Recurso de Apelação - Razões

Embed Size (px)

Citation preview

Excelentssimo Juiz de Direito da 10 Vara Cvel da Comarca de Goinia, Gois.

Protocolo n 2007.0313.7780.

Jucelino Lima Soares e Ktia Aparecida Cabral Soares,j qualificados nos autos da

Ao Declaratriaque lhes movida por Hlio Xavier Pinto e outra, tambm qualificados, Hlio processo em trmite neste juzo e expediente da escrivania respectiva, vm presena de Vossa Excelncia para, com o respeito e acatamento devidos, tendo em vista a prolao de sentena, interpor o presente Recurso de Recurso Apelao, pelo que apresentam desde j suas Razes, as quais so compostas dos fundamentos de fato e de direito a seguir expostos.

Requerem ento seja o recurso recebido em ambos os seus efeitos inclusive e indispensavelmente suspensivo - para que, regularmente processado, com a intimao dos Recorridos para que o contrarrazoem, sejam os autos apelo remetidos ao Egrgio Tribunal de Justia do Estado de Gois especificamente para a 2 Cmara Cvel, j que l, sob relatoria do Desembargador Joo Waldeck, foi j julgado recurso oriundo do presente processo (Recurso de Apelao n 200902052122) - que h de conhecer e prover o apelo. o que se pede, esperando deferimento. Goinia, 24 de junho de 2011.

Alexandre Alencastro Veiga. OAB.GO n 20.045.

Razes em Recurso de Apelao.Recorrentes: Recorridos: Jucelino Lima Soares e Ktia Aparecida Cabral Soares. Hlio Xavier Pinto e outra.

Egrgio Tribunal de Justia do Estado de Gois.Colenda Segunda Cmara Cvel.Sousa. Ilustre Relator Joo Waldeck de Sousa.

Dos Fatos.1. Como se ver nas linhas que se seguem, os ora Recorrentes compraram vrias salas localizadas em edifcio comercial de Goinia, pagaram EM MOEDA CORRENTE o preo acertado com os proprietrios dos imveis comprados, pelo que receberam PLENA E GERAL QUITAO DADA POR ESCRITURA PBLICA, mas, agora, vem-se atingidos por falsidade documental ALHEIA ao negcio jurdico que entabularam. 2. Para que bem se compreenda a incorretude da sentena proferida na presente ao, permitem-se os Recorrentes proceder a uma pequena narrativa dos fatos relevantes ao julgamento do presente recurso. 3. Como se ver ao longo dessa narrativa, a sentena ora atacada cometeu uma lamentvel confuso ftica, a qual, facilmente identificvel, acabou por contaminar irremediavelmente o seu raciocnio jurdico.

Dos Fatos.As relaes que Hlio e Eunice mantiveram com Cosac, os senhores Luiz Cosac, Maxlene e Joo Meireles.4. Os ora Recorridos, Hlio Xavier e sua esposa (Eunice Bento Xavier), eram proprietrios de vrias salas localizadas no Edifcio Palcio do Comrcio, antiga e conhecida edificao situada no Centro de Goinia. 5. Segundo consta da inicial, Hlio e Eunice foram procurados por um senhor Luiz Cosac para que vendessem seus imveis a um tal senhor Joo Meireles. 6. Ainda segundo a inicial, os proprietrios das salas decidiram vend-las em 9.9.03, pelo que nesta data celebraram com Luiz Cosac e sua esposa um contrato de compra e venda por escritura pblica. 7. Consta tambm, sempre da inicial, que ao longo das tratativas teria ficado acertado que na escritura de compra e venda figurariam Luiz Cosac e sua esposa como compradores e que Joo Meireles pagaria o preo, e o faria por meio de um Certificado endossvel de Depsito no valor de US$256.000,00

(duzentos e cinqenta e seis mil dlares), feito perante o CREDITFIN GROUP, com sede em Nova York USA, certificado esse que seria resgatado pelos vendedores em25.02.05. 8. Foi ento celebrado o primeiro contrato envolvendo os imveis em questo, negociao essa da qual participaram, como vendedores, Hlio e Eunice, como compradores, Luiz Cosac e Maxlene, e como interveniente, Joo Meireles, que pagaria o preo acertado. 9. Assim:

