10 razões para a péssima qualidade da educação brasileiraPublicado em 25 de outubro de 2013 por DOMONTE4 Comentários
Ano após ano, as estatísticas relativas à educação brasileira batem recordes negativos. A escola pública (e também, embora em menor medida, a escola particular) vem se tornando sempre pior. Um conjunto de fatores, com pesos diferentes, contribui para isso. Veja quais são os principais (não necessariamente nessa ordem, e nem necessariamente só estes).1 – Professores mal pagos e mal cobradosO salário dos professores é, na maioria dos lugares, horrível. Em Brasília, gira em torno de R$ 3 mil para 40 h semanais (antes que você ache que isso é bom, o custo de vida no Distrito Federal é altíssimo, um dos maiores do mundo). Há quem diga que as férias mais extensas compensam esse fato, mas, sejamos francos: você acha que compensam? Uma pessoa que puder ganhar mais em outra profissão, irá procurá-la. Se desejamos que os melhores profissionais sejam os professores dos nossos filhos, devemos remunerá-los bem. É realmente uma profissão fundamental e que precisa ser valorizada.Os governos alegam que o grande número de professores dificulta a concessão de aumentos maiores, já que isso custaria muito caro cofres públicos. Por um lado, é verdade, mas, por outro, bastaria aos estados cortar gastos, muito especialmente com propaganda. Imagino que os salários dos professores poderia ser maior se os R$ 1,6 bilhão que o governo Dilma gasta em média por ano com propaganda fossem destinados a isso.Mas não basta pagar melhor: é preciso cobrar. É necessário estabelecer metas claras e avaliar ocumprimento delas de forma independente (atenção: para as escolas é muito fácil fraudar as avaliações do governo, pois são elas próprias que controlam essas avaliações. Sendo assim, seria preciso fazer umaauditoria externa). É realmente muito comum maus professores faltarem às aulas sem bons motivos, ou darem trabalhos e atividades inúteis para seus alunos fazerem (porque isso é mais cômodo). No momento em que eles forem mais bem remunerados, será necessário acabar com isso.2 – Pais que não acompanham a vida escolar dos filhosCom as bênçãos dos governos, criou-se uma cultura de que a educação dos filhos é mais responsabilidadedo Estado do que das famílias. Assim, muitos pais usam como desculpa as tarefas do dia a dia e a falta de tempo para não acompanhar a vida escolar das crianças e adolescentes. Em outros casos, a educação dos pais foi tão insuficiente que eles próprios não se sentem em condições de acompanhar o que os filhos estudam. Assim, a maioria não sabe o que os professores andam ensinando e nem o que os filhos andam aprendendo (ou não aprendendo). A educação é uma tarefa primordialmente da família: cabe a ela determinar o que os filhos devem aprender, e quando, e cobrar e estimular as crianças a estudar. Nos países onde esse acompanhamento ocorre, como Coreia do Sul e Finlândia, os resultados da educação são muito melhores.3 – Progressão seriadaO sistema de progressão seriada, em que os alunos não são cobrados e podem passar de série sem ter aprendido os conteúdos necessários, é o maior desastre da educação brasileira. Criou estudantes preguiçosos, indisciplinados e de baixa autoestima. É, na verdade, o maior
de todos os problemas. Cliqueaqui para entender melhor essa armadilha que está prejudicando várias gerações de estudantes.4 – Ideologização das escolasA partir dos anos 60, floresceu o Brasil a ideia de que a função da escola é “preparar cidadãos”. Isso é um erro: a função da escola é ensinar conteúdos. Ensinar valores morais é tarefa das famílias e as escolas só deveriam entrar nisso de forma secundária. Não bastasse essa distorção, o que muitos professores entendem por “formar cidadãos” na prática é formar eleitores de determinados partidos. As escolas brasileiras, as públicas especialmente, são reféns das ideologias. Aulas de História, Geografia e Língua Portuguesa são usadas para adestrar as crianças a pensar segundo os parâmetros marxistas e, no futuro, votarem em partidos específicos. Enquanto isso ocorre, os conteúdos sérios dessas disciplinas não são ensinados. Nas aulas de Língua Portuguesa, por exemplo, os alunos aprendem que falar errado é certo. O resultado: em vez de “cidadãos conscientes”, são criados eleitores burros.
5 – Excesso de disciplinas desnecessáriasOs governos têm procurado ampliar cada vez mais o número de disciplinas e conteúdos de viés ideológico a que os estudantes devem ser expostos. Ao passo em que a quantidade de aulas de Matemática, Física e Língua Portuguesa diminuem, aumentam as de Filosofia, Sociologia, e são introduzidas coisas como “direitos femininos”, “educação para a cidadania”, “cultural local”, etc, tudo com forte viés de esquerda. As disciplinas mais úteis que havia nas escolas de antigamente (Música, por exemplo. E até Latim, uma língua bastante difícil, cujo estudo é excelente para treinar o cérebro) são abandonadas. Nada contra Filosofia e Sociologia, mas o ensino básico, pelo menos no formato que ele tem hoje, não é o lugar para elas.
6 –Falta de estrutura físicaEsse é o problema fundamental das escolas mais pobres. Não há aluno que possa aprender sentado horas a fio em cadeiras desconfortáveis, dentro de salas depredadas, mofadas, lotadas e quentes. É preciso, sim, dar condições adequadas para que o estudo possa acontecer com algum conforto. A adoção de novas tecnologias também é essencial, desde que isso se faça de forma a aproveitar as vantagens oferecidas, e não para eximir o professor de sua tarefa.7 –Falta de disciplina dos alunosNos últimos anos, as escolas foram convencidas de que o aluno é um ser cheio de sensibilidades, que não pode receber nenhum tipo de cobrança. A indisciplina começou a ser vista como manifestação da liberdade e da criatividade e qualquer imposição de regras e punições passou a ser vista como traumática. Deu no que deu: alunos que agridem colegas e professores verbal e fisicamente, salas de aula incontroláveis. Hoje não é permitido chamar a atenção dos alunos, nem expulsá-los de sala, nem levá-los à diretoria. Por motivo nenhum. Isso mesmo: nada que o aluno faça pode ser cerceado. Não há aula que prospere em um ambiente assim. É preciso voltar a impor, sim IMPOR, a disciplina nas salas de aula.
8 – Falta de leituraEsse é um problema de longa data no Brasil. Faz parte da cultura brasileira geral rejeitar a leitura, sempre preterida em favor da TV, da internet, da cerveja. É fundamental incentivar a leitura, com o uso de livros adequados à idade dos estudantes. Os pais também devem estimular o hábito, mostrando aos filhos, desde bem pequenos, os prazeres da leitura.
9 – Cultura da celebridadeCom todo o respeito ao trabalho que fazem, jogadores de futebol, modelos, atores e “BBBs” tendem a ser maus exemplos para os estudantes. O fato de estarem o tempo todo na TV e nas revistas, exibindo fama e bens materiais caríssimos, induz muitos estudantes, especialmente os mais pobres, a pensar que esse é um caminho mais fácil para ganhar a vida, um caminho que dispensa os estudos. O problema é que a maioria não entende que esse caminho é aberto para pouquíssimas pessoas, e em geral se mantém aberto por pouquíssimo tempo. Só farão sucesso e ficarão ricos aqueles que efetivamente se esforçarem e forem realmente muito bons no que fazem, enquanto os demais cairão no justo esquecimento. A cultura da celebridade faz os estudantes pensarem que é possível “chegar lá” sem esforço, e é um tremendo desestímulo à educação.
10 – Aulas chatas
Sim, há conteúdos mais chatos, há aulas muito ruins. É preciso melhorar o modelo das aulas, ancorá-las mais na realidade (o que não tem NADA a ver com torná-las ideológicas). As aulas de ciência podem ser mais experimentais, mais práticas, por exemplo. Para isso, é preciso, naturalmente, mais dinheiro, mais recursos, e professores mais bem preparados.
