ACADEMIA
CELESTIAL
DA TROVA
E agora no final
Este quesito me enleia:
Quem terá sido, afinal,
O garçon da Santa Ceia?
Eno Teodoro Wanke – RJ
Uma jovem, na janela,
Deixando o tempo passar,
Canta uma canção singela.
Cantando... só por cantar.
Pedro Giusti – RJ
Ser eterno ele queria,
Sem ater-se ao principal...
Todo artista morre um dia,
Só a arte é imortal.
Fernando Vasconcelos – PR
Quando a saudade chegar,
Não ponhas as mãos no peito.
A vida é para se amar,
Sem mágoa, ódio ou desgosto.
Osael de Carvalho – RJ
Por vezes, na revisão,
Dá um branco no revisor
E o texto sai com senão:
“Errar é humano”, leitor.
Sinésio Cabral - CE
POETRIX
Poetrix nº1
Da primeira,
Ninguém se esquece:
Dá impressão que fica.
Poetrix nº2
Meu verso sabe a muque
O que é pegar no tranco,
Mas não lhe entrega o truque
.
Poetrix nº3
Não sou nenhum
Dos 18 do Forte,
E sei que o trono é da corte,
Mas aonde foi dar a coorte?
Poetrix nº4
Ler é a maior viagem,
Mas ler poemas piadas
É a gota que faltava.
Poetrix nº5
Ele disse quarto de milha,
Ela entendeu quarta de milho:
Penosa faminta!
Poetrix nº6
COM
SOL
AÇÃO
SEM
SOLA
NÃO.
Acesse:
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Antonio Cabral Filho – RJ
HAICAIS
Rolinhas se enroscam
Nas palmeiras do quintal.
Ovinhos a vista.
Eliana Ruiz Jimenez – SC
Por mais uma vez
Contemplo o clarão da lua
- Será este o último?
Neide Rocha Portugal – PR
Cobertor me espera
No leito quente e macio.
- 0 vento soluça.
Humberto Del Maestro – ES
Roda de crianças.
Gafanhoto seguro
Pelas pernas.
Manoel F. Menendez – SP
Queixada na trilha,
Roncando e rangendo os dentes:
Ataque certeiro.
Chove de mansinho
Na manhã de primavera:
Frio tropical.
No baile das flores,
Beija-flores fazem festa:
Eis a primavera.
Caminho do mar:
A navalha no meu rosto,
Corta que nem gelo.
Trilha do mosteiro:
O andarilho vai convicto,
Buscar paz de espírito.
Begônias e pedras
Castigam-se mutuamente:
Musgo gera flor.
Vai de galho em galho,
Pára, olha, me vigia:
Esquilo mineiro...
Cai um temporal
Sobre o calor de domingo:
São águas de março.
Chove em Parati:
Mil peixinhos vêm à tona,
Provar outras águas.
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Antonio Cabral Filho - RJ
Ano VIII nº54 Mar/Abril 2014 Distribuição Gratuita Editor:Antonio Cabral Filho
Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 [email protected]
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TROVAS
Os teus olhos cor de jade,
De uma ternura sem lei,
Foram feitos da saudade
De um mundo que eu inventei.
Humberto Del Maestro – ES
Neste Brasil de bonança,
De riquezas tão reais,
Quisera ter a esperança
De ver rico e pobre iguais.
Jessé Nascimento – RJ
Vem chegando a primavera,
Os jardins ficam floridos...
Almas cheias de quimera
E corações coloridos.
Henny Kropf – RJ
Suscitando a inquietude
De uma longa odisséia,
A trova, mais que virtude,
É gênese de uma idéia.
Silvério da Costa – SC
Urubu sobre o telhado
E voando abertamente
Ficou muito bem olhado
Pelo suspiro da gente.
FranciscodeAssisNascimento
Quando vi a nossa foto
Desgastada na gaveta,
Vi nascer um terremoto
Neste inóspito poeta.
Olivaldo Júnior - SP
Sorte, aleatório caminho
Que cada destino traça:
Para alguns, tão forte vinho;
A outros, vazia taça.
