1
ALEXANDRE CAMPOS SILVA
Gestão de Conhecimento: linguagem, forma e impacto na
comunicação em redes de informação.
DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA
PUC-SP
São Paulo
2005
2
ALEXANDRE CAMPOS SILVA
Gestão de Conhecimento: linguagem, forma e impacto na
comunicação em redes de informação.
Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de
DOUTOR em Comunicação e Semiótica, área de concentração Signo e
Significação das Mídias, sob orientação do Prof. Dr. Sérgio Bairon.
São Paulo
2005
3
BANCA EXAMINADORA
___________________________
___________________________
___________________________
___________________________
___________________________
___________________________
4
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura:______________________Local e Data:_______________
5
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha mãe, que desde cedo me
ensinou a valorizar o estudo, norteou meu envolvimento
com a ciência e com a disseminação de conhecimento, e
sempre me incentivou a planejar e atingir meus objetivos
de vida.
6
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Sérgio Bairon, meu orientador, pela amizade constante e
pela contribuição e sugestões que enriqueceram esse trabalho, principalmente
na abordagem e integração do mundo da comunicação com a tecnologia.
Aos professores doutores Demi Getschko, José Armando Valente, Maria
Cândida Moraes, Tânia Limeira e Ubiratan D´Ambrosio que gentilmente
aceitaram o convite para participar da banca desta tese.
A PUC-SP, pelas imensas oportunidades e pela bolsa de doutorado
CEPE.
A todas as pessoas que me acompanharam mais de perto, em
diferentes momentos, e que contribuíram com reflexões para o
desenvolvimento dessa tese. São eles:
• Minha mãe, por sempre me incentivar e apresentar os valores da
carreira acadêmica;
• Philadelpho Menezes, meu amigo palestrino, cuja convivência incentivou
meu desenvolvimento intelectual e cujo pioneirismo e dedicação
deflagrou o processo de criação do curso de graduação de Tecnologias
e Mídias Digitais da PUC-SP;
• Demi Getschko, pela grande oportunidade de tê-lo acompanhado na
visita ao Media Lab do MIT em 2002, que foi um marco fundamental em
minha experiência em pesquisa;
7
• Aos professores do Grupo de estudos de tecnologia e gestão de
conhecimento da PUC-SP: Fernando Giorno, Gregório Bittar Ivanoff e
José Carlos Arruda Alves que me despertaram o interesse na área de
gestão de conhecimento;
• Ao professor Rogério da Costa por suas aulas inspiradoras que tanto
contribuíram para o meu crescimento intelectual;
• Aos professores do MBIS Lawrence Chung Koo e Marcos Lara;
• Ao professor Luis Carlos Petry, pelas conversas e interfaces tri-
dimensionais;
• E a todos os amigos e colegas de trabalho que participaram desta minha
trajetória, tanto na vida acadêmica, como corporativa, pelas conversas e
diálogos que me fizeram refletir sobre o trabalho que apresento nesse
momento.
8
RESUMO
Analisando o estilo da sociedade digital na qual vivemos, percebemos
que o volume de conteúdo e informações em mídia digital vem crescendo
rapidamente. Surge então, a necessidade de gerenciarmos melhor nossas
informações pessoais e profissionais, para organizarmos nossas atividades do
dia a dia.
O objetivo deste trabalho é apresentar um método de recuperação de
informações que facilite uma determinada comunidade ou instituição, a
organizar e recuperar informações armazenadas digitalmente, associando
contextos pessoais, tecnológicos e institucionais, a arquivos digitais, e deste
modo, facilitando o usuário a encontrar as informações e arquivos desejados
baseados em suas associações mentais.
Assim apresento o método de comunicação RCPTIA Relação de
Contextos Pessoais, Tecnológicos e Institucionais, criado na convergência de
diferentes conceitos, como as bases biológicas da compreensão humana
segunda MATURANA e VARELA, e o pensamento eco-sistêmico de MORAES.
Considero também, a gestão de conhecimento nas organizações proposta por
NONAKA e TAKEUCHI, KROGH, ICHIJO, DAVENPORT e PRUSAK, e
SVEIBY, que apresenta os conceitos de contexto capacitante, de interações
sociais e pessoais, de relações pessoais emotivas, da criação de confiança, de
ambiente favorável, de linguagem comum e de codificação de conhecimento.
Além disso, como contribuição da área de comunicação, utilizo os conceitos de
9
linguagem como pensamento e cognição, de linguagem hipermídia, da forma
associativa da mente funcionar e da influência digital no pensamento não
linear.
Finalmente, o método de comunicação RCPTIA propõe uma taxionomia
dinâmica que associa contextos pessoais, contextos institucionais e contextos
tecnológicos a todo arquivo digital ou endereço na Internet. Desta forma é
característica do método, permitir a cada usuário utilizar seu próprio sistema
cognitivo nos indexadores de repositórios de documentos, da mesma forma
que ele recupera informações em sua própria mente.
Palavras-chave: gestão de conhecimento, contexto, recuperação de
informação, busca, cognição, hipermídia, redes.
10
ABSTRACT
From an analysis of the digital society in which we live, it is clear that the
volume of digital content and information is growing fast. As a result, it is
necessary to seek for better ways to manage our personal and professional
information and to organize our everyday activities.
The aim of this research is to present an information retrieval method that
helps an institution or community to organize and retrieve digital information in
an associative way: that is, by enabling the association of personal,
technological and institutional contexts with digital files, so that people can
retrieve digital information using their own mental associations.
To this end, the study involves a communication method called RCPTIA
– Relating Personal, Technological and Institutional Contexts by Associations.
The theoretical underpinning for this method brings together a variety of
concepts, such as the biological bases for human understanding of
MATURANA and VARELA and the eco-systemic reasoning proposed by
MORAES. In relation to knowledge management in organizations, NONAKA
and TAKEUCHI, KROGH, ICHIJO, DAVENPORT and PRUSAK, and SVEIBY,
also present valuable contributions such as the enabling of context, social and
personal interactions, emotional relationships, development of trust, positive
environment, common language and knowledge codification. The RCPTIA
method is also inspired by important concepts from the communication area,
including language as reasoning, language as cognition, hypermedia language,
11
the associative mind and the digital influence in non-linear thinking are also
used.
Finally, the communication method RCPTIA proposed, presents a
dynamic taxonomy that associates personal contexts, institutional contexts and
technological contexts with any digital file or internet address. In this way, the
method enables users to use their own cognitive systems integrated with
document repositories indexing systems in order to retrieve information the
same way that it is retrieved by their own mind.
Key words: knowledge management, context, information retrieval, search,
cognition, hypermedia, network.
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Representação do acoplamento estrutural num ecossistema p. 40 Figura 2 Características do indivíduo A p. 41 Figura 3 Características do indivíduo B p. 41 Figura 4 Extensão da malha ferroviária mundial p. 50 Figura 5 Capacidade de geração de empresas de energia elétrica nos EUA p. 50 Figura 6 Número de computadores hospedeiros na Internet p. 51 Figura 7 Relacionamento do conhecimento na organização p. 59 Figura 8 As 5 fases da criação de conhecimento p. 83 Figura 9 Interações na Espiral do conhecimento p. 92 Figura 10 Mapa mundial “Knowledge Economy Index” do banco mundial p. 110 Figura 11 Máquina memex p. 117 Figura 12 O mapa mental de Aranya p. 125 Figura 13 O mapa mental de Graham Burnett p. 126 Figura 14 Página personalizada Meu Yahoo! p. 128 Figura 15 Página de personalização de cores/estilo do Meu Yahoo! p. 129 Figura 16 Página de personalização de conteúdo e elementos do Meu Yahoo! p. 130 Figura 17 Página de personalização de layout do Meu Yahoo! p. 131 Figura 18 Grokker p. 136 Figura 19 Kartoo p. 137 Figura 20 Resultado de busca no Google. p. 138 Figura 21 Resultado de busca no Yahoo! p. 139 Figura 22 Resultado de busca no Grokker p. 141 Figura 23 Google special searches p. 143 Figura 24 Diretório Yahoo! p. 145 Figura 25 Ilustrações de categorias de emoção em interface de software p. 148 Figura 26 Google Desktop Search p. 168 Figura 27 Contextos e Método RCPTIA p. 170 Figura 28 Cadastro de documento no portal MBIS p. 176 Figura 29 Resultado de busca no portal MBIS p. 189 Figura 30 Possível cenário de utilização da Web Semântica p. 195-196 Figura 31 Contextos institucionais no portal MBIS p. 202 Figura 32 Contextos pessoais no portal MBIS p. 203 Figura 33 Busca com contexto institucional no portal MBIS p. 204 Figura 34 Resultado de busca sobre e-business no portal MBIS p. 205 Figura 35 Resultado de busca sobre EAD no portal MBIS p. 207 Figura 36 Cadastro de documento utilizando contextos no portal MBIS p. 208 Figura 37 Protótipo Portal hipermídia utilizando o método RCPTIA p. 216 Figura 38 Cadastro de contexto pessoal no protótipo Portal hipermídia p. 217 Figura 39 Resultado de busca no protótipo Portal hipermídia p. 218
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Inibidores da cultura de gestão de conhecimento e possíveis .............. soluções
p. 76-77
Tabela 2 Princípios da organização do conhecimento p. 100-101 Tabela 3 Países avaliados pelo banco mundial utilizando a metodologia ...............KAM
p. 107-109
Tabela 4 O leitor imersivo p. 123
14
SUMÁRIO
I. INTRODUÇÃO 16
II. BASES BIOLÓGICAS DA COMPREENSÃO HUMANA A PARTIR DO PENSAMENTO DE MATURANA E VARELA 32
Teoria autopoiética 37
Pensamento eco-sistêmico 44
III. A CONCEPÇÃO DE CONTEXTO E A GESTÃO DE CONHECIMENTO 49
Mudanças culturais e novas formas de comunicação 52
Bibliotecas e seus sistemas de classificação 60
Gestão de conhecimento nas organizações 64
Economia do conhecimento e o desenvolvimento econômico e social 112
IV. DO LIVRO À INTERNET: INFLUÊNCIAS DO MUNDO DIGITAL NA COMUNICAÇÃO, NA COGNIÇÃO E NA LINGUAGEM. 118
Hipertexto, Hipermídia e Internet na construção do conhecimento 123
Desenvolvimento de software, contexto e senso comum 154
Cognição e linguagem na comunicação digital 157
Roteiros Hipermídia 168
V. CRIAÇÃO DE CONTEXTO NO MÉTODO DE COMUNICAÇÃO RCPTIA - RELAÇÃO DE CONTEXTOS PESSOAIS, TECNOLÓGICOS E INSTITUCIONAIS ASSOCIATIVOS 172
Portal, banco de dados ou repositórios de informações 179
Codificação de conhecimento e contexto humano 180
Fomentar novos relacionamentos num espaço virtual 184
Contextos Institucionais 185
Contextos pessoais 187
Ciências cognitivas, linguagem e contextos tecnológicos 189
Relações ecológicas e sistêmicas. A associação de contextos pessoais, institucionais e tecnológicos. E os processos pessoais e sociais. 191
O hipertexto e o sistema cognitivo associativo da mente 197
Web Semântica 199
15
Implementação do método de comunicação RCPTIA 204
Implementação do método RCPTIA no portal MBIS 207
VI. MÉTODO RCPTIA COM CONTEXTOS HIPERMÍDIA 218
O contexto hipermídia 218
VII CONCLUSÃO 226
VIII BIBLIOGRAFIA 233
IX. WEBLIOGRAFIA 247
16
I. Introdução
Atuar como professor sempre me fez buscar atingir em sala de aula uma
atuação que favoreça um ambiente e situações de aprendizagem onde os
alunos pudessem criar seu conhecimento cooperando e colaborando com os
colegas. Nesse processo, sempre que possível busco trazer exemplos claros
dos assuntos abordados e discutir com os alunos. Exemplos que facilitem a
associação de temas abordados com a realidade dos mesmos. Algumas
atividades apresentadas a eles têm como objetivo, por exemplo, a resolução de
algum problema, a criação de alguma solução ou a provocação para alguma
reflexão.
A leitura e o acompanhamento de novos conhecimentos e
acontecimentos me levam ao desafio de administrar de forma mais produtiva a
enorme quantidade de informações que me interessam. O interesse por novas
informações se dá pelo contato com artigos e notícias muitas vezes extraídos
de revistas, jornais e periódicos. Nesses casos, recorto o conteúdo impresso
no papel e guardo para uma futura utilização. Quando as informações
aparecem em formato digital fica mais fácil armazená-las no computador. Esse
processo de leitura e seleção de material de interesse acontece de forma
recursiva no dia-a-dia. Tendo separado todo esse material, posso sentar e
preparar a aula que será ministrada. Nesse momento me dou conta que não
estou encontrando algum artigo que havia guardado na mesa ou então não me
lembro mais quais artigos abordavam um tema de interesse naquele
exato momento. Outras vezes, faço uma busca no meu computador. Apesar de
17
saber que os arquivos desejados estão armazenados no disco rígido, nem
sempre consigo encontrar o arquivo desejado rapidamente.
Ter que lidar e administrar essa grande quantidade de informações é
para mim fundamental na minha atuação profissional, assim como para muitas
outras pessoas. Numa primeira etapa seleciono aquilo que me interessa.
Armazeno esse material para depois poder utilizá-lo na preparação de uma
aula. Dessa forma, organizar um grande volume de informações pessoal é um
desafio. Trata-se de um processo contínuo e recursivo de minha
responsabilidade.
Como estou inserido no ambiente de uma Instituição de ensino, tenho
que lidar com uma série de informações institucionais no dia-a-dia. Obedecer a
normas e procedimentos, compreender novas recomendações pedagógicas
sugeridas pela Instituição, pesquisar desafios propostos pelos grupos de
pesquisas, implementar mudanças em regras estabelecidas pelo Ministério da
Educação, lecionar para alunos de determinados cursos, pensar em respostas
oriundas de dúvidas dos alunos são atividades normais desempenhadas por
mim.
Do ponto de vista da Instituição, eu faço parte de um grupo de
professores do Centro das Ciências Exatas e Tecnologia da PUC-SP e
desempenho algumas funções. Leciono para algumas turmas de alguns
cursos, oriento projetos de alunos, participo de grupos de pesquisas, apresento
18
trabalhos em congressos, troco experiências com pessoas e coordeno projetos
de extensão. Nesse âmbito institucional pertenço ao grupo dos professores.
Na Instituição participam e convivem basicamente visitantes,
fornecedores, professores, alunos e funcionários. Cabe a Instituição gerenciar
as interações existentes entre essas pessoas para que ela funcione de maneira
adequada para atingir seus objetivos. Algumas relações naturalmente
estabelecidas na Instituição envolvem alunos, matriculados em cursos e
disciplinas, que assistem às aulas ministradas por professores. Esse
gerenciamento de informações, geralmente, acaba sendo controlado por um
sistema de informações institucional desenvolvido para atender às
necessidades da Instituição. Assim, principalmente professores e funcionários
devem obrigatoriamente alimentar informações em sistemas institucionais. As
dúvidas e dificuldades na utilização desses sistemas ocorrem de maneira
natural: algumas vezes por tratar-se de um novo sistema, outras vezes por não
ter tido a orientação necessária para a devida utilização.
Além de ter que gerenciar minhas informações e conhecimentos
pessoais, como membro de uma Instituição, tenho que utilizar sistemas que
permitam o gerenciamento e o funcionamento da Instituição. Na prática acabo
tendo que aprender a utilizar uma variedade de softwares diferentes, alguns
dos quais estou mais familiarizado, outros menos.
Acabo de descrever um ambiente ou um sistema que exemplifica a
relação entre pessoa, Instituição e software num ambiente universitário. Para o
19
desenvolvimento desse ambiente, a criação de conhecimento e o
gerenciamento de informações devem conviver da melhor maneira possível.
No artigo “Decoding Information-Worker Productivity” publicado na
revista Optimize, DAVENPORT (2004) explica que muitas empresas
começaram a prestar atenção no gerenciamento de informações e
conhecimentos pessoais como um fator importante na produtividade dos
profissionais. DAVENPORT (2004) mostra que o tempo gasto por profissionais
para ler, interpretar, armazenar, manipular e recuperar informações é
realmente muito significativo. Na pesquisa realizada com 21 gerentes de
informação e conhecimento de grandes empresas americanas, por telefone, e
via web com mais de 500 usuários de informação e tecnologia americanos, ele
observou diferentes abordagens para o gerenciamento pessoal de informações
e conhecimento dos profissionais entrevistados. As conclusões da pesquisa
mostram que a maioria das pessoas está preocupada em gerenciar melhor
suas próprias informações e seus conhecimentos, e que o usuário padrão:
• gasta 3 horas e 14 minutos por dia, utilizando tecnologia para
processar tarefas relacionadas com informação. Isso representa
mais do que 40% de uma jornada de trabalho de 8 horas por dia;
• gasta 1,58 horas por dia usando e-mail;
• gasta 47 minutos por dia no telefone ou usando a secretária
eletrônica;
• recebe 44 e-mails por dia e envia 17;
20
• recebe 16 mensagens por ferramenta de Instant Messenger ou de
texto;
• recebe 18 ligações por dia, faz 15 ligações e tem 7,6 mensagens
na secretária eletrônica;
• participa de 2,75 conferência via telefone por semana.
É interessante verificar que boa parte do tempo é gasto utilizando
ferramentas de comunicação como telefone, e-mail e “instant messenger”.
Também fica clara a utilização da Internet como infra-estrutura de redes.
Hoje em dia, os cidadãos estão sendo bombardeados por um grande
volume de informações pela mídia em geral, seja pela TV, pelo Rádio, por
revistas, jornais e Internet. Gerenciar esta quantidade de informações e saber
como recuperá-la é uma tarefa não muito simples. Muitas vezes lemos algum
artigo numa revista, ou visitamos algum site na Internet, e se não houve
nenhum registro da matéria ou do endereço, fica praticamente impossível
recuperarmos esta informação.
Seja no trabalho ou mesmo na escola, utilizamos o computador para
diversas atividades. Cada atividade requer a utilização de um certo software,
que por sua vez apresenta uma determinada interface. Temos que aprender a
utilizar esses softwares, e salvarmos informações em diferentes tipos de
documentos. Organizar essa quantidade de documentos, em diferentes
formatos digitais, - um formato para texto, outro para imagem, outro para som e
outro para vídeo - é uma atividade indispensável para muitas pessoas.
21
Durante o processo pessoal de registro e de categorização de
informações, nos deparamos com muitas interfaces de softwares, umas mais
simples, outras mais complexas. Temos que aprender a utilizá-las, se
desejarmos organizar nossas informações para recuperá-las num futuro
próximo.
Minha primeira motivação para dar início a esta pesquisa está
relacionada com o fato de eu ter que lidar com uma grande quantidade de
informações e conseguir de alguma maneira eficiente relacionar e associar
temas, arquivos, nomes de pessoas e bibliografias para depois poder utilizar
estas informações em minhas discussões em sala de aula, em minha atuação
como professor. Quando penso, por exemplo, em qualquer assunto ou tema,
vem a minha cabeça uma relação de pessoas, sites, artigos e livros
relacionados com o tema em questão. Difícil é conseguir relacionar estas
informações entre si, todas de cabeça.
Ao fazermos uma busca na Internet sobre algum tema, utilizando sites
de busca populares como o Google e o Yahoo!, recebemos como resposta
uma lista enorme de links. Apesar de podermos, também, navegar por uma
taxionomia pré-definida como a do Yahoo!, ou, de podermos digitar uma
palavra-chave ou frase no Google, o volume de informações obtidos na
resposta é imenso. Ao entrar em um site, se não registramos o endereço dele
em algum lugar, muitas vezes não conseguimos voltar novamente.
22
O desenvolvimento das telecomunicações e da multimídia nos últimos
anos propiciou a utilização e transmissão de informação em várias formas:
texto, imagens em duas dimensões, imagens em três dimensões e filmes. Todo
esse desenvolvimento tecnológico contribui para uma nova forma de
comunicação que mistura um pouco das linguagens de informática, de cinema,
de televisão, de design, de oralidade, de escrita, de interfaces 3D e realidade
virtual. Chegamos assim, a uma linguagem hipermídia que, por suas
características de não linearidade e de integração de várias mídias, dá asas a
uma nova linguagem bastante criativa. A comunicação passa então a utilizar
todos estes diferentes meios para a transmissão de informação ou
conhecimento, de um transmissor para um ou vários receptores.
Organizar nossas informações digitais ou não digitais, estejam elas em
formato de texto, imagem, sons ou vídeos, e relacioná-las com documentos em
papel ou em documentos digitais fazem parte do desafio de um profissional em
nossa sociedade. Além disso, criar associações e relacionar diferentes
informações e conhecimentos que temos armazenados é um desafio. Seria
muito útil conseguir transportar para um ambiente digital de maneira fácil e ágil,
a nossa forma de pensar e recuperar informações na mente, com um sistema
que possa nos ajudar a reproduzir, em um ambiente tecnológico a nossa linha
de raciocínio para recuperarmos as informações que armazenamos em
computadores. Além da preocupação em gerenciar nossas informações e
conhecimento, poder compartilhar, se desejado, com uma comunidade de
usuários, potencializaria a intensidade na comunicação entre os participantes.
23
A forma de comunicação em ambientes digitais foi bastante
potencializada com a popularidade da Internet e da utilização de serviços de e-
mail, de troca de mensagens instantâneas, de troca de músicas, de fóruns de
discussão, de chats, de blogs, de games e de comunidades virtuais. Todos
estes serviços permitem não apenas a comunicação entre pessoas como
também um registro do que foi realizado.
Podemos dizer que nossa noção de tempo e espaço sofreu um impacto
considerável. O espaço e a distância entre as pessoas diminuíram, pois
serviços como o de mensagens instantâneas, nos permite conversar ao vivo
com uma pessoa que esteja conectada a Internet de qualquer lugar do mundo.
De maneira fácil e barata: acessamos a Internet e podemos descobrir o exato
momento em que alguma pessoa, de nossa lista de contatos, se conecta a
Internet, esteja ela onde estiver. Anos atrás, a distância era bem nítida, pois
tínhamos que nos comunicar via carta, ligação internacional, depois via fax, via
e-mail e agora ao vivo, online com este serviço. Da mesma forma, a noção de
tempo também foi afetada pela velocidade de resposta de serviços via Internet
que nos habituamos. Conseguimos assim, diminuir não só distância, como
também o espaço de tempo para uma resposta. Agora, nestes últimos anos,
esta noção de espaço e tempo pode ser analisada também pelo fator da
mobilidade. O desenvolvimento da telefonia celular móvel faz com que o
costume de fazer ligações utilizando apenas telefones fixos ou públicos se
modifique. A praticidade de poder fazer uma ligação do carro, de uma
montanha, de uma praia ou de um rio é um exemplo claro da facilidade de
comunicação dos dias de hoje. Comunicação via celular, não é apenas via
24
voz, mas possibilita a transmissão de imagens e vídeos e permite acesso à
Internet. Realmente são tempos novos que influenciam a forma de nos
comunicarmos na sociedade.
Esta nova forma de comunicação faz com que pessoas, empresas,
instituições e governo passem a trocar informações entre si, e façam
transações comerciais ou legais via Internet. Além do impacto na forma de
comunicação, uma nova forma de comercialização de produtos também se
popularizou com os sites de comércio eletrônico como a Amazon.com ou com
sites de leilão como o e-Bay. As transações financeiras também passaram a
utilizar a rede, assim como muitos serviços governamentais passaram a se
relacionar com o cidadão ou com as empresas de forma digital. Passamos
assim para uma era, onde a comunicação digital passa a substituir em muitos
casos o papel. A regulamentação de legislação que permite assinatura digital
é realidade em nossa sociedade e nas relações de Internet Banking e comércio
eletrônico.
Esta passagem da era analógica para a era digital faz surgir cada vez
mais aplicações onde armazenamos informações em formatos digitais. Desde
um tradicional e simples extrato bancário até uma foto de recordação. A
quantidade de dados armazenados digitalmente aumenta exponencialmente, e
desta forma, as pessoas começam a sentir cada vez mais a necessidade de
gerenciar seus documentos e suas informações, estejam elas em meio digital
ou no papel.
25
Assim, meu objetivo no desenvolvimento desta pesquisa é como
relacionar sistemas cognitivos pessoais ao funcionamento dos sistemas
institucionais e ambientes tecnológicos em redes de comunicação. Para atingir
este objetivo, me proponho a desenvolver uma análise das possíveis relações
entre os seguintes tópicos:
• conhecimento;
• gestão do conhecimento;
• mapas mentais, pensamentos e cognição;
• sistemas cognitivos pessoais;
• sistemas institucionais;
• linguagem digital em concepção, de não-linearidade e de
diversidade taxionômica;
• criação de um método de registro e de recuperação de
informações;
• relações com o cotidiano;
• formas de comunicação na Internet;
• aplicabilidade deste método em um rede virtual.
No capítulo II, “Bases biológicas da compreensão humana a partir do
pensamento de Maturana e Varela”, exploro as reflexões desses autores sobre
suas experiências e perspectivas a respeito do conhecimento em nossa
sociedade. MATURANA e VARELA (2003) ressaltam que a maneira como os
seres vivos conhecem o mundo é fundamental para entendermos os processos
de conhecimento. Ao abordarem o nosso sistema cognitivo MATURANA e
26
VARELA (2003) consideram a linguagem como um ponto de partida e como
nosso instrumento cognitivo. Esses estudos formam um dos pilares do
“Pensamento Eco-sistêmico” proposto por MORAES (2004) e são
fundamentais para que eu possa abordar o tema de contexto e gestão de
conhecimento nas organizações. MORAES (2004) define o pensamento eco-
sistêmico como um pensamento que se estende além da ecologia natural,
englobando a cultura, a sociedade, a mente, e o indivíduo. Esse fundamento
teórico é muito importante para minha pesquisa, pois esclarece que cada
indivíduo visualiza o mundo a sua própria maneira, relacionando a cultura, a
sociedade, a mente e o próprio indivíduo. O método de recuperação de
informações que será proposto no final desse trabalho está alinhado com essas
teorias.
No capítulo III, “A concepção de contexto e a gestão de conhecimento”,
continuo meu estudo sobre conhecimento. Agora estudo como o conhecimento
pode ser gerado na sociedade, transmitido e utilizado. Exploro também com
mais detalhes a gestão de conhecimento nas organizações em nossa
sociedade. STEFIK (1999) descreve a velocidade de transmissão de
conhecimento em diferentes momentos da história da humanidade e suas
peculiaridades. Relaciono a invenção da imprensa, por Gutenberg em 1440,
que teve um papel fundamental nessa disseminação do conhecimento assim
como o desenvolvimento das bibliotecas e o sistema de classificação universal
proposto por Otlet e La Fontaine em 1895. Abordo também o impacto das
tecnologias da informação e comunicação no gerenciamento de informações e
começo a me aprofundar na gestão de conhecimento nas organizações
27
segundo DAVENPORT e PRUSACK (1998), KROGH, ICHIJO e NONAKA
(2001), SVEIBY (1998). Percebo que a noção de contexto é bastante abordada
por esses autores que tratam de gestão de conhecimento nas organizações.
SVEIBY (1998) define conhecimento como uma capacidade de agir e afirma
que o conhecimento não pode ser destacado de seu contexto.
WEICK (1995) explora situações cotidianas como uma palestra ou uma
reunião onde uma pessoa conta uma determinada história para a platéia. Ele
coloca que o conhecimento será provavelmente melhor absorvido pelos
ouvintes caso ele passe também sentimento e seja colocado num contexto
comum compartilhado com a audiência. É, portanto, bastante claro que a
participação humana nas redes de pessoas contribui muito para dar o contexto
adequado e facilita a disseminação de um determinado conhecimento para a
platéia. KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) afirmam que a eficácia da criação
de conhecimento depende de um contexto capacitante, isto é, um espaço
compartilhado que fomente novos relacionamentos.
Nesse capítulo também estudo como soluções tecnológicas, que fazem
parte do cotidiano de nossa sociedade, se relacionam com a gestão de
conhecimento nas organizações. DAVENPORT e PRUSACK (1998) colocam
que o objetivo de codificar o conhecimento de uma organização é colocá-lo de
uma forma tal que possa ser utilizado por aqueles que precisam.
No capítulo IV, “Do livro a Internet: influências do mundo digital na
comunicação, na cognição e na linguagem”, exploro a influência do mundo
28
digital na relação da comunicação com a linguagem e o pensamento.
SANTAELLA (2001) explora as relações do Sonoro Visual Verbal nas matrizes
que se referem às modalidades de linguagem e pensamento.
O nascimento da linguagem hipermídia define o poder de hibridização
das matrizes da linguagem e pensamentos nos processos de comunicação.
Impulsionada pela era digital, a hipermídia encontra nos computadores todo o
potencial para manipular textos, imagens, vídeos e sons num único ambiente,
além de propiciar uma interatividade que faz com que o usuário possa interagir
com sistemas hipermídia.
BUSH (1945) é citado como um dos precursores do hipertexto e de
sistemas hipermídia. Com a explosão do conhecimento científico no final da
segunda guerra mundial em 1945, Bush propôs o sistema memex para
suplementar a memória pessoal. Bush percebeu que a memória humana
operava por associações, e verificou que os sistemas de armazenamento não
levavam em consideração os processos cognitivos pessoais. Na realidade, o
sistema foi conceitualmente concebido por BUSH (1945). A forma cognitiva que
dominava era aquela determinada pelo sistema de armazenamento de
informações.
BUZAN, na década de 60, destaca que um dos princípios dos mapas
mentais é propiciar uma representação que esteja de acordo com o
pensamento subjetivo de quem está registrando as informações. É um mapa
que permite uma rápida exploração das idéias e de suas relações, sem perder
29
o contexto com uma idéia central. O mapa mental permite representar uma
idéia seguindo os caminhos elaborados mentalmente por uma pessoa.
As novas tecnologias e a Internet permitem o surgimento, segundo
SANTAELLA (2004), do leitor imersivo. Percebemos que o funcionamento das
hipermídias, por meio de suas conexões entre vários níveis midiáticos, nos leva
a uma nova forma de leitura: uma leitura não linear. Assim, SANTAELLA
(2004) descreve essa leitura orientada hipermidiaticamente, como uma
atividade nômade de perambulação de um lado para o outro, juntando
fragmentos que vão se unindo mediante uma lógica associativa e de mapas
cognitivos personalizados e intransferíveis.
No capítulo V, “Criação de contexto no método de comunicação RCPTIA
- Relação de Contextos Pessoais, Tecnológicos e Institucionais Associativos”,
apresento o conceito de contexto associado ao método RCPTIA, por mim
desenvolvido.
O objetivo do método de comunicação RCPTIA - Relação de
Contextos Pessoais, Tecnológicos e Institucionais Associativos - é
permitir aos sistemas de recuperação e armazenamento de informações, de
uma ou mais instituições, a utilização dos processos cognitivos pessoais,
associados aos processos cognitivos da(s) instituição(ões), e aos processos
cognitivos do sistema computacional utilizado.
30
O resultado esperado, com a aplicação do método em portais e redes
digitais, é facilitar, numa determinada comunidade ou instituição, a organização
e a recuperação de informações armazenadas digitalmente, associando
contextos pessoais, tecnológicos e institucionais a arquivos digitais, e desta
forma, facilitando ao usuário encontrar as informações e arquivos desejados
baseados em suas associações mentais. O método RCPTIA propõe uma
taxionomia dinâmica que associa contextos pessoais, contextos institucionais e
contextos tecnológicos a todo arquivo digital ou endereço na Internet.
Esse método foi concebido pensando principalmente em portais
corporativos, intranets, bibliotecas digitais e repositórios de informações.
Geralmente essas soluções tecnológicas armazenam arquivos em um ou mais
servidores, que são acessados pelos computadores pessoais dos usuários via
uma rede local de computadores ou via Internet.
Associo as teorias analisadas nesse trabalho para justificar as
funcionalidades do método RCPTIA e em seguida exemplifico a aplicação do
método RCPTIA, no caso do curso de pós-graduação Lato-sensu da PUC/SP
chamado MBIS – Master Business Information Systems Executivo em Ciência
da Computação que utiliza o método em seu portal.
Finalmente, no capítulo VI, “Método RCPTIA com contextos hipermídia”,
percebo que a implementação do método RCPTIA utilizando apenas a
linguagem escrita para associar contextos pode ser estendida para uma
31
linguagem hipermídia, permitindo utilizar na busca não somente texto, mas
também imagens, sons e vídeos.
Uma vez que as pessoas lembram-se e associam imagens e sons, por
que não permitir que elas armazenem e recuperem informações associadas a
estas imagens e sons? Expandir o método RCPTIA para a linguagem
hipermídia seria o caminho natural, e é o que foi feito nesse capítulo.
32
II. Bases biológicas da compreensão humana a partir
do pensamento de Maturana e Varela
MATURANA e VARELA (2003) apresentam as bases biológicas da
compreensão humana e colocam que a vida é um processo contínuo de
conhecimento e que para entendê-la é necessário compreender como os seres
vivos conhecem o mundo. Como vivemos no mundo com outros seres vivos,
como desenvolvemos nossa vida num processo contínuo de interação com
outros seres vivos e com o mundo. Nosso comportamento é influenciado por
esta interação assim como pelo que vemos e sentimos. Uma metáfora
interessante que exemplifica essa interação pode ser observada nos timoneiros
que conduzem navios. Apesar de estarem comandando a embarcação, este
comando é repartido com o meio ambiente por meio das correntes marítimas,
dos ventos, das tempestades e assim por diante. Podemos dizer que o piloto
está sendo influenciado pelo meio ambiente assim como ele guia a
embarcação. O piloto, como ser humano, percebe que é parte do mundo
natural e que na sua relação com o mundo, não há hierarquia nem separação.
Ele está guiando seu navio pelo mar que permite sua passagem o influenciado
pelas forças da natureza. Ambos estão estabelecendo uma relação de
adaptação e convivência em que estão cooperando numa ação conjunta
circular.
Para MATURANA e VARELA (2003), conhecer é uma ação efetiva, ou
seja, uma efetividade operacional no domínio da existência do ser vivo. A
33
explicação do conhecer se dá em quatro vertentes que aparecem no nosso
modo cotidiano de pensar.
Explicação do conhecer. I. Fenômeno a explicar: ação efetiva do ser vivo em seu meio ambiente; II. Hipótese explicativa: organização autônoma do ser vivo. Deriva filogenética e ontogenética, com conservação da adaptação (acoplamento estrutural); III. Dedução de outros fenômenos: coordenação comportamental nas interações recorrentes entre seres vivos e coordenação comportamental recursiva sobre a coordenação comportamental; IV. Observações adicionais: fenômenos sociais, domínios lingüísticos, linguagem e autoconsciência. (MATURANA e VARELA, 2003, p. 35)
Ao analisar o ciclo de quatro componentes da explicação do conhecer,
percebemos uma proximidade com o nosso cotidiano, onde sempre damos
alguma explicação de algum fenômeno como trânsito ou atraso de metrô.
