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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA _____ VARA
FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESPÍRITO SANTO.
ASSOCIAÇÃO HOMENS DO MAR DA BAÍA DE GUANABARA -
AHOMAR, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, inscrita no
C.N.P.J. sob o nº 09.260.231/0001-09, com endereço eletrônico:
[email protected] e com sede na Av. do Imperador, nº 41
Rancho 07 Praia de Mauá – Magé – Rio de Janeiro e atuação nacional, vem à
presença de V. Exa., por intermédio de seu procurador infra-assinado,
conforme o instrumento particular de procuração anexo, com escritório na
com escritório na Rua André Rocha nº 1005 Grupo 201 – Taquara - Rio de
Janeiro, onde receberá intimações conforme o, artigo 106 inciso I do Código
de Processo Civil, para propor a presente.
AÇÃO ORDINÁRIA
DE REPARAÇÃO POR DANO AMBIENTAL (Com Pedido de Tutela de Urgência)
chamando para figurar no polo passivo e fazer parte da relação jurídica
processual:
UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público interno, representada
pela sua procuradoria no Estado do Espírito Santo, com endereço eletrônico:
[email protected] e com sede na Rua Professo Almeida Cousin nº 125 – 18º
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Andar e salas 1504 a 1513 Ed. Enseada Trade Center – Enseada do Suá -
Vitória – Espirito Santo - CEP. 29.050-565
AGENCIA NACIONAL DE VIGILANCIA SANITÁRIA - ANVISA,
pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ sob o nº
03.112.386/0001-11, com endereço eletrônico: [email protected] e com
sede na SAI, Trecho 05 - Área Especial nº 57 – Brasília – DF – CEP 71.205-050;
SAMARCO MINERAÇÃO S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita
no CNPJ sob o n. 16.628.281/0001-61, com endereço eletrônico:
[email protected] e com sede na Rua Paraíba, nº 1122 - 9º,10º,13º e 19º
andares – Funcionários - Belo Horizonte/MG - CEP 30130-918;
VALE S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº
33.592.510/0001-54, com endereço eletrônico: [email protected] e com sede na
Av. das Américas nº 700 - 2º andar - Barra da Tijuca - Rio de Janeiro - RJ, CEP.
22640-100 e
ALLIANZ SEGUROS S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no
CNPJ sob o nº 61.573.796/0001-66, com endereço eletrônico:
[email protected] e com sede na Rua Eugenio Medeiros nº
303 - Pinheiros – SP – CEP 05.425-000
oferecendo as razões a seguir, pedindo o acolhimento do pedido inserido nesta
peça inicial.
1. DAS QUESTÕES PRELIMINARES:
1.1) DO PEDIDO GRATUIDADE DE JUSTIÇA:
A associação integrante do polo ativo requer a V. Exa. a concessão
do benefício da gratuidade de justiça, por não ter condições de pagamento das
custas do processo, sem prejuízo da manutenção da entidade, como consta na
declaração de afirmação de necessidade jurídica e nas declarações de imposto
de renda e balanços financeiros anexos (doc.1), nomeando a subscritora da
presente para o patrocínio da causa o que desde já aceita e declara que o faz
gratuitamente .
1.2) DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL ORDINÁRIA:
Apesar da competência absoluta dos Juizados Especiais Federais
para processar e julgar causas com valor até 60 salários mínimos conforme
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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previsto no caput do artigo 3º da Lei nº 10.259/2001 a presente lide não deve
ser processada e julgada nos Juizados Especiais Federais.
A presente causa deve ser processada e julgada na justiça federal
ordinária posto que a mesma se enquadra na exceção prevista no inciso I do
parágrafo 1º do artigo 3º da Lei nº 10.259/2001, “verbis”:
Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas
de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.
§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:
I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de
mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares,
execuções fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;
Assim, apesar do valor atribuído a presente causa, a mesma deve
ser processada e julgada na justiça federal ordinária por se tratar de “demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos”;
1.3) DA LEGITIMIDADE PASSIVA DOS RÉUS:
A Barragem de Fundão era operada pela SAMARCO
MINERAÇÃO S.A., que nela despejava rejeitos de suas atividades mineradoras
realizadas na Mina de Germano.
Ocorre que, segundo relatório de vistoria elaborado pelo DNPM
após o rompimento da barragem, a VALE S.A. também utilizava,
confessadamente, a Barragem de Fundão, nela depositando rejeitos da
atividade que desenvolvia na Mina de Alegria.
A informação consta, inclusive com prova documental1, da ACP nº
23863-07.2016.4.01.3800, ajuizado pelo MPF na Justiça Federal de Minas Gerais
em função dos danos ambientais (doc. 2), “verbis”:
2
1 Parecer do DNPM realizado após o rompimento da barragem contante com prova da ACP nº 52A 2 Fls. 108 da ACP nº 23863-07.2016.4.01.3800, ajuizado pelo MPF na Justiça Federal de Minas Gerais.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art109iihttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art109iiihttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art109xi
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Dessa forma, demonstrado está que a SAMARCO e a VALE
possuem inegável legitimidade passiva, pois figuram na condição de causadores
diretos dos danos ambientais e, portanto responsáveis por sua reparação.
A União Federal figura no polo passivo da presente ação posto que
os entes públicos que detém competências ambientais possuem o dever legal
de evitar a ocorrência de danos ambientais (responsabilidade retrospectiva) e,
caso esses venham a ocorrer, a obrigação de adotar todas as medidas
necessárias à mitigação, recuperação e compensação do dano ambiental
(responsabilidade prospectiva).
No caso em tela, é patente a omissão da União por meio de seus
órgãos e entidades, como IBAMA, DNPM, etc, em exercer a contento seu
poder de polícia, quer seja ao longo do processo de licenciamento, quer seja na
fase de fiscalização da segurança da barragem de rejeitos de Fundão e da
observância das condicionantes impostas.
E mais ainda, uma vez concretizado o dano ambiental, compete ao
Poder Público adotar todas as medidas necessárias à reparação integral dos
mesmos, e no caso dos danos causados aos pescadores artesanais e suas
famílias em decorrência do dano ambiental ocasionado pelo rompimento da
barragem de Mariana, como está constatado nesta ação, a União Federal não
adotou qualquer medida para sua reparação ou ao menos sua mitigação.
Apesar da notória impossibilidade de pesca desde 11/2015 e da
proibição expressa desde 02/2016 com a decisão judicial na Ação Civil Pública
nº 0002571-13.2016.4.02.5004 (Doc. 5), a Ré UNIÃO FEDERAL nada fez para
reparação ou ao menos a mitigação dos danos, sobre tudo considerada a suas
competências previstas na Lei 11.958/2009.
A ANVISA, figura na presente lide posto que proibiu, através da
RESOLUÇÃO-RE Nº 989, DE 15 DE ABRIL DE 2016 (Doc. 06), o
armazenamento, a distribuição e a comercialização de pescado oriundo da
atividade pesqueira desenvolvida no mar na região de Barra do Riacho em
Aracruz/ES até Degredo/Ipiranguinha em Linhares/ES por estarem
contaminados com metais pesados, atingindo diretamente a categoria dos
pescadores artesanais, sem praticar qualquer ato interno para evitar dano aos
mesmos ou comunicar aos órgãos competentes a necessidade de estabelecer
mecanismos indenizatórios para evitar danos aos pescadores artesanais.
O STJ já assentou que a responsabilidade civil do Estado em
matéria ambiental, por omissão, é solidária e de execução subsidiária, “verbis”:
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RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POLUIÇÃO AMBIENTAL.
EMPRESAS MINERADORAS. CARVÃO MINERAL. ESTADO DE SANTA CATARINA. REPARAÇÃO. RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR
OMISSÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. RESPONSABILIDADE
SUBSIDIÁRIA. 1. A responsabilidade civil do Estado por omissão é subjetiva, mesmo em se tratando
de responsabilidade por dano ao meio ambiente, uma vez que a ilicitude no
comportamento omissivo é aferida sob a perspectiva de que deveria o Estado ter
agido conforme estabelece a lei. 2. A União tem o dever de fiscalizar as atividades concernentes à extração mineral,
de forma que elas sejam equalizadas à conservação ambiental. Esta obrigatoriedade
foi alçada à categoria constitucional, encontrando-se inscrita no artigo 225, §§ 1º, 2º e 3º da Carta Magna.
3. Condenada a União a reparação de danos ambientais, é certo que a sociedade mediatamente estará arcando com os custos de tal reparação, como se fora auto-
indenização. Esse desiderato apresenta-se consentâneo com o princípio da eqüidade,
uma vez que a atividade industrial responsável pela degradação ambiental ? por gerar divisas para o país e contribuir com percentual significativo de geração de
energia, como ocorre com a atividade extrativa mineral ? a toda a sociedade beneficia.
4. Havendo mais de um causador de um mesmo dano ambiental, todos respondem solidariamente pela reparação, na forma do art. 942 do Código Civil. De outro lado,
se diversos forem os causadores da degradação ocorrida em diferentes locais, ainda
que contíguos, não há como atribuir-se a responsabilidade solidária adotando-se apenas o critério geográfico, por falta de nexo causal entre o dano ocorrido em um
determinado lugar por atividade poluidora realizada em outro local. 5. A desconsideração da pessoa jurídica consiste na possibilidade de se ignorar a
personalidade jurídica autônoma da entidade moral para chamar à responsabilidade seus sócios ou administradores, quando utilizam-na com objetivos fraudulentos ou
diversos daqueles para os quais foi constituída. Portanto, (i) na falta do elemento
"abuso de direito"; (ii) não se constituindo a personalização social obstáculo ao
cumprimento da obrigação de reparação ambiental; e (iii) nem comprovando-se que
os sócios ou administradores têm maior poder de solvência que as sociedades, a aplicação da disregard doctrine não tem lugar e pode constituir, na última hipótese,
obstáculo ao cumprimento da obrigação.
