UNNERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
ATUAÇÃO LITERÁRIA DE ESCRITORAS NO RIO GRANDE DO SUL:
UM ESTUDO DO PERIÓDICO CORJMBO, 1885-1925
MÍR!AM STEFFEN VIEIRA
Dissertação apresentada como requisito
parcial para a obtenção do grau de
Mestre em História. Profà. Dra. Stlvia
Regina Ferraz Petersen (Orientadora).
PORTO ALEGRE
1997
AGRADECIMENTOS
Para a realização desta dissertação contei com o apoio financeiro,
orientação e estímulo de pessoas e instituições diversas. Entre muitas destas, destaco as
seguintes, com o meu agradecimento:
Ao CNPq pela Bolsa de Mestrado que possibilitou minha dedicação
exclusiva ao Programa de Pós-Graduação em História!UFRGS e à realização da
dissertação, bem como pela Bolsa Auxílio concedida pela Pró-Reitoria de
Pesquisa!UFRGS.
À Profa. Dra. Silvia Petersen pela atenção que dedicou a esta pesquisa e
pelo estímulo continuamente recebido para a sua conclusão.
Aos membros da Banca Examinadora que, por diversos motivos, estavam
presentes no desenvolvimento da pesquisa. O Prof. Dr. René Emami Gertz, cujo
exemplo, como historiador, serviu como um incentivo para esta iniciação à pesquisa
historiográfica. A Profa. Dra. Cláudia Lee Fonseca, que sempre foi lembrada quando
estava lendo os depoimentos de minhas "informantes". A Profa. Rita Terezinha
Schmidt, pela disponibilidade e interesse com que me atendeu desde o início da
pesquisa, pelo incentivo e, principalmente, pelas sugestões bibliográficas, empréstimo
de livros e troca de material nesta área relativa à produção literária feminina do Rio
Grande do Sul no século XIX
Às amigas( os) que me hospedaram no interior do Estado e que me levaram
a conhecer historiadores, bibliófilos, escritoras( es) e acervos documentais disponiveis.
Ao Wilson, que acompanhou o desenvolvimento da pesquisa e
constantemente parou para ouvir minhas indagações.
AGRADECIMENTOS
RESUMO
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
2
5 6
1 IMPRENSA PERIÓDICA, ATIVIDADE LITERÁRIA E ESCRITORAS
1. I "IMPRENSA FEMININA" E LITERATURA I6
1. 2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA
LITERATURA NO BRASIL, SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX 25
1. 2. 1 A literatura como atividade não especializada 26
a) Relação entre a literatura e a imprensa periódica 28
b) A organização dos escritores com base em um
mútuo apoio e inter- reconhecimento entre pares
1. 3 ESCRITORAS DO RIO GRANDE DO SUL NO SÉCULO XIX
1. 3. 1 Atividades literárias desenvolvidas por escritoras
33
39
40
1. 3. 2 Atividade literária das escritoras como "atividade de mulheres" 53
2 O CORJMBO E A ATIVIDADE LITERÁRIA DE ESCRITORAS NO
RIO GRANDE DO SUL
2. 1 0 CORJMBO: BREVE APRESENTAÇÃO
2. I. 1 Duração, período selecionado para a análise e
representatividade do Carimbo
2. 1. 2 Formato, preço, locais de circulação e manutenção
2. 1. 3 Seções e assuntos recorrentes
2. 2 0 CORJMBONA LITERATURA
2. 2. I Origem familiar ligada às letras
67
68
72
79
89
90 2. 2. 2 Atividades literárias desenvolvidas pelas redatoras do Carimbo 94
2. 2. 3 Relações entre escritores( as) com base em um reconhecimento
recíproco e no apoio mútuo: o caso do Carimbo e de suas redatoras 96
2. 3 0 CORJMBO COMO UM VEÍCULO DE ATUAÇÃO LITERÁRIA
DE ESCRITORAS 112
2. 3. 1 O Carimbo como um empreendimento literário feminino 112
2. 3. 2 A organização e articulação de escritoras em uma
rede de mútuo apoio 115
2. 3. 3 Relação das escritoras com a literatura: definições e
justificativas para a sua atividade literária
2. 3. 4 As escritoras na luta pelo "alevantamento moral e intelectual
da mulher brasileira"
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ANEXO 1 - Periódicos Editados por Mulheres: século XIX
e início do século XX
ANEXO 2 -Escritoras, Rio Grande do Sul, século XIX
ANEXO 3 - Conrnbo: Exemplares Consultados, 1885-1925
ANEXO 4 - Colaboradoras do Carimbo, 1885-1925
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
130
132
148
153
157
162
166
184
RESUMO
A dissertação analisa alguns elementos relativos a atuação literária de
escritoras no período que se estende do final de século XIX a inícios do século XX.
Para tanto, utilizou-se como referencial empírico o periódico literário Carimbo, editado
pelas escritoras Revocata Heloísa de Mello e Julieta de Mello Monteiro, na cidade de
Rio Grande (RS), no período de 1883 a 1943, sendo que foi selecionado para a análise o
intervalo entre 1885 a 1925. Tal periódico mostrou-se uma funte significativa para este
estudo tanto por reunir um número considerável de escritoras (124 escritoras no período
de 1885 a 1925), quanto pela importância da imprensa periódica de um modo geral para
a divulgação dos(as) escritores(as) e de suas produções literárias. Com base neste
periódico verificou-se, primeiramente, as diversas relações estabelecidas por suas
redatoras com grupos letrados de modo a favorecer o seu reconhecimento como
escritoras. Por outro lado, demonstrou-se como o Carimbo serviu de veículo de atuação
literária de escritoras: propiciando a identificação de grupos letrados femininos em
diversas regiões do país e a organização de escritoras brasileiras em uma espécie de
rede de mútuo apoio, fundamentada na própria desigualdade, no âmbito da literatura,
em relação aos escritores e as produções masculinas. Por fim, verificou-se a relação do
periódico com reivindicações por direitos sociais e políticos das mulheres. Observou-se
que a busca de reconhecimento literário por parte das escritoras também passava pelo
reconhecimento social das mulheres, principalmente no que se refere a sua capacidade
intelectual. Assim, as reivindicações veiculadas no Carimbo estavam pautadas pelo
interesse das escritoras como um grupo social específico.
INTRODUÇÃO
O interesse inicial desta dissertação foi o de resgatar a "presença" feminina
na história, mais especificamente, das pioneiras do feminismo no Rio Grande do Sul,
principalmente pela motivação que recebemos do contato com duas obras de escritoras
da primeira metade do século XIX que foram recentemente reeditadas: O ramalhete,
ou, flores escolhidas no jardim da imaginação de Ana Eurídice Eufrosina de Barandas
e Direitos das mulheres, injustiça dos homens de Nisia Floresta. Ambas, em maior ou
menor grau, têm um conteúdo de denúncia da condição feminina neste período.
Este interesse inicial foi se modificando ao longo do primeiro ano do
mestrado, quando realizamos diversas leituras de livros e artigos que problematizam a
temática "mulher" como objeto de estudo, com a intenção de verificar os procedimentos
para análises nesta temática.
Este material procedeu de diversas áreas do conhecimento como história,
sociologia, antropologia, literatura e educação. Foram consultadas as publicações da
Fundação Carlos Chagas, algumas revistas especializadas sobre o tema, como Cadernos
Pagu e Estudos Feministas, artigos publicados em revistas na área das ciências
humanas e alguns artigos que se tornaram uma referência para o debate sobre este tema,
como os de Michelle Perrot, Joan Scott e Pierre Bourdieu.
Destas leituras fizemos uma apropriação apenas parcial. Uma vez que a
maior parte deste material são artigos, não foi possível aprofundar a visão de cada
autora ou autor a ponto de compreender integralmente a proposta contida em suas
abordagens. Por exemplo, o artigo de Pierre Bourdieu intitulado La domination
masculine, envolve o conjunto da obra do autor uma vez que ele, ao entender a relação
entre os sexos como uma relação de dominação, utiliza para a sua análise os mesmos
7
princípios de adordagem de outras formas de dominação que só podem ser entendidas a
partir de um conhecimento mais amplo de sua obra. Por outro lado, este mesmo artigo
está referenciado em um estudo empírico, que também deveria ser lido para um
entendimento das questões que o autor levanta sobre a "dominação masculina". O
mesmo ocorreu com a leitura de Joan Scott, quando sentimos a necessidade de
conhecer também suas pesquisas para verificar como aplica a noção de "gênero" em
estudos empíricos.
Frente a impossibilitade de proceder a um estudo mais aprofundado sobre o
modo como a temática "mulher" vem sendo estudada, pelas próprias limitações de um
curso de mestrado, estas leituras acabaram por ser apenas inspiradoras para o que
depois veio a constituir o tema da dissertação.
A principal contribuição destas leituras foi demonstrar que a relação entre
os sexos é uma construção social, buscando romper com uma visão essencialista do "ser
mulher", amparada em uma natureza imutável e invariável. Deste modo, a
contextuahzação histórica, no tempo, no espaço, no conjunto das relações sociais, passa
a ser apontada como um procedimento necessário para os estudos sobre as mulheres, da
mesma forma que uma contextualização do grupo pesquisado, ou seja, de que mulheres
se está falando.
A partir destas leituras, nos preocupamos menos em resgatar a "presença"
das mulheres e mais em analisar como elas estão presentes, como se inserem em
detenninado contexto social. Deste modo, nos interessamos em verificar como as
mulheres que inicialmente identificamos como "pioneiras do feminismo", se integraram
em um contexto social particular. Tratando-se de escritoras, nos interessamos em
analisar a sua relação com a literatura, entendida em um sentido mais amplo, como o
meio social no qual participavam os grupos letrados do período.
Nesta perspectiva, cabe mencionar o artigo Les 'femmes escrivains' et /e
champ littéraire de Monique de Saint Martin, que ajudou na definição do tema e na
elaboração da presente pesquisa. Esta autora, ao analisar o processo de inserção das
escritoras na literatura, no caso, na França, no período do século XIX, contextualizou as
8
diversas relações sociais que constituiram o campo da pesquisa. Primeiramente verifica
como as escritoras foram referenciadas em índices e catálogos literários e, em wn
segundo momento, analisa as diversas características e relações presentes no processo
de inserção das escritoras na literatura, como, por exemplo as formas de recrutamento
das escritoras, quem são elas, qual sua origem social, quais as formas de acesso ao
"campo literário", como escrevem, o que escrevem e o que podem escrever, qual a
posição que ocupam no "campo literário" e porque.
Mesmo se tratando de um breve artigo, marcou bastante o modo como
organizamos a pesquisa, princtpalmente no que diz respeito ao procedimento adotado
pela autora, que, para analisar a relação entre escritoras e literatura, partiu da própria
forma de organização e funcionamento do "campo literário". Ou seja, as escritoras não
foram estudadas de forma separada ao contexto no qual atuavam, mas, ao contrário,
foram analisadas a partir dele próprio.
Depois destas leituras e principalmente do artigo de Saint Martin,
começamos a desenvolver o projeto de pesquisa sobre a atuação de escritoras do Rio
Grande do Sul na literatura, no período do século XIX, que resultou nesta dissertação.
Um primeiro passo foi a realização de um levantamento de informações
sobre mulheres gaúchas que escreveram no referido período. Para tanto, utilizamos o
artigo Feminismo no Rio Grande do Sul de Pedro Maia Soares, no qual identifica as
principais escritoras deste Estado no século XIX., e também a pesquisa Mulheres de
ontem? de Maria Thereza Caiuby Crescenti Bernardes, na qual apresenta uma listagem
com diversas escritoras brasileiras, com 15 nomes do Rio Grande do Sul. Abrimos uma
ficha informativa para cada escritora onde fomos coletando os mais variados dados
sobre elas como publicações, atividades desenvolvidas, dados pessoais (se eram
casadas, viúvas, se tinham filhos, etc.). Este fichário foi se expandindo pelas
informações colhidas em cada leitura realizada e especialmente pela consulta a indíces
de escritores e de escritoras neste Estado. Deste trabalho de levantamento de
informações sobre escritoras gaúchas resultou, depois, o quadro que apresentamos
9
como anexo 2, embora de uma forma reduzida, contendo somente as informações mais
relacionadas às atividades que realizaram como escritoras.
Pensamos inicialmente em acompanhar a inserção na literatura deste
conjunto numeroso de escritoras, através de suas obras tanto literárias como na
imprensa periódica. Para seguir esta análise seria necessário um estudo da trajetória
literária de cada uma das escritoras apresentadas, bem como de suas obras e de sua
relação com entidades literárias então existentes, o que envolveria uma busca exaustiva
para a localização deste material como também para acompanhar as trajetórias literárias
das escritoras, já que os nomes identificados são de cidades diferentes, de escritoras que
viajaram e, em alguns casos, que vieram a residir em outros Estados do centro do país.
Chegamos a iniciar este trabalho de localização das obras de autoria
feminina neste Estado. Com base no levantamento de escritoras, visitamos bibliotecas,
arquivos e pessoas que vêm reunindo documentações sobre o século XIX ou sobre
escritoras deste período. Além da região da grande Porto Alegre, estivemos em algumas
cidades do interior corno Rio Grande, Pelotas, Bagé e Livramento. Nesta visita ao
interior, vimos que muitos dos nomes que constam no levantamento realizado são
conhecidos por pessoas ligadas a acervos documentais e por bibliófilos, e, a despeito do
esforço destas pessoas para recuperar a produção de autoria feminina, muitas destas
obras ainda são inéditas e as publicadas nem sempre são encontradas.
Nesta busca de material, além de algwnas obras também localizamos alguns
dos periódicos que foram fundados por escritoras que constavam no levantamento
realizado, como O Orvalho, editado em livramento por Matilde e Alaide illrich,
Escrínio editado por Andradina de Oliveira em Rio Grande, Bagé e em Porto Alegre e o
Carimbo, editado por Revocata e Julieta de Mello em Rio Grande. Como através das
pesquisas preliminares já constatáramos a importância da imprensa periódica para a
divulgação de escritores e de suas obras, consideramos que a análise destes periódicos
poderia sugerir muitos elementos sobre a atuação de escritoras na literatura.
Assim, nos concentramos no periódico literário Carimbo, como o
referencial empírico para a pesquisa. Este periódico foi escolhido em relação aos
10
demais não só pela facilidade no acesso, pois sua coleção quase completa está
disponível na Biblioteca Rio-Grandense, de Rio Grande, mas também pelo fato de
reunir muitas das escritoras deste e de outros Estados. No período entre 1885 a 1925,
com alguns intervalos, constam 124 colaboradoras do Rio Grande do Sul e de outros
Estados do país.
A análise do Carimbo esteve pautada pelo interesse em verificar algumas
dimensões da relação entre escritoras e literatura e, mais particularmente, sobre o
processo de sua inserção na literatura.
Embora inicialmente este periódico possa parecer uma base um tanto
estreita para a análise proposta, como vai se verificar no desenvolvimento do trabalho, o
Carimbo, não só por sua extensão temporal, pela riqueza de sua temática, mas
principalmente pelo modo como aglutinou diversas escritoras a partir de objetivos
comuns, pennite desenvolver nossa proposta de trabalho.
O nome Carimbo, como muitas das publicações editadas por mulheres neste
período, refere-se à flores, e tem um significado bastante sugestivo do ponto de vista da
atuação literária de escritoras, como veremos no decorrer do trabalho. Segundo o
Dicionário Aurélio, Carimbo significa um rrtipo muito comum de inflorescência em que
as flores partem de alturas diferentes e alcançam o mesmo nível, na porção superior".
Em decorrência da extensão temporal deste periódico, que circulou durante
60 anos, optamos por reduzir o período a ser analisado, concentrando-nos nos anos que
vão de 1885 a 1925, que, com algumas interrupções, totalizou 242 exemplares em cerca
de 26 anos de publicação. Esta delimitação do material também se tomou necessária em
função do procedimento adotado para a sua catalogação. Optamos por realizar um
fichamento minucioso, contemplando o maior número de informações fornecidas pelo
periódico a respeito do objeto da pesquisa. Organizamos diferentes tabelas contendo
infonnações sobre seus colaboradores e colaboradoras (com o resumo e principais
assuntos de suas publicações), sobre os periódicos com os quais realizava permuta,
sobre os diversos nomes que são referenciados no periódico, sobre suas diferentes
11
seções, sobre as entidades mencionadas e, principalmente, sobre suas redatoras e sua
relação com outras escritoras brasileiras.
Cabe salientar que o nosso objetivo não foi realizar uma história do
Carimbo e de suas redatoras. Reunimos algwnas informações relativas ao periódico
assim como alguns dados biográficos de suas redatoras que nos pareceram relevantes
para esta pesquisa. No entanto, a riqueza de dados que conseguimos recolher sobre este
periódico foi utilizada de forma parcial, pois deixamos de tratar muitos outros aspectos
para os quais seu conteúdo é também uma rica fonte, como suas mudanças no decorrer
do tempo, sua inserção no contexto literário e da imprensa no Estado, sua vinculação a
movimentos políticos, a estética literária predominante no periódico, o conteúdo
veiculado a respeito dos direitos sociais e políticos das mulheres como também da
pluralidade de posições das escritoras sobre o assunto, etc., restringindo-nos apenas aos
elementos diretamente relacionados ao tema da pesquisa.
Também é preciso esclarecer que, embora em muitos momentos apareça a
expressão "análise do discurso das escritoras", não houve intenção de realizar um
trabalho de tipo semiótico, que estaria além das nossas possibilidades e fonnação
acadêmica. Trata-se sempre da análise do conteúdo das diferentes matérias veiculadas
pelo Carimbo.
Observamos, finalmente, que fizemos a atualização ortográfica de todas as
citações do Carimbo, sem, no entanto, alterar a pontuação original, mesmo que algumas
vezes esta nos tenha parecido estranha. Quanto ao nome do periódico, no original
aparece como Corymbo: mesmo se tratando de um nome próprio optamos pela
atualização ortográfica, visto não haver encontrado esta palavra no dicionário. O nome
de algumas das escritoras mencionadas no Carimbo aparece com grafias diferentes em
materiais mais recentes (índices de escritores e pesquisas acadêmicas). Tal é o caso de
Revocata Heloísa de Mello e Julieta de Mello Monteiro, cujo sobrenome, em
publicações mais recentes, pode ser encontrado como "Melo"; da escritora lgnez Sabino
Pmto Maia, que também é referenciada como "Inês", além de outros nomes que foram
atualizados como o de Anna Aurora do Amaral Lisboa, mencionada como Ana Aurora
12
do Amaral Lisbôa. Nesta pesquisa optamos por manter os nomes de escritoras ou
escritores conforme são mencionados no periódico.
Feitas estas considerações, passamos a apresentar a estrutura da dissertação
e os respectivos temas trabalhados.
O primeiro capítulo, que tem por titulo 11lmprensa periódica, atividade
literária e escritoras" está relacionado à definição do objeto da pesquisa. Nas seções
deste capítulo foram debatidos alguns temas com a finalidade de definir e delimitar o
recorte adotado para a análise do tema proposto.
Na primeira seção, com o título "'Imprensa feminina' e literatura",
realizamos uma breve revisão da bibliografia, contemplando estudos sobre a chamada
"imprensa feminina" e sobre escritoras brasileiras nascidas no século XIX. Nestes
estudos, verificamos que são privilegiados temas como o ufeminismo", os direitos das
mulheres, a "condição feminina", "representações" e "imagens" das mulheres. Na
presente pesquisa centramos o interesse na relação entre escritoras e literatura, e, nesta
perspectiva, procuramos demonstrar que algumas das publicações designadas por
"imprensa feminina" dizem respeito a empreendimentos editoriais realizados por
escritoras, como é o caso do Corimho.
Na segunda seção deste capítulo, sendo o tema mais geral de interesse a
atuação literária de escritoras, apresentamos algumas considerações sobre o
desenvolvimento da literatura no Brasil, com o objetivo de integrar nossa análise neste
contexto mais geral.
Através desta consulta à bibliografia sobre história da literatura e da
Imprensa, evidenciamos dois elementos característicos do modo de organização e
funcionamento da literatura: um primeiro, sobre a importância da imprensa periódica
para a divulgação dos(as) escritores(as) e de suas obras; um segundo, sobre a
organização de escritores(as) com base em inter-relações entre pares.
Na terceira seção, com o título "Escritoras do Rio Grande do Sul no século
XIX", apresentamos algumas atividades literárias desenvolvidas JX)r escritoras do Rio
Grande do Sul, durante o século XIX, com o objetivo de caracterizar, ainda que
13
brevemente, sua atuação literária. Em um segundo momento, procuramos verificar o
modo como as escritoras são referenciadas em duas obras sobre história da literatura e,
por outro lado, como as próprias escritoras apresentam sua atividade literária.
Este capítulo inicial corresponde a uma primeira exploração do tema da
pesqwsa. Com base nas questões apresentadas neste capítulo, partimos para urna
análise da atividade literária de escritoras, a partir do periódico Carimbo, tema do
capítulo dois, sob o título 11Ü Carimbo e a atividade literária de escritoras no Rio
Grande do Sul".
Primeiramente, fornecemos algumas informações sobre o Carimbo, tais
como: formato, preço, manutenção financeira, locais por onde circulou, assuntos
recorrentes e seções. Justificamos também o período selecionado para a análise ( 1885-
1925) e os procedimentos adotados para a utilização deste material. A intenção desta
seção foi a de circunscrever o universo do periódico, ainda que de uma forma bastante
limitada, porque baseada somente em seus aspectos internos.
Na seção seguinte, com o título "O Carimbo na literatura", analisamos
algumas relações que indicam o caráter literário do periódico. Verificamos como
Revocata Heloísa de Mello e Julieta de Mello Monteiro, redatoras do Carimbo,
estabeleceram relações com grupos letrados de fonna a favorecer o reconhecimento
deste periódico como literário e de suas redatoras como escritoras. Para tanto, nos
baseamos nas considerações apresentadas na segunda seção do primeiro capítulo, sobre
a organização e o funcionamento da literatura.
Na última seção do trabalho, com o título "O Carimbo como um veículo de
atuação literária de escritoras", reunimos alguns elementos indicativos do modo como
este periódico estava relacionado ao processo de inserção das escritoras na literatura.
Primeiramente, destacamos o caráter deste periódico como um empreendimento
literário feminino, aspecto que foi retomado e reforçado nos itens seguintes. Em um
segundo momento, nos detivemos nas diversas relações estabelecidas entre escritoras
brasileiras, principalmente a partir das publicações periódicas por elas editadas, como é
o caso do Carimbo. Tal análise foi realizada com o objetivo de verificar de que modo as
14
redatoras do Carimbo estavam envolvidas com outras escritoras brasileiras e em que
elementos estava baseada esta relação. O último tema desta seção diz respeito à relação
do Carimbo e das escritoras que nele publicaram com reivindicações pelos direitos
sociais e políticos das mulheres.
Nas "Considerações finais" sistematizamos os pnncipats temas
desenvolvidos ao longo da pesquisa e apresentamos algumas questões sugeridas pela
análise do Carimbo.
Finalmente, cabe informar que este trabalho foi iniciado sob a orientação do
Prof. Dr. Astor Antônio Diehl e que, em razão do mesmo haver se demitido da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a orientação do trabalho ficou a cargo da
Profa. Dra. Silvia Regina Ferraz Petersen.
I. I "IMPRENSA FEMININA" E LITERAIDRA
A pesquisa que desenvolvemos está relacionada ao tema designado por
"imprensa feminina". Sobre este tema, foram realizadas algumas pesquisas na área das
ciências humanas, a partir de 1980, no BrasiL Nesta seção imcial apresentamos alguns
destes estudos com a finalidade de verificar o que definem por "imprensa feminina" e
quais os assuntos privilegiados no estudo deste tema, para, posteriormente, situarmos o
objeto de análise da presente pesquisai.
Primeiramente, observamos que não existe runa uniformidade na definição
de "imprensa feminina". Em alguns trabalhos tal termo compreende os periódicos
destinados a um público feminino, sejam editados por homens ou por mulheres, em
outros considera-se apenas os periódicos editados por mulheres.
Na pesquisa Mulher de papel: a representação da mulher pela imprensa
feminina brasileira, realizada por Dulcília Schroeder Buitoni, a definição de "imprensa
feminina" diz respeito à imprensa dedicada à mulher, ou seja, compreende as
publicações destinadas a um público leitor feminino. A partir desta definição, descreve
sucintamente o desenvolvimento da "imprensa feminina brasileira", surgida no início do
século XIX, com o periódico Ejpelho Diamantino, publicado em 1827 no Rio de
Janeiro até as publicações mais recentes como a revista Nova, editada em São Paulo, a
partir de 1973 (Buítoni, 1981 ).
I Entre os trabalhos consultados estão: Mulheres de ontem?: Rio de Janeiro, século XIX, de Maria Thereza Caiuby Crescenti Berna.rdes (1988); O Bel/o Sexo: imprensa e identidade feminina no Rio de Janeiro em fins do século XIX e início do século XX, de Maria Fernanda Baptista Bicalho ( 1988); Mulher de papel: a repre.çentação da mulher pela imprensa feminina brasileira, de Dulcília Schroeder Buitoni (1981); A mulher bra!."ileira e suas lutas sociais e politicas, 1850-1937, de June E. Hahner (1981) e A Revista Feminma: imag-ens de mulher, 19J..I-J930, de Sônia de .Amorim Mascaro (1982).
17
Ao observarmos a definição de "imprensa feminina" em outras pesquisas,
verificamos que esta denominação é utilizada para se referirem aos periódicos editados
por mulheres e tratam mais especificamente das publicações da segunda metade do
século XIX às primeiras décadas do século XX. Entre as autoras que trabalham nesta
perspectiva estão: June E. Hahner, Sônia Mascaro, Maria F. Baptista Bicalho e Maria T.
Cayubi Crescenti Bemardes.
Além desta imprecisão na definição de "imprensa feminina", observa-se
também uma preocupação quanto a caracterização desta imprensa como !!feminina" ou
"feminista".
Na pesquisa realizada por June E. Hahner, A mulher brasileira e suas lutas
sociais e políticas: 1850-1937, a autora analisa os periódicos editados por mulheres
como um veículo de divulgação feminista e suas editoras como "um pequeno grupo
pioneiro de feministas brasileiras" (Hahner, 1981, p. 25). A partir desta perspectiva, ora
refere-se a estes periódicos como "imprensa feminina'' ora como "imprensa feminista"
ou "jornais feministas", sendo que não conseguimos diferenciar estas denominações no
texto.
A temática "feminista" está presente nestes trabalhos não somente
interferindo na definição desta imprensa, como demonstramos no parágrafo anterior,
mas principalmente como uma orientação privilegiada na analise da "imprensa
feminina". Levando-se em consideração as diferenças na definição de "imprensa
feminina", todas as pesquisas que consultamos demonstram uma preocupação em
verificar a relação entre esta imprensa e o "feminismo".
Do mesmo modo, esta imprensa vem sendo trabalhada como uma
possibilidade de acesso ao "discurso feminino". Para exemplificar, mencionamos a
pesquisa O Bel! o Sexo: imprensa e identidade feminina no Rio de Janeiro em fins do
século XIX e início do século .xx-, de Maria F. Baptista Bicalho. Nesta pesquisa a autora
analisa o discurso da "imprensa feminina" sobre as mulheres; no caso, "a mulher
urbana, burguesa, educada, que aos poucos descobria o mundo à sua volta, com o qual
começava a interagir, querendo conquistar um espaço seu. A mulher vista nos seus
18
próprios termos, percebida à luz do discurso de sua subjetividade, tomado público
através da imprensa" (Bicalho, 1988, p. 6). Sob esta ótica, analisa o discurso desta
imprensa, com a intenção de demonstrar a manifestação do "individualismo moderno''
em um processo de redefinição e constituição de uma "nova identidade feminina".
Por outro lado, na pesquisa Mulheres de ontem?: Rio de Janeiro, século
XIX, desenvolvida por Maria T. Caiuby Crescenti Bemardes com o objetivo de analisar
a "condição feminina'' no período entre 1840-1890, a autora situa o grupo pesquisado a
partir de sua vinculação ao "mundo letrado". Assim, selecionou entre as fontes para a
análise, materiais que pudessem trazer depoimentos de "homens de letras", assim como
de "mulheres de letras". Para tanto, utiliza os jornais publicados por mulheres como
uma forma de chegar aos depoimentos das "mulheres de letras" sobre a situação
feminina do período. Por "mulheres de letras" entende as "poetisas, jornalistas,
dramaturgas, autoras de romances, de contos, de livros didáticos, de manifestos, de
pareceres e também tradutoras de vários idiomas com publicações até no exterior"
(Bemardes, 1989, p. 98). Embora o objetivo da pesquisa esteja centrado na "condição
feminina", e as fontes questionadas em função deste objeto, a autora apresenta os
depoimentos femininos enquanto o discurso de "jornalistas" e "mulheres de letras", o
que possibilita evidenciar -se alguns posicionamentos que dizem respeito a esta posição
específica, ou seja, de "mulheres de letras".
Mencionamos mais dois trabalhos que analisam a "imprensa feminina"
como uma possibilidade de acesso ao "discurso feminino", mais especificamente, que
tratam das "representações" e "imagens" das 11 mulheres" expressas nesta imprensa. É o
caso da pesquisa realizada por Buitoni que já mencionamos anterionnente, na qual a
autora analisa as "representações" sobre a mulher, entendida no sentido de "ideologias"
Também a pesquisa A Revista Feminina: imagens de mulher, 191-1-30, desenvolvida
por Sônia de Amorim Mascaro2, é um exemplo de estudo nesta perspectiva.
2 Sônia de Amorim Mascaro verifica as "imagens femininas" presentes no periódico Rev1sta Feminina, publicado em São Paulo (1914-36), com filial no Rio de Janeiro (1923); sob a direção de Virgi!ina de Souza Salles, com o auxilio de seu marido. João Sal!es. que após sua morte (1918) dá continuidade à publicação_ A autora descreve minuciosamente o desenvolvimento do periódico, de sua fundação até 1930,
19
De uma forma geral, observamos que as pesquisas sobre a "imprensa
feminina" privilegiam, em suas análises, a relação desta imprensa com as lutas pelos
direitos das mulheres, com o "feminismo" e com temáticas como "identidade feminina",
"condição feminina", "representações" das mulheres, etc. Sob esta ótica, apresentam
várias questões sobre este empreendimento realizado por mulheres: os periódicos como
veículos de divulgação das lutas pelos direitos da mulher na defesa da educação, do
voto, do divórcio e do exercício profissional; a diversidade das posições sobre o
feminismo e direitos da mulher expressos nos periódicos; a relação entre esta imprensa
e movimentos filantrópicos, entre outros temas.
Na presente pesquisa, interessa-nos, de forma particular, analisar a relação
entre "imprensa feminina" e literatura. Ou seja, pretendemos mostrar que esta imprensa
está vinculada ao próprio desenvolvimento da literatura, ou, pelo menos, alguns dos
periódicos incluídos nesta denominação, como é o caso do Carimbo, que selecionamos
para a análise. Sob esta ótica, o estudo de tal imprensa permite evidenciar alguns
elementos para a análise da atividade literária desenvolvida por escritoras\ no periodo
do século XIX.
Embora não tenhamos consultado diretamente estes periódicos, dos quais
obtivemos informações a partir de fontes secundárias, podemos destacar a presença de
escritoras em suas págmas, sejam como redatoras e proprietárias, sejam como
colaboradoras. Por exemplo, entre as colaboradoras mais assíduas da "imprensa
como empresa jornalística dedicada a um público feminino. A partir desta perspectiva, apresenta um novo elemento para a análise dos periódicos editados por mulheres, ao demonstrar que a ênfase à figura feminina, neste periódico, está relacionada a suas estratégias de vendas. A Revista exalta a participação da mulher na redação do periódico, conferindo destaque à redatora Virgilina de S. Sa1les e, após sua morte, por necessidade de um nome feminino encabeçando a Empresa, apresenta o nome de sua filha, Avelina de Souza Salles, a partir de 1920, no expediente, sendo que esta participação efetivou-se somente em 1925. Outro elemento refere-se à identidade da colaboradora Ana Rita Malheiros, que assinou os artigos de abertura de !915 à 1922, trata-se do irmão da redatora, o escritor Cláudio de Souza.
3 Optamos por denominar o grupo pesquisado como "escritoras" e não como ·~omalistas" ou "literatas" em função da própria abrangência de suas atividades, que incluem desde obras de caràter literàrio (em prosa e verso, como na tradução), publicação de periódicos como de artigos sobre diversos temas de caráter social. Na seção seguinte esta denominação aparece melhor justificada à luz dos dados relativos ao próprio desenvolvimento da literatura.
20
femininan no Rio de Janeiro, estão as escritoras Júlia Lopes de Almeida, Narcisa
Amália, Anália Franco, Ignez Sabino e Revocata Heloísa de Mello, entre outras
(Bicalho, 1988, p. 11). Estas mesmas escritoras colaboraram no periódico que
analisamos - Corimbo, sendo a última sua redatora. Também observamos que algumas
das proprietárias destes periódicos publicaram livros em diversos gêneros literários
como também atuaram em entidades ligadas à literatura, como em academias de letras
locais. Esta informação consta no levantamento de periódicos editados por mulheres, da
segunda metade do século XIX ao início do século XX, apresentado corno anexo I, ao
final do trabalho4.
Nos estudos que consultamos sobre "imprensa feminina" verificamos que,
ao priorizarem os periódicos editados por mulheres ou dedicados a um público leitor
feminino como fonte de informações sobre a situação das mulheres ("representações",
"imagens", "condição feminina, e "identidade feminina"), tendem a destacar a presença
da literatura, nestes periódicos, mais como um "entretenimento", "distração" e "escape",
do que como um indício da atividade literária desenvolvida por escritoras.
Por exemplo, na pesquisa que mencionamos anteriormente, realizada por
Hahner, ao analisar a "imprensa feminina" como veículo de divulgação feminista, a
autora confere menor ênfase ao aspecto literário destas publicações. Segundo a autora,
os 'Jornais feministas'' não podiam contar apenas com idéias emancipatórias para
manter a atenção de suas leitoras,
4 Este levantamento de periódicos editados por mulheres foi organizado com base nas pesquisas que consultamos sobre "imprensa feminina", reunindo dados de 25 periódicos, publicados entre a segunda metade do século XIX até a década de 20 do presente século, no Brasil. De forma que mencionamos diversos periódicos que foram incluídos nesta denominação. No entanto, ao observarmos os dados de cada um em particular, percebemos que muitos diferem quanto aos objetivos e edição. Alguns foram editados por escritoras, outros, principalmente no sécuJo XX, dão ênfase ao trabalho industrial feminino, outros ainda, são abolicionistas. Ao organizar esta tabela tivemos a intenção de ressaltar algumas destas diferenças, mas, principalmente, de demonstrar que alguns destes periódicos estão intimamente ligados à inserção das escritoras na literatura, como é o caso do periódico que analisamos, Conmbo.
21
"Os jornais feministas sentiam-se obrigados a oferecer tanto entretenimento quanto informação, apresentando quebra-cabeças em 'O Sexo Feminino', e notícias de teatro no 'Echo das Damas, assim como romances folhetins encontrados em todos os tipos de jornal, inclusive nos diários de grande circulação. ( ... ) Os jornais feministas também serviam como escape para as energias literárias femininas, enchendo páginas e páginas com poesia, contos e ensaios de suas compatriotas." (Hahner, 1981, p. 58) [grifo nosso]
Assim, a atividade literária üas redatoras e colaboradoras nos periódicos é apresentada
de forma secundária, como um assunto que os periódicos "sentiam-se obrigados a
oferecer" e como um "escape" permitido às mulheres que tiveram acesso à escrita.
Os trabalhos consultados não deixam de mencionar a vinculação entre a
"imprensa feminina" e a literatura, como é o caso de Buitoni, que destaca a presença da
literatura principalmente nos periódicos publicados durante o século XIX; na pesquisa
de Bemardes, quando situa as colaboradoras e editoras de periódicos como "mulheres
de letras'' e "jornalistas" ou na pesquisa desenvolvida por Mascaro, que analisa um
periódico específico como "empresa jornalística". No entanto, esta relação é
apresentada de forma secundária, sendo o objeto de interesse principal, como
observamos anteriormente, o conteúdo destes periódicos sobre a situação social das
"mulheres", "representações" e "ideologias" veiculadas sobre as mesmas.
De forma semelhante, no material relativo às escritoras brasileiras no
período do século XIX, também percebemos uma maior ênfase para os temas referentes
à posição das mulheres na sociedades. Estes estudos são melhor entendidos a partir das
considerações de Heloísa Buarque de Hollanda que, ao examinar algumas abordagens
sobre "mulher e literatura" no Brasil, destaca wna perspectiva de pesquisa, amparada no
modelo saxônico, que "traz uma inflexão mais claramente política e privilegia, ao
5 A maioria do material que consultamos sobre escritoras são artigos publicados em revistas na área da literatura, como na revista Trm'essia de Florianópolis, Organon de Porto Alegre e Luso-Braziliam Review de Winter; coletâneas de artigos provenientes de encontros sobre este tema, como a obra A mulher na literarura, volumes I, 2 e 3, organizados por Nàdia Gotlib e Ana LUcia GazoUa (1990) e a coletânea de trabalhos apresentados no Encontro Nacional Mulher e Literatura {1989). Consultamos também F..ncantações: escntoras e imaginação luerária no Brasil, século XIX, Tese de Doutorado em Ciências Sociais, realizada por Norma Telles (1987) e o livro Aja/a-a-menos: a repressào do desejo na poesia feminina, de Sylvia Perlingeiro Paixão (1990). Agradecemos à Profa. Rita Terezinha Schmidt pelo empréstimo deste último livro, bem como por sugestões bibliográficas.
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contrário dos outros modelos, a mulher como questão dentro do quadro da produção
intelectual e artística. Seus trabalhos são marcados por urna perspectiva feminista e
absorvem desde os estudos arqueológicos de recuperação da história silenciada da
produção feminina até a análise dos paradigmas patriarcais e logocêntricos da literatura
canônica" (Hollanda, 1993, p. 33) [grifo nosso].
Os trabalhos que consultamos, tanto sobre "imprensa feminina" quanto
sobre escritoras, parecem estar relacionados a esta perspectiva de análise apresentada
por Hollanda6, sendo um traço marcante desta produção um certo compromisso com a
"crítica feminista".
Neste sentido, as escritoras são consideradas como "as pioneiras", seja do
feminismo, seja da atividade literária desenvolvida por mulheres; como as "nossas"
antecessoras, uma vez serem as primeiras a buscarem wn espaço para as mulheres na
esfera pública. Esta argumentação aparece constantemente como JUStificativa para as
pesquisas, como podemos observar nos trechos que seguem:
"Através de sua escritura, as mulheres do século XIX nos legaram uma tradição de cultura feminina que, acredito, é importante conhecer." (Telles, 1990, p. 128) [grifo nosso]
"A leitura atenta desses jornais [editados por mulheres] nos mostrará como a mulher que preparou o nosso caminho, a nós, mulheres atuais, se construia enquanto Sujeito do discurso." (Ferreira, 1990a, p. 70) [grifo nosso]
"No momento atual, podemos observar que parte da intelectualidade brasileira se debruça sobre o seu passado(. .. ) em busca de reconstrução de uma identidade individual ou coletiva. Algo, no entanto, peculiariza o passado de que tratamos aqui. E que, em relação à participação da mulher na história literária e na vida intelectual brasileira, não existem apenas equívocos de interpretação, visões fragmentárias ou parciais. Há, sobretudo, o silêncio. (. .. ) Saltar a etapa que firmou as bases para a criação de um espaço para a escritora mulher significa contornar
6 A autora inclui algumas pesquisas que consultamos, como exemplos de trabalhos marcados por uma perspectiva fernlnlsta que visa recuperar a "presença" das mulheres na literatura, entre estas, Meyer (1990), Ferreira (1990), Bemardes (1988), Telles (1987) e Wernek (1985) (Hollanda, !993, p. 33).
23
artificialmente os impasses inerentes às articulações entre a literatura e a sociedade." (Fukelman, !989, p. 33) [grifo nosso]
Exemplos como estes são comuns na bibliografia consultada, como também
a ênfase nas "mulheres" mais do que na relação entre as escritoras, suas obras e o
desenvolvimento da literatura de uma fonna em geral. Isto pode ser exemplificado no
artigo Lendo Júlia da Costa, de Zahidé Muzart, quando a autora busca resgatar os
escritos de Júlia da Costa, procurando interpretar sua vida a partir de sua obra, ou seja,
"procurando encontrar a mulher na poesia" (Muzart, 1990b ). No artigo Carmen
Do/ores: jornalismo, literatura e imprensa na Bela Época Brasileira, de Maria
Angélica Lopes, no qual a autora procura verificar 11Como a cronista e contista Carmen
Dolores reflete sua época, principalmente no que diz respeito à posição da mulher na
sociedade burguesa média e alta" (Lopes, 1989).
Sem a intenção de minimizar a importância destes estudos, eles são
mencionados apenas como exemplos que não destoam do conjunto da bibliografia
consultada, da fonna como são analisadas as atividades literárias desenvolvidas por
escritoras no século XIX. Citamos abaixo uma observação de Zahidé Muzart que vai ao
encontro do que estamos procurando demonstrar:
"O reconhecimento e resgate das pioneiras não se dará pelas qualidades dos livros. Não serão comparadas às 'grandes obras', dos homens da mesma época mas como livros de mulheres que não puderam ter a mesma educação. Mulheres às quais estavam fechadas as portas da instituição e do convívio com pensadores ilustres. Tais livros são estudados e resgatados como válidos porque primeiras manifestações de mulheres brasileiras."' (Muzart, !990a, p. 68) [grifo nosso]
7 Esclarecemos que este parágrafo tem origem em um comentário da autora sobre um livro publicado por uma escritora brasileira no inicio do nosso século_ A autora estabelece uma comparação entre esta escritora e a fonna como a produção literária feminina vem sendo resgatada atualmente
24
Enfim, procuramos demonstrar que a bibliografia dedicada ao tema
designado por "imprensa feminina" ou sobre "mulher e literatura" privilegia a análise de
questões relativas a situação das mulheres na sociedade, procura resgatar a "presença"
feminina, assim como a relação com o "feminismo". Fica em um nível secundário de
análise a relação entre escritoras e literatura, ou seja, análises que coloquem questões
como: como as escritoras ingressaram na área da literatura? pode-se estabelecer alguma
diferenciação entre o ingresso feminino e masculino na literatura? como as escritoras
foram recebidas pela crítica? como as escritoras definiram e justificaram sua atividade
literária? as escritoras realizaram sua atividade literária de fonna integrada ou paralela
em relação às instituições e aspectos mais gerais do desenvolvimento da literatura?
Algumas destas questões, principalmente a relação entre crítica literária e
produção feminina, foram analisadas no material que consultamos. Especificamente as
pesquisas realizadas por Sylvia Paixão, sobre a condescendência da crítica literária em
relação às escritoras e um artigo de Zahidé Muzart, que nos apresenta algumas formas
adotadas pelas escritoras para ingressarem na literatura e obterem o reconhecimento da
críticas. Ambos estudos serão referenciados na terceira seção deste trabalho, quando
tratamos da atividade literária de algumas das principais escritoras do Rio Grande do
Sul.
Na pesquisa que desenvolvemos não ambicionamos responder a todas estas
questões, mas as consideramos como um ponto de partida para a análise da atividade
literária de escritoras, o objeto de pesquisa que nos propomos a trabalhar.
8 Nos referimos aos anigos O olhar condescendente: crítica literária e literatura feminina no século XIX e inU:io do século XX, de Sylvia Paixão e Artimanhas nas entrelinhas: leitflra do paratexto de escritoras do século XIX, de Zahidé Muz.art, ambos publicados em 1990, na revista Travessia. Consultamos também a pesquisa A fala-a-menos: a repressão do desejo na poesia feminina (1991 ), realizada por Sylvia Paixão, na qual a autora demonstra a intervenção da crítica literária quanto aos temas pennitidos às escritoras e os condenados, entre outros assuntos_
1. 2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA
LITERATURA NO BRASIL, SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX
Como procuramos caracterizar na seção anterior, nesta pesquisa estamos
tratando da atividade literária desenvolvida por escritoras brasileiras, no período da
segunda metade do século XIX às primeiras décadas do presente século, a partir de um
periéxiico editado por escritoras do Rio Grande do Sul, o Carimbo.
Deste modo, vimos a necessidade de consultar pesquisas sobre o
desenvolvimento e organização da literatura de um modo geral, como uma dimensão
mais geral em relação à qual devemos analisar a atividade literária de escritoras.
Nesta breve passagem pela bibliografia que problematiza o
desenvolvimento da literatura, destacamos alguns aspectos que nos pareceram
significativos para a análise desenvolvida posteriormente sobre o Carimbo e a atividade
literária de escritoras.
Entre os temas destacados estão, primeiramente, a não especialização da
literatura e da profissão de "escritor" enquanto uma função específica. Verificamos a
abrangência desta área e de sua inter-relação com outros campos de atividade
intelectual, como a política e a atividade científica, que aparecem de fonna mais
explícita. Posteriormente, destacamos dois aspectos vinculados a este contexto mais
geral, um primeiro, sobre a importância da imprensa para o desenvolvimento da
literatura e, um segundo, sobre a fonna de organização dos escritores com base no
apoio mútuo e inter-reconhecimento entre pares. Contudo, é importante salientar que se
tratam apenas de algumas considerações preliminares que nos foi possível identificar
nas leituras realizadas quanto a este tema, principalmente com a intenção de mtegrar a
análise do Carimbo e da atividade literária de escritoras a este contexto geral.
26
1. 2. 1 A literatura como atividade não especializada
A característica principal que observamos a partir do material consultado
sobre o desenvolvimento da literatural diz respeito ao processo de constituição da
atividade literária em estreita relação com outras esferas de atividades, como é o caso
de sua vinculação com a política, em tomo da "missão", assumida pelos escritores e
reconhecida socialmente, de servir à pátria. Do mesmo modo e relacionado a este
caráter cívico da atividade literária, pode-se falar em uma espécie de fusão entre ficção
e análise científica sobre a sociedade brasileira, à exemplo dos romances sociais que,
em grande medida constituíram-se nos primeiros ensaios sobre a história nacwnal, e
mesmo das primeiras abordagens sociológicas e históricas que, em mawr ou menor
grau, vinculavam-se ao discurso literário (Càndido, 1967)2.
Segundo Cândido, "o escritor começou a adquirir consciência de si mesmo,
no Brasil, como cidadão, homem da polis, a quem incumbe difundir as luzes e trabalhar
pela pátria", desde a fase que precede a Independência. Da parte do público, este
"nacionahsmon e "patriotismo" serviu como um reconhecimento social para o escritor.
No entanto, o público mais característico do período era o público de "auditores" (um
público de ouvintes), consistindo, no que chama o autor de uma "literatura sem
leitores". De forma que o Estado e os grupos dirigentes irão atuar como sucedâneo do
púbhco,
l Entre as obras que consultamos, e que serão mencionadas no decorrer desta seção, estão: Literatura e sociedade, de Antõnio Cândido (1967); Estrutura social da república das letras: sociologia da vida intelectual brasileira, /870-1930, de A L. Machado Neto (1973); Poder, sexo e letras na República Velha (1977) e Intelectuais e classe dirigente no Brasil, 1920-1945 (1979) de Sérgio Miceli; Cultura e poder ou espelho, espelho meu: existe alguém mais culto do que eu?, de Maria Madalena Diégues Quintella (1984); Os intelectuais e a política no Brasil: entre o povo e a nação, de Daniel Pécaut (1990); Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República, de Nicolau Sevcenko (1985) e A história da imprensa no Brasil, de Nelson Werneck Sodré (1966).
2 Nas palavras do autor: "Diferentemente do que sucede em outros países, a literatura tem sido aqui, mais do que a filosofia e as ciências humanas, o fenômeno centraJ da vida do espírito." (. .. ) "Antes, de Euclides da CUNHA a Gilberto FREYRE, a sociologia aparecia mais como ponto de vista do que como pesquisa objetiva da realidade presente. O poderoso imã da literatura interferia com a tendência sociológica, dando origem àquele gênero misto de ensaio, construído da confluência da história com a economia, a filosofia ou a arte, que é uma forma bem brasileira de investigação e descoberta do Brasil(._)" (Cândido, 1967, p. 152-153).
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" na ausência de públicos amplos e conscientes, o apoio ou pelo menos o reconhecimento oficial valeram por estímulo, apreciação e retribuição da obra, colocando-se ante o autor como ponto de referência." (Cândido, 1967, p. 97)
"Houve, neste sentido, um mecenato por meio da prebenda e do favor imperial, que vinculam as letras e os literatos à administração e à política, e que se legitima na medida em que o Estado reconhecia desta forma (confirmando-o junto ao público) o papel cívico e construtivo que o escritor atribuía a si próprio como justificativa de sua atividade." (Cândido, 1967, p. 95-96)
O autor está se referindo especificamente ao período imperial, através do
amparo oficial de D. Pedro W, do Instituto Histórico e das Academias de Direito
(Olinda, Recife e São Paulo). No entanto podemos encontrar a presença de um
"mecenato oficial", também no período da Primeira República através do Barão de Rio
Branco, a partir de seu ingresso no ltamaraty (Machado Neto, 1973, p. 54; Miceli, I 977,
p. 11 ).
Segundo Sevcenko, em Literatura como missão, no período da Primeira
República, reafimtaMse o caráter cívico assumido pelo escritor como justificativa de sua
atividade e de seu reconhecimento social. O autor seleciona dois escritores, Euclides da
Cunha e Lima Barreto, considerados como expressão de duas alternativas de visão
sobre este período histórico, reWtidos em tomo de "um objetivo comum, para o qual
todas as forças convergiam: a constituição do EstadoaNação moderno no país"
(Sevcenko, 1985, p. 207).
Confomte o autor,
"Dos textos de ambos o que sobressai, portanto, é uma concepção de literatura e da atividade intelectual, em que se apagam as fronteiras tradicionais entre o homem de letras e o homem de ação, entre o escritor profissional e o público e entre o artista e sua comunidade." (Sevcenko, 1985, p. 232)
3 Na seção seguinte, verificaremos como este amparo oficial serviu de estimulo a uma escritora gaúcha -Delfina Benigna da Cunha, sendo um aspecto revelador de sua obra, na medida que grande pane de seus poemas são dedicados à família imperial.
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De uma fonna geral, as obras mencionadas sugerem a abrangência da
literatura, no sentido de não se restringir aos aspectos estéticos e especificamente
literários, fator este que teria contribuído para a falta de especialização da atividade
literária enquanto wna função específica.
A partir destas considerações Iniciais, apresentamos duas questões inter-
relacionados que estão vinculadas a este aspecto mais geral. O período que
selecionamos para a análise é relativamente longo, da segunda metade do século XIX às
primeiras décadas do século XX, de fonna que não estamos entrando na complexidade
destas questões, bem como nas diferenças regionais e períodos específicos de
ocorrência. Trata-se apenas de estabelecennos um quadro geral contextualizando a
atividade literária a partir dos elementos que destacamos para a análise, quais sejam: a)
a relação entre a literatura e a imprensa periódica e b) o mútuo apoio e o inter-
reconhecimento entre pares como elementos importantes na organização dos escritores.
a) Relação entre a literatura e a imprensa periódica
Na falta de um mercado editorial dedicado à produção literária nacional,
bem como de uma remuneração específica para a atividade literária, a imprensa
periódica assumiu um papel significativo como veículo de divulgação da produção
literária e como uma possibilidade de remuneração e reconhecimento para os(as)
escritores( as).
Conforme observa Miceli,
"Não havendo, na República Velha, postçoes intelectuais relativamente autonomizadas em relação ao poder político, o recrutamento, as trajetórias possíveis, os mecanismos de consagração, bem como as demais condições necessárias à produção intelectual sob suas diferentes modalidades, vão depender quase que inteiramente das instituições e dos grupos que exercem o trabalho de dominação. Em tennos concretos, toda a vida intelectual era dominada pela grande imprensa que constituía a principal instância de produção cultural da época e que fornecia a maioria das gratificações e posições intelectuais." (Miceli, 1977, p. 14-15) [grifo nosso]
29
Isto teria influenciado a predominância dos polígrafos, neste período, e no
ajustamento dos( as) escritores( as) aos estilos literários adequados à imprensa, como a
crônica, o inquérito literário, até a entrevista e a reportagem propriamente dita.
Sobre o desenvolvimento do mercado editorial, o mesmo autor nos informa
que apesar de sua incipiente formação, em fins do século passado, este somente irá se
consolidar no nosso século4.