Dessa forma, aparecemos como observadores que fazem descrições. Uma
explicação é sempre uma proposição que recria as observações de um
fenômeno, num sistema de conceitos aceitáveis para um grupo de pessoas que
compartilham de um critério de validação.
Para MATURANA e VARELA (2003), a reflexão é um processo de
conhecer como conhecemos, um ato de voltar a nós mesmos, a única
oportunidade que temos de descobrir nossas cegueiras e reconhecer que as
certezas e os conhecimentos dos outros são, respectivamente, tão aflitivos e
tão tênues quanto os nossos.
Toda reflexão, inclusive a que se faz sobre os fundamentos do conhecer humano, ocorre necessariamente na linguagem, que é nossa maneira particular de ser humanos e estar no fazer humano. Por isso, a linguagem é também nosso ponto de partida, nosso instrumento cognitivo e nosso problema. (MATURANA e VARELA, 2003, p. 32)
34
Assim, um marco inicial para gerar uma explicação cientificamente
validável é entender o conhecer como uma ação efetiva que permita a um ser
vivo continuar sua existência em um determinado meio ao fazer surgir o
mundo.
Viver num meio informatizado, então, faria com que uma pessoa
passasse a conviver num ambiente tecnológico e desenvolvesse interações
para se adaptar a esse meio. Hoje em dia, vivemos num mundo cada vez mais
informatizado, que por meio de recursos tecnológicos digitais como
computadores e celulares nos permitem conectar pessoas através das redes
de telecomunicações. Nessas redes, trafegam vozes, imagens, sons, vídeos,
textos, hipertextos que se combinam numa nova linguagem: a linguagem
hipermídia que será explorada mais detalhadamente no capítulo IV. O potencial
disponibilizado pelas redes para envio e recebimento de conteúdo nos leva ao
fantástico mundo interativo da hipermídia que permite integrar diferentes
mídias. Se até poucos anos atrás estávamos acostumados a usar o telefone
para falar e conversar, hoje podemos utilizar o telefone celular para enviar e
receber conteúdo hipermídia ou navegar na Internet. O entendimento dessa
linguagem hipermídia se torna um ponto importante. A revolução digital nos
força a desenvolver habilidades e competências para compreensão e utilização
dessas novas tecnologias. Seja para fins educacionais, acadêmicos, sociais ou
corporativos, a necessidade em lidar com hardware e software se faz cada vez
mais presente em nossa sociedade. Programas governamentais de inclusão
digital refletem claramente a preocupação em evitar uma exclusão digital das
pessoas. Aprender a usar essa linguagem tecnológica torna-se importante nos
35
dias de hoje para conviver nesse meio ambiente. Para tanto, acredito que seja
importante verificarmos como MATURANA e VARELA relacionam a linguagem
e o meio com o conhecimento.
MATURANA e VARELA (2003) consideram a linguagem como um
ponto de partida e como nosso instrumento cognitivo. Concordo com eles.
Gostaria de reforçar que além da linguagem, os meios pelos quais nos
comunicamos também exigem cuidado e atenção. Quero dizer que pela
exclusão digital, por exemplo, podemos inibir ou restringir o potencial de
comunicação das pessoas. Acredito que a capacitação dos usuários para a
utilização de novas tecnologias de forma abrangente se torna fundamental. O
primeiro contato entre pessoas e máquinas se dá pela interface homem-
máquina a que somos apresentados. JOHNSON (1997) analisa a cultura da
interface e descreve a influência da arquitetura e do urbanismo na metáfora do
“desktop” utilizada nas interfaces dos sistemas operacionais dos computadores
pessoais. Vale observar que as interfaces estão presentes desde o painel de
um forno microondas, do painel do elevador, do controle remoto da televisão,
da interface do telefone até interfaces computacionais, visualizadas em
monitores ou visores monocromáticos ou coloridos que podem ser de
tamanhos bem diferentes. Vale ressaltar também que muitos desses
equipamentos são acompanhados de seus manuais de utilização: o que
demonstra que não é tão simples aprendermos a utilizá-los de maneira
puramente intuitiva. MATURANA e VARELA (2003) ressaltam que a maneira
como os seres vivos conhecem o mundo é fundamental para entendermos os
processos de conhecimento. Numa sociedade cada vez mais digital, para
36
conhecer esse mundo, também é necessário ter o domínio da utilização dessas
tecnologias que são utilizadas na relação entre as pessoas, e na relação entre
pessoas e seu ambiente. O não domínio da utilização de tecnologia pode ser
tornar uma barreira para o relacionamento social nesse ambiente.
37
Teoria autopoiética
Estudar o ser vivo e perceber como ele observa a realidade, conhece,
aprende e se desenvolve é importante para o meu trabalho de gestão de
conhecimento em redes de informação. Estudar o comportamento do ser vivo e
suas relações com os outros e com outros ambientes é fundamental para
verificar como é seu desenvolvimento e seu comportamento em ambientes não
digitais. Essas relações trazem subsídios que posso utilizar mais adiante. As
relações entre organização e seus componentes são parte da estrutura do
método de recuperação de informações que será proposto mais adiante.
MATURANA e VARELA (2003) definem a teoria autopoiética como
aquela que trata da organização do ser vivo. Como este se autoproduz, como
ele observa a realidade, conhece, aprende e se desenvolve.
Entende-se por organização as relações que devem ocorrer entre os
componentes de algo, para que seja possível reconhecê-lo como membro de
uma classe específica.
Entende-se por estrutura de algo os componentes e relações que
constituem concretamente uma unidade particular e configuram uma
organização.
Para MATURANA e VARELA, não podemos confundir o conceito de
organização com o conceito de estrutura. Organização traduz o conjunto de
38
relações ou interações entre os componentes do sistema e caracteriza a classe
a qual ele pertence, ou seja, homem, mulher, cachorro, gato etc... A estrutura
seria constituída pelos componentes físicos e as relações que esses elementos
estabelecem. Esses componentes mudam continuamente de estado em
processos de auto-organização, mas ao mesmo tempo conservam a
organização em função da plasticidade do sistema e do meio. Segundo
MORAES (2004), podemos dizer que a estrutura é corporificada através da
organização.
Para melhor exemplificar os componentes de algo, e a estrutura de algo,
vou utilizar o exemplo da cadeira. Para considerar um objeto como sendo uma
cadeira, é necessário reconhecer as relações entre seus componentes tais
como os pés, o assento e o espaldar. Esses componentes formam sua
estrutura. Que a cadeira seja feita de madeira ou plástico, é totalmente
irrelevante para que eu a classifique como cadeira. A classe das cadeiras fica
definida pelas relações que devem ser satisfeitas para que eu classifique algo
como cadeira. Sabemos que uma cadeira não é uma mesa, pois cada classe
possui condições e relações que a caracterizam desta forma. Descrever a
organização “cadeira” é simples, mas pode ser difícil e complexo apontar para
uma determinada organização e descrever as relações que a constituem.
Outro exemplo de organização pode ser uma célula, um átomo ou a sociedade.
Para MATURANA, os sistemas vivos são determinados estruturalmente
de tal modo que tudo o que lhes possa acontecer a qualquer momento
depende de sua estrutura.
39
MATURANA (2001) conclui, a partir do experimento da salamandra - no
qual ao girar seu olho em 180 graus e aparecendo um bicho a sua frente ela
lança sua língua para trás -, que a reação da salamandra não é determinada
por algo externo, mas por sua estrutura interna.
Além disso, a partir de nosso cotidiano sabemos também que, ao escutar alguém, o que ouvimos é um acontecer interno a nós, e não o que outro diz, embora o que ouvimos seja desencadeado por ele ou por ela. (MATURANA, 2001, p.174)
Dessa forma, como seres vivos, estamos abertos à troca de energia,
matéria e informação, e ao estabelecimento de relações e interações com
outros seres vivos e com o ambiente, mas estamos fechados na nossa
dinâmica estrutural que se modifica pelas mudanças estruturais internas.
DEMO (2002) explica que no ser vivo estruturalmente determinado, o
que vem de fora desencadeia o processo de percepção, mas este processo de
percepção é efetivado por correlações internas do observador. Quando
escutamos o outro, o entendemos sempre a nosso modo, mas, ainda assim o
entendemos.
Analisando as teorias de MATURANA e VARELA (2003), percebemos
que a definição de vida nos sistemas vivos autopoiéticos nos traz uma
mudança de perspectiva importante. A teoria autopoiética elucida a
capacidade de todo ser vivo de adaptação criativa ao considerar que, do ponto
de vista do observador, não é a realidade externa que se impõe à mente, mas
é a habilidade mental que reconstrói a realidade externa. Também saímos da
40
cognição considerada como computacional e chegamos à definição de
cognição como autonomia. A teoria autopoiética é claramente uma crítica ao
instrucionismo que considerara a mente como uma máquina processadora de
informação no tradicional input-processamento-output.
MORAES (2004) reforça claramente que as teorias de MATURANA e
VARELA acabam com o pensamento instrucionista ao explicar que nada pode
ser imposto de fora para dentro do indivíduo e que a realidade não é
independente do observador. O papel subjetivo e cognitivo do observador é
fundamental na percepção desta realidade, interagindo com suas histórias
passadas, intuição e emoção.
Explorando as relações existentes entre organização e estrutura,
(MORIN apud MORAES, 2004) afirma que as interações implicam ações
múltiplas, recíprocas, que modificam comportamentos ou a natureza dos
elementos, corpos, objetos ou fenômenos que se influenciam mutuamente. Os
elementos acoplados estruturalmente garantem o encontro estrutural
necessário para que as interações aconteçam. Ele concorda com MATURANA
e VARELA e diz que as interações são condições para a existência de qualquer
organização. A existência das interações mostra que as propriedades fluem de
suas relações e estas são dinâmicas. Para entender qualquer parte é preciso
compreender o seu relacionamento com o todo. Para (MORIN apud MORAES,
2004) as propriedades essenciais de um organismo vivo são propriedades do
todo e que nenhuma das partes as possui isoladamente. Elas surgem das
interações e das relações estabelecidas entre as partes.
41
MORAES (2004) explica que a natureza das relações ecológicas indica
que o comportamento de um sistema influencia e é influenciado pelo
comportamento do outro. Indica também que estamos interconectados por uma
rede invisível da qual cada um nós é apenas um de seus elos. Assim o
organismo humano está sempre submetido a interações físicas e essas ajudam
o sujeito a se autoconstruir. Para entender a dinâmica de qualquer organização
é preciso também conhecer as interconexões e os seus padrões interativos.
Assim para entender a interatividade e o funcionamento dinâmico de uma rede,
é preciso entender as suas relações constituintes.
MORAES (2004) relaciona a teoria autopoiética às questões de ensino-
aprendizagem. Os processos autopoiéticos são construídos por interações
circulares recursivas decorrentes de mudanças estruturais constantes entre o
sistema vivo e o meio. Com isso o processo de construção do conhecimento, a
partir desse enfoque, nos leva a buscar novos significados em nossas
experiências sobre os fenômenos do conhecer e do aprender a partir de uma
visão mais complexa e abrangente. Isto favorece o repensar do
posicionamento do aprendiz diante do mundo e da vida. Também baseada na
teoria autopoiética, ela considera instituições e coletividades como
organizações autopoiéticas, constituídas por seres humanos e suas respectivas
relações. Tal aspecto implica que os sujeitos, com suas ações, tecnologias,
relações e demais recursos, criem ambientes de aprendizagem que
apresentem diferentes ecologias cognitivas, onde cada rede de relações
envolvendo sujeitos, tecnologias e instituições produza diferentes
42
possibilidades cognitivas. Cada ecologia configura certo domínio
operacional, energético e vibracional constituído pelas circunstâncias
existentes.
As diferentes possibilidades cognitivas sugeridas por MORAES (2004)
emergentes nas relações sujeito, instituições e tecnologias são fundamentais
para mim. Essas relações me fazem refletir sobre o cenário exposto na
introdução deste trabalho, quando descrevo características de minha atividade
profissional, onde existe uma relação entre o sujeito e a instituição que é
mediada por soluções tecnológicas. Essa tecnologia aparece na forma de
sistemas de informações que podem apresentar, por exemplo, uma estrutura
de portal corporativo, intranet ou ERPs – “Enterprise Resource Planning”. Essa
mediação tecnológica que integra sujeito e instituição está cada vez mais
presente nas instituições em nossa sociedade. Acredito que as diferentes
possibilidades cognitivas que surgem das relações entre sujeito,
instituição e tecnologias possam ser melhor exploradas no
gerenciamento de informações, tanto no âmbito pessoal como
institucional. Diante do grande volume de conteúdo disponível que temos
que gerenciar em nossas mentes no dia-a-dia, essas diferentes
possibilidades cognitivas podem nos ajudar a recuperar mais facilmente
informações quando levamos em consideração as relações existentes
entre sujeito e instituição. Essas relações envolvendo pessoas e
organizações são exploradas pela área de gestão de conhecimento nas
organizações. Irei detalhar essa questão mais adiante.
43
O método de comunicação RCPTIA, que será proposto no capítulo V,
utiliza os conceitos de ecologia e domínio operacional na implementação de um
ambiente tecnológico que facilite a recuperação de informações numa rede de
computadores, levando em conta a rede de relações envolvendo sujeitos,
tecnologias e instituições.
Para VARELA (1997), cognição é a emergência de estados globais em
uma rede de componentes simples. A cognição é ação corporificada em que
estão também imbricadas as histórias vividas. Assim, em sua Teoria Enativa a
corporeidade humana e o mundo emergem conjuntamente mediante a história
de acoplamento estrutural. Existe uma circularidade entre ciência e
experiência, ciência e corporificação da experiência e da cognição. A ação
corporificada envolve todo o corpo enquanto estrutura experiencial vivida a
partir dele enquanto contexto ou âmbito dos mecanismos cognitivos. O
conceito de mente incorporada de VARELA (1997) recorda que aprendizagem
e conhecimento envolvem percepção e intuição e tudo mais que constitui a
estrutura do sistema vivo.
Assim a cognição pode ser compreendida como uma ação corporificada
em que não podemos separar o corpo de suas histórias vividas, de suas
emoções, percepções e intuições.
44
Pensamento eco-sistêmico
MORAES (2004) explica que o pensamento eco-sistêmico se baseia em
teorias sistêmicas como A Teoria Geral de Sistemas, de Bertalanffy e a Teoria
Autopoiética, de Maturana e Varela. Com eco-sistêmico, ela está ligando dois
conceitos importantes: o ecológico e o sistêmico.
Esses temas são de grande relevância para meu trabalho, pois eles
tratam do pensamento eco-sistêmico que engloba cultura, sociedade, mente e
indivíduo. Dessa forma o pensamento está inserido num determinado
contexto. Começar a estudar essa questão é importante, pois a
contextualização tem um papel fundamental no método que será proposto mais
adiante.
MORAES (2004) descreve também a influência da Teoria da
Complexidade de MORIN (1990) como bastante significativa. Complexidade
esta compreendida como um princípio articulador do pensamento, como um
pensamento integrador que une diferentes modos de pensar, que permite a
tessitura comum entre sujeito e objeto, ordem e desordem, estabilidade e
movimento, professor e aluno e todos os tecidos que regem os
acontecimentos, as ações e interações que tecem a realidade da vida.
O conceito de sistema, segundo MORIN, remete a uma unidade
complexa. Ele descreve um sistema como uma unidade complexa que articula
organizacionalmente, diferentes elementos que ocupam um determinado lugar
45
no espaço e no tempo. Como unidade complexa ou unidade global organizada,
trata-se de uma organização que para constituir-se como tal, pressupõe a
existência de relações de interdependência entre os elementos constituintes e
a existência de propriedades comuns compartilhadas.
Compreendendo ecologia como a ciência que estuda relações entre
seres viventes e o seu meio ambiente, o sistema ecológico pode ser
considerado como um sistema constituído por inter-relações entre as partes.
Desta forma, MORAES (2004) define o pensamento eco-sistêmico como um
pensamento que se estende além da ecologia natural, englobando a cultura, a
sociedade, a mente, e o indivíduo. A interdependência existente entre os
diferentes domínios da natureza, a existência de relações intersistêmicas que
acontecem entre seres, indivíduos e contexto, docentes e discentes.
O pensamento eco-sistêmico é relacional, aberto, e traz consigo a idéia de movimento, de fluxo energético, de processos auto-organizadores, auto-reguladores e autopoiéticos, sinalizando a existência de um dinamismo intrínseco que traduz a natureza cíclica e fluida destes processos. Ele nos fala das relações entre totalidades e partes e das partes entre si. Assim, pensar de modo eco-sistêmico é pensar de maneira complexa, dialógica e transformadora. (MORAES, 2004, p. 154)
Segundo MORAES (2004), a capacidade de auto-organização implica
em características importantes tais como autonomia, interconectividade e
interdependência entre os diversos componentes de um sistema. Além disso,
este sistema precisa ser aberto, com estruturas operando afastadas do
equilíbrio, para permitir um fluxo constante de energia, matéria e informação.
46
Para ser autônomo, todo sistema vivo é necessariamente dependente do meio. No caso do ser humano, necessita dialogar com a cultura, com o contexto, transformar-se a partir de sua relação com o mundo ao seu redor. (MORAES, 2004, p. 87)
Podemos concluir então que o sistema é necessariamente dependente
do meio. Na relação entre o sistema e o meio é que são desenvolvidos os
processos interativos. MORAES (2004) coloca que o sistema necessita
dialogar com a cultura, com o contexto e transformar-se a partir de sua
relação com o mundo a seu redor. Somente desta maneira emergirão os
processos interativos que dão equilíbrio aos sistemas que se relacionam.
MORAES (2004) também relaciona o pensamento eco-sistêmico ao
ambiente educacional. É um pensamento eco-sistêmico que reconhece as
interações mútuas e recorrentes entre aprendiz e meio, entre usuários e seus
sistemas, entre aprendizes e docentes, indivíduos e contexto, razão e emoção.
“Ninguém educa ninguém [...] os indivíduos educam-se entre si mediatizados
pelo mundo”. (FREIRE apud MORAES, 2004). Esta frase reforça a
importância dos processos interativos entre diferentes sistemas.
Recordando meu objetivo de pesquisa de criar um método de
recuperação de informações, que possa ser aplicado em ambientes
tecnológicos, e que permita relacionar sistemas cognitivos pessoais, sistemas
institucionais e sistemas tecnológicos em redes de comunicação: os conceitos
de auto-organização e de processos interativos tornam-se fundamentais
47
para mim. Esses processos interativos emergirão do relacionamento existente
no ecossistema abaixo:
Figura 1 Representação do acoplamento estrutural num ecossistema
No ecossistema acima, tanto contextos, como aspectos culturais e
experiências vividas pelas pessoas estão presentes nos processos interativos
que emergem desta relação. Por se tratarem de sistemas abertos, eles estão
em constante processo de comunicação.
Assim, o método de recuperação de informações e conhecimento, que
proponho no capítulo V, deve levar em consideração as interações existentes
entre os diferentes sistemas e quanto à auto-organização de cada sistema
independentemente.
Considerando que cada indivíduo apresenta seu próprio sistema
cognitivo e emocional, e suas próprias histórias vividas, também é
48
recomendável que esse método de recuperação de informações e
conhecimento possa levar em conta a subjetividade de cada indivíduo nos
processos interativos que eles desenvolvam com outros indivíduos e com a
organização onde estão inseridos.
Cada indivíduo apresenta suas características próprias como por exemplo:
Indivíduo A
Sistema
cognitivo
Contexto Cultura Histórias vividas
Figura 2 Características do indivíduo A
Indivíduo B
Sistema
cognitivo
Contexto Cultura Histórias vividas
Figura 3 Características do indivíduo B
49
III. A concepção de contexto e a gestão de
conhecimento
No capítulo anterior vimos que a maneira como os seres vivos
conhecem o mundo é fundamental para entendermos os processos de
conhecimento. Também vimos que MORAES (2004) define o pensamento
eco-sistêmico como um pensamento que se estende além da ecologia natural,
englobando a cultura, a sociedade, a mente e o indivíduo. Agora vamos
avançar nossos estudos em gestão de conhecimento e comparar, por exemplo,
a relação das pessoas com o conhecimento e a influência dos diferentes
suportes de mídia disponíveis em diferentes épocas. A forma de lidar com o
conhecimento foi influenciada durante nossa evolução. Destaco alguns
momentos como o da invenção da imprensa de Gutenberg, a disseminação
das bibliotecas, o surgimento do rádio e da TV e explosão da Internet.
Estudaremos também nesse capítulo a relação entre contexto e gestão de
conhecimento nas organizações. Relação que é fundamental para o método
que será proposto mais adiante.
O surgimento da televisão na década de 40 foi responsável por uma
grande revolução na maneira de levar informações à sociedade. Naquela
época, o rádio imperava e as pessoas nunca imaginaram o quanto a invenção
deste aparelho branco e preto influenciaria seus próximos anos de vida.
Olhavam para aquele aparelho com um pouco de apreensão, e sem entender
muito bem a importância que esta invenção traria à sociedade. Hoje, um
aparelho de televisão está presente, na grande maioria dos lares, em todos os
50
continentes. Além de trazer informações, propiciar ensino, diversão e
entretenimento, ele tem o poder de influenciar pessoas em todos os cantos do
planeta.
A Internet, rede mundial dos computadores, teve seu início em 1969, no
ARPA - Advanced Research Project Agency -, do Departamento de Defesa
Militar Americano, (que depois passaria a se chamar DARPA - Defense
Advanced Research Project Agency,) que queria encontrar diferentes rotas
para uma informação chegar ao seu destino. Para assegurar a chegada desta
informação ao seu destino, nasceu a rede ARPANET. Nesta data, esta rede
era formada por quatro computadores que estavam na University of Utah,
University of California Santa Barbara, University of California Los Angeles e
Stanford Research Institute International. Depois, ela começou a se espalhar
por outras universidades e centros de pesquisas, que passaram a usar este
novo meio de comunicação, que deste então não parou de se desenvolver.
Outras redes foram surgindo na década de 80 como a BITNET (Because it’s
time to network), CSNET (Computer Science Network) e NSFNET (National
Science Foundation) entre outras. E, ao se conectarem, formaram o que hoje
chamamos REDE INTERNET. Com o fabuloso progresso das
telecomunicações e dos microcomputadores, a INTERNET começou a crescer
exponencialmente na década de 90. E este crescimento exponencial faz com
em meados de 2005, segundo dados fornecidos pelo Computer Industry
Almanac, praticamente 1 bilhão de internautas no mundo possam usufruir
deste novo fenômeno, que revoluciona os nossos meios de comunicação daqui
para frente, assim como o fez a televisão nos últimos quarenta anos.
51
Acabo de mencionar acima duas grandes revoluções na comunicação
em nossa sociedade: a televisão e a explosão da Internet. Mas, voltemos um
pouco na história para compreender melhor a evolução da comunicação e da
transmissão de informações entre pessoas em algumas épocas de nossa
civilização. É o que vamos ver a seguir.
52
Mudanças culturais e novas formas de comunicação
STEFIK (1999) estuda os desafios sociais, legais e tecnológicos para o
mundo de conectado em redes no qual vivemos. Ele se preocupa com a
utilização das redes de computadores para a criação, a distribuição e o
consumo de conhecimento. Essa nova forma de comunicação traz desafios
como a utilização de tecnologias, como inteligência artificial embutida em
agentes inteligentes que podem, por exemplo, ficar monitorando de diversas
formas a comunicação realizada na Internet. Além do desenvolvimento de
soluções de inteligência artificial, a questão do espaço e tempo e a nova
velocidade de comunicação desencadeada pelos novos meios de comunicação
também criam uma nova dinâmica na troca de informações e conhecimento
trazendo uma agilidade nunca antes vivenciada em nossa sociedade.
Para melhor vislumbrarmos as mudanças culturais advindas dessa nova
agilidade na comunicação, é interessante analisarmos alguns exemplos de
mudanças culturais estudadas por antropólogos e historiadores. Podemos
assim tentar resgatar na história, o impacto da tecnologia em diversos
momentos e fazermos algumas analogias com o momento vivido em nossa
sociedade. Vamos analisar rapidamente três momentos na história que ilustram
o constante crescimento de conhecimento, a disseminação de informações e
algumas mudanças culturais na história da humanidade:
• a disseminação da cultura da caça:
53
STEFIK (1999) descreve que no final da era glacial Pleistociana, o
desenvolvimento da cultura da caça, se espalhou do local que hoje
conhecemos como o noroeste dos Estados Unidos e se espalhou por
toda a América. A cultura paleo-indiana era caracterizada pela utilização
da lança e pela caça de grandes animais como o bisão e o mamute. As
evidências arqueológicas dessas armas e presumidamente da cultura
que elas pertenciam, evidenciam uma difusão dessa tecnologia numa
velocidade maior que mil milhas a cada cem anos. Existe uma
discussão a respeito dessa difusão, para saber se ela se deu por
migração, ou por difusão cultural de tribos que observavam, imitavam e
integravam a utilização da tecnologia das lanças e os métodos de caça
no seu dia-a-dia. De qualquer forma, a utilização de lanças ilustra como
a cultura pré-histórica e seu conhecimento se espalharam
geograficamente por longas distâncias num determinado espaço de
tempo.
• a disseminação da cultura agrícola:
STEFIK (1999) descreve que arqueólogos analisaram a descoberta de
artefatos utilizados na agricultura em várias regiões e mapearam a
disseminação dessa cultura agrícola da “Eurásia” para a Europa.
Segundo (AMMERMAN e CAVALLI-SFORZA apud STEFIK, 1999,
p.136), baseados nos arquivos das descobertas de artefatos, descrevem
o percurso de desenvolvimento da época. O registro da descoberta de
artefatos agrícolas no Egito alcançou a Grã-Bretanha aproximadamente
4000 anos mais tarde. Esses registros arqueológicos também mostram
54
que a difusão dessa cultura agrícola por países como Turquia, Itália,
Espanha, Alemanha e França aconteceu em intervalos de
aproximadamente 500 anos.
Verificamos claramente que a difusão dessa cultura se deu numa
velocidade muito mais lenta que a cultura da caça. Podemos
compreender perfeitamente que a plantação é um processo muito mais
complexo do que a caça. Requer muito mais tempo para o aprendizado
de diversos conhecimentos como, por exemplo: diferentes estações do
ano, espécies de plantas, alimentação de animais e técnicas de colheita.
• A expansão das rodovias e ferrovias na França entre 1870 e 1914:
STEFIK (1999) descreve histórias similares de novas tecnologias de
transporte que trouxeram mudanças sociais podem ser encontradas em
muitos outros países inclusive nos Estados Unidos. Até a metade do
século 19, a França apresentava um sistema de rodovias esquelético em
que a maioria das estradas iam e vinham de Paris, a sede central do
governo. Nelas eram transportadas armas, impostos e comida para o
sustento da capital. As linhas de trens construídas a partir dos anos de
1840 seguiam a mesma filosofia de ir e vir de Paris. As fazendas e as
outras cidades não eram conectadas nem pelas rodovias e nem pelas
linhas de trens, deixando o povo ordinário sem opção. Os caminhos
familiares que ligavam os camponeses eram constituídos de corredores
estreitos que levavam a um mercado regional. No inverno, os caminhos
ficavam em condições tão precárias que eram classificados pela
profundidade de lama atingida pelas pessoas ou pelos cavalos: até o
55
joelho, até o ombro ou até a cabeça. Os poucos que conseguiam chegar
a Paris uma única vez eram chamados de parisienses. Desta forma a
troca de mercadorias ficava restrita basicamente a algumas vilas na
região que se auto-sustentavam. Os camponeses que se aventuravam
para transportar suas mercadorias para alguma cidade mais longe
chegavam muito cansados e sem opção de volta, ficando em
desvantagem para realizar a venda. Segundo (WEBER apud STEFIK,
1999), toda essa fase assim como a lei de 1881 que obrigou o estado a
interligar os camponeses e as pequenas cidades com a rede de estradas
e ferrovias que levavam a Paris. A partir de 1881, com novos horizontes
geográficos, os camponeses começaram a descobrir novas
oportunidades para o comércio em larga escala. O desenvolvimento da
educação pública trouxe o desenvolvimento de habilidades de leitura,
escrita e cálculos. Habilidades fundamentais para o desenvolvimento do
comércio. Desta forma a produção aumentou muito e a atividade
econômica da região que recebia vias de transporte aumentava
geralmente 10 vezes. A região de Corrèze, por exemplo, na região no
centro sul da França, começou a receber fertilizantes. Com isso, entre
1866 e 1906, seu consumo aumentou trinta vezes e a produção
aumentou 60 vezes. Dessa forma os transportes expandiram os
mercados e permitiram o surgimento do que chamamos hoje de
economia de escala. As rodovias e ferrovias na França, assim como em
outros vários países aceleraram os processos de troca e em 40 anos
trouxeram para a França o desenvolvimento de um mercado comum,
56
uma língua comum, uma nação unida e próspera. Como diria Eugene
Weber, os camponeses foram transformados em “homens franceses”.
O exemplo do crescimento da infra-estrutura ferroviária na França
abordado por Mark Stefik pode ser também verificado em todo o mundo.
Segundo (HOBSBAWN apud STEFIK, 1999), entre 1846 e 1876, a malha
ferroviária do planeta cresceu de 17.424 quilômetros para 309.641 quilômetros.
O que é um crescimento extraordinário ocorrido em 30 anos e que reflete um
grande investimento financeiro para realização de obras na época.
CARR (2003) faz uma comparação muito interessante na rapidez de
instalação de tecnologias infra-estruturais como ferrovias, energia elétrica e
computadores hospedeiros na Internet conforme gráficos abaixo:
57
Ferrovias
0
50
100
150
200
250
300
350
1841 1846 1851 1856 1861 1866 1871 1876Data em anos
Exte
nsão
da
mal
ha fe
rrovi
ária
mun
dial
em
(milh
ares
de
quilô
met
ros)
Figura 4 Extensão da malha ferroviária mundial. Fonte: Eric Hobsbawm. A Era do Capital (Paz
e Terra, 1996);
Energia
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
1889 1902 1907 1912 1917 1920Data em anos
Cap
acid
ade
de g
eraç
ão d
e em
pres
as d
e en
ergi
a el
étric
a no
s EU
A (e
m m
egaw
atts
)
Figura 5 Capacidade de geração de empresas de energia elétrica nos EUA. Fonte:Richard B. Duboff, Electric Power in Manufacturing, 1889-1958 (Arno, 1979);
58
Hosts
0
50
100
150
200
250
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002Data em anos
Núm
ero
de c
ompu
tado
res
hosp
edei
ros
na in
tern
et
(em
milh
ôes)
Figura 6 Número de computadores hospedeiros na Internet. Fonte: hospedeiros na Internet: Robert Zakon: Internet Timeline (www.zakon.org/robert/internet/timeline/).
Os gráficos mostram claramente a explosão de disponibilidade das
tecnologias de ferrovias, energia elétrica e sites hospedeiros na Internet. É
interessante verificarmos, que mesmo em épocas distintas, a adoção dessas
tecnologias mostra um gráfico de adoção parecido. CARR (2003) comenta que
ao final da fase de propagação dessas infra-estruturas, a maior concorrência,
maior capacidade e preços mais baixos tornam a tecnologia mais acessível a
todos.
O desenvolvimento dessa infra-estrutura estava baseado no
desenvolvimento de novas tecnologias oriundas do desenvolvimento de
pesquisas e conhecimento que se disseminavam pelo mundo.
59
Vemos assim o papel da criação de conhecimento influenciando
diretamente o desenvolvimento de nossa sociedade, desde a era agrária com
técnicas de plantação até as novas tecnologias digitais como a rede Internet
que traz novas oportunidades e uma nova dinâmica na velocidade de
transmissão de conhecimento em nossa sociedade.
60
Bibliotecas e seus sistemas de classificação
A biblioteca é uma instituição que organiza os conhecimentos existentes
em impressos e disponibiliza para os seus visitantes. É bem verdade, que hoje,
ela organiza o conhecimento em diferentes mídias, além do impresso. Uma
visita a uma biblioteca é fundamental para qualquer pesquisador interessado
em se aprofundar em determinado assunto. A biblioteca é uma fonte de
pesquisa imprescindível para todo estudante, e ela é a inspiração primária do
conceito de repositório de informações que é tratado em nossa sociedade
digital. Ela é um repositório de conhecimento onde podemos consultar livros,
revistas, artigos, vídeos entre outros. Muitas das bibliotecas virtuais disponíveis
na Internet, apenas levam a estrutura de funcionamento de uma biblioteca
tradicional para o mundo virtual. Como um dos desafios de minha pesquisa é
propor um método onde possamos encontrar de maneira mais prática as
informações desejadas, é fundamental estudar e compreender o sistema de
funcionamento das bibliotecas.
A invenção da imprensa por Gutenberg em 1440 sem dúvida é um
grande marco histórico que revolucionou e possibilitou a produção de livros em
maior quantidade, possibilitando uma distribuição mais rápida do
conhecimento. Com o grande aumento de produção de impressos, muito mais
pessoas passaram a ter acesso aos livros e conseqüentemente, mais pessoas
podiam se dedicar à leitura e ao estudo. Naturalmente, o aumento da produção
de conhecimento facilitado pela distribuição dos livros utilizando a infra-
61
estrutura de estradas e ferrovias, fez com que a organização de livros e
periódicos passasse a ter uma importância maior.
Com o aumento de conhecimento criado e com a possibilidade de
distribuição de livros, a sociedade sentiu uma necessidade de organizar o
conhecimento existente para poder recuperá-lo de maneira eficiente. Surgiram
então, os sistemas de classificação, mais popularmente utilizados pelos
sistemas bibliotecários até hoje, baseados em Dewey, Otlet e La Fontaine. Em
1876, Melvim Dewey criou o sistema de classificação decimal de Dewey –
CDD. Em 1895, Paul Otlet e Henri La Fontaine criaram o sistema de
classificação universal – CDU. Esses sistemas de classificação são baseados
na sistematização de temas a partir de ordenações hierárquicas, dispondo
próximos os documentos com os mesmos temas.
Voltando um pouco mais no tempo, é importante resgatar a descoberta
da escrita e o surgimento das bibliotecas. (SAGREDO e NUÑO apud ORTEGA,
2002, p.14) relatam que a primeira biblioteca primitiva que se tem notícia
datada de 5000 anos atrás (3000 a.C) é comprovada pela existência das
primeiras coleções organizadas de documentos da Biblioteca de Ebla na Síria.
Essa descoberta feita em 1974, altera a própria história conhecida sobre a Síria
e o Oriente Médio na época. A coleção era formada por 15000 tábuas de argila
dispostas em estantes de acordo com o tema. Nessas tábuas havia textos
administrativos, literários e científicos. A escrita era a cuneiforme, não no seu
idioma original sumério, mas numa língua desconhecida a qual se chamou
62
eblaíta. Esta vem sendo considerada a origem da Biblioteconomia ao invés das
famosas bibliotecas gregas.