6. Segundo o que dispõe o art. 3º, IV, c/c o art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81, os sócios/administradores respondem pelo cumprimento da obrigação de reparação
ambiental na qualidade de responsáveis em nome próprio. A responsabilidade será solidária com os entes administrados, na modalidade subsidiária.
7. A ação de reparação/recuperação ambiental é imprescritível.
8. Recursos de Companhia Siderúrgica Nacional, Carbonífera Criciúma S/A,
Carbonífera Metropolitana S/A, Carbonífera Barro Branco S/A, Carbonífera Palermo
Ltda., Ibramil - Ibracoque Mineração Ltda. não-conhecidos. Recurso da União provido em parte. Recursos de Coque Catarinense
Ltda., Companhia Brasileira Carbonífera de Ararangua (massa falida), Companhia Carbonífera Catarinense, Companhia Carbonífera Urussanga providos em parte.
Recurso do Ministério Público provido em parte.
(REsp 647.493/SC, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
SEGUNDA TURMA, julgado em 22/05/2007, DJ 22/10/2007, p. 233)
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A Allianz Seguros S.A. figura na presente lide posto ser a
seguradora da Ré Samarco para responsabilidades civis decorrentes do
desastre e segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça pode ser
acionada em casos como o presente, inclusive podendo ser demandada
diretamente, “verbis”:
CIVIL E PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO
SECURITÁRIA.
AÇÃO PROPOSTA DIRETAMENTE EM FACE DA SEGURADORA SEM QUE O SEGURADO FOSSE INCLUÍDO NO POLO PASSIVO.
LEGITIMIDADE.
1. A interpretação de cláusula contratual em recurso especial é inadmissível. Incidência da Súmula 5/STJ.
2. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o tribunal de origem pronuncia-se de
forma clara e precisa sobre a questão posta nos autos.
3. A interpretação do contrato de seguro dentro de uma perspectiva social autoriza
e recomenda que a indenização prevista para reparar os danos causados pelo segurado a terceiro seja por este diretamente reclamada da seguradora.
4. Não obstante o contrato de seguro ter sido celebrado apenas entre o segurado e a seguradora, dele não fazendo parte o recorrido, ele contém uma estipulação em
favor de terceiro. E é em favor desse terceiro - na hipótese, o recorrido - que a importância segurada será paga. Daí a possibilidade de ele requerer diretamente da
seguradora o referido pagamento.
5. O fato de o segurado não integrar o polo passivo da ação não retira da seguradora a possibilidade de demonstrar a inexistência do dever de indenizar.
6. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, não provido. (REsp 1245618/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 30/11/2011)
Assim, por todo o acima exposto, está comprovada a legitimação
de todos os Réus para integrarem a lide.
2. DO HISTÓRICO DA ASSOCIAÇÃO PROPONENTE NA
LUTA DOS PESCADORES ARTESANAIS:
A Associação Homens do Mar da Baia de Guanabara surgiu em
2007 como, então um grupo de pescadores artesanais que lutavam pelo direito
dos pescadores de Magé, na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro
em função das diversas obras que estavam acontecendo na Baía de Guanabara.
O Grupo deu origem à Associação Homens do Mar da Baia de
Guanabara – AHOMAR, que assumiu a luta dos pescadores contra o descaso
das empresas responsáveis pelas obras/impactos na Baía de Guanabara com a
categoria que, em função das obras, ficava sem poder pescar e
consequentemente sem seu sustento.
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A atuação na Baía de Guanabara propiciou a AHOMAR, a
participação em diversos Fóruns Ambientais como a APEDEMA/RJ - Assembléia
Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente no Estado do Rio de
Janeiro, onde atualmente ocupa uma Coordenação da Regional, o Conselho
Estadual de Meio Ambiente - CONEMA, onde participa da Câmara Técnica de
Qualidade Ambiental, membro suplente do CONSEMAC - Conselho Municipal
de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro,
Em função da sua luta ajudou a fundar do Fórum dos Afetados pela
Indústria do Petróleo nas cercanias da Baía de Guanabara – FAAP-BG e a
entidade ainda é membro da Rede Brasileira de Justiça Ambiental - RBJA.
No Estado do Rio de Janeiro, participa na qualidade de titular do
Comitê da Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara e Sistemas Lagunares da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro / CBH-BG/INEA, conselheiro titular
nos conselhos gestores da APA de Guapimirim - ICMBio/MMA , e ESEC -
Estação Ecológica da Guanabara - ICMBio/MMA , membro da executiva
estadual do Movimento dos Pescadores e Pescadoras do Brasil - MPP/CPP e
hoje ocupando uma vaga titular no Conselho de Defesa e Direitos Humanos do
Estado do Rio de Janeiro - CEDDH/SEASDH-RJ e são membro titular do
Comitê de Acompanhamento da Avaliação Ambiental Estratégica - AAE
COMPERJ - LIMA/COPPE/UFR.
Com sua atuação pela defesa da pesca no Estado do Rio de Janeiro
e nacionalmente, é hoje uma das entidades de defesa da pesca artesanal e do
meio ambiente mais representativa da região Sudeste do Brasil.
A Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara - AHOMAR,
também atuou como fundadora do SINDPESCA/RJ - Sindicato dos Pescadores
Artesanais e Pescadores Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, na
coordenação de grupo de entidades ligados a pesca, chamado, Liga das
Entidades da Pesca do Rio de Janeiro - LIPESCA-RJ e conta com um dos mais
ativos e atuantes defensor de direitos humanos no Brasil, inserido no PPDDH -
Programa Nacional de Proteção aos Defensores do Direitos Humanos da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República - SDH/PR, seu
presidente o Sr. Alexandre Anderson .
A Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara - AHOMAR
se tornou uma destacada entidade de defesa dos Direitos Humanos e do Meio
Ambiente e participa ativamente de diversos fóruns nacionais e internacionais.
No mês de Setembro de 2010, a AHOMAR através do seu
fundador e atual presidente o Sr. Alexandre Anderson, foi homenageado e
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premiado com entrega da placa comemorativa pelos "25 anos da criação da
APA de Guapimirim - ICMBio", pelo empenho e pelo trabalho no uso
sustentável do "Meio Ambiente" e "Mobilização dos Pescadores".
Em Outubro de 2010, a AHOMAR através do seu fundador e atual
presidente o Sr. Alexandre Anderson, recebeu o troféu, "João Canuto de
Direitos Humanos de 2010", homenagem do MHUD, para aqueles que se
destacam na defesa dos Direitos Humanos em suas comunidades.
No mês de Novembro de 2010, a AHOMAR através do seu
fundador e atual presidente o Sr. Alexandre Anderson, participou, fazendo a
abertura e a primeira fala nas palestras e presente na mesa ao lado da Relatora
Especial da ONU para Direitos Humanos, Ministro Paulo Vanucci e Ministra
Glaucia, do "Seminário Internacional do Programa de Proteção aos Defensores
dos Direitos Humanos", ocorrido em Brasília-DF;
Em Março de 2011, a AHOMAR através do seu fundador e atual
presidente o Sr. Alexandre Anderson participou como palestrante da 16ª
Sessão do Conselho de Direitos Humanos (CDH), das Organizações das
Nações Unidas - ONU, em Genebra/Suíça, denunciando as violações de
Direitos Humanos e crimes ambientais sofridos pelas comunidades tradicionais
no Brasil.
Em Abril de 2011, recebeu à "23ª Medalha Chico Mendes de
Resistência", entregue pelo Deputado Federal pelo Estado do Rio de Janeiro
Chico Alencar.
No mês de Agosto de 2011, Alexandre Anderson e sua esposa
Daize Menezes de Souza, participaram de uma mesa sobre Racismo e Justiça
Ambiental na Universidade do Grande Rio, a convite do Consulado Geral dos
EUA, da UNIGRANRIO e do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (IARA),
compondo a mesa em companhia da Diretora da Agência de Proteção
Ambiental (EPA) e Ministra do EUA à Srª Lisa P. Jackson e pelo Reitor da
UNIGRANRIO, Srº Arody Cordeiroro Herdy.
Alexandre Anderson recebeu do "Jornal O Dia" e da "Prefeitura
do Município do Rio de Janeiro", a Homenagem através e entrega da 52ª
Medalha Orgulho do Rio, por sua batalha com seus companheiros pescadores
pela defesa da Pesca Artesanal e do Meio Ambiente no Rio de Janeiro.
Em Dezembro de 2013, juntamente com outros nove Defensores
dos Direitos Humanos, sob proteção do Governo Brasileiro, o pescador
Alexandre Anderson, recebe a homenagem que conta sua história em uma
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publicação lançada no final de 2012, pelas Nações Unidas no Brasil- ONU, em
parceria com a Embaixada do Reino Unido e Países Baixos, a Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República - SDH/PR e a Delegação da
União Europeia no Brasil, com o livro, às Dez faces da Luta pelos Direitos
Humanos no Brasil.
Sendo estes alguns prêmios e honrarias que a Associação Autora e
seus membros receberam pela luta em defesa dos direitos dos pescadores
artesanais, o que a habilita moralmente a estar presente no conflito existente e
que tem como injustiçados os pescadores artesanais, posto que o requisito
formal da lei e inconteste.
