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A ANÁLISE DA INSERÇÃO DO PSICÓLOGO EM GRUPO COMUNITÁRIO: um referencial do CRAS
Gilmar Antoniassi Júnior
Lúcia Helena dos Santos*
RESUMO
Este artigo apresenta ao leitor, através pesquisa de campo, o que representa o CRAS e qual a sua importância para a sociedade. Mostra ainda de que forma o psicólogo atua junto à rede de proteção social para a população que se encontra em situação de vulnerabilidade. Tem o objetivo de avaliar a melhoria que o atendimento dos grupos psicoterápicos oferecidos pelo CRAS II (Jardim Aquarius na cidade de Patos de Minas/MG) oferece ao público e sua abrangência de atendimento, considerando os serviços prestados como agente prioritário e modificador das situações de risco e vulnerabilidade social em que a comunidade se encontra inserida. Esta pesquisa foi constituída por via de um estudo descritivo que desenvolve a metodologia qualitativa, tendo como principal instrumento os Grupos Psicoterápicos Comunitários. Os dados foram coletados através de questionário com base na amostra de 30 usuárias que utilizam os serviços prestados pela unidade, sendo todas as participantes matriculadas em oficina de artes e inseridas em um dos grupos resilientes. Através do instrumento utilizado, foi possível colher opiniões individuais das participantes acerca das repercussões dos trabalhos ofertados. Com os relatos transcritos das participantes, verificou-se que, antes da sua participação, havia relatos de processos depressivos, indisposição psicofísica e casos de insônia. Com a inserção nos Grupos, as participantes informaram melhora nas relações interpessoais, na atenção e em todas as condições adversas referidas acima de forma relevante. De acordo com análise dos dados coletados, conclui-se que os grupos psicoterápicos comunitários têm significado de agente de mudança, o que possibilita aos usuários alçar desafios junto às alternativas da rede de apoio social, que disponibilizam melhoria e potencialização da qualidade de vida dos sujeitos que vivem em risco e vulnerabilidade social.
Palavras-chaves: CRAS. Psicologia. Desafios. Apoio Social.
Mestre em Promoção da Saúde pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Especialista em Consultoria em Psicologia Escolar pela Talent Consultoria (2007). Especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Cidade Patos de Minas (FPM, 2009). Graduado em Psicologia pela Fundação Educacional de Fernandópolis (2006). Professor e diretor do Departamento de Psicologia da FPM. [email protected] Graduada em Psicologia pela FPM. Rua Agenor Maciel n°256 fundos, Centro, Patos de Minas/ MG. [email protected]
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ABSTRACT
This article has the purpose of presenting to the reader, through field research, what CRAS represents and how important it is to society. It also shows how the psychologist works with the social protection network for the population that is vulnerable. Another objective is to evaluate the improvement that the psychotherapy groups offered by CRAS II - Jardim Aquarius in the city of Patos de Minas (MG) offer to the public and its range of services, considering the services provided as a priority agent and modifier of the situations of Risk and social vulnerability in which the community is inserted. This research was constituted through a descriptive study that develops the qualitative methodology, having as main instrument the Community Psychotherapeutic Groups. The data were collected through a questionnaire based on the sample of 30 users who use the services provided by the unit, all participants are enrolled in an arts workshop and inserted in one of the resilient groups. Through the instrument used, it was possible to gather individual opinions of the participants about the repercussions of the works offered. With the transcribed reports of the participants, it was verified that before the participation of the individuals, there were reports of depressive processes, psychophysical indisposition and cases of insomnia. With the insertion in the Groups, the participants reported improvement in interpersonal relations, attention and in all the adverse conditions mentioned above in a relevant way. According to an analysis of the data collected, it is concluded that the community psychotherapeutic groups can be important agent of change, which allows the users to face the alternatives of the social support network, which provide improvement and potentiation of the subjects' quality of life of those who live at risk and social vulnerability.
Keywords: CRAS. Psychology. Challenges. Social. Support.
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Andrade e Romagnoli (2010), o Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) tem como objetivo básico subsidiar a proteção social e
atuar na prevenção de situações de risco. Nele, são atendidas as famílias que se
encontram em estado de fragilidade e com necessidades de assistências básicas.
Isso, por meio de projetos ou programas que possam potencializar as famílias como
unidades de referência, fortalecendo os vínculos familiares e articulando-os com o
contexto social onde residem.
O processo de inserção do psicólogo na comunidade relaciona-se com o tipo
de necessidades encontradas no contexto social onde atua. Após a análise
necessária que a demanda exige, são feitas as intervenções político-sociais que
orientam as práticas psicológicas em comunidade. Tendo isso em vista, o presente
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trabalho discorre sobre as consequências derivadas desse processo de inserção,
enfocando os reflexos na relação do Psicólogo com a comunidade e na construção
da identidade de ambos. Na vivência dos grupos comunitários dentro do CRAS, os
indivíduos procuram realizar experiências cotidianas e fortalecer os vínculos com a
comunidade. Nesse sentido, a proposta psicodramática instaurada pelo psicólogo
pode contribuir com técnicas de resgate da autoestima e recriação de projetos de
vida no trabalho com a pessoa idosa. Ou seja, estas e outras várias ações são
práticas comprometidas com a transformação social em direção a uma ética voltada
para a emancipação humana, assim como sugerem ser o trabalho do psicólogo no
Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e os Parâmetros para Atuação de
Assistentes Sociais e Psicólogos na Política da Assistência Social (2007). Do mesmo
modo, espera-se levar o indivíduo
[...] a atuar suas ações conflitivas em campo mais relaxado e a recodificar distorções, tanto do Modelo Interno da Realidade Externa, quando do Modelo Interno do próprio organismo, possibilitando novas formas de adaptação. (SOEIRO, 1995, p. 51).
O objetivo é apresentar dados de pesquisa sobre a Representação Social do
Psicólogo e de sua prática.
2 CRAS: compreendendo seu significado e história
Segundo Andrade e Romagnoli (2010), o CRAS faz parte da extensa rede de
promoção e proteção social implantada pelo Governo Federal através do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, funcionando como um programa de
assistência social que faz parte do SUAS. Seu objetivo é a prevenção de situações
de risco e vulnerabilidade, o fomento da ampliação de potencialidades e o
fortalecimento das famílias e da comunidade.
