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Policy Brief Especial RIO+20 Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água Abril de 2012 Núcleo de Análises de Economia e Política BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS

Policy Brief · saneamento básico de qualidade ... 2010, p. 7). Além disso, é importante apontar o ... trabalho volta-se à análise das políticas públicas de distribuição

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Policy BriefEspecial RIO+20

Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

Abril de 2012

Núcleo de Análises de Economia e PolíticaBRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS

Policy BriefEspecial RIO+20

Desenvolvimento sustentávele redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

Abril de 2012

Núcleo de Análises de Economia e PolíticaBRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

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Autores: José María Gómez, Paula Sitonio, Sérgio Britto e Carollina Tinoco Colaboração: Paulo Chamon

Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água 1. Introdução

A análise de alguns discursos

de Estados e Organizações não

governamentais e das metas

delineadas por Organismos e

Conferências internacionais revela o

imperativo do desenvolvimento

sustentável nos cenários nacionais e

internacional atuais. Ao assinalar a

interdependência entre as dinâmicas

do crescimento econômico, do meio

ambiente e da pobreza, esse conceito

aponta para a complexidade das

problemáticas contemporâneas,

demandando esforços conjuntos em

uma multiplicidade de frontes.

A temática da água insere-se

nesse contexto ao se apresentar como

um elemento central para o

desenvolvimento sustentável ao ser

localizada na articulação de seus três

pilares: desenvolvimento econômico,

proteção ambiental e inclusão social.

Classificada como um dos três

elementos fundamentais para a

sustentabilidade pelo Relatório

Brundtland1 (UN, 1987), o tratamento e

a utilização da água afeta o

crescimento (por determinar

possibilidades energéticas e de

produção) e impacta de maneira

profunda o meio ambiente e a

qualidade de vida da população, na

medida em que a desestabilização dos

elementos hídricos ecossistêmicos

possui desdobramentos diretos sobre o

acesso à água de qualidade para

consumo e agricultura (principalmente

de subsistência), a segurança

alimentar, a disseminação de doenças

e a gestão de desastres naturais..

Nesse contexto, o presente

trabalho busca investigar o impacto

das tensões ligadas à segurança

hídrica nos BRICS – relacionadas

diretamente com seu acelerado

crescimento econômico e urbanização

– sobre a temática da redução de

pobreza. A presença do bloco em

diversos fóruns internacionais (e.g.:

Rio+ 20 e Fórum Mundial de Águas)

denota o reconhecimento da

problemática e a vontade de abordá-la

de maneira conjunta. Entretanto, para

uma visão geral mais clara da posição

atual destes países dentro desta

temática, é necessário analisar de que

forma a relação entre desenvolvimento

sustentável e segurança hídrica dá-se

no ambiente interno destes países,

tanto no âmbito das dificuldades

quanto das iniciativas socioambientais

adotadas.

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

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Desse modo, ao tomar a água

como elemento fundamental para a

realização do desenvolvimento

sustentável, o presente trabalho busca

analisar as possibilidades de

engajamento e contribuição dos

BRICS, por meio do exame de suas

situações individuais, para o

desenvolvimento e adoção da

sustentabilidade em uma dimensão

global.

2. A Água e o Desenvolvimento

Sustentável

O modelo defendido pelos

partidários do desenvolvimento

sustentável torna-se cada vez mais

central nas discussões políticas globais

e nacionais na medida em que o

sucesso econômico obtido por atores

estatais e não estatais é

acompanhado, com frequência, pela

redução tanto da qualidade de vida

atual como das possibilidades das

gerações futuras. Tendo em vista que

o modelo tradicional de

desenvolvimento econômico baseou-se

na degradação desenfreada de

recursos naturais (ARROW et al,

1996), fez-se necessária a criação de

um novo conceito de crescimento que,

desde a década de 1980, foi entendido

como o dever de “atender as

necessidades do presente sem

comprometer a habilidade das futuras

gerações de saciar suas próprias

necessidades” (UN, 1987). Mais tarde,

após a Conferência do Rio de 19922, o

desenvolvimento sustentável passou a

ser definido como uma combinação de

três dimensões: a econômica, a social

e a ambiental (LEHTONEN, 2004).

Entretanto, é comum que a

temática seja analisada com base

apenas nas dimensões econômica e

ambiental ou econômica e social,

sendo a interação entre meio ambiente

e inclusão social considerada

“subsidiária”. Nesse sentido, é

importante ressaltar que apenas por

meio de uma análise holística das três

dimensões é possível apreender-se as

dificuldades relacionadas a cada uma

de maneira individual (LEHTONEN,

2004). Assim, faz-se necessário um

aprofundamento do estudo acerca da

relação entre meio ambiente e

desigualdades sociais.

Jehan e Umana (2003)

destacaram esse problema,

desmistificando a crença de que a

degradação ambiental é resultante das

atividades dos menos favorecidos e

responsabilizando ações políticas e

estruturas institucionais pela falta de

acesso dos mesmos a recursos

básicos. Ao apontarem o papel do

“nexo meio ambiente-inclusão social”

na consolidação das Metas do Milênio3,

os autores consagraram a inter-relação

entre ambas as dimensões como

fundamental para a realização do

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modelo do desenvolvimento

sustentável (JEHAN & UMANA, 2003).

Seguindo essa perspectiva, é possível

afirmar que, ao mesmo tempo em que

os recursos naturais podem fomentar o

crescimento e reduzir a pobreza (por

meio de sua comercialização, do

turismo natural ou dos “green jobs”4),

os impactos ambientais resultantes das

atividades econômicas também

possuem sérias consequências sociais,

contribuindo para o aprofundamento

das desigualdades (WORLD BANK,

2007).

Em meio a tais indagações, a

questão do acesso à água limpa e

potável ganha força especial nas

discussões acerca do desenvolvimento

sustentável, na medida em que a

escassez da mesma deve-se à

interação complexa de fatores

econômicos, sociais e ambientais,

devendo ser enfrentada por meio da

intervenção de atores de diversas

escalas (WWF, 2009). Ademais, a

redução da acessibilidade e utilização

do recurso impõe custos sociais

nefastos e abrangentes à população,

notadamente no que diz respeito ao

aprofundamento da pobreza. Assim, a

temática da segurança hídrica tem

ganhado importância crescente ao se

relacionar tanto com impactos de

natureza higiênico-sanitária quanto

com a fabricação de bens materiais,

muitos dos quais indispensáveis à

sobrevivência humana. Ao se

apresentar como força motriz do

crescimento econômico e da vida do

planeta, a água (ou sua escassez)

impõe pressões à produção agrícola e

industrial, aos preços dos alimentos e à

saúde humana, na medida em que se

faz necessária para o consumo diário e

para a estruturação de sistemas de

saneamento básico de qualidade que

impedem a disseminação de certas

doenças (varíola, diarréia, dengue, etc)

(UNESCO, 2012). De acordo com a

ONU, a água contaminada e seus

desdobramentos sobre a saúde e

alimentação são responsáveis por mais

de 1,7 milhões das mortes anuais,

“matando mais pessoas do que de

todas as formas de violência, incluindo

a guerra” (PNUMA, 2010, p. 7). Além

disso, é importante apontar o impacto

da disponibilidade da água sobre a

segurança internacional: a

intensificação dos processos de

desmatamento e a poluição acabam

por reduzir a quantidade e qualidade

do recurso, acirrando conflitos entre

grupos que buscam controlar os

principais reservatórios de água de

suas respectivas regiões5. Desse

modo, percebe-se a abrangência dos

desdobramentos multidimensionais da

questão hídrica, na medida em que a

mesma relaciona-se diretamente com

as temáticas de segurança alimentar,

energia limpa e acesso a eletricidade,

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

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controle de doenças

infectocontagiosas, preservação dos

ecossistemas vigentes e manejo de

desastres naturais, desafios centrais

para a adoção de um modelo tríptico

de desenvolvimento sustentável6.

3. A Água e a Conferência Rio+20: A

redução da pobreza no contexto do

desenvolvimento sustentável

O encontro da Rio+20, a ser

realizado em junho de 2012, adota o

modelo conceitual do desenvolvimento

sustentável multidimensional,

apresentado anteriormente, para

avaliar o progresso e as lacunas

existentes no tratamento dos desafios

contemporâneos. Tendo como um de

seus carros-chefes “o desenvolvimento

sustentável e a erradicação da

pobreza”7, observa-se a importância

concedida tanto à dimensão ambiental

como à social no tratamento de

questões relacionadas ao

desenvolvimento econômico. Com o

objetivo de adereçar de maneira

eficiente os grandes temas

enunciados, a conferência elegeu sete

questões críticas8 para o alcance do

desenvolvimento sustentável; a

temática da água figura destacada

entre elas9. A preocupação da

Conferência com os impactos hídricos

no aprofundamento da pobreza

mundial diz respeito ao fenômeno

conhecido como “Water Poverty”. De

acordo com esse conceito, a

precariedade do sistema de

saneamento básico e a falta de acesso

a água de qualidade (tanto pela

ausência do recurso como por seu alto

preço) impactam tanto a renda da

população (na forma do fomento à

produção agroindustrial) como seu

bem estar, traduzido em termos de

saúde, nutrição, acesso a eletricidade,

educação e subsistência. Nesse

sentido, a temática da água ganha

destaque na questão da redução de

pobreza (LAWRENCE et al, 2003).