3. DOS FATOS: É fato público e notório que, em 05/11/2015 ocorreu o rompimento da barragem de Fundão e o galgamento dos rejeitos de mineração
sobre a barragem Santarém, localizadas no Complexo Industrial de Germano,
Município de Mariana/MG e localizadas na Bacia do Rio Gualaxo do Norte,
afluente do Rio do Carmo, que é afluente do Rio Doce.
A Barragem de Fundão era operada pela SAMARCO
MINERAÇÃO S.A., que nela despejava rejeitos de suas atividades mineradoras
realizadas na Mina de Germano juntamente com a VALE S.A. que também
utilizava a Barragem de Fundão, pois nela despejava rejeitos da atividade que
desenvolvia na Mina de Alegria (Doc. 2).
O citado rompimento gerou ondas de rejeitos de minério de ferro
e sílica, entre outros particulados, que pela velocidade e volume ocasionaram e
continuam causando impactos ambientais e sociais imensuráveis ao longo de
toda a Bacia Hidrográfica do Rio Doce.
Um dos diversos resultados do rompimento da Barragem de
Fundão foi o imediato carreamento de, pelo menos, 34 milhões de metros
cúbicos de lama toxica para o rio Doce seguindo por todos os corpos hídricos
até o mar do Espirito Santo, sendo que outros 16 milhões de metros cúbicos
continuam escoando lentamente na mesma direção.
Que em 20/11/2015, os resíduos de mineração que escoaram das
barragens atingiram a foz do Rio Doce e a região marinha frontal, estendendo-
se pela zona costeira de Linhares e Aracruz e por centenas de quilômetros no
mar, em diferentes composições, densidades e profundidades, como demonstra
a foto abaixo:
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Em decorrência dos fatos acima, os pescadores artesanais do
Espirito Santo, dentre eles os associados da Associação Autora, que vivem da
pesca artesanal em toda a região atingida, não conseguiram mais pescar.
Devido à presença dos rejeitos gerada pelo rompimento da
barragem, várias praias próximas à foz do Rio Doce, como Regência, Povoação,
Comboios, Degredo, Pontal do Ipiranga e Barra Seca foram preventivamente
interditadas. Em consulta ao site http://www.governancapelodoce.com.br pode-
se verificar que muitas praias ainda continuam interditadas para uso público
Assim, desde que os rejeitos de mineração atingiram a foz do Rio
Doce em 20/11/2015 esses pescadores artesanais ficaram sem poder pescar e
sem renda alguma para sua subsistência e com uma imensa aflição moral por
não poder sustentar a si mesmo e a sua família.
Como alimentar os filhos? Como pagar pela água para beber e pela
luz consumida? Como pagar pelos remédios necessários no caso dos doentes
crônicos e dos mais velhos?
Aqui cabe ressaltar duas coisas:
a) que nem com o seguro defeso pela proibição da pesca das
espécies os pescadores artesanais puderam contar, pois, nesta
ocasião, o mesmo estava suspenso por decisão do governo federal
através da portaria interministerial conjunta nº 192 de 05 de
outubro de 2015, (Doc. 3), “verbis”:
http://www.governancapelodoce.com.br/
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b) Nenhum dos Réus tomou qualquer atitude em relação aos
pescadores artesanais do Espirito Santo. Basta uma simples consulta ao site
http://www.governancapelodoce.com.br no item mapa de ações em andamento
para a constatação desta realidade:
Regência
AÇÕES HUMANITÁRIAS
Disponibilização de um Posto de Atendimento ao público.
Reuniões com lideranças diversas realizadas pela equipe de diálogo.
MEIO AMBIENTE
Resgate de peixes por biólogos, ictiólogos e piscicultores. Instalação de 9 km de barreira, na foz do Rio Doce, para preservação da fauna e
flora locais. Remoção de bancos de areias localizados próximos à foz, para que a pluma de
turbidez não encontrasse obstáculos para chegar ao mar.
Monitoramento aéreo georeferenciado do mar e das praias para acompanhamento da evolução do encontro da pluma com o oceano e análise do
impacto na fauna. Proteção da lagoa de Boa Vista por meio do fechamento de dois canais de acesso.
Disponibilização de 22 barcos para monitoramento das águas do rio e do mar. Acompanhamento aéreo sistemático da pluma no rio.
Simulação da movimentação da pluma no mar.
ÁGUA
5,4 milhões de litros de água potável distribuídos.
http://www.governancapelodoce.com.br/
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Disponibilização de 22 barcos para monitoramento das águas do rio e do mar.
Disponibilização de dois caminhões-pipa para a comunidade. Monitoramento da água para análise diária.
Instalação de seis caixas d’agua na região de Entre Rios.
Perfuração de poço artesiano próximo às estações de tratamento de água.
Povoação
AÇÕES HUMANITÁRIAS
Disponibilização de um Posto de Atendimento ao público. Reuniões com lideranças diversas realizadas pela equipe de diálogo.
MEIO AMBIENTE
Monitoramento aéreo georeferenciado do mar e das praias para acompanhamento da evolução do encontro da pluma com o oceano e análise do impacto da fauna.
Proteção da lagoa de Monsarás por meio do fechamento de dois canais de acesso. Resgate de peixes por biólogos, ictiólogos e piscicultores
Instalação de 300 metros de barreiras de contenção.
Disponibilização de 22 barcos para monitoramento das águas do rio e do mar. Acompanhamento aéreo sistemático da pluma no rio.
Simulação da movimentação da pluma no mar.
ÁGUA
Disponibilização de caminhões-pipa para a comunidade.
Linhares
AÇÕES HUMANITÁRIAS
Disponibilização de um Posto de Atendimento ao público.
MEIO AMBIENTE
Bloqueio, por meio de barreiras, para evitar que a água do rio chegasse às lagoas do município.
Resgate de peixes e crustáceos por biólogos, ictiólogos e piscicultores, para preservação das espécies.
ÁGUA
12,2 milhões de litros de água potável distribuídos. 15 pontos de monitoramento da água do Rio Doce.
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Como comprovado nada em relação ao fato dos pescadores não
estarem podendo pescar, sem falar que em localidades afetas diversas das três
acima relacionadas nada está sendo feito.
Que em 03/02/2016 o Ministério Público Federal – MPF entrou
com a Ação Civil Pública nº 0002571-13.2016.4.02.5004, onde buscava a
proibição da pesca na costa do Espírito Santo em virtude das incertezas sobre
o impacto da pesca na fauna estuarina e marinha, bem como sobre possível
contaminação dos pescados. (Doc. 4).
Que, por decisão judicial na referida ação, ocorreu a proibição da
pesca, em profundidade superior a 25 (vinte e cinco) metros, entre a região de
Barra do Riacho em Aracruz/ES e Degredo/Ipiranguinha em Linhares/ES. Foi
excluída da decisão judicial a pesca destinada à pesquisa científica na área
compreendida na mesma.
Tal interdição da atividade pesqueira ocorreu a partir de
22/02/2016, por decisão judicial liminar na Ação Civil Pública nº 0002571-
13.2016.4.02.5004, proposta pelo MPF perante a Vara Federal da Subseção
Judiciária de Linhares. (Doc. 5).
Vejamos o trecho da decisão no tocante à proibição da pesca,
“verbis”:
(...)
(...)
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Assim os pescadores artesanais estão sem conseguir
pescar desde 20/11/2015, sendo que desde 22/02/2016 por decisão
judicial.
Vejamos os fatos expostos pelo MPF na petição inicial da Ação
Civil Pública nº 0002571-13.2016.4.02.5004 (Doc. 4), proposta perante a vara
federal da subseção Judiciária de Linhares a qual integramos a presente lide
como razões do pedido e que elucidam bem a questão, “verbis”:
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Destacamos ainda outros pontos relevantes da citada petição
inicial para a presente lide:
3
3 Fls. 7 da petição inicial da Ação Civil Pública nº 0002571-13.2016.4.02.5004
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(...)
4
Que como decorrência da decisão judicial supracitada a Ré
ANVISA proibiu, em 15/04/2016, através da Resolução-RE Nº 989, de 15 de
abril de 2016 (Doc. 6), o armazenamento, a distribuição e a comercialização
de pescado oriundo da atividade pesqueira desenvolvida no mar na região de
Barra do Riacho em Aracruz/ES até Degredo/Ipiranguinha em Linhares/ES por
estarem contaminados com metais pesados, “verbis”:
4 Fls. 14 da petição inicial da Ação Civil Pública nº 0002571-13.2016.4.02.5004
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Ocorrida a impossibilidade de pesca pela chegada chegada da lama
de Fundão na foz do Rio Doce no litoral do Espirito Santo e ainda determinada
a proibição da pesca (decisão judicial) e do armazenamento, da distribuição e da
comercialização de pescado oriundo da região da foz do Rio Doce (Resolução
ANVISA) nenhum dos Réus adotou qualquer medida ou praticou qualquer ato
para indenizar diretamente os pescadores artesanais ou obrigar a Ré
SAMARCO e/ou suas empresas controladoras a pagar pela proibição jurídico-
administrativa determinada.
Exa., como amplamente noticiado a Ré UNIÃO FEDERAL firmou
ajustamento de conduta com a Ré SAMARCO, mas em momento algum neste
documento foi ventilada a possibilidade de indenização a comunidade
tradicional de pescadores artesanais do litoral do Espirito Santo onde a pesca
foi proibida e que está jogada a própria sorte.
Cabe frisar que a proibição da pesca vige até a presente data
(20/08/2016) tendo sido somente adequada de até 30 metros de profundidade
para até 20 metros de profundidade em 25/06/2016 por nova decisão do juízo
a pedido do MPF (Doc. 7), mas continua atingindo totalmente os pescadores
artesanais.
