A GEOPOLÍTICA DA BACIA PLATINA NAS RELAÇÕES BRASIL-ARGENTINA-
PARAGUAI: CONTEXTO, DISPUTAS E A HIDROPOLÍTICA EM TORNO DA
USINA DE ITAIPU A Geopolítica da Bacia Platina, Itaipu e Yaciretá: Hidropolítica e Geopolítica energética
nas Relações Brasil-Argentina-Paraguai
Lucas Kerr de Oliveira 1
Astrid Y. Aguilera Cazalbón 2
Marianna de Oliveira Rodrigues 3
RESUMO
A partir da interpretação geopolítica, este artigo busca analisar as variáveis que impulsionaram
aos conflitos e processos de cooperação envolvendo os recursos hídricos da Bacia Platina. No
caso da Bacia Platina, a relevância dos recursos hídricos se manifesta na forma de recurso
estratégico utilizado como vetor de transporte hidroviário e para a geração da hidroeletricidade
que sustenta cidades e cadeias produtivas no Cone Sul. Desde as guerras de colonização, até as
guerras Cisplatina, do Prata, do Paraguai e do Chaco, os rios e acesso a estes foram objetos
centrais das disputas entre os Estados platinos. No século XX, a última crise que poderia evoluir
para um confronto militar ocorreu justamente entre Brasil e Paraguai, em torno da questão da
localização e do caráter binacional da Usina. As tensões diminuíram com a assinatura da Ata
das Cataratas (1966) e o tratado de Itaipu (1973), transformando a disputa pelo uso dos recursos
hídricos do Paraná, na medida em que encerrava o litígio territorial entre Brasil e Paraguai. Para
analisar estes processos históricos de longa duração sob uma perspectiva geopolítica, e avaliar
os desafios e perspectivas este artigo desenvolve três níveis de análise que se desdobram em
subseções, sendo: (I) Geográfico e Geomorfológico, analisando a região da Tríplice Fronteira
Brasil-Argentina-Paraguai e entorno na Bacia Platina, onde são abordados o potencial
hidrológico dos rios e aquíferos, assim como os usos múltiplos da água, para consumo humano
e na produção de alimentos, transportes e geração de energia; (II) Hidropolítica e Geopolítica
energética, considerando a geopolítica dos recursos hídricos, o potencial energético e a
hidropolítica, com foco no papel dos rios da Bacia Platina como eixos hidroviários vitais de
acesso ao Heartland Sul-Americano; (III) Geoeconômico e Geoestratégico: levando em conta 1 Lucas Kerr Oliveira é Doutor em Ciëncia Política, Mestre em Relações Internacionais pela UFRGS e docente de
ensino superior no Bacharelado em Relações Internacionais e Integração e, também, no Programa de Pós-Graduação em Integração Contemporânea na América Latina, PPG-ICAL da UNILA. Atualmente é Coordenador
do Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração Regional (NEEGI), da UNILA. E-mail:
<[email protected]>. 2Astrid Y. Aguilera Cazalbón é Bacharela em Economia e mestranda no Programa de Pós-Graduação em
Integração Contemporânea na América Latina (PPG-ICAL), na UNILA. Pesquisadora colaboradora do Núcleo de
Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração Regional (NEEGI-UNILA). 3Marianna de Oliveira Rodrigues é mestranda em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS, bacharela em Relações Internacionais pela UniRitter, monitora de pesquisa acadêmica no Laboratório de Estudos em Defesa e
Segurança (LEDS-UniRitter). Pesquisadora associada ao Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração
Regional (NEEGI-UNILA). Contato: <[email protected]>.
o elevado potencial hidroenergético e a relevância econômica de Itaipu para a segurança
energética regional e a sustentação logística da estratégia de desenvolvimento e integração
produtiva e econômica no Cone Sul. A hipótese desenvolvida é que estes recursos hídricos
reposicionam o Cone Sul no tabuleiro geopolítico mundial. Também interpreta o papel de Itaipu
como central na região, devido ao caráter central na sustentação da estratégia energética de
Brasil e Paraguai, e ao seu papel como ferramenta diplomática e de resolução de conflitos pela
via pacífica e cooperativa, impulsionando a integração energética regional.
