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3 EXPERINCIA DESENVOLVIMENTISTA NO SCULO XX EM PASES SELECIONADOS

Este captulo tem por objetivo analisar os resultados da experincia desenvolvimentista em pases selecionados durante a segunda metade do Sculo XX a fim de identificar os fatores

impulsionadores de seu desenvolvimento econmico. Para efeito da anlise de suas experincias desenvolvimentistas, foram selecionados o Japo, a Itlia e a Coria do Sul, pases que experimentaram extraordinrio desenvolvimento econmico da dcada de 1930 at a de 1980, quando os dois primeiros saram da condio de pases semiperifricos para galgarem a de

integrantes do ncleo orgnico da economia capitalista mundial e o ltimo deixou a condio de pas perifrico para alcanar a de pas semiperifrico da economia capitalista mundial.

Alm desses pases, foram analisadas, tambm, as experincias desenvolvimentistas de Taiwan e da Repblica Popular da China, que vm apresentando crescimento extraordinrio no perodo recente. Foram analisados, tambm, as experincias de desenvolvimento endgeno implementadas no Brasil e no exterior e o conceito de desenvolvimento sustentvel, alm de serem apresentadas concluses sobre o processo de desenvolvimento econmico e social. O Mapa 11 mostra a localizao do Pacfico Asitico onde ocorreu o maior crescimento

econmico mundial na segunda metade do Sculo XX.

MAPA 11

PACFICO ASITICO

O CE AN O ATLNTIC O

O CE AN O N DIC O

O CE AN O PAC FICO

O CE AN O PAC FICO

C or ia do N or te

C or ia do S u l

Taiw an (Form osa)

C hina

Cingapura

Hong-Kong

M a l s i a

Jap o

ndia

0o

0o

Base: Atlas, 2002. Adaptao do autor

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3.1 EXPERINCIA DESENVOLVIMENTISTA NO JAPO10

3.1.1 O processo de desenvolvimento do Japo

O processo de crescimento econmico, transformao tecnolgica e desenvolvimento social alcanado pelo Japo na ltima metade do sculo, ressurgindo das cinzas de suas ambies imperialistas destrudas, um fenmeno extraordinrio. Essas realizaes, sem dvida,

exigiram tremendo esforo de toda a sociedade japonesa, com seus trabalhadores dedicando-se a muito mais horas de trabalho que os colegas norte-americanos e europeus, consumindo

muito menos e economizando/investindo muito mais por um longo perodo de tempo.

O Japo foi ajudado pelas reformas impostas pela ocupao norte-americana, dentre as quais, as mais importantes, a reforma agrria, a legislao trabalhista, a proibio de monoplios econmicos que levou ao desmantelamento dos zaibatsu e a nova legislao eleitoral que conferiu s mulheres o direito ao voto. O impressionante processo de desenvolvimento do Japo tem como base um projeto de afirmao de identidade nacional em continuidade Revoluo Meiji de 1868 que foi realizada para capacitar o pas a enfrentar o desafio ocidental.

Aps o fracasso da jornada democrtica para a modernizao durante o perodo Taisho (191226) como do projeto militarista ultranacionalista do perodo 193545, o nacionalismo japons ressurgiu sob a forma de projeto de desenvolvimento econmico promovido pelo Estado e voltado para a concorrncia pacfica na economia internacional. O Japo promoveu uma mobilizao coletiva: primeiro sobreviver, depois competir e, por fim, afirmar-se via produo industrial, gesto econmica e inovao tecnolgica.

O ponto inicial de qualquer anlise do desenvolvimento japons deve ser a busca da independncia e do poder nacional, por intermdio de meios (econmicos) pacficos, segundo a Constituio de 1947 que renunciou guerra e s foras armadas de forma definitiva. O cerne do processo de desenvolvimento japons desde a dcada de 50 o projeto nacionalista do Estado desenvolvimentista, implementado pela burocracia estatal em nome da nao. Os burocratas do Estado tm orientado e coordenado as empresas japonesas organizadas em redes (keiretsu e kygio shudan), ajudando-as com polticas de comrcio, tecnologia e crdito para competirem com sucesso na economia mundial.

10 Anlise baseada nas obras de CASTELLS, 1999; PORTER, 1993; DOBBSHIGGINSON, 1998; SATOSHI, 1985; JOMO,

2001.

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O supervit comercial reciclado como supervit financeiro, aliado alta taxa de poupana interna, permitiu uma expanso no-inflacionria, possibilitando, ao mesmo tempo, altas taxas

de investimento e aumento rpido dos salrios reais. ndices elevados de investimento em P&D e enfoque em indstria avanada capacitaram o Japo a assumir uma posio de

liderana nos setores de tecnologia da informao em uma poca em que seus produtos e processos se tornaram essenciais na economia global.

Esse desempenho econmico contou com a estabilidade social e a alta produtividade da fora de trabalho por meio da cooperao entre a gerncia e os trabalhadores, possibilitada pela

estabilidade no emprego e pela promoo da fora de trabalho permanente com base no tempo de servio. A estabilidade social baseava-se em trs fatores principais: a) comprometimento do povo para reconstruir a nao; b) acesso ao consumo e melhoria substancial dos padres de vida; c) famlia patriarcal forte e estvel que reproduzia os valores tradicionais, induzia tica do trabalho e proporcionava segurana pessoal a seus membros, custa da manuteno da submisso feminina.

Os mecanismos indutores do crescimento econmico, elaborados e implementados por essa mquina estatal nacionalista, tm sido expostos em uma srie de monografias sobre o

milagre japons: incansvel d irecionamento para exportaes com base em alta competitividade, possibilitada por aumentos substanciais da produtividade, pela qualidade do trabalho e pelo protecionismo dos mercados internos; abundncia de capital resultante do alto

ndice de poupana e crdito de curto prazo para os bancos das keiretsu pelo Banco do Japo, a baixas taxas de juros; esforo sustentado para o desenvolvimento tecnolgico com programas para aquisio de tecnologia e inovao tecnolgica patrocinados pelo governo; nfase na indstria; poltica industrial, mudando dos setores de baixa tecnologia para os de tecnologia mdia e, depois, para os de alta tecnologia, acompanhando a evoluo da tecnologia, da demanda mundial e da capacidade produtiva das indstrias japonesas.

As indstrias japonesas conseguiram passar, com velocidade notvel, de produtos e processos de baixo valor agregado para produtos e processos de alto valor agregado, superando primeiro

a Europa e depois os Estados Unidos em muitos setores importantes, de automveis a semicondutores. Essa situao persistiu at que a contra-ofensiva tecnolgica/ gerencial das empresas norte-americanas, na dcada de 90, colocou-as frente da concorrncia japonesa na esfera mais alta dos microcomputadores, softwares, microeletrnica, telecomunicaes e biotecnologia. No entanto, as empresas japonesas continuam predominando na fabricao de

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produtos eletrnicos para consumo, chips de memria e equipamentos de semicondutores e ainda so fortes concorrentes em toda a gama de setores da indstria avanada, com a

importante exceo de produtos dos ramos farmacutico e qumico. A eficcia da orientao administrativa teve a ajuda decisiva da estrutura em rede, comum s empresas japonesas.

O grande crescimento do Japo baseou-se em um sistema financeiro bancado pelo governo, destinado a garantir segurana tanto aos poupadores quanto aos bancos e a oferecer crdito fcil com juros baixos s empresas. Por longo tempo, as instituies financeiras japonesas operaram relativamente isoladas dos fluxos de capital internacional e sob regulamentao e diretrizes de

polticas elaboradas e interpretadas pelo Ministrio da Fazenda. O mercado acionrio no era fonte importante de financiamento e no representava investimento atraente para poupana.

Enquanto o sistema funcionou, baseado em competitividade no exterior, altos ganhos com exportaes, altas taxas de poupana e valores inflacionados no pas, o prprio sistema financeiro foi alimentando sua expanso. Em 1990, oito dos dez maiores bancos do mundo, em volume de depsitos, eram japoneses. O modelo japons representa uma experincia crucial que demonstra como a interveno estatal estratgica e seletiva pode tornar uma economia de mercado mais produtiva e mais competitiva, contestando, dessa forma, afirmaes ideolgicas sobre a eficincia superior inerente economia do laissez-faire.

3.1.2 Bases do desenvolvimento do Japo

O Japo tem grande reserva de recursos humanos alfabetizados, educados e cada vez mais habilitados. Os japoneses so disciplinados, trabalham com afinco e esto dispostos a cooperar com o grupo. O Japo beneficiou-se de uma grande reserva de engenheiros. As universidades japonesas formam muitos mais engenheiros per capita do que as universidades dos Estados Unidos.

A base cientfica do Japo no se rivalizou com a dos Estados Unidos ou Alemanha, mas se tornou significativa em vrios campos. O que excepcional em relao ao sistema educacional ps-secundrio do Japo a educao e o treinamento proporcionado nas companhias, tanto aos trabalhadores quanto aos diretores.

As companhias japonesas so o principal motor de pesquisa e desenvolvimento no Japo. A pesquisa universitria limitada e o intercmbio entre as companhias e universidades modesto, se comparado a outros pases. As companhias japonesas tambm tiveram habilidade excepcional para conseguir tecnologias no exterior.

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O hbito de poupar era, em parte, cultural, e em parte, reflexo das polticas do governo. A ausncia de recursos naturais no Japo traduziu-se em inovao em muitas indstrias

japonesas. O mercado interno, no os mercados externos, levou ao desenvolvimento a maioria das indstrias japonesas. S mais tarde, as exportaes se tornariam significativas. O papel das indstrias correlatas e de apoio na vantagem competitiva nacional um dos aspectos mais notveis da economia japonesa. As indstrias bem sucedidas cresceram a partir de outras correlatas. Quando diversificam, as empresas japonesas o fazem, quase exclusivamente em setores correlatos.

As empresas japonesas maiores tm, com freqncia, redes de pequenos e mdios subempreiteiros e fornecedores. Com empresas e seus fornecedores colocados perto uns dos

outros, as informaes circulam livremente, o servio excelente e as mudanas rpidas. As relaes entre a mo-de-obra e a administrao so respeitosas e as greves raras. Os engenheiros esto na direo de muitas das principais companhias fabris do Japo onde a orientao tcnica predominante.

Embora exista um grande mercado interno, a intensa rivalidade interna e capacidade ociosa so estmulos para as vendas internacionais. Talvez o maior determinante isolado do sucesso

japons seja a natureza da rivalidade interna. A proliferao de rivais internos, juntamente com a presso da demanda e metas intensivamente orientadas para a parcela de mercado, cria uma situao favorvel inovao e mudana.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o papel do governo foi relativamente pesado. Dirigiu o fluxo de capital e recursos escassos para determinados setores, limitou a entrada de capital

estrangeiro, negociou licenas de tecnologia estrangeira, conteve as taxas de cmbio e proporcionou vrios tipos de assistncia na exportao.

