Direito Constitucional – aula 03 – dia 06/05/09
Sistema Constitucional de Crises
Intervenção Federal – Estado de Sítio – Estado de Defesa
1 – Introdução
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúve l
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos: (fazer uma leitura mais aprofundada sobre o
princípio do estado democrático de direito!!!!)
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Todo o poder emana do povo: essa é uma acepção do termo PODER na CF, cujo significado
é de soberania, lembrando-se sempre que vivemos numa democracia (que significa dominação pelo
povo).
Soberania: é o Poder Político supremo e independente. Este conceito hoje resta
relativizado, sobretudo na área processual penal em razão da chamada cooperação jurídica
internacional, que decorre do chamado Constitucionalismo Cooperativista ou Estado Constitucional
Cooperativo. Em razão da globalização, existe a necessidade de cooperação entre os Estados, eles
não podem se isolar, se insular (Peter Haberle)
Este artigo está no título 1, que trata dos princípios fundamentais, por isso
que estes princípios elencados no artigo 1º são imprescindíveis para a sobrevivência
do estado, da sociedade política.
O artigo “A” em “A República” no artigo 1º tem um significado, pois a CR88
não cria a república, de modo que esse artigo denota que a constituição reconhece a
República e a Federação, formas existentes anteriores à CR/88.
O estado é uma sociedade politicamente organizada, sendo que JAS
diferencia estado de país, sendo que nosso País se chama Brasil, e nosso estado é
República Federativa do Brasil. País não é sinônimo de estado.
País é o componente espacial de um estado, ou seja, é o habitat do povo de
um estado. O nosso estado, República Federativa do Brasil, sendo que já possuiu
vários nomes, como Estados Unidos do Brasil (1824), sendo que as outras
denominaram República do Brasil, e a CR/88 que disse República Federativa do
Brasil.
Alguns países têm o mesmo nome do estado, como é o caso dos EUA. Para
nós que adotamos uma cultura jurídica romano-germânica, estado não é sinônimo
de nação.
Nação significa um conjunto de pessoas ligadas pela mesma origem, pela
mesma história, pela mesma língua, pela mesma religião (conceito sociológico).
Esse conceito é o que adotamos.
A ONU, por exemplo, para nós seria melhor organização dos estados unidos,
o que não ocorre para aqueles que adotam uma cultura jurídica anglo-saxônica
(EUA, Inglaterra, Austrália, etc.), Estado é sinônimo de nação.
Deste modo, quando o artigo 1º fala em República Federativa do Brasil, ela
está fazendo uma referência ao nosso estado.
No titulo V da CR, quando fala da defesa do estado e das instituições
democráticas, significa da defesa do território, da soberania, da autonomia.
Pátria não é um conceito jurídico, significando terra que amamos, terra do
papai. Pátria significa um sentimento, uma emoção.
Não obstante, a CR fala em pátria no artigo 143, quando trata da situação em
que as forças armadas farão a defesa da pátria. Mas aqui o pátria deve ser
considerado como estado, soberania, etc.
Segundo período do Artigo 1º:
“formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal”
Revela uma das principais características da Federação. Alguns
doutrinadores falam em características de existência e características de
manutenção da federação.
Esse 2º período do artigo 1º nos revela uma das principais características
para existência e sobrevivência da Federação, que é a Indissolubilidade do Vínculo,
característica essa que diferencia a forma federativa da forma confederativa.
Isso é, que a impossibilidade de dissolução do vínculo na federação e a
possibilidade de dissolução do vínculo na confederação, sendo que nesta há o
direito de secessão.
“união”: para parte da doutrina é um substantivo feminino de ligação (pois
está com “u” minúsculo, significando pacto, junção, reunião. Não se confunde com a
União, pessoa jurídica com capacidade política que nasce no artigo 118 da CR.
JAS diz que “união” aqui é sim a pessoa jurídica com capacidade política.
A CR revela mecanismos de proteção, veículos, instrumentos que protegem a
indissolubilidade do vínculo, tal foi a importância dessas características tratadas no
artigo. Exemplos desses instrumentos:
- A indissolubilidade é uma cláusula pétrea (art. 60, §4º da CR);
- Uma das espécies de intervenção serve para a manutenção da unidade
nacional (art. 34, I);
O próprio estado de defesa, como o de sítio, também são meios para evitar a
dissolubilidade de nosso território. Exemplo disso seria no caso de um estado
estrangeiro invadir nosso território.
Veja-se, assim, que esse sistema de crises protege, ainda, a indissolubilidade
da federação;
- Artigo 109, IV fala em crimes políticos (que são os previstos na lei 7170/83,
que dentre os tipos da lei de segurança nacional, encontra-se pregar contra a
indissolubilidade do vínculo).
A importância chega a tal ponto que, se o cidadão for absolvido deste crime,
cabe Recurso Ordinário para o STF (art. 102, II, “c”). Isso é porque uma das
características da própria existência da federação é também a existência de um
Tribunal encarregado de manter o pacto federativo, no nosso caso o STF.
O STF julga o RO diretamente do juiz federal, pois ele é o Tribunal
encarregado de proteger o pacto federativo.
**Vale destacar que o JAS município não faz parte da federação, sendo
apenas uma divisão territorial do estado membro. Seu argumento é de que ao
Município falta uma das características da Federação (Indissolubilidade, existência
do Tribunal que protege o pacto), qual seja, a existência de uma casa onde se
encontram os representantes dos Estados Membros, os representantes das
Unidades Parciais.
O Município não tem representante no Congresso Nacional, pois temos
apenas os Senadores, que são representantes dos Estados e do DF, sendo que os
Deputados representam o povo.
Por isso, em razão da ausência dessa característica, JAS justifica que os
Municípios não fazem parte da Federação. Mas o STF entende que os Municípios
fazem parte da Federação, de modo que temos uma Federação Tridimensional, com
03 pessoas jurídicas com capacidade política (União, Estados e Municípios).
O DF é PJ com capacidade política, mas é singular, sui generis, pois possui
capacidade política híbrida. O DF possui menos autonomia, maiores limites que os
Estados membros.
Disso decorre que não existem municípios no DF (art. 32 da CR), sendo-lhe
vedada a criação de municípios.
O artigo 18, §4º permite que os estados membros se subdividam em
municípios.
O artigo 1º, em seu 3º período fala: “constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos”.
A constituição portuguesa fala em estado de direito democrático, enquanto a
nossa inverte. Correntes:
1ª – Não existem diferenças entre as expressões, teríamos uma tautologia,
um raciocínio em círculos (ex.: um estado somente é direito se for democrático,
sendo que só é democrático se for de direito).