10. Em poucas palavras, conforme a narrativa da prpria inicial, os proprietrios Hlio e Eunice venderam, em 9.9.03, a Luiz Cosac e sua esposa, suas salas no Edifcio Palcio do Comrcio, tendo ficado acertado que o pagamento se daria por meio de Certificado de Depsito endossado por Joo Meireles (interveniente). Esse negcio jurdico, doravante denominado Negcio Jurdico 1, pode ser assim representado:

11. Saliente-se aqui que os ora Recorrentes sequer conheciam, nessa poca, Hlio ou Eunice; nem conheciam Luiz Cosac ou Maxlene Luiza; e tampouco conheciam Joo Meireles. 12. importante salientar que, desses fatos, dos detalhes desses negcios, das circunstncias dessas entabulaes, tomaram os ora Recorrentes conhecimento apenas por ocasio da propositura da presente demanda.

Dos Fatos.Hlio, Eunice Como os Recorrentes conheceram Hlio, Eunice Meireles. e os senhores Luiz Cosac e Joo Meireles.13. Jucelino Lima Soares e sua ento esposa, Ktia Aparecida, sempre moraram em Braslia, Distrito Federal, mas sempre mantiveram negcios e investimentos em Goinia, Gois. 14. Nos idos de 2004, as salas do Edifcio Palcio do Comrcio (vendidas por Hlio e Eunice a Luiz Cosac) estavam anunciadas na imobiliria Provenda. 15. Jucelino e sua esposa, interessados em adquirir referidas salas para fins de locao, entraram em contato com a imobiliria, tendo obtido a informao de que Joo Meireles que as teria posto a venda. 16. Entraram ento em contato com Joo Meireles, para saber da situao das salas, do preo e das condies de pagamento. 17. Como realmente tivessem interesse em comprar ditas salas,

Jucelino e sua esposa levantaram a situao cartorria dos imveis, ocasio em que descobriram que as salas estavam registradas em nome de Hlio e Eunice (embora estes tivessem celebrado com Luiz Cosacuma escritura de compra e venda, como narrado anteriormente).

18. Precavidos, os ora Recorrentes informaram que no negociariam com terceiros, que tinham interesse em comprar as salas mas que somente as comprariam das pessoas em cujo nome elas estavam registradas (ou seja, de Hlio e Eunice). Foi a que os ora Recorrentes conheceram a senhora Eunice, proprietria das salas, j que estas ainda estavam registradas em seu nome (e no de seu marido). 19. Os ora Recorrentes ento explicitaram que tinham interesse em comprar as salas, mas que como elas constavam em nome da senhora Eunice e de seu esposo, faziam questo de celebrar um contrato com eles, e no

com Joo Meireles, que havia anunciado as salas mas que juridicamente no tinha nem legitimidade para a venda.20. Em 24.3.04, Hlio e Eunice celebraram ento com Luiz Cosac e sua esposa uma Escritura Pblica de Resciso de Outra Compra e Venda, doravante denominado Negcio Jurdico 2, para desfazer aquele primeiro contrato. 21. Assim:

22.

Rescindido o Negcio Jurdico 1, por meio da mencionada Escritura Pblica de Resciso de Outra Compra e Venda (= por meio do Negcio Jurdico 2) extinguiram-se as relaes jurdicas havidas entre os contraentes, que voltam ao status quo ante. Dessa forma, Hlio e Eunice continuaram de ser os nicos proprietrios das salas comerciais localizadas no Edifcio Palcio do Comrcio, deixando de existir qualquer vnculo jurdico entre os proprietrios e os senhores Luiz Cosac, Maxlene e Joo Meireles, deixando de existir tambm qualquer direito dos senhores Luiz Cosac, Maxlene e Joo Meireles sobre os imveis de que se trata. Assim:

23. E como proprietrios das salas, j desvinculados do primeiro contrato, devidamente rescindido, venderam-nas Hlio e Eunice a Jucelino e Ktia. 24. E venderam-nas a vista, tendo recebido o preo em dinheiro (e no em certificado).

