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O HOMEM, O RELEVO E A CULTURA:ETNOGEOMORFOLOGIA SERTANEJANA REGIÃO SUL DO CEARÁ- BRASIL
Vanessa Martins Lopes
Licenciada em Geografia, Universidade Regional do Cariri (URCA)
Cássio Expedito Galdino Pereira
Professor Substituto, Pesquisador do Lab. IMAGO (Pesquisa em Cultura Visual, Espaço
Memória e Ensino) – Dep. Geociências/URCA
INTRODUÇÃO
O relevo como um componente da paisagem, exerce enorme influência na
dinâmica socioambiental, e o seu entendimento é essencial para estudos sobre meio
ambiente e organização espacial. Ver as formas e processos geomorfológicos além do olhar
científico, sob a ótica de comunidades tradicionais que mantém uma relação tão próxima
com o meio natural, pode ser uma ferramenta eficaz na efetivação de ações mais
sustentáveis que colaborem para a conservação ambiental e também cultural. Isso é
essencial porque a relação homem/natureza, fortemente influenciada e dependente dos
seus valores culturais, é decisivamente importante na construção socioespacial, dessa
maneira a valorização da cultura das comunidades locais e da relação que elas mantêm com
o ambiente ao seu entorno, é de suma importância para estabilizar essa relação
sociedade/natureza. (LOPES et. al., 2013).
A situação de instabilidade ambiental a qual vivenciamos nos últimos tempos, a
posição marginal que ocupam as comunidades tradicionais no que se refere à valorização
de seus conhecimentos, bem como as ações governamentais que nem sempre são
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condizentes com as diversas realidades espaciais, são questões que justificam o
desenvolvimento deste trabalho. Deste modo, esta pesquisa tem como objetivo identificar
como os produtores familiares sertanejos entendem e classificam o relevo e os processos
geomorfológicos locais, e como a partir desse conhecimento manejam o ambiente em que
vivem. O cenário foi um pequeno distrito denominado de Arajara, pertencente ao município
de Barbalha, porção sul do estado do Ceará, região nordeste do Brasil. Os resultados foram
muito positivos, confirmando o quão valiosos são os conhecimentos ambientais do homem
sertanejo nordestino.
METODOLOGIA
Inicialmente foi feito o levantamento e apreciação do material bibliográfico.
Dentre as principais obras que serviram de base para este trabalho podemos citar a tese de
doutorado de Ribeiro (2012) que foi peça-chave para o desenvolvimento dessa pesquisa já
que a mesma trabalhou com o tema etnogeomorfologia através de uma análise
comparativa do etnoconhecimento geomorfológico de produtores rurais da Sub-Bacia do
Rio Salgado, localizada na Região do Cariri Cearense. O trabalho de outros autores como
Diegues (1996; 2000a), Toledo e Barrera-Bassols (2009) e Toledo (2001), dentre outros
contribuíram muito para a construção da base teórica etnocientífica dessa pesquisa.
Na fase de produção cartográfica, foram produzidos mapas que possibilitassem
realizar a caracterização geoambiental da área de estudo. A carta base foi produzida com
Planos de Informação (PIs) digitais disponibilizados pela FUNCEME - Zoneamento
Geoambiental da Mesorregião Sul- Cearense (FUNCEME, 2006) e, a partir dela foram
confeccionados os mapas temáticos geológicos, geomorfológicos, pedológicos e de uso de
solo. Após a produção cartográfica, foi feita uma análise e observação dos mesmos,
produzindo um perfil geral sobre as características geoambientais da área de estudo. Ainda
em trabalho de gabinete, foi elaborado o roteiro de entrevistas de caráter qualitativo, com
questões que objetivavam descobrir a visão de mundo que os agricultores rurais sertanejos
possuem do ambiente que vivem, enfatizando o relevo e processos morfogenéticos
atuantes sobre ele.