Os serviços ou atividades desempenhados no CRAS são de caráter
preventivo, de proteção e proatividade. As intervenções são territorializadas, por isso
é necessário que haja um planejamento sobre as ações a serem desenvolvidas e
que se estabeleçam metas, procedimentos e métodos baseados na leitura da
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realidade, visando desenvolver mudanças nas situações encontradas, de acordo
com a PNAS (BRASIL, 2006).
Conforme as informações contidas na MDS nº 442/2005, cartilha de
orientações técnicas do centro de referência de assistência social, que tem por
finalidade esclarecer à população a respeito dos serviços disponibilizados à
comunidade, pode-se evidenciar que os projetos desenvolvidos pelo programa da
seguinte forma:
Atendimento social. Orientações e encaminhamentos para rede sócio-assistencial. Atendimento psicológico. PAIF – Programa de Atendimento Integral a Família. Atendimentos aos beneficiários do Bolsa Família. Atendimento Benefício de Prestação Continuada. Atendimentos aos beneficiários da Habitação, que residem na área
de abrangência. Oficinas e curso. Atividades esportivas. Atividades pedagógicas e de Inclusão Digital (recreação, teatro,
informática, alfabetização. Grupos Sócios Educativos com crianças, adolescentes, idosos e
mulheres. (p. 3-4).
O atendimento disponível pelo CRAS, conforme apresenta Andrade e
Romagnoli (2010) é predominantemente voltado para a assistência social, que
demonstra uma cisão entre os atendimentos de assistência social e os atendimentos
psicológicos, sendo a psicologia associada ao processo de saúde e doença mental e
a assistência social às dificuldades socioeconômicas.
Cabe lembrar que o trabalho desenvolvido por psicólogos nos CRAS é
caracterizado pela prática grupal, porém esse trabalho é compreendido pelo saber
clínico da população leiga, que objetiva a prática individualizada.
O psicólogo atua junto a uma equipe multiprofissional que visa à promoção da
saúde e a prevenção de situações que coloquem em risco o indivíduo, contudo
ainda existem barreiras quanto à presença dos psicólogos em visitas domiciliares da
equipe, devido à visão de que esses profissionais do CRAS são tão somente
responsáveis pelo diagnóstico e acompanhamento psicoterápico dos usuários. Mas,
a orientação no processo de formação do psicólogo é que se prevaleça à prática
profissional em instituições, com trabalho de intervenção grupal, sendo o foco clínico
em questões emergenciais.
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As referências para atuação do psicólogo no CRAS traduzem um grande
esforço no desenvolvimento de um método coletivo de produção de conhecimento
sobre a intervenção profissional em Políticas Públicas. Estas referências não
constituem um modelo único e fechado. O objetivo é apontar possibilidades e trazer
para a reflexão dos profissionais da psicologia aspectos da dimensão ético-política
da assistência social com base na relação da psicologia, junto à assistência social e
frente à atuação do psicólogo no CRAS, quanto ao papel que deve desempenhar, de
acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (BRASIL,
2006).
O psicólogo do CRAS deve direcionar seu trabalho para a prevenção das
situações de sofrimento que podem ser oriundas do processo socioeconômico. Na
tentativa de promover autonomia do sujeito vitimado, de desnaturalizar a violação de
seus direitos e de propiciar o desenvolvimento de vínculos interpessoais, é que o
psicólogo deve pautar suas ações dentro do CRAS, atuando no campo simbólico e
interpretando com vista o fortalecimento pessoal. Assim, é possível contribuir para a
inserção social do sujeito, como propõem os Parâmetros para Atuação de
Assistentes Sociais e Psicólogos (as) na Política de Assistência Social (BRASIL,
2010).
A proposta de atuação do psicólogo na Política de Assistência Social (PAS) é
proporcionar a consciência de direitos aos seus usuários, dando voz e vez a estes,
possibilitando a saída da situação de objeto do assistencialismo, para que se tornem
reais protagonistas de suas próprias vidas.
No trabalho com famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF),
pôde-se criar uma tomada de consciência e mudança de postura em relação às
condicionalidades do programa, não mais sendo encaradas como obrigações para
receber o benefício, mas como oportunidades de proporcionar aos seus filhos
caminhos para realizações de sonhos profissionais e pessoais e de melhoria de
vida.
De acordo com os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais e
Psicólogos na PAS, o psicólogo pode contribuir com técnicas que resgate a
autoestima que recriem projetos de vida. Estas e outras várias ações são práticas
comprometidas com a transformação social em direção a uma ética voltada para a
emancipação humana (BRASIL, 2010).
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O trabalho do Psicólogo dá-se no sentido de escutar, formar, informar,
transformar e possibilitar ações que façam os usuários responsáveis por suas
próprias histórias. É trazer para a reflexão a necessidade de alcançar as mudanças
no estado de vulnerabilidade social, obtendo a capacidade de sonhar e de ansiar
novas ações que favoreçam a proteção.
O psicólogo pode contribuir no sentido de considerar e atuar sobre a dimensão subjetiva dos indivíduos, favorecendo o desenvolvimento da autonomia e cidadania. Dessa maneira, as práticas psicológicas não devem categorizar patologizar e objetificar as pessoas atendidas, mas buscar compreender e intervir sobre os processos e recursos psicossociais, estudando as particularidades e circunstâncias em que ocorrem. Tais processos e recursos devem ser compreendidos de forma indissociada aos aspectos histórico-culturais da sociedade em que se verificam posto que se constituem mutuamente. (CREPOP, 2008, p. 22).