(KATO apud ORTEGA, 2002, p.14) também data do terceiro milênio
antes de Cristo o início da escrita propriamente dita, como a escrita cuneiforme
do idioma sumério e os hieróglifos do idioma egípcio. Essa escrita substituiu os
sistemas pictográficos que ainda não eram representação da fala. De qualquer
forma, a escrita demorou séculos para se constituir em sistemas de
representação, mas mesmo assim, pode-se dizer que a necessidade da
organização de documentos nasce com a própria escrita.
Na Idade Média predominavam as bibliotecas ligadas a ordens religiosas tanto no Ocidente como no Oriente, as quais foram responsáveis pela preservação da antiga cultura greco-romana registrada. No Entanto, na Europa, no século XIII, começaram a ser fundadas bibliotecas das universidades, ao mesmo tempo em que surgiram os grandes colecionadores de livros entre a nobreza, cujas coleções viriam a formar o núcleo de algumas bibliotecas nacionais. (LEMOS apud ORTEGA, 2002, p. 15)
Podemos entender melhor os diferentes papéis das bibliotecas:
Até fins do século XVIII, museus, arquivos e bibliotecas eram a mesma entidade, pois organizavam e armazenavam todos os tipos de documentos. A tecnologia da impressão, por mais remota, promove uma primeira modificação na atividade da organização e preservação de documentos, uma vez que aos poucos, foi retirada da biblioteca a tarefa de reprodução de manuscritos realizada pelos copistas, que passou a ser feita em oficinas especializadas. Relevante se faz analisar os efeitos desta mudança que distanciou o bibliotecário da responsabilidade, cumplicidade e envolvimento com o conteúdo dos documentos. (ORTEGA, 2002, p.15)
63
Abordar rapidamente algumas contribuições importantes da área de
Biblioteconomia e de Ciência da Informação, apesar de não ser o objeto
principal de minha pesquisa, é bastante relevante por podermos perceber que
os desafios de organização de conhecimento na forma de livros e periódicos já
se constituiu num desafio há muitos séculos. O modelo de classificação
decimal universal, criado por Paul Otlet e La Fontaine em 1895, é a base de
classificação utilizada nas bibliotecas até hoje. É claro também que o
desenvolvimento dos computadores e novas formas de acesso aperfeiçoaram
bastante a busca por temas de livros e periódicos, por exemplo.
64
Gestão de conhecimento nas organizações
Vimos até agora a importância do conhecimento em diferentes épocas
da história do mundo. Mas é interessante pesquisarmos o conhecimento nas
organizações. Em nossa sociedade, geralmente, passamos pela escola antes
de chegarmos ao mercado de trabalho. Uma das conquistas naturais, em
nossa sociedade, para nossa própria sobrevivência, é a conquista de um
emprego para podermos trabalhar. Assim, ao entrar no mercado de trabalho é
comum passarmos boa parte de nosso dia trabalhando em alguma
organização, com ou sem fins lucrativos. Como estamos inseridos nessas
atividades profissionais é bom estudarmos como as organizações se
relacionam com o conhecimento. O método que proponho mais adiante, leva
em consideração não apenas nossa maneira subjetiva de ver o mundo, mas
também como nos relacionamos com as organizações com as quais temos
algum tipo de interação. Já que passamos boa parte de nosso tempo
trabalhando em uma determinada organização, saber associar os interesses
da organização com os nossos próprios interesses me parece pertinente.
Hoje vivemos na era do conhecimento. DRUCKER (2001a) identifica o
conhecimento como um novo fator crítico de sucesso para as empresas na
sociedade. Desde então, pesquisadores, profissionais e empresas passaram a
se preocupar e estudar uma nova área de conhecimento chamada Gestão do
Conhecimento. DRUCKER (2001a) afirma que a nova sociedade é a sociedade
do conhecimento e que o conhecimento é tudo. O conhecimento será a
principal fonte de recursos dessa sociedade e os trabalhadores do
65
conhecimento (knowledge workers) formarão o grupo dominante da força de
trabalho. O trabalhador do conhecimento é um termo utilizado para descrever
pessoas com um determinado nível de conhecimento e instrução como, por
exemplo: médicos, advogados, professores, contadores e engenheiros
químicos. Teremos também um enorme crescimento de trabalhadores
chamados de tecnólogos do conhecimento (knowledge technologists) como
desenvolvedores de software, técnicos de computadores e analistas de
sistemas. Essa sociedade apresentará três características principais:
• fim das fronteiras, pois o conhecimento viaja com menos esforço até
que o dinheiro;
• ascensão e mobilidade disponível para todos por meio da educação
formal;
• potencial de fracasso assim como o de sucesso. Todos podem
adquirir “como produzir” algo, como por exemplo, o conhecimento
necessário para um determinado trabalho, mas nem todos podem
vencer.
Essas três características irão fazer com que essa sociedade seja
extremamente competitiva, tanto para organizações como para indivíduos. A
tecnologia da informação, apesar de ser apenas uma das novas características
dessa sociedade, já representa um papel fundamental que é o de transmitir e
espalhar o conhecimento rapidamente tornando-o acessível para todos em
todo o mundo.
66
Uma possível definição pragmática de conhecimento utilizada é:
Conhecimento é um fluido composto por uma mistura de experiências, valores, informações contextualizadas e insights de especialistas. Esse fluido é a base para a avaliação e a incorporação de novas experiências e informações. Nas organizações, o conhecimento vem embutido tanto em documentos e repositórios, como também em rotinas organizacionais, processos administrativos, práticas e normas. (DAVENPORT e PRUSACK, 1998, p. 5) *
Com essa definição, fica claro que conhecimento não é simples. É uma
mistura de vários elementos interligados. Os benefícios do conceito de gestão
de conhecimento nas organizações lançam vários desafios para ligar o
conhecimento com o dia-a-dia da vida na organização:
Cultura
CONHECIMENTO
Estratégia de Negócios
Comportamento Ambiente físico de trabalho
Processos
Figura 7 Relacionamento do conhecimento na organização
_______________________________________________________________
* Do original em inglês: “Knowledge is a fluid mix of framed experience, values, contextual information, and expert insight that provides a framework for evaluating and incorporating new experiences and information. It originates and is applied in the minds of knowers. In organizations, it often becomes embedded not only in documents or repositories but also in organizational routines, processes, practices, and norms.”
67
DAVENPORT e PRUSACK (1998), nas pesquisas realizadas nos
últimos anos em empresas que se desenvolveram na área como, por exemplo,
Andersen Consulting, DaimlerChrysler, Ernst & Young, IBM, Intel, the World
Bank entre outras, mostram que elas todas se movimentaram na criação de
comunidades de interesse, comunidades de prática ou redes de conhecimento.
Independentemente do nome escolhido, todas elas perceberam que o
incentivo à formação de grupos sociais, como os acima colocados,
estimula a circulação do conhecimento nas organizações. Com isso
também ficou claro para os líderes dessas organizações que a tecnologia
não resolve todos os problemas e não apresenta todas as respostas que
precisamos. Daí a grande importância em conseguir ligar a gestão de
conhecimento ao dia-a-dia das organizações. Essas comunidades formadas
passaram a constituir uma nova dimensão na estrutura organizacional. Com a
ajuda de tecnologias de comunicação eletrônica, fronteiras geográficas se
rompem e permitem uma comunicação face a face num processo de
socialização.
O conhecimento existe em várias formas tanto nas pessoas como em
documentos ou armazenados em computadores. Outra definição importante
utilizada é a diferenciação entre dado, informação e conhecimento e a
transformação de dado em informação e de informação em conhecimento (o
que muitas vezes na prática não é muito perceptível). Segundo DAVENPORT
e PRUSACK (1998), um dado é transformado em informação que é
transformada em conhecimento, e essas transformações podem acontecer de
várias maneiras diferentes, como veremos a seguir.
68
Um dado é apenas um conjunto de fatos objetivos, é um conjunto
discreto de dados. Um dado está geralmente guardado numa estrutura de
dados como um banco dados que armazena, por exemplo, transações das
empresas. Já a informação pode ser considerada um dado que faz diferença.
Diferentemente de um dado, a informação tem um significado.
Transformamos um dado em informação adicionando valor a esse dado.
Adicionamos esse valor na transmissão dos dados de um emissor para um
receptor. E podemos adicionar valor a esse dado de várias maneiras.
Vamos considerar algumas delas:
• Contextualização: sabemos por que motivo o dado foi coletado.
• Categorização: conhecemos as unidades de análise ou os
componentes dos dados.
• Cálculos: os dados podem ter sido analisados matematicamente ou
estatisticamente.
• Correção: erros foram removidos dos dados.
• Condensação: os dados podem ter sido resumidos por meio de
algum formulário.
É importante notar que os computadores podem ajudar a transformar
um dado em informação, mas raramente eles podem ajudar com o
contexto. Os seres humanos também ajudam no processo de categorização,
cálculos e condensação. DRUCKER (1994b) vê a informação como um dado
69
com motivo e relevância, o que é bastante coerente com a linha dos autores
citados acima.
Para transformar uma informação em conhecimento, precisamos da ajuda
do homem, e essa ajuda pode vir de várias maneiras tais como:
• Por comparação: como uma informação sobre alguma situação pode ser
comparada com outras situações conhecidas?
• Por conseqüência: que implicações uma informação apresenta para
gerar decisões e ações?
• Por conexões: como um bit de conhecimento se relaciona com outros?
• Por conversa: a opinião de outras pessoas sobre uma determinada
informação?
Vejamos um exemplo utilizado pelo Prof. Fernando Giorno, do GetGC –
Grupo de Estudos de Tecnologia e Gestão de Conhecimento da PUC-SP -,
para melhor ilustrar a diferença entre dado, informação e conhecimento .
O número 3 é um apenas dado;
3 foguetes é uma informação;
3 foguetes podem explodir um prédio já é um conhecimento.
DAVENPORT e PRUSACK (1998) colocam bem que conhecimento e
decisões geralmente residem na cabeça das pessoas e é difícil traçar um
caminho entre conhecimento e ação. Como o conhecimento é um conceito
70
complexo, eles sugerem o estudo de alguns componentes principais do
conhecimento como: experiência, verdade, julgamento e referências positivas.
DAVENPORT e PRUSACK (1998) sugerem alguns princípios para gestão
de conhecimento:
• Conhecimento é criado e reside nas mentes das pessoas;
• Compartilhar conhecimento requer confiança;
• Tecnologia possibilita novos comportamentos do conhecimento;
• Compartilhar conhecimento deve ser encorajado e recompensado;
• Apoio gerencial e recursos são essenciais;
• Iniciativas de conhecimento devem começar com algum projeto piloto;
• Métodos quantitativos e qualitativos devem são necessários para avaliar
a iniciativa;
• Conhecimento é criativo e deve ser encorajado para ser desenvolvido de
forma inesperada.
Esses princípios na prática podem ser exemplificados pelas ações
desenvolvidas pelo programa virtual de trabalho em equipe da British
Petroleum. Seguem abaixo, as ações correspondentes aos princípios citados
por DAVENPORT e PRUSACK (1998):
• Membros de comunidades de conhecimento foram identificados e então
ligados por meio de tecnologia;
71
• Relacionamentos foram construídos com eventos presencias e eventos
virtuais onde as pessoas pudessem se ver;
• Tecnologia era usada para comunicação e colaboração. Os
treinamentos enfatizavam objetivos e não produtos ou software;
• A alta gerência e os treinamentos enfatizavam a importância de novos
comportamentos;
• A alta gerência iniciava os projetos e liberava os recursos necessários
(tanto pessoas como dinheiro);
• Cinco grupos de teste foram criados com objetivos bem claros;
• A economia gerada e o aumento de produtividade eram quantificados; o
uso de recursos de vídeo foi expandido e o entusiasmo dos participantes
fornecia a medida qualitativa;
• Apesar dos grupos terem objetivos bem definidos, o projeto deixava
espaço para pontos inesperados.
Segundo DAVENPORT(1994), em um ambiente empresarial, estudos
mostram que gerentes obtêm 2/3 de suas informações e documentos de
contatos pessoais ou telefônicos e apenas 1/3 são originados em documentos.
Fica claro, portanto que apesar da ajuda da tecnologia, o relacionamento
humano é fundamental para gestão do conhecimento que envolve questões
como a criação do conhecimento, sua transferência e sua utilização no dia-a-
dia.
Falando de sua utilização no dia-a-dia, um dos desafios comuns que
ocorrem quando uma instituição decide desenvolver um projeto de gestão de
72
conhecimento é como conseguir codificar o conhecimento obtido. De que
maneira codificar? Vale realmente a pena codificar este conhecimento?
Partindo do princípio que 2/3 das informações e documentos obtidos pelos
gerentes venham de comunicação humana, seja pessoalmente ou por telefone,
precisamos de alguma forma, conseguir engajar estas pessoas em qualquer
iniciativa. Vale mencionar que em nossa sociedade atual, as pessoas mudam
de emprego e de empresa com uma volatilidade muito maior que antigamente.
Essa mudança de emprego pode ser causada por novas oportunidades em
outras empresas ou em concorrentes, ou, por exemplo, pelo início de um
negócio próprio. Meu foco não é descobrir o rumo destas pessoas, mas
simplesmente ressaltar que, independentemente da causa da mudança de
emprego, essa mudança pode fazer com que pessoas que tinham um
conhecimento valioso dentro de uma organização possam levar consigo este
conhecimento, deixando de compartilhá-lo com seus colegas de trabalho de
sua ex-organização. Se analisarmos organizações onde a taxa de mudança de
emprego das pessoas é alta, esta nova questão também deverá ser tratada.
Embora tenhamos claro que a importância da comunicação humana para obter
conhecimento por parte dos gerentes é fundamental, essa comunicação só se
realizará se o gerente souber quem ele deve perguntar ou procurar para obter
a informação desejada. E saber numa organização quem é a pessoa que
poderá ajudar-nos com a informação que precisamos no momento em que
precisamos, já nos remete a questão de termos desenvolvido um conhecimento
da rede social da instituição: o que pode levar algum tempo. Fica cada vez
mais claro que a questão da mudança de emprego nas organizações preocupa
73
e que a gestão de conhecimento pode, de alguma forma, contribuir para
minimizar a saída de conhecimento da empresa.
Uma tentativa de minimizar o problema é uma codificação de
conhecimento e a coordenação dessas iniciativas na organização.
DAVENPORT e PRUSACK (1998) colocam que o objetivo de codificar o
conhecimento de uma organização é colocá-lo de uma forma tal que possa ser
utilizado por aqueles que precisam. Codificar o conhecimento não significa
necessariamente transformá-lo em códigos digitais utilizado pelos
computadores. Esse conhecimento pode ser organizado para facilitar sua
recuperação. Como nossa sociedade utiliza o potencial da computação para
auxiliá-la em diversas atividades, muito possivelmente esta codificação passe
para o ambiente digital. Um exemplo de codificação interessante foi o
surgimento de sistemas legais em CD-ROM. A agilidade e praticidade de um
advogado poder acessar as leis no CD-ROM agilizaram bastante o acesso à
legislação, mas nem por isso descaracterizou o nobre trabalho de juízes e
advogados. O conhecimento tácito desses profissionais continua sendo
fundamental na utilização e aplicação das leis para um julgamento correto. O
que a codificação trouxe junto com a tecnologia foi apenas facilitar esse
trabalho. Um primeiro desafio nesse processo de codificação é como codificar
o conhecimento sem perder suas propriedades e transformá-lo apenas em
dados digitais. Podemos destacar alguns princípios básicos para a codificação
de conhecimento numa organização que podem ajudar. São eles:
1. Gerentes devem decidir para que objetivos servirão os
conhecimentos codificados (por exemplo, uma organização que
74
estrategicamente deseja se aproximar do seu consumidor final deve escolher codificar o conhecimento existente sobre seus clientes);
2. Gerentes devem ser capazes de identificar os conhecimentos existentes nos seus respectivos formatos para atingir os objetivos desejados;
3. Gerentes do conhecimento devem saber avaliar a utilidade do conhecimento a ser codificado;
4. Os codificadores devem identificar a mídia apropriada para a codificação e distribuição do conhecimento. (DAVENPORT e PRUSACK, 1998, p. 69) *
É importante ter claro também que é inútil e impensável codificar todo
conhecimento de uma organização. É preciso saber eleger prioridades
baseado nos princípios acima citados. A utilidade e a usabilidade do
conhecimento a ser codificado são fundamentais. A Honda, por exemplo,
mantém registros de idéias de desenvolvimentos fracassados porque ela
reconhece que essas idéias poderão ser bem utilizadas no futuro. Essas idéias
são reconhecidas e preservadas. De qualquer maneira, um projeto de gestão
de conhecimento necessita de objetivos claramente definidos e não pode
apenas deixar conhecimento disponível de uma alguma forma na organização.
A codificação do conhecimento também é um processo complexo, pois
envolve transformar conhecimentos tácitos que residem nas mentes
humanas em conhecimentos explícitos que possam ser documentados de
alguma forma, seja no papel, num documento digital, numa gravação, em uma
foto etc...
________________________________________________________________________ * Do original em inglês: “ 1. Managers must decide what business goals the codified knowledge will serve (for
example, firms whose strategic intent involves getting closer to the customer may choose to codify customer knowledge).
2. Managers must be able to identify knowledge existing in various forms of appropriate to reaching those goals.
3. Knowledge managers must evaluate knowledge for usefulness and appropriateness for codification.
4. Codifiers must identify an appropriate medium for codification and distribution.”
75
O conhecimento tácito é pessoal, específico ao contexto e, assim difícil de ser formulado e comunicado. Já o conhecimento explícito ou “codificado” refere-se ao conhecimento transmissível em linguagem formal e sistemática. (POLANYI, 1966, apud NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p. 65)
Muitos conhecimentos são difíceis de serem explicitados como, por
exemplo, o processo mental humano que leva uma pessoa à tomada de
decisão. Vale relembrar que DAVENPORT e PRUSACK (1998) colocam que
numa tomada de decisão, por exemplo, as pessoas levam em conta
experiência, verdade, julgamento e referências positivas.
Nas redes informais de pessoas presentes nas organizações ocorrem
conversas informais na hora do café ou conversas no dia-a-dia. São
momentos informais onde conhecimentos tácitos, que residem na mente
humana podem ser compartilhados e debatidos pelas pessoas. Nessas
conversas nada está sendo registrado explicitamente. Pode sim estar sendo
gravado na mente das pessoas, mas não será necessariamente explicitado em
algum outro meio físico.
WEICK (1995) coloca o valor das narrativas como um ponto importante.
Quando pensamos em codificar conhecimentos tácitos realmente faz sentido.
WEICK (1995) coloca que uma resposta que preserve plausibilidade e
coerência, que seja razoável e memorável, que englobe experiências passadas
e expectativas, que envolva outras pessoas, que possa ser construída
retrospectivamente e usada devidamente, que capture sentimentos e
pensamentos, que seja divertida de ser construída, enfim uma resposta com as
76
características citadas acima, é o que se faz necessário para que uma boa
história faça sentido. Sendo assim, uma boa narrativa é essencial na
codificação de conhecimento. Quando algum ex-combatente discorre sobre
histórias de guerra, descrevendo a realidade das trincheiras é uma forma
efetiva de comunicação com conhecimento. Envolve uma rica e complexa
compreensão de uma situação num determinado contexto humano.
Sendo assim, um conhecimento será provavelmente melhor absorvido pelos
ouvintes caso ele transmita também sentimento e seja colocado num contexto
comum compartilhado com a audiência. É, portanto bastante claro que a
participação humana nas redes de pessoas contribui bastante para dar o
contexto adequado e facilitar a disseminação de um determinado
conhecimento para a platéia. Será que ao codificarmos esse conhecimento
tácito em conhecimento explícito conseguimos dar esse contexto? Algumas
tecnologias utilizadas como repositório de conhecimento explícito nas
organizações são intranets e portais corporativos. Essas redes digitais exigem,
portanto, muito planejamento e organização na sua implementação e seria
importante que elas conseguissem dar contexto adequado para seus leitores.
Com a proliferação e popularização dessas tecnologias, é fundamental que
consigamos de alguma forma, fazer com que esse contexto seja explicitado de
forma clara e adequada, para o entendimento do conhecimento por parte do
leitor. Se o conhecimento explicitado estiver, por exemplo, no formato de um
vídeo digital ou vídeo VHS, a emoção e o contexto provavelmente facilitarão a
compreensão. Agora se tivermos apenas no formato de texto digital, como
fazer para transmitir esse contexto? Essa é uma grande preocupação que
tenho. O método de comunicação RCPTIA, proposto no capítulo V,
77
apresenta uma proposta para contribuir e facilitar a transmissão desse
contexto com objetivo de aumentar a capacidade de compreensão do
leitor.
Nosso modelo dinâmico da criação do conhecimento está ancorado no pressuposto crítico de que o conhecimento humano é criado e expandido através da interação social entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. Chamamos essa interação de “conversão do conhecimento”. Não podemos deixar de observar que essa conversão é um processo “social” entre indivíduos, e não confinada dentro de um indivíduo. (NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p. 67)
Para iniciar um processo de codificação do conhecimento, é
interessante ter um mapa de conhecimento atual da organização. E por onde
começar? DAVENPORT e PRUSACK (1998) sugerem que seja feito um mapa
de conhecimento que aponte tanto para pessoas como para documentos.
Dessa forma fica possível localizar na organização as pessoas e os
documentos necessários para obter um determinado conhecimento. O
principal benefício para as pessoas é saber onde buscar o conhecimento
desejado. Esse mapa também permite a organização perceber suas forças de
conhecimentos e também detectar conhecimentos que estão carentes na
organização. Serve como um guia para saber o estado atual da organização
em relação ao conhecimento. Eles descrevem o caso de criação de mapa de
conhecimento baseado em pessoas realizado na equipe de desenvolvimento
de sistemas da Microsoft em 1995 no projeto batizado “SPUD – Skill Planned
Under Development”. O objetivo do projeto era permitir colocar as pessoas nos
cargos e funções mais apropriados para elas e montar equipes de acordo com
esses perfis. Dessa forma, as pessoas saberiam quais os conhecimentos
78
desejados para desempenhar aquela função e, portanto, poderiam
naturalmente procurar estudar e se aperfeiçoar a partir das informações
passadas pelo mapa de conhecimentos definido. Esse aperfeiçoamento das
pessoas poderia acontecer tanto internamente como fora da empresa. A
implementação do projeto na Microsoft foi dividida em cinco grandes fases:
1. Desenvolvimento da estrutura de conhecimento baseada nos tipos de
competências e seus respectivos graus de proficiência.
2. Definição do conhecimento necessário para cada cargo existente.
3. Avaliação dos funcionários nos seus respectivos cargos através das
competências de conhecimento determinadas para aquele cargo.
4. Implementação de um sistema on-line com mapa de competências de
conhecimento da empresa.
5. Integração desse mapa de conhecimento aos programas de treinamento
para que as pessoas possam aprender ou aumentar seus
conhecimentos para desempenhar melhor suas atividades.
O projeto de mapa de conhecimentos implementado na Microsoft
mostra que a empresa valoriza o conhecimento e estimula a aprendizagem das
pessoas. O mapa de conhecimento está disponível num sistema que é
facilmente consultado pelos gerentes. Quando eles têm uma necessidade de
montar uma equipe para um determinado projeto, eles fazem uma consulta
baseada nas competências definidas e o sistema apresenta uma lista das
pessoas mais adequadas.
79
Além da codificação de conhecimento, DAVENPORT e PRUSACK
(1998) também destacam a importância de uma cultura de transferência e
compartilhamento de conhecimento como fator fundamental. Depois de
abordar tanto codificação do conhecimento como a criação de um mapa de
conhecimento baseado em competências, o próximo passo é fazer com que a
transferência de conhecimento entre as pessoas aconteça. Como uma
organização pode transferir conhecimento de maneira efetiva? Uma resposta
imediata pode ser contratar profissionais capacitados e inteligentes, e colocá-
los para conversar. Mas essa segunda parte não é tão simples e fácil de
acontecer, pois envolve não somente as relações humanas como também a
estrutura organizacional da empresa. Muitas vezes, ótimos profissionais são
contratados e alocados em tarefas onde ficam isolados e não sobra tempo para
conversarem e integrarem com outras pessoas na empresa. Mas caso esses
profissionais tenham tempo para discutir idéias e conversar, de nada adianta
se eles não usarem uma mesma linguagem comum onde se compreendam.
A linguagem é sem dúvida um ponto fundamental para isso.
De forma gerenciada ou não, a transferência de conhecimento ocorre
nas organizações, quando um colega solicita ajuda a outro. Isso é muito
comum de acontecer com pessoas que trabalham próximas num mesmo setor.
Mas acontece localmente. Será que esta pessoa do setor era a mais adequada
para passar o conhecimento correto? Não existiriam outras pessoas mais
qualificadas na empresa, que entendessem melhor do assunto para transferir o
conhecimento solicitado? Quanto maior a empresa, maior a chance de não
conseguirmos encontrar a pessoa certa para nos passar os conhecimentos
80
necessitados. DAVENPORT e PRUSACK (1998) descrevem o caso de
sucesso de um consórcio formado por duas empresas de alta tecnologia no
Texas, Estados Unidos: a MCC – Microeletronics and Computer Corporation e
a Sematech. A primeira razão de sucesso para a transferência de
conhecimento veio da estrutura organizacional e de recursos humanos. O
depoimento dos funcionários mostra claramente que apesar de existirem
documentos, banco de dados de documentos, intranet e aplicativos de
groupware, os encontros pessoais face a face e o papel desempenhado pela
pessoa que convida um palestrante de fora para encontros de pesquisa são os
fatores que fomentam a transferência de conhecimento.
Conhecimentos tácitos e complexos geralmente são difíceis de serem
transmitidos dos criadores para o resto da empresa. Com esse cenário
detectado, a Sematech começou a fazer um rodízio de profissionais que
passam a atuar em diferentes funções na organização. Passam um ou dois
anos na criação de novos produtos e depois são transferidos para outras áreas.
No Japão, por exemplo, é comum executivos de engenharia serem transferidos
da área de criação de novos produtos para a área de produção. Com a
mudança de área, os profissionais conseguem enxergar e compreender todo o
processo desde o desenvolvimento de um novo produto até sua produção na
fábrica. Essa é uma forma de fazer com que as organizações facilitem a
transferência de conhecimento, pois as pessoas passam a compreender as
dificuldades de outros colegas de outras áreas e, portanto ajudá-los na
transferência de conhecimento.
81
Para DAVENPORT e PRUSACK (1998), a transferência de
conhecimento pelas conversas pessoais face a face é fundamental. Algumas
teorias de administração ultrapassadas descrevem as conversas do café ou do
bebedouro como inúteis; o que não é verdade. Quando as pessoas enfrentam
alguma dificuldade ou problema, elas precisam conversar com outros colegas
para terem novas idéias e resolver os problemas e o momento do café é
importante para isso. Isso não quer dizer que ao obter um conhecimento
importante de algum cliente, as pessoas devam ir ao café e esperar as outras
chegarem para contar. Essa transferência de conhecimento deve ser passada
em encontros formais propiciados pela estrutura organizacional. O momento do
café existe para que as pessoas possam também trocar idéias de forma
espontânea, e assim explorar o potencial mental das pessoas para gerarem
novas idéias ou solucionarem velhos problemas de maneira inesperada. Outra
situação inibidora da transferência informal de conhecimento acontece quando
empresas decidem implementar equipes virtuais de vendas, por exemplo, que
passam a trabalhar em casa. Essa flexibilidade de horário e local de trabalho
reduz e elimina sensivelmente os encontros dessas pessoas com colegas de
trabalho. Algumas empresas como a IBM, ao permitirem que pessoas
trabalhem em casa ou no cliente sem ter necessidade de passar na empresa,
perceberam que inibiram a transferência de conhecimento entre elas e outras
pessoas da organização. Preocupados com a questão, alguns gerentes
implementaram formas de não perder esse contato ao instruírem as pessoas,
que não trabalham na sede, a terem pelo menos um dia fixo onde estarão no
escritório e orientá-los para a utilização do telefone e de ferramentas
computacionais para suprir esta lacuna.
82
DAVENPORT e PRUSACK (1998) descrevem que muitas empresas
japonesas instituem as salas de conversa como local para o encontro de
pessoas para encontros informais e inesperados. A Daí-Ichi Pharmaceuticals é
um exemplo. Lá existem salas com chá verde onde os pesquisadores se
encontram. Os pesquisadores têm que passar pelo menos 20 minutos por dia
nessas salas, onde não são agendadas conversas formais. É um espaço
dedicado para a troca espontânea de conhecimentos entre eles.
DAVENPORT e PRUSACK (1998) também destacam o alinhamento da
cultura organizacional da empresa como um ponto importante para fomentar a
transferência de conhecimento. Eles descrevem uma experiência observada
durante a implementação de um repositório de conhecimento utilizando o
software Lotus Notes, numa grande empresa japonesa do setor financeiro. Um
dos membros da equipe disse claramente que a cultura deles não era de
explicitar o conhecimento residente em suas mentes. Um dos relatos desta
experiência exemplifica a questão:
Quando trocamos informações é depois no trabalho, nos encontros para jantarmos e tomarmos uns drinks. Sabemos que a empresa é global e que o Notes pode nos ajudar, pois não temos como encontrar pessoalmente nossos colegas. Mas isso é difícil para nós. (relato apud DAVENPORT e PRUSACK, 1998, p. 92) *
_______________________________________________________________ * Do original em inglês: A third team member commented that, “When we share information it is after work over drinks and dinner. We would like for Notes to take over some of these functions, since we are a global company and everyone cannot meet face to face. But it will be difficult.”
83
DAVENPORT e PRUSACK (1998) destacam alguns inibidores da cultura
de transferência de conhecimento e sugerem algumas possíveis ações:
Inibidores Possíveis soluções
Falta de confiança. Incentivar a criação de relacionamentos
e confiança com encontros face a face.
Diferentes culturas, vocabulários e
quadros de referência.
Nivelamento de conhecimento por meio
de educação, discussões, publicações,
integração de equipes e rodízio de
funções.
Falta de tempo e de locais de
encontro; idéia errada de
produtividade no trabalho.
Estabelecimento de horários e lugares
para transferência de conhecimento
como feiras, salas de conversa e
relatórios de conferências e palestras.
Status e premiação dos proprietários
do conhecimento.
Avaliar desempenho e dar incentivos
para aqueles que compartilhem
conhecimento.
Falta de capacidade e resistência à
absorção de novos conhecimentos.
Educar os empregados para serem
mais flexíveis; disponibilizar tempo para
as pessoas estudarem e aprenderem;
contratar pessoas abertas a novas
idéias.
Crença de que o conhecimento é
prerrogativa de alguns grupos
determinados e síndrome de
Incentivar acesso não hierárquico ao
conhecimento; qualidade das idéias é
mais importante do que o status da
84
conhecimento não criado (não
inventado) aqui.
pessoa que teve a idéia.
Intolerância frente a erros ou
necessidade de ajuda.
Aceitar e recompensar por erros
criativos e colaboração; não deve haver
perda de status por não saber tudo.
Tabela 1: Inibidores da cultura de gestão de conhecimento e possíveis soluções Fonte: (DAVENPORT e PRUSACK, 1998, p. 97).
NONAKA e TAKEUCHI (1997) apresentam uma abordagem bastante
significativa para a área de gestão de conhecimento e também colocam a
importância do contexto tanto em ambientes físicos com presença do contato
humano como em ambientes virtuais. Eles afirmam que conhecimento,
diferentemente de informação, se baseia em crenças e comprometimento. O
poder do conhecimento para organizar, selecionar, aprender e julgar vem tanto
de valores e crenças como de informações e lógica.
KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) apresentam o conceito de
capacitação para o conhecimento como o conjunto total de atividades
organizacionais que promovem a criação de conhecimento – e demonstram
como transformar conhecimento em iniciativas de criação de valor. Eles usam o
termo capacitação para o conhecimento ao invés de gestão de conhecimento
porque o termo gestão implica em controle de processos e favorece um
gerenciamento mais intenso que não é benéfico para processos de criação de
conhecimento. Já a capacitação para o conhecimento deve facilitar
relacionamentos e conversas, assim como o compartilhamento de
conhecimento. Ela depende de um novo senso de conhecimento e de solicitude
85
emocional na organização, valorizando a maneira como as pessoas se
relacionam e estimulando a criatividade. Eles identificam cinco capacitadores
do conhecimento:
• Instilar a visão do conhecimento.
• Gerenciar as conversas.
• Mobilizar os ativistas do conhecimento.
• Criar o contexto adequado.
• Globalizar o conhecimento local.
Segundo (WITTGENSTEIN apud KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001)
em geral o conhecimento depende dos olhos do observador e confere
significado ao conceito pela maneira como se utiliza.
Primeiro, KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) assumem que o
conhecimento é uma crença verdadeira e justificada, e que as pessoas
justificam a veracidade de suas crenças com base nas observações do mundo.
Observações essas que dependem de um ponto de vista único, da
sensibilidade pessoal e da experiência individual. Percebemos uma
concordância com o pensamento de MATURANA e VARELA (2004) quanto ao
ponto de vista único do observador. Nessa linha, eles afirmam:
Portanto, quando se cria conhecimento, interpreta-se uma nova situação, desenvolvendo crenças comprovadas e comprometendo-se com elas. Conforme essa definição, o conhecimento é uma construção da realidade, e não algo verdadeiro de maneira abstrata ou universal. (KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001, p.15)
86
Segundo, KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001), o conhecimento é
explícito e tácito. Conhecimento explícito é aquele pode ser facilmente
transportado para uma mídia como o papel ou arquivo digital. Esse
conhecimento pode ser facilmente compreendido pelo leitor. Já o conhecimento
tácito que reside na mente das pessoas é muito difícil de ser explicitado
claramente para que outros compreendam. Essa forma de conhecimento se
vincula aos sentidos, à capacidade de expressão corporal, à percepção
individual, às experiências físicas, às regras práticas e à intuição. Um exemplo
é a interpretação de um complexo gráfico sísmico de uma reserva de petróleo
que exige conhecimentos que não estão nos manuais e que não são
transmitidos com facilidade aos novatos. Os autores colocam como grande
desafio das empresas de conhecimento a utilização desses conhecimentos
tácitos na prática, de maneira útil em situações de negócio. Criar condições
para que isso aconteça e não deixar esse conhecimento sem utilização,
também é bastante importante.
Terceiro ponto é que a eficácia da criação de conhecimento depende de
um contexto capacitante, isto é, um espaço compartilhado que fomente novos
relacionamentos. Eles afirmam:
Com base na idéia japonesa de ba (ou lugar), tal contexto organizacional pode ser físico, virtual, mental – ou mais provavelmente todos os três. Essa definição de contexto se relaciona com dois pontos anteriores: o conhecimento é dinâmico, relacional e baseado na ação humana; depende da situação e das pessoas envolvidas, e não de verdades absolutas e de fatos tangíveis. (KROGH, ICHIJO e NONAKA 2001, p. 16)
87
Eles colocam que em situações reais nas organizações, as pessoas
formam equipes para a criação de um novo produto. As pessoas envolvidas
neste processo dão idéias sobre necessidades dos clientes, utilização de novas
tecnologias. Ao compartilhar o conhecimento tácito de cada membro da equipe,
chega-se a um consenso para a criação de um novo conceito de produto. A
partir daí, a equipe usa conhecimentos explícitos tais como pesquisas de
mercado e estudos de marketing para justificar o conceito criado. Na próxima
etapa, um protótipo é criado. A partir desse momento a equipe compartilha com
outras áreas da organização seu produto e passa a receber feedback sobre o
mesmo. Nesta fase todos passam por um nivelamento do conhecimento. Cada
indivíduo passa sua impressão e feedback sobre o produto. Quando o faz,
está na verdade justificando suas próprias crenças frente aos colegas. É um
processo de justificativa, persuasão, explicação e coesão humana que
transforma o conhecimento humano em um processo social e individual.
KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) reforçam também a importância da
relação entre a criação de conhecimento e os cinco capacitadores para o
conhecimento como fundamental. Esses capacitadores contribuem para
derrubar barreiras de comunicação e facilitam o compartilhamento de
informações nas organizações permitindo diminuir as diferenças de
conhecimento existentes entre as pessoas. Bons relacionamentos entre as
pessoas são fundamentais por derrubarem barreiras de desconfiança e medo,
eliminando assim tanto barreiras pessoais como organizacionais.
88
O primeiro capacitador “Instilar a Visão” permite que todos tenham uma
visão clara da importância do conhecimento para a organização e legítimas
iniciativas de criação de conhecimento em toda a empresa.
O capacitador para o conhecimento apresentado como “Gerenciar
conversas” assume papel importante nesta questão por incentivar os
relacionamentos entre as pessoas e dessa forma contribuir para que elas
estejam abertas para colaborarem num processo de criação de novo
conhecimento ou de novo produto. Um caso prático descrito por KROGH,
ICHIJO e NONAKA (2001) acontece na Unilever, empresa multinacional de
produtos de consumo. A empresa percebeu que a inovação está ligada à
participação de equipes interdisciplinares que assumem atitudes prestativas e
colaborativas. Conversas eficazes em que as pessoas assumem posições
prestativas e solícitas proporcionam um maior grau de criatividade e
conseqüentemente facilitam o fluxo de idéias. Na Univeler, esta abordagem
incentivando relacionamentos e conversas entre as pessoas das equipes de
desenvolvimento de produtos aliada aos eventos sociais planejados, resultaram
no lançamento de vários produtos culinários de sucesso.
O capacitador “Mobilizar os ativistas do conhecimento” está bastante
ligado às pessoas que lideram e coordenam processos de criação de
conhecimento. Aos chamarmos essas pessoas de ativistas do conhecimento,
podemos descrever que seu papel não apenas inspira comunidades como
também fomenta a sinergia de diferentes grupos e equipes que eles
89
coordenam. Eles têm o poder de ativar idéias e ajudar os grupos a alinharem
suas idéias com a visão geral da organização.
O capacitador “Criar o contexto adequado” apresenta a relação das
estruturas disponibilizadas pela organização com a valorização do
conhecimento. O desenvolvimento desse contexto capacitante deve-se
fundamentar na solicitude dentro da organização. A criação do contexto
adequado afeta todas as cinco fases de criação do conhecimento enfatizadas
por KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001):
1 - compartilhamento do conhecimento tácito
2 - criação de conceitos
3 - justificação de conceitos
4 - construção de protótipos
5 - nivelação do conhecimento.
Um fator essencial a ser lembrado é que o conhecimento,
diferentemente das informações e dos dados, depende do contexto.
O último capacitador, “globalizar o conhecimento local”, enfatiza a
disseminação do conhecimento pelos diversos níveis organizacionais e é
importante quando a criação e a utilização do conhecimento estão segregadas
no espaço e no tempo.
90
Vale recordar que as cinco fases da criação de conhecimento foram
propostas anteriormente por NONAKA e TAKEUCHI (1997).
Figura 8 As 5 fases da criação de conhecimento. Fonte: (NONAKA e TAKEYCHI, 1997, p. 96)
Barreiras organizacionais
Derrubar barreiras de comunicação nas organizações é um aspecto que
procuro contemplar quando penso no método de comunicação RCPTIA que
será detalhado no capítulo V. É importante que o método RCPTIA contribua de
alguma forma para diminuir ou eliminar algumas barreiras que veremos a
seguir.
91
Os capacitadores acima descritos são fundamentais para a eliminação
de barreiras. KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) alertam os gerentes
envolvidos no planejamento e na implementação de projetos de capacitação
para o conhecimento para ficarem atentos às barreiras de resistência à criação
de conhecimento. Eles separam as barreiras como pessoais e organizacionais.
Apesar de classificá-las de maneira separada, elas se relacionam e é
importante conseguir derrubá-las para que os projetos sigam em frente e a
cultura de criação de conhecimento possa ser instalada.
O modo de operação de uma organização já é uma barreira inicial. A
organização está acostumada a trabalhar seguindo normas e procedimentos já
definidos. Os gerentes devem seguir estas normas e procedimentos e orientam
suas equipes a fazerem o mesmo. Naturalmente esse modo de operação
segue o paradigma vigente dentro da empresa e busca garantir maior eficiência
na operação da organização. Geralmente, essas normas e procedimentos
surgiram de experiências e soluções passadas que se mostraram eficientes.
Portanto, novas idéias e mudanças frente a essa cultura formam uma primeira
barreira natural. Qualquer pessoa que queira justificar alguma nova idéia que
vá contra ou que desvie algum procedimento vigente possivelmente enfrenta
grandes resistências. Com isso o esforço para justificar e ratificar essa
mudança possivelmente é grande e envolve uma boa dose de determinação e
auto-estima da pessoa que conduz essa iniciativa. Caso essa pessoa
apresente algumas barreiras pessoais, ela será facilmente desmotivada pelo
grupo que pensa de maneira tradicional e que deseja manter a organização
sem esta mudança. Vemos assim que naturalmente a integração e a soma de
92
barreira organizacional e pessoal surgem na prática. Justificar essa nova idéia
baseado na crença pessoal para atingir o objetivo de mudança de um
procedimento ou de uma norma já estabelecida é, portanto, um desafio interno
enfrentado por muitas pessoas nas organizações. Ao tentar justificar esta
mudança com suas crenças pessoais, as pessoas geralmente são tratadas
com ceticismo, pois elas estão manifestando idéias contraditórias à cultura
vigente.
Os paradigmas de uma organização são formados pela sua missão,
visão e por seus valores essenciais. Segundo (PRAHALAD e BETTIS apud
KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001, p. 37), os paradigmas influenciam até
mesmo os objetivos mais prováveis de pesquisas feitas com os empregados,
seja para algum levantamento sobre cliente ou estudo de fornecedores. Esses
paradigmas exercem um poder de influência grande nas pessoas. Geralmente
eles são passados para as novas pessoas que chegam à organização, fazendo
com que elas se alinhem ao pensamento vigente. Os novos entrantes passam
a adotar esses valores como um processo natural de socialização com os
grupos já existentes.
Essa dificuldade em propor mudanças leva muitas pessoas a se
acomodarem e desistirem de colocar novas idéias contraditórias aos
paradigmas. A barreira dos paradigmas, das normas e procedimentos é uma
grande barreira a ser vencida.
93
Mas esses paradigmas têm o poder de fomentar ou de obstruir a criação
do conhecimento. KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) colocam que em termos
de conhecimento, a estratégia e visão da organização se apresentam como um
papel positivo desempenhado pelos paradigmas, sendo que estes determinam
a legitimidade do conhecimento pessoal na organização. O conhecimento
pessoal alinhado com os paradigmas será facilmente aceito. Já aquele que
tentar justificar suas idéias com conhecimentos pessoais não conformistas
enfrentará dificuldades.
A linguagem surge também como outra barreira organizacional. A
criação de uma linguagem comum na organização é um desafio, pois ao
formarmos grupos de pessoas de diferentes áreas, cada uma compartilha seus
conhecimentos na própria linguagem de sua área que nem sempre é
compreendida pelo grupo. A explicitação de um conhecimento tácito não é
trivial e já foi citado anteriormente. Se no ato desta explicitação, uma pessoa
utiliza palavras que são desconhecidas pelos outros, ficará muito mais difícil de
se fazer compreender. Portanto é fundamental utilizar uma linguagem comum
que seja aceitável por membros da comunidade e pela organização em geral.
Outra barreira encontrada é criada com as histórias organizacionais que
constituem a memória organizacional. É comum escutar nas organizações, um
profissional que resiste a proposta de implementação de um novo software
aplicativo em sua área dizer: “Vocês não lembram do fracasso daquele
software que o João tentou implementar alguns anos atrás aqui? Ele já nem
está mais aqui. Essa nova proposta repete exatamente os mesmos erros. Isso
94
não vai dar certo”. Esse é um exemplo claro de uma história que apresenta
uma postura muito negativa frente à criação de novos conhecimentos. Outro
exemplo citado pelos autores é um caso da indústria farmacêutica. No início da
década de 1970, a empresa Monsanto havia feito investimentos em
biotecnologia nos Estados Unidos. Engenheiros químicos contavam histórias
dizendo que esse investimento não havia trazido resultados tangíveis. Dessa
forma, essa história organizacional desestimulou muitos engenheiros a
conduzir esforços na área, voltando suas energias para os processos
farmacêuticos tradicionais. Esses são exemplos de novos conhecimentos que
são tratados como menos legítimos.
Barreiras pessoais
KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) afirmam que executivos que
pretendem integrar projetos de gestão de conhecimento nas suas
organizações, como forma de motivar os funcionários a inovar, devem ficar
atentos às barreiras pessoais existentes. Muitos gerentes presumem que as
organizações são muito pró-ativas: o que nem sempre é verdade. Eles
observaram muitas organizações têm dificuldade em superar as barreiras
individuais ao conhecimento. Eles destacam pelo menos duas barreiras:
95
A criação de conhecimento no nível individual envolve a capacidade de lidar com novas situações, eventos, informações e contextos [...] Por que será que é tão difícil para as pessoas aceitarem ou absorverem novos conhecimentos? Acreditamos que pelo menos duas barreiras individuais – baixa capacidade de acomodação e ameaça à auto-imagem – são capazes de semear tumulto em meio às boas intenções gerenciais. (KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001, p.30-31)
Vale lembrar que KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) definem
conhecimento como uma crença verdadeira e justificada. Segundo
(MATURANA e VARELA apud KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001), uma
pessoa recebe novo estímulo à luz de suas experiências e crenças sobre o
mundo. Conforme vimos no Capítulo II, para os dois biólogos chilenos, a
cognição é o ato criativo de construção de um mundo. As pessoas criam o
mundo, de maneira singular e exclusiva, em função da própria individualidade.
Elas relacionam um novo conhecimento com seus sentidos e suas experiências
anteriores, para poder assimilá-lo.
Segundo (PIAGET apud KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001, p.31), as
pessoas lidam com os impulsos sensoriais por processos gêmeos de
assimilação e acomodação. O cérebro humano pede impulsos do ambiente e o
atual conjunto de experiências de uma pessoa aumenta assim que ela assimila
novos dados. As pessoas interpretam e compreendem o mundo mediante um
processo de assimilação. Um exemplo citado é o caso de uma fábrica
automatizada que emite um sinal de alerta em um painel eletrônico. Os
engenheiros experientes assimilam o sinal e sabem que ele significa um super
aquecimento de uma máquina. A partir desse instante, eles tomam uma ação
necessária para resolver o problema. Mas isso acontece porque eles já foram
anteriormente treinados para tanto.
96
Agora, quando as pessoas se deparam com novas situações para as
quais elas não apresentam uma resposta clara e rotineira, é a acomodação que
aparece como o processo pelo qual as pessoas conferem significado a novos
impulsos, distinguindo-os como algo novo que vai além de seus atuais
conhecimentos. Se uma pessoa não tem uma resposta para uma nova
situação, ela precisará considerar novos elementos para tomar uma decisão.
Quando essa acomodação se torna muito desafiadora, as barreiras individuais
ao novo conhecimento aparecem. Em alguns casos, o resultado pode ser o
desinteresse pela nova situação ou a busca de outras tarefas mais aceitáveis.
Em outros casos, o novo conhecimento pode impor uma ameaça à auto-
imagem. Segundo (POLANYI, 1958, apud KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001,
p.32), no processo de acomodação, as pessoas devem efetuar mudanças em
si mesmas – mudanças existenciais. Desta forma, como conhecimento e auto-
imagem estão diretamente relacionados, uma reação de resistência frente a um
novo conhecimento pode acontecer. Mudanças profissionais também
acarretam mudanças pessoais. Fica mais fácil então compreender uma
resistência natural que as pessoas têm frente a qualquer coisa nova.
Na convivência social nas organizações, tanto barreiras pessoais como
organizacionais acabam se relacionando. Pessoas podem se apresentar às
outras por meio de histórias ou narrativas. Elas contam histórias de sua
carreira, de sua vida, de seus sonhos entre outros aspectos. Pode acontecer
de alguém desejar impressionar as outras contando essas histórias, como
também pode acontecer do ouvinte não se identificar com as histórias, nem
97
com as idéias dessa pessoa. Nesse caso, essas histórias funcionam como
barreiras individuais a novos conhecimentos.
Um outro exemplo prático é a dificuldade que um engenheiro teria de
aceitar que não sabe ou não conhece as inovações tecnológicas propostas por
um entusiástico representante de vendas. Isso acontece porque as pessoas
relutam em aceitar novas idéias oriundas de participantes de outros grupos
com antecedentes diferentes. Apesar da importância que certos projetos
reúnam uma diversidade de pessoas oriundas de grupos diferentes para
trabalharem juntas, essa diversidade de conhecimentos é uma fonte de
criatividade que pode se tornar uma barreira pessoal como visto no exemplo
acima.
Num processo de criação de conhecimento, a preservação da auto-
imagem de uma pessoa pode ser abalada quando essa pessoa passa por
mudanças. Um grupo de trabalho pode reduzir ou aumentar o grau de
participação de qualquer pessoa num projeto. Mas uma pessoa muito bem
aceita numa equipe, ao ser transferida para outra equipe, pode não ser tão
bem aceita, o que pode afetar sua auto-imagem. Essas situações acontecem e
forçam as pessoas a se adaptarem às mudanças.
Como o contexto facilita a integração das pessoas com a organização.
Segundo KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001), os capacitadores para o
conhecimento são fundamentais para eliminação das barreiras descritas
98
anteriormente. Vamos analisar mais detalhadamente a questão da criação de
um contexto capacitante que fomenta a criação de conhecimento nas
organizações. A criação de conhecimento exige bons relacionamentos
pessoais, para que se sintam à vontade e solícitas a colaborar e compartilhar
livremente suas idéias e conhecimentos com os colegas. Vale relembrar que o
desenvolvimento desse contexto capacitante deve fundamentar-se na
solicitude. Um nível mais alto ou baixo de solicitude afeta o processo de criação
de conhecimento. Solicitude em relação aos outros é ajudá-los a aprender,
fomentar seus conhecimentos e compartilhar suas idéias, contribuir para que
se conscientizem quanto a eventos importantes. Ser solícito aparece, por
exemplo, na relação de um professor com um aluno ou na relação de um
gerente com sua equipe. Tanto professor como gerente estão abertos a
compreender as necessidades do outro e prontos para colaborarem. Um
contexto capacitante é um lugar onde se compartilha, se cria e se utiliza
conhecimento, e ele proporciona assim um lugar onde uma rede de interações
é determinada pela solicitude e confiança dos participantes.
WENGER (1998) deixa clara a diferença existente entre contexto
capacitante e comunidade de prática. A comunidade de prática é um lugar
onde as pessoas compartilham e aprendem conhecimentos já existentes numa
determinada área do conhecimento. Os seus integrantes são mais fixos e suas
atuações estão bastante relacionadas com o tema específico trabalhado na
comunidade. Os seus novos integrantes levam algum tempo para se
converterem em participantes plenos. Já os participantes de um contexto
capacitante entram e saem do grupo naturalmente, pois o contexto capacitante
99
tem uma característica imediatista do aqui agora e por isso mesmo deflagra
verdadeiras inovações. KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) ressaltam o papel
dos ativistas do conhecimento como pessoas que catalisam e energizam a
criação de conhecimento num contexto capacitante, onde convivem pessoas
de diferentes níveis da organização. Nesse contexto capacitante ou, ba, as
interações que acontecem entre as pessoas podem ser observadas num fórum
de discussão na Intranet, na troca de e-mails, numa conversa de café, num
retiro estratégico da empresa, em reuniões departamentais ou durante
exercícios de brainstorming. Para se ter uma idéia de como os gerentes podem
criar o contexto adequado, KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) mostram quatro
tipos de interação que contribuem para um contexto geral capacitante,
conforme figura abaixo:
Interações Individuais
Interações Coletivas
CONCEPÇÂO INTERLOCUÇÂO Interações
Face a Face Compartilhamento do conhecimento tácito entre os indivíduos.
Promoção de conversas em grupo para a
formação de conceitos. INTERNALIZAÇÂO DOCUMENTAÇÂO
Interações Virtuais
Reconversão do novo conhecimento explícito
em conhecimento tácito.
Conversão do conhecimento em formas
explícitas.
Figura 9 Interações na Espiral do conhecimento. Fonte: (KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001, p.220)
A espiral do conhecimento, acima apresentada, envolve uma sucessão
de interações de concepção, interlocução, documentação e internalização.
formando um ciclo que vai se repetindo novamente e assim por diante à
medida que novos conhecimentos se mantêm em evolução constante.
100
As interações de concepção são os meios pelos quais os indivíduos
compartilham sentimentos, emoções e experiências. Elas acontecem apenas
mediante relacionamentos face a face onde é possível captar toda a gama de
sensações físicas e reações emocionais necessárias à transferência de
conhecimento tácito. Essas interações utilizam as formas de comunicação
pessoal existentes como expressão verbal, piadas, gestos físicos ou desenhos
em guardanapo, por exemplo.
As interações de interlocução permitem ao grupo compartilhar modelos
mentais e habilidades de cada membro. A interlocução permite que os
participantes se beneficiem com a mistura de racionalidade e intuição que gera
criatividade. Essa interlocução deve ser muito mais planejada do que a
interação de concepção. Os ativistas do conhecimento têm um papel
importante na organização dessas interações por selecionar e combinar
pessoas com diferentes conhecimentos e capacidades específicas para
participarem.
As interações de documentação são tanto individuais como coletivas,
uma vez que o conhecimento explícito é facilmente transmitido a um grande
número de pessoas através de inúmeros aplicativos de colaboração
disponíveis nas redes de computadores das organizações. As interações de
documentação são levadas em conta no método RCPTIA proposto no
capítulo V com objetivo de considerar tanto questões individuais como coletivas
para a recuperação de informações.
101
Finalmente as interações de internalização são individuais e virtuais.
Quando uma pessoa lê um documento ou uma mensagem de e-mail, assiste a
um vídeo da empresa, lê algum artigo na intranet ou em manuais técnicos, ela
passa pelo processo de internalização onde o conhecimento explícito que foi
lido, ouvido ou assistido é internalizado pela pessoa.
Segundo KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001), as quatro interações
descritas refletem as fases do processo de criação de conhecimento. A
interação de concepção se relaciona com o compartilhamento de conhecimento
tácito dentro das microcomunidades. A interação de interlocução aparece na
criação e justificação de conceitos. A interação de documentação é parte da
construção de protótipos. E a interação de internalização corresponde à
nivelação de conceitos. Portanto, de acordo com a espiral ascendente e
contínua, o conhecimento resultante de cada interação acaba sendo
compartilhado e se junta à base de conhecimento da organização. Essas
interações acontecem de forma diferente nas organizações. Umas podem se
basear mais na comunicação via e-mail e outras mais nas conversas face a
face. Cada organização enfatizará mais um estilo de interação e utilizará
diferentes tipos de experiências para formar suas redes de confiança e
obrigação mútuas. Além disso, para que o contexto capacitante esteja coerente
ele deve estar compatível com a estratégia de negócios da organização e para
tanto o contexto deve ser acompanhado de uma estrutura organizacional certa.
102
Contexto capacitante e estrutura organizacional
Percebo que tanto o contexto como a estrutura organizacional
influenciam iniciativas de gestão de conhecimento nas organizações. Desta
forma, conseguir associar contexto a documentos digitais em uma rede de
comunicação, onde documentos sejam gerenciados utilizando o método
RCPTIA me parece bastante importante. Veremos com mais detalhes no
capítulo V como o método RCPTIA permite a utilização de contexto na
recuperação de informações.
Segundo KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001), contexto e estrutura
organizacional são duas coisas diferentes. O contexto capacitante não decorre
simplesmente de uma mudança de organograma. A estrutura organizacional se
enquadra dentro das atividades administrativas de uma empresa. Eles
ressaltam o papel do gerente na implementação de uma nova estrutura
organizacional. Eles colocam claramente que se o contexto capacitante é
definido, em termos amplos, pela qualidade e profundidade das interações dos
participantes, a estrutura organizacional é capaz de inibir ou fomentar essas
interações. As reorganizações mais criativas de nada adiantarão se os
relacionamentos pessoais forem ruins. Para que o processo cíclico das
interações aconteça é importante ter flexibilidade e é preciso ter um equilíbrio
adequado entre flexibilidade e controle organizacional. Os objetivos das
empresas geralmente são bastante claros e buscam tanto eficácia operacional
como inovação para prosperarem na sociedade do conhecimento na qual
vivemos.
103
DRUCKER (1994) afirma que o conhecimento é importante fonte de
poder, sob controle de poucos. DRUCKER (2001b) coloca que os
trabalhadores do conhecimento que ganham cada vez mais espaço na nossa
sociedade são pessoas que atuam como, por exemplo, advogados, analistas
de sistemas, pesquisadores entre outros. A mobilidade social das pessoas em
nossa sociedade está cada vez mais ligada ao conhecimento de cada um. As
pessoas já não passam mais toda sua vida numa mesma organização e a
mobilidade depende de seu conhecimento para poder participar de projetos em
diferentes organizações.
Para KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001), a principal característica do
profissional do conhecimento não é a especificidade de seu trabalho
profissional, mas sim o humanismo. Eles precisam ter uma multiplicidade de
talentos, eles precisam ser pensadores, jogadores de equipe, líderes de
equipe, críticos e ser capazes de tomar decisões com autonomia. Esses
profissionais precisam ao mesmo tempo captar conhecimento de cada um e
convertê-lo em algo que a empresa possa utilizar como novas rotinas, novas
idéias sobre clientes e novos conceitos de produtos.
SVEIBY (1998) propõe visualizarmos uma organização do ponto de vista
do conhecimento e estudarmos como ela desenvolve e gerencia seu
conhecimento. Para tanto, ele divide os ativos de uma organização em ativos
tangíveis e ativos intangíveis. A abordagem de SVEIBY (1998) utiliza os
termos ativos tangíveis e ativos intangíveis de forma bastante marcante,
diferentemente dos outros autores analisados neste capítulo.
104
Baseado em fontes do Morgan Stanley Capital International World Index,
SVEIBY (1998) analisa como o valor intangível das organizações influencia o
valor de mercado de organizações de capital aberto listadas nas bolsas de
valores americana. Ele verifica, por exemplo, que empresas de produtos de
consumo e de higiene pessoal possuem maiores ativos intangíveis do que
empresas do setor imobiliário cuja maioria dos ativos é tangível.
Os ativos tangíveis são aqueles palpáveis como mesas, cadeiras,
computadores, imóveis, dinheiro e que estão presentes nos balanços contábeis
das organizações. Já os ativos intangíveis são aqueles que não são palpáveis
e geralmente têm sua origem no pessoal das organizações. Todos os ativos e
estruturas de uma organização são resultado das ações humanas.
Os ativos intangíveis são constituídos quando pessoas têm idéias e
desenvolvem relações com empresas e outras pessoas. SVEIBY (1998)
classifica os ativos intangíveis em três componentes:
• Competência do funcionário da organização: envolve a capacidade de
agir em diversas situações;
• Estrutura Interna: quando o esforço das pessoas é direcionado para
dentro da empresa. Inclui patentes, conceitos, modelos, sistemas
administrativos e de computadores.
• Estrutura externa: quando o esforço das pessoas é direcionado a
atender aos clientes, cria-se uma relação com os clientes. Inclui relações
105
com clientes e fornecedores, bem como marcas registradas ou
reputação e imagem da empresa.
Segundo SVEIBY (1998), para fazer negócios na era do conhecimento,
é preciso compreender características das organizações do conhecimento, de
seus produtos e de seu gerenciamento. Estatísticas da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) mostram que o setor de
serviços cresceu gradativamente nos últimos anos e tende a continuar
crescendo. Já em 1995, o número de empregos do setor de serviços se igualou
ao número de empregos do setor produtivo nos Estados Unidos.
Segundo (ARTHUR apud SVEIBY, 1998, p. 25-26), na década de 80,
três características dos produtos provenientes da indústria de software do Vale
do Silício:
• O software produzido contém custos de desenvolvimento muito alto e de
produção muito baixo;
• Os clientes valorizam compatibilidade com outros softwares, o que
facilita a venda de “upgrades” e “add-nos”;
• Depois de passarem a dominar um pacote de software, os clientes
relutam em mudar, pois não querem perder tempo aprendendo a
manusear um software novo.
Outra característica importante de produtos do conhecimento é que
mesmo depois de “vender” seus conhecimentos, por exemplo, como num
106
projeto de consultoria, além de você manter com seus conhecimentos,
provavelmente terá aprendido algo de novo com as pessoas envolvidas nesse
processo. Isso é realmente diferente do que vender um aspirador de pó. O
comprador leva o aparelho, o vendedor fica com o dinheiro e pronto. Agora se
o produto em questão é um quarto de hotel, ao alugá-lo, você está sujeito a uso
e desgaste da cama e do quarto. O capital se deprecia com o uso destes. O
conhecimento ao contrário se valoriza.
Tendo entendido características de produtos do conhecimento, se faz
necessário gerenciar uma organização do conhecimento. SVEIBY (1998) diz
que os gerentes terão que entender estes novos produtos e o ambiente em que
eles irão trabalhar. Esses ambientes já foram descritos por muitos como uma
nova e perigosa era da sociedade e foram rotulados de: “a terceira onda”
(TOFFLER apud SVEIBY, 1998, p. 29), “a sociedade da informação” (MASUDA
apud SVEIBY, 1998, p. 30), “a sociedade do conhecimento” (MASUDA apud
SVEIBY, 1998, p.30), “a era pós-capitalista” (DRUCKER apud SVEIBY, 1998,
p.30), “a era virtual” (REINHGOLD apud SVEIBY, 1998, p.30), e “do
conhecimento” (SAVAGE apud SVEIBY, 1998, p.30).
Os gerentes de ontem podiam confiar na fidelidade de seus funcionários.
No futuro não podem mais. Os operadores das organizações do conhecimento
são trabalhadores do conhecimento com alto grau de escolaridade (DRUCKER
apud SVEIBY, 1998, p. 30) e profissionais liberais da reflexão (SCHÖN apud
SVEIBY, 1998, p. 30).
107
Segundo SVEIBY (1998), a produção nas organizações do futuro será
provavelmente muito diferente daquela da produção industrial. Claramente
informação e conhecimento estão adquirindo mais importância. Vivemos em
um mundo no qual os serviços constituem mais de dois terços do produto
nacional bruto (PIB) e dos empregos, por isso devemos mudar nosso
paradigma para algo que possamos chamar de economia do conhecimento ou
de serviço (QUINN apud SVEIBY, 1998, p. 31).
Vejamos, segundo SVEIBY (1998), os princípios da organização do
conhecimento:
Item Visto pelo paradigma
industrial, ou de uma
perspectiva industrial.
Visto pelo paradigma do
conhecimento, ou de uma
perspectiva do
conhecimento.
Pessoas Geradores de custo ou
recurso
Geradores de receita
Base de poder dos
gerentes
Nível relativo na hierarquia
organizacional
Nível relativo de conhecimento
Luta de poder Trabalhadores físicos versus
capitalistas
Trabalhadores do
conhecimento versus gerentes
Principal tarefa da
gerência
Supervisão de subordinados Apoio aos colegas
Informação Instrumento de controle Ferramenta para o recurso da
comunicação
Produção Trabalhadores físicos Trabalhadores do
108
processando recursos físicos
para criar produtos tangíveis
conhecimento convertendo
conhecimento em estruturas
intangíveis.
Fluxo de
informações
Via hierarquia organizacional Via redes colegiadas
Forma básica de
receita
Tangível (dinheiro) Intangível (aprendizado, novas
idéias, novos clientes, P&D)
Estrangulamento
na produção
Capital financeiro e
habilidades humanas
Tempo e conhecimento
Manifestação da
produção
Produtos tangíveis
(hardware)
Estruturas intangíveis
(conceitos e software)
Fluxo da produção Regido pela máquina,
seqüencial.
Regido pelas idéias, caótico.
Efeito do porte Economia de escala no
processo de produção
Economia de escopo das redes
Relacionamento
com o cliente
Unilateral pelos mercados Interativo pelas redes pessoais
Conhecimento Uma ferramenta ou um
recurso entre outros
O foco empresarial
Finalidade do
aprendizado
Aplicação de novas
ferramentas
Criação de novos ativos
Valores do mercado
acionário
Regidos pelos ativos
tangíveis
Regidos pelos ativos
intangíveis
Economia De redução de lucros De aumento e redução de
lucros
Tabela 2 Princípios da organização do conhecimento. Fonte: (SVEIBY, 1998, p. 32)
109
Baseado em POLANYI (1958) e WITTGENSTEIN, SVEIBY (1998)
define conhecimento como uma capacidade de agir e afirma que o
conhecimento não pode ser destacado de seu contexto.
Ele afirma que o conhecimento apresenta quatro grandes
características:
• O conhecimento é tácito;
• O conhecimento é orientado para a ação;
• O conhecimento é sustentado por regras;
• O conhecimento está em constante mutação.
O conhecimento tácito é em grande parte prático. Como ensinar alguém
a sacar num jogo de tênis utilizando apenas palavras?
(POLANYI apud SVEIBY, 1998) desenvolveu sua teoria do
conhecimento tácito no final da década de 1940 e início da década de
1950, vê o conhecimento como algo pessoal, isto é, formado dentro de
um contexto social e individual, ou seja, não é propriedade de uma
organização ou de uma coletividade. O conhecimento não é subjetivo. Embora
pessoal, ele é construído num ambiente coletivo, de forma social. O
conhecimento transmitido socialmente pode se confundir com a experiência
que o indivíduo tem na realidade. E todo indivíduo muda ou adapta seus
conceitos de acordo as novas experiências que ele vive. Podemos dizer que
todo conhecimento possui assim uma dimensão prática.
110
O conhecimento é orientado para a ação e pode ser refletido em verbos
como aprender, esquecer, lembrar e compreender. Adquirir e gerar novos
conhecimentos faz parte de um processo normal de saber. POLANYI (1958)
usa o termo processo de saber, inspirado pela psicologia gestáltica, como um
processo de reunião de pistas fragmentadas, por intermédio de percepções
sensoriais e a partir de lembranças, e agrupamento das mesmas em
categorias. Ao ler algum artigo, por exemplo, fazemos uma associação com um
conjunto de informações ou experiências passadas. Para POLANYI (1958)
esse ato de associação é um ato informal da mente e não pode ser praticado
mediante uma operação formal ou um sistema de inteligência artificial. A
associação de conhecimentos é uma habilidade pessoal, inalienável e
intransferível; cada pessoa deve construí-la individualmente.
O conhecimento é sustentado por regras que estão atreladas ao
resultado de ações. Estas regras podem ser modificadas e também
explicitadas. Estas regras podem ser conscientes ou inconscientes. Ao jogar
tênis, você naturalmente vai segurar a raquete com a mãe esquerda ou direita?
Trata-se de uma ação automática. Criamos em nosso cérebro inúmeros
padrões de regras que utilizamos para lidar com todo tipo de situação
concebível. Mesmo depois de muitos anos sem andar de bicicleta, as regras
voltam automaticamente à cabeça ao darmos umas pedaladas.
O conhecimento está em constante mutação. POLANYI (1958) coloca
que o conhecimento tácito pode ser explicitado por meio da linguagem, mas de
111
qualquer forma o que foi explicitado é apenas uma ponta do iceberg. Ao
explicitar um conhecimento no papel, por exemplo, ele se torna estático.
Primeiro em Tractatus e depois em Investigações Filosóficas,
(WITTGENSTEIN apud SVEIBY, 1998, p. 42) ressalta que o inexpressível
existe. Conceitos intangíveis como tocar, soar ou movimentar-se não
podem ser explicados por meio de palavras, mas somente podem ser
mostrados. A dificuldade de se explicitar o conhecimento tácito fica assim
mais clara. Atualizar o que pode ser explicitado também é uma ação que faz
sentido.
SVEIBY (1998) também considera que o conhecimento ou competência
de um indivíduo consiste em cinco elementos mutuamente dependentes:
• Conhecimento explícito. O conhecimento explícito envolve conhecimento dos fatos e é adquirido principalmente pela informação, quase sempre pela educação formal.
• Habilidade. Esta arte de saber fazer envolve uma proficiência prática – física e mental – e é adquirida principalmente pela reflexão sobre erros e sucessos passados.
• Experiência. A experiência é adquirida principalmente pela reflexão sobre erros e sucessos passados.
• Julgamentos de valor. Os julgamentos de valor são percepções do que o indivíduo acredita ser certo. Eles agem como filtros conscientes e inconscientes para o processo de saber de cada indivíduo.
• Rede social. A rede social é formada pelas relações do indivíduo com outros seres humanos dentro de um ambiente e uma cultura transmitidos pela tradição. (SVEIBY, 1998, p. 42)
112
Economia do conhecimento e o desenvolvimento econômico e
social
Percebo claramente que a gestão de conhecimento nas organizações
considera as interações pessoais e sociais como muito importantes. Essas
interações são fomentadas ou reduzidas de acordo com a estrutura
organizacional. Essa estrutura organizacional pode favorecer ou desfavorecer
uma cultura de criação de conhecimento. Fica também claro que as relações
humanas nas interações envolvem sentimentos, emoções, histórias vividas e
confiança entre as pessoas. Saindo do mundo das organizações, podemos
expandir a gestão de conhecimento para organizações maiores como países.
Vejamos o que o Banco Mundial tem a nos contar a respeito.
O Banco Mundial fez um estudo nos últimos para avaliar o impacto da
economia do conhecimento no desenvolvimento dos países e concluiu que a
aplicação do conhecimento de forma eficaz é um ponto chave para o
crescimento da economia mundial. Com o objetivo de auxiliar países no
desenvolvimento econômico e social, o banco lançou o programa K4D –
Knowledge for development. Também foi criada uma comunidade K4D para
fomentar as bases da economia do conhecimento e também para promover a
troca de experiências entre os interessados.
O K4D utiliza a metodologia de avaliação de conhecimento KAM
(Knowledge Assesment Methodology), desenvolvida pelo World Bank Institute
– WBI (2005), com objetivo de exibir e propor uma aplicação de conhecimento
113
efetiva para o desenvolvimento dos países na era da economia do
conhecimento.