2ª – Existe diferença sim, sendo que a nossa CR valoriza a democracia e todo
o Direito deve ter por base a democracia, a democracia como fundamento.
Diversamente da Constituição Portuguesa, que valoriza o direito, mas afirma que ele
deve ser democrático.
O Estado Direito surge em 1789, como resposta ao absolutismo. No estado
de direito administradores e administrados devem obediência à lei. O Estado de
direito nesse momento surge com duas verdades, para alcançá-las:
1ª – Divisão orgânica de Montesquieu
2ª – Ofertar aos cidadãos direitos e garantias fundamentais (1ª dimensão)
Em nome deste estado de direito, sobretudo em razão do positivismo, que
confundiu o direito com a lei, tivemos no século XX grandes catástrofes (como o
Nazismo, o Facismo, etc.), sendo que após isso passou-se a valorizar a democracia,
ou seja, não mais nos contentávamos com o estado de direito.
O estado de direito deve ser democrático. Para que o estado seja
democrático e de direito, deve se concluir que o direito não se resume à lei, que
vigência é diverso de validade (vigente = criada em obediência ao devido processo
legislativo constitucional).
No estado de direito a lei vigente é uma lei válida, porém no estado
democrático de direito, além de vigente, a lei precisa ser compatível, adequada à Lei
Ápice (constituição), para que possa ser válida.
A mais, a lei deve respeitar a liberdade, a igualdade, a dignidade da pessoa
humana.
O artigo 1º, I da CR:
- Soberania: quer dizer poder político, supremo e independente.
Mas esse conceito é do final da idade media, sendo que hoje se encontra
relativizado, em razão do Estado Constitucional Federativo, que é um estado que se
disponibiliza como referência para outros estados.
Não se confunda aqui, soberania como poder político (soberania nacional –
art. 1º, I), com a soberania como popular, que está no artigo 4º, 1º.
Artigo 1º, II da CR:
Cidadania: faz do indivíduo um membro ativo de sua comunidade, um sujeito
de direitos e obrigações.
No exercício da cidadania tenho deveres para com a comunidade no que se
chama de deveres fundamentais (deve de ser honesto, de pagar tributos, etc.). A
cidadania é uma via de mão-dupla (direitos e deveres).
Não se pode confundir com cidadão. Existe dois tipos de cidadãos:
- Cidadão em sentido estrito: cidadão nacional utilizando seus direitos
políticos (exemplo ação popular, legitmado para denunciar o presidente por crime de
responsabilidade) (artigo 12 + 14)
- Cidadão em sentido amplo ou lato: é aquele que exerce direitos referentes à
cidadania.
Artigo 1º, III da CR:
Dignidade da pessoa humana: não é um direito, é um valor pré-estatal, pré-
constitucional.
É o valor que visa proteger o ser humano contra tudo que lhe possa levar ao
menoscabo (desrespeito, desacato). A nossa CR só se legitima no instante em que
prega, traz a dignidade como fundamento do nosso Estado.
Vale lembrar que a Dignidade é núcleo dos direitos fundamentais juntamente
com a Democracia. Conceitos de DF:
Formal: são os direitos humanos positivados em uma Constituição
Material: são posições jurídicas necessárias para a satisfação, concretização
do valor dignidade
Artigo 1º, IV da CR:
Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: o fato dos valores sociais do
trabalho virem antes da livre iniciativa significa que o trabalho não é um castigo, pois
o trabalho serve para desenvolvimento da personalidade, ascensão social e da
comunidade. Valores sociais aqui significam respeito ao trabalhador, todo o conjunto
de regras do artigo 7º da CR.
Após, com a livre iniciativa, a CR adora o capitalismo, A livre iniciativa quer
dizer que a propriedade dos bens ou meios de produção pode ser individual, não
precisam ser necessariamente coletiva.
Bens ou meios de produção são bens inconsumíveis, utilizados para a
produção de outros bens (ex. indústria, comércio, etc.).
JAS afirma aqui que a nossa CR adota ao capitalismo, mas ao estabelecer os
valores sociais do trabalho, busca a humanização do capitalismo. Pode se ligar essa
humanização do capitalismo com o artigo 170 da CR, ou seja, com a Ordem
Econômica (com Estado do Bem-estar social, intervencionista, etc.).
Artigo 1º, V da CR:
Pluralismo Político: não siognifica vários partidos políticos, pois políticos aqui
não está no sentido de partido. Significa direito fundamental à diferença, tolerância
com o diferente (olhar os outros com os olhos dos outros).
Aqui está contido, vários partidos políticos vários tipos de crença, de métodos
educacionais (ex.: pode ser Pacifista,. Belicista).
Reconhece-se aqui o direito fundamental a ser diferente.
Parágrafo único do artigo 1º: temos a representação da democracia
representativa, democracia participatica, democracia dialógica, sendo que a
democracia não é só exercícios de direitos políticos, votar e ser votado, é muito mais
que isso.
Na democracia dialógica há um diálogo entre a Administração e a sociedade
(audiências públicas, etc.).
Artigo 2º da CR:
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário. (PODER na acepção de órgão – vale lembrar
que tecnicamente não é correto dizer que adotamos a teoria Tripartite de
Montesquieu, uma vez que o PODER é uno, indivisível. Adotamos, sim, a divisão
orgânica deste).
Hoje é importante se falar na compreensão constitucionalmente adequada da
divisão orgânica de Montesquieu. Esta compreensão constitucionalmente adequada
fundamenta a nova leitura que o STF deu ao Mandado de Injunção, fundamenta a
interpretação conforme a constituição, fundamenta o chamado ativismo judicial.
Artigo 3º da CR:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais; (segundo a doutrina esse dispositivo seria um exemplo de consagração
pela CF de busca pela igualdade material – norma constitucional de eficácia
limitada, de princípio programático).
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Representa a busca da materialização dos princípios previstos no artigo 1º. O
artigo 3º é o reconhecimento de que o nosso estado é devedor e nós somos
credores de determinadas atividades.
Aqui estão o 4º elemento estrutural ou constitutivo do Estado, seus objetivos.
Este artigo revela que nossa constituição é compromissário, que ela é diligente,
prega metas a serem perseguidas ou objetivos a serem alcançados.
Uma Constituição compromissária é uma constituição que não se preocupa
apena com o presente, mas também com o porvir.
Artigo 3º, I:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
Livre e justa: é a grande discussão entre capitalistas e comunistas.
Celso Bastos diz que nos estados capitalistas todos são livres, mas a
sociedade não é justa, umka vez que poucos tem muitos e muitos tem pouco.