A fase de campo foi constituída no reconhecimento da área de estudo, seguido
da aplicação de vinte e uma entrevistas no distrito de Arajara, onde as mesmas foram
transcritas para o papel e gravadas em áudio a fim de uma maior obtenção de dados, sendo
as famílias entrevistadas escolhidas aleatoriamente, tendo como pré-requisito somente a
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necessidade de serem produtores rurais familiares, ou seja, pessoas que praticam a
agricultura de subsistência. Por fim, a última etapa foi a análise dos dados coletados em
campo e a correlação do etnoconhecimento com os conhecimentos científicos, produzindo
assim o trabalho final.
HOMEM, RELEVO E CULTURA
O processo de intervenção humana sobre o meio natural tem sua origem desde
o inicio da história do próprio homem na Terra, sendo que este por sua vez, vem tornando
cada vez mais o meio natural uma natureza humanizada. (CAMARGO, 2008). Assim, o espaço
que antes era amplamente “natural” vem se tornando cada vez mais artificial, graças à ação
humana por meio da técnica que foi evoluindo juntamente com essa espécie. No entanto,
essa técnica não se fez igual em todas as partes do planeta, isso porque as relações do
homem com a natureza ocorreu distintamente em cada lugar do globo, justamente como
resultado da cultura de cada grupo. Toledo (2001) afirma que a diversidade humana cultural
está associada com as concentrações remanescentes de biodiversidade, assim, o Brasil está
dentre os países considerados mega-diversos no âmbito biológico e cultural.
A cultura é como o espaço geográfico, uma construção humana, e como os
homens não são iguais ela também não o é, no entanto, “a mente humana, apesar das
diferenças culturais entre as diversas fracções da Humanidade, é em toda a parte uma e a
mesma coisa, com as mesmas capacidades.” (LÉVI -STRAUSS, 1978, p. 30/31).
A cultura apesar de ser instrumento essencial na construção sócioespacial, não
age somente como um instrumento ativo, atuando também como um agente passivo, capaz
de ser influenciado pela realidade que o cerca. Deste modo, a cultura é modeladora e
modelada pelo meio social.
Diante do atual quadro vivenciado pela sociedade, a qual se destaca a situação
alarmante em que se encontra a natureza por causa da constante e acentuada intervenção
humana que quase sempre se dá de maneira predatória, faz-se necessário repensar a
questão ambiental, a partir de uma perspectiva cultural. Entender as diferentes formas
como o homem vê, entende e se relaciona com o meio, é crucial para essa análise sob uma
perspectiva humano-cultural, alicerçada no espaço vivido e na subjetividade como os grupos
humanos se organizam em cada lugar especifico. (CAMARGO, 2008).
“Hoje em dia estamos ameaçados pela perspectiva de sermos apenas
consumidores, indivíduos capazes de consumir seja o que for que venha de qualquer ponto
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do mundo e de qualquer cultura, mas desprovidos de qualquer grau de originalidade.”
(LÉVI-STRAUSS, 1978, p. 32). Isso ocorre porque em meio a um sistema que valoriza cada vez
mais os novos arquétipos de consumo, os modelos de vida dos povos tradicionais, que não
são totalmente dependentes da presença dos elementos da modernidade como a
tecnologia, por exemplo, se tornam cada vez mais ignorados. No entanto, esses povos e
comunidades que são vistos como pobres “detém a chave de uma conservação exitosa em
muitas das áreas biologicamente mais ricas do planeta”. (TOLEDO, 2001, p. 1).
Sob a perspectiva desse debate, parecemos estar fugindo do ponto central da
nossa discussão que é a questão ambiental, no entanto, ao discutirmos, sobre as
repercussões do sistema capitalista sobre a vida das pessoas, estamos nos referindo
também à invisibilidade dos modelos locais ou tradicionais, a qual tem na cultura a base de
sua essência, e estão simplesmente sendo esquecidas pela sociedade moderna ocidental
para qual “o meio natural nada mais é do que um objeto, uma mercadoria ou, melhor, uma
possibilidade de lucro e de desenvolvimento.” (CAMARGO, 2008, p. 215/216). Isso é
lamentável já que a cultura dessas comunidades exerce importante papel na conservação
ambiental local.
