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MAGALHÃES LIMA

ÀTão acho palavras mais eloquentes que os factos que fizeram de vós uma nobre victima da liberdade do pen- samento.

THEOPHIM) BRAGA

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Homenagem da «Liga Portuguesa dos Direitos do Homem» no primeiro aniversario do falecimento do seu Fundador.

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Homenagem da «Liga Portuguesa dos Direitos do Homem» no primeiro aniversario do falecimento do seu Fundador.

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Magalhães Lima

Nasceu no Rio de Janeiro, a 30 de Maio de 1850, e faleceu em Lisboa, aos 7 de Dezembro de 1928. ,

Formado na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, a par de ...i:.;..,. I,..K;I ., int*Aneif»AfitA fni um inc:ui>avel nnóstolo do Bem.

ia r aeuiiiaue ue eireiw ou UUITVIO» - •■- ......."..-, - ,-— politico hábil e intransigente foi um incansável apóstolo do Bem.

A'- actuais instituições prestou muitos c valiosos serviços. Portugal deve- muito; a Humanidade ainda mais.

lhe

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COLfí BORRÇÃO Dos Ex.""" Senhores:

Afonso Gaio Dr. Agostinho Fortes

Alberto Bessa Albino Forjaz de Sampaio

Alexandre Ferreira Alfredo Rodrigues Almada Negreiros

A. Vasconcelos de Carvalho Dr. Rarbosa Soeiro

Barros Lima Boavida Portugal Dr. Gosta Santos Dias de Oliveira

Dr. Eduardo Alves de Sá E. L. Soares

Fernando Coelho F. Noronha

Gomes de Carvalho Jayme Victor Jean Jacques

Joaquim Domingues Joaquim Gonçalves

José Augusto de Castro Júlio Bertho Ferreira

Ladislau Batalha Lourenço Caijolla Dr. Luiz Cebola

Luiz Ferreira Mário Salgueiro Mayer Garção

Dr. Ramod de La Feria Rodrigues Laranjeira

Silva Tavares Tomaz Cabreira

Tomaz da Fonseca Vieira da Casta Virgílio Marques

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MAGALHÃES LIMA DE PERFIL

A personalidade de Magalhães Lima caracterizando-se por vários aspectos, não se analisa, apenas, através da lonte republicam , muito ombora a sua causa lhe deva grandes o assinalados serviços. E posto que nunca exteriorizasse ideias, que tocassem os limites das reivindicações politicas, por entender quo o sistema republicano as podia resolver cabal e largamente, tinha outros pontos do vista mais simples e dilatados.

Nas palestras intimas, quando em contacto com amigos pes- soais se desferiam voos longos, de grande alcance filosófico ou literário, o sen espírito inquieto, renovador o analítico, embrenhava- so por vezes, em panoramas vastíssimos da questão social.

Som de modo nenhum se manter partidário das doutrinas cris- tãs de Tolstoi, deixava transparecer um espiritualismo qne so mol- dava um pouco á maneira de sentir do celebre escritor russo.

Assim, ao contrario do que pressupunham os católicos iutole- rantes,tinha uma infinita piedade por todas as desgraças humanas provocadas por qualquer motivo de ordem passional, politica' on religiosa.

Preoeupavain-no em suma. todas as ideias generosas, susceti- vois do amenizar o sofrimento do homem, tornando extensiva essa ternura aos animais que êle sacrifica ao apetite orgânico, conside- rando a fatalidade imprescindível do estômago como uma iníqua loi da Natureza.

Elo bom sabia a quantos erros se prestavam as teorias mal- tuzianas sema corrigenda que lho íiz«ram os opositores, mas cns- tava-lhe admitir quo o homem não soubesse resolver, por outra for- ma, o problema da sua alimentação.

Por aqui se infere a mesquinhez de interpretação, o jesuítico o maldoso conceito dos seus detratores. atribuindo-lho conivências com assassinos tresloucados e suponrto-o capaz de se servir dêssos sinistros manejos para fazer triunfar o seu ponto do vista revolu- cionário.

Como estão longo de lho compreender a grandeza moral todos aqueles que não conheciam a sua vida que. se ;.ão é isenta de erros, de visão ou de estrutura do politico. coisa 010 ele não sabia ser,—pairava muito acima de subterfúgios, de aleixisias e do calunias dos inimigos.

AFKOXSO GAYO

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UM DEFENSOR

Nos tempos medievais, os cavaleiros, idealizados nos roman- ces de cavalaria da Tavola Eedonda, corriam o mondo em defoza da viuva, do órfão, do todos os que, sedentos de justiça, careciam do auxilio do direito, do amor e do ideal.

Se, em nossos prosaicos tempos, ainda a poesia tivesse do cantar os que do Bom fazem religião, da Justiça um dever inadiá- vel e da Redenção humana a mais sublime das aspirações, ninguém seria nem mais entusiasticamente cantado, nem mais justamento celebrado, que Magalhães Lima, o paladino, entre nós, mais ingé- nuo, mais altruísta, mais sonhador, de quanto representasse o Ideal humano, na sua ascensilo infinda para a Perfectibilidade.

AGOSTINHO FORTKS

PREITO DE SAUDADE

Quando ha 33 anos vim do Porto — onde nasci e onde haviam decorrido as primeiras etapes da minha vida jornalística—para a redacção de O Século, encontrei ali, como director o dr. Maga- lhães Lima, sob cujas ordens servi, embora por pouco tempo, visto que elo, a breve trecho, deixou aquele jornal para ir fundar A Van- guarda.

Nesse pouco tempo de convívio radicara-so, porém, uma ami- zade pessoal jamais interrompida, com acrisolados afectos da sua parte e com o mais sincero reconhecimento da minha. E amigos ficamos sempre ató á sua morte.

Sabendo muito bom quo eu não era seu correligionário, pois que do toda a politica me divorciara para sempre, isso em nada influiu na amizade pessoal com quo também sempre me distinguiu, nSo deixando de me oscolher para companheiro em todas as agre- miações jornalísticas a quo presidiu.

Ainda pouco antes do morrer, quando publicou e mo ofereceu os dois volumes da sua obra Episódios da minha vida, neles ins- creveu estas dedicatórias:

No volumo I

Ao querido companheiro de ha muitos anos, Alberto Bessa, c m agradecido afecto.

Magalhães Lima

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No volume II

Ao valioso companheiro e amigo de sempre, a Alberto Bessa.

Magalhães Lima

Eis porqno, tambom com cagradocido afecto» pela sua moinó- ria, ou nao podia deixar do associar o meu obscuro nomo a esta homenagem para a qual foi amavelmente solicitada a minha dos- Taliosa colaboração.

Lisboa 1929. ALHKKTO BESSA

TALENTO E CARACTER Magalhães Lima, de quom tenho aqui sobre a meza nm re-

trato oforocido em 1907, foi o mais porfeito oxemplo de crente que tenho conhecido. Elle acreditava na pureza das ideias, na integri- dade dos princípios, na honestidade das pessoas. E mesmo quando o seu talonto e a vida de todos os dias lbe mostravam as ideias desvirtuadas, os princípios abandouados e as creaturas falidas nem por isso ollo transigia com tal. A sua bondado acroditava mais uma vez quo tudo isso ora o caminho da purificação. E assim morroa lalento e caracter, fé manante om cachões, enthusiasmo constante crença devotada o ardente, alma porfoita, auxilio presto, trato lhano e valodor. Tal foi o homom.

ALBINO FORJAZ DE SAMPAIO

Convivo com elle ha muitos amios já e tonlio-lho encontrado sempre, inaltoravol o constante, o mesmo espirito do gonerosidado . a mosma grandosa do caractor, que lhe reconheci no primeiro dia. xNão sabo ter um rosontimonto para as injurias mais cruois que lho tem sido assacadas na sua já longa vida politica e sempre que so lho lalla em alguém, que, vencido pela paixão, o magoou ou ofondou, elle encontra uma palavra nobro do perdão, para demonstrar quanto a sua alma ó lavada do reserva ou do ódios.

Podo-so divergir do sou credo, contostâr-se-lhe o acerto das proposições, mas ninguém hosita om reconhecer quo pela sua voz lalla a voz d um crente, insensível a todas as seduções do grandeza o» de gloria, a cujo» cumos poderia tilo facilmente ter subido.

LOUKENÇO CAYOLLA

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RECORDANDO.

Recordar-se; Consolar-oe Herculano

.. .Foi n'uma tardo do Agosto !... Tonho-a bem vincada no- mon ospirito.

Magalhães Lima, fala-mo das Obras de Carinho o Bondado — Instrução - Creanças - Velhos — Dirige-mc palavras paternaos o ami- gas. Depois, elevando a voz com «utusiasmo, reforo-so ás qnosiõos Sociais, á Politica, o ás regalias do Povo conquistadas á custa de mnito sangue! A uma simplos observarão minha, ilumina-so, levan- ta a sua adorável cabeça de Apostolo, recebo em cheio a luz vivi- ficador* do Sol, o com grande onergia diz-me : Oh ! a Liberdade ! ... Sagrada conquista!. .. Havemos de inanto-la, meu qnorido amigo t Tenha confiança ! ., .

Apezar do todos os trabalhos destrutivos da reáçao, o homem tom de sor livro, para poder manejar os instrumentos necossarios ao aperfeiçoamonto da vida do espirito : — A Razão, a Inteligência e a Vontade!...

Sim, serê.nos homons livres, não com aquela liberdade que nos permite andar somente para a fronte e para traz, espaço limitado, dentro da mesma cola.. . da mesma prisão !

_ Não! ... queremos a liberdade do raciocinar, do doscornir, do criticar ! Liberdade do pensamento ; o livre exame o a livro critica ! em suma, queremos — Democracia !

Partiu! ... Deixon-me envolto no sen sorriso torno o acaricia- dor... o hoje vivo a dolorosa amargura da ausência d'esso— Ho- mem -Ideia - d'esso Apostolo fervoroso da Domocracia, porquo era o conduetor genial das multidõas anciosas de luz! Sim, elo foi o portador do estandarte da IcleinXova — quo reteve bem se- guro nas suas miíos, durante a sua Vida de Coerência e do Ver- dade, e pregou sempre um futuro do Liberdade, do Justiça, de Beleza o de Bondado !

A Sua vida deve servir-nos de exemplo o o nosso culto pela Sua memória devo sor uma expressão superior, sincera o admira- tiva, pelo homem que foi um grando cidadão o quo tanto amou a Liberdade.

Lx. 29—11—929

ALEXAXDKE FEKREIKA

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SAUDADES

Magalhães Lima ! . .. Magalhães Lima !... • Sempre que penso quilo longa o penosa tom sido a marcha

•evolutiva das idoas democráticas em Portugal, ou nao posso es- quecer o nomo e a acoito combativa d'oste homem qno conh.ci, quando em criança o pela mão do meu pai, mo habituei a frequen- tar os comícios e sessões do propaganda republicana, nas quaos o meu espirito juvenil se deixou influenciar pela magia das palavras Republica c Liberdade!