Existem uma grande diferença entre as classes sociais, que representa a
desigualdade social.
Nos estados comunistas a sociedade é justa, mas o indivíduo não é livre.
Deste modo, para que uma sociedade capitalista seja mais justa é precisa reduzir a
desigualdade.
Artigo 3º, II da CR:
Solidária: significa a busca por uma fraternidade, colaboração (como o
exemplo de alfabetização de adultos gratuita, etc.).
Garantia do desenvolvimento nacional: passa pela busca da independência
econômica de outros estados, este desenvolvimento nacional passa pela valorização
d indústria nacional, para que não tenhamos dependência econômica de outros
estados (ex.: BNDES).
Artigo 3º, III da CR:
Erradicar: se refere a pobreza e a marginalização, sendo que o marginalizado
é menos que pobre, disse deve se acabar coma pobreza, pois estes estão fora do
sistema.
Reduzir: refere se a desigualdades regionais, pois é impossíve se erradicar as
desigualdades regionais, uma vez que depende de uma série de fatores (naturais,
competências, etc.).
Reduzir as desigualdades sociais: busca-se a justiça social.
Art. 3º, IV da CR:
Bem de todos é bem comum: “todos” aqui e no aritgo 5 significa
universalidade, que não é uniformidade. É extensão a todos, mas todos não são
iguais; eu faço parte de um todo, mas não sou igual a todos
A parte final, quando trata das formas de discriminação, temos o direito de ser
diferente.
O artigo 4º da CR traz o estado cooperativo internacional:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
Esta independência fundamenta o dualismo jurídico, qual seja, a ordem
internacional e a ordem jurídica nacional. O nosso dualismo jurídico é mitigado ou
abrandado, em razão da receptação dos tratados internacionais.
II - prevalência dos direitos humanos;
Usa-se a expressão correta, pois na ordem internacional se fala em direitos
humanos (ordem interna se fala em direitos fundamenatais).
III - autodeterminação dos povos;
O Brasil não defende o colonialismo, cada povo deve se refletir em um estado, o
que fundamenta o apoio do Brasil na independência do estado da palestina, por
exemplo.
IV - não-intervenção;
Significa dizer que somos um estado que não apoiamos guerras interventivas,
adotamos somente guerra defensivas.
V - igualdade entre os Estados;
É uma criação de Rui Barbosa, todos os estados são iguais no cenário
internacional, independente das suas características.
VI - defesa da paz;
Não somos um estado bélico, somente pregamos guerras defensivas
VII - solução pacífica dos conflitos;
Buscamos a não utilização da violência, pois somos um estado não bélico, não
beligerante, resolução dos conflitos por meio da arbitragem, etc.
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
Significa rejeição do terrorismo, é muito mais do que não concordar. Devemos
procurar meios para afastar o terrorismo (conceito: é a defesa, proselitismo, de
ideais políticos ou religiosos através da violência, da propagação do medo, do terror
– Hoje se fala em terrorismo social, etc.). Falta um tipo penal para o terrorismo.
Racismo significa entender que uma raça seja superior, hegemônica, à outra.
Em 1988 a África do Sul previa uma raça hegemônica, sendo que o STF já se
manifestou sobre o assunto (HC 84424 – STF discutiu a questão de raça)
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
Encaixa aqui auxílio científico, cooperação penal internacional, etc.
X - concessão de asilo político.
Proteção que o estado dá a nacionais de outros estados que estiver, sofrendo
perseguições de seu estado em razão de pensamento político, sendo que asilo não
se confunde com refúgio.
O STF concede extradição pela prática de crime comum por razões políticas.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à
formação de uma comunidade latino-americana de nações.
É mais do que o MERCOSUL.
2 – Da Defesa do Estado
O título V diz sobre a Defesa do Estado, sociedade politicamente organizada,
significando a defesa do território, da soberania nacional, sendo utilizado como
sinônimo de pátria.
Instituições democráticas, quando fala, não é só órgãos. Por Instituições
democráticas temos aqui os exercícios de direitos políticos, direitos e liberdades.
2.1 – Do Estado de defesa e do Estado de sítio
Está previsto no capítulo I, sendo que significa circunstância, situação,
momento em que algo ocorre. É um estado, como sociedade politicamente
organizada.
Aqui se inaugura o chamado sistema nacional de crises. É interessante se
guardar que em determinados momentos da realidade social é possível a ocorrência
de rompimento da normalidade constitucional, que pode ocasionar graves prejuízos
à instituições democráticas.
Pensando nessa realidade, a CR traz esse sistema nacional de crises. Este
sistema tem por objetivo a defesa da própria CR e das instituições democráticas.
Conceito: sistema constitucional de crises é um conjunto ordenado de
normas constitucionais que informadas pelos princípios da necessidade e da
temporariedade, tem por objeto situações de crises e por finalidade a manutenção
ou restabelecimento da normalidade constitucional.
Nesse sistema constitucional de crises passamos da normalidade
constitucional, que também é denominado estado de legalidade ordinária, para o
estado de legalidade extraordinária.
Essa passagem da normalidade da legalidade ordinária para a extraordinária
somente é possível pela coexistência de dois princípios:
- princípio da necessidade
- princípio da temporariedade
Se não houver respeito ao princípio da necessidade, teremos um golpe de
estado. Se a passagem da legalidade ordinária para o estado de legalidade
extraordinária e não houver a temporariedade não temos um sistema constitucional
de crises, mas sim uma Ditadura.
Isso porque não haverá respeito as normas constitucionais.
2.2 – Limites ao Sistema constitucional de crises
Esse sistema não é uma suspensão da Constituição, mas sim um sistema
extraordinário incorporado na própria constituição. Os limites materiais e formais
estão incorporados no próprio texto constitucional (artigos 136 a 141 da CR).
Além desses limites existem outros limites que decorrem do próprio sistema
constitucional. São eles:
Respeito à dignidade da pessoa humana
Prevalência dos direitos humanos
Obediência ao princípio da legalidade
Obediência ao princípio da proporcionalidade quando da redução ou
restrição de direitos e garantias fundamentais
Precariedade da vigência das medidas de exceção
Motivação discricionária (arbítrio x necessidade) para decretação do
estado de defesa ou do estado de sítio
Independentemente do perigo a ser enfrentado, deverá ser adotada
sempre uma postura defensiva
Os impactos causados pelas sincopes devem buscar sempre a defesa da
ordem pública e a pacificação da sociedade
Além destes, Alexandre de Morais afirma que este sistema constitucional de
crises nunca poderá suprimir todos os direitos e garantias fundamentais, sob pena
de chegarmos ao arbítrio, a anarquia (ex.: não é possível restringir o direito à vida, o
direito à honra, acesso ao poder judiciário).