A relação entre essas duas

questões pode ser observada, ainda,

em outro encontro internacional. A

realização do VI Fórum Mundial das

Águas em março de 2012, na cidade

de Marseille (França), buscou, entre

outros objetivos, sistematizar as

questões e compromissos a serem

levados para a Rio+2010, estando entre

eles a classificação do acesso a água

potável limpa como direito humano e o

desenvolvimento de um arcabouço

institucional e de políticas públicas

para o tratamento do esgoto, a

implementação de um sistema de

saneamento básico universal, a

preservação ambiental e a utilização

racional da água para o combate à

fome e à desnutrição. Tais desafios,

por sua vez, são encontrados na

agenda da Rio+20 acerca da redução

de pobreza. Segundo o Fórum, a

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

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resolução das problemáticas mundiais

por meio da adoção de um modelo

tríptico de desenvolvimento sustentável

deve passar necessariamente pela

construção de um arcabouço jurídico-

institucional que trate da questão da

água em suas dimensões ambientais,

econômicas e sociais. (WORLD

WATER FORUM, 2012).

4. A Água e as Políticas Socioambientais

Uma vez apontado o impacto

da questão hidríca sobre as condições

de vida da população, faz-se

necessário analisar as causas do

problema e as formas de sua solução.

Entretanto, ao analisar a distribuição

de água por habitantes no mundo

(Figura 1), constata-se que a

disponibilidade deste recurso natural

não é de forma alguma crítica.

Figura 1:

Disponível em: <http://www.fao.org/nr/water/aquastat/globalmaps/01_TRWR_CAP.pdf>. Acesso em: 16/04/2012

Como explicar, então, a grande

dificuldade global em relação ao

acesso à água? Em primeiro lugar, a

temática não deve ser analisada a

partir da disponibilidade do recurso.

Questões de ordem geográfica, política

e econômica devem ser levadas em

consideração, uma vez que a

segurança hídrica está diretamente

relacionada à distribuição dos recursos

hídricos, além da administração dos

mesmos. Em última instância, portanto,

o papel de políticas públicas voltadas a

incrementar a acessibilidade e

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

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qualidade da água é fundamental à

segurança hídrica de um país

(UNESCO, 2006).

Iniciativas governamentais

devem, ainda, considerar que os

impactos ambientais que afetam o

recurso não se distribuem de maneira

uniforme pelos seus habitantes. A

difusão de qualidade ambiental é

desigual, afetando de maneira

diferenciada as parcelas ricas e pobres

da população. No que tange a temática

da água, os menos favorecidos

acabam por viver em locais cujas

condições de saneamento e água são

inadequadas, expondo-se em maior

medida a doenças como diarreia,

cólera, dengue e malária. Além disso, a

população rural depende em maior

grau da disponibilidade do recurso para

produção própria e consumo, sendo

mais vulnerável a secas e lençóis

freáticos poluídos (UNDP, 2002).

Desse modo, políticas públicas

ambientais que objetivem preservar o

recurso necessitam estar atentas aos

desdobramentos sociais do problema

(OECD, 2006). Tendo em vista as

questões levantadas, o presente

trabalho volta-se à análise das políticas

públicas de distribuição e tratamento

da água visando analisar a segurança

hídrica dos países, notadamente em

seus desdobramentos de inclusão

social e redução de pobreza.

5. A Água e os BRICS

Uma vez constatada a

centralidade da temática da água para

o alcance do modelo do

desenvolvimento sustentável e para a

redução da pobreza, além da

importância da implementação de

políticas socioambientais no processo

de garantia de acesso à água de

qualidade por parte da população, o

presente trabalho propõe-se a analisar

como tais dinâmicas se articulam no

interior dos países BRICS. O

crescimento acelerado experienciado

nos últimos anos afetou de maneira

grave a segurança hídrica desses

países, resultando em sérios impactos

sobre o bem estar de suas populações.

Desse modo, percebe-se um crescente

comprometimento dos mesmos em

diversos encontros internacionais que

versam sobre a questão hídrica e seus

impactos sociais, como a Rio+20 e o

Fórum Mundial de Água. Entretanto,

para se entender as reais

possibilidades de cumprimento das

metas anunciadas nesses encontros,

bem como o grau de comprometimento

destes países, é necessário que se

empreenda uma análise tanto das

especificidades da problemática hídrica

de cada um, como dos principais

programas socioambientais

implementados pelos governos para

adereçá-los. A seguir, essas

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

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particularidades serão brevemente

apresentadas.

5.1 Brasil

A problemática da segurança

hídrica no território brasileiro relaciona-

se intimamente com a topografia e

distribuição demográfica do país, na

medida em que, apesar de possuir

aproximadamente 14% de toda a água

doce do Planeta11 (Figuras 2 e 3), o

modelo de crescimento do Brasil – e as

atividades econômicas decorrentes –

acaba por desgastar seus recursos

naturais, notadamente a água. Nesse

sentido, é importante ressaltar que tal

impacto ambiental afeta em maior grau

as camadas mais empobrecidas da

população, dependentes de rios e

lençóis freáticos para fins de

subsistência.

Nesse sentido, destaca-se que,

no caso brasileiro, a ameaça à

segurança hídrica nacional é

diretamente relacionada à degradação

ambiental, notadamente àquela

referente aos processos de exploração

e avanço de agropecuária, urbanismo

e mineração sobre domínios de

vegetação nativa. Logo, fica clara a

centralidade da preservação das

funções ambientais desempenhadas

pelos biomas nacionais12 (Figura 4) na

manutenção do grande fluxo de água

característico do país, evitando uma

distribuição de recursos hídricos ainda

mais desigual.

No que diz respeito ao bioma

Mata Atlântica, destaca-se o impacto

do desenvolvimento urbano-industrial

sobre o processo histórico de

degradação ambiental13. A

concentração de 70% da população e

80% da geração do PIB nacional na

região14 atua como elemento

catalisador das pressões sobre os

reservatórios de água, amplamente

explorados tanto para o consumo

doméstico quanto para fins industriais.

Na Caatinga, além da questão

de desmatamento visando à

substituição de espécies nativas por

pastagens e cultivos agrícolas,

destaca-se a utilização da vegetação

lenhosa como principal fonte de

energia para a população local. Tal

processo, associado à atividade

agropecuária, magnifica a pressão

antrópica sobre os recursos do bioma,

resultando em crescente degradação

das matas ciliares e comprometimento

dos escassos recursos hídricos da

região (AURINO, 2007). ). Desse

cenário, origina-se um crescente

processo de desertificação, já

responsável pelo comprometimento de

15% da área total da caatinga

(ARAÚJO, 2009).

Figura 2: Bacias Hidrográficas Brasileiras

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

Disponível em: <http://www.fao.org/nr/water/aquastat/countries_regions/brazil/index.stm>

Figura 3: Mapa Hidrográfico Brasileiro

Disponível em: <http://conjuntura.ana.gov.br>. Acesso em: 18/04/2012

Figura 4: Mapa dos Biomas Nacionais

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  5  

Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169>. Acesso em: 18/04/2012.

O processo de desertificação

constitui-se, portanto, como um

agravante a uma situação hídrica já

naturalmente precária diante das

características semiáridas do nordeste

brasileiro (AURINO, 2007).

Por sua vez, o domínio dos

Pampas (ou Campos Sulinos),

localizado ao sul do território brasileiro,

vem sendo caracterizado pela

progressiva expansão da atividade

agropecuária15, industrial (notadamente

indústria de transformação16) e urbana.

Desses processos, decorre a redução

em 51% da vegetação campestre

original do bioma (HASENACK et al,

2007). Além disso, estas atividades

atuam em grande medida sobre a

contaminação de rios e lençóis

freáticos – tanto pelo uso sistemático

de agrotóxicos como pelos processos

de erosão decorrentes do pisoteio do

gado – impondo grande pressão sobre

os recursos hidrográficos do bioma.

Ademais, destaca-se a introdução do

Eucalipto, espécie invasora introduzida

como fonte de matéria prima para a

indústria de celulose. Tal espécie, por

conta do seu consumo excessivo de

água, vem sendo responsável pela

diminuição da disponibilidade do

recurso no ambiente, levando à

redução e perda de riachos e outros

reservatórios hídricos (áreas úmidas e

mananciais)17, além de comprometer a

manutenção da biodiversidade do

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  4  

bioma, alterando os parâmetros de

competitividade ecossistêmicos18 e,

assim, comprometendo a capacidade

de sobrevivência de outras espécies

(SANTOS & TREVISAN, 2009).

