7/21/2019 Fotografia e compartilhamento on line: O olhar do cidadão durante os conflitos na Ucrânia através do Instagram.
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Centro Universitário Maurício de Nassau.
Pós-graduação em Fotografia Digital.
Lucíola Carla Correia da Silva¹
Fotografia e compartilhamento on line:
O olhar do cidadão durante os conflitos na Ucrânia através do Instagram.
Resumo: Este artigo integra o Trabalho de Conclusão do curso de Pós-Graduação
em Fotografia Digital do Centro Universitário Maurício de Nassau e tem comoobjetivo observar se existem indícios da reconfiguração do modelo de visualidade na
plataforma digital on line da Rede Social Instagram, consubstanciada no
compartilhamento de experiências estéticas através de fotografias digitais. A
premissa deste artigo foi a de investigar o provável surgimento de um novo
observador, independente, no século XXI diante da publicação de imagens durante
os protestos da Ucrânia, em abril de 2014. Uma sequência de vinte fotografias
amadoras foi selecionada, dentre os usuários que usaram a indexação por temática,através da hastag #euromaden. As imagens demonstraram dois tipos de
abordagem: Uma focada no contexto anterior ao conflito e num segundo momento
uma visão voltada para a narrativa do acontecimento, concluindo-se, portanto, que a
emancipação desses expectadores, no sentido de documentar o fato de forma
autônoma para outros seguidores, sem precisar da interferência de uma mídia
institucionalizada, se fez presente, conforme a hipótese do estudo de caso proposto.
Palavras-Chave: Convergência, Cultura Participativa, Fotografia Digital, Instagram.
Abstract: This article is part of the final exams to post graduation degree in Digital
Photography of Maurício de Nassau University Center. The text aims to observe
whether there is evidence of the reconfiguration of visual model on the digital
platform on line: Instagram, a social network, based on shared aesthetic experiences
through digital photography. Based on the studies of Techniques by the Observer in
the eighteenth and nineteenth centuries, proposed by Jonathan Crary. The premise
of this article was to investigate the likely emergence of a new, independent
observer, in the twenty-first century, analyzing the publication of amateur pictures
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during the protests in Ukraine in April 2014. A sequence of twenty amateur
photographs was selected among users who used the index by subject, under the
#euromaden hashtag . The images showed two approaches: One focused on the
previous context to the conflict and a view toward the event of the narrative,
concluding, therefore, that the emancipation of these viewers, to document the fact
autonomously to other followers without the interference of an institutionalized media
was present, according to the hypothesis of the proposed case study.
Keywords: Convergence, Participatory Culture, Digital Photography, Instagram.
1: Mestranda em Comunicação – Estética da Imagem e do Som, pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Pós-graduada em Fotografia pela Universidade Maurício de Nassau – Uninassau e Bacharel em Comunicação Social RTVI pelaUniversidade Federal de Pernambuco - UFPE.
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Introdução
Diante da eclosão do acesso rápido e ilimitado à Internet, o barateamento dos
custos para se obter tecnologia produtora de narrativas audiovisuais e a
popularização das redes voltadas para o compartilhamento de fotografias, observa-
se o surgimento de um novo tipo de produtor de conteúdo audiovisual, que lança
suas ideias de forma independente na web, e simultaneamente, torna-se
consumidor de outras experiências semelhantes às que disponibilizou on line,
intercambiando narrativas. Um trânsito de dados um pouco mais democrático e
igualitário, se levarmos em conta um antigo sistema de informações hierarquizado,
que posicionava o público como simples receptor de uma instância midiática
superior e institucionalizada. O novo fotógrafo é dinâmico e proativo, dentro de uma
sociedade que anseia, numa escala crescente, maior inclusão digital.