O psicólogo é parte integrante das equipes de atendimento à população em
risco e vulnerabilidade social. É um profissional que precisa repensar a maneira de
compreender a pobreza e a forma como agir sobre ela. Não se trata aqui de manter
a premissa do assistencialismo, mas sim de pensar em novas possibilidades de agir,
de ressignificar a prática, de promover ao sujeito o rompimento do ciclo de pobreza,
a independência dos benefícios oferecidos e a promoção da autonomia, na
perspectiva da cidadania, tendo o indivíduo como integrante e participante ativo
dessa construção. Os movimentos de mudança na atuação profissional iniciam
quando os psicólogos começam a promover a saúde e a qualidade de vida das
pessoas e das coletividades, contribuindo para a diminuição da negligência,
discriminação, exploração e violência assumindo a responsabilidade social de sua
ciência.
O público atendido nos CRAS é de pessoas inseridas em comunidades de
risco e de instabilidade social. Já a prática psicológica consiste em colaborar para o
desenvolvimento de projetos que visam minimizar a pobreza e desigualdade social,
por meio de ações que estimulam a reflexão do indivíduo, por exemplo, em buscar o
emprego e obter sua própria renda, na orientação familiar e encaminhamento a
serviços da rede sócioassistencial em todas as suas esferas (saúde, educação e
assistência social).
De acordo com a proposta de Bleger (1984, p. 71-72), os psicólogos devem
mudar o foco da sua atividade uma vez que
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[...] deve-se tratar de superar a organização de uma assistência individual e privada, dedicada fundamentalmente à cura, fazendo com que a ênfase ou o maior peso da atividade profissional dos mesmos recaia sobre a população (a comunidade) e não sobre os indivíduos.
Nesse sentido, a psicohigiene engloba as ações voltadas para a comunidade,
indo além da higiene mental e da saúde pública. Dentro da psicohigiene o
profissional atuará mais de acordo com as intervenções propostas em instituições ou
organismos não assistenciais. Assim, podem intervir junto às inter-relações “[...] nas
tensões de uma fábrica ou na correta criação das crianças ou na preparação dos
jovens para a vida sexual ou afetiva [...]” (BLEGER, 1984, p. 76).
De acordo com a reflexão proposta pelo autor citado, diante dos escritos da
psicohigiene, o profissional que trabalha junto à comunidade, organização ou
instituição, dever ser um profissional autônomo e independente da saúde pública. A
proposta é atuar no contexto real do indivíduo, distanciando-se da proposta da
clínica e da doença. O trabalho em comunidade exige que se tenham técnicas
adequadas e de suporte a vivências grupais. Os projetos disponibilizados pelo
CRAS são de caráter comunitário. Um exemplo disso são os grupos
socioeducativos, em que o psicólogo poderá atuar a partir de técnicas psicoterápicas
que visem à inserção do indivíduo em tais grupos de modo que prevaleça o contexto
social, tornando as atividades mais dinâmicas e com objetivos voltados à prevenção
e educação da comunidade.
O objetivo da psicohigiene coincide com os objetivos do campo institucional,
tais como: conseguir a melhor organização e as condições que tendem a promover
saúde e bem-estar dos integrantes da instituição.
Assim, o psicólogo no CRAS poderá trabalhar como um técnico da relação
interpessoal e de vínculos humanos, explicitando o que há de implícito nas relações
e promovendo a saúde, integração e bem-estar do ser humano.
Para Lewin (1973), um grupo é mais que a soma de seus membros. Possui
estrutura própria, objetivos próprios e relações próprias com os outros grupos. A
essência de um grupo não é a semelhança ou a diferença entre seus membros, mas
sua interdependência, cujo grau varia desde a massa amorfa de uma unidade
compacta. O mesmo autor caracteriza um grupo como sendo um todo dinâmico, o
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que significa que uma mudança no estado de uma das subpartes provoca mudança
no estado de todas as outras.
A Escola da Dinâmica de Grupo desenvolvida por Moreno (1985) demonstra a
proposição de que "[...] o comportamento, as atitudes, as crenças e os valores de
indivíduo baseiam-se firmemente nos grupos aos quais pertence. Essas
características são próprias de grupos e das relações entre as pessoas.”
De acordo com Militão (2000, p. 29), o que se espera alcançar de resultados
com a utilização da dinâmica de grupo é:
Desinibir a capacidade criadora dos participantes, levando-os a se tornarem bastante desenvoltos;
Aumentar as transformações no grupo, alterando a sua produtividade; Aumentar a coesão do grupo; Proporcionar um aperfeiçoamento do trabalho coletivo, procurando
atingir, através dos grupos, metas socialmente desejáveis, podendo, também, aumentar sua eficiência, fundamentando-a num firme conhecimento das leis que governam a vida do grupo;
Transformaro potencial do grupo, fazendo-o crescer em igualdade harmônica de relacionamento interpessoal.
Segundo Moreno apud Soeiro (1995), a psicoterapia de grupo como sendo
um método para tratar conscientemente, na fronteira de uma ciência empírica, as
relações interpessoais e os problemas psíquicos dos indivíduos de um grupo.Na sua
concepção, todos no grupo são agentes terapêuticos. Este método aspira alcançar
melhor agrupamento de seus membros para os fins que persegue, buscando não
somente tratar um indivíduo, mas sim todos os indivíduos do grupo.
Nesse sentido, cabe aos psicólogos que atuarem no CRAS direcionar o seu
trabalho para a prevenção, promover práticas terapêuticas grupais e priorizar a
escuta terapêutica, considerando as situações de sofrimento oriundas do processo
socioeconômico as quais os indivíduos estão expostos, além de articular com a rede
sócio-assistencial local.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
A amostra da presente pesquisa foi composta por pessoas da comunidade do
CRAS II – Jardim Aquarius da cidade de Patos de Minas-MG. Dentre as
participantes, 30 são pacientes e uma psicóloga, num total de 31 entrevistados. A
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coleta de dados foi feita a partir de questionário composto por sentenças
estruturadas.
Os dados foram coletados na perspectiva de buscar identificar as
tendências, padrões de relações e inferências, à busca de abstração. O processo da
coleta de dados deu-se entre os dias 28 de junho a 02 de setembro de 2011. Após
aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEPE) da Universidade de Franca
(UNIFRAN).