Eliana Ruiz Jimenez - SC
Camomila e poesia
Mais o cobertor de orelhas
Fazem a minha alegria
Numa noite sem estrelas.
&
No Largo da Abolição
Ouvi berimbau nos ares,
Lembrei que a escravidão
Fez do Brasil seu Palmares.
Minha pedra, minha vida,
Diz o craqueiro a cantar,
Sem saber que aquela “vida”
Acaba de se queimar...
&
Amizade não tem preço
Nem é presente que enjeito,
É sempre mais que mereço
E guardo aqui bem no peito.
&
Eis que surge nova lei:
Rico gera violência,
Diz a filha do Sarney
Num acesso de demência.
&
Amizade não tem preço,
Nem é presente que enjeito;
É sempre mais que mereço
E guardo aqui bem no peito.
Antonio Cabral Filho – RJ
Se existe coisa mais bela
Que o luar do eu sertão,
Deus então ficou com ela
E fim de papo, meu irmão.
Arlindo Nóbrega – SP
Grande mesmo é quem descobre
Que ser grande é ser alguém
Que abre espaço para o pobre
Tornar-se grande também.
A. A. de Assis - PR
Um instante pensamento
Quando você renasceu:
Floriu fértil sentimento
Que a todos fortaleceu.
Agostinho Rodrigues – RJ
Ao acordar, que beleza,
Ver sol bater na janela!
Parece que a natureza
Me chama de filho dela.
Murilo Teixeira – MG
A saudade de você
Dói demais – você nem sabe.
É duro ter que viver
Suportando esta saudade.
Araci Barreto da Costa – RJ
Para a vida ter valor
É preciso meditar,
Fazer o bem com amor
Deixar o mal se calar.
Ivone Vebber – RS
A trova, de qualquer jeito,
Chega forte e vai bem fundo:
Em seu contexto perfeito
Já percorre todo o mundo.
Diamantino Ferreira – RJ
Expresso com emoção
E com orgulho bendigo,
O que diz meu coração:
Como é bom ser teu amigo.
OEFE de Souza – SP
A trova, rica magia,
Da mais ampla distinção
Tem o toque da harmonia
E o bater do coração.
Vidal Idony Stockler – PR
Canta a poesia na janela
Do meu feliz coração
Tornando a vida tão bela
Como a luz de uma oração.
Ziney Santos Moreira – SP
Há um casal que sintetiza
Todo amor que o céu projeta:
- A minha alma de poetisa
E o teu coração de poeta...
Laura da Fonseca e Silva – RJ
Jamais deixe no caminho
A semente de um pecado,
Leve amor e muito carinho
Ao menor abandonado.
Antonio Fernando de Andrade
Nenhuma vida é pequena
Restrita em sua pequenez,
Ora... viver vale a pena,
Só se entra em cena uma vez.
Milton Dias Fernandes – MG
COMO ( EU ) VIA
Aquela paisagem
Que eu via da janela
Era triste
Porque perdi meu irmão.
Aquela paisagem
Que eu via da janela
Não me comovia
Porque eu era só.
Essa paisagem
Que vejo da janela
É bela
Porque encontrei um amigo.
Renata Paccola – SP
POEMAS DO TOUCHÉ
Sei o que quero dizer
Mas não encontro palavras:
Inspirar-se é florescer.
&
Por entre rosas e primaveras
Desce a tarde púrpura:
Com poemas me esperas.
&
A claridade da manhã
Desenhava o horizonte:
Como um sorriso de mãe.
Antonio Luiz Lopes – SP
AUTOBRIOGRAFIA
A história quis fazer mártir
O amor me fez mulher
A poesia me levou além
Da história, do martírio.
Me afundou no vazio
Para poder criar
E recriar-me
Noutra forma de ser
Sendo sempre mulher.
Ilma fontes – SE
DAS CARÍCIAS
Minha mão percorre teu corpo
Como água seguindo o rio.
Encontrando emoções.
Encontrando sentimentos.
Walmor DS Colmenero – SP
MULHERES DO TALIBÃ
Anônimas, sem rosto,
Escondidas atrás de um muro
Que não é de concreto
Ou de pedra
Mas é tão sólido e forte
Como se fosse de matéria dura
E não fina, leve,fechada,escura.