Algés. ALFREDO RODRIGUES

MAGALHÃES LIMA, "EMBAIXADOR"

O Magalhães Lima que eu eouhcci, cá fora, não era o tribuno ardente dos nosso» comícios políticos. Não era o fundador audaz do grande jornal ini- cial da Republica embrionária. Não era tam pouco o ehofe prestigioso dos conciliábulos que tramavam a queda da velha monarquia «los Bragança». O Magalhães Lima que conheci, cá fora, era o que o consenso geral dos povos do Mundo elegera—sem diploma nem prebendas — embaixador de Portuga', no estrangeiro, Este Magalhães Lima, imparcial e gtmllenum, não se ocupara, cá fora, das nossas quer.-las intestinas. Defendendo a «sua» Republica, não se esquecia da sua Pátria, AS nossas desavenças não o interessavam, aqui. Assim agia ele, espontaneamente, quando, em 5 de Outubro de 11)10. fui proclamada a Republica. Ele habitava então um modesto hotel da «1'assage Bergére». Pois, ali foram sauda-lo os chefes da democracia universal e ali afluíram durante muitas semanas, milhares de cartas e telegramas apoteóticos, enalte- cendo o «fundador da líepubliea». Todos os republicanos portugueses do estrangeiro — mais ou menos... eonhecidos— se puzeram a caminho do hotel da «Passage Hergére», para prestar homenagem ao «grande chefe».Os grandes diários de todo o Mundo delegaram junto dele os seus principais rej/orters-his- toriadores. O «Matin»—o grande órgão oportunista da politica mundial — franqueou á pena fulgurante de Magalhães Lima a primeira coluna da sua primeira pagina. Durante muitas semanas, o humilde hotel da «Passage Ber- gére» foi a verdadeira «embaixada da Republiea Portuguesa» em Paris. E assim foi eleito, pelo consenso geral dos povos, o «embaixador de Portugal no «strangeiro», Magalhães Lima.

Era deveras curiosa a fisionomia moral deste Magalhães Lima que o nosso paiz nao soube apreciar. Este grande diplomata da Republica, universal- mente conhecido, cá fora, deixava ai os ódios c os rancores pessoais, se os tinha. Cà fora, ele era apenas a encarnação soberba da Republica e do Portugal. Pre- parara a sua mentalidade elevada no cultn pessoal de Vítor Hugo c deltenan. Vivera na maior intimidade com as mais fortes individualidades intelectuais <la sua epoea. A sua eerebração disciplinada vinha dos campos floridos de

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Coimbra com o escrínio poético mas em prosa <las suas «Miniaturas românti- cas». Aqui inspirou-o o misticismo das aspirações modernas das multidões, e deu â luz «O 1." do Maio», compilação das suas entrevistas com os chefes das novas escolas da politica europeia, e os livros do sonhos bons que intitulou «A Teoria da Humauidade» — paráfrase das Gort/ias — e «O Livro da Paz», o resumo de todos os seus desejos altruístas, que o mesmo é que dizer — plató- nicos. Nesta gradação ascendente das suas ideias, o seu programa, cá fora, não saia da terra clama da Pátria. Como todos os poetas de raça, esto poeta «manquó» era um magistral servidor das ideias utópicas. Como uma rutra excelsa figura que acaba de desaparecer aí e como o matemático patriota Painlevé, se poderia dizer—o esta exacerbação do génio é um esmalte da elo- quência— que ele vivia na Lua. Mas, mesmo da pálida satélite do nosso Glo- bo ele não tirava os olhos da terra que todos amamos. Nas altas nuvens da sua inspiração, esta miragem seguia-o como as estrelas dos Magos.

Falando e escrevendo as principais línguas da Europa, aprendeu nas suas peregrinações internacionais a apreciar os homens c as coisas da nossa terra comparando-os com os que frequentou cá fora. Não exagero dizendo que Magalhães Lima era mais conhecido — melhor senão mais—no estrangeiro do que na nossa terriola bemdita de soalheiro e de disputas.

O velho Emílio Combes — como ele um erudito c um idealista da escola filosófica de Viço—dizia-me, um dia, no seu «Ministério de Estado» da Rua de Grenelle :—«Recebi das agencias de recortes de jornais diversas «coupu- res» em que Magalhães Lima ó tratado de «bandido», de demagogo e mimo- >eado com outros epítetos afrontosos. Até lhe chamam «terrível caudilho», num jornal portuguez. Que quere isto dizer? Depois de explicar ao grande estadista que Afonso Henriques matou cinco caudilhos no campo de Ourique, Combes sorriu e sentenciou, como era seu costume de... antigo pregador : — «Terrível caudilho, o Magalhães Lima que V. me apresentou e que eu tenho apreciado LIIID convívio prolongado... O que ele é, sem duvida alguma, é ura Rochefort mais artista do que politico—como o outro, que Deus haja»...

Lcon Bourgeois dileto amigo do nosso «embaixador», classificava-o, na eseala social, eomo vim «Lamartine portuguez». Visava nele, no seu tempera- mento irrequieto mas inofensivo, na ardência das suas paixões politicas insa- ciáveis, o democrata poeta que fez a bela, inconsistente, revolução de 1848. Com estes predicados adquiriu Magalhães Limo o honrosissimo c privilegiado titulo de «embaixador de Portugal no estrangeiro».

Este nobre, altivo e familiar Magalhães Lima, que eu «descobri» cá fora, foi, com efeito, o portuguez mais admirado e discutido, em todos os paizes, nos últimos cincoenta anos.

Os que ahi o ouviam trovejar imprecações e apostrofes contra os homens e as coisas da nossa terra, achincalhando as figuras caricaturais do antigo regime, ficariam surpreendidos e estáticos perante os seu» discursos de Paris, Genebra, Bruxelas, Londres e Roma. Títulos sugestivos de algumas destas peças oratórias, que eu gravei no meu canhenho de ouvinte : «O grande Portu- gal»; «As afinidades da raça latina»; Povos que se impõem pela força do temperamento etnieo, etc, etc. O conferencista simpático possuía a nítida noção dos seus deveres de «embaixador» sem beneplácito da sua Republica».

Defendia com épico ardor a «sua» Republica — ela era bem dele, mas nada lhe deu — mas nunca separou a Pátria da Republica. Ele foi o mais patriota dos nossos internacionalistas, cá fora.

Paladino dum ideal que nuuca poude realisar, este agitador demo- crata nunca deixou escapar dos seus lábios uma palavra desprimorosa par» o seu paiz. Ousasse alguém durante estas palestras frementes, elevar a voz para deprimir-nos e a sua juba leonina de gladiador eriçar-se-ia em crispações de cólera sincera e implacável. «A sua terra—dizia ele — não tinha eulpa de ter mal governada».

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Recordo-me de o ter escutado era Londres, peraate uma assisteaci» numerosa e eclética, quando ainda se não tinham esvaecido os ecos da diatribe histórica de «lord» Salisbury sobre as velhas nações mortas ou moribundas d» Europa. Magalhães Lima, cinzclador de frazes á Mirabeau, depois do ter pro- vado— como sempre — que só o regime republicano pode elevar e engrandecer os aglomerados democráticos, ergueu um brado veemente de protesto contra os «maus profetas da decadência dos grandes povos». E, num repto fogoso, que retratava o s>eu foro interior : — «So podem morrer os povos que não teera ideal. Os pequenos povos que marcham, de fronte erguida, para as culrainan- «ias das aspirações humanas, hão de sempre perdurar e ser grandes, porque os anima a maior das forças creadoras e impulsoras: a do bem da Humani- dade.

Frederico Passy e Léon Bourgeois tinham em tal conta o caracter e o talento do posso Ínclito «embaixador» que o recebiam a meude nos seus pró- prios tugúrios familiares. Do quando em vez, as gazetas reacionarias — depois do terem prevenido Combos contra o «terrível caudilho» — denunciavam a estes próceres da democracia franceza o «demagogo», o «impio», o fuudibula- rio Magalhães Lima.

Bourgeois e Passy sorriam, mostrando os actos de acusação ao reu de tão_ altas traições, c assegurou-me Magalhães Lima, que, nnm destes colóquios amigareis Bourgeois lhe dissera:—«Meu caro: tenha paciência: ninguém ó «poeta na sua terra». Porque estos libelos acusatórios vinham, como bom pode supor-sc, da linda terra que os olhos d'alma de Magalhães Lima nunca perdiam do vista...

Mas foi por este caminho de desilusões e de afanoso trabalho que Maga- lhães Lima atingiu a meta da sua marcha dolorosa para o Olimpo talvez inacessível da Paz Universal. Ele foi o primeiro português inscrito na prodi- giosa cru/.ada da Paz. Destournelles de Constaiit, um dos seus mais ilustres companheiros do jornada, tinha por ele uma dedicação sem limites. João de Paiva, magistrado integro caracter sem mancha, vein-lhe no encalço. Dizia- mo ele, a caminho do Templo da Meca da Paz : — «Olhe que sou um simples discípulo do Magalhães». E, paia evitar confusões, purque João de Paiva era monárquico, acrescentava com intuição: — «Discipulo na Escola da Paz...

Este português, ao menus, fazia-lhe justiça, apezar de militar nos arraiais às politica adversa... Nestas sucessivas romagens á Torra Prometida da Paz, Magalhães Lima adquiriu num dado momento, um prestigio singular, a popto de ter sido lembrado para o premio Nohcl da Paz. Eri, porem, precisa a intervenção de certos areópagos nacionais portugueses, e a proposta ficou encubada, sem que o interessado, me parece, a tivesse suspeitado.

O livre pensador irredutível; o lutador furibundo Magalhães Lima, ora aqui, o comedido, o pautado, o impecável agente da propaganda republicana portuguesa, que, como continuo a afirmar, por scioncia própria — elo nunca deixou de confundir com a Propaganda de Portugal «tout-court». O sou «leit- motiv» era este : «Portugal ú um grande paiz que a Republica engrandecerá». Nom uma só vez ele omitia este conceito fundamental das suas orações politi- cas— eu ia a escrever poéticas... As armas da sua critica nunca eram enve- nenadas pela sua argúcia de politico. Evangelista devotado, ele n5o tinha ambições pessoais. Engano-me: Tinha uma ambição incomensurável; a de ver prosperar a Republica, no quadro deslumbrante do az luzitano. Nunca pensou e» gerir, directaraeaie, a Coisa Publica. Faltavam-lhe para isso os predicados

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indispensáveis do mando e de... hipooriíia autoritária. Assim fui que caiu, sob a avalanche dos seus inúmeros amigos de todas as esferas da sociedade, quando foi durante 21 horas ministro da Instrução, .issim foi que DCIII sequer obteve uma reles minoria na eleição que lhe preparou Teófilo Braga para a presidência da «sua» Kepubliea. A Republica só era dele, porque cie a fundou e a fez respeitar em toda a parte. A outros :is benesses do oficio de adminis- trar... Sobre este assunto ele era alia/., duma profunda compreensão das coisas1 publicas. Dizia-mc ele muitas vezes, a propósito do ostracismo a que foi condenado:—«Os homens que fizeram a líepublica não n devem governar». E explicava, historicamente, o seu asserto.

Quando ha tantos anos já, o aeusaram ahi de preparar a entrega de Portugal á Espanha, os seus detratores não perceberam que este visionário jacobino ora, como todos os vates, 0111 excepcional «vaticinador». Ele via já na Federação dos povos peninsulares,— federação com a independência local de. cada nação— a união, pela mesma forma, destes povos e dos das Américas do Sul e do Centro, como preliminar da Federação dos Povos Latinos e da de toda a Europa, que é o «sonho bom» de todos os bons patriotas do Velho- Mundo, actualmente.