No que diz respeito ao bioma

Amazônia19, sua relevância para a

segurança hídrica nacional decorre do

fato de tal domínio estar diretamente

relacionado à maior bacia hidrográfica

do mundo (Bacia Amazônica)20. Dessa

forma, observa-se que a ocorrência de

interrupções no fluxo de água ou

assoreamento de leitos de rios e

mananciais derivados do processo de

degradação21 constitui uma ameaça

não só à segurança hídrica das

populações ribeirinhas e comunidades

tradicionais (diretamente ligadas aos

recursos hídricos dos diversos rios e

afluentes que compõem a bacia), mas

também a grandes parcelas da

população nacional e de países

vizinhos22, dependentes do

abastecimento de tal bacia para

consumo, subsistência e irrigação. No

que tange às ameaças à conservação

da Amazônia e, consequentemente, à

manutenção de sua importância tanto

no que diz respeito à sua

biodiversidade quanto aos seus

recursos hídricos, destaca-se, além de

extrativismo vegetal, expansão de

fronteiras agrícolas e obras de

infraestrutura, a crescente atividade

mineradora23. Essa, por sua vez, se

manifesta desde a exploração de

garimpos em pontos específicos no

espaço por curto período de tempo, até

grandes investimentos de empresas

multinacionais24 (CORRÊA & CARMO,

2010), impactando no processo de

contaminação dos rios pela utilização

de elementos químicos, como o

mercúrio25.

Ademais, por conta da

magnitude dos empreendimentos

mineradores, os mesmos demandam

grandes intervenções sobre o território,

através de implementação de

infraestrutura (associada ao

desmatamento), construção de

barragens (para controle do fluxo de

água e contenção dos rejeitos do

processo de mineração) e de divisores

de águas26. Assim, percebe-se que a

mineração na Amazônia afeta, de

forma decisiva, a distribuição de

recursos hídricos, comprometendo,

portanto, a segurança hídrica da

população, não apenas em nível local,

como também nacional e regional.

O Pantanal, por sua vez, é

descrito pela WWF Brasil como “um

enorme reservatório de água”,

constituindo a maior área úmida

continental do planeta27. Atualmente, a

grande ameaça à conservação do

bioma diz respeito à crescente

implementação de hidrelétricas, na

medida em que a proliferação de

centenas de barragens para a geração

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  5  

de energia altera o volume de águas e

a periodicidade das inundações dos

seus rios formadores. Tal processo

acarreta o comprometimento das

funções ecológicas desempenhadas

pelo bioma28, representando, portanto,

uma ameaça à segurança hídrica da

população (CALHEIROS, 2012).

Entretanto, o bioma de maior

importância para a segurança hídrica

do Brasil é o Cerrado. Sua centralidade

decorre das características

topográficas do espaço que ocupa

(áreas de planalto) (Figura 5), estando

nele localizadas mais de vinte mil

nascentes de rios, responsáveis pela

alimentação de seis das oito bacias

hidrográficas brasileiras. Dentre elas,

destacam-se os afluentes dos rios

Paraná, São Francisco e da margem

direita do rio Amazonas, três dos

principais rios nacionais, com papéis

fundamentais tanto no acesso de

populações a água para consumo

doméstico e de subsistência quanto

para a irrigação agrícola (SAWYER,

1998). Segundo estatísticas do

Ministério do Meio Ambiente,

divulgadas pelo Correio Braziliense,

cerca de 88,6 milhões de pessoas

dependem dos reservatórios de água

provenientes do Cerrado29, o que

corresponderia a cerca de 46% da

população nacional30. As ameaças à

manutenção de suas funções

ecológicas originadas, em grande

parte, na degradação decorrente da

expansão das fronteiras agrícolas,

ocupando áreas de vegetação nativa,

devem ser, portanto, vistas como

ameaças centrais não apenas à

preservação da grande biodiversidade

do Cerrado31, mas também à própria

segurança hídrica nacional. Assim,

percebe-se que a proteção do bioma e

a consequente manutenção de suas

funções ecológicas encontram-se no

cerne da questão tanto da segurança

hídrica brasileira como da qualidade de

vida da população mais pobre.

Entretanto, na contramão de tal

centralidade, as taxas de

desmatamento no Cerrado têm sido

historicamente progressivas (Tabela 1),

apresentando-se inclusive como

superiores às da floresta amazônica

(KLINK & MACHADO, 2005). De forma

complementar, a contaminação de rios,

notadamente no que se refere à

crescente degradação das Veredas32,

também deve ser apontada como um

aspecto central no aumento da

deterioração da segurança hídrica no

país, assim como dos impactos sociais

a ela associados.

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

Figura 5: Relevo Brasileiro

Fonte: AB’SÁBER, 1958

Tabela 1

Classe Até 2002 (%) Até 2009 (%) Áreas desmatadas 43,67 48,22

Vegetação Remanescente

55,73 51,16

Fonte: Ibama. Disponível em: <http://siscom.ibama.gov.br/monitorabiomas/cerrado/index.htm>. e em: <http://siscom.ibama.gov.br/monitorabiomas/cerrado/Index2008.htm>. Acesso em 02/04/2012.

O desmatamento do Cerrado

tem como principais causas as

atividades agrícolas de pecuária

extensiva (40% do rebanho nacional),

a lavoura de grãos voltada à

exportação (25% da produção

nacional) (LIMA & SILVA, 2007) e o

cultivo de cana-energia. Tais atividades

lideram a expansão recente das

fronteiras agrícolas para dentro dos

limites do Cerrado (SILVA, 2010),

demandando, inclusive, a instalação de

infraestrutura para seu escoamento,

resultando em um vetor suplementar

de desmatamento (KLINK &

MACHADO, 2005).

Com a subsequente destruição

de matas ciliares, elimina-se o

mecanismo ecológico que possibilita o

bloqueio de sedimentos nas margens,

impedindo que os mesmos se

concentrem no leito dos rios garantindo

o fluxo da água (DELITTI, 1989). Esse

processo é, portanto, um dos principais

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

fatores de redução do volume de água

nos rios do Cerrado, o que, em última

análise, compromete a chegada de

água para as populações deles

dependentes.

Alternativamente, a

contaminação de rios e lençóis

freáticos, decorrente da utilização de

agrotóxicos na produção agrária, da

crescente construção de barragens

para irrigação das propriedades do

agronegócio, e da alocação de lixo

urbano-industrial em locais

inapropriados, também se configura

como uma ameaça central à segurança

hídrica nacional. Tal contaminação

adquire caráter ainda mais emergencial

quando se refere àquela que atinge os

domínios das Veredas, dado que a

contaminação dos mananciais de água

característicos desses subsistemas

pode provocar efeitos decisivos sobre

a quantidade e a qualidade dos

recursos hídricos disponíveis para

cerca de 46% da população brasileira

(MENDONÇA & MESQUITA, 2007).

Dessa forma, observa-se que o

comprometimento da cobertura vegetal

e das nascentes e rios localizados na

região do Cerrado brasileiro podem

representar uma ameaça à segurança

hídrica nacional, tanto no que tange à

quantidade de recursos hídricos

disponíveis à população (problemas de

abastecimento) quanto à qualidade dos

mesmos (associada a doenças e

demais riscos à saúde).

Nesse contexto, foi instaurado,

em 2008, pelo Ministério do Meio

Ambiente (MMA), o Projeto de

Monitoramento do Desmatamento dos

Biomas Brasileiros por Satélite

(PMBBS), que compreende os biomas

do Cerrado, Caatinga, Pantanal, Mata

Atlântica e Pampa33. O objetivo central

do governo seria o de “quantificar

desmatamentos de áreas com

vegetação nativa e embasar ações de

fiscalização e combate a

desmatamentos ilegais naqueles

biomas”, permitindo uma “maior

eficiência das políticas públicas

voltadas à conservação e uso

sustentável destes biomas e de

fiscalização e controle da aplicação da

legislação ambiental”34.

Há de se perceber que tal

iniciativa atende à necessidade de um

maior monitoramento sobre as

Unidades de Conservação (UC)

nacionais35, que constituem a principal

política pública de preservação dos

biomas nacionais36 (sob o Sistema

Nacional de Unidades de

Conservação37). Atualmente, existem

43 Unidades de Conservação38 no

Cerrado.

Entretanto, há de se destacar

que tal política não é capaz de garantir,

isoladamente, a manutenção de tais

funções, principalmente por ainda

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  5  

apresentar um espaço de atuação

extremamente reduzido,

correspondendo a apenas 4,1% da

área do Cerrado (KLINK & MACHADO,

2005)39. Assim, dada a centralidade do

Cerrado para a segurança hídrica

brasileira, mostra-se necessária a

fiscalização dos grandes produtores

rurais do país, notadamente no que diz

respeito ao comprometimento de

matas ciliares, à contaminação de rios

e lençóis freáticos e à deterioração das

Veredas.

Entretanto, tal processo faz

frente a dificuldades na atual

conjuntura política nacional, marcada

pela forte representatividade dos

interesses dos grandes latifundiários

no legislativo. De fato, argumenta-se

que a proposta de reforma do Código

Florestal40, atualmente em trâmite no

Congresso Nacional, representa uma

política de retrocesso no que tange a

preservação de áreas de vegetação

nativa. Sob a argumentação de que o

atual código configuraria limites ao

crescimento da agropecuária

brasileira41, tal proposta vem

encontrando apoio político da bancada

latifundiária para ser levada adiante, já

tendo sido aprovada no Senado42.