Broca, em A vida literária no Brasil, 1900, nos informa sobre as editoras
disponíveis aos escritores brasileiros neste período, apontando para a dificuldade na
publicação de obras nacionais (Broca, 1960). Fator também evidenciado por Sodré:
"As editoras brasileiras, na segunda metade do século XIX, quando começou a existir público para a literatura, e ainda bastante limitado, mandava imprimir no exterior, em Portugal, na França, na Alemanha. Essa norma entrou pelo século XX a dentro." (Sodré, 1966, p. 278)
Desta fonna, a imprensa periódica se constituiu enquanto um meto de
divulgação da produção literária, atraindo diversos escritores e escritoras. Segundo
Sodré, a segunda metade do século XIX "Era, realmente, a época dos homens de letras
fazendo imprensa" (Sodré, 1966, p. 220). O autor aponta para vários dados que
demonstram essa conjugação entre Imprensa e produção literária. Os( as) escritores( as)
freqüentemente estavam presentes na redação e direção de jornais, além de manter
colaborações literárias, sejam crônicas, escritos em colunas literárias ou publicação de
romances em folhetims. Um exemplo que ilustra bem o caso é o do escritor Machado de
4 A este respeito, ver especialmente o capítulo 2 da obra intelectuais e classe dirigente no Brruil, 1920-19-15 quando o autor descreve o processo de expansão do mercado editorial nacional, ocorrido em tomo das décadas de 1930--40, tendo favorecido à formação de um pequeno grupo de escritores profissionais -os romancistas (Miceli, 1979).
5 A publicação de romances em folhetins foi uma prática corrente na segunda metade do século XIX, e gradualmente, irão sendo substituídos pelo colun.ismo, reportagem ou por suplementos literários, acompanhando o desenvolvimento técnico e especialização da imprensa, no decorrer do século XX. Entre as publicações em folhetins mencionadas pelo autor, estão: Memórias de um Sargento de Mi/icias, de Manuel Antônio de Almeida, sob o pseudônimo de Um Brasileiro, entre junho/1852 e julho/1853, no Correio Mercantil (Rio de Janeiro), sendo publicado, em livro, no ano seguinte. No mesmo jornal, em 1854, José de Alencar publicava crônicas de costumes e, em 1856, quando passou a ser redator-chefe do
30
Assis, que fez parte da redação de jornais como "Marmota, Correw Mercantil e Diário
do Rio de Janeiro. Foi colaborador de jornais praticamente a vida inteira. Neles deixou
quase todas as suas obras ( ... ). O mesmo aconteceu com alguns de seus romances"
(Sodré, 1966, p. 306-307}
Entre algumas escritoras que neste período atuaram na imprensa, estão J úlia
Lopes de Almeida (1862-1934), Maria Benedita Câmara de Bormann (1853-1895), com
publicações na imprensa carioca desde 1880, sob o pesoudônimo Déha6 e Emília
Moncorvo Bandeira de Melo (1852-1910), esta, com o pseudônimo de Carmen Dolores,
foi responsável pela coluna A Semana, do jornal O Pais, do Rio de Janeiro, cargo que,
após sua morte, foi ocupado pelo escritor Gilberto Amado7. Os exemplos multiplicam
se e expandem-se por outras regiões do Brasil, como no Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Recifes. Entre algumas das escritoras gaúchas com colaborações na imprensa
estão Revocata Heloísa de Mello, Julieta de Mello Monteiro, Anna Aurora do Amaral
Lisboa e Andradina de Oliveira.
A respeito da remuneração fornecida pelos órgãos de imprensa a seus
colaboradores, inclusive com remuneração equivalente para homens e mulheres (Broca,
1960, p. 225), não encontramos informações especificamente sobre a imprensa gaúcha,
sejam de órgãos diários, de caráter literário e noticioso, sejam de periódicos literários,
mas, de todo modo, o que se pode verificar é que a participação dos( as) escritores( as)
na imprensa periódica, como colaboradores(as) ou mesmo corno editores(as) de
periódicos, foi uma prática presente neste Estado.
Diário do Rio de Janeiro, publicou O Guarani (1857) e A VilfVinha (1860) (Sodré, 1966, p. 218-220). Em 1874,A Mão e a Luva, de Machado de Assis, foi publicada em O Globo (Rio de Janeiro) e, em 1878 /aiá Garcia (O Cruzeiro, Rio de Janeiro); em 1888, O Ateneu, de Raul Pompéia, na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro (Sodré, 1966, 280). As escritoras também publicaram romances em folhetins, como é o caso de Maria Benedita Câmara de Bormann, que publicou o romance Estátua de Neve, em 1890, no jornal O Pais, do Rio de Janeiro (Villas-Bôas, 1991)_
6 Consultar Telles (1987) e (1989)_
7 Sobre esta escritora, consultar Lopes (l989).
8 Sobre escritoras de Santa Catarina ver Muzart (1989); sobre Recife ver Ferreira (l990).
31
Embora sendo a lógica política dominante na imprensa do Estado no
decorrer do século XIX, esta não deixou, em alguns momentos, de servir como veículo
de divulgação dos( as) escritores( as) locais. Conforme Cesar,
" ... a imprensa do Rio Grande do Sul, no período que vai da instalação do primeiro prelo (1827) à Constituição de Piratini (1843), registra uma vibração política seguida de perto por preocupações de ordem literária em pelo menos seis centros principais: Porto Alegre, Rio Grande, Pelotas, Caçapava, Rio Pardo e Alegrete." (Cesar, 1971, p. 70)
O mesmo autor ressalta a dificuldade na edição de livros em gráficas locais:
"As divergências partidárias, após a Independência, foram particularmente favoráveis, como vimos antes, ao surto da imprensa, que serviu de veículo quase exclusivo à produção intelectual da terra, pnis a impressão de livros significava empresa muito além das possibilidades materiais das humildes oficinas gráficas de então. Mas, ainda assim, não deixaram estas de imprimir algumas obras, poucas, como se compreende, de 1843 em diante." (Cesar, !971, p. 119)
Observação semelhante foi realizada por Carlos Alexandre Baumgarten:
"Sabe-se que o grande número de periódicos literários, notadamente a partir da segunda metade do século, teve efetiva influência na produção literária do Estado e na sua conseqüente divulgação. Os primeiros autores rio-grandenses recorriam aos órgãos de imprensa devido às grandes dificuldades que encontravam para a publicação e difusão de suas obras, fato este que justifica o importante papel desempenhado pelo jornal na literatura gaúcha da segunda metade do século XIX." (Baumgarten, 1980, p. 12)
Outro exemplo que demonstra a vinculação entre imprensa periódica e
produção literária refere-se ao fato de alguns editores de periódicos literários lançarem
posterionnente jornais de maior porte (com circulação diária, literários e noticiosos), o
que nos indica a proximidade entre estas duas formas de periodismo que acolhem a
produção literária local. Este é o caso de Luís Francisco Cavalcanti de Albuquerque,
32
proprietário do periódico literário Diógenes (Porto Alegre, 1863-1864) e que
posterionnente fundou o Jornal do Comércw (Porto Alegre, 1865-1912; com circulação
diária) e de Antônio Joaquim Dias, que fundou a Arcádia (Rio Grande/Pelotas, 1867-
1870) e posterionnente o Jornal do Comércio (1870, vendido a Arthur Lara Ulrich) e
Correio Mercantil (1875-1915), jornais diários que circularam em Pelotas. Este mesmo
editor foi responsável pela fundação da Biblioteca Pública de Pelotas (Ferreira,
Damasceno, 1975; Martins, Ari, 1978; Cesar, Guilhermino, 1971; Rüdger, Francisco,
1993).
Estes jornais de circulação diária são classificados, por Francisco Rüdger,
como "jornalismo literário-independente" e caracterizam-se por veicular debates
literários e notícias, sendo o seu apogeu no período de 1890-1920 (Rüdger, 1993)9
Não encontramos uma bibliografia específica sobre o movimento editorial
no Estado, mas alguns autores nos inforntam da dificuldade para a edição de livros
durante o século XIX, como mencionamos anteriormente. Algumas obras de escritores
e escritoras gaúchos foram publicadas no Rio de Janeiro, nas tipografias mais
estruturadas pertencentes aos jornais do Estado ou em tipografias de maior porte, como
é o caso da Livraria Americana, fundada em 1875 em Pelotas, com filiais em Porto
Alegre (1879) e em Rio Grande (1885), e da Livraria Universal, fundada em 1887 em
Pelotas (Osório, 1993, p. 255; sobre as editoras de Pelotas). Além destas, encontramos
referências às Tipografias Trocadero e Mignon, de Rio Grande, onde o Corimbo foi
impresso em 1898 e na década de 1910, respectivamente. A mesma Tipografia
Trocadero editou o livro Preludiando de Andradina de Oliveira, em 1897 e a Livraria
9 O estudo concentra-se no desenvolvimento do jornalismo no Rio Grande do Sul, quando o autor procura classificar e definir os "regimes jornalísticos" que tiveram vigência na imprensa gaúcha. Por "regime jornalístico" o autor entende as "regras e conceitos que estruturam o jornalismo e se transformam pela práxis em curso nos diversos campos da vida social de cada época" (Rüdger, 1993, p_ 9)_ Neste sentido, distingue dois "regimes jornalísticos" o "jornalismo político-partidário" e o "jornalismo informativo moderno", sendo o "jornalismo literário-independente" uma fase intermediária entre estes regimes. De forma geral, a segunda metade do século XIX conviveu com estas três funnas jornalísticas, sendo que a partir do nosso século o jornalismo informativo irá, de forma gradual, se consolidar, inicialmente com a fundação do Corrreio do Povo (Porto Alegre, 1895), mas este processo de consolidação do jornalismo infonnativo moderno e a decorrente superação dos "regimes jornalísticos" anteriores, ocorre na década de 1930, quando a lógica mercantil se sobrepõe à lógica política, então dominante no século XIX.
33
Americana editou, da mesma autora, A mulher Rio-grandense: escritoras mortas, em
Porto Alegre, 1907.
Revocata Heloísa de Mello também faz referência a esta dificuldade na
edição de livros no Estado, já no nosso século. Na apresentação do livro de versos Terra
S'áfara, publicação póstuma de Julieta de Mello Monteiro, relata:
"Infelizmente, não me foi possível dar-lo a público, ainda em vida da querida e inspiradíssima poetisa. As publicações no Estado, são feitas por preço tão alto, que, francamente, deixa abafada toda e qualquer possibilidade de tornar conhecidos trabalhos que muito poderiam concorrer para o engrandecimento das letras gaúchas." (Mello, citada em Monteiro, 1924-28, p. 7) [grifo nosso]
Enfim, procuramos ressaltar a conJugação entre imprensa periódica e
literatura na segunda metade do século XIX, quando tal imprensa parecia ser um
veículo propício à divulgação da produção literária, além de se constituir como uma
forma de remuneração para os( as) escritores( as), principalmente por decorrência de um
mcipiente mercado editorial para a publicação de obras nacionais, além dos fatores
mencionados anteriormente sobre a ausência de uma especialização da atividade
literária.
b) A organização dos escritores com base em um mútuo apoio e inter
reconhecimento entre pares
Em correspondência a uma não especialização no âmbito da literatura,
podemos verificar também que a própria definição da atividade de "escritor" assumia
contornos pouco delimitados. Sob esta denominação estavam desde professores,
funcionários públicos, atuantes na imprensa, profissionais liberais (como médicos,
advogados, engenheiros) e políticos. Ilustrativo disto, é o trecho abaixo, de Sodré,
referenciado em Silvio Romero,
34
"Como era reduzida a camada culta, não havia, de início, especialização, consoante observou Silvio Romero: o parlamentar era homem de letras e de imprensa; o romancista era também teatrólogo, e todos eram poetas." (Sodré, 1966, p. 277) [grifo nosso]
Desta forma a atividade de uescritor" não aparecia como uma "função"
específica relativa à literatura, mas, como veremos a seguir, incluía outras atividades.
Na pesquisa realizada por Machado Neto, sobre a "República das Letras",
no período entre 1870-1930, entre 60 biografias de escritores, nenhwn vivia somente
das letras. Acwnulavam atividades no jornalismo, na função pública, no magistério e
wn menor número através de profissões liberais (como médicos, advogados e
engenheiros) geralmente como empregados públicosJO. O magistério (do nível primário
ao superior), principalmente o magistério público, mas também o privado, foi uma
atividade profissional que além de propiciar uma remuneração aos escritores, foi
apresentada como um meio de "realização profissional e, por vezes, até, vocacional de
nossos escritores" (Machado Neto, 1973, p. 86)tt.
Conjugado a esta falta de definição específica para a atividade literária está
a própria vinculação da literatura ao Estado, através do fenômeno caracterizado por
Antônio Cândido como "mecenato oficial". No Império, através do apoio de D. Pedro II
e na República, através do Barão de Rio Branco. Sobre este último, Machado Neto nos
indica como era tido como "natural" o apoio que forneceu aos escritores que lhe eram
próXImos:
\0 Dados fornecidos pelo autor: "Somente S deles, isto é, 1112 do total combinava a literatura com uma só outra atividade profissional, geralmente a função pública. Dois terços deles, isto é, um total de 40, exerciam várias profissões. Dessas profissões as de maior freqüência eram o jornalismo, com mais de dois terços do total (41 casos), a função pública com 48 casos, compondo uma porcentagem de 80% e o magistério, com 28 casos, perfazendo, pois, mais de 46%." Quanto aos profissionais liberais o autor esclarece que, no geral, embora com titulo acadêmico, poucos exerciam ou viviam de suas profissões, na maJor parte dos casos, foram empregados públicos, em especial no magistério (Machado Neto, 1973, p. 83-84).
li Na seção seguinte, sobre as atividades literárias de escritoras do Rio Grande do Sul, vamos verificar a participação de algumas escritoras no magistério, a exemplo das próprias redatoras do Carimbo.
35
11Quando o intelectual ocupava um posto de significação política como ocorrera ao Barão do Rio Branco, era natural que protegesse os integrantes de sua 'coterie'. ( ... ) No Itamaraty, o Barão exercia um verdadeiro mecenato, tendo criado cargos de assistência jurídica e intelectual para favorecer a intelectuais de sua admiração como Rui, Bevilaqua, Lafayette, Veríssimo, Heráclito Graça, Aluízio Azevedo e outros." (Machado Neto, 1973, p. !52-153)[grifos nossos]
Os escritores também encontraram apoio e uma remuneração de sua
atividade nos órgãos de imprensa, sendo que alguns "jornalistas exitosos", como José do
Patrocínio e Ferreira de Araújo, foram reconhecidos a partir do amparo "generoso" que
forneceram aos escritores. De modo que Machado Neto irá identificar alguns diretores
de órgãos de imprensa como "mecenas" dos literatos, além de personalidades ligadas à
administração pública (D. Pedro II e Barão do Rio Branco), editores (Francisco Alves) e
alguns capitalistas enrriquecidos (Francisco Ramos Paz) (Machado Neto, 1973, p. 54).
O importante a ser destacado, nos limites deste trabalho, refere-se a
inexistência de um espaço estritamente literário. Assim, os( as) escritores( as) buscavam
uma remuneração a partir de outras atividades, e o seu reconhecimento se fazia com
base em outros critérios que não os especificamente literários.
Neste sentido, Machado Neto aponta para a inexistência de uma correlação
direta entre obra literária e reconhecimento do escritor. Ressalta a existência de outras
relações no sentido de propiciar o reconhecimento, especificamente, as "igrejinhas" de
mútuo apoio formadas pelos escritores. Especialmente nos capítulos 7 e 8, o autor
descreve a estrutura e o funcionamento da "república das letras". Demonstra que os
escritores organizavam-se em "grupos de mútuo apoio", que iam desde o elogio aos
"amigos" e ataques aos "inimigos" na fonna verbal, até ao favorecimento, de fato, aos
"amigos", quando requisitados ou quando a oportunidade se oferecia. Esta prática
tomou largas amplitudes, desde a ocupação de cargos públicos até o ingresso na
Academia Brasileira de Letras, podendo-se destacar vários casos de acadêmicos que
nela ingressaram em função das redes de apoio articuladas em seu favor, ou, no caso do
36
não ingresso, articulações contrárias ao candidato, independente da produção liter3.ria
dos mesmosl2.
Nesta pesquisa realizada por Machado Neto, encontramos urna descrição
detalhada do funcionamento da literatura e organização dos escritores com base no
mútuo apoio e na inter-relação entre pares. Procura distinguir os diversos "grupos" de
escritores, em que pese a dificuldade em identificar os "grupos11, dada a informalidade
destas articulações. Na perspectiva do trabalho que estamos desenvolvendo, apenas
destacamos o mútuo apoio entre pares como um elemento importante na organização
dos escritores, especialmente para o reconhecimento da atividade literária, mas também
como uma forma de ingresso nos grupos letrados. Dito de outro modo, estas
considerações apontam para a importância do inter-relacionamento entre os escritores
para a sua inserção na literatura, atuando como wn fator detenninante para o seu
reconhecimento literário.
A titulo de comparação, mencionamos a pesquisa realizada por Maria M.
Diégues Quintella, em 1978, sobre a constituição de uma ,elite cultural" participante de
instituições culturais brasileiras, como na Academia Brasileira de Letras, no Instituto
Histórico e Geográfico e no Conselho Federal de Cultura. Embora este estudo busque
uma caracterização da "elite cultural brasileira'' com base em seu vínculo à instituições
culturais, a autora demonstra muito bem que a definição do grupo enquanto "elite
cultural" vai além deste aspecto formal das instituições. Demonstra os diversos
mecanismos acionados pelo grupo no sentido de legitimá-lo enquanto "elite cultural",
destacando-se aí, menos os critérios formais de ingresso nas instituições, manifestas em
seus estatutos e legislações, e mais alguns critérios e práticas sociais informais que
atuam no sentido de constituir uma "identidade assumida entre pares".
12 Este fato é trabalhado pelo autor enquanto "falso prestígio" dos escritores, eis que não alicerçados na obra literária, mas na prática das "igrejinhas". Outros exemplos encontramos em Broca e Sodré, como é o caso de Lima Barreto, que teve o seu acesso à Academia bloqueado em função de atritos pessoais com seus membros, bem como encontrou dificuldades para a publicação do romance que propunha-se a ser uma crítica da imprensa local (Sodré, 1966).
45
1877) "escrito especialmente para o belo sexo da Capital" e O Atleta (1883-1889),
destinado ao "belo sexo". O periódico Eco do Ultramar (P. Alegre, 1876), que, segundo
Ferreira, tinha por principal objetivo divulgar a literatura e idéias filosóficas
estrangeiras, com especial atenção à Alemanha, trazia em seu editorial de apresentação
um esclarecimento aos leitores( as) de que suas produções eram "isentas da mais leve
mácula de imoralidade, tomando assim o nosso jornal digno de penetrar no santuário da
família e de ser manuseado pelas nossas gentis patricias" (Eco do Ultramar, citado por
Ferreira, 1975, p. 95).
Estes periódicos por vezes apresentam-se ao público feminino em função da
literatura amena que oferecem, da distração que proporcionam ou pela moralidade dos
conteúdos. O importante, no momento, é destacannos que este público de leitoras foi
reconhecido e muitas vezes referenciado diretamente por estes periódicos, a exemplo do
que acontecia no centro do país.
Críticos e historiadores da literatura produzida no século XIX apontam para
a existência de um público leitor feminino, para o qual eram destinados os periódicos
familiares, periódicos editados por mulheres, folhetins literários e posteriormente os
romances. A predominância deste público, segundo os críticos, seria o motivo da
precária qualidade literária da produção do período, marcada pela influência "caseira e
dengosa" de seu público (Werneck, 1985)12. Maria Helena Vicente Werneck, entre
outros pesquisadores, desfaz esta visão "decepcionada" da crítica literána. Através de
uma reconstrução das narrativas de romances de José de Alencar e Machado de Assis, a
autora demonstra a existência de wna "leitora fictícia" com a qual os escritores
estabelecem um permanente diálogo, desenvolvendo, para este público, uma ''pedagogia
de leitura" que vai além da distração ou da literatura de lazer. Apresentam urna nova
qualidade para este público, através de uma leitura critica, que revela uma leitora capaz
de "produzir opiniões e, portanto, ingressar no espaço de oferta e compra de
12 Esta visão "decepcionada" do romance. em função do público leitor femirúno, foi verificada, por Werneck, em autores como: Antôrúo Cândido (Literatura e Sociedade, 1967); José Verissimo (Históna da Literatura Brasileira, 1916) e Lúcia Miguel Pereira (Prosa de ficção, 1973 ).
37
Estamos mencionando este estudo porque nos demonstra alguns pontos
comuns com o que já observamos anterionnente sobre a organização e o funcionamento
da 11república das letras" por Machado Neto, sobressaindo-se, neste segundo trabalho, as
relações pessoais entre os escritores, organizados em grupos de mútuo apoio, para a
consagração dos mesmos e para legitimar o seu pertencimento aos grupos letrados, à
exemplo do que ocorria na Academia Brasileira de Letras. O estudo realizado por
Quintella, contemplando mais especificamente uma "elite cultural" atuante na década
de 70 (sendo que muitos de seus integrantes nasceram nas duas primeiras décadas deste
século), vem a demonstrar que os aspectos que destacamos até então quanto à
importância das relações pessoais para a legitimidade dos escritores enquanto membros
de um mesmo grupo, persistem nas "elites culturais" atuantes na década de 70.
O trabalho de Quintella, ao procurar "investigar as formas a partir das quais
o grupo definia a si próprio e estabelecia seus limites, deixando entrever quem se
colocava fora o dentro de suas fronteiras", nos indica várias formas de interação social
que, consciente ou inconscientemente, foram acionadas para promover a unidade do
grupo e sua legitimidade enquanto "elite cultural". Desta forma, seu trabalho é rico em
detalhes sobre estas relações e pode servir-nos como um ponto de partida para a análise
que procedemos adiante, quanto a inserção do periódico Carimbo e das escritoras que o
fundaram no mundo das letras.
Entre as diversas relações mencionadas pela autora, destacamos duas em
particular, que dizem respeito ao modo com se inter-relacionavam os membros do
grupo no sentido de identificar seus pares: trata-se, especificamente, da "autocultuação"
e de uma atitude cordial entre seus membros.
Sobre a "autocultuação", a autora observa:
"Esta autocultuação é manipulada através de mecanismos aparentemente distintos, visto que se refere tanto a pessoas como a instituições, mas que sob uma forma ou outra tendem a legitimar o grupo enquanto elite. Assim, é comum presenciarem-se nestas reuniões elogios dirigidos a membros da própria instituição feitos por seus próprios colegas. Por outro lado, estes elogios podem assumir uma forma indireta, quando
38
não são dirigidos diretamente a membros do grupo, mas sim a pessoas de fora da instituição, vivas ou mortas, mas que são reconhecidamente iguais ou pares dos membros da instituição. Neste caso, a autocultuação assumiria uma fonna de projeção, ou seja, são projetadas nestes indivíduos as qualidades ou caracteristicas requisitadas para o póprio grupo. É possível ainda verificar este mecanismo através dos elogios dirigidos a instituições às quais o orador pertence ou pertenceu." (Quintella, 1984, p. 132)
Assim, a 11autocultuação11 e elogios mútuos ou, como chama, uma "atitude
cordial" entre os membros do grupo são elementos característicos do modo como o
grupo, através do relacionamento pessoal entre seus membros, define e identifica seus
pares, além de conferir uma legitimidade para o próprio grupo, baseada neste
reconhecimento recíproco.
Sem entrarmos nas minúcias e na riqueza de detalhes com que a autora
descreve e evidencia a constituição de um grupo como "elite cultural", finalizamos esta
seção apenas ressaltando que estes dois trabalhos apresentados são indicativos do modo
como são acionados diversos mecanismos para se circunscrever e delimitar a unidade
de um grupo social, principalmente tratando-se dos grupos letrados, que, como vimos,
estavam mais baseados em relações pessoais e informais do que em critérios formais
para a admissão em instituições representativas dos grupos, sejam entidades culturais
em um sentido mais abrangente, ou, como vimos em Machado Neto. em entidades
literárias, como na Academia Brasileira de Letras.
1. 3 ESCRITORAS DO RIO GRANDE DO SUL NO SÉCULO XIX
Nesta seção procuramos reunir informações sobre a atuação literária de
escritoras gaúchas ao longo do século XIX, bem como levantar algumas questões a
respeito desta atividade. Para tanto, adotamos os seguintes procedimentos:
Em rnn primeiro momento, caracterizamos algumas fonnas de atuação de
escritoras nos diversos momentos da história da literatura no Estado. Para tanto, nos
referenciamos em artigos sobre escritoras gaúchas, em obras sobre história da literatura
no Estado e em índices bio-bibliográficos de escritores, a partir dos quais realizamos
um levantamento de informações sobre escritoras, pelo menos das mais recorrentes
nesta bibliografia. Ainda que de modo breve, esta historicização mostrou-se necessária
para demonstrarmos a integração do Corimbo em um contexto social no qual estava
despontando a atividade literária de escritoras, constituindo-se, deste modo, corno um
exemplo desta manifestação literária feminina e também como sua continuidade.
Em um segundo momento, verificamos como esta atividade literária é
apresentada em duas obras de história da literatura e, por outro lado, em índices bio
bibliográ:ficos e antologias literárias organizadas por escritoras. Para a análise deste
material procuramos contemplar algumas das questões levantadas na bibliografia sobre
a relação entre escritoras e literatura. Cabe dizer, também, que a realização deste item
deveu-se, principalmente, à leitura do artigo Les 'femmes escrivains' et le champ
lilléraire, de Monique de Saint Martin, somente no que se refere ao procedimento
adotado pela autora ao incluir em sua análise o próprio modo como as escritoras são
referenciadas na literatura. Este nos pareceu ser um procedimento adequado para um
maior controle a respeito das definições sobre o grupo pesquisado.
40
1. 3. 1 Atividades literárias desenvolvidas por escritoras
Seguindo o exemplo de Maria Thereza Caiuby Crescenti Bemardesi,
realizamos um levantamento de infonnações sobre mulheres escritoras no Estado. Com
base em índices bio-bibliográficos e antologias de escritores( as), livros sobre história da
literatura e artigos sobre o tema, reunimos algumas infonnações sobre mulheres que
publicaram livros ou que editaram periódicos literários, considerando apenas as
nascidas no século XIX, neste Estado. Os dados priorizados neste levantamento são os
relativos ao nascimento e morte, às atividades desenvolvidas pelas escritoras, suas
publicações e outros dados biográficos significativos que conseguimos recolher na
bibliografia consultada. Foram recolhidos dados de 25 escritoras. Este material consta
no anexo 2, apresentado ao final do trabalho. A partir deste material e da bibliografia
sobre literatura e imprensa neste Estado, realizamos, primeiro, uma breve descrição das
atividades literárias desenvolvidas por escritoras e, em seguida, procuramos
sistematizar algwnas questões que se sobressaíram no levantamento de informações
sobre escritoras e sua atuação nas letras2.
A presença de escritoras pode-se evidenciar desde as primeiras publicações
literárias do Estado. O primeiro livro de versos publicado no Rio Grande do Sul foi o de
Delfina Benigna da Cunha, Poesias oferecidas às senhoras riograndenses, publicado
em 1834. Um dos primeiros livros de ficção publicados neste Estado também foi de
autoria feminina, Ana Eurídice Eufrosina de Barandas, O ramalhete ou flores
escolhidas no jardim da imaginação; segundo Pedro Maia Soares, este livro foi escrito
l A autora apresenta uma extensa lista de mulheres escritoras, com espe<:ial atenção para o Rio de Janeiro, onde concentrou-se maior número de escritoras no século XIX. Apresenta 15 escritoras nascidas no Rio Grande do Sul, o segundo Estado com maior número de escritoras (Bemardes. 1988)_ Ao nos detennos no caso do Rio Grande do Sul, conseguimos apurar um maior número do que o apresentado pela autora, contemplando 25 escritoras nascidas neste Estado.
2 Este levantamento de escritoras foi realizado com a intenção de trazer apenas uma amostra da presença das mulheres na literatura_ Não realizamos uma pesquisa minuciosa com o objetivo de quantificar todas as obras de autoria feminina publicadas no Estado. Possivelmente, em uma busca mais intensiva em editoras, gráficas e mesmo nos índices de escritores, encontre-se um maior número de escritoras no Estado. As escritoras que relacionamos foram as mais recorrentes na bibliografia consultada ou que estavam entre as colaboradoras do Corimbo.
41
em 1837, embora publicado em 1845. Além de poemas, apresenta uma crônica, sendo
significativo o seu tema, que aborda a participação das mulheres na política (Soares,
1980).
Consultando-se o levantamento de escritoras (ver anexo 2), pode-se
observar dois nomes anteriores a estas publicações. É o caso de Maria Clemência da
Silveira Sampaio e de Maria Josefa [ou Engrácia] Barreto Pereira Pinto. A primeira
escreveu um livro de poesias que declamou por ocasião da "Aclamação do Primeiro
Imperador do Brasil", publicado no Rio de Janeiro, em 1823 (Villas-Bôas, !991). A
segunda atuou na imprensa política, editou o jornal Belona Irada Contra os Sectários
de Momo (Porto Alegre, 1833-34) e colaborou no jornal A Idade de Ouro (Porto Alegre,
1833-1835), além de ter fundado uma escola mista, em Porto Alegre (Flores, 1989).
Esta primeira geração de escritoras parece ter acompanhado a efervescência
política do período. Guilhennino Cesar situa as escritoras como representantes do
"grupo imperial", em função de se posicionarem na defesa do Imperador, contrárias às
forças "farroupilhas" (Cesar, I 971 )3.
Neste período, no âmbito da literatura nacional, encontramos evidências
que apontam para um possível "mecenato oficial", através do apoio pessoal do
Imperador aos escritores "que lhe caiam nas graças" (os vinculados ao Império)4 .
Assim, Delfina Benigna da Cunha, cega desde a inf'ancia, quando da morte de seus pais
pôde contar com o apoio do Imperador, que lhe concedeu uma pensão vitalícia "em
recompensa aos serviços que havia prestado seu pai no posto de capitão-mor" (Oliveira,
1907). Este beneficio imperial foi constantemente agradecido pela escritora através de
seus versos. Ana Euridice Eufrosina de Barandas também posicionou-se na defesa do
Império e, por ocasião da "Revolução Farroupilha", transferiu-se para o Rio de Janeiro,
onde parece ter permanecido até a morte.
3 O autor não menciona Maria Clemência da Silveira Sampaio, da qual encontramos referências em Villas Bôas ( 1991) e em Flores ( 1989), que apontam para a relação da escritora com o Governo Imperial
4 Sobre este assunto, consultar Machado Neto (1973, p. 54) e Cândido (1967, p. 97).
42
As escritoras também atuaram como colaboradoras em periódicos literários.
Entre as atividades literárias desenvolvidas no Rio Grande do Sul, na segunda metade
do século XIX, o periodismo literário teve um lugar de destaque. Foram muitos os
periódicos editados no Estado. Em um levantamento sobre os periódicos literários
editados em Porto Alegre, Athos Damasceno Ferreira apresenta setenta e um títulos,
sendo que quatro destes não chegaram a ser publicados. A maioria dos periódicos
tiveram uma curta duração, de menos de seis meses ou um ano, mas sucediam-se outras
publicações de fonna a sempre existir algum em circulação, principalmente a partir de
1870 (Ferreira, 1975).
O primeiro periódico literário editado no Estado foi O Guaíba (Porto
Alegre, 1856-1858), no qual colaborou a escritora Rita Barérn de Melo, que escreveu
poesias sob o pseudônimo de Jurity5. A mesma escritora aparece entre os colaboradores
do periódico Atualidade (Porto Alegre, 1867). Em outro periódico, editado em Rio
Grande, Arcádia ( !867-1870 ), constam as colaborações de Clarinda da Costa Siqueira.
Ambas, além de colaborações nos referidos periódicos literários, editaram livros de
poesias.
Ao final da década de 1860, foi publicada a Revista do Partenon Literário
(Porto Alegre, 1869-1879), órgão da sociedade com o mesmo nome. Este é considerado,
pela historiografia literária, um dos periódicos mais significativos do Estado, no aspecto
literário através do romantismo e regionalismo, mas também pela larga atuação da
Sociedade Partenon Literário, que, além da Revista, organizou biblioteca, aulas
noturnas gratuitas e uma tribuna para debates entre os seus sócios, intervindo e se
posicionando sobre questões sociais como abolição, república, educação, direitos da
mulher, entre outros temas sobre história, religião e literatura6.
Segundo Soares, a educação feminina e direitos das mulheres foram temas
debatidos entre os membros da Sociedade, no entanto, como em outros assuntos, as
5 Segundo Andradina de Oliveira, esta escritora era tia das redatoras do Carimbo, pela linha patertia. sendo casada com o irmão do pai de Revocata e Julieta de Mello (Oliveira, 1907).
6 Sobre a Sociedade Partenon Literário, consultar: Zilbennan et al. (1980).
43
posições não eram homogêneas e variavam de acordo com o sócio. Entre os defensores
da emancipação da mulher através da educação profissional, menciona José Antônio do
Vale Ca1dre e Fião que, em 1874, publica na Revista uma breve biografia de Luciana de
Abreu, com o objetivo de
" ... animar as vocações; levar ao estudo sério muitas de nossas jovens que podem ainda fazer carreira nas letras, nas ciências ou nas artes; dar emprego no professorado às dignas filhas desta terra, que ainda o pejo ou preocupações retêm nos cárceres sombrios do lar pouco ilustrado da família~ dizer, enfim, que a mulher não é uma cousa, mas um ser inteligente, capaz do ensino e de fazer-se admirar pela concentração no estudo das ciências e no trabalho das artes." (Caldre e Fião, citado por Soares, 1980, p. 13 7)
Assim como Luciana de Abreu, que se destacou por seus discursos em
defesa dos direitos das mulheres, em especial da educação, houve outros nomes
femininos no quadro de sócios e colaboradores da Sociedade Partenon Literário:
Amália Figueirôa, Maria José Coelho, Avehna Barém7, Revocata de Mello, Maria Luíza
Leal, Cândida Isolina de Abreu, Amélia A de Souza e Zulmira da Silveira (Ferreira,
1975)8. Algumas publicaram livros, além de colaborações em outros periódicos.
Ainda na capital, como colaboradoras de periódicos literários, encontramos
as seguintes escritoras: Anna Aurora do Amaral Lisboa, na Revista Culto às Letras
(1880); Julieta de Mello Monteiro, Revocata Heloisa de Mello, Carlota do Amaral
Lisboa e Anna Aurora do Amaral Lisboa, na Revista Literária (1881.1882) e Julieta de
Mello Monteiro e Revocata Heloisa de Mello em O Contemporâneo (I 886-1888)'-
7 Esta escritora era innã de Rita Harém de Melo.
8 Provavelmente por algum erro gráfico a escritora Cândida Isolina de Abreu aparece como um nome masculino, na obra de Ferreira. O mesmo autor não especifica se a colaboradora Revocata de Mello, .refere·se à proprietária do Corimbo (Revocata Heloísa de Mello) ou a sua mãe, também escritora (Revocata dos Passos Figueirôa e Mello). Em Cesar, consta como colaboradora desta revista a escritora Revocata dos Passos Figueirôa e Mello (Cesar, 1971, p. 177). Cabe mencionar ainda que quatro destas colaboradoras da revista não foram localizadas nos índices bio·bibliográfi.cos: Maria José Coelho, Maria Luíza Leal, Amélia A. de Souza e Zulmira da Silveira. As demais colaboradoras, que publicaram livros, constam no levantamento de escritoras (ver anexo 2).
9 Estes nomes foram fornecidos por Ferreira (1975), mas cabe esclarecer que nem sempre o autor menciona os nomes de todos os colaboradores( as) dos periódicos, além de alguns periódicos não serem
44
Através de uma breve consulta em alguns periódicos de Pelotas, publicados
nas últimas duas décadas do século XIX, também observamos a colaboração de
escritoras. Os nomes de Revocata Heloísa de Mello, Julieta de Mello Monteiro, Luiza
Cavalcanti Guimarães, Cândida Abreu, Hermília Messias da Silva Carvalho e Júlia
Cavalcanti aparecem em destaque, no cabeçalho do periódico Progresso Literário,
como colaboradoras lO.
O Periódico A Ventara/a, com o subtítulo de "Folha ilustrada e humorística"
(1887-1890), registra algumas colaborações de Revocata Heloisa de Mello, Julíeta de
Mello Monteiro, Cândida Abreu, Júlia Cavalcanti e Júlia Lopes. O mesmo periódico,
que tem por prática publicar o retrato de personalidades locais, no exemplar de
2/9/1888, publica o retrato de Revocata Heloisa de Mello e, em 23/9/1888, o retrato de
Cândida Isolina de Abreu, como homenagem às escritoras, que são brevemente
biografadasll. Nestas biografias podemos observar que a atividade literária é
constantemente relacionada à "virtude" e "moral" das escritoras (''inspirada escritora e
virtuosa donzela", "Bem conhecida é na província, por suas virtudes e talentos, a
inspirada poetisa"), que são apresentadas a partir de qualificativos femininos e
metáforas florais ("mimosa publicação"; "Do opulentíssimo jardim pelotense, onde se
ostentam as mais formosas flores, fomos hoje trazer wna delas para ornar a primeira
página da Ventara/a") [grifos nossos].
Além da colaboração de escritoras, os periódicos literários publicados no
Estado indicam a existência de um público leitor feminino, o que pode ser observado
em seus editoriais, que contemplam e mesmo destacam o público feminino, como o
Á/hum de Domingo (P. Alegre, 1860-61), "dedicado às senhoras"; O Colibri (P. Alegre,
localizados. Os nomes apresentados são os mais conhecidos e constam nos índices bio-bibliográficos de escritores do Estado.
10 Consultamos este periódico do v. 3, fase 2, n. 1, 1/7/1888 até v. 3, fase 2, n_ 44, 28/4/1889; na Biblioteca Pública de Pelotas.
li Consultamos o periódico A Ventara/a, do v. 1, n. I, 1887 até v. 2, n. 92. 1888; v_ 3, n. 126, 15/8/1889 até v. 3, n. 142, 15/12/1889; na Biblioteca Pública de Pelotas.
46
mercadorias em que se funda a esfera pública burguesa" (Werneck, 1985, p. 134) e de
uma leitura criativa (no caso de Machado de Assis), que insere a leitora no campo da
criação ficcional, "para construir, junto com o escritor, os seus próprios livros de
literatura" (Werneck, 1985, p. !37).
Como bem demonstra Werneck, a "pedagogia de leitura" desenvolvida
pelos escritores, no sentido de "formar" suas leitoras, apresenta uma nova qualidade
para este público leitor, capacitando-o também para a criação ficcional. Assim, esta
autora desenvolve uma argumentação que vai ao encontro dos achados mais recentes
sobre a atuação das mulheres na literatura que, além de público leitor, está presente na
criação literária (de poesias, crônicas, teatros, romances, etc.) e na edição de periódicos
literários que abrigam e divulgam esta produção feminina.
Neste Estado foram publicados vários periódicos literários sob a direção de
mulheres, entre fins da década de 1870 e fins da primeira década do século XX. Soares
menciona alguns títulos, dos quais encontrou pelo menos um exemplar: "Violeta (1878),
em Rio Grande, dirigido por Julieta de Mello Monteiro; Saudade (1880), em )aguarão,
de Maria Amélia F. C.; A Grinalda (1896), em Porto Alegre, de Maria da Cunha; A
Violeta (1897), em Arroio Grande, de Beatriz P. de Andrade e Cecilia P. Caldas; O
Orvalho (1898), em Livramento, de Alaíde Ulrich e Matilde Ulrich Filha; Violeta
(1902), em Santa Maria, de Romilda Filizzola; e A Pena (1909), também em Santa
Maria, de Regina Lobato" (Soares, 1980, p. 145 )".
Estes periódicos, em sua maioria tiveram duração eiemera, outros duraram
dois, três ou mais anos, "mas são todos do mesmo gênero, como os nomes indicam: uma
grinalda de violetas orvalhadas pela saudade" (Soares, 1980, p. 145).
No item que desenvolvemos a seguir, sobre a forma como a atividade
literária feminina é apresentada em duas obras de história da literatura e em índices bio-
bibliográficos organizados por escritoras, vamos verificar que o uso de metáforas florais
13 Não conseguimos localizar os referidos periódicos, como também o nome de suas redatoras e proprietárias nos índices bio-bibliográficos consultados, exceto os de Julieta de Mello Monteiro, Alaíde e Matilde Ulrich, que constam no levantamento de escritoras em anexo 2_
47
não restringiu-se à crítica literária, também as escritoras recorriam a estes termos, talvez
como urna forma de buscar o reconhecimento. Os títulos destes periódicos podem ser
tomados como um exemplo do fenômeno.
Entre os periódicos mencionados, Soares destaca o Carimbo (Rio Grande,
1884-1944; sob a direção de Revocata H. de Mello e Julieta de M. Monteiro14) e o
Escrinio (Bagé, 1898; Santa Maria, 1901; Porto Alegre, 1909; sob a direção de
Andradina de Oliveira). Estes periódicos alcançaram um maior periodo de duração e
reuniram colaborações de diversas escritoras locais e de outras regiões do país,
constituindo-se em um "ponto de encontro" entre as diversas mulheres que atuavam na
literatura, formando "uma espécie de rede feminina que abrange o estado inteiro e
mantém vínculos com os outros centros do país" (Soares, 1980, p. 145). Na última
seção deste trabalho esta questão será analisada com base no Carimbo e na relação
estabelecida com escritoras e periódicos editados em outras regiões.
Entre as atividades literárias desenvolvidas por escritoras, cabe mencionar
ainda a colaboração em almanaques locais de fins do século XIX, princtpalmente no
Almanaque Popular Brasileiro (Pelotas) e no Almanaque Literário e E\·tatístico do Rio
Grande do Sul (Pelotas, Rio Grande). Os almanaques caracterizam-se pela generalidade
de infonnações sobre a região, dados históricos e estatísticos, publicações literárias,
calendário, espaço para a agenda dos( as) leitores( as), etC I).
Assim como em outras regiões do país, em fins do século XIX e inícios do
século XX, também neste Estado encontramos a publicação de um índice biográfico de
escritoras, organizado por Andradina de Oliveira, em 1907, com o objetivo de
homenagear a mulher rio-grandense e tornar conhecidas suas escritoras H>.
14 No referido artigo, o periodo de duração do (.'orimbo consta como 1884-1944 A panir da consulta em outros materiais (índices de escritores), observamos que não existe uma conformidade quanto a esta informação. Neste trabalho estamos considerando o periodo entre 1883-1943, confonne as explicações apresentadas na seção seguinte.
15 Para se verificar as escritoras que colaboraram nestes almanaques, consultar o levantamento de escritoras em anexo 2.
16 A referida obra será apresentada com maior atenção no próximo item desta seçllo_
48
Através do levantamento de informações sobre algumas das pnnCJpaiS
escritoras do Estado, no século XIX, e da breve exposição de suas atividades literárias a
que procedemos, faremos algumas considerações relativas a sua atuação literária.
Quanto aos gêneros literários desenvolvidos pelas escritoras, encontramos 9
escritoras que se dedicaram unicamente à poesia, I 1 escritoras que além da poesia,
publicaram textos em prosa e 5 escritoras que se dedicaram somente à prosa. Das
publicações em prosa, destacamos: a) textos relativos à conferências e crônicas,
publicados na imprensa ou em livros, uma crônica de viagem e um índice biográfico de
escritoras: 14 escritoras; b) romances: 4 escritoras; c) contos: 4 escritoras; d) teatro: 4
escritorasn.
Das quatro escritoras de romances, duas publicaram em Porto Alegre, em
1916 e 1952, sendo que apenas uma fixou residência nesta cidade, as outras duas
transferiram-se para o Rio de Janeiro, onde publicaram seus romances.
Este dado está em confonnidade com a bibliografia sobre o
desenvolvimento da literatura e imprensa no Brasil, no sentido de apontar o Rio de
Janeiro como a capital cultural do país. A partir da instalação da Corte até, pelo menos,
o início do século XX, o Rio de Janeiro é considerado como a capital que "consagra"
os( as) escritores( as); além de fornecer um "mercado de trabalho" mais amplo, através
da publicação de crônicas ou colaborações na imprensa diária ou especificamente
literária, da inserção na Academia Brasileira de Letras (1897) ou pela ocupação de
cargos ligados à administração pública!&.
No caso das escritoras gaúchas que se trasnferiram para o Rio de Janeiro (8
entre as constantes no levantamento em anexo) não foi possível averiguar, além da
atração de um "centro cultural", os motivos relativos as suas trajetórias pessoais que
também poderiam ter um peso relevante para esta transferência. Mas o que podemos
17 As escritoras apresentadas não correspondem ao total das 25 escritoras constantes no levantamento em função da publicação em mais de um gênero literário. Uma das escritoras realizou traduções do alemão, não constando nesta quantificação relativa aos gêneros literários.
18 A bibliografia consultada para este trabalho converge quanto à proeminencia do Rio de Janeiro no campo cultural e das letras. Ver: Sevcenko (1985); Machado Neto (1973); Broca (1960) e Sodré (1966)
49
afirmar é que, algumas delas, após esta transferência, se inseriram no circuito literário
então existente para os escritores. É o caso de Maria Benedita Câmara de Bormann
(1853-1895), que escreveu crônicas para a imprensa e publicou seus romances nesta
capital e de Anna Patrícia Vieira Rodrigues Cesar (1890-1942), que redigiu jornais no
Rio de Janeiro, publicou livros em prosa (um deles uma crônica histórica sobre a
"Revolução Farroupilha") e atuou na Associação Brasileira de Imprensa e no Instituto
Brasileiro de Cultura. Das demais escritoras não conseguimos maiores informações,
além da publicação de seus livros nesta capital. Uma das escritoras nascidas no Rio
Grande do Sul, Andradina de Oliveira (1867-1935), com uma extensa atividade literária
neste Estado, transferiu-se para São Paulo, com sua filha (Lola de Oliveira, também
escritora). Segundo informam os índices bio-bibliográficos, realizou conferências
literárias sobre temas variados em diversas regiões do país, além de dar continuidade às
suas colaborações na imprensa gaúcha, à exemplo do Carimbo.
Neste aspecto dos gêneros literários desenvolvidos pelas escritoras, não
realizamos um estudo mais aprofundado sobre uma possível hierarquia dos escritores a
partir dos gêneros literários ou uma "distribuição sexual" dos mesmos, o que vai além
dos limites deste trabalho e do material que analisamos, pois contamos com uma
pequena amostra de 25 escritoras, além de não procedermos a uma comparação com os
escritores. No entanto, parece que no período das publicações das escritoras
apresentadas no levantamento (a maioria no século XIX), ainda não era possível falar
se em hierarquia de gêneros literários em função de uma não especialização nesta área.
Mais quatro elementos, reto menos, destacam-se no levantamento que
realizamos:
O primeiro refere-se aos assuntos das publicações em prosa. Ainda que não
tenhamos realizado uma análise do conteúdo dos textos em prosa, é possível, pelos seus
títulos e através de fontes secundárias, verificannos que os ternas da "educação da
mulher" e da "igualdade de direitos" foram tratados por escritoras de diferentes
gerações. Entre suas autoras, destacam-se: Ana de Barandas (1806-?), que escreveu uma
crônica, com o título Diálogos, apresentando argumentos favoráveis ao envolvimento
50
das mulheres na políticaJ9; Luciana de Abreu (1847-1880), que realizou discursos na
tribuna da Sociedade Partenon Literário em defesa da educação da mulher; Revocata
Heloísa de Mello (!860-1945) e Julieta de M Monteiro (1863-1928), no periódico
Carimbo e Andradina de Oliveira (1867-1935), que realizou conferências sobre a
situação da mulher, publicou um periódico e dois livros em especial tratando do
assunto, um referente ao divórcio e outro, com biografias de escritoras rio-grandenses.
Algumas das escritoras foram além do discurso ou posicionamentos sobre a
situação das mulheres e criaram instituições específicas relacionadas à diversas
dimensões do "problema!P. A escritora Cristina Amaro de Medeiros criou o i Grêmio
Eleitoral Feminino de Rio Grande. Não encontramos mais indicativos desta entidade,
apenas que existiu na segunda metade do século XIX. Também encontramos
referências à Sociedade Feminina Sempre Viva, em Rio Pardo, da qual fez parte Anna
Aurora do A Lisboa. Da mesma fonna que a sociedade anterior, não encontramos
maiOres informações desta entidade que, não sabemos dos objetivos e fins a que se
destina, se à educação, filantropia ou se se trata de uma entidade hterâria2ú. As
redatoras do Carimbo também envolveram-se com entidades fundadas por mulheres:
foram membros do Clube Beneficente de Senhoras ( 1901 ), entidade com fins
filantrópicos, na cidade de Rio Grande; publicaram sobre a Legião da Mulher
Brasileira, também filantrópica, fundada pela escritora Anna Patrícia Vieira Rodrigues
Cesar, fazem referência a algumas entidades "feministas" como a Federação
Internacional Feminina (São Paulo), Partido Republicano f"""eminino (Rio de Janeiro) e
Liga Comunista Femmina (Rio de Janeiro).
Um segundo elemento diz respeito ao envolvimento das escritoras com a
política, seja através de seus escritos, seja através de uma participação engajada em
movimentos ou partidos IXJlíticos. Entre as escritoras de diversas gerações podemos
!9 O livro desta escritora, onde consta a referida crônica, foi recentemente reeditado. sob a organização de Hilda A H. Flores, que elaborou uma introdução biográfica da escritora (Barandas, 1990)
20 Procuramos infonnações sobre estas entidades na Biblioteca Rio-Grandense, de Rio Grande É provável que em Rio Pardo encontre-se dados a respeito da entidade feminina da qual fez parte Anna Aurora do Amaral Lisboa
51
evidenciar um envolvimento com movimentos políticos de acordo com o contexto
histórico. Assim, as escritoras contemporâneas ao movimento farroupilha,
posicionaram-se e escreveram sobre o movimento, como Ana de Barandas, Delfina B.
da Cunha, Maria Josefa Barreto e Maria Clemência da Silveira Sampaio. A geração de
escritoras que publicou principalmente nas duas últimas décadas do século XIX e início
do século XX, também parece inserida nas questões sociais e partidárias do período,
corno na defesa da abolição e, mesmo possuir vínculos com os partidos e movimentos
políticos do período. Como exemplo do caso, mencionamos Anna Aurora do Amaral
Lisboa (1860-1951), colaboradora dos jornais A Reforma e Gaspar Martins, ambos
ligados ao movimento federalista, além de defensora da abolição, instrução da mulher e
igualdade de direitos2!. Outro exemplo é o das redatoras do Corimho- Revocata H de
Mello e Juiieta de M. Monteiro, cujo innão morreu em batalha, nas fileiras do grupo de
Gaspar Silveira Martins. Neste periódico, consta a seção "Galeria dos insubmissos", na
qual podemos encontrar desde personalidades ligadas ao movimento farroupilha até os
vinculados ao movimento federalista do período; mas também constam colaborações de
letrados envolvidos com o anarquismo e socialismo.
Um terceiro elemento refere-se ao exercício do magistério, como urna
atividade na qual as escritoras participavam. Encontramos poucas informações sobre o
processo de escolarização das escritoras. Para um aprofundamento do tema, seriam
necessários estudos sobre o desenvolvimento da educação no Estado e de wn
acompanhamento das trajetórias pessoais de cada uma das escritoras. Mas, através do
levantamento em índices de escritores( as), percebemos uma gradual escolarização das
escritoras, a partir da criação da Escola Normal, em 5 de abril de 1869, em Porto
Alegre, onde algwnas das escritoras mencionadas realizaram sua fonnação escolar,
vindo a se integrar tanto em atividades no magistério público como na criação de
escolas particulares22. Cinco escritoras fonnaram-se na Escola Normal e urna na Escola
21 Ver estudos biográficos sobre a autora: Spalding (1953) e Soares (1980).
22 Uma breve historicização do ingresso de mulheres na Escola Normal da Província de São Pedro pode ser encontrada em Louro {I 987).
52
Complementar de Porto Alegre. Seis escritoras fundaram escolas particulares, uma foi
diretora de escola e duas atuaram como professoras.
Por fim, destacamos a gradual participação das escritoras em entidades
culturais ou sociedades de letras e imprensa, principalmente as que atuaram no início
do século XX, quando se fonnaram algumas entidades e instituições específicas. Tal é o
caso de Anna Aurora do Amaral Lisboa, membro do Grêmio Rio-Pardense de Letras
(1938) e de Universina de Araújo Nunes, que foi titular da cadeira 0° 12 da Academia
Literária Feminina do Rio Grande do Sul (1943), cuja patrona foi Revocata H de
Mello. Esta última entidade homenageou diversas escritoras gaúchas do século XIX,
muitas das quais mencionadas no levantamento a que procedemos. Mas também no
século XIX, na década de 70, as escritoras que atuaram neste período fizeram parte da
Sociedade Partenon Literário (1869-1879). Além da participação nestas entidades
locais, conforme mencionamos anteriormente, algumas escritoras nascidas neste Estado
e que se transferiram para o Rio de Janeiro, atuaram em entidades ligadas às letras, em
órgãos culturais ligados à administração publica ou em órgãos de categorias específicas
como na Associação Brasileira de Imprensa. A participação das escritoras era vedada
na Academia Brasileira de Letras (1897), cópia do modelo francês; o que parece ter
gerado um movimento por parte de escritoras que buscavam o reconhecimento de sua
atividade literária23.