Era esse anti;ro Magalhães Lima, iconuclasta e demolidor que então ahi denunciaram às iras populares, mesmo que, muitos anos depois, o «Argos da Imprensa» deprimia aos olhos maravilhados dos seus amigos de França o dTnglatcrra. Penitencicmo-nos perante a sua memoria augusta. Ele soubo dizer cà fora, durante duas grandes décadas, o contrario do que ahi via e ouvia.

O seu valor sobresaia dos seus actos A sua cohorcncia d'idcas c o seu caracter impoluto, impunham-sc pela puresa da expressão verbal, saida do co- ração para os lábios, com um requinte d'aticismo que toda agente admirava- Ele foi, pois, um «embaixador» consumado.

Os seus Oinatos retóricos, dum precisiosismo que os esmaltava, tinham por fim, como dizia Vitor-llugo, sintetisar numa só frase espressiva a amal- gama de milhares d'impressões afectivas.

Mas ele não era um gongorico, apesar de ser um excelente diplomata. O seu verbo era claro e eloquente como o seu caracter era limpo e generoso.

Ratifiquemos, no seio da nossa grande eoletividado nacional, o titulo inestimá- vel de «embaixador» com que o muodo coroou uma das mais belas c valorosas personalidades da Republica portuguesa. Honremos assim a sua memoria sa- grada, porque Magalhães Lima, como nunca cessarei d'afirmar, foi, não só o mais denodado defensor da Kepubliea cá fora, mas um grande português de lei, que soube aliar as soas opiniões de politico aos seus deveres de cidadão.

Paris, Novembro 1929

ALMADA NEGREIROS

*Em resumo, pelo que tenho observado das delicadezas do- sou coração, da finura do sou trato o dos primores do seu espirito, assevero que não conheço ninguém mais fidalgo do quo esto... republicano.»

JAYME VICTOR

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RECORDANDO

NA INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A TEÓFILO BRAGA

Sempre que evoco Magalhães Lima, vom-mo :í memória aquele domingo, 16 do ouiubro do 1927, se não erro, em que, no jardim da Estrela, foi inangurado o monumento a Teófilo Braga.

Uma formidável multidão encho todo o vasto jardim. Políticos, operários, estudantes, soldados, senhoras, funcionários públicos, marinheiros, industriais o comerciantes... Do governo, o sr. ge- neral Carmona, o sr. coronel Vicente do Freitas o o sr. coman dante Joilo Belo. Bastantes escritores o professores. Nomes conhe- cidos, nomes do cartaz,— e a grande, a humilde massa anónima...

Uma salva de palmas robôa estrepitosamente... E' Magalhães Lima que se descobre, que vai falar. Dura minutos a manifestação. Depois, o tribuno, em seu nomo o como presidente da Comissão Oficial Teófilo Braga, celobra o glorifica o famoso pensador.

E, sempre interrompido o aclamado, termina: "Cabo-iuo a suprema honra de confiar á cidade do Lisboa, representada polo seu Município, esta pequena relíquia, que ficara sob a guarda do Povo, que elo amou, o por quem foi tão amado."

Novas o quentes aclainaçoos coroam as ultimas palavras do Mostre. Os vivas eiitrochocam-so. Vivas á Republica, ao Exercito, á Marinha, a Magalhães Lima, á Liberdade, á Maçonaria... Vivas que soam do lés a lés vergastando o ospaço... Vivas gritados, vibrantes: direitos, como foguetes subindo no espaço, — o vivas do peruas para o ar, vivas ao contrário...

Passa-so em seguida á assinatura do auto e ao doscorramento do busto quo Toixeira Lopes modelou, depois do que usam da pa- lavra os srs. coronel Vicente do Freitas, dr. Agostinho Fortos, dr. Armelim Júnior e dr. Veiga o Sousa.

Está terminada a cerimonia da inauguração do monumento ao eminente republicano Teófilo Braga. As entidades oficiais o pessoas do representação, começam debandando. Mas a multidão, com al- guns estudantes á fronte, rodeia o aclama Magalhães Lima. E' in- discritivol, por grandioso, colossal, — o quo então se passa. Maga- lhães Lima ó levado aos hombros de um dos grupos. Pnxam-uo, comprimem-no, esmagam-no... homens e mulheres, operários o marinheiros, velhos o estudantes — beijam-lhe as mãos, olhos rasos do lágrimas... Gritos uníssonos clamam vivas á Libordado, a Ma- galhães Lima, á Kopublica, ao Livre Pensamento... O entusiasmo, como no dia seguinte relatavam os jornais, é verdadeiramente ipotoótico.

E' então que o Manuel Alpedrinha, eu, o não sei so outros

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estudantes, procuramos livrar Magalhães Lima daquela manifes- tação que, embora mui eloquente, podia ser funesta á saúdo do glorioso tribuno. Aparece um automóvel, para o qual Magalhãos Lima apressadamente entra. Mas a multidão rodeia o automóvel... E os vivas recrudescem... E o entusiasmo continna...

Acompanho a casa o venerando democrata. E, á despedida, leio em seu olhar—sim, ou li!— toda sua estranha, singela, for- midável F6 republicana! Por isso, sempre que evoco Magalhães Lima, vem-mo á memória aquele domingo, 16 do ontubro de 1927, se não erro, em que, no jardim da Estrela, foi inaugurado o monumento a Teófilo Braga...

A. VASCOKCELOS DE CAKVALHO

UM CARACTER DIGNO

Há pessoas cujos defeitos consistem apenas nos reflexos da» boas qualidades, que os malevolentes procuram desvirtuar, senão denegrir.

Passam na vida, considerados como ingénuos por uns, como habilidosos por outros; são odiados por muitos o estimados por muitos mais. Aqueles que os odeiam, por muito endurecido quo tenham o coração, sentem a injustiça do seu conceito, nas raras horas dos robatos da sua consciência.

Magalhães Lima foi homem dotado do raras qualidades de grandeza o do bondado. Atravessou a vida só manifestando excelen- tes qualidades, donde criaturas mesquinhas procuravam alterar a verdade, insinuaudo-as como defeitos.

A incomensurável boa fó de Magalhães Lima lovava-o a acoi- tar como bom qualquer parvenu quo exteriorizasse sentimentos al- truístas em prol do humanidade. Quando o parvenu deixava cair a máscara de bondado, para revelar os estigmas dum carácter agreste, Magalhães Lima, sofria sinceramente com a revelação. Não se im- portava de ter sido iludido, uma vez mais, na sua boa-fc, mas la- mentava que a humanidade possuísse um hipócrita naquele que o soa optimismo desejara vôr um prestimoso cidadão.

Magalhães Lima caminhou, na vida, esparzindo polo sou verbo ardente a convicção profunda do quo a bondado ó um factor do progresso social. ÊIo, que tantas vezes foi vítima das agressões de intolerância e da calúnia, propagava a tolerância o a lhaneza, como bases primordiais do progresso.

Os sons arreigados princípios do republicano e do livro pensa- dor traduziam o grande amor pelo povo, quo a todo o mo- mento Magalhães Lima revelava. E traduziam também a sua home-

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nagem ao direito, à justiça, à verdade o à razão, e a sna repulsa pela tirania, pela ignorância, pelos preconceitos e pelos Ôrros.

Elo", o descrente quo os clericais vilipendiavam, tinha todas ac virtudes do que OB crentes ultramontanos dizem possuir o mono- pólio.

BAHBOSA SUEIBO

APÓSTOLO DA PAZ

Começo estas linhas no momento preciso em quo o ribombar Éo canhão, a voz da guerra, proclama que em todo o mundo se guarda silêncio,pensando nos Mártires que, nos campos do batalha da Europa, da Africa e do Oceano, deram a vida pela Civilização, isto ó, polo diroito do vivermos a nossa vida, pela liberdade de consciência e de expressão — o o meu espírito evoca a figura glo- riosa de Magalhães Lima.

Aqueles, esperança dos sous concidadãos, arrimo da velhice do seus Pais, amparo do irmasinhas, onlôvo de noivas o esposas, penhor do pão e do futuro dos filhos, morreram, afirmando bom alto, ató ao sacrifício, o diroito do viverem livros!

Este consumiu toda a existência no afan do guerrear a guerra, sonhando, como Victor Hugo, não só os Estados Unidos da Eu- ropa mas os Estados Unidos do Mundo; na diligencia incessante do aproximar os homens ontro si, fazondo-os todos irmãos, comun- gando na Hóstia do amor universal; no empenho de abater as barreiras do raça o do nacionalidade, levando a Humanidade a cooperar toda na construcção do monumento á Fraternidade.

A expressão, a traducção désto sou alto pensamento, dêsto gonoroso ideal consubstanciou-a, cristalisou-a Magalhães Lima na Liga Portuguesa dos Direitos do Homem, que à semelhança das suas congénoros em todo o mundo civilizado, alhoia a partida- rismos políticos, a crenças religiosas, a escolas filosóficas, procura adiantar no relógio do tompo a hora bomdita em quo a Paz uni- versal deixo do ser uma aspiração para sor um facto.

Para atingir osso dosidorato, a Liga hauro a sua força no oxomplo do Magalhães Lima, em cujo coração nenhuma desdita deixou de encontrar simpatia o conforto, em cuja alma nenhuma arbitrariedade deixou do encontrar protesto e revolta, om cuja inteligência nenhuma obra do bem-fazor deixou do encontrar soli- dariedade.

A vida do Magalhães Lima sintetiza-so num Ódio que era Amor: odiou veementemente todas as mentiras convencionais por- que ora sincero; todos os privilégios, exceptuando os do talonto e da virtude porque era democrata; todas as intolorftncias porque

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era magnânimo; todos os facciosisraos porque era imparcial; todo o arbitrio porque era justo. ,

Semeou o Bem; propugnou a Verdade; amou a Beleza —a trilogia da Paz, a carta constitucional da Humanidade de amanhã!

«Terminou os seus dias e foi arrebatado para entro os deu- ses», diziam os Romanos acerca dos seus heróis ; hoje a Huma- nidade, ao passar o primeiro aniversário do trânsito do Magalhães Lima, pela boca humilde da Liga Portugueas rios Direitos do Ho- mem, apoteosa-o, canoniza-o, proclaina-o, urbi et orbi, Apóstolo da Paz.

BAKKOS LIMA.

MAGALHÃES LIMA O QUE MUITO PERDOOU

Nunca conheci ninguém mais toleraute e conciliador do quo Magalhães Lima.

A fantasia exaltada de monárquicos e católicos olhava-o com desconfiança, com hostilidade até, apenas por o saberem guindado à situação do chefo dura forte reducto liberal e, sobro tudo, como tal acreditado dentro e fora do país.

Magalhães Lima, em vez de responder á guerra com a guerra, Jimitava-se a dizer que a ignorância tem desculpa o que as vaias dos seus adversários o não magoavam a êlo, emqnanto fossem só a êle, pois os homens nada importam e só as idóas valem e são dignas de respeito e obrigam a uma defeza eficaz.