Vejamos o trecho da decisão no tocante a adequação da proibição
da pesca, “verbis”:
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Vejamos os mapas das áreas atingidas pela proibição, formulados
pelo IBAMA:
Área de proibição da pesca de acordo com a liminar (Doc. 8),:
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Área de proibição da pesca de acordo com a revisão da liminar
(Doc. 9):
Em que pese à ausência de dados conclusivos sobre os danos
causados pelos rejeitos de mineração nas áreas estuarina e marinhas atingidas,
já se sabe por meio de relatórios oficiais disponíveis – Relatório do IBAMA
(Doc. 10), do ICMbio (Doc. 11) e da Relatório da Marinha (Doc. 12) - que,
pela enorme relevância e sensibilidade ecológica desses ambientes, os impactos
são inevitáveis.
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O maior desastre ambiental do Brasil – e um dos maiores do
mundo – provocou e continua provocando danos econômicos, sociais e
ambientais de expressiva monta. Danos contínuos e, em sua maioria, perenes
que somente por meio de uma perícia multidisciplinar poderão ser aferidos de
forma segura, entretanto alguns, como no caso da comunidade de pescadores
artesanais do Espirito Santo, já restam evidentes e podem ser reparados pelo
poder judiciário, para evitar a injustiça social que está ocorrendo.
4. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:
4.1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA POR DANO AO
MEIO AMBIENTE: PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR
Pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que, nos termos do
art. 14, § 1°, da Lei 6.938/1981, o degradador, em decorrência do princípio do
poluidor-pagador, previsto no art. 4°, VII (primeira parte), do mesmo estatuto,
é obrigado, independentemente da existência de culpa, a reparar todos os
danos que cause ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade,
sendo prescindível perquirir acerca do elemento subjetivo, o que,
consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé para fins de
acertamento da natureza, conteúdo e extensão dos de indenização. Nesse
sentido:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – VIOLAÇÃO DO ART. 535
DO CPC NÃO CARACTERIZADA – DANO AMBIENTAL – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – AUSÊNCIA DE NEXO – REEXAME
DE PROVAS: SÚMULA 7/STJ – ARTS. 4º, VII E 14 DA LEI 6.938/81 –
RECUPERAÇÃO NATURAL DA NATUREZA – AUSÊNCIA DE INDENIZAÇÃO – DISPOSITIVOS APONTADOS COMO VIOLADOS
INSUFICIENTES PARA AMPARAR A PRETENSÃO DA RECORRENTE. 1. Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de origem decide,
fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide.
2. É inadmissível o recurso especial se a análise da pretensão da recorrente demanda o reexame de provas.
3. A interpretação dos dispositivos legais apontados como violados pela recorrente
não se apresenta suficiente para amparar a pretensão deduzida pela recorrente, no
tocante a ausência de condenação pecuniária quando ocorre a recuperação natural do meio ambiente.
4. Nos termos do § 1º, art. 14 da lei 6.938 de 1991, é o poluidor obrigado,
independentemente de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente.
5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. (REsp 1045746/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 23/06/2009, DJe 04/08/2009)
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AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE.
LEGITIMIDADE PASSIVA DO ENTE ESTATAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. RESPONSÁVEL DIRETO E INDIRETO. SOLIDARIEDADE.
LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO. ART. 267, IV DO CPC.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULAS 282 E 356 DO STF. 1. Ao compulsar os autos verifica-se que o Tribunal a quo não emitiu juízo de valor à
luz do art. 267 IV do Código de Ritos, e o recorrente sequer aviou embargos de
declaração com o fim de prequestioná-lo. Tal circunstância atrai a aplicação das
Súmulas nº 282 e 356 do STF. 2. O art. 23, inc. VI da Constituição da República fixa a competência comum para a
União, Estados, Distrito Federal e Municípios no que se refere à proteção do meio
ambiente e combate à poluição em qualquer de suas formas. No mesmo texto, o art. 225, caput, prevê o direito de todos a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado e impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
3. O Estado recorrente tem o dever de preservar e fiscalizar a preservação do meio
ambiente. Na hipótese, o Estado, no seu dever de fiscalização, deveria ter requerido o Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo relatório, bem como a realização de
audiências públicas acerca do tema, ou até mesmo a paralisação da obra que causou o dano ambiental.
(...) 5. Assim, independentemente da existência de culpa, o poluidor, ainda que indireto
(Estado-recorrente) (art. 3º da Lei nº 6.938/81), é obrigado a indenizar e reparar o
dano causado ao meio ambiente (responsabilidade objetiva). 6. Fixada a legitimidade passiva do ente recorrente, eis que preenchidos os requisitos
para a configuração da responsabilidade civil (ação ou omissão, nexo de causalidade e dano), ressalta-se, também, que tal responsabilidade (objetiva) é solidária, o que
legitima a inclusão das três esferas de poder no pólo passivo na demanda, conforme realizado pelo Ministério Público (litisconsórcio facultativo).
7. Recurso especial conhecido em parte e improvido.
(REsp 604.725/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,
julgado em 21/06/2005, DJ 22/08/2005 p. 202)
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSOS ESPECIAIS.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282/STF E 211/STJ.
VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO-OCORRÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. MONITORAMENTO TÉCNICO.
CARÁTER PROBATÓRIO AFASTADO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. REVERSÃO DO ENTENDIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO CAUSADOR DO DANO
AMBIENTAL (ARTS. 3º, IV, e 14, § 1º, DA LEI 6.938/81).
INTERPRETAÇÃO DO ART. 18 DA LEI 7.347/85. PRECEDENTES DO
STJ. RECURSOS ESPECIAIS PARCIALMENTE CONHECIDOS E, NESSA PARTE, DESPROVIDOS.
1. A ausência de prequestionamento dos dispositivos legais tidos como violados torna inadmissível o recurso especial. Incidência das Súmulas 282/STF e 211/STJ.
2. Inexiste violação do art. 535, II, do Código de Processo Civil, quando o aresto
recorrido adota fundamentação suficiente para dirimir a controvérsia, sendo
desnecessária a manifestação expressa sobre todos os argumentos apresentados
pelos litigantes.
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(...)
5. Outrossim, é manifesto que o Direito Ambiental é regido por princípios autônomos, especialmente previstos na Constituição Federal (art. 225 e parágrafos)
e legislação específica, entre os quais a responsabilidade objetiva do causador do
dano ao meio ambiente (arts. 3º, IV, e 14, § 1º, da Lei 6.938/81). 6. Portanto, a configuração da responsabilidade por dano ao meio ambiente exige a
verificação do nexo causal entre o dano causado e a ação ou omissão do poluidor.
Assim, não há falar, em princípio, em necessidade de comprovação de culpa dos ora
recorrentes como requisito à responsabilização pelos danos causados ao meio ambiente .
(...)
8. Recursos especiais parcialmente conhecidos e, nessa parte, desprovidos. (REsp 570.194/RS, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 04/10/2007, DJ 12/11/2007 p. 155)
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. DANOS AMBIENTAIS. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE. TERRAS RURAIS. RECOMPOSIÇÃO. MATAS. INCIDENTE DE
UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. ART. 476 DO CPC. FACULDADE DO ÓRGÃO JULGADOR.
1. A responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva, ante a ratio essendi da Lei 6.938/81, que em seu art. 14, § 1º, determina que o poluidor seja obrigado a
indenizar ou reparar os danos ao meio-ambiente e, quanto ao terceiro, preceitua
que a obrigação persiste, mesmo sem culpa. Precedentes do STJ:RESP 826976/PR, Relator Ministro Castro Meira, DJ de 01.09.2006; AgRg no REsp 504626/PR,
Relator Ministro Francisco Falcão, DJ de 17.05.2004; RESP 263383/PR, Relator Ministro João Otávio de Noronha, DJ de 22.08.2005 e EDcl no AgRg no RESP
255170/SP, desta relatoria, DJ de 22.04.2003. (...)
10. Recurso especial desprovido.
(REsp 745.363/PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 20/09/2007, DJ 18/10/2007 p. 270)
Assim, a alegação de culpa de terceiro não elide a responsabilidade
do responsável pelo dano, devido ao caráter objetivo dessa responsabilidade.
Incide no caso a teoria do risco integral, vindo daí o caráter objetivo da
responsabilidade.
Jamais poderia ser aceita a excludente de responsabilidade por
culpa de terceiro, sustentada com base na alegação de que a culpa do ato
provocador do acidente é exclusivamente de terceiros.
O dano ambiental, cujas consequências se propagaram ao lesado
(assim como aos demais lesados), é, por expressa previsão legal, de
responsabilidade objetiva (art. 225, § 3º, da CF e do art. 14, § 1º, da Lei nº
6.938/81), impondo-se, pois, ao poluidor, indenizar, para, posteriormente, ir
cobrar de terceiro que porventura sustente ter responsabilidade pelo fato.
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Assim sendo, também é descabida a alegação da ocorrência de
caso fortuito, como excludente de responsabilidade.
Vejamos trecho de julgado - REsp 769.753/SC, 2ª T., j. 8.9.2009, Rel. Min.
