documento sobre a vida contemplativa,explicou o prelado, que nasceu com a intenção de indi-car algumas linhas de ação a serem adotadas da consti-tuição apostólica do Papa Francisco Vultum Dei quaere-re , de 29 de junho de 2016. O texto, em particular, es-

clarece que a autonomia jurídica reconhecida a cadamosteiro sui iuris deve «pressupor uma autonomia realde vida», ou seja, a capacidade «de gerir a vida domosteiro em todas as suas dimensões: vocacional, for-mativa, governativa, relacional, litúrgica, económica».Trata-se de um esclarecimento fundamental, que «ex-plica alguns dos seguintes excertos da instrução, desti-nados a garantir precisamente que os mosteiros sui iu-ris vivam uma vida significativa, que possa ser realmen-te exemplo para o povo».

Com efeito, frisou o arcebispo, o dicastério «lamen-tavelmente teve que constatar várias vezes a existênciade mosteiros que deixaram de estar em condições delevar por diante uma vida digna, se não houvesse umalegislação que esclarecesse quando e como intervir a es-se respeito». Ter colmado esta lacuna legislativa, disse,é certamente «um dos pontos mais importantes e espe-rados da instrução».

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página 12 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 24 de maio de 2018, número 21

Missas matutinas em Santa MartaTerça-feira, 15 de maio

Pelo rebanhonão pela carreira

Somos bispos pelo rebanho e nãopela carreira: o último conselhopresbiteral de São Paulo, uma verda-deira «despedida», é o melhor «tes-tamento» possível pois no centro detudo está Jesus Cristo. As palavrasdo apóstolo foram recordadas peloPapa durante a missa.

«Na primeira leitura tirada do li-vro dos Atos dos Apóstolos — afir-mou o Pontífice referindo-se ao tre-cho litúrgico (20, 17-27) — ouvimos a

la e sabe defender-se quando fala oespírito do mundo».

Assim «constrangido pelo Espíri-to, sem saber o que lhe acontecerá»,Paulo «vai em frente; sabia na escu-ridão, mas sabia, porque um profetalhe revelara isto». E depois o após-tolo «explica porque sabia: “Só seique, de cidade em cidade, o EspíritoSanto me assegura que me esperamem Jerusalém cadeias e persegui-ções”». Conscientemente Paulo «vairumo à tribulação, à cruz e isto faz-nos pensar na entrada de Jesus emJerusalém: ele entra para sofrer ePaulo vai rumo à paixão», dizendopraticamente: «não me importa a

o rebanho; sois bispos para o reba-nho, para cuidar do rebanho, nãopara vos agarrar a uma carreira ecle-siástica». Eis a sua «despedida»:“Como eu fiz, fazei vós: cuidai detodo o rebanho sobre o qual o Espí-rito Santo vos constituiu bispos, pa-ra pastorear a Igreja de Deus”».

Mas Paulo «explica» também«por que aconselha a vigiar: “Seique depois da minha partida se in-troduzirão entre vós lobos cruéis,que não pouparão o rebanho. Mes-mo dentre vós surgirão homens quehão de proferir doutrinas perversas,com o intento de arrebatarem apóssi os discípulos. Vigiai! Lembrai-vos,portanto, de que por três anos nãocessei, noite e dia, de admoestar,com lágrimas, a cada um de vós». Eassim Paulo, explicou o Papa, «voltaao exame de consciência: lembrai oque fiz e vigiai no futuro».

O apóstolo «termina com o cora-ção grande, o coração humilde dohomem que sabe que nada pode fa-zer: “Agora eu vos encomendo aDeus e à palavra da sua graça”».Pretendendo dizer: «Deus preservar-vos-á, ajudar-vos-á, dar-vos-á a for-ça: ele tem o poder de edificar econcede a herança a todos que porele são santificados». Depois o após-tolo «volta mais uma vez ao examede consciência: “Prestai atenção, deninguém cobicei prata, nem ouro,nem vestes”». Paulo é «pobre». E,referem os Atos, «depois de ter ditoisto, ajoelhou-se com todos eles e re-zou».

Deste modo, afirmou o Papa,«acaba essa sessão do conselho pres-biteral — a última em Éfeso — com aoração». Lê-se também nos Atos:«Derramaram-se em lágrimas e lan-çaram-se ao pescoço de Paulo paraabraçá-lo, aflitos, sobretudo pela pa-lavra que tinha dito: Já não vereis aminha face. Em seguida, acompa-nharam-no até ao navio». Nestas pa-lavras, sugeriu Francisco, há «oamor, a ternura dos presbíteros paracom o seu bispo: o beijo, o abraço,o pranto».

«O testamento de Paulo é um tes-temunho e também um anúncio» e«inclusive um desafio: “Eu percorrio meu caminho. Continuai vós”».Mas, observou o Papa, «como é dis-tante este legado dos testamentosmundanos: “Isto deixo a fulano, asicrano...”». Com «tantos bens» pa-ra distribuir.

«Paulo — insistiu o Pontífice —nada possuía, só a graça de Deus, acoragem apostólica, a revelação deJesus Cristo e a salvação que o Se-nhor lhe concedeu». E, confidenciouo Papa, «quando leio isto, penso emmim. Porque sou bispo e devo des-pedir-me. Peço ao Senhor a graça depoder despedir-me deste modo. Eno exame de consciência não saireivencedor como Paulo, mas o Senhoré bom, é misericordioso». E, acres-centou Francisco, «penso nos bis-pos, em todos os bispos: que o Se-nhor conceda a graça a todos nós depoder despedir-nos assim, com esteespírito, com este vigor, com esteamor por Jesus Cristo, com estaconfiança no Espírito Santo». E,concluiu, «rezemos por todos os bis-pos, a fim de que caminhem pela viade Paulo para poder, no final, deixarum testamento como este».

Quinta-feira, 17 de maio

Contra o venenoda maledicência

Com a técnica da «unidade fingida»engana-se desde sempre o povo parafazer, ainda hoje, golpes de Estado,condenar os justos — a começar porJesus — mas também para destruir avida nas comunidades cristãs, elimi-nando as pessoas com bisbilhotices.Eis a «atitude assassina» contra aqual o Papa alertou durante a missa,voltando a propor a essência da ver-dadeira unidade testemunhada porCristo na sua oração ao Pai: «paraque todos sejam um».

