Ano 2 / Número 3 - Dezembro 2011
10 NP
Prof. Bruno GonçalvesA “magia” das Oficinas do Esporte
Prof. Marcelo JabuVila Romana F.C.
Esporte e suas contribuições
Prof. Sergio Hortelan
O JOGO: Por que sim? Por que não?
Prof. Rodrigo Paiva
“Quando um não quer, dois não brincam”
Prof. Fabio D́ Angelo
Você acaba de receber a terceira edição da Revista
Cordel Pedagógico, Oficinas do Esporte – IEE. Neste
segundo ano de publicação decidimos manter a
estrutura da revista, com a inovação de convidarmos
profissionais não vinculados ao IEE para manifestar
suas opiniões e suas visões sobre o ensino do esporte
para crianças.
Nesta EDIÇÃO o tema central é o JOGO. Nas Oficinas
do Esporte encaramos o JOGO como o principal
conteúdo de ensino. É o JOGO que fortalece o
nosso método para o ensino de um esporte que
seja inclusivo e para todos. Queremos convidar o
leitor para uma reflexão sobre a idéia equivocada
de que o esporte, ensinado através do jogo, se
resume ao “recrear” ou apenas “ocupar” o
tempo livre dos pequenos. O nosso compromisso
é com o ensino e, como tal, enxergamos no jogo
um potencial educativo que mobil iza
interessantes aprendizagens nas dimensões
social, afetiva, moral, cognitiva e motora. O desafio
está para todos os professores do programa em olhar
para o futuro, sem esquecer do presente. Assim, nas
Oficinas, as crianças praticam aquilo que está na base
dos esportes, isto é, as brincadeiras. As crianças
aprendem a brincar de fazer esporte e os professores
ensinam sobre solidariedade, ética, respeito e
cidadania.
Nossa vontade é motivar o leitor para conhecer o
admirável trabalho realizado por todos os professores
das Oficinas do Esporte e ampliar ainda mais sua visão
sobre o ensino do esporte educacional para as
crianças.
Responsáveis pelo ProgramaOficinas do Esporte
Coordenação GeralFábio D´Angelo
Zona Sul - SP e Caravana do EsporteBruno Gonçalves
O.S. Instituto Esporte & Educação - SPCibele Venâncio
Zona Leste - SPMafalda Marques
Heliópolis - SPBianca Lima
Rio de JaneiroLívia Resende
FICHA TÉCNICA
Redação
Profº FÁBIO D´ANGELO
ArteProfº BRUNO GONÇALVES
COLABORADORES da 3ª EDIÇÃOprofessores(as)
Adriana Vieira Ângela Aparecida Lopes
Bárbara PivátoBianca Lima
Douglas Eduardo Silva João Batista FreireMafalda MarquesMarilene TavaresRomildes Lopes
Tatiane Maciel GarciaTayane Santos Araújo
Boa leitura!
Caro Leitor,
12345
COM A PALAVRA
ENTREVISTA
JOGO 10
PONTO FINAL
p 4
p 8
p 9
p 15
p 28
índice
PARA PENSAR
Cultura Esportiva: Jogando para Valer
“Sabedoria das Artes Marciais”
Lutas para as crianças
Conhecimento do Corpo
Jogos da Família
p 17
p 19
p 21
p 23
p 25
p 12
A MAGIA DAS OFICINAS
Prof. Bruno Gonçalves
Prof. Fabio D́ Angelo
Prof. Marcelo Jabu
Prof. Sergio Hortelan
Prof. Rodrigo Paiva
10
NOSSA PRÁTICANP
Prof. Fabrício de Souza
C
E
b www.esporteeducacao.org.br/blog/oficinas
Nos últimos anos tenho participado de
inúmeras discussões referentes às diferentes
metodológicas de ensino existentes na
dimensão educacional do esporte. Não
pretendo teorizá-las aqui, mas acho
fundamental diferenciar duas orientações
metodológicas bastante contrastantes:
Muitos autores já tentaram definir
conceitualmente o que são os exercícios e os
jogos. A verdade é que ainda hoje há
divergências quanto ao uso destes conceitos,
portanto, farei, intencionalmente, uma
“simplificação”.
Compreendo por exercícios as atividades
repetitivas, previsíveis e com objetivos
alheios/externos ao aluno. Refiro-me às
atividades, propostas pelo professor, que não
envolvam os alunos num contexto que
ultrapasse a dimensão técnica/as habilidades
motoras da modalidade praticada, que não
favoreçam o desenvolvimento de outras
competências relacionadas, inclusive ao
próprio esporte. Em geral, os exercícios são
amplamente utilizados em programas de
ensino de esportes sob a justificativa de
“facilitarem a observação individual”,
“favorecerem a correção/o aperfeiçoamento
da técnica”, “por serem mais específicos”,
“a c e l e ra r e m a a p r e n d i za g e m d o s
fundamentos”, “focarem a atenção dos
alunos nos movimentos realizados”,
“diminuírem a bagunça nas aulas”, entre
outras. Quando penso em exercícios,
freqüentemente me recordo de situações da
infância em que me via obrigado a realizar
algo que me era imposto, que eu realmente
não via motivos para realizar, a não ser, é
lógico, para fugir da punição de não fazê-los.
Foi assim com a matemática, com a física,
com o português e por fim, com os esportes.
Acho fundamental dizer que embora eu, e
provavelmente todas as crianças do mundo,
nunca tenha gostado de realizar exercícios,
hoje reconheço que eles me proporcionaram
muitas aprendizagens. Enfatizo isso para não
dar a impressão de que nada se aprende com
a prática de exercícios, sejam eles mais
cognitivos (como uma equação de segundo
grau, por exemplo) ou motores (treinar uma
manchete contra a parede).
Quando ouço as justificativas que acabei de
comentar, nunca deixo de considerá-las
como válidas, como pertinentes e como
parcialmente verdadeiras. Digo parcialmente
porque quando o professor organiza em sua
aula exercícios bem planejados, é grande a
probabilidade de que a execução, a
aprendizagem e o aperfeiçoamento técnico
dos fundamentos da modalidade que
pretende ensinar sejam efetivamente
favorecidos, justamente sob o argumento de
facilitarem e diminuírem a demanda de
atenção necessária para a execução dos
gestos motores.
COM A PALAVRA
O exercício e o jogo. O exercício e o jogo.
4
Prof. Rodrigo PaivaC
Considero fundamental salientar que os
estudos no campo do comportamento motor
são vastos e sugerem que, quanto menos
experientes forem os alunos em uma
modalidade esportiva, maior a necessidade
de certa “previsibilidade” no contexto de
aprendizagem, neste sentido, os exercícios
podem ajudar os “novatos”. Seriam,
portanto, os exercícios um bom modelo
metodológico para o ensino do esporte em
sua dimensão educacional? Talvez. Sim e não.
Isso mesmo, parece confuso, mas tentarei
explicar a seguir.
Para entendermos melhor as potencialidades
e as limitações do exercício como proposta
m e t o d o l ó g i c a , e s t a b e l e c e r e m o s
comparações com outro método, o jogo.
Como disse, tenho participado de discussões
sobre a adoção do jogo como método de
ensino de esportes. Busquei compreender
um pouco sobre o que é efetivamente JOGO,
mas confesso que não fui muito além da
superficialidade no entendimento deste
fenômeno. Não porque minha dedicação foi
pequena, mas sim pela abrangência de
produções referentes ao jogo, em diversas
áreas, em diversos países e em diferentes
momentos históricos. Permitam-me, de
forma ousada e pretensiosa, defender minha
compreensão simplória e limitada do que é
jogo: Jogo é toda atividade estruturada com
início e fim conhecidos que acontece em
determinado local, com regras previamente
combinadas pelos envolvidos (mas que são
absolutamente obrigatórias), repleta de
tensão e alegria e que busca um ou mais
vencedores. Ufa!!!
O Jogo, nesta perspectiva, é uma combinação
de conceitos. Sei que definir jogo é uma
tarefa igualmente difícil e arriscada, mas
prefiro defender meu ponto de vista a omitir-
me. Quando proponho que os jogos têm
início e fim conhecidos, sugiro que sabemos
exatamente como e quando o jogo termina,
mesmo que esse fim não esteja diretamente
relacionado com o relógio, ou seja, sabemos
que o xadrez pode durar dias, mas quando o
rei é posto em xeque, o jogo acaba. Todo jogo
ocorre num determinado campo, quadra,
rua, tabuleiro, na tela da TV, num pedaço de
papel, etc., portanto num espaço definido.
Todas as regras do jogo podem ser
c o m b i n a d a s d e a c o r d o c o m a s
características, interesses e
necessidades dos jogadores,
n o e n t a n t o , a p ó s t a l
combinação essas regras
devem ser totalmente cumpridas.