3.1.3 A crise econmica atual do Japo

Desde meados da dcada de 1980, o Japo comeou a apresentar uma crise estrutural na qual a crise financeira estava no primeiro plano.O principal problema o surpreendente volume de emprstimos incobrveis acumulado por bancos japoneses equivalente a 12% do PIB do Japo. Tal crise financeira fez com que vrios bancos fossem incorporados, estatizados ou

liquidados. Os bancos sobreviventes restringiram o crdito de forma drstica e, assim, esgotaram o crdito para a economia. Em 1998, a economia japonesa encolheu e as perspectivas para o fim do sculo eram de recesso prolongada.

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Trs fatores foram decisivos para o fim desse sistema financeiro. Primeiro, a bolha dos mercados imobilirios e de aes estourou em 1991. Segundo, com a exposio das instituies financeiras japonesas aos mercados financeiros globais, ficou cada vez mais difcil seguir as prticas financeiras usuais do pas. Terceiro, o governo perdeu muito de sua capacidade de cobrir os dbitos bancrios e a potencial inadimplncia.

O problema mais srio do sistema financeiro japons resultou de sua crescente exposio aos mercados financeiros globais. Diante de uma economia japonesa estagnada e com um prspero mercado na regio do Pacfico asitico, os bancos e instituies financeiras japonesas emprestaram grandes somas de dinheiro a esses mercados emergentes reproduzindo as mesmas prticas de crdito usadas no Japo. Quando a crise eclodiu nesses mercados, muitos emprstimos perderam as garantias, causando inadimplncia.

3.2 A EXPERINCIA DESENVOLVIMENTISTA NA ITLIA11

3.2.1 O processo de desenvolvimento da Itlia

A Itlia voltou s fileiras dos pases adiantados nas duas ltimas dcadas. O crescimento geral da Itlia na participao das exportaes mundiais s menor do que o do Japo, entre as naes mais importantes. O crescimento de sua produtividade e de sua renda per capita s

menor do que o do Japo e Coria, entre os pases estudados.

As indstrias italianas internacionalmente bem-sucedidas tendem a caracterizar-se como empresas

mdias e pequenas que competem principalmente na exportao, com investimento exterior direto limitado. As grandes empresas representam parcela modesta no total do comrcio italiano. Outra caracterstica notvel das indstrias italianas a concentrao geogrfica; muitas, talvez centenas de empresas de uma indstria esto localizadas numa nica cidade.

A maioria dos bancos italianos controlada, direta ou indiretamente, pelo Estado e so extremamente conservadores. A grande maioria do capital bancrio vai para as grandes

empresas, os projetos do governo ou empresas estatais e para o financiamento da enorme dvida nacional. O capital de risco praticamente inexistente na Itlia.

Dois aspectos caracterizam o desenvolvimento econmico italiano no perodo ps-guerra: a ocorrncia de uma elevada taxa de crescimento do PIB e o aumento das desigualdades

11 Anlise baseada nas obras de PORTER, 1993; CESAROTTO FILHO e PIRES, 1999.

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regionais, criando um dualismo entre o norte e o sul da Itlia. O norte a parte industrializada, com grandes empresas, enquanto a produo no sul realizada principalmente

por pequenas empresas, que absorveram o excesso de mo-de-obra dos setores mais avanados da economia.

Desde os anos 50, a poltica do governo italiano de apoio s empresas voltou-se principalmente para o sul do pas, incluindo Sardenha, Siclia e outras ilhas, (Mezzogiorno), procurando atrair novos investimentos para essa rea. At 1993, diversos incentivos foram concedidos a essa regio, destacando-se a iseno por 10 anos do pagamento de impostos de

renda das indstrias e de tributos locais, tratamento favorecido no pagamento do imposto sobre o valor adicionado, apoio financeiro, dispensa do pagamento da parcela dos

trabalhadores no imposto sobre a previdncia social e reduo de determinadas tarifas.

A partir de 1994, as reas menos desenvolvidas do pas passaram a ser beneficiadas por programas de incentivo da Comunidade Europia (CE). Tambm em 1994, foi fundada, pelo Ministrio da Fazenda, a IG (Societa per LImprenditorialita Giovanile) para substituir o antigo programa estatal de apoio ao jovem empresrio (Comit para o Desenvolvimento do Empreendimento entre as Pessoas Jovens), criado em 1986. J no norte da Itlia, o crescimento das MPMEs12 foi impulsionado pelo processo de desverticalizao da produo das grandes empresas, iniciado entre os anos 60 e 70, em funo dos aumentos nos encargos trabalhistas.

No incio dos anos 70, no entanto, entre o norte e o sul da Itlia surgiu uma Terceira Itlia. Nessa regio, o crescimento das MPMEs foi impulsionado pela formao de distritos industriais, nos quais estabeleceu -se um sistema de confiana e cooperao entre tais empresas, que se especializaram na produo de artigos com o slogan Made in Italy. Nessas reas, o desenvolvimento das MPMEs no foi realizado pela descentralizao da produo das grandes empresas, mas por laos econmicos, sociais, polticos e culturais histricos, que permitiram at mesmo s estruturas produtivas consideradas ineficientes tornarem-se eficientes nesse caso especfico.

3.2.2 Bases do desenvolvimento da Itlia

O sistema universitrio acentuadamente estatal. As empresas italianas oferecem pouco treinamento formal e no apiam ativamente as universidades. O treinamento avanado na

12 MPMEs micros, pequenas e mdias empresas

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Itlia feito no emprego.

Os grupos de indstrias correlatas e de apoio so uma caracterstica da economia italiana. As relaes verticais entre indstrias bem-sucedidas so as mais acentuadas. As relaes horizontais baseiam-se mais tipicamente em demandas do consumidor ou canais de distribuio comuns. Os nveis de integrao vertical nas empresas italianas tendem a ser muito baixos. As empresas subcontratam outras firmas.

A verdadeira mola propulsora do sucesso italiano em muitas indstrias a extraordinria rivalidade entre as centenas de competidores internos. O efeito dessa competio a inovao e especializao constantes. As barreiras comerciais limitam os rivais estrangeiros.

Grande parte da ajuda governamental foi canalizada para salvao de empresas, subsdios e promoo do desenvolvimento no Sul do pas. A poltica regional baseada na atrao de fbricas isoladas para o Sul, com pesados subsdios e promoo do desenvolvimento dessa

regio do pas.

3.3 A EXPERINCIA DESENVOLVIMENTISTA NA CORIA DO SUL13

3.3.1 O processo de desenvolvimento da Coria do Sul

A interveno norte-americana na Coria foi fundamental para a criao de uma economia moderna em 194860, mediante a reforma agrria, o apoio militar e a ajuda financeira macia que permitiu a reconstruo e a sobrevivncia do pas. O rpido processo de desenvolvimento da Coria do Sul comeou no governo Park Chung Hee, instaurado pelo golpe militar de maio de 1961.

Com o apoio militar, financeiro e poltico dos Estados Unidos, os militares da Coria do Sul engajaram-se na construo de uma poderosa economia como alicerce de seu projeto nacionalista. Nos estgios iniciais de desenvolvimento, o Estado assumiu um papel empresarial por meio de empresas e investimentos pblicos.

O governo Park, muito influenciado pelo modelo japons, visava criar uma estrutura industrial baseada em grandes empresas coreanas, organizadas como conglomerados. Para tanto, foram estabelecidas fortes medidas protecionistas com o objetivo de preservar os

13 Anlise baseada nas obras de CASTELLS, 1999; PORTER, 1995; DOBBS-HIGGINSON, 1998; CANUTO, 1994; KANG,

1990; JOMO, 2001.

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mercados internos. Dado o limitado poder de compra do mercado interno, o governo decidiu manter uma estratgia totalmente voltada para exportao com base na indstria.

Com o controle do sistema bancrio e das licenas para exportao/importao, o Estado

provocou a fuso das empresas coreanas na forma de grandes redes verticais (chaebol), semelhantes s keiretsu japonesas, contudo sem independncia financeira. O governo instituiu um Conselho de Planejamento Econmico que projetou e implementou vrios planos econmicos qinqenais e direcionou as empresas coreanas para os setores considerados

estratgicos para a economia nacional.

O nacionalismo do governo levou rejeio a presena excessiva de empresas multinacionais estrangeiras, temendo sua influncia sobre a sociedade e a poltica. Assim, a entrada de capital na Coria do Sul tomou a forma de emprstimos garantidos pelo governo sob patrocnio dos Estados Unidos. O capital estrangeiro representou 30% da formao de todo o capital interno bruto entre 1962 e 1979.

Foi apenas na dcada de 70, quando as bases da economia sul-coreana estavam solidamente estabelecidas sob o controle rgido dos chaebol orientadas pelo Estado, que o governo se movimentou para procurar investimentos estrangeiros diretos. O governo era muito seletivo ao permitir investimento estrangeiro, procurando, sobretudo, empresas que pudessem facilitar

alguma transferncia de tecnologia.

O Estado agiu de forma repressiva contra os trabalhadores. A manuteno do aumento dos

salrios em nvel substancialmente mais baixo do que o crescimento da produtividade era a

base da poltica econmica governamental. A nfase em cincia e tecnologia aliada

melhoria dos produtos e processos na indstria coreana tem sido a obsesso da Coria do Sul

desde a dcada de 60.

3.3.2 Bases do desenvolvimento da Coria do Sul

Os coreanos tm um alto ndice de alfabetizao e alto nvel mdio de educao. O sistema

universitrio amplo e investimentos particularmente agressivos foram feitos na engenharia.

As despesas com educao representavam 20,8% do oramento governamental em 1987. A

pesquisa acadmica complementada por todo um leque de institutos de pesquisas

especializadas financiadas no todo ou em parte pelo governo.

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As principais companhias coreanas investem muito no aprimoramento de sua capacidade tcnica. Muitas das indstrias coreanas beneficiaram-se da presena de grandes empresas de

comrcio internacional com redes internacionais de escritrios bem estabelecidas e ajudaram os fabricantes coreanos a penetrar nos mercados estrangeiros. Os chaebol foram protegidos e fortemente apoiados pelo governo. Controlam o capital e a influncia para fazer grandes investimentos em indstrias como construo naval e semicondutores.

