Policy BriefEspecial RIO+20
Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
Abril de 2012
Núcleo de Análises de Economia e PolíticaBRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS
Policy BriefEspecial RIO+20
Desenvolvimento sustentávele redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
Abril de 2012
Núcleo de Análises de Economia e PolíticaBRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
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Autores: José María Gómez, Paula Sitonio, Sérgio Britto e Carollina Tinoco Colaboração: Paulo Chamon
Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água 1. Introdução
A análise de alguns discursos
de Estados e Organizações não
governamentais e das metas
delineadas por Organismos e
Conferências internacionais revela o
imperativo do desenvolvimento
sustentável nos cenários nacionais e
internacional atuais. Ao assinalar a
interdependência entre as dinâmicas
do crescimento econômico, do meio
ambiente e da pobreza, esse conceito
aponta para a complexidade das
problemáticas contemporâneas,
demandando esforços conjuntos em
uma multiplicidade de frontes.
A temática da água insere-se
nesse contexto ao se apresentar como
um elemento central para o
desenvolvimento sustentável ao ser
localizada na articulação de seus três
pilares: desenvolvimento econômico,
proteção ambiental e inclusão social.
Classificada como um dos três
elementos fundamentais para a
sustentabilidade pelo Relatório
Brundtland1 (UN, 1987), o tratamento e
a utilização da água afeta o
crescimento (por determinar
possibilidades energéticas e de
produção) e impacta de maneira
profunda o meio ambiente e a
qualidade de vida da população, na
medida em que a desestabilização dos
elementos hídricos ecossistêmicos
possui desdobramentos diretos sobre o
acesso à água de qualidade para
consumo e agricultura (principalmente
de subsistência), a segurança
alimentar, a disseminação de doenças
e a gestão de desastres naturais..
Nesse contexto, o presente
trabalho busca investigar o impacto
das tensões ligadas à segurança
hídrica nos BRICS – relacionadas
diretamente com seu acelerado
crescimento econômico e urbanização
– sobre a temática da redução de
pobreza. A presença do bloco em
diversos fóruns internacionais (e.g.:
Rio+ 20 e Fórum Mundial de Águas)
denota o reconhecimento da
problemática e a vontade de abordá-la
de maneira conjunta. Entretanto, para
uma visão geral mais clara da posição
atual destes países dentro desta
temática, é necessário analisar de que
forma a relação entre desenvolvimento
sustentável e segurança hídrica dá-se
no ambiente interno destes países,
tanto no âmbito das dificuldades
quanto das iniciativas socioambientais
adotadas.
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Desse modo, ao tomar a água
como elemento fundamental para a
realização do desenvolvimento
sustentável, o presente trabalho busca
analisar as possibilidades de
engajamento e contribuição dos
BRICS, por meio do exame de suas
situações individuais, para o
desenvolvimento e adoção da
sustentabilidade em uma dimensão
global.
2. A Água e o Desenvolvimento
Sustentável
O modelo defendido pelos
partidários do desenvolvimento
sustentável torna-se cada vez mais
central nas discussões políticas globais
e nacionais na medida em que o
sucesso econômico obtido por atores
estatais e não estatais é
acompanhado, com frequência, pela
redução tanto da qualidade de vida
atual como das possibilidades das
gerações futuras. Tendo em vista que
o modelo tradicional de
desenvolvimento econômico baseou-se
na degradação desenfreada de
recursos naturais (ARROW et al,
1996), fez-se necessária a criação de
um novo conceito de crescimento que,
desde a década de 1980, foi entendido
como o dever de “atender as
necessidades do presente sem
comprometer a habilidade das futuras
gerações de saciar suas próprias
necessidades” (UN, 1987). Mais tarde,
após a Conferência do Rio de 19922, o
desenvolvimento sustentável passou a
ser definido como uma combinação de
três dimensões: a econômica, a social
e a ambiental (LEHTONEN, 2004).
Entretanto, é comum que a
temática seja analisada com base
apenas nas dimensões econômica e
ambiental ou econômica e social,
sendo a interação entre meio ambiente
e inclusão social considerada
“subsidiária”. Nesse sentido, é
importante ressaltar que apenas por
meio de uma análise holística das três
dimensões é possível apreender-se as
dificuldades relacionadas a cada uma
de maneira individual (LEHTONEN,
2004). Assim, faz-se necessário um
aprofundamento do estudo acerca da
relação entre meio ambiente e
desigualdades sociais.
Jehan e Umana (2003)
destacaram esse problema,
desmistificando a crença de que a
degradação ambiental é resultante das
atividades dos menos favorecidos e
responsabilizando ações políticas e
estruturas institucionais pela falta de
acesso dos mesmos a recursos
básicos. Ao apontarem o papel do
“nexo meio ambiente-inclusão social”
na consolidação das Metas do Milênio3,
os autores consagraram a inter-relação
entre ambas as dimensões como
fundamental para a realização do
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modelo do desenvolvimento
sustentável (JEHAN & UMANA, 2003).
Seguindo essa perspectiva, é possível
afirmar que, ao mesmo tempo em que
os recursos naturais podem fomentar o
crescimento e reduzir a pobreza (por
meio de sua comercialização, do
turismo natural ou dos “green jobs”4),
os impactos ambientais resultantes das
atividades econômicas também
possuem sérias consequências sociais,
contribuindo para o aprofundamento
das desigualdades (WORLD BANK,
2007).
Em meio a tais indagações, a
questão do acesso à água limpa e
potável ganha força especial nas
discussões acerca do desenvolvimento
sustentável, na medida em que a
escassez da mesma deve-se à
interação complexa de fatores
econômicos, sociais e ambientais,
devendo ser enfrentada por meio da
intervenção de atores de diversas
escalas (WWF, 2009). Ademais, a
redução da acessibilidade e utilização
do recurso impõe custos sociais
nefastos e abrangentes à população,
notadamente no que diz respeito ao
aprofundamento da pobreza. Assim, a
temática da segurança hídrica tem
ganhado importância crescente ao se
relacionar tanto com impactos de
natureza higiênico-sanitária quanto
com a fabricação de bens materiais,
muitos dos quais indispensáveis à
sobrevivência humana. Ao se
apresentar como força motriz do
crescimento econômico e da vida do
planeta, a água (ou sua escassez)
impõe pressões à produção agrícola e
industrial, aos preços dos alimentos e à
saúde humana, na medida em que se
faz necessária para o consumo diário e
para a estruturação de sistemas de
saneamento básico de qualidade que
impedem a disseminação de certas
doenças (varíola, diarréia, dengue, etc)
(UNESCO, 2012). De acordo com a
ONU, a água contaminada e seus
desdobramentos sobre a saúde e
alimentação são responsáveis por mais
de 1,7 milhões das mortes anuais,
“matando mais pessoas do que de
todas as formas de violência, incluindo
a guerra” (PNUMA, 2010, p. 7). Além
disso, é importante apontar o impacto
da disponibilidade da água sobre a
segurança internacional: a
intensificação dos processos de
desmatamento e a poluição acabam
por reduzir a quantidade e qualidade
do recurso, acirrando conflitos entre
grupos que buscam controlar os
principais reservatórios de água de
suas respectivas regiões5. Desse
modo, percebe-se a abrangência dos
desdobramentos multidimensionais da
questão hídrica, na medida em que a
mesma relaciona-se diretamente com
as temáticas de segurança alimentar,
energia limpa e acesso a eletricidade,
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
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controle de doenças
infectocontagiosas, preservação dos
ecossistemas vigentes e manejo de
desastres naturais, desafios centrais
para a adoção de um modelo tríptico
de desenvolvimento sustentável6.
3. A Água e a Conferência Rio+20: A
redução da pobreza no contexto do
desenvolvimento sustentável
O encontro da Rio+20, a ser
realizado em junho de 2012, adota o
modelo conceitual do desenvolvimento
sustentável multidimensional,
apresentado anteriormente, para
avaliar o progresso e as lacunas
existentes no tratamento dos desafios
contemporâneos. Tendo como um de
seus carros-chefes “o desenvolvimento
sustentável e a erradicação da
pobreza”7, observa-se a importância
concedida tanto à dimensão ambiental
como à social no tratamento de
questões relacionadas ao
desenvolvimento econômico. Com o
objetivo de adereçar de maneira
eficiente os grandes temas
enunciados, a conferência elegeu sete
questões críticas8 para o alcance do
desenvolvimento sustentável; a
temática da água figura destacada
entre elas9. A preocupação da
Conferência com os impactos hídricos
no aprofundamento da pobreza
mundial diz respeito ao fenômeno
conhecido como “Water Poverty”. De
acordo com esse conceito, a
precariedade do sistema de
saneamento básico e a falta de acesso
a água de qualidade (tanto pela
ausência do recurso como por seu alto
preço) impactam tanto a renda da
população (na forma do fomento à
produção agroindustrial) como seu
bem estar, traduzido em termos de
saúde, nutrição, acesso a eletricidade,
educação e subsistência. Nesse
sentido, a temática da água ganha
destaque na questão da redução de
pobreza (LAWRENCE et al, 2003).
