AVALIAÇÃO DE IMPACTO DE
SERVIÇO DE MENSAGENS PARA
PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL.
Miriam Pinto
Rosana Suemi Tokumaru
Lhais Corradi Gaigher
“Como promover o desenvolvimento pleno de crianças de baixa
renda? O SMS Criança é um sistema de envio de mensagens de texto
do tipo ‘dicas’ profissionais com linguagem simples desenvolvido
utilizando a metodologia de co-criação denominada Design Centrado
no Ser Humano. Para avaliar se tal solução gera impacto nas famílias
e, em particular, na vida das crianças, por meio de parceria com um
Centro Comunitário que atende crianças de baixa renda no
contraturno escolar, mensagens semanais foram enviadas para os pais
ou responsáveis de 31 crianças entre 6 e 13 anos de idade ao longo de
4 meses de 2017, que aceitaram participar do estudo. Para avaliação
do impacto produzido foram utilizados questionários de avaliação
validados na área da psicologia que abordaram os construtos: perfil
socioeconômico dos participantes, qualidade da interação familiar,
suporte social e atividades em família além de perguntas relacionadas
ao envio das mensagens e seus impactos especificamente. Do conjunto
inicial de participantes, foram válidos para tratamento dos dados 12
deles. Os resultados não revelaram impacto em qualquer dos três
construtos. No entanto, a avaliação qualitativa indicou total satisfação
dos participantes com o serviço. Essa diferença dos resultados
encontrados requer mais investigação para ser esclarecida.
Palavras-chave: impacto social, metodologia de co-criação,
Desenvolvimento de produto
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1. Introdução
O desenvolvimento socioemocional pleno infantil é influenciado por resultados de interações
entre fatores individuais, como características genéticas e biológicas e condições do contexto
social no qual a criança vive (MATSUKURA; FERNANDES; CID, 2014). Desta forma, a
convivência com situações diárias de estresse e insegurança durante o desenvolvimento da
criança pode levar a distúrbios emocionais e problemas de conduta (SAKURAMOTO;
SQUASSONI; MATSUKURA, 2014). Ou seja, ambientes socioeconômicos adversos podem
representar fatores de risco para o desenvolvimento saudável do indivíduo caracterizando
condições desfavoráveis ao desenvolvimento pleno (HALPERN; FIGUEIRAS, 2004;
BANDIN, 2008; KOLLER, 2004; LINHARES; BORDIM; CARVALHO, 2004).
Segundo Gaspar et al. (2006), a pobreza tem sido descrita como um fator de risco para a saúde
e bem-estar físico, mental e social das crianças por ser uma condição geradora de
adversidades, não sendo, contudo, a única variável. De fato, a instabilidade financeira
acompanha eventos estressores, somados à exposição recorrente à estresse familiar e suporte
social insuficiente (MASTEN, 2001).
Como promover o desenvolvimento socioemocional pleno de crianças de baixa renda
utilizando as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) é um desafio atual que se
coloca para toda a humanidade. Este trabalho insere-se neste contexto e seu objetivo é a
avaliação do impacto social que o envio de mensagens do tipo SMS para pais ou responsáveis
com informações sobre educação dos filhos podem ter sobre o desenvolvimento de crianças
de baixa renda entre 6 e 13 anos de idade.
2. Referencial teórico
A proposta de envio de mensagens SMS semanalmente com conteúdo específico voltado para
o desenvolvimento infantil foi resultado de processo de projetação usando a metodologia de
co-criação denominada Design Centrado no Ser Humano ou HCD, sigla para Human Centred
Design (BROWN; WYATT, 2010).
“É um processo que tem início com as pessoas para as quais se está projetando e
termina com soluções ‘sob medida’ para suas necessidades. HCD é sobre construir
empatia com as pessoas para as quais se está projetando, gerar toneladas de ideias,
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construir muitos protótipos, compartilhar com os usuários, e eventualmente, colocar
a nova solução no mundo” (WYATT, [S.d.] p. 1, tradução própria)
O HCD é, portanto, um processo que envolve compreender profundamente as necessidades
das pessoas para as quais se está projetando, gerar várias ideias de soluções, selecionar as
mais promissoras, prototipar rapidamente a solução proposta e testá-la em um processo
iterativo que visa à aproximação da solução ideal (BROWN e WYATT, 2010).
Este processo é organizado em três fases: inspiração, ideação e implantação. A fase de
inspiração busca compreender profundamente as necessidades e dificuldades dos clientes ou
beneficiários, assim como suas crenças, preferências, emoções, motivações, dificuldades,
ambientes e interações com produtos (PATNAIK e BECKER, 1999). São usadas técnicas das
ciências sociais como pesquisa etnográfica envolvendo entrevistas e grupos de discussão,
imersão na realidade do usuário, entrevistas com especialistas e análise de situações análogas.
