Ao final desta aula, você deverá ter:
• operado com alguns dos procedimentos meto-dológicos da sociolinguística variacionista para a elaboração do plano de pesquisa e para a execução da mesma;
• sistematizado os resultados da pesquisa na forma de um artigo.
10aula
Obje
tivos
A PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA:
“COLOCANDO A MÃO NA MASSA”
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10A
ula
AULA 10A PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA:
“COLOCANDO A MÃO NA MASSA”
1 INTRODUÇÃO
Como você viu nesta disciplina, a variação é um fenômeno que
se observa em diversos níveis de uma língua, podendo ser captada
tanto na língua falada quanto na língua escrita. Viu também que,
por meio da metodologia sociolinguística variacionista, é possível
quantificar a influência de fatores de diferentes naturezas sobre uma
determinada variável dependente. Agora, nesta aula, você terá a
oportunidade de “colocar a mão na massa” e demonstrar como uma
pesquisa dessa natureza deve ser executada. Além disso, aprenderá
a sistematizar os resultados na forma de um artigo. Não se assuste!
Vou orientá-lo (a) passo a passo!
Linguística II: sociolinguística
238 Módulo 2 I Volume 5 EAD
A pesquisa sociolinguística variacionista: “colocando a mão na massa”
2 APRESENTANDO OS TEMAS PARA ESCOLHA
Inúmeros são os fenômenos de variação registrados no
português brasileiro. No entanto, por questões práticas, vou apresentar
a você quatro temas, dos quais deverá escolher um para realizar
a sua pesquisa. São eles: realização variável do sujeito, realização
variável do objeto direto, realização variável da concordância verbal
e realização variável da concordância nominal.
Depois de escolhido um dos temas, o primeiro passo é buscar
informações a respeito do mesmo, ou seja, buscar pesquisas, já
realizadas na perspectiva variacionista, com o propósito de guiá-
lo(a) na elaboração do esboço do plano de pesquisa. Para facilitar
essa etapa, já indico, no boxe ao lado, onde encontrar pesquisas que
contemplam cada um dos temas. Pelo menos um deles deverá ser
lido e fichado, pois será, basicamente, o referencial da sua pesquisa.
Portanto, capriche no seu fichamento! Afinal, ele fará parte de um
dos itens do plano de pesquisa, que você aprenderá a fazer na seção
seguinte. Mas, atenção! Você deverá fichar apenas a parte que lhe
interessa!
3 ONDE PESQUISAR
Sobre o corpus de língua falada, você viu, na aula passada,
que não é fácil obtê-lo. Envolve, além de procedimentos éticos,
vários passos que demandam tempo. Para esta pesquisa, que tem
como objetivo básico fazer com que você opere com algumas das
ações metodológicas da pesquisa variacionista, poderemos recorrer
a bancos de dados já existentes, por exemplo, o VALPORT (Análise
Contrastiva de Variedades do Português), cujo endereço é http://
www.letras.ufrj.br/varport/ e o NURC (Norma Linguística Urbana
Culta), cujo endereço é: http://www.letras.ufrj.br/nurc-rj/
Sobre o corpus de língua escrita, é mais fácil compô-lo.
Poderá recorrer à Internet e coletar dados de língua escrita, desde
situações mais formais a menos formais; poderá buscar em revistas,
de diversas naturezas, artigos, notícias informativas, propagandas,
entrevistas, reportagens... em jornais, textos de diversas seções;
letras de canções; obras literárias... Enfim, são várias as fontes. O
importante, nesse caso, é revelar a fonte exata.
Para a nossa pesquisa, poderá escolher apenas o corpus de
língua falada ou poderá constituir um de língua escrita. Se quiser
analisar apenas um deles, tudo bem! Se quiser analisar os dois,
melhor ainda!
Para o tema “a realização variável do sujeito”, você
deverá ler o texto de Mayra Cristina Guimarães Averbug, em: http://www.
filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno11-12.html.
Para o tema “a realização variável do objeto direto”,
além do texto de Averburg, deverá ler o texto de
Solange Mendes Oliveira, disponível em: http://
www.revel.inf.br/site2007/_pdf/9/artigos/revel_9_objeto_direto_nulo.pdf.