Dentre outras propostas, o

Código prevê a redução das Áreas de

Proteção Permanente (APPs43) para

beira dos rios (SERVA, 2012, p.15). Ao

admitir maior destruição das matas

ciliares, a prevenção de processos de

assoreamento dos leitos dos cursos de

água é enfraquecida, impactando o

acesso ao recurso por parte da

população (MENDONÇA &

MESQUITA, 2007). Outra proposta

presente no projeto de lei é a Anistia

para desmatadores. Segundo Izabella

Teixeira, Ministra do Meio Ambiente, a

expectativa de anistia futura já estaria

possivelmente ligada ao atual aumento

nos níveis de desmatamento em

estados como o Mato Grosso (inserido

nos bioma Cerrado e Amazônia e

Pantanal)44.

Assim sendo, percebe-se que a

reforma do código apresenta-se como

uma proposta de lei contrária aos

princípios de preservação defendidos

nos discurso oficiais. Nesse sentido, é

necessário que haja um

acompanhamento sobre o futuro do

código ambiental e das APPs no país,

na medida em que ambas as políticas

representam mentalidades opostas

acerca do relacionamento entre

crescimento econômico, preservação

ambiental e qualidade de vida da

população, questões centrais para a

viabilidade do modelo de

desenvolvimento sustentável. O

mapeamento da implementação e do

desenvolvimento dessas políticas pode

lançar luz sobre possibilidades de

articulação internacional do Brasil

nessa temática.

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  6  

5.2 Rússia

Como nos demais países

BRICS, a segurança hídrica é uma

questão central para a Rússia, onde é

articulada ao redor de duas

características fundamentais. Em

primeiro lugar, a extensão territorial e a

distribuição hídrica e demográfica

russa resultam em discrepâncias

importantes de disponibilidade de

recursos ao longo do território (Figura

6). Com efeito, devido notadamente às

cadeias de montanha que permeiam o

território russo, a rede fluvial do país

não alimenta igualmente a totalidade

do território. Além disso, importantes

questões ligadas à qualidade da água

decorrem do legado de industrialização

concentrada e intensiva do modelo

soviético, resultando em altos índices

de poluição. Assim, como apresentado

a seguir, as políticas públicas

governamentais voltadas à segurança

hídrica devem incorporar duas

questões fundamentais associadas

neste trabalho às políticas

socioambientais hídricas: a distribuição

da água e o aprimoramento de sua

qualidade (HENRY &

DOUHOVNIKOFF, 2008).

No âmbito da disponibilidade do

recurso, o mapa hidrográfico abaixo

demonstra as regiões de menor

disponibilidade de água na Rússia.

Depreende-se de sua análise que, a

despeito da ampla distribuição

geográfica dos rios, partes importantes

do país permanecem com pouco

acesso direto. Tal situação demanda,

por parte do governo, uma atuação

voltada à distribuição de água de modo

a compensar as diferenças naturais

entre as várias regiões. Todavia,

segundo a organização não

governamental Russian Water

Association (RWA), o desgaste das

redes de reabastecimento de água no

país chegaria a 70%45, indicando um

cenário em que os investimentos em

infraestrutura e em políticas voltadas a

compensar problemas de distribuição

desempenham um papel crítico

(OCDE, 2009).

Do ponto de vista da qualidade

da água, de acordo com a RWA, 11

milhões de habitantes russos fariam

uso de água imprópria para consumo.

Outros 50 milhões, aproximadamente

um terço da população, utilizariam

diariamente água de má qualidade. Na

Rússia, as principais ameaças à

qualidade da água são a poluição

radioativa, a contaminação diante do

contato com água insuficientemente

tratada, os resíduos urbanos,

industriais (químicos e tóxicos) e

agrícolas e o derramamento de

petróleo (KAMPA et al, 2008).

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  3  

Figura 6: Mapa Hidrográfico da Federação Russa

Disponível em: <http://www.fao.org/nr/water/aquastat/countries_regions/russian_fed/index.stm>. Acesso em: 19/04/2012.

Uma vez que tais problemas de

qualidade impactam fortemente a

saúde da população, a questão hídrica

quando é abordada não apenas em

termos de sua disponibilidade e

distribuição, mas também sob a ótica

de sua qualidade e tratamento.

Com base nesse diagnóstico, a

presente seção apresenta os esforços

russos em termos de otimização da

qualidade da água e de distribuição

nacional do recurso. Destaca-se,

ademais, como, na Rússia, tais

medidas ocorrem prioritariamente por

meio de parcerias público-privado

(PPP), ou seja, programas do governo

que contam com parceiros e recursos

do setor privado (ZAGDAN, 2009).

Em termos de esforços para a

aferição e o controle dos impactos

sobre os corpos hídricos do país, a

Rússia buscou criar, em 1999, uma

metodologia unificada que permitisse

um diagnóstico consolidado da

situação nacional. Emitiu, assim, o

“Methodological Guidance for the

Development of Maximum Allowable

Harmful Impacts (MAHI) on Surface

Water Bodies”, mecanismo

consolidado, em 2003, pelo

desenvolvimento, por parte do Instituto

Russo de Pesquisa e Gestão das

Águas, de uma metodologia detalhada

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

para o cálculo do MAHI. Esta seria

renovada pelo código da água de 2006

que revisou as linhas de atuação e a

metodologia utilizada para a aferição e

controle da realidade hídrica do país,

estabelecendo (1) “normas para o

impacto permitido sobre os corpos

hídricos”, (2) níveis de concentração

máxima de químicos, além da (3)

introdução de metas de qualidade da

água levando em consideração os

principais corpos hídricos do país

(OCDE, 2008, p.8).

Em 2009, a Rússia lança, como

parte de seu plano de desenvolvimento

socioeconômico de longo prazo (até

2020), a State Water Strategy, voltada

especificamente à segurança hídrica

do país. Assim, de início, percebe-se a

presença de um tema central do

desenvolvimento sustentável dentro da

estratégia de desenvolvimento nacional

russa. De fato, a State Water Strategy

deixa clara a tentativa de articula o

tríptico da sustentabilidade –

desenvolvimento econômico, proteção

ambiental e inclusão ambiental.

No âmbito dessa estratégia, um

dos programas centrais a emergir é o

Clean Water Program46 (2010-2020),

atualmente em curso e voltado àqueles

dois elementos apontados como

fundamentais na realidade hídrica

russa: a distribuição e a qualidade da

água (MARTOUSSEVITCH &

KAUFFMANN, s/d). Com efeito, esse

programa volta-se a três aspectos do

dispositivo de segurança hídrica russo:

o aprimoramento da eficiência nos

sistemas de distribuição e da qualidade

da água, a modernização da legislação

no âmbito do tratamento da água (Lei

de tratamento de água) e das

concessões para empresas privadas e

a criação de um novo sistema de

prestação de contas que aumente a

transparência no que tange à temática.

A despeito de ser um programa

federal, seu foco é no desenvolvimento

regional, entendido como o âmbito

preferencial para lidar com questões

hídricas (LIKHANEVA, 2011). As metas

do programa são apresentadas na

tabela 2.

Os projetos ligados a esse

conjunto de políticas de segurança

hídrica são realizados por meio de

parcerias público-privadas que

incentivam empresas a arcarem com

os custos envolvidos ao associar

investimentos na área aos contratos de

concessão. De fato, o programa busca

constituir além de um ambiente legal

mais estável, um cenário aberto que

incentive a competição entre

empresas. Nesse sistema, estas atuam

na promoção de eficiência via

inovação, enquanto o governo garante

monitoramento e suporte legal,

regulatório e financeiro, em parceria

com empresas socialmente

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  5  

responsáveis (MARTOUSSEVITCH & KAUFFMANN, s/d, p.6)

Tabela 2

Metas 2010 2017

População com acesso ao abastecimento de água centralizado (%) 78,2% 90%

Perdas de água na rede centralizada de abastecimento de água (%) 18,5% 15%

População consumindo água potável de boa qualidade (%) 71,3% 83,2%

Proporção de esgoto que atenda aos requisitos (%) 40,3% 68,3%

Parcela de despesas em investimento de capital em despesas de

serviços públicos de água (%)

15% 40%

Fonte: OCDE, Framework Conditions for Private Sector Participation in Water Infrastructure in

Russia, 2010.

O custo do programa, estimado

em €7,9 bilhões, conta com apenas

€420 milhões (cerca de 5%) das

autoridades federais e regionais russas

(LIKHANEVA, 2011, p. 2). O restante

do investimento deve vir de empresas

privadas parceiras; as principais a

operar no setor da água são a

Evrasiyskiy47, a Rosvodokanal48 e a

Russian Utility Systems49, todas

ligadas aos maiores conglomerados

bancários do país

(MARTOUSSEVITCH & KAUFFMANN,

p.3 s/d).