As análises dos dados consistem em trabalhar esse material coletado de
forma sistemática e sequencialmente disposta em itens que constituem o tema de
pesquisa. Ficaram, portanto, esclarecidos aos participantes da pesquisa os riscos
antecipados ou inicialmente previstos, inclusive riscos físicos, sociais e psicológicos,
associados à participação do sujeito no estudo sem finalidades lucrativas. Tudo foi
cuidadosamente explicado, incluindo a informação sobre quais seriam os benefícios
ou os serviços que estariam disponíveis aos participantes no momento em que a
pesquisa estivesse concluída.
A dimensão global da amostra foi investigar, no mínimo, 10% dos usuários
que utilizam os serviços prestados pela unidade do CRAS II – Jardim Aquarius. O
intuito foi averiguar o nível de satisfação dos usuários e a qualidade dos serviços.
A amostra de 30 participantes das oficinas ministradas nos grupos
psicoterápicos e a coleta de dados para a avaliação do projeto de pesquisa seguiu o
procedimento amostral, no qual foram utilizados questionários com nove perguntas
abertas e semiestruturadas em seis dias diferentes, para as usuárias das oficinas
dos grupos de pintura.
Destes questionários, todos os respondentes são do sexo feminino. Foram
respondidos cinco questionários a cada um dos seis dias de pesquisa. A
amostragem utilizada na pesquisa foi à probabilística, de cunho causal simples, de
modo que cada sujeito da pesquisa tinha igual oportunidade para ser incluído na
amostra. Esse tipo de técnica de amostragem define o melhor caminho para a
escolha dos elementos que irão compor a amostra, possibilitando a inferência.
Elementos retirados ao acaso das oficinas proporcionam a cada grupo ter
igual probabilidade de ser escolhido para a amostra. Através do instrumento
utilizado, foi possível colher opiniões individuais das participantes acerca das
repercussões dos serviços prestados na unidade do referido CRAS e saber quais
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são os resultados que esses serviços oferecem, no que se refere à melhoria de vida
dos grupos psicoterápicos.
A sistematização dos dados obedeceu aos passos da Análise Compreensiva
de base fenomenológica, proposta por Bernardes (1991), também pelo pensamento
de J. C. Moreno, apresentado por Gonçalves, Wolff e Almeida (1988), e a partir da
análise de Soeiro (1995), que referencia o psicodrama e a psicoterapia com base na
Análise Institucional de Bleger (1984).
Em pesquisa realizada por More, Leiva e Tagliari (2002, p. 85), constatou-se
que a Representação Social do Psicólogo é a de um profissional “[...] que lida com
problemas emocionais, que ajuda, orienta, ouve e conversa [...]”, estando sua prática
associada a uma variedade de dificuldades, desconhecendo-se propostas de
tratamento psicológico.
A abordagem escolhida é de cunho qualitativa, que é definida “[...] como
aquela que privilegia os microprocessos, através do estudo de ações sociais
individuais e grupais, realizando um exame intensivo dos dados, caracterizado pela
heterodoxia no momento da análise.” (MARTINS, 2004, p. 289). Essa metodologia
visa buscar e valorizar elementos dos campos de pesquisa no contexto dinâmico da
relação entre pesquisador e seu alvo de pesquisa, entre eles a criatividade, a
proatividade, a desenvoltura, a intuição e o artesanato intelectual.
Por meio de levantamento bibliográfico feito a partir de sites científicos, entre
eles, o Scielo (Scientific Electronic Library Online) que foram selecionados alguns
artigos relacionados ao trabalho do psicólogo no CRAS. A busca bibliográfica
também foi feita a partir de materiais disponíveis pelo CRAS-II - Jardim Aquarius.
A pesquisa se realizou a partir de entrevistas por meio de questionário
estruturado com perguntas abertas que foram aplicados em um período de dois
meses. A amostra é composta por 30 pessoas com idade entre 19 e 70 anos, da
comunidade do CRAS II - Jardim Aquarius - Patos de Minas – MG, que foram
escolhidas aleatoriamente entre os participantes dos grupos psicoterápicos da
comunidade. Também foram entrevistados os psicólogos que trabalham no local.
Na análise de base fenomenológica está a noção de que “[...] os indivíduos
estão ativamente engajados em interpretar os eventos, os objetos e as pessoas em
suas vidas [...]” (BREAKWELL et al., 2010, p. 324). A fenomenologia trata das coisas
que aparecem a nós, em nossas experiências, já que percebemos e falamos de
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objetos e eventos. Assim, identificar a representação social do psicólogo no CRAS
depende da visão que os frequentadores deste local têm sobre a realidade em que
vivem.
4 A PESQUISA: análise e discussão dos resultados
4.1 A Disposição do CRAS II em Patos de Minas
A cidade de Patos de Minas está situada na região do Alto Paranaíba em
Minas Gerais, segundo dados estatísticos do IBGE de 2010, sua população é de
253.384 habitantes. Considerada pólo econômico regional, é a maior cidade da
região composta por dez municípios. O municipio conta com quatro unidades do
CRAS. O CRAS I está localizado no Bairro Nossa Senhora Aparecida, o CRAS II no
Bairro Jardim Aquarius, o CRAS III no Bairro Alvorada e o CRAS IV no Bairro
Sebastião Amorim.
A unidade do CRAS II Jardim Aquarius é administrada pela Prefeitura
Municipal de Patos de Minas, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Social, que atua no âmbito das famílias e dos indivíduos como principal mecanismo
para levar bem-estar e inclusão social.
A estrutura de pessoal que compõe o CRAS II – Jardim Aquarius
corresponde a: uma assistência social, uma psicóloga, uma coordenadora (diretora),
que deve ser assistente social, uma pedagoga, quatro instrutores de oficinas, três
monitoras, cinco estagiários, uma voluntária na oficina de artes e demais
profissionais.
A unidade do CRAS II Jardins Aquarius em Patos de Minas (MG)presta
serviços de proteção social básica, que visam potencializar a família como
referência, procurando fortalecer os vínculos internos e externos, por meio das
ações e intervenções dos seus membros e da oferta de um conjunto de serviços
locais que propiciam a socialização, a convivência e o acolhimento em famílias, cujo
vínculo familiar e comunitário ainda não foi rompido totalmente. Além disso, são
oferecidos programas para a inclusão no mercado de trabalho. Portanto, o CRAS é
considerado a porta de entrada para os programas sociais da Prefeitura Municipal
do referido município, do Governo Estadual e Federal.