A fase de inspiração é fortemente explorada no HCD e deve contar com o melhor
entendimento do público alvo possível, a fim de contribuir com a criação de soluções que
atendam às necessidades do usuário (BROWN e WYATT, 2010).
Na fase de ideação, os projetistas sintetizam o aprendizado e colhem os principais insights.
Através de técnicas de brainstorming gera-se um grande número de ideias. As mais
promissoras são selecionadas e prototipadas, passando por testes com os usuários em ciclos de
aprendizagem e aprimoramento da solução, a fim de verificar sua viabilidade (BROWN e
WYATT, 2010).
A fase de implantação trata de preparar a solução encontrada para sua inserção no mundo real.
Pensa-se mais profundamente nos desafios para dar escalabilidade à solução, buscando
compreender mercados, parcerias e recursos (BROWN e WYATT, 2010). Envolve ainda, o
desenvolvimento de um modelo de negócios (OSTERWALDER e PIGNEUR, 2010).
Neste caso específico, os beneficiários para os quais e com os quais o projeto foi
desenvolvido são famílias atendidas por um centro comunitário católico que atua na periferia
da região metropolitana da Grande Vitória, Espírito Santo. O centro atende aproximadamente
300 crianças entre 6 e 13 anos de idade diariamente no contraturno quando elas participam de
atividades de reforço escolar, música, dança e esportes. As famílias participam de atividades
regulares mensais.
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Após uma fase inicial de desenvolvimento da solução realizada ao longo de 2016, quando as
mensagens foram enviadas para pais ou responsáveis de aproximadamente 20 crianças do
centro comunitário, foi feita avaliação meramente qualitativa dos resultados, ainda no
contexto da fase de prototipação do HCD (PINTO, 2017). Tal avaliação deu indícios de que
as mensagens surtiam efeitos positivos o que motivou o desenvolvimento de um sistema
computacional de envio das mensagens, o SMS Criança, mostrado nas Figuras 1 e 2 como
ilustração.
Figura 1 – Tela de abertura do sistema computacional do SMS Criança
Fonte: Elaboração própria
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Figura 2 – Tela de configurações de agendamento de mensagens
Fonte: Elaboração própria
Como o presente trabalho tem como objetivo avaliar de forma quantitativa o impacto do envio
das mensagens via SMS para os pais e responsáveis de um grupo de famílias atendidas pelo
centro comunitário participante do estudo, utilizamos metodologias de avaliação validadas em
domínios da psicologia sob a forma de instrumentos de avaliação quantitativos elaborados no
formato de escalas do tipo Likert e adaptados a partir de estudos já validados em literatura. Os
construtos avaliados foram o perfil socioeconômico dos participantes, a qualidade da
interação familiar, o suporte social percebido e a realização de atividades em família.
A avaliação do perfil socioeconômico foi feita com base no Critério de Classificação
Econômica do Brasil (CCEB) (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE
PESQUISA, 2016) que utiliza estatísticas nacionais como o PNAD e permite fazer inferência
sobre a classe socioeconômica do participante. Assim, utilizamos o CCEB para descrever o
perfil socioeconômico da amostra pesquisada.
A qualidade da interação familiar e o suporte social foram avaliados no presente estudo como
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indicativos de impacto do programa SMS Criança. Uma das definições seminais conceitua o
suporte social como “informação que leva o indivíduo a acreditar que é amado, estimado e
que pertence a uma rede social com obrigações mútuas” (COBB, 1976). Esta conceituação é
respaldada pela ideia de que o indivíduo forneceria como retorno a esta ajuda direta um
sentimento de confirmação de pertencimento a um grupo onde é respeitado, apreciado e
valorizado (SEIDL; TRÓCCOLI, 2006). A qualidade da interação familiar inclui diferentes
aspectos como o relacionamento afetivo, a comunicação entre pais e filhos, consistência na
imposição de regras e disciplina, dentre outros. Ainda, considerando o conteúdo das
mensagens enviadas durante o programa SMS Criança, avaliamos possíveis mudanças nas
atividades esportivas, culturais e de lazer realizadas pela família.