Assim, na análise apresentada

acima, transparece a importância da

temática da água na realidade russa,

tanto no âmbito da qualidade de vida

quanto do projeto de desenvolvimento

nacional de longo prazo. Tal

importância traduz-se em uma

estratégia estatal voltada

especialmente à garantia do acesso à

água de qualidade para a população.

Esta atua em três frentes: o

aprimoramento do sistema de

distribuição e tratamento de água, a

modernização da legislação sobre o

tema, reforçando a regulação da

segurança hídrica e a criação de um

ambiente legal e transparente que

incentive a competição entre empresas

pelos contratos de concessão de

gerenciamento do setor. O Clean

Water Program, analisado acima, é,

portanto, um importante exemplo de

política socioambiental que impacta na

redução da pobreza, sendo financiado

via parcerias público-privadas.

Finalmente, vale indicar que a inserção

dessa temática no plano nacional de

desenvolvimento pode indicar uma

preocupação com uma lógica diferente

da soviética que, ao apostar em uma

industrialização intensiva e

concentrada, não considerava os

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

consequentes impactos

socioambientais, notadamente na

realidade hídrica do país.

5.3 Índia

Apesar das características

particulares do território indiano – onde

se encontram grandes extensões de

áreas semiáridas – contribuírem para a

ocorrência dos períodos de escassez

de água que diversas cidades indianas

vivenciam (BARDHAN, 2010, p. 42)

(Figuras 7, 8 e 9), outras questões de

natureza antropogênica devem ser

observadas como agravantes do

problema de segurança hídrica no país

(MINISTRY OF ENVIRONMENT AND

FORESTS, 2009, p. 102).

O crescimento da produtividade

agrícola desde meados da década de

1960 – diretamente ligado à revolução

verde – contribuiu para o agravamento

do problema do acesso à água na Índia

ao comprometer áreas de nascente

através de crescente degradação

ambiental e contaminar rios e lençóis

freáticos (amplamente utilizados na

Índia tanto para irrigação quanto para

uso doméstico) por conta da utilização

de pesticidas (BARDHAN, 2010, p. 44).

Ademais, tal situação configura-se

como uma grave ameaça à segurança

hídrica da população, especialmente

em relação às classes menos

abastadas da sociedade indiana,

altamente dependentes de fontes de

água (rios ou poços artesianos que

deem acesso aos lençóis freáticos)

para subsistência.

Por outro lado, a expansão do

setor secundário indiano também pode

ser visto como fator agravante

(MINISTRY OF ENVIRONMENT AND

FORESTS, 2009, p. 102). Em primeiro

lugar, contribuiu para o processo de

expansão da própria atividade

agrícola50 no início dos anos 1980

(BARDHAN, 2010, p.46). Em segundo

lugar, é responsável por grande parte

da degradação ambiental no país na

medida em que os despejos industriais

contaminam tanto a água de superfície

quanto os lençóis freáticos (MINISTRY

OF ENVIRONMENT AND FORESTS,

2009, p. 107).

Além disso, observa-se que a

trajetória histórica do país foi marcada

por uma redução dos investimentos

públicos em infraestrutura rural

(incluindo investimentos em sistema de

irrigação), em prol de uma política de

subsídios para a produção agrícola

(em 2002, o gasto público enquanto

parcela da participação da agricultura

no PIB nacional foi quatro vezes maior

em subsídios do que em investimentos

públicos) (BARDHAN, 2010, p. 46).

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  3  

Figura 7: Mapa Hidrográfico Indiano

Disponível em: <http://www.fao.org/nr/water/aquastat/countries_regions/india/india.pdf>.

Acesso em: 04/04/2012.

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

Figura 8: Mapa Climático da Índia

Disponível em: <http://www.newworldencyclopedia.org/entry/File:India_climatic_zone_map_en.svg>.

Acesso em: 20/04/2012

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  5  

Figura 8: Probabilidade de ocorrência de secas no território indiano

Fonte: ATRRI, S. D.; TYAGI, A. Climate Profile of India. Nova Deli: Environment Monitoring and Research Centre, 2010, p.100. Disponível em:<http://www.imd.gov.in/doc/climate_profile.pdf>. Acesso em: 20/04/2012.

Isso dificultou a adoção de

políticas públicas que mitigassem os

impactos sociais e ambientais das

atividades agrícolas e industriais,

incentivando a expansão da produção

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

em detrimento dos cuidados

socioambientais.

Apesar de os subsídios serem

implementados em nome dos

pequenos agricultores e das camadas

menos abastadas da sociedade (que

passariam a ter acesso a alimentos

mais baratos), observa-se que grande

parte dos produtos subsidiados não é

direcionada ao mercado alimentício.

Ademais, grande parte dos subsídios

refere-se aos grandes agricultores51.

Percebe-se, portanto, que a política de

subsídios não se configurou como uma

política “pro-poor”, conforme pode

indicar o discurso oficial, mas sim

como um incentivo à produção de

commodities em grande escala

(BARDHAN, 2010, p.46). Observa-se

também que a própria alocação de

recursos para a política de subsídios

gera um efeito crowding-out52 sobre os

investimentos públicos em

infraestrutura. Esse fenômeno acaba

por dificultar a implementação de

políticas que possam gerar efeitos de

alívio sobre a pressão hídrica sofrida

pela população, resultante da

dificuldade de acesso à água para

consumo e irrigação, principalmente

por parte dos pequenos agricultores

(BARDHAN, 2010, p.46).

Entretanto, tem se observado

uma crescente preocupação do

governo indiano com a temática, o que

vem resultando, na prática, na

implementação de um número maior

de políticas públicas que visam

incrementar a segurança hídrica. A

adoção de uma “National Water Policy”

em 1987 e sua atualização em 2002,

além de demonstrar a relevância do

tema para as autoridades indianas,

buscou apresentar linhas gerais que

conduzissem o planejamento,

desenvolvimento e administração dos

recursos hídricos nacionais, servindo

de base para as futuras políticas

públicas relacionadas ao tema

(NATIONAL WATER POLICY, 2002, p.

2).

Atualmente, um dos grandes

programas é o segundo “Hydrology

Project” (sob coordenação do

Ministério de Recursos Hídricos e

contando com a participação de

diversas agências de implementação

locais, além de ajuda financeira do

BIRD), iniciado em 2006 e com

previsão de implementação até 2012

nos estados de Andhra Pradesh,

Chhattisgarh, Gujarat, Karnataka,

Kerala, Madhya Pradesh, Maharashtra,

Orissa e Tamil Nadu. O programa

possui como objetivos principais a

melhoria de acesso a dados

hidrológicos, hidro metereológicos e de

qualidade de água por parte das

agências competentes do governo

central, a ampliação das ferramentas

para planejamento e administração dos

recursos hídricos e o desenvolvimento

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  5  

de sistemas de dados e de ferramentas para administração das secas.

Apesar de apontar para o

sucesso do projeto, o ministério não

divulgou os dados obtidos, dificultando

uma avaliação mais precisa53. O

orçamento total do programa é de

aproximadamente US$ 135 milhões.

Outro programa voltado à

questão hídrica é o “Artificial Recharge

to Groundwater Through Dug Wells”

(iniciado em 2008 e implementado até

2011), cujo objetivo principal é

“recarregar os poços artesianos

existentes utilizando a água da chuva

proveniente dos campos agrícolas para

facilitar a melhoria da situação de todo

o lençol freático nas áreas afetadas, o

que, por sua vez, irá provocar uma

ampliação da produtividade agrícola

irrigada, além de ajudar a melhorar a

qualidade da água no solo”54. O

programa tem um custo líquido de

aproximadamente US$ 110.626.64355.

Percebe-se, portanto, que estão

sendo implementadas políticas

públicas nacionais que visam mitigar

os efeitos gerados pela histórica má

administração dos recursos hídricos

indianos. Duas temáticas principais

vêm sendo objetivadas: qualidade da

água e acesso ao recurso. No que

tange ao primeiro objetivo (presente no

Hydrology Project), argumenta-se que

uma ampliação do conhecimento

público acerca da qualidade dos

recursos hídricos direcionados ao

consumo configura um passo essencial

para que se saiba que consequências

sua utilização pode trazer para as

comunidades humanas e para que se

possa direcionar futuras políticas

públicas de despoluição. Em relação

ao acesso à água (objetivo

fundamental do “Artificial Recharge to

Groundwater Through Dug Wells”),

apesar de ser um ponto sensível para

a produção agrícola em grande escala

(que é, em muitas regiões, dependente

do acesso à água subterrânea para

irrigação), percebe-se que tais políticas

públicas possuem, também, o potencial

de aliviar as pressões geradas sobre

comunidades que dependem do

acesso aos lençóis freáticos para

subsistência.