A dimensão de lugar também ganha destaque e é igualmente importante no
estudo das comunidades tradicionais, já que a relação de identidade com ele estabelece a
conservação ambiental local. Isso é importante porque com o processo de globalização atual
a noção de lugar se tornou marginalizada em meio à ênfase dada ao espaço. “O domínio do
espaço sobre o lugar tem operado como um dispositivo epistemológico profundo do
eurocentrismo na construção da teoria social”. (ESCOBAR, 2005).
“Quando se fala na importância das populações tradicionais na conservação da
natureza, está implícito o papel preponderante da cultura e das relações homem/natureza”.
(DIEGUES, 1996, p. 75). Os povos tradicionais exercem impacto reduzido sobre a biosfera e
vêem a terra e a natureza como entidades sagradas, diferentemente do pensamento
ocidental a qual a natureza não passa de uma mercadoria. Esses povos possuem um
repertório de conhecimentos ecológicos que geralmente é local, coletivo, diacrônico e
holístico. Os saberes ambientais é apenas uma fração da sabedoria local, que se
desenvolvem de acordo com o contexto natural e cultural onde se desdobram. A
transmissão de conhecimentos ocorre oralmente, por isso a memória é um recurso
essencial para essas comunidades. (TOLEDO, 2001; TOLEDO & BARRERA-BASSOLS, 2009).
São vários os tipos de comunidades tradicionais indígenas e não-indígenas,
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porém o foco dessa pesquisa são as comunidades sertanejas, isto é, de produtores rurais
familiares do sertão nordestino, as quais requerem meios intelectuais próprios para
manejar o ambiente ao seu entorno. O sertanejo possui um vinculo muito forte com a terra
e com suas tradições destacando-se a sua forte religiosidade, onde suas duas maiores
formas de expressão foram o cangaço e o fanatismo religioso. (TOLEDO &
BARRERA-BASSOLS, 2009; DIEGUES, 2000a).
ETNOGEOMORFOLOGIA
Sabemos que “em todo o universo não existe nada isolado, fragmentado”
(CAMARGO, 2008, p. 50), assim para compreender a dinâmica de uma paisagem é preciso
conhecer as partes e como elas se interrelacionam para formar o todo. Isso é essencial
porque a “geografia, ao pensar a totalidade como um simples somatório de partes, não
verifica sua essência, seus fluxos, suas possibilidades”. (CAMARGO, 2008, p. 216).
Portanto, a partir desse pressuposto, o estudo do relevo é essencial para a
análise integrada da paisagem já que a geomorfologia direciona a sua preocupação não
somente as feições geomorfológicas e processos que modelam a superfície terrestre, mas
também à maneira como o homem, principal agente construtor e transformador do espaço
geográfico, interfere sobre o relevo e consequentemente no seu estágio de equilíbrio
dinâmico. Esse equilíbrio será influenciado pelas características físicas e tendências
evolutivas do relevo e dos demais elementos da paisagem, dos processos exógenos
atuantes sobre essas formas e principalmente da forma de intervenção antrópica neste
lugar. (MARQUES, 1998).
A geomorfologia assume assim um papel essencial na gestão ambiental e no
planejamento do uso do solo rural e urbano, pois o relevo exerce influência direta e indireta
sobre a vida humana e suas formas de uso e ocupação da paisagem.
Partindo da compreensão da importância do relevo para os estudos da
paisagem e da cultura para os estudos sobre as relações sociais e ambientais, chegamos a
etnogeomorfologia que resumidamente resulta de uma análise baseada na cultura e no
relevo. A mesma analisa os conhecimentos que uma comunidade tem acerca do relevo e
dos processos geomorfológicos, considerando os saberes sobre a natureza advindo dos
valores da cultura e da tradição local. (RIBEIRO, 2012).
As taxonomias e classificações geomorfológicas locais para as formas e
processos geomórficos exógenos são produtos muito importantes para o estudo
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etnogeomorfológico:
“A literatura abunda em exemplos sobre os termos utilizados pelos
povos tradicionais para distinguir e nomear grandes estruturas
geomorfológicas. Praticamente toda cultura possui termos para
designar os principais acidentes de seu espaço terrestre (planícies,
vales, declives, montanhas, picos) ou aquáticos.” (DURVAL, 2008 apud
TOLEDO & BARRERA-BASSOLS, 2009).