HERMANN BENJAMIM - sobre o tema:
"O responsável pelo vazamento de nafta, que acarretou a interdição da
pesca, não foi o deslocamento da bóia de sinalização da entrada do canal, mas sim a colisão do navio de propriedade da empresa apelante
com a alcunhada Pedra da Palangana". Incide o princípio do poluidor-
pagador, já destacado em julgado desta Corte”
Desse mesmo julgado se extrai o seguinte trecho:
"(...)11. Pacífica a jurisprudência do STJ de que, nos termos do art. 14, §
1°, da Lei 6.938/1981, o degradador, em decorrência do princípio do
poluidor-pagador, previsto no art. 4°, VII (primeira parte), do mesmo estatuto, é obrigado, independentemente da existência de culpa, a
reparar - por óbvio que às suas expensas - todos os danos que cause ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, sendo
prescindível perquirir acerca do elemento subjetivo, o que,
consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé para fins de
acertamento da natureza, conteúdo e extensão dos deveres de
restauração do status quo ante ecológico e de indenização".
Inclusive a questão já se encontra pacificada no STJ através de
julgado no rito dos recursos repetitivos nº 681 onde foi firma a seguinte tese:
“A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela
teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante
que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a
invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de
indenizar.”
Vejamos trecho da ementa do acordão que trata da questão,
“verbis”:
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. RECURSO
ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DANOS DECORRENTES DE VAZAMENTO DE AMÔNIA NO RIO
SERGIPE. ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO EM OUTUBRO DE 2008.
1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: (...) b) a responsabilidade por
dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do
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ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental,
de excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar; c) é inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter
punitivo imediato, pois a punição é função que incumbe ao direito penal e
administrativo; d) em vista das circunstâncias específicas e homogeneidade dos efeitos do dano ambiental verificado no ecossistema do rio Sergipe - afetando
significativamente, por cerca de seis meses, o volume pescado e a renda dos
pescadores na região afetada -, sem que tenha sido dado amparo pela poluidora
para mitigação dos danos morais experimentados e demonstrados por aqueles que extraem o sustento da pesca profissional, não se justifica, em sede de recurso
especial, a revisão do quantum arbitrado, a título de compensação por danos
morais, em R$ 3.000,00 (três mil reais); (...). 2. Recursos especiais não providos.
(REsp 1354536/SE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/03/2014, DJe 05/05/2014)
4.2) DO DIREITO DO PESCADOR ARTESANAL A INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS DECORRENTES DO DANO AMBIENTAL:
Sem dúvida, além do dano material, está presente o dano moral,
pois, como é assente na jurisprudência do STJ, deve ser composto o dano
moral se do acidente resulta sofrimento de monta para o lesado.
Nesse sentido destacamos a orientação do STJ no julgado abaixo
transcrito:
Indenização. Dano material e dano moral. Acidente do trabalho. DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho). Artigo 1.539 do
Código Civil de 1916 (950 do vigente). Prova do dano. Lucros cessantes.
Juros moratórios. Precedentes da Corte.
1. O art. 1.539 do Código Civil de 1916 (art. 950 do vigente), na parte final,
estabelece que a pensão será correspondente à “importância do trabalho, para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu”. Com isso, o que vale para a fixação
do percentual, em princípio, é a incapacidade para o trabalho que exercia no
momento do ato lesivo, pouco relevando que haja incapacidade apenas parcial para outras atividades, salvo a comprovação de que o ofendido efetivamente exerce outro
emprego remunerado. A mera possibilidade de fazê-lo está fora da presunção legal. 2. Os juros moratórios, em se tratando de acidente de trabalho, estão sujeitos ao
regime da responsabilidade extracontratual, aplicando-se, portanto, a Súmula nº 54 da Corte.
3. É pertinente a condenação por dano moral quando há lesão à saúde, por menor
que seja, ainda mais quando, como no caso, gera incapacidade absoluta e permanente do ofendido para o exercício da sua profissão.
4. A questão dos lucros cessantes fica ao desabrigo, no caso, porque não provado pela instituição financeira que não poderia ter ocorrido.
5. A mais atualizada jurisprudência da Corte entende cabível a constituição de
capital para assegurar o pagamento da condenação, não examinando o acórdão
recorrido a possibilidade de sua substituição pela inclusão em folha.
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6. Vivo o ofendido, a pensão é vitalícia, na forma de monótona jurisprudência da
Corte. 7. Recurso especial da autora conhecido e provido e recurso especial da instituição
financeira não conhecido.
(REsp 569.351/MG, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/12/2004, DJ 04/04/2005, p.
304)
O sofrimento acentuado, diferente de mero incômodo, é
verdadeiramente irrecusável, no caso de trabalhador profissional da pesca
que resta, em virtude do fato, sem possibilidade de realização de seu
trabalho.
A questão também já se encontra pacificada no STJ através de
julgamento no rito dos recursos repetitivos nº 439 onde foi firma a seguinte
tese:
“É devida a indenização por dano moral patente o sofrimento intenso
do pescador profissional artesanal, causado pela privação das condições de trabalho, em consequência do dano ambiental.”
Vejamos trecho da ementa do acordão que trata da questão,
“verbis”: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS E MORAIS A
PESCADORES CAUSADOS POR POLUIÇÃO AMBIENTAL POR VAZAMENTO DE NAFTA, EM DECORRÊNCIA DE COLISÃO DO
NAVIO N-T NORMA NO PORTO DE PARANAGUÁ - 1) PROCESSOS
DIVERSOS DECORRENTES DO MESMO FATO, POSSIBILIDADE DE
TRATAMENTO COMO RECURSO REPETITIVO DE TEMAS
DESTACADOS PELO PRESIDENTE DO TRIBUNAL, À CONVENIÊNCIA DE FORNECIMENTO DE ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL
UNIFORME SOBRE CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO FATO,
QUANTO A MATÉRIAS REPETITIVAS; 2) TEMAS: a) CERCEAMENTO DE DEFESA INEXISTENTE NO JULGAMENTO ANTECIPADO, ANTE
OS ELEMENTOS DOCUMENTAIS SUFICIENTES; b) LEGITIMIDADE DE PARTE DA PROPRIETÁRIA DO NAVIO TRANSPORTADOR DE
CARGA PERIGOSA, DEVIDO A RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR; c) INADMISSÍVEL A
EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE POR FATO DE TERCEIRO; d)
DANOS MORAL E MATERIAL CARACTERIZADOS; e) JUROS MORATÓRIOS: INCIDÊNCIA A PARTIR DA DATA DO EVENTO
DANOSO - SÚMULA 54/STJ; f) SUCUMBÊNCIA. 3) IMPROVIMENTO DO RECURSO, COM OBSERVAÇÃO.
1.- É admissível, no sistema dos Recursos Repetitivos (CPC, art. 543-C e Resolução
STJ 08/08) definir, para vítimas do mesmo fato, em condições idênticas, teses
jurídicas uniformes para as mesmas consequências jurídicas.
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2.- Teses firmadas: (...) d) Configuração de dano moral.- Patente o sofrimento
intenso de pescador profissional artesanal, causado pela privação das condições de trabalho, em consequência do dano ambiental, é também devida a indenização por
dano moral, fixada, por equidade, em valor equivalente a um salário-mínimo (..)
3.- Recurso Especial improvido, com observação de que julgamento das teses ora firmadas visa a equalizar especificamente o julgamento das ações de indenização
efetivamente movidas diante do acidente ocorrido com o Navio N-T Norma, no
Porto de Paranaguá, no dia 18.10.2001, mas, naquilo que encerram teses gerais,
aplicáveis a consequências de danos ambientais causados em outros acidentes semelhantes, serão, como natural, evidentemente considerados nos julgamentos a se
realizarem.
(REsp 1114398/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/02/2012, DJe 16/02/2012)
4.3) DA APLICAÇÃO DE INDENIZAÇÃO PEDAGÓGICA:
Uma vez demonstrada a extensão do dano, é necessário somar a
denominada "função pedagógica" da indenização, que opera no instante em que,
fazendo o Estado recair sobre o poluidor o peso financeiro da indenização, este
seja estimulado a aplicar mais de sua atenção e de seus esforços e
investimentos em ações preventivas.
Mesmo sabendo que o risco é inerente à atividade, é sempre
possível detectar em desastres desse porte uma falta de investimento em
segurança, prevenção e contingenciamento, o que resta patente pela inércia e
tempo de resposta tardio que revelou a SAMARCO em implementar seu Plano
de Ação Emergencial, a demonstrar sua incapacidade de agir diante de tais
ocorrências previsíveis ou sua negligência em atender, de pronto, aos
imperativos de agir demandados dela.
A função pedagógica opera especificamente com relação a quem é
condenado a pagar a indenização, além de sinalizar genericamente aos demais
atores do setor que o Estado brasileiro está atento a qualquer evento danoso
ao meio ambiente, e que, tendo em vista isso, vale a pena investir em
prevenção. É certo, ainda, que a função pedagógica só operará com relação a
grandes conglomerados empresariais, como no caso das empresas rés – dentre
as quais se encontram as duas maiores mineradoras do mundo e uma das
maiores empresas exportadoras do Brasil – se houver uma proporção séria e
apreciável entre o valor a ser pago e a capacidade de pagar.