Os elementos que apresentamos merecem um estudo mais aprofundado,
tanto das trajetórias pessoais das escritoras, de sua inserção no contexto histórico, como
de uma análise de seus escritos. Neste sentido, estamos apenas apontando para alguns
23 Sobre o fato não temos maiores infonnações, Sodré menciona a escritora "Chrysantheme" (filha da "jornalista" Enúlia Moncorvo Bandeira de Melo, que assinava com o pseudônimo de Carmen Do!ores) como a principal defensora desta reivindicação (Sodré, 1966, p. 388). Machado Neto fornece informações de alguns episódios ocorridos em função desta restrição à presença feminina na Academia Brasileira de Letras, um primeiro relativo à indisposição do jurista Clóvis Bevilaqua em relação à Academia e seus membros peJo não ingresso de sua esposa, a escritora Arnélia Bevilaqua. Em seu lugar entrou o desembargador Ataulfo de Paiva, cujo mérito literário era motivo de "chacota" entre alguns membros da Academia. Outro episódio refere-se a entrada de Felinto de Almeida como uma espécie de "compensação" ao não ingresso de sua esposa na Academia, a escritora Júlia Lopes de Almeida, o próprio escritor reconhece: "Pois não é? Nunca disse isso a ninguém, mas há muito que o penso. Não era eu quem devia estar na Academia, era ela" (Almeida, citado por Machado Neto, 1973, p. 193).
53
elementos que se sobresairam no breve levantamento que realizamos, principalmente a
partir de índices bio-bibliográficos e antologias de escritoras. Nesta pesquisa, tomamos
por referência um periódico literário editado por escritoras de Rio Grande - o Carimbo
(1883-1943), para, com base nesta fonte empírica, analisar algumas dimensões da
atividade literária de escritoras. Assim, os elementos que mencionamos acima serão
debatidos na análise do Carimbo e das informações que este periódico em especial pode
nos fornecer sobre o tema.
1. J. 2 Atividade literária das escritoras como "atividade de mulheres"
Primeiramente verificamos como a atividade literária das escritoras é
apresentada em duas obras de história da literatura do Rio Grande do Sul. Nestas obras
podemos encontrar uma avaliação crítica da produção literária do Estado, uma
descrição das atividades literárias de acordo com período histórico, a relação entre o
desenvolvimento literârio local e o nacional, etc. Enfim, é uma bibliografia que
apresenta uma visão do desenvolvimento literârio local, seus principais representantes e
suas principais obras. Procuramos verificar, nesta bibliografia, a forma como
apresentam a atividade hterâria das escritoras.
Entre as obras consultadas estão História Literária do Rio Grande do Sul,
publicada em 1924 por João Pinto da Silva e História da Literatura no Rio Grande do
Sul, de Guilhermino Cesar, publicada, em primeira edição, em 195624. Na primeira obra
não são mencionadas escritoras se não de forma ilustrativa e não interferindo no
conjunto da obra, como é o caso de Rita Barém de Melo (1840-1868), citada em nota de
rodapé quando o autor transcreve trechos de um literato consagrado e contemporâneo
desta escritora; ou, quando menciona um nome feminino de expressão nacional,
Francisca Júlia da Silva (São Paulo, 1871-1920), em mn parágrafo em que pretende
24 Consultamos a segunda edição, de 1971.
54
demonstrar que o pamastamsmo, da fonna como foi originalmente concebido, não
encontrou expressão no Brasil (Silva, 1924).
Na segunda obra, História da Literatura no Rio Grande do Sul, que
compreende um levantamento mais exaustivo da produção literária no Estado,
encontramos referência a treze escritoras, sendo que o autor se detém em sete delas pelo
destaque que tiveram na literatura locai: Maria Josefa [ou Engrácia] Barreto Pereira
Pinto (1786/88-1837)25, editora do periódico Belona Irada Contra os Sectário.~ de
Momo (Porto Alegre, 1833-34) e colaboradora do jornal Idade de Ouro (Porto Alegre,
1833-34), dirigido por Manuel dos Passos Figueirôa; Delfina Benigna da Cunha (1791-
1857), autora do 11primeiro livro de versos que se publicou em prelos rio-grandenses"~
Ana Eurídice Eufrosina de Barandas (1806-?), autora do segundo livro publicado no
Estado, este em prosa e versos; Rita Barém de Meio (1840-1868) e Clarinda da Costa
Siqueira (1818-1867), como poetas da primeira geração romântica, com colaborações
em periódicos literários e publicação de livro de poesias; Amália dos Passos Figueirôa
(1845-1878), com publicações na Revista Mensal do Partenon Literário (Porto Alegre,
1869-1879) e livro de poesias e Julieta de Mello Monteiro ( 1863-1928), que "refoge ao
processo romântico para adotar a linha parnasiana"26.
O autor ressalta as dificuldades para a participação das mulheres no meio
literário da época (século XIX), "preconceituoso", "hostil" e "o oficio das letras era
quase defeso às mulheres", além de criticar o descaso da obra citada anteriormente para
com as escritoras. No entanto, ao avaliar a atividade literária das escritoras, utiliza
25 Na obra em questão, esta escritora é identificada como Maria Josefa da Fontoura Pereira Pinto, literariamente Maria Josefa Barreto, nascida em Viamão, em 1775. Em outra obra, que consulta o inventário da escritora, seu nome consta como Maria Josefa [ou Engrácia] Barreto Pereira Pinto, no entanto, o mesmo documento não informa sua data de nascimento, que, segundo Hilda A. H_ Flores, poderia estabelecer-se, como data provável o biênio de 1786/88 (Flores, 1989). Utilizamos esta segunda obra como referência para os dados biográficos da escritora, por ser uma publicação mais recente e que realizou uma busca mais exaustiva das documentações da escritora_
26 Além destas, são mencionadas: Luciana de Abreu, Luíza Azambuja e Revocata dos Passos Figueirõa e Mello, como membros da Sociedade Panenon Literário; Andradina de Oliveira, Anna Aurora do Amaral Lisboa e Revocata Heloísa de Mello, que estão entre "outros autores que incidentalmente escreveram teatro". Ao final deste trabalho, apresentamos um levantamento de escritoras do Estado, no século XIX, que chegaram ao nosso conhecimento, onde se encontram maiores infonnações sobre as autoras e suas publicações (ver anexo 2)
55
qualificativos, especificamente os que indicam culturalmente atributos femininos ou
masculinos, e que, ao tomar parte na avaliação da atividade literária das escritoras, têm
o efeito de desprestigiar suas produções ou, como veremos adiante, demonstram uma
condescendência em relação às escritoras, por serem mulheres. O quadro que segue
pennite uma visualização da classificação do autor, que retomaremos adiante.
I
2
3
4
5
6
7
56
QUADRO I - APRESENlAÇÃO DAS ESCRIIORAS E DA ATMDADE LlTERÀRJA FEMiNINA EM GU1I.HERMINO CESAR21
Qualificativos Avaliação da Atividade Literllria Temas Dados Biográficos28
Irrequieta; Viril; Feminista avançada, sim, m" poetisa Política; O seu coração Tudo, nela, o;tà medíocre. feminino pouco fala de ]ong, d' anunCiar amor. doçma ' visão subjetiva; Essa brava mulher sempre qws competir oom os homens. ' (pãg 86)
Pobre mulher; Carente de recursos materiais, escrevia Deixa ''""' "" Cega. Afetuosa; Bondade, por necessidade; Faltando-lhe a visão do coração; Cantan " Humildade; Espírito millldo exterior, volta-se sobretudo para suas penas. me1go; Ternura, d'""o d' " mesma, P'" o sou Gracioso abandono desamparo de mulher bela e inválida. Os
da mulher infeliz homens viviam em guerra. Só mesmo uma pobre mulher cega poderia fazer lirismo. (pág. 95-!02)
Espírito; Doçura; Graça; Sensibilidade. (pág 103-105)
Apagada: Infeliz; O amor, bem infeliz: a Perdeu """ Graciosa; Alada; maternidade: a morte dois filhos. Docw-a. (pág !58-161)
Pobre mulher; Enjeitada. Subjetivismo: Poética humana ' (pág. 165-167) sensívd. Melancclia; [Literatura comoj porta de evasão. Órfã; Infelicidade: Pobre Abandonada gauchinha. pelo noivo.
(pá_g. 239-240) Impessoal: Ardente A despeito do fervor com que votou á Penserosa. poesia '"' nobre vida, ( ) oferece
escassas condições de comunicabilidade; descritiva sem grande acuidade. deixou de sentir, JXlr exemplo, o aveludado, a doçura q""'' mística d, prusagem (pág 294) gaúcha.
Nomes: l - Maria Josefa [ou Engráciaj Barreto Pereira Pinto, 2 - Delfina Benigna da Cunha, 3 - Ana Eurídice Eufrosina de Barandas. 4 - Rita Barém de Melo, 5 - Clarinda da Costa Siqueira, 6 - Amália Figueirôa, 7 - Julieta de Mello Monteiro.
27 Os quadros apresentados nesta seção foram construídos com base nas informações fornecidas pelos respectivos autores. Foram transcritas literalmente as expressões dos autores, sendo que os espaços em branco devem-se à falta de infonnações sobre os assuntos indicados nas colunas.
28 Nesta coluna apresentamos alguns dados biográficos mencionados pelo autor e que tomam parte na avaliação que faz da atividade literária das escritoras.
57
A utilização de qualificativos femininos pode ser observada para todas as
escritoras29, sendo que na primeira, os qualificativos masculinos ("virilidade" e
"bravura") são associados a sua atividade literária de fonna pejorativa, apresentada
como 11poetisa medíocre".
Nas demais escritoras, a recorrência ao uso de expressões como "pobre
mulher", "infeliz", seguidas e justificadas por infonnações de suas trajetórias pessoais
(como "cega", "enjeitada", "órfã" e "abandonada pelo noivo"), expressam uma certa
condescendência em relação as suas produções literárias: primeiro, porque viviam em
"ambiente hostil" para com as mulheres, fator destacado em vários momentos pelo
autor, no sentido de que as escritoras destacarn·se do coqjunto das mulheres,
constituindo-se como exceção em uma situação social que conferia poucas condições
para as mulheres exercerem a atividade literária~ segundo, porque souberam "chorar" as
fatalidades do universo feminino de esposas, mães e filhas. Como exemplo citamos um
parágrafo do autor:
"Mas, somados os defeitos e qualidades de Delfina Benigna da Cunha, o saldo lhe é favorável, bastante para que a admiremos com ternura e compaixão, ou mesmo com espanto, em face da tenacidade com que ela, vencendo preconceitos, o ambiente, a cegueira, a pobreza, se criou uma reputação literária. O acervo poético da rio-grandense tem muita ganga impura, mas é justamente aí que se vai encontrar a verdaderra fisionomia moral da mulher afetuosa e infeli:, flor bizarra de um acampamento de guerra." (Cesar, 1971, p. 102)[grifos nossos]
Da mesma forma, os temas dos escritos femininos possuem diferente
valorização na avaliação literária do autor, sendo melhor aceitos os que envolvem a
condição de mulher ligada ao universo familiar, o que percebemos contrastando a
primeira escritora, que desenvolve temas políticos, com as demais. Nas palavras do
autor:
29 Poderia se ex:duir a última escritora apresentada no quadro l, da qual o autor não fornece maiores informações.
58
"Manteve-se coerente e natural: não abusou das tintas, não escolheu vocábulos, nem elegeu temas arbitrários ou inalcançáveis pelo seu vôo. Através das causas modestas, evocou os sentimentos profundos. E quando o seu coração de mãe e de innã experimentou lutos sem remédio, pôs-se simplesmente a chorar30." (Cesar, 1971, p. 159) [grifos nossos]
Assim, a condição de mulher das escritoras toma parte na avaliação de suas
atividades literárias, manifestando-se como o principal elemento de contrastação com
os escritores homens. A definição de mulher, na obra analisada, está implicando
qualidades morais vinculadas a sua condição de mães, filhas e esposas (como "coração
de mãe") e qualidades fisicas indicadoras de feminilidade, corno "beleza", "graça" etc.,
em contraposição à "força", "virilidade". A avaliação literária das escritoras abrange
estes dois conjuntos de qualificativos; ora são avaliadas a partir de qualificativos
femininos, como "voluminho delicioso"; ora a partir de qualificativos masculinos como
"virilidade", quando sua obra é equiparada à produção de autoria masculina ou
simplesmente desprestigiada31.
No caso dos escritores - os "homens de letras" - embora o autor também
utilize qualificativos amparados na diferença sexual, estes aparecem com menor
freqüência e sem pesar na avaliação de suas atividades literárias, que são consideradas
por si mesmas, no sentido de uma atividade com interesse especificamente literário, em
suas palavras, "(. .. ) o exemplo admirável do homem que se dedica, fazendo da arte uma
disciplina e uma aspiração desinteressada" (Cesar, 1971, p. 116) [grifo nosso], muito
embora a maior parte dos escritores apresentados realizem outras atividades
profissionais além da literatura, conforme observamos na seção anterior3z. No caso das
30 Esta citação diz respeito à escritora Rita Barém de Melo, apresentada no quadro 1 sob o n° 4.
31 Estamos nos referindo ao modo como as mulheres são apresentadas na bibliografia e, como mencionamos, estas são constantemente referidas aos papéis relativos ao universo familiar: como esposa, mãe, filha ou irmã. Estes dados não foram confrontados com dados biográficos das escritoras, o que poderia nos apontar para um quadro diverso, com a presença de solteiras, viúvas e separadas.
32 Na seção anterior, quando trabalhamos alguns elementos relativos ao desenvolvimento da literatura, observamos que a atividade literária estava vinculada à outras esferas da sociedade, de modo que não seria pertinente falar-se da literatura como uma atividade autônoma e especializada. De fonna que a atividade literária, de wna fonna geral, foi constantemente justificada a partir de motivos "extraliterários", embora em um sentido diferenciado do aqui apresentado em relação às escritoras, pois os escritores não irão justificar a sua atividade a partir da condição sexual, mas de sua "missão" social enquanto escritores.
59
escritoras, a atividade literária é apresentada como um fator de necessidade econômica,
na falta do elemento masculino, ou como um espaço de manifestação de sentimentos
relativos ao universo feminino - corno "porta de evasão".
Em um segundo momento, consultamos materiais que pudessem nos indicar
alguns posicionamentos das próprias escritoras do período, especialmente sobre a forma
como apresentam e justificam sua atividade literária. Com este objetivo, consultamos
alguns índices bio-bibliográficos e antologias de escritoras organizados por escritoras.
Antes de passarmos para as antologias e índices organizados por escritoras,
cabe mencionar que foram consultados índices de escritores do Estado, nos quais
constam alguns nomes femininos. No entanto, pelo caráter sucinto de seus verbetes, não
fornecem maiores informações para a análise em questão. São apresentados dados
biográficos sobre nascimento e morte das escritoras, pseudônimos e publicações e mais
raramente incluem suas atividades profissionais (a maioria no magistério e imprensa),
sem comentários críticos da sua produção literária. Consultamos os índices organizados
por Pedro Leite Villas-Bôas (1991). Ari Martins (1978) e por Antônio Carlos Machado
(1952).
A partir de fins do século XIX encontramos índices e antologias de
escritoras organizados por escritoras. Uma publicação mais recente, Ensaístas
brasileiras: mulheres que escreveram sobre literatura e artes de /860 u /99/,
organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, menciona a edição de doze obras neste
sentido, de 1889 a 197933. Nesta obra, os índices e antologias de escritoras,
principalmente os do início do século, são analisados como "um claro projeto político
33 Índices bio-bibliográficos de escritoras: Ignez Sabino, Mulheres liustres do Brasil (1889), Josefina Álvares de Azevedo, Galeria Ilustre: mulheres célebres (1897); Andradina de Oliveira, A mulher nograndeme: escritoras mortas (1907)~ Adalzira Bittencourt, Mulheres e Livro (1948); Alzira Freitas Tacques, Perfis de Musas, Poetas e Prosadores Brasileiros, em 5 vol. (1956-58); Rute Guimarães, Mulheres Célebres (1963); Henriqueta Galena, Mulheres Admiráveis (1965); Adalzira Bittencourt, Dicionário Bio-bibliogriifico de Mulheres Ilustres, Notáveis e Intelectuais do Brasil, em 3 vol., letras A e B (1969), Antologias da produção literária feminina: Edla Van Steen, O Conto da Mulher Brasilerra (1978); Rachei Jardim, Mulher, Mulheres (1978), Cândida Galena, O livro de Ajebiana (1979); Maria de Lourdes Hortas, Palavra de Mulher; Poesia Feminina Brasileira Contemporânea (1979); citados por Hollanda, 1993.
60
de sobrevivência e uma lógica de apoio e estratégia de mercado" (Hollanda, 1993, p.
14). Este elemento também aparece nas obras que consultamos.
Entre os índices bio-bibliográ:ficos e antologias publicadas no Rio Grande
do Sul, foram localizadas três que tratam especificamente das mulheres escritoras: A
Mulher Rio-Grandense: escritoras mortas, de Andradina de Oliveira, publicado em
1907, Peifis de Musas, Poetas e Prosadoras Brasileiras, de Alzira Freitas Tacques,
publicado em 1956 e 50 Anos de Literatura: perfil das patronas, organizado pela
Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, em 19933<.
Estes índices foram organizados por mulheres com inserção na literatura,
transparecendo nestes volumes a intenção de divulgar as escritoras e, por extensão, as
próprias autoras e a atividade literária feminina, o que pode ser evidenciado na
apresentação das obras, em trechos como: "só tive em mira tomar conhecida a atividade
feminina neste extremo sul de nossa pátria" (Oliveira, 1907, p. 7) e "a Academia(. .. )
publica a presente coletânea com o intuito de manter viva a memória daquelas que
abriram caminhos e nos auxiliaram a divisar com clareza os valores mais altos de nossa
condição" (Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, 1993, p. 18). Da mesma
fonna, no coJljunto das obras, as autoras se incluem, seja nas entrelinhas das biografias,
ou em capítulo consagrado à seus trabalhos. Assim, Oliveira aproveita para falar em seu
desejo de "conquista de um nome literário" e para divulgar suas publicações literárias,
nas entrelinhas da biografia de uma de suas "melhores amigas" (Oliveira, 1907, p. 58).
Tacques abre cada parte dos cinco volumes da obra com poesias e artigos de sua autoria
e, nas biografias, freqüentemente menciona a relação pessoal com a biografada ou a
fonna com que chegou ao seu conhecimento, além de reservar um capítulo para
apresentar suas poesias com "apreciações de escritores e poetas brasileiros e
estrangeiros" e outro capítulo com poesias de sua autoria, dedicadas "às colegas da
Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul" (Tacques, 1956). A antologia das
34 Através da Profa. Rita Terezinha Schmidt, do Programa de Pós-Graduação em Literatura/UFRGS, tivemos o conhecimento de que está em andamento a organização de uma antologia de escritoras brasileiras nascidas no século XJX A referida antologia não foi utilizada neste trabalho, mas certamente, ao ser concluída. se constituirá em uma imponante fbnte para as pesquisas na área.
61
patronas da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul foi organizada por suas
integrantes, na maioria titulares das cadeiras das respectivas homenageadas.
Os índices bio-bibliográficos mencionados, ao apresentarem a atividade
literária feminina e seus expoentes, ressaltam as qualidades fisicas e morais das
escritoras e suas atividades literárias são associadas às trajetórias pessoais de mulheres:
mães, esposas e filhas. Na antologia organizada pela Academia Literária Feminina/RS,
ao mesmo passo que apontam as dificuldades para a profissionalização das mulheres na
área da literatura e o pioneirismo de algumas escritoras neste sentido, enfatizam a
atividade literária conciliada e como extensão dos deveres da mulher na família, em
trechos corno:
" ... a escritora viu claramente o papel da mulher dentro do lar com uma influência sobre os filhos, com urna prolongação na cultura, com uma independência para influir, agindo com sabedoria dentro e fora de casa. ( ... ) não foi uma feminista, mas revelou um equilíbrio entre o seu trabalho no lar, na escola e na sociedade como literata." (Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, 1993, p. 70)
Para exemplificar, selecionamos a obra A Mulher Rio-Grandense:
escritoras mortas, especialmente por sua contemporaneidade com o periódico literário
CorimboJ5. Nesta obra, as qualidades fisicas ("formosa", "graça") e as qualidades
morais, principalmente relacionadas ao âmbito familiar ("coração de mãe", "alma
angelical e santa") estão relacionadas à atividade literária das mulheres. Conforme o
quadro exposto adiante, pode-se perceber o predomínio na utilização de qualificativos
femininos para a apresentação das escritoras, quando a sua definição como "intelectual"
ou "inteligente" aparece acompanhada de qualificativos como "meiga", nromântica",
nsaudosa", "formosa" etc. Quanto a atividade literária das escritoras, é apresentada
como um "ganha-pão", na falta do elemento masculino, responsável pelo sustento
35 A antologia organizada pela Academia Literária Feminina/RS, embora possa ser considerada uma continuidade das antologias do início do século, foi publicada em um contexto diferente, entrando em questão a própria profissionalização das escritoras, do mesmo modo que o índice Ensaístas Brasileiras (Hollanda, 1993).
62
familiar; corno extensão dos deveres da mãe, responsável pela educação dos filhos ou
como um 11consolo" para suas tristezas.
I
2
3
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9
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12 13
QUADRO 2 -APRESENTAÇÃO DAS ESCRITORAS E DA ATIVIDADE LlTERÁRlA FEMININA EM ANDRADINA DE 0IJVEJRA
Qualificativos Avaliação da Atividade Literária Linda; Sedutora; Triste; Soube criar um mundo subjetivo, visão interior fera cega], cuja intensidade Alma angelical ' santa; levou-a a procurar na poesia suavissiDlo consolo à sua enorme tristeza Notá,•el pÕetisa {pã, 17) Inteligente escritora; Admiravam-lhe ' "'"' VIVaz do "" estro do
, repentista. (pãg. 23)
Chegou a destacar-se pela intelif;:ência. (pãg 25) Romântica poetisa_ Dividia oom igual solicitude o precioso tempo entre os deveres de esposa e mãe
e as lides cativantes da literatura. (pág. 27-29)
Saudosa poetisa. Não deixou filhos, mas legou-nos um belo conJunto de poesias líricas c patrióucas que evidenciam de um modo eloqüente os seus dotes de cultora do verso. ~31-2)
Formosa; Alma caridosa e sonhadora; Meiga e boa; Exímia escritora. (pig 33-36)
Distintissima poetisa; Repartida entre os afetos da familia, os enlevos das letras e os infatigáveis Meiga poetisa. gozos da caridade.
Jm. 37-38) Gnmdo ternura de = E somente para a querida Alice [sua filha] escreveu a encantadora literata rio-coração de mãe; Mimos grandense, que, ao morrer ( ... ), suplicou-lhe não desse à publicidade àqueles literários e didáticos. trabalhos singelos, a seu ver sem o real mérito atribuído pelo sincero
admirador, o Poeta F. Otaviano. (pá_g. 39-41) Pobre cnjeltadinha; [A partir de sua oondição de mãe, passou a escrel'er sobre a igualdade entre os Mulher intelectual; Meiga sexos, queria] trabalhar pela felicidade da mulher.
I poetisa. Jpág. 43-49) Formosa ' notabilíssima O espírito torturado pelas desventuras da existência, a alma que vm se fanarem intelectual. as suas mais queridas ilusões. o coração repleto de sonhos ideais que foi
dilacerado pelos espinhos agudos da realidade. sempre cruel rdivórcioJ. voltam-se com freqúência para o horizonte literário, procurando nele um derivativo para as mágoas íntimas. ( ... ) Foi romancista não por um mero capricho ou simples simpatia por esse dificil gênero literário; foi romancista por uma fatalidade psicológica, quase diremos PO' =' necessidade do ·~ temperamento, da sua entidade fisiológica. (pág. 5!-53)
Angelical. Sem descurar os gratos deveres de esposa exemplar, de filha amorozissirna, de mãe infinitamente delicada e tema, ( ... ) exercia o cargo de guarda-livros da importante fábrica do massas de •"' om proprietário "" pai, ativo industrialista. e ainda achava tempo para continuar os estudos. a fim de poder. como era seu ardente desejo ser, a primeira mestra dos seus filhos, porque entendm. e com mwto acerto, que só a mulher bem instruída e bem educada é que sabe desempenhar cabalmente a sublime missão de fazer homens úteis à Pàtria à Sociedade e á Família. (pág. 55-60)
Talentosa escritora. (pãg 61) Formosa: Inteligente. (pág. 63-65)
Nomes: 1 - Delfma Benigna da Cunha, 2 - Maria Josefa [ou Engrácia] Barreto Pereira Pinto, 3 - Ana Eurídice Eufrosina de Barandas, 4 - Revocata dos Passos Figueirôa e Mello, 5 - Rita Barém de Melo, 6 - Amália Figuerrôa, 7 . Clarinda da Costa Siqueira, & - Maria Helena da Câmara Andrade Pinto, 9 - Luciana de Abreu, I O - Maria Benedita Bormann, li - Leocádia Grecco, 12- Luiza Cavalcanti Filha, 13- Alayde Ulrich.
63
A partir do que apresentamos sobre a forma como as escritoras e sua
atividade literária aparecem em obras sobre história da literatura, em particular na obra
de Guilhermino Cesar, e em um índice de escritoras organizado por uma autora
contemporânea ao periódico Carimbo, destacamos alguns elementos que consideramos
significativos sobre a inserção das escritoras na literatura.
Primeiramente, a manifestação de uma condescendência na historiografia
literária em relação às escritoras, de forma que lhes conferem um tratamento específico
em correspondência a sua condição sexual: tratam-se antes de mulheres do que de
escritoras. Assim, tomam parte na avaliação da atividade literária das escritoras
categorias específicas relativas ao universo feminino.
Sobre este tema, destacamos o artigo de Sylvia Paixão sobre a crítica
literária da produção feminina no período entre fins do século XIX e início do século
XX Neste artigo a autora demonstra a manifestação de um "olhar condescendente" por
parte da crítica literária em relação às escritorasJ6. Conforme observou a autora.,
11A atmosfera de fragilidade será acentuada por meio de uma atitude paternalista do crítico em relação à mulher que escreve, fazendo sobressair, muitas vezes, mais as qualidades fisicas da mesma do que seus dotes literários." (Paixão, 1990, p. 54)
Isto transpfirece em diversas críticas, entre as quais, a autora menciona as de Perpétua
do Vale sobre o livro Plectros, publicado em 1897 por Ibrantina Cardona e as de José
Veríssimo, sobre as escritoras do século XIX:
36 Além deste artigo, mencionamos sua dissertação de mestrado, A fala a menos: a repressão do desejo na poesia feminina, publicada como livro em 1991. Ao estudar o tema do desejo na poesia feminina entre fins do século XIX e início do século XX, apresenta os mecanismos utilizados para a repressão do desejo na poesia feminina, entre estes a presença de um olhar corxiescendente por parte da critica literária em relação à mulher que escrevia. interferindo nos temas da poesia feminina, o que teria contribuído, na visão da autora, para a "fala-a-menos" na literatura feminina do século XIX, ou seja, para uma exclusão do desejo e do corpo; quando este aparece, em Gilka Machado, a autora é condenada pela critica (Paixão, 1991).
64
"É verdade que a critica, para ser justa, precisa ter certa disposição de bondade para com as escritoras, atendendo ao pouco cultivo que tem comumente a mulher'' (Vale, citada por Paixão, 1990, p. 51)
"Não é fácil falar com desembaraço das mulheres autoras, pois, por mais que elas como escritoras se extremem de seu sexo, exige a mais elementar galanteria que não as tratemos senão como senhoras." (Veríssimo, citado por Paixão, 1990, p. 55)
Conforme o que apresenta esta autora sobre a condescendência da crítica
literária ao tratar das mulheres que escreviam, foi-nos possível também evidenciar esta
mesma relação na obra de história da literatura que consultamos.
De outro lado, a partir do índice de escritoras gaúchas organizado por
Andradina de Oliveira, observamos que, no que diz respeito a fonna de apresentação
das escritoras e de sua atividade literária, não se diferencia da obra de Guilhermino
Cesar, sobre história da literatura. Em ambas observamos a utilização de atributos
femininos seja para apresentar as escritoras, seja para justificar as atividades literárias
por elas realizadas.
Esta forma de apresentar as escritoras, partilhada tando pela critica literária
como pelas escritoras, foi analisada por Zahidé Muzart, que, através da comparação de
paratextos (prefácios, notas introdutórias, dedicatórias, preâmbulos) de livros escritos
por homens e mulheres, no século XIX, levanta questões como: primeiro, que os
prefácios femininos parecem ser dirigidos a um leitor específico, "o homem de letras, o
crítico literário"; segundo, que as escritoras, para se inserirem na literatura, lançam mão
de atributos femininos aceitos e adotados pela crítica dominante. As escritoras,
conhecedoras da critica da época, que avalia suas produções como literatura realizada
por "mulheres", desenvolvem algWis artifícios, para fazerem seus trabalhos conhecidos,
como é o caso do uso de "fórmulas de humildade" e do uso de um "código floral [que] é
o mesmo da graça, da delicadeza, da natureza", recursos estes que estavam no espírito
da avaliação que a critica dominante fazia da literatura feminina (Muzart, 1990, p. 67).
Neste sentido, estamos chamando atenção para o fato de que, se por um
lado a crítica e historiografia literária analisam a inserção das escritoras na literatura a
65
partir de categorias específicas que revelam um tratamento diferenciado para elas, pelo
fato de serem mulheres, por outro, as escritoras também partilham das categorias
utilizadas pela crítica, seja ao adotarem formas de apresentação que indicam sua
condição de mulheres, seja na definição de sua atividade literária a partir de
justificativas que vão além da literatura em si mesma, colocando~a como "ganha-pão",
"porta de evasão" dos sentimentos ou extensão das atividades relativas às mulheres.
Este assunto foi levantado, embora de fonna diferenciada, por Monique de
Saint-Martin, em wna análise da inserção das escritoras no "campo literário", na França.
Segundo a autora, um dos elementos que teria contribuído para a "posição marg:mal" ou
mesmo "exclusão" das escritoras do "campo literário", teria sido o fato de que elas
mesmas se excluíam, entre outros fatores, através da atribuição de uma intenção
"extraliterária" como justificativa de sua atividaden.
De uma fonna geral, a partir do material analisado, observamos que a
atividade literária feminina é apresentada, tanto pela critica literária como pelas
próprias escritoras, como uma produção realizada por mulheres, como uma literatura
"de mulheres". A condição de mulher aparece em vários momentos como um traço
predominante na avaliação literária das escritoras: são apresentadas a partir de
qualificativos amparados nas diferenças biológicas entre os sexos, especialmente de
qualificativos femininos (como "voluminho delicioso", "livrinho mimoso"); a produção
literária de autoria feminina é vista com condescendência, por serem mulheres; a
atividade literária das escritoras é justificada por motivos ''extraliterários": como um
"ganha-pão", como extensão das atividades no lar ou "porta de evasão" dos sentimentos
femininos ou da situação social das mulheres. O conjunto destes elementos constituem
traços característicos do processo de inserção das escritoras como um grupo à parte no
contexto literário- são as "mulheres" escritoras .
.17 Foi deste artigo que extraímos a expressão "extraliterária'', apenas com o sentido de demonstrar que a atividade literária das mulheres não aparece justificada por si mesma, mas a partir de uma série de motivos que, nos textos em análise, reafinnam a condição de "mulher" das escritoras (Saint Martin, 1990) SaJientamos que a leitura deste artigo também contribuiu para o procedimento adotado neste segundo item, quanto à classificação das fontes sobre as escritoras e sobre suas atividades literárias_
2. 1 0 CORIMBO: BREVE APRESENTAÇÃO
Como observamos no pnmeuo capítu1 o, através da chamada "imprensa
feminina" podemos perceber indícios de uma atuação literária por parte de escritoras,
no período entre meados do século XIX e início do presente século, em diversas regiões
do país. Nesta pesquisa, nos concentramos no periódico literário Carimbo como um
exemplo deste fenômeno social no Rio Grande do SuL Com base neste material,
analisamos alguns elementos relativos a atividade literária desenvolvida por escritoras,
especificamente daquelas articuladas em tomo do Carimbo, conforme as seções que
seguem.
Nesta seção, faremos uma breve apresentação do Carimbo, principalmente
com a intenção de situar o(a) leitor(a) no universo do periódico. Contemplamos,
basicamente, dados informativos sobre o mesmo, além de apresentar alguns dos temas
mais recorrentes no periódico. Também justificamos o período selecionado para a
análise e os procedimentos adotados para a sua utilização.
68
2. 1. 1 Duração, período selecionado para a análise e representatividade do
Corimbo
O Carimbo foi editado na cidade de Rio Grande, no período de 1883 até
1943, com periodicidade que variou de semanal à mensal!. O primeiro número do qual
temos conhecimento é o de junho de 1885. A partir deste exemplar, com alguns
intervalos, este periódico pode ser localizado na Biblioteca Rio-Grandense, da cidade
de Rio Grande.
Como proprietárias e redatoras, estão as escritoras Revocata Heloísa de
Mello e Julieta de Mello Monteiro. Esta última consta como redatora no cabeçalho do
periódico, a partir do exemplar de n° 96, junho de 1898; no entanto observamos a sua
colaboração desde o exemplar do v. 2, TI0 19, fevereiro de 1887, no qual é indicada
como "infatigável companheira de trabalho" e como responsável pela revisão das
poesias a serem publicadas2.
Para a realização da pesquisa, selecionamos o período de 1885 até 1925,
com alguns intervalos. Consultamos o período de !885 a 1888, 1894, 1896 a 190 I, 1904
a 1905, 1913 a 1925; somando 242 exemplares em cerca de 26 anos de publicação,
considerando-se pequenos intervalos durante este período consultado. Em anexo a esta
pesquisa, juntamos wna relação de todos os exemplares que utilizamos neste trabalho
(ver anexo 3 ). Os intervalos que não foram consultados, deve-se a não localização,
como é o caso dos dois primeiros anos do periódico (1883-1884), do período entre
1 O marco inicial da publicação do Corimbo foi indicado pelo próprio periódico que, nos exemplares de v. 1, no 13, junho de 1886 e v. 4, n° 33, julho de 1888, informa que este surgiu em 1883, como semanário Quanto ao ténnino desta publicação, mencionamos o ano de 1943, por dois motivos: primeiro, pelo necrológio de Revocata de Mello publicado no Diário Popular (Pelotas) em }0 de março de 1944, sendo que esta faleceu em fevereiro de 1944. A outra redatora do Corimho, Julieta de Mello, já havia falecido em 27/0l/1928. Um segundo motivo foi o da não localização na biblioteca Rio-Grandense, de números do Corimbo no ano de 1944, sendo que os últimos números são os relativos ao mês de novembro de 1943 No entanto, este periódico pode ter se prolongado até os dois primeiros meses de 1944. Cabe dizer que os índices bio-bibliográficos de escritores e escritoras que consultamos não apresentam uma uniformidade quanto ao período de duração deste periódico, bem como quanto à data do falecimento de Revocata de Mello.
1 Na seção seguinte apresentamos mais informações sobre suas redatoras, especificamente quanto a vinculação ao "mundo literário"
69
março de 1894 a fevereiro de 1896; do período entre 1902-1903 e de março de 1910 a
setembro de 1913. Outro motivo deve-se a nossa dificuldade material para um
deslocamento freqüente até Rio Grande para trabalhannos o período entre 1889-1893,
que está reservado somente para a consulta local e sem a possibilidade de reprodução
por estar encadernado em brochura. Quanto ao período de abril de 1905 a fevereiro de
1910, no momento inicial de consulta do material este intervalo não foi fotocopiado e,
após concluída a análise e catalogação do conteúdo dos exemplares que tínhamos em
mãos, somando 26 anos de publicação, consideramos que já contávamos com uma
amostra suficiente para esta pesquisa, motivo pelo qual não voltamos a consultar o
referido período.
Os exemplares consultados foram catalogados, de forma minuciosa, através
do banco de dados ACCSSES3, sob a forma de diferentes tabelas, de acordo com o tema
de interesse na pesquisa4. Esta catalogação constituí a base empírica para a análise que
realizamos.
Sobre a representatividade do Carimbo como fenômeno literário,
encontramos poucas informações.
' Agradecemos à colega Elizabete Leal que, no momento de realização de sua dissertação de mestrado, teve a paciência e atenção para nos ensinar a lidar com o banco de dados ACCSSES
4 Com base neste programa organizamos as seguintes tabelas: 1} de colaboradores( as): foram catalogadas todas as colaborações do periódico, com o título, autor( a), estilo (poesia, prosa literária, artigos, crítica literária, frases e moda), assuntos, resumo (somente dos artigos), dados biográficos dos( as) autores( as) e local de procedência. 2) sobre o Carimbo e suas redatoras: contendo dados infonnativos como: mudanças na periodicidade, seções, preço, locais de impressão, aniversários de suas redatoras; editoriais informativos sobre a situação do periódico, etc_ 3) de jornais: catalogação de todos os periódicos mencionados durante o período de 1885-1888, contendo o título do periódico, local de procedência, nome dos(as) proprietários(as), infonnações sobre os periódicos e assuntos ou áreas de atuação (ex: periódico político, literário, de modas, editado por escritoras, imprensa diária, etc.). 4) de nomes: com os nomes mencionados pelo periódico em seções relativas à crônica social de acontecimentos (como aniversários, mortes, casamentos, lançamentos, publicações literárias, etc.), contendo o nome da pessoa mencionada, o motivo, qualificativos utilizados para descrever a pessoa e local. Realizamos uma catalogação minuciosa, com todos os nomes mencionados entre 1885 a 1888 e, posterionnente, passamos a mencionar somente os nomes mais recorrentes. 5) de entidades e eventos: catalogação de todas as entidades e eventos mencionados, contendo o nome da entidade ou do evento, o motivo, qualificativos, assuntos e local. Foi realizado um fichamento minucioso de 1885 a 1888 e, a partir de 1894 passamos a mencionar os mais recorrentes.
70
Foi publicado durante 60 anos, com algumas interrupções ocasionadas por
trocas de tipografias ou por motivo de doença de suas red.atoras5, aspecto que merece
maior relevância se considerármos a eferneridade deste tipo de publicação, confonne
nos indica a bibliografia sobre história da imprensa e literatura (Sodré, 1966; Cesar,
1971).
O própno periódico, nos diversos editoriais comemorativos de seu
aniversário, ressalta as dificuldades enfrentadas para a sua publicação em um contexto
social no qual predominava a curta duração destes empreendimentos, como podemos
observar no trecho abaixo:
"Com o número de hoje, entra este pequeno hebdomadário no seu XIV ano de existência./ No seu gênero cremos que até hoje nenhum outro nesta cidade, chegou a atingir esse regular número de anos./ Perdoemnos a vaidade, se vaidade há no que acabamos de dizer, porém é certo que o Cor;mbo tem tido uma força de vontade pouco vulgar./ Não há, temos certeza, quem dedicando-se às letras ignore as lutas que têm a sustentar aqueles que fazem das mesmas a sua profissão, e a existência e-temera da maior parte das publicações no gênero desta, são um atestado valioso do quanto avançamos." (Corimbo, v. 13, n° 34,25 de outubro de 1896)
Do mesmo modo, no exemplar de v. 14, n° 80, outubro de 1897, se intitula
como "o mais antigo órgão de letras no Estado"; no exemplar de n° 96, outubro de 1917,
"orgulha-se ao ser apontado como o único lutador na imprensa literária deste querido e
altivo Estado gaúcho, que há logrado um tão largo periodo de vida". Aspecto também
ressaltado por alguns de seus colaboradores, contribuindo para o reconhecimento do
periódico como um empreendimento jornalístico e literário.
5 No periodo entre 1885 até 1925, verificamos que ocorreram pequenos atrasos na publicação pelos motivos já mencionados. No ano de 1895 não localizamos nenhum exemplar, sendo que em março de 1896 aparece uma nota informando que houve alguma interrupção durante aquele ano, contudo, a continuidade na numeração do periódico, marcando v. 11 em 1894 e v. 13 em 1896, nos indica que, provavelmente, circularam alguns exemplares em 1895 No exemplar de v. 22, no 221, fevereiro de 1905, nos informa que sofreu pequena interrupção na publicação, sem indicar o período e motivo desta interrupção, mas, o número anterior que localizamos é de setembro de 1904. No período entre março de 1910 a setembro de 1913, não localizamos exemplares do periódico, sendo que neste período, em dezembro de 1911, faleceu o irmão das redatoras, Romeu dos Passos Mello.
71
No entanto, ao consultarmos alguns materiais sobre história da literatura e
imprensa no Rio Grande do Sul, observamos wna ausência de referência, neste aspecto,
ao periódico Carimbo. Não raro a Revista do Partenon Literário ( 1869-1879) é
apresentada como a publicação de maior duração no Estado. Conforme Damasceno
Ferreira, "A revista mensal do Partenon Literário não foi apenas, por vários motivos,
uma das publicações de maior porte na Província, no século passado. Foi também a de
mais demorada ressonância entre nós, pois circularia durante dez anos - tempo de
existência não atingido por nenhuma outra folha no gênero, no Rio Grande do Sul"
(Ferreira, 1975, p. 63)6, sendo que o Carimbo, no século XIX, contou 16 anos de
existência.
Da mesma maneira, é também a Revista do Partenon Uterário considerada
como o fenômeno de maior significação literária do Rio Grande do Sul, seja por
aglutinar diversos( as) escritores( as), sendo considerada como wn marco tanto para o
"romantismo" como para o "regionalismo" na literatura, seJa por envolver-se com
aspectos sociais como abolição, república e instrução pública.
Com estas observações sobre a representatividade literária do Conmbo,
procuramos alertar para o fato de que a historicização do fenômeno literário, da mesma
fonna que a avaliação crítica da atividade literária das escritoras, envolve as visões
dos(as) autores(as) sobre as mulheres, o que demonstramos no capítulo anterior. Ou
seja, talvez a ausência de referência a este periódico possa ser explicada em função do
valor conferido aos empreendimentos literários femininos.
Para exemplificar, citamos um trecho extraído do artigo Filhas do liceu e da
academia, de Maria Luiza de Carvalho Armando. Neste artigo a autora procede a uma
análise de um poema de Julieta de Mello Monteiro, decompondo e decifrando o seu
conteúdo e, por fim, concluindo que:
6 Ver também Guilhennino Cesar (1971), que menciona o Carimbo ao falar da escritora Ju!ieta de Mello Monteiro, referindo-se ao periódico como o local de publicação da sua produção poética, além de seus livros (p. 294) Na página 182, a Revista do Partenon Literário é mencionada como a de maior duração e prestigio literário neste Estado_
72
"É possível que a obra de Penserosa [Julieta de Mello Monteiro] seja mais importante para a história da cultura sul-riograndense do que para a literatura propriamente dita, se se considerar como tal somente o conjunto das criações esteticamente mais válidas. Porém, por um lado, se esse critério for aplicado de fonna muito rígida, a História da Literatura ter-se-á que restringir ao conjunto das grand' oeuvres (no conceito Iukàcswgoldmanniano) ou (no vulgar) das obras primas. Por outro lado, são com freqüência aleatórios, relativamente ao literário, os motivos pelos quais as obras literárias se projetam e destacam (e a contemporaneidade é pródiga de exemplos, quanto a isso). Por outro lado ainda, sendo talvez mais importante para a história da cultura do Rio Grande do Sul do que para sua literatura, a obra de Julieta de Mello Monteiro não constituiria nenhuma exceção desonrosa, pois é esse o caso de boa parte das obras que, com mais ou menos honra, são incluídas na história da literatura sul-riograndense." (Armando, 1991, p. 96)
Este artigo nos pareceu bastante ilustrativo quanto ao aspecto que
procuramos ressaltar, mais especificamente, no caso do Corimho, quanto a sua
representatividade literária. Tema ainda a ser estudado, pois, até o momento, não
loca1izamos análises que integrem o periódico à história literária do período, lacuna
que, no momento atual, talvez possa ser superada pela "crítica feminista" no âmbito da
literatura.
No entanto, para o desenvolvimento desta pesquisa, este é wn tema
secundário. Não nos preocupamos com a representatividade sociaJ ou literária do
Carimbo, mas apenas o consideramos como wn exemplo do fenômeno social da edição
de periódicos por escritoras que, enquanto tal, pode fornecer alguns elementos sobre
sua atividade literária.
2. 1. 2 Formato, preço, locais de circulação e manutenção
O formato e número de páginas do Carimbo variou de acordo com a sua
periodicidade. De 1885 até 1888, com periodicidade mensal, foi publicado sob a fonna
de caderno em tamanho meio oficio (20cm x 24cm), com 16 páginas. De 1894 até
1897, com periodicidade semanal, foi publicado em tamanho oficio (30cm x 20cm),
73
contendo 4 páginas, sendo a última de anúncios comerciais. A partir de 1898 sua
periodicidade foi quinzenal, impresso sob a mesma forma, contendo de 4 à 5 páginas, a
última ou sua metade reservada para anúncios comerciais; com exceção dos exemplares
de 1905, que apareceram novamente em tamanho meio oficio, com 8 páginas e sem
anúnciOs comercta1s.
O preço das assinaturas foi informado em alguns exemplares a partir do ano
de 1896. Neste ano o preço foi anunciado em 1$000 mensais e, para fora da cidade, sua
assinatura é realizada trimestralmente, com pagamento adiantado, sendo que os
assinantes têm direito à anúncios comerciais. A partir de 1913: 1$000 mensal, 1$500
mensal com direito à anúncio comercial, 12$000 anual e, para fora da cidade, 3$000
trimestral, com o pagamento adiantado. Estes valores e modalidades de assinaturas,
bem como o formato e número de páginas são comparáveis a outras publicações
literárias da região, como por exemplo, com o periódico semanal A Ventarola, de
Pelotas e, para compararmos com outro veículo considerado como "imprensa
feminina", verificamos que é oferecido pelo mesmo valor anual que o periódico A
Mensageira (1897-1900), com periodicidade quinzenal, publicado em São Paulo pela
escritora Presciliana Duarte de Almeida.
Durante o período consultado verificamos também que sua impressão foi
realizada em diferentes gtáficas de Rio Grande e Pelotas. Inicia a ser impresso na
tipografia da Livraria Americana, de Pelotas, para em 1886 passar para a tipografia do
Diário Comercial, na cidade de Rio Grande. Com a mudança deste jornal para Pelotas,
o Carimbo passou a ser impresso na tipografia do Diário do Rio Grande. Em 1898
anuncia que foi impresso na tipografia Trocadero, de Rio Grande e, posteriormente, por
motivo de incêndio desta mesma gráfica, passou a ser impresso novamente na cidade de
Pelotas. No ano de 1913 anuncia que está sendo impresso na oficina gráfica do Diário
do Rio Grande; em 1916 na Tipografia Mignon, de Rio Grande; em 1920 na tipografia
do Echo do Sul, de Pelotas e, em 1923, na Livraria Americana, em Rio Grande. Estas
foram algumas das tipografias que conseguimos identificar em notas publicadas no
74
Corimho. Estas freqüentes mudanças das gráficas demonstram o esforço de suas
redatoras para a publicação do Carimbo, como podemos visualizar neste trecho:
11lmprimindo-se nas acreditadas oficinas do Trocadero que a 7 de agosto do corrente ano foram vítimas do pavoroso e lamentável incêndio que destruiu essa bem montada casa, não nos foi possível de pronto, embora empregássemos imediatamente todos os esforços, obter a publicação da antiga folha literária./ Depois de dois meses de luta, conhecendo a impossibilidade de alcançar nesta cidade uma empresa tipográfica que pudesse encarregar-se do nosso jornal, resolvemos, não sem grandes sacrificios, fazê-lo imprimir na vizinha cidade de Pelotas./ Se até então necessitávamos do favor público, doravante a necessidade cresce, visto que aumentaram consideravelmente as nossas despesas./ A mudança do Carimbo para outra empresa, trouxe-nos, além de vários transtornos, o de não nos ser agora possível revisar o jornal, pedindo por esse motivo aos nossos prezados e distintos colaboradores, que nos enviem sempre os seus escritos em letra bem legível./ Finalizando esta explicação necessária, restanos assegurar aos nossos bons favorecedores, que os seus interesses relativos ao Carimbo, nada sofrerão, pois o tempo de interrupção do mesmo será devidamente descontado." (Carimbo, v. 15, no 100, 1° de outubro de 1898)
Por problemas como o acima exposto, em alguns exemplares, foram
publicadas pequenas notas aos assinantes com pagamento atrasado: "aos nossos
assinantes de fora: rogamos àqueles em atraso com esta empresa, a bondade de
satisfazerem suas assinaturas, atendendo a que, o Conmbo, embora pequeno, tem
compromissos inadiáveis" (Carimbo, n° 129,30 de abril de 1919) [grifo nosso].
Chama-nos a atenção o modo como o periódico se denomina - "pequena
empresa'\ especialmente ao tratar dos aspectos organizativos para tomar possível a sua
publicação, como quando se refere ao compromisso financeiro com as gráficas de
impressão, ao compromisso com seus assinantes que, ao pagarem sua assinatura,
aguardavam a publicação, à permuta com outros órgãos da imprensa, assim como os
recursos utilizadas por suas redatoras para mantê-lo em circulação.
Reforçando o caráter de "empresa" do periódico, evidenciamos o trabalho
de "agentes comerciais", que, ao que parece, cuidavam de suas assinaturas em cidades
deste Estado, como Bagé, Pelotas e Barra. Em Pelotas, foi "agente" o Sr. José Dias
75
Moreira (Carimbo, v. 3, 0° 28, novembro de 1887); em Bagé, o Sr. Abího de Freitas
(Carimbo, n' 11, 31 de março de 1914) e, na Barra (do Rio Grande), o Sr. Manoel
Severo Lopes, "estimável negociante naquela localidade" (Corimbv, n° 3, 1 o de
novembro de 1913). Destes, o único que, além de "agente" também colaborou
literariamente, foi o Sr. Abílio de Freitas. Ou seja, os dois outros somente atuavam
enquanto "agentes comerciais", sendo que o periódico não nos informa se esta atividade
era, de alguma forma, recompensada financeiramente. De qualquer fonna, este dado
nos indica que, para o funcionamento do periódico, suas redatoras contavam com o
apoio de outras pessoas, no caso, dedicadas a uma espécie de publicidade do periódico
em outras localidades7.
Embora não conste o número de tiragens dos exemplares, verificamos que o
mesmo contou com urna área larga de circulação, tanto em regiões deste Estado como
em outras localidades do país. Deste Estado, são mencionadas as cidades de Rio
Grande, Pelotas, Bagé, Porto Alegre, Rio Pardo, Cachoeira, Caxias, Encruzilhada,
Livramento, São Lourenço, Santa Cruz, Santa Maria, Tapes e Arroio Grande. São
mencionados as seguintes regiões, respectivamente à quantidade de publicações
enviadas ao Corimbo: Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Santa Catarina, Curitiba, Minas
Gerais, Cuiabá, Bahia, Belém do Pará, Goiás, Maranhão e Espírito Santo.
Outra forma de divulgação e circulação do Corimbo, além das assinaturas,
foi a pennuta realizada entre órgãos de imprensa, bem corno com associações culturais
e literárias. Entre os anos de 1885 a 1888, catalogamos todos os periódicos
mencionados: entre estes, destacam-se os periódicos literários, jornais diários,
abolicionistas, políticos e da "imprensa feminina" de diversas regiões, contemplando
tanto o interior deste Estado como outras regiões do Brasil8. Através do rodapé
7 Quanto a Barra, não conseguimos identificar de qual região se trata; em outra ocasião vimos a referência à cidade de Barra do Rio Grande, provavelmente a mesma citada acima.
8 Como órgãos literários são mencionados, entre outros: A Batalha (Porto Alegre), Revista do Cluh Acadêmico (Porto Alegre), O Vagaiume (Porto Alegre), O Contemporâneo (Porto Alegre), O Atle10 (Porto Alegre), O Colibri (Porto Alegre), A Luta (Porto Alegre), Crepúsculo (Bagé e Dom Pedrito), Progresso (Jaguarão), Zig Zag (São Gabriel), A Aurora (São Paulo), Democracia (São Paulo), Revista Luerária (São Paulo), O Piratini (Santos - SP), A lnstroção Pública (Rio de Janeiro), O Século (Rio de Janeiro), A Semana (Rio de Janeiro), Barão de Macahuhas (Bahia), O Clarim (Santa Catarina), A Palavra
76
podemos observar quão abrangente foi a permuta entre órgãos de imprensa, que, além
da troca de periódicos também possibilitou as colaborações literárias e de artigos entre
os mesmos.
Quanto a sua manutenção financeira, as informações que conseguimos
reunir apontam basicamente para as assinaturas, anúncios comerciais e contribuições de
entidades, especificamente de lojas maçônicas locais.
Não conseguimos verificar o número de assinantes, que não é fornecido
pelo periódico. Mas, nos exemplares de fim de ano, costuma agradecer o auxílio de seus
"favorecedores" (assinantes) bem como de colaboradores(as), que, ao que parece,
enviavam colaborações voluntárias, ao contrário de jornais da "grande imprensa" que,
confonne indica Nelson Werneck Sodré, retribuíam financeiramente esta atividade.