Atrás desse muro
Existe alguém,
Embora não apareça.
Alguém que de tanto
Viver escondido
Perdeu a própria identidade.
Agora,sem rosto, sem nome,
Sem lágrimas,
Enfrenta um mundo
Que lhe é desconhecido.
Ela também é desconhecida,
Sem nome, sem
Rosto, sem sorrisos.
Vera Puget - RJ
OSÓRIO PEIXOTO SILVA
CHEGA AO CÉU
Depois que esse cara
Chegou por aqui
Combatendo a hipocrisia
Esse lugar virou uma zona
Ta pior do que o inferno!
Rogério Salgado – MG
CONVOCATÓRIA
Os jovens vão ao encontro
Na praça nacional para
Uma demonstração de protesto
Exigindo um fim à violência
Um pouco de justiça
Mais transparência no governo
E na política financeira,
A consigna é demandar
Respeito a seu direito
À escola e educação
Ao trabalho sustentável
E alimento para seus sonhos.
Os estudantes vão marchando
Com sua coragem
E suas esperanças,
Com o futuro
Em seu pensamento
Braço a braço com o povo
Até à vitória, sempre!
Terezinka Pereira - EUA
VERTENTE
Tente ver
A vertente verde.
Tente ser
Exemplar vertente.
Percorra
Caminhos da mente
Sem acidentes.
Renasça. Esqueça
O mal devastador,
Tente ver a vertente
Verde. Sorria.
Alcance a nascente,
Beba nas águas da fonte
Vida que ali se sente.
Eduardo Waack – SP
POEMAS
Apesar
De tantas mudanças
Montanhas
Arredondadas
Continuam circundando
Meu território
Assim me reconheço.
Djanira Pio - SP
QUEM?
Tudo é cru e tudo universo
Mais se renova do que perece?
Não o real o que enxergamos?
O mais está sempre mais longe?
Sinal mais longe, mais que o som,
Então: quem disse
De cada coisa
O verdadeiro nome?
Aricy Curvello - ES
EM BUSCA DAS
BORBOLETAS
À Irmã Marina Lopes
Se preciso suportar larvas
Para conhecer as borboletas
Por que então, eu não as conheci?
As borboletas de Exupéry?
Eu as suportei dia a dia
Desde a primavera ao outono!
Hoje, o inverno vem chegando
As larvas continuam queimando.
Mas...dentro de mim há uma força
Que os olhos do mundo desconhecem
Que, mesmo as larvas me queimando
Vou as lindas borboletas esperando!
Espero!...Espero!...Peço a Deus
Que não canse de esperar!
Mesmo qu’elas custem a aparecer...
Que as borboletas um dia eu possa ver!
Ondina de Aquino Carrilho Cruz – RJ
O FÉRETRO DOS VIVOS
3
Linha dura
Linha férrea
Corpo partido
Doído esquartejado
Menos uma mão-de-obra.
Corpo desfigurado
Banhado de sangue
Verde, vermelho e amarelo.
Feriado nacional trem vazio
Apenas algum marginal.
Airton R. Oliveira – RJ
GONZAGUIANA
Em tronco de velho freixo
Exposto à lixa dos ventos
Ao vitríolo do tempo
Não gravo teu nome não:
Gravo meu coração.
José Paulo Paes – SP
TERRA DE SANTA CRUZ
ao batizarem-te
deram-te o nome:
puta
posto que a tua profissão
é abrirt-te em camas
e dar-te em ferros
ouro
prata
rios, peixes, minas, mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme.
Artur Gomes – RJ
GREVE DE FODA
Pior do que morrer
Por ficar sem comer
É perder a mulher
Por ficar sem fuder.
Alex Polari de Alverga – RJ
VULCÃO
Os mortos não,
Os mortos são
Mais os mortos
Da minha vida.
A lava do vulcão
Não traz a fertilidade
Mas faz um sulco
E marca
O coração do homem.
Hugo Pontes – MG
O CASTIGO
Num gesto tresloucado
Ousou cometer um verso.