Palavras-chave: Geopolítica; Bacia Platina, Hidropolítica, Itaipu Binacional
INTRODUÇÃO
A Bacia Platina, uma das maiores e mais importantes bacias hidrográficas do continente
sul-americano, partindo do Rio da Prata, configura-se em um complexo hidrográfico centrado
no caudaloso rio Paraná — que em uma confluência com os rios Paraguai e Uruguai e seus
afluentes (como os rios Iguaçu e Paranaíba) — é responsável pelo escoamento de uma grande
área de clima tropical úmido e subtropical úmido, combinado com o relevo irregular de planalto
e inúmeras quedas d'água, bem como, pelo abastecimento de água de grande parte da região da
Tríplice Fronteira, mantendo em pleno funcionamento suas estruturas urbanas e econômicas.
Ocupando um território de cerca de 3,1 milhões de km², a Bacia do Prata se apresenta como a
segunda maior bacia hidrográfica da América do Sul — atrás somente da Bacia Amazônica que
se estende por longos 7,5 milhões de km² — e como a 4ª no ranking mundial de maiores bacias
hidrográficas (OLIVEIRA, STEWART, OTEIZA, & DENEVAN, 2014).
Além de estar entre as maiores bacias do mundo em relação à sua extensão, a Bacia
Platina também chama atenção no que diz respeito ao seu volume hídrico, e à capacidade de
reposição anual, sendo uma região perene quanto aos índices pluviométricos — devido ao clima
tropical e subtropical úmido no qual se encontra — fator que faz com que a região não venha a
sofrer com fenômenos como a escassez hídrica4 (ilustrada no mapa da Figura 1) e o estresse
hídrico5 (ilustrado no mapa da Figura 2).
4A escassez hídrica ocorre quando a quantidade de água de uma região não é suficiente para atender às demandas
dos Estados, passando a deixá-los em situação de vulnerabilidade, propiciando o surgimento de conflitos (RODRIGUES, 2015; BARLOW e CLARKE, 2003 apud PINTO, 2017). 5O estresse hídrico de uma bacia hidrográfica é calculado a partir da relação entre o volume total de água de uma
região, o percentual utilizado a cada ano pelos países que a compõem, e a diferença entre os índices de pluviosidade
e de evaporação (RIBEIRO, 2008; PINTO, 2017).
Figura 1 – Escassez hídrica em nível mundial
Fonte: MEKONNEN e HOEKSTRA (2016)
Figura 2 – Estresse Hídrico em nível mundial
Fonte: WORLD RESOURCES INSTITUTE (2013)
Conforme é possível analisar em ambos os mapas dispostos acima, ainda que no
continente sul-americano hajam pontos isolados em que os fenômenos de escassez e estresse
hídrico se fazem presentes — como é o caso do Chile e do Peru, com suas regiões áridas por
conta de sua localização em altas latitudes que capturam maior incidência solar (BBC, 2016)
— no caso do eixo regional platino é observável que os índices de esgotamento são bastante
ínfimos, fazendo desta uma região de excelente potencial de reposição hidrológica. Desta
forma, a Bacia Platina ganha importância estratégica não somente em âmbito regional, sendo a
segunda maior bacia sul-americana, mas também em escala mundial, por ser um componente
fundamental do vasto complexo hídrico regional sul-americano, que é detentor de cerca de 30%
do volume hídrico mundial (RODRIGUES, 2015).
Além do volume hídrico e da capacidade de renovação, outro ponto fundamental a se
destacar a respeito da Bacia Platina é seu potencial de geração de energia hidrelétrica, que gira
em média de 90 bilhões de kWh (PINTO, 2009 p. 16-18). A grande capacidade de produção
energética, a controle sobre a distribuição de água e o acesso à vias de navegação
intercontinental foram os principais catalisadores para a eclosão de diversos focos de conflito
entre os Estados que compartilham dos recursos hídricos platinos, como por exemplo Brasil,
Argentina e Paraguai, que compartilham em sua Tríplice Fronteira, os recursos da região do
Salto das Sete Quedas, a principal Foz do Rio Paraná.
