2º Semestre
Referencial teórico que permite ordenar e sistematizar os conhecimentos obtidos
através de vários métodos de investigação, assim como colocar novas hipóteses sobre
a natureza dos factores causais que conduzem à perturbação. Isto tem uma enorme
importância para o tratamento e para a prevenção (evitar que pessoas saudáveis
desenvolvam perturbações mentais, pela intervenção precoce nos factores de risco,
diferentes dos factores causais, embora por vezes coincidentes).
A grande variabilidade de factores existentes implica que não se possa estudá-los
todos da mesma forma. Como tal existem vários métodos e várias teorias, sendo que
estas últimas assentam em três grandes grupos:
Factores Biológicos
Factores Psicológicos
Factores Sócio- familiares
Teorias Psicopatológicas
Ordenar o que é disperso.
Formular questões
Inevitáveis
Encontrar categorias causais
Indispensáveis
Dados sobre o indivíduo: comportamento,
experiência psicológica e estilo de adaptação,
comunicação e interacção, família, grupo social,
cultura, factores biológicos...
Cérebro Inconsciente
Social
Erros a evitar:
Absolutização – Acreditar que uma teoria explica tudo
Reducionismo – Tentar explicar o comportamento patológico, que é
complexo, se uma forma simplista, exclusivamente através de um elemento
elementar
Reificação (concretização) – Pensar que as teorias são a própria realidade,
quando elas são apenas construções abstractas que se fazem sobre uma
realidade que se pretende interpretar. Daqui se depreende que é desejável
que elas estejam em permanente desenvolvimento.
Em relação a estas teorias é necessário saber:
Qual a tese principal
Quais as teorias parciais
Qual o modelo a que essas teorias dão origem
Qual a sua aplicabilidade
1. Tese Central
Os fenómenos psicopatológicos são consequência directa de alterações somáticas da
localização cerebral. Estas alterações podem ser
Estruturais (ex. tumor)
Funcionais (ex. Febre, variações neuro-químicas...)
De origem Intracraniana (ex. tumor)
De origem Extracraniana (ex. Febre, desidratação)
No entanto, não se demonstrou ainda uma relação linear entre a gravidade dos
factores orgânicos e a gravidade da perturbação.
2. Teorias Parciais
a) Genética
Bases hereditárias
Significado grande
Em relação à maior parte das perturbações vê-se a influência dos genes
Condição necessária, mas não suficiente
Hereditariamente poligénica
A sua presença é um factor de risco
Funciona como indutor de alterações neurofisiológicas ou neuroquímicas
b) Neurofisiológica
Teoria da Desorganização neuronal de Floor-Henry
Associa alterações do hemisfério dominante (processos cognitivos)
com psicoses esquizofrénicas (paranóides: perturbação de
conteúdo do pensamento e percepção - delírio) e alterações do
hemisfério não-dominante (processos afectivos) com psicoses
afectivas (bipolares).
Teorias Organicistas (Biológicas)
c) Neuroquímica
Teoria da Alteração dos Neurotransmissores – Van Praag
Associa alterações neuroquímicas com as perturbações, por
exemplo: depressão resulta de alterações de seretonina e
noradrenalina em determinadas áreas do cérebro; variações de
dopamina estão ligadas a Psicoses Alucinatórias; a doença de
Alzeimer associada a oscilações no sistema modular da acetilcolina.
3. Modelo
Biofísico ou Bio-médico
A doença mental tem uma etiologia ou causa
A causa é orgânica
A causa orgânica produz sintomas
Os sintomas formam o quadro clínico
4. Aplicabilidade
O modelo é eficaz (tem grande aplicabilidade) na explicação do aparecimento
de perturbações mentais induzidas efectivamente por causas orgânicas
A aplicabilidade é complementar no caso das psicoses afectivas (bipolar) e
esquizofrénicas (desorganizada e catatónica, não paranóide).
Este modelo não tem aplicabilidade para explicar a psicopatologia neurótica,
as perturbações da personalidade e as perturbações de ajustamento
1. Tese central
Os fenómenos psicopatológicos são determinados por factores familiares e sociais
Conclui-se que os factores ligados ao equilíbrio social podiam estar relacionados com
as causas (sociogénese) das perturbações mentais, porque, quando se agia sobre
factores do contexto (suporte social, integração familiar) em casos de doença mental
prolongada, os sujeitos apresentavam melhoras.
2. Teorias Parciais
a) Patologia da Comunicação
Perturbação do Padrão de Comunicação Intrafamiliar.