Dos Fatos.O negcio jurdico autnomo celebrado entre Hlio e Eunice, como vendedores, e Jucelino e Ktia, como compradores.25. Pois bem, j em 26.3.04, Hlio e Eunice venderam a Jucelino e sua esposa as salas no Edifcio Palcio do Comrcio, tendo recebido a vista e em moeda corrente o preo pactuado, pelo que deram, na prpria escritura pblica de compra e venda, plena e geral quitao, para mais nada reclamar em tempo algum, sob que pretexto for. 26. Esse contrato, doravante denominado Negcio Jurdico 3, pode ser assim resumido:

27. Essa compra e venda, tendo Hlio e Eunice como vendedores e Jucelino e Ktia como compradores, no se respaldou em Certificado de Depsito algum, menos ainda endossado por Joo Meireles, que no

participou desse contrato, at porque, como se v da escritura pblica respectiva, os compradores Jucelino e Ktia pagaram o preo em moeda corrente nacional, contada e achada certa, razo pela qual os vendedores, tendo recebido a vista o preo estabelecido, deram plena e geral quitao, para mais nada reclamar em tempo algum, sob que pretexto for. Em esquema, o que se tem :

28. Quem compra dos proprietrios, paga a vista e recebe quitao por escritura pblica nada tem a temer quanto firmeza de seu negcio, certo? 29. Veio a surpresa.

Dos Fatos.A Ao de Declarao de Nulidade proposta por Hlio e Eunice em desfavor de Jucelino e Ktia. Ktia.30. Hlio e Eunice ajuizaram a presente demanda narrando os trs negcios entabulados:

narraram que em 9.9.03 celebraram o Negcio Jurdico 1, ou seja, a escritura de compra e venda por meio da qual venderam a Luiz Cosac (e esposa) suas salas em edifcio comercial, com a interveno de Joo Meirelles, que assumiu a responsabilidade pelo pagamento por meio do endosso de um Certificado de Depsito (tanto que juntaram a escritura pblica de fls. 21 a 24);

(I)

(II) narraram tambm que em 23.3.04 celebraram o NegcioJurdico 2, ou seja, a escritura pblica por meio da qual rescindiram o Negcio Jurdico 1, desfazendo a compra e venda feita a Luiz Cosac com a interveno de Joo Meirelles (tanto que juntaram a escritura pblica de fls. 25 a 28); e

(III) narraram ademais que em 26.3.04 celebraram o NegcioJurdico 3, ou seja, a escritura de compra e venda por meio da qual eles, Hlio e Eunice, venderam a Jucelino e Ktia, sem a interveno de Luiz Cosac ou Joo Meirelles, suas salas no edifcio comercial (tanto que juntaram a escritura pblica de fls. 29 a 32). 31. Depois de terem narrados esses fatos (todos verdadeiros e incontroversos), Hlio e Eunice afirmaram que procuraram um perito legalmente

inscrito junto ao INSTITUTO BRASILEIRO DE CRIMINALISTICA sob a matrcula n 002/2000, quando tomaram conhecimento que o documento dado por Joo Carlos Meirelles em pagamento aos imveis falso1.32. Tendo atribudo falsidade ao Certificado de Depsito entregue por Joo Meirelles como pagamento no Negcio Jurdico 1, pediram os ento Autores fosse decretada a nulidade do Negcio Jurdico 3 (???), que havia sido quitado em dinheiro (!!!). Veja-se:

1

Trecho da petio inicial, s fls. 6 dos autos.

Em face de todo o exposto, requerem os AUTORES de Vossa Excelncia o seguinte (...) seja decretada a nulidade da escritura pblica de compra e venda firmada com JUCELINO LIMA SOARES e sua esposa KATYA APARECIDA CABRAL SOARES, por sentena e em conseqncia o cancelamento dos registros dos imveis em questo para que surtam os efeitos legais... (Trecho da petio inicial, s fls. 10 e 11).33. Citados os ora Recorrentes, apresentaram contestao alegando o bvio: que o negcio jurdico celebrado por eles com os ora Recorridos (o Negcio Jurdico 3) no poderia ser declarado nulo em funo de falsidade de documento que embasara o Negcio Jurdico 1, do qual eles, os ora Recorrentes, no haviam sequer participado, e que inclusive j havia sido desfeito (verbis - rescindido) pelo Negcio Jurdico 2, at porque o Negcio Jurdico 3, celebrado com os ora Recorrentes, o foi com pagamento em dinheiro, a vista, pagamento esse em dinheiro que os vendedores declararam ter recebido e pelo qual deram plena e geral quitao, para mais nada reclamar em tempo algum, sob que pretexto for. 34. Instrudo o feito, foi proferida uma primeira sentena, que acabou sendo cassada por este TJGO em vista do julgamento extra petita.