Ao jogar dentro das regras combinadas, os
participantes buscam superar uns aos outros
(tensão), tendo mais ou menos êxito (alegria)
dependendo da forma como jogam. Por fim,
mas não menos importante, e talvez o mais
controverso, defendo a idéia de que
todo jogo solicita um (ou
mais) vencedor (es), em
busca de um objetivo
comum (Jogo Cooperativo)
ou contrário.
Há aproximadamente 3
anos (2008), iniciamos
alguns estudos para
justificar o jogo como
modelo metodológico
de ensino de esporte
e d u c a c i o n a l n o
Instituto Esporte e
Educação. Identificamos
que muitos autores
sugerem que os
5
o s j o g o s s ã o m a i s “ m o t i v a n t e s ”,
“envolventes”, “imprevisíveis” e “divertidos”.
No entanto continuamos nos perguntando, o
jogo se justifica por tudo isso ou por
efetivamente ensinar o que pretendemos? È
possível ensinarmos esportes por meio de
jogos? Seria o jogo um método de ensino que
se justifica por efetivamente proporcionar
aprendizagem, ou apenas, por servir de
motivador para os alunos que não se
envolvem com os exercícios? Desenvolvemos
uma pesquisa interessantíssima onde dois
grupos de alunos foram avaliados quanto ao
método de ensino utilizado para a
aprendizagem do voleibol, em outras
palavras, um grupo foi ensinado durante
alguns meses exclusivamente por meio de
exercícios e outro por meio de jogos. Os
resultados nos mostraram que ambos os
grupos, de exercícios e jogos, melhoraram
muito suas habilidades motoras, seus
gestos técnicos, suas competências da
modal idade. Vale dizer que as
habilidades motoras, ou seja, a
qualidade técnica do movimento do
grupo de exercício, foram levemente
melhores do que do grupo de jogo. O
mesmo não se observou quanto à
habilidade de manter a bola em jogo
(fluência), de movimentação em
quadra de acordo com a ação do
adversário (tática), assim como a
freqüência nas aulas (participação) e
avaliação do período (motivação).
O que quero dizer com isso? Bom, que
tanto os alunos que aprenderam
jogando, quanto os que praticaram
e x e r c í c i o s , m e l h o r a r a m s u a s
habilidades técnicas/motoras. Embora o
grupo que praticou exercícios tenha
demonstrado alguns movimentos mais
elaborados, isso não se configurou em
melhores resultados no jogo, ou seja, bons
m o v i m e n t o s n ã o s i g n i f i c a m ,
necessariamente, vitória garantida. Isso
mesmo, jogar ou praticar exercícios
proporcionam efeitos de aprendizagem
motora semelhantes. No entanto, os alunos
que aprenderam por meio do método jogo,
viram-se favorecidos por aspectos não só
inerentes à motricidade, mas também
relacionados com a capacidade de análise
crítica do jogo, dos posicionamentos dos
adversários, da habilidade de deslocar-se
rapidamente e manter a bola em jogo por
mais tempo, da maior participação do grupo
n a s a u l a s e s e p e rc e b e ra m m a i s
animados/motivados para a continuidade do
programa de aprendizagem de
esportes, faltando muito menos às
aulas. Pense nisso.
Se por um lado, o exercício
p ro d u z , efet ivamente ,
avanços significativos no
âmbito do movimento, da
m o t r i c i d a d e , d a
habilidade motora ou
f u n d a m e n t o d a
modal idade, por outro,
diminui a motivação das
crianças e jovens que querem,
apenas, aprender a praticar
esporte com competência. Se
os exercíc ios realmente
aumentam a previsibilidade
para a aprendizagem motora
dos fundamentos e facilitam
a observação sistemática do
6
do professor sobre aspectos específicos do
movimento de todos os alunos, por outro
lado, os jogos possibilitam igualmente a
aprendizagem dos movimentos e dos
a s p e c t o s m o t o r e s , f a v o r e c e m o
desenvolvimento de relações pessoais mais
próximas, uma vez que potencializam
interações humanas, estimulam a tomada de
decisão (tática/cognição), a autonomia moral
(considerando que cumprir as regras
combinadas envolve disposição intelectual e
moral), entre tantas outras possibilidades,
deixamos como último ponto de reflexão:
Se o jogo, enquanto espaço de
ensino/aprendizagem de habilidades
motoras, técnicas e esportivas é igualmente
eficiente (uma vez que não temos a intenção
de afirmar qual é a melhor metodologia)
quanto à aprendizagem por tarefas
repetitivas, adicionados os aspectos
cognitivos, motivacionais, emocionais e
interpessoais da aprendizagem pelo jogo (e
ausentes nas tarefas repetitivas dos
exercícios), justifica-se a opção por
ensinar/aprender a jogar jogando. Em outras
palavras, se o jogo ensina tudo o que método
tradicional de ensino por tarefas repetitivas
ensina, além das vantagens educacionais que
ele acrescenta, por qual motivo, nas aulas de
Educação Física, os esportes continuam a ser
ensinados segundo o modelo tradicional?
Agora é com você professor (a). Jogos e
exercícios, Por que sim? Por que não?
“o jogo se justifica por tudo isso
ou por efetivamente ensinar o
que pretendemos? “
“o jogo se justifica por tudo isso
ou por efetivamente ensinar o
que pretendemos? “
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oficinasdoesporte.ning.comf7
O esporte contribuiu para a sua formação pessoal
e profissional?
- Sim e muito. Fui atleta de Handebol desde os 13
anos, treinando em vários clubes. Convivi a minha
vida inteira com diferentes grupos de pessoas
dentro do esporte e aprendi sobre diversidade,
convivência e cidadania. A prática esportiva me
levou à formação acadêmica como professor de
educação física no ano de 1986, na Fefisa. O amor
por essa profissão fez com que buscasse mais
conhecimentos e, em 1987, conclui uma
especialização na USP. Em 2002 conclui o meu
mestrado na Universidade de Guarulhos e em
2008 me tornei treinador nível III pela Federação
Espanhola de Handebol. Os valores que o esporte
me ensinou fez com que hoje eu tenha uma família
(esposa e 3 filhas) maravilhosa, seja uma pessoa
batalhadora, persistente, forte e realizada.
O que você tem feito depois que deixou de jogar
Handebol? Continua trabalhando com o esporte?
- Assim que parei de jogar, me formei em educação
física e, desde então, venho trabalhando em
escolas e clubes na tentativa de formar atletas e
cidadãos. O esporte é mais uma ferramenta na
educação do ser humano e complementa o
aprendizado que ele tem na escola e na família.
Trabalho no Esporte Clube Pinheiros há 18 anos
como supervisor técnico do departamento de
Handebol e treinador das categorias Júnior e
Adulto. Atuo também como professor
universitário na Faculdade de Educação Física do
Centro Universitário da Ítalo, disciplina de
Handebol.
O que pensa do esporte como meio educacional?
- Acredito no esporte educacional como um
importante meio de formação do cidadão. O
esporte pode ser desenvolvido claramente dentro
da escola e em outros espaços
como os CEUS, comunidades,
associações, etc. Mesmo
dentro de grandes clubes que
visam o trabalho competitivo,
acredito que o atleta deve ser o resultado da soma
da formação da performance mais a formação do
cidadão.
Para você qual deve ser o legado dos grandes
eventos como Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas
2016 para as crianças e os jovens brasileiros?
- Temos no Brasil um abismo social enorme. O
governo deveria se empenhar e aumentar a
possibilidade de uma melhor educação para
todos. Não acredito que a Copa de 2014 e as
Olimpíadas de 2016 deixem legados importantes
para a formação de nossas crianças e jovens
brasileiros.
Como você avalia as políticas públicas de esporte
educacional no nosso país?
- Há ainda muito por fazer. Ainda não vejo grandes
ações do governo no desenvolvimento do esporte
educacional, que possa melhorar a qualidade de
vida da nossa população.
Se você fosse o ministro do esporte, quais seriam
as suas principais ações?
- A primeira idéia seria diminuir esse abismo social
e aumentar as possibilidades de melhoria
educacional através da prática do esporte. Faria
isso para todas as camadas da população, de
maneira organizada, planejada e com a utilização
de tecnologias e recursos de baixo custo.
Continuaria também investindo no esporte
competitivo, como uma possibilidade de
desenvolver talentos esportivos que sirvam de
estímulo para os nossos jovens.
ENTREVISTA
8
Prof. Sergio HortelanE
Acredito que todos nós, em algum momento
da vida, já tenhamos tido a seguinte
experiência: - Voltar como adulto para um
lugar que tenha sido muito freqüentado por
nós quando éramos crianças!
Quando a gente se depara com um retorno
desses, normalmente a gente se espanta com
a pequenez do lugar, que na nossa memória
está registrado como um lugar muito amplo
aonde se fazia muitas aventuras, proezas e
malabarismos.