Neste âmbito, a etnogeomorfologia tem fixado na etnoecologia os seus alicerces
já que, pode ser considerada, assim como a etnopedologia, como uma abordagem
etnoecológica, uma ciência híbrida estruturada a partir da combinação de ciências naturais e
sociais (TOLEDO, BARRERA-BASSOLS & ZINCK 2003, apud RIBEIRO, 2012). “A
Etnogeomorfologia adquire status de ciência co-irmã da Etnopedologia, ambas
intrinsecamente relacionadas à Etnoecologia”. (RIBEIRO, 2012, p.53).
A etnogeomorfologia pode ser usada para fornecer um quadro para o diálogo,
que pode situar diferentes saberes em efetivo, mas que nem sempre são consensuais. Além
disso, ela oferece uma visão justificativa para vias de comunicação que promovam e
reforçam sinergias entre a geografia humana e física, colaborando para reconhecer
paisagens como entidades simultaneamente geomorfológicas e culturais. (WILCOCK, 2013).
De tal modo, ela pode contribuir para a Geomorfologia acadêmica, sob a forma de novas
perspectivas de análise da paisagem pautada nas formas de interpretação das comunidades
tradicionais, aliando o conhecimento técnico-acadêmico a esses saberes produzidos
culturalmente.
ETNOGEOMORFOLOGIA SERTANEJA NO SUL CEARENSE
Localizado na sub-bacia do rio Salgado, porção sul do estado do Ceará, região
nordeste do Brasil, o distrito de Arajara (Figura 01) pertence ao município de Barbalha, a
qual possui, apesar de pertencer à Região Metropolitana do Cariri- RMC, expressiva
extensão rural. Esse distrito é totalmente influenciado pelas características geoambientais
da Bacia Sedimentar e Chapada do Araripe, que possibilitam que essa seja uma área com
características climáticas mais amenas do que o seu entorno, além de possuir várias
nascentes de água cristalina de caráter perene que alimentam os rios dessa região. Deste
modo, apesar de estar no meio do sertão nordestino, a área de estudo condicionada pelo
relevo local se constitui num enclave úmido no meio do semiárido, possibilitando o
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desenvolvimento de um clima mais ameno com maiores índices pluviométricos e uma
vegetação mais densa do que a caatinga.
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Figura 01 – Visão geral do distrito de Arajara, Barbalha, com sua sede em meio às áreas de produçãoagrícola (Foto: RIBEIRO, 2012)
Se tratando de conhecimento local, indo muito além da etnogeomorfologia,
vários tipos de conhecimentos etnocientíficos foram demonstrados na fala de cada
agricultor sertanejo entrevistado, demonstrando que as experiências repassadas através de
gerações assim como aquelas adquiridas pela vivencia com o lugar possuem enorme
expressividade na visão e relação com o mundo que essas comunidades exercem.
O conhecimento das populações tradicionais é holístico, porque resulta das
necessidades de uso e manejo dos recursos naturais, dessa forma elas detém um detalhado
catálogo de conhecimento acerca da estrutura, elementos, processos, dinâmicas e
potenciais da natureza. Assim os indivíduos reconhecem informações sobre espécies de
plantas, animais, fungos, e alguns microorganismos, além de diversos tipos de minerais,
solos, água, neve, vegetação e paisagens. (TOLEDO, 2001; TOLEDO & BARRERA-BASSOLS,
2009).
Assim, aspectos climáticos, biogeográficos, hidrológicos, pedológicos e edáficos
locais, e também regionais, foram relatados e justificados de uma maneira muito tradicional
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pautada comumente na religiosidade, que surge como uma das facetas da expressão
cultural capaz de exercer enorme influência sobre as concepções de mundo de um grupo.
Raick (2006, p. 41) faz uma discussão sobre esse assunto e afirma que “mesmo
reconhecendo as explicações dadas pela ciência a respeito dos fenômenos naturais, o
reconhecimento de que esses são movidos por uma ordem superior a eles satisfaz mais
como meio explicativo e orientador das ações futuras do que qualquer outro sistema”.