E precisamente «na liturgia de ho-je — observou o Pontífice — p o de-mos ver dois caminhos, dois pesos,duas medidas para chegar à unida-de». Trata-se de «dois tipos de uni-dade». E «a primeira», explicou re-ferindo-se ao trecho do Evangelho(Jo 17, 20-26), é aquela pela qual«Jesus reza ao Pai por nós, “paraque todos sejam um”, um, “comoTu, Pai, estás em mim e Eu em ti,para que o mundo creia”».

Em síntese, é «a unidade à qualnos leva Jesus», afirmou o Papa, «aunidade no Pai, como Ele está como Pai». E é «uma unidade construti-va, uma unidade que cresce sempre;uma unidade entusiasmante, queune a Igreja». E «o Espírito Santo —insistiu o Papa — leva-nos semprepara esta unidade: uma unidade desalvação, pois Jesus quer salvar to-dos e nos leva rumo a esta unida-de».

Ela é também «uma unidade quenão acaba: vai até à eternidade, ouseja, tem amplos horizontes». E «as-sim cresce a unidade, e quando nós,na vida, na Igreja ou na sociedadecivil, trabalhamos pela unidade, per-corremos esta senda». Conscientesde que «quem trabalha pela unidadeestá no caminho traçado por Jesus».Precisamente «esta é a grande uni-dade, que o Pai nos revela e que nosfaz ver o próprio núcleo da revela-ção que Jesus nos trouxe».

«Mas há outro tipo de unidadeque chamaria “fingida” ou conjuntu-ral: a dos acusadores de Paulo naprimeira leitura», afirmou o Pontífi-ce, referindo-se ao trecho dos Atosdos Apóstolos (22, 30; 23, 6-11).Com efeito, estes acusadores, expli-cou o Papa, «apresentam-se em gru-po para acusar Paulo: “Vai contra alei, vai contra isto, é blasfemo”».Por sua vez, «o procurador romanovê essa gente e diz: “mas todo o po-vo está unido”». Contudo «Paulo,que era esperto — porque o EspíritoSanto também nos permite ser hu-manamente espertos, pede-nos isto— e sabia que aquela unidade erafingida, era só conjuntural, lança apedra de divisão». Com efeito, napágina dos Atos lê-se: «Conscientede que uma parte do sinédrio era desaduceus e a outra de fariseus, Paulodisse em voz alta” — lança a pedra —“irmãos, sou fariseu, filho de fari-seus; sou julgado por causa da mi-nha esperança na ressurreição dosmortos”». Eis «a pedra que Paulolança contra a unidade falsa que oacusa».

A tal ponto que, «continua o tex-to: “Assim que pronunciou estas pa-

minha vida, contanto que o Se-nhor conduza até ao fim a minhacorrida e o serviço que me foi con-fiado».

Com este espírito Paulo «dá oserviço, oferece a vida; vê-se o re-bento do martírio, o mártir. Ofere-ce-se ao Senhor, obediente». Eis osentido de “constrangido pelo Es-pírito”; o bispo que vai sempre emfrente, mas segundo o EspíritoSanto». «Este é Paulo», afirmou oPontífice.

Aquele mesmo Paulo que de-pois dá o «terceiro passo: após terfeito o exame de consciência, ditoonde iria e o que o espera, ele dáo terceiro passo: “Sei agora quenão tornareis a ver a minha face,todos vós, por entre os quais an-dei pregando o Reino de Deus”».Deste modo Paulo «despede-se».Esta expressão «não tornareis aver a minha face» que o apóstoloescreve, afirmou o Papa «é comose fosse a morte, com aquela ter-nura».

E, acrescentou o Pontífice, «otexto continua e será lido ama-nhã». Assim «depois de ter dito“não nos voltaremos a ver”, come-ça a dar conselhos». E «neste tes-tamento Paulo não aconselha: “osobjetos que deixo dai-os a al-guém...”». Não é «o testamentomundano», porque «o seu amorgrande é Jesus Cristo» e «o se-gundo amor, o rebanho». E afir-ma: «Cuidai de vós mesmos e detodo o rebanho».

Portanto, exorta Paulo, «vigiai

Vladimir Zunuzin, «São Paulo»

despedida de Paulo, adespedida de um apósto-lo, do bispo: é um excer-to vigoroso, que comoveo coração». Mas «é tam-bém um trecho que nosmostra o caminho de ca-da bispo na hora da des-pedida». E deste discurso«metade é lida hoje e me-tade amanhã», observou oPapa, acrescentando: «Fa-rei mais um comentárioque uma homilia, comen-tarei este trecho». Porque«o excerto fala por si».

«Paulo faz vir os pres-bíteros de Mileto a Éfe-so», explicou Francisco.Praticamente «realizauma reunião do conselhopresbiteral com os presbí-teros para se despedir de-les: tem que ir embora».E «quando estão reunidos— “quando chegaram, eestando todos reunidos,disse-lhes”, lê-se no livro — começaprimeiro com um exame de cons-ciência: “Vós sabeis de que modosempre me tenho comportado paraconvosco, desde o primeiro dia emque entrei na Ásia”». Paulo «diz oque pensa que fizera, aquilo que fez,e submete-o ao juízo de todos», co-mo «uma espécie de exame de cons-ciência do bispo diante do seu pres-bitério».

«Lendo isto com a nossa mentali-dade — afirmou o Pontífice — p o deparecer que Paulo é um pouco orgu-lhoso, que se vangloria demais».Mas «Paulo é objetivo, diz o querealizou» e «só se vangloria de doisaspetos: dos próprios pecados e dacruz de Jesus que o salvou». Noutrotrecho, «observando-se a si mesmo,diz: “Mas sou um pecador, perseguios cristãos, matei. Sou como o frutode um aborto” — faz uma descriçãochocante de si mesmo — “vanglorio-me de tudo isto” e “olho para o Se-nhor mas também me vanglorio deJesus que me salvou, me chamou,me escolheu”».