5.4. China

China e Índia respondem

conjuntamente por 47% dos 1,8 bilhões

de pessoas no mundo que obtiveram

acesso a água potável e de qualidade

entre 1990 e 2008 (UNESCO, 2012,

p.196). No entanto, assim como a

Índia, a China sofre com uma

distribuição desigual do recurso hídrico

ao longo do seu território, dificultando

sua alocação eficiente. De fato,

observa-se a concentração de rios em

extremos do território, seguida pelos

recursos hídricos subterrâneos – 70%

dos quais se localizam no sul do país,

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

restando ao norte apenas 30%56 (FAO, 2010). (Figura 9 e 10)

Figura 9: Mapa Hidrográfico da China

Fonte: LEE, S. China’s Water Policy Challenges. Nottingham: The University of Nottingham, 2006.

Figura 10: Recursos Hídricos per capita no Norte Chinês

Fonte: National Bureau of Statistics of China, Elaboração KPMG, Water in China Key themes and developments in the water sector, 2012. Disponível em: <http://chinawaterrisk.org/regulations/water-policy/12th-five-year-plan/>. Acesso em: 12/04/2012.

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  3  

Ademais, a China precisa lidar

com o impacto da magnitude de sua

população e dos seus 1,3 bilhões de

habitantes57 sobre o consumo de água

tanto em função do consumo quanto

das atividades agrícola e industrial.

Com isso, contando com 6% dos

recursos mundiais de água doce, a

China deve gerir o abastecimento do

equivalente a 20% da população

mundial (APCO, 2010).

Os fatos anteriormente

dispostos apontam para os três

maiores desafios do governo na gestão

de seus recursos hídricos: as secas ao

norte, as enchentes ao sul,58 e a

poluição da água, reflexo dos

processos de urbanização e

industrialização acelerados inerentes

ao modelo de desenvolvimento do país

(LEE, 2006). A partir daí, a presença

dos princípios de “desenvolvimento

sustentável” no 12º Plano Quinquenal

(2011 – 2015) pode ser compreendida

como parte do reconhecimento do

caráter socioeconômico dos problemas

ambientais, notadamente da questão

hídrica59.

Alguns dos efeitos mais

imediatos da falta de água ou do

acesso à água de má qualidade à

saúde são representativos do nexo

entre as dimensões social econômica e

ambiental. Diante da escassez, a

população é compelida a fazer uso de

fontes de menor qualidade, aumentado

a exposição aos riscos à saúde

(ZHANG et al., 2010). Ainda, a

exposição a resíduos tóxicos como

efluentes de mineração, principais

fontes de poluição da água da região,

igualmente representam riscos para a

saúde e segurança das populações

locais (UNESCO, 2012, p. 203).

Diante destes desafios o

governo lançou o China National

Environmental Health Action Plan

(CNEHAP), cujos objetivos gerais

consistem em: (1) aperfeiçoar o

suporte administrativo e tecnológico

para atividades tanto ambientais

quanto da saúde; (2) reduzir a

incidência de doenças relacionadas ao

meio-ambiente, controlando suas

causas; e (3) proteger a saúde de seus

cidadãos, em conformidade com as

Metas do Milênio das Nações Unidas60

e com os preceitos estabelecidos pelo

11º Plano Quinquenal do país

(REPÚBLICA POPULAR DA CHINA,

2007, p.5). Paralelamente, questões

que tratem diretamente da questão dos

recursos hídricos também são

contempladas. Assim, o CNEHAP

prevê o “início de pesquisas e

elaboração de regulamentos sobre o

acesso da água potável, o

desenvolvimento e promulgação de

regulamentos a partir da avaliação do

impacto da poluição na saúde” (...)

além da “geração de respostas

emergenciais a eventos urgentes

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

causados pela poluição ambiental”.

(REPÚBLICA POPULAR DA CHINA,

2007, p. 8-9).

As temáticas do monitoramento,

assim como a demográfica, são

também contempladas. Nesse sentido,

destaca-se a necessidade do

estabelecimento de redes de

monitoramento do acesso à água

potável e da saúde. A partir daí, as

tarefas são estipuladas em termos da

segurança hídrica dos segmentos rural

e urbano da população. Para tal, é

previsto o monitoramento de

indicadores das fontes de poluição das

águas, da qualidade de irrigação,

qualidade da água potável, do escopo

das doenças transmitidas pela água,

bem como outros efeitos para a saúde

(REPÚBLICA POPULAR DA CHINA,

2007, p. 10).

Como anteriormente

mencionado, o 12º Plano Quinquenal

igualmente incorpora metas políticas

específicas para a questão hídrica.

Dentre estes, destacam-se (1) redução

da intensidade do uso da água (2)

novas metas de redução dos índices

de poluição (notadamente metais

pesados e óxidos de nitrogênio) (3)

Investimentos em infraestrutura

(garantindo irrigação e canais de

reabastecimento e esgoto) (4) redução

do consumo da água, além de (5)

sistemas de gerenciamento dos

recursos hídricos (com base em taxas

básicas para implementar a gestão dos

recursos) (CHINA WATER RISK, s/d).

Enfim, a partir da identificação

dos desafios à implementação das

políticas públicas chinesas voltadas

para a água, notadamente poluição e

secas, evidenciam-se aspectos

fundamentais da gestão de recursos

hídricos na China. Em primeiro lugar,

destaca-se a dimensão

socioeconômica das questões

ambientais, fundamentadas em

diferenças entre os grupos (rural e

urbano, do norte ou do sul, etc.) que

compõem a realidade do país. Em

segundo lugar, são observadas as

respostas do governo, lidas em termos

de redução da pobreza via aumento do

acesso à água, aumento do nível de

bem-estar da população e, em última

instância, redução de doenças. No

entanto, é necessário compreender

que este é um processo em curso.

Com isso, os resultados das políticas

preconizadas estão condicionados

tanto à sua aplicação quanto ao

cenário em que será inserida nos

próximos anos.

5.5 África do Sul

Segundo relatório do “World Water

Assessment Programme” (WWAP),

organizado pela UNESCO, a África do

Sul é o 29º país mais seco do mundo

(UNESCO, 2006).

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  5  

Figura 11: Mapa Hidrográfico da África do Sul

Disponível em: <http://www.fao.org/nr/water/aquastat/countries_regions/south_africa/south_africa.pdf>. Acesso em: 20/04/2012.

Entretanto, como apontado, a

baixa disponibilidade de água no país

não configura, por si só, uma situação

de ameaça para a segurança hídrica

de sua população (AIBER et al, 2012,

p. 9). De fato, a atual situação sul-

africana é intimamente ligada à forma

da administração de seus recursos

naturais, que fez com que, até este

ano, 55% das áreas úmidas (córregos,

rios, lagos, manguezais, pântanos,

etc.) do território nacional fossem

perdidas por práticas irresponsáveis de

agricultura e silvicultura, além de

urbanização, poluição, construção de

barragens, erosão e queimadas

(UNESCO-WWAP, 2012).

Há de se ressaltar que essas

áreas úmidas desempenham funções

ecológicas extremamente relevantes,

como retenção de água e

regularização do fluxo de água, o que

lhes conferem grande importância não

apenas para a manutenção da

biodiversidade local e o equilíbrio

ecossistêmico, mas também em

relação às comunidades humanas a

elas associadas. Ao influenciarem o

fluxo de água e promoverem a

retenção da mesma em determinados

espaços, essas áreas impactam na

disponibilidade de água para a

população que depende não apenas

destes reservatórios naturais, assim

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

como dos rios e lençóis freáticos a eles

associados.

A importância das áreas úmidas

para a segurança hídrica na África do

Sul é, de certa forma, reconhecida pelo

governo sul-africano, à medida que,

em 2000, foi instaurado o programa

“Working For Wetlands”, cuja finalidade

fundamental é “gerar alívio da pobreza

através de trabalhos temporários para

realização de atividades socialmente

úteis”. Além de reforçar a importância

de tais ambientes para o bem-estar da

população e mapear as áreas afetadas

(114.000), o “Working for Wetlands”

passou a desenvolver programas de

recuperação das mesmas (Figura 12).

Em 2009, o programa reabilitou 95

áreas úmidas e criou mais de 1500

empregos, em programas que

envolveram 250 pequenas empresas

locais. Atualmente o programa vem se

dedicando à recuperação de 40 áreas

úmidas no país, totalizando cerca de

10% das terras perdidas.

Entretanto, a problemática das

áreas úmidas não constitui a única

ameaça à segurança hídrica sul-

africana. A introdução de plantas

exóticas nos ecossistemas do país é

outro fator que também influencia de

maneira significativa o acesso da

população aos recursos hídricos

nacionais. As espécies classificadas

como invasoras têm em comum alta

capacidade adaptativa e de

reprodução, o que faz com que as

mesmas possam não apenas se

adaptar a novos ecossistemas como

também rapidamente “dominá-los”.

A introdução de tais espécies

se dá, majoritariamente, através de

processos naturais (vento, marés, etc.)

ou por ação antrópica voluntária

(paisagismo, alternativas de

alimentação, fins comerciais, etc.). Há

de se destacar, também, que tal

“invasão” é favorecida pelos processos

de degradação ambiental (por

produção agrícola, urbanismo, etc.),

que alteram as condições físicas do

ecossistema (características do solo,

disponibilidades de nutrientes,

microclima, etc.) e, assim, favorece as

espécies com maior capacidade

adaptativa (OLIVEIRA et al, 2011).