Observa-se também em vários estudos atuais, dentre eles a teoria da Cultura
de Convergência, que este novo produtor e consumidor de imagens não pertenceaos órgãos oficiais de informação, não possui conhecimentos acadêmicos na área
midiática, nem detém a chancela oficial de artista ou jornalista, mas ainda assim,
sente a necessidade de compartilhar suas impressões do mundo numa interface
aparentemente democrática como a web, criando um contexto em que um número
maior de pessoas adota essa prática, ampliando-se a forma com que a sociedade
interage com a produção de conteúdo midiático e artístico.
Ao levarmos em consideração a ideia do rompimento das fronteiras diante do
acontecimento, da arte e da convivência em sociedade, graças à extensão do
espaço público na internet; a queda das hierarquias culturais; que passam a ser
igualadas e niveladas, e o entendimento de que a experiência estética pode estar
em todos os lugares; que não é desvinculada das vivências individuais e coletivas
dos sujeitos, estamos atualmente - graças aos novos aparelhos portáteis e a
reprodutibilidade técnica on line - diante da possibilidade de novos suportes de
construção de experiências sensíveis, através de fotografias digitais, sobretudo ao
entendermos que essas representações constituem bens simbólicos resultantes da
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troca de subjetividades de um novo ser fotógrafo, ou tal qual ou conceito de Crary
acerca dos modelos de visualidade: Um novo tipo de observador.
Primeiros anos de criação e compartilhamento de obras fotográficas:
A partir das experiências executadas por químicos e alquimistas desde a
antiguidade já se pode falar em uma história da fotografia, uma vez que neste
período já se pensava e se produziam experiências que tentavam capturar, controlar
e entender como funcionava a formação das luzes e reflexos. Em 1525 já se
conhecia o escurecimento dos sais de prata, posteriormente utilizado nas revelações
fotográficas. No ano de 1604 o físico-químico italiano Ângelo Sala estudou o
escurecimento de alguns compostos pela exposição à luz do Sol.
A Câmera Escura pode ser considerada a primeira grande descoberta
da fotografia, cuja técnica data-se desde os séculos XVI e XVII. Consistia numacaixa composta por paredes opacas, que possuíam um orifício em um dos lados, na
parede paralela a este orifício, uma superfície fotossensível era colocada. Uma
propagação retilínea da luz permitia que os raios luminosos que atingissem o objeto
e passassem pelo orifício da câmara fossem projetados no anteparo fotossensível
na parede paralela ao orifício. Esta projeção produzia uma imagem real invertida do
objeto na superfície fotossensível. Quanto menor o orifício, mais nítida era a imagem
formada, pois a incidência de raios luminosos vindos de outras direções é bem
menor nesta situação. Vários pintores da época da Renascença e de vanguardas
posteriores utilizavam a câmera escura para imprimir volume, realismo e jogo de luz
e sombra em suas obras, realizando decalques de pinturas sobre a parte refletida da
imagem, dentre estes artistas temos os célebres Johannes Vermeer e Michelangelo
Merisi da Caravaggio.
Após seguidos avanços nas pesquisas sobre captação de luz e fixação em
objetos, em 1826, Joseph Nicéphore Niépce, consegue capturar a imagem que
ficaria conhecida como a primeira fotografia da história, a paisagem da janela de seu
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quarto, que surge em uma placa de metal que passou por oito horas de exposição à
luz solar e banhos químicos de betume-da-judeia, óleo de asfalto e ácido:
Foto 1: Primeira fotografia da história “ Vista da Janela no Le Gras” – Niepce.
Poucos anos depois, outros pesquisadores conseguem evoluir o experimento
de Niepce e diminuir o tempo de exposição e manter a fixação permitindo cópias dasmatrizes. Louis Jacques Mandé Daguerre, na França, patenteia um processo
fotográfico extremamente popular chamado “Daguerreótipo”, diminuindo o tempo de
exposição para se capturar a imagem em uma hora a trinta minutos, enquanto que
William Henry Fox-Talbot, na Inglaterra, cria o Talbótico, que já usava o conceito de
revelação negativo/positivo.