Naquele quintalzinho, naquela árvore,
naquela garagem, naquele barranco onde
vivemos tantas estórias, certamente hoje mal
seria possível correr ou se pendurar!
M e r g u l h a n d o m a i s f u n d o n e s s a s
recordações, vão emergindo os espaços em
que a gente jogava futebol, e em cada um
deles, o “tipo de futebol” que era jogado:
- “Gol a gol” no corredor lateral entre a
cozinha e o quintal.
- “Controle” na porta da garagem da mãe do
gordo.
- “Chute-em-gol-rebatida-drible” na própria
rua com dois tijolos como meta.
- “Bobinho” em qualquer lugar disponível.
- “Contra” o time da Rua Ribeiro de Barros,
maior rival da nossa rua, a Frei Henrique de
Coimbra, no terreno baldio do lado da minha
casa.
A gente adaptava uma maneira de jogar para
cada espaço disponível e para o número de
jogadores em cada situação, assim, se tinha
muita gente se faziam times e jogávamos “gol
PARA PENSARVILA ROMANA F.C.
9
Prof. Marcelo Jabu!
caixote”, se só tinham duas crianças e estava
chovendo, o jeito era fazer “gol a gol” na
garagem...mas algum jeito a gente dava para
poder jogar Futebol!
Para cada situação existiam regras e
convenções específicas que eram negociadas
na hora, bem como a maneira mais justa de
equilibrar os times, o que ia valer e o que não
ia, quem ia “jogar na frente” e quem ia “jogar
atrás”, se tinha alguém “café-com-leite” e,
dependendo não me lembro do quê, que
“vira-seis e acaba-doze”.
Em cada um desses contextos, uma ou mais
h a b i l i d a d e s e r a m e x i g i d a s m a i s
intensamente dos jogadores, o drible curto
no “dois-toques”, a pontaria nos pênaltis, a
força do chute no “gol a gol”, a técnica de
domínio no alto no “controle” e assim por
diante, e certamente essa variedade de
desafios contribuía para que todos nós
fossemos nos aperfeiçoando como jogadores
dia após dia, naquele tempo de criança em
que se vive cada dia com um imenso apetite
para aprender e se divertir. Chegamos a
desenvolver requintes de habilidade ao jogar
na pracinha Tupã que era uma descida bem
íngreme, e nos fundos do prédio do Os car,
onde o “campo” era em curva, e um goleiro
não enxergava o outro!
Começo a lembrar também da carga afetiva e
simbólica que essas vivências de rua
permitiram, povoando minha memória com
imagens das comemorações de cada gol, das
rivalidades entre crianças e turmas, das
narrações paralelas a cada jogada, da
cumplicidade que se constrói entre parceiros,
das estratégias e táticas estabelecidas entre
as equipes, da ousadia necessária para cada
drible. Tudo isso era vivido por nós como se a
gente fosse “de verdade”, mesmo que a gente
soubesse no fundo que éramos apenas
crianças desejando, imaginando e sonhando
acordados em ser jogadores de futebol , e
nem sei de onde a gente tirava imagens para
representar esses papéis, pois ninguém tinha
televisão, poucas chances a gente tinha de ir
aos estádios e a maioria dos jogos
profissionais eram acompanhados pelo rádio
ou conferidos nas fotos dos jornais
pendurados na banca do Seu Donizette no dia
seg uinte. Talvez por isso mesmo nesta época,
imaginar era imaginar mesmo, era inventar
na cabeça o quase desconhecido através da
emoção pura!
Nessas manhãs, tardes, noites e madrugadas
jogando futebol na rua aprendemos quem é
“fominha” e quem não é, quem é desleal e
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quem não é, quem é ousado, quem é
divertido, quem é honesto e quem é otário.
Suados e sujos até o pescoço construímos
nosso universo de imagens e personagens
futebolísticos com os quais a gente se
divertia:
- O chapéu, o lençol, a caneta, o drible da
vaca, a chaleira, a bicicleta, a letra, a
embaixadinha, o bico, a matada, o de
primeira, a prensada é da defesa... e, sem
nunca termos lido Piaget, nem PCN,
praticamos e aprendemos o que é a inclusão
e a diversidade.
Voltando do sonho, fico pensando o quanto
poderíamos ter aprendido a mais se, naquela
época, tivéssemos ao nosso lado um
professor de Educação Física sensível e
inteligente, que soubesse aproveitar toda
essa riqueza para nos ensinar a aprender
ainda mais sobre Futebol!
Depois, a rua de terra foi asfaltada, começou
a passar ônibus, os muros subiram com
grades, os terrenos foram sumindo, todo
mundo começou a trabalhar, apareceu uma
televisão na sala, mas afinal, isso já é outra
história, e vocês vão me dar licença por que a
minha mãe está me chamando para tomar
banho!
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visite a página da Incubadora de Jogos!
incubadoradejogos.weebly.com
Marcelo Jabu tem dois ofícios, é professor de Educação Física e
carpinteiro, construtor de brinquedos didáticos.
Marcelo Jabu tem dois ofícios, é professor de Educação Física e
carpinteiro, construtor de brinquedos didáticos.
Desde 2008 o programa das Oficinas do e constante, de fazer um simples e esquecido
Esporte está presente nas formações e na cabo de vassoura, virar um brinquedo
grande arena da Caravana do Esporte, em educativo, desafiador, auto-organizador,
diferentes cidades e regiões do Brasil. São agregador, estimulador de parcerias e
mais de 60 mil crianças atendidas sorrisos de crianças, jovens e adultos. Faço
diretamente e aproximadamente 5 mil isso também, com tampinhas, latas, cordas,
professores, que receberam a metodologia bolas de meia, tiras de pano coloridas, caixas
utilizada pelo programa das Oficinas do de papelão, garrafas pet, entre outros
Esporte, nesses três anos. materiais que a imaginação de muitos outros
bons mostradores(as) de brinquedos, e a
Mas isso são números! Eu gostaria de lhes minha própria criatividade fornecem.
contar, algo que os números não falam. Vou
lhes contar da “magia” que as Oficinas do Mas como faço isso? Como faço a “magia”
Esporte trás para a Caravana. É isso mesmo, acontecer? – Eu vos digo e sem demora. Mas
ela trás “magia”. antes, quero dizer que só consigo tal feito,
porque fui estimulado a praticar as mais
Eu não sou bruxo, já adianto! - Considero-me habilidosas artes da pesquisa, do estudo
apenas um “bom” mostrador de brinquedos. constante, da reflexão sobre a prática e
E como tal, me proponho o desafio, prazeroso principalmente da indignação com formas
A MAGIA DAS OFICINAS
AS OFICINAS DO ESPORTE, A CARAVANA E A MAGIA!
Prof. Bruno Gonçalves
12
Terceiro passo: - Quando as crianças
chegarem, finja que está dando os últimos
reparos. Fique de costas para elas e deixe que
te observem, não diga nada. Elas já te viram
de longe, estão imaginado e se perguntando,
o que será que você tanto faz, e por que está
tão desatento(a), afinal, elas estão chegando,
e em GRANDE número.
Após essa pequena encenação, sente-se para
fazer a roda de conversa, tranquilamente. A equivocadas“magia” vai logo se manifestar. Observe... as que eu faria com as tampinhas de garrafas. crianças vão sentar, e sem você pedir. Você os
cumprimenta cordialmente, sem pressa, pois Pois bem, vou falar da arena, que é onde uma assim você estará ditando o ritmo da aula, e parte da “magia” das Oficinas do Esporte indo na contra-mão deles, pois a curiosidade acontece, a outra parte, deixo para a próxima já esta pronta para entrar em ação, e algo edição. fantástico vai acontecer. Dê um sorriso, e
conte até três.Primeiro passo da “magia”: - Monte um
cenário. Um cenário bonito e organizado. - O que será que tem naquela caixa? - O que Distribua, ou melhor, exponha os materiais e vamos fazer aqui? - Nem tem gol? - Vixi! Olha os brinquedos da melhor forma possível, o tanto de cabo de vassoura! - Cadê o gol? como se você fosse vendê-los. Consiga caixas Você é atleta do quê? - O que vamos fazer ou alguns sacos grandes para colocar os seus nessa lona? Ah... é aqui que eu vi um negócio materiais e os decore. Na Caravana eu colorido bem grande de pano! – Vamos jogar disponho de uma “caixinha” de 1 metro de a bola naquele pano grande, é? – O professor, largura, por 1 de comprimento, que pesa uns o que tem naquela caixa? – Nos vamos jogar 95 kg cheia, ela é toda pintada, muito bonita, futebol?e fácil de carregar! – Que o digam, meus companheiros de caravana. Alias, muito Percebe? - Já começou! As crianças já estão obrigado a todos!querendo aprender. Isso é o principal, pois é
Segundo passo: - Deixe os materiais, meio
escondidos, principalmente os brinquedos
mais conhecidos, como por exemplo: bolas,
bambolês, cones, latas, etc. Utilize sacos
coloridos, e guarde as tampinhas e as bolas
de meia, de forma que ninguém possa saber
o que tem dentro. Deixe os cabos de vassoura
juntos e visíveis.
de ensinar. Sem isso, sabe lá o
13
chato aprender sem vontade. As crianças perceber o outro, de mudar sua forma de
querem saber, e por quererem saber, pensar, de solucionar problemas, de conviver
perguntam, e quando as respostas não são e cooperar.
suficientes, elas querem mexer, querem por
as mãos onde os seus olhos já colocaram. Quinto passo: - é aquele em que você, os
ajuda a perceber..., a tomarem consciência
Quarto passo: - é mostrar os brinquedos de do que estão aprendendo. Nesse momento é
forma entusiasmada e desafiadora, pois você quem faz as perguntas. Então capriche!
aquelas tampinhas, não são tampinhas
comuns, aquelas bolas de meia, aquelas Esses são os passos que utilizo para realizar a
cordas, e cabos de vassoura não são comuns. “magia” das Oficinas do Esporte na Caravana.