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No início da implantação da unidade CRAS II, a mesma constava-se no
bairro Nova Floresta, com cerca de 5000 famílias atendidas, compostas, em seu
nível de abrangência, por entidades religiosas, associações de bairros e escolas.
Devido à expansão dos serviços prestados pela unidade do CRAS, visando
à melhoria do atendimento à população pertencente, formadas pelos bairros em seu
entorno, a sede da unidade foi transferida para o bairro Jardim Aquarius, o que
ocasionou a alteração da nomenclatura. A mudança deu-se visando à melhor
acessibilidade dos usuários. Inaugurado em 30 de abril de 2008, a nova unidade
CRAS II contava com mais espaço para atender a demanda crescente, podendo
ampliar o número de atividades a serem desenvolvidas.
Atualmente, o CRAS II atende em sua unidade duas turmas de ‘Pro Jovem’
Adolescente, proporcionando orientação à cidadania e capacitação para formação
profissional. A comunidade do CRAS II pode contar com os seguintes serviços
disponibilizados: Grupos Psicoterapêuticos, Grupos Socioeducativos, Atendimento e
acompanhamento com Psicólogo e Assistente Social, Encaminhamento para rede
sócioassistencial, acompanhamento psicológico e socioeducativo de crianças,
adultos e idosos.
A unidade chega a atender em média de 400 famílias, o que resultou na
inclusão de lazer através do esporte. Além disso, a partir das parcerias
desenvolvidas entre a Prefeitura Municipal e Secretaria de Desenvolvimento Social,
juntamente com entidades e empresas, ainda visa proporcionar cursos de
capacitação de mão de obra para o mercado de trabalho. Continuamente firma
novas parcerias que promovem a interação da instituição pública com a privada,
fornece a atuação profissional centrada na família e na responsabilidade social, bem
como em todos os seus aspectos formadores de constituição. Consequentemente,
articula a rede social, fortalecendo vínculos institucionais e comunitários.
A atuação entre público e privado é centrada na motricidade sócio-familiar,
de modo a articular propostas e conceitos institucionais e buscar oferecer serviços
de forma integrada e responsável. O objetivo é desenvolver na comunidade
vínculos, socialização de conhecimento, geração de renda, autonomia, promoção de
cidadania e protagonismo social para, sobretudo, transformar pessoas em agentes
sociais.
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Com base na análise de dados disponibilizados pelo CRAS II, a instituição
possui aspectos positivos em relação ao retorno dos usuários e sua participação.
Devido à unidade contar com equipe multiprofissional, pode-se evidenciar o diálogo
entre as Ciências Sociais, Psicológicas e Pedagógicas. Então, de fato, isso
demonstra a flexibilidade na postura e diálogo entre as ciências, visando o bem-
estar social ao cidadão atendido. O papel do Psicólogo, com o processo
psicoterapêutico na equipe multiprofissional, é evidenciar, através da intervenção, a
possibilidade de se alterar o que é intrínseco ao indivíduo, que é para Lacan (1964)
“[...] o que estava lá há um bocado de tempo antes que viéssemos ao mundo, e
cujas estruturas circulantes nos determinam como sujeito.”
Esta alteração pode ocorrer junto à assistente social, nos atendimentos
individuais ou em atividades coletivas, prioridade neste tipo de serviço. Contudo, a
transformação só se dará quando ao sujeito for concedida a oportunidade de se
ouvir, de se descobrir, de entender como sua subjetividade, produzida pelas redes e
campos de força social nas quais ele está inserido, está interagindo. Assim, esse
indivíduo poderá ressignificar sua vida, saindo do lugar de objeto para o lugar de
sujeito de sua história.
As descobertas podem se realizar por intermédio da escuta e do
entendimento, que pode acontecer no âmbito do atendimento individual, como
também em quaisquer das atividades socioeducativas produzidas pelos profissionais
que, através de seu trabalho enquanto atuantes no CRAS II do Jardim Aquarius,
disponibilizam-se a dar essa oportunidade ao indivíduo.
A prática da intervenção grupal, nessa unidade, proporciona aos sujeitos a
socialização através da ação e interação entre seus membros. A experiência de
cada integrante ao ser explicitado leva o indivíduo refletir, elaborar e construir novos
sentidos.
Portanto, a Psicologia, enquanto ciência que tem como objeto de estudo a
subjetividade, segundo Guattari (1992), é “[...] o conjunto de condições que torna
possível que instâncias individualizantes e/ou coletivas estejam em posição de
emergir como território existencial autorreferencial em adjacência ou em relação com
uma alteridade ela mesma subjetiva [...]” O psicólogo tem o conhecimento técnico
para compreensão da dimensão subjetiva dos fenômenos sociais e o
compromisso social de enfrentamento da vulnerabilidade social.
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As intervenções grupais oferecidas pelo CRAS II – Jardim Aquarius separam
atividades temáticas direcionadas a cada necessidade identificada pelo estudo
psicossocial da população atendida, que podem ser descritas do modo a seguir:
Grupo com crianças: são atendidas 150 crianças entre os anos de 2007 e
2008. A finalidade é o fortalecimento dos vínculos e desenvolvimento cognitivo.
Oficinas artesanais e geração de renda: proporciona, por meio da
inclusão, a produtiva ação com atividades que possibilitam o intenso convívio social,
fortalecendo os vínculos comunitários e elevando a capacidade de superação dos
problemas. Entre os anos de 2007 e 2008, foram capacitadas 125 usuárias.
Grupo de trabalho com mulheres: tem como finalidade o convívio e a
permuta de ideias, buscando auxiliar a superação de situações conflituosas e nos
questionamentos por meio de grupos operativos. Assim, torna-se possível alcançar o
fortalecimento e formação dos vínculos afetivos e familiares. 45 mulheres já
participaram das intervenções entre os anos de 2007 e 2008. Palestras informativas
divulgam as atividades ministradas no CRAS II para a comunidade e visam o
resgate da autoestima como questão central para superação dos problemas. As
reuniões junto às associações de moradores proporcionam intervenções coletivas,
que visam à socialização dos integrantes à informação e favorecem a prática
saudável do convívio social. Entre o ano de 2007e 2008, foram efetuados 20
eventos.