O STJ tem consagrado essa função pedagógica da indenização,
vejamos:
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.018.477 - RJ (2008/0039427-3)
RELATOR: MINISTRO MASSAMI UYEDA
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AGRAVANTE: BANCO DO BRASIL S/A
ADVOGADO: ALESSANDRO ZERBINI R BARBOSA E OUTRO(S) AGRAVADO: AMADEU DA SILVA
ADVOGADO: ALCILENE FERREIRA DE MESQUITA
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL — AGRAVO DE INSTRUMENTO — RECURSO
ESPECIAL OBSTADO EM 2º GRAU — AÇÃO DE INDENIZAÇÃO — OCORRÊNCIA DE DANO MORAL — ENTENDIMENTO OBTIDO DA ANÁLISE DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO — INCIDÊNCIA DO ÓBICE DA SÚMULA Nº 7/STJ —
PRECEDENTES — CANCELAMENTO DO PROTESTO — APONTAMENTO INDEVIDO DE TÍTULO E INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES —
CANCELAMENTO — DEVER DO CREDOR — APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 83/STJ — ALEGAÇÃO DE DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL — ARTS. 541, PARÁGRAFO
ÚNICO, DO CPC, E 255, § 2º, DO RISTJ — AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DA
DIVERGÊNCIA SUSCITADA — RECURSO IMPROVIDO. DECISÃO
Cuida-se de agravo de instrumento interposto pelo BANCO DO BRASIL S.A., em face da r. decisão (fls. 42/44) que negou seguimento a recurso especial (CF/88, art. 105,
inciso III, alíneas “a” e “c”, fls. 15/24), em que se alega violação ao art. 43, § 2º, da Lei nº 8.078/90, bem como dissídio jurisprudencial. Busca o ora recorrente a
reforma do r. decisum, tendo asseverado, em resumo, a inaplicabilidade da Súmula
nº 7/STJ à hipótese em tela, assim como a configuração de dissídio jurisprudencial, tendo transcrito ementas que entendeu caracterizarem sua assertiva (fls. 2/9).
(...) A extensão do dano moral sofrido, é que merece ser fixado guardando
proporcionalidade não apenas com o gravame propriamente dito, mas levando-se em consideração também suas consequências, em patamares comedidos, ou seja,
não exibindo uma forma de enriquecimento para o ofendido, nem, tampouco,
constitui um valor ínfimo que nada indenize e que deixe de retratar uma reprovação
à atitude imprópria do ofensor, considerada a sua capacidade econômico-financeira.
Ressalte-se que a reparação desse tipo de dano tem tríplice caráter: punitivo, indenizatório e educativo, como forma de desestimular a reiteração do ato danoso
(...)
Nega-se, portanto, provimento ao agravo de instrumento. Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 09 de maio de 2008. MINISTRO MASSAMI UYEDA
Relator
Além de seu caráter sancionador, punitivo, retributivo, o valor da
indenização deve operar pedagogicamente no intento de "ensinar" ao poluidor
e seus pares de atividade que a redução de custos do produto através da
diminuição de investimentos em prevenção de danos e mitigação dos riscos da
atividade não compensa. Para tanto, a indenização deve ser apta a demonstrar
que não é lucrativa a lógica da privatização das riquezas produzidas pelo
empreendimento e a socialização dos riscos e prejuízos dele decorrentes.
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Por essa razão, todos os pedidos de indenização decorrentes dos
fatos narrados nesta inicial deverão levar em consideração o efeito pedagógico
da indenização no momento de sua valoração final.
4.4) DO DANO MATERIAL/ LUCROS CESSANTES
DECORRENTES DO DANO AMBIENTAL E O DEVER DE
INDENIZAR DOS RÉUS:
O entendimento pacificado do ST é de que o dano material/lucro
cessante somente é indenizável mediante prova efetiva de sua ocorrência, não
havendo falar em indenização por dano material dissociada do dano
efetivamente demonstrado nos autos.
Nesse passo, o art. 402 do Código Civil estabelece que, salvo as
exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor
abrangem, além do que efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de
lucrar por consequência do evento danoso.
Essa é a pacífica jurisprudência do STJ:
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANO
INDENIZÁVEL. LUCROS CESSANTES. NECESSIDADE DE EFETIVA DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO.
1. O dano indenizável a título de lucros cessantes e que interessa à responsabilidade civil é aquele que se traduz em efetiva demonstração de prejuízo, partindo do
pressuposto anterior de previsão objetiva de lucro, do qual o inadimplemento impediu a possibilidade concreta de deixar de ganhar algo.
2. Recurso especial provido.
(REsp 615.203/MS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 25/08/2009, DJe 08/09/2009)
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART.
535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. CÁLCULO DOS LUCROS CESSANTES. DESPESAS OPERACIONAIS. DEDUZIDAS. TERMO FINAL. ALIENAÇÃO
DO BEM.
[...] 2. Lucros cessantes consistem naquilo que o lesado deixou razoavelmente de lucrar
como consequência direta do evento danoso (Código Civil, art. 402). No caso de incêndio de estabelecimento comercial (posto de gasolina), são devidos pelo período
de tempo necessário para as obras de reconstrução. A circunstância de a empresa
ter optado por vender o imóvel onde funcionava o empreendimento, deixando de dedicar-se àquela atividade econômica, não justifica a extensão do período de
cálculo dos lucros cessantes até a data da perícia.
3. A apuração dos lucros cessantes deve ser feita com a dedução de todas as
despesas operacionais da empresa, inclusive tributos. 4. Recurso especial provido.
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(REsp 1110417/MA, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, julgado em 07/04/2011, DJe 28/04/2011)
Como está comprovado documentalmente os pescadores
artesanais estão impossibilitados de pescar, isto é, estão proibidos de exercer
seu ofício e não estão cobertos por nenhum tipo de seguro/auxilio, por parte
dos Réus. Assim devida a indenização pelo dano material/lucro cessante por
não poder pescar e com isso auferir os rendimentos habituais de sua profissão.
Esclarece que o valor do dano material será provado através da
produção da prova nos autos, onde se demonstrará quanto ganha em média
um pescador artesanal em seu ofício no litoral interditado do Estado do
Espírito Santo.
4.5) DO TERMO “A QUO” PARA A INCIDÊNCIA DOS JUROS
MORATÓRIOS DECORRENTES DE DANO AMBIENTAL:
A jurisprudência do STJ é uníssona no sentido de que os juros
moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual.
Esse entendimento, fixado na Súmula STJ/54, em 1992, vem sendo
mantido sem discrepância nos julgados recentes daquela Corte.
A distinção importante para estabelecer o termo inicial da fluência
dos juros é entre o ato ilícito relativo e o ato ilícito absoluto, ou seja, se se
trata de responsabilidade contratual ou extracontratual.
Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor
em mora desde que o praticou. A responsabilidade do causador do dano
ambiental, “in casu”, é extracontratual, decorrente de ato ilícito o que
acarretou inúmeros prejuízos aos pescadores e sua família diante da
impossibilidade de exercerem suas profissões de pescadores artesanais.
O acima exposto está consagrado na Súmula nº 54 do STJ!
Vejamos precedentes daquela corte:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DEPÓSITO JUDICIAL. 1. A hipótese dos autos cuida de incidência dos expurgos inflacionários em depósito
judicial, não guardando qualquer semelhança com a matéria discutida nos processos em trâmite no col. STF (RE 591.797/SP e 626.307/SP, relator o Min. Dias Toffoli; e
do AI 754.745/SP, relator o Min. Gilmar Mendes), ou seja, expurgos inflacionários
em caderneta de poupança, razão pela qual não deve ser suspenso.
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2. Manifesto o erro material da decisão de fls. 321, tornada sem efeito pela decisão
de fls. 342, deve ser analisado o mérito do agravo regimental interposto em face da decisão restabelecida de fls. 271-275.
3. Os embargos de declaração destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade ou
eliminar contradição existentes no julgado, sendo certo que não se coadunam com a pretensão de revisão do conteúdo da decisão embargada.
4. A alegação de ilegitimidade passiva do banco depositário foi afastada pela Corte
de origem com base na inaplicabilidade do § 2º do artigo 6º da Lei nº 8.024/90,
com as alterações da Lei nº 8.088/90, ou seja, no caso dos autos, não se discute na espécie questão concernente à parcela de depósitos em caderneta de poupança
escrituralmente transferidos ao Banco Central do Brasil por conta do advento do
cognominado Plano Collor I. Discute-se, a ausência de restituição integral cumulada com atualização dos valores confiados à instituição financeira em razão de depósito
judicial. 5. O estabelecimento de crédito que recebe dinheiro, em depósito judicial, responde
pelo pagamento da correção monetária relativa aos valores recolhidos." Súmula
179/STJ. 6. Aplica-se o IPC como índice de atualização dos depósitos judiciais por ser o
indicador que melhor refletiu a inflação no período em debate. Precedentes. 7. O banco depositário, ao conservar o capital pertencente ao agravado, obteve lucro
em detrimento da perda acarretada ao mesmo, incorrendo na prática de ilícito extracontratual, razão pela qual os juros moratórios incidem a partir do evento
danoso, in casu, a data da injusta recusa em restituir integralmente o valor
depositado, conforme inteligência da súmula 54 do STJ: "Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual." RECURSO
INFUNDADO. APLICAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 557, § 2º, DO CPC. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
(AgRg no REsp 703.839/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 23/03/2011);
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ACIDENTE FERROVIÁRIO.
VÍTIMA FATAL. CULPA CONCORRENTE. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. 1. O STJ firmou entendimento no sentido de que há culpa concorrente entre a
concessionária do transporte ferroviário e a vítima, seja pelo atropelamento desta
por composição ferroviária, hipótese em que a primeira tem o dever de cercar e fiscalizar os limites da linha férrea, mormente em locais de adensamento
populacional, seja pela queda da vítima que, adotando um comportamento de elevado risco, viaja como "pingente". Em ambas as circunstâncias,
concomitantemente à conduta imprudente da vítima, está presente a negligência da
concessionária de transporte ferroviário, que não se cerca das práticas de cuidado
necessário para evitar a ocorrência de sinistros.