Quando Paulo «profere essas pa-lavras — explicou o Papa — é objeti-vo: diz o que fez, mas o seu espíritoestá distante de qualquer vaidadehumana. É real». Portanto, o após-tolo, «depois deste exame de cons-ciência tão claro que ouvimos, nou-tro trecho afirma: “Constrangido pe-lo Espírito, vou a Jerusalém”». Porconseguinte, Paulo vive «esta expe-riência de bispo: o bispo que sabediscernir o Espírito, sabe discernirquando é o Espírito de Deus que fa-

número 21, quinta-feira 24 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 13

Sexta-feira, 18 de maio

A bússola do pastorHá um excerto do Evangelho deJoão (21, 15-19) no qual cada cristão,mas sobretudo os pastores da Igreja,olhando para Pedro podem compre-ender muito da própria identidade.É a «bússola de cada pastor». É umtrecho íntimo, profundo, no qualatravés de um jogo de olhares e depalavras entre Jesus e o apóstolo, egraças ao precioso auxílio da «me-mória», se chega a traçar com clare-za o sentido de uma vida e de umamissão. É o trecho — comentado pe-lo Papa Francisco durante a missa —no qual «os discípulos estavam naágua» e João reconheceu Jesus àbeira-mar: Pedro, «que era muito“emotivo” cingiu-se com a túnica(porque estava nu) e lançou-se ao

lavras, começou uma discussão entrefariseus e saduceus”. Dissolve-se aunidade, discutem entre si. Antesdiscutiam contra Paulo para o acusare condenar à morte; mas com estafrase Paulo destrói aquela unidadeporque era falsa, inconsistente. “Co-meçou uma discussão entre fariseuse saduceus e a assembleia dividiu-se.Pois os saduceus afirmam que nãoexiste ressurreição, nem anjos, nemespíritos, mas os fariseus professamtudo isto”». Em síntese, «com a sa-bedoria humana que tinha e com asabedoria do Espírito Santo, Pauloconseguiu destruir este bloco de uni-dade».

De resto, «vimos a mesma coisanas perseguições de Paulo, porexemplo em Jerusalém». Com efeito,«o texto dos Atos diz que todos osque estavam ali reunidos gritavamcontra Paulo, mas ninguém conhecianem ouvia o outro, não sabia o quegritavam: foram convocados para fa-zer barulho, fazer uma unidade queera barulho». E «o mesmo, porexemplo», aconteceu «com os agen-tes da imagem da Ártemis dos efé-sios, em Éfeso, quando ninguém sa-bia o motivo pelo qual gritava», co-mo narra o capítulo 19 dos Atos. Narealidade, explicou o Papa, assim «opovo torna-se massa, anónimo: fazuma unidade anónima e os dirigen-tes dizem: “Deves gritar contra ele”e gritam». Embora «não saibam porque gritam, o que querem».

«Esta instrumentalização do povoé também um desprezo pelo povo,porque o transforma de povo emmassa», disse Francisco, observandoque «é um elemento que se repetefrequentemente, desde os primeirostempos até hoje. Pensemos nisto: noDomingo de Ramos todos aclamam:“Bendito és Tu, que vens em nomedo Senhor”» mas na «sexta-feira se-guinte a mesma gente grita: “C ru c i -fica-o”». A resposta é que o cérebrofoi lavado e assim a situação mudou:na realidade, «transformaram o povoem massa destruidora». Mais ainda,«pensemos em Estêvão: procuramimediatamente duas testemunhas fal-sas e assim o povo vai apedrejar Es-têvão». E «no Antigo Testamentopensemos na mesma técnica» atuada«pela rainha Jezabel com Nabot»,segundo quanto cita o livro dosReis. É sempre «o mesmo: criam-secondições obscuras, “nebulosas”, pa-ra condenar uma pessoa». Sim, «de-pois aquela unidade» construídaacaba por se dissolver; entretanto «apessoa é condenada».

«Até hoje este método é muitousado», alertou o Papa. «Por exem-plo, na vida civil e política, quandose quer fazer um golpe de Estado,os mass media começam a falar maldas pessoas, dos dirigentes e, com acalúnia e a difamação, mancham-nos. Depois chega a justiça, conde-na-os e no fim faz-se o golpe de Es-tado. É um dos sistemas mais vergo-nhosos». Mas precisamente «comeste método perseguiram Paulo, Je-sus, Estêvão e depois todos os márti-res». Sem dúvida, acrescentou oPontífice, no final é «o povo que vaiao circo e grita para ver como se tra-va a luta entre os mártires e as ferasou os gladiadores, mas sempre, o eloda cadeia para chegar à condenação,ou a outro interesse após a condena-ção é este ambiente de unidade fin-gida, falsa».

Mas o Papa recordou que «demodo mais restrito», tudo isto«acontece nas nossas comunidadesparoquiais, por exemplo quandodois ou três começam a criticar ooutro, a falar mal dele, e fazem umaunidade fingida para o condenar».Juntos, disse Francisco, «sentem-seseguros e condenam-no: condenam-no mentalmente, como atitude; de-pois separam-se e falam uns contraos outros, porque estão divididos».E por isso, frisou, «a tagarelice éuma atitude assassina porque mata,elimina as pessoas, anula a sua “fa-ma”». E «a bisbilhotice foi tambémo que fizeram com Paulo, com Jesus:desacreditá-lo» e «uma vez desacre-ditado, eliminam-no». «Pensemos nagrande vocação para a qual fomoschamados: a unidade com Jesus, oPai», exortou o Pontífice. E «por es-te caminho devemos prosseguir, ho-mens e mulheres que se unam esempre procurem ir em frente nasenda da unidade». Mas «não uni-dades falsas, inconsistentes, que sóservem para dar um passo além econdenar as pessoas, levando emfrente interesses que não são nossos:interesses do príncipe deste mundo,que é a destruição». O Papa con-cluiu a homilia, desejando «que oSenhor nos conceda a graça de per-correr sempre o caminho da verda-deira unidade».

mar, com aquele seu típico caráterimpetuoso, para ir ao encontro doSenhor».

O trecho está no final do evange-lho de João, onde é narrado o «últi-mo diálogo de Pedro com o Se-nhor». Um diálogo intenso, duranteo qual, disse o Pontífice, «Pedro vol-ta com a memória aos diálogos quetivera com o Senhor. Este é o mo-mento da memória de Pedro».