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http://domonte.wordpress.com/2013/10/25/10-razoes-para-a-pessima-qualidade-da-educacao-brasileira/
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2013/07/522409.shtml
Letra A- | A+A Educação Precisa de Respostas | 30/08/2012 05h05min
Por que o Brasil está no 88º lugar no ranking mundial da educação?A gestão ineficiente, o desprestígio do magistério e a má formação dos professores são alguns dos empecilhos ao salto educacional brasileiro
Marcelo Gonzatto | [email protected]
Os problemas da educação brasileira extrapolam os limites dasala de aula. O desempenho pífio revelado em avaliações internacionais se deve a uma combinação de falhas de educadores, governantes e famílias, na opinião de especialistas. Essas deficiências incluem erros de gestão, falta de recursos e pouca cobrança social por resultados que façam jus ao atual peso econômico e político do Brasil.O desafio de alcançar um ensino de qualidade foi eleito o tema da nova campanha institucional do Grupo RBS, deflagrada na terça-feira sob o slogan A Educação Precisa de Respostas. Para investigar quais são os principais nós que comprometem a aprendizagem no país e descobrir como desatá-los, uma série de reportagens em rádios, tevês e jornais vai responder a questionamentos concretos sobre o atual cenário da educação nacional.A primeira dessas perguntas é como pode um país que alcançou a sexta posição entre as maiores economias do planeta ostentar um constrangedor 88º lugar em um ranking mundial publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no ano passado. As respostas,
oferecidas por especialistas nacionais na área, resumem os principais entraves ao avanço educacionalbrasileiro.Superados estes obstáculos, o país poderia experimentar nos próximos anos um acréscimo de qualidade significativo nas escolas e vencer um atraso histórico.— Temos de levar em conta que começamos a nos preocupar com educação com quatro, cinco séculos de atraso em relação a outros países. É impossível recuperar isso do dia para a noite, mas temos de investir melhor para não perdermos mais tempo — observa o economista Claudio de Moura Castro.Confira, a seguir, alguns dos principais empecilhos ao saltoeducacional brasileiro.1 - GESTÃO INEFICIENTEEspecialistas em educação sustentam que não basta apenas despejar mais dinheiro no sistema educacional brasileiro. Outra disciplina em que o país encontra dificuldades é como aplicar bem os recursos disponíveis — que este ano devem somar R$ 114 bilhões.— Há mau gerenciamento, e não é porque as pessoas são incompetentes. As estruturas são viciadas por clientelismo e corporativismo. Há nomeações políticas de diretores, em muitos lugares há dois professores para cada classe, tem muita gente que não trabalha. É uma cultura gerencial difícil de desmontar — avalia o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira.ExercícioA proporção de alunos por professor é ruim em muitas regiões do país. Conforme informações da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, em cidades do Piauí, por exemplo, há apenas oito alunos para cada professor — o que torna o sistema caro e pouco eficiente.No Rio Grande do Sul, um estudo da especialista em Educação e ex-secretária estadual Mariza Abreu aponta que há 17 alunos por professor na rede estadual — mas, considerando os educadores que estão fora de aula, cedidos para outras atividades, essa média cai para 15 por um. A própria CNTE entende que esse indicador deveria ficar entre 18 e 23 para um.Tema de casaO Brasil deve aprimorar a gestão da educação, melhorar a administração escolar, evitar interferências políticas e qualificar a distribuição de recursos e pessoal para aumentar a eficiência das redes de ensino.
2 - DESPRESTÍGIO DO MAGISTÉRIOFalhas na gestão do ensino explicam, em parte, a dificuldade para desatar outro nó da educação brasileira: a baixa remuneração dos professores — tanto na rede pública quanto na particular. Os baixos salários têm duplo impacto: além de oferecerem pouco estímulo aos profissionais em ação, afugentam da carreira muitos dos melhores alunos.– A baixa aprendizagem decorre da ausência de professores com qualidade. Tornar o magistério um objeto de desejo dos jovens é fundamental. Nos países com boa educação, ser professor tem bom retorno financeiro e reconhecimento social — avalia Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos pela Educação.No Painel RBS realizado na terça, o especialista observou que, enquanto um professor ganha, em média, R$ 1,8 mil, outro profissional com titulação equivalente recebe R$ 2,8 mil. Países que estão no topo da educação mundial, como Coreia do Sul e Finlândia, pagam bem seus professores, o que lhes permite atrair mais interessados e selecionar os melhores.ExercícioNo Brasil, um professor que receba o piso nacional de R$ 1.451 acumula ao longo de um ano, incluindo o 13º salário, o equivalente a cerca de US$ 9,3 mil.Tema de casaPara melhorar as condições de vida dos professores e atrair profissionais mais capazes, o país precisa elevar a remuneração dos educadores. A média dos países da OCDE, por exemplo, fica ao redor de US$ 30 mil anuais, cerca de três vezes mais do que o piso brasileiro em dólar.3 - MÁ FORMAÇÃO DOS PROFESSORESPara especialistas, o modelo de treinamento dos mestres brasileiros é uma das razões principais para o desempenho pífio dos estudantes nas avaliações nacionais e internacionais. A principal crítica é de que os cursos não preparam adequadamente.— Em primeiro lugar, para se formar um bom professor, você tem de aprender o conteúdo a ser ensinado. Em segundo, você tem de aprender a dar aula. O terceiro é tudo mais, ou seja, cultura, ideologia, identidade do professor, antropologia e sociologia da educação, legislação, tudo o que é periférico. No Brasil, as faculdades só ensinam o “tudo mais”, o periférico. Faltam os
temas centrais — diz o economista e especialista em educação Claudio de Moura Castro.ExercícioAlém da má formação, em muitos casos o professor brasileiro não tem a graduação exigida para dar aula.Tema de casaNa avaliação de especialistas, o Brasil precisa revisar a formação dos professores, agregando mais prática à teoria, e ampliar o acesso dos educadores aos cursos superiores de licenciatura.4 - BAIXO INVESTIMENTO NA EDUCAÇÃO BÁSICAUm dos problemas que o país precisa resolver para elevar a qualidade do seu ensino é de matemática. O Brasil aplica, em média, um valor muito baixo para cada estudante da educação básica. O gasto público, em 2010, era de apenas R$ 3,5 mil ao longo de um ano. Isso representa todo o investimento estatal feito diretamente em educação dividido pelo número de alunos.— Ainda investimos menos do que países como Argentina, México ou Chile — compara Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos Pela Educação.Uma comparação internacional feita com base nas cifras aplicadas em 2008 convertidas para dólar demonstra que, em uma lista de 34 países, o Brasil só aplicou mais dinheiro por aluno de qualquer nível de ensino do que a China. Outro problema é o desequilíbrio entre os níveis educacionais. Enquanto há R$ 17,9 mil disponíveis ao ano para cada universitário, o estudante do Fundamental ao Médio conta com cinco vezes menos.Tema de casaO Brasil está discutindo para quanto deve se elevar o gasto nacional em educação. Atualmente em 5,1% do PIB, o novo Plano Nacional de Educação prevê um crescimento para até 10%.5 - POUCA INOVAÇÃO NA SALA DE AULAAs dificuldades de formação e remuneração dos profissionais da educação, somadas às restrições de orçamento, resultam em outro problema: a dificuldade para apresentar um sistema de ensino renovado, inovador e capaz de despertar o interesse dos estudantes.— Temos hoje uma situação em que a escola é do século 19, o professor é do século 20, mas o aluno é do século 21. Precisamos colocar todos no mesmo século. Para isso, é preciso
ter um currículo atraente, com inovação e criação de mecanismos que estimulem a pesquisa. O aluno do século 21 não quer coisa pronta, enlatada – analisa Mozart Neves Ramos.ExercícioA pesquisa O Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação nas Escolas Brasileiras, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, mostrou no ano passado que 92% das escolas públicas urbanas têm computador conectado à internet, mas......apenas 4% dos equipamentos estão presentes na sala de aula....64% dos professores acreditam que os alunos sabem mais do que eles sobre uso da informática....75% dos educadores dependem de apoio informal para usar a informática na educação.Tema de casaO país precisa realizar uma combinação de mais investimento, melhor formação e estímulo à renovação das práticas de ensino a fim de torná-lo mais atraente, interativo e adequado ao mundo digital do século 21.6 - BAIXA PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADEOs problemas da educação brasileira não estão apenas dentro do colégio. Um dos elementos apontados para o mau desempenho internacional é o pouco envolvimento de quem está do lado de fora dos muros escolares no universo da educação. A pouca intimidade foi demonstrada pela pesquisa Educar Para Crescer, realizada pelo Ibope: 72% das famílias brasileiras se dizem “satisfeitas”com a educação nacional, e dão uma média 7 (em uma escala de zero a 10) para as escolas públicas e privadas.ExercícioConfira indícios da pouca importância que a educação tem no imaginário da população brasileira:— 70% não sabem o que o prefeito está fazendo para melhorar a qualidade do ensino— 1% dos eleitores considera as propostas de educação determinantes na hora do voto— 89% não veem a educação como principal problema do país— 20% acreditam que a educação também também responsabilidade da população— 7% acham que educação é responsabilidade dos pais— 68% pensam que a responsabilidade é do governo
http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/precisamosderespostas/19,1430,3869663,Por-que-o-Brasil-esta-no-88-lugar-no-ranking-mundial-da-educacao.html
http://www.implicante.org/noticias/divida-publica-brasileira-gracas-pt-bomba-prestes-explodir/
http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/15-numeros-preocupantes-sobre-a-educacao-no-mundo#6
http://hilariogomes2008.blogspot.com.br/2014/01/brasil-e-8-pais-em-analfabetismo-do.html
http://mundoprosa.blogspot.com.br/2009/10/por-que-educacao-deu-certo-em-outros.html#
QUARTA-FEIRA, 21 DE OUTUBRO DE 2009
"Por que a educação deu certo em outros países e não deu certo no Brasil?"Por: Cristovam Buarque*
A Câmara dos Deputados realizou nesta semana um oportuno debate com uma
pergunta: "Por que a educação deu certo em outros países e não deu certo no Brasil?"A resposta exige apenas três palavras: "Porque eles quiseram". A pergunta então é: "Por que não quisemos?".