Conforme é possível observar no mapa da Figura 3 abaixo, a Bacia Platina se estende
pelo território de cinco países sul-americanos, sendo eles Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e
Uruguai, tendo sua maior concentração hídrica na região da Tríplice Fronteira Brasil-Argentina-
Paraguai:
Figura 3 – Principais Bacias Hidrográficas Transfronteiriças no continente Sul-
Americano
Fonte: KERR OLIVEIRA (2013), elaborado a partir dos dados do Transboundary Freshwater Dispute Database (2000)
Haja vista as capacidades hídricas e energéticas, bem como, seu potencial para a geração
de conflitos em torno da exploração e utilização de bens comuns como a água, à luz da
geopolítica, este artigo versa sobre como se desenvolveram as relações políticas entre os
Estados sul-americanos em torno da gestão de seus recursos hídricos, desde os conflitos acerca
da demarcação de suas fronteiras e do compartilhamento dos recursos hídricos, até os processos
de integração infraestrutural que culminaram na criação da Usina de Itaipu, a maior do mundo
em termos de geração de energia hidrelétrica6.
Geopolítica da Água na Bacia Platina e Hidropolítica do Rio Paraná
6Até o ano de 2016 — em que produziu sua marca recorde de 103 milhões MWh/ano — a Usina Hidrelétrica de
Itaipu era a segunda maior do mundo, ficando atrás apenas da Usina de Três Gargantas, situada na foz do Rio
Yangtze, na província de Hubei/China (cuja produção máxima até o momento foi de 101,6 milhões MWh/ano)
(ITAIPU BINACIONAL, 2019).
Fonte: KERR OLIVEIRA (2013), mapa em projeção azimutal equidistante.
1 BACIA PLATINA: CONFLITOS EM TORNO DO POTENCIAL
HÍDRICO/ENERGÉTICO
Dadas as capacidades hídricas e energéticas supracitadas, a Bacia Platina vem há
décadas se configurando como uma região estratégica para a geopolítica dos Estados sul-
americanos, não somente pelas questões que envolvem a subsistência das aglomerações
populacionais, e as demandas energéticas dos sistemas econômicos, mas também pela
possibilidade da abertura de frentes navegáveis para o escoamento dos fluxos comerciais e de
mobilidade espacial entre os países localizados em seu entorno. Foi por razões como estas que
se estabeleceram conflitos e litígios transfronteiriços entre os Estados platinos.
A título de exemplo, podemos citar a guerra da Cisplatina (1825-1828) — conflito
ocorrido entre Brasil, Argentina e Uruguai acerca do domínio da Província Cisplatina (hoje
território uruguaio) que culminou na independência do Uruguai—, a Guerra do Prata (1851-
1852) — que também se deu por conta da disputa entre Brasil e Argentina pelo domínio do
Uruguai. Outros dois exemplos são também a Guerra do Paraguai (1864-1870) — em que
Brasil, Argentina e Uruguai uniram suas tropas militares e forças políticas para orquestrar a
derrubada de Solano López do governo paraguaio, levando a um grande conflito armado, que
resultou na anexação de 40% do território paraguaio pelo Brasil e pela Argentina, e a Guerra
do Chaco (1932-1935) — que se estabeleceu entre Bolívia e Paraguai por conta da região do
Chaco, em litígio no espaço fronteiriço entre os dois países, que acabou sendo tomada em sua
maior parte pelo lado paraguaio (PAGLIARI, 2009; JARDIM, 2011; ENCYCLOPÆDIA
BRITANNICA, 2014).
Os conflitos relacionados à contestação de fronteiras são uma herança do período
colonial — das disputas de demarcação entre as coroas portuguesa e espanhola — que persistiu
como uma cesura na formação política e no desenvolvimento do continente sul-americano e,
embora tenham ocorrido em períodos diferentes, o que estas contendas têm em comum além da
grande escalada para o conflito armado e o enorme contingente de baixas de soldados, é que
seu ponto de eclosão e/ou agravamento teve origem nas reivindicações acerca da demarcação
de fronteiras e territórios que lhes garantiam melhor acesso e controle dos rios e afluentes que
lhes conferiam a demanda de água necessária para o abastecimento das populações, de suas
infraestruturas, sistemas econômicos e rotas comerciais navegáveis. E dentro desta premissa, o
principal conflito a se destacar — tanto por sua contemporaneidade quanto por sua importância
para os estudos da Geopolítica da Água na América do Sul — é a contestação que se deu entre
Brasil, Paraguai e Argentina sobre o aproveitamento do rio Paraná a partir da região do Salto
das Sete Quedas, cuja inundação, posteriormente, deu origem à Usina Hidrelétrica de Itaipu.