Este sistema constitucional de crises, estado de defesa e depois estado de
sítio, existe uma lógica na constituição.
2.3 – Estado de Defesa
Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e
o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou
prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a
paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas
por calamidades de grandes proporções na natureza.
I – Considerações
O presidente da república tem legitimidade para decretar o estado de defesa,
que é uma faculdade e não uma obrigação. O PR ao decretar o estado de defesa
deve ouvir o conselho de defesa e o conselho da república, sempre lembrando que
os pareceres serem meramente opinativos.
Apesar de serem meramente opinativos os pareceres, o Presidente deve
ouvir ou colhe-los, sob pena de inconstitucionalidade da medida, que se
desrespeitada pode revelar crime de responsabilidade do presidente.
No estado de defesa não existe a oitiva prévia do CN, esse não precisa
autorizar. O controle político feito pelo CN é posterior à decretação (a posteriori).
No estado de defesa deve ser decretado sobre locais determinados, há
restrição espacial. O estado de sítio, ao contrário, deve ser decretado em todo
território nacional.
Ordem pública: tem o sentido de ausência de crime, de um estado antidelitual
resultante da observância das normas penais. Existe respeito à regra de direito
penal.
Paz social: significa tranqüilidade, estabilidade, ausência de ameaça
Grave e eminente instabilidade institucional: grave significa aquilo que resulte
em perigo, ameaçador, pode trazer prejuízos. Iminente é que está prestes a ocorrer.
Instabilidade institucional significa perturbação das atividades normais dos
órgãos do Estado (ex.: digamos que em determinado estado seja assenhorado pelo
crime organizado, é possível a decretação do estado de defesa).
Vale lembrar que pode ser decretado estado de defesa no estado membro
como um todo, parte dele ou partes de mais de um estado membro. (Ex.: divisa de
MS com RO, em que ocorra riscos as instituições democráticas, pode ser decretado
estado de defesa nessa área).
É possível a decretação de estado de defesa em regiões atingidas por
calamidades públicas naturais, desde que essas calamidades de grandes
proporções da natureza possa, ocasionar perturbações à ordem pública ou às
instuições democráticas (ex.: saques, arrombamentos, etc.)
II – Limites materiais para decretação do estado de defesa: (princípio da
necessidade)
Existência de grave e iminente instabilidade institucional que ameace a
ordem pública ou a paz social;
Obs.: esses limites podem ser concomitantes ou não.
Manifestação de calamidades de grandes proporções na natureza que
atinjam a ordem pública ou paz social.
Podem os dois limites estar presentes, ou isoladamente.
III – Limites formais (todos devem estar presentes):
Prévia manifestação dos conselhos (não vincula o presidente, mas se não
ouvir previamente Serpa violada a CR);
Decretação do ato pelo presidente;
A duração deve estar prevista no decreto
Prazo máximo de até 30 dias, permitindo-se uma única prorrogação por
mais 30 dias. (princípio da temporariedade);
O decreto deve especificar as áreas abrangidas (princípio da
proporcionalidade);
O decreto deve especificar as restrições dente aquelas previstas no artigo
136, §1º. Isso significa o dever de indicar as medidas coercitivas
IV – Efeitos da decretação do Estado de Defesa
1º - Restrição a determinados direitos:
a) Direito de reunião
b) Sigilo de correspondência
c) Sigilo das comunicações
d) Restrição ao direito de propriedade
e) Possibilidade de ocupação e uso temporário de bens
Os dois últimos (‘d’ e ‘e’) somente nos casos de estado de defesa decretado
em decorrência de calamidade pública
§ 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua
duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites
da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
nos termos e limites da lei: não existe essa lei, sendo que se pode ter o
entendimento que aqui a lei é a lei que regula o direito de reunião, a interceptação
telefônica.
É preciso uma lei, mas usa-se estas subsidiariamente, mas quanto aos
direitos por elas resguardados.
O rol do §1º é taxativo.
Diferenças entre o Estado de Defesa e o Estado de sítio
Estado de Defesa Estado de sítio
- não oitiva prévia do CN -deve solicitar ao congresso nacional
Limitação espacial, áreas determinadas - em todo o território nacional
- 30 dias e uma única prorrogação por
mais 30 dias = máximo de 60 dias
- são possíveis prorrogações ilimitadas
(30 + 30 + 30....) ou ate que a causa
desapareça (guerra).
- existe restrição a direitos - suspensão de determinados direitos
2º - Prisão:
a) Pela prática de crimes contra o estado: o executor pode decretar a prisão
(crimes contra o estado – lei de segurança nacional)
O executor da medida pode decretar a prisão de crimes contra o estado, mas
existe um controle judicial desta medida. Pela prática de crime contra o estado, a
prisão pode demorar mais de 10 dias.
b) Prática de outros crimes que não contra o estado: o executor pode
decretar a prisão, mas a prisão não pode superar 10 dias.
2.4 – Controle do estado de defesa
a) Controle político (CN)
Esse controle político é feito em 03 momentos:
1º momento - O CN deve apreciar o Decreto de instauração de prorrogação
do Estado de Defesa.
Essa apreciação se faz em razão da decretação do estado de defesa ou de
sua prorrogação. O presidente deve remeter o Decreto de instauração e a sua
motivação em 24 horas para apreciação do CN.
O CN deverá decidir por maioria absoluta. Se não concordar o CN editará um
Decreto-legislativo (art. 149 da CR).
2º momento – Controle político concomitante: o CN nomeará uma comissão
com 05 membros para acompanhar o Estado de defesa, perceba-se que serão 05
membros que compõem a mesa do CN;
3º momento – Efetuado após o término do estado de defesa, é um controle
político sucessivo (artigo 141, § único da CR).
Aqui o Presidente, ao témino do estado de defesa, faz um relatório e envia ao
CN.
b) Controle jurisdicional ocorre em 03 momentos:
1º momento – comunicação da prisão ao PJ, em razão da prática de crime
contra o estado;
2º momento – o controle de prazo de 10 dias da prisão por crime não contra o
estado;
3º momento – cessado, terminado estado de defesa, o PJ vai analisar a
responsabilidade pelos ilícitos cometidos pelos executores e agentes.
3 – Estado de Sítio
Artigo 137 da CR:
Existe uma lógica aqui no estado de sítio, sendo que em regra ele será
decretado depois do estado de defesa, mas existe situações em que o Estado de
sítio pode ser decretada independente do estado de defesa.
No estado de defesa o controle político é prévio, ou seja, antes da decretação
(o CN analisa antes da decretação).