Por quatro razões: primeira, cultural. Não somos um povo, elite e massa, com
visão e sentimento de que educação é um valor fundamental. Para nós, educação
é, no máximo, um serviço público, como água, esgoto; com valor inferior aos investimentos na infra-estrutura econômica como energia, transporte, estrada,
portos, aeroportos, bancos, e inferior também aos bens de consumo. Nenhuma família brasileira compraria uma televisão em uma loja parecida com a escola onde deixa seus filhos.
Faz parte da cultura brasileira ver a educação como um capítulo secundário ao
propósito de renda, patrimônio, bem estar, soberania, justiça, democracia. O
padrão de beleza é físico, jamais um jovem é tido como atraente por seus
conhecimentos, por suas notas na escola. As novelas mostram seus heróis com
base na riqueza, na saúde, no corpo atlético, nunca na formação literária, filosófica ou científica. E, se fizer essa inversão, parecerá falso.
Mesmo aqueles que se preocupam com a educação dos filhos, olham menos o conhecimento que terão do que as vantagens salariais que poderão obter com seus conhecimentos. Por isso, no Brasil, o interesse é maior com o diploma do que conhecimento.
Segunda, histórica. A cultura é conseqüência da história. A população deseducada não dá valor à educação. A má escola de hoje é vista como boa, porque os pais nada tiveram, agora seus filhos têm onde ficar, comer e ter a impressão que
estudam. A exclusão gera a aceitação da exclusão, como as castas na Índia.
No Brasil, os pobres vêem as boas escolas como um direito apenas dos filhos dos ricos, e os ricos acham que basta educar seus filhos. Os primeiros acham que não é possível uma boa escola para todos, os outros acham que não é preciso.
Terceira, política. Somos um povo dividido entre elite e povão. E historicamente a
vontade política é orientada para atender aos desejos da minoria privilegiada, não
às necessidades das massas excluídas. Isso vale tanto para os produtos da economia, que atendem ao mercado formado pela renda dos ricos; como para os serviços sociais: moradia, água, esgoto, transporte, cultura e também educação. Por isso, os aeroportos, por exemplo, são federais, mas as rodoviárias, municipais
ou estaduais; as universidades, as escolas técnicas são federais, mas as escolas básicas, municipais ou estaduais. Quando os aeroportos entram em crise, o ministro é substituído, surge dinheiro para novas pistas, trens para levar os passageiros da cidade a novos aeroportos. Mas a tragédia educacional das greves se arrasta por meses sem qualquer ação da parte dos governos, especialmente o federal.
Quarta, abandono. Na educação, décadas de abandono fizeram com que o abandono gerasse um descaso ainda maior. O abandono provocou greves, as greves provocam mais abandono; o mesmo se passa com os baixos salários, e a
perda de interesse dos professores, com as más condições dos prédios, com o roubo de equipamentos; com a violência.
São essas as principais razões que impedem o Brasil de dar o salto na educação: por falta de uma consciência social que nos impede de ter a vontade política coletiva de mudar.Por isso, é tão difícil fazer a revolução educacional no Brasil. Não é porque não sabemos como fazer, é porque ainda não nos convencemos de que é preciso fazer.
A saída é fazer da educação uma questão nacional, fazer da escola uma responsabilidade federal. Tomar a decisão de que as escolas terão a mesma qualidade, independente da família em que a criança nasceu e da cidade onde vive. O desafio é convencer o povo de que isso é possível e preciso.
São essas as principais razões que impedem o Brasil de dar o salto na educação: por falta de uma consciência social que nos impede de ter a vontade política coletiva de mudar.Por isso, é tão difícil fazer a revolução educacional no Brasil. Não é porque não sabemos como fazer, é porque ainda não nos convencemos de que é preciso fazer.
A maior tarefa, de quem quiser mudar a educação brasileira, é assumir o papel de educacionista, convencer, conscientizar os brasileiros de que é preciso e é
possível, fazer essa revolução. Só mudando a cabeça do Brasil é que vamos educar as cabeças de nossas crianças, com a qualidade e a igualdade de que o Brasil precisa.
Cristovam Buarque é senador
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-a-finlandia-esta-fascinando-o-mundo-com-seu-sistema-de-educacao/
Por que o sistema de educação da Finlândia é tão reverenciado
inShare1
Postado em 31 Oct 2013por : Paulo Nogueira
Saiu há pouco tempo um levantamento sobre educação no mundo
feito pela editora britânica que publica a revista Economist, a
Pearson.
É um comparativo no qual foram incluídos países com dados
confiáveis suficientes para que se pudesse fazer o estudo.
Você pode adivinhar em que lugar o Brasil ficou. Seria rebaixado,
caso fosse um campeonato de futebol. Disputou a última colocação
com o México e a Indonésia.
Surpresa? Dificilmente.
Assim como não existe surpresa no vencedor. De onde vem? Da
Escandinávia, naturalmente – uma região quase utópica que vai se
tornando um modelo para o mundo moderno.
Foi a Finlândia a vencedora. A Finlândia costuma ficar em primeiro
ou segundo lugar nas competições internacionais de estudantes, nas
quais as disciplinas testadas são compreensão e redação, matemática
e ciências.
A mídia internacional tem coberto o assim chamado “fenômeno
finlandês” com encanto e empenho. Educadores de todas as partes
têm ido para lá para aprender o segredo.
Se alguém leu alguma reportagem na imprensa brasileira, ou soube
de alguma autoridade da educação que tenha ido à Finlândia, favor
notificar. Nada vi, e também aí não tenho o direito de me
surpreender.
Algumas coisas básicas no sistema finlandês:
1)Todas as crianças têm direito ao mesmo ensino. Não importa se é o
filho do premiê ou do porteiro.
2)Todas as escolas são públicas, e oferecem, além do ensino, serviços
médicos e dentários, e também comida.