São brinquedos “banhados” em uma A “magia” de educar através do jogo e do
metodologia que a cada dia se fortalece. São esporte, mesmo com vento forte, terreno
brinquedos capazes de mobilizar seus ruim, frio, ou debaixo de um sol escaldante,
músculos, seu intelecto, sua imaginação, onde a temperatura ultrapassa com
sentidos, vontades, sua capacidade de facilidade 45°C, ainda assim ela acontece.
“Magia” que têm por princípio, garantir
direitos, - e como diz o Ale, “Se é direito,
dever ser assegurado”. Dessa “magia”, nós,
NÃO abrimos mão.
Eu convido você a realizar a “magia” das
Oficinas do Esporte em sua escola, venha ser
um bom mostrador(a) de brinquedos.
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ATAQUE DEFESA
“Batalha do Futebol: Ataque contra Defesa”
Onde surgiu o jogo?
O Jogo “Batalha do Futebol” foi construído
nas aulas de futebol do núcleo Délio de
Carvalho, durante o desenvolvimento de uma
U n i d a d e D i d át i ca co m o fo co n a
aprendizagem dos gestos específicos da
modalidade.
Qual a história do jogo?
O jogo é novo, ele foi criado recentemente
pelos alunos do Núcleo. Durante as aulas
tínhamos como desafio praticar e aprender
os gestos específicos do futebol, também
chamados de fundamentos, de uma forma
mais motivante e prazerosa, para além do
simples “treinamento” e execução de
exercícios. Neste Jogo, que chamamos de
“Batalha do Futebol”, conseguimos realizar o
drible, o passe, a condução e a finalização de
forma mais integrada e com uma
participação mais efetiva e ativa dos alunos.
Qual o material necessário para jogar?
Para a realização do jogo são necessárias
bolas variadas, com pesos e tamanhos
diferentes. O número de bolas depende do
número de jogadores em cada equipe. As
bolas são utilizadas, na versão inicial, para
que os jogadores possam “cumprir” as
funções de ataque. Para a defesa usamos
cones ou garrafas pet e os coletes servem
para diferenciar os times.
Como o jogo acontece?
Dividimos duas equipes, com o mesmo
número de jogadores, nas funções de ataque
e defesa. A equipe da defesa terá cones
(espalhados em qualquer espaço do campo)
e a equipe do ataque usará as bolas. Função
das equipes: Ao sinal do professor, a defesa
deverá proteger seu cône, tentar roubar a
bola do adversário e chutar ao gol. Ao mesmo
tempo, a equipe que estiver no ataque,
deverá chutar as bolas com objetivo de
derrubar os cones. A cada gol efetivado ou a
cada cône derrubado conta-se um ponto para
a equipe. Antes da prática o professor
combina o tempo de duração de cada
período. Ao término de cada período, os
jogadores invertem as posições de jogo.
Quando as duas equipes passarem pelas
posições de ataque e defesa todos devem
15
JOGO 10 Prof. Fabrício de Souza
Crianças de 6 à 10 anos
“Batalha do Futebol: Ataque contra Defesa”
contar o número de gols realizados e quantos
cones derrubaram. O vencedor será aquela
equipe que fizer o maior número de pontos
(gols e cones derrubados).
Qual a relação do jogo com o esporte?
A “Batalha do Futebol” pode ser considerado
um Jogo Pré-desportivo da modalidade.
Como no jogo oficial, ele estimula a
aprendizagem e o aperfeiçoamento das
habilidades motoras específicas e também
algumas noções e estratégias de ataque e
defesa.
O que se aprende nesse jogo?
Na dimensão da motricidade este jogo
contribui para a melhora das habilidades
motoras relacionadas com o futebol (drible,
passe, condução e finalização). Os alunos
também aprendem mais do que o esporte
quando resolvem conflitos, constroem
coletivamente as regras, discutem e fazem
acordos sobre as estratégias de ataque e
defesa. O “Batalha do Futebol” também é um
bom jogo para aprender sobre o respeito à
diversidades e às diferenças de habilidades
de cada jogador.
NOSSA PRÁTICA
A Terceira edição do Cordel Pedagógico reuniu cinco bons projetos
didáticos, que demonstram a essência das Oficinas do Esporte, o
“Jogar para Aprender”. Confira!
A Terceira edição do Cordel Pedagógico reuniu cinco bons projetos
didáticos, que demonstram a essência das Oficinas do Esporte, o
“Jogar para Aprender”. Confira!
16
NP
O que foi feito e com que objetivo? esportes a serem estudados. Estipulamos que
O trabalho, em linhas gerais, teve como os alunos com melhor comportamento nas
objetivos desenvolver as habilidades sócio- aulas teriam a oportunidade de escolher os
afetivas e ampliar o universo cultural esportivo esportes a serem estudados. Para isso
dos alunos. Durante o projeto as crianças foram pensamos na confecção de um “dinheiro
convidadas a participar mais ativamente das virtual” que seria utilizado por todos para a
aulas, principalmente na escolha e na seleção “compra” dos esportes. Alunos com as atitudes
dos esportes a serem estudados. A idéia era mais positivas teriam mais “dinheiro” para
ensinar algumas habilidades relacionadas com comprar no mercado dos esportes, suas
atividades preferidas. No início conversamos
com o grupo sobre como surgiu o dinheiro, qual
a sua função e como são feitos. A seguir
mapeamos e selecionamos os esportes que as
crianças gostariam de praticar. Utilizamos
revistas e jornais para a construção de um
painel dos esportes que seriam vendidos no
mercado dos esportes. Tintas de tecido,
cartolinas, cabos de vassoura e outros materiais
foram utilizados para construção do “dinheiro”.
Para a aquisição do dinheiro definimos algumas
regras: fazer a aula sem falar “palavrão”, realizar o trabalho em grupo, com a convivência entre
jogos com a participação de todos, chegar no os meninos e as meninas e com a consciência e
horário, realizar as pesquisas sobre os esportes, a importância das regras. Tudo isso sempre
etc. Assim que os alunos conseguiam o dinheiro relacionado com o aprendizado dos esportes, já
compravam o tema/esporte da próxima aula ou que a sua prática demanda a capacidade e a
os materiais esportivos que se encontravam no disponibilidade de todos para jogar de acordo
mercado construído com caixas, bolas, redes, com regras comuns e unificadas.
cones, raquetes, tecidos, papel, garrafas,
tampinhas, etc. Além de utilizamos todo este Como foi feito?
material, os alunos e seus amigos emprestaram Para motivar os alunos construímos uma
equipamentos como saco de boxe, berimbau e brincadeira que chamamos de “Jogando para
cama elástica. Toda esta variedade de material Valer”. Definimos, em conjunto com os alunos,
contribuiu para que pudéssemos estudar e algumas regras para a participação nas aulas e
praticar esportes ainda não conhecidos pelas relacionamos as mesmas com os jogos e os
Momento da compra dos Esportes
1 PÓLO ZONA LESTE - NÚCLEO C.E.U. PARQUE VEREDAS
Alunos: 08 a 12 anos - Período de realização: 3 meses - Professores: Douglas Eduardo e Janaina Lima
“Jogando para Valer”
PÓLO ZONA LESTE - NÚCLEO C.E.U. PARQUE VEREDAS
“Jogando para Valer”
17
crianças. Nos três meses de duração do projeto comportamento e nas suas atitudes. Eles
conseguimos estudar esportes tradicionais passaram a valorizar as aulas de esporte como
como o futebol, o vôlei, a natação e o basquete um espaço de inclusão e participação de todos.