No que se refere

especificamente às consequências de

tal introdução para a população sul-

africana, argumenta-se que a relação

diferenciada que as espécies invasoras

podem desenvolver com o ambiente

impacta a disponibilidade de nutrientes

(como a própria água) para as demais

espécies (OLIVEIRA et al, 2011),

ameaçando a biodiversidade da África

do Sul.

Os impactos na biodiversidade,

por sua vez, geram graves

consequências sociais, haja vista a

forte interação de comunidades sul-

africanas com o meio-ambiente que as

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  5  

cercam, tanto em razão da busca de

itens de subsistência, como da

apresentação de uma fonte de renda

alternativa, por conta da

Figura 12: Distribuição do Projeto “Working for Wetland” no território sul-africano

Disponível em : Working For Wetlands Website: <http://wetlands.sanbi.org/>. Acesso em 30/03/2012

visibilidade que os ambientes naturais

do país têm, por parte da atividade

turística internacional (HILL et al.,

2006). Por outro lado, tal interação

também prejudica a segurança hídrica

sul-africana, na medida em que, em

um clima predominantemente árido, o

uso intensivo de água por

determinadas espécies invasoras

configura-se como um obstáculo ao

uso desse recurso para necessidades

humanas.

Nesse contexto, o governo

criou, em 1995, o programa “Working

For Water” que busca promover, em

parceria com comunidades locais e

empresas privadas, a remoção dessas

espécies, por meio de métodos

mecânicos (derrubadas e queimadas

controladas), químicos (usando

herbicidas ambientalmente seguros) e

biológicos (utilização de espécies

específicas de insetos que sejam

predadores naturais das espécies-

alvo). O programa já conseguiu

“limpar” mais de um milhão de

hectares, criando aproximadamente

vinte mil empregos verdes por ano (dos

quais 52% são ocupados por

mulheres). Atualmente o programa

conta com mais de 300 projetos em

todas as nove províncias sul-africanas.

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  4  

6. Conclusão

Os desafios enfrentados por

Brasil, Rússia, Índia, China e África do

Sul no que concerne sua segurança

hídrica são reflexos de um fenômeno

global. O impacto tanto das atividades

agrícolas e industriais como do

processo de urbanização sobre o

acesso à água de qualidade é uma

realidade que deve ser enfrentada de

maneira articulada, dado que os

desdobramentos desta problemática

estendem-se pelas áreas de saúde,

segurança alimentar e energia,

aprofundando dinâmicas que

determinam o acirramento da pobreza.

Assim, além da coordenação

multilateral, organismos e fóruns

internacionais já reconheceram a

importância do lançamento de políticas

públicas nacionais que articulem as

dimensões ambientais e sociais no

enfrentamento da questão hídrica, na

medida em que as mesmas sejam

capazes de adereçar especificidades

locais.

Em face destas investigações,

constatam-se semelhanças entre as

situações enfrentadas pelos BRICS no

âmbito da segurança hídrica: a

desigualdade de distribuição do

recurso pelos vastos territórios

nacionais; o impacto das crescentes

atividades econômicas e produtivas

sobre o acesso e qualidade da água; e

o seu relacionamento com o

aprofundamento dos processos de

disseminação de doenças, má nutrição

e redução da renda de famílias

empobrecidas que dependem

diretamente da exploração do recurso

para fins de subsistência.

Com o objetivo de adereçar de

maneira mais eficaz estes desafios,

cada um dos governos criou agências

especializadas e programas que

articulam as mesmas com ministérios e

organismos internacionais, como o

BIRD e PNUD. Entretanto, até o

presente momento, não se constata

uma articulação ou um maior diálogo

entre os governos dos BRICS no que

diz respeito à melhoria de suas

respectivas situações hídricas61. Uma

vez que há similaridades entre as

origens da poluição e escassez do

recurso, a experiência acumulada

adquirida em cada um dos países pode

abrir novos caminhos para os demais,

possibilitando o aprofundamento de

uma cooperação bilateral dentro do

grupo. Sistemas de monitoramento,

green jobs relacionados a processo de

despoluição de rios, poços e lençóis

freáticos, políticas de zoneamento

ambiental e parcerias público-privadas

apresentam-se como políticas públicas

e procedimentos compartilháveis entre

os países BRICS a partir de uma

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

  5  

articulação ligada à aproximação entre

as diversas agências especializadas.

Nesse sentido, uma vez

apresentada a centralidade da água

tanto no contexto do desenvolvimento

sustentável como da redução de

pobreza, é necessário que esforços

sejam empreendidos tanto na

articulação de órgãos internos como

transnacionais. A interdependência

entre as três dimensões da

sustentabilidade – econômica,

ambiental e social – torna ainda mais

complexa a tarefa de erradicação da

pobreza. Nesse momento, é importante

ressaltar que uma vez evidenciada a

relação íntima entre degradação

ambiental e pobreza, o aumento do

PIB e da renda per capita deixam de

ser suficientes para uma análise sobre

as condições de vida de uma

população. Dado que os BRICS

apresentam-se como os países com as

maiores taxas de crescimento do

mundo, o mapeamento de suas

problemáticas socioambientais e o

acompanhamento das medidas

públicas adotadas para adereçar a

questão hídrica se faz fundamental

para se analisar as possibilidades,

soluções e desafios acerca da adoção

de um modelo de sustentabilidade

global socialmente consciente.

É importante ressaltar que

diante da proximidade da realização da

Conferência da Rio+20, prevista para

junho de 2012, as discussões acerca

do desenvolvimento sustentável e

redução de pobreza acabam por

ganhar maior visibilidade nos debates

políticos e acadêmicos. Deste modo,

além de se apresentar como um bom

momento para aproximações e

articulações dos programas e agências

especializadas, o encontro também

oferece a oportunidade de análise dos

principais posicionamentos dos países

acerca da questão, possibilitando uma

maior compreensão em relação ao

futuro de suas políticas públicas. Ao

mesmo tempo, os principais programas

nacionais lançados por cada um destes

países nos ajuda a perceber as

possibilidades de engajamento

multilateral dos mesmos, na medida

em que estes projetos já anunciam as

prioridades de cada um no que diz

respeito ao modelo de crescimento

adotado e às considerações de seus

desdobramentos sociais.

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                                                                                                               1 Sendo os outros dois relacionados à qualidade do ar e do solo. 2 O conceito foi firmado por meio de dois documentos: a Declaração do Rio e a Agenda 21. Para maiores informações ver: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576ehttp://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=575&idMenu=9065 3 Até 2015, os 193 Estados membros das Nações Unidas assumiram o compromisso de: erradicar a extrema pobreza e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre sexos; reduzir a mortalidade na infância; melhorar a saúde materna; combater a AIDS e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e estabelecer uma parceria para o desenvolvimento. Para maiores informações, acessar: http://www.pnud.org.br/odm/ 4 Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas, um “green job” corresponde a um trabalho cuja atividade central consiste substancialmente em preservar e restaurar a qualidade do meio ambiente. Disponível em <http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/@ed_emp/@emp_ent/documents/publication/wcms_158727.pdf>. Acesso em 30 de março de 2012. 5 Para maiores informações acerca da temática, ver: http://www.worldwater.org/conflict/index.html; http://cawater-info.net/bk/water_law/pdf/wolf_e.pdf; e http://www.ibiologia.unam.mx/pdf/directorio/z/introduccion/world_watershed_re.pdf 6 Disponível em http://www.uncsd2012.org/rio20/7issues.html, acesso em 30 de março de 2012. 7 A outra diretriz foca-se na questão da “estrutura institucional para o desenvolvimento

                                                                                                                                                     sustentável”, não analisada no presente trabalho. 8 Para maiores informações, acessar: http://www.uncsd2012.org/rio20/7issues.html 9 Disponível em http://www.uncsd2012.org/rio20/objectiveandthemes.html, acesso em 30 de março de 2012. 10 Disponível em http://www.worldwaterforum6.org/no_cache/en/news/single/article/from-marseille-to-rio-20-bringing-water-to-the-earth-summit/, acesso 30 de março de 2012. 11 Disponível em http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/agua/agua_acoes_resultados/semana_mundial_da_agua/. Acesso em 01 de abril de 2012. 12 Segundo o IBGE são seis: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas e Pantanal. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169>. Acesso em: 18/04/2012. 13Originalmente, o bioma ocupava 12% do território nacional. Atualmente, o bioma encontra-se reduzido a 7%, segundo a WWF. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biomas/bioma_mata_atl/bioma_mata_atl_ameacas/>. Acesso em: 17/04/2012. 14 Idem. 15 Notadamente a agropecuária e a cultura de arroz e soja. 16 Disponível em: <http://www.scp.rs.gov.br/atlas/atlas.asp?menu=255>. Acesso em: 17/04/2012. 17 Análises mostram que a água de córregos em áreas de cultivo de Eucalipto sofreu mudanças químicas, tornando-se ácida em decorrência, dentre outros fatores, da escassez de cálcio, amplamente consumido pela espécie (SANTOS & TREVISAN, 2009). 18 Notadamente em decorrência da redução de água e demais nutrientes que geram alterações no ambiente físico do ecossistema, através, por exemplo, da alteração do PH do solo, que, em última análise, pode se configurar como fator limitante para a sobrevivência de outras espécies (SANTOS & TREVISAN, 2009). 19 Correspondente a um domínio de floresta tropical úmida que se estende por uma área de 6,7 milhões de quilômetros quadrados, sendo 60,1% encontrado em território brasileiro. O bioma se estende, também, por outros 7 países: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Venezuela. Disponível em <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/amazonia1/bioma_amazonia>. Acesso em 18/04/2012. 20 A Bacia Amazônica se estende por 7.3 milhões de km² e contém mais de 1.100 afluentes. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/redu