Dos Fatos.A sentena que ora se ataca. que35. Regressaram ento os autos primeira instncia, que proferiu uma inaceitvel - porque ilgica, e portanto injurdica sentena, decisum por meio do qual restou decretada a nulidade do Negcio Jurdico 3 (que se quitou em dinheiro) em funo da falsidade de Certificado de Depsito que embasara o Negcio Jurdico 1, o qual inclusive j havia sido desfeito pelo Negcio Jurdico 2. Essa sentena, como se ver, no merece prosperar, por bvios motivos.

Do Direito.36. A sentena ora atacada cometeu uma confuso facilmente identificvel. Disse a sentena:

37. A primeira pergunta que deve ser feita : qual o negcio jurdico cuja nulidade se busca seja decretada na presente ao? 38. A resposta est na prpria petio inicial dos ento Autores, pois l se l que eles pedem seja decretada a nulidade da escritura pblica de compra e

venda firmada com JUCELINO LIMA SOARES e sua esposa KATYA APARECIDA CABRAL SOARES.39. Ora, a escritura pblica de compra e venda firmada com Jucelino e Ktia o Negcio Jurdico 3, portanto na presente ao se busca a decretao de nulidade do Negcio Jurdico 3.

Ocorre que o Negcio Jurdico 3 no se embasou no Certificado de Depsito endossado por Joo Meireles. 40. 41. Em assim sendo, quando a sentena afirma que os imveis vendidos a Jucelino e Ktia tiveram como pagamento o Certificado endossvel de Depsito, comete ela gritante confuso, com srias e injurdicas conseqncias. 42. Ora, faa-se a pergunta indispensvel: o Certificado de Depsito endossado por Joo Meireles embasou qual negcio jurdico? 43. O Certificado de Depsito endossado por Joo Meireles embasou o Negcio Jurdico 1 (= a escritura de compra e venda de Hlio e Eunice a

Luiz Cosac e Maxlene, com a interveno de Joo Meirelles, que apresentou dito certificado como pagamento).44. Sendo o Certificado de Depsito que o embasou falso, esse Negcio Jurdico 1 realmente era nulo. 45. O problema que esse Negcio Jurdico 1 j havia sido inclusive desfeito, em 23.3.04, quando Hlio e Eunice de um lado e Luiz Cosac e Maxlene, de outro, celebraram a resciso da primeira escritura pblica. 46. A questo, ento, torna-se de fcil soluo.

47. Como Negcio Jurdico 3 no se lastreou no Certificado de Depsito falso, no poderia ento ser decretado nulo em funo da falsidade desse documento. 48. o bvio, mas a confuso perpetrada pela sentena obscureceu a obviedade. 49. Com a vnia deste juzo, os Recorrentes permitem-se demonstrar

visualmente a grosseira confuso perpetrada pela sentena ora atacada:

50. Ora, o negcio celebrado por Jucelino e Ktia ( = pelos ora Recorrentes) foi o Negcio Jurdico 3. 51. O pagamento, no Negcio Jurdico 3, no se deu com a intervenincia de Joo Meireles, nem se realizou por endosso de Certificado de Depsito.

52. dinheiro.

O pagamento no Negcio Jurdico 3 se deu a vista e em

53. Se Joo Meireles atuou como interveniente no Negcio Jurdico 1, passando para os vendedores Certificado de Depsito falso, ento esse Negcio Jurdico 1 que seria passvel de ser declarado nulo, e quanto a isso no h sequer possibilidade de discusso (embora esse negcio j tenha sido desfeito, e embora no tenha sido pedida na presente ao a decretao de nulidade desse negcio). 54. O problema que os ento Autores e ora Recorridos, na inicial da presente ao, pediram apenas a decretao do Negcio Jurdico 3, mas pediram fosse esse Negcio Jurdico 3 decretado nulo em funo de documento falso relativo ao Negcio Jurdico 1 (!!!), o que terminantemente no possvel, sobretudo porque ilgico. 55. da jurisprudncia do STJ que Embora no se resuma a puro e

abstrato silogismo, a deciso judicial resulta de um exerccio lgico, em que premissas e concluses mantenham vnculos de pertinncia e conseqncia. O dispositivo judicial um teorema que deve ser demonstrado.256. A confuso perpetrada pela sentena torna-a ilgica e, portanto, passvel de reforma. 57. 58. Veja-se.

inquestionavelmente correto o postulado segundo o qual Um negcio jurdico nulo se se embasou em documento falso. 59. No caso em tela, Certificado de Depsito falso embasou o Negcio Jurdico 1.REsp 132.349/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/09/1998, DJ 03/11/1998, p. 202

60. Ora, ento nesse caso, estabelecida a premissa de que o Negcio Jurdico 1 se embasou em documento falso, a concluso lgica a que se poderia chegar a de que o Negcio Jurdico 1 nulo. 61. Mas esse Negcio Jurdico 1 fora j rescindido, e na presente ao no se pediu a decretao de sua nulidade. 62. Importa para a presente ao o Negcio Jurdico 3.