O Papa imaginou o fluxo de me-mória que naqueles momentos agi-tou o coração do apóstolo, comouma série de instantâneos que rapi-damente fizeram Pedro reviver osanos passados ao lado de Jesus. Re-cordou certamente «a primeira vez,quando o Senhor lhe muda o no-me», e quando «André lhe foi dizerentusiasmado: “Encontramos o Mes-sias”, e Jesus fita-o nos olhos e res-ponde: “Doravante chamar-te-ás Pe-d ro ”». Em seguida, «quando foi asua casa e curou a sogra. E ainda,quando ele teve a coragem de dizero que sentia no coração: “Tu és oCristo, o Deus...”».

Ainda recordações: quando a de-bilidade de Pedro «queria poupar oSenhor, a dor da paciência...». E Je-sus repreende-o: «Afasta-te de mim,Satanás», corrigindo-o porque «estepensamento não é de Deus». Mo-mentos bons como o da transfigura-ção, «quando queria permanecer alicom o Senhor, armar três tendas,aquele diálogo...»; e momentos do-lorosos, como quando Jesus lhe dis-se: «Mas antes que o galo cante tume renegarás». Depois «o galo can-tou» e «aquele diálogo silencioso, oolhar de Jesus, terno, sofredor».Quando ele «chorou».

Todas estas coisas, disse Francis-co, «vinham à mente de Pedro na-quele momento do diálogo com oSenhor». A ponto que o Senhor ochama «Simão, filho de João»,usando o seu primeiro nome. É, ex-plicou Francisco, «o momento destamemória de Pedro condensada dian-te do Senhor». Um momento quetem algo para ensinar a cada cristão:«O Senhor quer que todos nós re-cordemos o nosso caminho com ele.Talvez este seja o dia para o fazer».

Neste momento tão decisivo, «oque diz o Senhor a Pedro? Três coi-sas: “Ama-me, apascenta e prepara-te”».

Antes de mais, frisou o Papa, Je-sus pergunta a Pedro: «Tu amas-memais do que a estes? Ama-me comopodes, mas ama-me». E é «o que oSenhor pede aos pastores e tambéma todos nós. “Ama-me!”». Pois, oprimeiro passo no diálogo com o Se-nhor é o amor. Ele amou-nos pri-meiro mas nós devemos amá-lo:“Ama-me”».

Por conseguinte, ele pergunta acada pastor: «Amas-me?». E depois:«“apascenta”. Tu és pastor, apascen-ta. Não uses o tempo noutras coisas.“Apascenta”. Tu és chamado a apas-centar, a tua identidade é ser pastor.A identidade de um bispo, de umsacerdote, é ser pastor. “Apascentacom amor, não faças outra coisa,ama e apascenta”».

Seguindo o diálogo do Senhorcom Pedro, o Papa acrescentou aterceira indicação. Com efeito, po-der-se-ia dizer: «E depois, Senhor,dar-me-ás o prémio? — Sim, prepara-te, porque te levaremos onde tu não

queres ir. Prepara-te para as prova-ções, prepara-te para deixar tudo afim de que venha outro e faça coisasdiferentes. Prepara-te para esta ani-quilação na vida. E levar-te-ão pelavereda das humilhações, talvez pelocaminho do martírio». As palavrasde Jesus ao apóstolo parecem ser re-petidas também hoje: «Aqueles quequando eras pastor te louvavam e fa-lavam bem de ti, agora falam malporque o outro que vem parece sermelhor. Prepara-te. Prepara-te para acruz quando te levarem onde tu nãoqueres ir».

Três conceitos simples: «Ama-me,apascenta, prepara-te». É este, afir-mou o Pontífice, «o mapa de umpastor, a bússola para não se per-der»: amar e deixar-se amar pelo Se-nhor, vigiar sobre o rebanho «dia enoite», preparar-se pois «a cruz che-gará também para ti; não sabemosse interior ou exterior mas chegará,como chegou para o Senhor».

Um ensinamento claro e simples,ao qual Francisco, prosseguindo aanálise do Evangelho, fez um acrés-cimo: parece, disse, «que se um pas-tor fizer tudo isto, tudo corre bem.Não, há ainda outra coisa». Comefeito, o diálogo entre Jesus e Pedroacaba com alguns versículos (21, 20-23) que são propostos pela liturgiade sábado, 19 de maio. João escreveque «Pedro sente o olhar de Jesus,está contente, sente-se forte». Viran-do-se vê atrás de si João e diz a Je-sus: «Senhor, tu disseste-me o queacontecerá comigo. E com ele, o quevai acontecer?» Ou seja, Pedro, ex-plicou o Pontífice, «cai noutra tenta-ção: olhar para a vida alheia, metero nariz na vida dos outros. E Jesusrepreende-o com força», não tão se-veramente como quando lhe disse:«Afasta-te de mim, Satanás», masresponde-lhe: «Se eu quiser que elepermaneça até eu voltar, a ti que im-porta?». Explicou o Papa: «O pas-

tor ama, apascenta, prepara-se paraa cruz, para o despojamento e nãomete o nariz na vida alheia, não per-de tempo em grupinhos, em gruposeclesiásticos. Ama, apascenta e pre-para-se, e não cai em tentação».

Permanecem, concluiu Francisco,os três ensinamentos fundamentais:«amar, apascentar e preparar-se paraa cruz». Estes três aspetos «são o“segue-me”; Jesus quer que os pasto-res o sigam assim: amando, apascen-tando e preparando-se para a cruz».

Ivan Klimenko, «Jesus e Pedro»

Peter Andrasko, «Unidade»

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Celebradas as exéquias do cardeal Darío Castrillón Hoyos

Rumo à terra prometida

ANGELO SODANO

O nosso amado cardeal Darío Cas-trillón Hoyos deixou-nos. Ele partiupara a Casa do Pai, depois de umalonga existência terrena, vivida sem-pre à luz da fé, primeiro na sua que-rida terra colombiana e em seguidaaqui em Roma, onde foi chamadoao serviço da Santa Sé pelo saudosoPontífice Paulo VI.