A relação entre essas duas
questões pode ser observada, ainda,
em outro encontro internacional. A
realização do VI Fórum Mundial das
Águas em março de 2012, na cidade
de Marseille (França), buscou, entre
outros objetivos, sistematizar as
questões e compromissos a serem
levados para a Rio+2010, estando entre
eles a classificação do acesso a água
potável limpa como direito humano e o
desenvolvimento de um arcabouço
institucional e de políticas públicas
para o tratamento do esgoto, a
implementação de um sistema de
saneamento básico universal, a
preservação ambiental e a utilização
racional da água para o combate à
fome e à desnutrição. Tais desafios,
por sua vez, são encontrados na
agenda da Rio+20 acerca da redução
de pobreza. Segundo o Fórum, a
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resolução das problemáticas mundiais
por meio da adoção de um modelo
tríptico de desenvolvimento sustentável
deve passar necessariamente pela
construção de um arcabouço jurídico-
institucional que trate da questão da
água em suas dimensões ambientais,
econômicas e sociais. (WORLD
WATER FORUM, 2012).
4. A Água e as Políticas Socioambientais
Uma vez apontado o impacto
da questão hidríca sobre as condições
de vida da população, faz-se
necessário analisar as causas do
problema e as formas de sua solução.
Entretanto, ao analisar a distribuição
de água por habitantes no mundo
(Figura 1), constata-se que a
disponibilidade deste recurso natural
não é de forma alguma crítica.
Figura 1:
Disponível em: <http://www.fao.org/nr/water/aquastat/globalmaps/01_TRWR_CAP.pdf>. Acesso em: 16/04/2012
Como explicar, então, a grande
dificuldade global em relação ao
acesso à água? Em primeiro lugar, a
temática não deve ser analisada a
partir da disponibilidade do recurso.
Questões de ordem geográfica, política
e econômica devem ser levadas em
consideração, uma vez que a
segurança hídrica está diretamente
relacionada à distribuição dos recursos
hídricos, além da administração dos
mesmos. Em última instância, portanto,
o papel de políticas públicas voltadas a
incrementar a acessibilidade e
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qualidade da água é fundamental à
segurança hídrica de um país
(UNESCO, 2006).
Iniciativas governamentais
devem, ainda, considerar que os
impactos ambientais que afetam o
recurso não se distribuem de maneira
uniforme pelos seus habitantes. A
difusão de qualidade ambiental é
desigual, afetando de maneira
diferenciada as parcelas ricas e pobres
da população. No que tange a temática
da água, os menos favorecidos
acabam por viver em locais cujas
condições de saneamento e água são
inadequadas, expondo-se em maior
medida a doenças como diarreia,
cólera, dengue e malária. Além disso, a
população rural depende em maior
grau da disponibilidade do recurso para
produção própria e consumo, sendo
mais vulnerável a secas e lençóis
freáticos poluídos (UNDP, 2002).
Desse modo, políticas públicas
ambientais que objetivem preservar o
recurso necessitam estar atentas aos
desdobramentos sociais do problema
(OECD, 2006). Tendo em vista as
questões levantadas, o presente
trabalho volta-se à análise das políticas
públicas de distribuição e tratamento
da água visando analisar a segurança
hídrica dos países, notadamente em
seus desdobramentos de inclusão
social e redução de pobreza.
5. A Água e os BRICS
Uma vez constatada a
centralidade da temática da água para
o alcance do modelo do
desenvolvimento sustentável e para a
redução da pobreza, além da
importância da implementação de
políticas socioambientais no processo
de garantia de acesso à água de
qualidade por parte da população, o
presente trabalho propõe-se a analisar
como tais dinâmicas se articulam no
interior dos países BRICS. O
crescimento acelerado experienciado
nos últimos anos afetou de maneira
grave a segurança hídrica desses
países, resultando em sérios impactos
sobre o bem estar de suas populações.
Desse modo, percebe-se um crescente
comprometimento dos mesmos em
diversos encontros internacionais que
versam sobre a questão hídrica e seus
impactos sociais, como a Rio+20 e o
Fórum Mundial de Água. Entretanto,
para se entender as reais
possibilidades de cumprimento das
metas anunciadas nesses encontros,
bem como o grau de comprometimento
destes países, é necessário que se
empreenda uma análise tanto das
especificidades da problemática hídrica
de cada um, como dos principais
programas socioambientais
implementados pelos governos para
adereçá-los. A seguir, essas
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particularidades serão brevemente
apresentadas.
5.1 Brasil
A problemática da segurança
hídrica no território brasileiro relaciona-
se intimamente com a topografia e
distribuição demográfica do país, na
medida em que, apesar de possuir
aproximadamente 14% de toda a água
doce do Planeta11 (Figuras 2 e 3), o
modelo de crescimento do Brasil – e as
atividades econômicas decorrentes –
acaba por desgastar seus recursos
naturais, notadamente a água. Nesse
sentido, é importante ressaltar que tal
impacto ambiental afeta em maior grau
as camadas mais empobrecidas da
população, dependentes de rios e
lençóis freáticos para fins de
subsistência.
Nesse sentido, destaca-se que,
no caso brasileiro, a ameaça à
segurança hídrica nacional é
diretamente relacionada à degradação
ambiental, notadamente àquela
referente aos processos de exploração
e avanço de agropecuária, urbanismo
e mineração sobre domínios de
vegetação nativa. Logo, fica clara a
centralidade da preservação das
funções ambientais desempenhadas
pelos biomas nacionais12 (Figura 4) na
manutenção do grande fluxo de água
característico do país, evitando uma
distribuição de recursos hídricos ainda
mais desigual.
No que diz respeito ao bioma
Mata Atlântica, destaca-se o impacto
do desenvolvimento urbano-industrial
sobre o processo histórico de
degradação ambiental13. A
concentração de 70% da população e
80% da geração do PIB nacional na
região14 atua como elemento
catalisador das pressões sobre os
reservatórios de água, amplamente
explorados tanto para o consumo
doméstico quanto para fins industriais.
Na Caatinga, além da questão
de desmatamento visando à
substituição de espécies nativas por
pastagens e cultivos agrícolas,
destaca-se a utilização da vegetação
lenhosa como principal fonte de
energia para a população local. Tal
processo, associado à atividade
agropecuária, magnifica a pressão
antrópica sobre os recursos do bioma,
resultando em crescente degradação
das matas ciliares e comprometimento
dos escassos recursos hídricos da
região (AURINO, 2007). ). Desse
cenário, origina-se um crescente
processo de desertificação, já
responsável pelo comprometimento de
15% da área total da caatinga
(ARAÚJO, 2009).
Figura 2: Bacias Hidrográficas Brasileiras
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Disponível em: <http://www.fao.org/nr/water/aquastat/countries_regions/brazil/index.stm>
Figura 3: Mapa Hidrográfico Brasileiro
Disponível em: <http://conjuntura.ana.gov.br>. Acesso em: 18/04/2012
Figura 4: Mapa dos Biomas Nacionais
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Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169>. Acesso em: 18/04/2012.
O processo de desertificação
constitui-se, portanto, como um
agravante a uma situação hídrica já
naturalmente precária diante das
características semiáridas do nordeste
brasileiro (AURINO, 2007).
Por sua vez, o domínio dos
Pampas (ou Campos Sulinos),
localizado ao sul do território brasileiro,
vem sendo caracterizado pela
progressiva expansão da atividade
agropecuária15, industrial (notadamente
indústria de transformação16) e urbana.
Desses processos, decorre a redução
em 51% da vegetação campestre
original do bioma (HASENACK et al,
2007). Além disso, estas atividades
atuam em grande medida sobre a
contaminação de rios e lençóis
freáticos – tanto pelo uso sistemático
de agrotóxicos como pelos processos
de erosão decorrentes do pisoteio do
gado – impondo grande pressão sobre
os recursos hidrográficos do bioma.
Ademais, destaca-se a introdução do
Eucalipto, espécie invasora introduzida
como fonte de matéria prima para a
indústria de celulose. Tal espécie, por
conta do seu consumo excessivo de
água, vem sendo responsável pela
diminuição da disponibilidade do
recurso no ambiente, levando à
redução e perda de riachos e outros
reservatórios hídricos (áreas úmidas e
mananciais)17, além de comprometer a
manutenção da biodiversidade do
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bioma, alterando os parâmetros de
competitividade ecossistêmicos18 e,
assim, comprometendo a capacidade
de sobrevivência de outras espécies
(SANTOS & TREVISAN, 2009).