e também esportes não convencionais como o A responsabilidade para com as questões de
boxe, a capoeira, o frisbee, o futebol americano horários, de palavrões e de exclusões durante
e o beisebol. os jogos melhorou muito. Hoje em dia as aulas
são menos diretivas e as crianças participam
Por que deu certo? mais ativamente da estruturação das
Um aspecto importante para o sucesso do atividades. Elas transportam os materiais,
projeto foi a interação dos professores com os organizam o “campo” de jogo, distribuem
alunos durante as aulas. Conseguimos, a cada melhor os materiais e as funções e monitoram
dia de trabalho, construir coletivamente as de forma mais independente o andamento dos
propostas e isso motivou os alunos na jogos e demais atividades. Finalizamos o
participação e no comprometimento com as projeto com os alunos mais tranqüilos e mais
tarefas. A brincadeira “Jogando para Valer”, que disponíveis para aprender novos esportes.
incluiu a confecção do dinheiro e a montagem Prova disso é que agora esportes como o
do mercado dos esportes, mobilizou as crianças frisbee, o beisebol e o futebol americano estão
para um cuidado e uma atenção maior com as entre os preferidos da turma. 75 % dos
questões atitudinais. Percebemos os meninos e esportes mapeados no início do projeto foram
as meninas mais atentos em relação ao respeito estudados e concluídos. Os alunos puderam
às diferenças e individualidades. No início valorizar mais as suas conquistas e hoje
tínhamos a preocupação de que as regras p e r c e b e m - s e m a i s p r o t a g o n i s t a s e
fossem cumpridas apenas para que os alunos p a r t i c i p a n t e s d o s e u p r o c e s s o d e
pudessem ter o dinheiro para comprar os aprendizagem.
esportes, mas com o passar do tempo
identificamos as crianças mais conscientes e O que nós aprendemos?
esclarecidas quanto à regra como um fator que Aprendemos que é possível desenvolver uma
normatiza e permite a vida em grupo. prática mais dialogada com os alunos. Desta
forma seus interesses e suas necessidades são
A variedade de material também ajudou muito. respeitados e nós conseguimos realmente
C o n s e g u i m o s a d a p t a r e c o n s t r u i r fidelizar as crianças no projeto. Aprendemos
equipamentos que deram condições aos alunos que o professor deve ser um facilitador para as
de praticar esportes até então não conhecidos. aprendizagens dos alunos, cativando-os e
Por exemplo, o futebol americano foi praticado motivando-os para as conquistas e os avanços.
com a bola de futebol, o frisbee com diversos O segredo é não dar a resposta e sim fazer as
tipos de tampas de latas, o beisebol com cabos boas perguntas. Assim, o aluno passa a ser parte
de vassoura, etc. Foi interessante perceber que integrante do processo e se compromete muito
os alunos estão cada vez mais valorizando as mais com a sua aprendizagem.
aulas como um espaço de convivência, onde é
possível “jogar” e estar junto.
Qual a diferença que o trabalho fez?
Os a lunos evo lu í ram mui to no seu
18
“O segredo é não dar a resposta e
sim fazer as boas perguntas.”
“O segredo é não dar a resposta e
sim fazer as boas perguntas.”
Alunos: 10 a 14 anos - Período de realização: 2 meses - Professores: Tatiane Maciel, Renato Santos,
Jéssica Guimarães e Janaína Rodrigues.
2 PÓLO ZONA LESTE - NÚCLEO CARLOS PASQUALEPÓLO ZONA LESTE - NÚCLEO CARLOS PASQUALE
O que foi feito e com quais objetivos?
Quando se fala em artes marciais logo nos
vêm à cabeça algumas palavras como
treinamento, competição, lutas, brigas, etc.
Este projeto foi realizado com o intuito de
mostrar que podemos sim, ensinar artes
marciais por meio de jogos e brincadeiras,
sem que o foco seja o rendimento ou o vencer
a qualquer custo. Nosso objetivo, com a
prática inicial e básica do Taekwondo, era que
os alunos incorporassem atitudes de respeito
e valorizassem a luta como uma prática que
favorece a construção de amizades e do bom
convívio entre as pessoas.
Como foi feito?
O projeto teve origem em uma avaliação
diagnóstica realizada no início do ano onde os
alunos puderam falar sobre as modalidades
esportivas que gostariam de aprender. As
Lutas foram apontadas como a modalidade
favorita. Neste trabalho inicialmente nos
deparamos com o desafio de integrar os
meninos e as meninas durante as aulas, mais
precisamente no aprendizado e na prática
das lutas. Aproveitamos a oportunidade para
discutir as questões de gênero e esclarecer
que as meninas podem e devem praticar
artes marciais, assim como qualquer outro
esporte. Em seguida foi decidido com os
alunos a modalidade de artes marciais (lutas)
a ser aprendida durante este projeto.
Chegamos, após algum tempo de discussão,
ao Taekwondo. Foi observada, neste
momento pelos professores, a necessidade
de uma orientação aos alunos sobre as artes
marciais como uma prática que não tem nada
a ver com “pancadaria”. Trabalhamos com os
meninos e as meninas que para ser um bom
praticante de qualquer luta é necessário
entender sua filosofia, refletir e criticar com
bom senso, ter disciplina, ordem, rotina,
normas e regras. Na 2ª etapa, para o
desenvolvimento dos jogos de lutas
utilizamos os mais diversos materiais
(bexigas, barbantes, cordas, bambolês, tnt,
pregadores de roupas, giz e cones). Os jogos
foram realizados de diferentes formas e
envolveram os gestos específicos da
modalidade como os chutes, os socos e as
formas de ataque e defesa, etc. No início e no
“Sabedoria das Artes Marciais”“Sabedoria das Artes Marciais”
19
Preparação para pega pega “step”
término das aulas, durante as rodas de
conversa, discutíamos sobre as variáveis dos
jogos propostos, os conteúdos que os jogos
envolviam e as atitudes necessárias para o
seu desenvolvimento. As idéias dos alunos
eram anotadas e colocadas em práticas nas
aulas posteriores. Na fase final fizemos uma
avaliação das principais aprendizagens
adquiridas nas aulas e realizamos um festival
de Taekwondo com os principais jogos
construídos pelos alunos.
Por que deu certo?
Os jogos com diferentes formatos, materiais e
variações ajudaram muito na execução do
projeto. Trabalhar com a luta na forma de
jogos favoreceu a participação dos alunos e
os motivou a praticar a modalidade
escolhida. As rodas de conversa em grandes e
pequenos grupos, os bons questionamentos,
as possibilidades de criar e participar
ativamente da construção dos jogos foram
pontos chaves para o sucesso deste trabalho.
Isso aumentou o comprometimento de todos
e diminuiu as tensões existentes entre os
meninos e as meninas. O apoio da
coordenação e direção da escola foi
importante, pois nos deu segurança para
trabalhar com um tema que normalmente
não faz parte das aulas de educação física na
escola.
Qual é a diferença que o trabalho fez?
Pela primeira vez na escola os alunos tiveram
contato com as lutas. Eles aprenderam que é
possível tematizar esta modalidade dentro da
escola e que os meninos e as meninas podem,
juntos, participar de uma aula legal e
motivante dentro da temática artes marciais.
Os alunos aprenderam também a socializar
seus conhecimentos e a trocar suas
experiências, cada um do seu jeito e com as
suas limitações. Percebemos os estudantes
mais participativos, tomando a iniciativa de
ajudar na organização e no encaminhamento
das atividades. Após as aulas do projeto,
avaliamos que os alunos mudaram muito sua
postura. Eles passaram a ter atitudes mais
positivas e respeitosas nas demais oficinas e
se tornaram referências de boas atitudes.
Eles também fizeram mais amizades, alguns
perderam a timidez e outros se mostraram
mais criativos. Foi muito bom ver que alguns
alunos sentiram-se mais úteis por poder
ajudar e passaram a manifestar sua opinião
sem ser menosprezados pelos demais
colegas.
O que nós aprendemos?
Aprendemos que para ensinar não é preciso
“impor” as atividades. Basta prestar mais
atenção nos alunos e nas experiências que
eles trazem consigo. Explorar o lado criativo
dos alunos fez com que as aulas fluíssem de
forma mais divertida e natural. Aprendemos
que aluno motivado é aluno presente.
20
Aprendemos que para ensinar... Basta
prestar mais atenção nos alunos e nas
experiências que eles trazem consigo.
Aprendemos que para ensinar... Basta
prestar mais atenção nos alunos e nas
experiências que eles trazem consigo.
3 PÓLO O.S. DO ESPORTE – ZONA LESTE - NÚCLEO DANÚBIO
O que foi feito e com quais objetivos?
Partimos da seguinte pergunta para iniciar esta
unidade didática: Será que as crianças sabem a
diferença entre Luta e Briga?. Partindo do
pressuposto de que luta é “arte” e “equilíbrio” e
que não tem nada a ver com briga,
desenvolvemos este projeto com o objetivo de
que os pequenos aprendessem mais sobre
respeito, convivência, consciência corporal e
ampliação cultural.