3) Os professores são extraídos dos 10% mais bem colocados entre
os graduados.
4) As crianças têm um professor particular disponível para casos em
que necessitem de reforço.
5) Nos primeiros anos de aprendizado, as crianças não são
submetidas a nenhum teste.
6) Os alunos são instados a falar mais que os professores nas salas de
aula. (Nos Estados Unidos, uma pesquisa mostrou que 85% do tempo
numa sala é o professor que fala.)
Isto é uma amostra, apenas.
Claro que, para fazer isso, são necessários recursos. A carga
tributária na Finlândia é de cerca de 50% do PIB. (No México, é 20%.
No Brasil, 35%.)
Já escrevi várias vezes: os escandinavos formaram um consenso
segundo o qual pagar impostos é o preço – módico – para ter uma
sociedade harmoniosa.
Não é à toa que, também nas listas internacionais de satisfação, os
escandinavos apareçam sistematicamente como as pessoas
mais felizes do mundo.
Para ver de perto o jeito finlandês de educar crianças, basta ver um
fascinante documentário de 2011 feito por americanos.
Comecei a ver, e não consegui parar, como se estivesse assistindo a
um suspense. Achei no YouTube uma cópia com legendas em
espanhol. Está no pé deste texto.
Todos os educadores, todas as escolas, todas as pessoas interessadas
na educação, no Brasil, deveriam ver e discutir o documentário.
Quanto antes.
Leia mais: E se o Brasil se transformasse numa grande Dinamarca.
Leia mais: Por que a Escandinávia é tão especial.
45 sugestões para melhorar a educação no Brasil
Postado por: Ensineiro Em: Notícias | comentário : 4
Olá leitores do Canal do Ensino!
Alunos vão para escola e não aprendem, o governo gasta bilhões e a educação no Brasil não
decola. Veja 45 sugestões para mudar esta realidade no país.
1 – Usar de modo eficiente o tempo em sala de aula
Muitas das medidas que poderiam causar grande transformação na sala de aula não
acarretariam em gasto algum. Usar de maneira eficiente o tempo em que alunos já estão na
escola é uma delas.
Estudo do Banco Mundial divulgado no ano passado, realizado a partir da observação in loco
de pesquisadores da instituição, mostrou que apenas 66% do tempo de sala de aula no Brasil é
gasto efetivamente com o ensino.
Outros 34% são desperdiçados com atividades burocráticas, como chamada, a cópia de
deveres decasa ou pedindo disciplina. A cota de “desperdício” em países da OCDE é de
apenas 15%. Usar sabiamente o tempo em sala de aula é uma das mais baratas e eficientes
maneiras de melhorar a educação no Brasil.
2 – Abandonar ideia de que só vale agir com mais dinheiro
Virou moda no Brasil pensar que os problemas da educação só serão resolvidos se houver
muito mais dinheiro para o setor. Nesta linha, a principal bandeira da União Nacional dos
Estudantes e de alguns parlamentares é a destinação imediata de 10% do PIB para a
educação.
O país que mais investe no mundo hoje, a Islândia, despeja apenas 7,8% de sua riquezas.
“É um fetiche por um número redondo”, afirma Gustavo Ioschpe, economista especialista em
educação.
O problema real desta ideia é que causa uma aparente paralisia dos envolvidos para as
melhoras que podem – e devem – ser efetuadas agora. Enuanto a agenda quantitativa é
perseguida com lobby no Congresso, a qualitativa fica esquecida por professores e gestores
que compram a ideia de que só mais verba pode melhorar a educação no Brasil.
3 – Universalizar a educação de verdade
Nas últimas duas décadas, o Brasil quase conseguiu universalizar a educação pública em um
processo notável e propalado pelos governantes de plantão.
A palavra universalizar, no entanto, esconde ainda um montante de 3,8 milhões de crianças e
jovensentre 4 e 17 anos fora da escola, segundo dados do Movimento Todos pela Educação.
O problema é concentrado no universo de crianças entre 4 e 5 anos e jovens acima de 14
anos. No meio deles, a educação é quase universalizada. Rumo a uma educação de qualidade,
o Brasil deve avançar mais.
4 – Reformular o Ensino Médio
Do estado periclitante da educação brasileira, nenhum é tão ruim quanto do Ensino Médio.
Entre as notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a do ensino médio é
a mais baixa: 3,1, de 10.
Parte das pessoas culpa o número de disciplinas ensinadas aos estudantes, 13; a outra, a
maneira enciclopédica, que tenta ser passada de maneira mais profunda que o necessário.
Escreveu em um blog um aluno bolsista da Fundação Estudar, quando estudava nos Estados
Unidos: “Aqui o aluno não tem que aprender Matemática, Biologia ou Geografia em detalhe”,
constatou.
O fato é que o assunto voltou à tona recentemente, quando o Ministro da Educação, Aloízio
Mercadante, mostrou disposição de mudar o ensino médio, tornando-o mais multidisciplinar e
integrado.
5 – Garantir escolas com infraestrutura decente
Tem razão a garota Isadora Faber, de 13 anos, que desde agosto ficou famosa ao denunciar a
condição precária de sua escola pela página no Facebook Diário de Classe. É dela a foto ao
lado.
Embora haja exemplos pontuais de professores que conseguiram arrancar um bom
desempenho de crianças e jovens em escolas em péssimas condições, é unânime entre
educadores, apoiados em pesquisas, que uma infraestrutura adequada, com lousas e giz (ou
caneta), instalações cuidadas e carteiras, sem falta de materiais necessários ao aprendizado,
acarretam em melhor resultados dos alunos.
Acabar com a desigualdade entre escolas públicas bem cuidadas e outras caindo aos pedaços,
com falta de materiais, é dar oportunidades equânimes aos brasileiros de todas as regiões.
6 – Cooptar alunos talentosos para magistério
Uma pesquisa da Fundação Victor Civita, em 2009, constatou que a carreira de professor
costuma ser hoje mais procurada por estudantes da rede pública, muitas vezes vindos de um
panorama menos favorecido em termos escolares, culturais e financeiros.
É uma diferença brutal para países como Finlândia e Coreia do Sul, onde os melhores alunos
querem ser professores, até mesmo do do ensino básico. No Brasil, somente os docentes de
nível superior parecem manter algum prestígio como carreira.
Fazer a educação brasileira se equiparar a destes países necessariamente passará por tornar
a docência do ensino fundamental e médio atrativas no país.
A questão pode até perpassar melhores salários. Sabe-se, no entanto, que aumentar o soldo
não melhorará o trabalho dos professores que estão aí, embora possa servir para atrair alunos
mais bem aplicados no futuro.
Mas é preciso aumentar a dinâmica da carreira para atrair uma geração mais interessada em
ascender do que ficar 30 anos exatamente fazendo a mesma coisa.
E, quem sabe, conseguir atrair estudantes como o paraibano Felipe Abella, da foto ao lado,
acostumado a ficar entre os primeiros em Olimpíadas mundiais do conhecimento, antes e
depois de entrar na universidade.
7 – Implantar a meritocracia para professor
Prática adotada em várias profissões com ótimos resultados, a meritocracia ainda precisa ser
implantada de verdade no país, mas com cuidados. Em educação, o conceito não se restringe
ao pagamento de bônus.
Este, inclusive, demanda cuidados.
As pesquisas no setor não permitem concluir se o sistema funciona, ou como deveria funcionar.
O principal problema é isolar o papel do professor. Como dar menor bônus a um docente do 6º
ano que conseguiu elevar o desempenho de alunos com deficiências em 50%, em relação ao
professor que, com uma turma já melhor formada, quase nada fez? Mesmo que, ao final do
ano, o desempenho da segunda turma ainda seja melhor.
Mas meritocracia é um conceito amplo que deve permear todo o sistema: da escolha dos
gestores aos repasses para a escola, entre outros.
8 – Criar um currículo nacional
O Ministério da Saúde, para padronizar o atendimento de uma pessoa doente em Manaus ou
no interior do Paraná, lança os chamados Protocolos Clínicos (PCDT) de várias doenças. O
Ministério da Educação não faz o mesmo com sua área.