No que diz respeito ao bioma
Amazônia19, sua relevância para a
segurança hídrica nacional decorre do
fato de tal domínio estar diretamente
relacionado à maior bacia hidrográfica
do mundo (Bacia Amazônica)20. Dessa
forma, observa-se que a ocorrência de
interrupções no fluxo de água ou
assoreamento de leitos de rios e
mananciais derivados do processo de
degradação21 constitui uma ameaça
não só à segurança hídrica das
populações ribeirinhas e comunidades
tradicionais (diretamente ligadas aos
recursos hídricos dos diversos rios e
afluentes que compõem a bacia), mas
também a grandes parcelas da
população nacional e de países
vizinhos22, dependentes do
abastecimento de tal bacia para
consumo, subsistência e irrigação. No
que tange às ameaças à conservação
da Amazônia e, consequentemente, à
manutenção de sua importância tanto
no que diz respeito à sua
biodiversidade quanto aos seus
recursos hídricos, destaca-se, além de
extrativismo vegetal, expansão de
fronteiras agrícolas e obras de
infraestrutura, a crescente atividade
mineradora23. Essa, por sua vez, se
manifesta desde a exploração de
garimpos em pontos específicos no
espaço por curto período de tempo, até
grandes investimentos de empresas
multinacionais24 (CORRÊA & CARMO,
2010), impactando no processo de
contaminação dos rios pela utilização
de elementos químicos, como o
mercúrio25.
Ademais, por conta da
magnitude dos empreendimentos
mineradores, os mesmos demandam
grandes intervenções sobre o território,
através de implementação de
infraestrutura (associada ao
desmatamento), construção de
barragens (para controle do fluxo de
água e contenção dos rejeitos do
processo de mineração) e de divisores
de águas26. Assim, percebe-se que a
mineração na Amazônia afeta, de
forma decisiva, a distribuição de
recursos hídricos, comprometendo,
portanto, a segurança hídrica da
população, não apenas em nível local,
como também nacional e regional.
O Pantanal, por sua vez, é
descrito pela WWF Brasil como “um
enorme reservatório de água”,
constituindo a maior área úmida
continental do planeta27. Atualmente, a
grande ameaça à conservação do
bioma diz respeito à crescente
implementação de hidrelétricas, na
medida em que a proliferação de
centenas de barragens para a geração
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de energia altera o volume de águas e
a periodicidade das inundações dos
seus rios formadores. Tal processo
acarreta o comprometimento das
funções ecológicas desempenhadas
pelo bioma28, representando, portanto,
uma ameaça à segurança hídrica da
população (CALHEIROS, 2012).
Entretanto, o bioma de maior
importância para a segurança hídrica
do Brasil é o Cerrado. Sua centralidade
decorre das características
topográficas do espaço que ocupa
(áreas de planalto) (Figura 5), estando
nele localizadas mais de vinte mil
nascentes de rios, responsáveis pela
alimentação de seis das oito bacias
hidrográficas brasileiras. Dentre elas,
destacam-se os afluentes dos rios
Paraná, São Francisco e da margem
direita do rio Amazonas, três dos
principais rios nacionais, com papéis
fundamentais tanto no acesso de
populações a água para consumo
doméstico e de subsistência quanto
para a irrigação agrícola (SAWYER,
1998). Segundo estatísticas do
Ministério do Meio Ambiente,
divulgadas pelo Correio Braziliense,
cerca de 88,6 milhões de pessoas
dependem dos reservatórios de água
provenientes do Cerrado29, o que
corresponderia a cerca de 46% da
população nacional30. As ameaças à
manutenção de suas funções
ecológicas originadas, em grande
parte, na degradação decorrente da
expansão das fronteiras agrícolas,
ocupando áreas de vegetação nativa,
devem ser, portanto, vistas como
ameaças centrais não apenas à
preservação da grande biodiversidade
do Cerrado31, mas também à própria
segurança hídrica nacional. Assim,
percebe-se que a proteção do bioma e
a consequente manutenção de suas
funções ecológicas encontram-se no
cerne da questão tanto da segurança
hídrica brasileira como da qualidade de
vida da população mais pobre.
Entretanto, na contramão de tal
centralidade, as taxas de
desmatamento no Cerrado têm sido
historicamente progressivas (Tabela 1),
apresentando-se inclusive como
superiores às da floresta amazônica
(KLINK & MACHADO, 2005). De forma
complementar, a contaminação de rios,
notadamente no que se refere à
crescente degradação das Veredas32,
também deve ser apontada como um
aspecto central no aumento da
deterioração da segurança hídrica no
país, assim como dos impactos sociais
a ela associados.
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Figura 5: Relevo Brasileiro
Fonte: AB’SÁBER, 1958
Tabela 1
Classe Até 2002 (%) Até 2009 (%) Áreas desmatadas 43,67 48,22
Vegetação Remanescente
55,73 51,16
Fonte: Ibama. Disponível em: <http://siscom.ibama.gov.br/monitorabiomas/cerrado/index.htm>. e em: <http://siscom.ibama.gov.br/monitorabiomas/cerrado/Index2008.htm>. Acesso em 02/04/2012.
O desmatamento do Cerrado
tem como principais causas as
atividades agrícolas de pecuária
extensiva (40% do rebanho nacional),
a lavoura de grãos voltada à
exportação (25% da produção
nacional) (LIMA & SILVA, 2007) e o
cultivo de cana-energia. Tais atividades
lideram a expansão recente das
fronteiras agrícolas para dentro dos
limites do Cerrado (SILVA, 2010),
demandando, inclusive, a instalação de
infraestrutura para seu escoamento,
resultando em um vetor suplementar
de desmatamento (KLINK &
MACHADO, 2005).
Com a subsequente destruição
de matas ciliares, elimina-se o
mecanismo ecológico que possibilita o
bloqueio de sedimentos nas margens,
impedindo que os mesmos se
concentrem no leito dos rios garantindo
o fluxo da água (DELITTI, 1989). Esse
processo é, portanto, um dos principais
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fatores de redução do volume de água
nos rios do Cerrado, o que, em última
análise, compromete a chegada de
água para as populações deles
dependentes.
Alternativamente, a
contaminação de rios e lençóis
freáticos, decorrente da utilização de
agrotóxicos na produção agrária, da
crescente construção de barragens
para irrigação das propriedades do
agronegócio, e da alocação de lixo
urbano-industrial em locais
inapropriados, também se configura
como uma ameaça central à segurança
hídrica nacional. Tal contaminação
adquire caráter ainda mais emergencial
quando se refere àquela que atinge os
domínios das Veredas, dado que a
contaminação dos mananciais de água
característicos desses subsistemas
pode provocar efeitos decisivos sobre
a quantidade e a qualidade dos
recursos hídricos disponíveis para
cerca de 46% da população brasileira
(MENDONÇA & MESQUITA, 2007).
Dessa forma, observa-se que o
comprometimento da cobertura vegetal
e das nascentes e rios localizados na
região do Cerrado brasileiro podem
representar uma ameaça à segurança
hídrica nacional, tanto no que tange à
quantidade de recursos hídricos
disponíveis à população (problemas de
abastecimento) quanto à qualidade dos
mesmos (associada a doenças e
demais riscos à saúde).
Nesse contexto, foi instaurado,
em 2008, pelo Ministério do Meio
Ambiente (MMA), o Projeto de
Monitoramento do Desmatamento dos
Biomas Brasileiros por Satélite
(PMBBS), que compreende os biomas
do Cerrado, Caatinga, Pantanal, Mata
Atlântica e Pampa33. O objetivo central
do governo seria o de “quantificar
desmatamentos de áreas com
vegetação nativa e embasar ações de
fiscalização e combate a
desmatamentos ilegais naqueles
biomas”, permitindo uma “maior
eficiência das políticas públicas
voltadas à conservação e uso
sustentável destes biomas e de
fiscalização e controle da aplicação da
legislação ambiental”34.
Há de se perceber que tal
iniciativa atende à necessidade de um
maior monitoramento sobre as
Unidades de Conservação (UC)
nacionais35, que constituem a principal
política pública de preservação dos
biomas nacionais36 (sob o Sistema
Nacional de Unidades de
Conservação37). Atualmente, existem
43 Unidades de Conservação38 no
Cerrado.
Entretanto, há de se destacar
que tal política não é capaz de garantir,
isoladamente, a manutenção de tais
funções, principalmente por ainda
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apresentar um espaço de atuação
extremamente reduzido,
correspondendo a apenas 4,1% da
área do Cerrado (KLINK & MACHADO,
2005)39. Assim, dada a centralidade do
Cerrado para a segurança hídrica
brasileira, mostra-se necessária a
fiscalização dos grandes produtores
rurais do país, notadamente no que diz
respeito ao comprometimento de
matas ciliares, à contaminação de rios
e lençóis freáticos e à deterioração das
Veredas.
Entretanto, tal processo faz
frente a dificuldades na atual
conjuntura política nacional, marcada
pela forte representatividade dos
interesses dos grandes latifundiários
no legislativo. De fato, argumenta-se
que a proposta de reforma do Código
Florestal40, atualmente em trâmite no
Congresso Nacional, representa uma
política de retrocesso no que tange a
preservação de áreas de vegetação
nativa. Sob a argumentação de que o
atual código configuraria limites ao
crescimento da agropecuária
brasileira41, tal proposta vem
encontrando apoio político da bancada
latifundiária para ser levada adiante, já
tendo sido aprovada no Senado42.