BRICS POLICY CENTER – POLICY BRIEF Desenvolvimento sustentável e redução da pobreza nos BRICS: a questão da água

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                                                                                                                                                     cao_de_impactos2/amazonia/>. Acesso em 18/04/2012. 21 O comprometimento de matas ciliares é a degradação ambiental que gera mais efeitos para o comprometimento do fluxo de água nos rios, dada a facilitação de processos de erosão e assoreamento de leitos e mananciais (DELITTI, 1989). 22 Serve como exemplo da influência da Bacia sobre outros países o rio Madeira, cuja bacia drena partes da Bolívia e do Peru, além do Brasil (VAL et al, 2010). 23 Em busca da extração de minérios de ferro, bauxita, manganês, estanho e ouro, cobre níquel, zinco, cromo e titânio, entre outros (Corrêa & Carmo, 2010). 24No que tange à atividade mineradora, destaca-se a atuação da empresa Vale do Rio Doce, a maior mineradora nacional. Atualmente, a Vale conta com grandes empreendimentos mineradores nos domínios da Amazônia, dentre os quais se destacam o projeto Carajás Serra Sul, o projeto Serra Norte e o projeto Salobo, todos localizados no estado do Pará. Website da ONG Xingu Vivo. Disponível em: <http://www.xinguvivo.org.br/2012/01/08/impactos-de-operacoes-da-vale-no-brasil-e-no-mundo/>. Acesso em: 18/04/2012 25 Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/amazonia1/arpa_news/?2868>. Acesso em: 18/04/2012. 26 Website da ONG Xingu Vivo. Disponível em: <http://www.xinguvivo.org.br/2012/01/08/impactos-de-operacoes-da-vale-no-brasil-e-no-mundo/>. Acesso em: 18/04/2012 27 Disponível em: <http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/pantanal/>. Acesso em: 18/04/2012. 28 As Áreas Úmidas desempenham funções ecológicas tais como retenção e regularização do fluxo de água, o que lhes confere grande importância para a manutenção da biodiversidade local e o equilíbrio ecossistêmico. 29 Disponível em: <http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2011/04/24/interna_brasil,249269/devastacao-do-cerrado-impacta-qualidade-de-vida-de-88-6-milhoes-de-pessoas.shtml>. Acesso em 18/04/2012. 30 Segundo o IBGE a população total brasileira é de 190.732.694 (2010). Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/primeiros_dados_divulgados/index.php>. Acesso em: 10/04/2012. 31 O Cerrado contém 5% da flora e fauna mundiais e um terço da biodiversidade brasileira (WWF & Fundação Pró Cerrado, 1995), sendo considerado o segundo maior bioma do território brasileiro e a savana com maior biodiversidade do mundo (Barbieri et al, 2010).

                                                                                                                                                     32 Veredas são subsistemas do Cerrado. Caracterizadas por solos hidromórficos, brejos e florestas estacionais arbóreo-arbustivas, são nascedouros das águas na região de cerrado e, portanto, responsáveis pelo abastecimento dos cursos d’água das bacias hidrográficas de que o Cerrado participa. A preservação das mesmas está, portanto, diretamente ligada ao equilíbrio dos mananciais de água (MENDONÇA & MESQUITA, 2007). 33 O projeto tem apoio financeiro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do próprio MMA, além de contar com a cooperação técnica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 34 Sítio oficial do IBAMA. Disponível em: <http://siscom.ibama.gov.br/monitorabiomas/index.htm>. Acesso em: 02/04/2012. 35 Áreas protegidas legalmente, em duas classificações: “Proteção Integral” e “Uso Sustentável” 36 Geridas, na esfera federal, pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio) e fiscalizadas pelo próprio ICMBio, em parceria com o IBAMA. 37 Instituído pela lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm>. Acesso em: 03/04/2012. 38 Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado>. Acesso em: 03/04/2012. 39 Deste total, 2,2% estaria protegida sob forma de Proteção Integral e 1,9% sob a forma de Uso Sustentável. 40 Projeto de Lei da Câmara, nº 30 de 2011. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=100475>. Acesso em: 10/04/2012. 41 Os defensores do Código argumentam que o atual código limitaria a capacidade de expansão da atividade agropecuária, impedindo seu crescimento. Entretanto, o código acabaria por afetar de forma mais drástica a agricultura familiar, dada sua menor porção de terra e menores recursos (SOS Florestas. 2011). 42 No dia 06/12/2011. Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2011/12/06/novo-codigo-florestal-e-aprovado-e-volta-a-camara-dos-deputados>. Acesso em: 10/04/2012 43 As APPs são consideradas áreas sensíveis e podem ser: margens de rios, cursos d’água, lagos, lagoas e reservatórios, topos de morros e encostas com declividade elevada, cobertas ou não por vegetação nativa. Tais áreas têm função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, e proteção do solo, além d e assegurar o

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                                                                                                                                                     bem estar da população humana (SOS Florestas, 2011). 44 Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/areas-de-alerta-de-desmatamento-aumentaram-entre-agosto-marco-4504250>. Acesso em: 10/04/2012. 45 Disponível em: http://nprvo.ru/en/water/sector/ 46 Decreto do Governo da Federação Russa de 22 de dezembro de 2010, № 1092. 47 Criada em 2006. Banco de Desenvolvimento Russo (Vnesheconombank) detém 20% de suas ações, oferecendo fundos de investimento à empresa. 48 Propriedade do Banco Alfa (90%), maior banco comercial da Rússia, em consórcio com Deutsche Bank (10%). 49 Propriedade do conglomerado “Renova”, um dos maiores conglomerados industriais de financiamento privado. 50 Segundo Bardhan (2010), os termos de troca entre a agricultura e o setor manufatureiro intensificaram-se entre o início da década de 1980 e a metade da década de 2000. Tal expansão teria estimulado o crescimento dos investimentos privados em agricultura, principalmente em produtos de alta demanda industrial. A ausência de investimentos públicos em sistemas de irrigação e infraestrutura em geral que acompanhassem esse crescimento é apontada, pelo autor, como causa do aprofundamento dos problemas de segurança hídrica no país. 51 É o caso, por exemplo, dos subsídios para fertilizantes, cuja metade dos investimentos feitos são direcionados às grandes companhias que controlam a produção de tal mercadoria (BARDHAN, 2010, p.46). 52 Isso porque, segundo Bardhan (2010), dado que a política de gastos públicos direcionados ao setor rural na Índia corresponderia, em grande parte, a grandes volumes de gastos estatais voltados para subsídios, notadamente direcionados à produção em larga-escala, não haveria nem interesse e/ou recursos para os grandes investimentos em infraestrutura rural necessários. 53 Disponível: < http://wrmin.nic.in/index3.asp?sslid=851&subsublinkid=844&langid=1>. Acesso em: 28/03/2012. 54 Disponível em: <http://www.groundwatertnpwd.org.in/artificial_recharge_to_groundwat.htm>. Acesso em: 28/03/2012 55 Disponível em: <http://www.groundwatertnpwd.org.in/cost_of_the_scheme.htm>. Acesso em: 28/03/2012. 56 Para mais informações, confira o Anexo 1: Principais Rios da República Popular da China 57 Fonte: Banco Mundial, 2010. 58 A concentração geográfica das águas, somada aos fenômenos climáticos influencia diretamente nos recursos per capita no norte da China em relação ao país como um todo, como exposto no Anexo 2.

                                                                                                                                                     59 Como evidenciado pelo discurso do Ministro do Meio Ambiente: ”establish a resource-saving and environment-friendly national economic system, try to achieve the win-win of economic benefits, social benefits, and environmental benefits, and promote the long-term fast and yet steady economic development and social harmony and progress” (MINISTRY OF ENVIRRONMENTAL PROTECTION) 60 Assinadas em setembro de 2010, na Conferência das Nações Unidas realizada entre 20 e 22 de setembro do mesmo ano. 61 Apesar de haver uma clara tentativa de coordenação entre os BRICS na área de saúde, a partir do Encontro entre os Ministros de Saúde dos BRICS realizado em julho de 2011, a temática da água não é citada, sendo preterida pelo intercâmbio de medicamentos e vacinas. Para maiores informações, ver: http://www.brics.utoronto.ca/docs/110711-health.html