1.1 Os conflitos na Tríplice Fronteira Brasil-Argentina-Paraguai
A região do Salto das Sete Quedas — situada na cidade de Guaíra, na fronteira entre
Brasil e Paraguai — era a região em que se localizavam as Sete Quedas da foz do rio Paraná
onde se deu um dos maiores litígios hídricos da América do Sul, por conta da contestação
paraguaia sobre a demarcação das fronteiras deste território. O litígio iniciado entre as duas
nações tomou tal proporção que outras zonas fronteiriças que incluíam também parte do
território argentino passaram a ser contestadas — como é o caso dos municípios de Terra Roxa,
Mercedes, Marechal Cândido Rondon, Pato Bragado, Entre Rios do Oeste, São José das
Palmeiras, Santa Helena, Diamante D’Oeste, Missal, Itaipulândia, Medianeira, São Miguel do
Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu e Foz do Iguaçu — que viraram todos regiões lindeiras ao
Lago de Itaipu (solução criada para a reversão do conflito).
A decisão pela inundação da região das Sete Quedas, a fim de transformá-la em um
lago para a geração de energia para suprimento binacional veio através da Ata do Iguaçu7, que
instituiu então as bases do que viria a se tornar a Usina Hidrelétrica de Itaipu, instrumentalizada
a partir do Tratado de Itaipu8 que trouxe o desenvolvimento energético, favorecendo não
somente Brasil e Paraguai, mas a Argentina que também faz parte da região fronteiriça que
permeia o Lago de Itaipu.
Contudo, cabe destacar que a criação de a Usina teve grande impacto regional não
somente por sua exímia capacidade de geração de energia, mas também pelo papel que
desempenhou como solução pacífica para um litígio que esteve na iminência da escalada para
7Assinada em 22 de junho de 1966, a Ata do Iguaçu (ou Ata das Cataratas) foi o documento que precedeu o Tratado
de Itaipu, estabelecendo as bases cooperativas entre Brasil e Paraguai para os estudos acerca da viabilidade de
exploração dos recursos hídricos da bacia do Rio Paraná, sobre os quais a construção da Usina de Itaipu seria pautada (QUEIROZ, 2012). 8Tratado assinado em 26 de abril de 1973 estabelecendo a criação da Usina Hidrelétrica de Itaipu em regime
binacional entre Brasil e Paraguai, tendo em vista o total aproveitamento energético da região. Postula a igual
divisão no fornecimento da energia gerada entre os dois países (BRASIL e PARAGUAI, 1973).
um conflito armado, bem como, no fomento à integração regional efetiva e às iniciativas de
cooperação entre os países da Tríplice Fronteira através da hidropolítica (QUEIROZ, 2012).
2 O PAPEL DE ITAIPU NA HIDROPOLÍTICA E NA GEOPOLÍTICA ENERGÉTICA
DA TRÍPLICE FRONTEIRA
A primeira conceituação da hidropolítica é atribuída a Arun P. Elhance (1998, p. 2018),
que a coloca como “the systematic analysis of interstate conflict and co-operation regarding
international water resources”. Contudo, sua discussão é anterior a isso, tendo sido
instrumentalizada no pensamento de John Waterbury (1979), da seguinte maneira:
A hidropolítica se consubstancia a partir de análises sistêmicas e integradas
das relações conflitantes ou cooperativas entre atores que compartilham
corpos hídricos transfronteiriços. Na hidropolítica estão conformadas diversas
relações entre ambiência, sistemas hídricos, bacias hidrológicas, pessoas e
Estados. Envolve, dessa forma, o estudo e a gestão de problemas e soluções
entre atores que afetam ou são afetados multidimensionalmente pelos sistemas
hídricos que se compartilham (WATERBURY, 1979 apud MARTINEZ,
2012, p. 132).