Nestes últimos anos, as suas for-ças físicas foram diminuindo, masele passava sereno os seus dias, imi-tando Moisés que, como reza a cartaaos Hebreus, procedia rumo à terraprometida «como se visse o Invisí-vel» (11, 27).

Era a mesma atitude que o PapaPaulo VI manifestava no seu famosoescrito Pensamento sobre a morte. Na-quele documento comovedor, o sau-doso Pontífice escrevia que para elejá tinha chegado a décima primeirahora, a hora que precede a grandeescuridão da meia-noite, mas acres-centava: «Estou ansioso por aprovei-tar a décima primeira hora, com apressa de fazer algo importante, an-tes que seja tarde demais». E assimfoi também para o nosso dileto ir-mão Darío, que passou os seus últi-

mos dias rezando e trabalhando,sempre pela propagação do Reinode Deus.

Hoje recordamo-lo como umgrande homem de Igreja, que sem-pre nos edificou com o seu engaja-mento apostólico. De igual modo,nesta celebração eucarística quere-mos dar graças ao Senhor por no-loter concedido, e depois confiá-lo nasmãos do Deus da misericórdia.

Com esta esperança, no final doSímbolo Apostólico nós repetimos:«Espero a ressurreição dos mortos ea vida do mundo que há de vir».Por isso na liturgia católica o ritodas exéquias, desde os primeiros sé-culos, revestiu sempre um caráterpascal. Com esta atitude interior,hoje também nós dizemos adeus («aDeus») ao nosso estimado e venera-do irmão, cardeal Darío, confiando-o nas mãos «do Pai da misericórdiae do Deus de toda a consolação» (2Cor 1-3). Com estes sentimentos defé e de esperança, hoje nós damosgraças ao Senhor por no-lo ter con-cedido e pedimos para ele o descan-so eterno, na paz dos Santos.

Para todos nós sejam válidas aspalavras de Santo Agostinho: «Fi-zestes-nos, ó Senhor, para Vós, e in-

quieto anda o nosso coração, en-quanto não descansar em Vós» (Con-fissões, I, I, 1). Com esta visão cristãda vida e da morte, hoje despeçamo-nos do nosso amado irmão cardeal,

repetindo as palavras de um célebreHino do tempo pascal: «Louvor ehonra a Cristo / Vencedor da morte,/ ao Pai e ao Espírito Santo, / agorae por todos os séculos. Amém!».

No início da tarde de 19 de maio, no altar da Cátedra da basílica de São Pedro,o Papa Francisco presidiu ao rito da «ultima commendatio» e da «valedictio»,no final das exéquias do cardeal Darío Castrillón Hoyos, prefeito emérito daCongregação para o clero, ex-presidente da pontifícia Comissão Ecclesia Dei, fale-cido na madrugada do dia precedente. O rito foi guiado pelo decano do colégiocardinalício, cuja homilia publicamos a seguir. Concelebraram vinte e dois cardeaise seis prelados, entre os quais o arcebispo Pawłowski, delegado para as Represen-tações pontifícias. Com os membros do corpo diplomático acreditado junto da San-ta Sé, estavam presentes os arcebispos Becciu, substituto da Secretaria de Estado,e Gallagher, secretário para as Relações com os Estados; e os monsenhores Borg i a ,assessor para os assuntos gerais, e Murphy, chefe do protocolo. Entre os presentes,duas primas do purpurado colombiano — as senhoras Judit Segura Forero e Am-paro Duque — e os seus estreitos colaboradores, pe. Giorgio Lenzi e pe. VictorHugo Jiménez. O cardeal Darío Castrillón Hoyos será sepultado na catedral deMedellín, na Colômbia.

Pesar do PapaO cardeal Darío Castrillón Hoyos, prefeito emérito da Congregação para oclero, ex-presidente da Pontifícia comissão Ecclesia Dei, faleceu na madrugadaentre 17 e 18 de maio, em Roma. Assim que recebeu a notícia, o Papatransmitiu ao cardeal decano, Angelo Sodano, o seguinte telegrama.

Recebi a notícia do falecimento do amado Cardeal Darío CastrillónHoyos e desejo manifestar sentimentos de pêsames ao Colégio cardinalí-cio, aos familiares e a quantos estimavam o saudoso Purpurado, recordan-do com alma grata o seu serviço generoso à Igreja, especialmente a pre-ciosa colaboração que ele prestou à Santa Sé, de modo particular comoPrefeito da Congregação para o Clero e Presidente da Pontifícia Comis-são Ecclesia Dei. Elevo fervorosas preces de sufrágio para que o Senhor,com o patrocínio da Virgem Maria, o receba no júbilo e na paz eterna, econcedo a Bênção apostólica a quantos compartilham a dor pelo faleci-mento de tão benemérito servidor do Evangelho.

FRANCISCUS P P.

Análogo telegrama foi enviado pelo cardeal secretário de Estado Pietro Parolin

Congregação para as causas dos santos

Promulgação de decretos

Lesser Ury, «Moisés olha em direção à terra prometida»

No dia 19 de maio, o Papa Franciscorecebeu em audiência o cardeal An-gelo Amato, S.D.B., prefeito da Con-gregação para as causas dos santos.Durante a audiência, o Pontífice au-torizou a mesma Congregação a pro-mulgar os seguintes decretos, relati-vos:

— às virtudes heroicas do servo deDeus Augusto José Hlond, da So-ciedade salesiana de São João Bos-co, arcebispo de Gniezno e Varsóvia,primaz da Polónia, cardeal da SantaIgreja Romana, fundador da Socie-dade de Cristo para os emigrantes;nascido a 5 de julho de 1881, emBrzęczkowice (Polónia), e falecidoem Varsóvia (Polónia), no dia 22 deoutubro de 1948;

— às virtudes heroicas do servo deDeus Miguel Ângelo Builes, bispode Santa Rosa de Osos, fundador devárias congregações religiosas; nasci-do em Antioquia (Colômbia), no dia9 de setembro de 1888, e falecido a29 de setembro de 1971, em Medellín(Colômbia);

— às virtudes heroicas do servo deDeus Henrique Mauri, sacerdote

diocesano, fundador das Oblatas deCristo Rei; nascido em Bosisio Pari-ni (Itália), a 26 de outubro de 1883,e falecido em Sestri Levante (Itália)no dia 10 de maio de 1967;