Dentre outras propostas, o
Código prevê a redução das Áreas de
Proteção Permanente (APPs43) para
beira dos rios (SERVA, 2012, p.15). Ao
admitir maior destruição das matas
ciliares, a prevenção de processos de
assoreamento dos leitos dos cursos de
água é enfraquecida, impactando o
acesso ao recurso por parte da
população (MENDONÇA &
MESQUITA, 2007). Outra proposta
presente no projeto de lei é a Anistia
para desmatadores. Segundo Izabella
Teixeira, Ministra do Meio Ambiente, a
expectativa de anistia futura já estaria
possivelmente ligada ao atual aumento
nos níveis de desmatamento em
estados como o Mato Grosso (inserido
nos bioma Cerrado e Amazônia e
Pantanal)44.
Assim sendo, percebe-se que a
reforma do código apresenta-se como
uma proposta de lei contrária aos
princípios de preservação defendidos
nos discurso oficiais. Nesse sentido, é
necessário que haja um
acompanhamento sobre o futuro do
código ambiental e das APPs no país,
na medida em que ambas as políticas
representam mentalidades opostas
acerca do relacionamento entre
crescimento econômico, preservação
ambiental e qualidade de vida da
população, questões centrais para a
viabilidade do modelo de
desenvolvimento sustentável. O
mapeamento da implementação e do
desenvolvimento dessas políticas pode
lançar luz sobre possibilidades de
articulação internacional do Brasil
nessa temática.
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
6
5.2 Rússia
Como nos demais países
BRICS, a segurança hídrica é uma
questão central para a Rússia, onde é
articulada ao redor de duas
características fundamentais. Em
primeiro lugar, a extensão territorial e a
distribuição hídrica e demográfica
russa resultam em discrepâncias
importantes de disponibilidade de
recursos ao longo do território (Figura
6). Com efeito, devido notadamente às
cadeias de montanha que permeiam o
território russo, a rede fluvial do país
não alimenta igualmente a totalidade
do território. Além disso, importantes
questões ligadas à qualidade da água
decorrem do legado de industrialização
concentrada e intensiva do modelo
soviético, resultando em altos índices
de poluição. Assim, como apresentado
a seguir, as políticas públicas
governamentais voltadas à segurança
hídrica devem incorporar duas
questões fundamentais associadas
neste trabalho às políticas
socioambientais hídricas: a distribuição
da água e o aprimoramento de sua
qualidade (HENRY &
DOUHOVNIKOFF, 2008).
No âmbito da disponibilidade do
recurso, o mapa hidrográfico abaixo
demonstra as regiões de menor
disponibilidade de água na Rússia.
Depreende-se de sua análise que, a
despeito da ampla distribuição
geográfica dos rios, partes importantes
do país permanecem com pouco
acesso direto. Tal situação demanda,
por parte do governo, uma atuação
voltada à distribuição de água de modo
a compensar as diferenças naturais
entre as várias regiões. Todavia,
segundo a organização não
governamental Russian Water
Association (RWA), o desgaste das
redes de reabastecimento de água no
país chegaria a 70%45, indicando um
cenário em que os investimentos em
infraestrutura e em políticas voltadas a
compensar problemas de distribuição
desempenham um papel crítico
(OCDE, 2009).
Do ponto de vista da qualidade
da água, de acordo com a RWA, 11
milhões de habitantes russos fariam
uso de água imprópria para consumo.
Outros 50 milhões, aproximadamente
um terço da população, utilizariam
diariamente água de má qualidade. Na
Rússia, as principais ameaças à
qualidade da água são a poluição
radioativa, a contaminação diante do
contato com água insuficientemente
tratada, os resíduos urbanos,
industriais (químicos e tóxicos) e
agrícolas e o derramamento de
petróleo (KAMPA et al, 2008).
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
3
Figura 6: Mapa Hidrográfico da Federação Russa
Disponível em: <http://www.fao.org/nr/water/aquastat/countries_regions/russian_fed/index.stm>. Acesso em: 19/04/2012.
Uma vez que tais problemas de
qualidade impactam fortemente a
saúde da população, a questão hídrica
quando é abordada não apenas em
termos de sua disponibilidade e
distribuição, mas também sob a ótica
de sua qualidade e tratamento.
Com base nesse diagnóstico, a
presente seção apresenta os esforços
russos em termos de otimização da
qualidade da água e de distribuição
nacional do recurso. Destaca-se,
ademais, como, na Rússia, tais
medidas ocorrem prioritariamente por
meio de parcerias público-privado
(PPP), ou seja, programas do governo
que contam com parceiros e recursos
do setor privado (ZAGDAN, 2009).
Em termos de esforços para a
aferição e o controle dos impactos
sobre os corpos hídricos do país, a
Rússia buscou criar, em 1999, uma
metodologia unificada que permitisse
um diagnóstico consolidado da
situação nacional. Emitiu, assim, o
“Methodological Guidance for the
Development of Maximum Allowable
Harmful Impacts (MAHI) on Surface
Water Bodies”, mecanismo
consolidado, em 2003, pelo
desenvolvimento, por parte do Instituto
Russo de Pesquisa e Gestão das
Águas, de uma metodologia detalhada
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
4
para o cálculo do MAHI. Esta seria
renovada pelo código da água de 2006
que revisou as linhas de atuação e a
metodologia utilizada para a aferição e
controle da realidade hídrica do país,
estabelecendo (1) “normas para o
impacto permitido sobre os corpos
hídricos”, (2) níveis de concentração
máxima de químicos, além da (3)
introdução de metas de qualidade da
água levando em consideração os
principais corpos hídricos do país
(OCDE, 2008, p.8).
Em 2009, a Rússia lança, como
parte de seu plano de desenvolvimento
socioeconômico de longo prazo (até
2020), a State Water Strategy, voltada
especificamente à segurança hídrica
do país. Assim, de início, percebe-se a
presença de um tema central do
desenvolvimento sustentável dentro da
estratégia de desenvolvimento nacional
russa. De fato, a State Water Strategy
deixa clara a tentativa de articula o
tríptico da sustentabilidade –
desenvolvimento econômico, proteção
ambiental e inclusão ambiental.
No âmbito dessa estratégia, um
dos programas centrais a emergir é o
Clean Water Program46 (2010-2020),
atualmente em curso e voltado àqueles
dois elementos apontados como
fundamentais na realidade hídrica
russa: a distribuição e a qualidade da
água (MARTOUSSEVITCH &
KAUFFMANN, s/d). Com efeito, esse
programa volta-se a três aspectos do
dispositivo de segurança hídrica russo:
o aprimoramento da eficiência nos
sistemas de distribuição e da qualidade
da água, a modernização da legislação
no âmbito do tratamento da água (Lei
de tratamento de água) e das
concessões para empresas privadas e
a criação de um novo sistema de
prestação de contas que aumente a
transparência no que tange à temática.
A despeito de ser um programa
federal, seu foco é no desenvolvimento
regional, entendido como o âmbito
preferencial para lidar com questões
hídricas (LIKHANEVA, 2011). As metas
do programa são apresentadas na
tabela 2.
Os projetos ligados a esse
conjunto de políticas de segurança
hídrica são realizados por meio de
parcerias público-privadas que
incentivam empresas a arcarem com
os custos envolvidos ao associar
investimentos na área aos contratos de
concessão. De fato, o programa busca
constituir além de um ambiente legal
mais estável, um cenário aberto que
incentive a competição entre
empresas. Nesse sistema, estas atuam
na promoção de eficiência via
inovação, enquanto o governo garante
monitoramento e suporte legal,
regulatório e financeiro, em parceria
com empresas socialmente
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
5
responsáveis (MARTOUSSEVITCH & KAUFFMANN, s/d, p.6)
Tabela 2
Metas 2010 2017
População com acesso ao abastecimento de água centralizado (%) 78,2% 90%
Perdas de água na rede centralizada de abastecimento de água (%) 18,5% 15%
População consumindo água potável de boa qualidade (%) 71,3% 83,2%
Proporção de esgoto que atenda aos requisitos (%) 40,3% 68,3%
Parcela de despesas em investimento de capital em despesas de
serviços públicos de água (%)
15% 40%
Fonte: OCDE, Framework Conditions for Private Sector Participation in Water Infrastructure in
Russia, 2010.
O custo do programa, estimado
em €7,9 bilhões, conta com apenas
€420 milhões (cerca de 5%) das
autoridades federais e regionais russas
(LIKHANEVA, 2011, p. 2). O restante
do investimento deve vir de empresas
privadas parceiras; as principais a
operar no setor da água são a
Evrasiyskiy47, a Rosvodokanal48 e a
Russian Utility Systems49, todas
ligadas aos maiores conglomerados
bancários do país
(MARTOUSSEVITCH & KAUFFMANN,
p.3 s/d).