Para o tema “a realização variável da concordância
nominal”, deverá ler o texto de Scherre e Naro, em: http://www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre-
naro98.pdf.
Para o tema “a realização variável da concordância
verbal”, deverá consultar o texto de Mirian dos Santos de Oliveira, no endereço http://www.mundoalfal.
org/cdcongreso/cd/historia_portugues/oliveira.
swf ou a dissertação de mestrado de Vânia de Fátima Gonçalves, no
endereço: http://dspace.lcc.ufmg.br/dspace/
bitstream/1843/ALDR-76RMCJ/1/disserta__o_ii_completa_sumario_
completa.pdf.
Lembre-se: são textos básicos! Você poderá buscar outros para
complementar a sua pesquisa. Fique à vontade!
SAIBA MAIS
239Letras VernáculasUESC
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4 PREPARANDO UM PLANO DE PESQUISA
Você já deve saber que, antes de realizar qualquer
pesquisa, há necessidade de elaborar um plano ou projeto, pois é
ele que guiará o desenvolvimento da mesma.
4.1 Apresentação do tema/problema
Aqui, você deverá apresentar o seu tema escolhido.
Juntamente com essa apresentação, você deverá formular o
problema que envolve diretamente o seu tema de pesquisa. Por
exemplo: se for a realização variável do objeto direto, poderá
perguntar: quais são as incidências dos fatores linguísticos
e extralinguísticos na realização das formas variáveis que
representam o objeto direto?
4.2 Definição da variável dependente
Como você já sabe, a variável pode ser binária ou eneária.
Procure, então, elaborar a variável que será estudada.
4.3 Definição das variáveis independentes
Aqui você deverá elencar as variáveis linguísticas e
extralinguísticas a serem investigadas.
4.4 O corpus e as células sociais
Essa apresentação permite visualizar o universo da amostra
a ser pesquisada.
4.5 Definição das hipóteses Como você já sabe, as hipóteses correspondem, na
verdade, a previsões do que poderá ser encontrado. São respostas
provisórias à pergunta formulada: quais são as incidências dos
fatores linguísticos e extralinguísticos na realização das formas
SAIBA MAIS
Sobre a realização de uma pesqui-sa, vale destacar a observação de Bagno (2004, p. 75):
‘A riqueza da pesquisa está na própria pesquisa’, no processo de investigação, na explora-ção do material, na aplicação das teorias, no levantamento das hipóteses. Ninguém deve iniciar uma pesquisa queren-do que ela dê os resultados X e Y. É a pesquisa em si, o processo mesmo da investiga-ção que é importante, e nem sempre apenas o produto do trabalho. Uma pesquisa é muito mais rica se, em vez de umas poucas respostas, elas nos propuser novas questões, novos problemas, novos es-tímulos para pesquisar mais. Não podemos encarar a pes-quisa de modo mecânico e burocrático.
SAIBA MAIS
Conforme Minayo (1998 apud Pereira e Vieira, 1999, p. 24), “um problema decorre [...] de um aprofundamento do tema. Ele é sempre individualizado e específico... deve ser formulado como pergunta... deve ser claro e preciso... deve ser limitado a uma dimensão variável”. Se-gundo as autoras, “o problema é, portanto, a base, o início da investigação: uma dúvida, uma questão, uma pergunta, que de-manda a criação de novos refe-renciais” (p. 18).
Linguística II: sociolinguística
240 Módulo 2 I Volume 5 EAD
A pesquisa sociolinguística variacionista: “colocando a mão na massa”
variáveis que representam o objeto direto?
Poderá prever, por exemplo: haverá mais casos de objeto
na forma nula (objeto nulo) do que na forma não-nula; fatores
extralinguísticos interferem mais no uso variável do objeto do que os
fatores linguísticos.
4.6 Objetivos
Você já deve saber que a proposição dos objetivos é fundamental
numa pesquisa, pois são eles que vão direcionar a investigação.
4.6.1 Geral
Para elaborar o objetivo geral, você deverá retomar o problema:
quais são as incidências dos fatores linguísticos e extralinguísticos
na realização das formas variáveis que representam o objeto direto?
Apresentando este problema em forma de ação, terá, portanto, o
objetivo geral formulado: investigar as incidências dos fatores
linguísticos e extralinguísticos na realização das formas variáveis que
representam o objeto direto.