Dadas as definições acima, pode-se dizer que a hidropolítica configura-se como a área
de estudos que se dedica à análise do desenvolvimento das relações políticas entre os Estados
a partir dos diferentes valores que atribuem ao uso e controle das águas de caráter
transfronteiriço, que podem conduzi-los ao conflito ou à cooperação. Desta forma, identifica-
se que a hidropolítica está ligada à três elementos-chave que definem como se estabelecem as
relações em um espaço geográfico ligado por uma bacia hidrográfica, sendo: (i) os Estados,
como atores das relações desenvolvidas; (ii) as bacias hidrográficas (como estrutura na qual
estas relações se desenvolvem); e (iii) o conflito e a cooperação (como variáveis contextuais
que podem de estabelecer em decorrência de uma série de fatores atrelados aos atores e
estruturas).
Assim sendo, a hidropolítica é a área responsável pelos estudos tanto dos conflitos
hídricos e questões que envolvem disputas, soberania, guerra e segurança; quanto das questões
de conversão de tensões em combustíveis para o fomento da cooperação e das iniciativas de
integração regional em prol do melhor aproveitamento e do uso conjunto dos recursos hídricos
(MARTINEZ, 2012). É deste ponto de vista — que permeia o campo dos conflitos e da
cooperação hídrica — que Itaipu passa a se destacar como um estudo de caso que serve como
exemplificação da forma como um conflito em iminência fora revertido a partir de uma
iniciativa de integração por via da integração energética.
A Tríplice Fronteira no encontro dos Rios Paraná e Iguaçu
Fonte: Missiones Online
Ao tocar na questão energética, tocamos também em outro conceito essencial para que
possamos avançar nos argumentos desta pesquisa: a geopolítica da energia. Apesar dos estudos
ainda incipientes sobre o tema — que remete ao final do século XX e a transição para o século
XXI — trata-se de uma área em constante expansão pela necessidades dos Estados de levarem
em conta em um planejamento estratégico as questões relacionadas ao território e aos recursos
de que dispõem. Assim, a geopolítica vem sendo empregada para explicar uma série de fatores
que levam à alteração das relações de poder no meio internacional.
Quando se traz à tona a geopolítica como ferramenta para analisar o comportamento dos
Estados no Sistema Internacional (SI) com relação aos recursos energéticos, abrimos as portas
para um novo modelo de análise que toma o determinismo geográfico9 como base para a
9O Determinismo Geográfico foi um conceito cunhado pelo geógrafo Friedrich Ratzel no final do século XIX,
compreensão dos desdobramentos da relações interestatais. Tal modelo pode ser utilizado para
analisar os mais diversos tipos de interações estabelecidas entre os atores, estruturas e
contextos, isto é, é possível empregar a geopolítica energética para analisar tanto a escalada de
conflitos armados quanto o ímpeto dos Estados para cooperar.
Sob esta ótica, desenvolve-se um novo modelo de análise para um problema em plena
ascensão no século XXI: a gestão dos recursos hídricos com o propósito do desenvolvimento
energético. Isso significa que a geopolítica vem sendo aplicada como forma de investigar os
padrões de relações de poder que se alternam conforme são modificados os contextos de acesso,
exploração e distribuição das águas que se situam em territórios fronteiriços. Assim cria-se este
novo recorte dentro do pensamento geopolítico que passa então a investigar as relações
interestatais a partir das matrizes do desenvolvimento energético dos países, e as alternâncias
na balança de poder internacional que são originadas a partir deste processos. Conclui-se assim
que os estudos acerca da hidropolítica e da geopolítica da energia são fundamentais para a
compreensão da formação e continuidade das relações no complexo regional sul-americano, e
principalmente no eixo do Cone Sul, onde estão localizados os Estados platinos.
2.1 Itaipu na geração e distribuição de eletricidade
No ano de 2017, a Itaipu teve um recorde na produção de energia, produziu
aproximadamente 96.387.357 Megawatts-hora. No ano anterior essa produção foi de
103.098.366 MWh. A maior marca anterior havia sido estabelecida em 2013, com 98.630.035
MWh. Itaipu entrega a energia produzida na usina até os pontos de conexão com o Sistema
Interligado. No lado brasileiro, a conexão é localizada na subestação de Foz do Iguaçu de
propriedade de Furnas, que transmite a energia até os centros de consumo juntamente com a
COPEL-Companhia Paranaense de Energia .A conexão do lado paraguaio é realizada na
subestação Margem Direita, situada na área da usina de Itaipu. No Brasil, a coordenação e
controle da operação do sistema elétrico é de responsabilidade do ONS (Operador Nacional do
Sistema) e, no Paraguai, a responsabilidade é da Ande (Administración Nacional de
trazendo as noções de espaço e posição como primordiais para a formulação das políticas do Estado e para as
relações que irá desenvolver com o meio internacional, tendo sido a base para o pensamento de outros importantes
geógrafos, como Rudolf Kjéllen, que analisam o espaço como um organismo vivo que depende de três fatores para
sua existência: (i) espaço físico; (ii) liberdade de movimentos e (iii) coesão interna (AZEVEDO, 1955).