Nem estabelece o que as crianças deveriam aprender em cada idade, o que seria um
importante instrumento para medir – e se cobrar – qualidade no ensino.
“A justificativa disso é deixar o professor contextualizar na sua sala o que o aluno deve
aprender. Mas quando o governo não cria um currículo, ele deixa alguém criar”, afirma Denis
Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, organização criada pelo empresário Jorge
Paulo Lemann para trazer soluções para a educação brasileira.
No caso, são os próprios professores e as editoras de livros escolares que terminam por decidir
algo que deveria ser definido pelo governo. É possível resolver o problema ainda dando espaço
para diferenças regionais e culturais.
9 – Combater o absenteísmo
Os 200 dias letivos e as 800 horas-aula do Brasil hoje são uma ilusão. Ilusão porque, como
visto, este tempo é em grande parte desperdiçado. Ilusão, também, porque nem todos os
professores trabalham todos os dias.
“É como chegar no trabalho e em um dia a porta está fechada, no outro o chefe não aparece, e
por aí vai”, afirma Denis Mizne, da Fundação Lemann. O resultado é que isso dificulta a cultura
de estudar dos alunos.
Trinta e três por cento dos gestores escolares reconhecem que os professores faltam “muito”,
mas levantamentos de secretarias estaduais mostram números bem mais chocantes.
As consequências são desastrosas. Em “A Falta faz falta?”, pesquisadores da FGV e do
Mackenzie constataram que a nota média dos alunos em matemática piorava 5% a cada 10
dias faltados pelos professores. É preciso conhecer as causas do problema a fundo – e
combatê-las.
10 – Usar mais tecnologia (software)
Quanto mais você pesquisa no Google ou participa da rede social Facebook, mais a internet
conhece você e seus gostos, criando um poderoso material para venda de publicidade por
parte dessas empresas. Os faturamentos são bilionários.
Surpreende, portanto, que softwares inteligentes não estejam sendo usados para o bem
coletivo através da educação.
“A vantagem da tecnologia é permitir a individualização da aprendizagem, algo que a
pedagogia defende há muito tempo”, afirma Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação
Lemann.
O uso mais intensivo de tecnologia, porém, não é o demagógico conceito de entregar tablets e
computadores para crianças sem saber o que fazer com eles, algo que se provou um fracasso
no programa Um Computador por Aluno.
“O tablet é a lousa, o que vai ser escrito é que importa”, defende Mizne. Por isso, é mais
importante definir um bom e eficiente software. Um que possa aprender com o aluno conforme
ele estuda, por exemplo.
11 – Trocar informações dentro da rede de ensino
As notas do Ideb por escola mostram anomalias que não deveriam existir: instituições distintas
que ensinam crianças da mesma idade, com mesmo perfil socioeconômico em uma mesma
região arrancam desempenho díspares dos alunos.
Essa troca de informação – homogeneizando o que dá certo em uma determinada área – é
obrigação para a educação brasileira, e um equalizador de qualidade fácil de ser observado e
alcançado.
A Finlândia, um dos melhores sistemas educacionais do mundo, é conhecida justamente pela
quase irrelevante discrepância entre suas escolas públicas.
12 – Acabar com indicação política para diretor
Persiste no Brasil a indicação política para os cargos de diretor de escolas públicas. O método
é adotado por 42% das secretarias estaduais, apontou uma pesquisa da Fundação Victor Civita
no ano passado.
Tal qual se observa quando os partidos abocanham cargos eminentemente técnicos na esfera
federal, o método só traz malefícios quando comparados à eleição direta pela comunidade
escolar ou por concurso público, outros métodos empregados com maior valorização da
meritocracia.
13 – Impedir que criança vá a escola e não aprenda
Quase 98% das crianças e jovens entre 6 e 14 anos estão na escola. Seria o cenário ideal, não
fosse um único problema: eles não estão aprendendo de verdade.
Parte deles, nem a ler e interpretar textos de tal maneira que possam ser considerados
alfabetizados. É
como se os pais estivessem sendo enganados ao ver os filhos indo à escola.
O IBGE considera 15,2% dos alunos com até 8 anos ainda não alfabetizados, mas na Prova
ABC, aplicada pelo INEP e pelo Todos pela Educação no ano passado, 51% das crianças não
aprenderam o que deveriam até o 8 anos.
São crianças que, pelas dificuldades, aprenderão cada vez menos com o passar dos anos,
porque nunca dominaram o básico. O governo federal finalmente deu ao problema a atenção
merecida com o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, lançado este mês.
14 – Empresas devem atuar
É o governo, sem dúvida, que tem o poder e a responsabilidade de travar uma batalha que
melhore o panorama da educação no Brasil. Mas em um país entre as 10 economias do
mundo, aberto ao mercado, empresas podem e devem estar cientes de que a educação é o
melhor setor para exercer a responsabilidade social corporativa.
“Temos que pensar no médio e longo prazo”, afirma o Diretor de Pessoas e Organização da
Odebrecht Infraestrutura, Paulo Quaresma.
Desde 2008, a empresa, responsável por obras gigantescas em locais isolados, como Belo
Monte, treinou 66 mil pessoas – 70% delas vindas do Bolsa Família – para trabalhar em seus
canteiros. Terminou contratando apenas 40 mil.
“O que significa que 26 mil não foram contratadas, mas estão com qualificação básica”, afirma
Quaresma. Mesmo que sua empresa não seja uma gigante, pode ajudar, e ser ajudada, ao
investir em educação.
15 – Mudar o currículo do curso de pedagogia
No Canadá, a ênfase dos professores é na ponta do processo: naquilo que ele vai ensinar em
sala de aula. “Aqui, é para o professor ser um pensador em educação”, constata Priscila Cruz,
diretora-executiva do Todos pela Educação.
Apenas 20,7% das aulas é efetivamente sobre o quê ensinar, mostra um levantamento da
Fundação Victor Civita. E menos ainda sobre como ensinar.
Assim, os aspirantes a docência se deparam com “História da Educação” e “Filosofia da
Educação” mais do que com o que deveria ser o objetivo central da sua aula: fazer o aluno
apreender tudo que for ensinado.
16 – Antes de pedir vaga, pais devem exigir qualidade
Uma grande pesquisa conduzida em 2005 pelo Inep, vinculado ao Ministério da Educação,
mostrou que, de maneira geral, os pais de alunos da rede pública estão satisfeitos com as
escolas dos filhos.
Muitas notas dadas pelos responsáveis passavam de 75 (de um total de 100). A visão positiva
está muito ligada ao fato dos pais perceberem a evolução da escola dos filhos em relação à
sua própria.
No mesmo ano, no Ideb, a mais importante avaliação de ensino do país, o Brasil inteiro cravou
um desonroso 3,8, de um total de 10.
O problema desta visão é que as mudanças
necessárias ao sistema educacional só serão efetuadas por um governante que perceba que é
melhor atender a milhões de pais exigentes que aos 5 milhões de professores e técnicos do
setor, que podem se posicionar contra várias das medidas necessárias.
“Se você tiver 20 milhões de pais dizendo que querem reforma e educação de qualidade, então
o quadro político fará sentido”, afirma o economista especialista em educação Gustavo
Ioschpe.
17 – Ampliar educação técnica e profissional
O Brasil tem hoje 1,3 milhão de estudantes cursando aulas de ensino técnico. Em
universidades e faculdades, são 6,6 milhões.
“Estamos apostando em 6 profissionais de nível superior para cada um de nível técnico. Isso
não é sustentável”, defende Marcelo Feres, secretário de Educação Profissional e Tecnológica
do Ministério da Educação.
De 15 a 19 anos, mais de 50% dos jovens alemães têm aulas de ensino profissionalizante com
a educação regular. No Brasil, ficamos em 6,6%.
É preciso acelerar a reversão deste cenário, para o bem da empregabilidade dos jovens e do
desenvolvimento econômico brasileiro.