Os anúncios comerciais apareceram somente em 1894, sendo que, como já
mencionamos, os anúncios eram gratuitos para assinantes e, em 1913 ao valor da
assinatura mensal foi acrescido $500 para os anunciantes. Por outro lado, o espaço
(Santa Catarina), Crepúsculo (Santa Catarina) e Vida Literária (Curitiba). Entre os abolicionistas estão: Aurora da Serra (Cruz A1ta), A Nódoa (Porto Alegre), A Onda (Pelotas), Patriota (Rio Pardo), Folha Paulistana (São Paulo), A Redenção (São Paulo), Gazeta da Tarde (Bahia) e Lmcoln (Maceió). Entre os que podem ser considerados como "imprensa feminina", estão: Chentbim (Rio de Janeiro), O Belo Sexo (Rio de Janeiro), A Estação (Rio de Janeiro) e, depois de 1888 são mencionados ainda: Orvalho (Livramento), Escrínio (Bagé), Renascença (São Paulo), Revista Feminina (São Paulo), A Mensageira (São Paulo), A Violeta (Cuiabá), Nosso Jornal (Rio de Janeiro), Tribuna Feminina (Rio de Janeiro) e Semeadora (Lisboa). Como humorísticos e recreativos: O Cabrion (Porto Alegre), Ventara/a (Pelotas), Recreador Mineiro (Minas Gerais) e O Incentivo (Recife). Da imprensa diãri!!. identificados peJo Carimbo como "noticiosos, críticos e literários", estão O Comercial (Pelotas e Cruz Alta), Didrio Comercial (Bagé), Diário de Bagé (Bagé), Diário de Pelotas (PeJotas), Diário de Rio Grande (Rio Grande), A Pátria (Pelotas), Correio Mercantil (Pelotas), A Encruzilhada (Encruzilhada), Gazeta do Norte (Santa Maria), O imparcial (Dom Pedrito ), Mercantil (Porto Alegre), Opinião Pública (São Gabriel), Correio de Santos (Santos- São Paulo), Gazeta da Tarde (Bahia), Gazeta de Campinaç (Campinas - SP), Gazeta de Rezende (Rio de Janeiro), Gazeta de Taubaté (São Pau1o), Gazetinha (Juiz de Fora- MG), Como órgãos liberais: Resistência (São Gabriel), O Campeão (Santa Catarina) e Escudo (Lages- SC); como federalista: O Federalista (Vitória- ES); como republicanos: Movimento (São Bmja). Revista Federal (Porto Alegre), A Sentinela (São Paulo), como conservadores: A Situação (Quaraí), A ProvÍilcia de Minas (Ouro PretoMG). Ainda são mencionados periódicos como órgãos "do povo"; órgãos "de classe", como tipógrafos, e folhas do club caixeira! de diversas localidades; além dos periódicos Correio da Europa (Lisboa) e La Pátria ilustrada (Buenos Aires). Esclarecemos que para a classificação dos periódicos seguimos as infonnações fornecidas pelo Carimbo, devendo-se levar em comilderação que, no referido periodo, não era rigida a divisão e especialização na imprensa
77
destinado aos anúncios não é grande, variando de urna à meia página, com cerca de dez
anúncios, o que equivale aproximadamente ao valor de 5 assinaturas.
Comparadas aos anúncios, as doações de entidades maçônicas de Rio
Grande parecem mais significativas. A primeira referência a um auxílio da maçonaria
aparece em 1917, agradecendo a loja União Constante pelo recebimento de uma
"atenciosa e delicadíssima prancha ( .. .), acompanhada de um rasgo de generosidade,
como auxílio a nossa modesta empresa, que não pode deixar de lutar, agora, que todo o
trabalho tipográfico encareceu visivelmente" (Carimbo, n° 93, 30 de setembro de 1917).
E, no exemplar de novembro do mesmo ano agradece o "valioso número de assinantes"
que a União Comotante e Estrela do Sul angariaram para o periódico. Em janeiro de
1918 recebe lista de assinantes da loja Henrrique Valadares e, no mês anterior, da loja
Fliantropw. Em outubro de 1923 recebe 100$000 da Filantropia e 50$000 da União
Constante. Em janeiro de 1925 recebe uma lista com 113 assinantes da loja Acácia Rio~
Grandense. Como se pode observar, estas colaborações iniciaram tardiamente, quando
o periódico já contava com mais de 20 anos de existência, no entanto, a contar de 1917
o auxílio da maçonaria é expressivo e, se consideramos as doações em dinheiro,
equivalendo cerca de 12 assinaturas anuais, bem como a lista com mais de cem
assinantes, vemos que são dados que provavelmente saltaram aos olhos do autor que
comenta: "A morte de Julieta, em 1928, abalou profundamente dona Revocata. ( ... )Por
outro lado, velha e sem recursos, Revocata passou a depender do jornal para a sua
sobrevivência. ( ... )mas ela é socorrida pela maçonaria, à qual sempre esteve ligada. E
na loja maçônica ela foi velada, em fevereiro de 1945 [sic.]" (Soares, 1980, p. 149).
Esta observação de Pedro Maia Soares é bastante pertinente, ainda mais se
considerarmos que antes da morte de Julieta as irmãs Mello atuavam no magistério
particular, como também, confonne nos indica Damasceno Vieira, contavam com o
auxílio do irmão Romeu dos Passos e Mello. Segundo Damasceno Vieira, as redatoras
do Carimbo "Não vivem nem poderiam viver dos exíguos proventos que lhe
proporctona a pequena folha literária; sentem-se amparadas de um irmão
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extremosíssimo, Romeu dos Passos e Mello( ... ) e há longos anos exercem o magistério
particular" (A Mensageira, 1987, v. 2, p. 190).
O irmão das redatoras, Romeu dos Passos Mello, foi soldado federalista,
morto em 13 de dezembro de 1911. O Carimbo não nos fornece informações sobre a
ajuda financeira do irmão; no entanto, o mesmo é bastante mencionado, principalmente
após sua morte. Observamos que, através de Romeu, estabeleceu-se uma maior relação
entre o Carimbo e órgãos federalistas, mas que não apontam para contribuições
financeiras. Contudo, possivelmente, pode ter alargado o universo de assinantes do
periódico uma vez que este, ao mesmo passo que se solidariza com órgãos federalistas,
não deixa de se relacionar com órgãos de facções adversárias. Como, novamente, bem
observa Soares:
"Não existe, no entanto, unidade ideológica, pois o jornal transcrevia artigos de diversas tendências, do liberalismo ao socialismo. As editoras, especialmente Revocata, tinham partido definido na política da província, apoiando os federalistas e, mais tarde, os libertadores. Mas manifestam simpatias pelos contestadores de todo o tipo, publicando mesmo uma 'galeria dos insubmissos' ... " (Soares, 1980, p. 146-147)9.
Quanto à atividade no magistério particular, encontramos referências de que
iniciaram esta atividade em janeiro de 1890 em um pequeno anúncio no periódico, onde
informam que recebem pensionistas e externas, sendo a mensalidade das primeiras de
25$000 e, das segundas, de 4$000 (Carimbo, v. 11, n' 154, 12 de fevereiro de 1894).
Não conseguimos verificar se se trata de aula mista ou somente para meninas. Por estar
no feminino, acreditamos que, ao menos inicialmente, era para meninas, mas
certamente, com o tempo, aceitaram também meninos visto que sabemos pelo menos de
9 Assim, em 1901, encontramos um artigo em defesa do socialismo "Il socialismo: e la sua marcha attraverso i secoli", publicado em italiano, pelo rio-grandino Emílio Bruschi (Corimho, v. 18. no !57, 15 de fevereiro de 1901 até n° 159, 15 de março de 1901). Também consta um artigo de tendência anarquista, de José Oiticica, do Rio de Janeiro, sobre o feminismo no Brasil; e, neste mesmo exemplar informa o recebimento do Boletim n° 2 da Aliança Nacional Anarquista (RT), e o impresso "O que é o anarquismo?" (Corimbo, no 106, 15 de abril de 1918 e seguinte).
79
um aluno destas professorasiO. Também não sabemos se tal atividade pennaneceu após
a morte de uma das professoras, Julieta de Mello Monteiro, em 1928.
2. 1. 3 Seções e assuntos recorrentes
O Carimbo trata-se de uma 11publicação consagrada às letras". Assim, o
principal conteúdo do periódico é literário: poesias, crônicas, contos publicados em
séries, artigos sobre a imprensa e literatura e artigos de crítica literária. Esta última
compreende comentários de novas publicações, especificamente de autores sul-
riograndenses e podem aparecer em seções específicas, como "Bibliografia" e ''Notas
literárias", junto à seção "Expediente", ou como artigos com o título da obra a ser
comentada ou o nome do(a) autor(a). São, em sua maioria, da responsabilidade da
redação do periódico ou assinadas por suas redatoras, especialmente Juheta de Mello
Monteiro! I.
Além de publicações literárias, observamos wna divisão do periódico em
algumas seções que, no decorrer do tempo, mudaram de nome, foram suprimidas ou
não foram constantes em todos os exemplares. De uma fonna geral, identificamos
alguns conteúdos que foram freqüentes no periódico: a) infonnações sobre os jornais
recebidos e com os quais o Corimbo realizava pennutaiz; b) divulgação de livros
10 Trata-se do aluno Carlos Minuto que, em 1925, publica uma poesia no periódico (Carimbo, n° 277, 31 de outubro de 1925)_ A informação de que Carlos Minuto foi aluno de Revocata e Julieta foi-nos fornecida pelo colega Álvaro Barreto e, posteriormente confirmada por índices de escritores do Estado. Carlos Alberto Minuto (1899~ 1968) foi comerciário, poeta e teatrólogo; com livros publicados e peças de teatro apresentadas em Rio Grande, autor do discurso Revocata Heloisa de Mello e a Maçonaria, publicado pela livraria do Globo, em 1951; texto que não conseguimos localizar (Villas-Bôas, 1991 ).
ll Julieta de Mello Monteiro, a despeito de realizar comentários criticas, se isenta desta responsabilidade, argumentando não ter as aptidões necessárias para a crítica, a ex:emplo do trecho que segue, entre outros: "falta-nos inteiramente os requisitos necessários ao critico, motivo porque não podemos analisar um livro, seja ele embora, muitas vezes, uma estréia" (Carimbo, v. 15, no 101, 15 de outubro de 1898)_ No entanto, encontramos referências de outras publicações suas na área da crítica literária, como é o caso da critica sobre o livro "Poemetos e quadros" de Damasceno Vieira, publicada na Tribuna de San10s, São Paulo, edição de l/03/1897 (Neves, !987, p. 144).
12 Estas infonnações foram mais assíduas nos primeiros anos que consultamos (1885-1888). Posteriormente, embora continuem a aparecer, são indicações menos extensas e tratam de periódicos que possuem uma maior relação com as redatoras do Carimbo, como ê o caso de jornais federalistas, de
80
recebidos, contendo alguns comentários críticos sobre as obras 13; c) divulgação de
acontecimentos sociais, principalmente da cidade de Rio Grande, como bailes, teatro,
artes plásticas, música e sobre casamentos, aniversários e mortes, com ênfase para
os( as) colaboradores( as) do periódico e personalidades ligadas às "letras" (imprensa e
literatura) como também para políticos, administradores locais e personalidades com
destaque social (médicos, professoras(es), membros de entidades locais, etc.) e d)
informações sobre escritores(as) e personalidades ligadas às artes {pintura, música),
como nascimento, morte e frases homenageando-os. Estes conteúdos apareceram sob o
título de seções que variaram no nome, como, "Expediente", "Crônica mensal" (ou "da
semana"), "Durante a quinzena", "Notas", "Resenha de notas", "Aqui e além", "Ontem,
hoje e amanhã" e "Galeria artística".
Outra seção foi a de 11modas" que, embora publicada a partir de junhO de
1886 até 1925 (quando cessamos a consulta), não foi constante, deixando de aparecer
em muitos exemplares e, por vezes, com intervalos longos (de um ano ou mais). São
artigos curtos, descrevendo alguns modelos de roupas e artefatos do vestuário ou
abordando o tema da moda, sendo que o artigo que abre esta seção, "A mulher bela",
assinado por Americana, trata-se de uma crítica sobre a futilidade em tomo da
vestimenta femininal4. Esta seção normalmente foi assinada por rio-grandinas e, em
periódicos literários de diversas regiões do país, de periódicos editados por escritoras ou dedicados a um público leitor feminino, de periódicos dirigidos por colaboradores(as) do Corimho ou que realizavam transcrições do mesmo. Além de acusar o recebimento destas publicações, fornece infonnações sobre mudanças ocorridas, como troca de redatores( as), melhoramento gráfico, interrupções de publicações, etc.
l3 Inicialmente estas informações aparecem junto a seção "Expediente", publicada de 1885 a 1888 e, posteriormente, nas seções "Durante a quinzena" (1898-1904) e "Resenha de notas" (1913-1925), ou como notas esparsas no periódico. Como já mencionamos, sobre algumas destas obras também foram realizados comentários críticos e indicação de sua leitura que, por vezes, foi incentivada através de pequenos excertos das obras publicadas no Corimbo.
14 "A mulher estimável, digna de todo o acatamento, a mulher bela em toda a acepção da palavra, é aquela que no centro de seu lar, pela atividade e inteligência, espalha abundância, promove o bem estar, a paz, a ventura e pelo seu critério, sisudez e ilustração mantém a boa ordem, C{;Onomia, trabalho e suave descanso, à sombra de estremecida amizade e do respeito e veneração!/ Oh essa é a mulher bela, mil vezes bela! É o anjo do lar, luz que se não apaga, perfume que delicia, hannonia que eterna ecôa!. . ./ E sabeis vós qual é a senda que conduz ao lugar de honra de que tà.lo? É pela observância de exemplar virtude seguindo os passos de uma boa mãe; é no cumprimento de nossos deveres, na retidão e imparcialidade de nossos juízos; é no estudo profundo dos grandes mestres, buscando ilustrar o nosso espírito./ A mulher tola, vaidosa, estúpida, indolente e má, que só pensa nos enfeites, nos passeios e em fiíteis e perniciosos
81
alguns exemplares, as matérias são transcrições de outras revistas mais especializadas
neste assunto, como parece ser o caso da revista Cherubim e Faceira, do Rio de
JaneiroJs.
O conteúdo do periódico também abrange informações sobre
personalidades políticas ou, como são denominadas pelo periódico, os "heróis pátrios".
De 1920 a 1921, foi publicada a seção "Galeria dos insubmissos", apresentando
personalidades que se destacaram por suas lutas sociais e políticas, principalmente
neste Estadoi6. Além desta seção específica, do início ao final do período que
consultamos, foram freqüentes artigos, em sua maioria de responsabilidade da redação,
sobre personalidades políticas, com ênfase para federalistas, vinculados ao Clube
Gaspar Martins ou ao Partido Federalista, também de defensores da abolição da
escravatura, atuantes no movimento farroupilha e algwnas matérias cultuando a família
imperiaL Neste aspecto, sobre a relação das redatoras com a política, especificamente
quanto aos grupos mencionados acima, o periódico fornece informações que poderiam
ser analisadas em um estudo à parte. No caso do presente trabalho, não nos detivemos
em tal relação, muito embora esta vinculação a grupos políticos também possa ter
contribuído para o reconhecimento social do periódico e de suas redatoras, como
mulheres que, além de literatas, tiveram wna inserção política. Isto nos indicam
algumas biografias das redatoras, como é o caso de Décio V. das Neves, que nos
informa que, como homenagem à Revocata Heloísa de Mello, entre os retratos que
passatempos, nunca merecerá o nome de bela, embora seja ela uma vênus em fonnosura e elegância" (Corimbo, v. 1, n. 13, junho de 1886). Americana foi o pseudônimo utilizado pela escritora Revocata dos Passos Figueirôa e Mello, mãe das redatoras do Corimbo, falecida em 14 de setembro de 1887, de forma que é provável que o trecho acima seja de sua autoria.
15 Tais artigos, podem ser uma fonte de pesquisa não somente sobre a moda do período, mas sobre as cores, decotes e trajes indicados para as mulheres; sobre a diferença no vestir entre solteiras, casadas ou viúvas; sobre trajes e acessórios masculinos; como sobre a função do vestuário, segundo a visão de escritoras, ou, pelo menos, segundo o público leitor que abrange este periódico em específico. Estas foram algumas questões sugeridas na leitura desta seção, que no entanto, não estão entre os temas que privilegiamos para a análise.
16 São apresentados nesta seção: Silva Jardim, referenciado como "soldado da república"; Romário Fernandes, como "revolucionário de 35" e Guerreiro Victória, Frediano Trebbi, Arnaldo Mello, Rafael Cabeda e Maciel Júnior, como federalistas.
82
figuram no Clube Gaspar Martins, está o desta escritora17 e, igualmente, o necrológio
publicado no Diário Popular, situando a escritora como admiradora de D. Pedro TI, cujo
retrato estava fixado no escritório do periódico18.
Além da literatura e dos conteúdos que apresentamos, também constam no
periódico artigos sobre temas sociais, sendo os mais recorrentes: a situação da mulher
(principalmente quanto aos direitos sociais no campo da educação, do exercício
profissional e participação na política), a abolição da escravatura, a situação do ensino e
da alfabetização no país e sobre movimentos filantrópicosJ9.
l7 Segundo este autor, "Além de sua atuação [de Revo~ata] no jornalismo, também consagrou~se com garbo na política, figurando seu retrato na Galeria do Clube Gaspar Martins daquela cidade [de Rio Grande], onde sua palavra de fluente oradora tem-se feito ouvir várias vezes" (Neves, 1987, P- 169).
18 Necrológio publicado no Diário Popular, Pelotas, 1 o de março de 1944, por José Egídio Farinha. "Foi com profundo pesar que recebi a dolorosa noticia do falecimento da eminente e esmerada escritora riograndina Revocata Heloísa de Mello./ A morte desses espíritos nos dá, nos primeiros momentos, a impressão depressiva do aniquilamento e do nada; e o que aviva a idéia é o sentimento de imortalidade de tais criaturas, é a recordação da luta que tiveram para amaciar os caminhos severos das competições, das doutrinações, dos apostolados negados em prol de amados ideais./ E Revocata de Mello é indiscutivelmente uma imortal pela cultura, pela literatura, pela política, pela sociedade e pela pátria_ Dedicou-se bem moça ainda à luta incessante e obstinada por grandes ideais da Pátril [sic.] brasilica, lutou ardentemente com a juventude alcandorada do seu espírito de eleição peJa sua amada convicção politica que era o Regime Monárquico, venerava D. Pedro I1 como visão de luz e de exemplo na vida e na história da nossa terra./ Saiu dos aconchegas domésticos e se atirou de alma e coração à praça pública, aos "meetings" em prol da Abolição; fazia discursos inflamados e os cobrava numa expressão de elegância popular e cívica para resgatar os nossos innãos negros. Falava nas Igrejas e convidava os Senhores de escravos, a humanizar os seus métodos de escravismo; pregava a solidariedade cristã e mostrava com a elevação puríssima de sua alma a mancha negreganda da escravidão./ Tive a sublime ventura de ser um dos acarinhados pela sua estima, recebendo dela provas eloquentes de estímulo e de incitamento para escrever, com a visão de um apostolado de doutrinação e de reerguimento coletivo./ Quem algum dia viu Revocata de Mello, se convencerá de que existe uma juventude de espírito, porque não há criaturas moças nem criaturas velhas, o que há sim moços que querem envelhecer e velhos que forcejam para serem sempre moços, e Revocata de Mello era uma criatura jovem pelo espírito e pelo coração./ Estilista brilhante, as suas páginas literárias eram lavradas a ouro e recamadas de pedras preciosas e, todas as expressões de beleza faziam parte do seu conteúdo./ As letras rioMgrandenses perderam um grande valor e, a sociedade rio-grandina uma alma do bem e para o bem. Revocata de Mello, representa os laços profundos e imaculados que ligam o passado e o presente da nossa terra, simbolizando uma crença na fé e de abnegação na gente brasileira./ Dessas colunas dedicadas á Revocata de Mello, eu me solidarizo com o luto da sociedade rio-grandina, com os intelectuais rio-grandinos e com o governo municipal da cidade de Rio Grande, que prestaram com certeza à Revocata de Mello o tributo de saudade que ela tanto merecia." Confonne exemplar do Corimbo n° 279, 30 de novembro de 1925, entre os retratos fixados no escritório deste periódico, estava o de D. Pedro ll.
! 9 Em outubro de 1920, chamou-nos a atenção a publicação de um artigo em homenagem ao aniversário do Corimbo, no qual enfatiza-se seu compromisso com temas sociais, aspecto até então não ressaltado nestes editoriais comemorativos, pelo menos, da forma como aparece, destacando em primeiro plano a atividade jornalística: "O nosso dia: A vinte e um do corrente, vence o Corimbo uma nova etapa neste acidentado terreno da vida jornalística./ Não diremos da vida literária, porque o nosso pequeno quinzenàrio, embora sem foros a lugar paralelo aqueles que fonnam na Imprensa, como fatores de interesses gerais, tem pugnado, na medida de suas invaliosas forças, em prol de muitas e alevantadas causas que afetam a querida Pàtria rio-grandense, e, até mesmo, o grandioso Brasil./ Não tem o Corimbo palmilhado, como outros de seus colegas em idênticas dimensões, apenas esta esplanada, - das rosas da
83
Quanto aos direitos sociais e políticos das mulheres, deixamos de fazer
maiores considerações neste momento já que na última seção deste trabalho reservamos
um item específico para trabalhar este tema.
Quanto aos temas da abolição da escravatura, educação e filantropia,
apresentam alguns pontos comuns, conforme demonstraremos ~ seguir. Estes temas são
tratados com atenção no Carimbo e, além de publicações defendendo a necessidade
destes empreendimentos, as redatoras do Carimbo também envolveram-se em uma
atuação prática neste sentido.
Um primeiro aspecto a ser destacado em relação a estas reivindicações, diz
respeito ao modo como a imprensa é definida no Carimbo. Esta é considerada como o
principal veículo da "civilização", segundo Revocata de Mello o jornal tem a 11Sublime
missão de advogado do povo", pois é através da imprensa que os(as) escritores(as)
instruem a humanidade com base em princípios racionais. A partir desta perspectiva, a
imprensa é considerada como um órgão privilegiado para a defesa de algumas
reivindicações sociais que vêm a trabalhar para o "progresso" da humanidade. Neste
sentido, o Corimbo divulga e defende algumas reivindicações sociais (abolição,
educação, filantropia, assim como pelos direitos das mulheres), considerando estar
assim correspondendo ao importante papel a ser desempenhado pela imprensa2D.
Poesia, das seduções da Prosa rendilhada./ Não, o nosso modesto quinzenário, deixa sempre transparecer a par da Rima que lhe doura as colunas. do Pensamento literário, que lhe colora as páginas, as fagulhas ardentes do Patriotismo, a justa solidariedade às classes desprotegidas, o combate dignificador em honra da Mulher, o culto às grandes instituições do Bem./ A sua bandeira é multicor./ A sua bíblia é a do Dever_/ O seu rumo, o dos grandes Ideais./ Preza ao céu que esta gleba amada, o solo gaúcho, o acolha sempre com os carinhos de até então./ Flores e paraísos aos que o tem auxiliado nesta peregrinação de renhido labutar./ Saudações aos colegas que o honram, com a sua preciosa permuta" (Corimbo, no 162, 15 de outubro de 1920)
20 Na presente seção estamos apenas pontuando o modo como algumas reivindicações sociais aparecem no Corimbo, sendo o objeto de interesse principal do trabalho a relação entre escritoras e literatura_ Por este motivo, optamos por não fazer muitas transcrições do periódico mas consideramos n~essário fazer menção as publicações que vão diretamente ao encontro das observações realizadas, deste modo, utilizaremos os rodapés para mencionarmos estes materiais. A visão de "imprensa" conforme apresentamos no texto foi observada nos nas seguintes publicações em especial: A imprensa, reprodução de uma matéria do jornal Comercial, de Cruz Alta (Corimbo, v_ 2, n° 14, julho de 1886); A imprensa, artigo de responsabilidade da redação do periódico (Corimbo, v. 2, no 16, outubro de 1886); A imprensa, de Revocata de Mello (Corimbo, v. 13, no 7, 19 de abril de 1896); À imprensa, poesia de Anna Aurora do Amaral Lisboa (Corimbo, v. 21, n° 235, 25 de maio de 1904). Além da publicação de artigos e desta
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Outra questão que de um modo bastante geral envolve estes temas sociais
debatidos no Carimbo, refere-se a sua defesa como um domínio de ação feminino. Dito
de outro modo, nas publicações do Carimbo a defesa da abolição da escravatura, do
ensino e de práticas filantrópicas são referenciadas como assuntos "dignos11 de serem
tratados por mulheres. Podemos observar esta argumentação neste trecho de Revocata
de Mello, sobre o abolicionismo: "É incontestável que à mulher cumpre empenhar-se
pela liberdade daquele a quem a escravidão num cruciante poder, martiriza física e
moralmente./ É tempo de tolher o infamante curso de um poder bárbaro, onde existe o
direito do homem sobre o homem, e o apelo em prol da liberdade é digno de ser
proferido e aceito pelo sexo frágil na matéria, porém, grande e corajoso no espírito! 11
(Carimbo, v. 3, n° 25 e 26, agosto e setembro de 1887). Isto também aparece em relação
às atividades filantrópicas, conforme Anna Cesar, presidente da Legião da Mulher
Brasileira (Rio de Janeiro), "Na Terra, coube à mulher a maior partilha nas práticas da
caridade; satura, enebria-se, identifica-se com essa prodigiosa força que a envolve em
mística auréola até o sacrificio da mocidade, da beleza e de todos os gozos do mundo,
vivendo genuflexa nesse altar para todo sempre erigido em seu coração" (Carimbo, n°
161, 30 de setembro de 1920). A luta contra o analfabetismo está muito presente do
Carimbo e, embora não apareça enquanto um domínio exclusivo de ação feminina,
semelhante ao abolicionismo, é mencionado como uma "campanha!! a ser levada por
mulheres, principalmente quando estas atuam no magistério.
Através destes assuntos mais recorrentes no periódico também podemos
perceber alguns elos de ligação das redatoras do Carimbo com a maçonaria Conforme
vimos anteriormente, as lojas maçônicas da cidade de Rio Grande contribuíram
financeiramente com este periódico, principalmente a contar de 1917. De outro lado, a
poesia, constam diversas frases que revelam esta posição sobre a imprensa, entre estas, a título de ilustração, mencionamos uma: "Finalmente, a instrução nos torna um sábio; a imprensa um Deus; o sábio pensa; o Deus ordena; pensar é ter a essência do belo, do grande e do sublime; ordenar é ter a supremacia do direito, da verdade e da razão", assinada por Jovelino Souza (Carimbo, n" 99, 30 de dezembro de 1917)
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partir deste mesmo período, são publicados muitos textos no Carimbo sobre esta
"instituição" ( 48 artigos), entre estes cabe destacar duas publicações de Juheta de Mello
Monteiro que, sob o título 11Diálogo mãe e filha", de um modo bastante didático,
divulga as idéias da maçonaria e dos "obreiros do Bem": no primeiro diálogo, após a
mãe narrar as benfeitorias da maçonaria, a filha pede ao pai, como presente de
amversáno, que este se tome maçon; no segundo diálogo, a mãe defende que as
mulheres mais instruídas trabalhem em prol "de uma instituição que tão repudiada foi
pela mulher ignorante", que, desconhecendo os princípios da maçonaria (caridade),
acha que os maçons são homens que têm pacto com o demônio, que são contra Deus ou
a religião, e instrui sua filha a educar suas filhas para serem defensoras da maçonaria e
seus filhos para serem futuros maçons (Carimbo, n' 165, 30 de novembro de 1920 e n'
182,30 de agosto de 1921). No período entre setembro de 1918 a dezembro de 1923,
são publicadas oito cartas de Revocata H de Mello para a escritora Marianna Coelho,
de Curitiba. Estas cartas podem ser entendidas como uma espécie de propaganda da
maçonaria dirigida às mulheres, ambas escritoras defendem esta instituição e divulgam
seus princípios: caridade, justiça, educação e elevação social e moral da mulher.
Contudo, a relação entre o Carimbo e a maçonaria não estava pautada
somente por estas "trocas" em correspondência aos interesses talvez mais imediatos de
cada um destes órgãos. Nas publicações sobre a maçonaria, as redatoras do Corimbo
manifestam wna crença de que tal instituição, semelhante ao importante papel que
cumpriu na defesa da abolição, também pode resolver alguns problemas sociais que não
são solucionados pelo poder público, corno é o caso da educação. Por outro lado,
também apresentam a maçonaria corno uma instituição que tem a "caridade" por
princípio e que é uma importante aliada na luta pelo 11alevantamento social e intelectual
da mulher". Deste modo, a concordância em algumas reivindicações sociais pode ser
entendida como um dos elementos de aproximação entre o Carimbo e a maçonaria21.
21 Os artigos sobre a maçonaria dividem-se em artigos que tratam da "caridade", da educação, artigos de propaganda ou de divulgação sobre a instituição, e, em alguns destes, é apresentada como aliada das mulheres em suas reivindicações sociais.
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Estes aspectos que destacamos até então, são questões muitos gerais que
observamos nas publicações sobre estes assuntos mais recorrentes no Corimbo.
Salientamos que neste trabalho não pretendemos realizar uma história do periódico mas
sim analisarmos sua relação com a atuação literária de escritoras, conforme as seções
que seguem. Deste modo, nesta seção estamos apenas pontuando alguns assuntos que
foram recorrentes neste periódico, muito embora possa estabelecer-se relações entre as
escritoras que publicaram no Carimbo e estas observações mais gerais que nos foram
sugeridas por este material, como a relação entre estas com atividades filantrópicas e
com a maçonaria22.
A seguir, dentro desta mesma perspectiva apresentada acima, mencionamos
brevemente algumas atuações práticas das redatoras do Carimbo quanto às
reivindicações sobre a abolição da escravatura, educação e filantropia.
O envolvimento das redatoras do Carimbo com a "abençoada causa" da
abolição está entre os temas destacados nos textos biográficos sobre estas escritoras, a
exemplo da antologia organizada pela Academia Literária Feminina no Rio Grande do
SuJ23, bem como no necrológio de Revocata de Mello mencionado em outra ocasião.
No Carimbo não constam informações sobre uma atuação prática nesta área mas
constam diversas publicações, principalmente no período entre 1885-1887, em defesa
22 Caberia um estudo para se tratar especificamente da relação entre a maçonaria e escritoras pois, através do Corimbo verificamos que além de Revocata e Julieta de Mello, também outras escritoras mantiveram algum contato com a maçonaria, como a escritora Marianna Coelho (Curitiba) e Maria Lacerda de Moura (São Paulo), esta úJtima publicou uma conferência com o titulo "A mulher e a maçonaria" (Leite, 1984, P-1 54), com este mesmo título, Revocata publicou uma matéria no jornal Independente (Porto Alegre). Além destas escritoras brasileiras, a escritora Anna de Castro Osório, de Portugal, em sua estada na cidade de Rio Grande, realizou uma conferência dirigida à maçonaria desta cidade e que foi publicada no Corimbo. Nesta conferência a escritora defende "a entrada da mulher como elemento de ação e do trabalho autônomo dentro da nossa Augusta Ordem" amparada no exemplo da Oriente Lusitano, de Portugal, e da Loja Carolina Angelo, sendo está última fundada pela própria escritora (Carimbo, n° 212, 31 de dezembro de 1922).
23 É o que observamos neste trecho da referida obra, ao tratar de Revocata: "Poetisa, jornalista, dramaturga e oradora, foi grande abolicionista_ Antes mesmo da Princesa Isabel haver assinado a Lei Áurea, Revocata Heloisa de Mello a havia assinado particularmente. Fazia conferências e, do produto dos ingressos, comprava escravos e lhes dava a liberdade" (Fonseca, Lydia Mombelli da. Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul, 1993, p. 63).
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da abolição e em homenagem aos seus defensores24. O irmão das redatoras do periódico
em questão, Romeu dos Passos Mello, também foi defensor da abolição, tendo
organizado, como diretor da União Gaúcha (Rio Grande), a festa popular "As
Cavalhadas" em comemoração à abolição (Carimbo, v.18, n" 164, I" de junho de 1901 ).
Na área da educação, as redatoras do Carimbo atuaram principalmente
como professoras e, a partir desta posição, engajaram-se na luta contra o
"analfabetismo", este é apresentado como um "problema social" que não é resolvido
pelo poder público. Neste sentido, elogiam as iniciativas particulares em prol da
educação como a subscrição movida por Anna Aurora do Amaral Lisboa com o fim de
terminar a construção de um edificio a ser doado para o poder público para o
funcionamento de uma escola em Rio Pardo, também elogiam as iniciativas da
maçonaria na criação de estabelecimentos de ensinos para a população npobre". Por
outro lado, mencionam a Liga Brasileira contra o Analfabetismo e se solidarizam com a
luta pelo ensino obrigatório".
A ação filantrópica das redatoras do Carimbo se fez através do Clube
Beneficente de Senhoras e da União Infantil de Caridade. A primeira foi criada em
1901 pela loja maçônica Henrrique Valadares, incluindo entre suas integrantes algumas
esposas de maçons. Sobre as atividades desenvolvidas pelo Clube Beneficente de
Senhoras constam muitas informações no Carimbo, como a exposição e venda de
trabalhos manuaiS femininos (1921 ), auxílios às crianças desvalidas, órfãs, viúvas
desamparadas e enfermos, sendo que Revocata e principalmente Julieta estiveram
envolvidas com algumas de suas diretorias e são apresentadas como ngrandes
24 Como defensores da abolição, são mencionados: José do Patrocínio, Castro Alves, Visconde de Rio Branco, Joaquim Nabuco, Angelo Agostini e Princesa Isabel.
25 Entre os artigos que abordam esta questão, estão: O ensino obrigatóno, de Revocata de Mello (Carimbo, v. 13, n" 22, 2 de agosto de 1896 e seguinte); O ensino obrigatório, por Delminda Silveira (Carimbo, 11° 113, 31 de julho de 1918); O analfabetismo, de responsabilidade da redação (Carimbo, n" 123, 31 de janeiro de 1919); O analfabetismo, por Revocata de Mello (Corimbo, n" 153, 15 de maio de 1920); Um golpe de honra, por Revocata de Mello (Carimbo, no 193, 28 de fevereiro de 1922); O analfabetismo e a maçonaria, por Revocata de Mello (Carimbo, n" 103, 28 de fevereiro de 1918 e seguinte) e, com este mesmo título, Revocata publica outro artigo colocando a maçonaria como a única instituição capaz de iutar contra o analfabetismo (Carimbo, no 262,22 de fevereiro de J925)_
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benfeitoras" deste clube. A União Infantil de Caridade foi criada pelas alunas das
redatoras do Carimbo em abril de 1922 e até o final do período que consultamos ( 1925)
encontramos referências a esta União, que angariava donativos para serem distribuídos
à população pobre em comemorações cívicas ou religiosas (como no Natal). Além
destas duas associações também são publicadas matérias divulgando a importância e
necessidade da ação filantrópica, dirigidas especialmente às mulheres, confonne já
observamos. Fazem menção às associações filantrópicas criadas por escritoras, como é
o caso da Legião da Mulher Brasileira, presidida por Anna Cesar, no Rio de Janeiro.
Esta escritora nasceu no Rio Grande do Sul e, durante o ano de 1921, realizou
conferências e moveu diversas subscrições com o fim de criar esta instituição no
Estado; para tanto as redatoras do Carimbo também contribuirarn e anganaram
donativos (71$000). Elogiam a atuação da escritora Anália Franco que fundou diversas
creches e asilos para crianças desamparadas e viúvas, na capital e em São Paulo
(Carimbo, n' 125, 28 de fevereiro e n' 129, 30 de abril de 1919), além de publicarem
artigos de sua autoria principalmente sobre a educação feminina26.
2/i Sobre a relação entre filantropia e ''imprensa feminina" consultar Bicalho (1988). Caberia tambem, conforme o que procuramos brevemente destacar no texto, um estudo sobre a relação entre escritoras e movimentos filantrópicos. Algumas das leituras que realizamos sobre a relação entre os escritores e a política, entendida enquanto uma "missão" social do escritor ou como uma "vocação" para o nacional, nos colocaram a questão se a atuação das escritoras na filantropia não seria um contraponto a esta "missão" política dos escritores. Não chegamos a trabalhar esta questão nesta pesquisa, de forma que não não seria pertinente alguma afirmação mais conclusiva sobre este tema, mas, de todo modo, estamos fazendo esta observação a título de um indicativo ou sugestão para outras pesquisas sobre o assunto.
2. 2 0 CORIMBO NA LITERATURA
Na presente seção analisamos o modo como o Carimbo e suas redatoras
inseriram-se no meio literário do período. Com base nas considerações apresentadas na
segunda seção do primeiro capítulo, sobre a organização dos escritores e o
funcionamento da literatura, procuramos verificar as diversas formas através das quais o
Carimbo foi reconhecido como um periódico literário e suas redatoras como escritoras.
Neste sentido, evidenciamos dois elementos que, de uma fonna particular,
serviram como justificativas para a atuação literária de Revocata H. de Mello e Julieta
de M. Monteiro. O primeiro refere-se a origem familiar letrada que, como veremos, foi
wn aspecto ressaltado tanto pelas redatoras do Carimbo como por pessoas que sobre
elas escreveram. O segundo, diz respeito as suas experiências literárias, abrangendo
atividades variadas no âmbito das letras: na imprensa, no magistério e como autoras de
livros.
Por fim, analisamos como estes dois elementos estavam presentes nas
relações estabelecidas com grupos letrados. Ao nos determos nestas relações
procuramos verificar como Revocata e Julieta de Mello mobilizaram relações no
"mundo das letras" de forma a favorecer sua atuação como escritoras.
90
2. 2. 1 Origem familiar ligada às letras
"Quinze de Maio: Passou essa data que é das que para nós tem vida, das que se
cultuam, acordando um mundo de reminiscências, falando com eloqüência ao coração, para dizer que ficou lá, distante esse mundo das ilusões e esperanças! ...
Foi neste dia, há 35 anos, que partiu para os misteriosos caminhos da Eternidade, a boa e amada velhinha, nossa venerada Avó, materna, lá distante, em Pedras Brancas, para onde fora por enfenna.
Quem em Porto Alegre não conheceu a respeitável e virtuosa D. Anna Passos e Figueirôa, senhora afável, comunicativa, expansiva, cheia de graça e inteligência em todo o seu trato? !
Viúva há muitos anos, do ilustre português Manoel dos Passos e Figueirôa, grande latino [sic.], jornalista, autor de obras didáticas poeta e deputado que conhecera, quando em honrosa comissão de D. Pedro I, viera a então província do Rio Grande do Sul.
Desse consórcio que foi coroado da maior felicidade houve quinze filhos, dos quais apenas se criaram cinco:
Revocata Passos Figueirôa e Mello, espírito de alto cultivo, escritora e poetisa conhecida no mundo das letras, pelo pseudônimo de Americana, casada com o negociante João Corrêa de Mello.
Dr. Manoel dos Passos e Figueirôa, engenheiro civil e conferente da Alf'andega do Rio de Janeiro.
Também homem de letras, grande matemático, poeta e prosador de mérito.
Angelina Passos Figueirôa e Castro, que ocupou o magistério, e foi casada com o inspirado poeta João Capistrano de Miranda e Castro; Deodato dos Passos e Figueirôa, professor público e cultor talentoso das Musas.
Amália Figueirôa, a festejadíssima cantora dos Crepúsculos, a poetisa e beletrista, que tanto mereceu da imprensa brasileira, a triste, a pensativa e melancólica, a quem a gentil Narcisa Amália, chamou: Poetisa do Céu.
A todos estes distintos filhos, sobreviveu a pranteada senhora, que foi um modelo de virtudes, um caráter imáculo, uma coragem espartana." (Corimbo, n" 199,31 de maio de 1922) [grifos nossos ]I
Esta transcrição ilustra bem o modo como se faz presente no Carimbo a
ongem familiar de suas redatoras, Revocata Heloísa de Mello e J uheta de Mello
l Este artigo não estâ. assinado, presumimos ser da responsabilidade da redação do periódico, assim como outras publicações semelhantes.
91
Monteiro. Encontramos várias referências à linhagem materna, ressaltando seu vínculo
às letras2, ao passo que, do lado paterno, não encontramos referências com este mesmo
caráter, sendo o pai das escritoras, João Corrêa de Mello, um negociante3.
Através desta publicação, podemos verificar que, ao apresentarem a origem
familiar, destacam seu vínculo às letras, principalmente tratando-se das escritoras
Revocata de Figueirôa e Mello e Amália Figueirôa, mãe e tia, respectivamente, de
Revocata e J ulieta.
São publicados vários artigos ou notas que cultuam esta origem familiar,
principalmente nos aniversários natalícios e de morte desses familiares matemos, de
forma a apresentar as redatoras do periódico como continuadoras desta tradição letrada,
o que, por fim, contribui para conferir uma legitimidade à ambas enquanto escritoras.
Além dos nomes mencionados, também encontramos referências em
Pernambuco à família Figueirõa, com atuação na imprensa local. No entanto, não
conseguimos evidenciar o grau de parentesco com as redatoras do periódico, mas, pelo
período, refere-se provavelmente à geração de seus avós. Trata-se de Manoel Figueirõa
de Faria, morto em 1866, proprietário do Diário de Pernambuco. Após sua morte, este
periódico continuou a ser administrado pela família Figueirôa. Desde 1859 o referido
jornal dedicou uma página à literatura, com colaboradores consagrados nas letras, como
2 Abaixo reladonamos os familiares das redatoras do Carimbo, a partir do parentesco com as mesmas, e, com base em dados fornecidos pelo periódico e por índices de escritores deste Estado, mencionamos as atividades literárias que desenvolveram: Anna Passos e Figueirôa: (avó). Manoel dos Passos e Figueirõa: (avô)"( ... ) Jornalista e teatrólogo. Bibl. ·Publicou artigos no Correio da Liberdade, periódico bi-mensal de que foi fundador e diretor, circulou em P. Alegre em 1831, nele escreveu com o pseudônimo Cauchas; e no Idade de Ouro, jornal político que fundou em P. Alegre em out. de 1833, e dirigiu até fev. de 1835; Um Devoto em Apuros, peya teatral, estreada pela S.D.P. Luso-Brasileira no Teatro S. Pedro, P. Alegre, 1890. Inédita: En Avant Quatre, comédia" (Martins, 1978, p. 219). Segundo dados fornecidos pelo Carimbo, atuou também como latinista e autor de obras didáticas. Reyocata Passos Figueirôa e Mello: (mãe) Escritora, membro da Sociedade Partenon Literário (1869-1879) e professora. Manoel dos Passos e Figueirôa: (tio) Engenheiro civil, matemático e escritor. Angelina Passos Figueirôa e Castro. (tia) Professora, casada com um poeta. Deodato dos Passos e Figueirôa: (tio) Professor e escritor. Amália Figueirôa: (tia) Escritora, membro da Sociedade Partenon Literário (1869-1879), de Porto Alegre.
3 Segundo Andradina de Oliveira, João Corrêa de Mello teria sido irmão de José Corrêa de Mello, marido da escritora Rita Barém de Mello (1840-1868), esta, portanto, tia das redatoras do Carimbo (Oliveira, 1907, p. 31). No entanto, não encontramos referências a esta escritora no periódico, pelo menos nos exemplares que consultamos; sobressaindo-se a origem familiar materna. De qualquer modo este dado nos indica mais wna escritora na família, innã da também escritora Avelina Barém, atuante na Sociedade Partenon Literârio.
92
Castro Alves, Tobias Barreto, Luiz Guimarães, Fagundes Varella, Silvio Rornero etc.
Por ocasião do centenário daquele jornal, o Carimbo publica wn artigo em sua
homenagem e, por fim, destaca a tradição familiar dos Figueirôa nas letras: "Estas
pequenas notas não podiam deixar de aparecer no Corimbo, porquanto é motivo de
orgulho para suas redatoras, ligadas tão intimamente a nobre geração dos Figueirôa,
terem sido dessa estirpe os mais fortes espíritos a sustentarem o magnífico e consagrado
Diário de J'ernamhuco" (Conmbo, n" 281-282, p. 3, 31 de dezembro de 1925 e 15 de
janeiro de 1926).
Com este mesmo sentido, transcrevemos mais um trecho do Carimbo, sobre
Revocata dos Passos Figueirôa e Mello (mãe), no qual podemos observar o modo como
enfatizam suas atividades literárias e o reconhecimento literário por ela alcançado:
"Quatorze de Setembro: Passou ontem mais um ano após o desaparecimento, há três
decênios, do lar onde era a mais adorada das Mães, aquela que a morte arrebatou desapiedadamente, e que chamou-se Revocata dos Passos Figueirôa e Mello.
Para as diretoras do Carimbo, é esta uma data de dolorosíssima recordação, data que ficou-lhes na vida, desde a primeira quadra da mocidade, à semelhança de um calvário de dor e de saudade, que o tempo nem mesmo de leve, tem podido alterar o sombrio aspecto.
Tudo neste dia fatal, como que lhes surge à tona do pensamento, mais [?]4 que sempre; carinhos, sacrificios, dedicações, conselhos sublimes, ensinamentos nobres, enfim, todo esse conjunto de tesouros morais, que o amor imenso dessa Mãe idolatrada, lhes deu com verdadeiro extremos.
Deixou-lhes também, os frutos de seu estro de poetisa, e de sua pena de escritora, que tantos encômios de~pertaram pelas colunas da imprensa brasileira, onde apareciam com o seu nome de guerra Americana.
Muitos foram os jornais que noticiaram-lhe a morte, fazendo altas e justas referências, ao seu grande coração e a sua cultura e dotes intelectuais. Além de todas as folhas do estado e de muitas, de toda a parte do Brasil, do Rio de Janeiro os importantes órgãos de publicidade Cruzeiro, Gazeta de Noticias, Progresso e o Globo, brilhante diário sob a redação do notável jornalista Quintino Bocaiúva, manifestou-se assim:
Faleceu a 14 do corrente, na cidade do Rio Grande, a Exma. Sra. D. Revocata dos Passos Figueirôa e Mello, que, pela sua esmerada educação e por seus conhecimentos, ocupou lugar distinto, entre as escritoras do nosso país.
4 Utilizamos este sinal [?] para substituir alguma palavra que não conseguimos identificar no texto original
93
Acerca de sua vida e de seus trabalhos diz o nosso colega do Cruzeiro:
Sob o pseudônimo de Americana, publicou muitas poesias, cremos que dois pequenos romances, além de inúmeros escritos em prosa.
Todos esses trabalhos foram sempre acolhidos com os mais lisonjeiros e bem merecidos aplausos públicos. D. Revocata fazia parte de uma família, na qual o talento e a poesia são como que bens vinculares; sua irmã D. Amália Figueirôa, foi uma poetisa cheia de inspiração e sentimento e seu irmão, o Dr. Manoel dos Passos Figueirôa, além de notável matemático, foi também poeta de mérito. A octogenária mãe de tão talentosos filhos, teve a desventura de vê-los morrer um a um.
D. Revocata era também mãe de duas filhas escritoras, D. Julieta Monteiro, de quem seu marido, o Sr. Pinto Monteiro, deu nesta corte o ano passado, à publicidade um belo volume de versos que foi saudado por toda a imprensa; e D. Revocata de Mello (filha) de quem está sendo impresso nesta corte um volume de prosa sob os cuidados de seu festejado com provinciano Múcio Teixeira. A finada D. Revocata exercia o magistério e era geralmente estimada pelo seu caráter nobre e elevado; educara seus filhos sob os mais ógidos princípios de virtude, por isso mereceu sempre o respeito e a simpatia de quantos a conheceram de perto. Segundo nos consta, deixou muitos escritos inéditos, bem como já antes dela haviam deixado o irmão e a irmã que a precederam no caminho da vida eterna. Às herdeiras e continuadoras de seus trabalhos e nome, enviamos as nossas sinceras condolências." (Carimbo, n' 45, 5 de setembro de 1915) [grifos nossos]
A partir deste texto, que não é o único com este sentido, podemos
evidenciar a fonna como, tanto as redatoras do Carimbo como pessoas que sobre elas
escreveram, acionam a origem familiar letrada como uma forma de legitimar a atuação
literária destas escritoras. Primeiramente, ressaltam o fato de que sua mãe, assim como
sua tia, foram escritoras que tiveram um reconhecimento no "mundo literário", para,
posteriormente, apresentarem-se como "herdeiras" desta tradição letrada. Apresentadas
de tal forma, estas escritoras aparecem como portadoras "naturais" de uma vocação
literária, de forma que seria muito difícil contestar-se o mérito literário de ambas.
Nesta mesma seção vamos ter a oportunidade de observar como a origem
familiar letrada aparece em outros textos, atuando como um importante elemento para o
seu ingresso no "mundo das letras".
Cabe salientarmos, porém, que esta análise apenas destaca tal aspecto como
um elemento que está presente no periódico, sem, no entanto, verificarmos o peso da
94
origem familiar para o reconhecimento literário dos( as) escritores( as) do período de
uma forma geral5. Mas no caso do Carimbo, este é um aspecto bastante presente e que,
possivelmente favoreceu a inserção das escritoras na literatura, na medida em que, além
de legitimar esta atividade literária, também atuou como elemento favorável no contato
com escritores( as) e pessoas do "mundo literário", como veremos adiante.
2. 2. 2 Atividades literárias desenvolvidas pelas redatoras do Corimbo
Conforme já observamos na segunda seção do primeiro capítulo,
especialmente a partir das considerações de Machado Neto, os escritores exerceram
outras atividades, principalmente na imprensa e no magistério. Revocata H. de Mello e
Julieta de M. Monteiro acompanharam esta tendência. Além de redatoras do Carimbo,
também exerceram outras atividades nas letras.
Entre as atividades na imprensa estão a edição de um periódico literário
anterior ao Carimbo e a participação na redação ou colaboração em outros periódicos,
especialmente os literários deste Estado.
Antes de editarem o periódico que estamos analisando, publicaram outro
periódico literário, o semanário Violeta, na mesma cidade de Rio Grande, que, segundo
Décio V. das Neves, durou dois anos, de setembro de 1878 a agosto de 1880 (Neves,
1987, p. 143 ). Note-se que em setembro de 1878, Revocata contava 17 anos e Julieta 14
anos de idade.
Segundo o mesmo autor, Revocata Heloísa de Mello trabalhou no Diário de
Pelotas, como redatora auxiliar, no período entre 1882 até 1889 (Neves, 1987, p. 168).
Não nos foi possível verificar tal informação que, em um primeiro momento, nos
5 Este aspecto, se analisado em âmbito nacional pode nos trazer contribuições para a análise da atuação literária de escritoras. Conforme observa Luzilá G. Ferreira: "Vale lembrar aqui que a mulher que consegue ter um texto seu publicado, na época, pertencia, salvo raras exceções. como as de Joana Tiburtina Lins e de Maria Heraclia de Azevedo, a uma elite social - ou possuía marido, pai ou innão jornalista" (Ferreira, 1990b, p 138).
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pareceu um período muito extenso de trabalho junto a outro periódico, tendo em vista
que um ano após, em 1883, editou o periódico Carimbo. Mas, em urna breve consulta a
este jornal da cidade de Pelotas, verificamos que consta uma matéria que
posterionnente foi publicada no Carimbo. Trata-se do artigo A mulher e a imprensa,
que, como outros que não foram assinados, presumimos como de responsabilidade da
redação do periódico. Também encontramos referências à mãe das escritoras; quando
de sua morte este jornal publica, na primeira página, um necrológio, solidarizando-se
com Revocata e Julieta. No entanto, o Diário de Pelotas, ao menos no período
consultado, não fornece dados sobre sua editoração, somente indica ser um órgão do
Partido Liberal que, no momento, parece ter sido a tendência partidária das escritoras(,.
Ambas colaboraram em outros periódicos, destacando-se, entre estes, de
Porto Alegre, O Lábaro (1880-1881) e O Contemporâneo (1886-1888), editados por
Azevedo Júnior e Revista Literária (1881), de Paulinho de Azurenha e Aurélio
Veríssimo de Bittencourt. Como colaboradores dos mesmos periódicos literários,
constam outros(as) escritores(as) que também publicaram no Corimbo, como Múcio
Teixeira, Damasceno Vieira, Luiz Guimarães Júnior e Anna Aurora do Amaral Lisboa
(Ferreira, 1975). Estavam incluídas como colaboradoras do periódico Progresso
Literário, de Pelotas e no jornal La Pátria Ilustrada, de Buenos Aires, este da
propriedade de J. Guelfreire.
Também atuaram no magistério. Fundaram wna escola particular, em
regtme interno e externo, em 18907. Esta atividade propiciou o contato com outras
professoras e escritoras que atuaram no magistério, como Helena Small, diretora do
Colégio Elementar Juvenal Miiler, em Rio Grande, e de outras regiões, como Anna
Aurora do Amaral Lisboa, de Rio Pardo. Por outro lado, além de ser uma atividade
6 Consultamos este jornal diário no período de um semestre, de julho à dezembro de 1882, no acervo da Biblioteca Pública de Pelotas.