O papel do governo coreano na canalizao de capital foi vital quando o pas sofria sua escassez. A proteo do mercado interno contra as importaes e o investimento estrangeiro

era comum. O governo coreano procurou assegurar as melhores condies para o licenciamento de tecnologia estrangeira em indstrias escolhidas, o que reduziu o custo da

obteno dessa tecnologia e apressou o processo pelo qual as empresas coreanas desenvolveram a sua prpria capacidade tcnica.

3.3.3 A crise econmica da Coria do Sul

A crise sul-coreana comeou com a falncia, em janeiro de 1997, de uma das grandes chaebol, a Hanbo. Nos meses seguintes, vrias outras entre as 30 maiores tambm declararam falncia. Em setembro de 1997, emprstimos inadimplentes e falncias representavam cerca de 7,5% do PIB. O declnio subseqente dos preos das aes e o rebaixamento dos ttulos e valores mobilirios sul-coreanos pelas agncias internacionais de classificao de risco levaram a uma debandada de credores estrangeiros que exigiam o resgate de seus emprstimos. Seguiu-se a fuga de capitais.

Trs fatores foram cruciais para a falncia das chaebol: 1) Estavam produzindo a custos mais altos do que seus concorrentes asiticos e no eram capazes de competir em nvel tecnolgico com as

empresas japonesas, norte-americanas e at mesmo taiwanesas; 2) As transaes financeiras j no eram mais intermediadas pelo Estado, mas por bancos coreanos sem regulamentao rgida o

que fez com que o coeficiente de endividamento das empresas subissem de forma assustadora, levando o sistema financeiro a uma situao de risco; 3) A mudana de atitude do Estado sul-coreano que no socorreu as chaebol em geral, concentrando-se apenas naquelas empresas em que o governo tinha interesse pessoal ou poltico.

A ausncia de regulamentao e o pouco controle do governo sobre o sistema financeiro foram os fatores decisivos para que a crise financeira arruinasse a economia. Analisando as razes da crise dos tigres asiticos, pode -se afirmar que a liberalizao financeira reduziu o

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monitoramento e a superviso das operaes e transaes bancrias, tambm aquelas que exigiam mais prudncia. Houve tambm um significativo aumento de bancos privados e de transaes internacionais. Alm disso, a liberalizao dos servios financeiros bem como das regulamentaes de investimentos, incluindo a liberalizao de capitais, reduziu a capacidade nacional de administrar os fluxos financeiros que contriburam decisivamente para a ecloso da crise na sia.

3.4 A EXPERINCIA DESENVOLVIMENTISTA EM TAIWAN14

3.4.1 O processo de desenvolvimento de Taiwan

O crescimento teiwans foi conquistado em grande parte com produtividade e competitividade geradas por um sistema de produo flexvel. A flexibilidade diz respeito

estrutura industrial em si e a sua adaptabilidade geral s condies da economia mundial em constante mudana sob a direo de um Estado forte.

Durante o processo de desenvolvimento, o modelo de crescimento econmico mudou drasticamente da nfase na indstria em substituio importao dos anos 50, passando pela industrializao orientada exportao na dcada de 60 (o perodo de decolagem) e chegando fase que Gold (1986) chama de substituio da importao voltada para a exportao durante as dcadas de 70 e 80 (ou seja, a ampliao da base industrial para alimentar exportaes de bens manufaturados).

Nos anos 80, quando Taiwan se tornou uma potncia econmica por si s, as empresas taiwanesas

enfrentaram o mercado mundial, internacionalizando sua produo e seus investimentos na sia (em especial na China) e nos pases da OCDE (sobretudo nos Estados Unidos).

Uma reforma agrria de inspirao norte-americana destruiu a classe de proprietrios rurais e gerou uma grande populao de pequenos agricultores que, com a ajuda do Estado, aumentou a produtividade agrcola de forma significativa. A produtividade agrcola foi a primeira fonte de acmulo de supervit. Gerou capital para investimentos e liberou mo-de-obra para o trabalho no setor industrial urbano.

O Estado taiwans atraiu o investimento estrangeiro como um modo de obter capital e acesso aos mercados internacionais. Mas as empresas estrangeiras eram ligadas, por meio de sistema

14 Anlise baseada nas obras de CASTELLS, 1999; DOBBS-HIGGINSON, 1998; JOMO, 2001.

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de subcontratao, a uma ampla rede de pequenas empresas que formavam uma base significativa para produo industrial. Na verdade, com exceo do setor eletrnico, o

investimento estrangeiro direto no representou e no representa um componente importante da economia taiwanesa.

A orientao da economia voltada para o exterior no implica seu controle por multinacionais (como em Cingapura) nem a formao de grandes conglomerados nacionais (a exemplo da Coria), embora vrios grupos industriais tenham se desenvolvido sob os auspcios do Estado e, na dcada de 90, houvesse diversas empresas taiwanesas de grande porte totalmente internacionalizadas.

A maior parte do desenvolvimento de Taiwan foi possibilitada por uma combinao flexvel

de redes descentralizadas de empresas familiares taiwanesas, atuando como subcontratadas para fabricantes estrangeiros localizados em Taiwan e como fornecedoras de redes comerciais internacionais, em geral conectadas por intermedirios.

O Estado foi o principal agente na orientao e coordenao do processo de industrializao, na montagem da infra-estrutura, na atrao do capital estrangeiro, na escolha das prioridades para investimentos estratgicos e na imposio de suas condies, quando necessrio.

O Estado taiwans desempenhou um papel secundrio na crescente competitividade das empresas taiwanesas durante a dcada de 90. Havia redes dessas empresas em Taiwan, na sia e nos Estados Unidos (em especial no Vale do Silcio) que encontraram o prprio caminho para sair da crise dos semicondutores.

3.4.2 Bases do desenvolvimento de Taiwan

Um fator essencial no aumento da produtividade econmica foi o grande rendimento da mo-de-

obra mediante uma combinao de salrios baixos, educao decente, trabalho rduo e paz social.

O fator mais essencial para a manuteno da paz social foi a estrutura industrial em si,

formada por milhares de pequenas empresas, muitas das quais tendo como base os membros da famlia e redes sociais primrias, s vezes ligadas atividade agrcola de meio expediente.

Em meados dos anos 80, Taiwan tornou-se uma economia madura e diversificada, com slida base nos mercados mundiais e as maiores reservas monetrias do mundo. As empresas

taiwanesas sentiam-se fortes o suficiente para enfrentar a China, investindo por meio de Hong

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Kong e tornando-se participantes fundamentais do milagre econmico chins.

3.4.3 A crise econmica atual de Taiwan

As vastas reservas de moedas estrangeiras de Taiwan, as maiores do mundo, desencorajaram a maior parte dos ataques especulativos. Embora sofresse com a crise, perdendo importantes mercados de exportao, Taiwan foi poupado da maior parte das turbulncias financeiras.

3.5 A EXPERINCIA DESENVOLVIMENTISTA NA CHINA15

3.5.1 O processo de desenvolvimento da China

O fato de o Imprio do Meio, rompendo com um padro milenar de isolamento absoluto ou

relativo, ter se incorporado deliberadamente ao resto do mundo mudou o curso da histria universal. Menos de duas dcadas aps o comeo da poltica de portas abertas, o crescimento

econmico chins, o mais rpido do planeta, e a competitividade da China no comrcio internacional surpreenderam governos e empresas, despertando sentimentos contraditrios.

A integrao da China na economia global no teve um bom comeo no incio dos anos 80: a poltica das Zonas Econmicas Especiais que criava quatro Zonas de Processamento de Exportao, enfrentando Hong Kong, Macau, Taiwan, pretendia oferecer mo-de-obra e terra barata, iseno tributria e disciplina social a investidores estrangeiros, sobretudo empresas multinacionais com o objetivo de serem utilizadas como plataformas de exportao.

Uma vez estabelecidas as redes de investimentos de Hong Kong e Taiwan no fim dos anos 80,

o capital fluiu de todo o globo, boa parte dele proveniente das comunidades chinesas do exterior. Os governos provinciais e locais da China investiram em novas empresas voltadas para o mercado, muitas vezes em joint ventures com investidores estrangeiros e tornaram-se a fonte privada de acumulao capitalista como empresrios coletivos que compartilhavam os

benefcios de seus empreendimentos.

Surgiu na China uma nova classe capitalista constituda, sobretudo, por empresrios

burocrticos, isto , por indivduos (com muita freqncia membros do Partido Comunista) que tm acesso a recursos graas a seu controle sobre as instituies e finanas pblicas. Com a utilizao desses recursos, eles investem em negcios em nome das instituies pblicas que

15 Anlise baseada nas obras de CASTELLS, 1999; DOBBS-HIGGINSON, 1998; JOMO, 2001; COUTINHO, 2002.

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representam sozinhos ou com outras instituies burocrticas ou cada vez mais em parceria com investidores estrangeiros. Essas empresas mistas so o elemento mais importante do

capitalismo chins. um capitalismo bastante descentralizado porque segue os contornos das alianas provinciais e locais das redes de empresas com as quais esto conectadas.

Em meados dos anos 90, o processo de desenvolvimento estava sob a superviso do Estado. Em 199798, a China consolidou seu poder econmico e manteve relativa estabilidade, resistindo ao assalto destrutivo dos fluxos financeiros e evitando entrar em recesso. O governo chins sentiu-se forte o suficiente at para salvar o dlar de Hong Kong da desvalorizao.

Um fator que manteve a China na trajetria do desenvolvimento foi a administrao pelo governo de seu ritmo de integrao no comrcio internacional. O principal fator que explica a capacidade relativa da China para absorver o choque da crise sua integrao limitada na economia global, sobretudo em termos de mercados financeiros. O controle governamental das ligaes entre o sistema financeiro chins e os mercados globais funcionou como um anteparo, protegendo o sistema para que resistisse aos movimentos dos fluxos financeiros de todo o mundo. A China demonstra a possibilidade de beneficiar-se da globalizao e de, ao mesmo tempo, oferecer proteo parcial economia do pas contra as foras incontrolveis dos mercados globais.

No h paralelo para o sucesso da poltica econmica chinesa nos ltimos 20 anos na sustentao de elevada taxa de crescimento (de 8,5% ao ano, em mdia), reduo da pobreza e avano competitivo medido pela participao nas exportaes mundiais (cresceu de 0,9% em 1980 para 3,4% em 1998). Se avaliado com base na PPP (paridade de poder de compra), o PIB da China hoje o segundo do mundo, atrs apenas dos Estados Unidos. Sua taxa agregada de investimento alcana 40% do PIB e seu ndice de alfabetizao plena de 82% da populao.