Verificou-se que os processos de comunicação são significativamente
diferentes nas famílias com pessoas esquizofrénicas em relação àquelas que
não têm. Enquanto nas famílias normais, o padrão de comunicação pais-
filhos tem diferentes estilos, de acordo com os contextos, a maioria (90%)
das comunicações nas famílias com alguém esquizofrénico assenta em
apenas uma modalidade de comunicação. A modalidade privilegiada é muito
patológica: paradoxal ou em duplo vínculo (2 significados opostos), tal é
muito perturbador para o receptor, já que este não entende o significado das
comunicações vindas de pessoas que avalia como importantes. A repetição
destes padrões conduz o receptor a uma posição insustentável de impasse.
De forma a que, para conseguir ficar em casa, tem três saídas possíveis:
uma, é fechar os canais de comunicação (introversão/ autismo
esquizofrénico), uma segunda, que é escolher ao acaso, o que torna tudo
igual a tudo (perda do pensamento lógico- formal – esquizofrenia tipo
desorganizada) e uma última, que passa pela construção de uma nova
realidade, que leva ao desenvolvimento das ideias delirantes da
esquizofrenia paranóide (o delírio não é défice, mas uma tentativa última de
adaptação).
Teorias Sociais
b) Sociogenia
Teoria do Stress Social – O contexto social pode comportar pode comportar
situações em que certos indivíduos estão mais vulneráveis. Estes sujeitos
encontram-se, então, em fragilidade social, já que a sua integração social
está routa, por exemplo, desemprego prolongado, pobreza...
3. Modelos
a) Modelo Familiar
A família é que está perturbada
A perturbação é ao nível da comunicação
O comportamento patológico é a reacção do indivíduo contra a má
comunicação
Aplicabilidade
Não de definiu se o factor é causa ou consequência, já que a presença de um
indivíduo perturbado modifica o sistema comunicacional.
b) Modelo Social
A perturbação resulta do impacto do stress social em sujeitos com
fragilidade social
Aplicabilidade
Razoavelmente eficaz em relação a perturbações (depressão, ajustamento,
consumos...) de indivíduos em fragilidade social
Teoria Comportamental
1. Tese central
Os fenómenos resultam de patologia da Aprendizagem
2. Teorias Parciais
a) Lacunas no comportamento
Debilidade – ausência de aprendizagem
Comportamento Assertivo (verbal) – É aprendido na relação com os
outros, ao nível da comunicação. O indivíduo não é capaz de comunicar
claramente o que quer e o quer não quer, por inibição depressiva ou
ansiosa (tipo social).
Processo de Coping ou confronto com o stress – os comportamentos de
gestão do stress (diminuir, controlar) são aprendidos. Se houver aqui um
défice de aprendizagem, o indivíduo em vez de se adaptar no confronto
com o stress, perturba-se (ansiedade, depressão).
b) Comportamentos que são problemáticos porque existem
Trata-se de comportamentos inadequados, porque mal aprendidos.
Medos fóbicos – factores ligados à aprendizagem conduzem à sua
génese. Segundo o modelo do condicionamento, quando há
contiguidade de estímulos entre um estímulo incondicionado aversivo e
outro estímulo neutro presente na altura ocorre uma associação dos
dois por condicionamento clássico, que é mantida por reforço (Skinner:
o evitamento proporciona bem estar, logo evitar o estímulo dá um
reforço positivo, neste caso, menos medo).
Disfunções Sexuais de natureza funcional – condicionamento de
medo/ ansiedade (com diferentes conteúdos: não agradar, ansiedade
Teorias Psicológicas
de desempenho...) à actividade sexual, visto que ansiedade provoca
inibição (sexual, inclusivamente). A cada novo fracasso mais
ansiedade haverá numa nova oportunidade.
3. Modelo Comportamental
O sujeito aprende comportamentos patológicos destinados a aliviar a
ansiedade
O comportamento perturbado resulta da aprendizagem condicionada ou
social desses comportamentos patológicos, que se mantém por reforço
4. Aplicabilidade
Explica o aparecimento de certas perturbações
Patologia fóbica (simples, social e agorafobia)
Disfunções sexuais funcionais
Depressão (como factor ligado à aprendizagem)
Modelo do Desespero Aprendido Processos de Aprendizagem SocialA criança nunca tem um reforço positivo dos pais, o que acarreta sentimentos de
frustração. Não havendo controlo ambiental (nada promove reforços
positivos), os níveis de insegurança aumenta, levando a desespero (abandono
afectivo) e consequentemente à depressão.
O sujeito pode aprender que o comportamento depressivo é um
comportamento desejável, já que o observa repetidamente na interacção com figuras significativas (o seu modelo é um
pai deprimido).