Todas as pesquisas vão potencializar a popularização da fotografia no
mundo, inclusive no Brasil. Com a criação da fábrica de câmeras e laboratórios de
revelação Kodak, na virada do século XIX para o século XX, com suas máquinas
portáteis de fácil manuseio, pessoas sem conhecimentos avançados de química ou
física óptica já podiam registrar seu cotidiano e os rostos ao seu redor,
popularizando a técnica do retrato, dando origem aos álbuns de família e aos
cartões postais de troca através de correspondências que se tornaram um modismo
para a sociedade da época.
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O desejo de compartilhar experiências fotográficas enquanto prática social.
A busca por uma identidade própria, assim como reconhecer-se em outros
semelhantes, é uma característica social. As pessoas estão sempre procurando
mecanismos para a compreensão do “eu” e da realidade; seja através de registros
históricos, da imprensa, de reportagens, de manifestações artísticas, textos escritos
ou fotografias. Todos esses suportes consubstanciam hábitos que envolvem a
criação de discursos sobre suas experiências pessoais: “Os sujeitos se constroem e
se dão a ver pelo discurso, pois a expressão promove o conhecimento de si e o
encontro com o outro”. (BRETAS 2010, p. 278).
Diferentes suportes têm sido utilizados para exprimir e dar sentido às
experiências vividas. Após o nascimento das tecnologias digitais e da internet, essas
subjetividades são divulgadas em fotografas digitais instantâneas e compartilhadas
massivamente nas redes sociais multimídia, dentre elas o Instagram, aumentando o
repertório de técnicas para a estetização da vida cotidiana. Diante disso, cidadãos
que não possuíam acesso à arte ou à cultura de consumo de classes superiores, por
exemplo, passam a conhecer e aumentar seus repertórios através desse novo
cenário compartilhado por fotografias digitais. Muitas vezes tentando projetar um
estilo de vida ambicionado, numa espécie de ornamentação da vida cotidiana.
Contudo, é importante observar que a cultura da imagem enquanto espelho
do real, do uso de ilustrações, pinturas, projeções e fotografia como formas de
compreensão do estar no mundo, datam desde antes do surgimento da internet,tendo sua massificação a partir do século XIX. Uma vez que o método de produção
das imagens dessa época passa a refletir um novo sujeito que tem consciência que
vê e que é visto, que é estudado à luz da ciência, cujo ato de observar dá
movimento e dinâmica à imagem.
Cada vez mais consciente do poder de veracidade e status que a imagem
técnica proporcionava, o observador do século XIX também daria início ao
compartilhamento de sua vivência por meio da troca de obras fotográficas, um
costume conhecido como Carte-de-visite, patenteado pelo fotógrafo francês André
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Adolphe Eugène Disdéri. As fotos eram reveladas em tamanho 9,5 x 6 cm, num
processo em que se utilizava impressão em albumina e eram trocadas entre
colecionadores, amigos e familiares. Uma tendência que ajudou difundir a arte do
retrato, conferindo ao fotógrafo o status de distinção social. Essa prática reverberou
até os tempos pós-modernos: Como não comparar, inevitavelmente, os perfis
fotográficos, as imagens de objetos estimados, animais, viagens, paisagens, selfies,
gastronomia, dentre outras compartilhadas diariamente no Instagram, com o
costume do Carte-de-visite que se tornou um modismo na década de 1860? A
fotografia víntage e analógica e a troca de imagens em cartões de visita seriam um
prelúdio dos atuais métodos de representação digitais e com compartilhamento via
web.