Para ajudar países na articulação de uma política de transição para uma
economia do conhecimento, o programa se estrutura em quatro pilares
fundamentais:
• Política de Incentivo a Economia. Um regime econômico e institucional
que incentive o uso eficiente de conhecimento existente e de novos
conhecimentos assim como o apoio ao empreendedorismo.
• Educação. Uma população educada e hábil que possa criar, para
compartilhar, e usar bem o conhecimento.
• Tecnologia da Informação e Comunicação. Uma infra-estrutura dinâmica
da informação que possa facilitar a comunicação, a disseminação e o
processamento eficaz da informação.
• Inovação. Um sistema eficiente da inovação envolvendo empresas,
centros de pesquisa, universidades, consultorias e outras organizações
que possam enriquecer o crescente conhecimento global, assimilá-lo e
adaptá-lo às necessidades locais, para o desenvolvimento de novas
tecnologias.
A metodologia de avaliação de conhecimento KAM permite aos países
compararem suas economias com a de outros países utilizando um conjunto de
80 variáveis estruturais qualitativas. Desta forma os países podem avaliar mais
facilmente seus pontos fortes e seus pontos fracos e delinearem sua estratégia
114
de desenvolvimento rumo a uma economia do conhecimento. A metodologia
KAM também fornece uma ferramenta, disponível em
http://info.worldbank.org/etools/kam2005/home.asp, que permite fazer esta
comparação com o universo de 128 países pesquisados pelo banco mundial
conforme tabela abaixo:
Countries selected for the Knowledge Assessment
Scorecards
G7
Canada
France
Germany
Italy
Japan
UK
USA
Western
Europe
Austria
Belgium
Cyprus
Denmark
Finland
Greece
Iceland
Ireland
Luxemburg
Netherlands
Norway
Portugal
Spain
Sweden
Switzerland
Developed
Oceania
Australia
New
Zealand
East Asia
China
Hong Kong
Indonesia
Korea
Laos
Malaysia
Mongolia
Philippines
Singapore
Taiwan
Thailand
Vietnam
South Asia
Bangladesh
India
Nepal
Pakistan
Sri Lanka
7 15 2 12 5
115
Europe and
Central
Asia
Albania
Armenia
Belarus
Bosnia and
Herzegovina
Bulgaria
Croatia
Czech
Republic
Estonia
Georgia
Hungary
Kazakhstan
Kyrgyz
Republic
Latvia
Lithuania
Moldova
Poland
Romania
Russia
Serbia and
Montenegro
Slovakia
Slovenia
Tajikistan
Latin
America
and
Carribean
Argentina
Barbados
Bolivia
Brazil
Chile
Colombia
Costa Rica
Dominican
Republic
Ecuador
El Salvador
Guatemala
Haiti
Honduras
Jamaica
Mexico
Nicaragua
Paraguay
Peru
Uruguay
Venezuela
Middle
East and
North
Africa
Algeria
Bahrain
Djibouti
Egypt
Iran
Israel
Jordan
Kuwait
Lebanon
Morocco
Oman
Qatar
Saudi
Arabia
Syria
Tunisia
UAE
Yemen
Sub-
Saharan
Africa
Angola
Benin
Botswana
Burkina
Faso
Cameroon
Cote
D'Ivoire
Eritrea
Ethiopia
Ghana
Kenya
Madagascar
Malawi
Mauritania
Mauritius
Mozambique
Namibia
Nigeria
Senegal
Sierra Leone
South Africa
Sudan
Tanzania
Uganda
Zambia
116
Turkey
Ukraine
Uzbekistan
Zimbabwe
25 20 17 25
Total: 128 countries
Tabela 3 Países avaliados pelo banco mundial utilizando a metodologia KAM. Fonte Banco Mundial. Disponível em http://info.worldbank.org/etools/kam2005/html/countries.htm. Acessada em 13/07/2005.
É interessante verificar a abrangência da pesquisa realizada pelo banco
mundial num universo de 128 países. Essa iniciativa reforça a importância do
conhecimento em nossa sociedade e também a preocupação em mostrar
caminhos para o estabelecimento de novas economias de conhecimento
baseadas na experiência de todos os países pesquisados.
As 80 variáveis estruturais qualitativas utilizadas na comparação
dos países estão divididas pelos quatro pilares fundamentais para uma
economia baseada em conhecimento: Política de Incentivo à Economia,
Educação, Inovação, Tecnologia da Informação e Comunicação.
O banco também desenvolveu um índice chamado de KEI – Knowledge
Economy Index que apresenta a pontuação de um país computando uma
média das 80 variáveis analisadas. Detalhes sobre a metodologia de cálculo do
índice estão disponíveis em:
http://info.worldbank.org/etools/kam2005/html/generic_technical.htm .
117
Vejamos na figura abaixo, o status do Knowledge Economy Index no
mundo baseados nos números disponíveis no banco mundial em 13/07/2005:
Figura 10 Mapa mundial “Knowledge Economy Index” do banco mundial
118
IV. Do livro à Internet: influências do mundo digital na
comunicação, na cognição e na linguagem.
A era digital revolucionou a infra-estrutura de comunicação com bastante
destaque para a Internet. A utilização da Internet no dia-a-dia faz com que
recursos hipermídia sejam cada vez mais utilizados pelas pessoas de maneira
natural. A navegação na Internet utilizando os recursos de hipertexto e
hipermídia já é realidade para a sociedade incluída no mundo digital.
A miniaturização dos computadores e a integração da telefonia celular
com os computadores potencializam ainda mais a utilização da linguagem
hipermídia. Isso acontece tanto para computadores de mesa ou portáteis
quanto para novos aparelhos portáteis móveis como PDAs – Personal Digital
Assistant ou telefones celulares. A comunicação via telefone, historicamente
baseada na linguagem escrito-verbal passa a ser explorada pela linguagem
hipermídia. A nova geração de telefones celulares poderia até ser chamada de
geração de computadores móveis com telefonia, pois a telefonia é apenas um
dos serviços de comunicação disponível. A transmissão de imagens e sons, o
acesso à Internet e serviços já estão disponíveis nesses telefones. Os
telefones celulares são também máquinas fotográficas ou filmadoras digitais.
Eles não apenas registram momentos em formato digital, como também
enviam esse conteúdo hipermídia pelo serviço de telefonia celular. Além disso,
também começam a ser utilizados como aparelho de som portátil, como uma
evolução do “walkman”.
119
É importante constatarmos a mudança da comunicação no meio digital.
A combinação de textos, imagens, sons e vídeos encontra seu espaço na
linguagem hipermídia. SANTAELLA (2001) aborda esses temas de forma
bastante interessante como veremos em seguida.
Acho coerente descrever alguns aspectos históricos para
compreendermos melhor a evolução da linguagem desde a disseminação da
cultura do livro até a chegada da linguagem hipermídia no mundo digital da
Internet. Desde a invenção de Gutenberg, a cultura do livro impresso imperou.
SANTAELLA (2001) descreve a era das letras, estendendo-se do século XV
até o XIX, como sendo aquela onde a linguagem verbal escrita dominou como
produtora e difusora do saber e da cultura. O livro encontrou um espaço
privilegiado nas universidades européias e desempenhou um papel
fundamental tanto no registro como na transmissão do saber humanista e
científico. Ela cita a fotografia como o primeiro golpe na hegemonia do livro e
da cultura das letras. O desenvolvimento da mecanização da impressão
massificou não apenas a quantidade de livros, mas também trouxe a explosão
de jornal e revistas. Fotos e textos começaram a aparecer nos jornais e
revistas assim como a linguagem diagramática. Era o início da cultura das
massas que se desenvolveu mais ainda com o surgimento do cinema, uma
extensão da fotografia.
SANTAELLA (2001) descreve o surgimento de novas tecnologias como
fotocopiadoras e videocassete que representaram uma inovação importante,
como marcada pela passagem de uma cultura das massas para um consumo
120
mais individualizado. Esse consumo individualizado é marcado, por exemplo,
pelo hábito das pessoas alugarem filmes para assistirem em casa.
Com o desenvolvimento dos computadores pessoais com recursos
hipermídia, a criação de conteúdo hipermídia estava apenas começando.
SANTAELLA (2001) define hipermídia como uma nova linguagem que traz
novos modos de pensar, agir e sentir. A hipermídia nasce da convergência
fenomenológica de todas as linguagens como uma síntese das matrizes da
linguagem e do pensamento sonoro, visual e verbal com todos os seus
desdobramentos e misturas possíveis. Novas formas de pensamento linear e
não-linear aparecem numa navegação por sistemas hipermídia. Essa
navegação muitas vezes se dá na leitura de um hipertexto. O leitor passa a
fazer sua leitura na ordem sugerida pela sua mente explorando recursos
visuais, verbais e sonoros na forma que ele desejar. Em cada tela, o leitor
escolhe para onde ir. Esse leitor, ou melhor, esse usuário é quem decide por
onde navegar, num clique de um mouse. É o poder da interatividade que é
disponibilizado pela linguagem hipermídia que permite ao usuário escolher
esse caminho. Ela destaca na hipermídia a necessidade de mapeamento ou de
uma cartografia mental para a navegação, como um grande potencial. Esse
potencial correspondente a modos de pensamento e arquitetura de fluxos
informacionais que podem ser muito bem analisados como na fantástica
hipermídia de autoria de BAIRON e PETRY (2000). Utilizando recursos de
labirinto em ambientes tridimensionais 3D, o usuário é estimulado a entrar
nesse mundo, interagindo com objetos, entrando e saindo do labirinto para ter
acesso aos conceitos que são disponibilizados. O usuário que navega nessa
121
hipermídia pode ser chamado de leitor imersivo. Esse usuário, em busca de
surpresas e segredos a serem desvendados, passa por 64 objetos interativos
que remetem a 30 conceitos de base que os levam aos textos analíticos. Essa
interatividade é descrita como:
Interativo é o sistema que se abre e nos recebe, como uma construção arquitetônica nos recebe. O entorno, Umwelt, aborda-nos e expande nossa compreensão tal como a linguagem: na verdade, premia esta com uma ambientação imaginária... (BAIRON e PETRY, 2000, p. 51)
Na hipermídia de BAIRON e PETRY (2000) cada objeto interativo é
representado por imagens visuais rebuscadas, e remete a um significado.
Significado esse que é interpretado mentalmente por cada usuário que escolhe
o seu caminho de navegação e de leitura da hipermídia para se aprofundar na
questão desejada.
SANTAELLA (2001) destaca alguns diferentes tipos de hipermídia como
os:
• instrucionais: voltados para a solução de problemas;
• ficcionais: incorporam a interatividade na escritura ficcional;
• artísticos: feitos para a produção e transmissão de atividades criativas
para a sensibilidade;
• conceituais: feitos para a produção e transmissão de conhecimentos
teórico-cognitivos.
Assim, o nascimento da linguagem hipermídia define o poder de
hibridização das matrizes da linguagem e pensamentos nos processos de
122
comunicação, segundo SANTAELLA (2004). Impulsionada pela era digital, a
hipermídia encontra nos computadores todo o potencial para manipular textos,
imagens, vídeos e sons num único ambiente, além de propiciar uma
interatividade que faz com que o usuário possa interagir com sistemas
hipermídia.
123
Hipertexto, Hipermídia e Internet na construção do
conhecimento
Segundo (FOUCAULT apud LANDOW, 1997), as fronteiras de um livro
nunca apresentam um final claro. O sistema de referências a outros livros, a
outros textos e a outras sentenças cria uma rede de referências, onde cada
citação é apenas um nó dessa rede. De fato percebemos que estamos diante
de um hipertexto que pode levar o leitor a diferentes caminhos, dependendo da
referência que ele deseja seguir. Na próxima referência, ele possivelmente
encontrará mais outra relação de referências e assim por diante. Ele terá um
grande número de opções para continuar suas leituras em outros livros ou
artigos. O caminho da leitura será definido de acordo com o interesse do leitor
em se aprofundar nos temas escolhidos. Os temas escolhidos pelo autor do
texto inicial abrem novos caminhos para seus leitores a partir de sua rede de
referências.
BUSH (1945) é citado como um dos precursores do hipertexto e de
sistemas hipermídia. Com a explosão do conhecimento científico no final da
segunda guerra mundial em 1945, Bush propôs o sistema memex para
suplementar a memória pessoal. Bush percebeu que a memória humana
operava por associações, e verificou que os sistemas de armazenamento não
levavam em consideração os processos cognitivos pessoais. Na realidade, o
sistema foi conceitualmente concebido por BUSH (1945). A forma cognitiva que
dominava era aquela determinada pelo sistema de armazenamento de
informações. Embora suas idéias fossem bastante avançadas, a tecnologia
124
computacional da época não era suficientemente avançada para permitir o
desenvolvimento de uma solução mais elaborada. Na sua proposta, ele
descreve esse mecanismo ligado a uma biblioteca e capaz de mostrar livros e
filmes, e também de seguir as referências. Percebemos que esse mecanismo
nos permite percorrer os livros por meio das referências e conceitualmente
seria aplicado ao que chamamos hoje de hipertexto. Entretanto, na visão de
BUSH (1945) a operação do memex estaria atrelada à presença física de
textos e microfilmes e o memex teria operado, se tivesse sido construído, numa
tecnologia mecânica-fotográfica e não mundo digital. O memex poderia ser
considerado como uma máquina mecânica que permitia relacionar informações
e recuperá-las conforme figura abaixo.
Figura 11 Máquina Memex. Fonte: BUSH.
125
Dessa forma BUSH (1945) imaginou que poderia estar ajudando as
pessoas a encontrarem as informações desejadas para tomar decisões. Alguns
questionamentos relacionados a forma em que os livros eram indexados
incomodava a BUSH. Concordo com as idéias de BUSH e percebo que ainda
hoje a recuperação de informações nas bibliotecas não leva em conta os
processos cognitivos pessoais. Assim as idéias de BUSH sobre a importância
de recuperar informações utilizando os processos cognitivos pessoais serão
contempladas no método RCTPIA proposto no capítulo V.
O termo hipertexto foi criado por Theodor H. Nelson em 1965, num artigo
apresentado na conferência anual da ACM - Association for Computing
Machinery nos Estados Unidos. Neste artigo ele referencia o hipertexto como
uma estrutura de texto eletrônico, como uma nova tecnologia da informação e
como uma nova forma de publicar textos. NELSON (1981) explica que o
hipertexto traz uma escrita não linear e não seqüencial que é mais facilmente
lida em computadores. O hipertexto é formado por uma série de textos
conectados por hiperlinks.
Podemos entender a leitura de um hipertexto da seguinte forma:
Os hipertextos servem para interromper o fluxo da leitura por meio de redes remissivas interligadas, os links, e para conduzir o leitor a “um vertiginoso delírio de possibilidades”. A principal idéia estruturante do hipertexto é a interligação em redes de links. Essa rede remissiva tem um efeito centrífugo. O link é um convite hipertextual ao leitor para dar um salto receptivo entre vários fragmentos ou planos. O hipertexto, explicitamente concebido como “infindável texto em movimento” nunca chega a ser lido até o fim. Tem-se um texto à frente, que, de fato, só consiste em princípios de textos alternativos. (WIRTH, 1998, p. 94)
126
Segundo LANDOW (1997), o conceito de hipermídia simplesmente leva
a noção de texto do hipertexto para um mundo onde podemos incluir
informação visual, som, animação e outros formatos de dados. Assim a
hipermídia passa a juntar através dos hiperlinks: texto com imagem, imagem
com texto, texto com sons e assim por diante. Passamos do hipertexto
baseado numa linguagem escrita verbal para uma linguagem hipermídia. Assim
tanto o hipertexto como a hipermídia possibilitam uma leitura não linear por
parte dos leitores.
Com a popularização da Web, o hipertexto e a hipermídia passaram a
ter um papel importante na mudança do leitor linear para um leitor não linear. A
explosão de sites na Internet permitiu que muitas pessoas passassem a utilizar
softwares chamados de navegadores para navegar nos hipertextos e nas
hipermídias disponíveis na Web. A linguagem de programação HTML –
Hypertext Markup Language - que permite a elaboração de hipertextos e
hipermídias nas páginas na web se popularizou e se tornou um padrão. De
fácil utilização e permitindo a criação de hiperlinks, o mundo se abriu para um
novo tipo de leitor definido por SANTAELLA (2004) como um leitor imersivo.
Assim, com a popularização da linguagem HTML e com o surgimento de
diferentes softwares que permitem a criação de sites para a Web, esse leitor
imersivo passa de navegador a autor, ao produzir facilmente páginas em
hipertexto ou hipermídia e publicá-las em seu site pessoal na Internet.
127
SANTAELLA (2004) coloca que o hipertexto e a hipermídia encontram-
se no ciberespaço, espaço virtual onde se estabelece a cibercultura como diz
LÉVY (2000). Esse ciberespaço disponibilizado pela rede mundial de
computadores Internet é um espaço onde os usuários da Internet, também
conhecidos como internautas, exploram e utilizam os serviços disponibilizados.
Serviços como e-mail, portais, salas de bate papo, shopping de compras
virtuais, livrarias e espaços virtuais que dão origem a comunidades virtuais
entre outros.
SANTAELLA (2004) considera o ciberespaço como todo e qualquer
espaço informacional multidimensional que dependente da interação do
usuário, permite a este o acesso, a manipulação, a transformação e o
intercâmbio de seus fluxos codificados de informação. Ela conclui que o
ciberespaço é um espaço feito de circuitos informacionais navegáveis. Entrar
no ciberespaço significa também imergir nesse espaço.
A imersão aumenta proporcionalmente com a capacidade com a qual o
espaço é capaz de envolver o usuário. Ela descreve diferentes graus de
imersão como o caso da realidade virtual que permite ao usuário imergir num
mundo tridimensional virtual. Ela também descreve a imersão representativa
como sendo aquela em que o usuário se vê imerso num determinado ambiente,
mas ele não está envolvido tridimensionalmente pelo ambiente. Já num grau
menor de imersão, podemos descrever o usuário se conectando a rede. Entrar
na rede significa penetrar e viajar em um mundo paralelo, imaterial, feito de bits
de dados. RHEINGOLD (1991) coloca que o conceito de navegação
128
transcende o tipo particular da tecnologia utilizada para a manipulação da
informação. Assim é possível navegar:
• através de uma base de dados textuais;
• através de um elenco de imagens animadas;
• através de uma simulação virtual do mundo físico;
• ou via controle tele-robótica, através de uma parte remota do
mundo físico.
SANTAELLA (2004) explica que independentemente do grau de imersão
dos casos acima, trata-se de uma navegação no ciberespaço. Nesse sentido o
termo imersivo está qualificando o grau de imersão do leitor que é
proporcionado por diferentes tecnologias. Assim, ela considera o “leitor”
imersivo como aquele que navega através de dados informacionais híbridos –
sonoros, visuais e textuais – que são próprios da hipermídia.
SANTAELLA (2004) analisa o comportamento de internautas navegando
pelas hipermídias e chega a conclusão que existem basicamente três estilos de
navegação do leitor imersivo na Internet:
• o internauta errante;
• o internauta detetive;
• e o internauta previdente.
129
O internauta errante é aquele que enfrenta sua tarefa como quem brinca,
explorando aleatoriamente as possibilidades oferecidas pela hipermídia com o
desprendimento daqueles que não temem o risco de errar. Esse internauta
navega sem rumo pré-determinado, ele navega como quem percorre lugares e
territórios desconhecidos e, por isso mesmo, surpreendentes. Sem porto
seguro da memória, seus percursos são decididos aleatoriamente e trazem um
prazer muito próprio para o navegante.
O internauta detetive, por outro lado, é aquele que orientado pelas
inferências indutivas segue com muita disciplina os caminhos oferecidos pelos
sites de indexação e de buscas. Os resultados alcançados seguem uma lógica
do provável. Munido de uma memória operativa aguçada, ele vai e volta no
caminho percorrido. Suas estratégias de busca são acionadas mediante
avanços, erros e auto-correções. Assim seu percurso mostra um processo
auto-organizativo próprio daquele que aprende com a experiência. Por meio
desse aprendizado, o estilo detetive transforma gradativamente as dificuldades
em adaptação.
Por fim, o internauta previdente é aquele que já está bastante
familiarizado com ambientes informacionais. Ele é hábil no desenvolvimento de
inferências dedutivas. Assim, ele é capaz de antecipar as conseqüências de
cada uma de suas escolhas. Por conhecer os esquemas gerais que estão
subjacentes aos processos de navegação, seu percurso se dá de forma
ordenada. Ele é norteado por sua memória de longo prazo que o livra dos
riscos do inesperado.
130
As características dos três níveis de leitor imersivo podem ser
visualizadas na tabela abaixo:
INTERNAUTA ERRANTE DETETIVE PREVIDENTE
INFERÊNCIA Abdutiva Indutiva Dedutiva
LÓGICA DO Plausível Provável Previsível
CAMPO DO Possível Contingente Necessário
ATIVIDADE
MENTAL
Entendimento Busca Elaboração
MEMÓRIA Ausente Operativa Longa duração
ATIVIDADE Exploração Aleatória Experimentação
EMPÍRICA Aleatória Ad hoc Combinatória
TIPO DE AÇÃO Derivar sem rumo Farejar indícios Antecipar
conseqüências
ORGANIZAÇÃO Turbulência Auto-organização Ordem
TIPO DE EFEITO Desorientação Adaptação Familiaridade
CARÁTER Deambulador Farejador Antecipador
Tabela 4 O leitor imersivo. Fonte: SANTAELLA (2004).
Analisando as diferentes características do leitor imersivo, percebemos
que o funcionamento das hipermídias, por meio de suas conexões entre vários
níveis midiáticos, nos leva a uma nova forma de leitura: uma leitura não linear.
SANTAELLA (2004) descreve essa leitura orientada hipermidiaticamente como
uma atividade nômade de perambulação de um lado para o outro, juntando
131
fragmentos que vão se unindo mediante uma lógica associativa e de mapas
cognitivos personalizados e intransferíveis.
Falando em leitura não linear, assim como o hipertexto, os mapas
mentais nos permitem efetuar uma leitura não linear de um conhecimento
explicitado. Quando SANTAELLA (2004) fala de mapas cognitivos
personalizados, me recordo dos mapas mentais descritos por BUZAN (2005). A
codificação de conhecimento, ou a externalização desses mapas pessoais
cognitivos, foi influenciada por Tony Buzan, que no final da década de 60,
originalmente criou o termo mapa mental. BUZAN (2005) define o mapa
mental como uma técnica de visualização gráfica que tem como objetivo
aumentar o potencial de percepção mental sobre determinado assunto. Os
mapas mentais me interessam por tratar-se de uma forma de organizar melhor
o pensamento numa representação gráfica. Assim, o mapa mental é uma fonte
de inspiração para a criação do método RCPTIA proposto no próximo capítulo,
que também aborda uma forma de organizar o conhecimento, para depois
recuperá-lo de maneira mais fácil. A idéia dos mapas mentais surgiu da
observação de alunos que tinham um bom aproveitamento em sala de aula.
BUZAN constatou que muitos utilizavam cores, desenhos, setas e que
destacavam algumas palavras-chave principais para registrar o que estavam
aprendendo em sala de aula. Assim, um dos princípios mais importantes dos
mapas mentais é propiciar uma representação que esteja de acordo com o
pensamento subjetivo de quem está registrando as informações. É um mapa
que permite uma rápida exploração das idéias e de suas relações sem perder o
132
contexto com uma idéia central. O mapa mental permite representar uma idéia
seguindo os caminhos que foram elaborados mentalmente por uma pessoa.
Figura 12 Mapa mental de Aranya. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Image:
Guru_Mindmap.jpg. Acesso em 19/07/2005.
133
Figura 13 O mapa mental de Graham Burnett. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Image:
Mindmap.gif. Acesso em 19/07/2005.
Assim, a leitura não linear se populariza cada vez mais com a grande
utilização de hipertextos e hipermídias na navegação na Internet. Os
internautas vão se habituando cada vez mais, a traçar sua própria trajetória de
leitura e navegação. Dessa forma, a utilização dos processos cognitivos
pessoais na navegação na Internet torna-se cada vez mais natural e comum.
Percebemos, portanto, que grandes portais informacionais como o Yahoo! e
Universo Online, lojas como a Amazon.com e o Submarino, e uma grande
diversidade de serviços disponíveis na Internet estão comprometidos em
134
oferecer uma página de entrada de seu site personalizável aos desejos do
usuário. Página de entrada personalizável, na qual o internauta pode
configurar o conteúdo que deseja receber, com a diagramação e o formato
visual configuráveis. Vejamos a seguir, alguns exemplos de personalização na
Web.
A figura abaixo, mostra minha página personalizada no portal Meu
Yahoo!.. Nessa página escolhi ter três colunas, com notícias de assuntos
selecionados por mim. Assim, logo que entro no portal tenho as informações
de meu interesse visualizadas de acordo com minhas preferências pessoais.
Os elementos que escolhi para aparecerem foram o aviso de mensagens de e-
mail, cotações de ações na bolsa, notícias sobre tecnologia e negócios, minha
agenda e meu porta-arquivo.
135
Figura 14 Página Personalizada Meu Yahoo! Disponível em <http://my.yahoo.com.br> Acessada em
14/07/2005.
136
A figura abaixo mostra a página de personalização de cores e estilo
disponível no portal Meu Yahoo!. Nessa página podemos escolher diferentes
padrões de cores e estilo para nossa página pessoal.
Figura 15 Página de personalização de cores/estilo do Meu Yahoo! Disponível em <http://my.yahoo.com.br>. Acessada em 14/07/2005.
137
A figura abaixo mostra a página de personalização de cores e estilo
disponível no portal Meu Yahoo!. Nessa página podemos escolher diferentes
módulos de conteúdos e serviços como agenda, central de mensagens,
previsão do tempo, opções de busca entre outros.
Figura 16 Página de personalização de conteúdo e elementos do Meu Yahoo! Disponível em <http://my.yahoo.com.br>. Acessada em 14/07/2005.
138
A figura abaixo mostra a página de personalização de cores e estilo
disponível no portal Meu Yahoo!. Nessa página podemos escolher o layout da
página e o número de colunas assim como a localização dos serviços
selecionados nessas colunas.
Figura 17: Página de personalização de layout do Meu Yahoo! Disponível em <http://my.yahoo.com.br>. Acessada em 14/07/2005.
Verificamos no exemplo acima do portal Meu Yahoo!,, a preocupação do
Yahoo! em fornecer a personalização da página hipermidiática de acordo com
o estilo e interesse subjetivo do usuário.
139
Vamos estudar um pouco mais o comportamento dos internautas
segundo algumas pesquisas recentes. As reportagens publicadas no site
Yahoo! Notícias e no site da Agência Estado a respeito da pesquisa do
Ibope/NetRatings, em 14/07/2005, trazem abaixo informações interessantes
sobre os serviços mais utilizados na Internet.
Internauta brasileiro passa 20% do tempo online em comunidades
SÃO PAULO (Reuters) - Os internautas residenciais do Brasil confirmaram a preferência por sites de
comunidades e relacionamento no primeiro trimestre do ano, passando 20 por cento do tempo online
navegando por fotos, diários e páginas pessoais, segundo estudo da empresa de pesquisa de audiência
Ibope//NetRatings divulgado nesta quinta-feira.
Em relatório trimestral, a companhia identificou que o tempo que os internautas brasileiros passaram
navegando por páginas de comunidades é quase duas vezes maior que o gasto em sites de e-mail, com
11,3 por cento, e portais, 10,5 por cento.
Enquanto isso, os sites de instituições financeiras e de mecanismos de busca ficaram com 6,2 e 4,7 por
cento do tempo gasto pelos internautas do país na Web, respectivamente.
Nos Estados Unidos, segundo a empresa de pesquisa, a categoria que lidera a audiência dos internautas
em tempo de navegação é a de sites de e-mail, com 7,7 por cento, seguida por videogames online com
7,2 por cento. As páginas de comunidade ficam com apenas 2,8 por cento do uso da Internet pelos norte-
americanos.
Ainda segundo a pesquisa, as cinco categorias com os maiores índices de tempo consumido pelos
brasileiros na Web --comunidades, e-mail, portais, bancos e busca-- foram responsáveis por 53,2 por
cento do uso da Internet entre os internautas que navegam em casa.
Fonte: Yahoo! Notícias. Disponível em <http://br.news.yahoo.com/050714/5/vpml.html>.
Acessado em 14/07/2005.
140
Sites de relacionamento prendem atenção de
internautas brasileiros
Levantamento realizado pelo Ibope/NetRatings, com o título Web Brasil, divulgado
trimestralmente pela consultoria, aponta que os sites de comunidades absorvem cerca de
20,5% do tempo total de navegação
São Paulo - Os sites de relacionamento compõem a área que mais prende a atenção dos
brasileiros na Internet. De acordo com um levantamento realizado pelo Ibope/NetRatings,
com o título Web Brasil, divulgado trimestralmente pela consultoria, os sites de comunidades
absorvem cerca de 20,5% do tempo total de navegação. Em seguida, estão sites de e-mail
(11,3%), portais de interesse geral (10,5%), instituições financeiras (6,5%) e ferramentas
de busca (4,7%). De acordo com o diretor-executivo do Ibope Inteligência, Marcelo
Coutinho, isso é explicado porque os povos latinos possuem uma cultura comunicativa forte,
que se traduz em uma procura maior por atividades de relacionamento na Internet.
O estudo mostrou ainda que os usuários brasileiros da Internet destinam 53,2% do tempo de
navegação a apenas cinco ferramentas disponíveis na rede: comunidades virtuais, e-mail,
portais, bancos e ferramentas de busca. Em países como Espanha e Estados Unidos, que
também integram o levantamento, as cinco áreas que mais absorvem a atenção do usuário
respondem por 39,8% e 30,4% do tempo de uso, respectivamente.
Coutinho avalia que diversos fatores contribuem para explicar essa concentração. Ele
destaca que, em países como os Estados Unidos, a prestação de serviços e a oferta de
conteúdo na Internet são mais desenvolvidos, o que resulta em uma pulverização maior do
uso da Internet. "Lá, há uma oferta maior de coisas para se fazer na rede", afirma o analista.
Além disso, Coutinho ressalta que a preocupação dos pais brasileiros com a segurança tem
estimulado os filhos a passarem mais tempo na Internet em vez de buscar entretenimento
fora de casa. "Hoje em dia, os pais preferem ver seus filhos em frente ao computador do que
na rua à noite."
Semelhanças
141
O levantamento do Ibope/NetRatings também mostra semelhanças significativas entre
Brasil, Estados Unidos e Espanha. Sites de e-mail, por exemplo, aparecem entre as
categorias mais visitadas em todos os casos, com 10,9% do tempo de uso entre espanhóis e
7,7% entre norte-americanos. Ferramentas de busca também aparecem nos três casos, com
8,4% na Espanha e 3,9% nos Estados Unidos. O mesmo acontece nos portais de interesse
geral, que ficam com 6,9% e 6,6%, respectivamente.
Segundo Coutinho, outro item que ajuda a demonstrar um comportamento semelhante dos
usuários é a performance registrada pela categoria de jogos online no levantamento. Nos
Estados Unidos, esse tipo de ferramenta absorve 7,2% do tempo de navegação, enquanto no
Brasil e na Espanha esse número é de 4% e 3,8%, respectivamente.
Diferenças
Por outro lado, a pesquisa do Ibope/NetRatings mostra que o Brasil também possui algumas
características que o distinguem dos outros países avaliados. Mesmo tendo alcançado 6,2%
do tempo de uso no Brasil, os sites de instituições financeiras, por exemplo, não aparecem
entre as cinco categorias mais navegadas nos outros dois países, ficando com o oitavo lugar
na lista dos EUA, com 2,9% do tempo de uso, e com o 7º lugar na Espanha, com 4,4%.
Entre os exemplos citados pelo estudo estão ainda sites de governo, que respondem por
3,1% do tempo total no Brasil, quase o dobro dos 1,7% registrados nos Estados Unidos e
acima também dos 2,7% contabilizados na Espanha.
Fonte: Agência Estado - Clarissa Oliveira. Disponível em
<http://ibest.estadao.com.br/tecnologia/internet/2005/jul/14/54.htm>. Acesso em 14/07/2005.
Analisando o resultado da pesquisa realizada pelo IBOPE/Net Ratings,
vale observar que as ferramentas de busca estão entre uma das cinco
142
ferramentas mais utilizadas tanto no Brasil, como nos Estados Unidos e
na Espanha.
Dado o grande volume de conteúdo disponível na Internet, o fato das
ferramentas de busca serem bastante utilizadas me parece normal. Entre as
ferramentas de buscas mais conhecidas e difundidas no mundo em 2005,
podemos citar o Yahoo! e o Google.
Mas, além dessas mais famosas, existem algumas outras ferramentas
de busca na Web que procuram ocupar seu espaço. É o caso do Kartoo e do
Grokker. Essas duas ferramentas de busca apresentam como característica, o
fato de exibir os resultados de suas busca em gráficos semelhantes com os
mapas mentais. Exploremos algumas diferenças na utilização dessas
ferramentas.
Ao efetuar uma busca sobre “mind map” em www.Grokker.com,
visualizamos os resultados conforme tela a seguir:
143
Figura 18 Grokker. Fonte: Grokker.. Disponível em <http://www.grokker.com/applet.html?query=mind%20map>. Acesso em 19/07/2005.
É interessante verificar que o resultado da busca no Grokker, traz os
resultados na busca organizados por nove blocos semânticos diferentes
relacionados com “mind map”. O resultado é visualizado de forma gráfica
segmentando as respostas e permitindo ao usuário seguir algum caminho, ao
clicar em algum dos noves grupos mostrados.
144
Ao efetuar a mesma busca no Kartoo, obtemos o resultado abaixo:
Figura 19 Kartoo. Fonte: Kartoo.. Disponível em < http://www.kartoo.com/>. Acesso em 18/07/2005.
É interessante verificar que o resultado da busca no Kartoo, traz os
resultados da busca organizados numa espécie de mapa mental. O resultado
é visualizado numa forma gráfica que relaciona alguns sites por temas ligados
a “mind map”.
145
Ao efetuar a mesma busca no Google, obtemos o resultado abaixo:
Figura 20 Resultado de busca no Google. Fonte: Google. Disponível em < http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=mind+map&meta=>. Acesso em 18/07/2005.
O Google traz os resultados da busca organizados numa lista linear de
sites relacionados a “mind map”.
146
Ao efetuar a mesma busca no Yahoo!, obtemos o resultado abaixo:
Figura 21 Resultado de busca no Yahoo! Fonte: Yahoo!.. Disponível em <http://search.yahoo.com/search?p=mind+map&sm=Yahoo%21+Search&fr=FP-tab-web-t&toggle=1&cop=&ei=UTF-8/>. Acesso em 18/07/2005.
O Yahoo! também traz os resultados da busca organizados numa lista
linear de sites relacionados a “mind map”.
Ao analisar as buscas efetuadas acima, percebemos que tanto o
Grokker como o Kartoo procuram trazer os resultados da busca numa forma
147
gráfica, seguindo o conceito dos mapas mentais. A partir deste ponto, o usuário
começa a navegar para escolher os sites de interesse que irá visitar. Já no
Yahoo! e no Google, o resultado da busca é mostrado como uma lista linear de
sites encontrados relacionados a “mind map”.