Classificação etnogeomorfológica local
Voltando-se para o foco central da pesquisa que é etnogeomorfologia, a
paisagem de Arajara é entendida pelos agricultores como um elemento não uniforme e
diferenciado, por algumas características como o solo, a forma e a altura do terreno. Desta
maneira, como é notável na Figura 02, foi possível identificar as seguintes unidades
etnogeomorfológicas:
Figura 02- Classificação etnogeomorfológica do Distrito de Arajara, Barbalha/CE. Fonte: Elaboradopor Lopes e Ribeiro (2013)
SERRA DO ARARIPE: compreende a Chapada do Araripe, um relevo
tabuleiforme com altitudes que podem ultrapassar os 900 m., no qual torna-se responsável
pelas características geoambientais diferenciadas dessa região.
TALHADO: se refere mais especificamente as escarpas abruptas da Chapada,
caracterizadas pela intensa declividade. Segundo Barros (1964, p. 67), o talhado, “é uma
escarpa arenítica, abrupta, de perfil acentuadamente vertical, verdadeira cornija” que é mais
visível nos municípios de Crato, Barbalha e Missão Velha.
• PÉ DE SERRA: é toda a área que se localiza no sopé da Chapada, logo abaixo do
talhado, e que segundo Barros (1964, p. 67) “apresenta uma superfície de
topografia irregular, com vertentes algumas vezes de declives íngremes,
entalhadas no arenito.”
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• TABULEIRO: é uma área de pedimento com colinas, ou seja, um relevo
suavemente ondulado.
• ALTOS E BAIXOS: diz respeito às diferenciações de altitudes topográficas
existentes da área de pedimento, através das colinas e alvéolos.
Como podemos observar os agricultores do Distrito de Arajara possuem uma
denominação particular no que se refere às unidades geomorfológicas do ambiente a qual
estão inseridos.
Observando a Figura 03, é possível perceber que a chapada ou cimeira estrutural
do Araripe é caracterizada por seu relevo plano e pouco dissecada, em razão dos arenitos
porosos da Formação Exú. A escarpa da Chapada, que é um relevo abrupto e acentuado
possui altimetria entre 600 e 850 m., com declividades médias a altas chegando a valores
próximos a 90%, dissecada em vales formando amplos hollows e noses. Já a encosta
constitui um compartimento de declividade mediana mais suave que a escarpa da chapada.
O pedimento se constitui na superfície de aplainamento com a presença de colinas (com
litologia mais resistente) e alvéolos, planícies estreitas desenvolvidas entre encostas.
(RIBEIRO, 2012).
Figura 03- Classificação geomorfológica científica/acadêmica do Distrito de Arajara, Barbalha/CE.Fonte: Elaborado por Lopes & Ribeiro (2013).
Processos Geomorfológicos Exógenos
A visão sobre os processos geomorfológicos a qual os agricultores de Arajara
detêm também é bastante ampla e integrada. Os produtores rurais classificam as cicatrizes
presente na paisagem, provocadas pelos processos erosivos da seguinte maneira:
Levada ou valeta: refere-se às ravinas e microrravinas, ou seja, aos canais de
menor amplitude formados em primeiro estágio pelo escoamento superficial.
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Riacho ou grota: esse tipo de cicatriz corresponde às voçorocas, o estágio
mais avançado das ravinas, e igualmente são formados, sobretudo pela ação pluvial intensa
nos períodos chuvosos o que, junto com a estrutura física dos solos e o tipo ou ausência de
cobertura vegetal, colaboram para o desenvolvimento e evolução dessas formas na
paisagem.
Não se restringindo a classificação das cicatrizes erosivas, e de maneira bem
peculiar, os fatores controladores dos processos erosivos são reconhecidos pelos
agricultores como podemos perceber nos depoimentos a seguir:
Erosividade da chuva: relacionam a questão da intensidade e duração das
chuvas com a capacidade de remoção do solo, “se a chuva for pesada (intensa), nas partes
baixas arrasta o legume e cobre de areia”.