3. Metodologia
3.1. Procedimento
A avaliação do impacto da implementação do SMS Criança sobre o desenvolvimento das
crianças e suas famílias foi feita pela comparação das respostas aos questionários aplicados
em dois momentos com intervalo de 4 meses entre eles, no período de agosto a novembro de
2017: antes do início do envio dos SMS e após o envio das mensagens. As famílias
respondentes participam de uma ação específica, no centro comunitário, denominada Projeto
Família. Ao longo do ano, essas famílias participam de encontros mensais, com presença
avaliada, nos quais são tratados temas específicos da instituição. Os pesquisadores
apresentaram aos responsáveis pelas crianças do Projeto Família, em reunião mensal, a
proposta de avaliação de impacto tendo em vista que muitos deles já haviam participado da
fase anterior de desenvolvimento da solução. Todos os que concordaram em participar da
pesquisa assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Aqueles que concordaram foram convidados a responder questionário específico composto
pelos instrumentos descritos abaixo, em presença do pesquisador que anotava as respostas dos
participantes. Todos foram cadastrados no sistema SMS Criança com uma tag associada
‘projeto família’ para sua fácil identificação. Durante os quatro meses seguintes eles
receberam mensagens semanalmente, em horário fixo, sobre temas relacionados aos assuntos
tratados pelo Projeto Família, a saber, cultura, esportes e lazer. Findo esse prazo, todos foram
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convidados a responder novamente o mesmo questionário, em presença de pesquisador que
anotava as respostas.
3.2. Instrumento de pesquisa
O instrumento de pesquisa usado para a avaliação da eficácia do envio dos SMS continha
quatro partes, a saber: perfil socioeconômico, suporte social, qualidade da interação familiar e
questões relacionadas ao projeto família.
3.2.1. Perfil socioeconômico
Para traçar o perfil socioeconômico utilizou-se o CCEB (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
EMPRESAS DE PESQUISA, 2016). Este é formado por 21 questões sobre itens do
domicílio. A pontuação individual é obtida a partir da soma dos pontos em cada item. Este
montante classifica o participante segundo a classe social (A, B, C ou D) e permite estimar a
renda domiciliar mensal.
3.2.2. Suporte social
Foi utilizado, na presente pesquisa, o instrumento do estudo de Seidl e Tróccoli (2006) que
apresenta questões sobre suporte instrumental, que avaliam o apoio percebido no manejo de
conflitos ou situações do cotidiano e a satisfação em relação a este apoio, e questões sobre
suporte emocional, que avaliam a percepção de atenção e companhia e a satisfação com este
apoio (SEIDL; TRÓCCOLI, 2006; WILLS; COHEN, 1985). Com base no estudo validado
adaptamos as questões da Escala para Avaliação do Suporte Social em HIV/aids para
avaliação do suporte social percebido pelos participantes da nossa amostra, antes e depois da
intervenção. Foram aplicadas 24 questões, abordando duas categorias de suporte social: o
suporte instrumental ou operacional e o suporte emocional ou de estima. As respostas foram
dadas em escalas do tipo Likert de cinco pontos: (1) nunca a (5) sempre, para a
disponibilidade de suporte.
3.2.3. Qualidade da interação familiar
Para avaliar o efeito da intervenção na interação familiar aplicamos algumas escalas do
instrumento Escalas de Qualidade de Interação Familiar (EQIF), (WEBER; SALVADOR;
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BRANDENBURG, 2006). Tal instrumento foi desenvolvido para acessar a qualidade de
interação entre a criança e o responsável por meio do relato dos filhos e aborda os seguintes
aspectos da interação familiar: relacionamento afetivo, envolvimento, regras e monitoria,
comunicação positiva, modelo, sentimento dos pais, comunicação negativa, punição corporal
(WEBER; SALVADOR; BRANDENBURG, 2006). Neste estudo, adaptamos o instrumento
desenvolvido para o relato dos filhos para serem respondidas pelos pais. As respostas foram
dadas em escalas do tipo Likert de cinco pontos: (1) nunca a (5) sempre.
3.2.4. Temas específicos do projeto família
Foram elaboradas perguntas acerca da experiência do usuário com o SMS Criança, cujas
possíveis respostas poderiam ser: SIM ou NÃO, BOM ou RUIM e Porquê. Desta forma, esta
parte do questionário inclui a possibilidade de elaboração de respostas abertas concernentes à
avaliação do entrevistado quanto a contribuição do SMS Criança para sua família, frequência
de recebimento das mensagens e conteúdos trabalhados, sentimento de recompensa e
propostas de melhorias.
3.3. Análises estatísticas
Utilizamos análises descritivas (frequência, média, desvio padrão) para descrever a amostra
quanto às variáveis pessoais e sociodemográficas. Utilizamos o Teste de Wilcoxon para
comparar as médias dos participantes antes e após a intervenção nos instrumentos Qualidade
da Interação Familiar, Suporte Social e Atividades em família. Todas as análises foram
realizadas utilizando-se o SPSS.