Cada nova investida de calúnias, apenas o surpreendia pela novidade da invenção e pela interferência de pessoas que a socie- dade aceitava como exemplares do nobreza moral, de inconcussa probidade.

—-Ah! a inconcussa probidade, meu amigo! o definitivo reco- nhecimento e aceitação e revorenciação do nomes cuja probidade é indiscutível! agentes de injustiças, de agravos, dealoivosias . . . e continuarem a impor, inconcussamente. indiscutivelmente, a sua probidade! Olho que ainda é mais revoltante do que a roputação de maus, imposta inexoravelmente, inapolavelmento, a certos ho- mens que, todavia, passam a vida a ser bons! Nada podo contra essa inconcussa probidade; nada vale a favor do condenado a sor tido como mau.

E Magalhães Lima, que dizia isto com a profunda amargura de vítima da inconcussa probidade do muita gonte, terminava «empre com esta resignação de vitima que por amor dos algozes nem quere confessar que o ó:

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— ir —

— Coitados! Pobres espíritos empedernidos! Eles não toem culpa: são vitimas duma educação viciosa.

Nunca nas suas palavras do queixa — o queixas do sabe Deus quão cruciante amargura!—se vislumbrava o desejo de vingar-so ou ser vingado.

Dos bomons qnc pregaram a Republica, foi dos que mais quente fó puzoram nas suas palavras. Na sua larga tosta parecia impressa a sna sinceridade. O povo, que o onvia, nao como teori- zante, mas como mensageiro, bebia avidamente as suas palavras sObro a romântica trilogia da Liberdade, Igualdade o Fraternidade.

Até que um dia a arcaica organização nacional, de carunchosa e improgrossiva, ruiu e, dos escombros, surgiu a Republica.

E todos que imediatamente nao viram realizados os seus so- nhos (o ha tanto sonho incongruente!) pediram contas aos fiadores da Republica, aqueles homens que tinham espalhado bocados do coração poios ávidos de justiça, pelos sedentos do liberdade.

Muitos remiram a fiança com novas promossas o, sendo dos bandos governativos, nunca as quizeram ou nunca as souberam rea- lizar. E os dos bandos doram-so as nulos, numa sarabanda maca- bra, e a certa altura tao vertiginosa, que a própria Republica ia morrendo estropiada. Magalhães Lima e poucos mais, nao arre- pendidos das promessas, mas pozarosos por não serem cumpridas, em vez do, como muitos, repelir os protestantes, acarinhava-os, sentindo-so protestanto também.

E quando essa turba—o povo confiante— se lamentava do serem tão sonho os seus sonhos de libertação e de fartura, e não compreendendo bem como a muitos encarregados do prometer se nao dao atribuições de solvência, doestos o chufas caíram sobre os nobres cabelos brancos de Magalhães Lima.

E ôlo, sompre numa atitude do perdão, algumas vezos me disse:

— Coitados! teom razão. Quom pode, nao os atende, e nm dia virá em que o arrependimento nao colha. Entretanto, a Repu- blica está em dívida, o a mim, sem condiçõos do pagar, porque eu não mando nada, 6 que toda a gente se julga com direito do apre- sentar contas e ainda do «respeitosamente» me chamar caloteiro. E tenho do sofrer pelas minhas desilusões e pelas dolos. Mas eles nao toem culpa ; não entendem mais ...

E logo uma rajada de fó varria os seus pezares. E alteava a voz e punha nela calor que parecia dos seus trinta anos ou dos trfis anteriores á Republica. E dizia:

— Ah! mas eu creio em dias molhores! O que é preciso ó educar o povo. Que o tesouro público se oxaura, mas soja para ilnminar consciências. Dar liberdade ao povo e não lho abrir ca- minho claro, o mesmo ó que dar-lho liberdade e nao lho dar pao. Então, liberdade para quô? para morrer do fome na escuridão da noite?! Nao; nao pode ser; nao ha de sor assim. Eu creio na Re- pública; creio em dias melhores para o nosso bom povo. O quo

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é preciso ò acabar com divisões entre republicanos. Cerrar fileiras, acometer os grandes problemas, fomentar o desenvolvimento da riqueza pública, do modo que todos tenham certo o sou pilo.

E' como se acabasse de o ouvir, agora mesmo, na sua casa da rua do Mundo, após as discussões vivas, mas elevadas, duma comissão de estndos a qne êle presidia com o máximo interesso o em que terçavam conhecimentos, conceitos, idéas, enfim, o coman- dante João de Freitas Ribeiro, o Dr. Calado Rodrigues, António Augusto Cursou ... e eu.

BOAVIDA POUTUGAL

PERFEITO DEMOCRATA Para bem falar de Magalhães Lima torna-so necessário usar

do vocabulário especial. As palavras banais de todos os dias, os vulgares lugares comuns que em frases mais on menos escolhidas ó costumo debitar nos elogios dos homens ilustres da nossa terra nilo bastam, quanto a mim, neste caso.

A idea do liberdade nunca teve melhor apostolo do que Ma- galhães Lima. Patriota, como poucos, sabia representar Portugal om toda a parte com nobreza o dignidade. Banal é dizô-lo assim como repetir que Magalhiles Lima era o exemplo vivo do perfeito democrata. Magalhães Lima era mais, era o pai espiritual de todos que, como en, amam sinceramente a liberdade.

Se juntarmos a ôstos bolos predicados as suas excelentes qua- lidades e virtudes do melhor quilato teremos obtido um instantâ- neo ainda que frouxo da mesma personalidade que era Magalhães Lima.

Amavelmente convidado a escrever umas linhas sobre ogrando cidadão qne foi Magalhães Lima, faltaria a um rigoroso dever para com a minha consciência se nilo confessasse quo sinto faltar-me a capacidade para balbuciar sequer o banal elogio costumado. Ma- galhães Lima pairava muito acima destas banalidades, sei-o bem, por isso nilo quero continuar.

Homens, como Magalhiles Lima, fazom-nos muita falta, são idealistas, é certo, mas dos que jnntam á força das ideias a acção benéfica que se necessita, são idealistas quo deslocan o revolvem montanhas.

Sempre animado do um espirito moço, era um velho respi- rando nma otorna juventude a tal ponto que impressionava veri- ficar qnanto eram dosempoeiradas as suas ideas om perfeito con- trasto com certas mocidades qne se comprazem com reaccionaris- mos bafientos.

A liberdade, a democracia e a paz constituíam a sua trilogi-i, para elas viveu e por elas, pode quasi dizer-se, morron.

COSTA SANTOS

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NOVO ISAÍAS

Magalhães Lima, eujo nome podo figurar entro os dos maio- res vultos das republicas antigas, pelo seu talento, o sen civismo o o seu amOr pátrio pôde dizer-so que foi assinalado pelo des- tino para cumprir uma missilo providencial uo futuro do Portugal.

Continuando o servindo com o sou espirito brilhante as tradi- ções do uma das mais ntois o poderosas instituições que tem com- batido o orro o a tirania exercida em nome do direito divino, o cuja origem remonta, para não irmos mais longo á data do apare- cimento da Enciclopédia, devido á Maçonaria Francesa o fortemente impulsiouada pelo duque d'Antin (1740)—Magalhães Lima foi um dos maiores apóstolos da Democracia, cm Portugal, ao qual so deve o advento da Republica, e foi ele, por assim dizer, que com o sou verbo eloquente o a sua pena acerada o elegante despertou na mocidado juvenil do seu tempo o entusiasmo ardente pela ro- dempçâo da Pátria.

Foi olo, o novo Isaias, que predisso a queda da volha Jerusa- lém politica e quo, desde quo encontrou a «Palavra perdida» pro- grediu sempre até atingir o logar quo do direito lho pertencia no grémio dos grandes obreiros da eivilisação quo tom estado sompre vigilantes e alerta contra os despotismos politieos ou religiosos...

Reconheçamos todos o grando raórito da sua obra! Durante largos anos, foi ele o soberano quo retovo o sceptro

confiado pelo povo de cujos direitos foi um strónuo defensor. Poderia em qualquer parto da torra ignorar-se o nome de

queiu represontava a monarquia om Portugal; mas, polo menos, em todos os centros intelectuais do mundo, todos consideravam o uome do Magalhães Lima, porque em toda a parto ondo a sua palavra vibrante so fazia ouvir, so ficava sabendo quo, níío a monarquia,— mas Portugal, tinhara nele um digno representante do seu nomo o das suas glorias quo o honrava do tal maneira, que até devido á sua acção não vimos perigar a nossa independênciaI

Que maior titulo do gloria se poderá atribuir a Magalhães LimaV

DIAS DE OLIVEIRA

Os sentimentos, idoias o actos de Magalhães de Lima, egua- larain-se sempre no expoente máximo de beleza e de filantropia.

O verdadeiro culto a prestar á sua memoria é a lucta pola li- bertação humana.

Lx.a 7-XII-929 Ramon de la Feria

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ETERNA MOCIDADE

Ainda ea ora bom novo quaudo pola voz primeira ouvi falar Magalhães Lima. Foi num dia de festa nacional. Glorificaya-so Camões, o oterno cantor das nossas epopeias, o o orador indicado para fechar a serio dos discursos era Magalhães Lima.

Não foi sem grando custo que consegui atravessar por ontre a multidão aglomerada em volta da tribuna, ató mo aproximar dos oradores. Disputavam-so os logares na anciã de ouvir molhor o paladino do povo.

Chegou a vez de Magalhães Lima falar. A multidão acolheu-o, entusiasmada, numa ovação enorme, interminável.

A sua voz melodiosa e límpida, entoou um verdadeiro hino de fé nos destinos da Pátria, na vitoria da Liberdade, exaltando o culto devido ao grando Poeta, gloria da nossa raça; gloria da Humanidade.

O seu discurso sempro vibrante do entusiasmo, cheio do ra- diosas imagens vincando o sou grande amor a Portugal, constan- temente cortado por largos aplausos, falava ao coração de todos quo o escutavam, o no meu espirito doixon a mais funda, a mais indelével impressão.

Desde então, sempre que podia, ia ouvir o mostro querido, cujas doutrinas humanitárias tanto mo sonsibilisavam.

Magalhães Lima ia envelhecendo mas o seu espirito consor- vava-so sempre moço. E assim, pela vida fora, dele fui recebendo o exemplo da bondado no seu grande ainôr aos humildes, para

• quem oram as suas palavras mais sentidas, o aprendendo com fervor a defender o povo que muito bem lhe patenteou o sou reconheci- mento acompanhando-o om recolhido silencio ú sua ultima morada.

O Povo quo nao so corrompe nunca e quo ole considerava o esteio da independência da Pátria, e que é a formidável colectividade produetora quo valorisa a nação, nnnca esqueço os homons bons, e porisso so associa á homenagem que a Magalhães Lima 6 pres- tada por ser justa e inquestionavelmente merecida por aquele que foi um dos maiores espíritos da Terra Portuguesa.

E. L. SOARES

«Impõe-se por uma vida sem mancha; só igual, sem hesita- ções, sem mudanças, sem tergiversações, sem dúvidas; uma vida clara e rutila, como nenhuma outra conheço em Portngal.»

Eduardo Alves de Sá

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eerrada, a pouco mais de dois meses, por chegar á exclusiva com- paroncia do professor, aliás individuo agradável e escrupuloso!