Assim, na análise apresentada
acima, transparece a importância da
temática da água na realidade russa,
tanto no âmbito da qualidade de vida
quanto do projeto de desenvolvimento
nacional de longo prazo. Tal
importância traduz-se em uma
estratégia estatal voltada
especialmente à garantia do acesso à
água de qualidade para a população.
Esta atua em três frentes: o
aprimoramento do sistema de
distribuição e tratamento de água, a
modernização da legislação sobre o
tema, reforçando a regulação da
segurança hídrica e a criação de um
ambiente legal e transparente que
incentive a competição entre empresas
pelos contratos de concessão de
gerenciamento do setor. O Clean
Water Program, analisado acima, é,
portanto, um importante exemplo de
política socioambiental que impacta na
redução da pobreza, sendo financiado
via parcerias público-privadas.
Finalmente, vale indicar que a inserção
dessa temática no plano nacional de
desenvolvimento pode indicar uma
preocupação com uma lógica diferente
da soviética que, ao apostar em uma
industrialização intensiva e
concentrada, não considerava os
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
4
consequentes impactos
socioambientais, notadamente na
realidade hídrica do país.
5.3 Índia
Apesar das características
particulares do território indiano – onde
se encontram grandes extensões de
áreas semiáridas – contribuírem para a
ocorrência dos períodos de escassez
de água que diversas cidades indianas
vivenciam (BARDHAN, 2010, p. 42)
(Figuras 7, 8 e 9), outras questões de
natureza antropogênica devem ser
observadas como agravantes do
problema de segurança hídrica no país
(MINISTRY OF ENVIRONMENT AND
FORESTS, 2009, p. 102).
O crescimento da produtividade
agrícola desde meados da década de
1960 – diretamente ligado à revolução
verde – contribuiu para o agravamento
do problema do acesso à água na Índia
ao comprometer áreas de nascente
através de crescente degradação
ambiental e contaminar rios e lençóis
freáticos (amplamente utilizados na
Índia tanto para irrigação quanto para
uso doméstico) por conta da utilização
de pesticidas (BARDHAN, 2010, p. 44).
Ademais, tal situação configura-se
como uma grave ameaça à segurança
hídrica da população, especialmente
em relação às classes menos
abastadas da sociedade indiana,
altamente dependentes de fontes de
água (rios ou poços artesianos que
deem acesso aos lençóis freáticos)
para subsistência.
Por outro lado, a expansão do
setor secundário indiano também pode
ser visto como fator agravante
(MINISTRY OF ENVIRONMENT AND
FORESTS, 2009, p. 102). Em primeiro
lugar, contribuiu para o processo de
expansão da própria atividade
agrícola50 no início dos anos 1980
(BARDHAN, 2010, p.46). Em segundo
lugar, é responsável por grande parte
da degradação ambiental no país na
medida em que os despejos industriais
contaminam tanto a água de superfície
quanto os lençóis freáticos (MINISTRY
OF ENVIRONMENT AND FORESTS,
2009, p. 107).
Além disso, observa-se que a
trajetória histórica do país foi marcada
por uma redução dos investimentos
públicos em infraestrutura rural
(incluindo investimentos em sistema de
irrigação), em prol de uma política de
subsídios para a produção agrícola
(em 2002, o gasto público enquanto
parcela da participação da agricultura
no PIB nacional foi quatro vezes maior
em subsídios do que em investimentos
públicos) (BARDHAN, 2010, p. 46).
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
3
Figura 7: Mapa Hidrográfico Indiano
Disponível em: <http://www.fao.org/nr/water/aquastat/countries_regions/india/india.pdf>.
Acesso em: 04/04/2012.
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
4
Figura 8: Mapa Climático da Índia
Disponível em: <http://www.newworldencyclopedia.org/entry/File:India_climatic_zone_map_en.svg>.
Acesso em: 20/04/2012
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
5
Figura 8: Probabilidade de ocorrência de secas no território indiano
Fonte: ATRRI, S. D.; TYAGI, A. Climate Profile of India. Nova Deli: Environment Monitoring and Research Centre, 2010, p.100. Disponível em:<http://www.imd.gov.in/doc/climate_profile.pdf>. Acesso em: 20/04/2012.
Isso dificultou a adoção de
políticas públicas que mitigassem os
impactos sociais e ambientais das
atividades agrícolas e industriais,
incentivando a expansão da produção
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
4
em detrimento dos cuidados
socioambientais.
Apesar de os subsídios serem
implementados em nome dos
pequenos agricultores e das camadas
menos abastadas da sociedade (que
passariam a ter acesso a alimentos
mais baratos), observa-se que grande
parte dos produtos subsidiados não é
direcionada ao mercado alimentício.
Ademais, grande parte dos subsídios
refere-se aos grandes agricultores51.
Percebe-se, portanto, que a política de
subsídios não se configurou como uma
política “pro-poor”, conforme pode
indicar o discurso oficial, mas sim
como um incentivo à produção de
commodities em grande escala
(BARDHAN, 2010, p.46). Observa-se
também que a própria alocação de
recursos para a política de subsídios
gera um efeito crowding-out52 sobre os
investimentos públicos em
infraestrutura. Esse fenômeno acaba
por dificultar a implementação de
políticas que possam gerar efeitos de
alívio sobre a pressão hídrica sofrida
pela população, resultante da
dificuldade de acesso à água para
consumo e irrigação, principalmente
por parte dos pequenos agricultores
(BARDHAN, 2010, p.46).
Entretanto, tem se observado
uma crescente preocupação do
governo indiano com a temática, o que
vem resultando, na prática, na
implementação de um número maior
de políticas públicas que visam
incrementar a segurança hídrica. A
adoção de uma “National Water Policy”
em 1987 e sua atualização em 2002,
além de demonstrar a relevância do
tema para as autoridades indianas,
buscou apresentar linhas gerais que
conduzissem o planejamento,
desenvolvimento e administração dos
recursos hídricos nacionais, servindo
de base para as futuras políticas
públicas relacionadas ao tema
(NATIONAL WATER POLICY, 2002, p.
2).
Atualmente, um dos grandes
programas é o segundo “Hydrology
Project” (sob coordenação do
Ministério de Recursos Hídricos e
contando com a participação de
diversas agências de implementação
locais, além de ajuda financeira do
BIRD), iniciado em 2006 e com
previsão de implementação até 2012
nos estados de Andhra Pradesh,
Chhattisgarh, Gujarat, Karnataka,
Kerala, Madhya Pradesh, Maharashtra,
Orissa e Tamil Nadu. O programa
possui como objetivos principais a
melhoria de acesso a dados
hidrológicos, hidro metereológicos e de
qualidade de água por parte das
agências competentes do governo
central, a ampliação das ferramentas
para planejamento e administração dos
recursos hídricos e o desenvolvimento
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
5
de sistemas de dados e de ferramentas para administração das secas.
Apesar de apontar para o
sucesso do projeto, o ministério não
divulgou os dados obtidos, dificultando
uma avaliação mais precisa53. O
orçamento total do programa é de
aproximadamente US$ 135 milhões.
Outro programa voltado à
questão hídrica é o “Artificial Recharge
to Groundwater Through Dug Wells”
(iniciado em 2008 e implementado até
2011), cujo objetivo principal é
“recarregar os poços artesianos
existentes utilizando a água da chuva
proveniente dos campos agrícolas para
facilitar a melhoria da situação de todo
o lençol freático nas áreas afetadas, o
que, por sua vez, irá provocar uma
ampliação da produtividade agrícola
irrigada, além de ajudar a melhorar a
qualidade da água no solo”54. O
programa tem um custo líquido de
aproximadamente US$ 110.626.64355.
Percebe-se, portanto, que estão
sendo implementadas políticas
públicas nacionais que visam mitigar
os efeitos gerados pela histórica má
administração dos recursos hídricos
indianos. Duas temáticas principais
vêm sendo objetivadas: qualidade da
água e acesso ao recurso. No que
tange ao primeiro objetivo (presente no
Hydrology Project), argumenta-se que
uma ampliação do conhecimento
público acerca da qualidade dos
recursos hídricos direcionados ao
consumo configura um passo essencial
para que se saiba que consequências
sua utilização pode trazer para as
comunidades humanas e para que se
possa direcionar futuras políticas
públicas de despoluição. Em relação
ao acesso à água (objetivo
fundamental do “Artificial Recharge to
Groundwater Through Dug Wells”),
apesar de ser um ponto sensível para
a produção agrícola em grande escala
(que é, em muitas regiões, dependente
do acesso à água subterrânea para
irrigação), percebe-se que tais políticas
públicas possuem, também, o potencial
de aliviar as pressões geradas sobre
comunidades que dependem do
acesso aos lençóis freáticos para
subsistência.