I – Limites materiais ao estado de sítio
Comoção ou perturbação grave de repercussão nacional
Ineficácia da medida tomada durante o estado de defesa (aqui existe a
necessidade da decretação prévia do estado de defesa)
Declaração ao estado de guerra ou resposta a agressão armada
estrangeira (nesse limite não existe prazo para o estado de sítio, ate que a
causa desapareça).
Nos dois primeiros limites se terá prazo de 30 dias, prorrogando-se
ilimitadamente.
II – Limites Formais
Prévia consulta aos conselhos
Autorização do CN por maioria absoluta dos seus membros
Prazo de duração de 30 dias, com exceção do caso de guerra
Indicação das medidas coercitivas (art. 139 da CR – se referem de forma
taxativa aos 02 primeiros limites materiais, sendo que em caso de guerra é
possível suspensão, restrições, medidas coercitivas que se fizerem
necessárias).
No artigo 139 temos um rol taxativo para os dois primeiros limites materiais,
sendo que para guerra não tem.
Prisão em guarnição em campos militares
Suspensão da liberdade de reunião
Requisição de bens
Sobre estes dois últimos requisitos, a suspensão significa proibição.
Aula 05 - dia 06.07.09
4 – Intervenção Federal
4.1 - Federação
JAS pergunta ao tratar do assunto:
Quantos centros que manifestam poder existem dentro de um determinado
território? Ou quantas PJ com capacidade política existem dentro de um território?
Ou sobre pessoas e bens dentro de um determinado território quantas espécies de
leis incidem?
R: Se somente existir um centro que manifesta poder (Uruguai, por exemplo),
temos um Estado Unitário, que não descentralizado politicamente, podendo ser, no
entanto, descentralizado politicamente.
Desse modo, no Estado Unitário não temos intervenção federal.
Já no Brasil, por ser um Estado Composto, em que há descentralização
política e administrativa, podemos ter intervenção federal.
O DF é singular, possuindo capacidade política híbrida (competência material
e legislativa dos Estados Membros e Municípios).
Há ainda o Federalismo Fiscal, que é a divisão da competência tributária
entre os entes políticos em nossa Federação.
Existem duas espécies de estado compostos:
I – Confederação
II – Federação
Confederação Federação
- Unidades parciais têm direito de
secessão
- Não tem direito a secessão
- As unidades parciais são soberanas - são autônomas
- nasce a partir de um documento
internacional
- nasce a partir de uma Constituição
Somente pode se tratar de intervenção nos Estados Federativos (não há na
confederação e no Estado Unitário).
II – Federação:
Características de existência (obs.: Michel Temer as diferencia das
características de manutenção, que vamos tratar no mesmo ponto):
Indissolubilidade do vínculo (art. 1º da CR): os mecanismos de defesa da
indissolubilidade do vínculo se encontram na própria CR:
Instituto da intervenção, que tem como objetivo primeiro a
defesa da indissolubilidade vínculo da federação;
Direito Penal: artigo 109, IV da CR traz o crime político, ao
qual o STF reconhece como sendo as figuras da Lei de
Segurança Nacional, sendo que um dos seus tipos é pregar
contra o vínculo jurídico de formação da federação (aqui o
recuso para condenação é apenas o ROC, art. 102, II da
CR);
Obs.: temos uma federação tridimensional, uma vez que o STF
reconhece o Município como pessoa política;
Divisão constitucional de competência entre as pessoas jurídicas com
capacidade políticas. Em uma confederação é possível uma divisão de
competência, mas como não está numa constituição seria possível a sua
alteração, o que não ocorre na Federação.
No estado unitário pode haver divisão da competência política, em que o
centro de poder pode delegar competência às unidades políticas. Mas na
Federação, como a competência é prevista na CR, sendo cláusula pétrea,
ela não pode ser subtraída ou retirada pelo poder constituído ou legislativo
(o que pode ocorrer na Confederação e no Estado Unitário).
Existência de um tribunal encarregado da manutenção do pacto federativo
(STF). Pode ocorrer por vários meios, como nos casos de conflito entre
Estados Membros; a proteção das cláusulas pétreas realizadas pelo STF;
do mesmo a existência de ROC no caso dos crimes da segurança
nacional nos revela essa proteção ao pacto;
Participação dos Estados membros na criação da norma geral (art. 46 –
Senadores são representantes do Estado). Mais da Metade das AL podem
apresentar PEC. O percentual significa que o Estados Membros podem
mudar a CR.
A nossa Federação é do tipo Federação por Desagregação, uma vez que
surgimos de um Estado Unitário (Centrífuga – movimento de dentro para fora –
“fuga”), ao contrário da Federação dos EUA (Federação por agregação ou
centrípeta, movimento de fora para dentro – “suicídios de Estados Independentes”).
A nossa Constituição de 1824 não tratava de intervenção, uma vez que
éramos um Estado Unitário. De 1834 a 1840 as províncias tinham legislativos
próprios, as assembléias provinciais (se deveu a um Ato Adicional).
Em 1840, uma interpretação ao ato adicional acabou com a farra das
províncias.
Todas as nossas Constituições, a partir de 1891 trataram da intervenção da
União nos Estados (o Decreto 01 do governo provisório, de 16/11/1889, já falava da
intervenção do todo na parte, redigido por Rui Barbosa).
4.2 – Intervenção Federal na Constituição
A CR, no artigo 34, tem uma disposição negativa a respeito da intervenção.
Isso nos traz a idéia de que a intervenção é a exceção, ou seja, a regra é autonomia
dos Estados Membros. Por isso JAS denomina a intervenção como a antítese da
autonomia.
Conceito: a Intervenção é uma medida de natureza política de afastamento
limitado, específico e temporário da autonomia do ente federativo, que a sofre com
ingerência do ente que a promove e tem por objetivo corrigir situações específicas e
preservar a existência e o funcionamento da federação.
