DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
Psicopatologia Geral I
Professora: Cláudia Márcia Miranda de Paiva
ELABORAÇÃO DE HIPÓTESE DIAGNÓSTICA
Joyce Cristina Ribeiro
Lidiane Campos Villanacci
São João del-Rei
Junho/2015
Sumário
Introdução. ........................................................................................................................ 3
Metodologia ...................................................................................................................... 3
Anamnese ......................................................................................................................... 3
Hipótese diagnostica. ........................................................................................................ 6
Considerações finais. ........................................................................................................ 8
Referências. ...................................................................................................................... 9
Introdução.
Atualmente pela importância sociocultural da educação o bom desempenho
escolar vem sendo considerado como sinônimo de sucesso social (Siqueira & Giannetti,
2010), por essa razão o diagnostico precoce do Transtorno de Aprendizagem (TA) é
muito importante, já que estatísticas demonstram números preocupantes de crianças
com dificuldades de aprendizagem. Detectar precocemente transtornos de aprendizagem
proporciona ao sujeito uma melhor perspectiva no seu histórico escolar e em outros
aspectos de sua vida. Torna-se assim fundamental que os professores dos anos iniciais
da alfabetização tenham um olhar criterioso acerca do cumprimento das tarefas
propostas em sala de aula e do desenvolvimento cognitivo, social e motor de seus
alunos.
Metodologia.
As observações aconteceram na Escola Municipal Pingo de Gente, localizada no
bairro Fábricas em São João Del Rei. Os alunos são oriundos de famílias de classes
populares e têm, em sua maioria, cinco anos de idade. A sala de aula observada foi
sugerida pela diretora da escola por haver suspeita de casos de transtorno de
aprendizagem. A turma observada está no segundo ano de alfabetização e é composta
por dezenove alunos, sendo seis meninos e treze meninas.
A sala é constituída de uma mesa ampla no centro, onde todos sentam em volta,
possibilitando maior interação entre alunos e professora. As atividades foram
observadas, durante uma hora, três vezes em sala de aula na realização de atividades
diferentes. Foram usados para a observação um caderno e uma caneta para fim de
anotações relevantes para contribuição do conteúdo do trabalho.
Anamnese.
As observações aconteceram em uma sala do segundo ano de alfabetização,
onde dezenove alunos foram observados por uma hora durante três dias seguidos. Nos
momentos de observação foram realizadas tarefas com massa para modelar, escrita,
desenhos e brincadeiras. Aconteceram durante as observações diálogos com a
professora titular e substituta da classe. Segundo a professora havia dois casos suspeitos
de transtornos de aprendizagem na sala.
No primeiro caso, o sujeito observado é um menino de cinco anos, que apresenta
dificuldades em manter-se focado na tarefa, não aprendeu a escrever o próprio nome e
demonstra muitas dificuldades em trabalhos práticos. Neste caso, a professora
conversou com os pais do sujeito observado e estes não deram a devida importância ao
relato das dificuldades apresentadas em sala de aula feita pela professora. O sujeito
então não passou por especialistas para identificar se há algum transtorno de
aprendizagem.
Durante o primeiro dia de observações a professora realizou junto à turma uma
atividade em produzir massinha para modelar. Durante o processo de produção da
massa, os alunos estavam focados na tarefa e olhavam atentamente os passos da
confecção da massa pela professora. O sujeito observado ora focava na tarefa ora se
dispersava com outros elementos presentes na sala. Após a massa de modelar pronta, a
professora distribuiu pequenas porções destas para as crianças. O sujeito então pegou
sua porção e apenas a segurou na mão, não produzindo nada com a massa, o que era o
objetivo da tarefa. A dispersão durante as tarefas propostas foi observada em todo
período em que ocorreram as observações com a turma.
No segundo dia de observação, foi possível observar a classe em uma atividade
de montar peças. O aluno que supostamente teria algum atraso no desenvolvimento em
relação ao restante da turma monta algumas coisas embora sempre com a ajuda de um
colega. Ele freqüentemente para de montar os brinquedos e se mostra um pouco sem
paciência em se manter em sala de aula. Nas observações do segundo dia, pode-se notar
que embora a criança não se envolva tanto quanto as outras na atividade proposta, o
sujeito autonomamente interage com os colegas de outras formas e estes sempre o ajuda
na montagem dos brinquedos. Na medida do possível a professora tenta estimular a
todos nas atividades, com cantigas e conversando com as crianças.
No terceiro dia, a observação começou com as crianças fazendo atividades no
pátio da escola. Inicialmente as crianças que apresentaram dificuldades na
aprendizagem pareciam responder muito as atividades propostas individualmente. Nas
brincadeiras em dupla que foram propostas pela professora, a criança demonstrou mais
dificuldade na coordenação motora e entendimento da tarefa. As demais crianças da
sala, em geral, se saíram muito bem nas atividades propostas.