5.4. China
China e Índia respondem
conjuntamente por 47% dos 1,8 bilhões
de pessoas no mundo que obtiveram
acesso a água potável e de qualidade
entre 1990 e 2008 (UNESCO, 2012,
p.196). No entanto, assim como a
Índia, a China sofre com uma
distribuição desigual do recurso hídrico
ao longo do seu território, dificultando
sua alocação eficiente. De fato,
observa-se a concentração de rios em
extremos do território, seguida pelos
recursos hídricos subterrâneos – 70%
dos quais se localizam no sul do país,
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
4
restando ao norte apenas 30%56 (FAO, 2010). (Figura 9 e 10)
Figura 9: Mapa Hidrográfico da China
Fonte: LEE, S. China’s Water Policy Challenges. Nottingham: The University of Nottingham, 2006.
Figura 10: Recursos Hídricos per capita no Norte Chinês
Fonte: National Bureau of Statistics of China, Elaboração KPMG, Water in China Key themes and developments in the water sector, 2012. Disponível em: <http://chinawaterrisk.org/regulations/water-policy/12th-five-year-plan/>. Acesso em: 12/04/2012.
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
3
Ademais, a China precisa lidar
com o impacto da magnitude de sua
população e dos seus 1,3 bilhões de
habitantes57 sobre o consumo de água
tanto em função do consumo quanto
das atividades agrícola e industrial.
Com isso, contando com 6% dos
recursos mundiais de água doce, a
China deve gerir o abastecimento do
equivalente a 20% da população
mundial (APCO, 2010).
Os fatos anteriormente
dispostos apontam para os três
maiores desafios do governo na gestão
de seus recursos hídricos: as secas ao
norte, as enchentes ao sul,58 e a
poluição da água, reflexo dos
processos de urbanização e
industrialização acelerados inerentes
ao modelo de desenvolvimento do país
(LEE, 2006). A partir daí, a presença
dos princípios de “desenvolvimento
sustentável” no 12º Plano Quinquenal
(2011 – 2015) pode ser compreendida
como parte do reconhecimento do
caráter socioeconômico dos problemas
ambientais, notadamente da questão
hídrica59.
Alguns dos efeitos mais
imediatos da falta de água ou do
acesso à água de má qualidade à
saúde são representativos do nexo
entre as dimensões social econômica e
ambiental. Diante da escassez, a
população é compelida a fazer uso de
fontes de menor qualidade, aumentado
a exposição aos riscos à saúde
(ZHANG et al., 2010). Ainda, a
exposição a resíduos tóxicos como
efluentes de mineração, principais
fontes de poluição da água da região,
igualmente representam riscos para a
saúde e segurança das populações
locais (UNESCO, 2012, p. 203).
Diante destes desafios o
governo lançou o China National
Environmental Health Action Plan
(CNEHAP), cujos objetivos gerais
consistem em: (1) aperfeiçoar o
suporte administrativo e tecnológico
para atividades tanto ambientais
quanto da saúde; (2) reduzir a
incidência de doenças relacionadas ao
meio-ambiente, controlando suas
causas; e (3) proteger a saúde de seus
cidadãos, em conformidade com as
Metas do Milênio das Nações Unidas60
e com os preceitos estabelecidos pelo
11º Plano Quinquenal do país
(REPÚBLICA POPULAR DA CHINA,
2007, p.5). Paralelamente, questões
que tratem diretamente da questão dos
recursos hídricos também são
contempladas. Assim, o CNEHAP
prevê o “início de pesquisas e
elaboração de regulamentos sobre o
acesso da água potável, o
desenvolvimento e promulgação de
regulamentos a partir da avaliação do
impacto da poluição na saúde” (...)
além da “geração de respostas
emergenciais a eventos urgentes
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
4
causados pela poluição ambiental”.
(REPÚBLICA POPULAR DA CHINA,
2007, p. 8-9).
As temáticas do monitoramento,
assim como a demográfica, são
também contempladas. Nesse sentido,
destaca-se a necessidade do
estabelecimento de redes de
monitoramento do acesso à água
potável e da saúde. A partir daí, as
tarefas são estipuladas em termos da
segurança hídrica dos segmentos rural
e urbano da população. Para tal, é
previsto o monitoramento de
indicadores das fontes de poluição das
águas, da qualidade de irrigação,
qualidade da água potável, do escopo
das doenças transmitidas pela água,
bem como outros efeitos para a saúde
(REPÚBLICA POPULAR DA CHINA,
2007, p. 10).
Como anteriormente
mencionado, o 12º Plano Quinquenal
igualmente incorpora metas políticas
específicas para a questão hídrica.
Dentre estes, destacam-se (1) redução
da intensidade do uso da água (2)
novas metas de redução dos índices
de poluição (notadamente metais
pesados e óxidos de nitrogênio) (3)
Investimentos em infraestrutura
(garantindo irrigação e canais de
reabastecimento e esgoto) (4) redução
do consumo da água, além de (5)
sistemas de gerenciamento dos
recursos hídricos (com base em taxas
básicas para implementar a gestão dos
recursos) (CHINA WATER RISK, s/d).
Enfim, a partir da identificação
dos desafios à implementação das
políticas públicas chinesas voltadas
para a água, notadamente poluição e
secas, evidenciam-se aspectos
fundamentais da gestão de recursos
hídricos na China. Em primeiro lugar,
destaca-se a dimensão
socioeconômica das questões
ambientais, fundamentadas em
diferenças entre os grupos (rural e
urbano, do norte ou do sul, etc.) que
compõem a realidade do país. Em
segundo lugar, são observadas as
respostas do governo, lidas em termos
de redução da pobreza via aumento do
acesso à água, aumento do nível de
bem-estar da população e, em última
instância, redução de doenças. No
entanto, é necessário compreender
que este é um processo em curso.
Com isso, os resultados das políticas
preconizadas estão condicionados
tanto à sua aplicação quanto ao
cenário em que será inserida nos
próximos anos.
5.5 África do Sul
Segundo relatório do “World Water
Assessment Programme” (WWAP),
organizado pela UNESCO, a África do
Sul é o 29º país mais seco do mundo
(UNESCO, 2006).
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
5
Figura 11: Mapa Hidrográfico da África do Sul
Disponível em: <http://www.fao.org/nr/water/aquastat/countries_regions/south_africa/south_africa.pdf>. Acesso em: 20/04/2012.
Entretanto, como apontado, a
baixa disponibilidade de água no país
não configura, por si só, uma situação
de ameaça para a segurança hídrica
de sua população (AIBER et al, 2012,
p. 9). De fato, a atual situação sul-
africana é intimamente ligada à forma
da administração de seus recursos
naturais, que fez com que, até este
ano, 55% das áreas úmidas (córregos,
rios, lagos, manguezais, pântanos,
etc.) do território nacional fossem
perdidas por práticas irresponsáveis de
agricultura e silvicultura, além de
urbanização, poluição, construção de
barragens, erosão e queimadas
(UNESCO-WWAP, 2012).
Há de se ressaltar que essas
áreas úmidas desempenham funções
ecológicas extremamente relevantes,
como retenção de água e
regularização do fluxo de água, o que
lhes conferem grande importância não
apenas para a manutenção da
biodiversidade local e o equilíbrio
ecossistêmico, mas também em
relação às comunidades humanas a
elas associadas. Ao influenciarem o
fluxo de água e promoverem a
retenção da mesma em determinados
espaços, essas áreas impactam na
disponibilidade de água para a
população que depende não apenas
destes reservatórios naturais, assim
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
4
como dos rios e lençóis freáticos a eles
associados.
A importância das áreas úmidas
para a segurança hídrica na África do
Sul é, de certa forma, reconhecida pelo
governo sul-africano, à medida que,
em 2000, foi instaurado o programa
“Working For Wetlands”, cuja finalidade
fundamental é “gerar alívio da pobreza
através de trabalhos temporários para
realização de atividades socialmente
úteis”. Além de reforçar a importância
de tais ambientes para o bem-estar da
população e mapear as áreas afetadas
(114.000), o “Working for Wetlands”
passou a desenvolver programas de
recuperação das mesmas (Figura 12).
Em 2009, o programa reabilitou 95
áreas úmidas e criou mais de 1500
empregos, em programas que
envolveram 250 pequenas empresas
locais. Atualmente o programa vem se
dedicando à recuperação de 40 áreas
úmidas no país, totalizando cerca de
10% das terras perdidas.
Entretanto, a problemática das
áreas úmidas não constitui a única
ameaça à segurança hídrica sul-
africana. A introdução de plantas
exóticas nos ecossistemas do país é
outro fator que também influencia de
maneira significativa o acesso da
população aos recursos hídricos
nacionais. As espécies classificadas
como invasoras têm em comum alta
capacidade adaptativa e de
reprodução, o que faz com que as
mesmas possam não apenas se
adaptar a novos ecossistemas como
também rapidamente “dominá-los”.
A introdução de tais espécies
se dá, majoritariamente, através de
processos naturais (vento, marés, etc.)
ou por ação antrópica voluntária
(paisagismo, alternativas de
alimentação, fins comerciais, etc.). Há
de se destacar, também, que tal
“invasão” é favorecida pelos processos
de degradação ambiental (por
produção agrícola, urbanismo, etc.),
que alteram as condições físicas do
ecossistema (características do solo,
disponibilidades de nutrientes,
microclima, etc.) e, assim, favorece as
espécies com maior capacidade
adaptativa (OLIVEIRA et al, 2011).
