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o tempo da duração le temps de la durée

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o tempo da duraçãole temps de la durée

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10 —

13 setem-

bro

exposição-experimento

rua do rezende 50, centro rio de janeiro

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“Obviamente, destruir a pedra não é possível. Apenas a mudamos de lugar. De qualquer forma, ela durará mais que os homens que se servem dela. Por enquanto, ela apoia a vontade de ação deles. Isso sem dúvida é inútil. Mas mudar as coisas de lugar, é o trabalho dos homens: tem que escolher fazer isso ou nada. […] Daqui a cem anos, ou seja amanhã, terá que recomeçar.”

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“Obviamente, destruir a pedra não é possível. Apenas a mudamos de lugar. De qualquer forma, ela durará mais que os homens que se servem dela. Por enquanto, ela apoia a vontade de ação deles. Isso sem dúvida é inútil. Mas mudar as coisas de lugar, é o trabalho dos homens: tem que escolher fazer isso ou nada. […] Daqui a cem anos, ou seja amanhã, terá que recomeçar.” albert camus, l’été,

‘le minotaure’, 1939

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Ao contemplar o deserto de Oran e as suas precárias cidades de pedra, testemunhas da desesperada luta do homem para per-manecer nesse ho-rizonte primordial, Camus se depara com a semelhança da condição humana à do absurdo herói grego sentenciado a carregar sua pedra.Companheiro mile-nar, a pedra impassi-velmente assiste ao drama da humanida-de. Nela encontra--se um adversário intratável que reme-te a impermanência da vida e a vacuida-de de qualquer de-sejo de supremacia sobre a natureza,

mas também um camarada de destino junto condenado a seguir sua trajetória kafkiana, lançada no vazio, até em seu torno virar terra, areia e poeira.Através de obras que dialogam com a noção de minerali-dade, ‘O Tempo da Duração’ propõe uma reflexão sobre questões da experiência huma-na e do seu lugar no mundo.Neste espelho bru-tal que é a pedra, encontra-se a intui-ção fundamental da duração de todo. A memória do instan-te eterno. Paradoxo cruel da necessida-de absoluta de

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existir para continu-ar e continuar para existir.Da rocha precisa-se fazer uma irmã e uma amiga, pois “se a pedra não pode mais para nos que o coração hu-mano, ela pode ao menos tanto “

romain dumesnilmanoela medeiros

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a r t i s t a s

s o f i a b o r g e s

r o d r i g o b r a g a

c l i n â m e n

( y u r i f i r m e z a

a n d r é p a r e n t e

l u c a s p a r e n t e

p o n t o g o r

l u i s a n ó b r e g a )

m a n o e l a m e d e i r o s

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r o m a i n d u m e s n i l

m a r i a l a e t

m a t h e u s r o c h a p i t t a

i g o r v i d o r

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pedra do realmaria laet

2015 impressão a jato de tintasobre papel algodão

pedra do realmaria laet

2011monotipia sobre pedra

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sal e pratarodrigo braga

2010video 9’20’’

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laje #68 (refugiados)matheus rocha pitta

2015cimento e papel

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sem título (déprime)romain dumesnil

2015relógios e vidros quebrados e pedras

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sem título (dérive chronique)romain dumesnil

2015pedra comum e gesso

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as imagens não existemsofia borges

2015impressão a jato de tinta sobre papel algodão(provas de artista)

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deslocamento de espaçomanoela medeiros

2015fragmentos de parede do próprio espaço e gesso

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desejo eremita 2rodrigo braga

2009impressão a jato de tinta sobre papel algodão

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desejo eremita 1rodrigo braga

2009impressão a jato de tinta sobre papel algodão

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see the sky is no man’s landigor vidor

2012video 3’49’’

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t e x t o s

u l i s s e s c a r r i l h o

c a r l o s m e i j u e i r o

m i c h e l l e s o m m e r

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t e x t o s

c a r l o s m e i j u e i r o

a l i c e s a n t ’a n n a

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A arquitetura egípcia alcançou sua plenitude quan-do a maior das pirâmides foi construída mirando a certeza da eternidade. Estima-se que em 2530 a.C. a edificação ergueu-se em homenagem ao faraó Khufu – as traduções divergem, também fora chamado nos alfarrábios de Queóps – e manteve--se até o início do século XX uma das mais altas e firmes obras construída pelo homem das quais se tinha notícia. À época, os servos africanos movi-mentaram cerca de 6,5 milhões de pedra, dentre as quais blocos inteiriços de 9 toneladas, com nada mais que cordas e madeira. Nos últimos 4500 anos foram tais montes de pedra erguidos numa enge-nharia rudimentar, arquiteturas que são sinônimo de forma básica, tema de interesse e admiração, capaz de curar, segundo a New-Age. Tal fascínio com a engenharia –e certa dose de preconceito– levou o conhecimento ocidental a cogitar a exis-tência de vida extraterrestre por não entender o domínio da geometria empregada pelos egípcios para rolar pedras, ela foi inventada séculos depois pelo grego Pitágoras.