Após encerrar os jogos com os alunos, a professora pediu que todos sentassem
em fila. O sujeito com possibilidade de transtornos de aprendizagem preferiu sentar
perto da observadora. A professora então solicitou aos alunos, que em trios, fossem
buscar os materiais que estavam fora da sala. O sujeito que estava sentado próximo a
observadora não respondeu imediatamente ao comando da professora, apenas na
terceira vez que a professora pediu e a observadora explicou a criança que deveria
buscar seu material que o aluno realizou a tarefa.
Após as crianças recolherem seus materiais, a professora levou todos à sala de
aula. Já em sala, a professora distribui um desenho para que estes colorissem e solicitou
aos alunos que escrevessem seu nome completo atrás do desenho. Alguns alunos da sala
já sabiam escrever os seus nomes sozinhos e outros precisavam de fichas para copiar os
seus nomes. No entanto, o sujeito observado não sabia escrever o seu nome. Os colegas
do sujeito disseram que “ele não sabe escrever” e que “fazia um monte de rabiscos” em
tom de menosprezo. Após tentar escrever o nome, o sujeito levantou-se e dirigiu-se à
professora afirmando que não sabia escrever. Neste dia da observação, a professora
titular da turma havia faltado e uma professora substituta estava em seu lugar. Motivo
que poderia ter proporcionado uma maior dispersão das crianças em relação aos outros
dias observados.
O outro caso de suspeita de transtorno de aprendizagem é de uma menina com a
idade de cinco anos. A possibilidade de haver algum transtorno nesse sujeito foi
levantada pela professora após esta observar a inquietação da menina, a falta de
interesse nas tarefas solicitadas e a dificuldade em aprender a escrever o próprio nome.
Neste caso a professora também conversou com os pais. E estes levaram a garota em
uma equipe de especialistas para fazer o diagnostico do possível transtorno. A
professora relatou que provavelmente a garota tem TDAH e que faltavam apenas os
exames neurológicos para confirmação, mas que esta já havia iniciado um tratamento
com remédios havia cinco dias.
No primeiro dia de observação, durante a oficina de produção de massa de
modelar, o sujeito ora focava sua atenção nas orientações ora focava na presença das
observadoras. Com freqüência o sujeito levantava da sua cadeira e ia até o outro lado da
sala falar com outros colegas. Após a massinha pronta o sujeito apenas enrolou e
amassou a massinha dizendo que era uma pizza.
No segundo dia de observação, a professora propôs como primeira atividade que
os alunos brincassem livremente com lego e pecinhas com números. A criança
observada no primeiro dia, com possível diagnóstico, inicialmente não mostra interesse
em montar os brinquedos, apenas observa os colegas e conversa com alguns. Em muitos
momentos a criança fica muito inquieta se sobressaindo ao restante dos alunos, sai
muito da mesa para mexer com os outros colegas e não consegue se concentrar na tarefa
por muito tempo. Quando se interessa pelo brinquedo, não consegue montá-lo, sempre o
deixando inacabado.
No terceiro dia observação, o sujeito apresentou algumas dificuldades em
brincadeiras em duplas e em conjunto. Em sala de aula, o sujeito apresentou
dificuldades em concentrar-se nas orientações da professora e para escrever o seu nome.
O sujeito precisou de uma ficha, onde seu nome estava escrito completo, para copiar na
folha de desenho que a professora havia distribuído. O sujeito escreveu seu nome com
alguma dificuldade na escrita das letras, errou as ultimas letras do segundo nome e não
escreveu o ultimo nome.
Hipótese diagnostica.
Segundo o que se estudou na disciplina Psicopatologia Geral I, tendo como
referência o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, na sua 5ª edição
(DSM-V), e a partir dos dados obtidos na anamnese, supõe-seque as crianças podem
apresentar o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
No DSM temos esse transtorno definido como
A característica essencial do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é
um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que
interfere no funcionamento ou no desenvolvimento. A desatenção manifesta-
se comportamentalmente no TDAH como divagação em tarefas, falta de
persistência, dificuldade de manter o foco e desorganização - e não constitui
conseqüência de desafio ou falta de compreensão. (p. 61).
Constatamos nas observações que as crianças tinham comportamentos
semelhantes aos relacionados ao transtorno como, falta de atenção, fácil dispersão e
apenas uma delas tinha inquietação excessiva quando comparados aos demais da mesma
turma. Observamos então uma diferença nos sintomas, apenas uma das crianças parece
se apresentar todas as características de TDAH, sendo esta já diagnosticada por
especialistas.
A outra criança não apresenta hiperatividade, mas apresenta os outros sintomas
como dificuldade de manter o foco e falta de persistência por nunca terminar as tarefas.
Este mesmo aluno que mostra algum atraso no desenvolvimento em relação ao restante
da turma, já monta algumas coisas embora sempre com a ajuda de um colega. Ele
frequentemente para de montar os brinquedos e se mostra um pouco sem paciência em
se manter em sala de aula.