Foi por ontão, que, encontrando-me com Magalhães Lima, som nenhuma apresentação, em ponto de palestra o cavaqueira, a olo me dirigi, trocando impressões em conversa rolativamente larga.

Dali dataram as minhas relações pessoais com tão apreciável e lembrado ente, do diamantino caracter, que me rccebou no seu lar por muitas vezes e com quem em especial na Liga Portuguesa dos Direitos do Homem o na Comissilo organisadoni do centenário da Revolução de 1920, grandemente aprendi.

Sou devedor á sua memoria, do amisade sincera, do particu- lares atenções imorecidas, de lição inolvidável do nobilíssimo ca- racter, de confiança quo a diferença do idade lhe não embargava, do ponderado consoltio venerando, e a minha gratidão aqui lho regista, nesta prova que o grande publico lho consagra.

Ninguém ignora os méritos de Magalhães Lima, o sen alto pa- pel de gratuito e voluntário embaixador do Ideal republicano e da Domoeracia portuguôsa perante o estrangeiro e a sua primacia- lissima intervenção pessoal, que possibilitou a existência do novo regimo, implantado em 1910 e, nestes precisos termos, ó inútil preenchor espaço qne a outros sobremodo aproveitará.

Só quero ainda pôr em evidencia de asserto categórico, o du- plo predicado que o impõe por direito legitimo a homenagens desta natureza o ao culto da posteridade: foi um homem do cora- ção e de tolerância.

Quantos tesouros se encerram na víscera do verdadeiro após- tolo o na qualidade acolhedora sensível ? !

Tal posso definir e define, de facto, a figura moral do dr. Se- bastião de Magalhães Lima, cuja jazida tem jús pleno ás virentes fluros da nossa funda saudade.

F. NORONHA

O APOSTOLO Magalhães Lima pertence hoje à História. Foi um grande

apóstolo da Democracia, um homem bom pugnando sempre pela justiça e pela liberdade.

Foi ele, como poucos, um idealista, alma propensa ao bem da Humanidade, sempre pronto a combater pela liberdade do pensa- mento o pela Republica.

Conhecidíssimo no estrangeiro, onde tinha relações com as principais notabilidades da literatura e das sciencias, muitas vezes em Congressos ergueu a sua voz, honrando Portugal, notabilizan- do-so como orador de raça o como grande patriota.

Numa conferencia publica, quando a Ropublica se debatia numa crise grave e perigosa, disse:

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ADVERSÁRIO LEAL Foi Magalhães Lima acérrimo propagandista do Direito e

desassombrado defensor do Povo. O seu trabalho hercúleo, gigantesco, do ha muito roconhecido

na preparação das glorificações de Camões e do Vasco da Gama, seria bastante para justificar todas as homenagens que 'he sejam prestadas, se de as justificar necessidade houvesse.

Foi Magalhães Lima adversário temível do Romanismo. Mas nunca esqueceu o que á sua própria dignidade devia, sendo sem- pro correcto e leal.

Inversamente, os que se dizem discípulos do uma religiilo toda doçura, boleza e bondade, nem dopois do morto o poupam ainda apavorados— e devota e inoportunamonto pedem ao seu Deus que lhe pordoe, embora compenetrados de que as suas vozes nao chegam ao Cou!

Novombro do 1929.

FEUNAXDO COELHO

O DR. MAGALHÃES LIMA lia já decorridas algumas dozenas de anos, sendo eu colabo-

rador efectivo do jornal O Tempo, do meu saudoso amigo e visinho (no verão) Dias Ferreira e andando no momento a publicar artigos sobre instrução popular, sucodeu que ao lor na antiga Vaagvurda, firmado por Magalhães Lima, um artigo relativo a escolas do en- sino primário a adultos, fiz-lho referencia no Tempo sustentando que !á. Ex.a, em vista da sua situação desafogada, poderia, melhor do que ninguém exemplificar o que escrevera, ministrando êsso ensino, pessoalmente.

Após breve intervalo, preguntou-me Dias Ferreira se me sentia agravado em qualquer cousa por Magalhães Lima que assim lho inquirira.

Respondi que era pessoa em quem meu pai lalava com estima o que me merecia muito simpatia o consideração. Sabedor disto, Magalhiles Lima esclareceu, dias depois, no seu jornal, que tentara ministrar directamente o ensino em determinada ocasião o que se desiludira ou desistira por falta de frequência por parto dos in- teressados, que níto compreendiam a vantagem, toda deles.

A meu turno, nas colunas do Tempo, prestei a devida homena- gem de justiça ao prestante cidadão e até, salvo erro, contei, a propósito, que havendo num local de meu conhecimento assistido á inauguração do aula noturna do adultos, encontrando-se a respectiva sala completamente repleta, vim a saber mais tarde que fora en-

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EGUAL A SI PRÓPRIO

Magalhães Lima ficara o mosmo Homem. Proclamada a Ro- pablica, brove, certos homens, se esqueceram do que o regime dovia ao Povo. Afastaram-se dele: — esquoceram-no. P2ra preciso captar a adesivagem. O povo Mo interessava. Magalhães Lima ficara o mesmo homem. Idealista, espalhando, defendendo os geno- rosos princípios da propaganda. Sorvindo-se dos mesmos meios do açáo: — o jornal, a conferencia, a tribuna do comício. Se transi- gisso um pouco, teria sido tudo...

Não qniz. Foi o mosmo homem. Semeador de ideaes; — apos- tolo da bondade. Conservou a sua alma á guarda do Povo. Serviu a causa popular, espalhando, difundindo, os mesmos gonorosos princípios da propaganda republicana. E quando os seus bolos olhos se cerraram para o seu oterno sonho de bondade a dominar o a regor os homens, o Povo não o esqueceu. Magalhães Lima fora sempre o mosmo homem. O Povo. afinal o único elemento nobre da nacionalidade, deixou sobre o seu corpo as lagrimas da sua dôr o carinhosa, compungidamente, acompanhou-o—centenas do milhares de pessoas — á sepultura. Manifestação do saudade? sim! Ma- galhães Lima não mudara; — fora sempre o mesmo homem. Assim, aquele enorme cortejo, iniludível testemunho do pesar c, ao mosmo tompo, oloquente, aguerrida parada do força na dofosada Itopnblica.

Dezembro, 1929. JOAQUIM DOMINGUES

APOSTOLO DA VERDADE

Este homem do bom, cujo nome encerra uma opopoia o a quem hoje se presta homenagem, lembrando-o com saudado, era um exemplo de virtude, de bondado o de Democrata na vordadeira acepção da palavra.

Apesar do combater, sem tréguas, o obscurantismo religioso o todos os inimigos da Liberdade; apesar de ser um batalhador incan- sável na dofeza da causa dos oprimidos, nunca a sua voz ecoou com palavras do ódio ou rancor contra os seus adversários.

A sua luta era franca o leal. Contra as trevas, antepunha a luz, que irradiava do sou cérebro do idealista, procurando conquis- tar para o Povo, quo ele amava, a maior soma do felicidade pos- sível, nosta sociedade pejada de egoísmo e maldade.

Magalhães Lima, materialmente doixon de existir, ha um ano.

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<Do futuro é preciso que o caracter sobroelovo a todos os mesquinhos interesses o a todas as baixas intrigas. E' no caracter que repousa a estabilidade de uma instituiç.to.

«Ê' preciso que a Republica se torne sinonimo de virtude, como a defiuiam os atenienses. E' preciso que a Republica soja republicana».

Em poucas palavras sintetizou as aspirações dos verdadeiros republicanos, ao mesmo tempo qno delas se depreendia a maneira delicada do definir a situaçilo a que desgraçadamente os politicos levaram o País.

Com a sua autoridade do republicano austero e digno, foz o processo da politica republicana, que se tornou incompatível com a dignidade nacional.

A sua vida encerra uma lição moral, qno devo ser imitada pe- los futuros o preclaros cidadftos, que queiram honrar o sou País, seguindo o exemplo.

Manteve-se sempre no sen posto até ao fim da sua vida, de- monstrando uma grande firmeza do caracter qno muito o honra.

Diz o Mostro no 2.° volume dos Episódios da minha vida: «O culto do esforço ó sinónimo do culto do dever: eleva e

dignifica. Quand même quere dizer para mim : — no meu posto. Nem a adversidade me perturba nem o triunfo mo estonteia. Hor- ror assim é morrer bom. Mas viver assim ó também viver o viver bom.

«Chama-so a isto o culto do esforço, a suprema razão de sor para um lutador, qno não descrê nunca da sua causa».

Com os seus 77 anos do idade, o velho Mostro mantinha o seu idoal intonso o luminoso, não logrando destruir a sua fé a» desilusões sofridas em virtude das más acções dos homens.

Foi um grando arauto da paz. O sou Livro da Paz ò uma grande obra quo foi premiada num plebiscito literário, onde expôs o seu ideal da politica pacifista, a única verdadeira, em contrapo- sição com a velha politica de oligarquias, de clientelas e de facções.

Em O Primeiro de Maio, no Socialismo da Europa o na Obra Internacional, sempro afirmou as suas aspirações do paz, do bon- dade, do concórdia, de fraternidado e de solidariedade humana.

Foi um grando apóstolo da paz, que fica bom no lacIodeFone- lon, Abade de Saint-Piorro, do Kant, Leibniz o outros pacifistas.

JEAX JACQCK»

. . . Julgo qne em volta do M. L. se devem agrupar todot os que combatem polo triunfo da Democracia o da Liberdade.

Tomas Cabrrira

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Não mais ouviremos a sua voz eloquente aconsolliando a pra- tica do bom e a mais perfeita harmonia ontro todos os homens; não mais teremos a dita de lôr novos escritos seus, marcando uma directriz que só homens da sua envergadura moral teem por lema, mas o que jamais deixará do existir em nossos corações alancoados pela dor, ó a saudade imensa que todos os liberais toem daquele que através do todas as vicissitudes da vida soube manter Íntegros os IOUS principios do homem do bom.

Magalhães Lima, na mente de todos os qno se interossam pela emancipação da humanidade, existe santificado; nilo aquela santifi- cação religiosa o falsa a que são elevados os magnates da igreja pelos seus feitos em favor (las seitas que defendem, mas sim a san- tificação do quo e uiorocodor, na consciência dos Homens Livres, pela sua acção em prol dos que sofrem.

A melhor homenagem, pois, qno podemos prestar a quem tão grande soube sor na vida, 6 seguir o seu exemplo o trabalhar sem- pre para quo um dia soja um facto sobre a terra a verdadeira Li- berdade, Igualdade o Fraternidade, suprema aspiração do Mostro.

Fazendo assim, honraremos a memoria do Apostolo da Ver- dade. Dr. Magalhães Lima.

Porto, 28 de Novembro de 1929. JOAQUIM GONçALVES

Do Grupo «LUX»

NOBRE IDEALISTA Ante os meus olhos, ante o meu sentimento nenhum republi-

cano avulta mais do que Magalhães Lima, o grande português, o Apostolo, o Tribuno, o Escritor, o Jornalista que tanto honrou a Pátria e a Republica, que tanto as inalteceu no estrangeiro em orações notáveis perante as maiores figuras desse estrangeiro.