a) Características da Intervenção Federal:
Trata-se de uma medida excepcional: significa uma ressalva à autonomia
dos Estados, uma declaração de importância à autonomia dos Estados
Membros. A excepcionalidade da medida traz como consequência o artigo
60, §1º, como limite circunstancial ao Poder Constituinte Derivado
Reformador; (Michel Temer diz que a intervenção é a ultima ratio para
garantia da autonomia federativa; Hely Lopez Meireles diz que é um
recurso final para a correção de irregularidades) (denomina-se esta
excepcionalidade da decretação da intervenção de “emergência
federativa” – Diogo Moreira Neto); (art. 34, caput da CR)
É um ato restrito, o que significa que as causas para intervenção são
taxativamente previstas nos artigos 34 e 35 da CR. Para Pontes de
Miranda a decretação da intervenção deve ser interpretada de forma
restritiva, ou seja, na dúvida interpreta-se pela não-intervenção;
A intervenção deve ser limitada (art. 36, §1º): as causas que fundamentam
a intervenção devem estar definidas expressamente no decreto
interventivo. Esta limitação se divide:
o Limitação Espacial ou Geográfica: o território que a intervenção
abrange deve estar expresso no Decreto Interventivo;
o Limitação Temporal: o prazo de duração da intervenção deve estar
fixado no Decreto Interventivo. A intervenção não uma carta em
branco ao Chefe do PE ou à União (Michel Temer)
o Limitação modal (??): o decreto interventivo deve estabelecer as
restrições de suas intervenções (ex.: o decreto deve constar a
nomeação de interventor; a só suspensão do ato que ensejou a
intervenção basta, etc.)
o Limite finalístico: a intervenção tem apenas uma finalidade, que é a
correão da causa que motivou a medida;
É um ato típico da federação: como vimos antes, somente a Federação
pode ter intervenção, uma vez que esta mantém ou assegura a unidade da
Federação (o que é de extrema importância, já que há autonomia dos
Estados Membros); (André Ramos Tavares: a intervenção está
vocacionada, orientada para a manutenção do pacto federativo) (JAS: a
intervenção é uma norma de estabilização e defesa da Constituição, de
modo que não existe contradição entre a federação e a intervenção, ou
seja, não há ofensa pela intervenção à autonomia dos estados membros,
já que possui todas essas características acima)
A intervenção ocorre por determinação do ente federativo imediatamente
mais amplo (o sujeito ativo da intervenção é o ente mais amplo): ou seja, a
intervenção somente pode ocorrer num sentido (União para Estados,
destes para os Municípios). Disso temos a regra de que a União somente
pode intervir excepcionalmente nos Estados, sendo que nunca poderá
intervir nos municípios localizados nos Estados (mas a união
excepcionalmente poderá nos municípios localizados em Territórios
Federais), já que a intervenção somente pode ocorrer pelo ente federativo
imediatamente mais amplo. Deste modo, os estados somente podem
intervir em seus próprios municípios. A União pode intervir no DF, o qual
por não ter município, não realiza intervenção.
Obs.: vale lembrar que os Territórios têm natureza de autarquia, sendo entes
descentralizados da União. Mas a União, atente-se, não pode intervir nos Territórios,
uma vez que estes não são dotados de Autonomia, não são unidades federadas.
Ora, se são entidades descentralizadas, autárquicas, a qualquer momento a União
pode retirar o que outorgou.
De outro lado, perceba-se que o fato da União poder intervir
excepcionalmente nos municípios localizados em seus territórios, remarca a
importância da autonomia municipal, sua caracterização com ente federativo, e a
excepcionalidade da Intervenção Federação.
O município, vale lembrar, é uma realidade concreta, pois quando faltam os
serviços básicos ou outros atos públicos, eles são fruto da atividade municipal. Já a
União e os Estados são realidades abstratas.
Intervenção com eventual substituição: a intervenção não
necessariamente substituirá a autoridade Estadual, sendo que a
substituição é eventual.
A doutrina, majoritariamente, entende que raramente as autoridades a serem
substituídas podem ser a do PJ ou a do PL, ao menos nos exercícios de suas
atividades ou funções típicas. Em regra, a intervenção será no PE.
JAS defende a intervenção no PL, sendo que as funções do PL passariam
para o PE. O interventor exerceria as funções do PL.
b) Causas da Intervenção:
Artigo 34 da CR:
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
Inciso I
I - manter a integridade nacional;(fundamentado no princípio da indissolubilidade do pacto
federativo, artigo 1º caput da CF, que veda o direito a secessão).
A manutenção significa proteção à indissolubilidade do pacto federativo. A
intervenção ocorre para proteger a soberania nacional, sendo que essa proteção
ocorre se um estado estrangeiro se apossa de um território de algum estado
brasileiro (ex.: Paraguai se apossa de parte RS).
Pontes de Miranda cita o exemplo de quando autoridades estrangeiras, por
algum motivo, subtraiam a liberdade de locomoção de determinadas autoridades
nacionais.
Inciso II:
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
Aqui estamos fazendo da defesa da soberania nacional e defesa da paz e da
boa convivência entre as unidades federadas. O objeto é a harmonia da Federação.
Aqui protegemos e buscando acabar com uma “crise federativa”. Aqui é
possível a intervenção na unidade Invasora (para corrigi-la) ou na unidade Invadida
(para socorrê-la).
A intervenção pode ser uma medida prévia ao Estado de Sítio, uma vez que a
intervenção é uma medida mais célere, mais expedida, sendo que, indiferentemente
do Estado de Sítio, não precisa se declarar guerra.
Inciso III:
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
André Ramos Tavares fala no exemplo de atos terroristas. A constituição de
1968 trazia semelhante dispositivo, mas se contentava com a simples ameaça. O
legislador de 1988 exige que a ordem pública esteja concretamente comprometida,
ou seja, deve ser um comprometimento real, extremo. Não interessa a causa. È
possível, por exemplo no caso de catástrofe (ex.: as pessoas começam a saquear).
Assim como no inciso II, no inciso III podem ser utilizadas as forças armadas
(art. 142 da CR). Assim, não só as forças estaduais devem defender a ordem
pública, como também a União.
Desde que haja requisição do Presidente ou dos demais chefes do Executivo.
Inciso IV:
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
Exemplo: AL não permite que o governador tome posse, se tratando de uma
coação imprópria ao PE. Ou não se permite que o substituto legal do Governador
assuma, tome posse. Outro exemplo é o Governador fechar a AL, não permitindo
aos deputados deliberar, exercendo as suas atribuições típicas.
Outro exemplo: o PE não repassar o duodécimo ao PJ, inviabilizando o
exercício da função típica do PJ.
Inciso V:
Aqui a intervenção se dá em razão da desorganização administrativa. Essa
desorganização não será causa da intervenção se existir motivo maior para que ela
ocorra.
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo
motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro
dos prazos estabelecidos em lei;
A dívida fundada, segundo a lei 4320/67, compreende os compromissos de
exigibilidade superior a 12 meses contraídos para atender desequilíbrio
orçamentário da Unidade Federada.
Os estados membros podem contrair empréstimos para saldar suas dívidas,
sendo que esses empréstimos, se superiores a 12 meses, são denominados de
dívida fundada. (ex.: de força maior seria causas ligadas a despesas de saúde,
educação, serviços essenciais, etc. o que não provocaria a intervenção).