— às virtudes heroicas do servo deDeus João Batista Berthier, sacerdo-te professo do Instituto dos missio-nários de Nossa Senhora de La Sa-lette, fundador da Congregação dosmissionários da Sagrada Família;nascido em Châtonnay (França), nodia 24 de fevereiro de 1840, e faleci-do em Grave (Holanda), a 16 de ou-tubro de 1908;

— às virtudes heroicas do servo deDeus Guilherme Eberschweiler, sa-cerdote professo da Companhia deJesus; nascido no dia 5 de dezembrode 1837 em Püttlingen (Alemanha), efalecido a 23 de dezembro de 1921,em Exaten (Holanda);

— às virtudes heroicas do servo deDeus Pedro Uccelli, sacerdote pro-fesso da pia Sociedade de São Fran-cisco Xavier para as missões estran-geiras (missionários xaverianos); nas-

cido em Barco di Bibbiano (Itália),a 10 de março de 1874, e falecido emVicenza (Itália), no dia 29 de outu-bro de 1954;

— às virtudes heroicas do servo deDeus Pio Dellepiane, sacerdote pro-fesso da Ordem dos mínimos; nasci-do em Génova (Itália), no dia 4 dejaneiro de 1904, e falecido em Roma(Itália), no dia 12 de dezembro de1976;

— às virtudes heroicas do servo deDeus Norberto McAuliffe (no sécu-lo: João), irmão professo do Institu-to dos irmãos do Sacratíssimo Cora-ção; nascido em Nova Iorque (Esta-dos Unidos da América), a 30 de se-tembro de 1886, e falecido em Alo-kolum (Uganda), no dia 3 de julhode 1959;

— às virtudes heroicas da serva deDeus Francisca das Chagas de Jesus(no século: Colomba Antonia Martíy Valls), monja professa da segundaOrdem de São Francisco, do mostei-ro da Divina Providência de Badalo-na; nascida em Badalona (Espanha),

no dia 26 de junho de 1860, e ali fa-lecida, a 4 de junho de 1899;

— às virtudes heroicas da serva deDeus Eleonora de Santa Maria (noséculo: Isora Maria Ocampo), mon-ja professa da Ordem de São Do-mingos; nascida no dia 14 de agostode 1841, em Cerro Famatina (Argen-tina), e falecida em Córdova (Argen-tina), no dia 28 de dezembro de1900;

— às virtudes heroicas da serva deDeus Ângela Maria do Coração deJesus (no século: Maria CecíliaAutsch), da Congregação das irmãsda Santíssima Trindade; nascida nodia 26 de março de 1900, em Rölle-cken (Alemanha), e falecida no cam-po de concentração de Birkenau, emAuschwitz (Polónia), a 23 de dezem-bro de 1944;

— às virtudes heroicas da serva deDeus Maria Edviges Zivelonghi, reli-giosa professa da Congregação dasfilhas de Jesus; nascida em Gorgu-sello di Breonio (Itália), no dia 26de abril de 1919, e falecida a 18 demarço de 1949, em Sant’A m b ro g i odi Valpolicella (Itália).

número 21, quinta-feira 24 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 15

INFORMAÇÕES

Audiênciaà primeira-ministra da Roménia

Visita «ad limina»dos bispos do Myanmar

Na tarde de terça-feira8 de maio, o Paparecebeu em audiênciaos prelados da Conferênciaepiscopal do Myanmarem visita «ad limina»

Audiências

O Papa Francisco recebeu em audiên-cias particulares:

A 17 de maio

O Senhor Cardeal Blase Joseph Cu-pich, Arcebispo de Chicago (EstadosUnidos da América); e, no ambienteadjacente à Sala Paulo VI, os Bisposdo Chile.

A 18 de maio

Sua Ex.cia o Senhor Patrice Talon,Presidente da República do Benim,com a Esposa e o Séquito.

Os Senhores Cardeais: PatabendigeDon Albert Malcolm Ranjith, Arce-bispo de Colombo (Sri Lanka); eRainer Maria Woelki, Arcebispo deKöln (Alemanha).

A 19 de maio

D. Nicola Girasoli, Núncio Apostóli-co no Peru; D. Gabriele GiordanoCaccia, Núncio Apostólico nas Fili-pinas; e o Senhor Cardeal AngeloAmato, Prefeito da Congregação pa-ra as Causas dos Santos.

Renúncias

O Santo Padre aceitou a renúncia:

No dia 17 de maio

De D. Klaus Küng, ao governo pas-toral da Diocese de Sankt Pölten, naÁustria.

No dia 19 de maio

De D. Iván Antonio Marín López,ao governo pastoral da ArquidioceseMetropolitana de Popayán, na Co-lômbia.

Nomeações

O Sumo Pontífice nomeou:

A 17 de maioBispo da Diocese de Sankt Pölten(Áustria), D. Alois Schwarz, até estadata Bispo de Gurk.

A 18 de maioBispo Coadjutor de Saint-Jérôme(Canadá), D. Raymond Poisson, atéagora Bispo de Joliette.Auxiliar de Roma, o Rev.do Pe .Gianpiero Palmieri, do clero roma-no, até à presente data Pároco daParóquia de São Gregório Magno eResponsável pela Formação Perma-nente do Clero, simultaneamenteeleito Bispo Titular de Idassa.

D. Gianpiero Palmieri nasceu nodia 22 de março de 1966, em Taranto,na Itália, e recebeu a Ordenação pres-biteral em 19 de setembro de 1992.

Auxiliar de Malinas-Bruxelas (Bélgi-ca), o Rev.do Cón. Koenraad Va-nhoutte, até hoje Vigário-Geral deBruges, simultaneamente eleito Bis-po Titular de Tagora.

D. Koenraad Vanhoutte nasceu a 31de agosto de 1957, em Ostende, naBélgica, e foi ordenado Sacerdote nodia 17 de julho de 1983.