Realizar uma busca com alguma palavra que possa ter sentido duplo,
mostra alguns benefícios do Grokker. Vamos fazer uma busca com a palavra
“Jaguar” e verificar o que acontece.
148
Figura 22 Resultado de busca no Grokker. Fonte: Grokker.. Disponível em <http://www.grokker.com/ >. Acesso em 19/07/2005.
Conforme resultado da busca exibido na figura acima, o Grokker separa
o resultado da busca em grupos de sites dentre os quais destaco o animal
jaguar, o carro de marca “jaguar” e o sistema operacional da Apple OS X
149
também chamado de “jaguar”. Podemos dizer que o resultado da busca é
agrupado por afinidades.
O desafio destas ferramentas de busca está em conseguir ajudar aos
usuários a encontrarem o que desejam na Internet. Desta forma as ferramentas
de busca não buscam apenas por sites na Web. Podemos buscar músicas,
imagens, vídeos e blogs também. Tanto no Google como no Yahoo!, podemos
efetuar buscas de imagens por exemplo. No Blogdigger.com podemos buscar o
que está sendo discutido em blogs e no site Biography.com buscamos
biografias de pessoas famosas.
Sempre buscando oferecer resultados mais precisos e que ajudem o
internauta a encontrar sites de seu interesse, o Google, por exemplo, oferece,
nos Estados Unidos, algumas segmentações específicas, como busca em
determinadas Universidades apenas, ou em determinados assuntos conforme
figura abaixo:
150
Figura 23 Google special searches. Fonte: Google. Disponível em <http://www.google.com/intl/en/options/specialsearches.html>. Acesso em 19/07/2005.
Segundo DESTRUTI (2004), várias ferramentas de busca utilizam
motores de busca, também conhecidos como “crawler” ou “robot” ou “bot”, para
realizar uma busca automática na Web. Estes motores de busca executam
uma cópia das páginas Web em seus bancos de dados e os incluem nos seus
índices de busca. Quando uma busca é solicitada, ela acontece nos próprios
servidores do buscador que exibe o resultado da busca.
151
O Google, por exemplo, utiliza seu próprio motor de busca conhecido
como GoogleBot. O GoogleBot é responsável pela varredura dos sites na
Internet. Esse software varre a Web e faz a inclusão dos sites nos bancos de
dados do Google. Quando efetuamos uma busca no Google, é feita em seus
próprios servidores e o resultado é apresentado na tela, conforme alguns
exemplos mostrados anteriormente.
Segundo DESTRUTI (2004), também temos a busca por diretórios do
Yahoo! que funciona de maneira semelhante ao fichário das bibliotecas
tradicionais. Esses diretórios são organizados em categorias e subcategorias.
Assim os editores do Yahoo! analisam estes sites e selecionam o melhor local
para catalogá-los. Podemos então navegar por esse catálogo visitando suas
categorias e subcategorias, conforme figura abaixo:
152
Figura 24 Diretório Yahoo! Fonte: Yahoo!.. Disponível em < http://br.yahoo.com/info/diretorio.html/>. Acessado em 19/07/2005.
Percorrendo estes diferentes sites de busca, podemos perceber que
nenhum deles permite que qualquer usuário possa criar um índice próprio.
Mas será que isso faz sentido? Quais seriam as razões para os buscadores
permitirem aos usuários associarem índices de busca individuais aos seus
processos de busca? Será que o resultado da busca seria mais eficiente?
Seria interessante aliar a forma própria de pensar de cada usuário, isto é, o seu
153
sistema cognitivo, com o sistema cognitivo da ferramenta de busca para
procurar informações na Internet? Quem sabe se algum projeto de pesquisa
não se interessaria pela questão!
De qualquer maneira, conseguir encontrar informações desejadas na
Internet é um fato cotidiano na vida dos internautas. Ter estudado essas
diferentes ferramentas de busca me levam a uma reflexão que contribui para a
elaboração do método de recuperação de informações que será descrito no
próximo capítulo: o método RCPTIA - Relação de Contextos Pessoais,
Tecnológicos e Institucionais Associativos.
154
Desenvolvimento de software, contexto e senso comum
É interessante verificarmos que a criação de contexto não é
preocupação apenas de MATURANA E VARELA (2003) com a teoria
autopoiética, com o pensamento eco-sistêmico de MORAES (2004) e de
autores da área de gestão de conhecimento estudados no capítulo III.
Veremos abaixo como pesquisadores do Media Lab do MIT também se
preocupam com estas questões no desenvolvimento de software.
LIEBERMAN e LIU (2003) apresentam uma forma de interpretar
características afetivas na interpretação de linguagem natural e aplicá-las numa
interface de um software de e-mail de forma gráfica. Como o texto é uma forma
de comunicação bastante difundida na Internet, na comunicação entre
pessoas, a idéia é poder usar a tecnologia oriunda deste artigo e aplicá-la na
área de interfaces gráficas homem-máquina.
A interpretação da natureza afetiva do uso da linguagem escrita inglesa,
relacionada com situações do cotidiano, permite classificar as frases em
algumas categorias emotivas básicas. Feita esta classificação, podemos
associá-las a imagens que representem as características afetivas numa
interface gráfica homem-máquina utilizada num aplicativo de e-mail. As frases
são associadas conforme seis diferentes categorias de emoção: feliz, triste,
bravo, amedrontado, desapontado e surpreso. A figura abaixo exemplifica uma
de suas possíveis utilidades.
155
Figura 25 Ilustrações de categorias de emoção em interface de software. Fonte: LIEBERMAN e LIU (2003)
As imagens são inseridas pelo aplicativo de e-mail automaticamente
após o reconhecimento, por parte do software, das características afetivas
associadas às frases que estavam escritas na mensagem de e-mail. Uma
motivação significativa para a escolha da pesquisa de LIEBERMAN e LIU
(2003) foram os estudos de NASS et al. (1994), que analisando a interação
homem-homem e a interação homem-máquina, concluíram que os usuários
interagem mais naturalmente com os computadores à medida que conseguem
desenvolver uma relação social e afetiva com eles, assim como acontecem nas
relações pessoais. Assim uma interação social bem sucedida significa uma
comunicação pessoal afetiva.
156
Desenvolver agentes inteligentes de software que permitam reconhecer
características afetivas é bastante complexo e envolve a área de Inteligência
Artificial, e mais especificamente a área de processamento de linguagem
natural. A base de conhecimento genérica e real utilizada por LIEBERMAN e
LIU (2003) é base de conhecimento do projeto Open Mind Common Sense do
MIT. Os resultados da pesquisa realizada por LIEBERMAN e LIU (2003) com
20 usuários levantam muitos outros desafios a serem explorados no
desenvolvimento de agentes inteligentes para serem utilizados em interfaces
gráficas homem-máquina.
LIEBERMAN (2001), em seu curso, Out of context: A course on
Computer Systems that Adapt to, and Learn From, Context, oferecido no MIT,
discorre sobre a necessidade dos desenvolvedores de software de levarem em
consideração o contexto para desenvolverem agentes inteligentes. Concordo
com ele e creio que a criação de contexto é dos pilares fundamentais do
método RCPTIA que será apresentado no próximo capítulo.
157
Cognição e linguagem na comunicação digital
Nesse capítulo, verificamos até agora, a influência do mundo digital no
estilo do leitor que navega na Internet e em outros softwares. Também
analisamos características do hipertexto e da hipermídia, a influência de mapas
mentais e a maneira associativa da mente funcionar.
Para analisar melhor a relação entre cognição, pensamento e linguagem
é importante estudarmos as matrizes da linguagem e do pensamento segundo
SANTAELLA (2001). Ela explora as relações do Sonoro Visual Verbal nas
matrizes que se referem às modalidades de linguagem e pensamento. Uma
vez que a base teórica que sustenta essas matrizes está baseada em Charles
S. Peirce. Ela menciona que Peirce se dedicou aos estudos e pesquisas em
diversas áreas do conhecimento científico que vão da matemática à história, da
filosofia à química, da literatura à astronomia, da lógica à biologia. Um dos
questionamentos de Peirce era saber se não existiriam elementos constantes
por trás de diferentes métodos científicos. E para entender esses diferentes
métodos, ele resolveu praticá-los e assim se dedicar a tantos campos
científicos diferentes.
Muitíssimo cedo, em 1965, Peirce reconheceu que uma tal análise da ciência é, no fundo, semiótica. Para que sua semioticidade seja visível, basta substituir a noção de evidência por uma concepção muito mais ampla que é a concepção de representação ou signo. (SANTAELLA, 2001, p. 31)
SANTAELLA (2001) reforça sua posição com o fato de que:
158
Essa convicção lhe advinha do fato de que “todo conhecimento, desde a adivinhação mais espontânea até a certeza mais demonstrativa, está fundamentado em evidências; ele é suportado por dados, credenciais, garantias e premissas. Os dados não são em si evidências para aquilo que eles atestam; eles devem ser interpretados para ser evidências, para dar alguma credibilidade àquilo que eles suportam”. (SAVAN apud SANTAELLA, 2001, p. 31).
Ela afirma que não há interpretação sem signos, pois para Peirce, toda
interpretação é signo e diz:
Qualquer coisa que substitui outra coisa para algum intérprete é uma representação ou signo. Por exemplo: “uma palavra representa algo para o conceito na mente do ouvinte”, um retrato representa uma dada pessoa para a concepção do seu reconhecimento por alguém, um cata-vento representa a direção do vento para a concepção daquele que assim o entende, ”um advogado representa o seu cliente para o juiz ou júri que ele influencia”. (CP 1.553 apud SANTAELLA, 2001, p. 31).
Segundo (SAVAN, 1994a, apud SANTELLA, 2001), Peirce percebeu
imediatamente que essa concepção de representação ou signo era
fundamental não apenas para a ciência, mas também para a linguagem, arte,
mecânica, lei, governo, política, religião etc. De fato, ela é fundamental ao
pensamento, ação, percepção e emoção humana. E ela afirma também que a
semiótica peirciana, concebida como lógica num sentido amplo, nasceu da
necessidade de compreender os raciocínios que são empregados nos métodos
científicos, e para tanto se faz necessário estudar todos os tipos possíveis de
signos, suas misturas e o modo como os signos crescem e evoluem.
Para Peirce, a lógica tem dois sentidos. No primeiro, lógica é a ciência
das condições necessárias para se atingir a verdade. Na segunda, com sentido
mais amplo, é a ciência das leis necessárias ao pensamento. A noção de
159
signo da semiótica peirciana é muito genérica e abrangente. Peirce inclui sob o
termo signo “qualquer pintura, diagrama, grito natural, dedo apontando,
pisadela, mancha em nosso lenço, memória, sonho, imaginação, conceito,
indicação, sintoma, letra, numeral, palavra, sentença, capítulo, livro, biblioteca
etc”. Segundo (MS 774:4 apud SANTAELLA, 2001, p.39), numa definição mais
formal, o signo é qualquer coisa de qualquer espécie, podendo estar no
universo físico ou no mundo do pensamento, que – corporificando uma idéia de
qualquer espécie (o que nos permite usar esse termo para incluir propósitos e
sentimentos) ou estando conectada com algum objeto existente ou ainda se
referindo a eventos futuros através de uma regra geral – leva alguma outra
coisa, chamada signo interpretante, a ser determinada por uma relação
correspondente com a mesma idéia, coisa existente ou lei.
Pressuposto na hipótese das três matrizes de SANTAELLA (2001) está
a relação inseparável das linguagens e do pensamento. Segundo Peirce
devemos acrescentar ao binômio linguagem-pensamento, a percepção, pois
para ele, pensamento, signos e percepções são inseparáveis. Isso fica
claro na afirmação peirciana seguinte:
Os elementos de todo conceito entram no pensamento lógico pelos portões da percepção e dele saem pelos portões da ação deliberada; e tudo aquilo que não puder exibir seu passaporte em ambos esses portões deve ser apreendido pela razão como elemento não autorizado. (CP 5.212 apud SANTAELLA, 2001, p. 55)
Dessa forma a cognição passa a se relacionar com o pensamento e a
linguagem. Segundo (GARFIELD apud SANTELLA, 2001), as raízes filosóficas
160
das ciências cognitivas são encontradas no século XVII, com destaque especial
para os filósofos Descartes e Hobbes. Embora Descartes e Hobbes
discordassem sobre a mente, a mescla de suas idéias sobre modelos mentais
está na base das ciências cognitivas. SANTAELLA (2001) coloca que assim
durante trezentos anos, a filosofia da mente cartesiana entrou e saiu de
primeiro plano e foi refinada e mesclada a outras doutrinas. No final do século
XIX, a filosofia deu nascimento à psicologia. Segundo (GARFIELD apud
SANTELLA, 2001), “A primeira psicologia, por vezes chamadas de
introspeccionismo, era cartesiana na sua orientação, mas logo deu origem à
escola decididamente anticartesiana do behaviorismo”. O início do
desenvolvimento de pesquisas em inteligência artificial, realizado pelos
cientistas da computação, nasceu motivado pela visão cartesiana-hobbesiana
da mente como um recurso de cálculo operando sobre representações, e
também pelo incentivo da lingüística chomskiana.
SANTAELLA (2001) menciona que as dificuldades deixadas pelo
behaviorismo deixam claro que para entender as habilidades cognitivas é
necessário olhar dentro do organismo, prestar atenção não só aos estímulos de
fora e às respostas que são dadas a eles, mas também nos processos internos
que servem de mediação entre a percepção e a ação. Ela mostra que as
ciências cognitivas formam um nó transdisciplinar influenciados principalmente
pela filosofia, pela ciência da computação, pela psicologia, pela lingüística e
pelas neurociências.
161
A visão da mente vista por muitos cognitivistas como um sistema
processador de informação se tornou dominante pelas influências da ciência da
computação, mais especificamente pelas pesquisas na área de inteligência
artificial.
A filosofia exerce uma influência importante principalmente no que diz
respeito à lógica, ao significado e ao esclarecimento dos conceitos básicos das
ciências cognitivas como informação e conhecimento.
A lingüística do cognitivismo, influenciada no seu nascimento pela
lingüística chomskiana, evoluiu para a caracterização da forma pela qual os
seres humanos representam o conhecimento e processam a informação,
descobrindo as características gerais das línguas humanas que refletem
aspectos da arquitetura da mente.
A psicologia no cognitivismo está principalmente envolvida no estudo
das capacidades mentais humanas em geral, tais como representações
mentais proposicionais ou esquemáticas, imagens mentais, processos
automáticos ou controlados e aquisição de habilidades. Tópicos da psicologia
cognitiva são, por exemplo, conceitos e categorias, a percepção, a atenção, a
memória, o raciocínio, a solução de problemas, o desenvolvimento cognitivo e
o complexo funcionamento da mente humana aplicado a campos empíricos.
Já as neurociências trazem munição às controvérsias sobre a natureza
da mente. Elas estudam a realização física dos processos de informação nos
162
sistemas nervosos humanos e dos animais. Algumas sub-áreas como a
neurofisiologia estuda as funções do sistema nervoso, a neuroanatomia estuda
a estrutura do sistema nervoso e a neuropsicologia estuda a relação entre o
funcionamento neural e o psicológico.
O desenvolvimento das ciências cognitivas também foi acompanhado
pela evolução das mídias (ou meios) que se desenvolveram muito nas últimas
décadas, passando da escrita, para o rádio e TV até chegarmos à hipermídia,
potencializada pelo desenvolvimento dos computadores e das redes de
comunicações do mundo digital no qual habitamos hoje. É importante ressaltar
que quando o olhar humano se fixa diante das mídias, na verdade são as
linguagens e os processos sígnicos que são transportados e transitam pelas
mídias. O meio ou a mídia de comunicação é o componente mais superficial,
no sentido que ele aparece primeiro no processo comunicativo. O estudo
desses processos comunicativos deve pressupor que diferentes linguagens e
sistemas sígnicos utilizem o meio de diversas formas, e, deve também
pressupor a existência da mistura das linguagens em meios como a televisão e
a hipermídia, por exemplo.
SANTAELLA (2001) mostra que todas essas linguagens são híbridas.
Baseada na lógica de suas três matrizes visual, sonora e verbal, estas e suas
27 modalidades, desdobradas em 81, permitem interligar os processos de
hibridização de que as linguagens se constituem. As sub-modalidades das
matrizes sonora, visual e verbal e seus cruzamentos se manifestam na
sociedade em variados códigos ou sistemas de signos como na televisão, no
163
teatro, na poesia, nas hipermídias etc... Uma análise e o comportamento
dessas diferentes linguagens, e seus cruzamentos, são apresentados logo a
seguir.
As linguagens sonoras se referem à musica em sentido lato,
incorporando inclusive os ruídos e as filigranas do som. É uma música,
estritamente sonora e sem fala.
As linguagens sonoro-verbais (orais) encontram-se no cruzamento da
linguagem da canção, em que a fala permeia a música e a música permeia a
fala. O som acompanha o potencial sonoro da fala com durações, ritmos,
articulações e entonações. Nesse caso, o som é inseparável da letra. Nesse
cruzamento sonoro-verbal encontra-se a linguagem do rádio que aciona uma
pluralidade de signos como o som, o ruído ambiente, a música, a música de
fundo, a voz, a fala, o texto, a narrativa entre outros.
Vale ressaltar que não se trata da interpretação da canção com
presença física do intérprete, que se encaixaria na linguagem sonoro-verbo-
visual.
A música contemporânea tem sido pródiga nos cruzamentos do sonoro
com o visual dando origem às linguagens sonoro-visuais. Diferentemente da
música instrumental que necessita de um intérprete muitas vezes localizado em
algum recinto especial para a ocasião, a música feita em laboratório é musica
gravada dispensando intérprete. As apresentações públicas das composições
164
eletroacústicas fazem uso da disposição espacial das caixas de som criando
uma verdadeira arquitetura sonora. Encontramos nesse cruzamento:
performance sonora, a música instalação ou o teatro instrumental.
Explorando a matriz visual encontramos: desenho, pintura, gravura,
escultura, mapa, diagrama, pictogramas, fotografia entre outros. Trata-se de
linguagens visuais fixas, aquelas que no campo da visualidade estariam mais
próximas de um estado puro, por não se misturarem, nos níveis de superfície,
com outros sistemas de signos. Muitos tipos de imagens visuais fixas foram
construídos artesanalmente, pelas mãos, o que daria à linguagem gestual um
desempenho importante na produção dessas imagens. A mesma consideração
seria válida para a linguagem sonora.
Temos também as linguagens visual-sonoras. Uma primeira
linguagem a se inserir neste cruzamento seria a arquitetura que replica no
campo visual, uma característica fundamental da música que está nas suas
relações de iconicidade interna: nos paralelismos, nas hierarquias icônicas,
repetições, movimentos ascendentes, descendentes, nas variações sobre o
tema entre outros. Outra linguagem nesse cruzamento é a computação
gráfica. É importante ressaltar que a linguagem sonora não precisa
necessariamente estar expressa em sons. Ela pode tomar corpo em imagens,
e é o acontece quando uma imagem se põe em movimento, no cinema, no
vídeo, na televisão e também na computação gráfica. Imagem em movimento é
165
questão de timing, duração. O vídeo, quando não acompanhado de palavras
ou falas, também aparece nesse cruzamento.
A dança, por exemplo, é a linguagem do corpo em movimento.
Entretanto, o corpo em movimento, além de não ser um privilégio da dança,
não se constitui em si mesmo em uma linguagem. A dança não poderia ser
outra coisa senão a matriz da sonoridade corporificada na plasticidade do
corpo. O corpo dando forma plástica à temporalidade evanescente do som, às
figurações do som. É nessa forma temporalizada que o movimento do corpo se
constitui em linguagem, e não sem ela. Por isso a dança é visual e sonora.
A primeira dentre as linguagens visual-verbais é a escrita, toda a
forma de escrita, inclusive as pictográficas, as ideográficas até atingir a forma
mais convencional na escrita alfabética.
Os quadrinhos e as charges são exemplos bastante conhecidos que
exploram o visual-verbal. E a poesia visual também pode ser aqui considerada.
Evidentemente visual-verbal também é a publicidade impressa nos
cruzamentos que une imagem, palavra e diagramação. A linguagem do jornal
também aparece nesse cruzamento. Apesar de ser muito mais verbal do que
visual, a visualidade está presente no design da página, na localização da
informação na página, na distribuição por tamanhos, na tipologia gráfica, e
também é claro nas fotos, ilustrações e gráficos.
166
Já as linguagens verbais, se referem às linguagens verbais escritas
definidas como discurso em todas suas modalidades e submodalidades,
algumas mais híbridas que outras.
Agora a mais proeminente das linguagens verbo-sonoras é a fala, que
foi explorada em todo seu potencial pelos compositores do século XX usando a
voz humana como instrumento sonoro. A natureza acústica e articulatória da
fala é certamente seu aspecto de maior relevância. Outro aspecto da fala, mais
propriamente visual do que sinestésico lhe acrescentado pela gestualidade. Na
esteira da fala estão a literatura oral e a poesia sonora.
O gesto como acompanhamento inseparável da fala se constitui em uma
linguagem verbo-visual, linguagem viária da fala. Através de feições do rosto,
movimento das mãos, braços e pescoço, e pela proximidade que o falante
mantém com o ouvinte, a gestualidade se manifesta visualmente para se juntar
à sonoridade da fala.
A mímica, por exemplo, sem fala, é uma linguagem verbo-visual porque
guarda indelevelmente a memória da fala.
E finalmente temos as linguagens verbo-visuais-sonoras. A dança,
mesmo sem fala, é uma linguagem verbo-visual-sonora quando apresenta um
aspecto narrativo. Ela é duplamente sonora, quando está acompanhada por
167
som, o que é muito mais comum. Continua sonora, mesmo sem som. Esse
aspecto da dança é ilustrativo para se compreender que a matriz sonora não
precisa necessariamente estar expressa em som. Há na sonoridade, uma
lógica da temporalidade, chamada de eixo da sintaxe, que pode se manifestar
em um corpo em movimento. Se a dança for narrativa, isto é, se contar uma
história através do mero movimento dos dançarinos-personagens, ela será
verbal, mesmo na ausência de uma fala explícita. Esses dois aspectos da
dança ajudam a inteligir a lógica semiótica que também se faz presente no
caso do cinema, televisão e vídeo.
168
Roteiros Hipermídia
Acabamos de ver que a linguagem hipermídia nos leva a um mundo de
muitas possibilidades de utilização da linguagem como meio de comunicação.
Vamos verificar agora, com mais detalhes, alguns aspectos do
desenvolvimento de diferentes roteiros em hipermídia.
A inserção da hipermídia está cada vez mais presente de maneira muito
forte em nossa sociedade digital interconectada pela Internet. Os recursos de
comunicação potencializam a hipermídia e a interatividade. Os sites na
Internet escritos na forma de hipertexto, ou melhor, na forma de uma
hipermídia são um dos exemplos mais populares. Também é bastante
interessante verificar a integração do cinema com os sistemas hipermídia.
Recentemente a indústria do cinema começa a lançar simultaneamente um
filme nas salas de cinema e o jogo eletrônico (ou game) para ser comprado e
explorado no computador. Alguns exemplos são os filmes “Matrix” e “Os
Incríveis” que além dos tradicionais filmes também existem na forma de jogo
entre outros. É interessante observar que a indústria do cinema também
começa a mostrar sinais de que ela pode ser chamada de indústria dos jogos
eletrônicos. Jogos eletrônicos criados e suportados por sistemas hipermídia.
Esses lançamentos mostram que estamos vivendo um momento em que a
indústria do cinema, que faz parte de uma indústria do entretenimento, começa
a aventurar no mundo dos jogos eletrônicos. O mundo do cinema passa a se
relacionar diretamente com o mundo interativo da hipermídia.
169
A hipermídia, antes de aparecer na Internet, devida às limitações
técnicas de velocidade na rede, difundiu-se bastante com o surgimento dos
primeiros computadores pessoais multimídia que continham um leitor de CD-
ROM, monitor colorido, placa de vídeo colorida, placa de som e caixas de som.
SANTAELLA (2004) classifica alguns tipos de hipermídia produzidas em CD-
ROM com conteúdos voltados para:
• o entretenimento (esportes, aventuras, filmes);
• obras de referência (dicionários, enciclopédias, Atlas, guias);
• produtos ludos-educativos;
• produtos educativos;
• produtos de edutainement (educação + entretenimento);
• e obras artístico-literárias.
Assim, antes de proliferar na Internet, a hipermídia se fez presente em
muitos aplicativos suportados por um ou mais CD-ROM(s).
GOSCIOLA (2003) explora as peculiaridades e os diferentes roteiros
utilizados na produção de conteúdo de acordo com a mídia utilizada. Ele define
a hipermídia como um processo comunicacional que depende do
relacionamento entre seus diversos conteúdos e seu usuário.
MURRAY (2003) descreve a narrativa como um de nossos mecanismos
cognitivos primários para a compreensão do mundo. Questões sobre conteúdo
e forma de uma hipermídia são de fato indagações sobre o próprio poder da
170
narrativa. Ela coloca a narrativa como uma das responsáveis pela criação de
comunidades, desde uma comunidade tribal ao redor de uma fogueira, até uma
comunidade global que assiste televisão. Nos dois casos, estamos ouvindo
histórias que são contadas para os outros sejam elas histórias de heroísmo,
traição, amor, ódio, perda, triunfo.
As histórias que são contadas em formatos participativos nos envolvem de uma maneira diferente daquelas às quais assistimos ou ouvimos. Não ficamos apenas observando as batidas e roubos de carros no popular videogame Grand Theft Auto, nós os cometemos. [...] É como uma história de bandidos, com exagerados elementos dos filmes de gângsteres. [...] É perturbador, mas é claramente faz-de-conta. (MURRAY, 2003, p. 9)
MURRAY (2003) descreve que pesquisadores do Laboratório de Ciências
da Computação do MIT geraram uma história baseada em computador
bastante popular, o jogo de aventura Zork, inspirado no jogo Dungeons and
Dragons. No mundo imaginário de Zork, os jogadores ou usuários deslocam-
se pelas salas do calabouço digitando comandos de navegação. Zork foi um
dos primeiros jogos de computador de aventura desenvolvido na década de
1970. Ele foi desenvolvido na linguagem de programação chamada MDL,
descendente do LISP. MURRAY (2003) reforça a importância do
desenvolvimento do roteiro ao mencionar que a lição do Zork é mostrar que na
criação de um universo narrativo sedutor, o primeiro passo é preparar o roteiro
do interator.
MURRAY (2003) também destaca do poder da imersão no caminho
percorrido pelo leitor ou usuário. Digo leitor ou usuário, pois Dom Quixote, que
171
viveu 150 anos antes da invenção da imprensa, exemplifica o perigoso poder
dos livros de criar um mundo mais real do que a realidade.
O desejo ancestral de viver uma fantasia originada num universo ficcional foi intensificado por um meio participativo e imersivo, que promete satisfazê-lo de um modo mais completo do que jamais foi possível. Com detalhes enciclopédicos e espaços navegáveis, o computador pode oferecer um cenário específico para os lugares que sonhamos visitar. Bastam alguns cliques na world wide web e, instantaneamente, encontramo-nos num dos domínios feudais da “Idade Média Atual”, organizada pela Sociedade para o Anacronismo Criativo, ou na enfermaria da nave estelar Voyager, sendo examinados pelo excêntrico doutor. Diferentemente dos livros de Dom Quixote, o meio digital leva-nos a um lugar onde podemos encenar nossas fantasias. (MURRAY, 2003, p. 101)
GOSCIOLA (2003) explora diferentes roteiros específicos para cada
mídia. Ele descreve em detalhes a migração da narrativa do cinema para a
narrativa da hipermídia que abre espaço para a interatividade do usuário. Na
hipermídia podemos explorar os games com uma narrativa contínua, assim
como uma narrativa descontínua para hipermídias de obra de arte. O
desenvolvimento de roteiros em hipermídia é bastante recente, haja vista que,
as primeiras hipermídias em CD-ROM surgiram na década de 1980. Assim é
uma área bastante nova que apresenta sua própria linguagem e está em pleno
desenvolvimento. De qualquer forma é preciso ter claro, que na hipermídia
antes de qualquer roteiro existe uma narrativa.
172
V. Criação de contexto no método de comunicação
RCPTIA - Relação de Contextos Pessoais,
Tecnológicos e Institucionais Associativos
Nos capítulos anteriores, verificamos que nas interações cotidianas nem
sempre as pessoas conseguem se fazer compreender pelas outras. Alguns
motivos que possam atrapalhar essa comunicação são: falta de confiança entre
as pessoas, ausência de uma linguagem comum, barreiras pessoais, barreiras
institucionais, diferentes culturas, entre outros motivos. Percebemos também
que um contexto capacitante, ou contexto adequado, muitas vezes facilita o
processo de comunicação e compreensão. Geralmente, esse contexto é dado
por alguma pessoa. Mas como vivemos num mundo onde a cultura digital se
dissemina com bastante rapidez, por que não conseguirmos extrair o contexto
adequado numa rede de informações? Como as organizações e os indivíduos
interagem em redes digitais, onde existem repositórios de documentos e
informações, por que não armazenarmos e recuperarmos documentos
utilizando contextos adequados?
A cultura digital nos coloca frente a novas situações no cotidiano. A
utilização do computador pessoal como ferramenta de trabalho se populariza
cada vez mais e os profissionais que trabalham com um grande volume de
informações armazenadas em um computador pessoal. A utilização de e-mail
também aparece como uma ferramenta de comunicação de uso diário. Assim,
um grande desafio de todo profissional é conseguir organizar no seu
173
computador seus documentos e mensagens de e-mails para poder recuperá-
las quando necessário.
O cotidiano de muitas pessoas envolve uma comunicação que utiliza a
Internet como meio. Explorar esse mundo da Internet também nos coloca frente
a novas situações no nosso cotidiano. Não conseguir voltar a um determinado
site é um problema comum que acontece com muitos internautas. Os
navegadores oferecem recursos para o registro dos endereços favoritos que
nem sempre resolvem a questão. Essa é uma boa forma de guardar endereços
de sites de seu interesse, mas quando sua lista de favoritos aumenta e chega a
mais de uma centena de endereços, você começa a ter problemas para
recuperar seus próprios sites selecionados. Ao salvar sites na sua lista de
favoritos do navegador, você pode criar pastas com temas específicos. Mas ao
se deparar com um site que apresenta uma relação com mais de um tema,
qual é sua atitude? Registrar o mesmo site em duas pastas diferentes?
Registrar o site em apenas uma pasta? Essa é uma pergunta feita por muitos
internautas e em alguns segundos, a escolha de registro do site é feita numa
determinada pasta. Para lembrar depois, e encontrar o link, já é outro
problema, pois nem sempre a memória pessoal conseguirá lembrar do local
onde a informação foi armazenada.
DAVENPORT (2004) explica que muitas empresas começaram a prestar
atenção no gerenciamento de informações e conhecimentos pessoais como um
fator importante na produtividade dos profissionais. O Information Work
Productivity Council (IWPC), formado por empresas como Accenture, HP, Intel,
174
Cisco, Microsoft, SAP e Xerox entre outras, está investigando essa questão de
perto, pois a produtividade pessoal dos profissionais influencia diretamente a
produtividade das empresas onde essas pessoas atuam.
A necessidade de buscar informações na Internet não é novidade e já foi
abordada no capítulo anterior. Ela é suprida por soluções mundialmente
conhecidas como os sites de buscas Google e Yahoo!. A idéia de oferecer um
serviço de busca na Internet acabou migrando também para sistemas de
buscas no computador pessoal já que as próprias pessoas passaram a ter essa
necessidade. DAVENPORT (2004) mostra que o tempo gasto por profissionais
para ler, interpretar, armazenar, manipular e recuperar informações é
realmente bastante significativo. A pesquisa realizada e apresentada na
introdução deste trabalho mostra claramente o tempo gasto pelos usuários de
tecnologia para lidar com o grande volume de informações que estamos
expostos.
Sentindo essa necessidade latente nos usuários de computador, o
Google lançou recentemente um sistema de busca para computador pessoal: o
Google Desktop. Ele pode ser baixado gratuitamente pela Internet no endereço
http://desktop.google.com. Na figura abaixo, apresentamos a interface do
Google Desktop e percebemos as opções disponibilizadas para encontrarmos
arquivos digitais em nosso computador pessoal.
175
Figura 26 Google Desktop Search.. Disponível em <http://desktop.google.com>. Acesso em 10/03/2005.
O objetivo do método de comunicação RCPTIA - Relação de
Contextos Pessoais, Tecnológicos e Institucionais Associativos - é
permitir aos sistemas de recuperação e armazenamento de informações
de uma ou mais instituições, a utilização dos processos cognitivos
pessoais, associados aos processos cognitivos do sistema
computacional utilizado, associados aos processos cognitivos da(s)
instituição(ões).
O resultado esperado é facilitar numa determinada comunidade ou
instituição, a organização e a recuperação de informações armazenadas
176
digitalmente, associando contextos pessoais, tecnológicos e institucionais, a
arquivos digitais, e desta forma, facilitando o usuário a encontrar as
informações e arquivos desejados baseados em suas associações mentais. O
RCPTIA propõe uma taxionomia dinâmica que associa contextos
pessoais, contextos institucionais e contextos tecnológicos a todo
arquivo digital ou endereço na Internet.
Esse método foi concebido, pensando principalmente em portais
corporativos, intranets, bibliotecas digitais e repositórios de informações.
Geralmente essas soluções tecnológicas armazenam arquivos em um ou mais
servidores, que são acessados pelos computadores pessoais dos usuários, via
uma rede local de computadores ou via Internet.
Mesmo tendo pensado nesse tipo de solução inicialmente, o método
pode também ser aplicado e utilizado em diversos aplicativos como um sistema
de busca e de recuperação de informações. O método RCPTIA pode funcionar
integrado a determinados aplicativos como índice de busca.
177
Na figura abaixo, podemos visualizar graficamente a proposta do método
RCPTIA.
Arquivos digitais
Contextos
Institucionais
Contextos
Pessoais
Contextos
tecnológicos
Figura 27 Contextos e método RCPTIA
178
As análises e constatações feitas pelos diversos autores citados nesse
trabalho me forneceram subsídios conceituais fundamentais para a criação do
método RCPTIA - Relação de Contextos Pessoais, Tecnológicos e
Institucionais Associativos.
179
Portal, banco de dados ou repositórios de informações
Baseado em:
• DAVENPORT e PRUSACK (1998) que destacam a importância
de uma cultura de transferência e compartilhamento de
conhecimento como fator fundamental;
• KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) que colocam que o conceito
de capacitação para o conhecimento deve facilitar
relacionamentos e conversas, assim como o compartilhamento de
conhecimento;
percebo que o compartilhamento de conhecimentos é tido como benéfico. Para
podermos compartilhar informações e conhecimentos, para além do contato
pessoal físico ou telefônico, que sem dúvida continuam fundamentais, a opção
de podermos compartilhar informações e conhecimento através de um portal
que armazene informações em formato digital, surge como uma alternativa
natural numa sociedade informatizada. Assim, faz sentido disponibilizar um
banco de dados que permita as pessoas compartilharem suas informações.