Vejo-o em toda a grandeza do caracter, em toda a beleza do sentimento civico o afectivo, em toda a sinceridade da evangelização dos ideais mais altos o nobres a que pode atingir o pensamento humano.

Ele 6 o simbolo vivo da Republica, o português que devia ser- vir do modelo a todos os portugueses. Se servisse, se fosso imitado na sua beleza moral, na sua acção social, o regimen republicano estaria aí em todo o resplendor dos seus principios e dos seus fins, o Paiz a ostontar-so num progresso soberbo, do continente a continente assinalando o esforço 6 bem estar de quarenta milhões do almas.

Morreu Magalhães Lima, o nobre idealista que durante cin- coonta anos do evangelização jamais sentiu um esmorocimonto na sua fé, embora so sentisse muitas vozes desolado diante dos lama- ceiros quo tantas almas formavam.

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Pode cobrir-se do luto a Pátria o a Republica, podo cobrir-»e do lnto o povo humildo quo Cie amou e serviu, porque a sua alma iluminada de bondade ora a bondado que mais apostolizava, era o anseio da confratornisaçao, da supressão da misoria o da injustiça em que o povo anda enrodilhado desdo todos os séculos— quo foz dolo a maior figura portuguesa contemporânea, uma das maiore« om todos os tempos o em todos os Povos.

JOSé AUGUSTO DE CASTRO

UMA RECORDAÇÃO

Quando, já em 1904, portuguozos conhecidos, generosos o li- beraes, trataram do homenagear Sebastião do Magalhães Lima pela sua preclara iatoligencia o valiosos trabalhos postos ao ser- viço da Nação, dizia o sompro lembrado José Gregório Fernandes, qno era impossível falar-se, em sinteso, do Magalhães Lima. E acrescentou: <a apologia das suas qualidades morais, o elogio do seu valor intelectual, a apreciação da sua longa e natural obra em prol dos grandes ideais de paz e de justiça e de liberdade, não se concretizam nnma tira de papeh.

Era certo. E 24 anos depois, pola sua morto, ainda so podia dizer a mesma cousa, mas, talvoz, com letras maiores, ou com VOE mais sonora, porquo de ano para ano, todos osses autênticos va- lores não fizeram senão acrescor-so.

Não admirava quo os seus amigos o correligionários o amas- sem, porquo os seus próprios adversários políticos o consideravam o estimavam. Viu-se isso, muitas vezes, em plena Monarquia.

Foi preciso quo so implantasse a Republica om Portugal (esso seu auroo sonho), para quo, almas do lama, so atrevessem a afrontar a luz do Sol, a denegrir a Verdade, o esfarrapar os prin- cípios de Justiça; atacando a figura impoiuta, límpida, cristalina do mais perfeito Homem bom quo a Península criara n'um momento do felicidade.

Porém, os ataques que sofreu, foram como os esforços quo se exercem para lapidar a pedra preciosa; tornarain-no mais scin- tilanto o mais bolo !

Assim como Jesus não soria tao conhecido se nao o tivessem supliciado, assim Magalhães Lima não seria ainda mais apreciado so o não tivessem ofendido.

Recordo com muita saudade, com funda comoção, qnasi com dolorosa religiosidade, as horas inesquecíveis em quo privámos, sompro nos ocupando da Causa, trocando pensamentos sobro tudo quanto poderia interessar.

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Escolhia-se, om geral, a melhor hora de repouso para darmos lcigar aos nossos raciocínios. Essa hora ora a do almoço, om que muitas vozes nos uníamos na pacatez d'nm recanto de certo res- taurante aburguozado. acompanhados quasi sempre do mais um ou dois amigos. A ultima vez que assim sucodea — lombro-mo bem, — foi na companhia d'um excelente amigo, o sr. dr. João de Deus Ramos.

E, logo ali, ficámos de voltar novamente para a troca de impressões o... confessarmos desilusões que, por vozes, as tínha- mos o bom dificois do suportar. E isto foi n'um dia.

Depois, aparocoram mal disfarçados ataques da doença qno o minava. Uma tardo dirigia-me á Biblioteca Nacional o na qnasi solidilo do largo fronteiro àquele edifício, reparei que na minha frente caminhava alguém com esforço vísivol, parocondo-mo muito volho.

Aproximei-mo e, hombro a hombro, vi com espanto quo nao dennncioi, quo ora Magalhães Lima. Mas quo rosto! Tinha um fácies estranho que, intimamente, me assustou. Havia ali já o quo quoro que fosso que marcava um estigma funobro. Mas, fiz a dili- goncia do lho falar alogromonto, o estou corto do quo correspondeu ás minhas palavras, também, com ognal alegria, pensando, talvez, quo não teria o direito de mo dizer quo sofria.

Conversámos um pouco. Elo dirigiu-so á Academia do Belas Artos, creio quo para pousar para o piucel maravilhoso do MalhOa. Quasi á despedida, disso-lho: Então, dr., quando vamos ao nosso almoço? Olhe que tomos mnito quo dizor.

Querido amigo !... E apagou-so aquela suavo claridade, que tanto alumiou o mon espirito o, como outras menos luminosas, mas tao imersas o já oxtinctas pola Morto, tive a aquecor-ino pela vida fora osto rosto do existência quo se mo vae escoando, pouco a pouco, despida do ilusões o solitária de afectos...

Quorido Amigo ! Querido Amigo ! Dizias tanta vez quo recordar é viver. Frase santa porque ó exacta. E ou vivo pola recordação. Itocordo-to a todo o momento. Já nilo tenho futuro, o nada sendo a hora prosonto, fugidia como o relâmpago, só mo resta o Passado, o grande Passado, quo encheste com a tua grandeza do caracter, com a tua inteligência fulgurante, com a tua solidariedade divina.

Nilo faço do homom um Deus; mas, se o fizesse, serias tu o oloito.

E a onda do luto passa. Agora, só me resta ajoelhar no pó do chio, cobrirmos a

caboça com cinza e gemermos o chorarmos osta Fatalidade que nos mata e torna difícil osto poriodo histórico d'uma nação secular e aflicta, mas quo qnoro vivor para a Luz, para a Liberdade o para a Republica.

Avo! Avo!

Lx. 8/12/929. JúLIO BERTHO FERREIRA.

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Á MEMÓRIA DE UM BOM Complota-se agora um ano que à sepultura baixou um bom.

Moreco o caso condigna comemoração, já qno no seio da sociedade contemporânea ser um bom constituo excepção, por isso mesmo apreciabilissima.

Magalhães Lima, um dos meus molhoros amigos, com quem durante mais do ciucoonta anos vivi em comnnhilo do ideias, devo a sua reputação à bondado que para olo foi o objecto do um* eterna aspiração.

A sua obra representará pelos tempos fora uma imorredoira lícito do coorencia, caracter o bondado. Ropublicano-Socialista desde os bancos da Universidade, docorridos bons cincoenta anos, de propaganda dos sous Idoaes, morreu republicano-socialista como principiara.

Criado na escola filosófica do Teófilo Braga quo apostolisava o Federalismo Peninsular o depois o Federalismo Europeu, ole foz rigorosa o conscienciosamente a propaganda da Pacificação mais Universal e traduziu em 187G um livro notável—«Os Estado» Unidos da Europa» do Charles Lemounier, aspiração modornamonte apostolisada o quo já naquela opoca gorminava no cérebro doi liboraes mais avançados.

Proclamada a Republica, oi-lo qno vai para Londres, onde, recebido como Grão Mostro da Maçonaria, conseguiu insinuar-so no seio da Corte o do Governo, obtendo o reconhecimento do novo regimen. Esta ó a sua obra culminante. Sem a sua acção inspirada no bom, a Republica talvez não tivesse conseguido resistir aos om- bates violentos dos adversários.

Sem dispor dos recursos de um sábio, elo possuía a intuição do um vidonto o a bonestidado politica do um sincero, orientado em todos os momentos da sua existência pelo espirito do bem o pela aspiração da paz.

E' por isto quo desfolho pétalas de saudado na sua campa.

LADISL.AU BATALHA

EXEMPLO NOBILÍSSIMO Nas opocas do refluxo, quando a Ideia Politica se dotem ante

a Força dominadora do Diroito, recordar a vida o os foitos dos sous paladinos constitui uma lição de civismo que vai iluminar ai almas caidas em dosanimo, acendendo nola as onorgas capazes do retomarem o caminho do Porvir.

Assim, evocarmos hoje o nomo do Magalhães Lima que foi indubitavelmente, como tribuno o jornalista, um dosmaioies obrei- ros da implantação da Republica, é apontarmos a todos os qu«

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anseiam o avauço do regime, o nobilíssimo exemplo, legado pelo omiuento patriota.

Em verdade nunca deixou de sentir bem viva a fó no triunfo do ideal republicano, durante largos anos; e, conejetisado este continuou a pugnar polas justas aspirações do Povo até quasi os derradeiros momentos.

Ainda, nas vesporas da morte, ouvi o apostolo da Democracia, plenamente lúcido, encorajar alguns novos, desalentados com as atitudes comprometedoras da marcha progressiva da Republica.

Ctimpra-se, pois, a palavra do Magalhães Lima o dos outros grandes coinpanhoiros de lnt», já também inertes para sempre na sepultura — porque a sagrada memoria dos nossos Mortos impõo esse dever !

LUíS CEBOLA

MAGALHÃES LIMA, A MOCIDADE E A REPUBLICA

Ao evocar a memoria querida do Dr. Magalhães Lima, o sau- doso apostolo da Democracia, não posso esquecer um ligeiro epi- sodio comigo ocorrido ha cerca do dois anos o que parecendo banal para quem, superficialmente, o queira apreciar revela bem o quanto foi sempro coerente com os princípios republicanos o indefectivel democrata.

Num restauranto da Baixa, loealisado a umas escassas dezenas do metros da estação ferroviária do Rocio, acolhera-me eu para uma rápida refeição. Momentos após a minha chegada, entrou o Dr. Magalhães Lima. Alavolmonto o cumprimentei o não tardaram muitos minutos que, a mesma mesa, trocássemos impressões. E, ontilo, escutei, com o respeito que se tom por um irmão mais velho do mesmo Ideal, encantadoras palavras que, bom fun- damente, alegraram o meu espirito de republicano.

Dirigia, ou, então, o jornal «A Semana llnstrada», do Lisboa, publicação que sucumbiu ao 13.» numero como que a comprovar o quanto ó fatidica a conjugação dos algarismos 1 e 3...

E o Dr. Magalhães Lima, jornalista de rija tempera que terçou sempre armas nas mais nobres polémicas, som se imiscuir nas nauseantes campanhas em quo só o vil interesso predomina, aconselhou-nte:

— Diga no seu jornal que compete á Mocidade apetrechar-so para ir substituindo os velhos poonoiros da Liberdade, dia a dia, tombando nas sopulturas. E' a ela quo compote a missão do não deixar regressar o Paiz aos tempos medievais do obscurantismo e da reacção ultramontana.

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Não lho poudo fazer a vontade porque o jornal, como as rosa» •de Malherbo, oxtinguin-so velozmente.