7 No Corimho constam raras infonnações sobre a atividade no magistério, não mencionando o público que freqüentava suas aulas, muito embora conseguimos identificar dois alunos, através de colaborações ou correspondências enviadas para o periódico. Trata-se do escritor Carlos Minuto e de Odete de Melo Pereira, odontóloga formada no Rio de Janeiro. Também não nos informa se tal atividade foi realizada no escritório do Corimho e sobre o periodo de duração
96
comumente desenvolvida por escritores, é um aspecto especialmente relevante na
trajetória literária de escritoras, como observamos na terceira seção do primeiro
capítulo.
Além destas atuações na imprensa e no magistério, publicaram algumas de
suas obras de poesias, contos, crônicas ou de teatro em Rio Grande e no Rio de Janeiro,
sendo que alguns foram trabalhos conjuntoss.
Estas variadas atividades desenvolvidas na área das letras é um aspecto
enfatizado no periódico e em textos biográficos sobre Revocata e Julieta de Mello.
Assim como a origem familiar, as experiências literárias estão entre as justificativas
apresentadas para a atuação literária de Revocata e Julieta de Mello, constituindo-se
como elementos que irão favorecer seu reconhecimento como escritoras.
2. 2. 3 Relações entre escritores(as) com base em um reconhecimento recíproco e
no apoio mútuo: o caso do Corimbo e de suas redatoras
Na segunda seção do pnmetro capítulo apresentamos algumas questões
sugeridas pela bibliografia consultada, quanto ao modo de organização e funcionamento
da atividade literária no período que estamos tratando. Verificamos que um dos
elementos que caracterizou a atuação no âmbito da literatura foi a relação pessoal entre
escritores como uma fonna capaz de propiciar o reconhecimento literário e a inserção
dos escritores nas diversas possibilidades de atuação literária. Também verificamos que
estas relações pautava-se, principalmente, pelo reconhecimento recíproco e pelo apoio
mútuo entre pares.
8 Obras publicadas por Revocata Heloisa de Mello: Folha~· errantes, Prefácio de Múcio Teixeira, Rio de Janeiro, Tip. Hildebrandt, 1882 (crônicas); Grinalde de Noiva, publicação inédita (drama). Obras de JuJieta de Mello Monteiro: Prelúdios, Prefàcio de Augusto ZaJuar, Rio Grande, Tip. Cosmopolita, 188! (poesias); Oscilantes, Prefacio de Luiz Guimarães Júnior, Rio Grande, Tip. da L. Universal, 1892 (sonetos); Alma e Coração, Rio Grande, Tip. Trocadero, 1898 (contos); Terra Sájara, Publicação póstuma, com prefácio de Revocata H de Mello, Rio Grande, 1924-28 (poesias). Obras assinadas em conjunto: Berilos, Rio Grande, Livraria Universal, 191 I (contos e crônicas); {oração de Mãe, Rio Grande, Tip. da Livraria Riograndense, 1893 (drama); Mário, publicação inédita (drama).
97
No caso do Corimho e de suas redatoras, evidenciamos alguns elementos
neste sentido. O Carimbo é rico em informações deste tipo. Podemos identificar desde
relações com escritores(as) iniciantes, para os(as) quais o periódico serviu como um
veículo de divulgação de seus trabalhos (uma vez que ao enviarem suas obras ou
poesias, estas eram publicadas com comentários críticos e recomendações de leitura),
até relações que visam mais diretamente o reconhecimento do próprio periódico e de
suas redatoras, que é o que mais está nos interessando no momento. Ou seja, nos
centramos na relação estabelecida com escritores( as) que já gozavam de uma reputação
literária e que, desta fonna, estavam em condições de referendar a atividade literária
destas escritoras, corno também na relação com escritores(as) deste Estado que
transferiram-se para outras regiões, principalmente para São Paulo e Rio de Janeiro.
Tais relações tomaram-se mais visíveis de duas maneiras em particular:
primeiro, através da publicação de biografias C'retratos") destas escritoras em
periódicos de outras regiões; segundo, através dos prefácios dos livros publicados por
elas, bem como dedicatórias, agradecimentos e preâmbulos de poesias ou contos
constantes em suas obras9.
Iniciamos com a transcrição de um "retrato" de Julieta de Mello Monteiro,
escrito por Damasceno Vieira, escritor do Rio Grande do Sul, para o periódico literário
A Mensageira, de São Paulo. A partir deste texto realizamos algumas observações
quanto ao modo corno Julieta de M. Monteiro é apresentada, como sua atividade
literária é justificada e, finalmente, destacamos alguns aspectos quanto à relação
estabelecida com o escritor em questão.
9 Salientamos que estas duas fonnas de publicação tomam mais visíveis a inter-relação entre escritores( as), e, de certa fonna, mais eficazes a perspectiva de um reconhecimento literário das escritoras. No entanto, se examinarmos o conjunto do Corimbo, estas relações transparecem em diversas ocasiões e sob diversas fonnas, como, por exemplo, através de elogios à outras publicações e a escritores(as) de sua relação, especialmente ao tratar-se dos(as) escritores(as) que sobre elas escreveram; através de homenagens aos escritores e da divulgação de acontecimentos sociais a eles( elas) relacionados(as), como nascimento de filhos, casamentos, mortes de familiares, viagens, novas publicações, etc.
98
"Julieta de Mello Monteiro D. Julieta Monteiro é escritora par droit de naissance; com o
leite maternal infiltrou-se em seu delicado organismo a febre das letras; o ambiente que respirou, ao abrir os olhos à luz, na formosa capital da terra dos pampas, achava-se impregnado dos perfumes da poesia romântica; ondulações sonoras encheram-lhe de harmonias o infantil ouvido. Mãe e tia - D. Revocata dos Passos e Mello e D. Amália Figueirôa- duas apaixonadas almas de poetisas - embalaram-na carinhosamente, cantando versos sentimentais de lavra própria.
A morte retirou-lhe os anjos tutelares que lhe incutiram o amor ao belo artístico; mas o impulso já se havia operado, e a convivência com sua delicada irmã, D. Revocata Heloísa de Mello, contribuiu para que o apo/íneo fogo jamais amortecesse.
Impressionada com os triunfos de Amália Figueirôa ~ a pálida sonhadora dos Crepúsculos, a quem Narcisa Amália chamava poetisa do céu ~ a jovem, sob lisonjeiros auspícios, encetou o seu tirocínio com o entusiasmo que arrebata os espíritos fortes.
Os seus primeiros livros de versos, Prelúdios e Oscilante,\, mereceram prejiícios do distinto poeta português, já falecido, Aubru.rto tlnílw Zaluar, e do ilustre parnasiano brasileiro L ui::. Guimarães Júnior.
Com tão altos -estímulos, desenvolveu-se a vocação de D. Julieta, cooperando ainda para o seu progresso a criação de um periódico literário, Carimbo, fundado por D. Revocata na cidade do Rio Grande.
Dispondo de múltiplas aptidõesjornalista jsic.}, ali espande por várias fonnas os recursos de sua culta inteligência, desde o artigo de fundo até a simples notícia local, desde a majestade dos versos alexandrinos até as risonhas e espirituosas ginásticas dos triolets.
Nenhuma festa patriótica ou de caridade ou de instrução se efetua na marítima cidade rio~grandense que não tenha o concurso das duas ilustradas literatas, irmãs que se identificam pela inteligência, pelo estudo, pela infatigável aplicação ao trabalho, pela firmeza das idéias e das convicções e pela virtude ~ traço que na sociedade lhes dá o maior e mais legítimo prestígio e não lhes faz invejar a glória doméstica de George Sand.
Não vivem nem poderiam viver dos exíguos proventos que lhe proporciona a pequena folha literária; sentem-se amparada de um irmão extremosíssimo, Romeu dos Passos e Mello - belo e acentuado tipo de gaúcho, alto, forte, corado, brioso como um valente, destemido como um revolucionário- e há longos anos exercem o magistério part1cu/ar.
Espalham simultaneamente idéias pelo Carimbo, pelos livros que publicam e pelas crianças cuja educação lhes é confiada.
Na redação do Corimbo, reunem-se às ve=es jovens de ambos os sexos que cultivam letras e promovem sessões em que são recitados trabalhos em prosa e verso, quase sempre originais.
Tivemos a honra de assistir a uma dessas festas e a impressão que ela nos deixou, perdura em nosso espírito como um fato extraordinário.
Poesias sérias e humorísticas, em português e em espanhol eram festejadas à salva de palmas pelo seleto auditório, e como se uma atração magnética nos retivesse ali, só dissolveu~se a reunião na madrugada do dia seguinte, sem que nenhum de nós fosse alcançado pelo cansaço da prolongada vigília.
99
Horas depois, viajamos para a capital rio~grandense e ao recapitularmos todas as emoções que havíamos experimentado na digressão que acabávamos de concluir fora de nossa terra natal, nenhuma nos pareceu comparável aquele tão modesto quão brilhante certamen do talento e do espírito." (Vieira, Damasceno. In.: A Mensageira, São Paulo, 1987, p. I89-!90)w
Primeiramente, podemos observar que Julieta de Mello Monteiro é
apresentada como escritora. E, adiante, tal atividade aparece como urna vocação
"natural" para às letras: pelo sangue, pelo leite matemo, pelo ambiente que respirou e
pelas cantigas de ninar, a poesia se fez presente em sua vida. A origem familiar,
inicialmente através de sua mãe e sua tia, é apresentada como um prenúncio de sua
vocação para as letras, sendo ressaltados os triunfos de sua tia, Amália Figueirôa,
referenciada por outra escritora do Rio de Janeiro. E, posterionnente, estimulada pela
irmã, Revocata de Mello.
O autor segue enfatizando que os primeiros livros de Julieta de Mello foram
prefaciados por dois conceituados escritores. Ou seja, além de ser beneficitária de uma
vocação literária upar droit de naissance", também obteve o reconhecimento no meio
literário, através do respaldo de um "distinto poeta português" e de um "ilustre
parnasiano brasileiro".
Apresenta outras atividades desenvolvidas pela escritora: como jornalista,
como educadora e como atuante em sua comunidade, destacando sua participação em
eventos patrióticos, "de caridade ou de instrução". Desta forma, ressalta que, além de
escritora, Julieta de Mello também trabalhou por questões sociais, principalmente na
educação da infãncia e em atividades filantrópicas, motivo pelo qual merece o prestígio
sociaL
Finalizando, o autor faz referência ao Carimbo, fundado por esta escritora e
por sua irmã, demonstrando que as atividades desenvolvidas a partir deste periódico
10 O periódico A Mensageira foi da propriedade da escritora Presci!iana Duarte de Almeida e circulou em São Paulo no periodo de 1897 a 1900. Neste trabalho estamos utilizando uma edição fac-similar, publicada pela Secretaria de Estado da Cultura e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. A este artigo assinado por Damasceno Vieira, seguem-se mais duas páginas com comentários críticos sobre a obra literária da escritora em quest!lo.
100
têm grande importância literária: são organizadas sessões literárias que se prolongam
até a madrugada; nestas sessões divulgam-se, muitas vezes, trabalhos originais;
participam homens e mulheres que cultivam as letras. Por estas atividades o autor
distingue o referido periódico no âmbito das letras.
Através desta recapitulação do texto, procuramos demonstrar que o autor
desenvolve sua argumentação no sentido de legitimar a atuação literária de Julieta de
Mello como escritora. Para tanto, remonta desde sua origem familiar e atuação literária
até sua atuação social.
Por outro lado, este texto é ilustrativo do modo como se operam as relações
entre escritores. O autor deste "retrato" de Julieta não é desconhecido das escritoras, ao
contrário, faz parte de suas relações pessoais. Damasceno Vieira está entre os
colaboradores mais assíduos do Corimho, desde o início do periódico até a transferência
do escritor para a Bahia, de onde enviou colaborações até sua morte. As redatoras do
Corimbo apresentando-no como um dos mais "distintos colaboradores desta revista",
também divulgam suas obras, tecem comentários críticos, e, por vezes também
publicam sobre este autor em outros periódicos, a exemplo da critica literária de Julieta
de M. Monteiro ao livro Poemetos e quadros, deste autor, publicado na Tribuna do
Povo, de Santos, em 1897.
Por ocasião do aniversário de morte deste escritor, publicou-se no Carimbo,
sob o título "Datas inapagáveis", a seguinte homenagem:
"Tivemos também, a lutuosa data do eterno desaparecimento do preclaro homem de letras, poeta, historiador, critico e jornalista, Damasceno Vieira, uma das mais fecundas mentalidades rio-grandenses.
O festejado beletrista obteve nas rodas intelectuais, não poucas homenagens à sua formosa e cintilante pena, partindo muitos destes justos aplausos, dos primeiros centros de letras na Europa.
Damasceno Vieira, a quem prendia-nos uma .fraternal estima, mereceu sempre pelos seus altos méritos morais, o apreço dos íntimos e da sociedade em que laborou. Lágrimas à sua saudosa memória." (Carimbo, no 104,15 de março de 1918) [grifosnossos]
101
Através destas referências, podemos evidenciar o modo como as escritoras
retribuiram o tratamento a elas dispensado por Damasceno Vieira. Da mesma forma, é
um indício do reconhecimento recíproco entre escritores.
Neste sentido, cabe destacarmos que tal escritor já gozava de um certo
prestígio nas letras, tendo iniciado suas atividades literárias na revista do Partenon
Literário. A partir de então podemos identificar seu nome em diversos órgãos da
imprensa literária, seja como editor, seja como colaborador, além da publicação de
livros ti. De modo que o nome deste escritor conferia uma maior reputação literária para
o Corimbo.
Observe-se que, no texto em homenagem a Damasceno Vieim, ressaltam os
méritos literários deste escritor, o que, de certa forma, também engrandece as próprias
escritoras, wna vez que tal escritor estava entre os colaboradores do periódico por elas
editado. Da mesma fonna, também enfatizam a relação pessoal com o escritor, estando
unidos por uma "fraternal estima".
Aspectos semelhantes podemos observar no trecho abaixo. Este é wn
"retrato" de Revocata Heloísa de Mello, publicado na revista literária A Madrugada, de
Lisboa.
"Revocata de Mello ( ... ) Revocata de Mello, cujo retrato em miniatura fulge na
primeira página da 'Madrugada' é uma senhora distintíssima, que muito tem trabalhado para a elevação do nível intelectual da mulher no Brasil. Desde muito jovem principiou a cultivar as musas com brilhantismo. Os seus primeiros versos foram publicados em 1879 na 'Grinalda' e depois fez parte da redação literária do 'Diário de Pelotas', folha hoje extinta.
I I Verbete publicado no índice de escritores do Rio Grande do Sul organizado por Ari Martins: Fernandes, João Damasceno Vieira: P. Alegre, RS, 8 maio 1850; Salvador, BA, 6 mar. 1910. (...)Estudou no Colégio Bibiano de Almeida, P. Alegre. Diplomado pela Escola Nonnal de P. Alegre. Funcionário Público desde à mocidade, tendo servido na Tesouraria da Fazenda de P. Alegre; nas allandegas de Santos (SP), Bahia e Rio Grande (RS), e na Mesa de Rendas de Pelotas (RS). Jornalista, redigiu em P. Alegre O Figaro, 1878-79. e Jornal do Comércio. Poeta, critico, historiador, romancista e teatrólogo. Pertenceu ao Partenon Literário, P. Alegre; ao Ensaios Literários, id.; ao Grêmio Literário, BA; à Nova Cruzada, BA e ao IHG da Bahia. (Martins.. 1978) São fornecidas mais infonnações sobre este escritor na obra de Guilhemino Cesar, sobre a literatura neste Estado do Rio Grande do Sul, especificamente quanto as contribuições deste escritor para o desenvolvimento da critica literária.
102
Nascida em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, descende a nossa ilustrada patrício de uma família conhecida no mundo das letras. Sua mãe,já falecida, foi também uma distinta poetisa.
Há tempos publicou um livro em prosa intitulado 'Folhas Errantes' prefaciado pelo escritor Múcio Teixeira e durante 12 anos redigiu O Carimbo, interessante revista em cuja.v colunas conseguiu firmar a reputação de que h[!je goza.
Tem colaborado em muitos jornais brasileiros assim como na 'Pátria Ilustrada' que em tempo se publicou em Buenos Aires e de colaboração com sua distinta irmã D. Julieta Monteiro escreveu o 'Coração de Mãe', drama em dois atos, e outro intitulado 'Mário'.
Júlio Ribeiro, o saudoso filólogo paulista e autor da 'Carne', escreveu no 'Correio de Santos' a 23 de janeiro de I 886, em número especial a ela dedicado: 'Espírito superior, Revocata de Mello soube quebrar as prisões estreitas com que nós procuramos abafar as aspirações feminis, e fez voar o seu nome dos 'pampas' do Rio Grande às florestas do 'Amazonas'." (Corimbo, v. 13, n° 8, 1896)12 [grifos nossos]
Neste trecho são ressaltados os seguintes aspectos: origem familiar letrada;
dedicação para a literatura desde jovem; publicação de livros e a atuação na imprensa,
como colaboradora em periódicos literários, como redatora-auxiliar de um jornal diário
e como fundadora de um periódico literário. O conjunto destes elementos, ao
reforçarem sua dedicação às letras, procuram conferir uma legitimidade para Revocata
H. de Mello como escritora.
Posterionnente, destaca-se a publicação de um "retrato" seu em outro
periódico, de Santos, escrito por um escritor paulista. Este aspecto igualmente reforça a
atuação literária da escritora, demonstrando ser esta reconhecida no "mundo das letras".
Outro elemento que observamos no texto refere-se ao modo como aparecem
referências à atividade literária quando exercida por uma mulher. O que se destaca
neste texto, ao que inicialmente nos parece, é, primeiramente, que Revocata é
identificada como mulher atuante no campo das letras- como escritora, e, deste modo,
contribuí com a elevação intelectual das mulheres, principalmente considerando-se as
dificuldades enfrentadas por estas no âmbito da literatura (que abafam as "aspirações
!2 Na mesma revista foi publicada uma breve biografia de Julieta de M. Monteiro em seguida ao texto transcrito_
103
feminis"), mas, por outro lado, ou justo por isso, Revocata distingue-se entre as
"mulheres", sendo apresentada como udistintíssima" e "espírito superior"B.
Do ponto de vista das relações entre grupos letrados, observamos que este
"retrato" de Revocata Heloísa de Me11o foi relevante na trajetória literária das
escritoras, especialmente por referir-se a uma publicação de Lisboa14. Além de ser
reproduzido no Carimbo, também foi mencionado em outros periódicos, como na
revista A Mensageira, redigida pela escritora Presciliana Duarte de Almeida, em São
Paulo. Trata-se de um artigo assinado por Ibrantina Cardona, no qual reproduz este
texto que, segundo a autora, presta "justa homenagem ao peregrino talento de Revocata
de Mello", além de fazer outros comentários sobre a escritora. O artigo de Ibrantina
Cardona foi publicado, parcialmente no Carimbo (v. 15, n" 85, 30 de janeiro de 1898),
no entanto, esta não foi colaboradora assídua do periódico, no qual encontramos apenas
um artigo de sua autoria, sobre a função da imprensa para o progresso social (Carimbo,
n" 104, 15 de março de 1918). Contudo, a escritora é homenageada por Revocata e
Julieta de Mello através da dedicação de algumas das poesias publicadas em seus livros.
Mas, por outro lado, é possível que estas tiveram algum contato, se não pessoalmente,
pelo menos como escritoras nascidas na mesma cidade, pois Ibrantina Cardona também
é de Rio Grande como as redatoras do Corimbot5. A escritora transferiu-se para São
Paulo com o jornalista Francisco Cardona, e lá divulgou o nome não somente de
Revocata e Julieta mas de outras escritoras do Rio Grande do Sul. O mesmo fez seu
marido, Francisco Cardona. Este jornalista foi proprietário do jornal A Comarca, em
São Paulo, que, em 1921 publica o retrato de Julieta de Mello Monteiro, acompanhado
de algumas poesias de sua autoria, o que é agradecido por estas escritoras, pois este
Ll Na seção seguinte tratamos com maior atenção este tema.
!4 Não conseguimos infonnações sobre a revista A Madrugada e sobre seu proprietário, de forma que fica difícil verificar o modo como entraram em contato. No entanto, relações com escritores( as) portugueses não eram estranhas ao periódico, a exemplo de Maria Amália Vaz de Carvalho e Anna de Castro Osório.
15 Verbete no índice de escritores organizado por Ari Martins: Cardona, Ibrantina (de Oliveira): Rio Grarx:le, RS, li out. 1868; S. José do Rio Pardo, SP, 23 dez. 1956. - Poetisa. Esposa do jornalista Francisco Cardona. Residiu em SC e, a partir de 1893, em SP (Martins, 1978, p. 124)
!04
jornalista "mais uma vez vem render homenagem (que muito nos desvanece) à redação
do Carimbo" (Carimbo, n' 182, 30 de agosto de 1921 ).
Deste modo, estes elos de ligação das redatoras do Carimbo com
escritores(as) conterrâneos( as) que transferiram-se para São Paulo, como foi também o
caso de Damasceno Vieira, contribuíram para sua divulgação e do periódico em outras
regiões, atuando como um importante elemento para o reconhecimento de Revocata e
Julieta de Mello como escritoras.
Mencionamos mais um "retrato", através do qual podemos observar o modo
corno os(as) escritores(as) em questão apoiaram-se mutuamente. Nos referimos ao
"retrato" de Revocata Heloísa de Mello, publicado no Correio de Santos (SP) em 1886,
jornal sob a responsabilidade de J. Guelfreire. Confonne o Corimho, J. Guelfreire "era
antigo colaborador do Carimbo" e, em dezembro de 1887 foi diretor e proprietário do
periódico La Pátria Ilustrada, de Buenos Aires, no qual colaborou literariamente
Revocata de Mello; também verificamos que a permuta entre o periódico Correio de
Santos e o Carimbo fez-se desde agosto1885 (Carimbo, v. 3, n° 29, dezembro de 1887 e
janeiro de 1888). Também encontramos poesias dedicadas ao escritor nas obras de
Julieta e Revocata de Mello.
Mello:
Sobre a publicação deste "retrato", escreve, em agradecimento, Revocata de
"Quanto maior é a impressão que experimentamos em face de um grande desgosto ou de uma infinita alegria, quanto mais nos sentimos na deficiência de apresentar com vivas cores a majestade da cena passada então em nossa alma. Nesses momentos todas as palavras são pálidas, frias, impotentes mesmo para traduzirem a eloqüência de nossa comoção. Eis porque vimo-nos na impossibilidade de demonstrar à ilustradúmma redação do festejado Correio de Santos, o quanto penhorou-nos, o quanto encheu-nos de satisfação, de orgulho, a elevada e distinta maneira porque surpreendeu-nos este laureado órgão da imprensa paulistana, em seu n° de 23 de janeiro p. p., onde em sua página de honra dignou-se apresentar nosso obscuro e humilde retrato, circundado de pensamentos que para nós importam em viridentes lauréis, súbitas homenagens que 1menso confundem-nos, brilhantes chispas ali deixadas pelas diamantinas penas de Júlio Riberro, o aplaudido e festejado hterato, o enérgico pubhcista que tantas glórias há conquistado e tantas simpatias inspirado; de J. Gue(freire
105
cujo mérito há tanto se tem planteado com verdadeiro brilhantismo em todas as publicaçlJes florescidas sob a sua autorizada guarda; de T. Mondim, distintissimo jornalista, espírito culto e elevado, onde cintila todo o característico de um aprimorado talento; e ainda pelas coloridas flores com que as gentilíssirna colaboradoras do Correio de Santos, enlaçaram este testemunho de alto apreço, de que guardaremos a mais fiel e indelével lembrança, consagrando a todos aqueles que ali buscaram tanto, tanto elevar-nos, uma veemente e significativa página do livro do coração." (Conmbo, v. I, n' 9, fevereiro de 1886)
Note-se que, ao passo que Revocata se apresenta como "obscura e humilde"
nas letras, utiliza vários qualificativos elogiosos e engrandecedores para os redatores do
Correio de Santos, o que nos pareceu uma forma de agradecimento como também de
reconhecimento aos escritores. Dito de outro modo, demonstra uma relação de
reconhecimento recíproco entre os escritores em questão e Revocata Heloísa de Mello,
ressaltando-se o fato de que os elogios ao Correio de Santos também são elogios a si
mesma, pois foi este mesmo periódico quem primeiro reconheceu, fora deste Estado,
sua atuação literária.
Além dos "retratos" que transcrevemos ou mencionamos acima, foram
publicados mais os seguintes: de Revocata Heloísa de Mello, no periódico literário A
Ventarola (Pelotas) em setembro de 1888. Sobre Julieta de Mello Monteiro, na /-<Olha
do Norte (Pará), por Eustáquio de Azevedo, em 1921. Sobre as duas escritoras: na
revista Kosmos (Buenos Aires), pela escritora Eva Canel; no Almanaque Brasileiro
(Rio de Janeiro), sob a direção de Ramires Galvão; no Álbum Ilustrado (Rio de
Janeiro), sob a direção de Alfredo Stomi, sendo estes últimos publicados entre 1904-
!905.
A partir do que apresentamos sobre alguns destes "retratos", pode-se dizer,
de uma forma geral, que são textos em reconhecimento à atividade literária das
escritoras. Podemos verificar que visam, em um primeiro plano, apresentá-las enquanto
escritoras e referendar seus nomes no meio literário. Para tanto, reforçam o vínculo das
mesmas com às letras, primeiramente, pela origem familiar e, posteriormente pelas
atividades que exercem nesta área desde jovens. Outros recursos utilizados neste
sentido, são as menções que fazem a escritores que gozam de uma reputação literária e
106
que fazem parte das relações destas escritoras, seja ao nível da amizade, de
colaborações e intercâmbios literários, seja de forma indireta, principalmente pela
intennediação de escritores( as) conterrâneos que se transferiram para São Paulo e Rio
de Janeiro e, nestas regiões, divulgaram o nome das escritoras.
Também verificamos que entre os escritores e escritoras mencionados
podemos perceber urna relação de mútuo apoio e de reconhecimento recíproco. Além
de dedicarem poesias e trabalhos literários a todos os(as) escritores(as) que
mencionamos acima, também divulgam suas atividades literárias no Carimbo, como
notas informando sobre alguns dados pessoais dos mesmos, como viagens, casamentos,
nascimento de filhos ou em necrologias, como no caso de Damasceno Vieira, que após
sua morte, foi constantemente lembrado no periódico.
Assim corno na publicação de "retratos", também nos prefácios dos livros
das escritoras em questão, podemos perceber como estabeleciam relações com grupos
letrados de modo a favorecer o reconhecimento de sua atividade literária.
Apenas os seus primeiros livros foram prefaciados. O livro de crômcas
Folhas errantes, de Revocata Heloísa de Mello, com carta-prefácio de Múcio Teixeira,
publicado no Rio de Janeiro em 1882 e dois livros de Julieta de Mello Monteiro,
Prelúdios, com prefácio de Augusto Emílio Zaluar e Oscilantes, prefaciado por Luiz
Guimarães Júnior, ambos publicados em Rio Grande, nos anos de 1881 e 1892,
respectivamente.
Novamente vamos notar a importância da relação estabelecida por estas
escritoras com escritores que já gozavam de alguma reputação literária, especialmente
de escritores do Rio Grande do Sul que se transferiram para outras regiões.
Este é o caso de Múcio TeixeiraJ6_ O escritor, além de prefaciar o referido
livro de Revocata Heloísa de Mello, também possibilitou que o Prelúdios de Julieta de
16 Verbete publicado no índice de escritores organizado por Ari Martins: Teixeira, Múcio (Scoevola Lopes): P. Alegre. RS, J3 set. 1858; Rio de Janeiro, RJ, 8 ago. 1928. ( .. ) Est. no Colégio Vitória, Rio de Janeiro; e no Colégio Gomes, P. Alegre_ Soldado do Exército. tendo servido em Jaguarão. 1873-75 Diretor do jornalzinho A Conl}a. Jaguarão, 1875 Secretário do Governo de ES, Vitória, 1880-82. Redator da Gazeta de Noticias. Rio de Janeiro, 1884~85_ Cônsul geral do Brasil em Caracas, 1888-89. Diretor do Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 1890. Funcionário da Secretaria do Interior do RS, P_ Alegre
107
Mello fosse prefaciado por Augusto Emílio Zaluar, em função da relação de amizade
entre ambos. Segundo Múcio Teixeira, este escritor "podia, com o fogo sagrado de seu
gênio, preservar do gelo da indiferença pública todos os que se lhe aproximassem"
(Teixeira, Múcio, In: Mello, Revocata de, 1882).
Guilhennino Cesar já ressaltou como a transferência de alguns escritores
para o centro do país veio a favorecer os conterrâneos deste Estado. Fala da atuação de
Carlos Ferreira, escritor gaúcho com notoriedade nas letras e que, ao se transferir para
São Paulo, propiciou que o nome de alguns dos escritores deste Estado chegassem ao
centro cultural do país, como observa Cesar, "(. .. ) dispensando aos conterrâneos
afetuoso e próvido agasalho. Lobo da Costa deu-lhe a prefaciar as Lucuhrações, seu
livro de estréia; Múcio Teixeira, adolescente, recorreu por intennédio de Amália
Figueirôa ao bafeJO dnquele nome prestigioso" (Cesar, I 971, p. 215).
Deste trecho também podemos verificar que a relação entre Múcio Teixeira
e Revocata e Julieta de Mello é anterior às escritoras: vem desde a Sociedade Partenon
Literário ( 1869-79), com Amália Figueirôa, tia materna das mesmas.
Da mesma forma é o que observamos com outros escritores, como
Damasceno Vieira (1850-1910), Lobo dn Costa (1853-1888) e Carlos Ferreira (1844-
1913). Tais escritores ampararam sua relação com Revocata e Julieta de Mello também
a partir da origem familiar letrada destas escritoras.
Estes são referidos no periódico Carimbo, como também a eles são
dedicados alguns dos trabalhos literários das escritoras ou aparecem como preâmbulos,
ou textos iniciais que encabeçam seus trabalhos. Na publicação Folhas errantes, de
Revocata de Mello, consta um agradecimento a dois destes escritores, confonne o
trecho que segue:
Diretor do jornal F. Nova, P. Alegre, 1892-94. Redator do jornal A Bahia, Salvador, 1896-99; e de A Cidade do Rio, Rio de Janeiro, 1900. Fundador e diretor da Revista dos Estados, id .. Quando jovem, pertenceu ao Parlenon Literário, P. Alegre. Poeta, teatrólogo, critico, memorialista, tradutor e satirista. ( ... )" (Martins,1978, p. 578). Maiores informações quanto a atuação literária do escritor, constam em Guilhermino Cesar (1971).
!08
"Múcio Teixeira e Lobo da Costa- Dedicando aigwnas páginas de meu livro a estes dois eminentes poetas, verdadeiras glórias de minha querida província, fui levada primeiro, pelo sentimento de gratidão, àqueles que tantas vezes por meio da imprensa se têm lisonjeiramente ocupado da minha obscura pessoa; depois, pela amizade e profunda admiração que lhes voto." (Mello, 1882) [grifos nossos]
Neste trecho estão presentes elementos que já observamos em outras
citações semelhantes, e que, nas citações abaixo, tomam a aparecer. Trata-se
primeiramente do modo como ressaltam o mérito e a reputação literária dos escritores
mencionados, para, posteriormente, demonstar o vínculo pessoal estabelecido com os
mesmos, no caso, de "amizade" e "admiração", como também de "gratidão", em
decorrência do apoio e referendo aos seus nomes corno escritoras.
No caso de Lobo da Costan, encontramos mais algumas informações sobre
a relação estabelecida com Revocata e Julieta de Mello. Confonne Mozart Victor
Russomano, este escritor prefaciou um livro inédito de Julieta de Mello Monteiro,
Reflexos de minh'amLl, em 1878 (Russomano, 1990, p. 30). E, em !896, wna matéria
publicada no Corimbo, nos informa que será reeditada a obra Lucubraç·ões, de Lobo da
Costa, que originalmente foi prefaciada por Carlos Ferreira, como já observamos, e,
como homenagem póstuma, a sua reedição será prefaciada por Revocata e Julieta de
Mello. E, no Carimbo de maio de 1 887, encontramos uma referência ao mesmo
escritor, sobre seu estado de saúde:
"( ... ) Nós que conhecemos de perto o delicado poeta, que sagramos-lhe uma verdadeira estima, urna simpatia imensa, além da vêernente e estusiasmática admiração costumada a quem como ele possui a realeza do talento, não podemos deixar de bendizer o mteresse e dedicação daqueles que em seu beneficio lançam-se pressurosos a combater o arriscado bote da ingrata sorte." (Carimbo, v. 2, n° 22, maio de 1887) [grifos nossos]
17 Verbete publicado em Ari Martins: Costa, (Francisco) Lobo da: Pelotas, RS, 18 jul. I 853; Pelotas, 19 jul. 1888. (. .. )Fez o curso de alfabetização da Biblioteca Pelotense, Pelotas. Auxiliar do Cartório Neves, Pelotas, 1867. Redator de O Comércio, id. 1870. Fundador e diretor da revista Castália, id., 1870_ Redator do F.co do Sul, Rio Grande, 1872-73; de O Investigador, id., 1873; do Jornal do Comércio, Pelotas, 1876; fundador do jornal O Trovador, id.; redator do 11 de Junho, id., 1878; de A Tribuna, P. Alegre, 1883-85; edeAFronteira,DomPedrito ( .. )(Martins, 1978, p. 162-3).
109
Quanto às publicações de Julieta de Mello Monteiro, prefaciadas por
Augusto Emílio Zaluar e Luiz Guimarães Júnior, não conseguimos localizá-las. Mas,
através do Carimbo, podemos trazer alguns elementos que vêm reafinnar o que até
então constatamos. Como já mencionamos, o livro prefaciado por Augusto E. Za1 uar, o
foi por Intermédio de Múcio Teixeira; já quanto ao livro prefaciado por Luiz Guimarães
Júnior não encontramos infonnações que nos indicassem o modo como se deu o contato
entre ambos. No entanto, Julieta de Mello, faz várias homenagens a estes escritores,
como ilustra o trecho abaixo, sobre Augusto E. Zaluar:
"3 de abril Esta data marca um dia lutuoso para todos os homens de letras,
e principalmente para os que tiveram a ventura de conviver com Augusto Emílio Zaluar.
Faz cinco anos que deixou de existir o maviosíssimo cantor das Revelações', o distinto poeta das 'Dores e Flores'.
Nunca o vi, nunca tive a felicidade de falar-lhe, no entanto à par da grande admiração que sempre mereceu-me o seu explêndido talento, existe por ele na minh'alma um outro sentimento, esse chama-se gratidão. Quando tímida, receosa, apresentei ao público o meu pnmeiro volume de versos. foi Zaluar, o notável tradutor de 'Criação' quem protegeu-o com o seu aureolado e respeitável nome.
Jamais o esquecerei, pois que a essa circunstância devo sem dúvida o acolhimento que a imprensa e o público fizeram aos meus despretenciosos 'Prelúdios'.
Zaluar fora em extremo amável para com a débil cantora; a sua opinião porém foi respeitada.
Há fatos de verdadeiramente extraordinários e que são no entanto muito fatíveis na vida do homem, o que passo a contar pertence a esse número.
Idólatra pelas letras desde os meus primeiros anos, procurava com avide;; ler versos e ver se conseguia rimar. Minha mãe, essa santa criatura a quem idolatrei e a quem devo tanto e tanto, procurando animar os meus desejos, deu-me como presente de anos, quando completei creio que nove primaveras, um formoso livro de poesias.
Nele bebi as minhas primeiras inspirações, lia-o continuamente e quase que o sabia todo de cór. Esse conjunto de deliciosas harmonias intitulava-se 'Dores e Flores'.
Foi pois Zaluar meu primeiro mestre, e se é certo que a discípula não honrou-o, é também certo que foi sempre uma de suas mais ferventes admiradoras.
Ensinou-me a compor as primeiras estrófes e mais tarde apresentou-as ao público. Devo-lhe muito. Fiz-lhe versos, pranteei a sua morte, porém a lira foi ingrata e pouco disse em relação ao muito que eu
11 o
sentia. Rasguei os cantos. Admirei-o, presei-o, respeitei-o. Hoje venero a sua memória." (Monteiro, Juheta de M. Carimbo, v. 2, n' 21, abril de 1887) [grifos nossos]
O que se pode extrair deste texto já indicamos em outras ocasiões:
11gratidão" para com os escritores consagrados que apoiavam sua atuação na literatura,
engrandecimento destes escritores em contraste a humildade com que se apresenta
como escritora, destaque para a origem familiar letrada, etc. Acrescentamos, porém,
que neste caso, o que nos chamou a atenção é o fato de que, na falta de um vínculo
pessoal direto com o escritor, Julieta de Mello os cria. Ou seja, demonstra o modo como
este escritor estava presente em sua vida literária desde à intãncia, sendo o seu
"mestre".
Sobre Luiz Guimarães Júnior, por ocasião de sua morte, publicou-se um
número do Carimbo consagrado ao escritor, com o cabeçalho "Ao poeta dos Sonetos e
Rimas", no qual constam duas frases do autor em defesa da educação da mulher. Do
mesmo modo, os três artigos publicados sobre o escritor, da autoria de Julieta de M.
Monteiro, Revocata H. de Mello e Ignez Sabino (São Paulo) ressaJtam-no como um
lutador ao lado das mulheres.
No artigo de Ignez Sabino ela demonstra a relação pessoal com o referido
escritor, mencionando também a correspondência entre ambos, sendo sua última carta
um incentivo para a escritora continuar a sua labuta nas letras. Quem sabe o contato das
redatoras do Carimbo com o escritor não se deu através de lgnez Sabino, que, a partir
de 1888 envia aJguns de seus trabalhos para serem publicados no periódico?
O artigo de Julieta de M. Monteiro ocupa toda a primeira página deste
número do periódico. Primeiramente critica a imprensa diária por pouco noticiar a
morte de Luiz Guimarães Júnior "que arrancou da lira as mais soberbas hannomas
rimadas, que possui o nosso querido Brasil". O escritor é elogiado com diversos
qualificativos como "gênio", "espírito superior", "talento privilegiado", etc. Encerra
indicando-nos o contato estabelecido com o escritor, provavelmente referindo-se ao
prefácio por ele escrito para o seu livro: "São estas singelas linhas, um pálido reflexo do
111
que sente nosso coração./ São um preito humilde, muito humilde mesmo, que
tributamos a quem tanto nos merece e a quem devemos palavras tão lisorijeiras, tão
generosas, que jamais esqueceremos" (Carimbo, v. 15,0° 96,19 de junho de 1898).
Para concluir, novamente esclarecemos que a análise aqui realizada tem um
objetivo muito específico: apenas procuramos evidenciar alguns elementos que teriam
contribuído para o reconhecimento de Revocata H de Mello e Julieta de M. Monteiro
como escritoras. Para tanto, nos baseamos nas considerações da segunda seção do
primeiro capítulo, quando ressaltamos, principalmente, a importância das relações
recíprocas entre escritores de forma a possibilitar um apoio e reconhecimento mútuo
entre eles. Na presente seção, verificamos que as escritoras de que estamos tratando
souberam se movimentar nos grupos letrados de modo a se valerem destes mesmos
princípios para obterem wna aceitação literária. O grau de consciência ou de ação
deliberada que cercou estas suas práticas é algo que escapa a nossa possibilidade de
pesquisa neste trabalho. Por outro lado, devemos levar em consideração que, do que
observamos sobre o funcionamento e organização da "vida literária", estas diversas vias
pelas quais os( as) escritores( as) obtinham seu reconhecimento literário, de uma forma
geral, estavam fundamentadas no próprio modo de organização desta esfera das letras.
Observamos também que Revocata e Julieta de Mello justificaram sua
atividade literária, por um lado, como uma "vocação" herdada e, por outro, através da
valorização das diversas atividades que estavam desenvolvendo nas letras (publicação
de livros, atividades na imprensa e no magistério). Assim, são literários os motivos nos
quais ampararam sua atuação nas letras. Deste modo, não poderíamos incluir estas
escritoras no que foi caracterizado na terceira seção do primeiro capítulo, sobre a
justificativa da atividade literária feminina a partir de motivos extraliterários ligados à
condição de "mulher": porta de evasão para os sentimentos femininos, necessidade
econômica ou como extensão das atividades femininas no lar.
2. 3 0 CORJMBO COMO UM VEÍCULO DE ATUAÇÃO LITERÁRIA DE
ESCRITORAS
Na seção anterior procuramos demonstrar o modo como o periódico
Carimbo passou a ser apresentado e reconhecido como um empreendimento literário e
suas redatoras como escritoras. Nesta seção, nos detivemos na relação do Corimbo com
a atuação literária de escritoras, o que será analisado a partir de quatro aspectos:
primeiramente, o modo como tal periódico, ainda que de forma implícita, colocou-se
como um empreendimento literário feminino. Em um segundo momento, analisamos
algumas relações estabelecidas entre escritoras brasileiras, no sentido da sua
organização e articulação em uma espécie de rede de mútuo apoio. Nos interessamos
em analisar, especificamente, a abrangência deste intercâmbio de escritoras e em que
estaria fundamentado. Um terceiro aspecto, refere·se ao modo como as escritoras e sua
atividade literária são referenciadas no periódico que estamos analisando. Por fim,
analisamos a relação entre as escritoras que publicaram no Carimbo e as reivindicações
veiculadas neste periódico a respeito dos direitos sociais e políticos das mulheres.
2. 3. 1 O Corimóo como um empreendimento literário feminino
Não encontramos, no Carimbo, nenhuma referência clara e direta que o
apresente como um periódico de escritoras, destinado às mulheres ou mesmo como um
periódico feminista. Ao contrário, enfatiza mais o seu vínculo à literatura, como um
periódico dedicado ao "progresso das letras", "como uma publicação consagrada às
letras".
113
No entanto, em um exame mais atento, percebemos a presença de alguns
elementos que, inter-relacionados, nos levaram a caracterizá-lo corno um
empreendimento literário feminino.
Um primeiro indício neste sentido é o modo como, em alguns momentos, o
Carimbo é apresentado como uma propriedade de mulheres. É o que podemos observar
no trecho abaixo, extraído de um artigo comemorativo ao aniversário do periódico, no
qual suas redatoras descrevem as dificuldades para as publicações deste gênero, que,
com freqüência, não duram muitos exemplares ...
"É por isso que sentimo-nos jubilosas ao transpor o nosso semanário o seu décimo quarto ano de vida laboriosa e digna, mostrando aos incrédulos no trabalho da mulher, que ela como o homem pode em querendo empreender, caminhar e vencer obstáculos." (Corimho, v_ 13, n° 34,25 de outubro de 1896) [grifo nosso]
É o que também transparece em um artigo informativo sobre o n ]0
Congresso Feminista", realizado no Rio de Janeiro em 1923, quando as redatoras do
Corimho congratulam-se com este evento em função de ser o periódico um "órgão de
Imprensa dirigido por espíritos femininos" (Corimho, n° 214, 31 de janeiro de 1923).
Da mesma forma, encontramos alguns artigos, da autoria de escritores deste
Estado, referindo-se ao periódico como uma publicação feminina ou dedicada aos
interesses da mulher: "órgão legítimo dos interesses da mulher riograndense de sul" e
"máximo expoente da cultura feminina em terras do Rio Grande" (Cruz, Milton da.
Carimbo, no 106, 15 de abril de 1918; Victória, Guerreiro. Corimho, n° 164, 15 de
novembro de 1920).
Estes trechos acima, extraídos de contextos diferentes, têm em comum o
fato de relacionarem o periódico à figura da mulher, tendo em vista que, por um lado, é
dirigido por mulheres e, por outro, porque veicula algumas questões no campo dos
direitos das mulheres.
114
Com esta temática dos direitos sociais das mulheres encontramos vánas
publicações no Corimbo, do início ao final do período consultado (1885-1925),
principalmente assinadas pela redação do periódico e por escritoras. Adiante, no item
2.3.4 desta seção, vamos tratar com maior atenção tais publicações, com a intenção de
demonstrar o vínculo das escritoras com estas lutas sociais que reivindicam a igualdade
entre homens e mulheres. Para efeitos dos objetivos desta parte, apenas destacamos que
este conteúdo contribuiu para um reconhecimento do periódico como um "órgão
legítimo dos interesses da mulher", como observamos acima.
Outro aspecto que nos levou a analisá-lo como em empreendimento literário
feminino, e agora de uma forma mais contundente, refere-se ao modo como nele estão
presentes as escritoras. Primeiramente pelo significativo número de escritoras que
colaboravam no periódico: encontramos 124 escritoras no período de 26 anos de
consulta, de modo que, em muitos números, as publicações de escritoras ocupam uma
proporção destacada e, por vezes, o periódico veicula quase unicamente colaborações
femininas. Em segundo lugar, seu caráter de empreendimento literário feminino se
evidencia por divulgar a produção das escritoras, sejam de trabalhos esparsos no
periódico, sejam os livros que publicaram, comentados e recomendados pelo periódico.
Em terceiro, por publicar escritoras de diversas regiões do país, algumas das quais
tornaram-se colaboradoras assíduas do periódico. E, por fim, pelas diversas relações
estabelecidas entre as escritoras que estavam em contato com o periódico, de forma a se
apoiarem mutuamente.
Nos itens seguintes vamos descrever e analisar as diversas situações que
conseguimos identificar com este caráter.
A partir das observações acima, consideramos a atuação do Corimbo como
um empreendimento literário feminino. Salientamos, no entanto, que o periódico,
enquanto wna publicação literária, deve ser entendido, antes de mais nada, a partir de
seu vínculo com a literatura. Dito de outro modo, com estas considerações não estamos
enfatizando o caráter feminino do periódico, mas sim, que o mesmo se trata de uma
publicação literária que envolve, de uma forma específica, as escritoras.
115
2. 3. 2 A organização e articulação de escritoras em uma rede de mútuo apoio
Na seção anterior demonstramos como as redatoras do periódico Carimbo
estabdeceram relações com grupos letrados de forma a favorecer o seu reconhecimento
literário. Destacamos, com base nas considerações sobre o modo de organização e
funcionamento da literatura de uma forma geral, a presença de relações de mútuo apoio
e inter-reconhecimento entre pares.
Neste item, realizamos algo semelhante para tratar das relações
estabelecidas entre escritoras. Não que a relação estabelecida com escritores e com
escritoras estejam separadas, justificando a sua abordagem em seções distintas,
contudo, verificamos alguns aspectos específicos das relações estabelecidas entre
escritoras, principalmente porque, ao que nos pareceu, as escritoras não atuavam na
literatura de uma forma igualitária em relação aos homens, de forma que a articulação e
organização das mesmas poderia favorecer a aceitação da atividade literária quando
exercida por mulheres, como veremos adiante.
Inicialmente, destacamos alguns elementos que são indicativos de um
intercâmbio realizado entre escritoras brasileiras!.
Observa-se a realização de uma permuta a partir dos periódicos editados por
escritoras de diversas regiões do Brasil, compreendendo tanto a troca de periódicos
como de artigos ou publicações literárias.
Este aspecto foi observado nos estudos que consultamos sobre 11imprensa
feminina", demonstrando que estas não foram publicações isoladas, mas um fenõmeno
social que abrangeu várias regiões e propiciou o contato entre as escritoras. Assim,
Maria Thereza Caiuby Crescenti Bemardes nos informa que as 11jomalistas" e escritoras,
para desenvolver seus trabalhos, "fonnavam gruJXJs variados nos jornais, desde os de
discussão da matéria a ser publicada até os mais amplos abrangendo colaboradoras que
moravam longe da Corte. Mantinham também articulação com outros periódicos,
1 Também encontramos referências à escritoras portuguesas: Anna de Castro Osório e Maria Amália Vaz de Carvalho, e a uma escritora espanhola, Eva Canel.
116
alguns deles femininos, que muitas vezes faziam menção a suas atividades" (Bernardes,
1989, p. 112)[grifo nosso].
Deste modo, podemos encontrar publicações de Revocata e Julieta de Mello
e referências ao Carimbo em periódicos editados por escritoras de outros Estados, como
é o caso da revista A Mensageira, de São Paulo e de publicações do Rio de Janeiro.
Segundo nos infonna Maria Fernanda Baptista Bicalho, Revocata de Mello está entre as
colaboradoras mais assíduas dos "jornais femininos" do Rio de Janeiro (Bicalho, 1988,
p. 11 ).
Assim como encontramos publicações de Revocata Heloísa de Mello e
Julieta de Mello Monteiro em periódicos de outras regiões, também encontramos no
Cor;mho publicações de editoras de periódicos deste e de outros Estados, entre estas,
estão: Anália Franco, proprietária do periódico Álbum das Meninas, de São Paulo;
Andradina de Oliveira, do periódico Escrinio, deste Estado; Maria Lacerda de Moura,
do periódico Renascença, de São Paulo e Edwiges de Sá Pereira, Luiza Ramalho e
Úrsula Garcia, colaboradoras do periódico O Lírio, de Pemambucol.
Também encontramos referência à Revista Feminina, de São Paulo.
Segundo Sônia de Amorim Mascaro, neste periódico consta como colaboradora, do R10
Grande do Sul, a escritora Lygia Marques, com o pseudônimo Sybilla Schans.
Pensamos, inicialmente, tratar-se de Revocata H. de Mello, pois um dos seus
pseudônimos é Sybilla, mas não encontramos evidências que demonstrem ser a mesma
pessoa. De todo modo, o Carimbo registra a existência de uma permuta com a Revista
Femmina (Mascaro, 1982, p. 137).
Esta permuta entre periódicos de diversas regiões propiciou a divulgação
destas publicações para além de sua cidade de origem, a exemplo do periódico
Renascença, de São Paulo, anunciado no Corimbo, que fez propaganda do mesmo e
informou o valor de suas assinaturas, que poderiam ser efetuadas em seu escritório, e,
posterionnente, continuou a fornecer informações sobre este periódico a partir das
2 Como anexo I, consta um quadro informativo sobre estes periódicos.
117
correspondências recebidas de sua fundadora, Maria Lacerda de Moura, indicando
mudanças na redação e o seu término, sendo que não durou muitos exemplares
(Corimbo, n" 215, 15 de fevereiro de 1923 e seguinte)'.
No âmbito das relações estabelecidas entre escritoras, estas publicações
favoreceram o contato entre as mesmas, possibilitando uma identificação dos grupos
literários femininos atuantes em vários Estados, constituindo-se, deste modo, como uma
referência para as escritoras.
No caso do Carimbo, percebemos que este aparece como uma referência
para as "letras femininas" neste Estado, de forma que algumas escritoras, quando em
viagem ao Rio Grande do Sul, visitaram este periódico e suas redatoras, fortalecendo
assim seu contato literârio. Este foi o caso da escritora Júlia Lopes de Almeida4, do Rio
de Janeiro, que, além da visita para Revocata e Julieta de Mello, recomendou a leitura
do Carimbo em suas conferências realizadas neste Estado, elogiando ambas escritoras
(Carimbo, n" 113, 31 de julho de 1919). Foi também a partir do Corimbo que se
estabeleceu uma relação entre suas redatoras e escritoras portuguesas. Através da visita
de Anna de Castro Osório, o Carimbo passou a realizar uma pennuta com o periódico A
Semeadora, de Lisboa, redigido por Anna de Castro Osório e Maria Luz e,
posterionnente, ambas publicaram no Carimbo (Carimbo, n° 212, 31 de dezembro de
1922)
Neste mesmo sentido, também constam correspondências ao Carimbo
solicitando materiais sobre as escritoras e suas atividades literárias no Rio Grande do
Sul, como é o caso de Maria D. Lobo, proprietária do periódico A Violeta, de Cuiabá, e
da escritora Carmen Unzer, do Rio de Janeiro (Carimbo, n° 61,30 de setembro de 1920
e n' 89,30 de julho de 1917).
3 Sobre esta escritora, consultar Leite (1984).
4 Júlia Lopes de Almeida é innã da também escritora Adelina Lopes Vieira e mãe de Margarida Lopes de Almeida, que também visitou as redatoras do Carimbo em sua estada no Rio Grande do Sul, onde realizou declamações de poesias.
!!8
Como colaboradoras nestes periódicos encontramos escritoras que parecem
ser nomes neles recorrentes, como demonstram os estudos sobre "imprensa feminina".
No Carimbo, constam publicações de escritoras que tiveram algum destaque em âmbito
nacional, entre estas: Aldina Corrêa (Curitiba), Anna de Castro Osório (Portugal),
Aurea Pires (Minas Gerais), Auta de Souza (Rio Grande do Norte), Delminda Silveira
(Florianópolis), Eva Canel (Espanha), Francisca Izidora (?), Ida Schloenbach (São
Paulo), lgnez Sabino (São Paulo), Júlia Cortines (Rio de Janeiro), Júlia Lopes de
Almeida (Rio de Janeiro), Marianna Coelho (Curitiba), Narcisa Amália (Rio de Janeiro)
e Rosa! i na Coelho Lisboa (?). Como anexo 4, apresentamos um quadro com todas as
colaborações de escritoras para o Carimbo, no período de 1885 a 1925, onde constam
mais informações sobre estas publicaçõess.
Esta variedade de Estados mencionados são um indício da própna
abrangência do intercâmbio entre as escritoras que contemplou também outros países,
especialmente no caso de escritoras que estiveram no Brasil, como Anna de Castro
Osório e Eva Canel.