Desta forma, justifico que a aplicação do método RCPTIA proposto, se aplica a
portais corporativos, intranets ou quaisquer outros aplicativos tecnológicos que
tenham como objetivo disponibilizar informações a uma determinada
comunidade de pessoas.
180
Codificação de conhecimento e contexto humano
Baseado em:
• VARELA (1997) que descreve a cognição como a emergência de
estados globais em uma rede de componentes simples. A
cognição é ação corporificada onde estão também imbricadas as
histórias vividas. Assim, em sua Teoria Enativa, a corporeidade
humana e o mundo emergem conjuntamente mediante a história
de acoplamento estrutural. Existe uma circularidade entre ciência
e experiência, ciência e corporificação, da experiência e da
cognição. A ação corporificada envolve todo o corpo enquanto
estrutura experencial vivida a partir dele enquanto contexto ou
âmbito dos mecanismos cognitivos. O conceito de mente
incorporada de VARELA (1997) recorda que aprendizagem e
conhecimento envolvem percepção e intuição e tudo mais que
constitui a estrutura do sistema vivo.
• DAVENPORT e PRUSACK (1998) que descrevem que nas redes
informais de pessoas presentes nas organizações, ocorrem
conversas informais na hora do café ou conversas no dia-a-dia.
São momentos informais onde conhecimentos tácitos, que
residem na mente humana, podem ser compartilhados e
debatidos pelas pessoas. Nessas conversas, nada está sendo
registrado explicitamente. Pode sim, estar sendo gravado na
181
mente das pessoas, mas não será necessariamente explicitado
em algum outro meio físico;
• WEICK (1995) que coloca o valor das narrativas como um ponto
importante. Quando pensamos em codificar conhecimentos
tácitos, realmente faz sentido. WEICK (1995) coloca que uma
resposta que preserve plausibilidade e coerência, que seja
razoável e memorável, que englobe experiências passadas e
expectativas, que envolva outras pessoas, que possa ser
construída retrospectivamente e usada devidamente, que capture
sentimentos e pensamentos, que seja divertida de ser construída,
enfim uma resposta com as características citadas acima, é o que
se faz necessário para que uma boa história faça sentido. Sendo
assim, uma boa narrativa é essencial na codificação de
conhecimento. Quando algum ex-combatente discorre sobre
histórias de guerra, onde descreve a realidade das trincheiras, é
uma forma efetiva de comunicação com conhecimento: envolve
uma rica e complexa compreensão de uma situação num
determinado contexto humano.
• SVEIBY (1998) define conhecimento como uma capacidade de
agir e afirma que o conhecimento não pode ser destacado de seu
contexto.
182
percebo que existe uma complexidade em transformar conhecimentos tácitos
(que residem nas mentes das pessoas) em explícitos, para podermos
armazená-los em formato digital. Não é fácil codificar conhecimento, sem
perder suas propriedades e transformá-lo apenas em dados digitais. Dar
contexto pessoalmente a certo discurso, pode não ser fácil, mas é fundamental
para que os ouvintes possam compreender e entender, o que um palestrante
tenta transmitir. Para que esse contexto seja compartilhado com os ouvintes, o
palestrante tenta passar seus sentimentos, emoções e a situação em que
esteve envolvido, com o objetivo de criar um contexto adequado para sua
história. Criar esse contexto num ambiente digital é o desafio.
Portanto no método RCPTIA, ao codificar seu conhecimento, cada
pessoa pode associar ao seu documento digital, referências pessoais e
referências institucionais que ajudem a dar o contexto adequado aos
usuários que acessarem o portal. No momento em que o usuário está
registrando um novo documento na base de dados, ele pode associar seu
arquivo digital tanto com contextos pessoais ou institucionais. Essa associação
é feita através de uma palavra-chave ou de uma sentença. A implementação
do método RCPTIA no portal do MBIS permite que isso seja feito da seguinte
forma: cada documento digital pode ser associado a, no mínimo uma palavra-
chave, e no máximo 4 palavras-chave. Na verdade essa palavra-chave também
pode ser uma sentença. A figura abaixo ilustra os quatro campos de palavras-
chave que podem ser associados ao documento digital no momento de sua
inclusão no portal MBIS, que será mostrado com detalhes mais adiante.
183
Figura 28 Cadastro de documento no portal MBIS
184
Fomentar novos relacionamentos num espaço virtual
Baseado em:
• KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) que destacam que a eficácia
da criação de conhecimento depende de um contexto
capacitante, isto é, um espaço compartilhado que fomente
novos relacionamentos. Eles afirmam:
Com base na idéia japonesa de ba (ou lugar), tal contexto organizacional pode ser físico, virtual, mental – ou mais provavelmente todos os três. Essa definição de contexto se relaciona com dois pontos anteriores: o conhecimento é dinâmico, relacional e baseado na ação humana; depende da situação e das pessoas envolvidas, e não de verdades absolutas e de fatos tangíveis; (KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001, p. 16);
percebo que além das pessoas compartilharem informações relevantes,
acessando documentos digitais armazenados num banco de dados, propiciar
uma infra-estrutura tecnológica que permita a comunicação e a troca de
experiências entre as pessoas, também é um incentivo benéfico, tanto para as
pessoas, como para as organizações. Por isso, a disponibilização de infra-
estrutura de comunidade virtual, onde as pessoas possam conviver no
ciberespaço se faz importante.
185
Contextos Institucionais
Baseado em:
• DAVENPORT e PRUSACK (1998) que descrevem o caso de uma
organização preocupada em permitir a troca de conhecimentos
entre seus funcionários. Como uma organização pode transferir
conhecimento de maneira efetiva? Uma resposta imediata pode
ser contratar profissionais capacitados e inteligentes, e colocá-los
para conversar. Mas essa segunda parte, não é tão simples e fácil
de acontecer, pois envolve não somente as relações humanas
como também a estrutura organizacional da empresa. Muitas
vezes, ótimos profissionais são contratados e alocados em tarefas
onde ficam isolados e não sobra tempo para conversarem e se
integrarem com outras pessoas na empresa. Mas caso esses
profissionais tenham tempo para discutir idéias e conversar, de
nada adianta, se eles não usam uma mesma linguagem comum
onde se compreendam. A linguagem é sem dúvida um ponto
fundamental para isso.
• KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) que diferenciam barreiras de
comunicação em pessoais, e institucionais. Derrubar essas
barreiras de comunicação facilita o compartilhamento de
informações nas organizações permitindo diminuir as diferenças
de conhecimento existentes entre as pessoas. Bons
186
relacionamentos entre as pessoas são fundamentais, por
derrubarem barreiras de desconfiança e medo, eliminando assim
tanto barreiras pessoais como organizacionais. A linguagem
surge também como outra barreira organizacional. A criação de
uma linguagem comum na organização é um desafio, pois ao
formarmos grupos de pessoas de diferentes áreas, cada uma
compartilha seus conhecimentos, na própria linguagem de sua
área, que nem sempre é compreendida pelo grupo. A explicitação
de um conhecimento tácito não é trivial e já foi citado
anteriormente. Se no ato desta explicitação, uma pessoa utiliza
palavras que são desconhecidas pelos outros, ficará muito mais
difícil de se fazer compreender. Portanto é fundamental utilizar
uma linguagem comum que seja aceitável por membros da
comunidade e pela organização em geral.
percebo que o estabelecimento de uma linguagem comum é benéfico para o
relacionamento das pessoas numa instituição. Portanto, definir uma linguagem
comum, para os integrantes de uma determinada instituição, faz sentido. No
método RCPTIA essa linguagem comum está contemplada através da criação
de uma lista de contextos institucionais.
187
Contextos pessoais
Baseado em:
• MATURANA e VARELA (2003) que ressaltam que a maneira
como os seres vivos conhecem o mundo é fundamental para
entendermos os processos de conhecimento;
• MATURANA (2001) que diz que:
A partir de nosso cotidiano sabemos também que, ao escutar alguém, o que ouvimos é um acontecer interno a nós, e não o que outro diz, embora o que ouvimos seja desencadeado por ele ou por ela. (MATURANA , 2001, p.174);
• MORAES (2004) que reforça que as teorias de MATURANA e
VARELA acabam com o pensamento instrucionista ao explicar
que nada pode ser imposto de fora para dentro do indivíduo, e
que a realidade não é independente do observador. O papel
subjetivo e cognitivo do observador é fundamental na percepção
desta realidade, interagindo com suas histórias passadas, intuição
e emoção;
• (WITTGENSTEIN apud KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001) que
afirma que em geral o conhecimento depende dos olhos do
observador e confere-se significado ao conceito pela maneira
como se utiliza;
188
• KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) que colocam que:
Portanto, quando se cria conhecimento, interpreta-se uma nova situação, desenvolvendo crenças comprovadas e comprometendo-se com elas. Conforme essa definição, o conhecimento é uma construção da realidade, e não algo verdadeiro de maneira abstrata ou universal. (KROGH, ICHIJO e NONAKA, 2001, p.15);
percebo que a interpretação do mundo, se dá no olhar subjetivo do observador.
O sistema cognitivo pessoal leva em consideração a sensibilidade pessoal e
sua experiência individual. Portanto, permitir que as pessoas possam registrar
ou guardar suas informações, baseadas na sua própria forma de pensar, faz
sentido para poder recuperá-las depois, pelo caminho de seu próprio olhar.
Levando em consideração o seu modo subjetivo de pensar, provavelmente as
pessoas conseguirão recuperar suas informações mais rapidamente no portal
de informações. No método RCPTIA, o sistema cognitivo pessoal é
contemplado por uma lista de contextos pessoais, criada por cada usuário.
Desta forma, o usuário pode reconstruir seu processo cognitivo para conseguir
recuperar informações de sua própria maneira.
189
Ciências cognitivas, linguagem e contextos tecnológicos
Baseado em:
• MORAES (2004), baseada na teoria autopoiética, considera
instituições e coletividades como organizações autopoiéticas,
constituídas por seres humanos e suas respectivas relações. Tal
aspecto implica em que os sujeitos, com suas ações, tecnologias,
relações e demais recursos, criam ambientes de aprendizagem
que apresentam diferentes ecologias cognitivas, onde cada rede
de relações envolvendo sujeitos, tecnologias e instituições
produz diferentes possibilidades cognitivas.
• MATURANA e VARELA (2003) que dizem que:
Toda reflexão ocorre necessariamente na linguagem, que é nossa maneira particular de ser humanos e estar no fazer humano. Por isso, a linguagem é também nosso ponto de partida, nosso instrumento cognitivo e nosso problema. (MATURANA e VARELA, 2003, p. 32);
percebo que a compreensão da linguagem, por todos aqueles que pertencem a
um determinado ecossistema, é ponto de partida importante para fomentar uma
comunicação efetiva. No método RCPTIA existe uma preocupação grande na
criação de uma linguagem comum associada a uma linguagem pessoal e a
uma linguagem tecnológica. Levando em consideração a linguagem como
nosso instrumento cognitivo, gostaria de reforçar que além da linguagem, os
meios pelos quais nos comunicamos também exigem cuidado e atenção.
Quero dizer que pela exclusão digital, por exemplo, podemos inibir ou restringir
o potencial de comunicação das pessoas. Acredito que a capacitação dos
190
usuários para a utilização de novas tecnologias de forma abrangente, se torna
fundamental. É o que chamo aqui da linguagem tecnológica. Sem o
conhecimento dessa linguagem tecnológica fica impossível a aplicação do
método RCPTIA.
191
Relações ecológicas e sistêmicas. A associação de contextos
pessoais, institucionais e tecnológicos. E os processos
pessoais e sociais.
Baseado em:
• MATURANA e VARELA (2003) que apresentam as bases
biológicas da compreensão humana e colocam que a vida é um
processo contínuo de conhecimento, e que para entendê-la é
necessário compreender como os seres vivos conhecem o
mundo. Como vivemos no mundo com outros seres vivos, como
desenvolvemos nossa vida num processo contínuo de
interação com outros seres vivos e com o mundo. Nosso
comportamento é influenciado por esta interação assim como pelo
que vemos e sentimos;
• MORAES (2004) que define o pensamento eco-sistêmico como
um pensamento que se estende além da ecologia natural,
englobando a cultura, a sociedade, a mente, e o indivíduo. A
interdependência existente entre os diferentes domínios da
natureza, a existência de relações intersistêmicas que acontecem
entre seres, indivíduos e contexto, docentes e discentes;
• MORAES (2004) que explica que a natureza das relações
ecológicas indica que o comportamento de um sistema influencia
e é influenciado pelo comportamento do outro. Indica também que
192
estamos interconectados por uma rede invisível da qual cada um
nós é apenas um de seus elos. Assim, o organismo humano está
sempre submetido a interações físicas e essas ajudam o sujeito a
se autoconstruir. Para entender a dinâmica de qualquer
organização é preciso também conhecer as interconexões e os
seus padrões interativos. Assim, para entender a interatividade e
o funcionamento dinâmico de uma rede, é preciso entender as
suas relações constituintes.
• MORAES (2004) coloca que o sistema necessita dialogar com a
cultura, com o contexto e transformar-se a partir de sua relação
com o mundo a seu redor. Somente desta maneira emergirão os
processos interativos que dão equilíbrio aos sistemas que se
relacionam;
• (MORIN apud MORAES, 2004, p. 155) diz que a sociedade é uma
unidade complexa, aberta, auto-produtora, reprodutora de seus
elementos constituintes e de suas formas como também é auto-
eco-organizadora. Ele considera o meio urbano, por exemplo,
como um ecossistema do ponto de vista de cada um dos sistemas
envolvidos, quer se trate de indivíduos, de grupos, de empresas
ou de instituições. Ele reconhece que um ecossistema apresenta
uma relação de depedência/independência, onde existem
elementos de ordem e de bifurcação, que permite lhe organizar-
se e desenvolver sua autonomia;
193
• KROGH, ICHIJO e NONAKA (2001) que colocam que numa
situação de justificar suas idéias para um grupo, a pessoa está na
verdade justificando suas próprias crenças frente aos colegas. É
um processo de justificativa, persuasão, explicação e coesão
humana que transforma o conhecimento humano em um
processo social e individual;
percebo que o fato de um sistema ter de se relacionar com o meio por
processos interativos de comunicação faz com que os participantes do sistema
interajam entre si, e também interajam com o meio. No método RCPTIA, a
possibilidade de relacionar tanto contextos pessoais combinados com
contextos institucionais, tem como objetivo relacionar os processos cognitivos e
emocionais das pessoas, bem como os processos informacionais que
acontecem na instituição. Assim, os nós da rede de pessoas, através de um
sistema informacional, podem se relacionar com o ambiente institucional,
visando a criação de um contexto que permite a colaboração das pessoas com
a instituição e vice-versa.
No método RCPTIA, associar um arquivo digital tanto a contextos
pessoais como a contextos institucionais:
• permite ao usuário que alimentou o banco de dados a recuperar
uma informação utilizando seus processos cognitivos pessoais;
194
• permite ao usuário recuperar uma informação utilizando os
processos cognitivos institucionais;
• permite ao usuário que efetuou uma busca no banco de dados de
descobrir porque faz sentido o documento estar incluído no banco
de dados. Descobrir as relações do documento digital com aos
processos cognitivos institucionais assim como as relações
associadas pelo usuário que alimentou o banco de dados.
No caso da implementação do método RCPTIA, no portal MBIS,
detalhadamente explicado mais adiante, podemos visualizar a associação de
um documento digital aos seus contextos, na tela de resultado de uma busca.
O resultado da busca lista os documentos encontrados. Para cada documento,
podemos visualizar:
• o nome do usuário que criou o documento;
• o nome do documento (título);
• a data de criação do documento no ambiente, no formato
mês/ano;
• a avaliação do documento, isto é, se algum usuário do portal
considerou o documento fraco ou forte, isto é, interessante ou
não;
• o local onde o documento reside, que pode ser rede local ou
Internet;
• e as palavras-chave que associam o documento aos contextos.
195
No exemplo exibido, conforme mostra figura a seguir, podemos observar
que o documento cujo título é “MIT Open courseware” foi criado pelo usuário
alexandrecs, em novembro de 2003, e que este usuário associou o documento
a quatro contextos diferentes:
• Contexto 1: trate-se de um contexto institucional chamado Disc.
Novas Tecnologias.
• Contexto 2: trata-se de um contexto institucional chamado EAD –
Educação a distância.
• Contexto 3: trata-se de um contexto pessoal chamado E-
LEARNING.
• Contexto 4: trata-se de um contexto pessoal chamado MIT
196
Figura 29 Resultado de busca no portal MBIS
197
O hipertexto e o sistema cognitivo associativo da mente
Baseado em:
• BUSH (1945) é citado como um dos precursores do hipertexto e
de sistemas hipermídia. Com a explosão do conhecimento
científico no final da segunda guerra mundial em 1945, Bush
propôs o sistema memex para suplementar a memória pessoal.
Bush percebeu que a memória humana operava por
associações, e verificou que os sistemas de armazenamento não
levavam em consideração os processos cognitivos pessoais. Na
realidade, o sistema foi conceitualmente concebido por BUSH
(1945).
• POLANYI (1958), que diz que o conhecimento é orientado para a
ação e pode ser refletido em verbos como aprender, esquecer,
lembrar e compreender. Adquirir e gerar novos conhecimentos faz
parte de um processo normal de saber. POLANYI (1958) usa o
termo processo de saber, inspirado pela psicologia gestáltica,
como um processo de reunião de pistas fragmentadas, por
intermédio de percepções sensoriais e a partir de lembranças, e
agrupamento das mesmas em categorias. Ao ler algum artigo, por
exemplo, fazemos uma associação com um conjunto de
informações ou experiências passadas. Para POLANYI (1958)
esse ato de associação é um ato informal da mente e não
pode ser praticado mediante uma operação formal ou um sistema
198
de inteligência artificial. A associação de conhecimentos é uma
habilidade pessoal inalienável e intransferível; cada pessoa deve
construí-la individualmente.
percebo que a estrutura do hipertexto permite ao usuário seguir seu próprio
roteiro de leitura, guiado pelos seus próprios interesses. No método RCPTIA,
permitir ao usuário fazer uma busca em banco de dados utilizando como
sistema de busca uma lista de índices baseada em contextos pessoais, é trazer
para um sistema de recuperação de informações a liberdade de escolha de
leitura fornecida pela cultura do hipertexto.
199
Web Semântica
A Web Semântica foi idealizada por BERNERS-LEE et al (2001) com
objetivo de estruturar de maneira semântica a grande quantidade de páginas
existentes na Web. Trata-se da mesma Web que conhecemos hoje, mas que
seguindo este novo padrão permitirá, por exemplo, que agentes de software
possam entender e compreender de maneira estruturada o conteúdo das
páginas Web de acordo com seu significado. Desta forma, os resultados de
nossas buscas na Web podem ser muito mais eficazes e acertados, pois as
ferramentas de busca teriam como associar o que o usuário está procurando,
com as páginas que semanticamente abordam o tema buscado. O surgimento
da Web Semântica é também motivado pelo grande crescimento de
informações disponíveis na Web e a dificuldade de encontrar informações
desejadas baseado na semântica das páginas disponíveis.
O W3C – Consortium é um consórcio que tem como um dos objetivos
fazer com que a Web permita que cada vez mais pessoas possam se
comunicar e trocar conhecimento. Esse objetivo implica no desenvolvimento de
padrões mundiais que permitam o acesso a web em diferentes línguas e
utilizando diferentes hardwares como computador e celular. Desenvolver e
manter os padrões da Web também são fundamentais. Atualmente, Tim
Berners-Lee é o diretor do W3C. Trata-se de um consórcio formado por
Institutos de Pesquisa, técnicos, produtores de softwares e pesquisadores, que
desenvolvem novas soluções na Web que possam ser utilizadas pelos
internautas. A Web Semântica é um dos novos padrões estudados pelo W3C
200
nos últimos anos. O W3C é atualmente administrado conjuntamente pelo MIT
Computer Science and Artificial Intelligence Laboratory (CSAIL) nos Estados
Unidos, pelo European Research Consortium for Informatics and Mathematics
(ERCIM), na França, e pela Keio University, no Japão. Além disso, o W3C
atualmente mantém quinze escritórios espalhados pelo mundo.
Para a implementação da Web Semântica, o W3C criou o padrão RDF –
Resource Description Framework - para a definição e uso de metadados. O
RDF é um modelo que permite associar significado aos dados e utiliza a
linguagem XML em forma de triplas <objeto, atributo, valor>. Assim posso
definir um objeto A, que apresenta um atributo x cujo valor é 3 <A, x, 3>. Desta
forma também posso representar um objeto carro, com um atributo marca e
valor Jaguar. Podemos assim descrever um objeto ou um conceito utilizando as
triplas <objeto, atributo, valor>.
As páginas da Web de hoje são escritas na linguagem HTML –
Hypertext Markup Language. O padrão definido pelo W3C com RDF propõe a
utilização da linguagem XML – Extensible Markup Language nas páginas
HTML existentes. Assim, as TAGs de XML permitirão as ferramentas de busca
encontrarem páginas baseadas na definição semântica escrita pelos criadores
destas páginas.
No padrão RDF para que possamos reconhecer e associar páginas da
Web de acordo com o seu conteúdo semântico é necessário criar uma relação
entre os conceitos que estão sendo relacionados. Na proposta do W3C, essa
201
relação é criada a partir de uma ontologia que pode ser definida como um
conjunto de termos que são utilizados para representar determinados
conceitos. Assim, com a utilização dessas ontologias, passamos a utilizar um
mesmo dicionário de conceitos. Na prática, significaria que ao criar uma página
Web que trata do conceito x, podemos associar esta página com todas as
outras que também foram criadas utilizando o mesmo conceito x. Com isso,
fica possível associar as páginas Web de acordo com seu significado. A
criação dessas ontologias envolve a definição de uma hierarquia de classes e
subclasses e assim por diante. A partir dessas ontologias também é possível
criar regras de inferências que permitem relacionar informações de diferentes
páginas.
Para o funcionamento da Web Semântica, o RDF propõe além da
utilização de uma ontologia, a criação de um identificador chamado de URI –
Universal Resource Identifier. Assim como utilizamos as URLs – Universal
Resource Locator - para acessar qualquer site, existem as URIs. As pessoas
poderão criar um novo conceito e na sua página web definir esta URI. O
padrão RDF faria acesso a estas URLs no momento de uma pesquisa.
Podemos verificar que um dos desafios da Web Semântica é criar uma
linguagem universal que permita associação de dados a sistemas de
conhecimentos definidos, que nos permitam relacionar as páginas Web de
acordo com seus sentidos semânticos. O RDF Data Access Working Group do
W3C publicou, no dia 21/07/2005, o segundo rascunho de uma linguagem de
consulta de dados para o padrão RDF: a SPARQL. A idéia é que essa
202
linguagem possa ser utilizada no desenvolvimento de aplicações de web
semântica.
Trazendo as idéias da Web Semântica, para o método RCPTIA, que
estou propondo, quando falo de um sistema cognitivo institucional da
organização, posso representar esse sistema cognitivo na forma de uma
ontologia institucional.
Na proposta da Web Semântica teremos juntamente com a linguagem
HTML que contém os conteúdos de páginas Web, uma parte de código escrito
em XML seguindo o padrão RDF. A figura abaixo ilustra um possível cenário
da utilização da Web Semântica:
Os usuários criam suas páginas Web e inserem no código
da página HTML o(s) conceito(s) ou significado(s) de sua
página segundo o padrão RDF. As páginas são
disponibilizadas na Web normalmente.
Eles utilizam ontologias para apoiar os termos utilizados na
definição de seus conceitos. Dessa forma, evita-se que os
usuários utilizem palavras diferentes ao falarem de um
mesmo objeto ou conceito. A ontologia é uma taxonomia
onde fica definido que termo o usuário deve usar:
automóvel ou carro, e-learning ou educação a distância?
203
Os Agentes inteligentes permitem percorrer a web, associar
e relacionar as páginas criadas de acordo com o seu
significado, que está explicitado segundo o padrão RDF
dentro de cada página.
Figura 30 Possível cenário de utilização de web semântica
A utilização da Web Semântica representa uma grande evolução, se
pensarmos que as ferramentas de busca vistas anteriormente reconhecem as
palavras colocadas na busca e não os conceitos ou os significados tratados
nas páginas Web. Assim os robôs utilizados pelas ferramentas de buscas
poderão também classificar as páginas pelos seus conteúdos, já que estarão
disponíveis dentro de cada página.
Um grande desafio que vejo na Web Semântica é fazer com que as
pessoas, ao criarem suas páginas web, realmente associem os conceitos que
estão relacionados a ela seguindo uma ontologia definida.
204
Implementação do método de comunicação RCPTIA
No método de comunicação RCPTIA, podemos considerar algumas
semelhanças e algumas diferenças com o conceito de Web Semântica. A
começar pela abrangência, o RCPTIA não foi imaginado para ser utilizado na
recuperação de informações em toda a Web. A idéia é poder colocá-lo em
prática dentro de uma organização ou de um conjunto de organizações que
compartilhem os mesmos objetivos, crenças e cultura.
O método RCPTIA pode funcionar em conjunto com soluções
tecnológicas que já estejam em funcionamento como portais, repositórios de
documentos, bibliotecas digitais, intranets e outros sistemas. Para ser utilizado
em sistemas que já funcionam, se faz necessária sua integração com os
sistemas atuais. Basicamente, os sistemas que já estão em funcionamento,
passariam a utilizar como motor de busca o método RCPTIA. Para isso, é
necessário que a alimentação da base dados seja feita de acordo com o
método. Na verdade, em sistemas já existentes, o método RCPTIA funcionaria
como um indexador que auxiliaria as pessoas no registro de informações e
documentos, numa primeira etapa, e depois na busca dos mesmos.
A implementação do método RCPTIA deve seguir algumas etapas para
funcionar:
205
1ª Etapa: Criação de uma relação de contextos institucionais de acordo
com os interesses da organização. Podemos também chamar esses contextos
institucionais de uma ontologia organizacional.
2ª Etapa: Desenvolvimento de software de indexação que possa
funcionar integrado ao portal de conhecimento da organização. O método
RCPTIA implementa uma indexação dos documentos da instituição associando
tanto contextos pessoais como institucionais.
3ª Etapa: Valorização de sua própria forma de pensar. O treinamento de
conscientização do usuário com objetivo de mostrar que ele poderá recuperar
documentos do portal utilizando sua própria forma pessoal de pensar. Mas que
para isso, no momento em que ele incluir algum documento digital no portal,
ele deve associá-lo a palavras ou frases que façam sentido para ele. Na
medida, em que o usuário for associando seus próprios contextos pessoais a
documentos do portal, ele estará automaticamente criando sua própria
ontologia pessoal para a recuperação de informações.
4ª Etapa: Valorização do contexto institucional que estimula uma
linguagem comum dentro da organização. O fato das pessoas utilizarem uma
linguagem comum, independentemente da área a qual pertencem facilita a
comunicação entre elas.
5ª Etapa: Mostrar os benefícios da utilização conjunta de contextos
institucionais e contextos pessoais associados aos documentos digitais.
206
Mostrar como recuperar documentos cadastrados pela Instituição utilizando
não apenas os contextos institucionais, mas também seus contextos pessoais.
Mostrar que a facilidade na recuperação dos documentos contribui tanto para a
organização das informações no âmbito pessoal como institucional.
6ª Etapa: Conscientização da atenção do registro dos documentos no
portal para podermos recuperá-los depois.
7ª Etapa: Fomento a criação de comunidades virtuais com interesse
semelhantes. A utilização do portal possibilita às pessoas conhecerem outras
pessoas da instituição com interesses semelhantes ou complementares ao seu.
Isso amplia o relacionamento social de todos com novas pessoas na
instituição.
207
Implementação do método RCPTIA no portal MBIS
Para exemplificarmos melhor o método RCPTIA, analisemos o caso do
curso de pós-graduação Lato-sensu da PUC/SP chamado MBIS – Master
Business Information Systems - Executivo em Ciência da Computação que
utiliza o método em seu portal. O programa é composto por disciplinas e
seminários. As disciplinas são engenharia de software, métodos quantitativos,
“datawarehouse”, sistemas especialistas, comércio eletrônico, gerenciamento
de comunicação de dados, administração estratégica da informação, teoria da
decisão, avaliação financeira de projetos, sistemas de informação gerencial,
novas tecnologias, teoria da administração, administração estratégica,
empresas e negócios, finanças das empresas, marketing dos negócios,
recursos humanos e administração de operações. Os seminários são: cenários
de mercado, “customer relationship management”, gerenciamento de projetos,
comunicação empresarial, monografia e fundamentos de economia.
Aplicando os conceitos do método RCPTIA, podemos afirmar que cada
uma destas disciplinas ou seminários forma diferentes contextos institucionais.
Além destes contextos, existe uma enorme variedade de assuntos estudados
no programa e que também podemos considerar como contextos institucionais,
pois eles são tratados tanto nas disciplinas como nos seminários. Por exemplo:
CMM, e-learning, Java, e-business, B2B, balanced scorecard entre outros.
Temos assim categorizados vários contextos institucionais que poderão
ser associados a arquivos (ou sites na Internet).
208
O método RCPTIA foi aplicado ao portal do programa MBIS. Como a
comunidade que participa do programa MBIS é formada por alunos, ex-alunos
e professores do programa MBIS, todos eles têm acesso a este portal. Neste
portal podemos buscar informações utilizando estes contextos institucionais
para descobrirmos o que temos cadastrado no portal.
No caso do portal MBIS, consideramos palavra-chave como sendo
contexto do método RCPTIA.
Cada usuário do portal MBIS terá a sua disposição uma relação de
contextos institucionais (no portal eles são chamados de palavra-chave
institucional) e uma relação de contextos pessoais (ou palavra-chave pessoal).
Cada usuário cria sua relação de contextos pessoais. A relação de contextos
institucionais do programa MBIS foi criada pela coordenação do programa
juntamente com seus professores.
Na figura abaixo podemos visualizar parte da relação de contextos
institucionais definidos:
209
Figura 31 Contextos institucionais no portal MBIS
Na figura abaixo podemos visualizar parte da relação de contextos pessoais
por mim criados:
210
Figura 32 Contextos pessoais no portal MBIS
Para recuperar arquivos ou documentos cadastrados no portal, podemos
fazer uma busca utilizando tanto contextos institucionais como contextos
pessoais. A figura abaixo mostra a tela de busca, onde iremos realizar uma
busca no portal MBIS sobre arquivos associados ao contexto institucional e-
business:
211
Figura 33 Busca com contexto institucional no portal MBIS
O resultado da busca pode ser visualizado na figura a seguir. Podemos
observar que cada arquivo ou link na Internet temos a coluna palavra-chave
que nos mostrará os contextos que este arquivo foi associado.
212
Figura 34 Resultado de busca sobre e-business no portal MBIS
Podemos observar na figura acima:
• uma relação de arquivos associados ao contexto e-business;
• na coluna Palavra-chave existe sempre uma associação com até quatro
contextos, sejam eles institucionais ou pessoais;
• o arquivo com título Caso Volks – b2b está selecionado, e podemos
observar que ele está associado quatro contextos diferentes (Disc.
213
Comércio Eletrônico, e-business. e-commerce e MBIS 2004. A cor
laranja indica contextos institucionais. Nesse caso associamos esse
arquivos a quatro contextos institucionais.
Agora vamos fazer uma busca utilizando o contexto pessoal MIT. O
resultado na busca aparece na figura abaixo. Podemos observar que o arquivo
com título “MIT Open courseware – em português” está associado a dois
contextos pessoais (e-learning e MIT, que aparecem na cor preta) e dois
contextos institucionais (Disc. Novas Tecnologias e EAD – Educação a
distância, que aparecem na cor laranja).
214
Figura 35 Resultado de busca sobre EAD no portal MBIS
Quando um usuário cadastra um arquivo ou algum site no portal,
obrigatoriamente ele tem que associar a este arquivo ou link, no mínimo um e,
no máximo quatro contextos. A figura abaixo mostra a tela de cadastro
utilizado pelo usuário:
215
Figura 36 Cadastro de documento utilizando contextos no portal MBIS
É também interessante ressaltar que depois de utilizar este portal por
mais de dois anos, uma grande quantidade de arquivos e de sites foi
cadastrada no portal. Eu, Alexandre, tinha cadastrado até dia 31/10/2004 um
número 246 arquivos.
Como usuário do portal neste período, não me lembro de cabeça da
grande quantidade de arquivos e de informações que estão nele cadastradas.
O fato de eu poder realizar buscas utilizando os contextos realmente facilita
muito o meu dia-a-dia como professor, para poder compartilhar tanto com
colegas como com alunos informações relevantes que dificilmente eu
conseguiria recuperar se elas não estivessem organizadas de acordo com os
contextos.
216
Por muitas vezes, fazer uma busca utilizando os contextos pessoais, me
ajudou. Por outras vezes, utilizando os contextos institucionais e por outras
vezes utilizando contextos institucionais e pessoais.
Na verdade podemos comparar a associação dos contextos aos
arquivos, como uma espécie de taxionomia, pois estamos categorizando e
classificando os arquivos de acordo os contextos. Depois, ficará mais fácil
encontrar e recuperar os mesmos fazendo uma busca.
O fato de podermos criar novos contextos a qualquer momento foi
bastante útil no momento que eu estava cadastrando novos arquivos. Podemos
fazer novas associações de arquivos com novos contextos que até então não
haviam sido pensados. Às vezes, o contexto institucional não faz muito sentido
para nós, e gostaríamos de associar um arquivo a um contexto pessoal nosso:
o que é realmente bastante útil. Vale ressaltar que uma grande variedade de
serviços, portais e comunidades na Internet oferecem o serviço de
personalização como uma forma do usuário visualizar as informações
disponíveis de maneira subjetiva. É como se fosse um filtro, onde o usuário
seleciona o que deseja ver.
Quando temos uma taxionomia fixa, muitas vezes não conseguimos
classificar um documento de maneira pessoal ou personalizada. Desta forma
nossa subjetividade não tem como ser exercida.
217
Uma das grandes características do método RCPTIA é permitir a criação
de um contexto subjetivo para facilitar a organização de documentos e sites
cadastrados por nós em algum momento.
Utilizando o portal MBIS, nestes últimos anos também percebi que em
virtude da grande quantidade de documentos cadastrados, não consigo me
lembrar que eu havia cadastrado tantos arquivos interessantes. Minha memória
não dava conta dessa tamanha quantidade de arquivos. A utilização, tanto dos
contextos pessoais como dos contextos institucionais, foi muito útil para que eu
pudesse gerenciar de forma mais eficiente os documentos arquivados.
218
VI. Método RCPTIA com contextos hipermídia
O contexto hipermídia
Baseado em:
• LANDOW (1997) que afirma que o conceito de hipermídia
simplesmente leva a noção de texto do hipertexto para um mundo
onde podemos incluir informação visual, som, animação e outros
formatos de dados. Assim a hipermídia passa a juntar, através
dos hiperlinks, texto com imagem, imagem com texto, texto com
sons e assim por diante. Passamos do hipertexto baseado numa
linguagem escrita verbal para uma linguagem hipermídia. Assim
tanto o hipertexto como a hipermídia possibilitam uma leitura não
linear por parte dos leitores.