63. A pergunta : o Negcio Jurdico 3 se embasou em documento falso? 64.

No (!!!).

65. E portanto no se pode decretar a nulidade do Negcio Jurdico 3 em razo de nulidade de documento no qual no se embasou. 66. Ora, o Certificado de Depsito foi forma de pagamento do Negcio Jurdico 1. 67. 68. E o Negcio Jurdico 3, qual a sua forma de pagamento? Moeda corrente.

69. H nos autos prova de que a compra insculpida no negcio jurdico 3 foi celebrada e paga em dinheiro? 70. Sim, o prprio instrumento do Negcio Jurdico 3.

71. Realmente, a prpria Escritura Pblica de Compra e Venda celebrada entre Hlio e Eunice (como vendedores) e Jucelino e Ktia (como compradores) esclarece que o Negcio Jurdico 3 se embasou no pagamento em dinheiro.

72. De fato, ajustada a importncia pela qual Hlio e Eunice vendiam a Jucelino e Ktia os imveis de que eram proprietrios, constou da escritura:

73. Note-se: na escritura pblica continente do Negcio Jurdico 3 Hlio e Eunice confessam e declaram j haver recebido, em moeda corrente nacional, contada e achada certa o preo estipulado no contrato,

pelo que se do por pagos e satisfeitos, dando ao comprador plena e geral quitao, para mais nada reclamar em tempo algum, sob que pretexto for.74. De a se v que o Negcio Jurdico 3 - do qual no participaram Luiz Cosac, Maxlene ou Joo Meireles - no se embasou em Certificado de Depsito como forma de pagamento, j que foi o preo da compra pago em moeda corrente nacional. 75. E como esse preo foi pago a vista, os vendedores deram plena e geral quitao. Note-se: PLENA E GERAL QUITAO NA ESCRITURA PBLICA DO PAGAMENTO EM DINHEIRO.

76.

77. Volva-se ento sentena. Nela, aps a confuso de dizer que o Negcio Jurdico 3 teria se embasado no Certificado de Depsito falso, afirmou-se, quanto a Jucelino e Ktia que:

78.

Excelncia, que paga tem que provar que pagou.

79. No caso em tela, a prova plena do pagamento em dinheiro e no por Certificado de Depsito feito por Jucelino e Ktia est na quitao dada pelos vendedores por escritura pblica. 80. Realmente, a escritura pblica acompanhada de quitao, porque dotada de f pblica, sempre fez prova plena de pagamento no ordenamento jurdico brasileiro. 81. O CC de 1916 estabelecia no 3 de seu art. 945 que:

Art. 945. A entrega do ttulo ao devedor firma a presuno do pagamento. 1. Ficar, porm, sem efeito a quitao assim operada se o credor provar, dentro em 60 (sessenta) dias, o no-pagamento. 2. No se permite esta prova, quando se der a quitao por escritura pblica.82. Note-se: quando o credor d quitao por escritura pblica, declarando que recebeu o pagamento, sequer se admite prova de no pagamento j que a quitao por escritura pblica gera presuno iuris et de

iuris .83. Tanto assim que o TJGO tinha, tem e mantm firme jurisprudncia no sentido de que:

APELAO CVEL. AO DE COBRANA. CESSO DE DIREITOS DE MEAO E HERANA. (...) ESCRITURA PBLICA. PRESUNO DE VERACIDADE DA QUITAO DO NEGCIO JURDICO. ...