Erodibilidade do solo: é a disposição do próprio solo a ser erodido em virtude
de sua estrutura física e propriedades como textura, densidade aparente e porosidade que
são as propriedades mais enfatizadas pelos agricultores. Reconhecem que os sedimentos
mais finos de textura argilosa são carreados pela ação pluvial: “a água puxa a goma que tem
na terra”, “a água carrega as folhas e a terra fina e leva para baixo”, além disso, também
sabem que os solos mais porosos são mais susceptíveis aos processos erosivos “quanto
mais a terra for frouxa, mas a água leva e vai fazendo sucavão (cicatrizes erosivas)”.
Características das encostas: distinguem que a forma topográfica também é
um fator decisivo na ocorrência ou não de processos erosivos, “a chuva arrasta mais a terra
dos lugares acidentados (de maior declive e por isso mais erodido) dos altos e baixos e
forma as grotas”, “na terra descabeceada (inclinada) a chuva escrava (erode) e a água vai
descendo e levando tudo que tem”, “nessas áreas o chão fica mais raso”.
Tipo de cobertura vegetal: reconhecem que a presença de uma cobertura
vegetal sobretudo, mais espessa colabora para a interceptação das gotas de chuva e
reposição da matéria orgânica no solo o que, consequentemente colabora para a sua maior
estabilidade. Além disso, o papel das raízes como agente que não permite que a terra seja
carreada também é reconhecido pelos agricultores: “as árvores é a sustentabilidade da
terra, se não tiver árvore não sustenta a terra”, até mesmo a ação antrópica é reconhecida:
“no alto a água sempre carrega um pouco de terra, principalmente depois que a gente limpa
a primeira vez porque a terra fixa frouxa”.
Assim, a ação antrópica no uso e manejo das terras também é vista por eles
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como um fator controlador da erosão quando afirmam “as valetas ocorrem mais no alto e
nas baixa ocorrem quando arada a terra porque a terra fica muito frouxa né!”.
Os agricultores entrevistados relatam implicitamente a erosão laminar quando
afirmam que a água carrega os sedimentos mais finos, e a erosão concentrada quando
relatam que a água desce para as partes mais baixas cavando buracos.
Apesar de não possuir um conhecimento cientifico sobre os elementos naturais
que compõem a paisagem local, os sertanejos são capazes de identificar até mesmo o
carreamento dos nutrientes do solo que é levado para as áreas mais baixas, tornando-as
consequentemente mais produtivas: “e a terra faz um plano, junta a goma e fica boa para
plantar... a árvore seca as folha e cai, quando o inverno vem ‘alimpa’ e a gente sente que fica
só o chão e as folha foi pras baixa, aí dá outra chuva grossa e leva, e sempre o rio é quem
fica com a terra mais forte.”
Para moderar ou retardar os processos erosivos, os agricultores possuem
técnicas específicas para esse fim. Os entrevistados afirmam que quando a água escava a
terra usam uns “paus” velhos para entupir e plantam as “carreiras de banda”, ou seja, em
curvas de nível abandonando o “plantio morro abaixo” porque se plantar na direção da
grota a água arranca o legume. Já outro agricultor ao falar sobre uma “ribanceira” perto do
rio (um buraco, segundo ele, com mais de quatro metros formado pela ação da erosão
fluvial) conta que planta árvores como sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia), macaubeira
(Acrocomia aculeata) e palmeira (Syagrus coronata) para sustentar a terra “porque a gente
não quer ver a terra da gente se acabando, mas a água leva”.
Sendo assim, por meio de todos os aspectos identificados nas entrevistas
pode-se verificar que os processos erosivos são entendidos por essas comunidades de
maneira integrada através dos fatores controladores da erosão, por exemplo; de maneira
evolutiva na paisagem quando afirmam que “se a levada aprofundar muito ela vira um
riacho” e também de maneira dinâmica quando afirmam que a água “cava buraco em um
canto e entope em outro”.