Apesar da veloz abertura econmica (a corrente de comrcio exterior subiu de 16% do PIB, em 1980, para 41%, em 1999), notvel sublinhar que a China no se tornou vulnervel. Sua poltica econmica no permitiu a formao de um dficit em transaes correntes que a obrigasse a tomar recursos emprestados no mercado internacional. Bem ao contrrio, a China ostenta um significativo supervit comercial, grande receptora de investimentos diretos

estrangeiros e mantm suas contas externas com saldo positivo, acumulando reservas de divisas superiores a US$ 200 bilhes. Por isso, apesar do elevado grau de abertura comercial, a economia chinesa tem-se mostrado bastante robusta ante os choques externos, tendo ultrapassado quase inclume s crises que flagelaram as economias emergentes desde 1997.

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3.5.2 Problemas atuais e futuros da China

Apesar do inegvel sucesso at agora, no so fceis os desafios que se antepem ao futuro da China. Desde logo h o desafio de sustentar uma elevada taxa de crescimento sem a qual no se criam empregos na escala necessria para manter a hegemonia do PC sobre o Estado (associado s Foras Armadas) numa sociedade crescentemente permeada por valores consumistas e individualistas, que tendem a erodir o substrato tico e ideolgico do seu regime poltico monopartidrio. O tamanho da populao chinesa (1,3 bilho de pessoas) e a intensidade da migrao campo-cidade requerem a criao de, pelo menos, 10 milhes de novos empregos por ano para manter o equilbrio social, evitando que o desemprego urbano suba de forma desestabilizadora.

O brilhante desempenho econmico da China exige exportaes e importaes crescentes. A

forte expanso das importaes nos ltimos anos resulta de duas condies: 1) da estreita base de recursos naturais e de terra agricultvel, que requer importaes suplementares de vrias

matrias-primas e alimentos; 2) da necessidade de importar bens de capital, tecnologia e componentes sofisticados para dar suporte expanso industrial. At o presente, a China tem conseguido realizar um extraordinrio e continuado incremento de suas exportaes (US$ 249,3 bilhes em 2000) para fechar com folga as suas contas, tendo-se tornado a campe mundial em manufaturas leves intensivas em trabalho. Mas no mais possvel que sua participao j alta continue crescendo no mercado mundial desses bens.

Ser necessrio diversificar, ingressando em setores mais dinmicos e de maior contedo tecnolgico. A poltica chinesa est-se movendo nessa direo: equipamentos de informtica e de telecomunicaes j ocupam posies importantes na pauta exportadora. O governo tem priorizado o desenvolvimento dos setores das tecnologias de informao e vem negociando associaes com empresas estrangeiras a fim de absorver capacitao tecnolgica e obter

canais de exportao. Simultaneamente h firme apoio s empresas nacionais, com significativa expanso recente de programas de P&D, treinamento e formao de recursos humanos de alto nvel.

A escassez relativa de recursos naturais (reservas de gua doce, florestas, terras agricultveis, recursos minerais) diante do tamanho da populao, assim como o ritmo de deteriorao do ambiente, constitui problema grave. necessrio poupar os recursos naturais atravs de inovaes tcnicas, de formas inteligentes de racionamento e da escolha de especializaes econmicas menos demandantes dos fatores escassos. Nesse sentido, o complexo das

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tecnologias de informao uma opo duplamente adequada (dos ngulos ambiental e de competitividade exportadora).

A China ter ainda de enfrentar vrios outros desafios, a saber: reestruturar e fortalecer o seu sistema bancrio, comprometido com emprstimos insolventes; lidar com as crescentes desigualdades regionais e sociais; avanar na modernizao do aparelho do Estado; aperfeioar sua estrutura fiscal e tributria; cuidar bem dos setores em que predomina a empresa privada. Essa , sem dvida, uma agenda difcil, mas a China tem a grande vantagem de ter construdo condies autnomas para executar um projeto nacional de desenvolvimento coeso e articulado por um Estado razoavelmente competente, consciente e pragmtico. Sua experincia deveria inspirar muitas lies ao Brasil.

3.6 A EXPERINCIA BRASILEIRA E MUNDIAL COM O MODELO DE DESENVOLVIMENTO ENDGENO 16

Os desequilbrios regionais preexistentes e aqueles advindos da reorganizao produtiva internacional contempornea passaram a ser basicamente estudados sob duas categorias analticas distintas: a do desenvolvimento sustentvel e a do desenvolvimento endgeno.O desenvolvimento sustentvel centra sua ateno para a relao dos homens com a natureza,

preconizando a utilizao racionalizada dos estoques de recursos naturais (NIJKAMP et. al., 1990). A grande preocupao de seus estudiosos est voltada s geraes futuras e a necessidade de polticas que preconizem um desenvolvimento harmonioso e, prioritariamente, sustentvel nos perodos posteriores (GUIMARES, 1994).

Todavia, a teoria do desenvolvimento endgeno que focaliza, com toda ateno, a questo

regional, apresentando as maiores contribuies para a problemtica das desigualdades regionais e os melhores instrumentos de polticas para sua correo. A capacidade de a

sociedade liderar e conduzir o seu prprio desenvolvimento regional, condicionando-o mobilizao dos fatores produtivos disponveis em sua rea e ao seu potencial endgeno, traduz a forma de desenvolvimento denominado endgeno. (VSQUEZ BARQUERO, 1988).

A contribuio da teoria de desenvolvimento endgeno consistiu em identificar quais fatores de

produo atualmente decisivos, como o capital social, o capital humano, o conhecimento, a

16 Anlise baseada nas obras de BAPTISTA, 1999; BLAKELY, 1994; CAMAROTTI e SPINK, 2000; CASAROTTO FILHO

e PIRES, 1999; LLORENS, 2001; SAXENIAN, 1994; SOUZA, 1993; SOUZA FILHO, 1999; VASQUEZ BARQUERO, 1988.

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pesquisa e desenvolvimento, a informao e as instituies, eram determinados dentro da regio e no de forma exgena, como at ento era entendido. Por conseguinte, logo se concluiu que a

regio dotada desses fatores ou estrategicamente direcionada para desenvolv-los internamente teria as melhores condies de atingir um desenvolvimento acelerado e equilibrado.

Levando em considerao tais pressupostos, possvel compreender que uma estratgia poltica de desenvolvimento regional no pode se ater somente em aes de cunho ortodoxo, como linhas de crdito, incentivos fiscais ou de investimentos na formao bruta de capital fixo. Deve tambm procurar manter e ampliar o estoque de capital social em sua comunidade, fortalecendo a auto-organizao social, estimulando a prtica de solues colaborativas para problemas comuns e promovendo a participao e a abertura ao dilogo com os diversos integrantes das comunidades regionais.

o caso, por exemplo, da indstria do carnaval baseada nos trios eltricos e blocos carnavalescos organizados por pequenas e mdias empresas localizadas na cidade de Salvador no Estado da Bahia. Durante o ano todo e, principalmente no carnaval, desenvolvem-se inmeras atividades geradoras de emprego e renda para milhares de pessoas. Essa indstria alcanou to grande desenvolvimento que j exporta os trios eltricos para eventos semelhantes em todo o Brasil.

Outra experincia importante de desenvolvimento endgeno o da APAEB Associao dos Pequenos Agricultores do Municpio de Valente no Estado da Bahia que, em meio a um quadro de extrema pobreza dos habitantes da cidade de Valente, vem modificando sensivelmente o panorama da regio sisaleira da Bahia a partir de trs projetos bsicos interligados: Batedeira Comunitria, Cooperativa de Crdito e Fbrica de Sisal. Alm desta experincia, podem ser citados o projeto Asmare o papel das parcerias na gerao de renda de Belo Horizonte, Minas Gerais, o projeto Couro Vegetal da Amaznia no Acre, o projeto Pescar e o projeto Instituio Comunitria de Crdito PortoSol ambos de Porto Alegre, Rio Grande do Sul (CAMAROTTI e SPINK, 2000).

Conceitua-se, portanto, o desenvolvimento econmico local como um processo de articulao, coordenao e insero dos empreendimentos empresariais associativos e individuais, comunitrios, urbanos e rurais, a uma nova dinmica de integrao socioeconmica, de reconstruo do tecido social, de gerao de oportunidades de trabalho e renda. Busca assim estimular e apoiar processos de organizao scio-empresariais urbanos e rurais e sua vinculao a cadeias produtivas. Ainda, objetiva fortalecer os empreendimentos empresariais associativos e de micro empresrios para que gerem empregos sustentveis.

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O desenvolvimento econmico local uma nova estratgia de desenvolvimento, onde a comunidade assume um novo papel: de comunidade demandante, ela emerge como agente,

protagonista, empreendedora, com autonomia e independncia. Ele tem como principal objetivo a melhoria da qualidade de vida de associados, familiares e comunidade, maior participao nas estruturas do poder, uma ao poltica com autonomia e independncia, contribuindo assim para o real exerccio da democracia e para a utilizao racional do meio-ambiente visando o bem da gerao presente e futura.

Entre as abordagens mais radicais das caractersticas tcnicas, organizacionais e territoriais do

perodo recente a da "especializao flexvel", que se sobressai como alternativa de um novo formato industrial mediante inovaes de produtos e processos em que as firmas se tornam

aptas a criarem novos mercados ou ampliarem sua participao nos mercados preexistentes. O conceito de "especializao flexvel" remete-nos a um outro, mais distante no tempo, introduzido na segunda metade do Sculo XX por Alfred Marshall: o de indstria localizada.

A moderna forma da especializao flexvel se encontra no conjunto de pequenas empresas italianas, que possuem a capacidade de desenvolver as mesmas atividades e operaes da grande empresa, formando um todo integrado entre si e apto a potencializar "economias de aglomerao". De incio tecnologicamente rudimentares e intensivos em mo-de-obra, os distritos italianos evoluram no sentido de converterem-se em federaes, ampliando capacidades produtivas e obtendo acesso mais confortvel aos mercados. A federao assumia a forma inusitada de grande indstria sem alterao da estrutura de capital, reunindo suas vantagens competitivas (SOUZA FILHO, 1999).

A Terceira Itlia, o Vale do Silcio, a rota 128 de Massachussets e Blumenau no Brasil so bons exemplos de desenvolvimento baseado nos distritos industriais marshallianos com pequenas e mdias empresas bem articuladas entre si. Saxenian (1994), por exemplo, demonstrou a importncia relevante da formao de redes colaborativas interinstitucionais para o desenvolvimento do Silicon Valley, na Califrnia, uma regio intensamente competitiva.

O renascimento da idia de "distrito marshalliano" em uma poca como a atual, s voltas com os efeitos por vezes negativos da Revoluo Cientfico-Tecnolgica sobre os mercados de trabalho (desemprego, aumento das economias informal e submersa, precarizao dos vnculos empregatcios), acena com a otimista possibilidade da construo de alternativas s tendncias mais desfavorveis do processo de mudana tecnolgica em curso e de

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reestruturao do capitalismo.