Grupo de Esportes: visa o trabalho em equipe. A intervenção através do
esporte tende a ser uma das mais procuradas pela população de crianças.
Atualmente conta com a participação efetiva de 250 participantes.
Grupos de atendimento as pessoas idosas: realiza visitas domiciliares,
procurando desenvolver atividades específicas. Em parceria com o Centro de
Convivência da 3ª Idade, atende em torno de 150 pessoas atualmente (2010/2011).
Grupo de revisão pedagógica: por meio do reforço escolar, atualmente
(2010/2011) atende acrianças e adolescentes que já puderam se recuperar,
ganharam autoconfiança e desenvolveram a capacidade cognitiva.
Grupo de teatro: Com o uso de fantoches, procuram estimular a criatividade
e a espontaneidade da criança, do adolescente e do idoso, procurando centrar no
papel da família, versando temas atuais que buscam o respeito às diferenças e o
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desenvolvimento da criatividade. Entre o biênio 2010/2011, foram atendidas 200
pessoas.
Grupo de Jovens: foca em atividades comunitárias de esporte, lazer e
estudo, que lhes possibilitam a capacitação para o mercado de trabalho. A duração
é de dois anos. As atividades desenvolvidas ficam por conta de uma equipe de
profissionais específicos e com parcerias dos estagiários do curso de Psicologia da
Faculdade Patos de Minas. Entre os anos de 2010 e 2011, o grupo contava com
duas turmas de 20 integrantes, no período matutino e 25 no período vespertino.
Grupo de aula Informática: promove o acesso à tecnologia da informação.
Já incluiu, nos anos mencionados, 300 pessoas da comunidade de abrangência,
possibilitando, ainda, uma melhor qualificação profissional.
Curso de aperfeiçoamento e qualificação profissional: realizado através
de parcerias institucionais, proporciona, assim, à comunidade, uma gama de
atividades de cunho complementar, capacitando profissionais para inclusão social.
Tais parcerias já possibilitaram a formação (2010/ 2011) de 300 pessoas, inclusive,
proporcionando novo posicionamento junto ao mercado de trabalho.
Com a participação dos grupos e das oficinas em atividades de geração de
renda, o Psicólogo do CRAS II tem a possibilidade de propor discussões sobre
cidadania, não sendo entendida tão somente como “[...] um vínculo político que liga
o indivíduo ao estado e que lhe atribui direitos e deveres de natureza política [...]”
(ACQUAVIVA, 2001). Os direitos abordados pelos profissionais do CRAS II vão além
dessas questões, eles realizam um trabalho de conscientização política, para que as
pessoas envolvidas entendam seu lugar na sociedade em que vivem. Mas também
promovem a inclusão e a interação social, o desenvolvimento afetivo e pessoal, bem
como levam a população atendida a refletir sobre si e sobre a vida.
4.2 Análise e discussão dos resultados
Para melhor análise e compilação dos resultados, foram utilizados três
parâmetros que possibilitaram identificar o nível de satisfação dos usuários frente à
atuação do Psicólogo no envolvimento das atividades ofertadas pelo CRAS.
Os parâmetros de análise dar-se-ão em: nível de satisfação, podendo ser
identificado nas questões um, sete e nove; nível terapêutico, podendo ser
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identificada nas questões três, quatro e oito; nível de atendimento, podendo ser
identificada nas questões dois, cinco e seis.
Para análise e compreensão dos dados coletados gerados através deste
estudo, deve-se relacionar a interpretação subjetiva da importância da qualidade de
vida, especialmente nos grupos psicoterápicos, nos quais os/as integrantes atuam
como membros participantes, pensando na sua intrínseca relação com os aspectos
biopsicossociais e em seu modo de relacionar-se com o outro.
4.2.1. Quanto ao nível de satisfação
Através da análise da amostra referente ao nível de satisfação, evidenciam-se
melhorias relacionadas à interação. Identifica-se que os indivíduos apresentavam,
antes das oficinas: 100% (E=30) de processos depressivos; 69,23% (E=7) relativos
graus de estresse emocionais causados pela ociosidade e falta de interação com os
grupos sociais; 15,38% indicaram possuir incidência de mal-estar; 7,69% (E=1)
possuíam insônia; e 53,8% (E=4) apresentavam indisposição e vários conflitos.
As entrevistadas indicam que após sua inserção a participação nos Grupos
Comunitários, quando questionados em relação ao significado do CRAS, 10% citou
melhorias. Do relato quanto às mudanças significantes, após a inserção do indivíduo
em grupos terapêuticos, pode ser evidenciado, conforme pontua Martins (2004, p.
289), que o indivíduo, ao participar de algum grupo, já está aberto a novas
experiências que favorecem a mudança. No ponto de vista de uma pessoa atendida
(E=15): “[...] é muito gratificante participar das oficinas e interagir com as pessoas.
Após estar no CRAS, tudo em minha vida mudou: os valores, qualidade de vida,
gostar de mim mesma e relacionar com os outros deforma sadia.”
Através do relato transcrito, é possível observar que a participante apresentou
melhoras diante de suas relações interpessoais. Na qualidade de vida, aumentou a
sua disposição, movida pela sua participação nos grupos comunitários
psicoterápicos, em conjunto com as oficinas oferecidas pelo CRAS. A referida
participante demonstrou, segundo o que diz, melhoras no relaxamento físico e
mental, na qualidade de sono, na disposição e atenção.
Sendo assim, os resultados deste estudo estão em consonância com os
conceitos de Soeiro (1995), que explica: “[...] um indivíduo não pode adotar uma
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posição neutra, por pertencer um campo, pois está interagindo com o outro.” Isso
porque, os participantes dos Grupos Psicoterápicos tiveram oportunidades de
aumentar o foco de atenção nas oficinas, mediante o alívio físico e mental,
proporcionado através das interações grupais desenvolvidas nas oficinas.