Como foi feito?
Partimos inicialmente de uma avaliação
diagnóstica realizada nas rodas de conversa.
Através das perguntas: Qual a modalidade de
lutas que vocês conhecem? Vocês conhecem
pessoas (familiares ou amigos) que praticam
alguma luta? Qual a diferença entre lutar e
brigar? detectamos o conhecimento que as
crianças tinham sobre o assunto. Nesta etapa,
através das respostas dos alunos, percebemos
que eles tinham algum conhecimento sobre as
modalidades de lutas conhecidas como judô,
kung fu, capoeira e o sumô. Apresentamos
algumas fotos, assistimos a um vídeo infantil
sobre lutas e resolvemos explorar mais estas
modalidades. Organizamos então uma
seqüência de aulas com este objetivo. Através
de jogos e brincadeiras com materiais como
colchonetes, bambolês, fitas, pregador e lona,
as crianças tiveram acesso aos fundamentos a à
história das modalidades escolhidas.
Convidamos professores colegas, especialistas
em algumas modalidades, para ajudar na
apresentação das lutas e na condução das
práticas. Nas aulas de capoeira a professora
Mafalda trouxe um pouco da história da
modalidade e ensinou como tocar os
instrumentos. As crianças aprenderam a fazer a
roda e a executar alguns dos gestos específicos
da capoeira. Nas aulas de judô, com a ajuda do
professor Alex, os alunos aprenderam sobre os
costumes e os principais posicionamentos da
modalidade. Nas aulas de sumô e kung fu
utilizamos um pequeno espaço forrado com
lonas e colchonetes. Trabalhos em pequenos
grupos, basicamente em duplas, com
brincadeiras como pega-pega rabinho, luta do
saci, cai não cai e empurra-empurra ajudaram
para que as crianças aprendessem um pouco
mais sobre as modalidades. A cada modalidade
de lutas estudada fomos sugerindo desafios,
incentivando assim novas aprendizagens nas
dimensões do saber e do fazer. Durante as
práticas sempre trabalhamos com os valores
das lutas que sugerem o respeito ao próximo, a
PÓLO O.S. DO ESPORTE – ZONA LESTE - NÚCLEO DANÚBIO
Alunos: 3 a 7 anos - Período de realização: 4 meses - Professores: Thayane e Mizael
“Lutas para as crianças”“Lutas para as crianças”
21
manutenção da integridade física e a postura do
lutador frente ao seu oponente. Finalizamos os
projeto com uma apresentação aos colegas das
outras turmas, onde as crianças puderam
mostrar as aprendizagens adquiridas durante as
aulas.
Por que deu certo?
O ensino das lutas através de jogos e
brincadeiras foi uma estratégia muito acertada.
As crianças eram pequenas e o grupo bastante
heterogêneo, o que demandou muita atenção
por parte dos professores. A possibilidade de
utilizarmos um material adequado (lona e
colchões) ajudou na segurança das crianças.
Elas não demonstraram “medo” e participaram
ativamente das propostas.
A participação dos professores Mafalda e Alex,
especialistas em lutas, ajudou na condução das
atividades. Eles trouxeram atividades,
equipamentos e materiais que motivaram os
pequenos a aprender mais sobre as
modalidades estudadas e nós, os professores,
nos sentimos mais “seguros” para desenvolver
as propostas.
Qual a diferença que o trabalho fez?
O trabalho contribuiu para que as crianças
ampliassem seu conhecimento sobre as
diferentes modalidades de lutas. Além disso,
eles entenderam a diferença entre o lutar e o
brigar. Todos sabem e verbal izam a
compreensão da luta como uma prática
corporal que se caracteriza pela existência de
regras e pela necessidade de respeito ao
próximo. Foi interessante perceber as crianças
incorporando a rotina e os costumes das
diferentes lutas. Elas aprenderam que cada luta
tem a sua forma de saudação e cumprimento,
os seus equipamentos específicos, as suas
regras e a sua “cultura”. Finalizamos o projeto
com os alunos mais “críticos” sobre as
modalidades e os desenhos que passam na
televisão sobre a temática. Eles são
“pequenos”, mas já sabem que a luta, como
todo o esporte, deve servir para que as pessoas
vivam e convivam de forma amigável e pacífica.
O que nós aprendemos?
Esta foi a primeira vez que desenvolvemos um
projeto na temática lutas. Temos muito que
aprender, mas ficamos felizes com os
resultados. Aprendemos que é possível ensinar
lutas para os pequenos, desde que as devidas
adaptações sejam feitas. Foi muito bom trazer
os colegas especialistas para nos ajudar.
Aprendemos muito com eles e estamos
dispostos a continuar estudando sobre o
assunto. Aliás, este foi o nosso maior
aprendizado... Trabalhar e desenvolver projetos
com temas não muito conhecidos exige do
professor estudo e aprofundamento.
Aprendemos assim o real sentido do conceito
do professor como pesquisador.
“...desenvolver projetos com temas não
muito conhecidos exigem do professor
estudo e aprofundamento.”
“...desenvolver projetos com temas não
muito conhecidos exigem do professor
estudo e aprofundamento.”
22
Alunos: 9 e 10 anos - Período de Realização: 2 meses - Professor: Allan Aparecido
4 PÓLO HELIÓPOLIS - NÚCLEO CAMPOS SALLESPÓLO HELIÓPOLIS - NÚCLEO CAMPOS SALLES
“Conhecimento do Corpo”
O que foi feito e com quais Objetivos?
Após um mapeamento identificamos que os
nossos alunos conheciam pouco sobre o seu
próprio corpo e as suas possibilidades de
exploração e utilização. Pensamos assim em
desenvolver uma seqüência didática com o
objetivo de ensinar as crianças a identificar os
diferentes segmentos corporais. A idéia era
fazer com que os alunos aumentassem a sua
consciência sobre o corpo, principalmente
durante a realização dos esportes e dos jogos.
A nossa hipótese era a de que, com este
trabalho, as crianças aprendessem mais
sobre seus potenciais e seus limites na prática
das atividades propostas nas aulas.
Como foi feito?
Na primeira etapa do trabalho fizemos uma
avaliação dos conhecimentos prévios sobre o
conteúdo principal da unidade. Investigamos
o que as crianças sabiam “sobre” os
segmentos do corpo e quais as possibilidades
de movimentação de cada uma das suas
“partes” (Cabeça, Pescoço, Ombros, Braços,
Cotovelos, Mãos, Tronco, Cintura, Coxas,
Joelhos, Tornozelos e Pés). Para isso os alunos
utilizaram um mapa ilustrado. Um a um eles
foram convidados a identificar e nomear, no
mapa, cada parte do corpo que conheciam e
sabiam utilizar nos diferentes jogos e
brincadeiras. Na segunda fase os alunos
desenvolveram ações esportivas e, ao fim de
cada jogo, foram incentivados a levantar e a
nomear os segmentos corporais mais
utilizados nas modalidades ou nos jogos
vivenciados. Alguns destes jogos foram
retirados do Guia da Prática Pedagógica das
Oficinas do Esporte. Os jogos Mapa do corpo,
feito de tampinhas de garrafas pet, e o Jogo
do Robô foram os mais trabalhados e
ajudaram muito para que as crianças
evoluíssem na aquisição de uma maior e
melhor consciência sobre o corpo. Na etapa
seguinte assistimos a um vídeo que “falava”
sobre os membros e os segmentos do corpo
humano, além da sua estrutura óssea e
muscular. Fizemos também uma parceria
com a professora da sala de informática e os
alunos puderam brincar com jogos
interativos sobre o corpo humano. Esta
atividade foi muito interessante. As crianças
gostaram muito de utilizar os computadores
e aprenderam ainda mais sobre o corpo
humano e suas poss ib i l idades de
movimentação e interação com o meio. Na
“Conhecimento do Corpo”
23
última fase do projeto retomamos a atividade
diagnóstica feita com o mapa ilustrado e
realizamos uma avaliação final para
sabermos qual era o conhecimento atual
destes alunos após todo o processo de
aprendizado desta unidade.
Por que deu Certo?
As estratégias utilizadas durante as aulas
foram bastante eficientes. O mapa ilustrado
do corpo humano, as brincadeiras do guia da
prática pedagógica, os registros, os desenhos
e a atividade realizada na sala de informática
contribuíram muito para o sucesso do
projeto. Estas atividades motivaram as
crianças e elas se envolveram bastante com
as propostas. A parceria realizada no núcleo
com as professoras polivalentes para a
utilização da sala de informática o do material
de ciências foi fundamental. A participação
dos monitores também ajudou muito.
Conseguimos dar uma atenção mais
“ indiv idual izada” para as cr ianças,
principalmente aos alunos que apresentaram
alguma dificuldade de aprendizagem do
conteúdo programado. O projeto deu certo
porque as expectativas de aprendizagem
foram alcançadas e os resultados revelaram
crianças mais espertas e conscientes sobre o
seu “corpo”.