No que concerne gerao de empresas locais, pode-se adotar, tambm, como poltica de

desenvolvimento endgeno, a implantao de incubadoras de empresas que so programas de assistncia s micro e pequenas empresas em fase inicial. Sua finalidade viabilizar projetos, criando novos produtos, processos ou servios, gerando novas empresas que, aps deixarem a incubadora, estejam aptas a se manter no mercado. A introduo de novas tecnologias pode ser realizada principalmente em incubadoras de base tecnolgica, como no setor de telecomunicaes, eletrnica, informtica, mecnica de preciso, biotecnologia, qumico,

fabricao de produtos odontolgicos, entre outros.

As polticas industriais formuladas e implementadas no mbito dos governos centrais tm apresentado crescentes limitaes em virtude do processo de globalizao, formao de blocos regionais e restries macroeconmicas relacionadas s finanas pblicas. Como alternativas a

essas polticas industriais centralmente concebidas e implementadas, iniciativas de polticas regionais e locais e polticas especificamente voltadas para pequenas e mdias empresas vm

caracterizando diversas experincias internacionais exitosas, muito embora esses processos tambm venham ocorrendo, em vrias regies, sem o suporte decisivo da ao de governo.

As polticas de industrializao descentralizadas tm despontado, portanto, no cenrio internacional como alternativa s polticas de desenvolvimento industrial centralmente concebidas e implementadas e obtido crescente interesse em virtude do xito observado em industrializaes localizadas no que se refere a ganhos de competitividade e gerao de

emprego e renda. As experincias internacionais de industrializao local constituem atualmente crescente fonte de atrao de interesse de governos, comunidade acadmica e

sociedade em geral, devido ao sucesso em termos de crescimento econmico, competitividade internacional e gerao de emprego nas localidades onde ocorrem.

A industrializao descentralizada se insere, portanto, no contexto do desenvolvimento econmico local. Para o IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada do governo

brasileiro, os diversos tipos de processos de industrializao localizada podem ser caracterizados segundo o grau de desenvolvimento das interaes e articulaes entre os

agentes produtivos entre si e com os agentes institucionais, ou segundo a morfologia e a definio territorial da experincia (por exemplo, se em uma cidade ou em vrias com ou sem uma nucleadora, etc).

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Segundo o IPEA, para tratar da variedade de situaes possveis, adota-se uma tipologia para a caracterizao dos processos examinados, necessariamente insuficiente, para "dar conta" das

diferenas existentes entre todas as peculiaridades das situaes encontradas, mas eventualmente bastante para captar os seus traos essenciais. A tipologia apresentada a seguir

caracteriza as situaes encontradas:

Agrupamento Potencial quando existe, no local, concentrao de atividades produtivas com alguma caracterstica em comum, indicando a existncia de tradio tcnica ou produtiva (inclusive artesanal), embora inexista ou seja incipiente organizao ou interao entre os agentes daquelas atividades.

Agrupamento Emergente quando se observa, no local, a presena de empresas (de qualquer porte) com caracterstica em comum (por exemplo, uma definio setorial comum) que possibilite o desenvolvimento da interao entre seus agentes, a presena de instituies como centros de capacitao profissional, de pesquisa tecnolgica, etc., bem como de atividade incipiente de articulao ou organizao dos agentes locais.

Agrupamento Maduro quando h, no local, concentrao de atividades com caracterstica comum, a existncia de uma base tecnolgica significativa, e se observa a existncia de

relacionamentos dos agentes produtivos entre si e com os agentes institucionais locais caracterizando a gerao de externalidades positivas, mas ainda com a presena de conflitos de interesses e/ou desequilbrios denotando baixo grau de coordenao.

Agrupamento Avanado um agrupamento maduro com alto nvel de coeso e de organizao entre os agentes.

Aglomerao (cluster) apresenta caractersticas de agrupamento maduro quanto ao grau de coeso, embora com menor organizao, referindo-se, porm, a uma sub-regio e envolvendo um nmero maior de localidades ou reas urbanas, de modo contguo e constituindo um espao econmico pouco diferenciado em termos das atividades produtivas e

fatores de produo presentes.

Plo Tecnolgico refere-se queles locais em que esto reunidas empresas intensivas em conhecimento, ou de base tecnolgica, bem como universidades e/ou instituies de pesquisa. Apresenta caractersticas de agrupamento maduro, embora as atividades possam apresentar pouca semelhana, por exemplo, em termos setoriais.

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Redes de Subcontratao so situaes (no necessariamente um local) em que grande(s) empresa(s) nucleadora(s) forma(m) em torno de si redes de fornecedores, e que, embora sem se constiturem em um agrupamento, contam com elevado grau de organizao, hierarquizada pela empresa-ncleo.

Outra iniciativa de desenvolvimento endgeno est relacionada com a formao de recursos humanos que tem como principal objetivo a qualificao da mo-de-obra, o que se torna fundamental para evitar que a falta de qualificao dos trabalhadores locais seja um fator de repulso de investimentos. Como exemplos de sistemas de redistribuio de renda sob a

forma de salrios diretos ou salrios sociais, pode-se considerar o programa de gerao de emprego e renda para setores sociais de baixa renda, marginalizados do ncleo central do

processo produtivo da economia regional.

As aes objetivando a implantao de sistemas de redistribuio de renda fazem parte tambm das iniciativas de desenvolvimento local. Entre elas pode ser citada a da oferta de kits profissionais a trabalhadores qualificados, atravs da qual a prefeitura cria empregos dignos, melhora a renda dos cidados e ajuda a capacitar a mo-de-obra local. Esses profissionais, que dispem de alguma qualificao, podem ser apoiados para trabalharem de forma autnoma,

em cooperativas ou em unidades familiares de produo de bens ou servios.

Entre os sistemas de apoio comunidade na rea de educao, pode-se considerar o programa bolsa escola que foi implantado com sucesso no Brasil, no Distrito Federal, e consiste no

pagamento de um salrio mnimo mensal a cada famlia carente que mantiver todas as suas crianas entre 7 e 14 anos matriculadas na rede escolar pblica.

Entre as aes de desenvolvimento local voltadas para a conservao do meio ambiente, o gerenciamento dos recursos hdricos tm ganho bastante destaque porque a escassez de gua uma realidade reconhecida, sobretudo em algumas reas do Nordeste brasileiro, e os conflitos envolvendo seus mltiplos usos so cada vez mais constantes em todo o mundo. Mais do que

ser um fator de desenvolvimento de uma regio, a gua fundamental para a vida no planeta. Dependendo das caractersticas geogrficas e socioeconmicos da regio, devem ser

estudadas principalmente as medidas de saneamento bsico do municpio, destacando-se a destinao final do resduo slido e o tratamento de esgotos. Alm disso, deve-se controlar a capacidade de absoro da carga de efluentes lanados, procurando minimizar seus impactos.

Segundo Kane e Sand (1988), as estratgias de desenvolvimento local poderiam incluir a

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criao de organizaes voltadas para o desenvolvimento econmico, o desenvolvimento de indstrias existentes, a criao e desenvolvimento de novos negcios, o desenvolvimento do

centro da cidade, o desenvolvimento das reas circunvizinhas e a gesto do crescimento.

3.7 O MODELO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL17

Para evitar a desintegrao social que se prenuncia para o futuro da humanidade com a evoluo do sistema capitalista mundial, conforme foi prognosticada no captulo 2, imprescindvel a implementao do modelo de desenvolvimento sustentvel, que tem por objetivo atender as necessidades atuais da populao da Terra sem comprometer seus recursos naturais, legando-os s geraes futuras. Significa dizer que o modelo de desenvolvimento sustentvel deve ser implementado objetivando a compatibilizao do meio ambiente com os fatores econmico e social.

Para a consecuo desse objetivo, torna-se imperativo reduzir as emisses globais de carbono dos atuais 6 bilhes de toneladas anuais para 2 bilhes, promovendo mudanas no atual modelo energtico mundial baseado em combustveis fsseis (carvo e petrleo) e nucleares, por outro estruturado fundamentalmente com base nos recursos energticos renovveis, na hidroeletricidade, na biomassa e nas fontes de energia solar e elica para evitar ou minimizar

o aquecimento global e, conseqentemente, a ocorrncia de mudanas catastrficas no clima da Terra.

necessrio aperfeioar a eficincia energtica desenvolvendo aes que levem obteno de economias de energia na cidade e no campo, nas edificaes, na agricultura, nas indstrias e nos meios de transporte em geral contribuindo, dessa forma, para a reduo das emisses

globais de carbono e, conseqentemente, do efeito estufa. Os esforos no mbito da eficincia energtica devem fazer com que os veculos automotores e equipamentos de usos domsticos, agrcolas e industriais tenham maior rendimento, as edificaes sejam projetadas objetivando o mximo de economia de iluminao, refrigerao e calefao, a agricultura e a indstria

sejam modeladas no sentido de requererem o mnimo de recursos energticos e matrias-primas, contemplando tambm a autoproduo de energia com o uso de resduos de seus

processos de produo e, finalmente, a utilizao de novas alternativas de transporte desde a bicicleta at aqueles de alta capacidade baseadas em ferrovias, dentre outras iniciativas;

17 Anlise baseada nas obras de GUIMARES, 1994; ALCOFORADO, 1997.

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preciso combater a poluio da terra, do ar e da gua, reduzindo os desperdcios com a reciclagem dos materiais atualmente utilizados e descartados. Nessa perspectiva, os materiais

essenciais s devem ser utilizados nos processos produtivos e em outras aplicaes apenas em ltimo caso. Quando usados nas diversas aplicaes, devem, em primeiro lugar, ser reutilizados inmeras vezes; em segundo lugar, devem ser reciclados para formarem um novo produto; em terceiro lugar, devem ser queimados de modo a extrair toda a energia que contenham e, apenas em ltima instncia, devem ser removidos para um aterro sanitrio.

imprescindvel ajustar o crescimento da populao aos recursos disponveis no planeta, reduzindo suas taxas de natalidade. Hoje, a populao da Terra de 5,5 bilhes de habitantes. No ano 2030, dever atingir 9 bilhes. Segundo estudos da ONU, considerando a mdia de consumo de energia vegetal em alimentos, sementes e rao animal e o avano tcnico, a produo potencial de alimentos do mundo poderia sustentar pouco mais de 11 bilhes de habitantes. Com uma populao superior a 11 bilhes de habitantes, o planeta Terra poder no resistir a tamanha demanda por recursos naturais.

absolutamente necessrio reduzir as desigualdades sociais, contemplando a adoo de medidas que contribuam para o atendimento das necessidades bsicas da populao mundial,

tais como alimentos, vesturio, habitao, servios de sade, emprego e uma melhor qualidade de vida. Para que haja desenvolvimento sustentvel, preciso, portanto, que todos os seres humanos tenham atendidas suas necessidades bsicas e lhes sejam proporcionadas oportunidades de concretizar suas aspiraes a uma vida melhor. Isso significa dizer que o crescimento econmico e a riqueza dele resultante devem ser compartilhados por todos, que

os servios de educao possibilitem ampliar os nveis de qualificao para o trabalho e a cultura da populao mundial, que os servios de sade sejam eficazes no combate mortalidade infantil e contribuam para o aumento da expectativa de vida da populao, que todos os homens e mulheres do planeta tenham uma habitao decente e que hajam investimentos pblicos e privados no nvel necessrio que contribuam para a reduo do desemprego em massa que se registra na atualidade e que tende a se agravar no futuro.