Durante as oficinas, as participantes realizam atividades próprias de cada
curso, os que foram especificados acima. Sendo consideradas prazerosas, são
escolhidas de acordo com o gosto, habilidade e criatividade de cada uma. Devido
aos horários, dia e local, são organizadas a fim de favorecer as relações
interpessoais. Por conseguinte, muitas, através das oficinas, puderam conhecer
melhor suas colegas à medida que a interação entre elas ocorriam, mediante as
propostas das atividades.
Quanto ao questionamento das participantes, ao que se referia ao nível de
satisfação do trabalho do Psicólogo, 60% demonstraram estarem satisfeitas com a
atuação do profissional. É possível, assim, identificar as atribuições quanto ao seu
papel nos programas da rede de proteção social em atenção às populações em
situação de vulnerabilidade. Porém, 30% responderam que o atendimento do
psicólogo é parcialmente satisfatório, enquanto 10% disseram não ter procurado
atendimento do profissional. Evidencia-se que os 40% referentes ao nível de
satisfação com o Psicólogo, seja devido a não apresentar interesse para o
atendimento, ou, muitas vezes, caracterizar-se em não precisar a ajuda.
Bleger (1984) assevera que toda instituição tem objetivos explícitos, bem
como implícitos. E que, estes, devem ser valorizados de forma separada dos efeitos
que uma instituição pode produzir. Em algumas situações, não há dissociação entre
conteúdo latente e manifesto, no entanto, em outras, há contradições e pode
acontecer de o conteúdo latente ultrapassar o conteúdo manifesto.
O trabalho do Psicólogo é parte integrante do processo. Dessa forma, as
intervenções acontecem juntamente com os demais profissionais que atuam na
unidade. O trabalho foca a autonomia, independência e transformação da realidade
de indivíduos em situação de risco e vulnerabilidade social. Assim, pode-se
favorecer o comprometimento com a promoção de direitos, de cidadania, da saúde,
promover a valorização da vida, considerando o contexto no qual vive a população
atendida.
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4.2.2. Quanto ao nível terapêutico
Mediante os resultados obtidos, a entrevistada E=13 afirma: “[...] Era uma
pessoa menos informada, agora tem mais experiência para conviver em grupos com
outros.” Conforme se pode evidenciar no relato, percebe-se que, com a terapia, a
participante apresentou melhoras no que diz respeito à interação. Esta apresenta
estar mais disposta e aberta para as novas experiências, às interações sociais e que
busca uma qualidade de vida mais saudável. Assim, um fator importante a que se
deve considerar é o que, antes de vivenciar o encontro terapêutico, os níveis de
estresse eram causados pela falta de entendimento quanto às situações de conflitos
psíquicos, diante das experiências vivenciadas no dia a dia. Sendo que, após as
vivências terapêuticas, o aprendizado mediante as situações conflituosas possibilitou
um olhar diferenciado para o enfretamento. Foi favorecida, assim, a qualidade de
vida tão almejada.
Por via da análise dos dados e quanto às observações das participantes dos
grupos terapêuticos nos encontros, evidencia-se um maior intercâmbio de
sentimentos, que vão sendo transferidos e contra-transferidos entre o Psicólogo e os
membros do grupo. Há, nesse sentido, a compreensão do contexto afetivo-social
vivenciado pelo sujeito, perante a interação com o seu próprio modo de vida. Desse
modo, é abrangido um sistema de representações que favorecem a apropriação do
seu espaço no contexto social do grupo pertencente e o fortalecimento e construção
de valores e sentimentos ressignificados pela intervenção terapêutica.
Segundo Zimerman (1997), todo ser humano é gregário por natureza,
existindo em função dos seus relacionamentos. Através deste nível de análise,
pode-se observar a melhoria dos sintomas. Com o auxílio das oficinas de artes e
através de um esforço interdisciplinar, os participantes passam a se desenvolver
como sujeito da comunidade, mediante o aprofundamento da consciência familiar,
que favorece as relações interpessoais.
Moreno (1985) afirma que a psicoterapia de grupo é um método para tratar,
conscientemente, na fronteira de uma ciência empírica, as relações interpessoais e
os problemas psíquicos dos indivíduos de um grupo. Na sua concepção, todosos
membros do grupo são agentes teraupêticos, e todo o grupo também o pode ser em
relação a outro grupo. Esse método aspira alcançar o melhor agrupamento de seus
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membros para os fins que persegue. Não trata somente dos indivíduos, mas de todo
o grupo e dos indivíduos que estão em relação com ele. Em sua relação sociológica,
vê a sociedade humana total como o verdadeiro paciente.
A partir da investigação do desenvolvimento enquanto sujeito na
comunidade, é possível verificar que sofreram um acréscimo de potencialização de
suas habilidades, descrevendo o que se refere a suas vidas antes e depois do
CRAS. 60% afirmaram que, antes da sua participação nos grupos psicoterápicos
comunitários, as suas experiências não faziam jus a sua existência, não tinham
projetos de vida, e se tivessem, não estabeleciam metas para que os mesmos
fossem executados. Existiam apenas enormes vazios existenciais onde a vida não
tinha nenhum sentido. Ainda confirmam que as melhorias percebidas por elas foram
alcançadas com acompanhamento nutricional, psicológico e social. Dizem sentirem-
se mais tranquilas, relaxadas, que descobriram que podem ser capacitadas e
viverem novas experiências que possam suavizar o contexto em que convivem. A
E=5, por exemplo, mostra sentir-se dona de si mesma, a protagonista de sua
história. “[...] Antes era depressiva, agora faço minhas pinturas, me distraio,
converso com amigas, tudo mudou para melhor.” (E=5)
4.2.3 Quanto ao nível de atendimento
É importante ressaltar, que tanto o grupo operativo pode propiciar um
beneficio psicoterápico, quanto os grupos psicoterápicos se utilizam do enfoque dos
grupos operativos. Já que "Os grupos de ensino não são diretamente terapêuticos,
mas a tarefa da aprendizagem implica em terapia; toda aprendizagem bem realizada
e toda educação é sempre, implicitamente, terapêutica." (BLEGER, 1993, p. 63).