Seja qual for o factor causal, a perturbação pode manter-se por
aprendizagem, desde que o sujeito atribua grande importância a um
comportamento que alivia a ansiedade (ex. Dependência química) ou a uma
aprovação tácita do grupo social (mantém-se por reforço).
Teoria Desenvolvimentista
(muito recente: 20 anos)
1. Tese Central
Os fenómenos Psicopatológicos integram-se no desenvolvimento psicológico
normal
2. Teorias Parciais
a) A patologia normal pode alterar condições do desenvolvimento cognitivo e
emocional-social (mais evidente na infância e na adolescência).
b) O desenvolvimento como factor causal da perturbação
1ª dimensão- O sujeito não passa para a fase seguinte do desenvolvimento –
lacuna no processo do desenvolvimento – falta de skills
2ª dimensão- A presença numa determinada fase, com determinados
comportamentos de uma fase anterior. Existe portanto uma desarmonia (ex.
Jovens adultos)
c) Ciclo de Vida - Fases de vida do nascimento à morte.
Tanto na adolescência como na velhice verificam-se perturbações da
consciência do corpo, mas na enquanto nesta última está ligada à
hipocondria, na primeira costuma estar associada ao comportamento
alimentar ou dismorfobias.
Verifica-se 2 tendências: Nos mais novos, menos comportamentos sociais:
comportamentos (agressividade, abuso de substâncias, tentativas de
suicídio). Nos mais velhos, mais comportamentos sociais: perturbações do
pensamento (obsessivos, delirantes) e afectos
3. Modelos
A perturbação é uma descontinuidade (ou desequilíbrio) que surge ao longo
da continuidade do desenvolvimento normal
4. Aplicabilidade
Estudar impactos a nível comportamental/ afectivo / cognitivo...
Relação entre o desenvolvimento e o tipo predominante de patologia
Teoria Sistémica
1. Tese central
Os fenómenos psicopatológicos são configurações de respostas
psicológicas e fisiológicas ao stress social
2. Conceptualizações Principais
Confronto do sujeito com situações indutoras de stress (estado de saúde,
estilo de coping, suporte social)
Stress – resultado da interacção entre os factores de stress e os recursos
do sujeito
3. Modelo Sistémico
Perturbações como o resultado da falência dos processos individuais de
confronto e adaptação, considera, portanto, a psicopatologia como
adaptativa (dificuldades de adaptação)
4. Aplicabilidade
Entendimento da psicopatologia em relação com dificuldades de confronto
com acontecimentos vividos (leitura modelo de stress e de coping)
Perturbações de ajustamento (ansiedade patológica, reactiva, depressão
reactiva)
O stress agrava e mantém perturbações mentais
Memória de
Trabalho
Memória de
Evocação (onde está tudo o que somos e fomos)
Crença (funciona como um filtro, que lê da realidade o que quer ler: enviezamento)
Nos anos 60/70, Aaron Beck baptiza o pai crenças como esquema.
Jonhson Laird, apelida o construto a partir do qual o sujeito filtra a informação de esquema mental.
Teoria Cognitvista
1. Introdução
Modelo de processamento da informação
2. Terapia Cognitiva de Beck
Na versão original desta teoria existia um modelo simplista que ligada cognição e
emoção, nomeadamente que a cognição causava a emoção.
As posteriores revisões desta teoria vieram demonstrar que a cognição não é causa
directa da emoção, mas uma parte de um conjunto de mecanismos em interacção, que
envolvem factores biológicos, psicológicos e sociais.
Outros autores (Clark; Teasdale) postulavam, aliás, uma relação circular entre
cognição e emoção.
Eu perdedor
Futuro Negro
Mundo frustrante
Componentes Principais da Teoria
Tipos de Estruturas cognitivas onde assentam desordens emocionais
O tipo de representação de conhecimento focada pela teoria cognitiva são os
esquemas – unidades pelas quais a memória, o pensamento e a percepção são
organizados.
Estes esquemas derivam da experiência passada do sujeito, nomeadamente da
relação da criança com os progenitores, embora não sejam vistos como
representações passivas dessa experiência.
Outra característica sua é a de irem para além da informação corrente, ou seja, a
activação de parte do esquema leva à activação de todo o esquema. Portanto, a
informação contida no input vai ser processada de acordo com os valores operacionais
com “default”.
Também os esquemas que orientam relações interpessoais e importantes papeis e
metas podem ser activados desta forma. Em seguida, estes, que são baseados no
passado do sujeito, providenciam o ponto de partida para a concepção de novas
relações e experiências.
Em relação a perturbações emocionais específicas, Beck argumenta que certos
grupos de esquemas disfuncionais são provavelmente característicos.
Ex. Na depressão os esquemas reflectem, em parte, a tríade cognitiva que foca os
aspectos negativos do self, do mundo e do futuro.