A escritura pblica de Cesso de Direitos de Meao e Herana, por ter f pblica, gera a presuno da quitao do negcio jurdico nela consignada. 3. Apelo conhecido e desprovido. Sentena mantida. (TJGO, APELACAO CIVEL 372692-32.2007.8.09.0072, Rel. DR(A). ELIZABETH MARIA DA SILVA, 5A CAMARA CIVEL, julgado em 29/07/2010, DJe 644 de 19/08/2010)

APELAO CVEL. AO DECLARATRIA DE INEXISTNCIA DE DBITO. CONTRATO DE COMPRA E VENDA COM FORCA DE ESCRITURA PBLICA. PACTO FINDO. PROTESTO INDEVIDO. NOTA PROMISSRIA. DANO MORAL. 1 - tratando-se o pacto entabulado entre as partes de ato jurdico perfeito, tendo em vista que o comprador est munido de quitao, ante o contrato de compra e venda com forca de escritura pblica, o qual goza de presuno absoluta do pagamento, induvidoso inexistir debito a ser cobrado. ...(TJ-GO, APELACAO CIVEL 81109-8/188, Rel. DES.KISLEU DIAS MACIEL FILHO, 4A CAMARA CIVEL, julgado em 12/05/2005, DJe 14537 de 21/06/2005) 84. O Desembargador Leobino Valente Chaves, no mesmo sentido, j afirmou que a quitao do preo da compra e venda dada em

instrumento publico no pode ser afastada... uma vez que a sua presuno juris et de jure.385. Da lavra do Desembargador Matias Washington de Oliveira Negry a lio de que se o devedor detentor da escritura pblica de compra e

3

TJ-GO, APELACAO CIVEL 54816-7/188, Rel. DES LEOBINO VALENTE CHAVES, TJGO PRIMEIRA CAMARA CIVEL, julgado em 13/11/2001, DJe 13679 de 12/12/2001.

venda de imvel, onde o credor reconhece a plena e geral quitao do negcio, presume-se efetuado o pagamento4.86. E o posicionamento do TJGO sempre esteve em consonncia com o entendimento do STJ, do qual se extrai o seguinte acrdo:

DIREITO CIVIL. QUITAO POR ESCRITURA PBLICA. (...) DOUTRINA. PRECEDENTE. RECURSO PROVIDO. I A quitao expressa em escritura pblica goza de presuno absoluta (juris et de iure) do pagamento, que se sobrepe existncia de notas promissrias em poder do credor, vinculada ao contrato que originou aquela escritura. ... (REsp 108.264/DF, Rel. Ministro SLVIO DEFIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA 26/06/2001, DJ 15/10/2001, p. 265) 87. sentido: TURMA, julgado em

E os demais tribunais ptrios tm jurisprudncia no mesmo

AGRAVOS RETIDOS. INTERPOSIES PELOS CO-RUS. REITERAES AUSENTES. INCIDNCIA DO ARTIGO 523, 1 DO CDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSOS NO CONHECIDOS. ILEGITIMIDADE PASSIVA. AFASTAMENTO. Aquisio de terreno mediante escritura de venda e compra. Necessidade de ratificao dos termos da escritura pblica com modificao do nmero da matrcula. Recusa do vendedor pela alegao de ausncia de cumprimento de pagamento do valor total do preo do imvel pelos compradores. Documento dotado de f pblica que faz prova de quitao do preo. Presuno de cumprimento de pagamento... (TJSP, 7Cmara de Direito Privado, Apelao Cvel n 994.08.062212-3,TJ-GO, APELACAO CIVEL 50261-0/188, Rel. DES MATIAS WASHINGTON DE OLIVEIRA NEGRY, TJGO PRIMEIRA CAMARA CIVEL, julgado em 16/11/1999, DJe 13200 de 21/12/1999.4

Rel. Des. lcio Trujillo, Data do Julgamento 24/03/2010, Data de Registro 06/04/2010)