Pode-se afirmar que a introduo do conceito de desenvolvimento sustentvel representa um grande desafio para a humanidade, porquanto afetar mltiplos interesses de natureza econmica, alm de implicar em profundas mudanas no estilo de desenvolvimento da sociedade, a fim de que o crescimento econmico seja menos intensivo no consumo de matrias-primas e energia e mais eqitativo na distribuio dos seus resultados para a

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populao. preciso, acima de tudo, que se realize uma verdadeira revoluo cultural em todo o planeta, a fim de que o paradigma do desenvolvimento atual seja substitudo pelo paradigma do desenvolvimento sustentvel. A tentativa que se faz mundialmente de levar avante as decises do Tratado de Kyoto representa um passo importante na consecuo do desenvolvimento sustentvel.

3.8 ALGUMAS QUESTES SOBRE A PROBLEMTICA DO DESENVOLVIMENTO

Precisam de respostas convincentes algumas questes sobre a problemtica do desenvolvimento:

O capitalismo de Estado ou com forte interveno estatal seria a soluo para o desenvolvimento econmico e social de pases capitalistas perifricos e semiperifricos?

Seria possvel viabilizar simultaneamente o desenvolvimento econmico e o desenvolvimento social?

Como acelerar o processo de desenvolvimento econmico de um pas?

Por que alguns pases tm prosperado e outros no?

Pode um pas capitalista perifrico se desenvolver?

Pode um pas capitalista desenvolvido entrar em declnio?

Os pases capitalistas atrasados economicamente esto em progresso?

Brasil est estagnado ou se desenvolve de forma lenta e apresenta desenvolvimento

desequilibrado?

3.8.1 O capitalismo de Estado e o desenvolvimento econmico e social

O capitalismo de Estado pode tomar duas formas: 1) a que prevaleceu na ex-Unio Sovitica e nos pases da Europa Oriental e a que vigora na China, Coria do Norte e Cuba; 2) a que teve lugar no Brasil durante os governos de Getlio Vargas, Juscelino Kubitschek e do regime

militar de 1930 a 1970, no Japo, Coria do Sul e Taiwan nos ps-guerra e na Alemanha nazista, na Itlia fascista e no Japo na primeira metade do Sculo XX.

Na primeira forma, o Estado exerce o planejamento e o controle total da economia nacional em funo dos interesses do partido dominante e da burocracia estatal ou burguesia de Estado,

principal beneficiria dos frutos do progresso econmico, caso em que se configura o

99

dirigismo estatal. Na segunda forma, os dirigentes do aparelho do Estado conduzem a economia de forma articulada com as classes dominantes (burguesia industrial e financeira) em funo de objetivos comuns.

A histria econmica de inmeros pases demonstra que o capitalismo de Estado tem sido a

soluo para vencer o atraso econmico. Foi o caso da ex-Unio Sovitica, da China, de

Taiwan, do Japo e do prprio Brasil no Sculo XX. O progresso econmico alcanado por

esses pases se deveu fundamentalmente ao papel desempenhado pelo Estado na promoo do

desenvolvimento. Muito provavelmente o desempenho econmico desses pases seria inferior

se suas economias ficassem sob o livre jogo do mercado.

Em pases perifricos e semiperifricos, onde no se desenvolveram as condies para

incrementar o progresso tcnico e viabilizar o processo de acumulao do capital, o papel do

Estado decisivo para que elas se realizem. O Estado pode assumir, em um extremo, o papel

de planejar e controlar a economia como um todo, o que vem ocorrendo na China e, no outro, o de ser apoiador das empresas na consecuo de seus objetivos, como ocorreu na Coria do Sul, em Taiwan e no Brasil.

No entanto, a prtica vem demonstrando que, nas naes onde o capitalismo de Estado se

afirmou, sobretudo nos pases totalitrios, o desenvolvimento social no aconteceu no mesmo

ritmo em que se deu o desenvolvimento econmico o que se deve ao fato de que nesses pases

a Sociedade Civil no encontra espao para interferir nos rumos da atividade econmica. Uma

das caractersticas dos pases onde prevalece o capitalismo de Estado a da centralizao do

poder em mos de uma burocracia que privilegia os aspectos econmicos em detrimento dos

sociais. Em outras palavras, o capitalismo de Estado pode realizar o progresso econmico sem

alcanar, no entanto, o progresso social.

3.8.2 Desenvolvimento econmico e social simultneos

A histria econmica mundial no registra nenhum caso de um pas que tenha promovido o

desenvolvimento econmico simultaneamente com o desenvolvimento social, isto , que

tenha apresentado elevadas taxas de crescimento do PIB, baixas taxas de inflao, baixas

taxas de juros, desenvolvimento regional equilibrado e, ao mesmo tempo, o atendimento das demandas sociais em termos de pleno emprego, adequada distribuio da renda e da riqueza

100

nacionais, habitao, servios de educao e sade e acesso cultura, entre outras. No

capitalismo, a compatibilizao do progresso econmico com o bemestar social depende

fundamentalmente da capacidade que os movimentos sociais tenham de pressionar o governo

e as classes dominantes no atendimento das demandas sociais.

As concesses das classes dominantes em relao aos trabalhadores e populao em geral

nos pases da Europa Ocidental, aps a Segunda Guerra Mundial, que levaram implantao

do Welfare State (Estado do BemEstar Social) se deveram fundamentalmente s presses dos movimentos sociais, sobretudo dos sindicatos dos trabalhadores, bem como ameaa que

havia desses pases se integrarem ao sistema socialista sob a liderana da Unio Sovitica se

neles ocorressem revolues sociais do tipo sovitico. A histria plena de exemplos que

confirmam a tese de que sem presso social no h avano social.

O desenvolvimento social s se realiza na medida em que a presso dos movimentos sociais

sobre o Estado e as classes dominantes seja irresistvel (Figura 19). Nesse sentido, preciso que sejam fortalecidos os movimentos sociais. Uma das caractersticas da atualidade em todo o mundo o do enfraquecimento dos movimentos sociais, sobretudo dos trabalhadores em

face das mudanas econmicas processadas no planeta com o objetivo de solucionar a crise geral vivida pelo capitalismo mundial.

S oc ied ad eC iv il

o rg an iza da

S in d ica tosdos

traba lh ad ores

F orta lec im en todos

m ov im en tosso c ia is

P res so s obreo E s tad oe c las ses

dom in an te s

D e se nv o lv im en toso c ia l

P artidospo ltic os

pro gres sitas

Elaborao prpria.

Figura 19 Fatores determinantes do desenvolvimento social

Muitas das conquistas sociais alcanadas pelos trabalhadores em todo o mundo no Sculo XX

esto sendo postas em xeque, incluindo o prprio Estado do BemEstar Social, implantado

101

em alguns pases da Europa Ocidental. Nos pases perifricos e semiperifricos, est havendo um processo de liberalizao ou flexibilizao da legislao para facilitar o ingresso de

capitais externos em detrimento dos interesses dos trabalhadores e da maioria da populao. Diante desse fato, a tendncia de que o desenvolvimento social no acompanhe o

desenvolvimento econmico onde esse ocorrer.

3.8.3 A acelerao do processo de desenvolvimento econmico de um pas ou de uma regio

O desenvolvimento econmico que se traduz no aumento da renda e da riqueza de um pas ou

de uma regio resulta do processo de acumulao do capital. Para haver acumulao de

capital necessrio, entretanto, que haja poupana e investimentos que contribuam para o incremento da atividade produtiva, bem como para a reposio do estoque de capital

depreciado ou obsoleto.

Em uma economia em que prevalecem as foras de mercado compete aos empresrios a

deciso de poupar e investir movidos pela necessidade de fazerem frente aos concorrentes e

de atender demanda de produtos ou servios. Nos pases de economia de mercado onde

prevalece o capitalismo de Estado, o governo faz o planejamento indicativo e governo e grandes empresas poupam e investem objetivando o desenvolvimento econmico. Em uma economia centralmente planificada como a socialista, a deciso de poupar e investir do

Estado com base em planos preparados para atenderem s demandas de produtos e servios da

sociedade.

Nas economias de mercado, a populao contribui ao lado dos empresrios para o incremento da poupana atravs de incentivos que lhe so oferecidos pelo governo e pelo

sistema financeiro. Nas economias centralmente planificadas, a poupana realizada pelo governo e pela sociedade em geral de forma compulsria. Nas economias de mercado, o ato de investir pulverizado pelo conjunto das empresas que delas fazem parte. Nas economias de mercado onde prevalece o capitalismo de Estado, o governo centraliza boa parte da poupana fazendo com que o ato de investir seja parcialmente concentrado. Nas economias centralmente planificadas, o ato de investir realizado de forma concentrada

pelo governo.

Quanto maior o volume de poupana obtida e de investimentos realizados, maior a chance

102

de que o desenvolvimento econmico acontea de forma acelerada. O desenvolvimento

econmico tem mais chance de ocorrer de forma acelerada nas economias de mercado em que

prevalece o capitalismo de Estado e nas economias centralmente planificadas, sobretudo

nessas ltimas devido ao maior controle que o Estado teria sobre o ato de poupar e de investir.

A histria econmica mundial plena de exemplos dessa ordem, como o caso dos pases

socialistas, dos pases do Pacfico Asitico e do prprio Brasil quando prevaleceu o dirigismo

estatal no Sculo XX.

O grande desafio dos pases perifricos e semiperifricos o de viabilizar poupana prpria em grande volume para poder investir no processo de acumulao do capital. Os pases do Pacfico Asitico conseguiram realizar tal proeza e expandir suas economias na segunda metade do Sculo XX. No entanto, outros pases, como foi o caso do Brasil de

1930 at o presente momento, expandiram suas economias apoiando-se na poupana externa para no comprometerem os nveis de consumo interno. Esses pases fracassaram

duplamente: a expanso econmica cessou ou declinou, isto , no foi sustentvel e o endividamento externo ampliou-se. Esse fato mostra que a chave para promover o desenvolvimento econmico de um pas reside na obteno da poupana interna para realizar os investimentos necessrios.