Qual a diferença que o trabalho Fez?
Após o trabalho realizado percebemos uma
evolução na capacidade dos meninos e das
meninas em controlar e coordenar seus
movimentos corporais dentro dos jogos e das
brincadeiras. As crianças ampliaram seu
conhecimento corporal e passaram a nomear
e a dizer corretamente os nomes dos
segmentos utilizados em cada uma das
atividades propostas. Na atividade de
identificação das partes do corpo no mapa
ilustrado, realizada ao final do projeto,
percebemos que todos os alunos evoluíram
na aprendizagem e no conhecimento sobre o
seu corpo. O Jogo Mapa do Corpo pode
ilustrar a evolução das crianças no conteúdo
estudado. Ao longo da seqüência didática, a
cada vez que brincávamos com este jogo, os
“mapas” construídos eram mais detalhados e
completos. Os meninos e as meninas ficaram
mais “exigentes” na brincadeira, desde a
qualidade do “desenho” até a sua forma e o
seu conteúdo.
O que nós aprendemos?
Nós, os professores, aprendemos que uma
educação que se diz integrada precisa
va lor izar a l inguagem corpora l . O
depoimento das professoras “da sala” foi
muito importante. Elas passaram a valorizar
mais o trabalho das Oficinas do Esporte e
incorporaram na sua rotina atividades que
“falam” sobre o corpo e o movimento.
Aprendemos que a parceria é fundamental
para o êxito do trabalho. Para isso é
necessário que o professor de educação física
“saia” da quadra e procure pelos colegas. Eles
têm como nos ajudar, principalmente na
utilização dos recursos didáticos existente
nos núcleos (escolas).
24
5“Jogos da Família”
PÓLO O.S. DO ESPORTE – ZONA LESTE - NÚCLEO DÉLIO DE CARVALHOPÓLO O.S. DO ESPORTE – ZONA LESTE - NÚCLEO DÉLIO DE CARVALHO
Alunos: 3 a 6 anos - Período de realização: 4 meses - Professores: Jefferson e Mafalda
O que foi feito e com que objetivo?
Entendemos o jogo como um fenômeno
c u l t u r a l q u e e s t á e m c o n s t a n t e
transformação. Alguns dos jogos praticados
pelas crianças nos dias de hoje não são os
mesmos praticados no passado, ou seja, os
jogos, ao longo do tempo, ganham novas
formas e configurações. No nosso núcleo
temos um currículo que, na área cultural,
propõe a transmissão às gerações atuais dos
conhecimentos que foram construídos
socialmente. Por que então não desenvolver
um projeto sobre os jogos e os esportes mais
praticados pelos seus familiares em tempos
"passados"? O objetivo principal deste
trabalho era ensinar aos pequenos que os
jogos não nascem do nada. Eles são
construções sociais e culturais que fazem
parte da história e da evolução de um povo.
Como foi feito?
Iniciamos o trabalho solicitando aos alunos
que fizessem um mapeamento dos jogos
mais praticados pela sua família. Para
contemplar a todos não restringimos apenas
aos pais e mães. A partir do mapeamento
construímos um portfólio com todas as
informações enviadas. Textos, desenhos,
fotos e depoimentos foram organizados e
levados para as rodas de conversa. Nas rodas
utilizamos o mapeamento com os alunos,
fizemos perguntas (De quem é este jogo?
“Jogos da Família”
25
“...os jogos não nascem do nada. Eles são construções sociais e culturais que
fazem parte da história e da evolução de um povo.”
“...os jogos não nascem do nada. Eles são construções sociais e culturais que
fazem parte da história e da evolução de um povo.”
Quem conhece? Quem da sua família
praticava este jogo? Quem sabe como joga?
Que material podemos utilizar neste jogo?) e
selecionamos os jogos que foram estudados
e aprendidos. Durante as aulas, conforme
estudávamos cada jogo, estabelecíamos
relações com os esportes, suas regras, sua
estrutura e o seu funcionamento. As práticas
foram realizadas em grandes e pequenos
grupos, trios, duplas e individualmente. As
brincadeiras com bola foram as mais
praticadas. Brincamos na quadra, no campo e
com bolas de diferentes pesos, tamanhos,
cores e texturas. Jogamos boliche, bola ao
cesto, limpa casa e futebol. A corda também
foi um brinquedo bastante explorado. Com a
corda brincamos de pular, de correr e saltar,
passar por baixo, etc. Brincadeiras como
zerinho, aumenta-aumenta e chicotinho
queimado estiveram presentes nas aulas.
Alguns avós e pais das crianças estiveram
presentes em algumas aulas e ensinaram
como eram as suas brincadeiras com bola e
com corda no tempo de crianças. Algumas
brincadeiras, já com traços dos esportes,
foram ensinadas e aprendidas. Jogamos
peteca, tênis, taco e capoeira. Nestas
vivências as crianças conseguiram ver nas
brincadeiras a presença do esporte, muitas
vezes praticados pelos adultos.
Durante as aulas os meninos e as meninas
tiveram a oportunidade de brincar muito e,
mais do que isso, puderam perceber que
"brincar" não é só atividade de criança. Elas
acharam muito interessante quando alguns
pais disseram que quando crianças também
brincavam muito com a bola e com
a corda. Mesmo sem ter a
dimensão do tempo dos adultos,
os alunos puderam viver concretamente a
idéia do brincar como uma necessidade e um
direito de todas as idades.
Por que deu certo?
O mapeamento foi de suma importância para
que pudéssemos organizar e sistematizar as
etapas do trabalho. A partir do diagnóstico
conseguimos dimensionar melhor o tempo e
as aulas que seriam necessárias para dar
conta das nossas expectativas. O contato com
os pais motivou muito os alunos para o
trabalho. Elas não imaginavam que seus pais
e seus avós um dia também foram crianças.
Através do portfólio, elaborado com as
figuras esportivas e os desenhos de jogos e
brincadeiras, possibilitamos que as crianças
ampliassem seu conhecimento sobre os
jogos e os esportes. A parceria estabelecida
com as famílias foi o ponto "forte" do projeto.
Esta estratégia deu muito certo e fez com que
as crianças realizassem as práticas motivadas
para aprender e ensinar uns aos outros. O
diário de bordo, principal instrumento de
registro utilizado durante as aulas, contribuiu
para a nossa reflexão sobre o andamento das
"coisas" e permitiu que fizéssemos os ajustes
e as regulações necessárias para o bom
26
andamento das aulas. Este instrumento
ajudou muito para que pudéssemos olhar
para os avanços e as dif iculdades
e n c o n t r a d a s a o d e c o r r e r d o
desenvolvimento do projeto.
Qual a diferença que o trabalho fez?
O envolvimento dos alunos e dos seus
responsáveis foi fundamental neste trabalho.
O projeto estreitou os laços entre os
professores e a comunidade. Os pais e os avós
passaram a ter mais clareza da seriedade e da
dedicação de todos que trabalham no
programa. Já as crianças ampliaram muito a
sua visão sobre os jogos e os esportes. Além
de terem seu repertório de jogos aumentado,
tiveram a oportunidade de aprender sobre
este fenômeno cultural como algo que
evoluiu e evolui através dos tempos. É
interessante observar que as brincadeiras
estudadas e aprendidas durante este projeto
passaram a fazer parte da rotina das crianças
no núcleo. É muito comum, nas horas livres e
nos momentos que antecedem ou sucedem
as aulas, vermos as crianças pulando corda,
brincando de aumenta-aumenta, jogando
futebol ou capoeira. É muito bom ver que as
crianças estão brincando bastante e que
umas ensinam para as outras novos jogos e
esportes.
O que nós aprendemos?
Aprendemos sobre a importância de
sistematizar o trabalho desenvolvido.
Conseguimos colocar em prática as etapas de
antecipação, observação e regulação do
planejamento. Apuramos nosso senso de
observação e, com um olhar diferenciado,
pudemos refletir e fazer as intervenções
necessárias para que o projeto pudesse dar
c e r to . L e va r e m c o n s i d e ra ç ã o o s
conhecimentos prévios das crianças e as
experiências da própria família nos ajudou
também a dar os "passos" certos em todas as
etapas do projeto. Aprendemos que
podemos aprender uns com os outros e
também a valorizar a parceria do núcleo com
as famílias. Isso ajuda na fidelização das
crianças e solidifica a programa junto à
comunidade.
O que nós aprendemos?
Aprendemos sobre a importância de
sistematizar o trabalho desenvolvido.
