Quem o velho?
Todos ns, com certeza, temos uma imagem de velho formada a
partirde nossa observao, de nossa vivncia ou daquilo que nos
passadopela famlia e pela sociedade. Certo dia, questionando-me a
esse respeito,
resolvi fazer uma experincia. Propus a dois grupos com os quais
trabalho,
um de estudantes da rea da Sade na faixa dos 18 aos 21 anos, e
outro de
mulheres de 51 a 83 anos, a mesma questo: quais so as
caractersticas
que definem uma pessoa velha?
No primeiro grupo, o velho foi definido como uma pessoa chata,
tris-
te, deprimida, cansada, doente e solitria. No segundo, o velho
foi conside-
rado algum muito vivido, com bastante experincia, mais lento,
com doen-
as, com bastante tempo, tranqilo e mais perto da morte.
Logo em seguida, apresentei outra questo ao primeiro grupo:
nenhum
de vocs conhece jovens chatos, tristes, deprimidos, cansados,
doentes ou
solitrios? E perguntei s mulheres do outro grupo se nenhuma
delas j
havia encontrado jovens muito vividos, experientes, lentos, com
doenas,
com tempo de sobra, tranqilos e que, mesmo jovens, esto muito
perto da
morte?
claro que todos responderam que sim. Ou seja: a maior parte
das
caractersticas do velho no so peculiaridades de uma faixa etria.
Uma
pessoa no passa a ter determinada personalidade porque
envelheceu, ela
simplesmente mantm ou acentua caractersticas que j possua antes.
Via
de regra, um velho chato ou deprimido um jovem chato e deprimido
que
envelheceu, assim como um velho alegre e otimista um jovem
alegre e
otimista que se encontra em outra etapa da vida.
Velho aquele que tem diversas idades: a idade do seu corpo, da
sua
histria gentica, da sua parte psicolgica e da sua ligao com sua
socie-
dade. a mesma pessoa que sempre foi. Se foi um batalhador, vai
conti-
nuar batalhando; se foi uma pessoa alegre, vai continuar
alegrando; se foi
uma pessoa insatisfeita, vai continuar insatisfeita; se foi
ranzinza, vai con-
tinuar ranzinza.
Sempre digo que o velho um mais: tem mais experincia, mais
vi-
vncia, mais anos de vida, mais doenas crnicas, mais perdas,
sofre mais
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20 GUITE I. ZIMERMAN
preconceitos e tem mais tempo disponvel. No momento em que
utiliza
mais sua experincia, a vivncia adquirida ao longo de sua vida,
aprende a
conviver com suas doenas crnicas e prprias da sua idade; elabora
suas
perdas, no esquecendo seus ganhos; dribla os preconceitos e
aprende a
utilizar seu tempo. Ele continuar curtindo a vida, gozando as
coisas boas e
sendo feliz. Fazer planos para o amanh viver.
Tenho convivido h muitos anos com um senhor que, ao telefonar
para
o filho, diz sempre: Aqui o velho. Esse velho vem recheado de
muito
amor, respeito e admirao. O filho curte muito esse pai que, por
sua vez,
tem orgulho de ser seu velho.