Até o momento procuramos enfatizar o intercâmbio realizado entre
escritoras brasileiras, principalmente a partir de periódicos fundados pelas mesmas.
Mencionamos brevemente que este intercâmbio contribuiu para a divulgação dos
periódicos e das escritoras, como também propiciou uma identificação dos grupos
letrados femininos atuantes em várias regiões do Brasil.
A seguir, apresentamos mais alguns dados com a intenção de demonstrar
que as diversas formas de contato entre escritoras brasileiras nos indicam que as
mesmas estavam organizadas e articuladas em uma espécie de rede de mútuo apoio,
baseada em um inter -reconhecimento entre pares.
'i Neste anexo, a coluna "estilo" corresponde a uma breve identificação da publicação para efeitos de nossa catalogação. Chamamos de "prosa literária" os textos em prosa com motivos literários, como "felicidade". "amor", "esperança", etc_ Esclarecemos também que não foi possível inserir a numeração de página e o título do anexo, tendo em vista ser uma consulta ao Banco de Dados ACCSSES, ao qual não estamos familiarizadas quanto aos recursos de impressão.
119
As escritoras constantemente fazem referências mútuas, de forma a
identificar seus pares, no caso, mulheres com atuação nas letras.
Um dos momentos em que se manifesta esta mútua referência é na
dedicatória de poesias e outras produções literárias oferecidas entre as escritoras, tanto
publicadas no Carimbo, como em alguns livros a que tivemos acesso. No caso do
Carimbo, sobressaem as dedicatórias para as redatoras. Nos livros de Revocata Heloísa
de Mello e Ju1ieta de Mello Monteiro que conseguimos localizar, algumas das
publicações (poesias e contos) são dedicadas à escritoras, como Delminda Silveira,
Anna Aurora do Amaral Lisboa, Marianna Coelho, Anna de Castro Osório, Eva Canel,
1gnez Sabino, Andradina de Oliveira, Ibrantina Cardona, Cândida Fortes Brandão,
Francisca Izidora e Presciliana Duarte de Almeida (Monteiro, 1924-28; Mello e
Monteiro, 1911 )'.
Consultamos também o livro Preludiando: contos dedicado:~ às escritoras
brasileiras, de Andradina de Oliveira, publicado em 1897. Este livro foi localizado na
Biblioteca Rio-Grandense, de Rio Grande, e provavelmente trata-se de uma doação de
Revocata e Julieta de Mello, uma vez que o mesmo está com uma dedicatória a estas
escritoras7. Como o título já indica, a autora dedica seus contos à escritoras brasileiras,
sendo mencionadas, além das redatoras do Corimbo, as escritoras lgnez Sabino,
Carolina von Koseritz, Ibrantina Cardona, Cândida Abreu, Júlia L. de Almeida, Adelina
L. Vieira, Anna Aurora do Amaral Lisboa, Zamira Lisboa, Carlota do Amaral Lisboa,
Zalina Rolim, Cândida Fortes, Narcisa Amália, Francisca Júlia da Silva, Anália Franco,
Áurea Pires, Josefina A. de Azevedo, Delminda Silveira, Presciliana Duarte, Adélia J.
6 A próposito das obras de Revocata e Julieta de Mello, estamos nos referenciando em publicações já do século XX. Localizamos ainda a obra Folhas e"antes, de Revocata, publicada em 1882, prefaciada por Múcio Teixeira, onde predominam as dedicatórias aos escritores gaúchos Damasceno Vieira, Carlos Ferreira, Múcio Teixeira e Francisco Lobo da Costa e às escritoras da família, como sua mãe, irmã e tia, além de alguns familiares, como o cunhado e innãos. Já mencionamos esta obra no capitulo anterior como um demonstrativo do modo como as escritoras mobilizaram relações com grupos letrados de forma a ingressarem neste meio como escritoras. Se compararmos esta publicação com as posteriores, que mencionamos acima, vamos notar que as referências às escritoras foram, gradualmente, sobressaindo-se em relação aos escritores.
7 Dedicatória: "À mimosa redação do primoroso e adorável Corimbo, como uma sincera homenagem de admiração, amizade e gratidão."
120
de Castro Fonseca, Maria Ribeiro de Menezes, Lilia Araújo, Honorina Torres, Julieta
Felizardo Leão, Francisca Clotilde, Luiza Amélia, Ana Nogueira e Elvira Gama.
Outro exemplo significativo neste sentido é um anagrama de Andradina de
Oliveira enviado ao Corimbo. O anagrama, com o título "ilustres poetisas", toma por
base o nome Revocata de Mello para referenciar as seguintes escritoras: Elvira Gama,
Adelina Vieira, lgnez Sabino, lbrantina Cardona, Cândida Abreu, Cândida Fortes, Anna
Aurora, Adelina J. de C. Fonseca, Áurea Pires, Narcisa Amália, Delmínda Silveira,
Zalina Rolim,. Francisca Júlia da Silva e Julieta Monteiro (Carimbo, v. 14, s/n°, }0 de
agosto de 1897).
Também nos necrológios de escritoras publicados no Carimbo transparece
esta mútua referência Foram publicados os necrológios das seguintes escritoras: de
Ignez Sabino, enfatizando que esta "distinta autora das Mulheres ilustres do Brasil, das
Lutas do coração, Noites Brasileiras e tantos outros importantes trabalhos que lhe
granjearam a admiração dos homens de letras e lhe abriram as portas do Instituto
Histórico e Geográfico de Pernambuco, colaborou assiduamente, durante anos neste
quinzenário ... " (Corimbo, n" 28, 31 de dezembro de 1914); de Anália Franco,
salientando que "tivemos a grande honra de manter correspondência com a brilhante
escritora e notável batalhadora do Bem e possuímos por Ella enviada, a belíssima
coleção de sua útil e encantadora publicação O álbum das menina.•/ (Carimbo, n° 125,
28 de fevereiro de 1919); de Francisca Júlia da Silva, quando diz que ''em nosso mundo
das letras, feminino, o golpe foi pesado" (Carimbo, n" 164, 15 de novembro de 1920);
da escritora portuguesa Maria Amália Vaz de Carvalho, apresentada como uma "das
maiores sumidades nas letras de seu tempo" (Corimbo, n" 174, 30 de abril de 1921) e da
escritora gaúcha, Cândida Fortes Brandão, "apreciadíssima literata que também atuou
no magistério", informando que a mesma foi colaboradora do Corimbo e que este
periódico tem em sua estante a obra Fantasia, "oferecida pela simpática cultora das
letras" (Conmbo, n• 209, 30 de novembro de 1922) [grifos nossos].
Observa-se, nestes necrológios, o modo como a experiência literária das
escritoras é valorizada e engrandecida, assim como a sua importância para a literatura
121
de uma fonna em geral. Os necrológios também exemplificam a mútua referência entre
escritoras. No caso, destaca-se principalmente a relação com o Carimbo e suas
redatoras, procura demonstrar o vínculo literário que une as escritoras, seja através da
colaboração neste periódico, da troca de correspondências ou envio de livros. Deste
modo deixam claro que fazem parte de um mesmo grupo social, são as escritoras.
Outro indício da articulação e organização das escritoras em uma rede de
mútuo apoio, baseada em um reconhecimento recíproco, são os índices, antologias ou
dicionários de escritoras, organizados pelas mesmas. Tais publicações são destacadas
no periódico que analisamos, que, por vezes, reproduz alguns destes trabalhos,
especialmente quando se referem à escritoras do Rio Grande do SuL Tal é o caso do
livro Mulheres ilustres do Brasil, de Ignez Sabino, transcrevendo os verbetes relativos
às escritoras Delfina Benigna da Cunha e Maria Benedita Câmara de Bonnann
(Carimbo, v. 16, n' 1!0, I' de março de 1899 e v. 16, n' 133, 15 de fevereiro de 1900).
Também menciona o índice organizado pela escritora Andradina de Oliveira, A mulher
rio-grandense: escritoras mortas, reproduzindo a biografia de Amália Figueirôa
(Carimbo, n' 205, 31 de agosto de 1922).
Heloísa Buarque de Hollanda, que recentemente organizou um dicionário
intitulado l!;nsaístav brasileiras, faz wn breve apanhado das primeiras publicações neste
gênero, entre fins do século passado e inícios do presente século. Menciona,
inicialmente, o livro Mulheres ilustres do Brasil, destacando o prefácio da autora Ignez
Sabino, que ''apresenta-o como uma obra que pretende, através da criação de um
'código de simpatia' (sic), fazer justiça ao trabalho das mulheres, registrá-lo e criar uma
articulação entre as produtoras" (Hol!anda, 1993, p. 13).
É o que transparece no periódico que estamos analisando, demonstrando a
existência desta rede de relações entre as escritoras, que, por vezes, deu-se a partir de
contatos pessoais, como a relação estabelecida entre as redatoras do Carimbo e a
escritora gaúcha Andradina de Oliveira e Anna de Castro Osório, de Lisboa. Esta última
escritora, em sua viagem ao Brasil, visitou Revocata e Julieta de Mello e,
posteriormente, publicou uma coletânea das conferências que realizou neste país. Este
122
livro, intitulado A grande aliança, segundo as redatoras do Carimbo, corresponde à
aliança entre estes dois países, Portugal e Brasil, na qual as mulheres brasileiras ocupam
um lugar de honra. E, adiante, agradecem a forma distinta com que menciona o
Carimbo e as suas redatoras, como "poetisas, escritoras e jornalistas combativas". Tais
designações "partidas de individualidades da têmpera intelectual da excelsa escritora
lusitana, quando vindas de penas festejadíssima como aquela de que tratamos, honram
sobremaneira e equivalem a um atestado valioso sancionado por mão de mestre".
Também mencionam outras escritoras brasileiras que são citadas no livro e que são
colaboradoras do Carimbo: Andradina de Oliveira, Anna Aurora, Marianna Coelho,
Maria Lacerda de Moura e Anna Cesar. Por fim, informam que este livro poderá ser
encomendado no escritório do Carimbo, que se encarregará "de mandar vir os
exemplares pedidos, visto que A grande aliança não está à venda nesta cidade, e o
desejo de adquirí-la deve importar a muitos" (Carimbo, no 260, 23 de janeiro de 1925).
Heloisa Buarque de Hollanda, no mesmo livro que mencionamos acima, ao
analisar estes índices, dicionários e antologias de escritoras, observa que tais
publicações evidenciam uma "preocupação com a lógica do silenciamento na
construção da série literária, marcando uma tendência, de claro acento político, em
denunciar e tentar romper com a estigmatização da presença feminina na literatura".
Deste modo, manifestam uma "reivindicação, para si, do direito de classificar, ou seja,
de intervir na própria lógica estrutural da constituição do cânone literário, CUJOS
critérios de exclusão e de inclusão, de valor e legitimidade, são dados tidos como
naturais e determinados por uma tradição histórica milenar e inquestionável"
(Hollanda, 1993, p. 13-16).
Estas observações vão ao encontro do que evidenciamos no Carimbo,
principalmente na obra A grande aliança, na qual podemos perceber o modo como as
escritoras referem-se mutuamente, tecendo elogios recíprocos, como uma forma de
valorizar sua atuação literária. Neste mesmo sentido, nota-se também que Revocata e
Julieta de Mello aproveitam para mencionar outras escritoras brasileiras que,
igualmente, lançavam-se em atividades literárias. Esta mesma observação fizemos em
123
relação a outros artigos publicados no Carimbo, que, com muita freqüência mencionam
o nome de escritoras como que em uma cadeia de nomes, onde um nome puxa outro, e,
não raro, falam do "mundo literário feminino", do "meio intelectual feminino" ou da
11Íntelectualidade feminina brasileira".
Tais questões nos levaram a pensar se a organização e articulação das
escritoras em uma rede de mútuo apoio seria uma forma de buscar a valorização da sua
atividade literária, e, deste modo, propiciar sua integração à literatura ou, o que nos
pareceu um pouco diferente, uma forma de organização paralela e em separado da
"literatura institicional", o que, em certa medida, poderia ser uma explicação para a
constituição de Academias Femininas de Letras.
No entanto, a fonte que utilizamos não é suficiente para dirimir uma
questão desta ordem, de forma que nos limitamos a descrever alguns elementos que
apontam para a articulação de escritoras em uma rede de mútuo apoio, sendo que neste
aspecto são muitas as infonnações contidas no Carimbos.
Como procuramos demonstrar, a organização e articulação de escritoras
manifesta-se no periódico analisado, tanto nas obras das escritoras como nos índices e
dicionários bio-bibliográficos por elas organizados. Observamos também que o apoio
mútuo e o reconhecimento recíproco como escritoras foram elementos essenciais em
suas relações.
Neste mesmo sentido, cabe ainda destacar dois aspectos. Um pnmetro,
relativo à divulgação das produções literárias femininas, principalmente das
publicações de livros e, um segundo, que se refere a publicação de alguns artigos, no
Carimbo, CUJO conteúdo aborda a própria atuação literária das escritoras. Ambos
aspectos reforçam o caráter deste periódico em especial como um veículo de atuação
literária de escritoras, ou seja, como um espaço tanto para a divulgação de suas
8 Neste sentido, seria interessante um estudo hístórico e sociológico sobre a formação da Academia Brasileira de Letras e de Academias de Letras Femininas, em sua relação com as escritoras. Talvez a partir de um estudo desta abrangência, em àmbito nacional, se possa esclarecer um pouco mais o processo de inserção de escritoras na literatura.
124
produções como para manifestarem sua opinião sobre a atividade literária realizada por
escritoras.
A divulgação das publicações de escritoras fez-se, principalmente, a partir
de obras que foram enviadas ao Carimbo. Sobre estas obras o periódico publicou
críticas literárias, alguns excertos e a recomendação de sua leitura. É o caso de Violetas,
livro de poesias de Maria Helena Câmara de Andrade Pinto (Carimbo, v. 3, no 27,
outubro de 1887) e do Rimas sem metro, de Antonieta Lisboa Saldanha (Carimbo, n°
109,31 de maio de 1918), ambas do Rio Grande do Sul, e do livro Flocos de Neve, de
Áurea Pires, que ''é prefaciado pela nossa distinta colaboradora a festejada literata
fgne= Sabmo" (Carimbo, v. 17, n' 137, 15 de abril de 1900). Também menciona obras
de Maria Lacerda de Moura e Marianna Coelho, publicando excertos das mesmas. Da
primeira, transcreve trechos do livro Renovação, wn capítulo sobre 'jornalistas,
escritoras, poetisas e artistas brasileiras", no qual são mencionadas escritoras do Rio
Grande do Sul, entre as quais Revocata e Juheta de Mello (Carimbo, n" 162, 15 de
outubro de 1920 e seguinte). Desta mesma autora, publica algumas conferências: A
mulher brasileira e os problemas sociais e A fraternidade e a escola, divididos em
vários exemplares do periódico, entre abril de 1922 e outubro de 1923. De Marianna
Coelho, reproduz trechos da obra A evolução do feminismo, nos exemplares de janeiro e
setembro de 1925. [grifos nossos]
Também encontramos no Carimbo alguns artigos que tratam da atuação das
escritoras na literatura, sob diferentes enfoques. Entre estes, estão: "Confabulando" de
Delminda Silveira, de Florianópolis, no qual descreve sua experiência pessoal como
escritora, sob a forma de uma crônica em que estabelece um diálogo com sua "pena"
(no sentido de caneta ou instrumento que serve para escrever) (Carimbo, n° 130, 15 de
maio de 1919); "A ação da mulher na imprensa", por Marianna Coelho, de Curitiba,
mencionando diversas formas de atuação da mulher na imprensa a partir de exemplos
de outros países ( Corimho, n° 158, 1 5 de agosto de 1920); o artigo "Conferência sobre a
educação da mulher brasileira, realizada pela Presidente da Legião da Mulher
Brasileira, Anna Cesar, em Porto Alegre", onde um dos temas é a descrição do ingresso
125
da escritora sul-riograndense na literatura (Carimbo, n° 187, 30 de novembro de 1921).
Neste mesmo sentido, está o artigo "Na arena", de Ignez Sabino, o qual vamos
transcrever e comentar adiante, principalmente por condensar algumas das questões que
estão presentes em diversas publicações de escritoras no periódico que analisamos.
Enfim, são vários os indícios que nos infonnam que algumas das principais
escritoras brasileiras, entre fins do século XIX e início do presente século, mantinham
um intercâmbio, que funcionava como uma espécie de rede, na qual se envolveram
escritoras de diferentes Estados, buscando um apoio mútuo e também um
reconhecimento recíproco de suas atividades literárias. Neste sentido, os periódicos por
elas editados constituirarn-se como uma importante referência para a própria
identificação dos grupos letrados femininos e para a divulgação de suas produções,
como observamos a partir do caso do Carimbo.
A seguir, procuramos identificar quais os elementos, mencionados pelas
próprias escritoras, que estariam fundamentando sua organização e articulação em uma
rede de mútuo apoio. Para tanto, selecionamos um texto em especial, a partir do qual
apresentamos algumas considerações sobre esta questão. Trata-se do artigo "Na arena"
de Ignez Sabino que mesmo sendo uma citação bastante longa, consideramos
importante, uma vez que reúne questões que foram colocadas em outros artigos
publicados no Carimbo.
"Na arena Disse já eu algures, que à mulher brasileira estava reservada
uma grande missão na sociedade, desde que a mesma se convencesse que, embora tenha talento, contudo é preciso estudar e dispor-se a criar desafetos, ao sentir vocação para as letras. Já que lhe são abertas as portas da sociedade, assim também devem-lhe ser abertas as portas da Imprensa.
Ora, quando eu me refiro a essas senhoras excluo delas as 'Basbleu', que querem à forciori escrever, fazendo um grande esforço e afinal nada saindo que preste. Eu refiro-me à mulher talentosa, que busca ter um nome, que o alarga por necessidade de espírito.
Sei, que apesar de inteligente, embaraça-a um certo medo de arrastar preconceitos que superabundam em desfavor da mulher -intelectual, atirando sobre a mísera um punhado de mventivas, de apodos, pelo simples fato de pegar a desgraçada da pena, e dizer o que pensa, sobre isto ou aquilo. Os homens temem-na. Será porque os avassále? ...
126
Não! ... eles temem-na porque ela, com a verdade e o raciocínio, o convencerá dos erros; se constituirá em êmula, será senhora do mundo da publicidade quanto é do lar doméstico. É só por isso, sim! ...
Eu, sei, desgraçadamente, por experiência, que quando se tem mérito, quando se sai do chatismo e da vulgaridade, a mofa dos pequenos 'parvenw/ literários cai como vespas ameaçando destruir o esforço.
Mas ... ainda assim, há quem despreze os inimigos continuando a trabalhar, compreendendo que a vida deve ser mais suave, desde que o Ideal com o poder da sua graça, faça do belo, a estrela dos estepes da existência.
A mulher que cultiva as letras, que se ajoelha ante o belo, afina os sentimentos tem mais suscetibilidade, sente a alma mais propensa ao bem, tomando assim aliada, a Moral, amiga indispensável que cicia ao ouvido o segredo da virtude, que eleva às culminâncias do sublime os arroubos do amor, fazendo-se honesta pelo espírito~ não corrompendo-se na lama da sensualidade.
A sociedade pois, desde que ela tenha talento, desde que o prove, só tem à lucrar. O talento, não é um crime ele, numa mulher superior, é, para os próprios colegas uma planta exótica que deve ser abandonada ao calor das estufas, medrando e florindo somente em favor do lar.! Acaso seus filhos, os heróis de um dia, os patriotas de amanhã, não precisarão da luz preclara da sua inteligência? Não será isso uma quase virtude, uma obrigação maternal? E, o cérebro da mulher, acaso não poderá comportar um ceitil de esforço, wn átomo de vontade, servindo por intermédio da pena ao bem estar do seu país?
A filosofia da razão é muito clara: já não estamos na época em que ela não passava de simples máquina de reprodução da espécie, e a servir de escrava ao marido e aos filhos, fechada como wna asiática, entre as paredes do poder marital.
A influência da mulher útil pelo cérebro, torna~se precisa a mais e mais. Do que servem então os três predicados sociológicos: - Liberdade, Igualdade e Fraternidade? Acaso entre nós os teme a mulher? ...
* • •
Grande Deus! ... se ela lembra-se de subir à tribuna: - é utopista, se estuda medicina: -já não tem pudor, se faz-se dentista é plena faceirice, e se escreve: - horror./ ... é uma desmiolada que namora, que desce de seu trono, que tem direito a entrar nas tavernas, nos lupanares, nas casas de jogo, que deve fumar, beber conhaque como quem bebe água fresca da fonte, tornar-se máscula enfim f
Como se enganam! outra como escritora, é a sua missão sociológica.
Verdade seja que nem todas podem ser heroínas afrontando a opinião pública de um meio nada ilustrado, e poucas, quase raras, saem das fileiras das donas de casa para alistarem-se nas fileiras da mentalidade e escreverem assim: Somos tanto como vós, homens, que arrogais a vós mesmos grande nome, talento, quando não passais muitos, de pequenas mediocridades-' ... Nós, temos o direito de perseverança, portanto JUnto a
127
vós nos colocamos ombro a ombro. Um passo atrás meus senhores, em nome da inteligência, e de nós outras que comungamos igualmente no banquete da mentalidade humana.
O talento, não é unicamente partilha vossa ... Eu sou vossa igual/
Ah! ... como sinto um calafrio perpassar-me a espinha dorsal como treme a pena entre meus dedos, ao expressar-me assim; eu, a mais humilde, a mais obscura das escritoras brasileiras; eu, que tenho vencido uma campanha; eu, que tenho sofrido os grilhões da inveja e as revenditas do escámeo; eu que afronto o meio e [?] do sarcasmo; eu que, semelhante aos antigos Apóstolos animo aos catecúmenos, caminho na vanguarda animando o estado da mentalidade feminina entre nôs.1
Daqui, vejo na imprensa rio-grandense um jornal feminino que conta já 13 anos de existência.
Do meu modesto gabinete de estudo, imagino o trabalho e os dissabores que têm duas fracas mulheres afrontado para seguir na pugna do bem. Daqui, pois, através dos mares, através do sentimento, través da vontade, através do coração, da amizade fraterna, através da liberdade da pena, da palavra e do pensamento, etc. com as minhas diminutas forças intelectuais, vou saudar o 'Carimbo', pequeno embora, grande de aspirações, modesto ainda que nobre no intento! ...
As suas redatoras, são bem conhecidas -Elogiá-/as_? É descer à vulgaridade. Elas estão na arena, empunham a lança de campeões.
Por si, se fizeram, por si irão na vanguarda do Progresso ... Q ? N' ' I uem as empata. ... mguem .... Eu saúdo as amigas e colegas e cubro de flores o 'Carimbo' que
será para Revocata e a Julieta, o lapidário das superiores gemas do seu bonito talento." (Carimbo, v. 13, n° 12,24 de maio de 1896 e seguinte)
Destacamos do texto neste momento apenas os elementos ligados a questão
que estamos tratando, ou seja, os mais diretamente relacionados aos motivos que,
segundo as escritoras, fundamentam a sua organização e articulação da forma como
temos apresentado. Adiante retomamos este texto sob outros aspectos.
Por diversos momentos a autora destaca as dificuldades enfrentadas pela
mulher escritora. No primeiro parágrafo, que a mulher que sente "vocação para as
letras" precisa "dispor-se a criar desafetos", e, adiante, no terceiro parágrafo, que são
numerosos os preconceitos em seu desfavor, que a depreciam.
Observa que os homens de uma forma em geral temem-na e, no parágrafo
seguinte, explica ser este um medo da concorrência. Com este parágrafo, podemos
perceber que está falando de homens que atuam na mesma área, ou seja, escritores.
128
No quinto parágrafo, a autora esclarece que as escritoras que mais sofrem
depreciações são as escritoras que têm mérito, que saem da 11chatice" ou da
"vulgaridade". Ou seja, as que estão em condições de disputar um espaço literário com
os escritores.
Na parte seguinte do texto, volta a falar das difamações a que são
submetidas as escritoras, como também outras mulheres que buscam sua
profissionalização (médicas, dentistas), para, no parágrafo seguinte, colocar-se como
igual aos homens, no caso, os escritores, com os quais disputa o mesmo espaço.
Nos parágrafos finais, coloca-se como escritora que está na "vanguarda
animando o estado da mentalidade feminina".
E, por fim, menciona o periódico Cor;mbo e suas redatoras como escritoras
que estão "na arena", ou seja, que partilham as mesmas dificuldades como escritoras,
mas que estão a vencer os obstáculos enfrentados por mulheres que dispõem-se a
escrever. E um testemunho disto é a longa duração do periódico por elas editado.
Este tenno, "na arena", que é também o título do artigo, ilustra bem o
"meio literário" do peóodo, como um espaço de "lutas"9, principalmente tratando-se de
escritoras, que além das dificuldades próprias do meio literário em um país marcado
pelo analfabetismo, contando com um público restrito de consumidores, também, no
interior do meio letrado, têm que lutar para o seu reconhecimento literário.
Este último pareceu-nos o principal elemento destacado pelas escritoras no
sentido de motivar a sua articulação em uma espécie de rede de mútuo apoio. Através
deste texto, podemos perceber uma certa consciência, por parte delas, de que não são
tratadas como iguais no meio literário e, ao contrário, quanto maior seu talento e mérito
literários, mais são difamadas e depreciadas pelos colegas, que, muitas vezes, possuem
um mérito inferior, mas que, mesmo assim, arrogam-se o direito de criticá-las. Esta
9 Segundo o Novo dicionário Aurélio da lingua portuguesa, um dos significados de "arena" é: "lugar de debate; campo de discussão" (Ferreira, \986). Este termo foi utilizado em vários artigos do Corimho para referirem-se ao meio literário e da imprensa.
129
idéia está presente em outros textos publicados no Carimbo, como exemplificamos
abaixo com pequenos trechos extraídos de artigos:
"Censuram, procuram ridicularizar as mulheres que pensam, as que se batem pela elevação social da mulher ... " (Moura, Maria Lacerda de. A fraternidade e a escola. Carimbo, 0° 215, 15 de fevereiro de 1923)
"Louca pretensão a minha! Ousada utopia deste meu cérebro de mulher gaúcha o pensar em escalar redutos gloriosos e conquistar, nesta hosana faina, louros e triunfos que nunca serão meus." (Cesar, Anna. Conferência sobre a educação da mulher brasileira. Corimho, n° 187, 30 de novembro de 1921)
"Tu [a pena] foste o seio amigo aberto para atender-me e consolar-me; deste-me as flores dos aplausos, os espinhos da critica impiedosa, e eu te amei sempre serva minha obediente e fiel!" (Silveira, Delminda. Confabulando. Conmbo, n• 130, 15 de maio de 1919) [grifo nosso]
Ainda que algumas das escritoras não critiquem esta situação de uma forma
tão explícita como aparece no texto que transcrevemos, o que podemos verificar é que
muitas delas manifestam uma consciência de sua desigualdade nas letras em relação ao
valor conferido às publicações masculinas. Este nos pareceu ser, pelo menos em um
nível mais geral, um dos motivos que explicam o modo como as escritoras passaram a
se articular, se referenciar mutuamente, valorizar a atuação literária feminina, recolher
dados de escritoras e de suas produções literárias, etc. Para tanto, o Carimbo, como
outros periódicos editados por escritoras, cumpriram um papel significativo, facilitando
o contato entre elas, a divulgação de suas publicações, bem como a identificação dos
grupos literários femininos atuantes em diversas regiões.
Assim, verificamos que um dos principais elementos que fundamenta a
articulação das escritoras em urna rede de mútuo apoio, está na própria desigualdade,
no âmbito da literatura, entre escritores e escritoras, sendo a Academia Brasileira de
Letras, um exemplo institucional deste fenômeno, urna vez que não se aceitava a
participação de escritoras nesta entidade.
130
2. 3. 3 Relação das escritoras com a literatura: definições e justificativas para a
sua atividade literária
Com respeito a este tema, gostaríamos de retomar um pouco do que foi
apresentado na terceira seção do primeiro capítulo, quando procuramos trazer alguns
elementos sobre o processo de inserção de escritoras na literatura. Um dos aspectos
destacados refere-se ao modo como a crítica literária recebeu as publicações de
escritoras no período entre fins do século XIX e inícios do século XX, sendo a condição
sexual das escritoras um traço determinante na avaliação da crítica, que analisou suas
obras mais como uma produção de "senhoras" (mulheres) do que de escritoras. Este
elemento está em conformidade com o que destacamos anterionnente sobre a
percepção das escritoras quanto ao modo diferenciado com que suas publicações eram
recebidas no meio literário.
Outro aspecto que trabalhamos na referida seção diz respeito ao modo como
as escritoras se apresentavam e como justificavam sua atividade literária. Estivemos
apoiadas principalmente no índice de escritoras A mulher rio-grandense: escritoras
mortas, organizado por Andradina de Oliveira. A partir desta obra verificamos que as
escritoras foram apresentadas com qualificativos femininos que ressaltavam a sua
condição de "mulher" e que sua atividade literária foi justificada a partir de motivos que
não dizem respeito propriamente à literatura tais como necessidade econômica,
extensão dos deveres de mãe ou uma "porta de evasão" para os seus sentimentos.
Estávamos com a intenção imcial de analisar estes aspectos no periódico
Carimbo. Ou seja, pretendíamos verificar como as escritoras definiam e justificavam
sua atividade literária. No entanto encontramos dificuldades para realizarmos esta
análise, pois o Carimbo não nos pareceu uma fonte documental suficiente para
respondermos a estas questões. Para realizarmos uma análise desta ordem, seria
131
necessário levar em consideração a trajetória literária de cada escritora em particular,
bem como suas publicações e sua inserção em instituições literáriasw.
Sobre este assunto, apenas ressaltamos o caso das redatoras do Carimbo,
que examinamos mais de perto. Conforme o que apresentamos na seção anterior (2.2),
Revocata Heloísa de Mello e Julieta de Mello Monteiro mobilizaram relações no meio
literário como uma forma de serem reconhecidas como escritoras, sendo sua atividade
literária justificada como uma vocação para às letras. Neste sentido, o exemplo destas
escritoras diferencia-se do que foi apresentado a partir do índice organizado por
Andradina de Oliveira, pois não localizamos, no Corimbo, nenhum material enfatizando
sua atividade literária como uma atividade intimista, relativa a um lazer feminino, ou
como uma necessidade econômica. Ao contrário, estas escritoras procuraram enfatizar
sua dedicação para as letras, que, segundo elas, não foi uma atividade levada sem
alguns sacrificios e dificuldades, principalmente no que se refere à manutenção do
Carimbo.
Neste aspecto ressaltado pelas redatoras do Carimbo, apresentando sua
atividade literária como uma vocação, encontramos outras referência neste periódico.
Trata-se do artigo que citamos anteriormente de Ignez Sabino. Neste artigo a autora
estabelece uma diferenciação entre as escritoras de talento e as "Bas-Bieu"ll. Este foi o
único texto em que percebemos alguma diferenciação entre as próprias escritoras, mas,
de todo modo, é uma referência significativa uma vez que nos pareceu que a autora está
procurando diferenciar as mulheres que são escritoras por vocação, por talento e por
mérito literário, em suas palavras a "que busca ter um nome, que o alarga por
necessidade de espírito" das que "querem à forciori escrever".
Esta diferenciação nos pareceu uma forma de se afinnarem como escritoras,
valorizando sua atuação literária como uma vocação para as letras e não como uma
distração ou lazer. Com este sentido, mencionamos um trecho de Júha Lopes de
lO Paixão (1991). Muzart (1990) e Telles (1987) são referendas importantes neste sentido.
11 Segundo o dicionário Le micro-Robert, langue française, "Bas-Bleu" são as mulheres com pretensões literárias; as que exibem uma erudição forçada e livresca.
132
Almeida, publicado na revista A Mensageira, de São Paulo: "a Mensageira que abra os
olhos às senhoras que pensam que se pode escrever com a mesma facilidade com que se
pode fazer creme de laranja ou manjar branco, coisas aliás delicadas" (A Memageira,
1987, p. 5).
2. 3. 4 As escritoras na luta pelo "alevantamento moral e intelectual da mulher
brasileira"
A temática dos direitos sociais das mulheres foi muito debatida no
Carimbo_ É este, inclusive, um assunto que vem sendo privilegiado nos estudos sobre a
"imprensa feminina". Embora a bibliografia sobre "imprensa feminina" concentre-se,
principalmente, na análise das publicações do Rio de Janeiro e de São Paulo, mais
recentemente sabe-se que esta imprensa estava disseminada por outros Estados (ver
anexo 1 ). O conjunto destas pesquisas apresentam conclusões similares quanto aos
direitos das mulheres veiculados por esta imprensa, sobressaindo-se o da educação,
profissionalização, voto e, em alguns periódicos, o do divórcioi2. O periódico que
analisamos não difere muito, nesta temática dos direitos das mulheres, do que foi
apresentado nas obras que consultamos.
No presente trabalho, nos concentramos em demonstrar, a partir do caso do
Carimbo, que algumas destas publicações periódicas designadas como "imprensa
feminina" envolvem, de uma forma particular, as escritoras. Embora a nossa
preocupação inicial não tenha sido urna análise da temática dos direitos das mulheres e
12 No caso do Corimbo, não encontramos publicações sobre o direito ao divórcio. Maria Thereza C. Crescenti Bemardes ao analisar "jornais femininos" do Rio de Janeiro, destaca a presença de publicações reivindicando mudanças na legislação matrimonial, propondo uma igualdade de responsabilidades e de direitos entre os cônjuges, além de debaterem o direito ao divórcio (Bernardes, 1989, p. 144-149). Na pesquisa realizada por Maria Fernanda Baptista Bicalho, também demonstra a presença de reivindicações quanto ao divórcio, principalmente no periódico A Família (Rio de Janeiro) de propriedade da escritora Josefina Álvares de Azevedo (Bicalho, 1988, p. 213-217). Já na pesquisa sobre a Revista Feminina, de São Paulo, a autora demonstra que este periódico foi contrário ao divórcio (Mascaro, 1982, p. 205-219). A educação e profissionalização femininas aparecem como as principais reivindicações desta imprensa, como também o direito ao sufrágio.
133
do feminismo, observamos que muitas das idéias veiculadas no Carimbo sobre este
tema está relacionada à própria luta das escritoras para serem reconhecidas na
literatura. Dito de outro modo, observamos que a busca de reconhecimento literário por
parte das escritoras passa também por uma luta pelo reconhecimento da igualdade
social das mulheres, principalmente no que se refere a sua capacidade intelectual.
Neste sentido, encontramos diversos materiais no Carimbo que contestam a
idéia de que a mulher é "sexo :frágil". Procura-se demonstrar que, se isto ocorre, é por
culpa da sociedade que, por "preconceito", não possibilita às mulheres o acesso à
educação e à profissionalização. Também criticam os homens que, por "injustiça" e,
principalmente, pelo medo da concorrência feminina, condenam uma educação
ampliada às mulheres, tendo em vista a sua profissionalização.
São mencionadas algumas mulheres que se destacaram por sua educação e
profissão, como um exemplo de "conquista do feminismo", mas, fundamentalmente,
como uma prova de que a proposição mulher "sexo frágil" é inválida, pois algumas
mulheres, através de seu estudo e talento, estão provando que têm capacidade
intelectual e que estão aptas a ocuparem postos que até então só eram ocupados pelos
homens, corno na medicina, na advocacia, etc. É o que podemos observar na
homenagem que o periódico faz à advogada Evangelina Carvalho, por ocasião de sua
estréia no Tribunal: 11 Pelos Estados, os jornais se fizeram eco dessa incontestável
conquista do feminismo brasileiro, e, hoje, o nome aureolado desde os bancos
acadêmicos, da ilustre advogada, ganhou vulto, e muito principalmente para a mulher
nacional, se constituiu um passo, um avanço, um exemplo notabilíssimo,
comprobatório, de que o talento e o estudo, não são monopólio do sexo chamado forte"
(Conmbo, n" !56, 30 de junho de I 920) [grifos nossos].
No Carimbo predominam as referências às escritoras que estão se
destacando na literatura. Um aspecto que nos chamou a atenção é o modo como são
designadas algumas delas: talento "másculo11 ou "robustas". Tais denominações são
utilizadas pelas escritoras para se mencionarem mutuamente. Entre as escritoras que
134
são referenciadas desta forma, estão: Andradina de Oliveira, Anália Franco, Anna
Cesar, Anna de Castro Osório, Leolinda Daltro e Maria Lacerda de Moura.
Inicialmente, o uso de qualificativos mascuJinos para as escritoras que se
destacaram nas letras, sugere uma busca de comparação aos homens, como uma fonna
de fazerem valer suas produções e seu talento literário. Mais uma vez, podemos
verificar como isto aparece na avaliação literária de algumas escritoras, como é o caso
do "retrato" (breve biografia) de Andradina de Oliveira, publicado por "O Pincel
Ignoto", quando a escritora é comparada aos homens não só pelas características fisicas
como intelectuais: destaca que possui "boca rasgada corno em geral nota-se nos
homens, de talento ... ", e, "quanto ao retrato moral e intelectual, só as produções de sua
festejada pena poderão demonstrá-lo./ 'O estilo é o homem' disse algures um grande
cérebro pensante" (Carimbo, v. 14, n' 65, 13 de junho de 1897) [grifo nosso].
Por outro lado, também podemos perceber uma tentativa de diferenciação
entre as "mulheres de letras"JJ e o conjunto da população feminina, a chamada "massa
feminina" por Maria Lacerda de Moura. Neste sentido, encontramos outra designação
para as escritoras que foi bastante comum no Carimbo: elas são apresentadas como
"espírito superior". Outro exemplo que vai ao encontro deste estabelecimento de uma
diferenciação entre as mulheres é o necrológio de Anália Franco. Depois de ressaltarem
a atuação da escritora, seja na literatura, seja em atividades filantrópicas, as redatoras
do Corimbo concluem: "Foi uma heroína na pena e na ação./ Oxalá tivesse o sexo
feminino muitas destas férteis e belas cabeças, que não lhe seria dado o injusto título de
sexo frágil" (Carimbo, n" 125,28 de fevereiro de 1919).
Na visão das escritoras, o conjunto das mulheres ainda estava muito presa à
preconceitos sociais que as colocavam em posição inferior e dependente do homem.
13 O termo "mulheres de letras" está sendo aqui utilizado para contemplar, além das escritoras, também as profissionais liberais e mulheres que conseguiram alcançar uma posição social através do estudo; principalmente porque, no material consultado. a diferenciação entre as mulheres se faz pelo estudo e capacidade intelectual e, deste modo, mencionam outras mulheres (profissionais liberais) que nao foram propriamente escritoras. Esta mesma expressão aparece no livro de Maria T. C. C. Bemades, e este nos pareceu um modo pertinente para designarmos as escritoras. como um contraponto a expressão "homens de letras", considerando-se a própria abrangência da atividade literária no período.
135
Deste modo, também as mulheres são responsabilizadas pela situação em que se
encontravarni4, como podemos observar no trecho abaixo, assinado por Julieta de Mello
Monteiro:
"Carta ao ilustrado patrício Dr. Milton da Cruz Saudações de alto apreço Há muito estou desejosa de dirigir algumas linhas ao meu
ilustrado patrício, como resposta ao ter lembrado o meu pobre nome em uma de suas lindas Cartas dirigidas a uma Dama, relativamente à educação e alevantamento moral e intelectual da mulher brasileira.
(..) Sou das mais entusiastas pela mulher que se distingue por
alguma forma digna: pelas suas altas virtudes, pelo seu saber, pelo seu patriotismo, pela sua caridade praticada com sacrificio do seu bem estar e da sua pequena bolsa, pela sua coragem e por tudo enfim quanto a possa enobrecer; mas, que posso eu fazer em beneficio dela?
Que a mulher estude, que não perca ocasião de aprender tudo quanto for bom e útil, que busque sair da obscuridade em que infélizmente ainda se encontra a maior parte delas, são os meu.v ardentes anelos. Se me fosse dado o poder de obrigar o meu sexo a estudar, a compreender que tem o direito de aspirar como o homem a ocupar um lugar de destaque na sociedade, a levar à uma o seu voto para que seja eleito este ou aquele vulto que de consciência lhe pareça ser o mais digno; de consciência, sim, e não ignorantemente levado porque nos dizem que assim deve ser, ou porque nos embalem ridicularmente com alguma promessa enganadora ou não, com que boa vontade o faria ... Mas, que luta, santo Deus!
Que luta com o sexo forte e com o meu frágil sexol ( .)
* • *
Quanto a elas M salvo honrosas exceções - estão em um vergonhoso atraso e ... acham-se perfeitamente assim!
Dizem com certa presunção de pensar 'com juízo': 1sso não é para nós, isso é com os homens! Lembro até um episódio dado em nossa casa, há anos em uma noite de festa. Em uma sala, uma senhora pouco cultivada é certo, mas, muitíssimo inteligente, questionava com alguns cavalheiros, sobre a política atual, deixando bem claro transparecer o regime que lhe parecia melhor. A discussão acalorou-se e ela sustentou o seu ideal. Outra senhora passando para a sala em que se encontrava a autora
!4 Este aspecto também foi observado por Bemardes, sobre os periódicos editados no Rio de Janeiro: "(...) nada é tão gritante para as jornalistas do que sentir a acomodação da mulher brasileira a uma condição de inferioridade diante da prepotência masculina; por isso seus escritos levam a marca permanente de uma grande inconformidade e tomam aspectos de denúncia (. .. )" (Bemardes, 1989, p. 122).
136
destas linhas, acompanhada de outras damas, disse somndo: - A. C. ... está discutindo política com F. F.
Ao que uma das presentes respondeu sem perda de tempo: - Vai lhe dizer que vá cuidar das panelas e dos filhos e deixe essas causas para os homens!
Bem vê o ilustre patrício a pouca disposição que existe no meu sexo, para procurar a luz do saber.
Ainda se aparecerem muitos homens que tomem a si a honrosa tarefa de arrancar das trevas o sexo frágil, poderemos pensar em um futuro melhor; de outra forma não.
Propondo-me a dizer a verdade, tenho que afirmar que a mulher brasileira dá menos apreço à tentativa de outra mulher, do que a do homem.
Digo e provo. Há senhoras que quando são convidadas para fazerem parte de uma sociedade feminina, têm as seguintes frases: - 'Entro de sócia com uma condição, não me envolver com comissões nem com diretoria. Dou a mensalidade e Já não faço pouco'[
Pois bem, essas mesmas senhoras, dias depois tomam parte em sociedades fundadas por homens, fazem comissões, espontaneamente promovem festas para auxiliá-los, angariam por meio de subscrições meios para obterem ricos estandartes para as mesmas sociedades, etc., etc., e isto tudo com verdadeiro estusiasmo, posso garantir porque tenho fortes razões para isso!
t essa a razão da luta enorme que sustentam aquelas que se propõem a sair da obscuridade que lhes é destinada.
( ... )"(Corimbo,n' 109,31 de maio de 1918eseguinte)
Esta publicação de Julieta de Mello Monteiro pode ser tomada como um
exemplo de que as escritoras estavam cientes do estado geral da população feminina e,
neste sentido, a autora incentiva a adesão dos "homens de letras'' ao "a]evantamento
moral e intelectual da mulher brasileira", tendo em vista que as próprias mulheres,
"salvo honrosas exceções", ainda não se colocavam esta responsabilidade. De outro
lado, também podemos perceber uma busca, por parte das escritoras, de se
diferenciarem do conjunto da população feminina. São exemplos disto a designação de
"espírito superior" para as escritoras que se distinguiram nas letras, como também as de
"intelectualidade feminina brasileira", apresentando-se, ao lado de outras mulheres de
letras (contemplando as profissionais liberais), como uma espécie de "vanguarda".
Esta diferenciação entre as mulheres (mulheres de letras x "massa
feminina") também se fez presente em publicações sobre o trabalho feminino que,
embora defendido como um dos principais veículos da "emancipação feminina",
137
aparece com uma definição diferenciada dependendo da condição social de cada
mulher em particular, como podemos observar nos trechos que seguem:
"Nem todas as mulheres podem ser intelectuais e ganhar o sustento por meio da pena, mas todas elas podem ser boas donas de casa, sóbrias e econômicas, fazendo prosperar o lar por meio de hábeis combinações domésticas que não absorvam todo o dinheiro ganho.
( .. ) Demasiado tenho me alongado em considerações sobre o nosso
sexo que, felizmente, parece que já transpôs uma nova fase de progresso, existem já muitas brasileiras compenetradas de seus deveres e as retrógradas ou retardatárias pouco a pouco irão seguindo o exemplo das pioneira~· do progresso e da civilização da mulher patrício." (Bastos, Universina de Araújo. Carta aberta às ilustradas escritoras e prezadas amigas d. d. Revocata e Julieta de Mello. Corimbo, n° 138, 15 de setembro de 1919) [grifos nossos]
* * *
"Carta sobre o trabalho da mulher (A Exma. patricia e amiga a ilustrada professora D. Helena Carrigan Small)
Nem todas as mulheres podem exercer o magistério, é certo, e muito menos ocupar o distinto cargo ocupado pela talentosa senhorinha Rabello Mendes, mas as que primam pelos trabalhos manuais, costura, bordados, rendas, etc., ensinem-nos, abram cursos que terão alunas.
As que têm a fortuna de possuir habilitações nas belas artes, mústca, pintura, tomem discípulas, não fiquem a esperar auxílios do homem.
As de classe inferior não se devem queixar da falta de educação para procurarem um meio honroso de vida.
O engomado, a lavagem de roupa, a cozinha, podem dar-lhes o necessário para viver, principalmente na época que atravessamos, em que tudo isso se faz por muito dinheiro.
Finalmente, se temos tanto empenho em imitar os grandes centros - especialmente a França, nas suas 'toilettes' femininas -, imitemolos em coisas mais úteis.
A guerra, como escrevemos no princípio dessa missiva, levando os homens deu lugar à mulher em todas as artes, indústrias e profissões; sigamos o exemplo dado no estrangeiro. Agricultoras, carteiras, cocheiras, acendedoras de lampeões, funileiras, sapateiras, chapeleiras, condutoras de malas, colchoeiras, ferreiras, carpinteiras e um sem número de outras artes, oficios, etc., pode dar o pão a ganhar à mulher a quem falta o pai, o marido, o filho ou o irmão; ou àquelas que os têm enfermos, impossibilitados de trabalhar.
138
Seria mais belo, mais delicado, mais compatível com a sua fraqueza fisica, se todas pudessem ser médicas ou fannacêuticas como a nossa terra já tem o prazer de possuir; bacharéis em direito corno as ilustres patricias Myrthes de Campos e Evangelina Carvalho; jornalistas, guardalivros, ou marejarem em outros empregos idênticos; mas, como isso encarado por todas as fonnas é impossível, trabalhemos ao sabor das nossas habilitações e da nossa condição na sociedade.
( ... )"(Monteiro, Julieta de Mello. Corimbo, n° 122, 15 de janeiro de 1919) [grifo nosso]
Ambas citações são um demonstrativo do modo como as escritoras
propunham atividades profissionais diferenciadas de acordo com a condição social das
mulheres. Por outro lado, são um indicativo de que as escritoras percebiam~se como um
grupo social específico.
Com estas observações, estamos procurando demonstrar que o "discurso
feminino" presente no Carimbo trata~se do discurso de escritoras, ou seja, está pautado
pelos interesses das escritoras, é como escritoras que se posicionam a respeito da
situação social de seu sexo, é como escritoras que privilegiam algumas reivindicações,
como é o caso da educação feminina, como veremos adiante. Enfim, estamos
procurando chamar a atenção para o fato de que o Corimho, enquanto um veículo de
atuação literária de escritoras, reproduz um discurso socialmente situado, ou seja,
vinculado à posição social das escritoras e ao seu interesse na área das letras.
Semelhante ao que estamos aqui observando, foi o apresentado no artigo
Educação e ideologia: profissionais liberais na América Latina do século XIX, por June
E. Hahner, quando demonstra que, na América Latina, a ideologia feminista foi
abraçada principalmente por mulheres que estavam ingressando em profissões liberais.
Segundo a autora, as principais lideranças dos diversos movimentos pelos direitos
sociais e políticos das mulheres no início do século XX, foram recrutadas entre as
profissionais liberais do século XIX (principalmente médicas, advogadas e engenheiras)
que, para exercerem suas profissões, se confrontavam com a "hostilidade masculina" e
com uma certa "ridicularização" social (Hahner, 1994).
No caso do Carimbo, observamos que a relação com as reivindicações por
direitos sociais e políticos das mulheres está vinculada a própria necessidade que as
139
escritoras tiveram em demonstrar sua "capacidade intelectual" tendo em vista as
dificuldades enfrentadas por estas para o seu reconhecimento como escritoras no meio
literário. Já no caso do periódico A mulher editado por duas estudantes de medicina em
Nova Iorque (Maria Augusta Generoso Estrela e Josefa Águeda F. Mercedes de
Oliveira) em 1881, pode estar envolvendo alguns interesses específicos relativos a
inserção das mulheres na medicinais.
Sem pretendermos estender esta análise para verificar as implicações deste
fenômeno para o desenvolvimento do feminismot6, o que vai além do objetivo proposto
nesta pesquisa, apenas observamos que muitas das idéias publicadas no Corimbo sobre
a situação das mulheres e sobre seus direitos sociais estão relacionadas à posição
específica ocupada pelas escritoras que, neste período, estavam buscando ingressar na
literatura, conforme o que apresentamos nos itens anteriores.
Como já mencionamos, a nossa intenção não é analisar o conteúdo do
periódico quanto à situação social das mulheres ou ao seu engajamento em
reivindicações no âmbito dos direitos das mulheres, muito embora o Carimbo apresente
uma riqueza de dados neste sentido. Pode-se acompanhar, através do Corimbo, a
inserção de escritoras em movimentos filantrópicos, principalmente em beneficio das
mulheres pobres, analfabetas ou viúvas. As atividades filantrópicas são apresentadas
como um domínio de ação feminino, ou seja, como uma atividade legítima de ser
realizada por mulheres pois está vinculada às características ditas "femininas" como a
"caridade" e a "abnegação"l7.
15 Este periódico também foi localizado em Pernambuco, no ano de 1883 (Ferreira, l990a, p. 76).
16 Sobre a temática do feminismo consultar Alves (1980) e Hahner (1981). Nestas pesquisas, entre diversos outros aspectos destacados, podemos acompanhar a análise das autoras sobre o desenvolvimento do feminismo entre fins do século XIX e itúcios do século XJ( quando as principais integrantes foram mulheres pertencentes às camadas sociais mais elevadas ("elite") que estavam movidas por alguns interesses práticos relativos ao campo dos direitos jurídicos e menos em um questionamento mais geral sobre a posição das mulheres no interior da família ou questões relativas a sua autonomia.
17 Entre os artigos sobre o assunto, destacamos: A lei do trabalho, por Anália Franco (Corimbo, n° 125, 28 de fevereiro de 1919), Caridade, por Anna Cesar (Carimbo, no 161, 30 de setembro de 1920), Discurso, por Aurora Baumgarten (Corimbo, n° 88, IS de julho de 1917), O trabalho e o prazer, por Maria de Oliveira Cavalcante (Corimbo, n° 61, 15 de maio de 1916).
140
Também encontramos debates em tomo do feminismo, a exemplo de um
artigo de José Oiticica, O surto feminino, no qual o autor propõe que as professoras e
literatas, ao invés de "contentarem-se com a paga certa e a esperança de promoção ou
jubilamento", escutem as vozes das "mulheres do mundo que inteiro sofrem torturas
épicas para melhorar a sorte e a posição de todo o sexo", que olhem para as operárias,
para as costureiras, para as mães pobres, para as analfabetas e para as prostitutas
(Carimbo, n" 106, 15 de abril de 1918 e seguinte)!'. Por outro lado, também
encontramos artigos de escritoras que procuram defender -se do titulo de "feminismo
burguês", como é o caso de uma matéria de Anna de Castro Osório (0 feminismo
burguês, Carimbo, n" 239, 15 de março de 1924 e seguinte).
Enfim, o Carimbo traz muito material para se analisar as postções das
escritoras, considerando-se a pluralidade de opiniões entre elas, e as suas formas de
engajamento em lutas pelos direitos das mulheres. No caso da presente pesquisa,
estamos apenas salientando uma dimensão deste discurso, qual s~a, a de que as
escritoras percebiam-se como um grupo social especifico e que algumas de suas
reivindicações no âmbito dos direitos sociais das mulheres estão relacionadas a sua
busca de reconhecimento profissional, como veremos a seguir.
Se observarmos as reivindicações sobre os direitos sociais e políticos das
mulheres veiculadas no Corimho, vamos perceber que algumas relacionam-se
diretamente à condição das escritoras. A reivindicação mais presente foi a da educação
feminina. Tal reivindicação, de um modo geral, vem conferir uma maior importância
para as atividades das escritoras no magistério, pois, conforme já verificamos em outra
ocasião esta foi uma das principais atividades realizadas por escritoras. Por outro lado,
da forma como a defesa da educação feminina aparece argumentada no Corimbo, vem a
favorecer o exercício do magistério como uma atividade feminina, como podemos
18 Quando da publicação deste artigo, houve uma "reunião de senhoras" no escritório do Corimbo com o objetivo de ler e debater o mesmo.