CIVIL. ESCRITURA PBLICA COM REGISTRO DE QUITAO E TRANSFERNCIA DE PROPRIEDADE IMVEL. A fora probante dos fatos registrados em escritura pblica plena... (TJ/DF, 4 Turma Cvel, Apelao Cvel n 1998.01.1.021100-5, Rel. Des. Vera Andrighi, Publicao no DJU de 31/10/2001, p. 66, Seo 3) AO DE ENRIQUECIMENTO ILCITO - AGRAVO RETIDO AUSNCIA DE PEDIDO EXPRESSO PARA APRECIAO - NO CONHECIMENTO - COMPRA E VENDA DE IMVEL INADIMPLEMENTO - RESTITUIO DO IMVEL OU SEU RESPECTIVO VALOR DEVIDAMENTE ATUALIZADO ESCRITURA PBLICA - PROVA DA QUITAO PRESUNO DE VERACIDADE DO PAGAMENTO. No formulado requerimento expresso, em sede de contrarazes de apelao, de apreciao do agravo retido interposto, este no pode ser conhecido. A declarao constante em instrumento pblico possui presuno de veracidade, pois firmada perante tabelio que detentor de f-pblica. Ao outorgar o instrumento pblico dando quitao pelo preo certo e ajustado do imvel, produziu a parte documento que confirma o cumprimento das obrigaes pecunirias relativas transao imobiliria (TJMG.Apelao Cvel 1.0261.07.048036-1/001, Rel. Des. Cludia Maia, j. 29/05/08).

AO ORDINRIA DE COBRANA - NUS DA PROVA ARTIGO 333, INCISO I, DO C.P.C. - QUITAO.

Tendo em vista o disposto no artigo 333, inciso I, do Cdigo de Processo Civil, compete parte provar os fatos alegados constitutivos de seu direito. Quitao o documento em que o credor ou seu representante, reconhecendo ter recebido o pagamento de seu crdito, exonera o devedor da obrigao. Representado o pagamento da dvida pelo recibo de quitao em escritura pblica, em tese no h como acatar outras provas, tendo em vista ser aquela suficiente para demonstrar o integral pagamento do dbito. (TJMG.Apelao Cvel 324.990-7, Rel. Gouva Rios, j.17/04/01). 88. Ora, o caput do art. 215 do CC atual estabelece, de igual forma, que a escritura faz prova plena, de modo que a quitao passada em escritura pblica continua gozando de presuno iuris et de iuris. Veja-se o dispositivo:

Art. 215. A escritura pblica, lavrada em notas de tabelio, documento dotado de f pblica, fazendo prova plena.89. Como se v, o Negcio Jurdico 3 no se embasou em Certificado de Depsito falso ou em Certificado de Depsito verdadeiro, ou em Certificado de Depsito algum. 90. O Negcio Jurdico 3 foi celebrado por Hlio e Eunice, como vendedores, e Jucelino e Ktia, como compradores, sem a intervenincia de Joo Meireles, para pagamento com Certificado de Depsito. 91. O Negcio Jurdico 3 foi formalizado com pagamento em dinheiro, e no com Certificado de Depsito Bancrio.

92. Lendo-se a Escritura Pblica que materializou o Negcio Jurdico 3, v-se claramente que o preo pago o foi em em moeda corrente nacional. 93. Dessa forma, a Escritura Pblica que materializou o Negcio Jurdico 3 prova, e prova plena, de que o seu pagamento efetuou-se em moeda corrente nacional. E nessa mesma Escritura Pblica, Hlio e Eunice, que primeiro confessam e declaram j haver recebido, em moeda corrente nacional o preo estipulado no contrato; depois se do por pagos e satisfeitos, dando ao 94.

comprador plena e geral quitao, para mais nada reclamar em tempo algum, sob que pretexto for.95. Essa escritura pblica continente de quitao de pagamento em dinheiro, na forma do art. 215 do CC, faz prova plena de que o Negcio Jurdico 3 no se embasou em pagamento por meio de Certificado de Depsito e que o contrato de compra e venda foi integralmente adimplido pelos compradores por meio de moeda corrente, que os vendedores confessaram ter recebido. 96. A sentena afirma, quanto a Jucelino e Ktia, que:

97. Ao assim proceder, a sentena viola o art. 215 do CC, pois a escritura pblica continente de quitao em dinheiro faz prova plena, com presuno absoluta (= iuris et de iuris), de que (1) Jucelino e Ktia no compraram as salas comerciais com Certificado de Depsito e de que (2) Jucelino e Ktia pagaram o preo aventado em dinheiro, tanto assim que os

vendedores, quanto ao preo, confessam e declaram j haver recebido, em moeda corrente nacional. 98. 99. da prova. No apenas isso. Viola tambm a sentena o art. 333 do CPC, pois inverte o nus

100. Ora, na presente ao h uma escritura pblica de compra e venda na qual vendedores do quitao plena por terem recebido, em dinheiro, o preo pactuado. 101. Quem vai contra escritura pblica que contm quitao por recebimento em dinheiro do preo entabulado que tem o nus da prova de demonstrar que no recebeu o valor em dinheiro. 102. No caso em rela, os Autores, ora Recorridos, que tinham o nus de provar que no receberam em dinheiro. 103. Provaram-no?