Mas ainda hojo, um ano depois do falecimento do Mestre, ou recordo saudosamente a mocidade inextinguível que Magalhães Lima soube manter ató á hora da morto o progunto á minha pró- pria consciência se a geração moderna, do cabeleiras negras o louras, e tão vibrante no entusiasmo pela Republica como o foi, mesmo já com a cabeloira totalmente embranquecida, o Dr. Sebas- tião do Magalhães Lima.

Oxalá, cidadãos, que a minha própria resposta possa sôr, con- cretamente, afirmativa.

Luiz FERREIRA Proiídont» da Dlrocçâo do Centro Kicolar Repnbllcao ■

Dr. M.igalhSe» Lima.

A MINHA GRATIDÃO Toda a vida do Magalhães Lima impõe o seu nomo aureolado

ao nosso respeito o á nossa admiração. A sua obra foi de gigante e o sen coração, aborto a todas as idoias generosas, acolheu todas as desgraças, onxugou todas as lagrimas, iluminou do esperanças todos os desesperos.

Mas ou quero relembrar nestas linhas de homenagem ao gran- de paladino da Liberdade e da Democracia a dedicação quo elo manifestou sempre pelo Povo. Dosde o primeiro numoro deste jor- nal que Magalhães Lima o corcou de carinho, informando-so da sua marcha, favorecendo a sua expansão, falando dêlo aos sons amigos.

Todos os dias, ou quási todos os dias, Magalhães Lima se interessava polo nosso jornal, tirando alguns' momentos aos seus afazeres para falar de nós, do Povo, do quantos vinham colaborar comnosco o dar-nos o sou apoio moral. E nunca o sou conselho amigo nos faltou, animando-nos para a lucta, incitando-nos a pro- seguir.

Se outros motivos não houvesse — e tantos há ! — para guardar pela memória do Magalhães Lima o máximo respeito, esto bastaria para o n3o esquecer nunca.

MáRIO SALGUEIRO

OS HOMENS DA LIBERDADE irie*mbr?"mo que' 1uaudo foi da consagração, prestada ha muitos anoos, a

Magalhics Lima,—consagração a quo até se associaram os seus adversários políticos—tive ensejo de escrever, n'uma folha destinada a perduravelmente fixar essa verdadeira glorificação, meia dúzia de linhas de impressão pessoal, is quaes nao teria agora, caso as reproduzisse, nem uma palavra sequer a

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alterar. E, todavia, desde essa hora de preito geral is suas excelsas virtude» cívicas ate aquella que marcou o termo da sua longa existência, decorreram, se me Dão engano, mais de vinte e cinco annos, ou seja um quarto de século. Poii n'esse dilatado prazo nem um só dia a sua fé sensivelmente affrouxou, nem o vigor do seu apostolado soffreu quebra. Quantos homens públicos poderiam dizer o mesmo? Magalhães Lima foi um homem publico, viveu dentro da poli- tica, meio em que tantas contradições a todo o momento se revelam e tantai fraquesas, mais ou menos, ameudadamente se registam. A'quclles mesmo que mais amamos, áquelles mesmo que por vezes nós inspiram uma íè quasi faná- tica, frequentemente nos vemos forçados a censurar transigências que, se não eollidem eom o caracter, não deixam de ferir dolorosamente os princípios. Com estes homens, debalde se procurará, nos testemunhos da sua palavra fallada ou escripta, eumo em qualquer dos seus actos da vida publi a,—e tantos foram !— um deslise, leve que fosse, da sua orientação, das suas convicções. Nem um sói tile foi firme, como o varão stoieo de Horácio, embora por vezes os seus que- ridos ideais ameaçassem ruina. Com o sorriso nos lábios, tinha a solidez e a immobilidade das estatuas.

Ha blocos que assumem expressões severas. A consciência de Magalhães Lima mantinha sempre a mesma graça, a mesma gentileza que no seu olhar se espelhavam. Nunca talvez se realisasse uma mais perfeita identificação entre a personalidade physica e a personalidade espiritual. Kr* um caracter fielmente retratado n uma physionomia. Era uma physionomia fielmente integrada n'ura caracter. Jamais lhe apercebi um olhar em que qualquer paixão baixa ou mes- quinha imprimisse um reflexo tenebroso. Porisso mesmo, ainda nos últimos annos de velhice, o seu aspecto era cândido. Adivinhava-se que n'aquelle ser, desde a infância devotado a ideias d'uma humanidade superior, raiavam conti- nuamente lampejos d'uma eterna mocidade, que ó a do espirito, perennemente enebriado por aspirações, sonhos e revoltas cm que a bondade e o ideal te irmanam para uma incessante acção civilisadora, progressiva.

A "Republica de Magalhães Lima, como a de todos ou quasi todos os seut companheiros de propaganda, orientados pela mentalidade generosa dos homens de 1848, era uma Republica, não só de tolerância, mas de respeito e acatamento a todos os credos e convicções sinceras. Como filho da liberdade, presava-a com transportes de arrebatamento filial. Quem avalia a sinceridade do seu sentir, não pode eximir-se a admittir c respeitai a sinceridade dos outros, definida no culto das idéas que perfilham, desde que a reconheçam tão mani- festa e autentica como a sua própria. Seria injusto e até ridículo pensar que as faculdades de amar e admirar estejam reservadas, como um monopólio, a nós, e só a nós. D'esta espiritualidade do seu ser, affirmada com lealdade e isenção, tirava Magalhães Lima a sua maior austeridade republicana. Apostolo e soldado da Liberdade, elle sabia bem que a demonstração mais perfeita e inilluilivel do culto consciente d'essa mesma liberdade consiste em acata-la e vence-la nos próprios adversários. Este conceito da liberdade é profundo nas consciências dos verdadeiros democratas. Agora mesmo, no momento de traçar estas linhas de homenagem a um dos homens que mais serviram a causa repu- blicana no nosso paiz, eu acabo de ler, n'um admirável artigo de Stephane Lausanne, no Matin, acerca da morte d'esse não menos ardente republicano que foi Clémenceau, eom estas palavras que o jornalista evoca d'entre as má- ximas lapidadas de que foi criador fértil o famoso Pi-re-la-Victvire: nSe podesse haver um conjlito entre a Republica e a Liberdade, a Republica é que erraria, e seria á Liberdade que eu daria a razão».

Um homem inspirado por este claro pensamento e dotado d'este caracter puro não podia deixar de attingir aquillo que foi a preocupação exclusiva da sua existência, ou seja a da unidade do seu ser moral, em relação a todos o» Problemas da ^ida social. Essa ficou sendo a nota predominante do seu espirito. N'ella residia a sus» principal elegância, o seu maior orgulho, como sendo a grande certeza que a desvanecia, refrigerando-lhe o coração e o cérebro. Veri- ficando-a e admirando-a, no cumprimento d'um dever de justiça, a Pátria e a Republica prestam-lhe a mais consoladora e nobilitante homenagem a que a sua alma seria particularmente sensivel.

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lia já poucos homens d'estes, concordo. Mas o exemplo de Magalhães Lima pode,—e creio firmemente que o conseguirá—orientar íreracues em cujas consciências juvenis se vinquem profundamente o traço das suas doutrina.-, e- da dignidade e da fé com que elly sempre as manteve.

MAYKR GARçãO

RECORDAR!.

Se as datas sio as melhores rocordaçoos dos factos, a d:ita de 8 de Dezembro do 1928, jamais o povo português deixará do recordar, porque ela assinala a eliminação da« lutas do mundo do egrégio cidadão que foi no proscénio da vida o maior Apostolo da Idoia Pura, do Suíno Bem, do Amor da Humanidade — Magalhães Lima. E então como êlo amava e queria ao povo desta infortunada torra portuguesa !

Passado uin ano, a sua memoria não se apagou, antes dia para dia ela é mais vivida, mais lembrada o saudosa.

Quiz o directório da '-Liga Portuguesa dos Direitos do Homom", a quem ora incumbe os dostinos do tão prestimosa agre- miação, obra do utilismo humanitário, que o morto que todos pran- teamos nos legou, memorar a data em que o varão insigne se re- tirou da oxistoneia. recordar a grandesa da sua acção politica, evocar todo o seu passado esmaltado de ricos feitos ao serviço do pacifismo internacional, onde conquistou triunfos paraovolho Por- tugal, ondo o seu igido talenf» lhe marcou um logar do prioridade que deriva, do sou nome ilustre, da sua gigantesca acção social, quo lhe marcou o seu logar na Historia!

Discutir os feitos de Magalhães Lima. um dos maiores defen- sores da Paz, o lutador querido das multidões universais, reclama a escolha do um dos mais catogorisados aselopiados da aristocracia galénica do seu tempo, a quem compete oncarocer a obra politica, humanitária, da mais extraordinária figura da pura Democracia.

E nós, o povo, a alma nacional, no coração aondo elo ora vivo, que jamais esquecemos os apóstolos do Bem. da Republica, do AmOr da Humanidade, canta-lo-hemos no hino da gratidão quo, ha-de ensinar aos homons do porvir, a amar o sou nome e a sua obra!

Na marcha infinita dos tompos, na passagem das gerações quo não regressam, quom deixara do bradar sempre:

Viva a memoria de Magalhães Lima! Viva a obra do maior Apostolo da Paz! Viva a Republica de Portugal!

R. LAKAVJEIKA

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MAGALHÃES LIMA

E' tão difícil ser alguém um Homem nesta terra dos homens de talento, que se aparece algum, —antes que tomem por verdadeiro o seu merecimento —,

defronta sempre alguém que tudo arranja para apagar a lu{ dessa verdade .• E aí do que pisa a casca de laranja com que a Intriga tenta a vã Vaidade

Magalhães Lima, esse Homem que, já morto, arrastou, como em vida, multidões; que amou o Povo, que o escutava absorto; que foi honesto em suas convicções,

honrado e bom, um Homem de verdade, — deixou um livro que ninguém tradu\: a sua vida limpa e sem vaidade, d'ataque á Treva e de louvar á Lu\ !

Lisboa, 25-I-929

SILVA TAVARES

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RECORDANDO ...

Foi na redacção da Vanguarda qne eu, uma noite, conheci Magalhães Lima. Já lá vao 30 anos. Uin amigo comum, a quem fizera queixas d'outro amigo, que recebera, do coração parado, o provinciano que chegara cheio do solidariedade e alvoroço, quiz qu© eu conhecesse o que era uma grande alma o um verdadeiro amigo. E subimos. Magalhães Lima rocobou nos logo, com a maior sim- plicidade, envergando um guarda-pó que nunca mais posso csquocor. O guarda-pó o aqueles olhos qne longamente me fitaram, omqnanto mo apertava ao peito, dizendo palavras fraternais, que chegavam á alma.

Esse abraço demorado, essas palavras carinhosas fizeram com quo ou ficasse sondo um dos sous admiradores e amigos que nunca mais lhe faltaram na hora própria — a hora difícil das provações.

