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Consideraes sobre a Lei Carolina Dieckmann

A lei n. 12.737, de 30 de novembro de 2012, dispe sobre a tipificao criminal de delitos informticos, altera alguns dispositivos do Cdigo Penal e d outras providncias. O referido texto legal entrar em vigor aps decorridos 120 (cento e vinte) dias de sua publicao oficial, ou seja, apenas no incio de abril de 2013.Analisarei apenas o crime de invaso de dispositivo informtico, j que a lei tambm trata dos crimes de interrupo ou perturbao de servio telegrfico, telefnico, informtico, telemtico ou de informao de utilidade pblica, e de falsificao de carto. O objetivo analisar a lei de acordo com a prtica.Constitui crime invadir dispositivo informtico alheio, conectado ou no rede de computadores, mediante violao indevida de mecanismo de segurana e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informaes sem autorizao expressa ou tcita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilcita.A pena cominada a de deteno de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, e multa. Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prtica da conduta definida nocaput. Aumenta-se a pena de 1/6 a 1/3 se da invaso resultar prejuzo econmico.Se da invaso resultar a obteno de contedo de comunicaes eletrnicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informaes sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto no autorizado do dispositivo invadido, a pena ser de recluso, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se no constituir crime mais grave.Nessa hiptese, aumenta-se a pena de 1 a 2/3 se houver divulgao, comercializao ou transmisso a terceiro, a qualquer ttulo, dos dados ou informaes obtidos. Aumenta-se a pena de 1/3 metade, ainda, se o crime for praticado contra determinadas autoridades. Regra geral, a ao penal somente se procede mediante representao.Essa uma sntese da chamada "Lei Carolina Dieckman".Cabe destacar que a lei exige, como elemento subjetivo do tipo, a especial finalidade deobter,adulteraroudestruirdados ou informaes. Assim sendo, se o agente invadir um computador apenas para ver as fotografias nele contidas, no incidir no delito.No deixem seus computadores ligados, pois a lei exige "violao indevida de mecanismo de segurana", de sorte que, se o computador estiver ligado e no for exigida nenhuma senha, no haver crime. Alis, nesse tocante, pode-se entender que sequer houve invaso, j que se trata de um termo tcnico que mereceria explicao.Pergunta-se: Utilizar o computador de outra pessoa sem autorizao configura invaso? Se houver violao indevida de mecanismo de segurana, como a senha por exemplo, pode-se dizer que sim, mas se a pretensa vtima esqueceu o computador ligado a resposta ser negativa. De todo modo, o tipo penal me parece um pouco genrico.Somente haver crime em caso de invaso dedispositivo(computador, perifricos, etc). Se o autor limitar-se a invadir um perfil de rede social, um e-mail, banco de dados ou um lbum de fotografias, sem passar pelo computador da vtima, no incidir no crime em anlise. Cuida-se de um erro crasso do legislador.A pena somente ser aumentada, em caso de divulgao de dados, caso estes integrem o contedo de comunicaes eletrnicas privadas, tal como o e-mail. Se os dados estiverem em uma pasta do computador e forem divulgados, responde o autor pelo crime mais brando, cuja pena, como dito, varia de 3 (trs) meses a 1 (um) ano.A vtima ter o prazo de 6 (seis) meses para oferecer representao, contados a partir do conhecimento da autoria delitiva. Mas o inqurito policial, nos termos do artigo 5., 4., do Cdigo de Rito, no pode ser iniciado sem que haja representao, de modo que ficar muito difcil apurar a autoria delitiva.Isso sem contar que a apurao da autoria certamente demandar exames periciais complexos, principalmente por se tratar de infrao que deixa vestgios. Considerando que a pena mnima baixssima, no sero poucos os casos em que se verificar a prescrio. Quando isso no ocorrer, o autor far jus transao penal.Por mais estardalhao que a imprensa faa, no ser cabvel a decretao de priso temporria ou de priso preventiva. Alis, sequer a priso em flagrante ser vivel, j que o autor dos fatos, assumindo o compromisso de comparecer em juzo, acabar sendo liberado. A prtica demonstrar que a nova lei foi mal elaborada.As principais causas de aumento previstas pela lei aplicam-se somente em caso de "obteno de contedo de comunicaes eletrnicas privadas", a grande maioria dos institutos de criminalstica no tm estrutura para a realizao de percias dessa espcie e a questo da representao suscitar controvrsias. Digo isso com relao s fotos e vdeos ntimos, j que, em se tratando de segredos comerciais ou industrias, e de informaes sigilosas, assim definidas em lei, incidir a causa de aumento mesmo que os dados e informaes estejam armazenados em uma pasta. Mas tal no se aplica situao enfrentada pela atriz global.Se o objetivo do legislador era evitar a prtica de crimes dessa natureza, valendo-se da malfadada preveno geral, a nova lei me parece incua. A preveno especial tambm ser nfima, razo pela qual me parece mais uma singela homenagem atriz, ou ento que o legislador est jogando para a torcida, o que mais provvel.


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