Electricidad).
2.2 Itaipu na hidropolítica e na integração regional tri-fronteiriça
Na região tri-fronteiriça, especificamente na região do entorno da Usina, onde estão
localizadas as cidades de Foz do Iguaçu (do lado brasileiro), Puerto Iguazú (do lado argentino)
e Ciudad del Este, Presidente Franco e Hernandarias (do lado paraguaio), nota-se a construção
de um processo que mescla as variáveis geopolíticas envolvendo os recursos hídricos e as
questões energéticas, com a integração regional. Essa integração vem sendo progressivamente
construída (mesmo que lentamente) no nível local, com o favorecimento da livre circulação de
pessoas e a aglomeração de atrativos turísticos em um espaço geográfico relativamente reduzido
e concentrado. Este processo fica ainda mais claro devido à pseudo-conurbação nesta região,
onde as três cidades encontram-se bastante interconectadas, unidas pelas pontes binacionais
Brasil-Paraguai (Ponte Internacional da Amizade) e Brasil-Argentina (Ponte Internacional da
Fraternidade), que, embora sejam pontes internacionais, no nível local, exercem a função de
pontes que interligam diferentes "bairros", regiões ou localidades de uma mesma mancha
urbana.
Desta forma, fica bastante claro que o papel que Itaipu desempenhou (e desempenha
até o período hodierno) vai além da produção e distribuição de energia hidrelétrica responsável
por alimentar as matrizes energéticas dos países situados na Tríplice Fronteira, mas também
funciona como um instrumento político de comunicação entre os governos e como um
mecanismo que promove a integração regional deste eixo conurbado, que vem trazendo
benefícios mútuos às nações envolvidas.
Iluminação de Itaipu Binacional a noite (vista do lado brasileiro)
Foto ilustrativa. Fonte: FERREIRA SILVA (2018).
3. O PAPEL DE ITAIPU NA GEOECONOMIA E GEOESTRATÉGIA DA TRÍPLICE
FRONTEIRA
3.1 Geoeconomia de Itaipu: a Usina e o desenvolvimento regional e local
A Hidrelétrica de Itaipu, é uma usina binacional localizada no Rio Paraná, na fronteira entre o
Brasil (município de Foz do Iguaçu) e o Paraguai (município de Hernandarias). A usina foi
idealizada nos anos 1950-1960 e construída pelos dois países entre 1975 e 1982, em que a
barragem foi completada, com obras residuais sendo desenvolvidas nos anos seguintes. O nome
Itaipu é de origem Guarani, significa “pedra que canta”, referindo-se à um conjunto de pedras
e ilhotas que existiam na região do rio onde foi construída a barragem, onde dependendo da
época do ano, a água produzia uma grande diversidade de ruídos, .
Em relação à geração de energia, a Itaipu Binacional é líder mundial em produção de
energia limpa e renovável, tendo produzido mais de 2,5 bilhões de MWh desde o início de sua
operação, no ano de 1984. Com as 20 unidades geradoras de energia e 14.000 MW de potência
instalada, fornece ao Brasil cerca de 15% da energia consumida e ao Paraguai cerca de 86%.
3.2 O papel de Itaipu no campo da Geoestratégia
Além de sua enorme influência na região em termos geoeconômicos, no eixo que
permeia a geoestratégia, a construção da Usina de Itaipu também desempenhou um papel
fundamental no que tange à atenuação de ameaças de conflito armado em potencial. Com isso
alterou as estruturas que norteavam o pensamento do Complexo Regional de Segurança (CRS)10
sul-americano, pois apresenta uma nova perspectiva sobre a integração regional como uma
ferramenta à disposição da segurança regional a ser empregada como meio de dissuadir
ameaças de conflito.