Na alínea “b” temos a defesa do federalismo fiscal, sendo que se o Estado
deixar de repassar ao Município, ele inviabilizará o município, de modo que se a
União intervir ela irá proteger a autonomia municipal.
Essa é uma característica da Federação Cooperativista, que é um resultado
da centralização do Poder na Pessoa da União. Por exemplo, a CR de 1946 foi uma
Constituição Municipalista, pois atribuía mais funções e recursos aos Municípios.
Com o golpe militar de 1964, com a edição de 1967 e 1969, enfraquecemos
os Municípios, retirando-lhes atribuições e receitas, criando mecanismos de
repasses da União ou dos Estados para os Municípios.
Esses repasses de orçamento da União ou dos Estados para os Municípios
são denominados de “Federação Cooperativista”.
Inciso VI:
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
Lei Federal: todas as pessoas jurídicas com capacidade política devem
obediência à CR e à Lei (art. 23, I da CR). Desse modo, os Estados e municípios
devem prover a lei federal.
Se o Município não prover a lei federal e o Estado a qual está submetido não
intervém neste, a União poderá intervir no Estado.
O Estado pode também não obedecer a lei federal, de modo que a União
também poderá intervir no estado, em razão de causa própria deste. MAS veja-se
que não é qualquer desobediência à lei federal pelo estado que dá suporte à
intervenção.
Em regra, o que ocorre é uma discussão pela via judicial entre a União e o
Estado sobre essa violação. Isto significa dizer que somente a recusa de aplicação
generalizada da lei federal pelo Estado , em que não exista possibilidade decisão e
resolução pelo PJ, será causa de intervenção federal.
Ordem ou decisão judicial: Existe uma diferença conceitual entre ordem e
decisão judicial.
Ordem judicial: são todos os atos judiciais determinados por um juízo
competente e com força executória. (ex.: arresto, reintegração de posse; seqüestro;
etc. – cautelares reais ou constrições judiciais);
Decisão judicial: o Estado Membro é parte na decisão judicial.
Para JAS não há diferença, havendo uma confusão terminológica.
Inciso VII:
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
(princípios constitucionais sensíveis)
São os denominados princípios constitucionais sensíveis, que são aqueles
percebíveis a olhos desamparáveis, facilmente identificados, sendo aqueles que os
Estados membros devem obedecer sobre pena de sofrerem intervenção federal.
São aqueles que não podem ser tocados pelos Estados Membros. Veja-se
que os estados membros têm pode de auto-constituição e auto-determinação, mas
há limites (art. 25 da CR).
Os princípios a que se refere o artigo 25 são os limites materiais ao Poder
Derivado Decorrente. Dentro desses limites temos as denominadas normas
centrais federais (Raul Machado Horta), que são comandos da CR que limitam a
autonomia dos Estados Membros.
Dentre estes princípios que os Estados Membros devem obedecer estão os
princípios constitucionais sensíveis do artigo 34, VII (que são espécies de normas
centrais federais).
A denominação princípios constitucionais sensíveis é de Pontes de Miranda.
Alínea ‘a’:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
Forma republicana é uma cláusula pétrea, mas a forma de Estado não é. Mas
este é um princípio constitucional sensível em sede estadual.
Isto significa que a forma republicana de estado deve ser obedecida pelos
Estados, sendo que a forma republicana não está utilizada somente em
contraposição á monarquia, significando o republicanismo (as conseqüências da
república devem ser mantidas, como por exemplo a alternância de poder, igualdade
de todos perante a lei, dever de honestidade – honestidade cívica, etc.).
Se nos estados membros estes princípios sensíveis restarem descumpridos,
caberá intervenção.
Sistema representativo é consequência de nossa Democracia representativa
ou semi-direta, em que o titular do poder, em regra, não o exerce diretamente, mas
sim através de representantes eleitos.
O regime democrático não é apenas votar e ser votado, muito mais que a
manutenção do exercício dos direitos políticos. O regime democrático é o respeito à
liberdade, igualdade, dignidade da pessoa humana
Alínea ‘b’:
b) direitos da pessoa humana;
Direitos da Pessoa Humana: se critica a expressão, sendo que deveria ser
usada a expressão “direitos fundamentais”, pois é a positivação destes mesmos
direitos.
Essa é a única hipótese em que tivemos o ajuizamento de uma ADI
interventiva em 1989, solicitando a intervenção da União no Estado de Mato Grosso.
Direitos da pessoa humana são posições jurídicas direcionadas à
concretização ou satisfação do sobre direito dignidade da pessoa humana.
Alínea ‘c’:
c) autonomia municipal;
A autonomia municipal deve ser assegurada (ex.: Estado não permite que o
prefeito tome posse). Não existe autonomia sem auto-organização.
Dentro da auto-organização está a presença de autoridades próprias, etc.
Alínea “d”:
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
Se o estado membro não obedece o princípio da moralidade, publicidade, de
prestação de contas da coisa pública.
Alínea ‘e’:
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento
do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000)
Serviços de relevância pública, sendo que o Estado deve investir os
percentuais constitucionais nesses serviços. A este respeito veja-se o artigo 212 da
CR.
c) Classificação da causas:
A doutrina separa estas causas em duas categorias ou espécies:
I – Intervenção normativa ou material:
1º grupo: Intervenção normativa: é desrespeito ou violação a uma norma,
constitucional ou infraconstitucional (ex.: art. 34, VII da CR) (a intervenção normativa
tem como pressuposto material específico da intervenção a fixação ou prisão a uma
violação a norma específica, constitucional ou sub-constitucional).
2º grupo: Intervenção Material: já a intervenção material é aquela em que o
pressuposto específico não se prende à uma norma.
II - Iniciativa para a Intervenção (classificação – Intervenção no que toca a
iniciativa)
i) Intervenção discricionária: depende de oportunidade e conveniência do
chefe político. Se divide em duas subespécies:
o De ofício (ou espontânea): No artigo 34, I, II, III e V da CR, temos
uma intervenção discricionária espontânea ou de ofício. O
presidente da República não está obrigado a decretar a
intervenção. Nesses casos, necessário se faz o controle político do
CN.
Obs.:
No caso da iniciativa do Presidente discricionária espontânea (ou
de ofício) o Presidente precisa ainda ouvir os Conselhos da
República e de Defesa. Èé possível que essa oitiva não seja
realizada em razão da situação fática, hipótese em que será
dispensada.
o Provocada: artigo 34, IV da CR. O presidente precisa ser
provocado (comunicação e solicitação), ou seja, não pode agir de
ofício. Os Poderes nas unidades federadas aqui são o PL e PE
(assim exemplo: o governador é impedido de tomar posse; ou o
governador fecha a AL)
ii) Intervenção Vinculada: artigo 34, IV, VI e VII da CR.