141
observar neste trecho de Revocata Heloísa de Mello, assinado com o pseudônimo
Hennengarda:
"Com ardor, com patnottsmo, levemos os nossos alunos, os nossos filhos, pelos amplos e impressionantes caminhos do civismo, não deixemos essa tarefa ao homem, porque a nós, cabe em primo loco, o encargo encantador, útil, glorioso, de preparar os homens do futuro." (Palestras femininas. Corimho, n" 132, 15 de junho de 1919)
Neste sentido, observamos que algumas das publicações de escritoras sobre
o tema da educação feminina foram escritos a partir da posição de professoras. Ou seja,
como professoras procuram divulgar a sua concepção de educação feminina, muitas
vezes contrapondo-se ao modo como o ensino vinha sendo tratado no país, e trazendo
uma proposta de ensino para as mulheres, não somente baseada em uma instrução
voltada para as atividades no lar, mas também para seu compromisso cívico e
patriótico. No que se refere a educação das "mulheres pobres", enfatizam que seja um
ensino voltado à especialização em alguma profissão para que estas mulheres não se
sintam desamparadas na falta de um pai, marido ou filho, ou mesmo para que elas não
precisem recorrer ao casamento como uma fonna de sustentação econômica19_
Nas reivindicações relativas ao voto e ao trabalho feminino também
transparece o discurso de escritoras, embora não de uma fonna tão diretamente
relacionada aos seus interesses profissionais, mas que atuam como princíptos de
"elevação social e moral das mulheres". O voto é apresentado como uma luta da
"mulher esclarecida", de mulheres que já demonstraram a sua igualdade intelectual em
relação aos homens, e que, por este motivo, devem ser tratadas com igualdade no
âmbito da política, pois seria inconcebível que este direito fosse aceito para homens
19 Entre os artigos que tratam da educação feminina do modo como estamos apresentando, estão: A princi[Xll emanci[Xlção feminina, por Marianna Coelho (Corimbo, no 77, 30 de janeiro de 1917), Notas sobre a educação feminina, por Anália Franco (Corimbo, n° 124, 15 de fevereiro de 1919), A nossa educação, por Anália Franco (Corimbo, n° 184, 30 de setembro de 1921) e Educação das moçav, por Izabel de Leon (Corimbo, no 171, 31 de março de 1921)_ As primeiras foram proprietárias de casas de ensino, sobre esta última não conseguimos infotmações quanto a este aspecto.
142
analfabetos e não para as mulheres esclarecidas. No tocante ao trabalho feminino, este é
apresentado como um dos principais veículos da "emancipação feminina", pois permite
que as mulheres atuem de uma forma menos dependente dos homens, além de ser um
elemento "dignificador" para as mulheres, assim como para qualquer individuo. Este é o
aspecto mais geral dos textos publicados sobre este tema, mas, como vimos
anterionnente, cabe ressaltar que as escritoras, embora defendam a necessidade do
trabalho feminino, apresentam possibilidades diferenciadas de trabalho de acordo com a
condição social das mulheres, evidenciando-se, a partir daí, sua posição como
escritoras.
Da forma como estão sendo aqui apresentadas, estas reivindicações foram
bastante simplificadas, se considerarmos as diversas possibilidades analíticas e os
diversos elementos presentes no discurso das escritoras. Este procedimento foi adotado
não com a intenção de simplificannos ou reduzirmos estas reivindicações, mas como
uma maneira de reforçar o que vimos apresentando neste item, demonstrando que o
discurso do Corimbo quanto aos direitos sociais e políticos das mulheres é um discurso
socialmente situado, diz respeito às posições de escritoras.
Estas reivindicações (educação, voto e trabalho femininos) também foram
enfatizadas em outros periódicos editados por escritoras corno A Família e O Bel/o
Sexo, do Rio de Janeiro20. Um elemento destacado na bibliografia sobre estes
periódicos refere-se ao modo como defendem a "emancipação feminina": se por um
lado veiculam reivindicações tendo em vista a igualdade de direitos para as mulheres,
por outro, valorizam sua experiência como mãe, dona-de-casa e esposa. Sendo que a
principal argumentação na defesa dos direitos sociais e políticos das mulheres estava
amparada na idéia de que as mulheres têm uma "missão civilizatória" em
correspondência a sua posição no interior da família, como educadoras da primeira
infãncia. Em alguns estudos, este fato é apresentado como uma "ambigüidade" do
discurso feminino, como é o caso da pesquisa Mulheres de ontem? Rio de Janeiro,
20 Ver Bemardes ( 1989) e Bicalho ( 1988).
143
século XIX, quando a autora bem nos demonstra que estas duas questões estavam
presentes, muitas vezes, no discurso de uma mesma escritora (Bemardes, 1989, p. 168-
173)
Na pesquisa O Belo Sexo: tmprensa e identidade feminina no l?.io de
Janeiro em fins do século XIX e início do século XX, a autora procede a uma análise
deste discurso, propondo algumas explicações. Para Bicalho, houve uma aproximação
entre os discursos nonnatizadores dos médicos e higienistas no período da virada do
século com o discurso da "imprensa feminina", ambos propunham um "domínio de
missão" para as mulheres através de seu engajamento em normas educacionais e
assistenciais, como uma extensão de seus deveres no lar, correspondendo a sua 11natural
vocação". Este discurso de "promoção da mulher", principalmente baseado em seu
papel no interior da família, como mãe, esposa e dona-de-casa, propiciou uma
valorização da mulher enquanto indivíduo e, por outro lado, também serviu de um
ponto de apoio para a reivindicação de seus direitos sociais e políticos (Bicalho, 1988).
Semelhante aos demais periódicos editados por escritoras, também vamos
encontrar no Corimbo a idéia de que a mulher tem uma "missão civilizatória" a
cumprir. Para exemplificar, mencionamos um trecho de Revocata Heloisa de Mello, no
qual compara a "missão civilizatória" da mulher a da imprensa:
"A mulher e a imprensa Dois são os poderosos elementos das evoluções humanas na
tragédia da vida. A mulher e a imprensa. A mulher é a existência toda do homem, o santuário do amor, a
brandura e a sensibilidade consubstanciadas. A imprensa é o resultante do reencontro das faculdades; o motor
gigantesco da civilização dos povos, a atalaia das liberdades públicas. A mulher, educando a infantilidade no lar, estabelece os
fundamentos sólidos da mora1idade da família, estreita os elos que a prendem aos filhos, forma os verdadeiros cidadãos, e fixa na sua fronte a coroa triunfal que à eleva até Deus.
A imprensa, instruindo a juventude e ilustrando a sensibilidade, rompe as brumas da ignorância, que é a trave do indiferentismo e iluminando a estrada da honra e do dever, proclama as virtudes, profliga os vícios e condena os crimes das sociedades.
144
Ambas produzem a revolta contra o génnen do mal; ambas têm deveres sagrados a cwnprir; ambas trabalham pela grandeza da pátria; ambas marcham para o marco sublime a que as gerações sucessivas anceiam chegar: -a perfectibilidade.
Ambas são irmãs na idéia~ innãs são também na ação: - uma, porém, atua diretamente sobre os indivíduos a outra sobre a humanidade." ( Corimho, v. 2, n" 18, dezembro de 1886)
Em outros números do Corimbo já foi enfatizado o importante papel da
imprensa para a civilização e progresso da humanidade, como observamos na primeira
seção deste capítulo. Neste texto podemos perceber que o papel da mulher tem wn
valor semelhante ao da imprensa; no entanto, sua atuação está mais ligada ao universo
familiar, à educação dos futuros cidadãos.
Também no periódico Corimbo as reivindicações quanto aos direitos sociais
e políticos das mulheres foram amparadas nesta idéia de que as mulheres têm uma
"missão civilizatória", como podemos observar nestes trechos sobre a educação
feminina:
"À mulher cabe certamente a primeira educação dos homens, e aquela que a não tiver baseada em verdadeiros princípios de virtude, dificil ou antes impossível será dá-la.( ... ) Educar pois a mulher convenientemente, para que possa sustentar-se dignamente no papel de educadora da infância, é uma necessidade de primeira ordem, é uma questão que não deve ser olvidada pelos beneméritos cidadãos, a quem tanto importa o futuro dos homens e dos povos. n (Mello, Revocata Heloísa de. limo. Sr. tenente Frederico Lisbôa de Mára. Carimbo, v. 3, no 25/26, agosto e setembro de 1887)
"( ... ) a mulher, por sua vez, deve nivelar-se a ele [homensJ quanto ao desenvolvimento intelectual, não por simples exigência de evolução social, mas pela indeclinável obrigação que ela tem de adquirir conhecimentos úteis e indispensáveis para incutir no espírito tenro do filho, do innão pequenino, do aluno, enfim, que deverá ser mais tarde quem defenda os interesses da pátria. A mulher deve instruir-se porque dela depende, quase exclusivamente, o futuro das nações. n (Bastos, Universina de Araújo. A educação da mulher. Carimbo, n" 110, 15 de junho de 1918)
145
A "missão civilizatória" das mulheres também serviu como um ponto de
apoio para a defesa do voto feminino, pois, na argumentação das escritoras, as mulheres
devem estar ao par dos assuntos pátrios para poder incutir os princípios do civismo no
interior da família:
'~Se é tão proclamada a missão altíssima da Mulher, em prol dos homens do futuro, se é de seu ensino exemplificador, de suas lições cívicas, de sua ação moral entre as legiões infantis, que se encaminham as novas gerações para o engrandecimento do país, porque negarem-lhe o direito sagrado de concorrer para a eleição daqueles, que podem ser a garantia da ordem, e da felicidade da Pátria?!" (Mello, Revocata Heloísa de. O voto feminino. Carimbo, n" 177, 15 de junho de 1921)
Esta citação de Revocata de Mello nos aponta, também, para outra forma de
apropriação do discurso sobre a 11missão civilizatória11 das mulheres a partir de sua
função na família. Se por um lado a idéia de "missão civilizatória" das mulheres serviu
corno um ponto de apoio para suas reivindicações sociais, por outro, também foi
utilizada para fazerem uma crítica à "hipocrisia" de uma sociedade que, ao mesmo
tempo que coloca às mulheres uma missão tão importante, como responsáveis pelas
futuras gerações, também restringe sua participação social e política ou mesmo as
excluí do processo de construção da nação, a exemplo dos trechos abaixo:
"A mulher não pode ser jurado, não sabe julgar; entretanto pode e é julgada pelas mesmas leis que julgam os crimes dos homens./ Que absurdo! Entretanto a ela entregam as crianças, no lar e na escola, para que as eduque preparando os cidadãos dessa mesma Pátria. E os regulamentos escolares mandam que ela ensine às crianças, artigos de código, leis e decretos .. ./ Tudo isso é extraordinário!" (Moura, Maria Lacerda de. Feminismo. Carimbo, n° 175, 15 de maio de 1921)
146
"Uma das coisas engraçada.') que os homens dizem, quando se lhes fala dos direitos da mulher, é 'que ela precisa primeiro educar-se, antes de falar em reivindicar estes pretendidos direitos./ Ao mesmo tempo; quando se lhes diz que se deve cuidar a sério da educação feminina, respondem que - 'essa tal educação que as tornasse seres conscientes, viria, afinal, a lança-las na vida política, e a afastá-las do lar doméstico'./ Não tem graça isso?" (Luz, Maria. Educação. Carimbo, n° 123, 31 de janeiro de 1919)
"E com que sarcasttco desplante repetem constantemente os anti-feministas: (oh! eterna e pungente ironia)!/ 'Que mais querem as mulheres? Não têm elas o primeiro lugar na sociedade, não têm em tudo a primazia ... ?' Aparentemente, é verdade; mas, no fundo, estas deferencias calculadas são concebidas por esmola, com a capa ignominiosa da hipocrisia, de uma humilhante magnanimidade porque dispensada ao ente considerado inferior, quando não encobrem a sutil intenção de conquista, lícita ou ilícita ... " (Coelho, Marianna. A principal emancipação feminina. Carimbo, n' 77, 30 de janeiro de 1917)
Nesta breve análise de algumas questões apresentadas no Corrmbo quanto
aos direitos sociais e políticos da mulheres, assim como da argumentação das escritoras
sobre o assunto, procuramos demonstrar o quanto estas reivindicações estavam
próximas da posição social das escritoras no referido período.
Conforme observamos nos itens anteriores, as escritoras estavam
organizadas em uma espécie de rede de mútuo apoio, procurando valorizar e reunir
infomtações sobre as produções literárias de escritoras brasileiras. Também verificamos
que uma das principais motivações para a sua organização estava na própria
desigualdade das escritoras em relação aos homens no âmbito da literatura.
Por outro lado, no material que consultamos, também se fez muito presente
a temática dos direitos sociais e políticos das mulheres. Neste item procuramos
demonstrar, ainda que de uma fonna bastante simplificada, que a luta das escritoras
para serem reconhecidas no meio literário também estava envolvendo um
reconhecimento das mulheres no âmbito da sociedade. Ao mesmo passo que estavam
envolvidas em wna luta por seu reconhecimento literário, as escritoras também
perceberam a necessidade de "dignificar" as mulheres, de mostrar que estas têm
capacidade intelectual, criticando a idéia da mulher como "sexo frágil", e, enfim,
147
buscando um "alevantamento moral e intelectual das mulheres". Ou seja, nas páginas do
Carimbo, como de outras publicações do período2t, podemos encontrar uma série de
"lutas" relativas a igualdade entre os sexos, no Carimbo em particular, estas "lutas"
estão bastante vinculadas a uma busca de reconhecimento "profissional" das escritoras.
21 Como um possível exemplo de periódico editado por escritora e que envolve as questões que apresentamos neste trabalho, mencionamos o periódico A Mensageira, de São Paulo. Em função de sua reedição (1987) tivemos acesso ao mesmo e, por isso nos foi possível mencionar alguns trechos deste periódico ao longo do trabalho, para o qual o referido periódico seiViu como um elemento comparativo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise que desenvolvemos nesta pesquisa esteve voltada à relação entre
escritoras e literatura, no período que se estende do final do século XIX a inícios do
presente século. A partir desta orientação mais geral, procedemos a análise do periódico
literário Carimbo, com a intenção de verificar algumas características que marcaram a
atuação literária de escritoras e o processo de sua inserção na literatura.
Um primeiro procedimento adotado para a nossa análise foi o de
contextualizar o Carimbo e a atividade literária feminina no meio literário do período.
Para tanto, partimos de algumas considerações mais gerais sobre o desenvolvimento da
literatura no Brasil. Destacamos dois elementos que foram recorrentes na bibliografia
sobre o assunto: a importância da imprensa periódica para a divulgação dos(as)
escritores(as) e de suas produções literárias e a predominância de relações pessoais
entre escritores(as) como uma forma de obterem um reconhecimento literário. Entre
estas relações, destacamos o mútuo apoio e o reconhecimento recíproco entre
escritores( as).
Com base na análise do Carimbo, observamos que as escritoras estavam
inteiradas do meio literário do período e que a sua atuação na literatura desenvolveu-se
com base nos elementos que destacamos acima, o do reconhecimento recíproco e apoio
mútuo entre pares.
No que diz respeito à atuação literária de Revocata Heloísa de Mello e
Julieta de Mello Monteiro, verificamos que ambas estabeleceram diversas relações com
grupos letrados de forma a favorecer o seu reconhecimento como escritoras bem como
o caráter literário do periódico, sobressaindo-se as relações com escritores que já
149
tinham um nome literário construído e tiveram uma certa participação nos círculos
letrados do centro do país, mais especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Nestas relações com grupos letrados, Revocata e Julieta de Mello
procuraram justificar sua atuação literária como uma "vocação", principalmente
amparadas em sua origem familiar letrada e nas diversas experiências desenvolvidas na
área das letras. Neste aspecto, cabe destacar que, no caso destas escritoras, a literatura
não foi apresentada como uma "distração", como um trabalho possível às mulheres ou
como uma necessidade econômica, ao contrário, buscaram reforçar sua atuação literária
como uma atividade que exige "vocação" e "dedicação".
Ainda que não tenhamos procedido a uma investigação das trajetórias
literárias de Revocata e Julieta de Mello, com base nas informações contidas no
Cor;mbo, foi possível verificar que sua atuação literária não esteve limitada à
publicação de livros, mas também estendeu-se à atividades no magistério e na imprensa
(a exemplo do Carimbo), tal como ocorreu com outras escritoras sobre as quais
conseguimos reunir informações. Neste sentido, sua atuação literária está em
conformidade e apresenta elementos semelhantes à dos escritores, conforme nos
demonstrou Machado Neto, quando destaca que o magistério e a imprensa estavam
entre as principais atividades exercidas por escritores.
Quanto às relações estabelecidas pelas redatoras do Corimho com grupos
letrados, verificamos que gradualmente passaram a se voltar mais para a relação com
outras escritoras brasileiras. Neste sentido, as publicações periódicas editadas por
escritoras parecem ter atuado como um importante canal de contato e intercâmbio entre
elas, como uma referência para os grupos letrados femininos de diversas regiões do
país.
No caso do Corimbo, caracterizamos este periódico como um veículo de
atuação literária de escritoras principalmente por publicar suas produções, por divulgar
suas obras, por manter em seu quadro de colaboradores um número significativo de
escritoras (124), por fornecer informações sobre escritoras brasileiras (necrológios,
viagens, conferências, etc.) e, enfim, por ser um periódico editado por escritoras.
150
Por outro lado, este intercâmbio entre escritoras brasileiras também
demonstrou que elas estavam organizadas e articuladas em uma espécie de rede e que,
através de um apoio mútuo e reconhecimento recíproco, procuraram valorizar a atuação
literária feminina, o que transparece na organização de índices, na divulgação de suas
publicações e nas mútuas referências, sendo que, com freqüência, designavam-se como
"intelectualidade feminina brasileira".
Verificamos que um dos elementos que talvez poderia ser uma das
motivações para a organização e articulação das escritoras, pelo menos em um nível
mais geral, foi o da própria desigualdade, no âmbito literário, das escritoras em relação
aos escritores e às produções masculinas.
Por todas estas evidências que apontam para uma tendência de organização
e articulação entre as escritoras brasileiras, levantamos a questão de se estas iniciativas
chegaram a se constituir em um modo de organização paralelo em relação à "literatura
institucional". No entanto, confonne observamos, não foi possível realizar uma análise
deste tipo, principalmente porque envolveria uma pesquisa em outro conjunto
documental, relativo tanto à trajetória literária de cada escritora em particular como
sobre sua relação com as instituições literárias do período. De todo modo, fica esta
questão como uma sugestão para outras pesquisas sobre o tema do processo de inserção
de escritoras na literatura.
Finalizamos o trabalho com algumas observações quanto à relação das
escritoras com as reivindicações por direitos sociais e políticos das mulheres.
Na primeira secção do trabalho, apresentamos algumas considerações a
respeito da bibliografia sobre "imprensa feminina", quando destacamos a imprecisão na
definição desta imprensa, se o que a caracteriza como ufeminina" é o público leitor ou a
sua edição (fundado e dirigido por mulheres). Por outro lado, também observamos que
um dos temas privilegiados na análise desta imprensa diz respeito ao feminismo, à
relação desta imprensa com as reivindicações por direitos sociais e políticos das
mulheres como também sobre "identidade feminina", "condição feminina", e
\51
"representações" sobre as mulheres, e, nesta perspectiva, alguns estudos consultados
utilizaram a expressão "imprensa feminista" (Hahner, 1981 ).
Na análise do periódico Carimbo, procuramos demonstrar a sua vinculação
à literatura. Conforme o que apresentamos anteriormente, foi possível evidenciar
diversas relações neste periódico que dizem respeito a um grupo social específico, ao
das escritoras.
De outro lado, estiveram muito presentes no Carimbo publicações sobre os
direitos sociais e políticos das mulheres. Embora o nosso objetivo inicial tenha sido
realizar uma análise da relação entre escritoras e literatura neste periódico, ao longo da
análise fomos percebendo uma certa imbricação entre estas duas questões.
Ao analisar algumas das reivindicações sobre os direitos sociais das
mulheres, principalmente quanto à educação e ao trabalho feminino, observamos,
primeiramente, que falavam a partir da posição de escritoras e, em um segundo
momento, que estas reivindicações estavam relacionadas a sua busca de um
reconhecimento "profissional": ao mesmo tempo que estavam envolvidas em uma luta
por seu reconhecimento literário, as escritoras também perceberam a necessidade de
"dignificar" as mulheres, de mostrar que estas têm capacidade intelectual, criticando a
idéia da mulher como "sexo frágiP', e, enfim, buscando um "alevantamento moral e
intelectual das mulheres".
Assim, o presente trabalho procurou situar o periódico Corimbo a partir dos
mteresses do grupo social ao qual esteve vinculado, destacando-se alguns elementos
relativos à atuação literária de escritoras. Isto não implica em negar-se a relação com o
feminismo, mas apenas em precisar o modo como este foi utilizado por um grupo
específico. Neste sentido, estudos comparativos sobre os periódicos editados por
mulheres poderiam esclarecer sobre os diversos grupos sociais femininos em sua
relação com o feminismo.
ANEXOS
ANEXO 1 - Periódicos Editados por Mulheres: século XIX e início do
século XX
ANEXO 2 - Escritoras, Rio Grande do Sul, século XIX
ANEXO 3 - Carimbo: Exemplares Consultados, 1885-1925
ANEXO 4- Colaboradoras do Carimbo, 1885-1925
ANExol
PERIÓDICOS EDITADOS POR MULHERES, SÉC. XIX E INICIO DO Stc. XX!
Período Local Periódico Proprietária s) Editorial ou Cabeçalho OBS Publicações das Proprietárias 1852- R1 JORNAL DAS Joana Paula Manso de "Jornal ilustrado, com modas, Aceita produções Joana P. Manso de Noronha publicou 1855 SENHORAS Noronha (?-1881), literatura, belas artes, teatro e literárias femininas 'ob teatro e romance Consolações, R. de
ViaJante, Gervásia2 critica." Dedicado "á educação, anonimato. Janeiro, 1856. Esta escritora aparece no instrução e emancipação da índice organizado por Martins como mulher." editora do periódico Imprensa, de
Pelotas. 1862 R1 o BELLO Júlia de Albuquerque "Periódico Religioso, de Somente publica as
SEXO Sandy Aguiar Instrução e Recreio, Noticioso e colaborações assinadas. Crítico Moderado'' Os Lucros do jornal eram
destinados a uma instituição de caridade oara órfãs_
1873- R1 O DOMINGO ViaJante Ata\ipa "Jornal literário e recreativo" Traduções: do italiano, francês 1875 Ximenes de Bivar e (Alexandre Dumas) e inglês (Walter
Vel\asco (1817-1875) Scott). Elaborou algumas criticas de teatro para o Conservatório Dramático, R de Janeiro.
1873- MG/R o SEXO Francisca Senhorinha "Literário, recreativo e noticioso, Fundado em MG, A Judia Raquel, Rio de Janeiro, 1886, 1876 J FEMININO da Motta Diniz especialmente dedicado ao' tranfere-se para o RJ em em colaboração com sua filha A A 1887- interesses da mulher" 1875, interrompe a Diniz. (romance) 1889 publicação por problemas
financeiros e de saúde da
'"a editora. Volta a circular em 1887.
1 Este quadro foi elaborado a partir da bibliografia sobre "imprensa feminina" Para verificar-se a referência bibliográfica completa, consultar a bibliografia apresentada ao tina\ da pesquisa. 2 Segundo Hahner, por problemas financeiros, Joana P_ M. de Noronha retoma para Argentina onde mais tarde fundará o periódico Album de Set1otitas, passando a direção do Jornal das Senhoras para Vio\ante Atabalipa Ximenes de Bivar e Vellasco, que após um ano passou a direção do jornal para Gervásia Nunezia Pires dos Santos, que contava com recursos do marido para ajudar na manutenção do periódico (Hahner, 1981, p. 40)_
154
1 1875 Recife MYOSOTIS Maria Herác\ia Estes dados estão em Hahner, 1981, p. 52. Ferreira (1990a, p. 80) localizou exemplar com o mesmo nome em 1911, redigido por Guiomar de Carvalho.
1879- RJ ECHO DAS Amélia Carolina da "dedicado aos interesses da Retoma mais firme, em 1880 DAMAS Silva Couto mulher" e redigido "por ilustres e 1885, na defesa da 1885- distintas escritoras". educação feminina 1888 1880 RJ PRIJviAVERA Francisca Senhorinha "Revista semanal, ilustrativa e
da Motta Diniz noticiosa" 1881 Nova A MULHER Maria Augusta "Periódico ilustrado de literatura, Fundado por estudantes Josefa Agueda Felisbela de Oliveira
York Generoso Estrella belas artes, consagrado aos brasileiras de medicina, (Pernambuco), publicou obras didáticas. (1861-1946) e Josefa interesses e direitos da mulher em NY Ferreira (1990a, Águeda F. Mercedes brasileira'' p. 76) encontrou um de Oliveira ( 1864-?) exemplar em
Pernambuco, em 1883, depois de interrompido
I por dois anos. 1882 RJ o DIREITO Idalina d'Alcantara Citado por Hahner (1981,
DAS DAMAS Costa I n 61 l 1883- RS CORIMBO Revocata Heloísa de Dedicado ao "progresso das Publicaram obras em prosa e verso (ver 1943 Mello (1860-1944) e letras". anexo 2).
Julieta de Mello Monteiro_ fl863-l92-ª2
1885 RJ voz DA Francisca S. da Motta Defende a abolição e VERDADE Diniz direitos das mulheres
(Hahnec, 1981, p 48-61) 1885 Recife AVE Abolicionista (Ferreira,
LIBERTAS 1990a, o. 79) 1888- SP I AFAMILIA Josefina -~~ares de "Jornal literário dedicado à Transferido para o RJ em O voto feminino, RJ 1890, comédia. 1897 RJ Azevedo (1851-?) educação da mãe de família" 1889. Defesa dos direitos Retalhos, RJ, 1890.
das mulheres, como voto e divórcio.
155
1890- RJ O QUJNZE DE Francisca S. da Motta "Revista literária, recreativa, 1896 NOVEMBRO Diniz noticiosa e política, especialmente
' DO SEXO dedicada aos interesses d• ' FEMINTNO mulher."
1897- SP A Presciliana Duarte de "Revista literária dedicada à Public. poesia em SP e no RJ Pertenceu 1900 MENSAGE1RA Almeida (1867-1944) mulher brasileira" à Academia Paulista de Letras. 1898 SP ALBUM DAS Anália Franco (1869- Rev. Literária e Educativa_ Distribuída gratuitamente. Publicou romances, teatro, obras
MENINAS 1913) Segundo Bittencourt didáticas e poesias. (Bittencourt, 1970) (1970), fundou outro periódico Voz Materna, atuou "o magistério e criou asilos de órfãs, 26 em SP e um no RJ.
1898 RS ESCRINIO Andradina América "surge também como um Surgiu em 1898, em Publicações em prosa e verso. (ver Andrada de Oliveira incitamento à mulher no- Bagé; em 1901 se anexo 2) (1878-1935) grandense, convidando-a a transferiu para S. Maria;
romper o denso casulo de depois para p Alegre, obscuridade e vir à tona do onde foi localizados até jornalismo trazer as pérolas de 1909. (Soares, 1980) sua cultivada inteligência " (Soares, 1980)
1900 MG voz Clécia, Zélia e Nicia "Orgão dos direitos da mulher, Circulou por mais de dois FEMININA Corrêa Rabello literário e noticioso" anos. Se engajou "' campanha pelo sufrágio
feminino (Rubim, 1984). 1902- Recife OLIRIO Amélia de Freitas Literário Publicou contos e romances_ Pertenceu à 1904 Beviláqua (1863- Academia Piauense de Letras.
1946) (Bittencourt, 1970) 1904 SP O COLIBRI Zoraide M. Siqueira e Periódico mencionado
Olympia D. Ribeiro por Buitoni (1981, p. 35) 1904- Pia ui A BORBOLETA Helena e Alaíde Literário Periódico mencionado 1907 Burlamaque ' Maria por Buitoni (1981, p. 27)
Amélia Rubini 1905 SP ANIMA E V1TA Emestina Lesina Trata do trabalho feminino, Publicado em italiano.
contém literatura e propaganda. Considerado socialista e anarquista_ (Rubim, 1984)
156
1914~ SP REVISTA Virgilina de Souza Constituiu a Empresa (Mascaro, 1982) 1936 FEMININA Salles Feminina Brasileira, além
do jornal desenvolveu outras atividades (biblioteca, exposição de trabalhos femininos, vendas de p_Iodutos, etc.}
1923 SP RENASCENÇA Maria Lacerda de Dedicado à Mulher (educação, Várias publicações sobre temas sociaJs Moura (1887-1945) direitos, trabalho, criança, (ens<Uos). (Leite, 1984)
sociedade). 1923 R1 o NOSSO Grupo pela Sobre o trabalho feminino, Somente publicou o I o n°.
JORNAL Emancipação Feminina educação; contêm textos Classificado como literários de autoria feminina. anarco-sindicalista, poc
Rubim (1984).
ANEXO 2
EsCRITORAS, RIO GRANDE DO SUL, StCULO XIX 1
Nome Local e data de Atividade Publicações Dados Biográficos nascimento e morte Literária
ABREU, Cândida Pelotas, 1862 - ? Poetisa Serpentinas, Pelotas, Liv. Americana, 1884. Não Sócia da Sociedade Partenon Dterário. lsolina de Creias, ruo Grande, 1891. Ser mãe, Rio Grande, 1895_ Colaborou no rorimbo_
Publicou nos periódicos: Partenon Literário (P. (Martins, 1978) Alegre), Progresso Literário e Arena Literária
(Pelotas), Carimbo (Rio Grande), Cruzeiro do Sul (Livramento), e no Almanaque LUerário e Estatístico doRS, Pelotas, 1890
ABREU, Luciana Porto Alegre, Educadora, Publicações (discursos) na Revista do Partenon Estudou na Escola Nonnal de Porto Alegre; [PaJmira Teixeira} de 1847- 1880 Conferencista_ L;terário, alguns re-editados na coletânea Preleções, atuou como professora pública a partir de
org. e prefacio de Dante de Laytano, Porto Alegre, ed. 1873; fundou escola particular. Pertenceu ao (Martins, 1978) póstuma, Museu Júlio de Castilhos, 1949. Partenon Literário, onde discursou a favor da
emancipação da mulher e educação feminina. BARANDAS, Ana Porto Alegre, 1806 Poetisa, O Ramalhete ou flores escolhidas no jardim da Obra reeditada, com texto introdutório de Eurídice Eufrosina de Rio de Janeiro, ? Prosadora. imaginaçao, Porto Alegre, Tip. Isidoro J Lopes, 1845 Hilda A. H. Flores, em !990_ BAREM, Avelina 1874-? Poetisa Publicou um livro de poesias com o título Desalento. Colaboradora na Sociedade Partenon
i mittencourt, 1972) Literário_ Innã de Rita Barém de Melo. BITTENCOURT Livramento, 1895 Poetisa, Nas Labaredas de Ouro, Aracajú, Casa Avila, 1932 Diplomada professora pela Escola (Figueiroa ], Honorina Rio de Janeiro, ? Jornalista. (versos)_ Poemas de toda a vida, R de Janeiro, Agir, Complementar de P. AJegre em !913 Pseud.: Norah de 1980. Colaborou no jornal A Tarde, de Livramento_ Colaboradora do Corimbo. Figueiroa Outras obras inéditas_ (Martins, 1978; Villas-Bôas, 199l)
1 Este quadro foi organizado com base em índices bio~bibliográficos e antologias de escritores( as) do Rio Grande do Sul, alêm de obras específicas sobre as escritoras. Para uma referência bibliográfica completa, consultar a bibliografia apresentada ao final da pesquisa.
158
BORMANN, M" Porto Alegre, 1853 Romancista Aurélia, Rio de Janeiro, T. Gazeta da Tarde, 1883 Segundo Oliveira, destacou~se nas letras após Benedita Câmara de R. de Janeiro, 1895 (romance). Uma Vitima, Duas Irmãs e Madalena, Rio divorciar-se. Colaborou na imprensa do R. de Pseudônimo: Délia de Janeiro, 1884 (novelas publicadas anteriormente em Janeiro a partir de 1880 até o ano de sua
folhetins). Lésbia, Rio de Janeiro, T. Central de morte. Parece que sua transferência ao R de (Oliveira, !907) Evariste R. da Costa, 1890 (romance). Celeste, Rio de Janeiro ocorreu neste período da década de
Janeiro, T. Magalhães, 1893 Angelina, Rio de Janeiro, 1880, quando publicou seus livros. !894. ~ Estátua de__Neve, folhetim no jornal O Pais, 1890. {Martins, 19781
CAVALCANTE Pelotas, 1869- Poetisa Alvoradas, prefaciado por Francisco de Paula Pires, Em decorrência do matrimônio com o escritor FILHA, Luiza 1891 Pelotas, Liv. Alemã-Brasileira, 1886 (poesias). A Mathias Guimarães passou a assinar Luiza C.
__ __ Formatura, publ. n~ 11mwra?ue Literário e Estatístico Gimarães, como aparece em Martins (1978). IMartins, 19781 doRS, Pelotas, 1890 lcrônical. Colaboradora do Carimbo. CESAR, Ana Patrícia Camaquã, 1890 Cronista, Fragmentos, R de Janeiro, Imprensa Nacional, 1931 Fundou a Legião da Mulher Brasileira e Casa Vieira Rodrigues Rio de Janeiro, Poetisa, (prosa). Farrm1pilhas, R de Janeiro, Poliantéia da Soe. da Mulher, no Rio de Janeiro; o Grêmio
1942 Feminista. Sul-Rio-Grandense, 1935, (crônica histórica). Outras Familiar Amazonense em Manaus; Hora da (Martins, 1978, Villas- publicações inéditas. Arte Feminina no Recife. Redigiu os jornais Bôas, 1991) Vida Social, Tribuna Feminina e Democracia,
no R. de Janeiro_ Pertenceu ao Instituto Brasileiro de Cultura; à Soe. Brasileira de Educação e à Associarão Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro. Colaboradora do Carimbo.
CUNHA, Delfina Rio Grande, 1791 Poetisa Poesias oferecidas às senhoras riograndemes, Porto Recebeu uma pensão vitalícia de Pedro I, Benigna da Rio de Janeiro, Alegre, Tipografia de Fonseca & Cia, 1834; editata no mantida por Pedro 11, em decorrência dos
1857 RJ, T1p. Austral, 1838; e, no mesmo ano, pela T1p. serviços prestados por seu pai ao Império. (Cesar, 1971, p. 95) Imperial e Constitucional de J Villeneuve & Cia.
Florilégio da Jnjãncia, Rio de Janeiro, 1840 Sefecta Brastfeira, Rio de Janeiro, 1842 Coleção de várias poesia~·. dedicadas à Imperatriz viúva, Rio de Janeiro, Tin Universal e Laemert, 1846.
FIGUEIROA, Amália Porto Alegre, Poetisa Crepúsculos, prefácio de Apolinário Porto Alegre, P_ Sócia da Sociedade Partenon LUerário, com dos Passos 1845-1878. Alegre, Tip. do Jornal do Comércio, 1872 Publicou na sua irmã Revocata dos Passos Figueiroa e
__ __ imprensa local, na Revista do Partenon Literário e no Mello (mãe de Revocata H de Mello e Julieta (Martins, 1978l AlmanaQue da.'> Senhoras, Lisboa, 1882. de M. Monteiro).
159
FORTES, Càndida de Cachoeira do Sul, Poetisa, Fantasia, reverberos e contos à.~ minhds irmãs, Porto Fonnada na Escola Normal de Porto Alegre Oliveira 1862-1922 Cronista, Alegre, T. do Correio do Povo, 1897. Publicações no ( !885); Professora nesta escola e diretora do Pseudônimos: Contista, Almanaque Literário e Estatístico do RS, Pelotas e Rio Colégio Antônio Vicente da Fontoura, em Canolifor, Marina Professora. Grande; no Almanaque Pop11lar Brasileiro, Pelotas. Cachoeira. Após casada, acrescentou o
i (Martins, 1978) Colaboradora no Correio do Povo (1895-96) (Villas- sobrenome Brandão, como aparece em Villas Bôas, 1991, p. 41 Bôas. Colaboradora do Carimbo.
KOSERITZ, Carolina Porto Alegre, 1865 Jornalista, Hermann & Dorotêia, poema de Goethe, Tradução, von Rio de Janeiro, Contista, Porto Alegre, Gundlach & Cia, 1884 Contos
I (Fimes. 1987) 1922 Tradutora. I publicados em 1886. LISBOA, Ana Aurora Rio Pardo, 1860- Jornalista, Minha defesa, coletânea de trabalhos antes publicados Diplomada pela Escola Normal de Porto do Amaral 1951 Teatróloga, na imprensa, P. Alegre, L. Americana, 1895 Preitos à Alegre (1881). Professora pública (1881-Pseudônimos: Aura lis Contista, liberdade, versos revolucionários, P. Alegre, T. de A 1883). Fundadora e diretora do Colégio
e José Anselmo Poetisa, Reforma, 1900. A culpa dos pais, drama, P. Alegre, L. Amaral Lisboa, Rio Pardo (1883-1924). Professora. Americana, 1902. Teatro, Rio Pardo, T. Popular, 1931. Pertenceu à Sociedade reminina Sempre Vim
(Martins, 1978) Publicações no Almanaque Literário e Estatístico do e ao Grêmio Rio-Pardense de Letras (1938), RS, Pelotas; nos jornais Correio do Povo (1934), A Rio Pardo. Filha de Maria Carlota do Amaral Reforma e Gaspar Martins. Lisboa e irmã de Zamira Lisboa (colaboradoras
do Carimbo). MEDEIROS, Cristina Jaguarão, segunda Poetisa He/iantos, Rio Grande, T. da Of Gráfica F. Andreassi, Presidiu o I Grêmio Eleitoral Feminino de Rio Amaro de metade do século 1916. Publicou em Bagé e Rlo Grande: Crônica.~ Grande.
XIX. Argentinas, A mulher perallie a família e a sociedade, Colaboradora do Corimbo_ , (Tacaues, 1956, vol. _!_)_ O voto feminino.
MELLO, Revocata Porto Alegre, 1860 Poetisa, Folhas errantes, R. de Janeiro, T. Hildebrand, 1882 Professora em Rio Grande. Redatora-auxiliar Heloísa de Rio Grande, 1944 Prosadora, (crônicas). Coração de mãe, Rio Grande, Tip. da L. do Diário de Pelotas (1882-1889). Fundadora
(Nos índices que Teatróloga, Riogradense, 1893 (drama, co-autoria de Julieta de da revista literária Violeta, Rio Grande, 1878-Pseudônimos: Sybilla, mencionamos o Jornalista, Mello Monteiro). Berilos, Rio Grande, Livraria 1880 e Carimbo, com sua irmã Julieta_ Hermengarda. ano de sua morte Educadora. Universal, 1911 (prosa, co-autoria com Ju\ieta de M_ Membro fundadora do Clube Beneficente de
está como 1945, já M.). Grinalda de Noiva (drama). Mário, com Julieta de Senhoras, Rio Grande (1901). (Martins, 1978; Villas- no índice org. pela M. Monteiro (drama). Publicações na imprensa, no Bõas, 1991 e Neves, Academia Lit. Almanaque Literário e Estatístico do RS e na Revista 1987) F em., está o ano de do Partenon Literário.
1944. Necrológio no Diário Popular, Pelotas, está 1944)
!60
MELO, Rita Barém de Porto Alegre, 1840 Poetisa Sorrisos e prantos, Rio Grande, Typ Eco do Sul, 1868. Pseudõn.: Jurity Rio Grande, 1868 Publicações na Revista Literária O Guaíba, de Porto (Martins, 1978) Alegre_
, MONTEIRO, Julieta de Porto Alegre, 1863 Jornalista, Prelúdios, Rio Grande, T. Cosmopolita, 1881 (poesias)_ Professora em Rio Grande_ Fundou os Mello Rio Grande, 1928 Professora, Oscilantes, Rio Grande, L Universal, 1892 (sonetos)_ periódicos literários Violeta (1878~1880) e
Poetisa, Coração de mãe, P. Alegre, L. Riograndense, 1893, co- lorimbo, com Revocata H. de Mello_ Membro Pseudônimo: Penserosa Contista, autoria de Revocata H. de M. (drama). Alma e do Clube Beneficente de Senhoras, de Rio
Teatróloga. Coração, Rio Grande, T. Trocadero, 1898 (contos). Grande. (Martins, 1978; Villas- Berilos, R_ Grande, L_ Universal, 191 I, em colaboração Bôas, 1991 e Neves, com Revocata (crônicas). Terra sáfara, Rio Grande, 1987) publicação póstuma, 1924, 2 ed_ (poesias). Publicações
no Almanaque Literário e Estatístico do RS, no Almanaque Popular Brasileiro, de Pelotas; no jornal Tribuna do Po~o(J~e Santos (1897), publica crítica ao livro Poemetos e uadros de Damasceno Vieira_
NUNES, Universina de Porto Alegre, Romancista, A Etljeitada, P. Alegre, 1948 (novela). Nobreza antiga, Diplomou-se professora na Escola Normal de Araújo 1899-1954 Professora. P. Alegre, 1952(romance). Gramática Portuguesa, com p Alegre. Pro f da Escola Distrital de (Também assina U. de prefácio do Pro f' lldefonso Gomes, P. Alegre, Globo, Montenegro. Membro da Academia Lit. Araújo Bastos) 1919. Feminina do RS, ocupante da cadeira de (Martins, 1978) Revocata H. de Mello_ Colaboradora do
Carimbo. OLIVEIRA, Andradina Porto Alegre, 1867 Contista, Preludiando, R. Grande, T_ Trocadero, 1897 (contos)_ Estudou no Colégio Luciana de Abreu e na [América] de [Andrade São Paulo, 193 5 Biógrafa, Pensamentos P. Alegre, 1904. A mulher rio-grandense: Escola Normal de P Alegre, onde diplomou-e] (Nos índices orgs. Teatróloga, escritoras mortas, p Alegre, L Americana, 1907 se. Atuou como professora por 9 anos em P
por Martins e Romancista, (biografias). Cntz de Pérolas, P_ Alegre, L_ Americana, Alegre, Pelotas, Rio Grande e Santa Maria. (Academia, 1993, Vil\as-Bôa, consta Conferencista, 1908 (contos). Contos d' Natal, p Alegre, L Fundou a revista Escrimo, Bagé (1898), S_ Martins, 1978} o ano de 1878, Feminista, Americana, 1908. Divórcio, P_ Alegre, 1912. O Perdão, Maria (1901) e em P. Alegre. Diretora de
como de Professora, P. Alegre, 1916 (romance). Publicações no Almanaque Colégio em S. Maria (1901). (Mãe da escritora nascimento. Nos Jornalista. Literário e Estatístico do RS. LoJa de Oliveira)_ referendamos na Dramas e comédias estreados no RS, como: Antonio Colaboradora do Corimbo_ antologia org_ pela Com-elheiro (1902), Sacrifício de Laura (1891), Você Academia Lit. me conhece? (1899). Temas de conferências: A mulher Fem_, que não e inferior ao homem, A mulher através dos tempos, apresenta a data de entre outros temas. Obras inéditas. Batismo na Igreja do Rosário)
161
PINTO, M" Josefa [ou Porto Alegre, Jornalista, Seus escritos não foram publicados em livros, como Fundou o jornal Belona irada contra os Engrácia] Barreto 1786/88- 1837 Poetisa_ também não localizaram-se os exemp]arem do periódico sectários d, momo POA, 1833/34. Pereira literário e político que dirigiu. Colaboradora no Jornal A idade de ouro. Seus (Flores, 1989) trabalhos não foram reúnidos em livro_ Fundou
escola mista, em Porto Alegre. REGO, M"- do Carmo Jaguarão, segunda [Romancista] Lembrança de Mato Grosso, Rio de Janeiro, Tip. de Melo metade do século Leu~inlg~, 189~).(crônica de viagem). Cuido, Rio de lMartin,, 19781 XIX-? Jane1ro romance SALDANHA, Rio Pardo, 1893 Poetisa, Rimas sem metro, P. Alegre, Gráf. de J. B. da Fonseca, Diretora do jornal O lncôndito (Rio Pardo, Antonieta Lisboa Rio de Janeiro, Jornalista, 1918, {poesias). Obra inédita: Flores do Pampa. 1915). Prof" do Colégio Lisboa Saldanha, de (Martins, 1978; Villas- 1944 [Professora]. Caxias. Sobrinha de Ana Aurora e Zamira do Bôas, 1991) Amaral Lisboa.
Colaboradora do Carimbo. SAMPAIO,M' Rio Grande, 1789- Poetisa, Versos Heróicos, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, Segundo Flores, a escritora dedicou-se à Clemência da Silveira 1862 Jornalista, 1823. criação e educação de crianças carentes. {Villas-Bô~~; 1991; Botânica. Flores, 1989 SIQUEIRA, Clarinda Rio Grande, 1818 Poetisa Monólogo, Pelotas, 1858 (dedicado à Carlos von Colaboradora no periódico literário Arcádia da Costa Pelotas, 1867 Koseritz, recitado pela autora no Teatro 7 de Abril, (Rio Grande, 1867-1870). (Cesar, 1971)
Pelotas). Poesias, Pelotas, L Americana, 1881 (Martins, 1~ ;78; Villas- (publicação póstuma, prefácio de Koseritz). Bôas, 1991 ULRICH, Alaide Pelotas, 1884 Poetisa Publicou poesias na revista literária O Orvalho, de Fundou o periódico literário O Ormlho (1898-
Santana do Santana do Livramento. 1904), om Santana do Livramento, oorn (Martins, 1978) Livramento, 190 I Matilde U. Filha (sua innã). Filhas de .4.rtur
Lara Ulrich (político, iomalista e romancist;)·. ULRlCH Fll..HA, Livramento - Rio Poetisa, Publicou poesias e a seção Traços Biográficos, no Fundou o periódico lit. O Orvalho ( 1898-Matilde de Janeiro, 1953 Prosadora. periódico O On>a/ho. 1904), em S. do Livramento, com Alaide
Ulrich (sua irmã), após sua morte, passou a (Martins, 197:\ publicá~lo sozinha. Tac~ues, 1956
ANExoJ
CORIMBO: Exemplares Consultados, 1885-1925
V. 1, n' !,junho de 1885 V. I, n' 2, julho de 1885 V. 1, n' 3, agosto de 1885 V. I, n' 4, setembro de 1885
O n° 5, referente ao mês de outubro não foi localizado. V. I, n° 6, novembro de 1885
Os no 7 e 8, referentes à dezembro de 1885 e janeiro de 1886, respectivamente, não foram localizados.
V. 1, n° 9, fevereiro de 1886 V. 1, n' 10, março de 1886 V.1,n' ll,abri1de 1886 V. 1, n' 12, maio de 1886 V. 1, n' 13, junho de 1886 (por erro gráfico consta como mês julho) V. 2, n' 14,julho de 1886 V. 2, n' 15, agosto de 1886 V. 2, n' 16, setembro e outubro de 1886 V. 2, n' 17, novembro de 1886 V. 2, n' 18, dezembro de 1886 V. 2, n' 19, fevereiro de 1887 V. 2, n' 20, março de 1887 V. 2, n' 21, abril de 1887 V. 2, n' 22, maio de 1887 V. 2, n'23 e24,junho eju1ho de 1887 V. 3, n' 25 e 26, agosto e setembro de 1887 V. 3, n' 27, outubro de 1887 V. 3, n' 28, novembro de 1887 V. 3, n' 29 e 30, dezembro de 1887 e janeiro de 1888
Os exemplares referentes ao período de fevereiro a junho de 1888 não foram localizados, mas, a continuidade da numeração indica que o periódico não sofreu interrupção no referido período.
V. 4, n' 33,julho de 1888 V. 4, n' 34 e 35, agosto e setembro de 1888 V. 11, n' 154, 12 de fevereiro de 1894 V. 11, n' 154, 17 de fevereiro de 1894 V. 13, n' 2, 15 de março de 1896
O periódico foi suspenso por algum período durante o ano de 1895, sendo que não encontramos nenhum exemplar deste ano, o que não quer dizer que deixou de circular durante todo o ano.