No entanto o DSM considera que para se enquadrar no diagnostico de TDAH
devem estar presentes seis ou mais sintomas com duração mínima de seis meses, e com
inicio antes dos sete anos de idade, em contextos diferentes que enfatizem o prejuízo
social, acadêmico e ocupacional da criança (Siqueira & Giannetti, 2010). Ao dizer que
um dos observados não possui apenas uma das características, ainda assim podemos
enquadrá-lo no transtorno.
O TA é relacionado a déficits na aquisição e desenvolvimento de funções
cerebrais no ato de apreensão de conteúdos. Estes transtornos envolvem a dislexia
(dificuldade na leitura), discalculia (dificuldade com números) e transtorno da escrita
(Siqueira & Giannetti, 2010). No caso do menino, notamos suas dificuldades na
apreensão dos conteúdos já dados pela professora, como de escrever o nome. O sujeito
se mostra com desenvolvimento motor visivelmente abaixo do da maioria da turma por
não conseguir escrever nem o primeiro nome sozinho, sendo que a maioria já o
faz.Ainda segundo Siqueira & Giannetti (2010), pesquisas sustentam que existe no
TDAH déficits no controle motor, principalmente ao executar seqüências motoras que
geram impacto em atividades da vida diária (AVD’s), portanto seu desempenho motor é
realmente abaixo de sua idade e inteligência.
Esses transtornos podem afetar de maneira extremamente significativa na vida
de uma pessoa, causando prejuízos pessoais irreparáveis. Há um sofrimento causado
também nos pais e cuidadores ao sentirem-se impotentes diante das dificuldades dos
filhos e sem orientação para saber as medidas mais adequadas a serem tomadas. Pode
haver também a negação como no caso de uma das crianças que foi observada onde a
família não entende e não aceita que a criança possa sofrer de um tipo de TA. Os
transtornos de aprendizagem quando não são diagnosticados corretamente podem
desencadear outros distúrbios (comorbidades) que podem levar o individuo ao uso de
drogas, uso abusivo de bebidas, evasão escolar, entre outros (Gomes, 2012).
O insucesso social e escolar, reflexo do transtorno de aprendizagem somado à
discriminação e o bullying, que pode ser sofrido até mesmo dentro da própria família é
uma das consequências que a criança pode vir a sofrer, por isso é importante o
diagnostico ainda precoce, e o olhar atento de professores e cuidadores para que se
possa evitar esse tipo de situação iminente.
O outro sujeito observado (menina) já com diagnostico de TDAH em processo
de confirmação por especialistas, mostra claramente os sintomas do transtorno de
acordo com a descrição do DSM-V, ao não focar a atenção nas atividades e se dispersar
com facilidade, não atender a pedidos da professora, nunca terminar as atividades
quando tenta fazer e manter-se excessivamente inquieta na maioria das vezes.
Segundo Siqueira e Giannetti (2010), no TDAH existe a classificação em três
subtipos que são a predominante desatento, hiperativo e combinado, e o sintoma de
desatenção está presente em todos eles. A maioria de crianças e adolescentes apresenta
o tipo combinado e as crianças menores a hiperatividade que podem diminuir na
adolescência, porém persistindo a desatenção e impulsividade.
Considerações finais.
Compreendido que os transtornos de aprendizagem devem ser diagnosticados
nos primeiros anos de alfabetização da criança para que haja um menor prejuízo no seu
processo de escolaridade, o presente trabalho procurou demonstrar como, através de
observações sistemáticas, os primeiros sinais de transtornos devem ser observados. Para
tanto, faz-se necessário que os profissionais da educação estejam atentos a estes sinais e
possam reconhecê-los, bem como orientar a família a tomar medidas para diagnosticar e
tratar possíveis transtornos.
É de suma importância que seja feito um tratamento interprofissional a partir da
demanda que cada caso irá apresentar, não apenas com utilização de medicamento. O
medicamento deve ser utilizado caso haja real necessidade, no mais, o trabalho de
profissionais como psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo e o professor em sala de
aula, devem agir em prol do bem estar e desenvolvimento dessa criança, para que ela
sofra o menos possível no seu desenvolvimento pessoal e social, e cognitivo.
Referências.
Gomes, M. L. M. (2012). Quando a instituição escolar contribui para a violência: um
olhar sobre os portadores de transtornos de aprendizagem. Recuperado em 18 de
junho de 2015, de
http://essentiaeditora.iff.edu.br/index.php/vertices/article/view/1809-
2667.20120022/1376.
Siqueira, C. M.& Giannetti, J. G. (2010). Mau desempenho escolar: uma visão atual.
Recuperado em 18 de junho de 2015, de
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0104423011702986.
DSM-V-TRTM
- Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. trad.
Maria Inês Corrêa Nascimento... et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli...
[et al.]. - . e . Porto Alegre: Artmed, 2014.
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