• RHEINGOLD (1991) coloca que o conceito de navegação
transcende o tipo particular da tecnologia utilizada para a
manipulação da informação. Assim é possível navegar:
• através de uma base de dados textuais;
• através de um elenco de imagens animadas;
• através de uma simulação virtual do mundo físico;
• ou via controle tele-robótica, por meio de uma parte
remota do mundo físico.
219
• SANTAELLA (2001) define hipermídia como uma nova linguagem
que traz novos modos de pensar, agir e sentir. A hipermídia nasce
da convergência fenomenológica de todas as linguagens como
uma síntese das matrizes da linguagem e do pensamento sonoro,
visual e verbal com todos os seus desdobramentos e misturas
possíveis. Novas formas de pensamento linear e não-linear
aparecem numa navegação por sistemas hipermídia. Essa
navegação muitas vezes se dá na leitura de um hipertexto. O
leitor passa a fazer sua leitura na ordem sugerida pela sua mente
explorando recursos visuais, verbais e sonoros na forma que ele
desejar. Em cada tela, o leitor escolhe para onde ir. Esse leitor, ou
no caso esse usuário, é que decide por onde navegar num clique
de um mouse, por exemplo. É o poder da interatividade
disponibilizado pela linguagem hipermídia que permite ao usuário
escolher esse caminho. Ela destaca na hipermídia a necessidade
de mapeamento ou de uma cartografia mental para a navegação,
como um grande potencial. Esse potencial correspondente a
modos de pensamento e arquitetura de fluxos informacionais.
• (WITTGENSTEIN apud SVEIBY, 1998), que primeiro em
Tractatus e depois em Investigações Filosóficas, ressalta que o
inexpressível existe. Conceitos intangíveis como tocar, soar
e se movimentar não podem ser explicados por meio de
palavras, mas somente mostrados. A dificuldade de se
220
explicitar o conhecimento tácito fica assim mais clara. Atualizar o
que pode ser explicitado também é uma ação que faz sentido;
• BAIRON e PETRY (2000) colocam que cada imagem já é um
roteiro. A cada apresentação de uma imagem ocorre um
rompimento da linearidade da expressão;
• BAIRON (2002) propõe um pensar hipermidiático e a importância
da relação entre áudio e construção imagética no
desenvolvimento de hipermídias;
percebo que a implementação do método RCPTIA utilizando apenas a
linguagem escrita para associar contextos pode ser estendida para uma
linguagem hipermídia, permitindo utilizar na busca não somente texto, mas
também imagens, sons e vídeos.
Já que as pessoas se lembram de imagens e sons e os associam, por
que não permitir que elas armazenem e recuperem informações? Expandir o
método RCPTIA para a linguagem hipermídia é bastante pertinente. Até, os
sistemas de informação mantêm a linguagem escrita como a mais utilizada.
Mas a evolução das interfaces de texto para as interfaces gráficas mostra sua
grande aceitação em nossa sociedade. Interfaces gráficas como as dos
sistemas operacionais da Apple e do Windows da Microsoft são hoje as mais
utilizadas. Dificilmente os usuários que passam a utilizar uma interface gráfica
voltariam às interfaces monocromáticas baseadas em texto.
221
Outro ponto interessante, que facilita a utilização de imagens e vídeos
como contextos pessoais e institucionais, é a popularização das máquinas
fotográficas digitais. Além de ser um produto que teve ótima aceitação em
nossa sociedade, o crescimento do número de celulares com máquina
fotográfica embutida também ajuda. Da mesma forma, surgem celulares com
capacidade de filmagem. As pessoas que registravam suas informações no
papel e no computador começam a ter acesso a fotos e filmes digitais. A
associação de imagens e filmes apresenta um grande potencial de utilização.
Esse conteúdo digital pode muito bem ser utilizado para o benefício pessoal na
organização de suas informações digitais.
O mundo da música digital também é uma tendência que não pára de
crescer. Escutar música digital seja no computador, no celular ou nos
dispositivos portáteis como o iPod da Apple são bons exemplos de como a
música em formato digital se relaciona com o cotidiano das pessoas. O formato
de música digital MP3 se tornou um padrão mundial. Os fabricantes de
eletrônicos buscam lançar produtos que sejam compatíveis com MP3 e outros
formatos de música digital. O celular passa a ser um aparelho que, além de nos
permitir conversar com as pessoas e tirar fotos, também nos permite ouvir
música e assistir televisão ou vídeos. As operadoras de telefonia celular
disponibilizam sites de downloads de conteúdo digital que podem ser baixados
nos aparelhos. A concorrência entre elas não pára de crescer e assim a oferta
para os usuários fica cada vez maior.
222
Dessa maneira, os contextos tanto pessoais quanto institucionais podem
facilmente ser alimentados na forma de imagens, sons e vídeos. No método
RCPTIA com contextos hipermídia, cada um é formado por uma tripla (texto,
imagem, vídeo) enquanto que no método RCPTIA tradicional cada contexto era
representado apenas na forma de texto.
Isso significa que todo documento pode ser associado a texto, imagem,
som ou vídeo. Desta forma, a busca por documentos em um portal pode ser
realizada escolhendo uma imagem, um som ou um vídeo ou mesmo um texto.
Ou então fazendo uma combinação entre eles.
No protótipo abaixo, podemos visualizar um pouco da riqueza de buscar
informações em um portal por meio de músicas, imagens e sons.
Acho realmente interessante fazer uma busca num portal através de
uma música ou uma imagem, já que muitas de nossas associações mentais
ocorrem com esses tipos de conteúdo. Como os computadores pessoais nos
permitem utilizar os recursos hipermídia de maneira bastante fácil, acredito que
o nosso gerenciamento de informações pode melhorar com a utilização desses
novos recursos.
223
Figura 37 Protótipo Portal hipermídia utilizando o método RCPTIA.
Ao criar um contexto pessoal, podemos associá-lo a tripla (texto,
imagem, vídeo), conforme ilustra a figura abaixo:
224
Figura 38 Cadastro de contexto pessoal no protótipo portal hipermídia
225
Ao visualizar a resposta de uma busca, temos a tela abaixo, onde
percebemos que cada documento listado pode estar associado a contextos
expressos em diferentes formatos hipermídia.
Figura 39 Resultado de busca no protótipo portal hipermídia.
226
VII Conclusão
Frente a enorme quantidade de informações a que estamos expostos na
sociedade, DAVENPORT (2004) mostra em suas pesquisas, a preocupação
com o tempo gasto em gerenciar nossa própria informação pessoal. Como
estamos inseridos profissionalmente numa instituição, nosso relacionamento
social e intelectual acontece também nas relações com as pessoas e nas
participações nos projetos que vivenciamos. Essas informações estão
relacionadas com nossos interesses, sejam eles pessoais ou profissionais.
Conseguirmos recuperá-las quando necessário, de forma prática, é, portanto,
bastante pertinente e fundamental.
Por outro lado, a Internet, como a maior rede mundial de computadores,
tem um papel decisivo na disseminação e distribuição de informações e
conhecimento aos seus utilizadores. É interessante observar que ela se
integrou com as outras mídias abrindo um novo canal de distribuição de
conteúdo e, também um novo canal de comunicação com os ouvintes,
telespectadores, leitores ou usuários. Ouvintes de rádio ou telespectadores de
TV interagem via e-mail com apresentadores e seus respectivos programas.
Leitores de jornais e revistas contatam os jornalistas por e-mail para darem
suas opiniões, fazerem questionamentos e expressarem críticas ou sugestões.
Essa integração da Internet com os meios tradicionais de comunicação
aumentou o espaço de relacionamento com público. Um exemplo claro deste
fato é o nascimento de sites de programas de rádio e TV. O canal de
relacionamento com ouvintes e telespectadores, que tradicionalmente
227
acontecia num espaço de tempo restrito ao momento em que o programa
estava sendo transmitido ao vivo, foi expandido. Sites de programas estão
disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana, elevando assim o espaço
temporal para gerar um contato ou uma interação com seus ouvintes ou
usuários. Uma enorme quantidade de informações é publicada e fica
disponível para consulta dos internautas interessados. Assim, ouvintes de
rádio, telespectadores de TV e internautas passam a utilizar tecnologias digitais
para se comunicarem e também acessam cada vez mais conteúdo
disponibilizado à comunidade.
A mídia impressa também se integrou com a Internet na criação de suas
versões eletrônicas na Internet, onde as notícias são atualizadas durante o dia
e à noite: o que traz uma nova dinâmica na publicação de matérias e conteúdo.
Uma outra instituição chamada Governo aparece como um grande
gerador de informações e de contato com os cidadãos. No Brasil, o
desenvolvimento do governo eletrônico no relacionamento com a população é
um grande exemplo. Sites governamentais, no âmbito municipal, estadual e
federal disponibilizam informações à população de suas ações, projetos e
resultados. Desta forma, somente em nosso país, podemos perceber um
volume crescente de informações disponibilizadas na Internet. Estamos assim
expostos, a cada dia que passa, a um grande volume de informações a serem
assimiladas.
228
Com o domínio da língua inglesa ou espanhola, por exemplo, temos
acesso a um volume de informações ainda muito maior. O fato de podermos
acessar cada vez mais informações de maneira rápida, nos obriga a lidar e
administrar cada vez mais informações. Esse crescente volume de informações
e conteúdo acaba nos levando a utilizar o computador como um aliado no
gerenciamento de nossas informações e conhecimento pessoais. Assim, a
inclusão digital, além de permitir às pessoas de interagirem na nossa
sociedade com outras pessoas e instituições, também favorece o acesso à
informação e cria a necessidade de um melhor gerenciamento de informações.
Analisando o estilo da sociedade digital na qual vivemos, temos uma
necessidade clara de gerenciar as informações de uma forma melhor, para
organizarmos nossas atividades do dia-a-dia. Com isso em mente, os conceitos
do pensamento eco-sistêmico, da teoria autopoiética, da enação, de contextos
capacitantes, de gestão de conhecimento, de codificação de conhecimento, de
linguagem comum, de linguagem como pensamento, de capacidade
associativa da mente e do pensamento hipermidiático são fundamentais na
construção de uma proposta de uma solução tecnológica de recuperação de
informações apresentada neste trabalho. Trata-se do método RCPTIA -
Relação de Contextos Pessoais, Tecnológicos e Institucionais Associativos -
criado com a finalidade de recuperar informações baseadas em contextos
pessoais e institucionais.
A partir do conceito de pensamento eco-sistêmico proposto por
MORAES (2004), que se estende além da ecologia natural, englobando a
229
cultura, a sociedade, a mente, e o indivíduo, podemos utilizar esse pensamento
em aplicações tecnológicas que nos ajudam a recuperar informações e
documentos de modo eco-sistêmico.
As bases biológicas do conhecimento humano de MATURANA e
VARELA determinam que as interações existentes entre o ser o vivo e o meio,
durante o processo de acoplamento estrutural, podem ser encontradas na
relação entre tecnologia, pessoas e instituição. Concluo que o acoplamento
estrutural pode ocorrer utilizando-se tecnologia, num ambiente que possibilite
às pessoas interagirem com uma organização, ao efetuar uma busca em um
repositório de documentos por meio da utilização de tecnologia.
As observações de WEICK (1995) mostram que em situações cotidianas
como reunião ou palestra, o conhecimento é melhor compreendido pelos
ouvintes, caso ele passe sentimento e seja colocado num contexto comum
compartilhado com a audiência. Concluo que o contexto é muito importante
para que as pessoas compreendam uma determinada mensagem.
A partir das pesquisas de gestão de conhecimento nas organizações,
realizadas por KROGH, ICHIJO e NONAKA, por DAVENPORT e PRUSACK, e
por SVEIBY, posso concluir que a relação de confiança entre as pessoas,
aliada a uma linguagem comum e a explicação de um contexto adequado,
facilitam a criação de conhecimento nas organizações, desde que a estrutura
organizacional fomente o relacionamento entre as pessoas. Esse
relacionamento pode acontecer tanto de forma presencial, como de forma
230
virtual, com a utilização de tecnologia da informação e comunicação. Como
nesses ambientes, é clara a interação entre pessoas e organização, foi
fundamental na criação do contexto no método RCPTIA, a associação de
contextos pessoais com contextos institucionais.
A partir da crença de BUSH (1945), de que a mente humana funciona
por associação, da representação gráfica dos mapas mentais de BUZAN, da
liberdade de navegação em hipertexto disponibilizada pela linguagem
hipermídia na Internet e da relação da linguagem com o pensamento não-linear
descrito por SANTAELLA (2004), concluo que a forma associativa natural da
mente operar, pode ser simulada num ambiente tecnológico de recuperação de
informações. Desta forma, o método RCPTIA permite a indexação associativa
de informações digitais de forma natural, isto é, permitindo que cada pessoa
possa utilizar seu próprio sistema cognitivo na recuperação de informações
num repositório de informações digitais, de forma dinâmica.
Do pensamento hipermidiático, proposto por BAIRON e PETRY (2000),
concluo que existe um grande espaço a ser conquistado com a integração de
texto, imagem, áudio e vídeo no desenvolvimento de softwares e aplicativos
permitindo explorar a relação entre criação e expressividade conceitual.
Fico satisfeito em perceber a convergência e a influência de diferentes
conceitos oriundos de diferentes áreas do conhecimento no meu trabalho. Fica
clara a relação entre o pensamento eco-sistêmico, a teoria autopoiética, as
interações pessoais e sociais, as relações pessoais emotivas, a criação de
231
confiança, o ambiente favorável, os contextos capacitadores, a linguagem
comum, a linguagem hipermídia, a forma associativa da mente funcionar, a
influência digital no pensamento não linear e a organização de informações
pessoais que estão presentes no método de comunicação RCPTIA.
Acredito que este seja o início de uma pesquisa que apresentou um
método que pode ser testado e aplicado em diversas comunidades, como por
exemplo, em bibliotecas digitais tanto no meio acadêmico como corporativo. A
maioria dos repositórios de bibliotecas digitais existentes deixa a busca restrita
basicamente a títulos, autores, datas e temas. Permitir acoplar a estes portais,
o método RCPTIA e, permitir que cada usuário possa utilizar seu próprio
sistema cognitivo para indexar os documentos de seu interesse, pode mostrar
o potencial do método, os desdobramentos dessa pesquisa e conseguir
mensurar numa escala maior a sua eficiência.
Permitir a cada usuário utilizar seu próprio sistema cognitivo nos
indexadores de repositórios de documentos, dará ao usuário a liberdade
cognitiva de buscar documentos, assim como ele já tem a liberdade de
navegação nas hipermídias disponibilizadas na Web a sua maneira, e assim
como ele está habituado a recuperar informações, naturalmente, em sua
mente. Além disso, tenho a convicção que a utilização da linguagem hipermídia
integrando imagens, vídeos, sons e textos, deve estar presente nos sistemas
de recuperação de informações digitais, por serem formas naturais da mente
humana registrar e buscar suas informações.
232
Finalmente, a partir de agora, pretendo trabalhar numa nova frente, qual
seja, pesquisar como a integração do pensamento eco-sistêmico com o
pensamento hipermidiático e com conceitos explorados nesse trabalho pode
contribuir no desenvolvimento de conteúdo para ser utilizado em soluções de
educação a distância. Imagino que a integração de jogos no campo da
educação a distância possa despontar como um caminho interessante para dar
prosseguimento a esse trabalho e motivar estudantes em busca de novos
conhecimentos.
233
VIII Bibliografia
AMMERMAN A. e CAVALLI-SFORZA. The Neoloithic transition and the
genetics of population in Europe. Princeton University Press, 1984.
ANDERSEN, Peter Both. A Theory of computer semiotics. New York:
Cambridge University Press, 1997. 448p.
BAIRON, Sérgio. Texturas sonoras. Áudio na hipermídia. São Paulo: Hacker
Editores, 2005. 111p.
BAIRON, Sérgio e PETRY, Luís C. . Hipermídia Psicanálise e História da
Cultura. Caxias do Sul: EDUCS; São Paulo: Editora Mackenzie, 2000. 147p.
BATCHEN, Geoffrey. Spectres of Cyberspace in The Visual Culture Reader.
New York: Routledge, 1999.
BERNERS-LEE, Tim, HENDLER, James e LASSILA, Ora. The Semantic Web.
Scientific American, pages 35-43, May 2001. Disponível em
<http://www.sciam.com/article.cfm?articleID=00048144-10D2-1C70-
84A9809EC588EF21>. Acesso em 27/01/2004.
BLACK, Roger. Web Sites que Funcionam. Tradução por Tulio Camargo da
Silva. São Paulo: Quark Editora, 1997. 240p.
234
BOLDER, Jay D.e GRUSIN, Richard. Remediation - Understanding New Media.
London and Cambridge: The MIT Press, 2000.
BUSH, Vannevar. As we may think. The Atlantic Monthly. Julho 1945. Boston
Estados Unidos. Disponível em <http://www.theatlantic.com/doc/prem/194507/
bush> e em <http://ccat.sas.upenn.edu/~jod/texts/vannevar.bush.html>. Acesso
em 13/07/2005.
BUZAN, Tony. Mapas Mentais e sua elaboração. Um sistema definitivo de
pensamento que transformará sua vida. Tradução por Euclides Luiz Calloni e
Cleusa Margô Wosgrau. São Paulo: Cultrix, 2005. 118p.
CARR, Nicholas. IT doesn´t matter. Harvard Business Review, 01 maio 2003.
Disponível em <http://harvardbusinessonline.hbsp.harvard.edu/b01/en/
common/item_detail.jhtml?id=R0305B>. Acesso em 07/04/2004.
CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. V.
2: O poder da identidade. Tradução: Klaus Brandini Gerhardt. 3. ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2002. 530p.
CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1994.
CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo:
Cortez, 1998.
235
COSTA, Rogério. Cultura Digital. São Paulo: Publifolha, 2002. 164p.
DAVENPORT, Thomas. Saving IT’s Soul: Human-Centered Information
Management. Harvard Business Review. Boston, n. 94203. p. 119-131. 01
march 1994.
_____. Decoding Information-Worker Productivity. Optimize Magazine, issue
22, abril 2004. Disponível em
<http://www.optimizemagazine.com/disciplines/disciplines_archive.jhtml?cat_id
=13703&year=2004>. Acesso em: 10 de novembro 2004.
DAVENPORT, Thomas e PRUSAK, Laurence. Working Knowledge. Boston:
Harvard Business School Press, 1998. 199p.
DAVIS, Stan e MEYER, Christopher. Blur: The Speed of change in the
connected economy. New York: Warner Books, 1999. 265p.
DEMO, Pedro. Complexidade e aprendizagem. A Dinâmica não linear do
conhecimento. São Paulo: Atlas, 2002. 195p.
DESTRUTI, Ana Beatriz C.B. . A Pesquisa da Informação: da Biblioteca do
papiro aos sistemas de recuperação na web. 2004. 196f. Dissertação
(mestrado em Educação, Arte e História da Cultura). Universidade
Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.
236
DELANY, Paul e LANDOW, George. Hypermedia and Literacy Studies. London
and Cambridge: The MIT Press, 1991.
DOWNES, Larry e MUI, Chunka. Unleashing the Killer App: digital strategies for
market dominance. Boston: Harvard Business School Press, 1998. 243p.
DRUCKER, Peter. The Next Society. The Economist, 01 nov 2001. Disponível
em <http://www.economist.com/surveys/displaystory.cfm? story_id= 770819>.
Acesso em 10/02/2002.
_____. The New Workforce. The Economist, 02 nov 2001. Disponível em <
http://www.cfo.com/article.cfm/3009866/c_3061766>. Acesso em 10/02/2002.
____. The age of social transformation. The Atlantic Monthly. Novembro 1994a.
Boston Estados Unidos. Disponível em <
www.theatlantic.com/politics/ecbig/soctrans.htm>. Acesso em 10/03/2005.
____. Sociedade Pós-capitalista. São Paulo: Editora Pioneira, 1994b.
FILATRO, Andréa. Design instrucional contextualizado. Educação e tecnologia.
São Paulo: Senac São Paulo, 2004. 215p.
FLEURY, Maria T. L. e Oliveira, Moacir M.. Gestão Estratégica do
Conhecimento: Integrando Aprendizagem e Competências. São Paulo: Editora
Atlas, 2000.
FOUCAULT, Michel. The Archeology of Knowledge and the Discourse on
Language. Tradução por A. M. Sheridan Smith. Harper and Row, 1976.
237
GILDER, George. Vencendo na revolução digital, A vida após a televisão.
Tradução por Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. 191p.
GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para as novas mídias, do Game à TV Interativa.
São Paulo: SENAC São Paulo, 2003. 271p.
HADDON, Leslie. The development of interactive games in The Media Reader:
Continuity and Transformation. New York: The Open University and Sage
Publications, 1999.
HEIM, Michael. Electric Language - A Philosophical Study of Word Processing.
Yale: Yale University Press, 1999.
_______. Virtual Realism. Oxford: Oxford University Press, 1998.
HERMAN, Andrew e SWISS Thomas. The World Wide Web and the
Contemporary Cultural Theory. New York: Routledge, 2000.
HERRERO, Emílio. Balanced Scorecard e Gestão Estratégica. Uma
abordagem prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 241p.
HOSBSBAWN, Eric. A era do capital. Paz e Terra, 1996.
JOHNSON, Steven. Interface Culture: How new technology transforms the way
we create and communicate. New York: Harper Collins, 1997. 264p.
238
JOYCE, Michael. Othermindedness: The Emergence of Network Culture.
Michigan: University of Michigan Press, 2000.
KATO Mary. No Mundo da Escrita. Ática, 1987.
KROGH, Georg Von, ICHIJO, Kazuo e NONAKA, Ikujiro. Facilitando a Criação
de Conhecimento – Reinventando a Empresa com o Poder da Inovação
Contínua. Tradução por Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro:
Campus, 2001. 350p.
LANDOW, George P. Hypertext 2.0. The Convergence of Contemporary Critical
Theory and Technology. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1997.
353p.
LE GOFF, Jacques. Memória e História. Lisboa: Gulbenkian, 1992.
LÉVY, Pierre. A ideografia dinâmica. Rumo a uma imaginação artificial?
Tradução por Marcos Marcionilo e Saulo Krieger. São Paulo: Edições Loyola,
1998. 228p.
_____. A Inteligência coletiva. Tradução por Luiz Paulo Rouanet. São Paulo:
Edições Loyola, 1998. 212p.
_____. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2000.
_____. As Tecnologias da Inteligência – O Futuro do Pensamento na Era da
Informática. Tradução por Carlos Irineu Costa. São Paulo: Editora 34, 1993.
239
LIEBERMAN, Henry e LIU, Hugo. Adaptive Linking between Text and Photos
Using Common Sense Reasoning in Proceedings of Adaptive Hypermedia and
Adaptive Web-Based Systems: Second International Conference, Ah 2002,
Malaga, Spain. May 2002:. Disponível em <
http://web.media.mit.edu/~lieber/Lieberary/Common-Sense/Common-Sense-
Intro.html>. Acesso em 20/07/2005.
LIEBERMAN, Henry e LIU, Hugo. A model of textual affect sensing using Real-
World Knowledge in Proceedings of the 8th international conference on
Intelligent user interfaces. ACM Press, 2003. Disponível em <
http://portal.acm.org/citation.cfm?id=604067&coll=Portal&dl=ACM&CFID=5052
4599&CFTOKEN=73933635 >. Acesso em 20/07/2005.
MANN, Steve. Humanistic Intelligence in Ars Eletronica: Facing the Future.
London and Cambridge: The MIT Press, 1997.
MATURANA, Humberto R. . Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. Organização
e tradução por Cristina Magro e Victor Paredes. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2001. 203p.
MATURANA, Humberto R. e VARELA, Francisco J., . A Árvore do
Conhecimento. As bases biológicas da compreensão humana. Tradução por
Humberto Mariotti e Lia Diskin. 3ª ed. São Paulo: Editora Palas Athena, 2003.
288p.
240
MCLUHAN, Marshall. Woman in a Mirror in The Visual Culture Reader. New
York: Routledge, 1999.
_____. Electric Language - Understanding The Message. Toronto: St Martin
Press, 1998.
_____. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. Tradução por
Décio Pignatari. São Paulo: Cultrix, 1964.
MILANESI, Luís. O que é Biblioteca. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983.
107p..
MINSKY, Marvin. The Society of Mind. New York: Simon & Schuster,1988.
339p.
MIRZOEFF, Nicholas. What is Visual Culture? in The Visual Culture Reader.
New York: Routledge, 1999.
MORAES, Maria Cândida. Educar na biologia do amor e da solidariedade.
Petrópolis: Editora Vozes, 2003. 293p.
_____. Pensamento Eco-Sistêmico. Educação, aprendizagem e cidadania no
século XXI. Petrópolis: Editora Vozes, 2004. 342p.
MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. Tradução por Maria D. Alexandre e
Maria Alice Sampaio Dória. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 350p.
241
_____. O paradigma perdido: a natureza humana. Sintra: Publicações Europa-
América, 1990.
MOULTHROP, Stuart. Rhizome and Resistance: Hypertext and the Dreams of
a New Culture. Edited by George P. Landow. London and Cambridge: MIT
Press, 2001.
MURRAY, Janet H. Hamlet no Holodeck. O futuro da narrativa no ciberespaço.
Tradução: Elissa Khoury Daher e Marcelo Fernandez Cuzziol. São Paulo: Itaú
Cultural: Editora UNESP, 2003. 282p.
NARDI, Bonnie e O´Day, Vickie. Information Ecologies: Using Technology with
Heart. London and Cambridge: The MIT Press, 1999. 232p.
NASS C., STENER, J.S. e TANBER, E. .Computers are social actors In:
Proceedings of CHI ´94, BOSTON – MA, Abril (1994)
NAUGHTON, John. A Brief History of the Future. San Diego: The Overlook
Press,2000.
NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. Tradução por Sérgio Tellaroli. 2.ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
NELSON, Theodor H. . Literacy Machines. Self-published, 1981.
242
NONAKA, Ikujiro e TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de Conhecimento na
Empresa. Como as Empresas Japonesas Geram a Dinâmica da Inovação.
Tradução por Ana Beatriz Rodrigues e Priscilla Martins Celeste. Rio de Janeiro:
Editora Campus, 1997. 358p.
NONAKA, Ikujiro, ICHIJO, Kazuo e KROGH, Georg. Facilitando a criação de
conhecimento: Reinventando a Empresa com o Poder da Inovação Contínua.
Tradução por Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Editora Campus,
2001.
NUNBERG, Geoffrey. The Future of the Book. Berkeley and Los Angeles :
University of California Press, 1996.
ORTEGA, Cristina Dotta. Informática Documentária: Estado da Arte. 2002.
235f. Dissertação (mestrado em biblioteconomia). Escola de Comunicação de
Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo.
PLANT, Sadie. Coming Across The Future in The Cibercultures Reader. New
York: Routledge, 2000.
POLANYI. Personal Knowledge: Towards a post-critical philosophy. Chicago:
University of Chicago Press, 1958.
PISKURICH, George M., BECKSCHI, Peter e HALL, Brandon. The ASTD
handbook of training design and delivery. New York: McGraw-Hill, 2000. 530p.
243
RHEINGOLD, Howard. Virtual Reality. Secker & Warburg, 1991.
_____. The virtual community: Homesteading on the electronic frontier. New
York: Addison-Wesley, 1993.
_____. The virtual community.: Finding connection in a computerised world in
The Media Reader: Continuity and Transformation. New York: The Open
University and Sage Publications, 1999.
RICHARD, Birgit (1998). Norn Attacks and Marine Doom in Ars Eletronica:
Facing the Future. London and Cambridge: The MIT Press, 1998.
ROSENBERG, Marc J. .e-Learning. Strategies for delivering knowledge in the
digital age. New York: McGraw-Hill, 2001.
SAGREDO e NUÑO. En los orígenes de la Biblioteconomia y Documentatión
de lãs Ciências de la Información: Ebla. Documentatión de lãs Ciências de la
Información Madrid, 1994.
SANTAELLA, Lúcia e NOTH, Winfried . Imagem, Cognição, Semiótica, Mídia.
São Paulo: Iluminuras, 1998. 222p.
SANTAELLA, Lúcia. Cultura das mídias. São Paulo: Experimento, 1996. 292p.
_______. Matrizes da linguagem e do pensamento Sonora Visual Verbal.
Aplicações na hipermídia. São Paulo: Iluminuras, 2001. 432p.
244
_______. Navegar no ciberespaço – O perfil cognitivo do leitor imersivo. São
Paulo: Paulus, 2004. 191p.
SILVA, Marco. Sala de aula interativa. Quartet, 2000.
SHAPIRO, Carl e VARIAN Hal R. Information Rules: a strategic guide to the
network economy. Boston: Harvard Business School, 1999.
SMIT, Johanna. O que é documentação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.
84p.
SMITH, Anthony. Information technology and the myth of abundance in The
Media Reader: Continuity and Transformation. New York: The Open University
and Sage Publications, 1999.
STEFIK, Mark. The Internet Edge. London and Cambridge: The MIT Press,
1999. 320p.
STEWART, Thomas A. A riqueza do conhecimento. O Capital Intelectual e a
Organização do Século XXI. Tradução por Afonso Celso da Cunha Serra. Rio
de Janeiro: Editora Campus, 2002. 517p.
STRATTON, Jon. Cyberspace and the Globalization of Culture in The
Cibercultures Reader. New York: Routledge, 2000.
245
SVEIBY, Karl E.. A Nova Riqueza Das Organizações. Gerenciando e avaliando
patrimônios de conhecimento. Tradução por Luiz Euclydes T. Frazao Filho. 7ª
ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 260p.
TAPSCOTT, Don; LOWY Alex; TICOLL, David . Plano de ação para uma
Economia Digital: prosperando na nova era do E-business. Tradução por Maria
Claudia Ratto. São Paulo: Makron Books, 2000. 368p.
TERRA, José C. Gestão do Conhecimento: O grande desafio empresarial. São
Paulo: Negócio Editora, 2000. 283p.
_______. Portais Corporativos. A revolução na gestão de conhecimento.
Tradução por Érica Saubermann e Rodrigo Baroni. São Paulo: Negócio Editora,
2002. 453p.
TIWANA, Amrit. The essential Guide to Knowledge Management. E-Business
and CRM Applications. Upper Saddle River: Prentice Hall PTR, 2001.
TRISKA, Ricardo. Proposta de uma base de dados institucional para a gestão
do conhecimento. 2001. 119f. Tese (doutorado em engenharia de produção).
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
TURKLE, Sherry. Identity in the age of the internet in The Media Reader:
Continuity and Transformation. New York: The Open University and Sage
Publications, 1999.
246
VARELA, F. et al. The embodied mind: cognitive science and human
experience. London and Cambridge: MIT Press, 1997.
VIRILIO, Paul. The Information Bomb. Verso, 2000.
WEBER, Eugene. Peasants into Frenchmen. Stanford: Stanford University
Press, 1976.
WEICK, Karl. Sensemaking in organizations. Thousands Oaks Calif.: Sage
Publications, 1995.
WENGER, E. Communities of practice: Learning, meaning and identity. New
York: Cambridge University Press, 1998.
WIENER, Norbert. Cibernética e Sociedade: O Uso Humano de Seres
Humanos. Tradução por José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1978. 190p.
247
IX. Webliografia
Cognição, Educação, e-learning e Tecnologia
AACE – Association for the Advancement of Computing in Education.
Disponível em <http://www.aace.org/>. Acesso em 10/04/2003.
ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância. Disponível em
<http://www.abed.org.br/>. Acesso em 05/04/2005.
Computer Industry Almanac. Disponível em <http://www.c-i-a.com/>. Acesso
em 15/08/2005.
LIEBERMAN, Henry. Curso MIT MAS.963: Out of context: A course on
Computer Systems that Adapt to, and Learn From, Context. Disponível em
http://ocw.mit.edu/OcwWeb/Media-Arts-and-Sciences/MAS-963Out-of-Context--
A-Course-on-Computer-Systems-That-Adapt-To--and-Learn-From--
ContextFall2001/CourseHome/> Acesso em 21/05/2005.
MIT Computer Science and Artificial Intelligence Laboratory (CSAIL). Disponível
em <http://www.csail.mit.edu/index.php>. Acesso em 25/02/2005.
MIT - Open Mind Common sense. Disponível em
<http://commonsense.media.mit.edu>. Acesso em 10/11/2003.
248
Keio University. Disponível em <http://www.keio.ac.jp/>. Acesso em
25/02/2005.
Semantic Web Activity – W3C. Disponível em <http://www.w3.org/2001/sw/>.
Acesso em 24/07/2005.
SPARQL – Query Language for RDF. Disponível em
<http://www.w3.org/TR/2005/WD-rdf-sparql-query-20050721/#basicpatterns>.
Acesso em 24/07/2005.
The ACM - Association for Computer Machinery Portal. The ACM Digital
Library. Disponível em <http://portal.acm.org>. Acesso em 20/07/2005.
The European Research Consortium for Informatics and Mathematics (ERCIM).
Disponível em <http://www.ercim.org/>. Acesso em 25/02/2005.
World Wide Web Consortium W3C. Disponível em <http://www.w3.org/>.
Acesso em 22/07/2003.
Gestão do conhecimento:
Entovation KM Timeline. Disponível em
<http://www.entovation.com/timeline/timeline.htm>. Acesso em 10/10/2003.
249
GeTGC – Grupo de estudos de Tecnologia e Gestão do Conhecimento.
Disponível em <http://www.ilanet.com.br/cgi-local/twiki/bin/view/Main/GetGC>.
Acesso em 20/02/2005.
KMBRASIL – Congresso Nacional de Gestão de Conhecimento. Organizado
pela Sociedade Brasileira de Gestão de Conhecimento.
Disponível em <http://www.kmbrasil.com/>. Acesso em 11/03/2005.
Know Inc. Disponível em <http://www.knowinc.com>. Acesso em 10/10/2003.
Knowledge at Wharton. Disponível em <http://knowledge.wharton.upenn.edu>.
Acesso em 10/10/2003.
Sociedade Brasileira de Gestão de Conhecimento. Disponível em
<http://www.sbgc.org.br/>. Acesso em 11/03/2005.
Tango KM tool. Disponível em <http://www.tangonow.net. Acesso em
10/10/2003.
The Know Network. Disponível em <http://www.knowledgebusiness.com>.
Acesso em 05/03/2004.
The first iKMS-International Conference on Knowledge Management . 2004.
Disponível em <http://www.ickm2004.org/>. Acesso em 11/03/2005.
250
The iKMS-International Conference on Knowledge Management . 2005.
Disponível em <http://www.ickm2005.org/>. Acesso em 11/03/2005.
The Sveiby Toolkit. Disponível em <http://www.sveibytoolkit.com>. Acesso em
10/10/2003.
World Bank KAM – Knowledge Assesment Methodology. 2005. Disponível em
<http://info.worldbank.org/etools/kam2005/home.asp>. Acesso em 13/07/2005.