O governo mostrou que quer combater este cenário com o Pronatec, programa que pretende
ampliar o acesso a este tipo de curso no país. Até 2014, a meta é chegar a 8,8 milhões de
beneficiários. É ver para crer.
18 – Combater a repetência com mais reforço escolar
As taxas de repetência no Brasil são coisa séria na rede pública: 14,1% no ensino médio e
10,6% no ensino fundamental. Significa que de cada 100 alunos, 13 estão cursando a mesma
série do ano anterior. A taxa está entre as maiores da América Latina e bem distante da de
países desenvolvidos.
Uma das bases do sistema finlandês é não deixar ninguém para trás – pesquisas comprovam
que a repetência é um grande desestímulo que atinge as notas do estudante por toda a vida,
além de um grande incentivo à evasão – o que significa fornecer reforço escolar para um
grande número de jovens, quase como uma educação paralela, com professores habilitados
para esse fim, durante todo o ano.
Um sistema com bem mais chances de sucesso que fornecer aos alunos, em poucas semanas,
todo o conteúdo do ano, na chamada – e temida – recuperação.
O mito de que a repetência dá base para o aluno é falso: nada garante que, ensinado da
mesma maneira, o aluno vá finalmente aprender no ano seguinte o que não conseguiu neste.
19 – Mais escolas de tempo integral
Hoje, 32 mil das 156 mil escolas brasileiras têm ensino integral em algum grau, isto é, o aluno
tem as 4 horas normais de aula, mas também estudos complementares no outro turno. O
governo tem 1,5 bilhão de reais para aumentar este número a até 60 mil até 2014.
Segue na direção certa. A educação integral não precisa ser regra nem maioria, mas é
particularmente benéfica para os estudantes de menor renda, que têm menos acesso a itens
culturais em casa.
“Se estudam de manhã, à tarde filhos de pais abastados são levados para o inglês e têm livros
em casa. Mas as crianças pobres não têm isso”, afirma Priscilla Cruz, diretora-executiva do
Todos pela Educação.
20 – Capacitar professores com enfoque na prática
Quando se fala em educação continuada hoje no Brasil, principalmente no âmbito municipal,
normalmente o que se quer dizer são a realização de eventos que misturam lazer e palestras
de autoajuda para estimular o professor a ensinar.
Nada que vá ter resultado no dia seguinte em sala de aula, basicamente.
Assim como é preciso aperfeiçoar o curso de pedagogia, é preciso também capacitar
professores, claro, mas com foco em resultados. Fazer com que os gastos de prefeituras com
capacitação se transformem, de fato, em resultado para os alunos.
21 – Combater a deficiência em matemática
No 5º ano do ensino fundamental, apenas 37% dos estudantes aprenderam o adequado para a
série em português. Ao final do 9º ano, este índice cai 15 pontos percentuais. Matemática
começa próximo disso: apenas 33% de quem esta no 5º anos conhece o conteúdo que deveria.
Mas ao final da 9º, o aprendizado d
espenca para 21 pontos percentuais, para 12%.
É fato: números são um desafio para as nossas crianças e jovens. E elas não gostam de lidar
com eles. Parte do problema pode estar em quem ensina. “O professor morre de medo da
matemática porque não sabe (o conteúdo)”, afirmou Cláudio de Moura Castro, economista
especialista em educação, ao falar com EXAME.com sobre os desafios para tornar o Brasil um
país de engenheiros.
Se a dificuldade em matemática é conhecida, então deveria haver um esforço adicional para
que crianças possam aprender de fato a disciplina. O Brasil precisa de engenheiros. Mas tem
que começar cedo a tornar os números menos temidos pela criançada.
22 – Corrupção: coibir os desvios da educação
Os custos estimados que o Brasil perde com a corrupção variam. Começam na casa dos 40
bilhões e daí só sobem. Independentemente do valor, o ralo por onde escoa esse montante é
particularmente grande na saúde e educação.
Um projeto do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) em avaliação na Comissão de
Constituição e Justiça pretende transformar em crime hediondo o desvio de verbas destinadas
a programas destes setores.
Antes de se falar em aumento de recursos para a educação, vale fechar a torneira, com maior
fiscalização e, principalmente, punição a quem desvia dinheiro da chave essencial do
desenvolvimento brasileiro.
23 – Priorizar o aprendizado em todo o sistema
“Assegurar que os alunos aprendam” é, dentre as finalidades da escola, apenas a quarta na
ordem de importância para os diretores escolares entrevistados por uma pesquisa da
Fundação Victor Civita.
Primeiro, aparecem “formar cidadãos”, “estimular o espírito crítico” e “assegurar igualdade de
oportunidades”.
É por essa falta de foco pragmático no aprendizado espalhada por toda cadeia educacional que
no Brasil consegue-se criar cursos para professores em que o ato de fazer os outros
aprenderem passa ao largo.
Para Priscila Cruz, do Todos pela Educação, o foco no aprender seria uma mudança “sutil”,
mas com poder para transformar tudo no país: do dia a dia dos professores ao curso de
capacitação docente e a formulação de politicas públicas.
Para os pais, seria fazer com que se importassem com o que o filho efetivamente aprende,
mais do que com as instalações escolares ou a presença de computadores, como é hoje. É
uma mudança de mentalidade que traria progressos.
24 – Começar a competir a nível mundial
Quando for decidir suas metas, o Brasil precisa olhar o mundo. Todos os pesquisadores da
educação que estudaram a fundo sistemas educacionais tidos de excelência, como da
Finlândia e Coreia do Sul, são unânimes em apontar que não se pode importar nenhum deles
pela particularidade da sociedade brasileira.
Sem dúvida, no entanto, a vontade de estar entre os melhores do mundo é uma característica
comum.
”Xangai (primeiro lugar nos teste do Pisa, importante estudo comparativo internacional) tem
nível de renda parecido com brasileiro, mas desde 79 é um pais que pensa ‘somos pobres,
queremos ser ricos, não é tolerável ter educação de baixa qualidade, queremos qualidade
mundial.
E vamos ser pragmáticos: todo mundo vai ter que trabalhar mais, estudar mais e as famílias
participar mais. Essa filosofia é um conceito geral no qual o Brasil poderia se espelhar”,
acredita o economista Gustavo Ioschpe.
Os estudantes brasileiros não precisam, claro, ser obrigados a assistir a congressos do partido
no comando, como os alunos chineses na foto ao lado, mas não há razão para não importar
certos conceitos fundamentais.
25 – Enviar brasileiros para estudar no exterior
Uma receita exaustivamente adotada por Índia e China há anos passa a ser também prioridade
anunciada agora no Brasil: enviar para as melhores faculdades e universidades estrangeiras
alunos que irão, depois, trazer este conhecimento para o Brasil e aplicá-los de várias formas.
A China é hoje o país que mais envia estudantes ao exterior (atualmente, mais de 300 mil).
Metade deles vai para os Estados Unidos. Isso é também parte da receita que tornou a Índia
forte em engenharia, por exemplo.
O governo brasileiro, com o programa Ciência Sem Fronteiras, pretende diminuir a lacuna de
cerébros nacionais em território estrangeiro enviando mais de 100 mil bolsistas em quatro
anos.
O Brasil está atrasado em relação aos demais BRICs neste aspecto. Por isso, quanto mais,
melhor.
26 – Estimular vinda de estudantes estrangeiros
Assim como no turismo – onde os brasileiros gastam bem mais lá fora do que os estrangeiros
aqui – o Brasil pode até não enviar uma enorme força para estudar fora, mas recebe menos
ainda.
Segundo o Instituto Internacional de Educação, por exemplo, são 9 mil brasileiros cursando
ensino superior nos Estados Unidos, enquanto há 3,5 mil universitários norteamericanos aqui.
Mas observou-se um aumento de 12% na vinda de estudantes dos EUA no último ano.
É preciso expandir a capacidade do Brasil em receber esta massa de alunos. A presença deles
é, além de tudo, benéfica para lembrar com quem estamos competindo na busca pela
eficiência e competitividade que o Brasil precisa alcançar.