4. Resultados
4.1. Participantes
A avaliação inicial dos participantes contou com a participação de 31 pais e/ou responsáveis.
Dos 31 participantes presentes na primeira avaliação 24 eram do sexo feminino e 7 eram do
sexo masculino, com idade média de 36,7 anos. A maioria dos participantes eram casados
(51,6%), 8 eram solteiros (25.8%), 3 eram divorciados e 3 viúvos. Os participantes tinham em
média 2,6 filhos e um poder de compra médio de 19,7 pontos na primeira avaliação e 18,8
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pontos na segunda, o que equivale a Classe Socioeconômica C2, de acordo com o instrumento
de avaliação utilizado (CCEB). Contudo, somente 15 participantes compareceram à segunda
avaliação, dos quais apenas 12 haviam participado da primeira avaliação. Eles relataram ter
recebido os SMS ao longo do período de quatro meses e, portanto, tiveram seus dados
incluídos nas análises comparativas, apresentadas abaixo. Nesse grupo todas as participantes
eram do sexo feminino, com idade média de 33,7 anos sendo 4 participantes casadas, 4
solteiras, 3 divorciadas e 1 delas não relatou o estado civil.
4.2. Análise qualitativa
Através da análise qualitativa dos resultados foi possível perceber no relato das mães uma
unanimidade na avaliação positiva acerca do conteúdo das mensagens do SMS Criança e um
sentimento de “ ter valido a pena” participar do projeto. Foram analisados, ainda, a frequência
e os horários das mensagens, a fim de identificar a necessidade de ajustamento do uso da
ferramenta e possíveis melhorias. As respostas variaram entre participantes que julgaram
conveniente e aquelas que prefeririam as mensagens fossem mais frequentes. Ou seja,
revelam uma aceitação positiva da ferramenta. No tangente a utilização do SMS Criança
como meio de complementar os itens trabalhados no Projeto Família, 92,9% das participantes
consideraram uma relação positiva. Este fato foi fortemente justificado pela identificação do
suporte para educar a criança em casa, reforçando no lar os temas abordados.
As respostas ainda denotam relatos de ampliação da visão familiar para assuntos correlatos a
educação das crianças, sentimento de tratamento personalizado, incentivo a melhoria do
relacionamento entre pais, mães e filhos e a participação de atividades coletivas, como
passeios e conversas em família. São exemplos de respostas: “Valeu a pena participar porque
a gente aprende, fica atento ao modo que tem tratado os filhos e passa a dar mais atenção
sendo mais companheiro, ouvindo mais”; “Porque ensina o pai a ter mais convivência com o
filho. De não ficar focado apenas no trabalho e em atividades pessoais. Ajuda a olhar mais
para o filho, se aproximar mais dele”; “Gostei muito, me lembra de coisas importantes que eu
esqueço de fazer”; “Lembro das mensagens de levar pra praticar esportes e levar pra praça e
eu fiz isso”.
4.2.1. Perfil socioeconômico
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As 12 respondentes tinham em média 2,3 filhos e apresentaram poder de compra de 19,3
pontos em ambas as avaliações, sendo classificadas na Classe Socioeconômica C2.
4.2.2. Qualidade da interação familiar
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A qualidade da interação familiar foi avaliada em escalas que variaram de 1 a 5, sendo que
quanto maior o valor apontado, maior a frequência de ocorrência do tipo de interação
avaliada. Na Tabela 1 são apresentadas as médias de ocorrência das interações antes e depois
da intervenção e o resultado estatístico da comparação entre as médias. As médias de
Relacionamento Afetivo, Envolvimento, Regras, Comunicação Positiva, Modelo e
Sentimento dos Pais foram altas nos dois momentos ficando próximas do valor máximo cinco.
Não houve diferenças significativas entre as interações ocorridas antes e após a intervenção.
Por outro lado, a média de Comunicação Negativa foi menor que as anteriores, ficando em
torno de 2,5, tanto antes da intervenção quanto após a intervenção, não tendo apresentado
variação significativa. A Punição Corporal apresentou média alta antes da intervenção (4,5),
caindo significativamente após a intervenção (1,8).
Tabela 1 - Média, valor mínimo e máximo e desvio padrão dos escores das Escalas de Qualidade da Interação
Familiar antes (Avaliação 1) e após (Avaliação 2) a intervenção e resultado da comparação entre os escores a
partir do teste de
Wilcoxon.