Bem feito:
Virou poeta!
Zacarias Martins – TO
TRANSFORMAÇÃO
Deitada na areia,
Sou entrega absoluta:
Me deixo penetrar
Pelo cheiro
De água salgada
E me desmancho
Em maresias...
Adélia Woelner -RS
AS PA(LAVRAS)
As Pa(lavras) embaralhadas
Repousam no verde
Da esperança.
Da memória solto
As imagens e o
Desejo de escrever.
Caço os gestos
Impressos na mente,
Descubro as palavras
Debruçadas na cisterna
Dos sentidos e
Deixo o tempo correr...
Luiz Fernandes da Silva – PB
VERSIFICANDO
Enquanto teço opoema
Concedo às palavras
Liberdade incondicional.
Wagner Ribeiro – SE
(DES)CLASSIFICADA
Musa em desuso
Aceita poeta
Para uso e abuso.
Swuit Ragi – SE
Era uma estrela sozinha,
Ninguém olhava pra ela.
E toda a luz que ela tinha
Cabia numa janela.
Paulo Leminski – PR
MEU AVÔ
Quando estava contente,
Cantava: Cuidado
Com esta negra!,
Que esta negra vai contá.
Cuidado com esta negra
É puxa saco da sinhá,
Cuidado com esta negra,
Que esta negra já conto.
Cuidado com esta negra,
É puxa saco do sinhô.
Esta negra é caçambeira,
Gosta só de espioná;
Esta negra é faladeira,
E conta tudo pra sinhá.
Esta negra é perigosa!,
Tudo que ela vê ela fala,
E a sinhá fica nervosa
E nos prendem na senzala.
Carolina Maria de Jesus – MG
CAROLINA MARIA
DE JESUS EM TROVAS
NO SEU CENTENÁRIO
Carolina, de nascença,
É Maria de Jesus;
Sem saber qual a centença,
Carregou a sua cruz.
De nascença, foi bastarda,
Mas foi seu Sócrates Negro
A lhe mostrar quantas jardas
Anda quem não paga arrego.
Muito cedo foi pra lida,
Suar o sal do seu pão
E conhecer esta vida
Nos palcos da exploração.
Primeiro, aturou madame,
Agüentando humilhação,
Mas viu tanta coisa infame
Que virou arribação.
Foi fazer do dia a dia,,
Pelas ruas da cidade
Templo de filosofia,
Sem implorar caridade.
Trabalhou de sol a sol,
Como faz o garimpeiro,
Mas a pepita maior
Foi o seu berço primeiro.
Foi pessoa de respeito,
Erguendo alto seu pejo;
Guardou as mágoas do peito
No seu “Quarto de Despejo”.
Mas Carolina é Maria,
Inspiração de Jesus,
A “Casa de Alvenaria”
Veio aliviar a cruz.
Passou por muitos percalços,
Mas nada sujou seu nome,
Nem a força dos fracassos
Nem os “Pedaços da Fome.”
Irradiou seus “Provérbios”
No “Diário de Catita”,
Sem ligar a lei dos verbos
À lei da sua desdita.
Da Sacramento mineira
Para a “Canindé paulista”,
Carolina foi guerreira
Metendo a cara na pista.
Sempre foi mulher solteira,
Mãe à suas próprias custas;
Como não foi a primeira,
Fez para si leis mais justas.
Carolina de Jesus,
Maria livre de laço,
Foi livre porque faz jus
Ao seu quatorze de março.
Carolina proletária,
Maria de Jesus é
Também revolucionária
Pelas letras de Tomé.
Carolina e Castro Alves
Trazem bandeira no mastro,
Coincidem nos entraves
E no quatorze de março.
Mas Carolina é demais,
Extraiu seu pão da rua,
E quanto mais ela sua,
Mais crê naquilo que faz.
POETA À SACADA
O poeta vai à sacada
E lança os olhos à rua,
Seco de novidades,
De algo que ressuscite
A sua alma,
Exaurida em solidões.