27 – Pais precisam acompanhar a vida escolar do filho
É preciso enfrentar a visão de que o fato de muitos filhos terem hoje mais escolaridade que os
pais torna um problema para estes acompanhar a vida escolar da prole. Mais importante que o
ensino. é o incentivo familiar.
Um estudo realizado em escolas latinoamericanaas por pesquisadores canadenses e
britânicos, em 2001, mostrou que a presença paterna está associada a um melhor aprendizado
das crianças.
Isso significa perguntar como foi a aula, o que está sendo feito e aprendido, estimular o filho a
fazer (bem) os deveres de casa, mas nunca dar a resposta do dever, mesmo que ela seja
conhecida.
Se possível, e havendo condição, é comprovadamente positivo também investir em livros e
bens culturais. Pode ser surpreendente, mas há evidências de que isso pode ser mais
determinante para o desempenho futuro da criança do que qualquer outra coisa.
28 – Somente adotar medidas baseadas em evidências
O senso comum pode ser perigoso. O Brasil, com quase 200 milhões de habitantes, não pode
se dar o luxo de adotar medidas educacionais que não estejam apoiadas em evidências e
pesquisas.
Claro que nada garante que um estudo bem sucedido em outro país possa ser replicado aqui,
mas trata-se de um começo. O mesmo vale para pesquisas realizadas no Brasil. Exemplos de
como adivinhar arealidade pode ser um exercício perigoso estão espalhados por aí.
Por exemplo, a ideia de que professores, para conseguir fechar as contas no fim do mês,
trabalham em várias escolas não corresponde à evidência. Dados de 2011 do Inep mostra que
58% deles trabalham em apenas uma escola. Chega a 94% os que trabalham em no máximo
duas.
É preciso, assim, estar apoiado em evidências para a decisão de políticas públicas.
29 – Travar metas ambiciosas para a educação
Assim como uma empresa fixa metas ambiciosas para estimular seus funcionários a darem o
melhor de si, também o Brasil deveria ambicionar resultados excepcionais na educação. Não é
o que se vê.
Um exemplo claro da cautela do país na hora de pensar grande foi quando, em 2006, o MEC
estipulou a nota que o país deveria atingir no Ideb até 2022: nota 6.
A número equivale ao desempenho de países desenvolvidos… em 2006! Até lá, também estes
países terão evoluído muito. A falta de ambição pela excelência está impregnada em vários
setores da cultura brasileira. É preciso almejar mais do que ser apenas a melhor escola da
cidade ou do estado.
30 – Se for investir mais, que seja na educação básica
Para cada aluno do ensino superior, o Brasil gasta hoje 11,7 mil dólares anualmente, próximo
aos 13,7 da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Quando se chega ao ensino básico, no entanto, é que a situação fica ruim:
os 2,4 mil dólares anuais são três vezes menos do que esses países investem (7,7 mil dólares).
É sabido que nenhum investimento gera tanto retorno social e econômico quanto investir na
criança. O problema, considerado um entrave, é que tudo isto significa pensar a longo prazo,
não exatamente uma especialidade da política brasileira.
“Vai demorar 20 anos para que você tenha um retorno, mas este retorno, mostram as
pesquisas e evidências, é muito alto”, lembra Martin Carnoy, da Universidade de Stanford.
31 – Responsabilização de gestores e políticos
A nota no Ideb 2011 do estado de Alagoas, para alunos do 6º ao 9º ano, foi de 2,5, o menor do
Brasil. Dois anos antes, era de 2,7. Os 2,5 eram a mesma nota que o estado tinha obtido em
2005. Situação semelhante ocorreu no ensino médio.
Enquanto vários estados do Brasil avançavam, os alunos de Alagoas retrocediam, uma
situação considerada inaceitável para quem lida com educação. É por isso que entidades e
especialistas defendem que, contra retrocessos, o melhor é haver responsabilização de
gestores.
Projetos para uma Lei de Responsabilidade Educacional (nos moldes da Lei de
Responsabilidade Fiscal) tramitam no Congresso. A dificuldade é dosar que tipos de punições
estariam previstos para secretários, prefeitos e demais gestores da educação.
“Queremos que essa lei seja tensionada na medida certa. Por que se você é rigoroso, vai ter
todo mundo contra. Se for brando, não adianta nada”, afirma Priscila Cruz, diretora-executiva
do Todos pela Educação.
32 – Deveres de casa mais longos
É praticamente unânime, mas não custa lembrar: dever de casa deve ser levado a sério.
Segundo pesquisas nacionais e internacionais compiladas pelo economista Gustavo Ioschpe,
fazer mais dever de casa é um belo impulsionador para o aluno, com reflexos até mesmo nas
taxas de abandono.
O problema é que os pais se preocupam se os filhos estão fazendo a lição, e não se ela está
sendo corrigida. É preciso que os professores, para atingir o objetivo, encerrem-na com a
correção.
Para fixação, é melhor que sejam poucos deveres de casa, mas que exijam esforço de mais
tempo, do que muitas tarefas curtas. Pela sua importância, o dever de casa deve ser adotado
criteriosamente, adequado ao que é dado em sala de aula e encarado como elemento
fundamental da aprendizagem.
33 – Aumentar acesso ao ensino superior
Quase universalizar o acesso ao ensino básico mas manter, ao mesmo, tempo, níveis baixos
de conclusão de ensino médio mostram que, no Brasil, muita gente fica pelo caminho.
Dados da OCDE de 2010 mostram que, no grupo entre 35 e 44 anos, somente 12% dos
brasileiros têm diploma, contra 24% no Chile e 43% nos EUA.
O problema é especialmente relevante porque o mesmo estudo, em sua edição seguinte,
mostrou que os ganhos para quem tem diploma no Brasil são três vezes superiores à média da
OCDE, onde os graduados já ganham 67% a mais.
34 – Gestão escolar focada em resultados
É unânime hoje que o diretor é mais um síndico da escola do que alguém comprometido com o
aprendizado. Como o nome hierárquico mais alto da instituição, ele deveria ter especial
preocupação com o resultado final, como ocorre em uma empresa.
Ao mesmo tempo, um diretor atuante, que observa a qualidade de aula de seus professores, é
tabu no Brasil. A sala de aula é vista como uma redoma dos professores e, no máximo, da
coordenação pedagógica.
Consequência desse afastamento é que um terço dos gestores escolares desconhecem até
mesmo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de sua escola, mostra
pesquisa da Fundação Victor Civita.
Fazer a gestão escolar focar resultados é mudar esta cultura. Em termos de especialização, a
situação não é ruim: 80% dos diretores do país fizeram cursos de formação continuada em
gestão escolar, segundo pesquisa da Fundação Victor Civita.
35 – Universidades públicas trabalharem com setor privado
O ranço da universidade pública brasileira com a iniciativa privada é histórico e notório. Nos
Estados Unidos, alunos e professores mantém intenso e produtivo diálogo com empresas num
esquema em que todos saem ganhando.
O corpo universitário entra em sintonia com o mercado que, em parte, irá absorvê-lo no futuro,
além de conseguir financiamento; já as companhias conseguem ir mais longe do que iriam
apenas com sua própria massa pensante. Uma boa receita também para a inovação.
O ranço com o setor privado em federais é sentido pelas empresas. A Odebrecht procura
manter laços acadêmicos com instituições de ensino de qualidade, participando de workshops
e buscando trainees.
“Mas sinto nas federais uma falta de estimulo. Nas privadas, tem professores que puxam esse
processo”, reconhece Paulo Quaresma, Diretor de Pessoas e Organização da Odebrecht
Infraestrutura.
A pesquisa bancada com dinheiro público é importante para qualquer país. Ela só não precisa
ser a única.
36 – Mais estímulos do governo para a iniciativa privada
O governo brasileiro se habituou nos últimos anos a intervenções pontuais para ajudar este ou
aquele setor prejudicado pelas turbulências da economia mundial. Está na hora de incentivos
mais gordos para estimular a participação privada na educação dos brasileiros.