Conseguimos colocar em prática as etapas de
antecipação, observação e regulação do
planejamento. Apuramos nosso senso de
observação e, com um olhar diferenciado,
pudemos refletir e fazer as intervenções
necessárias para que o projeto pudesse dar
c e r to . L e va r e m c o n s i d e ra ç ã o o s
conhecimentos prévios das crianças e as
experiências da própria família nos ajudou
também a dar os "passos" certos em todas as
etapas do projeto. Aprendemos que
podemos aprender uns com os outros e
também a valorizar a parceria do núcleo com
as famílias. Isso ajuda na fidelização das
crianças e solidifica a programa junto à
comunidade.
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Nós costumamos dizer que nas Oficinas do melhor percepção do próprio corpo, enfim,
Esporte as crianças Jogam para Aprender, pode ampliar suas chances de dar significado
mas aprender o que? Nas aulas das oficinas, a às coisas do mundo em que vive”.
brincadeira é o principal conteúdo, ou
melhor, o tema gerador de uma pedagogia Na dimensão social e moral, foco deste texto,
que pretende ser forte no ensino de a intenção das oficinas é envolver os alunos
conhecimentos relativos às questões em br incadeiras que favoreçam o
intelectuais, motoras, morais, sociais, desenvolvimento de atitudes cooperativas,
afetivas e estéticas. Isso quer dizer que os fruto das aprendizagens advindas dos
pequenos devem aprender sobre o esporte, diálogos, da construção coletiva de regras,
mas principalmente sobre a vida. das discussões e das tomadas de decisão.
N e s t e s e n t i d o n o s s o o l h a r e s t á
Como professores compromissados com o freqüentemente voltado para a possibilidade
presente e também com o futuro dos nossos de a criança evoluir da autocentração para
alunos acreditamos que é possível termos posturas cada vez mais descentradas, ou seja,
pessoas melhores, vivendo em um mundo para a capacidade de conviver e brincar em
melhor. Alguns fazem isso através da arte, grupo, junto com os amigos, de
outros através da música ou até mesmo da uma forma saudável e
dança. Nós queremos fazê-lo ensinando o harmônica.
esporte. Como diz o Prof. João Freire, “O
esporte nas oficinas é fim, mas também é Saber o que queremos
meio”. É fim porque, quando uma criança ensinar é importante,
vai a um local qualquer aprendê-lo, precisa mas fundamental, tanto
ser satisfeita quanto a isso. Porém, quanto o conteúdo, é o
também é meio, porquanto, quando o método, o jeito de fazer.
aprende, pode aprender também valores, Na educação das atitudes
pode fortalecer seu pensamento, pode o método das oficinas é
aprender a lidar melhor com suas emoções, recheado de algumas
pode desenvolver uma melhor apreciação orientações didáticas que
estética das coisas, pode desenvolver uma incluem ações como
PONTO FINAL“Quando um não quer, dois não brincam”“Quando um não quer, dois não brincam”
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Prof. Fabio D́ Angelo
as transitar do brinquedo individualizado para construir coletivamente, gerar interações e as brincadeiras em grandes grupos, com regras provocar o conflito. É brincando com as cordas, unificadas e comuns para todos. Sabendo o com as bolas, com as caixas, com as garrafas, momento certo de dar e/ou retirar o apoio com as latas e com as tampinhas que conseguimos gerar interações entre as crianças mobilizamos e convidamos as crianças a e, assim, respeitadas nas suas características e vencerem o seu egocentrismo. Se no início necessidades, elas vão aprendendo a diferença parece que o mundo gira no entorno do umbigo entre o “estar juntos” e o “brincar juntos”. A esta de cada uma delas, com o tempo ensinamos e, pedagogia damos o nome de “pedagogia da todas aprendem, a brincar juntas. Como isso é contradição”, um jeito de ensinar que possível? É só ter paciência e não dar “moleza” desencadeia a tomada de consciência e a aos pequenos. compreensão do quanto é “trabalhoso”, mas
também “prazeroso” brincar com os amigos.Estamos falando menos de uma pedagogia
diretiva e autoritária e mais de uma pedagogia Sabemos que a educação esportiva pode seguir que não aponta para aquilo que as crianças já muitos caminhos. Nossa opção foi escolher c o n h e c e m o u f a z e m , n e m p a r a aquele de ensinar para que as pessoas sejam comportamentos que já dominam, mas sim mais solidárias, mais responsáveis; para que para o que não se conhece, não se realiza ou saibam agir coletivamente. Para educar não se domina suficientemente. O segredo está atitudes e construir valores precisamos dar em provocar conflitos que levem os pequenos
“O esporte nas oficinas é fim,
mas também é meio”.
“O esporte nas oficinas é fim,
mas também é meio”.
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tempo ao tempo e criar espaços de ajuda mútua
e reciprocidade, onde as relações de troca entre
onseguimos associar a ação à reflexão, pois ao
falarem sobre o que foi “brincado”, as crianças
confrontam a prática com o pensar sobre este
fazer. Trazem para o plano da imaginação a
brincadeira em curso ou já terminada, e podem
vê-la na imaginação, isto é, olhando para
dentro. É assim que os pequenos aprendem a
“ver” e a entender o que aconteceu. A isso
damos o nome de tomada de consciência. Está é
uma estratégia que fortalece o pensamento das nome de tomada de consciência. Está é uma crianças e ajuda a integrar o fazer e o estratégia que fortalece o pensamento das compreender. Alguém mais desavisado pode crianças e ajuda a integrar o fazer e o dizer: basta então fazer roda de conversa que o compreender. Alguém mais desavisado pode problema da educação das atitudes está dizer: basta então fazer roda de conversa que o resolvido. É claro que não!!! Nós temos a problema da educação das atitudes está clareza de que a “roda” não vai resolver todos os resolvido. É claro que não!!! Nós temos a "problemas", mas ela é o "simbolo" de uma clareza de que a “roda” não vai resolver todos os educação comprometida com a construção da "problemas", mas ela é o "simbolo" de uma autonomia. Quando as crianças percebem seu educação comprometida com a construção da professor e seus colegas atentos e disponíveis autonomia. Quando as crianças percebem seu para ouví-los, elas se sentem mais seguras e professor e seus colegas atentos e disponíveis confiantes para "falar" sobre as "coisas" da aula, para ouví-los, elas se sentem mais seguras e sobre as dificuldades e as “pedras” que estão no confiantes para "falar" sobre as "coisas" da aula, caminho da boa convivência. Com o tempo, elas sobre as dificuldades e as “pedras” que estão no vão aprimorando a qualidade da sua "fala", com caminho da boa convivência. Com o tempo, elas argumentos mais sólidos e consistentes no vão aprimorando a qualidade da sua "fala", com sentido de fortalecer o grupo, sem esquecer, é argumentos mais sólidos e consistentes no lógico, das diferenças e das individualidades. sentido de fortalecer o grupo, sem esquecer, é as crianças e a construção coletiva sejam lógico, das diferenças e das individualidades. valorizadas. Nas oficinas as rodas de conversa,
que com freqüência acontecem durante as Este é um jeito de fazer educação que se apóia aulas, são os espaços privilegiados da na cooperação e não na coação. Vamos e construção coletiva. Nas rodas conseguimos venhamos, brincar em grupo ou praticar associar a ação à reflexão, pois ao falarem sobre esporte, de acordo com regras comuns e o que foi “brincado”, as crianças confrontam a unificadas, não é tarefa fácil. O desafio está prática com o pensar sobre este fazer. Trazem j u s t a m e n t e n a c o m p r e e n s ã o e n o para o plano da imaginação a brincadeira em entendimento, por parte de todos, que no curso ou já terminada, e podem vê-la na espaço da brincadeira em grupo vale o dito imaginação, isto é, olhando para dentro. É assim popular “QUANDO UM NÃO QUER, DOIS NÃO que os pequenos aprendem a “ver” e a BRINCAM”.entender o que aconteceu. A isso damos o
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Alan Leão, Alex, Alexandre Arena, Ana Mozer,
Bárbara Pivato, Bethania Brotto, Bianca Lima, Bruno Gonçalves, Caio Martins,
Carlinhos, Cibele Venáncio, Cibelle Regielle, Claudinei Quirino, Denise,
Douglas Eduardo, Everaldo Cortes, Fabiana, Fábio D´Angelo, Fabrício de Souza, Isabel,
Jefferson, João Batista Freire, Janaina Lima, Janaína Rodrigues, Jéssica Guimarães,
José Camelo, Leandro Moreira, Lívia Resende, Luiz Machado, Mafalda Marques,
Marcelo Jabu, Marilene Tavares, Marta, Mizael, Moreira de Acopiara, Renata Parente,
Renata, Renato Santos, Ricardo Pereira, Rodrigo Paiva, Romildes Lopes, Sergio Hortelan,
Tatiane Maciel, Thayane Santos, Tiago Baia, Vanessa Coutinho, Vanessa Pessoa,
Yara Letícia, ... aos coordenadores de pólo, estagiários, e a todos os alunos.
Allan Aparecido, Ângela Albertinni,