Fonte: Elaboração própria
4.2.3. Suporte social
O suporte social percebido pelas participantes foi avaliado em uma escala que variou de 1 a 5,
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sendo que quanto maior o valor apontado, maior a frequência ou a satisfação com o suporte
recebido. Na Tabela 2 são apresentadas as médias de recebimento e satisfação com o suporte
social. Houve maior percepção e satisfação com recebimento de suporte emocional que com o
suporte instrumental, tanto na primeira como na segunda avaliação e uma pequena queda na
média de suporte percebido, tanto emocional quanto instrumental, da primeira para a segunda
avaliação. No entanto, as diferenças entre as médias não foram significativas.
Tabela 2 - Média, valor mínimo, máximo e desvio padrão dos escores nos fatores da Escala de Suporte Social
antes (Avaliação 1) e após (Avaliação 2) a intervenção e resultado da comparação entre os escores a partir do
teste de Wilcoxon.
Fonte: Elaboração própria
4.2.4. Atividades em família
A frequência de ocorrência de atividades esportivas, culturais e de lazer em família foi
avaliada em uma escala que variou de 1 a 5 pontos, sendo que quanto maior o valor apontado,
maior a frequência com a qual a família realizava as atividades. Na Tabela 3 são apresentadas
as frequências médias de ocorrência destas atividades antes e depois da intervenção. As
médias, ao redor de 3, foram pouco acima do valor médio da escala (2,5) e não houve
alteração significativa na frequência após a intervenção.
Tabela 3 - Média, valor mínimo, máximo e desvio padrão dos escores obtidos nas questões
referentes à vida familiar antes (Avaliação 1) e após (Avaliação 2) a intervenção e resultado da comparação entre
os escores a partir do teste de Wilcoxon.
Fonte: Elaboração própria
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5. Discussão e conclusões
O projeto SMS criança foi elaborado considerando-se a dificuldade de acesso a informações
sobre o cuidado com as crianças que os pais de baixa renda participantes no presente estudo
relataram. O projeto consistiu, portanto, na seleção de mensagens informativas sobre esportes,
cultura e lazer e envio destas mensagens, uma vez por semana, ao longo de quatro meses para
um grupo de pais previamente cadastrados no projeto.
A qualidade da interação familiar, o suporte social e a frequência de atividades em família
foram avaliadas antes e depois do envio das mensagens buscando-se avaliar o impacto dos
SMS nestes aspectos da relação entre pais e filhos. Os resultados destas comparações não
mostraram impacto na maior parte destes aspectos. No entanto, houve diminuição
significativa na punição corporal infligida pelos pais aos filhos. Antes do envio dos SMS os
pais relataram punir fisicamente os filhos com maior frequência que após o período de envio.
Apesar de termos identificado mudança significativa apenas neste aspecto a avaliação
qualitativa dos participantes sobre sua participação no projeto foi bastante positiva, indicando
que se sentiram valorizados e que as mensagens os ajudaram a tomar decisões quanto a
educação e interação com os filhos.
As mensagens foram enviadas para um grupo de pais que já frequentavam o centro social, e
que estavam participando, concomitantemente, do recebimento dos SMS e do Projeto Família,
de iniciativa do próprio Centro e que inclui reuniões mensais nas quais são apresentadas
palestras e discussões sobre educação infantil, esportes, cultura e lazer. A participação nestes
dois programas, SMS Criança e Projeto Família, não nos permite avaliar se a diminuição da
punição corporal dos filhos exibida pelos pais participantes foi resultado dos SMS, da
participação no Projeto Família, ou de ambos em conjunto. A implementação do projeto SMS
criança em outros grupos é necessária para testar a efetividade específica do serviço de
mensagens.
A ausência de mudanças nos outros aspectos avaliados pode dever-se à maneira como a
avaliação foi realizada. Apesar dos instrumentos utilizados para avaliar a qualidade da
interação familiar e o suporte social terem sido validados para outros públicos, nós adaptamos
as escalas para nosso público alvo sem validação específica. O questionário desenvolvido para
avaliar mudanças nas atividades realizadas em família foi desenhado especificamente para
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este trabalho e também não passou pela etapa de validação. Por outro lado, a participação de
apenas 12 mães em todas as etapas do projeto e, portanto, das avaliações e das comparações
estatísticas, também pode ter prejudicado as análises estatísticas, dada a variabilidade
individual nas respostas. No entanto, não podemos excluir a hipótese de que a participação no
projeto SMS criança tenha trazido mudanças para o comportamento dos pais, mas estas
podem não ser detectáveis a curto prazo. Sugerimos que em possíveis novas implementações
deste projeto sejam realizadas avaliações com intervalos mais longos após o término do envio
das mensagens e abrangendo outros aspectos da interação entre pais e filhos não avaliadas no
presente estudo.
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