Em Les Statues meurrent aussi [1953], dir.: Alain Resnais e Chris Marker, o narrador nos aplaca da seguinte maneira: “Quandos os homens mor-rem, entram para a história. Quando as estátuas morrem, viram arte. A botânica da morte, o que chamamos de cultura. Isso porque a população de estátuas é mortal. Um dia suas faces de pedra se desintegrarão e cairão em terra.”2 Uma das prin-cipais questões que Resnais alegava sobre o filme não dizia respeito ao anticolonialismo, mas ao fato de as peças de arte africana era exibida no Museu do Homem, de cunho etnológico, e a arte grega no

Pedra nunca deixa de ser pedra, mas pode falar a língua da luz1

Louvre”. A questão dizia respeito à catalogação diferente de peças que coincidiam de matéria-pri-ma, a pedra. Após a Idade Média Central, o comér-cio de raridades e “objetos de culturas exóticas” criou uma valoração monetária aos objetos a partir de sua proveniência. Nas explorações marítimas do século XV, América, África e Ásia faziam parte da tríade do mercado selvagem.

Na italiana Ghilarza, dos anos escolares de Anto-nio Gramsci, temos ainda abundância de calcário, granitos vermelhos e pretos, xisto, arenito e deze-nas de tipos de negras pedras vulcânicas. O tempo das pedras é um tempo outro, não somos apenas a síntese de relações existentes: somos também a história das relações, dizia ele. Foi também da pe-dra também que tiraram leite os analistas de sua infância: em cada lugar que uma pedra está sobre uma pedra por razões não-naturais, ali encontra-se o conhecimento humano, proferiu Berger.

Foi Brancusi, o romeno, quem disse certa feita que a origem da escultura se dava por um imaginário composto por imagens de infância, como na car-tela que apresente outro filme de Chris Marker, o paradigmático La Jetée: “Ceci est l’histoire d’un homme marqué par une image d’enfance”. Constantin Brancusi descreveu a Isamu Noguchi memórias de pedras empilhadas, igrejas antigas em madeira, grama e pedras molhadas, coisas que classificava como “observadas e não ensinadas”, estas eram as que ditavam seu léxico de formas. Até hoje, no entanto, a abordagem formalista tem se provado insuficiente para decodificar o exato desenho intuído pelos meios da linguagem. Atra-vés da mirada estrita para a forma, apenas parte

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ulisses carri-lho

Louvre”. A questão dizia respeito à catalogação diferente de peças que coincidiam de matéria-pri-ma, a pedra. Após a Idade Média Central, o comér-cio de raridades e “objetos de culturas exóticas” criou uma valoração monetária aos objetos a partir de sua proveniência. Nas explorações marítimas do século XV, América, África e Ásia faziam parte da tríade do mercado selvagem.

Na italiana Ghilarza, dos anos escolares de Anto-nio Gramsci, temos ainda abundância de calcário, granitos vermelhos e pretos, xisto, arenito e deze-nas de tipos de negras pedras vulcânicas. O tempo das pedras é um tempo outro, não somos apenas a síntese de relações existentes: somos também a história das relações, dizia ele. Foi também da pe-dra também que tiraram leite os analistas de sua infância: em cada lugar que uma pedra está sobre uma pedra por razões não-naturais, ali encontra-se o conhecimento humano, proferiu Berger.

Foi Brancusi, o romeno, quem disse certa feita que a origem da escultura se dava por um imaginário composto por imagens de infância, como na car-tela que apresente outro filme de Chris Marker, o paradigmático La Jetée: “Ceci est l’histoire d’un homme marqué par une image d’enfance”. Constantin Brancusi descreveu a Isamu Noguchi memórias de pedras empilhadas, igrejas antigas em madeira, grama e pedras molhadas, coisas que classificava como “observadas e não ensinadas”, estas eram as que ditavam seu léxico de formas. Até hoje, no entanto, a abordagem formalista tem se provado insuficiente para decodificar o exato desenho intuído pelos meios da linguagem. Atra-vés da mirada estrita para a forma, apenas parte

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é levada em conta. Torna-se fundamental levar em conta significante e significado. Olhar para a maté-ria torna-se uma escuta da pedra, onde opera uma espécie de fusão da lógica concreta ao pensamento mágico: seres extraterrestres constroem leitos de morte aos humanos que se encontram mais próxi-mos ao sol.

1 “In Brancusi, stone never stops being stone, but it can speak the language of light”, frase do artista Niu Bo sobre o escul-tor romeno Constantin Brancusi.2 Do original: “Quand les hommes sont morts, ils entrent dans l’histoire. Quand les statues sont mortes, elles entrent dans l’art. Cette botanique de la mort, c’est ce que nous appelons la culture. C’est que le peuple des statues est mortel. Un jour, nos visages de pierre se décomposent à leur tour”.