V. 13, n' 5, 5 de abril de 1896 V. 13, n' 7, 19 de abril de 1896 V. 13, n' 8, 26 de abril de 1896 V. 13, n' 10, !O de maio de 1896 V. 13, n' 12,24 de maio de 1896 V. 13, n' 13,31 de maio de 1896 V.13,n' 19, 12dejulhode 1896 V. 13, n' 21,26 de julho de 1896
V. 13, n" 22,2 de agosto de 1896 V. 13, n" 23,9 de agosto de 1896 V. 13, n" 28, 13 de setembro de 1896 V. 13, n' 30,27 de setembro de 1896 V. 13, n' 34,25 de outubro de 1896 V.l4,n'45, 10dejaneirodel897 V. 14, n' 60, 2 de março de 1897 V. 14, n" 61, 9 de maio de 1897 V. 14, n"65, 13 dejunbode 1897 V. 14, s/n', agosto de 1897 V. 14,n'74,29deagostode 1897 V. 14, n" 80, 24 de outubro de 1897 V. 15, n" 85, 30 de janeiro de 1898 V. 15, n' 96, 19 dejunbo de 1898
O mês de setembro não foi publicado devido ao incêncio na Tip. Trocadero. V. 15, n' 100, 1' de outubro de 1898 V. 15, n' 101, 15 de outubro de 1898 V. 16, n' 110, 1' março de 1899 V. 16, n" 113, 15 de abril de 1899 V. 16, n' 115, 15 de maio de 1899 V. 17, n' 133, 15 de fevereiro de 1900 V. 17, n' 137, 15 de abril de 1900 V. 17, n" 138, 3 de maio de 1900 V. 18, n' 157, 15 de fevereiro de 1901 V. 18, n" 159, 15 de março de 1901 V. 18, n" 164, 1' dejunbo, 1901 V. 21, n" 233, 15 de abril de 1904 V. 21, n" 235, 25 de maio de 1904 V. 21, n' 239, 31 de julho de 1904 V. 21, n' 241, 1' de setembro de 1904 V. 22, n' 221, 20 de fevereiro de 1905 V. 22, n" 223, 15 de março de 1905
163
N° 3, 1° de novembro de 1913 N" 7, 20 de janeiro de 1914 N" 11,31 de março de 1914 N" 12,22 de abril de 1914 N' 15, 15 de junho de 1914 N" 18,31 de julho de 1914 N' 19, 15 de agosto de !914 N' 23, 19 de outubro de 1914 N' 28,31 de dezembro de 1914 N'29, 15dejaneirode 1915 N" 32,28 de fevereiro de 1915 N' 37,15 de maio de 1915 N" 41, 15 de julho de 1915 N"42,3l dejulhode 1915 N" 45, 15 de setembro de 1915 N" 48, 30 de outubro de 1915 N" 53, 15 de janeiro de 1916 N" 60,30 de abril de 1916 N' 61, 15 de maio de 1916 N" 72, 15 de novembro de 1916 N' 74, 15 de dezembro de 1916 N" 75,30 de dezembro de 1916 N"77,30dejaneirode 1917 N" 78, 15 de fevereiro de 1917 N' 80, 15 de março de 1917 N" 81,30 de março de 1917 N" 82, 15 de abril de 1917 N" 83, 30 de abril de 1917 N" 84, 15 de maio de 1917 N" 85,30 de maio de 1917 N' 86, 15 de junho de 1917 N" 88, 15 de julho de 1917 N" 89, 30 de julho de 1917 N' 90, 15 de agosto de 1917 N' 91,30 de agosto de 1917 N'92, 15 de setembro de 1917 N' 93,30 de setembro de 1917 N' 94,21 de outubro de 1917 N' 95,30 de outubro de 1917 N'96, 15 de novembro de 1917 N' 97,30 de novembro de 1917 N' 98, 15 de dezembro de 1917 N' 99, 30 de dezembro de 1917 N" 100, 15 de janeiro de 1918 N' IOI,30dejaneirode 1918 N' 102, 15 de fevereiro de 1918 N' 103,28 de fevereiro de 1918
N'l04, 15demarçodel918 N' 105,31 de março de 1918 N' 106, 15 de abril de 1918 N' 107,30 de abril de 1918 N'l08, 15demaiodel918 N' 109,31 de maio de 1918 N' llO, 15 de junho de 1918 N' 111,30dejulhode 1918 N' 112, 15 de julho de 1918 N' 113,31 de julho de 1918 N' 114, 15 de agosto de 1918 N' ll5,31 de agosto de 1918 N' 116, 15 de setembro de 1918 N' 117,30 de setembro de 1918 N' 119, 30 de novembro de 1918 N' 120, 15 de dezembro de 1918 N' 122, 15 de janeiro de 1919 N' 123,31 de janeiro de 1919 N' 124, 15 de fevereiro de 1919 N' 125,28 de fevereiro de 1919 N' 128, 15 de abril de 1919 N' 129, 30 de abril de 1919 N' 130, 15 de maio de 1919 N' 131,31 de maio de 1919 N' 132, 15 de junho de 1919 N' 133, 30 de junho de 1919 N' 134, 14 de julho de 1919 N' 135,31 de julho de 1919 N' 136, 15 de agosto de 1919 N" 137,31 de agosto de 1919 N" 138, 15 de setembro de 1919 N' 139, 30 de setembro de 1919 N' 140, 15 de outubro de 1919 N° 141,31 de outubro de 1919 N' 145,31 de dezembro de 1919 N' 147, 31 de Janeiro de 1920 N' 148,29 de fevereiro de 1920 N' 149, 15 de março de 1920 N" 150, I' de abril de 1920 N' 151, 15 de abril de 1920 N' 152, 30 de abril de 1920 N' 153, 15 de maio de 1920 N' 154,31 de maio de 1920 N' 155, 15 de junho de 1920 N' 156,30 de junho de 1920
164
N' 156, 15 de julho de 1920 (por erro gráfico, esta numeração foi repetida)
W 157,31 deju1ho de 1920 W 158, 15 de agosto de 1920 N' 159,31 de agosto de 1920 N' 160, 15 de setembro de 1920 N' 161,30 de setembro de 1920 N' 162,15 de outubro de 1920 N' I 63, 31 de outubro de 1920 N' 164, 15 de novembro de 1920 N' 165, 30 de novembro de 1920 N' 166, I 5 de dezembro de 1920 N' 167, 31 de dezembro de 1920 W 168, 15dejaneirode 1921 N' 170, 15demarçode 1921 N' 171, 31 de março de 1921 (por provável erro gráfico, consta como N° 170) N' 173, 15 de abril de 1921 W 174,30 de abril de 1921 W 175, 15 de maio de 1921 N' 176, 30 de maio de 1921 (consta como N' 175) N' 177, 15 de junho de 1921 (consta como N' 175) N' 178, 30 de junho de 1921 N' 179,15 de julho de 1921 N' 180, 31 de julho de 192I N' I 82, 30 de agosto de 1921 N' 183, 15 de setembro de I921 N' 184, 30 de setembro de 1921 (consta como N° 183) N' I 85, 21 de outubro de I 92 I (consta como N' I84) N' 186, 15 de novembro de 1921 W I 87, 30 de novembro de I 92 I N' 188, I 5 de dezembro de 1921 N' 19I, 3 I de janeiro de 1922 N' 193, 28 de fevereiro de I 922 N' 194, 15 de março de 1922 N' 195,3I de março de 1922 W I96, 15 de abril de I922 N' 197, 30 de abril de I 922
N' I98, 15 de maio de 1922 N' 199, 31 de maio de I922 N' 200, 15 de junbo de I922 W202, I5 de julho de I922 N' 203, 31 de julho de I 922 N' 205, 31 de agosto de 1922 W 206, 15 de setembro de I 922 N' 207, 30 de setembro de I 922 W 208, 21 de outubro de I 922 W 2 I 2, 31 de dezembro de 1922 N'213, 15 de janeiro de I923 W 2I4, 31 de janeiro de I923 N' 2I5, I5 de fevereiro de I923 N'2I8,3I de março de I923 N' 2I9, I5 de abril de I923 N' 220, 30 de abril de I 923 N'22I, I5demaiode 1923 N' 222, 31 de maio de 1923 N' 226, 31 de julho de 1923 N' 227, 15 de agosto de 1923 N' 230, 30 de setembro de 1923 W 232, 31 de outubro de I 923 N' 235, 15 de dezembro de 1923 W 239, 15 de março de 1924 N' 240, 31 de março de 1924 N' 252, 18 de setembro de 1924 N' 260, 23 de janeiro de I 925 N' 26 I, 3 I de janeiro de I 925 N' 262, 22 de fevereiro de 1925 N° 263, 28 de fevereiro de 1925 W 269, 30 de junho de I 925 N' 270, 24 de julho de I 925 N' 271, 31 de julho de 1925 N' 274,21 de setembro de 1925 N' 275, 30 de setembro de I 925 N' 277, 31 de outubro de 1925 N' 278, 24 de novembro de I 925 N' 279, 30 de novembro de 1925 N' 280, 24 de dezembro de 1925
165
N' 2811282, 3 I de dezembro de 1925 e 15 de janeiro de I 926
Anexo 4 - Colaboradoras do Carimbo, 1885-1925
Autor Ano Núm Mês Data Título Estilo Se Local Africana , 21 Hi'IOut 11886 IAFe!icidade ,'Prosa. C.---- ---, -+ ' --- ~. ·-~~stmaGUIZZtlrd_'_, 211 23S[Jul 11S04-~ãsinha =: j~;~;á~iA_~ __
Albel1maParaízo Oj S2jSet 11S17 fEsboceto jPoes1a I
Aldin~;~--~~h~1fset--r04 :R~spondend-,--~~-----·- --- - ---- -jPoeS;a-lcuriflba -~Aidino.Corrêa ______j 1Si 159IMar 11901 !A-Pequena louca·-------- --iPoes;-;-TCuritibe;--~
I i ' I --· .' I Aldina.Corrê~:~ 1 17i 138 Mai j1900 !Salva! 1Poes1a jCur1tiba
Aldin~:~Corrêa j 15[_ 101 Out j,1898t\deusaolnverno ---=--=~foesm :cun~--Aidina Corrêa i 15,1 S6[Jun )189S _ILyra Celeste (A me mona de LUiz GUimarães) Poes1a ICuntibo.
AldinaCorrêà. : 14f-6JiMaj 1897fN~deLua ·--·--- \Poes1a 1Cu~--Aidina Corrêa 13_1 2BjSet !1896 [Lembras--te? -JPoes~~CuriCiba AJd;;;aCo;;.êa-----i~~ 131 22IAgo j1896 jAMiml ----~s;;iCuritib~--AidinaCorrêa i 13: 211Jul 11896 [AAiguém Poes1a l
1cunllba __ __
-~~---'--1 ~I I . .._L _ _l __ --1 AldinaCôrrea '1 131 13 Moi ]1896 jN'1nhoAhandonado jProsa Iuritiba
~dsAi~~-;dS ---i --o: a9Luii191'71fffigmentos-Pa.rao Mário~---=-~--~~=.: rT--.· -Alice de Almeida --~--Oj112. Jul j1918lSurget Ãmbulo. jPoesuõt jRJ
~ice -~e Alm_e~da _ !~]182)Ago ~~~1mbolismo ~~ ---_ := _-f~esia ~jRJ ---- __ -
Alice Moderno lo119B[Moi 11922 iEmMaio ~oes1a r --AJm,.iodoCoelho ~ oi 86J'O 19ll+clPo~oi,mo ·----------- ]Artigo -;RG -
Al~~~ , ---·Ta2Abr 1917 Sino --------~----·---~~-rPaes;;-iRJ~-· --
Alva de Prado ---+---i ~ SOMar j1:117 jDB~o___ ·--~O~R:J----Americane I 1 13Jun ~jAMulh--;;rBela · ~~~;~at---AnéJiaFranco j O 125Fev [1919 _\ALei do Trabalho __ ~ lArl1go_ -~SP ___ _
'A;âliaFranco --~--l 84JMai ]1917 113 de Mam ,·Ar11go .SP
'AnâliaFranco i o: 124JFev ,11919i-Notassobreãeducaçãofe~;-;;;;:;;-~~- -~r!igo ~--~lioFro.n;;;;----- '~ o·! 1B4!Set ;1921 ~NossoEdUcoçao - --· ---- ·-7nig~S-P~--~-· ~- -- --- --- ~-----~----~--~·-~- ----·~~.·~- ----- --+---~---·--
Andradina de Oliveira :, 14: IJiAgo _i1B97 ~O Beijo e a Lágrima Poesia i fc--c~-~c-'--4-d~l=+~~~~~---- ·--k:=-+----Andre~dina de Oliveira 1 14 65/Jun 1897 ]História de um Escrimo Prosa ,
""dmdid Oli'::L O 163 Oot t920f,~~eim R"YB&bo'o ~~:~:;: :SP-- --.
Andradinade Oliveira j O 205\Ago 11922 f4.má1ieF1gueirôa . ___ Ar1!~ j __ 1- -.__j AndradinadeOiiveira.U 61 Mai j1B97 AFestadoTrabalho \Artigo _]Pelotas __
AndradinadeO/íveira I 14. GAgo 11897 Anagrama i~ogogripl
AndradinadeOiiveira 'j 15j 96Jun 1898 Luiz Guimarães Junior jPoes1a 1
sagé
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0
JI 41 Jui 1915 PilginasdeumDiàrio ~~- ---frO~ 1Bôgé --
Andro.dina de Oliveira I ~ 167 Dez 1920 Saudade __ E~~" jeus~bá __ _
Anna Aurora j Oj 200 Jun 1922 Aos no-grandenses ausentes de Rio Pardo 'Artig~R1o Pardo
~à~à-~~~0 194Mar !19221AEducaçãodaMulher Artigo iRioPardo
Anna Aurora 1, O 154 Mo.i 1920 A Escola e as Criananho.s Artigo ]Rio Pardo
Anna Aurora / 21,1 242jNov 1904 ]A Ju/i~lo. de Mello Monteiro (No seu aniversário _Poesia jRG
Autor Ano NUm ês Data Título IEstilo sei Local 0: 2261Jul 11923 IA Escola e as Criancinhas IArligo
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Anna Aurora ! 22 1 2211Fev -~1905 iA Escola e as 6iancinhas ------ !Artigo ·RG
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Anna Aurora I 211 2351Mai :1904 A Imprensa ;Poesia IRio Pardo
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I Anna Aurora 1 1 B! 157 Fev 11901 Os dous Gauchitos ~~~=ria IRio Pardo·-Anna.Aurora 171 1371Abr 11900 EmYista(A Sepultura de meu Pa1) ,Poesia [·Rio Pardo --c---~ ' I I
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01161 Set 11920 Caridade (PresidentadaLMB) Artigo IRJ 1~~-------'--~ccf-----h~~--------- ---1------l------Anna Cesm OI 202 Jul 1922 Reminiscênaas fProsa c--c--------_c-c~~~~c-~=c~~-cc-c-~-c-c~~---------JUffiffi~ria~!--____ _ Anna Cesm i o·, 1 ao; Jul 11921 ,Rainha Heróica (Conclusão) ',Artigo I
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:Anna Cesar _------L__ OI 1771Jl!n ]1921 Edu' Chaves ------ r~,;"'" I --~------L---t= ~- --- R<!Wfi_j___ ---
AnnaCesar , Ü' 182l~o 11921 IOMeuCéu-R:oGronde ai! meus pensamentos Prosa 1
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Anna Cesm _J_ __ o: 1 86~Nov _11921 IConf~r~nc1a s~bre a Ed1
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AnnaCesar , DI 179Jul 1921 RainhaHeróica(cont"nuanon 180) Artigo)
Anno Cesar
-' Anno de Ce,stro Osório j O. 240)Mm 192.4 Feminismo Burguês (Conclusão) Artigo
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AooadeCe,I!OO,úi;Tül 21'~:"-~~::::f~~,',j:f.~e_M_ Mgo .I-= Antonieta Lisboa O 981Dez i1917 •Visitm os Enfermos e Encarcerados ]Artigo Caxias SeJdanha_____ J__ --. --~~---co--~--1 Antometo.Lisboa O. 771'Jon 11917 ISimile !Poes1a iCilXias SEtldanh_a__ _ ___ -----L_ ; __ L --·-------·--- -- --- ---- --- ·----. -- -Antometa.Lisboa
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0' 105,!Mar )1918 ,!Jesus-Aumlntruso _____ Poes1a !Caxias
Antonietallsboa I 0·, 1221Jan 11919 ·Engano- à Vivila Cartier Poesia ·Caxias
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~~---·---'~ oi 154Me.i 1920 HistóriadeumLeque-ÀColegaOrchid~ .. 'Prosa jCuio.b6.
Aurora Baumgarten ! O! 88!Jul ,1917 eiscurso (Condusão) --- --- ----~ :RG
Aula de Souza O! 104 M& 11918 Agonia do Coração IPoe_'c'"__j ____ -__j
Baroneza de I o! 931=~~-----j A Lágrima. -----------~ ·/Po,ie . ------
BeatnzChermont OI 203IJui 11922 !AMonhãouaTrude Poe~---
Belmiro.Ade.Silva ! 1[ 11Abr 1886 Lembrança -------rgPoe~-h- ___ _
Branca DI 156 Jun 1920 Agonia ~ ~ __
Broziliano. Marti ój 191Ago 1914 1A Religião Prosa "RG
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Bre.ziliana Marti 1915 'Cemitério
Brazilia.na Marli 1915 Súplico ao Sagrado Coraç6.o de Jesus
1 Autor Ano NúmJMês Datai Título Estilo Se Local Oi 531Jan 1916 i1915 iP!'osa 1RG
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BrazilianaME111i 1 O 129jAbr -1~~-9 lO Horizonte da Pátria ---·-----i~!~--!R_G ____ _
BrazilianaMafil-- -----,- O 1B31_Set 1l!mloTrabalho Prosa ;RG
~~~.----,ro~~~~~~----------- ,,,. lo. ·---~"""'-'=-·----BraziliEmaMarti O 991-IDez l1917 1916 Prosa 1RG
~~-~~-~-~~~cc~~~c~-~----------4Y~IÃ001"40~--~ Braziliano. Marli 1 O 82 Abr i191 7 A Redenção Prosa RG ' !
Braz1liena Marli
1 O 93Set :1917 APrimavera ~Prosa iRG ------.~~~-+--c!~+c-+' ~,+~--------______ UteJ"'"-j __
BrazilianaMtirti : O' 96Nov i1917 IAs flores Prosa :RG I ' j • ' '
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,...._. ........ a.n O 167 Dez 1920 !Eterno Sono Prosa RG ' . ' io:==c;:::;:-----t--;;1-±-ct.-;;,-;c+,' cn===:----~------j~""--+.c:;c----j BrazilianaMarti O 74 Dez 1916 IA Desobediência Prosa RG
Braziliana Marli
loc-~~c-c--+~· --1-----c~~""--c~-~-c--c-----f.!"'·rérii'L.f=--~ Brruiliana Marli O! 132 Jun 1919 lnvocaçõ.o-Ao Sagrado Coração de Mana ~sa RG
l;;-~=-+---.c-;~---t.;=-l;;-;c:-~-----------l!f""""'--1=----t Braz1lia.na Marti I Oi 124 Fev 1919 O Sorriso Prosa RG
Bre.zilianaM~---[-1 'o~~~-1;<6;;-1ts~.~, i,;;,~z"oiA-.-cP~•i=m=av=,~,.=--------- ----,~~~~~ro~~-"-Ci~R~G----BrazllianaM&tr ~· Õ~-1;;0~6~:I,Acb-,41;;9;;1c8- J',-,-,------------- ----- i~r~~~is 1R_G __ _
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: ' BrazilianaMartJ 1 O 1131Jul ]1918 AEsmola Prosa HG
la'',.-,cilcia_o_acM~Brti --- i O c_fH/Set 1 918 AV;-Mc.-,cia-----------~----- --~:~~:ia ,IRG
b=c;::;:--+-h.l=-\-;;-;;c~=z---------f.!"""""-1~---1 Bro.zlliana Mo.rtl i O 151 Abr 11920 A Situação Proso. RG
Bro..ziliBna ME111i O 122 JBn i191 9 Ao excelso Deus Prosa RG
Braziliana Marli O 147 Jan 11920 Gratidão Prosa RG '
Braziliana Marli O 136 1~0 l1919 !A Paz Prosa iRG
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. i __ -"*l~iteffi••RritLj------BraziliBnaMarli --- i O 176:Mai !1921 !Arnorde.Mãe IProsa 1RG
Bro.zihanaMarli O 2791Nov i1925 1Natal --------- -----~~~:i~B :RG _____ _ I I ,· I ---- I
B~alihrulo.Marti _______ D+-zaãiO-ut :1922 121 deout~bro -------- ----------r1Pr0sa -.R-G--
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BfflliliMa Marli --+-+=±~J~0--Lcc------____ ____ I iterÁ ria
1 O 230 Sei 1923 jPrimElVera Poes1a RG ----1
io:::-::=--=--j---;;[-;;;;;fc-.--1·;; c,;;-l/=~·=:---··---------j=:---i=---Bro..ziliana ME111i O 226 Jui 1923 !Dolorosa Situação Prosa RG
Cgc,.-,'ili7M_o_M~am'---+,0+-2°0°5~Ag-o-j1°9'22,.-!17od's-so,.~m-c-bro--~18°2°1J~1=9~22"'" ____ ----f.op,~,~,~o~tR;;Go-- -I ÍIF! ' ifL
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Brazilina Mtirti O 23 Out 1914 A Gue!l'a Poes1o. RG I
Candida Ab1eu 13 21 Jul 1896 --~AminhalilinhaAracy Poesia Pelotas
tc'a-ocdicdcocl'b~.,-,---l--~1°31--c22.JAg-,-o-j1;;B~9~6-~~(C0'h_m_m_o-------------·- Poesi~ Pelotas
bc.mc=c,1cdcacAbcc,,=,=-----r-,,osC.1 "1 o~Mc.,:-l;18ru9;;9ct11.1=m=,•o=.,c-----------------------------bp>.0~,c,~,.:-1·p'c,c1 ,=,.=,=----i CB.ndida Fortes O 139 Set 1919 Hosana! !Poesia Cachoeira
Autor Ano Núm Mês Date. Título Estilo/.Se Local Carlota O'AqUitanra 1 i 12 Mai /1886 I llogogrip rRG
1 .c_----i'~"ccc---i1;c~c--carlota D'Aquitanie. ! li, 2 Jul !1885 ]Abolicionismo, algumas palavras a Q_ L;~re. IAnigo I.RG ·--
b:::cc:c==.~cc~- '---c; ~J_. ~ _J__ 1 --i Ce.rlote~ D'Aquitania 1 J Ayu 1roo::J iCartfl àinsrgne poetisa JMM. a propósito de iCrítice jRG
~~~- -+-~J---J-------~-.-..-~des do nopla oaranaens.ILD .. J'Jesc __ ,Literária _L___ ----j CMota O'Aquitania i 1 4 Set [1885 :o meu ~b~:S' eximia poet~sa. e distinta ~~~~~~~•e 1~RG Carlota do Amere.l 15 101 Out -, 898 !Impressão (Ao limo. Sr. M_ j_ Gonçalves Jr_ após Poesra Aro Pardo
'' ~~. ---1 1 14 80 Out 1897 I Riso e Graça(À interessante Pa!myraAzambuja) _JPoes!B :IÃiOP~o-
i 15 1 00 Ou! 1898 rVinte e Quatro de Julho (A rnemória_do !Poesia I Rio PEI.rdo
Carlota do Amaral
Catiota do AmaraJ
~~~~c--+-~~~~~~~~~~~Mlliillft•Gr.,,ama I _ __J~~-Carlota do Amaral 141 60 Meu 1897 IAOrfã(À alguém) ;Poes1a i Rio Pe.rdo 1ê:.~~=n Unzer I O 89 Jul
1
1 !H 7 Qrcular !,Artigo .IRJ
Castonna de Vargas i O 226 Jul 1923 iA Mulher Escrito especialmente p/ o Co~Artigo IRG ~Ca~'~"""~"":"':,c,"vo~,=,,~,c,:--!-1 -.,,h,,,,,bac,c, -/,,-,.,c,c+IAccMc,;c:lh8r·e o Tr8beJho -- Artigo-- ;HG ---
~~~~~~±:.~~~----------~~~+-----CealiaMeirelles 11
O 184Set 1921 Misbcismo Poesia .
: 14 80 Out 1897 !Noite Ideal " __ roesi~-r--Cacy ~~aAmarode ChristinaArnaro de
r-;o;f.c1c2c4;C,F~acvcJ~As aparênaas-ÀNilda --- ---- !Poesia IRG '
'.--~-1 ChrislinaAmaro de Medeiros
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O 85Mai 11917 !Devaneio ,Poesu::~. ,RG
O 116 Set 11918 ~Na e;ir~do. --~- faesi~----~
Chris~na Amaro de ' O B8 Jol 11917 INwaM jPoa<io IR_G 1 [) 125 Fev 1919 Dualismo !PoeSia RG ---
~Ch~ris~,:~o~o';Amc:co.::::ocdc,-i-- 01
23 Out 11914 A Mulher e sua Educação --~~~go iRG--
Christina Amaro de
ChristinoAmaro de i 01 109 Mo.i 11918 O Perfume de Alice 'Poes1o. :RG
Chrislino.Arner~ 117Set il91B jPensMlentos-paraoCorymbo IPoesta RG
Christine.Arnarode ~ 141 Out 11919 ~rede · \Poe,ci-o-fR"G~----~
Chrislina~arode J -01 101 JM 1918 jPensamentos-ParaoCorymbo ·1
'Frase i'RG MadF>im. ' , ~----
~~~:~~~5Amarode j DI 163[0ut :1920 j21 de0ÚÍubro-A~-Corimbo _ ______ lp~ÇR~G~-- _
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ChnsbnaAmoro de 01. 2BIDez 11914 .LBgrimas (As amigas Julielo. de M. M_ e R.evoce.to.I1Prosa IRG
~~.irns___ --i~c;,!lc =I '/:lriRivll . ___ LrterflrifiL';""-Chris~ne.Amarode , O! 107Abr i1916lcondê0 ,Poesia iRG MedelfOS I I ChristinaArne.ro de j OI 102 Fev 1918 A Sempre-Viva Mede1rns
___ j~oesta RG
Christne. Amaro de O 114 Ago 1918 O Renegado ----------~- Poesn:1 [RG
ChristinaAmoro de O 138 Set 1919 Judas Poesia /RG ~_'.k"'c::=:c:-+~-,+~=i=o+.===:--;c:==c-- ~-Christim:l Amaro de o 120 Dez 191 a 'Hantem e Hoje Ao Col)'l1lbO .Proso RG
~c:~:r~s::;i~:~s:•=m=o=•=o=d=•===~==o~==•o=B~M==ru=· ~1~9~1:B=~A~M==ol~h•=•:B=•=·~,,~,,=,,=,===========~==========~~~~~'•oc'",cr:"~cr•~c'-t,RcG:=:-----i ~~::o da I : 9: ~: ; :; ~ 1:::0
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Delminda Silven!:l
Delminda Silveira
1 '"' ,,,, O 198 Mai 1922 Solitária- À Mana Mutler Pros1:1 Cuiabá
' O 156 Jun 1920 Yespe!1inos IH- Saudades- Pm1:1 a alma bela e Prosa Florianópolis
O 12 Abr 1914 Sétima Dor Poes1a Florianópolis
Autor Ano Núm Mês Data Título Estilo/Se local DelmindaSilveire i 01 1B
1
1Jul 11914 ~AveMaria !Poesia :Florianópolis
~lm·~,,cdcacScil-va-,-.,- ·r-~ 480ut _[_915 Mote -~·------- -----------~Poesia IFioriBilópo~
DelmindaSilveira O 139!Set 1919 Setembro ~Poesia jFlorianópolis
f.Dcaclm-icod-ca-Silva;--.,--+-l-cOOf-!~29~1Jca-,-+,g;si;;\~-,-,=Bo-roc.clico--~-·--·----- · ----~--~,P~ . .,.c,c~-. ·lj,Flcacri-~-ócp-aclis--1 : j !I~ M
Dc~alcmcm_dca_s='clv_aci'_"_~l- O 1531Mai 11920 13 de Mwo AConfraternidade Brasileira. toesia.
Delminda Silveira i O! 138 Set 11919 Confidênda !Poesia !Florianópolis
iflorianópolis
~~~--~---~!~~~~-c---~~-~~--~-~--~--+=c--~ Del~inda.S1Iveira I O 149
1Mar 1920 Ve::~~:s~::~cordações-Ao sentimental iPoes1a :Fior~anopol1s
Delmmda Silvelfl'l. O 226 Jul 1923 !Os Velhos- Do 'Escolar'. livro didático em Poesia Florianópolis
Delminda Silveira O. 95 Out 1917 À Tarde
Delminda Silve ire. o 28~Del 1914 !Coração de Jesus
Poesia Florianópolis
~~~----~~~~-t~~~~---------------k---·~l--~Poesie~ Flori1111ópolis
-Delminda Silveim o
' Delminda Silveira o
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Delminda Silveira --!---
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Confabulando- à Minha penna
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iAftigo Florianópolis
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!Poesia FloriBilópolis
- ·tTraduçã ,Florianópolis
O 1671Dez j1920 :Medilruldo e.o Lue.r !Poesi"J'Florianópolis ---------·------ ---1--- --·------·---·-- ""-" ---- -·-·---;:-
Delmmda Silveira O 7 Jan '1914 Duas Coroe~s (Fre~gmento da poesu:~ As duas !Poesia IFlorie~nópolis o;n;, a_l '--
~inda Silveira O 86 Jun 191 7 No mez de Ma~ o -'- Poesia •Florianópolis
fco"e"lm=i,cdca<sc"c,,c;c.,:--l---;;of-o;1~05ci.Acgo::-!1c9;;;,22-·)Ave. Pa'·•c,,-,=---------------+-Pco-,c,;-,--loAcacrio_o_ócp-,c,-,
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f.c~-o-~-~---1-+=J': ~*'=1-cc--c--~--------""~"" ~--~ Dulce O olores O 1 04 Mar 1918 iA Luz da Cisma. Poesia Recife
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joulce Paixão I oi 277fout--tm1Tc;ccao--;:O:;Ih"o",--------.. ·-_-_-_~------:,p-_,-_,-cs-ic~_J~R-;Gc·-_··· __ ---l· Dulce Pe.ixão ; OI 221 IMe.i i1 923 :Me.io :Poesie. 1RG
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Elviro Campos
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11919 Divino Crime ----
1916 Tudo Mentira
Elza G. do Nasa~~n~--+~±-+.=--jcccc=------o 161 Jan 1925 Sonho de GJóriB- Conto da Quinzena -
EmlliaAugusta Pemdo o 101 Jao 1918 APé.lrie~
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Emiliana Delminda o 140 Oot 1919 As Borboletas
Emiliana Oelminda o 148 F~ 1920 ~Resignada
Proaa :Minas Gerais
Critica .. Poesia
Poesia ' -Prosa ..
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Artigo São ~~inon.<L_ ·----
Poesia
Poesia ~-·~-
Poesia I
Aulor Ano Núm Mês Dala Tfl.ulo Estilo S_el Local Emestina O! 1151Ago j1918 !O Louco !Prosa 1RJ
l=-o-~--c--+-~~t·oc-i1=+1 ~-=---c---c-~~~---c----!l11""' """"+-. ----Erneslina Macedo j OI 60 Abr 1916 Di~ de R nados- À memória de-min~a saudosa :~;~s~.
E•fu-rue~l~m'~"~'-"_c_. --~·-c2~1~[ ~2~41JS~•-'+'~'0~4+10~C-ol_"_' d~e~L-à~g~rim~"'-(~Cn~od_"_'~ã-o)'__-_-_-~-------~-_fj,_T~,~o~dowçã~]-- --- --Gu ! 1
:::-h::=:---1 Eva Canel 17[ 138-Moi p 900 Hé.gase la Luz! (aios distinguidisimas redactoral rrtigo Pelotas
F. aotilde (Francisca) I 81 Mar 1
1917 ,OÚIIimoAmigo Prosa
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F. Clolilde (Francisca) OI 104 Mar 191 a Conlo Infantil
F. Ooülde (Francisca) 22 221 Fev 1905 Nalel
F. Clotilde (Francisca.) 1 8! 1641Jun 11901 O Inverno
F. Ooülde (Francisca) O 99Dez 1917 Nalal
Fé ~ O 208 Out 1922 Homenagem
Fé 01 167 Dez 1 !!20 As Duas Margaridas~ Traduçã~f~,o Carimbo-
Forasteira (A) 13 22 Ago 1896 MiniaMa
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!Poesia
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Poesia Ceará
Prosa Palatos
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Poesia RG
:;---f--;-;f---o;;;l;;c;-+.;;;;;+==---------;==-1;=----' --Forasleira (A) 13 30 Sei 1896 Fragmento 'Poesia R.G
lõFc,=,o=,~,.=,,=oc(A)c;;c---f--,,~J-2'J~Ag.-::o::-ll;;Bo9-oB-+.io"•"•"'"•CA'-g=,=,"~n=("Ácm=em=ó=ria::"'dCecGCoCm=e=,=a=odoo::----J [IFP"-oe=,=t=o-!Ro;G-;c-·---lc-~~~--Tj __ lJ:·,-~~~~~,~~~---------------*~--~-----j Foraslelta (A) 28 Sei 12896 As minhas noites !Poes1o R.G
' Forasteira (A) I 11 154 Fev 1894 ,Velho Tema-Qual o idade em q. o amor é mais !Proso R.G
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Froncelina Campos O 174Abr 1921 LuxoeVaidade Arligo '
Francisco.lzidora O 102Fev 1916 Esboçai- Prosa Pernambuco
Georgina. Teixeira o 3 Nov 1913 !Velando Poesia
Hecilda Magalhães 01
183 Set 11921 Fragmentos d'A!ma Pmsa POA
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Hecildo Magalhães O 187Nov 1921 PétalosD'Aima Poes1o POA
Hecilda Magalhães ! O 140 Out 1919 Oferenda à Maria da Luz Seiler Poes1a. POA
o: 261 Jan ,1 925 Gallileu Helena Nogueira
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Artigo RJ I '
lc"~'~''~''~"-----i~-'~'t! =''~~~J"~'-t.l'~'~"c-i!=c:-c=:::-:c:-:=::------ ------,'-.F~'"='~'-,iR"G"" ---~-Heloísa ! OI 119 Nov 191 a I Carta sobre a escola Artigo :R.G
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Frase Heloisa i 13i 1 O Mai 1 896 I
HêTõ;---,-,-----t-;1~4-,s"o~o~,7,-t.-19~9~7-t.-A eo=,~,------------- -- --1t",'=,,~'.":-~;;RG- -- ---Heloísa ~~~sa RG I -==----f--;-;f--±c-i;-;=f--------------r.~~;;c----j 'H-eloísa 1 3 1 O Mai 1896 Frase 'RG i
13 30 Set 1896 O último adeus
Heloísa 13 10Moi 1896 Frase RG
Heloisa 2 15 Ago 1886 Miniaturas (Escuta ... ) Prosa RG
Heloísa 13 10 Mai 1896 Frase RG
~~---f--~~~~----------+~==-~---Heloísa 13 19 Jul 1896 Frase R.G
Heloísa 13 lOMoi 1896 Frase RG
Heloísa 13 21 Jul 1896 Palavras ao Coração Poesia RG
Heloísa 13 10Mai 1896 Frase RG
Heloisa Volda o 112 Jul 191 a Carta às minhas alunos Artigo
Autor Aoo Núm Mês Data Tftulo Estilo/Sei Local Heloisa Valda ' o 191Ago j1914 iRapsódias Frase I
I : I Hermengarda o 139,'Sel 11919 I Carta Íntma- Querida Stelle Artigo RG
I Hermengarda o 1J4!Jul 11919 !Carta de Amor- Sonhador Ignoto Prosa RG
'''" . Hermengruda o 132!Jun p!n9 :Palestras Femininas Artigo IRG ' ' I
Hermille Messias da 1 41Sel I"" lO Perdão (conijnuação) Traduçã jRG? '
Hermi!la Mess1as da 1 6 Nov 1865 O Perdõo (continuação) Traduçã IRG? '
Hermilla Messias da 1 1 jJun 1885 jO Perdão (parte 1) Traduçã RG?
Hermilla Messias da 1 11 iAbr 1 !!86 iO Perdão Traduçã iRG ? --
Hermilla Messras da 1 101Mar 1886 O Perdão raduçã RG? '
Honorina Bittencourt I o 212jOez 1922 A Meu Noivo Poesia
lbranbno Ct!.rdona I
o 1041Mar '
1918 jAimprensa Artigo Mogy-Mirim
lbrantina Cardona 15 85IJon 1898 Carta (À Presciliana Ourute de Almeida) Artigo Campinas
Ida Schloenbach o 11/Mor 1914 O Coração Poesia SP
~ta(A) - 21 ' 2331Abr 1904 Sonhos Poesia RG
Idealista (A) 16 113:Abr 1899 Oié.rio de um Core,ção (Continua) Prosa :RG .. /llferilrie I
!Idealista (A) 15 10010ut 1898 Poesia I"" ]Idealista (A) 16 115iMai 1899 A Luz do Luar PoesiEI. IRG
' llde~i'ta (A) 1H 164IJull 1901 Embriaguez Poes1a :RG
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Po9sia ~RG ]Idealista (A) 16 133 Fev 1899 Idealismos I '
jldeo.listo. (A) 15 961Jun l1896 iDorme(À memório do soberano do lirismo) Poesio -RG '
]Idealista (A) 21 239 Jul 11904 !Recordando Alda Poesia RG
~dealista (A) 22 221 IFev jl905 i'Em Ruínas Poesia RG
!Idealista (A) 17 1371Abr 11900 IArnor F!11al Poesia :RG I
]Idealista (A) 15 101,10ut /1898 Teu Nome Poesia IRG-'
lgnez Sobino 14: 45 Jan 11897 jFedereJista (À Revocata de Mello) 1Prosa :RJ -- - _ _______.li!arf! · --lgnez Sabino 161 133.Fev
' 1899 Oélia (Conclusão) !Migo RJ
lgnez Sabino 4 34~~0 1866 Saudade (À Mariano Gonçalves) Poesta •RJ
~z-Sabino "' 13 12!Mai 1896 !NaArêna Mgo RJ
lgnez Sabino o 11 Mar 1914 Romeiros (Condusõo) Prosa RJ
"" '''" lgnez Sabino 15 10010ut 1898 Vasco da Gamo (Conclusão) Artigo RJ
lgnez Sabino 13 5fAbr 1896 Última Jóia (À Revocata de Mello) (Conclusão) Prosa RJ
lgnez Sobmo 13 13 Mai 1896 NaArêna (Continuação) I Artigo ~~J
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cc;c :c:-""c:cc::-occc= p;;:;j~ffiAmbulante (Ã)-1 15: 1 DO OU1 il B!i8 Ga.leria Anistica- Retratos l~st~laneos -Ann~a. IAnigo r----Re~cata --I 15 !i6 Jun --t1-8!i8 Luiz Gui~arães Juni~r-. ·- -- t:rt;g-o ----~---R"V"-Ia 1·
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Revocata 13 19 J"l 1896 O Or_ José Joaquim Sea.bm. Artigo RG
Autor Ano Núm Mês Data Título Estilo e Local Revocata. j OI 1 Jl jMai !1919 I Carta.. a. Rophael Cabeda. Artigo RG
ReVoCfita. ~-~-~~Agõ-ro.rande Data ~~~~- iM~,-,~+,11R-G~~-o::-;=:::-;====---- ' . .. ~ Revocata ! OI 12BAbr 1919 CartadeAmiga-QueridaPepita !Artigo IRG
~~te I oi 128Abr 1919 ICastro-A~I~v-,--~~~~~-~~~~~fc,IA~rt~ig-o~~j'''·R~G~~--
ReVOC!lla ! O 126Abr 1919 !Correiode.Serra !Migo 1RG --
toRc-e-~-~-,c-,----i--T=t-c--i=c+.~~-~~-=~=~ ----~A~RncG;c----
. ' -jMi~o IRG
~--t.A~m9~ ·-----Revocato.
oi 100 Jvo 1922 Soldo.nha dEI. Gama- O Herói Mortir
o! 130 Moi 1919 roe~embargador James Franco
' -
I O! 120 o, 1918 !Carta sobre a ação da Philantropia Revoct~.to
Revoco.ta -c---c--oc-~~~~--~~~~-~-·~RG
~~c,c,---.-__ -_l_ 01 135 Jul 1919 Carta de Conlraternização- Mi:~o Ide o.! morienne.~~rtigo IR~ ____ _
I oi 132 Jvo 1919 Sa.ldemha da Gam11
Revocata ----+"0
ao"'. I c,c,:;;oboc,c., -t,-1;;c9l;;gcl:o;;cpc,c,c,~:ccd.:o Inverno .Po~G foR~e~vo~oa=:••==~-- -ni 141 Out 1919 ;C11mpo Santo (2 de Novembro) !Artigo -·-t~R~G,---_-----'Rev=='="'c'c',-----=:==:0:1 ~l~<:l~O:v=·~ r''~'"','~'=:AD~~c;-""'_=-·="='='m="-',':o'cmcécricto;:p-;o;;ecta=Ze=f-e_rin_~-Brastl !Poesia IRG --IR-ovooota j O; 1 DO JM 19te A Maçooa,ia- de Belêo de Simogo T.advçã tRo----f,Rcec~cococtac-- ~-~,~~~o" I, -i4g.i'M~,-,-t,~92~oc-tciA~T~,-,-,.~d~a;L~v~,~~~~~~~;~;~;~--~---~~=------~~~r;,1o~·-;~:,n,-io:~iR~•o;~~~~-l C,Rec:=:v=o:oaclca ____ -!---;;!.0 ff--,12;.9;lA-ub,-tl;;9"1;;9-bf!Ca .c::crtco:L-;ite;;'cóc'icn;;-~lfvc'-·_'_P_o_e_lo_C_o_e_lh_o_do_c_o_"_o_ _ ~ ~~~::i~~a iRG Revoefita. j 0,; 112 Jul 191 B Ensino Obngatório ;Artigo :RG
Rev0~~,,------+, ~o+r'~,'ocJ, ~~J,-,+,~,,,--"''E~,,~m~,---------·-----+.~M~g-, -~oR~G--
Revocata 01101 Jan 1918 Tipo Cavalheiresco "Poes1a RG -
RG Revocota ~-
0~103 Fev 191 B O Analfabetismo e o. Mo.çonrnil'l /Artigo -
Revocata --
Revoce.to.
1918 O Am:Uiobelismo e a. M!iÇonaria Artigo DI 104 Mar ~----~-~·~~to~~~~-----------~----~~--~~--~
r 011
1 07 ,Abr 191 B .Tiradentes !Artigo .RG
RG
--Revocata ===--------j OI 124 FeV"ji919ICarto.Patrióticti.-ÀGuerreiroVidoria _____ ~~-+.~Am~g-o- ~G--fo==-- ~-+--;;;-·o;;c.;l;=-1~-i;;-;===-=-:-;-;:==------~=c -\o,-;c----Revocata
---Revocalo
- ~~'-~o,: .• "-'Jfev !.11 925 lo Anallabe!ismo e a Maçonaria iArtigo ,RG I J _ -------h-----~~-j
: O 1491M~r_r 920 IDa Galeria dos Insubmissos Guerreiro Victorio 1Artlgo .RG
tR~o_v_o --"~'"===~-~----~-'--~0~' --co'-',~s-"-+':'~'"';~I~C~o~n~f'.,'=~,=,_o--c---~---~-~---_-_-_-_-"=~~~~~~~~~~--'-jP~'~'-'_ia . jRG ---Revoca!a. I o r 114 Ago 1918 No Jubileu de Ruy Ba.rbosa I Artigo :RG
Revoca!a. ,I O! 115Ago '1918 CaixaMaçonicsProtetora --------I.Mg~·-Revocalo 01 203 Jul 1922 Gaspar MEII1ins Artigo RG
Revocala ---,i'---o~~-117 Sei 191 B IA Volta. da. Primavera Poesia. ,IRG
1=::=:---1---;;r-;-;-.;id;o;oi====::-::e:=== -"--1--cc-i=-----l Revoca!a. OI 117 Se! 191 B Carta sobre a Maçoneria.- Cara e in!eligenle Artigo RG
Revocala O! 119Nov 1918 OA!ogado Prosa ,RG
Revocata 01 filli~l 1918 Grandedor ---~~-~~P"'o~e,"''i~':e=-CR~e-~c,~o~lo=--~-- -+. ~~OOif-cl7~1+.M~~CC~l9'"2;;1-+.J~o=.vc,~--~~~~~~- -~~~-t,Artc;::ig=o--
1RG
Revocaia------1- DI 147 Jan 1920 O A-qv'i~d-ob',---À~d'i,~tin'ta-o'fia~o'l'id'od-c-e-d'o~M~<Y=m''ha'-+M=g'oc--+R~Goc-----j
Revocata 01 1 65 Nov 1920 A Festa da Ror Artigo
Aevocalo oi 166 Dez 1920 Romeu Mello- 1 3 de dezembro Artigo
Revocata O! 193 fev 1922 Um Golpe de Honrra Artigo RG
Aulor Ano Núm Mês Data Título Estilo/Se Local Revocata j_Oj~iMar _11922 IOs001s Presidentes bgo !RG
~~c~-~ O) 170[Mar )1921 ]carta Política- ~inha Valente_ M8m:~na ·==·-kgo 1G -=-----Revocata ---- I o 162!0ut 11920 rquelaCa.sa-AJulieto ___ resla ]R~---Revocata i_ O 171 !Mar j192l JAo Natal de Sabíno Magalhães- 30 de Março ]Poesia ~G Revocata .1 O J73[Abr 1921 JDa Galena dos InsubmiSsos- Maael Jun1or jAr11go
1RG
--Revocata O 174 Abr 1921 A Tnunfal Maçonona ~Ari1g~RG ~-ocata _____ Lo '"C' 1911 GooamiJocaTava"<-24daMalo =-_Ego IR=G----i
Revocata i 0~6jMI'ii 1921 Um Grande Apostolo da Maçone.na jArlig;- RG --
Revoa:~ta O 1 BO)Jul 1921 tGa';par Martins- 23 de Julho ]Artigo 1
RG
R-;rocata O 1850ut 1921 jAUberdadedelmprensa -------~cig-o-tR"Gc----i Revoa:~ta O 168 ,Jan 1921 Cartas de Várias Cores- Minho boaMe.n~nM jArti~-F-----Revoa;;_to O 155 Jun 1920 Carta Maçônica- Minha Marie.nna fMígo IRG -·-
Revo~ O 151 [Abr 1920 Carta sobre um wande Ideal- Minha Val-;;te---------jf'nigo ~----j iR"e~éata ' Oj 151 [Abr , 1920 ,Da Galeria dos Insubmissos- Fredie.no Trebi ---iMgo JRG
~evoc~~ _! ofls3~1920 foAn·altabetismo -=1rtigo-~~R~G~--Revocata L O 153/Mai )1920 OaG8leriadoslnsubmissos-AmoldoMello Artigo [RG _
Revocata O 153,1Mai 1920 Uma Tarde no Cemitério -5 de maio ~os_a_ )RG ---
Revocato O 164JNov 1920 Carta Ooutrínâria- Minha Valente Marianna ~~~~u,_t-AG--__
oo-·------+----oJ---1 ---ko- -Revocata O 154[Mai 1920 pa Galeria dos Insubmissos- Raphael CWeda 1Artigo 1RG
Revocata O 150jAbr 1920 JesusCristo --- •Artíg~I;R~G:-----1
Revocato O 197~_Abr 1922 Ave Portugal! Artigo RG
Revocata _____ Lo 156~Jun 1920 Olnvemo Poesia RG
~~cata i OI 156!JuJ 1920 Silva J--;di~ -1 de Julho ·-=------ ~rtigo __E--· Revocata j ojt56!Jul 1920 NoCampoSanto-9deJulho ,Prosa iRG
~~cato. -----l O 15B!Ago i1S20 AMo.çonono --· ·--- ~~~~~ria.lR"o:------J L_ , ~ I I
RSW"cat8 ____ 11 ri 159)A~92o D~e~s Insubmissos- Rom6rio Fernandes Artigo -~-----
Rowcato ' o 160 Sol I"" ICartado Solidariodado À v"''"'' Mariaoo_.__ Mgo IRG
Revocâ;--·---+ O 154 Mai 1920 Desembargador James Franco -1 B de moi o Mig'Ql~·----' Revocata 22 223 Mar 1905 O Náufrago . Proso IRG
Re"Vomiel. o
Revocaiel. o
Revocata o
Revocata o
Revocata o
~Cata t:1 Revõcato o
Revocata o
Revoreta o
42jJul 1915 ('-Noite
" ·Jul 1915 Respondento
J7 Mai 1915 Uma tarde no Cemitério- Maio
37 Mai 1915 A Maçonaria
32 F~ 1915 Gutenberg
29 JM 1915 General Joca Tavares
lODIJar1 ,1918 Aotidna
'
-- --Pro <a RG
Artigo RG
Pro<a RG ·---
f'<'go RG
Artigo RG
Artigo RG
Mio- ----RG
18 Jul 1914 O Gre.nde Apóstolo da Uberdade (GSM) Poes1a RG
151Jun 1S14 HonrroroPossado --~Artigo-t(R"G~---~
>wto• A" o Núm Mês Data Titulo Estilo e Lo"' Revoce.ts.
I o 11 Mar 11914 O Crime de Mme. Cai!lewx IAr1igo iRG
b--·· ' o 93 Sei 1917 O dia de teus anos:25 de setemb~~~ _j;~esia _jRG Revocata ',
Revocata i
o 3 Nov 1913 C~:~mpoSanto ;:i~ - I ---
Revocata ' o '" J,l 1923 O Homem Delicado Pros~ iRG
. Revoceta ' o 230 Set 1923 O Maçon Artigo RG
I
Revocata 12 121 Fev 1905 José do Patrodnio ----~Miga IRG - -
Revocata 21 '" Set 1904 A Lei do Trabalho --figO
RG ' ' Revocata ! 21 141 Set 1904 José do Patrodnio Artigo jRG ·---
- - --Revocata
----h~ 235 De< 1923 Ceirtfl. Pela maçonaria- Minha Boa Marianna Artigo RG
-Revocata 233 Ab• 19114 A Volta de~ Primo.vera Poesia RG
--Revocata 21 233 Ab• 1904 O Homem Delicado (Condusão) Artigo RG
~Co cata --, 138 M~ 1900 A Descoberta da Péltria ~"''~ IAeVôcata --
~s~- RG ·-, 137 Ab• 19[)0 ADespedidB
Revocata 16 115 M~ 1899 Uma Tarde no Cemitério Prosa RG
Revoce.te. -----h 110 Mo• 1899 Celme.Apmente Poesia RG -- --
Revocato. 15 101 Q,t 1898 Os Hóspedes Prosa RG I I iterérie -
Revoca1a I o 3 Nov 1913 As Aves Pro e o RG
Revocata.
I o 95 o" 1:117 AMa.çonoria Artigo RG
-- -Revocata. o 91 Ago 1917 A Mentira. da.s Sala.s (Continua no n! 93) Prosa. RG
--R~- o 66 J'" 1917 A Recorda.ção Pro e o RG
Revoca.ta o 89 J'l 1917 Gaspar Mortins PoesiB. IRG Revocate. o , Ab• 1923 Uma Recordação f'rtigo .RG - r - -- ----- ----
--~Poesia ---- -
Revocata o aJ Ab• 1917 Comparando RG lo---- ' - ,_ Revocata o 92 Set H!17 Vinte de Setembro
r::.~ r:: -IRevocotO --' ----
o! 98 Dez 1917 Adorodo Romeu
~-----. -Revoce.ta o 120 Ab• 1923 Pelo Maçonaria (Às distintas Lojas Maçônicas Artigo RG
I o Revocata 81 Mar nm Jesus Christo Prosa RG
---t-o --- -Revocata 222 M~ 1923 O Direito de Voto e a Mulher Arligo jRG
Revocato o 72Nov 1916 Visita ao Cemitério em dias de finados Altigo RG
RevocatH o 48 Out 1915 O Dia dos Mortos Pro• o ,RG '
Revocatade 3 25Ago 1BB7 Inédito Prosa RG - -Revocata e Julieta
i o 133 J'" 1919 À Vinicius- festejado Colaborador do Tempo Artigo RG
---Revocata e Juliela o 148 Fev 1920 Carta Patriótica- Respondendo ao iluslre Sr. A M. Migo RG
Revocolo e Julieta o 1B3 Set 1921 Certa Aberta -À Guerreiro Victoria Attigo RG ----··
Risoleta Guimarães ' o 83 Ab' 1917 Um Esplrito Amigo Prosa RJ -
Risoleta Guimarães o 102 Fev 1918 As Vitórias do Feminismo Artigo RJ
Rosaes Ladi o 215 Fev 1923 Páginas do Coração Prosa RJ
Rosaes Sadi Q 193 Fev 11922 Páginas do Coração Prosa i
Autor Ano Núm Mês Data Título Estilo/Se Locol ~~alina Coelho i OI 194 Mor 1922 jNa Roça !Poesia 1
Sa~~=de -~-;,,,t---,SI;f"bc;:c,,t,;;csg"Gcirc,c,cmc-,c,co---------- --- ---- IPoes1a ~Urenço fseidaPotOcka I O 28Dez 1914 !AMulherdo~Õ(Continuação) _____ J_p,-,-o-~-Se/da Polocka i O 29 Jan \1915 A Mulher do Cossaco (Conclusão) -·-··----~~~~:lfit-_ ·---1
Selma Í O 115 Ago 11918 Certa oobte o Pettiori•mo _ ~~~:,ri _IRG ----1
~la 1 141 65 Jun 1897 A Uma DesconheCida Poesia iRG
ffiby~--~-c6~1t.M~wC-~~18"9~7-tO~Ih~o~,~B~e~lo~,------------1~~=o=,c,-b,R;;G,----Sibylla I 14 -4°5tJc~-c1"8°97c-1°c-art=a· sobre o e.mor (Respon·dc,-,=d-o)~----- P~~Ã-0-- -
l;;c;:c;c-----t-;-+.-;c-;1~c:c-\=--k=======:c---·--f;'--~--Sibylla
SibyHa ---- --Sibyl/a
1 1 154 _ir' 1894 Por um Engano (À Eduardo Santos) Mgo IRG
22 22;3r.Mz~-ic19=o=s4o~J-"'-,-m-,-,=.,-d;-M=ao~-w-t=a=(=c-,-,d=c"'=o=o=)----4lü~o_-ó·s~. [RG
-+= ~cb.--lc=+.---=------- ---~-1 ~l~--1 13 28 Set 1896 Aqu&e/a ,Pros_a. jRG
--
bc~c-----+-=1"stc,=o~o~o=,,ct1=s•ssciP~,=,m=~~=,,=------------~-"R"Gc----1 ::-.:-----+-- ;t--;c!,:;::--b,;;;;:-j~==:cc\-;;:=-:;;::c-:o::o;:-=:::;-·· 'Prosa \RG ----
Sibylla -Sibyila
Silvia
Sinhé.
Somnambulo.
~,;;no.rnbula Somnambula
Somnambula
~ 13
13 '
13
13
14
15
5Abt
12 Mai
23 Ago
13Mai
61 Mai
101 o,,
1896
1896
1896
1896
1897
18S6
Scismas (A Octe.Cilio de Oliveira) 1 ilerârie. 1
.Charadas Charad~
Poesi~ iPelota-;;
,~~~~~~~------~~=o~~------A ores (À amiga Eulália Mira~do)
-----Co.rto.s a quem deseJO que me entenda
Car!Bs a Alguém
Fre.gmenlo de uma missive, sem nome
Prosa RG
-----1!~~---1 Prosa RG li<•
14 60 Mm 11197 Cartas a Alguém Prosa ·~RG
--1!.21cj-. ~2Jc9J-Jc";-l-+,1c9~0~4+Ccocmcpcwo~-;cdcoc-------- --~ip~,:~:=,~=o+~RR"GG _____ j 13 19Jul 1896 O Teu Retrato I" .... ., ....
Somnombula
Somnambula
Somnambula ! 14 OAgo 1897 _ 1 cartas~~guém _______ jrP,_.;;a_·:ia_ti:~G __ _ l's'o"m=,-wmcc-b-,c,,---_1 13 2
1
Mar 11896 Acto de Esperança I ,...,.,...., n.
b---~~- 1-~=lr·~-~F~~~~~-~-- -~~~~·.·~k-,.Ro~--somnombula _ : ___ ,61 1331~ev [1 as9
1ee.rtos sem Endereço (Ali) _ "'-'"'
~~·b-,c,oc--- 1 lnMoi !1a96 INo Silêncio -----,~- j~Ü8e~i~a !RG -·---1 Te;d-li~:~_N_"_ne-;;-Lo0b0oc-"·---j~~~·-~l 887 ~~ Mem~ri1:1 da Ilustre Esctitorac(R~ov-o_re_ta-~de . ---p;;;sj~ ~ -
Poesia RG ~~li~:~ Nunes Lobo-H-1 ·---6 Nov 1885 ~A prem~tura morte do meu inocente Mario
TerdliaNunesLobo 1 lO Mar 1188611man ----------------k-=c-~,=----1 Poesia RG
Universino. de Araújo O 148 Fev [1920 Madrugada
Universina de Araújo O 150!Abr e 920 Prece
Universina de Araújo O 155 Jun 1920 fA Lavadeira
Un1versino. de Araújo
Universina de Araújo
Universina de Araújo
~~:n7rsino. de Araújo
Ursula G&cia
Ursula Garcia
Vi oi elo Odete
O 11 O Jun 1918 A Educação da Mulher
Poesia Bagé --
Poesia Bagé
Prosa Elagé
-Mgo rBagé
Bagé
Bagé
Bagé
Pernambuco
Pernambuco
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