104. No. Eles provaram que no receberam em Certificado de Depsito (que era falso), mas esse Certificado de Depsito falso no embasou o Negcio Jurdico 3. 105. Repitam-se as palavras do STJ, no sentido de que embora no se

resuma a puro e abstrato silogismo, a deciso judicial resulta de um exerccio lgico, em que premissas e concluses mantenham vnculos de pertinncia e conseqncia. O dispositivo judicial um teorema que deve ser demonstrado.106. A sentena tal qual proferida, partindo de uma confuso facilmente identificvel, fere a lgica, posto que a concluso a que chega no guarda pertinncia com as premissas fticas dos autos.

107.

Um exemplo o demonstra.

108. Imagine-se que Pontes de Miranda resolva vender a primeira edio de seu Tratado de Direito Privado. Imagine-se ento que Bernard Madoff se interesse e proponha pagamento com cheque. Celebrado o contrato (Negcio Jurdico 1), tem-se:

109. Imagine-se ento que, preso Bernard Madoff (dado se tratar de um golpista), ele e Pontes de Miranda desfaam a compra, celebrando uma resciso do contrato (Negcio Juridico 2):

110. Desfeito o negcio entre Pontes de Miranda e Bernard Madoff, imagine-se por fim que um estudioso Desembargador se interesse pelo Tratado de Direito Privado e celebre, com Pontes de Miranda, uma escritura pblica de compra e venda, com pagamento em dinheiro, dando Pontes de Miranda quitao plena e geral ante o pagamento efetuado em moeda corrente. Assim:

111. Pergunta-se: sendo o cheque de Bernard Madoff falso, pode Pontes de Miranda requerer seja decretada a nulidade da escritura pblica de compra e venda celebrada com o Desembargador? claro que no, pois o cheque embasou o Negcio Jurdico 1, j desfeito pelo Negcio Jurdico 2, e no embasou o Negcio Jurdico 3. 112. E como prova o Desembargador que efetuou o pagamento no com cheque, mas sim com dinheiro? Prova-o com a prpria escritura pblica que ele celebrou com Pontes de Miranda, na qual consta o pagamento em moeda corrente, e no em cheque. 113. E qual a prova do efetivo pagamento, vale dizer, de que o comprador entregou e o vendedor recebeu o preo em dinheiro? Novamente, a prpria escritura pblica, que, contendo quitao, faz prova plena do pagamento em dinheiro.

114. Imagine-se o sem sentido de se decretar nula a compra do Desembargador, ante a falsidade do cheque de Bernard Madoff, sob o fundamento incivil de que o Desembargador no teria provado o pagamento em dinheiro. 115. No se decreta a nulidade de um negcio jurdico em razo da falsidade de um documento que no o embasou; e a prova de pagamento, havendo escritura pblica com declarao de recebimento de dinheiro pelo vendedor e quitao plena e geral dada ao comprador, est na prpria escritura.

Requerimentos. Dos Requerimentos.116. Por todo o exposto, so estas para requerer seja o presente apelo conhecido e provido para que seja reformada a deciso atacada, a qual foi proferida em gritante afronta aos artigos 215 do CC e 333 do CPC, tudo para que, ao fim, julgue-se improcedente o pedido dos outrora Autores e ora Recorridos de decretao de nulidade do negcio jurdico celebrado com os Recorrentes em funo da falsidade de documento alheio a esse negcio, inclusive porque no negcio entabulado entre Recorrentes e Recorridos o pagamento se deu em moeda corrente, e no por meio de Certificado de Depsito, havendo quitao do pagamento em escritura pblica, que faz prova plena, com presuno absoluta, do pagamento declarado e recebido. 117. Requer-se, por fim, sejam as futuras intimaes dos Recorrentes feitas por meio de Maria Thereza Pacheco Alencastro Veiga (OAB.GO n 10.070), Gustavo de Freitas Teixeira lvares (OAB.GO n 16.689), Alexandre Alencastro Veiga (OAB.GO n 20.045) e Anna Vitria Gomes Caiado (OAB.GO n 21.047). o que se pede, esperando deferimento. Goinia, 24 de junho de 2011. Alexandre Alencastro Veiga. OAB.GO n 20.045.