3.8.4 A prosperidade econmica das naes

Ao longo da histria da humanidade, algumas naes prosperaram e outras no devido

ausncia de determinados fatores que contribuem para seu desenvolvimento econmico. De

modo geral, o desenvolvimento econmico no se sustenta com a insuficincia do processo de

acumulao do capital, da mesma forma que o desenvolvimento social no se realiza com a

fraqueza da Sociedade Civil organizada, dos sindicatos de trabalhadores e dos partidos

polticos progressistas somada a fatores culturais inibidores.

Um pas ou uma regio pode alcanar nveis elevados de desenvolvimento econmico se

existirem recursos humanos e naturais em quantidade e qualidade, infra-estrutura econmica e

social compatvel com as necessidades, mercados interno e externo para os produtos e

servios nela produzidos, economias de aglomerao que assegurem produtividade e

competitividade para os produtos e servios, redes de empresas que possibilitem a

constituio de cadeias produtivas de elevada competitividade e incentivos fiscais e

103

financeiros por parte do governo para a atrao de investidores (Figura 20).

O pas ou a regio que reunir todos os fatores descritos se constituir em lcus para o processo

de acumulao de capital e, em conseqncia, promover seu desenvolvimento econmico.

Os pases que prosperaram economicamente conseguiram reunir a maior parte dos fatores

acima descritos. De modo geral, os pases que no prosperaram so aqueles que apresentam

carncia total ou parcial desses fatores.

E xis t nc ia de recu rsos hum anos

e recurso sna turais

E xis t nc ia de in fra -es trutura

econ m icae soc ia l

E x is t nc ia de m ercados

E xis t nc ia de econo m ias deag lom era o

E xis t nc ia de redes de

em p resas

E xis t nc ia de incen tivos fiscais

e fina nce iros

Lcus prefe renc ia lpa ra acum u lao

de ca p ita l

D e se nvo lvim en toecon m ico de

um pais ou um a re g i o

Elaborao prpria.

Figura 20 Fatores determinantes do desenvolvimento econmico de um pas ou uma regio

Os pases perifricos e semiperifricos tm seu progresso obstaculado tambm devido existncia de modos de produo pr-capitalistas de produo, ao atraso ou inviabilidade do

processo de industrializao e ao colonialista e imperialista das grandes potncias capitalistas (Figura 21).

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M o d o s d e p rod u o

p r-ca p ita lis tase m pa ses

se m ipe r if ric ose p erif r ico s

A tras o ouinv ia b il id ad e d o

p roce sso d eind us tr ia liza o

A tras o e con m icod os p a s es

p er if ricos ese m ipe r if ric os

A o co lon ia lis ta e

im pe r ia lis ta da s g ran de s p o tn c ias

ca p ita lista s

Elaborao prpria.

Figura 21 Fatores determinantes do atraso econmico de pases perifricos e semiperifricos

3.8.5 A transformao de pas capitalista perifrico para a condio de desenvolvido

A transformao de pas capitalista perifrico para a condio de desenvolvido bastante

difcil de se realizar conforme foi demonstrada por Arrighi (1997) para quem, no Sculo XX, nenhum pas saiu da periferia capitalista para se tornar desenvolvido. A Coria do Sul foi o

nico da periferia que se tornou semiperifrico e o Japo e a Itlia saram da condio de

semiperifricos para a de integrantes do ncleo de pases desenvolvidos.

O Japo e a Coria do Sul conseguiram escalar para um nvel mais alto devido ao apoio

financeiro que obtiveram dos Estados Unidos no ps-guerra e, sobretudo pelo papel

desempenhado pelo Estado nacional na promoo do desenvolvimento. A Itlia conseguiu

alcanar o patamar de pas desenvolvido graas a uma srie de fatores favorveis existentes

em sua economia como, por exemplo, a constituio da Terceira Itlia e da Comunidade

Econmica Europia e ao papel desempenhado pelo Estado italiano na superao das

desigualdades regionais.

A carncia e a presena dos fatores, no todo ou em parte, indicados na Figura 20, explicam as

razes pelas quais se torna bastante difcil um pas perifrico se transformar em desenvolvido.

Um pas semiperifrico teria mais condies de galgar um patamar mais elevado porque

reuniria em princpio menos obstculos nessa direo.

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3.8.6 O declnio de pas capitalista desenvolvido

A literatura no registra a ocorrncia de um pas desenvolvido ser levado condio de pas semiperifrico ou perifrico. Apenas em uma condio essa situao pode ocorrer, isto , quando da emergncia de uma guerra de carter generalizado como a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Aps a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha decaiu economicamente, mas no se

tornou semiperifrica. Aps a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha e o Japo se tornaram pases semiperifricos porque tiveram suas economias arrasadas e s se recuperaram com o apoio

financeiro dos Estados Unidos. Tem havido casos de pases em declnio em termos de hegemonia mundial, mas todos aqueles que deixaram de ser hegemnicos continuaram desenvolvidos como exemplifica a Inglaterra aps a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.

3.8.7 O progresso de pases capitalistas perifricos e semiperifricos

De modo geral, os pases capitalistas perifricos e semiperifricos no esto progredindo se for tomada como base de comparao a evoluo dos pases desenvolvidos, comparao essa que indica o aumento do fosso que separava os desenvolvidos dos demais. Conforme foi apresentado

no captulo 2, foram poucos os pases que ascenderam na hierarquia da economia mundial de 1930 at o final do Sculo XX. Apenas o Japo e a Itlia saram da condio de pas semiperifrico para a de pas desenvolvido e a Coria do Sul, de pas perifrico para a de pas semiperifrico. Os demais permaneceram nas posies que se encontravam na dcada de 1930.

Quando se processa a anlise da evoluo de cada pas ao longo do tempo de forma isolada cria-se a iluso de progresso porque os nmeros costumam indicar o crescimento de uma srie de variveis econmicas e sociais. o PIB, o investimento, a produo, o emprego, etc, que aumentam como se o crescimento dessas variveis fossem sinnimos de progresso. O verdadeiro progresso de um pas, de uma nao, se realiza quando se alcana o bemestar social de toda a populao, medido pelo IDH. No mundo inteiro, tambm nos pases desenvolvidos, o progresso ainda no se realizou na plenitude. No planeta, tem havido uma piora em todos os pases nos indicadores de bemestar social. No apenas os pases perifricos e semiperifricos encontram-se em regresso no que se refere ao progresso no bemestar social, mas tambm, os pases desenvolvidos.

3.8.8 O desenvolvimento do Brasil

Nos captulos 4 e 5, esto apresentadas as respostas sobre a questo se o Brasil est estagnado ou se desenvolve de forma lenta e apresenta desenvolvimento desequilibrado. Pode-se

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constatar nos captulos 4 e 5 que o Brasil est estagnado e apresenta crescentes disparidades sociais e regionais de renda.

A estagnao do Brasil pode ser comprovada no Grfico 1, que apresenta, segundo Arrighi (1997), a relao PNB per capita por regio ou pas selecionado/PNB per capita do ncleo orgnico da economia mundial, a seguir discriminado:

Europa Ocidental: Benelux, Escandinvia, Alemanha Ocidental, ustria, Sua, Frana e Reino Unido

Amrica do Norte: Estados Unidos e Canad

Austrlia e Nova Zelndia

A anlise do grfico 1 do captulo 2 mostra que o Brasil, que apresentou grande avano em

1980, voltou em 1988 ao mesmo patamar de 1938, 1948 e 1960, sendo superado naquele ano pela Coria do Sul, o que significa dizer que houve uma regresso do Brasil na hierarquia da

economia mundial.

Quando se processa a anlise da evoluo do Brasil no decorrer de sua histria, cria-se a iluso de progresso porque os nmeros indicam que houve o crescimento de uma srie de variveis econmicas e sociais. Conforme pode ser visto no captulo 4, o Brasil evoluiu da condio de economia primrio-exportadora para a de economia industrial. No entanto, aumentou enormemente sua dependncia econmica e tecnolgica em relao ao Exterior,

haja vista ter seu crescimento econmico se apoiado fortemente em capitais externos, sobretudo a partir do processo de industrializao iniciado na dcada de 1930.

Apesar do avano dos indicadores econmicos e sociais do Brasil ao longo do tempo, o verdadeiro progresso econmico e social no se realizou porque no se alcanou o bemestar social de toda a populao. Alm disso, o Brasil apresenta desequilbrios de toda ordem: 1) aumentou a dependncia econmica, financeira e tecnolgica em relao ao Exterior; 2) ampliou os desnveis sociais de renda; 3) elevou as disparidades regionais.

3.9 PRINCIPAIS CONCLUSES SOBRE O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO E SOCIAL

Tomando por base o exposto neste captulo, pode-se concluir que o impressionante processo de desenvolvimento do Japo teve como base um projeto de afirmao de identidade nacional

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em continuidade Revoluo Meiji de1868 que foi realizada para capacitar o pas a enfrentar o desafio ocidental. O Japo foi ajudado pelas reformas impostas pela ocupao norte-americana aps a Segunda Guerra Mundial, entre as quais a reforma agrria. O Estado japons tem orientado e coordenado as empresas japonesas organizadas em redes (keiretsu e kygio shudan), ajudando-as com polticas de comrcio, tecnologia e crdito para competirem com sucesso na economia mundial. O modelo japons representa uma experincia crucial que demonstra como a interveno estatal estratgica e seletiva pode tornar uma economia de mercado mais produtiva e mais competitiva.

Na Itlia, as indstrias internacionalmente bem-sucedidas se caracterizam como empresas mdias e pequenas que competem principalmente na exportao, com investimento exterior

direto apenas limitado. Outra caracterstica notvel das indstrias italianas a concentrao geogrfica, na qual muitas, talvez centenas, de empresas de uma indstria esto localizadas

numa nica cidade. As barreiras comerciais limitam os rivais estrangeiros. A poltica regional baseada na atrao de fbricas isoladas para o Sul, com pesados subsdios e promoo do desenvolvimento dessa regio do pas. No incio dos anos 70, entre o norte e o sul da Itlia, surgiu uma Terceira Itlia. Nessa regio, o crescimento das micros, pequenas e m dias

empresas foi impulsionado pela formao de distritos industriais, nos quais estabeleceu -se um sistema de confiana e cooperao entre tais empresas.