O distrito de Arajara se encontra localizado no sopé da escarpa da chapada do
Araripe e muito próximo à suas escarpas abruptas, por isso a maioria dos entrevistados
reconheceram que os movimentos de massa ocorrem no local na parte localmente
denominada de talhado. “Deslizamento de terra ocorre no talhado. Quando o inverno é
muito bom a terra vai esmorecendo e a terra alta vai escorregando”; “tem deslizamento no
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pé da serra do Araripe, e ocorre quando chove muito... chuva de oito a quinze dias, é
deslizamento de madeira, terra, pedra... fica aquele vermelhão, a terra fica mole, as raiz
desce e vem, inclusive a água desce até vermelha”, são alguns dos depoimentos dos
agricultores. Segundo eles, esses deslizamentos só ocorrem lá no talhado em anos de bom
inverno, os últimos maiores ocorreram em 2004, ano de altos índices pluviométricos na
região.
O PAPEL DAS ASSOCIAÇÕES LOCAIS
Arajara é uma comunidade que se dedica fortemente a atividade agropecuária,
no entanto sua especialidade não está só aí, e outros dons dessa comunidade sertaneja
estão sendo descobertos e revelados por meio das pequenas associações de produtores
rurais que estão se formando nos sítios desse distrito. Surgindo na verdade como uma
extensão das habilidades do produtor rural sertanejo, a Associação dos Pequenos
Agricultores do Sítio Coité (Figura 04) localizada no sítio Coité, já possui uma série de
equipamentos necessários para a fabricação de seus produtos, como o sequilho, um
biscoito feito à base da fécula de mandioca, polpa de frutas e artigos artesanais como bolsas
produzidas a partir da palha da bananeira (Figura 05).
Essa associação conta com a participação de alguns dos moradores do distrito
de Arajara que tem nessa atividade produtiva uma de suas fontes de renda. Acreditamos
que a formação de associações e cooperativas locais é uma forma de desenvolvimento local
capaz de gerar renda e ao mesmo tempo levar o trabalho e os conhecimentos da
comunidade para fora dela, expandindo assim os seus limites, a exemplo da participação
dos seus integrantes em exposições e feiras ecológicas da região como relatado pelo
presidente da associação.
Figura 04 - Associação dos Pequenos Agricultores do Sítio Coité
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Foto: LOPES, 2013
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Figura 05- Equipamentos da Associação dos Pequenos Agricultores do Sítio Coité. Na foto, em A,podemos ver um equipamento usado para a fabricação de polpa de fruta. Em B temos uma máquina
de costura específica para artesanato. Na parte C vemos a cozinha onde são produzidos os sequilhose por fim na parte D temos um dos produtos do artesanato da associação, uma bolsa feita de palha
de bananeira.
Foto: LOPES, 2013.
A partir da observação da Associação dos Pequenos Agricultores do Sítio Coité é
possível constatar que os conhecimentos e a capacidade que as comunidades locais
possuem devem ser considerados previamente antes de qualquer atuação do Estado nesses
locais. Os conhecimentos das comunidades tradicionais, ainda que produzidos localmente,
são objetos de discussão global, pois tal discussão também se refere ao seu próprio destino.
(DIEGUES, 2000b). Efetivada essa ação, é possível haver uma relação integrada entre Estado
e atores locais de modo que a partir da valorização dos últimos, e ainda com o sentimento
de poder transformador dessas comunidades, haverá um desenvolvimento local pautado no
respeito ao ser humano e ao meio ambiente. Consequentemente contruir-se-á um ambiente
natural, social, cultural e político mais estável e harmonioso.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É necessário estabelecer o desenvolvimento local pautado sobre a
geoconservação e o resgate sociocultural, utilizando como uma de suas estratégias
primordiais, a gestão participativa dos atores locais. É muito importante estabelecer
parcerias de manejo de recursos entre os povos locais, o Estado e instituições
não-governamentais em prol da conservação da biodiversidade, pois esse é um meio seguro
para garantir essa preservação a nível mundial, isso porque só é possível pensar o global a
partir de uma perspectiva local. (LOPES et. al., 2014; TOLEDO, 2001; ESCOBAR, 2005).