A 19 de maioEnviado Especial à celebração do200° aniversário da evangelização doOeste e do Norte do Canadá — apartir da chegada de Padre NorbertProvencher e Companheiros missio-nários à atual Arquidiocese de Saint-Boniface — que terá lugar no dia 15de julho próximo, o Senhor CardealGérald Cyprien Lacroix, Arcebispode Québec.Arcebispo Metropolitano de Po-payán (Colômbia), D. Luís José

Rueda Aparicio, até agora Bispo deMontelíbano.

A 21 de maioNúncio Apostólico em Singapura eRepresentante Pontifício não resi-dente para o Vietname, D. MarekZalewski, até à presente data NúncioApostólico no Zimbabwe.Bispo Auxiliar da Diocese de Trois-Rivières (Canadá), o Rev.do Pe. Pier-re Olivier Tremblay, OMI, até estadata Reitor do Santuário de Notre-Dame-du-Cap em Trois-Rivières, si-multaneamente eleito Bispo Titularde Tinum.

A 22 de maioArcebispo de Mendoza (Argentina),D. Marcelo Daniel Colombo, atéagora Bispo de La Rioja.Bispo de Mbulu (Tanzânia), oR e v. do Pe. Anthony Lagwen, do cleroda mesma Diocese, até à presentedata Ecónomo da citada Circunscri-ção Eclesiástica.

D. Anthony Lagwen nasceu a 5 dejulho de 1967 em Tlawi, na Tanzânia,e recebeu a Ordenação sacerdotal nodia 18 de outubro de 1999.

A 23 de maioAdministrador Apostólico sede va-cante da Eparquia de Nossa Senhorado Paraíso em São Paulo dos Greco-Melquitas, D. Sérgio de Deus Bor-ges, atualmente Bispo Titular deGergis e Auxiliar de São Paulo.

Disposições especiais

Sua Santidade presidiu:

No dia 21 de maioNa Sala Bolonha, a uma reunião dosChefes de Dicastério da Cúria Ro-mana.

Prelados falecidos

Adormeceram no Senhor:

A 15 de maioD. Georges Scandar, Bispo Eméritode Zahleh dos Maronitas (Líbano).

O venerando Prelado nasceu emZahleh (Líbano), no dia 12 de maiode 1927. Foi ordenado Sacerdote a 13de junho de 1965 e recebeu a Ordena-ção episcopal em 12 de novembro de1 9 7 7.

A 17 de maioD. Anthony Michael Milone, BispoEmérito de Great Falls — Billings,nos Estados Unidos da América.

O saudoso Prelado nasceu e 24 desetembro de 1932, em Omaha (EUA).Recebeu a Ordenação sacerdotal no dia15 de dezembro de 1957 e foi ordenadoBispo a 6 de janeiro de 1982.

A 18 de maioD. Christopher Jones, Bispo Eméritode Elphin, na Irlanda.

O ilustre Prelado nasceu em Ros-common (Irlanda), no dia 3 de marçode 1936, Foi ordenado Presbítero em 17de junho de 1962 e recebeu a Ordena-ção episcopal a 15 de agosto de 1994.

A 22 de maioD. Camilo D. Gregorio, PreladoEmérito de Batanes (Filipinas).

O saudoso Prelado nasceu no dia 25de setembro de 1939, em Cuyapo, nasFilipinas. Recebeu a Ordenação sacer-dotal em 1 de dezembro de 1963 e foiordenado Bispo no dia 29 de março de1 9 8 7.

O Papa recebeu em au-diência na manhã de 11de maio, VioricaDăncilă, primeira-minis-tra da Roménia, a qualsucessivamente se en-controu com o cardealPietro Parolin, secretáriode Estado, acompanha-do pelo arcebispo PaulRichard Gallagher, se-cretário para as Relaçõescom os Estados.

Durante os colóquios cordiais mencionaram-se as boas relações bilate-rais existentes entre a Santa Sé e a Roménia. Foram evidenciados os pas-sos dados até agora a fim de favorecer a cooperação no âmbito educativoe expressos votos para que ela se possa fortalecer mediante a oportunasconvenções. Trataram também alguns temas da atualidade, entre os quaisa importância da concórdia no âmbito da sociedade romena para a pro-moção do bem comum. Por fim, foram evocadas perspetivas para o futu-ro do projeto europeu também em vista da Presidência do Conselho daUnião europeia que a Roménia assumirá no primeiro semestre de 2019.

página 16 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 24 de maio de 2018, número 21

O Papa falou sobre o sacramento da confirmação

Cheios do EspíritoE rezou pela paz na Ucrânia e pelos católicos chineses

Um novo ciclo de reflexões dedicado aosacramento da confirmação, depois deter falado sobre o batismo, foiinaugurado pelo Papa Franciscodurante a audiência geral de quarta-feira, 23 de maio, com os fiéis reunidosna praça de São Pedro.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!Depois das catequeses sobre o Batis-mo, estes dias que se seguem à sole-nidade de Pentecostes convidam-nosa refletir sobre o testemunho que oEspírito suscita nos batizados, pon-do em movimento a sua vida, abrin-do-a para o bem dos outros. Aosseus discípulos, Jesus confiou umagrande missão: «Vós sois o sal daterra, vós sois a luz do mundo» (cf.Mt 5, 13-16). Estas imagens fazempensar no nosso comportamento,pois tanto a carência como o excessode sal tornam desgostosa a comida,assim como a falta ou o excesso deluz impedem de ver. Somente o Es-pírito de Cristo nos pode oferecerverdadeiramente o sal que dá sabore preserva contra a corrupção, e aluz que ilumina o mundo! E esta é adádiva que recebemos no Sacramen-to da Confirmação, ou Crisma, so-bre o qual desejo refletir convosco.Chama-se “Confirmação” porque con-firma o Batismo, fortalecendo a suagraça (cf. Catecismo da Igreja Católi-ca, 1289); assim como a “Crisma”,

ré: é bonito o modo como Jesus seapresenta, qual é o bilhete de identi-dade de Jesus na sinagoga de Naza-ré! Ouçamos como o faz: «O Espíri-to do Senhor está sobre mim, por-que me consagrou com a unção; eenviou-me para anunciar a boa novaaos pobres» (Lc 4, 18). Jesus apre-senta-se na sinagoga do seu povoadocomo o Ungido, Aquele que foi un-gido pelo Espírito.