Na Coria do Sul, a interveno norte-americana foi fundamental para a criao de uma economia moderna em 194860, mediante a reforma agrria, o apoio militar e a ajuda financeira macia que permitiu a reconstruo e a sobrevivncia do pas. O governo da Coria

do Sul, muito influenciado pelo modelo japons, criou uma estrutura industrial baseada em grandes empresas, organizadas como conglomerados. Foram adotadas fortes medidas

protecionistas com o objetivo de preservar os mercados internos. Com o controle do sistema bancrio e das licenas para exportao/importao, o Estado provocou a fuso das empresas coreanas na forma de grandes redes verticais (as chaebol), semelhantes s keiretsu japonesas. O governo implementou vrios planos econmicos qinqenais, direcionou as empresas

coreanas para os setores considerados estratgicos para a economia nacional e rejeitou a presena excessiva de empresas multinacionais estrangeiras. O governo era muito seletivo ao

permitir investimento estrangeiro, procurando, sobretudo, empresas que pudessem facilitar alguma transferncia de tecnologia. A nfase em cincia e tecnologia aliada melhoria dos produtos e processos na indstria coreana tem sido a obsesso da Coria do Sul desde a dcada de 60. A ausncia de regulamentao e o pouco controle do governo sobre o sistema

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financeiro foram os fatores decisivos para que a crise financeira arruinasse a economia em 1997.

O crescimento de Taiwan foi conquistado, em grande parte, com produtividade e competitividade geradas por um sistema de produo flexvel. O modelo de crescimento

econmico mudou drasticamente da nfase na indstria em substituio importao dos anos 50, passando pela industrializao orientada exportao na dcada de 60 (o perodo de decolagem) e chegando fase de substituio da importao voltada para a exportao durante as dcadas de 70 e 80 (ou seja, a ampliao da base industrial para alimentar exportaes de bens manufaturados). Uma reforma agrria de inspirao norte-americana destruiu a classe de proprietrios rurais e gerou uma grande populao de pequenos

agricultores que, com a ajuda do Estado, aumentou a produtividade agrcola de forma significativa. O Estado taiwans atraiu o investimento estrangeiro como um modo de obter capital e acesso aos mercados internacionais. Mas as empresas estrangeiras eram ligadas, por meio de sistema de subcontratao, a uma ampla rede de pequenas empresas que formavam uma base significativa para produo industrial. A orientao da economia voltada para o exterior no implicava seu controle por multinacionais (como em Cingapura) nem a formao de grandes conglomerados nacionais (a exemplo da Coria), embora vrios grupos industriais tenham se desenvolvido sob os auspcios do Estado e, na dcada de 90, houvesse diversas empresas taiwanesas de grande porte totalmente internacionalizadas. O Estado foi o principal

agente na orientao e coordenao do processo de industrializao, na montagem da infra-estrutura, na conquista do capital estrangeiro, na escolha das prioridades para investimentos

estratgicos e na imposio de suas condies, quando necessrio.

Na China, foi introduzido um capitalismo bastante descentralizado porque seguiu os contornos das alianas provinciais e locais das redes de empresas com as quais esto conectadas. Um fator que manteve a China na trajetria do desenvolvimento foi a administrao pelo governo de seu ritmo de integrao no comrcio internacional. O principal fator que explica a capacidade relativa da China para absorver o choque da crise sua

integrao limitada na economia global, sobretudo em termos de mercados financeiros. O controle governamental das ligaes entre o sistema financeiro chins e os mercados globais funcionou como um anteparo, protegendo o sistema para que resistisse aos movimentos dos fluxos financeiros de todo o mundo. A China demonstra a possibilidade de beneficiar-se da

globalizao e de, ao mesmo tempo, oferecer proteo parcial economia do pas contra as foras incontrolveis dos mercados globais.

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Ficou evidenciado que a teoria do desenvolvimento endgeno que focaliza, com toda ateno, a questo regional, apresentando as maiores contribuies para a problemtica das desigualdades

regionais e os melhores instrumentos de polticas para sua correo. Iniciativas de polticas regionais e locais e polticas especificamente direcionadas a pequenas e mdias empresas vm

caracterizando diversas experincias internacionais exitosas, muito embora esses processos tambm venham ocorrendo, em vrias regies, sem o suporte decisivo da ao de governo.

provvel que a deteriorao do meio ambiente e o declnio econmico alimentem-se reciprocamente, arrastando-nos numa espiral descendente de desintegrao social, que tende a assumir propores catastrficas no futuro, no apenas pelo declnio econmico decorrente das restries ambientais, mas tambm pela excluso social resultante do processo em curso de inovao tecnolgica e gerencial em todo o sistema capitalista mundial no contexto da globalizao. A introduo do conceito de desenvolvimento sustentvel implica em profundas mudanas no estilo de desenvolvimento da sociedade, a fim de que o crescimento econmico seja menos intensivo no consumo de matrias-primas e energia e mais eqitativo na distribuio dos seus resultados para a populao. preciso, acima de tudo, que se realize uma verdadeira revoluo cultural em todo o planeta, para que o paradigma do desenvolvimento atual seja substitudo pelo paradigma do desenvolvimento sustentvel.

A histria econmica de inmeros pases demonstra que o capitalismo de Estado tem sido a soluo para vencer o atraso econmico. Foi o caso da ex-Unio Sovitica, da China, de

Taiwan, do Japo e do prprio Brasil no Sculo XX. O progresso econmico alcanado por esses pases se deveu fundamentalmente ao papel desempenhado pelo Estado na promoo do

desenvolvimento. Muito provavelmente o desempenho econmico desses pases seria inferior se suas economias ficassem sob o livre jogo do mercado.

O papel do Estado decisivo para que se desenvolvam as condies para incrementar o progresso tcnico e viabilizar o processo de acumulao do capital em pases perifricos e semiperifricos.O Estado pode assumir, em um extremo, o papel de planejar e controlar a economia como um todo e, no outro, o de apoiar as empresas na consecuo de seus

objetivos. O desenvolvimento alcanado pelo Japo, pela Coria do Sul, pela China e por Taiwan demonstra essa afirmativa.

No entanto, nas naes onde o capitalismo de Estado se afirmou, sobretudo nos pases totalitrios, o desenvolvimento social no aconteceu no mesmo ritmo em que se deu o desenvolvimento econmico. Isso se deve ao fato de que nesses pases a Sociedade Civil no

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encontra espao para interferir nos rumos da atividade econmica. Uma das caractersticas dos pases onde prevalece o capitalismo de Estado a centralizao do poder em mos de

uma burocracia que privilegia os aspectos econmicos em detrimento dos sociais. Em outras palavras, o capitalismo de Estado pode realizar o progresso econmico sem alcanar, no

entanto, o progresso social. Foi o caso de pases como o Japo, a Coria do Sul, a China, Taiwan e o prprio Brasil em suas etapas desenvolvimentistas.

No h registro, na histria econmica mundial, de pas que tenha promovido o desenvolvimento econmico simultaneamente com o desenvolvimento social, isto , que

tenha apresentado elevadas taxas de crescimento do PIB, baixas taxas de inflao, baixas taxas de juros, desenvolvimento regional equilibrado ao mesmo tempo que tenha atendido s demandas sociais em termos de pleno emprego, adequada distribuio da renda e da riqueza nacionais, habitao, servios de educao e sade e acesso cultura, dentre outros. No capitalismo, a compatibilizao do progresso econmico com o bemestar social depende fundamentalmente da capacidade que os movimentos sociais tenham de pressionar o governo e as classes dominantes no atendimento das demandas sociais. Os pases da Europa Ocidental conquistaram grande avano nas leis sociais graas fora da Sociedade Civil organizada.

No momento atual, muitas das conquistas sociais alcanadas pelos trabalhadores em todo o mundo no Sculo XX esto sendo postas em xeque, incluindo o prprio Estado do BemEstar Social implantado em alguns pases da Europa Ocidental, como ficou demonstrado no

captulo 2. Nos pases perifricos e semiperifricos, est havendo um processo de liberalizao ou flexibilizao da legislao para facilitar o ingresso de capitais externos em

detrimento dos interesses dos trabalhadores e da maioria da populao. Diante desse fato, a tendncia a de que o desenvolvimento social no acompanhe o desenvolvimento econmico onde esse ocorrer.

Pode-se afirmar que os pases que tm maior capacidade de gerar poupana realizam maior

volume de investimentos na atividade produtiva e tm mais chance de promover o desenvolvimento econmico acelerado Constata-se que o desenvolvimento econmico tem

mais chance de ocorrer de forma acelerada nas economias de mercado onde prevalece o capitalismo de Estado e nas economias centralmente planificadas, sobretudo nessas ltimas, devido ao maior controle do Estado sobre o ato de poupar e de investir. A histria econmica mundial plena de exemplos dessa ordem, como o caso dos pases socialistas, dos pases do

Pacfico Asitico e do prprio Brasil quando prevaleceu o dirigismo estatal no Sculo XX.

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Viabilizar poupana prpria em grande volume para poder investir no processo de acumulao de capital representa o grande desafio dos pases perifricos e semiperifricos. Os

pases do Pacfico Asitico conseguiram realizar tal proeza e expandir suas economias na segunda metade do Sculo XX. No entanto, outros pases, como foi o caso do Brasil de 1930 at o presente momento, expandiram suas economias apoiando-se na poupana externa para no comprometerem os nveis de consumo interno. Os pases que optaram por utilizar poupana externa na promoo de seu desenvolvimento fracassaram duplamente: a expanso econmica cessou ou declinou, isto , no foi sustentvel e o endividamento externo ampliou-

se. Esse fato mostra que a chave para promover o desenvolvimento econmico de um pas reside na obteno da poupana interna para realizar os investimentos necessrios.

Est bastante comprovado pelos exemplos da histria que o desenvolvimento econmico no se sustenta com a insuficincia do processo de acumulao do capital, da mesma forma que o desenvolvimento social no se realiza com a fraqueza da Sociedade Civil organizada, dos sindicatos de trabalhadores e dos partidos polticos progressistas, somados a fatores culturais inibidores. Acumulao de capital para promover o desenvolvimento econmico e o fortalecimento da Sociedade Civil Organizada so essenciais para que o desenvolvimento

econmico e o desenvolvimento social se realizem na plenitude e simultaneamente.

Constata-se, tambm, pelos exemplos da histria, que um pas ou uma regio s alcanaro nveis elevados de desenvolvimento econmico se existirem recursos humanos e naturais em quantidade

e qualidade, infra-estrutura econmica e social compatvel com as necessidades, mercados interno e externo para os produtos e servios nela produzidos, economias de aglomerao que assegurem

produtividade e competitividade para os produtos e servios, redes de empresas que possibilitem a constituio de cadeias produtivas de elevada competitividade e incentivos fiscais e financeiros por parte