E só após um longo tempo
Olhando para a rua,
Com seu olhar andarilho,
Sente que ela está deserta,
Tão deserta quanto
A alma do poeta,
Sem ninguém sentado
Ao meio-fio
Ao lado de alguém a postos
Para ouvir-lhe as abobrinhas,
Nem as levas de crianças
Naquele corre-corre nervoso
Do pique-esconde, pique-pega,
Pique-parado, ou do foge-foge
Da molecada, que lá vem pai,
mãe, sei-lá-mais-quem,
Abedunhar o que estão fazendo,
Mas para quebrar o gelo,
Surge um cão viralata
Perambulando, meio que perdido,
Ziguezagueando, farejando a esmo
Pra despistar-se de si mesmo,
Até que um gato camuflado
Na turbidez sob um carro
Salta sobre ele
E a madrugada pega no tranco.
BANDEIRA
Nunca participei
De escaramuças literárias,
Não por medo de escaramuças,
Mas por não ser tropa
Nem chegado a general.
SALDO ESCASSO
Após devorar
A sagrada esperança
De Agostinho Neto,
Com gosto de suor africano
Explorado em solo brasileiro,
Regada a muito café
E mergulhado em insônia,
Vou passear no quintal
Ver se colho um poema
Ou o sal da escassez.
NOITE
Depois de trabalhar
O dia inteiro
A noite fica exausta
E se dependura
Lá do céu sobre nós
E dorme como os morcegos...
É por isso que acordamos
Chamuscados de escuridão.
METAPOÉTICA
De tanto
Alavancar o poema
Acabei pavimentando
O verso
E instalando a poesia
Sempre no ponto final.
COMPLEXO DE KAFKA
Não fossem os calafrios
Da pobre coitada mãe
Que vivia em panos quentes
Pra manter seu pai
Em banho-maria
Teríamos mais psicanalistas
Tentando livrar as pessoas
Dos estados parasitários
E Kafka transformado
em barata.
LARGO DA BATALHA
Já diz tudo
O nome do local
Que nos lembra
Algo longe
Transido de combates
E ainda agora
Nos seus arredores
Chegam avisos da pólvora:
Seguem escaramuças
Por seu corpo escarpado,
Todo respingado de rubro.
PONTO CEM RÉIS
Não sei quantos reis
Passaram por este ponto
E não sei ainda
Se era sem réis
Caso houvesse pedágio
Transitar livremente.
ENQUETE
O vovô anarquista
Perguntou para o netinho
Se acreditava em Papai Noel:
- Por quê, vai me dar presente?
Inquiriu o garoto, todo serelepe,
Enquanto o avô confabulava
Com seus bigodes:
- Que menino materialista!
ANTI GULLAR
Inútil a luta corporal
Sem poemas concretos
Sobre romances de cordel
A sós dentro da noite veloz
Pra cometer poema sujo
E acender uma luz no chão
Em plena vertigem do dia
Causar crime na flora
E sair por aí fazendo barulhos
Com muitas vozes
E argumentação contra
A morte da arte
Pleno de antologias...
HORA DA RVOLUÇÃO
É hora da revolução!
É hora da revolução!
Não! Não é nenhum
Sinal dos tempos
Nem devido à queda
De algum ditador.
É que eu vi
Um homem no ônibus
Lendo o Manifesto Comunista.
PRÊMIO JUSTO
Corredor polonês
Só para o maldito inventor
Do corredor polonês,
Que eu fui.....
CACETE BAIANO
Depois de apanhar
Até gato morto miar,
Por dizer gracinhas
Para a menina dos olhos
Do paizão ciumento,
Diz que ganhou
O maior cacete baiano.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Eu sei que o boca-a-boca
É a melhor propaganda,
Mas não adianta resmungos
Nem choro pelos cantos.
Só devolvo o beijo
Que te roubei dormindo,
Se vieres tomá-lo
Boca-a-boca...
DEUSES DE PAUPÉRIA
Era uma cidade
Fundada por ATA
E lá estava escrito:
Artigo Único -
Aqui todos somos felizes,
Pela graça dos deuses.
E todos tudo fazem
Para o bem de todos.
§ Único – Revogam-se
as disposições em contrário.
Antonio Cabral Filho – RJ