No que se refere
especificamente às consequências de
tal introdução para a população sul-
africana, argumenta-se que a relação
diferenciada que as espécies invasoras
podem desenvolver com o ambiente
impacta a disponibilidade de nutrientes
(como a própria água) para as demais
espécies (OLIVEIRA et al, 2011),
ameaçando a biodiversidade da África
do Sul.
Os impactos na biodiversidade,
por sua vez, geram graves
consequências sociais, haja vista a
forte interação de comunidades sul-
africanas com o meio-ambiente que as
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
5
cercam, tanto em razão da busca de
itens de subsistência, como da
apresentação de uma fonte de renda
alternativa, por conta da
Figura 12: Distribuição do Projeto “Working for Wetland” no território sul-africano
Disponível em : Working For Wetlands Website: <http://wetlands.sanbi.org/>. Acesso em 30/03/2012
visibilidade que os ambientes naturais
do país têm, por parte da atividade
turística internacional (HILL et al.,
2006). Por outro lado, tal interação
também prejudica a segurança hídrica
sul-africana, na medida em que, em
um clima predominantemente árido, o
uso intensivo de água por
determinadas espécies invasoras
configura-se como um obstáculo ao
uso desse recurso para necessidades
humanas.
Nesse contexto, o governo
criou, em 1995, o programa “Working
For Water” que busca promover, em
parceria com comunidades locais e
empresas privadas, a remoção dessas
espécies, por meio de métodos
mecânicos (derrubadas e queimadas
controladas), químicos (usando
herbicidas ambientalmente seguros) e
biológicos (utilização de espécies
específicas de insetos que sejam
predadores naturais das espécies-
alvo). O programa já conseguiu
“limpar” mais de um milhão de
hectares, criando aproximadamente
vinte mil empregos verdes por ano (dos
quais 52% são ocupados por
mulheres). Atualmente o programa
conta com mais de 300 projetos em
todas as nove províncias sul-africanas.
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
4
6. Conclusão
Os desafios enfrentados por
Brasil, Rússia, Índia, China e África do
Sul no que concerne sua segurança
hídrica são reflexos de um fenômeno
global. O impacto tanto das atividades
agrícolas e industriais como do
processo de urbanização sobre o
acesso à água de qualidade é uma
realidade que deve ser enfrentada de
maneira articulada, dado que os
desdobramentos desta problemática
estendem-se pelas áreas de saúde,
segurança alimentar e energia,
aprofundando dinâmicas que
determinam o acirramento da pobreza.
Assim, além da coordenação
multilateral, organismos e fóruns
internacionais já reconheceram a
importância do lançamento de políticas
públicas nacionais que articulem as
dimensões ambientais e sociais no
enfrentamento da questão hídrica, na
medida em que as mesmas sejam
capazes de adereçar especificidades
locais.
Em face destas investigações,
constatam-se semelhanças entre as
situações enfrentadas pelos BRICS no
âmbito da segurança hídrica: a
desigualdade de distribuição do
recurso pelos vastos territórios
nacionais; o impacto das crescentes
atividades econômicas e produtivas
sobre o acesso e qualidade da água; e
o seu relacionamento com o
aprofundamento dos processos de
disseminação de doenças, má nutrição
e redução da renda de famílias
empobrecidas que dependem
diretamente da exploração do recurso
para fins de subsistência.
Com o objetivo de adereçar de
maneira mais eficaz estes desafios,
cada um dos governos criou agências
especializadas e programas que
articulam as mesmas com ministérios e
organismos internacionais, como o
BIRD e PNUD. Entretanto, até o
presente momento, não se constata
uma articulação ou um maior diálogo
entre os governos dos BRICS no que
diz respeito à melhoria de suas
respectivas situações hídricas61. Uma
vez que há similaridades entre as
origens da poluição e escassez do
recurso, a experiência acumulada
adquirida em cada um dos países pode
abrir novos caminhos para os demais,
possibilitando o aprofundamento de
uma cooperação bilateral dentro do
grupo. Sistemas de monitoramento,
green jobs relacionados a processo de
despoluição de rios, poços e lençóis
freáticos, políticas de zoneamento
ambiental e parcerias público-privadas
apresentam-se como políticas públicas
e procedimentos compartilháveis entre
os países BRICS a partir de uma
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
5
articulação ligada à aproximação entre
as diversas agências especializadas.
Nesse sentido, uma vez
apresentada a centralidade da água
tanto no contexto do desenvolvimento
sustentável como da redução de
pobreza, é necessário que esforços
sejam empreendidos tanto na
articulação de órgãos internos como
transnacionais. A interdependência
entre as três dimensões da
sustentabilidade – econômica,
ambiental e social – torna ainda mais
complexa a tarefa de erradicação da
pobreza. Nesse momento, é importante
ressaltar que uma vez evidenciada a
relação íntima entre degradação
ambiental e pobreza, o aumento do
PIB e da renda per capita deixam de
ser suficientes para uma análise sobre
as condições de vida de uma
população. Dado que os BRICS
apresentam-se como os países com as
maiores taxas de crescimento do
mundo, o mapeamento de suas
problemáticas socioambientais e o
acompanhamento das medidas
públicas adotadas para adereçar a
questão hídrica se faz fundamental
para se analisar as possibilidades,
soluções e desafios acerca da adoção
de um modelo de sustentabilidade
global socialmente consciente.
É importante ressaltar que
diante da proximidade da realização da
Conferência da Rio+20, prevista para
junho de 2012, as discussões acerca
do desenvolvimento sustentável e
redução de pobreza acabam por
ganhar maior visibilidade nos debates
políticos e acadêmicos. Deste modo,
além de se apresentar como um bom
momento para aproximações e
articulações dos programas e agências
especializadas, o encontro também
oferece a oportunidade de análise dos
principais posicionamentos dos países
acerca da questão, possibilitando uma
maior compreensão em relação ao
futuro de suas políticas públicas. Ao
mesmo tempo, os principais programas
nacionais lançados por cada um destes
países nos ajuda a perceber as
possibilidades de engajamento
multilateral dos mesmos, na medida
em que estes projetos já anunciam as
prioridades de cada um no que diz
respeito ao modelo de crescimento
adotado e às considerações de seus
desdobramentos sociais.