O melhor ponto para começar, por exemplo, seria reduzir – ou eliminar – a taxação de
empresas que querem capacitar seus profissionais. É mais um exemplo da mania brasileira de
taxar o que muitos não taxam.
Para este fim, o BNDES mantém crédito com juros de 3,4% ao ano. Mas as empresas
reclamam da burocracia para conseguir o dinheiro.
37 – Ampliar as horas-aula por ano
Dentre as soluções apresentadas nesta lista, há as urgentes e as não urgentes. Esta pertence,
definitivamente, ao segundo grupo. Alguns sistemas educacionais superiores ao brasileiro dão
mais do que 800 horas-aula a seus alunos por ano, outros um pouco menos.
Mas em países com debilidades na educação, como o Brasil, há evidências de mais aulas
podem trazer melhores resultados. Mas muito antes de fazer isso, o país precisa aprender a
usar bem o tempo que tem, que já não pode ser considerado pouco.
Quando este período estiver sendo gasto de maneira eficiente, sem desperdícios, e quando os
alunos estiverem de fato aprendendo em aula, aí sim ampliar a carga horaria pode ajudar mais.
38 – Ensinar o que se pode aprender
Muitos intercambistas brasileiros que vão cursar ensino médio ou mesmo alguma série anterior
nos Estados Unidos se surpreendem com o quanto de coisa viram aqui que os
norteamericanos nem tinham ouvido falar.
Mas as avaliações internacionais mostram que a grande diferença é que, de qualquer maneira,
eles aprendem, nós não. O problema do ensino pesado em conteúdo da educação brasileira
não se restringe ao ensino médio.
Também no superior, por vezes o conhecimento passa do exigido pela carreira e pela
expectativa profissional da pessoa.
“Temos uma grande relutância em aceitar que o aluno não sabe quase nada”, disse o
economista Cláudio de Moura Castro, especialista em educação. E continuamos ensinando
muito, como um rolo compressor.
Por vezes, menos pode ser mais.
39. Valorizar as provas e avaliações
Por vezes ameaçada sob o argumento de reducionismo, as avaliações e as temidas provas são
um importante instrumento para o aluno e professor. Pesquisas mostram que, quando
frequentes – mas não de maneira exagerada – estas têm relação com melhor desempenho dos
estudantes.
A palavra “frequente” é importante para o aluno se manter em dia com os estudos, mas
também por outra razão: a avaliação constante é um importante instrumento para que o
professor reconheça como o conhecimento está chegando aos alunos e, possa, a partir daí,
adaptar seu estilo.
E é mais proveitoso devolver as provas com um grau de avaliação qualitativa, em vez de
simplesmente “certo” e “errado”.
40 – Mensurar resultados – e aprender com eles
Já medimos o sistema educacional brasileiro de inúmeras formas – SAEB, Prova Brasil, Enem,
além de enormes questionários censitários respondidos por professores, alunos e gestores –
mas na hora de usar estes resultados, deixamos a desejar.
Principalmente na hora de disponibilizá-los de maneira acessível, fazendo com que todos os
envolvidos com educação em todos os níveis aprendam com eles.
Uma pesquisa de 2010 da Fundação Victor Civita mostrou que quase metade dos
coordenadores pedagógicos não sabem nem mesmo o que é o Ideb, que seria um belo ponto
de partida para diagnosticar as fraquezas dos alunos da própria escola.
É preciso atenção também para monitorar medidas que deram certo ou estão sendo
implementadas em menor escala em regiões específicas do país.
Um exemplo é o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, lançado este mês pelo
governo federal. Consiste basicamente em aplicar em larga escala o que foi feito primeiro em
Sobral, no Ceará, e depois em todo o estado. Um exemplo de que medir resultados, aprender
com eles – e copiá-los, quando possível – é sempre uma boa ideia.
41 – Definir o papel de cada ente da federação
Qualquer empresa sabe: coletivizar obrigações e atribuições entre os empregados é um convite
ao fracasso. Quando esta empresa se chama Brasil e tem quase 200 milhões de habitantes,
não tem como dar muito certo.
O federalismo brasileiro é complexo – sua reforma é chamada pela Confederação Nacional dos
Munícipios de a mãe de todas as reformas – e impõe dificuldades para educação.
Hoje, como os recursos são distribuídos por aluno nas redes estaduais e municipais, chega a
haver concorrência por aluno. E quando se trata de definir a culpa por resultados, é um
verdadeiro jogo de empurra e empurra.
Uma definição clara – diferente do que está hoje na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases
– vai ajudar também no regime de colaboração entre os governos e na arbitragem da justiça.
42 – Manter melhorias a cada troca de governo
Como visto, o Brasil – que tem que correr para vencer mais um século de atraso na educação
para se equiparar aos países desenvolvidos – não pode permitir retrocessos.
Uma das maneiras é garantir também que as melhorias sejam contínuas, independentemente
do governante no comando. Muitas das mudanças em educação são consideradas de longo
prazo.
Um exemplo é o atual Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, que o governo lançou este
mês. Caso o plano vença a inércia federal em gestar e fazer vingar grandes programas, é
preciso que ele seja continuado – mesmo que com correções – pelo próximo governo.
O problema é agravado pela falta de políticas e metas claras de longo prazo, que facilitam
interrupções maléficas a cada troca de gestor, principalmente no âmbito municipal.
43 – Mudar o enfoque bacharelesco da educação
“A matriz educacional brasileira tem um problema que todo o conteúdo é como se todos fossem
para a universidade, e 86% não vão”, critica o presidente do Senai, Rafael Lucchesi.
A parte do fato de que ainda é vergonhoso o índice de acesso ao ensino superior no Brasil, é
preciso também se adaptar às demandas que o mercado de trabalho disponibiliza. E se tem
algo que tem caracterizado a educação brasileira é a inércia para fazer frente aos desafios que
surgem a todo instante.
A lição de outros países neste segmento é clara: a universidade é um belo caminho, mas não é
o único. É preciso convencer os responsáveis e os próprios cidadãos que não é preciso
apontar todo o sistema apenas para isso, desde os primeiros anos de escola.
44 – Colocar professores formados na disciplina
Quem estudou com bons professores sabe a diferença entre aprender com quem conhece
realmente o conteúdo ou com quem se perde na hora de elucidar a primeira dúvida.
Pois é este um grande problema no Brasil: em uma disciplina complicada como física, apenas
9,5 mil dos quase 60 mil docentes que ensinam a matéria são formados nela. Por causa da
falta de graduados na disciplina interessados no magistério, os outros 50 mil são roubados de
outras áreas. E têm que se virar como podem.
Em química, apenas 14,9 mil dos 53,5 mil têm o diploma, segundo o Inep.
Corrigir esta distorção, que acarretará em melhor aprendizado, vai depender de tornar a
carreira de professor mais atraente, como visto lá atrás. Hoje, os formados correm do
magistério.
45 – Colocar a educação no topo da agenda
É preciso ser claro: todo governante pode ter um programa para a educação, mas ninguém
colocou o tema como a maior das prioridades, embora pareça consenso que um país só atinja
a plenitude de desenvolvimento com um sistema educacional à altura.
“Faltam políticos que digam ‘a marca que vou deixar é a educação’”, acredita Priscila Cruz,
diretora-executiva do Todos pela Educação.
A disposição politica é particularmente importante porque muitas das medidas necessárias para
tirar o Brasil do atraso demandam o enfrentamento de certas ideologias que embaçam o
sistema.
Em quase todo o Brasil, as últimas eleições municipais foram um reflexo de como a educação é
vista como importante, mas secundária. Enquanto os candidatos brigavam por quem criaria
mais vagas em creches, quase ninguém mencionou elevar a qualidade do ensino.
Você tem alguma sugestão?
Fonte: Exame
http://g1.globo.com/goias/noticia/2014/03/aprovado-em-tres-universidades-dos-eua-faz-campanha-para-pagar-curso.html