4.6.2 Específicos
Os objetivos específicos são formulados a partir da fatoração
do objetivo geral. Conforme Pereira e Vieira (1999, p. 29), “são os
objetivos específicos que, na verdade, garantirão a consecução do
objetivo geral”. Para o caso do objeto direto, poderá especificar assim:
identificar os fatores linguísticos e extralinguísticos que interferem
na realização variável do objeto direto; apontar qual fator menos
interfere no fenômeno variável; verificar se a forma mais recorrente
corresponde à forma padrão ou não-padrão.
4.7 Justificativa
Neste item do plano, deverá dizer o que levou você a escolher
tal tema. Deverá dizer a relevância, a contribuição da pesquisa. É
neste item que você “vende o seu peixe”! Ou seja, é aqui que deverá
convencer o leitor da importância de sua pesquisa.
SAIBA MAIS
De acordo com Pereira e Vieira (1999, p. 27), “jus-tificar uma pesquisa signi-fica, portanto, enquadrar o problema num campo de discussões teórico-meto-dológicas que dê susten-tação ao estudo proposto”.
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SAIBA MAIS4.8 Fundamentação básica
Lembra do texto que fichou? Pois é, ele deverá aparecer aqui,
nesta seção.
5 APLICANDO A METODOLOGIA QUANTITATIVA
5.1 A operacionalização dos dados
O objetivo desta pesquisa é que você realmente “coloque a mão
na massa” e aplique apenas alguns dos procedimentos metodológicos.
A utilização de programas computacionais, por exemplo, não será
possível na sua investigação, dado o número pequeno de dados com
que você trabalhará. No entanto, você aprenderá a transformar os
dados em valores numéricos (apenas os percentuais, pois os pesos só
são possíveis com a ajuda dos programas), pois eles nos possibilitam
visualizar melhor o fenômeno que está sendo pesquisado. Vamos,
então, aos passos!
Com o corpus definido e em mãos, você deverá:
Primeiro: localizar a variável dependente (procure destacá-la de
vermelho, por exemplo). Se variante 1, então identifique-a com a
letra A; se variante 2, identifique-a com a letra B. Isso se a variável
for binária; se for eneária, mais letras serão acrescentadas.
Segundo: codificar os fatores linguísticos elencados: fator 1, código
1; fator 2, código 2; e assim por diante.
Terceiro: contar cada uma das variantes para podermos visualizar
o cômputo geral dos dados. Suponhamos, então, que você encontre:
para A, 25 ocorrências; para B, 13 ocorrências. O total encontrado é:
38 ocorrências da variável dependente.
Quarto: transformar os números em percentuais. Para isso, deverá
aplicar a chamada regra de três. Lembra-se disso? É assim:
Vale destacar que “o levan-tamento bibliográfico está implícito em todo o pro-cesso da pesquisa: desde a elaboração do projeto até o relatório final” (PEREIRA; VIEIRA, 1999, p. 33).
ATENÇÃO
Após a definição dos pro-cedimentos metodológi-cos, é necessário estipular um tempo para a sua re-alização. Trata-se do cro-nograma, que poderá ser mudado conforme o anda-mento da investigação. Em nossa pesquisa, ele será dispensado!
38_____100% 38_____100%25________ X 13 ________ X
Linguística II: sociolinguística
242 Módulo 2 I Volume 5 EAD
A pesquisa sociolinguística variacionista: “colocando a mão na massa”
Você multiplica 25 por 100 e divide o resultado por 38: o
percentual será 65,8; você multiplica 13 por 100 e divide por 38: o
percentual será 34,2. O valor dos dois corresponde a 100%. Viu que
é fácil!
Quinto: Distribuir os dados em tabela. Por exemplo:
Variantes Ocorrências %
A 25 65,78
B 13 34,2
Tabela 1: cômputo geral da variável dependente
Sexto: Contar cada uma das variáveis, levando em conta cada um
dos fatores. Por exemplo: das 25 ocorrências da variante A, quantas
foram influenciadas pelo fator 1? Suponhamos que sejam 15; das 13
ocorrências da variante B, quantas foram influenciadas pelo fator 1?
Suponhamos que sejam 8. O total é, portanto, 23.
Sétimo: transformar os números em percentuais:
Para A, o resultado é: 65,2%; para B, é: 34,8%.