Jesus está cheio de Espírito Santoe é a fonte do Espírito prometidopelo Pai (cf. Jo 15, 26; Lc 24, 49; At1, 8; 2, 33). Na realidade, na noite dePáscoa o Ressuscitado sopra sobreos discípulos, dizendo-lhes: «Rece-bei o Espírito Santo» (Jo 20, 22); eno dia de Pentecostes a força do Es-pírito desce sobre os Apóstolos deforma extraordinária (cf. At 2, 1-4),como nós sabemos.

A “Respiração” de Cristo Ressus-citado enche de vida os pulmões daIgreja; e com efeito, a boca dos dis-cípulos, «cheios de Espírito Santo»,abrem-se para proclamar a todos asgrandes obras de Deus (cf. At 2, 1-11).

O Pentecostes — que celebrámosno domingo passado — é para aIgreja o que foi para Cristo a unçãodo Espírito recebida no Jordão, ouseja, o Pentecostes é o impulso mis-sionário a consumar a vida pela san-

tificação dos homens, para a glóriade Deus. Se o Espírito age em cadasacramento, é de modo especial naConfirmação que «os fiéis recebemcomo Dom o Espírito Santo» (PAU -LO VI, Const. Apost. Divinae consor-tium naturae). E no momento de fa-zer a unção, o Bispo pronuncia estaspalavras: “Recebe o Espírito Santo,que te foi concedido como dom”: éa grande dádiva de Deus, o EspíritoSanto. E todos nós temos o Espíritodentro. O Espírito está no nosso co-ração, na nossa alma. E o Espíritoguia-nos na vida, a fim de que nostornemos bom sal e boa luz para oshomens.

Se no Batismo é o Espírito Santoque nos imerge em Cristo, na Con-

pedindo-lhe que vos ajude a viversempre como verdadeiros cristãos,confessando por todo o lado o nomede Cristo! Desça sobre vós a Bênçãodo Senhor!

Dou as cordiais boas-vindas aosperegrinos de língua árabe, em par-ticular aos provenientes do MédioOriente! Caros irmãos e irmãs, o Es-pírito Santo ensina-nos e concede-nos a Sabedoria e a Verdade deCristo. Invoquemo-lo mais frequen-temente, a fim de que nos orientepelo caminho dos verdadeiros discí-pulos de Jesus. O Senhor vos aben-ço e!

Saúdo os peregrinos ucranianosque participaram na 60ª Peregrina-ção Militar a Lourdes. Rezo inces-santemente ao Senhor para que cureas feridas provocadas pela guerra econceda a sua paz à amada terraucraniana. Deus abençoe todos vós!

Amanhã, 24 de maio, celebra-se afesta anual da Bem-Aventurada Vir-gem Maria “Auxílio dos cristãos”,particularmente venerada no santuá-rio de Sheshan, nos arredores deXangai, na China.

Esta celebração convida-nos a es-tar espiritualmente unidos a todos osfiéis católicos que vivem na China.Oremos por eles a Nossa Senhora,para que possam viver a fé com ge-nerosidade e serenidade, e a fim deque saibam realizar gestos concretosde fraternidade, concórdia e reconci-liação, em plena comunhão com oSucessor de Pedro.

Caríssimos discípulos do Senhorna China, a Igreja universal rezaconvosco e por vós, a fim de que aténo meio das dificuldades possaiscontinuar a confiar-vos à vontade deDeus. Nossa Senhora nunca vos dei-xará faltar a sua ajuda e amparar-vos-á com o seu amor de Mãe.

Confio especialmente a Nossa Se-nhora os jovens, os idosos, os doen-tes e os recém-casados, que hoje es-tão aqui presentes. Exorto todos avalorizar neste mês de maio a recita-ção do Santo Rosário. Invoquemosa intercessão de Maria, a fim de queo Senhor conceda paz e misericórdiaà Igreja e ao mundo inteiro.

Joëlle Dalle«Uma luz brilhou»

porque recebemos o Espíritomediante a unção com o“crisma” — óleo misturadocom o perfume consagradopelo Bispo — termo que re-mete para “Cristo” o Ungidode Espírito Santo.

O primeiro passo é renas-cer para a vida divina no Ba-tismo; em seguida, é precisocomportar-se como filho deDeus, ou seja, conformar-secom Cristo que age na santaIgreja, deixando-se engajarna sua missão no mundo. Pa-ra isto provê a unção do Es-pírito Santo: «Sem a sua for-ça, nada existe no homem»(cf. Sequência de Pentecostes).Sem a força do Espírito San-to, nada podemos fazer: é oEspírito que nos dá a forçapara ir em frente. Do mesmomodo como toda a vida deJesus foi animada pelo Espí-rito, assim também a vida daIgreja e de cada um dos seusmembros está sob a guia domesmo Espírito.

Concebido pela Virgempor obra do Espírito Santo,Jesus empreende a sua missãodepois que, saindo da águado Jordão, é consagrado peloEspírito que desce e paira so-bre Ele (cf. Mc 1, 10; Jo 1,32). Ele declara-o explicita-mente na sinagoga de Naza-

firmação é Cristo que nos en-che com o seu Espírito, con-sagrando-nos suas testemu-nhas, partícipes do mesmoprincípio de vida e de mis-são, segundo o desígnio doPai celeste. O testemunhoprestado pelos confirmadosmanifesta a receção do Espí-rito Santo e a docilidade àsua inspiração criativa. Per-gunto-me: como se vê que re-cebemos o Dom do Espírito?Se cumprirmos as obras doEspírito, se proferirmos pala-vras ensinadas pelo Espírito(cf. 1 Cor 2, 13). O testemu-nho cristão consiste em fazerunicamente e tudo aquilo queo Espírito de Cristo nos pe-de, concedendo-nos a forçapara o realizar.

Concórdia e reconciliação paraos católicos chineses e paz paraa Ucrânia foram desejadas peloPontífice no final da audiênciageral, durante as saudaçõesdirigidas aos grupos presentes.

Queridos peregrinos de lín-gua portuguesa: uma cordialsaudação de boas-vindas atodos, particularmente aosgrupos vindos de Portugal edo Brasil. Lembrai-vos deagradecer ao Senhor o domdo sacramento da Crisma,