Emergindo de uma evolução natural do modelo de visualidade do século XIX
e XX, o observador da contemporaneidade preconiza o perfil proativo já apontado
por Jonathan Crary (e por Arlindo Machado na sua posterior leitura de Crary). Os
suportes de redes de compartilhamento fotográfico on line surgem justamente para
dar conta desse novo usuário, mais participativo, que se utiliza da fotografia e das
redes sociais, como o Instagram, e suas ferramentas de indexação e busca via
hashtags para divulgar estilos de vida, e em muitas ocasiões, proporcionar
testemunhos acerca de acontecimentos sociais, políticos e econômicos com mais
velocidade e precisão do que a mídia oficial, devido ao caráter de portabilidade e
maleabilidade dos dispositivos que possui ao seu alcance. Tal fenômeno pode ser
constatado, por exemplo, em eventos como a recente onda de protestos ocorridos
na Ucrânia no final de 2013 e início de 2014.
Surgimento do observador participativo.
Com o aumento no trânsito de dados e interação interpessoal na Internet,
tem-se mudado de maneira intensa a forma como as pessoas produzem, observam
e consomem informação na atualidade. Paralelamente, ou até mesmo motivado pelo
desenvolvimento de dispositivos portáteis e de fácil aquisição como: smartphones,
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tablets, e filmadoras digitais, dentre outros suportes produtores de conteúdo
audiovisual, o cidadão comum, não detentor de uma formação artística ou em
comunicação, tem participado massivamente na criação de conteúdo informativo e
imagético contribuindo na veiculação de fatos em tempo real, ainda que
intuitivamente, e em alguns casos, de forma mais impactante do que os veículos
oficiais da máquina midiática, além de se tornar também receptor dessas
informações, através dos mesmos dispositivos: “Consumidores estão aprendendo a
utilizar as diferentes tecnologias para ter um controle mais completo sobre o fluxo da
mídia e para interagir com outros consumidores.”(JENKIS,2008,p.46).
Diante de uma nova realidade de possibilidades tecnológicas iniciadas noséculo XX, do surgimento da internet e da quantidade crescente de usuários na rede
já no século XXI, entusiasmado por expressar suas próprias narrativas, surge um
novo tipo de fotógrafo, aqui neste artigo sendo chamado de observador uma vez que
pretendemos retomar o conceito de regime de visualidade de Johnathan Crary. Este
indivíduo observador que fotografa é diferente de um mero espectador distanciado, e
já surgia antes mesmo da informatização e da cultura de dispositivos digitais, para
Crary (1990, p. 146) “Um observador mais adaptável, autônomo e produtivo eranecessário tanto no discurso como na prática”, conceito que foi posteriormente
citado e inserido na atualidade, visto que a visualização, simulação e modelação da
imagem, em meios digitais, faz parte de uma evolução natural da imperiosa
reconfiguração entre o sujeito observador e os modos de representação
(MACHADO, 2002, p. 232).
A escolha do termo “observador” remete ao sujeito que não apenas vê, mas
que, segundo Crary (1990, p.15) “vê em um determinado conjunto de possibilidades,
inscrito em um sistema de convenções e restrições”, percebemos que esse
indivíduo, há muito se distanciou do observador contemplativo da câmera escura. A
reprodutibilidade técnica o bombardeia com cargas imagéticas todos os dias,
resultado da expansão da indústria da informática e das telecomunicações que, em
busca de novos consumidores, oferece experiências estéticas como bens de
consumo, além de estimular a produção de fotos para compartilhamento via web
dessas experiências. Não contemplamos a arte, a notícia e a realidade, de longe,mas participamos do processo, porque a autenticidade do acontecimento é
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chancelada pelo maior número de compartilhamentos que uma imagem na internet
pode proporcionar.
O surgimento do Instagram enquanto suporte de troca de experiências
fotográficas.
O Instagram é um aplicativo disponível para captura de imagens e vídeos via
Smartphone, associado a uma rede social multimídia com a funcionalidade de
aplicar filtros e manipular fotografias de maneira dinâmica. Foi lançado em 6 de
outubro de 2010 pelos engenheiros de software Kevin Systrom e Michel (Mike)
Krieger e alcançou popularidade mundial em poucos meses após seu lançamento.