Através das observações, no contexto das oficinas desenvolvidas nos
momentos das intervenções grupais, em decorrência do encontro, pode-se
evidenciar a necessidade de inclusão por parte do indivíduo que se encontra em
vulnerabilidade social. Nasce, então, o desejo de se sentir integrado, valorizado,
aceito em seu contexto de essência e existência, pela sociedade.
A partir da sondagem nos questionários, foi possível investigar os
argumentos apresentados pelos participantes dos encontros grupais. A partir daí,
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buscamos saber também como elas se sentiam quanto ao atendimento recebido
pela equipe de profissionais no CRAS II.
Na análise das informações apresentadas no questionário, percebemos que
as participantes se sentem confortáveis em relação ao atendimento oferecido pela
da equipe de trabalho do CRASII. 96% dos entrevistados responderam que o
consideraram ótimo, e 4% regular.
O CRAS é considerado a porta de entrada da Assistência Social e tem como
via de regra primordial o atendimento prioritário aos seus usuários. Pode-se
evidenciar a boa relação estabelecida entre a equipe e os usuários: “[...] Bom
relacionamento, os instrutores bem educados e prontos para nos atender. Basta
acreditar em mim e aproveitar a oportunidade.” (E=1)
Passando agora à análise da entrevista com a Psicóloga (para identificá-la,
será utilizada a sigla L. R.). A boa relação estabelecida entre equipe e usuários fica
evidente quanto à percepção dela. Conforme explica, a psicologia procura se reiterar
dos conhecimentos que embasam a atuação profissional no campo da Assistência
Social e visa o desenvolvimento de atividades em diferentes espaços institucionais e
comunitários. A esse respeito, ela prioriza o conhecimento como base para atuar, de
forma que os conhecimentos possibilitem-na realizar ações que envolvam os
usuários dos serviços da rede de apoio social e a comunidade em geral a
participarem dos movimentos sociais dos grupos psicoterápicos.
A mesma relata estar satisfeita quanto a sua atuação. “Percebo uma ótima
aceitação da psicologia no CRAS. O meu trabalho tem contribuído muito para as
famílias e eles expressam isso sempre. Escuto muitos usuários dizer que sou
diferente de alguns profissionais que trabalham nos serviços, pois procuro sempre
estar rindo, atendo bem as pessoas, e eles me retribuem com muito carinho.”
A psicóloga também afirma que trabalha com a intenção de resgatar a
autoestima e a melhoria da qualidade de vida dos usuários. Seu intuito é reintegrá-
los na sociedade, de modo que seu conhecimento possa permitir aos participantes
dos grupos compreenderem suas interações e vir a serem autores de sua história.
Através da participação social nos grupos, o indivíduo é inserido no contexto que
dele e passa a perceber as condições básicas de cidadania. Mesmo com suas
limitações, ele começa a dar sentido à sua vida, buscando aperfeiçoar o seu estado
psíquico, físico e emocional.
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A Participante relata que existem limitações as quais dificultam o seu
trabalho, mas que, mesmo assim, não se vê impossibilitada de atuar. Como o
trabalho do psicólogo nas redes de apoio social é muito diversificado, ela busca
quebrar paradigmas e estigmas que são carregados pelos profissionais que atuam
nesse espaço de prática diferenciada.
Questiona-se muito a atuação do psicólogo nas organizações, porém a
atuação profissional varia de acordo com as normas que cada instituição adota
como forma de atendimento. No caso apontado nesta pesquisa, a instituição valoriza
o ser humano e lhe proporciona as condições necessárias para que ele consiga se
integrar aos grupos e sair da área de vulnerabilidade social. Para tanto, demonstra a
valorização do trabalho multidisciplinar, em especial a promoção de saúde psíquica
e investe em projetos sociais com equipes interdisciplinares para favorecer a
comunidade e seus familiares. As propostas e os projetos são desenvolvidos com
base nas reivindicações dos usuários dos serviços oferecidos pelo CRAS.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa demonstrou a qualidade dos serviços oferecidos pelo
CRAS em função do crescimento pessoal e profissional, para que o leitor saiba o
que é feito na instituição. Ficou clara a representatividade do vínculo entre o CRAS e
as famílias atendidas, não obstante mostrou-se o quanto é imprescindível que as
pessoas se informem sobre os serviços que o governo, através das redes de apoio
social, tem disponibilizado à comunidade em risco e área de vulnerabilidade social.
Faz-se necessário que esses grupos sejam conscientizados, tanto os profissionais
como os usuários dos serviços e benefícios, e que passem a ter conhecimento sobre
a forma pela qual o CRAS está contribuindo.
Observou-se que além de tantas qualidades de serviços que o CRAS
disponibiliza, ele ainda proporciona às famílias a possibilidade de sair da
vulnerabilidade social e serem protagonistas de sua própria história. Isso demonstra
o quanto o trabalho é realizado com qualidade pelo CRAS e é importante para todas
as famílias que possuem demanda para o atendimento.
Os principais temas que este trabalho abordou foram o nível de satisfação,
nível terapêutico e nível de atendimento. Os participantes da pesquisa usam os
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serviços com muita frequência, quando interagem entre si e participam regularmente
dos eventos que o CRAS oferece. Relacionado à sua participação, com os
parâmetros anteriormente citados em relação às interações, nos grupos
terapêuticos, por meio do envolvimento em oficinas, no âmbito da subjetividade, não
seria possível identificar essas questões de forma puramente quantitativa. No
entanto, associadas aos instrumentos trazidos pela pesquisa qualitativa,
conseguem-se resultados pautados na íntegra do pensamento humano da amostra
desse estudo.
Pode-se concluir que o levantamento feito no CRAS II – Jardim Aquarius
apontou para as muitas contribuições que podem ser oferecidas às famílias que
procuram o atendimento ao dar-lhes o suporte necessário para que se capacitem e
desenvolvam habilidades e sentimentos de competência, podem tornar-se
autossuficientes e prontos para seguirem suas vidas com dignidade. Assim, é
possível promover mudanças na comunidade e prevenir situações de risco social.
REFERÊNCIAS
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