Defendemos assim que a etnogeomorfologia, a partir da valorização dos
conhecimentos locais sobre o relevo, pode ser uma das possibilidades para buscar a
conservação e a maior visibilidade ambiental e cultural e consequentemente melhorias no
uso e manejo do solo, amenizando os impactos da ação humana sobre o ambiente.
REFERÊNCIAS
BARROS, Haidine da Silva. O Cariri Cearense: oquadro agrário e a vida urbana. Ano XXVI- Nº 4.Rio de Janeiro: IBGE, Out/dez, 1964.
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O HOMEM, O RELEVO E A CULTURA: ETNOGEOMORFOLOGIA SERTANEJA NA REGIÃO SUL DO CEARÁ- BRASILEIXO 5 – Meio ambiente, recursos e ordenamento territorial
RESUMOAo transformar o meio natural, o ser humano ao longo de sua história sempre se utilizou de uma
ferramenta fundamental para a sua atuação: a cultura. Esta se encontra diferenciada nosdiferentes lugares do globo por conter e estar contida em diferentes sociedades, no entanto, ao
mesmo tempo em que influencia a relação entre o homem e natureza, é ao mesmo tempoinfluenciada por esta relação. Dessa maneira, entender as diferentes formas como o ser humano
entende e maneja o ambiente que o rodeia é essencial para a compreensão das relaçõessocioambientais tão enfatizadas na atualidade. Dentre os componentes que compõem a
paisagem, o estudo do relevo é de suma importância, pois “constituem os pisos sobre os quais sefixam as populações humanas e são desenvolvidas suas atividades, derivando daí valores
econômicos e sociais que lhes são atribuídos.” (MARQUES, 1998, p.25). Conhecer as formas egênese geomorfológicas é indispensável para estabelecer melhores formas de uso e ocupação
do solo, pois o relevo pode interferir direta ou indiretamente sobre a estabilidade socioambiental.Assim, se tanto a cultura quanto o ambiente devem ser explorados para a efetiva compreensão
das relações socioambientais, então se ambos forem analisados simultaneamente o resultadopoderá ser muito mais positivo. Dentro dessa perspectiva, enfocando os aspectos
geomorfológicos sob uma ótica pautada sobre os aspectos culturais, este trabalho se debruçasobre a etnogeomorfologia sertaneja discutida por Ribeiro (2012) e definida pela mesma autora
como uma ciência que se dedica a compreensão do relevo e dos processos geomorfológicos soba visão de comunidades tradicionais, buscando entender como esses povos percebem e manejam
o ambiente em que vivem a partir da lógica cultural que detém. Igualmente neste trabalho,objetivamos descobrir como as comunidades tradicionais sertanejas entendem, manejam e
classificam o ambiente em que vivem a partir de uma percepção etnocientífica do relevo e dapaisagem, sendo estas repassadas através de gerações e construídas empiricamente. As
comunidades analisadas estão localizadas no Distrito de Arajara, município de Barbalha sendoeste localizado na porção sul do estado do Ceará, nordeste do Brasil. Para que pudesse ser
efetivado, este trabalho passou por várias etapas, sendo a primeira o levantamento bibliográfico,cujos trabalhos de Ribeiro (2012), Diegues (1996; 2000a), Toledo & Barrera-Bassols (2009), Toledo
(2001), dentre outros foram essenciais. As fases conseguintes foram a produção cartográfica, aelaboração e aplicação de entrevistas, a análise dos dados coletados em campo, e por fim a
correlação entre conhecimento tradicional e conhecimento técnico – científico. Ao concluir essapesquisa, pôde-se perceber a riqueza do etnoconhecimento que o agricultor sertanejo possui
revelados por meio das taxonomias e maneiras próprias de se expressar, sendo que não serestringiram somente aos aspectos etnogeomorfológicos, mas se mostraram muito mais amplos.
Acreditamos que a etnogeomorfologia pode atuar como uma ferramenta viável que podeestabelecer a compreensão do relevo e do ambiente sob uma perspectiva cultural indo muito
além de parâmetros científicos, possibilitando uma maior visibilidade de modelos culturais tãoimportantes que ainda são menosprezados.
Palavras-chave: Etnogeomorfologia, Comunidades Tradicionais, Brasil.
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