A ideia inicial do aplicativo era possibilitar aos usuários a experiência de
fotografar através de um suporte digital e aplicar filtros, modificando as cores da
imagem numa forma de emulação do aspecto visual dos antigos filmes vencidos de
35 mm e 120 médio formato da prática da Lomografia. Na primeira metade dos
anos 2000, o resgate da nostalgia dos efeitos das toy câmeras Lomo, faziam surgirna internet fotografias produzidas com cores extremamente saturadas, tons de
sépia, tons embranquecidos, mudança de temperatura de cor, alto contraste, bordas
escurecidas, dentre outros aspectos, que imprimiam uma espécie de sensação
"nostálgica" às fotos produzidas.
Porém, para se conseguir tais aspectos, era necessário se possuir um
conhecimento prévio em fotografia analógica, uma vez que era através das câmeras
vintage, produzidas desde os anos 80, que se gerava esses "filtros", ou com o uso
de programas de manipulação mais complexos como o Adobe Photoshop, por
exemplo. A ideia que impulsionou o surgimento do Instagram foi a de produzir um
aplicativo com um número inicial de 8 filtros pré-determinados, que com um simples
toque, adicionava efeitos similares aos das câmera vintage, sem que o usuário
precisasse ter o conhecimento de como operar uma câmera analógica ou como
revelar um filme 35 mm, indo mais além, o usuário sequer precisaria ter
conhecimento de qualquer programa de manipulação de imagens para imprimir o
toque nostálgico ao conteúdo que estaria produzindo.
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Em setembro de 2011, o aplicativo transformado em Rede já tinha
conquistado quase dez milhões de usuários em escala mundial, possuindo uma
equipe de apenas seis funcionários. Apesar de inicialmente ter sido concebido para
a plataforma iOS exclusivamente para iPhones e iPad e iPod Touch, em 2012, a
então rede social, expandiu-se para o sistema Android, aumentando sua
popularidade consideravelmente e logo em seguida também se tornou disponível
nos sistemas Nokia, Blackberry e Windows Phone. Foi nesse mesmo ano, que o
programador e empresário Mark Zuckerberg anunciou a compra do aplicativo,
integrando-o a sua rede mundialmente famosa: O Facebook, e possibilitando seu
acesso através dos sistemas operacionais dos computadores e notebooks e não só
pelo dispositivo móvel, muito embora a publicação de imagens ainda se dê pelosegundo meio.
Com aumento do número de plataformas e usuários em rede, o Instagram
passou de um aplicativo de fotos para uma comunidade global2 de troca de imagens
pessoais, reunidas sob grupos de interesses dentro das hashtags³. Exemplo:
Pessoas que gostam de yoga fotografam imagens relacionadas ao tema, com uma
marcação validando seu pertencimento a tal assunto, assim como pessoas quegostam de comida costumam publicar a imagem do prato sob a hashtag #instafood,
criando um banco de dados instantâneo de diversas experiências imagéticas,
reunidas em ordem cronológica.
História e Motivações dos protestos na Ucrânia.
O Estudo de caso proposto nesse artigo aborda a repercussão, do ponto de
vista dos usuários do Instagram e fotógrafos amadores, acerca de uma crise e uma
onda de violência recente ocorrida na Europa: Os conflitos na Ucrânia. A decisão do
presidente ucraniano Viktor Yanukovych, no final de 2013, de abandonar o acordo de livre
comércio com a União Europeia para se alinhar à Rússia, país que dominou a Ucrânia por
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2: Em 2013 o Instagram contava com 130 milhões de usuários ativos todos os meses e 16 bilhões de fotos postadas desde olançamento, números que crescem exponencialmente até então. “http://www.tecmundo.com.br/instagram/41078-instagram-tem-130-milhoes-de-usuarios-todos-os-meses.htm” acesso em 27/01/2015.