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Gosto de olhar a vida. As pessoas vivendo a vida, com suas manias e tiques, seus jeitos de andar, de olhar, de palitar os dentes, de mexer nos cabelos, de dormir, de cruzar as pernas, de falar as verdades e as mentiras, de cantar, de chorar, de sorrir, de amar, de gozar, de sentir medo, de comemorar. quando tô numa praça olhando a vida, e quero me tornar parte dela: se desejo movimento e finitude, ganho asas, olhos e patas vermelhas, e viro pombo, voador que prefere caminhar na cidade; se sonho ser parte inteira, pleno, viro pedra sobre o banco verde de madeira. Estátua com coração mole que chora ao ver criança jogando pião com velho, ou só de sentir o cheiro da pipoca doce. Uma estátua que envelhece, que sente, que lembra, e que está lá todos os dias, com os mesmos olhos, fixados na vida fluindo como rio que corre sobre o chão das pedras que sou feito.

carlos mei-jueiro

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Gosto de olhar a vida. As pessoas vivendo a vida, com suas manias e tiques, seus jeitos de andar, de olhar, de palitar os dentes, de mexer nos cabelos, de dormir, de cruzar as pernas, de falar as verdades e as mentiras, de cantar, de chorar, de sorrir, de amar, de gozar, de sentir medo, de comemorar. quando tô numa praça olhando a vida, e quero me tornar parte dela: se desejo movimento e finitude, ganho asas, olhos e patas vermelhas, e viro pombo, voador que prefere caminhar na cidade; se sonho ser parte inteira, pleno, viro pedra sobre o banco verde de madeira. Estátua com coração mole que chora ao ver criança jogando pião com velho, ou só de sentir o cheiro da pipoca doce. Uma estátua que envelhece, que sente, que lembra, e que está lá todos os dias, com os mesmos olhos, fixados na vida fluindo como rio que corre sobre o chão das pedras que sou feito.

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Presentness

mi-chelle som-mer

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A ruína é a câmara escura da memória. Produz desorientação no espaço-tempo e contém uma história que fascina pela presença da ausência. Mas a história é histérica, só se constitui se a gente a olha, e para olhá-la é necessário estar fora dela, nos diz Roland Barthes. Se a história é uma memória fabricada, uma falsa memória, um puro discurso intelectual que anula o tempo mítico, como nos conectamos, então, com a ruína (e suas pedras) no tempo presente?O estenopo é a abertura da câmara escura, de di-âmetro muito pequeno, que permite que se for-me em sua parede oposta uma imagem invertida. Na ruína câmara escura, é no estenopo que se dá a tomada da consciência do tempo passado que se abre para o tempo da duração na experiência imediata da ação.

Em “O tempo presente no espaço”, Robert Mor-ris em 1978, define presentness como a insepara-bilidade intima da experiência do espaço físico daquela de um presente continuamente imedia-to. “O espaço real não é experimentado a não ser no tempo real. O corpo está em movimento, os olhos se movimentam interminavelmente a várias distancias focais, fixando inúmeras ima-gens estáticas ou móveis. A localização e o ponto de vista estão constantemente se alterando no vértice do fluxo do tempo”.

No tempo de duração, na efemeridade da nossa permanência no estenopo da câmara escura, novas camadas de memória móveis são aderidas às ruínas.

mi-chelle som-mer

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às vésperas do aniversário de cinquenta anosele perguntou o que ela queria de presentejá tinha tanta coisatudo o que preciso, ela dissee o que você não precisamas gostaria de ter? ela respondeu um jardimum jardim de pedra japonêse foi assimtoneladas de pedra encomendadas trazidas de avião, caminhão, qualquer jeito um pedregulho no terreno da casao mais importante é que as pedras sejam respeitadasse nasceram viradas para o lestedevem continuar viradas para o lestese nasceram apontadas para o altoassim devem permaneceré como transpor uma árvore alice

sant’-anna

e no destino finalplantar a copa e deixar as raízes viradas para o céuno aniversário de cinquenta anoslá estavam as pedras importadasem suas posições originais uma pedra pode ser levada de um lugarao outro mas feito um girassol que morre rápido ou nem florescese estiver na sombra não é à toa que uma pedra aponta para o leste

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alice sant’-anna

e no destino finalplantar a copa e deixar as raízes viradas para o céuno aniversário de cinquenta anoslá estavam as pedras importadasem suas posições originais uma pedra pode ser levada de um lugarao outro mas feito um girassol que morre rápido ou nem florescese estiver na sombra não é à toa que uma pedra aponta para o leste

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p e r f o r m a n c e s s o n o r a s

c l i n â m e n

c a s s i u s

g u i g o f r e i r e

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c a s s i u s

j u l i a n o s e r p a e

c a r o l i n a h o l l a n d a

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c l i n â m e n

y u r i f i r m e z a l u í s a n ó r e g a , a n d r é p a r e n t el u c a s p a r e n t ep o n t o g o r

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o tempo da duração

c a s s i u s

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