2. Por não se enquadrar como excludente de responsabilidade, a concorrência de culpas não é suficiente para afastar o dever da concessionária de transporte
ferroviário de indenizar pelos danos morais e materiais configurados. 3. A fixação do valor da compensação pelos danos morais deve balizar-se entre a
justa composição e a vedação do enriquecimento ilícito, levando-se em consideração
o critério da proporcionalidade, bem como as peculiaridades de cada espécie.
Precedentes.
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4. A pensão mensal fixada, a título de danos materiais, à luz do disposto no art. 945
do CC/02, é devida a partir da data do evento danoso em se tratando de responsabilidade extracontratual, até a data em que o beneficiário - filho da vítima -
completar 25 anos, quando se presume ter concluído sua formação. Precedentes.
5. A incidência do 13º salário e das férias remuneradas acrescidas de 1/3 na indenização pelos danos materiais somente é viável ante a comprovação de que a
vítima fazia jus a esses benefícios na época do sinistro. Precedentes
6. Sendo a União sucessora da recorrida, é desnecessária a constituição de capital
para garantir o pagamento das prestações vincendas do pensionamento, desde que incluído o beneficiário em folha de pagamento.
7. Os juros moratórios de 6% ao ano são devidos a partir da data do evento danoso,
na forma da Súmula 54 do STJ, observando-se o limite disposto nos arts. 1.062 e 1.063 do CC/16, até janeiro de 2003, momento a partir do qual passa a vigorar a
disposição contida no art. 406 do CC/02, nos moldes do precedente da Corte Especial, que aplica a taxa SELIC.
8. A correção monetária, também incidente a partir do evento danoso e que deve
ser alcançada mediante a aplicação de índice que reflita a variação de preços ao consumidor, terá sua incidência cessada a partir do momento em que iniciada a da
taxa SELIC, sob pena de bis in idem. Precedente. 9. Recurso especial parcialmente provido, com o afastamento da incidência da multa
prevista no art. 557, § 2º, do CPC. (REsp 1139997/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 15/02/2011, DJe 23/02/2011);
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE DO TRABALHO COM
BASE NO DIREITO COMUM. RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL. TERMO INICIAL DOS JUROS. HONORÁRIOS
DE ADVOGADO. - A responsabilidade do empregador, em caso de acidente do trabalho, é
extracontratual.
- "Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual." (Súmula nº 54-STJ).
- Havendo sido dispensada a constituição de capital, não se aplica a regra do art. 2º, § 5º, do CPC.
Embargos conhecidos e acolhidos, em parte.
(EREsp 146.398/RJ, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, Rel. p/ Acórdão Ministro BARROS MONTEIRO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
28/06/2000, DJ 11/06/2001, p. 90).
No caso do dano ambiental a questão também já se encontra
pacificada no STJ através de julgamento no rito dos recursos repetitivos nº 440
onde foi firma a seguinte tese:
“Os juros moratórios incidem a partir da data do fato, no tocante aos
valores devidos a título de dano material e moral.”
Vejamos trecho da ementa do acordão que trata da questão,
“verbis”:
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AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS E MORAIS A
PESCADORES CAUSADOS POR POLUIÇÃO AMBIENTAL POR VAZAMENTO DE NAFTA, EM DECORRÊNCIA DE COLISÃO DO
NAVIO N-T NORMA NO PORTO DE PARANAGUÁ - 1) PROCESSOS
DIVERSOS DECORRENTES DO MESMO FATO, POSSIBILIDADE DE TRATAMENTO COMO RECURSO REPETITIVO DE TEMAS
DESTACADOS PELO PRESIDENTE DO TRIBUNAL, À CONVENIÊNCIA
DE FORNECIMENTO DE ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL
UNIFORME SOBRE CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO FATO, QUANTO A MATÉRIAS REPETITIVAS; 2) TEMAS: a) CERCEAMENTO
DE DEFESA INEXISTENTE NO JULGAMENTO ANTECIPADO, ANTE
OS ELEMENTOS DOCUMENTAIS SUFICIENTES; b) LEGITIMIDADE DE PARTE DA PROPRIETÁRIA DO NAVIO TRANSPORTADOR DE
CARGA PERIGOSA, DEVIDO A RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR; c) INADMISSÍVEL A
EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE POR FATO DE TERCEIRO; d)
DANOS MORAL E MATERIAL CARACTERIZADOS; e) JUROS MORATÓRIOS: INCIDÊNCIA A PARTIR DA DATA DO EVENTO
DANOSO - SÚMULA 54/STJ; f) SUCUMBÊNCIA. 3) IMPROVIMENTO DO RECURSO, COM OBSERVAÇÃO.
1.- É admissível, no sistema dos Recursos Repetitivos (CPC, art. 543-C e Resolução STJ 08/08) definir, para vítimas do mesmo fato, em condições idênticas, teses
jurídicas uniformes para as mesmas consequências jurídicas.
2.- Teses firmadas: (...) e) termo inicial de incidência dos juros moratórios na data do evento danoso.- Nos termos da Súmula 54/STJ, os juros moratórios incidem a partir
da data do fato, no tocante aos valores devidos a título de dano material e moral; (...)
3.- Recurso Especial improvido, com observação de que julgamento das teses ora firmadas visa a equalizar especificamente o julgamento das ações de indenização
efetivamente movidas diante do acidente ocorrido com o Navio N-T Norma, no
Porto de Paranaguá, no dia 18.10.2001, mas, naquilo que encerram teses gerais,
aplicáveis a consequências de danos ambientais causados em outros acidentes
semelhantes, serão, como natural, evidentemente considerados nos julgamentos a se realizarem.
(REsp 1114398/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 08/02/2012, DJe 16/02/2012)
5. DOS PRECEDENTES EXISTENTES EM RELAÇÃO A LIDE: TESES FIRMADAS EM RECURSOS REPETITIVOS
NO STJ:
5.1) ATIVIDADE DE PESCA SUSPENSA EM FUNÇÃO DO DANO AMBIENTAL: DIRETO DO PESCADOR ARTESANAL A
INDENIZAÇÃO – TEMA 439
Tese Firmada:
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É devida a indenização por dano moral patente o sofrimento intenso do pescador profissional artesanal, causado pela privação das condições de trabalho,
em consequência do dano ambiental.
Ementa:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS E MORAIS A PESCADORES CAUSADOS POR POLUIÇÃO AMBIENTAL POR
VAZAMENTO DE NAFTA, EM DECORRÊNCIA DE COLISÃO DO NAVIO N-T NORMA NO PORTO DE PARANAGUÁ - 1) PROCESSOS
DIVERSOS DECORRENTES DO MESMO FATO, POSSIBILIDADE DE
TRATAMENTO COMO RECURSO REPETITIVO DE TEMAS DESTACADOS PELO PRESIDENTE DO TRIBUNAL, À CONVENIÊNCIA
DE FORNECIMENTO DE ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL
UNIFORME SOBRE CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO FATO,
QUANTO A MATÉRIAS REPETITIVAS; 2) TEMAS: a) CERCEAMENTO
DE DEFESA INEXISTENTE NO JULGAMENTO ANTECIPADO, ANTE OS ELEMENTOS DOCUMENTAIS SUFICIENTES; b) LEGITIMIDADE
DE PARTE DA PROPRIETÁRIA DO NAVIO TRANSPORTADOR DE CARGA PERIGOSA, DEVIDO A RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR; c) INADMISSÍVEL A EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE POR FATO DE TERCEIRO; d)
DANOS MORAL E MATERIAL CARACTERIZADOS; e) JUROS
MORATÓRIOS: INCIDÊNCIA A PARTIR DA DATA DO EVENTO DANOSO - SÚMULA 54/STJ; f) SUCUMBÊNCIA. 3) IMPROVIMENTO
DO RECURSO, COM OBSERVAÇÃO. 1.- É admissível, no sistema dos Recursos Repetitivos (CPC, art. 543-C e Resolução
STJ 08/08) definir, para vítimas do mesmo fato, em condições idênticas, teses jurídicas uniformes para as mesmas consequências jurídicas.
2.- Teses firmadas: a) Não cerceamento de defesa ao julgamento antecipado da
lide.- Não configura cerceamento de defesa o julgamento antecipado da lide (CPC, art. 330, I e II) de processo de ação de indenização por danos materiais e morais,
movida por pescador profissional artesanal contra a Petrobrás, decorrente de impossibilidade de exercício da profissão, em virtude de poluição ambiental causada
por derramamento de nafta devido a avaria do Navio "N-T Norma", a 18.10.2001,
no Porto de Paranaguá, pelo período em que suspensa a pesca pelo IBAMA (da data do fato até 14.11.2001); b) Legitimidade ativa ad causam.- É parte legítima para
ação de indenização supra referida o pescador profissional artesanal, com início de atividade profissional registrada no Departamento de Pesca e Aquicultura do
Ministério da Agricultura, e do Abastecimento anteriormente ao fato, ainda que a emissão da carteira de pescador profissional tenha ocorrido posteriormente, não
havendo a ré alegado e provado falsidade dos dados constantes do registro e
provado haver recebido atenção do poder público devido a consequências profissionais do acidente; c) Inviabilidade de alegação de culpa exclusiva de terceiro,
ante a responsabilidade objetiva.- A alegação de culpa exclusiva de terceiro pelo acidente em causa, como excludente de responsabilidade, deve ser afastada, ante a
incidência da teoria do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano
ambiental (art. 225, § 3º, da CF e do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81),
responsabilizando o degradador em decorrência do princípio do poluidor-pagador. d)
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Configuração de dano moral.- Patente o sofrimento intenso de pescador profissional
artesanal, causado pela privação das condições de trabalho, em consequência do dano ambiental, é também devida a indenização por dano moral, fixada, por
equidade, em valor equivalente a um salário-mínimo. e) termo inicial de incidência
dos juros moratórios na data do evento danoso.- Nos termos da Súmula 54/STJ, os juros moratórios incidem a partir da data do fato, no tocante aos valores devidos a
título de dano material e moral; f) Ônus da sucumbência.- Prevalecendo os termos
da Súmula 326/STJ, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não
afasta a sucumbência mínima, de modo que não se redistribuem os ônus da sucumbência.