3: Tags são palavras-chave ou termos associados a uma informação. Hashtags são palavras-chave antecedidas pelo símbolo"#", que designam o assunto o qual está se discutindo em tempo real no Twitter e também foi adicionado ao Facebook e
Instagram. “http://www.tecmundo.com.br/instagram” acesso em 27/01/2015.
gerações enquanto esta fazia parte da União Soviética, desencadeou uma onda de
protestos no país. O acordo estratégico com os russos incluía uma ajuda financeira,
descontos no preço do gás e a promessa de uma zona de comércio livre, causando
uma cissão na opinião popular.
A violenta repressão policial aos protestos fez crescer o movimento de
manifestações e as críticas ao governo, alterando a pauta de reivindicações: osmanifestantes não pediam apenas o alinhamento à União Europeia, mas também a
saída do presidente. Após três meses de protestos, Yanukovych foi destituído.
Aleksandr Turchinov, presidente do Parlamento, assumiu como presidente interino.
Na Crimeia, república autônoma da Ucrânia, confrontos entre militantes pró e
anti russos acirraram o conflito. A Rússia, que manteve uma base naval no litoral da
Crimeia, no sul, enviou tropas militares para executarem manobras na fronteira.Inserida no conflito, a população da Crimeia realizou um referendo para decidir se
deseja pertencer à Ucrânia ou Rússia, em que venceu a maioria contrária à
anexação ao território Russo. Uma nova eleição presidencial parece ter solucionado
temporariamente o impasse no país.
A questão é que inúmeras pessoas, dentre elas, crianças, mulheres, idosos e
demais pessoas vulneráveis, perderam suas vidas diante a onda desmedida deviolência por parte do governo e de combates sangrentos entre grupos partidários da
união com a Rússia e grupos contrários às decisões do governo:
“Mais de 6 mil pessoas morreram no leste da Ucrânia desde o início do conflito, em abril de 2014, anunciou nesta segunda-
feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Raad Al-Hussein, Segundo o secretário, é
imperativo que todas as partes respeitem as decisões dos acordos de Minsk e cessem os bombardeios indiscriminados e
outras hostilidades que criaram uma situação catastrófica para os civis, em violação flagrante do direito internacional
humanitário”. (PRESSE, G1 – Mundo, Acesso em 20/12/2014).
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O olhar do cidadão durante os conflitos na Ucrânia e sua repercussão nas
redes sociais fotográficas (Estudo de Caso).
Inúmeros usuários da rede Instagram dessa localidade, antes habituados a
publicar imagens de seu cotidiano, passaram a mostrar diferentes pontos de vista do
conflito, proporcionando uma cobertura mais aproximada e íntima do que qualquer
veículo de mídia ou agência de imagens tradicional, e rapidamente acessada pela
rede através de uma indexação específica.
Para este estudo de caso foram selecionados dez usuários da rede socialacima citada, na faixa etária de 21 à 45 anos, que costumavam postar uma média de
3,5 fotos por semana, dentro da demarcação geográfica do evento selecionado,
todos utilizando a indexação pela hashtag #euromaidan. Todos os objetos também
publicaram suas imagens em perfil público e sob a licença internacional de livre
utilização e atribuição, “Creative Commons”.
A sequência abaixo demonstra os perfis selecionados para o estudo de caso,o ponto em comum é que todos deram cobertura ao fato, mostrando enfoques
pessoais do acontecimento, em diferentes perspectivas, dias antes e um dia depois
do evento político:
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Foto 2 e 3: Usuária publica um autoretrato uma semana antes da eclosão dos protestos, durante o evento, percebe-se o olhar
aproximado do foco do conflito e os tons alaranjados das chamas – Abril 2014.
Fotos 3 e 4: Jovens publica imagem em que diverte-se em competição esportiva com belas mulheres, uma semana depois, durante os
conflitos, publica uma imagem de um homem em cadeira de rodas, no centro dos destroços. – Abril de 2014.