Oitavo: Distribuir os dados em tabela:
Variantes Ocorrências %
A 25/15 65,2%
B 13/8 34,8%
Tabela 2: Variável dependente em função do fator 1:
Com esses resultados, você vê, por exemplo, que a variante A
é mais influenciada pelo fator 1 do que a variante B. Portanto, o fator
1 indicia que é condicionador da variação. Se, por outro lado, você
obtivesse dados iguais para as duas variantes, 50%, você chegaria à
conclusão de que não há variação. Se você obtivesse 100% para uma
delas, você interpretaria também que não há variação, pois o uso é
categórico.
Variante A/fator 1: Variante B/fator 1
23_____100% 23_____100%
15________ X 8 ________ X
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SAIBA MAIS
Lembre-se: a pesquisa lin-guística lhe possibilita des-cobrir “coisas” muito inte-ressantes sobre o funciona-mento de uma língua. Por meio da pesquisa, podemos nos conscientizar sobre fe-nômenos gramaticais que configuram o sistema de nossa língua. Como afirma Bagno (2007),
[...] através da pesqui-sa, é possível começar a encarar a variação e a mudança das línguas não como um ‘pro-blema’, mas como um elemento constitutivo da própria natureza das línguas humanas, que mudam ao longo do tempo exatamente como todos os demais elementos da cultura e da sociedade (p. 195).
Nono: Interpretar os dados: com os resultados numéricos obtidos,
você deverá verificar se as hipóteses foram confirmadas ou refutadas.
Também poderá comparar os seus resultados com aquela pesquisa
que serviu de referência para a sua.
Décimo: sistematizar os resultados: nesta etapa, poderá transformar
o que pesquisou num artigo, num relatório, numa comunicação...
Enfim, há várias possibilidades de divulgar os resultados. Proponho
que divulgue na forma de um artigo. Para tanto, oriento na próxima
seção.
6 SISTEMATIZANDO OS RESULTADOS DA PESQUISA
Para apresentar os resultados, sugiro a seguinte proposta:
TÍTULO DO TRABALHO
Autor: XXXXXXXXXXXXEAD-LETRAS/UESC
RESUMO: Síntese da pesquisa.PALAVRAS-CHAVE: apresente 3, no máximo.
1 INTRODUÇÃO: Nesta seção, além de você apresentar o tema, deverá: destacar o problema que suscitou a pesquisa, os objetivos, a justificativa e a metodologia utilizada. No último parágrafo, poderá descrever como o artigo estará organizado estruturalmente.
2 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS: Aqui, você deverá descrever detalhadamente os resultados obtidos na investigação. Deverá apresentar todas as tabelas, analisando-as separadamente.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS: Sintetizar o que foi pesquisado. Procure destacar se o fenômeno investigado realmente é ou não variável. Poderá apontar a necessidade de outras investigações.
REFERÊNCIAS: Elencar todas as referências utilizadas.
Linguística II: sociolinguística
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A pesquisa sociolinguística variacionista: “colocando a mão na massa”
RESUMINDO
A PALAVRA FINAL DA AUTORA: Espero que esse material contribua de forma significativa para a sua formação. Enquanto autora, posso afirmar que foi muito prazeroso e gratificante organizá-lo! Até o próximo trabalho!
BAGNO, M. Português brasileiro?: um convite à pesquisa. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
NARO, A. J. Modelos quantitativos e tratamento estatístico. In: MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (Orgs.). Introdução à Sociolingüística Variacionista: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003, p. 15-25.
OLIVEIRA E SILVA, G. M. Coleta de dados. In: MOLLICA, M. C. e BRAGA, M. L. (Orgs.). Introdução à Sociolingüística Variacionista: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003, p.117-133.
PEREIRA, L. R.; VIEIRA, M. L. Fazer pesquisa é um problema? Belo Horizonte: Editora, 1999.
TARALLO, F. A Pesquisa Sociolingüística. São Paulo: Ática, 1999.
RE
FE
RÊ
NC
IAS
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
● “Colocar a mão na massa” e realizar uma pesquisa conforme os pressupostos metodológicos da pesquisa sociolinguística variacionista.
● Sistematizar sob a forma de artigo os resultados finais desse trabalho.
Suas anotações
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