3.- Recurso Especial improvido, com observação de que julgamento das teses ora
firmadas visa a equalizar especificamente o julgamento das ações de indenização efetivamente movidas diante do acidente ocorrido com o Navio N-T Norma, no
Porto de Paranaguá, no dia 18.10.2001, mas, naquilo que encerram teses gerais, aplicáveis a consequências de danos ambientais causados em outros acidentes
semelhantes, serão, como natural, evidentemente considerados nos julgamentos a se
realizarem. (REsp 1114398/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 08/02/2012, DJe 16/02/2012)
5.2) DANO AMBIENTAL: RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO CAUSADOR DO DANO - TEMA 681
Tese Firmada:
A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco
integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se
integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua
obrigação de indenizar.
Ementa:
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO
CPC. DANOS DECORRENTES DE VAZAMENTO DE AMÔNIA NO RIO SERGIPE. ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO EM OUTUBRO DE
2008.
1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: a) para demonstração da
legitimidade para vindicar indenização por dano ambiental que resultou na redução
da pesca na área atingida, o registro de pescador profissional e a habilitação ao benefício do seguro-desemprego, durante o período de defeso, somados a outros
elementos de prova que permitam o convencimento do magistrado acerca do exercício dessa atividade, são idôneos à sua comprovação; b) a responsabilidade por
dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de
causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do
ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental,
de excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar; c) é inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter
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punitivo imediato, pois a punição é função que incumbe ao direito penal e
administrativo; d) em vista das circunstâncias específicas e homogeneidade dos efeitos do dano
ambiental verificado no ecossistema do rio Sergipe - afetando significativamente, por
cerca de seis meses, o volume pescado e a renda dos pescadores na região afetada -, sem que tenha sido dado amparo pela poluidora para mitigação dos danos
morais experimentados e demonstrados por aqueles que extraem o sustento da
pesca profissional, não se justifica, em sede de recurso especial, a revisão do
quantum arbitrado, a título de compensação por danos morais, em R$ 3.000,00 (três mil reais); e) o dano material somente é indenizável mediante prova efetiva de
sua ocorrência, não havendo falar em indenização por lucros cessantes dissociada
do dano efetivamente demonstrado nos autos; assim, se durante o interregno em que foram experimentados os efeitos do dano ambiental houve o período de
"defeso" - incidindo a proibição sobre toda atividade de pesca do lesado -, não há cogitar em indenização por lucros cessantes durante essa vedação; f) no caso
concreto, os honorários advocatícios, fixados em 20% (vinte por cento) do valor da
condenação arbitrada para o acidente - em atenção às características específicas da demanda e à ampla dilação probatória -, mostram-se adequados, não se
justificando a revisão, em sede de recurso especial. 2. Recursos especiais não providos.
(REsp 1354536/SE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/03/2014, DJe 05/05/2014)
6. DO PEDIDO LIMINAR DE TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA:
Na hipótese, vislumbra-se claramente a presença dos requisitos
dos artigos 294 c/c 300 do NCPC para a concessão da tutela de urgência na
modalidade cautelar (paragrafo único do artigo 294) e liminar (caput do artigo
300) existindo urgência, fartas evidências, perigo de dano aos Autores e risco
ao resultado útil do processo caso só com o julgamento final da lide se
promova as medidas necessárias, sobre tudo em função da notória demora do
poder judiciário em prestar a tutela jurisdicional em função da falta de
funcionários para tanto.
Exa. a questão tanto do dano moral quanto do dano material para
pescadores artesanais que tiveram sua atividade cerceada por dano ambiental já
é objeto de decisão em recursos repetitivos, não existindo controvérsia sobre
a questão. Por outro lado as provas são suficientes e inquestionáveis para a
concessão das tutelas de urgência requeridas.
7. DOS PEDIDOS:
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Por todo o exposto a Vossa Excelência, demonstrado o bom
direito que possuem os pescadores artesanais associados da Associação
Autora, bem como o manifesto prejuízo para os mesmos decorrente da
paralização da pesca e da proibição da comercialização do pescado. REQUER a
Associação Autora
a) O deferimento de TUTELA DE URGÊNCIA, para determinar o pagamento pelos Réus, solidariamente, aos
pescadores artesanais associados à Associação Autora, atuantes
na área de abrangência da contaminação conforme documentos
8 e 9 dos autos, de parte dos danos morais decorrentes da
aflição e do sofrimento intenso imposto aos mesmos em função
de não poderem pescar e assim prover o sustento próprio e de
sua família em função do dano ambiental decorrente do
rompimento da barragem de Mariana no valor parcial,
individual e antecipatório de R$ 12.500,00 (doze mil e
quinhentos reais);
b) O deferimento de TUTELA DE URGÊNCIA para determinar o pagamento pelos Réus, solidariamente, aos
pescadores artesanais associados à Associação Autora, atuantes
na área de abrangência da contaminação conforme documentos
8 e 9 dos autos, de parte dos danos matérias/lucros cessantes
decorrentes da impossibilidade dos pescadores artesanais de
pescarem e auferirem seus rendimentos habituais com sua
atividade em função do dano ambiental decorrente do
rompimento da barragem de Mariana no valor parcial,
individual e antecipatório de R$ 14.055,00 (quatorze mil e
cinquenta e cinco reais) – um salário mínimo mensal desde
11/2015 até 01/2017 (período compreendido entre a data em que
os resíduos chegaram na foz do Rio doce inviabilizando a pesca e os
dias atuais).
Posteriormente, quando do julgamento do mérito da presente
ação, em razão de todo os exposto, requerem que seja julgado procedente a
presente para:
a) Tornar definitivo o deferimento da TUTELA DE URGÊNCIA, que determinou o pagamento pelos Réus,
solidariamente, aos pescadores artesanais associados à
Associação Autora, atuantes na área de abrangência da
contaminação conforme documentos 8 e 9 dos autos, de parte
dos danos morais decorrentes da aflição e do sofrimento
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intenso imposto aos mesmos em função de não poderem
pescar e assim prover o sustento próprio e de sua família em
função do dano ambiental decorrente do rompimento da
barragem de Mariana;
b) Condenar os Réus, solidariamente, ao pagamento aos pescadores artesanais associados à Associação Autora,
atuantes na área de abrangência da contaminação conforme
documentos 8 e 9 dos autos, dos danos morais decorrentes da
aflição e do sofrimento intenso imposto aos mesmos em
função de não poderem pescar e assim prover o sustento
próprio e de sua família em função do dano ambiental
decorrente do rompimento da barragem de Mariana, em valor
individual a ser arbitrado por este juízo e que se pede não
seja inferior a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), acrescidos
dos juros moratórios desde a data do referido fato até o
efetivo pagamento, descontados os valores pagos a título de
tutela de urgência na forma da legislação e jurisprudência
vigentes.
c) Tornar definitivo o deferimento da TUTELA DE URGÊNCIA que determinou o pagamento pelos Réus,
solidariamente, aos pescadores artesanais associados à
Associação Autora, atuantes na área de abrangência da
contaminação conforme documentos 8 e 9 dos autos, de parte
dos danos matérias/lucros cessantes decorrentes da
impossibilidade dos pescadores artesanais de pescarem e
auferirem seus rendimentos habituais com sua atividade em
função do dano ambiental decorrente do rompimento da
barragem de no valor parcial, individual e antecipatório de R$
14.055,00 (quatorze mil e cinquenta e cinco reais) – um salário
mínimo mensal desde 11/2015 até 01/2017 (período
compreendido entre a data em que os resíduos chegaram na
foz do Rio doce inviabilizando a pesca e os dias atuais).
d) Condenar os Réus solidariamente ao pagamento dos danos materiais/lucros cessantes decorrentes do período em que os
pescadores artesanais associados à Associação Autora atuantes
na área de abrangência da contaminação conforme documentos
8 e 9 dos autos, que ficaram impossibilitados de pescar e
auferirem seus rendimentos habituais com sua atividade em
função do rompimento da Barragem de Mariana acrescidos dos
juros moratórios desde a data do referido fato até a data do
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efetivo pagamento, descontados os valores pagos a título de
tutela de urgência na forma da legislação e jurisprudência
vigentes.
Requer ainda:
a) A citação dos réus, para querendo, apresentar no prazo legal, contestação à presente ação, acompanhando seus termos até
final julgamentos sob pena de revelia e confissão;
b) A inversão do ônus da prova;
c) A condenação dos Réus em custas e honorários advocatícios.
8. DA CONCILIAÇÃO PRÉVIA:
Esclarece os Autores que não tem nada a opor a realização de
audiência de conciliação prévia como estratégia de solução de conflitos.
9. DAS PROVAS:
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos
em direito, em especial as provas documentais, periciais e testemunhais as quais
desde já requer.
10. DO VALOR DA CAUSA:
Dá-se à causa o valor de R$ 39.055,00 (trinta e nove mil e
cinquenta e cinco reais).
Termos em que,
Pede e Espera deferimento.
Rio de Janeiro, 30 de Janeiro de 2017.
_________________________________ Paulo Roberto Teixeira de Azevedo
OAB/RJ 168.764