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Fotos 3 e 5: Jovem publica foto de seu instrumento musical, uma semana depois, publica uma imagem em preto e branco, de um manifes-
tante ao centro, em frente a uma cortina de fumaça e aparente destruição. – Abril de 2014.
Fotos 5 e 6: Moça publica imagem abraçando animal de estimação, no segundo momento, fotografa a parede formada por policiais de um
lado em contraposição à multidão no outro extremo em meio aos destroços no centro, um olhar típico do fotojornalismo – Abril de 2014.
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Fotos 6 e 7: Moça tira uma selfie contra o espelho numa posição autocentrada. No dia do conflito, publica uma imagem dos destroços nas
ruas da Crimea, com foto em fumaça em meio à destruição. - Abril de 2014.
Fotos 7 e 8: Homem tira foto com a companheira em evento noturno, no dia do conflito, registra uma poça de sangue no chão com fogo,
fumaça e uma pessoa correndo ao final da imagem, numa composição que retrata a dramaticidade do ocorrido. – Abril de 2014.
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Fotos 8 e 9: Moça fotografa reunião com amigos em um jantar na semana anterior, posteriormente, na praça principal em Misk, retrata a
fumaça e a bandeira do país numa composição de carga simbólica – Abril de 2014.
Fotos 9 e 10: Jovem retrata detalhes de vegetação típica da região. Um dia após o conflito, fotografa o cenário de caos e destruição no
centro da cidade com muita fumaça e ferros distorcidos – Abril de 2014.
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Fotos 11 e 12: Moça fotografa praça principal da cidade com turistas e atração ao ar livre, na semana seguinte, retrata a fumaça e o fogo
originário do confronto num ângulo extremamente parecido com o da foto anteriormente retratada, de número 5.
Fotos 12 e 13: Jovem tira uma selfie com fantasia do personagem Coringa, numa referência à obra cinematográfica. Na semana seguinte,
seu olhar se volta para o cenário de fumaça, poeira e destruição que se instalara após o confronto. – Abril de 2014.
Diante das amostras, conclui-se que as fotografias acima demonstram dois
focos distintos. O primeiro: Autocentrado, com imagens cotidianas, numa espécie de
autopromoção das experiências pessoais, algo que é mais comum de se observar
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no volume de imagens publicado nos perfis da rede diariamente. No segundo
momento: foco no acontecimento, no relato de uma situação que afeta a vida em
sociedade e no desejo de atestar, através da fotografia, um testemunho de
veracidade acerca do ocorrido. No entanto, em ambos os casos percebe-se um
fenômeno em comum: Um observador consciente de sua independência para
produzir, narrar e compartilhar experiências estéticas através de fotografias, com a
certeza de um alcance ilimitado proporcionado pela internet.
Considerações Finais.
A experiência representa a fruição de vários de nossos sentidos. Ela destaca-
se, prende a nossa atenção em determinada obra, situação ou objeto e passa a
fazer parte do nosso repertório cognitivo, ela está presente nas diversas
modalidades de discurso, tanto naquilo que é classificado enquanto arte, quanto nas
interações sociais diárias no espaço público real: Nas ruas, nos ambientes de lazer,
nos ambientes acadêmicos, corporativos ou familiares. Por extensão, a experiência
se faz presente nas manifestações fotográficas, neste caso caracterizando-se
enquanto experiências estéticas, mediada pelo uso de notebooks, celulares e de
outros dispositivos portáteis e compartilhadas nas redes sociais multimídia, em
especial no Instagram.