Seu papel também pode ser destacado no sentido de reformular o pensamento securitário
sul-americano acerca das reais ameaças que permeiam seu território, construindo uma
perspectiva própria sobre o processo de securitização das ameaças do continente. Em razão da
influência extrarregional que sofre — desde o período colonial, em que era controlado por
Portugal e Espanha, até os dias atuais em que sofre influência tanto direta quanto indireta dos
EUA — a América do Sul sempre teve grandes dificuldades de criar uma agenda própria de
segurança, tendo sempre importado a agenda securitária dos EUA e tomando como legítimas
ameaças não condizentes com a realidade sul-americana como por exemplo a exacerbada
preocupação com o terrorismo. Este aspecto — que enfraquece o funcionamento do CRS sul-
americano e diminui sua autonomia para lidar com as ameaças à sua segurança e soberania—
facilita em muito o controle dos EUA sobre a região, que faz parte de um de seus principais
eixos de interesse geopolítico (DUARTE, 2012).
10O conceito de Complexo Regional de Segurança é definido como um eixo geográfico específico, em que os
Estados compartilham as mesmas características e agendas de ameaças e a única forma de dissuadir estas ameaças
e salvaguardar o espaço vital e a soberania dos Estados é a atuação conjunta (BUZAN e WAEVER, 2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A iminência de um conflito armado por recursos hídricos abriu os olhos dos governos
sul-americanos para uma agenda muito mais próxima de sua realidade, que deve passar a incluir
a preocupação com a segurança e com a defesa de recursos naturais de uso comum, como a
água, as reservas de petróleo e gás natural, e as grandes jazidas dos mais diversos minerais que
a região detém. E neste sentido, a integração regional infraestrutural surge como a solução mais
viável para reduzir o potencial conflitivo no entorno dos recursos hídricos — uma vez que, por
se tratarem de recursos de uso comum, não seria possível estabelecer estruturas de segurança e
aproveitamento apenas por decisão de um Estado específico, sendo necessária a abertura de
diálogos diplomáticos e negociações que sejam capazes de equilibrar os interesses dos diversos
atores regionais (governos nacionais, instituições, grupos não-estatais, empresas, etc) bem
como, as necessidades das populações, de modo a evitar a eclosão de novos conflitos.
Este fortalecimento da cooperação e a integração regional para a proteção dos recursos
naturais viria a ter também um papel de reduzir a influência extrarregional nos processos
políticos da região. Apesar da influência estadunidense ser a mais notável no continente sul-
americano — não somente por sua influência ideológica e comercial, mas também por sua forte
presença militar na região através das bases instaladas nos territórios do Paraguai, do Peru, do
Equador, da Colômbia e da Guiana. Nos dias de hoje vemos o progressivo aumento da presença
militar dos EUA na região através da instalação de mais bases militares e da recente reativação
da 4ª Frota do Atlântico Sul, e da inclusão da Colômbia como um parceiro global da OTAN
(OLIVEIRA RODRIGUES, 2019), que nos prova que as preocupações com a interferência
externa segue sendo uma preocupação iminente. Na última década temos visto também o
crescimento da influência indireta da China e da União Europeia (UE) através de sua forte
presença destes atores nas transações comerciais da região. Outro Estado que tem exercido
grande influência até mesmo em nível militar é a Rússia, através de seu grande apoio ao governo
Venezuelano.
Essa maior presença extrarregional enfraquece os governos e instituições locais, e
permite a facilitação da penetração de atores extrarregionais para a exploração e domínio dos
recursos naturais. Com a criação de Itaipu, percebe-se então que houve um grande
fortalecimento da cooperação na Tríplice Fronteira, não somente para a integração energética e
econômica da área conurbada, mas também no aumento da coesão regional do Cone Sul que
passou a considerar uma agenda de ameaças conjunta que inclui a salvaguarda dos recursos
hídricos e o melhor controle das fronteiras com relação aos ilícitos transnacionais.
Destarte, é interessante analisarmos a integração energética como uma importante
ferramenta para a redução da incidência de conflitos no CRS sul-americano, podendo
estabelecer as bases para a expansão da integração também para o âmbito securitário, criando
um ambiente mais coeso para a discussão e a elaboração de estratégias de segurança e defesa
da região, como uma alternativa ao quase enfraquecido Conselho de Defesa Sul-americano
(CDS), pertencente ao escopo da UNASUL.
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