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
Se for o PJ o impedido de exercer as suas funções, a intervenção será
vinculada. Isso porque o PJ estadual irá solicitar ao STF e este irá requisitar ao
Presidente a intervenção. O presidente está obrigado a decretar a intervenção.
d) A intervenção a partir do PJ (casos):
É a mesma coisa que se dizer intervenção por requisição (determinação -
vinculando a atuação do Presidente) do Poder Judiciário. Hipóteses:
I – PJ é o poder coagido:
O PJ deve se reporta ao Tribunal Superior a que estiver vinculado solicitando
a intervenção, e este (tribunal vinvulado) se entender cabível, solicita ao STF.
No caso do TJ ele se vincula ao STJ, que solicita ao STF e este requisita ao
Presidente. Deve-se aqui compatibilizar o artigo 34, IV e o artigo 36, I, parte final.
Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:
I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder
Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal,
se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;
Resta claro, portanto, que o PJ estadual não pode se reportar diretamente ao
STF para solicitar a intervenção. Requisitos para esta intervenção:
O órgão do PJ estadual coagido não se reporta diretamente ao STF,
reportando-se ao Tribunal Superior a que estiver vinculado;
Somente o STF pode (faculdade) requisitar a intervenção ao Presidente;
É possível que o STF requisite a intervenção sem a necessidade de
comunicação ao TJ estadual ou PJ coagido. Ou seja, o STF pode agir de
ofício. Isso ocorre quando for impossível, pelas próprias circunstâncias,
que o TJ solicite auxílio.
II – Intervenção em razão da desobediência à ordem ou decisão judicial
(art. 34, VI da CR):
O inciso VI do artigo 34 deve ser combinado com o artigo 36, II da CR.:
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do
Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal
Superior Eleitoral;
Aqui vai depender da matéria. Por exemplo: se a matéria que está sendo
desobedecida for eleitoral, será requisitada pelo TSE; se for matéria de lei
infraconstitucional será do STJ.
Mas se a matéria for trabalhista cabe ao STF requisitar a intervenção. Se esta
decisão judicial for o não-pagamento de precatório, mesmo relativos a créditos de
natureza alimentar, o STF não tem decretado a intervenção, desde que o estado
demonstre a inexistência de recurso financeiros para tanto.
Isso é importante, pois o Estado geralmente alega essa inadimplência,
mesmo de natureza alimentar, em razão de possível prejuízo aos serviços básicos.
III – Intervenção em razão da inexecução de lei:
Lei aqui o STF entende em sentido genérico, inclusive atos infralegais (ex.:
decretos, regulamentos, etc.).
A intervenção aqui necessita preencher os seguintes requisitos:
Iniciativa exclusiva do PGR;
O STF deve dar provimento à representação do PGR;
O STF requisitará a intervenção ao Presidente (art. 36, IV da CR);
O Presidente decretará a intervenção, sendo o ato vinculado.
Obs.: aqui não se faz necessário o controle político.
IV – Inobservância dos princípios constitucionais sensíveis (34, VII da
CR):
Obs.: se aqui o Presidente, nessas 04 situações, de requisição do PJ, não
decretar a intervenção, comete crime de responsabilidade (lei 1079/50).
Obs.: A lei 4337/64 somada aos Regimentos Internos dos Tribunais, regram a
intervenção.
e) Controle político-parlamentar do Decreto de Intervenção
A intervenção é um ato de natureza política, daí, em regra, haver o controle
pelo CN (regra de simetria a ser observada pela CE).
Na intervenção que se faz a partir da requisição do PJ (04 tipos acima) não há
o controle político por parte do CN. Nas demais espécies de intervenções haverá o
controle político do CN.
Este controle político por parte do CN se materializa a partir de um Decreto
Legislativo (art. 49 da CR). O CN pode trilhar o seguinte caminho:
I – Aprova a intervenção e permite que esta intervenção se ultime no prazo
estabelecido no Decreto (qual: o legislativo ou presidencial?);
II – Aprova a intervenção, mas determina a sua imediata sustação
(independente do prazo previsto no decreto);
III – Rejeita a intervenção e determina a sua suspensão (a consequência é
que os atos praticados a partir do decreto de intervenção serão ilegais).
É possível o controle judicial do ato que decreta a intervenção?
R: O Decreto presidencial se fundamenta em discricionariedade e
conveniência, em alguns casos, mas isso não significa que ele possa ser arbitrário.
Daí o mérito da intervenção não pode ser analisado pelo PJ, mas este pode analisar
se os comandos constitucionais estão sendo violados ou não.
(Analogia: seria aqui como na análise do requisitos da urgência e relevância
para a edição da medida provisória – isso para se firmar que a discricionariedade
política não significa arbitrariedade).
Os atos praticados pelo Interventor, que estão limitados pelo Decreto
Interventivo, poderão ser fiscalizados pelo PJ.
Por fim, nos termos do artigo 36, §4º:
§ 4º - Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus
cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.
Esses impedimentos legais podem ser a cassação de direitos políticos, a
demissão de cargo público, etc.
f) Espécies de intervenção
1 - ADI Interventiva
A ADI interventiva surge no Brasil em 1934. Ela é uma ação de modelo ou
sistema concentrado, mas não é abstrata, é concreta. Não inaugura um processo
objetivo, mas sim um processo subjetivo
I – Legitimidade para ADI interventiva:
Somente o PGR pode ajuizar a ADI interventiva
II – Competência:
É competente para conhecer e julgar a ADI interventiva somente o STF.
III – Objeto de Controle:
O PGR busca a defesa dos princípios constitucionais sensíveis. O que se
defende aqui é o respeito pelos Estados membros a estes princípios. O objeto de
controle são os princípios.
IV – Efeitos:
Se o STF julgar procedente o pedido da ADI interventiva, requisitará ao
Presidente que decrete a intervenção.
Requisição é determinação (não é ordem, pois não existe subordinação entre
o STF e presidente). Toda intervenção se concretiza em um decreto do presidente.
Neste caso, o presidente tem a obrigação de decretar a intervenção, sendo
vinculado. No entanto, o presidente não está obrigado a nomear interventor, isso
porque aqui ao Presidente abrem-se 02 caminhos:
a) Suspende o ato que ensejou a intervenção, sendo que se isso bastar não
precisa nomear interventor;
b) Se a só suspensão do ato que ensejou a intervenção não bastar, será
nomeado interventor.
V – Não há o controle político do CN.