Sempre que um usuário adquire um celular com câmera, filmadora, acesso àweb e se inscreve em sites de relacionamento para compartilhar fotografias com
outros semelhantes, mesmo sem nenhum conhecimento acadêmico ou técnico, a
sua necessidade primordial é expressar-se. Divulgar seu estilo de vida, suas
impressões acerca de certos acontecimentos. Antes essas criações eram mediadas
utilizando diferentes processos técnicos adaptados ao modelo de visualidade
vigente, porém, na atualidade podem ser transmitidas e assistidas de qualquer lugar,
em tempo real, fruto do regime visual do século XXI. Fazendo parte daquilo que
Jenkins nomeou como cultura participativa, que integra a convergência:
7/21/2019 Fotografia e compartilhamento on line: O olhar do cidadão durante os conflitos na Ucrânia através do Instagram.
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“A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência
ocorre dentro do cérebro dos consumidores individuais e em suas interações sociais com os outros. Cada um de
nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços de fragmentos de informações extraídas do fluxo
midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana”. (JENKINS, P. 30).
Diante desse novo cenário que envolve a web e as novas tecnologias, pode-
se concluir que a sociedade evoluiu seus métodos de expressão e que o contexto
atual envolve uma emancipação por parte do observador, sobretudo na noção de
seu poder de produzir e absorver conteúdos midiáticos e artísticos.
Retomando os estudos de Racière, que apesar da proximidade do conceito,
diferentemente de Crary, aquele nomeia esse indivíduo observador da
contemporaneidade de “Espectador Emancipado” pode-se concluir que sujeito da
atualidade absorve, seleciona o que deseja para o seu repertório de experiências e
cria novas manifestações utilizando diferentes métodos:
“ O espectador também age, tal como o aluno ou o intelectual. Ele observa, seleciona, compara, interpreta.
Relaciona o que vê com muitas outras coisas que viu em outras cenas, em outros tipos de lugares. Compõe seu
próprio poema com elementos do poema que tem diante de si. Participa da performance refazendo-a à sua
maneira, furtando-se, por exemplo, à energia vital que esta supostamente deve transmitir para transformá-la em
pura imagem e associar essa pura imagem a uma história que leu ou sonhou, viveu ou inventou. Assim, são ao
mesmo tempo espectadores distantes e interpretes ativos do espetáculo que lhes é proposto”. (RANCIÈRE, P. 17)
Essas fotografias no Instagram partem das necessidades individuais,
transformando-se em coletivos. Favorecendo a formação de grupos que se
conectam através dos discursos em comunidades de interesses e hashtags,
representando a evolução dos métodos imagéticos de compartilhamento de
experiências estéticas e promovendo a organização de redes que refletem os
costumes de uma sociedade que se reconhece dentro dessa diversidade de fotos
produzidas pela tecnologia portátil e imediatista.
“Consciente de sua condição subjetiva e de sua singularidade, o sujeito utilizava -se de técnicas e tecnologias
para a promoção do autoconhecimento, nas quais se incluem anotações, diários e diversas outras formas deregistros propiciados por diferentes linguagens: Páginas pessoais, Blogs, Fotologs, Videologs, Fóruns, Listas (...)
As tecnologias intelectuais que favorecem esses conhecimentos e promovem relações entre sujeitos são vistas
7/21/2019 Fotografia e compartilhamento on line: O olhar do cidadão durante os conflitos na Ucrânia através do Instagram.
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como métodos ou processos que ativam fundações culturais na apreensão do real e participam da construção de
nossas imagens e conceitos sobre o mundo, carregando desejos e outras subjetividades ai incrustadas”. (BRETAS,
P. 279)
Portanto, tomando como base estes alguns outros pressupostos sobre a
construção da experiência estética e interação de pessoas no Instagram, pode-se
concluir que essas mudanças no modelo de visualidade do século XXI são
consequências desse novo observador, fruto de umas sociedade que se vê em
perfis imagéticos pessoais e amadores. Essas mudanças reverberam na forma de se
fazer mídia dentre os meios corporativos tradicionais, e reconfiguram os métodos de
construção dos repertórios pessoais e atualização dos sentidos, vivemos a era do
surgimento de um observador independente, emancipado e participativo.
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