Mas tão dedicado lho quiz ser que, uma voz, o ia pondo a forros. Foi naquela noito do 14 do Julho do 1917. O salão do Re- gisto Civil, ao Intendente, regorgitava do fiois presididos pelo Mestre. Ao concedor-mo a palavra, em tôrmos cativantes e amigos, entrei logo com tal impoto, contando o quo Michelot mo dissera, nessa tarde, através das suas páginas ardentes quo dosdo logo a ronda do largo ouviu o tomou nota. Ao terminar naquela sala e naquela atmosfera quente, a historia da jornada quo ontão so cele- brava, senti quo o suor mo inundava. E fui acima, ao 2.° andar, bator á porta do mou amigo Quaresma Caldeira, para que mo em- prestasse uma camisa. Muda o mio muda, com mais uma laracha o uma chávena de café, o certo o quo, ao descor, notei a sala des- pejada o o silencio em toda a casa. O quo teria sido? O continuo, que ficara sósinho, disso então que mal ou abandonara a sala, en- trara a força armada, prendendo todos os assistentes.

Magalhães Lima, nobremente, como sompro, chama a si toda a responsabilidade. <Quo o prendessem a ele, mas que deixassem sair a assistência em liberdade».

A policia aceitou lová-lo proso ao Governo Civil e quo de lá se dariam ordons quanto aos assistentes.

Dez ou vinto minutos depois vinha ordem tolofónica para soltar jps cidadãos qno aguardavam o desfecho daquela trapalhada quo eu motivara com as palavras do Michelot, levadas á policia, através do meu entusiasmo.

A ultima vez que o vi foi no sou gabinete do trabalho, cer- cado do outros amigos, mas tão cançado e tao volhinho. quo logo vi quo om breve ficaria som o Amigo e Mestre quo tanta fé desti- lara sobro o mou coração!

Quando tornei o vê-lo, estava morto, naquele salão do Gromio Lusitano, d'onde o levamos, num cortejo quo ainda hoje tenho

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eomo o maior e o mais sentido de quantos se teem realisado em Portugal.

E razOes havia para isso. Ou não fosso ele o representante máximo dessa democracia

que vem avassalando todos os povos da terra, afastando as bar- reiras, mas aproximando os corações.

Coimbra, 1 do Dezembro de 1929. TOMáS DA FONSECA.

NOBRE INDIVIDUALIDADE A única vez que vi Magalhães Lima o lhe falei, foi ha muitos-

anos já, na redacção da Republica, no Porto, onde ou então cola- borava. Foi o meu amigo Adolfo Cirilo do Souza Carneiro, quem nos apresentou.

Rocordo-mo que Magalhães Lima ino perguntou se havia na Régua muitos republicanos, o ficou descontento com a minha res- posta, pouco animadora.

Nunca mais o vi, mas a impressão que elo me deixou foi inde- lével.

Magalhães Lima o António José do Almeida, foram as duas mais nobres, mais dignas o mais simpáticas individualidades da democracia portugueza. Grandes homens de bom, foram também grandes homens do coração. Nem a mais pequena nódoa duma injustiça, nem a mais insignificante mancha duma violência, lhos manchou jamais a limpidez cristalina das suas nobros e honradas existências. E hoje quo se projecta uma digna homenagem pós- tuma ao ilustro cidadão quo se chamou Magalhães Liina, quo tanto honrou a sua Pátria o dignificou a Republica, cu venho também prestar o mou humildo preito á memoria do nobro cidadão que a fouce impiedosa da morto ceifou d'ontre os vivos.

Salgueiral da Rogua, 21-XI-929. VIKIRA DA COSTA

O MESTRE Magalhães Lima, o Mestre, cujo 1.° aniversario da sua morte

so vai agora comemorar, foi não só uma perda irreparável para a Democracia Portuguesa" o contemporânea, mas ainda, para a Demo- cracia internacional.

Guiados os primeiros passos da juventude para o ideal sacro- santo da Liberdade, dele nao se arredou sequer um ápice, em tran- sigências que deprimem ou aviltam, ou em atitudes exageradas de ridículo. Compenetrado do seu papel, adentro da Sociedade, imprimiu á sua acção nma directriz de honradez e lealdade, com

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visilo clara da idialogia que dcfondia e propagava. Dahí a saa grande aura, aura quo o acompanhou ora toda a sua vida e ainda produra c predurará, atra voz das gerações vindouras como facho luminoso da ideia, respeitado por uns, o seguido o amado por todos aqueles quo, á cansa da Humanidade, dão o molhor do seu esforço.

Magalhães Lima, não limitou a sua acção demolidora dos ve- lhos preconceitos, quo entravam a marcha ascensivel do Progresso, que abro o caminho do bem-estar geral, apenas ao seu paiz. No desejo ardente do ser útil ao sou semelhante, alargou-a pelo mundo fora, travando ao mesmo tempo conhecimento com os mais emi- nentes homens do pensamento livre, que noutros países labutavam pelo mesmo ideal do perfectibilidade, aperfeiçoando os seus conhe- cimentos o desenvolvendo a sua inteligência, fazendo, de mãos dadas, uma cadeia indestrutível, onde a nação ultramontaua, politica e re- ligiosa, ficasse bloqueada. Quem o conheceu de perto, não sabo que inaís lho havia de admirar, se homem sempre ardendo em fé viva de combato, defendendo todos os obstáculos, impossível a todas as tentativas do snborno preparadas pelos seus inimigos, se ao sen coração, magnânimo e bom, sempre joven. até ao ultimo sopro da sua vida! Eterno moço. a quem as cans nem as cancoiras do combate desiludiram, estava sempre na vanguarda de todos os movimentos, falando o agindo como rapaz de vinte anos.'

Ha anos tentamos levar a efeito no paiz o primeiro congresso das juventudes americanas e socialistas. Falei a Magalhães Lima, quo alvoraçado como se fora ainda estudante, aplaudiu e excitou esse movimento, e, imediatamente se colocou á disposição do con- gresso, escrevendo as seguintes palavras, cujo autografo guardo religiosamente:

a Pelo congresso comi) obra de solidariedade nacional.» «Aplaudo com entusiasmo, o cong resto que se projecta, das

mocidades republicanas c tocinlist is. J)e*sa nova congregação de vontades, podem e devem resultar ILI melhore* conseqwncias,, no ponto de vista da educação e dq espirito cívico. A' mocidade incumbe ape- lar para a união dos republicanos e socialistas, como medida de solução publica.

O ensino laico, a assistência laica, a escola única estão loqica- mente indicados como teses a discutir». — MAGALHãES LIMA

Assim falava o mestre de todos nós, com uma visão clara das coisas.

Oxalá que a mocidade actual, interpretando o sentir do grande democrata, roalise esta aspiração, que hoje mais do quo nunca 6 o desejo de todos os seus discípulos, no numero dos quais nos encontramos, embora dos mais modestos, mas também dos que molhor lhe qneriam.

Novembro do 1929

VIRGíLIO MAKQUKS

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A PALAVRA

—líEu sou maior que tu, fria espada assassina! Todo o Verbo de Lu{ que, dentro de mim, se encerra Brilha e sonha na côr da Aurora purpurina,

Unge d'amor a terra !

Conquisto sem matar ! E toda a Humanidade Outrora no Calvário, á tarde, me escutou Vibrei no grande sonho ideal de Liberdade

De Christo e Mirabeau !

Eu derrubo a Mentira, o Erro, o Preconceito, E quando incarno a Ideia —a deusa immaculada Parece renascer vibrante em cada peito

Uma nova alvorada. . .

Ri o sol nos trigaes, ha flores pelos caminhos Namorados lá vão, alegres a cantar... A Justiça vestiu de ht{ os pobresinhos

Que ficam a chorar. . .

Passam os teus heroes para sempre olvidados, E quando resta algum, dos povos na memoria Caem sobre o seu nome, os brados indignados

E as maldições da Historia !

Os meus não morrem, não ! Aquelle qne sonhou E que soube di^er uma grande Verdade, Pode morrer em pa\, que a verdade ficou

A refulgir por toda a Eternidade !

IQ04

RAMADA CURTO.

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. A FECHAR Magalhães Lima constiiue uma gloria para o seu paiz,

e um povo deve respeitar e prestar homenagem aos seu» homens de talento e de mérito, porque se glorifica a si próprio.

Dr. Augusto José das Xevcs

Homenagear a memoria de Magalhães Lima, é prestar culto a nm homem que jamais deixou do procodor com a honestidade que podo sor igualada mas nao oxcodida; qne se manteve sempre coe- rente com os princípios qne sempre defendeu galhardamonte;d e um homom que sompro pugnou desassombradamente pela sublime trilogia: Liberdade, Igualdade, fraternidade.

Adorado por todos qne com olo conviviam, não lho faltava o respeito dos próprios advorsarios do idoaos. O Dr. A. Zoferino Cândido, monárquico, director do jornal A Época, escrevia a seu respeito em 1904:

«Da republica em Portugal, dizemos nós, como monar- chicos:— amal-a-íamos e cubiçosamente a quizeramos, se a amparal-a, a dirigil-a, a governal-a, fossem todos como ele, tolerantes, sinceros...

Bons que é a sintese da virtude no homem.»

Que mais so poderia dizer em sua honra ? Discípulo estimado de Benoit Malon, Magalhães Lima adorou

o mestre como um simbolo, o como osto foi um sincero apostolo da Democracia, gastando a vida inteira a espalhar o bem.

Do ontre os seus livros todos valiosos oin ensinamentos, des- tacaremos apenas dois: o Livro da Paz o Socialismo na Europa, nos quais deixou indelevelmente afirmadas as suas aspirações por um idoal do bondado, do concórdia, do fraternidade e do solidarie- dade humana. E sempre harmónico em sou proceder, incansavel- mente trabalhou para quo so tornasse um facto o admirável pen- samento de Zola:

ccA humanidade atingirá o apogeu da felicidade, quando cada individuo compreender que a sua própria felicidade reside na felicidade dos outros.»

A Apostolo donodado do pacifismo, nâo ó demais registar aqui

sua nobre o digna opinião acerca do soldado :

•O soldado 6 um martyr sacrosanto. No campo da bata- lha sacrifica-se pela pátria. Duranto a paz, qual anjo custo- dio, vela pelo seu paiz, pelo seu berço, pela sua propriedade que é a de todos. E' heróico, é generoso, é magnânimo.»

Teve Magalhães Lima ainda a suprema felicidade do ver rea- lisada uma parte da sua obra grandiosa, bela. Complotemo-la nós,

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agora; nós que fomos seus amigos e com saudado o relembramos, promovendo pela Solidariedade o bem-estar social, seu desojo ingénito, de modo que o seu nome, aureolado de gloria, iluminando fique apoteoticamente as paginas mais brilhantes da nossa Historia.

Desejaríamos encontrar nesta singela homenagem, abraçando-se, confundindo-so, dando-se as mãos fraternalmente, naquela frater- nidade por que Ele sem descanso batalhou, as associações, o traba- lho, a industria, o exercito, a marinha, a mocidade das escolas, o povo, todas as classes emfiin.

Circunstancias varias impediram mais larga propaganda, pre- judicando em parte a intenção. Todavia esboçamos o programa. Outros mais felizes o concluirão, pois não podemos nós contar com a vida precisa para o fazer.

Dezembro 1929. GOMES DE CAKVALHO

Acabou de se imprimir iias Industrias Gráficas, Regueirão dos Anjos, C8, Lisboa, aos 7 dias do mês de Desembro de 1929.

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O produto líquido da venda deste opúsculo é destinado às famílias necessitadas das freguesias da Encarnação e do Sacramento, de Lisboa, devendo fazor-se a distri- buçião no dia 3o de Maio de iq3o