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1 Sendo os outros dois relacionados à qualidade do ar e do solo. 2 O conceito foi firmado por meio de dois documentos: a Declaração do Rio e a Agenda 21. Para maiores informações ver: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576ehttp://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575&idMenu=9065 3 Até 2015, os 193 Estados membros das Nações Unidas assumiram o compromisso de: erradicar a extrema pobreza e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre sexos; reduzir a mortalidade na infância; melhorar a saúde materna; combater a AIDS e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e estabelecer uma parceria para o desenvolvimento. Para maiores informações, acessar: http://www.pnud.org.br/odm/ 4 Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas, um “green job” corresponde a um trabalho cuja atividade central consiste substancialmente em preservar e restaurar a qualidade do meio ambiente. Disponível em <http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/@ed_emp/@emp_ent/documents/publication/wcms_158727.pdf>. Acesso em 30 de março de 2012. 5 Para maiores informações acerca da temática, ver: http://www.worldwater.org/conflict/index.html; http://cawater-info.net/bk/water_law/pdf/wolf_e.pdf; e http://www.ibiologia.unam.mx/pdf/directorio/z/introduccion/world_watershed_re.pdf 6 Disponível em http://www.uncsd2012.org/rio20/7issues.html, acesso em 30 de março de 2012. 7 A outra diretriz foca-se na questão da “estrutura institucional para o desenvolvimento
sustentável”, não analisada no presente trabalho. 8 Para maiores informações, acessar: http://www.uncsd2012.org/rio20/7issues.html 9 Disponível em http://www.uncsd2012.org/rio20/objectiveandthemes.html, acesso em 30 de março de 2012. 10 Disponível em http://www.worldwaterforum6.org/no_cache/en/news/single/article/from-marseille-to-rio-20-bringing-water-to-the-earth-summit/, acesso 30 de março de 2012. 11 Disponível em http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/agua/agua_acoes_resultados/semana_mundial_da_agua/. Acesso em 01 de abril de 2012. 12 Segundo o IBGE são seis: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas e Pantanal. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169>. Acesso em: 18/04/2012. 13Originalmente, o bioma ocupava 12% do território nacional. Atualmente, o bioma encontra-se reduzido a 7%, segundo a WWF. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biomas/bioma_mata_atl/bioma_mata_atl_ameacas/>. Acesso em: 17/04/2012. 14 Idem. 15 Notadamente a agropecuária e a cultura de arroz e soja. 16 Disponível em: <http://www.scp.rs.gov.br/atlas/atlas.asp?menu=255>. Acesso em: 17/04/2012. 17 Análises mostram que a água de córregos em áreas de cultivo de Eucalipto sofreu mudanças químicas, tornando-se ácida em decorrência, dentre outros fatores, da escassez de cálcio, amplamente consumido pela espécie (SANTOS & TREVISAN, 2009). 18 Notadamente em decorrência da redução de água e demais nutrientes que geram alterações no ambiente físico do ecossistema, através, por exemplo, da alteração do PH do solo, que, em última análise, pode se configurar como fator limitante para a sobrevivência de outras espécies (SANTOS & TREVISAN, 2009). 19 Correspondente a um domínio de floresta tropical úmida que se estende por uma área de 6,7 milhões de quilômetros quadrados, sendo 60,1% encontrado em território brasileiro. O bioma se estende, também, por outros 7 países: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Venezuela. Disponível em <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/amazonia1/bioma_amazonia>. Acesso em 18/04/2012. 20 A Bacia Amazônica se estende por 7.3 milhões de km² e contém mais de 1.100 afluentes. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/redu
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cao_de_impactos2/amazonia/>. Acesso em 18/04/2012. 21 O comprometimento de matas ciliares é a degradação ambiental que gera mais efeitos para o comprometimento do fluxo de água nos rios, dada a facilitação de processos de erosão e assoreamento de leitos e mananciais (DELITTI, 1989). 22 Serve como exemplo da influência da Bacia sobre outros países o rio Madeira, cuja bacia drena partes da Bolívia e do Peru, além do Brasil (VAL et al, 2010). 23 Em busca da extração de minérios de ferro, bauxita, manganês, estanho e ouro, cobre níquel, zinco, cromo e titânio, entre outros (Corrêa & Carmo, 2010). 24No que tange à atividade mineradora, destaca-se a atuação da empresa Vale do Rio Doce, a maior mineradora nacional. Atualmente, a Vale conta com grandes empreendimentos mineradores nos domínios da Amazônia, dentre os quais se destacam o projeto Carajás Serra Sul, o projeto Serra Norte e o projeto Salobo, todos localizados no estado do Pará. Website da ONG Xingu Vivo. Disponível em: <http://www.xinguvivo.org.br/2012/01/08/impactos-de-operacoes-da-vale-no-brasil-e-no-mundo/>. Acesso em: 18/04/2012 25 Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/amazonia1/arpa_news/?2868>. Acesso em: 18/04/2012. 26 Website da ONG Xingu Vivo. Disponível em: <http://www.xinguvivo.org.br/2012/01/08/impactos-de-operacoes-da-vale-no-brasil-e-no-mundo/>. Acesso em: 18/04/2012 27 Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/pantanal/>. Acesso em: 18/04/2012. 28 As Áreas Úmidas desempenham funções ecológicas tais como retenção e regularização do fluxo de água, o que lhes confere grande importância para a manutenção da biodiversidade local e o equilíbrio ecossistêmico. 29 Disponível em: <http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2011/04/24/interna_brasil,249269/devastacao-do-cerrado-impacta-qualidade-de-vida-de-88-6-milhoes-de-pessoas.shtml>. Acesso em 18/04/2012. 30 Segundo o IBGE a população total brasileira é de 190.732.694 (2010). Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/primeiros_dados_divulgados/index.php>. Acesso em: 10/04/2012. 31 O Cerrado contém 5% da flora e fauna mundiais e um terço da biodiversidade brasileira (WWF & Fundação Pró Cerrado, 1995), sendo considerado o segundo maior bioma do território brasileiro e a savana com maior biodiversidade do mundo (Barbieri et al, 2010).
32 Veredas são subsistemas do Cerrado. Caracterizadas por solos hidromórficos, brejos e florestas estacionais arbóreo-arbustivas, são nascedouros das águas na região de cerrado e, portanto, responsáveis pelo abastecimento dos cursos d’água das bacias hidrográficas de que o Cerrado participa. A preservação das mesmas está, portanto, diretamente ligada ao equilíbrio dos mananciais de água (MENDONÇA & MESQUITA, 2007). 33 O projeto tem apoio financeiro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do próprio MMA, além de contar com a cooperação técnica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 34 Sítio oficial do IBAMA. Disponível em: <http://siscom.ibama.gov.br/monitorabiomas/index.htm>. Acesso em: 02/04/2012. 35 Áreas protegidas legalmente, em duas classificações: “Proteção Integral” e “Uso Sustentável” 36 Geridas, na esfera federal, pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio) e fiscalizadas pelo próprio ICMBio, em parceria com o IBAMA. 37 Instituído pela lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm>. Acesso em: 03/04/2012. 38 Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado>. Acesso em: 03/04/2012. 39 Deste total, 2,2% estaria protegida sob forma de Proteção Integral e 1,9% sob a forma de Uso Sustentável. 40 Projeto de Lei da Câmara, nº 30 de 2011. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=100475>. Acesso em: 10/04/2012. 41 Os defensores do Código argumentam que o atual código limitaria a capacidade de expansão da atividade agropecuária, impedindo seu crescimento. Entretanto, o código acabaria por afetar de forma mais drástica a agricultura familiar, dada sua menor porção de terra e menores recursos (SOS Florestas. 2011). 42 No dia 06/12/2011. Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2011/12/06/novo-codigo-florestal-e-aprovado-e-volta-a-camara-dos-deputados>. Acesso em: 10/04/2012 43 As APPs são consideradas áreas sensíveis e podem ser: margens de rios, cursos d’água, lagos, lagoas e reservatórios, topos de morros e encostas com declividade elevada, cobertas ou não por vegetação nativa. Tais áreas têm função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, e proteção do solo, além d e assegurar o
BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água
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bem estar da população humana (SOS Florestas, 2011). 44 Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/areas-de-alerta-de-desmatamento-aumentaram-entre-agosto-marco-4504250>. Acesso em: 10/04/2012. 45 Disponível em: http://nprvo.ru/en/water/sector/ 46 Decreto do Governo da Federação Russa de 22 de dezembro de 2010, № 1092. 47 Criada em 2006. Banco de Desenvolvimento Russo (Vnesheconombank) detém 20% de suas ações, oferecendo fundos de investimento à empresa. 48 Propriedade do Banco Alfa (90%), maior banco comercial da Rússia, em consórcio com Deutsche Bank (10%). 49 Propriedade do conglomerado “Renova”, um dos maiores conglomerados industriais de financiamento privado. 50 Segundo Bardhan (2010), os termos de troca entre a agricultura e o setor manufatureiro intensificaram-se entre o início da década de 1980 e a metade da década de 2000. Tal expansão teria estimulado o crescimento dos investimentos privados em agricultura, principalmente em produtos de alta demanda industrial. A ausência de investimentos públicos em sistemas de irrigação e infraestrutura em geral que acompanhassem esse crescimento é apontada, pelo autor, como causa do aprofundamento dos problemas de segurança hídrica no país. 51 É o caso, por exemplo, dos subsídios para fertilizantes, cuja metade dos investimentos feitos são direcionados às grandes companhias que controlam a produção de tal mercadoria (BARDHAN, 2010, p.46). 52 Isso porque, segundo Bardhan (2010), dado que a política de gastos públicos direcionados ao setor rural na Índia corresponderia, em grande parte, a grandes volumes de gastos estatais voltados para subsídios, notadamente direcionados à produção em larga-escala, não haveria nem interesse e/ou recursos para os grandes investimentos em infraestrutura rural necessários. 53 Disponível: < http://wrmin.nic.in/index3.asp?sslid=851&subsublinkid=844&langid=1>. Acesso em: 28/03/2012. 54 Disponível em: <http://www.groundwatertnpwd.org.in/artificial_recharge_to_groundwat.htm>. Acesso em: 28/03/2012 55 Disponível em: <http://www.groundwatertnpwd.org.in/cost_of_the_scheme.htm>. Acesso em: 28/03/2012. 56 Para mais informações, confira o Anexo 1: Principais Rios da República Popular da China 57 Fonte: Banco Mundial, 2010. 58 A concentração geográfica das águas, somada aos fenômenos climáticos influencia diretamente nos recursos per capita no norte da China em relação ao país como um todo, como exposto no Anexo 2.
59 Como evidenciado pelo discurso do Ministro do Meio Ambiente: ”establish a resource-saving and environment-friendly national economic system, try to achieve the win-win of economic benefits, social benefits, and environmental benefits, and promote the long-term fast and yet steady economic development and social harmony and progress” (MINISTRY OF ENVIRRONMENTAL PROTECTION) 60 Assinadas em setembro de 2010, na Conferência das Nações Unidas realizada entre 20 e 22 de setembro do mesmo ano. 61 Apesar de haver uma clara tentativa de coordenação entre os BRICS na área de saúde, a partir do Encontro entre os Ministros de Saúde dos BRICS realizado em julho de 2011, a temática da água não é citada, sendo preterida pelo intercâmbio de medicamentos e vacinas. Para maiores informações, ver: http://www.brics.utoronto.ca/docs/110711-health.html