Entre os episódios de desordens emocionais (depressão e ansiedade), o autor propõe
que os esquemas disfuncionais inactivos/ adormecidos são apenas activados quando
o estímulo de stress concordante ocorre.
Processos Cognitivos
O efeito da activação de esquemas disfuncionais é que produzem pensamentos
negativos automáticos (“sou um falhado”; “ninguém gosta de mim”), em que o
indivíduo acredita.
Apesar de toda a gente ter estes pensamentos, o indivíduo predisposto à depressão
procura mais evidências para suportar estas crenças negativas.
Esta procura de evidência inclui as distorções lógicas dos pensamentos, que são:
Alteração selectiva
Minimização do material positivo relacionada com o self
Maximização do material negativo relacionado com o self
Pessoalização – acartar a culpa por tudo o que de negativo acontece
O resultado disto, em combinação com outros enviezamentos, como os da memória, é
que o indivíduo deprimido mantém uma certa visão negativa do self e continua,
consequentemente, deprimido.
Early Experience(ex. criticism and rejection from parents)
Formulation of Disfunctional Assumptions(eg. unless I am loved I am worthless)
Critical Incidents(eg. loss events)
Activation of Assumption
Negative Automatic Thoughts
Depression
3. Emoções Básicas de Eckman e sua aplicação à leitura cognitivista da
Psicopatologia Neurótica
Medo
O medo normal está bastante presente nas nossas vidas, no entanto, quando
extremado e não adaptado/ contextualizado, evolui para perturbações de ansiedade
(ataques de pânico, ansiedade generalizada, ou stress pós-traumático) ou
perturbações fóbicas.
Exemplo: Fobia Social: expectativa de ser avaliado quando em público, que coexiste
com um modelo de desvalorização do self. Tal origina fuga. Faz um corte com a
realidade anterior, uma vez que não processa nenhuma das vezes em que teve
comportamentos pró-sociais.
Repulsa
Aparece transculturalmente através da boca, no evitamento da incorporação (primeiro
através da mama, e depois com outras utilizações...).
Quando extremada, verifica-se o evitamento presente na neurose obsessivo-
compulsiva. Muitas vezes daqui decorrem bizarrias comportamentais (ex. compulsões
de lavagem, verificação).
O que aqui se observa é a passagem para o exterior da repulsa pelo próprio self, a par
de uma rigidização da ambivalência do self “penso, logo evito.”
Raiva
Quando extremada dá origem à agressividade (auto ou hetero).
Tristeza
Quando extremada e desadaptada dá origem à depressão.
Com o modelo da depressão desenvolve-se a terapia cognitivista, onde aparecem
classicamente os modelos psicopatológicos dos esquemas mentais, como
especificado acima.
Alegria/ Felicidade
Teoria Fenomenológico- Existencial
1. Introdução
Dentro dos modelos psicodinâmicos, aqueles que procuram a compreensão
psicológica e psicopatológica do sujeito em função da sua história individual,
diferenciam-se as teorias psicanalíticas e as fenomenologico-existenciais.
Apesar de ambos se tratarem de modelos hermenêuticos, divergem na sua
metodologia e pressupostos fundamentais.
Por exemplo, para a Psicanálise o sujeito psicológico é determinado por pulsões
inconscientes, que foram muito influenciados pelas figuras parentais em fases
precoces do desenvolvimento, enquanto para o Existencialismo é o próprio sujeito que
se determina a ele próprio, isto é o seu destino é construído activamente pelo sujeito,
por intermédio das escolhas que vai fazendo.
2. Conceptualizações Psicológicas
Concepção do Homem – Psicologia Existencial
Cuida da Sua Existência
Nós enquanto existentes tomamos conta de nós próprios, procurando o nosso auto
conhecimento, compreensão de nós próprios e descobrindo a nossa própria identidade
– existe uma tendência psicológica para isso.
Tal é mediatizado pela relação intersubjectiva com o outro, situação em que
aprendemos os nossos modos de sentir, pensar, imaginar...
“Cuidado” aqui remete para a importância que é dada ao que as pessoas são e ao que
elas são capazes de fazer (o que é chamado de auto-eficácia noutros modelos), assim
como ao que ainda não são, mas que podem vir-a-ser – as suas potencialidades. Isto
pode aparecer mais claramente nas situações de dificuldade, nomeadamente nas
situações de sofrimento psicológico.
Desta forma, verificamos que a patologia, embora gere sofrimento, tem/ pode ter
aspectos positivos, na medida que pode proporcionar a possibilidade da pessoa se
conhecer melhor.
Escolhe Intencionalmente e Constrói Significativamente
A Psicologia Existencial tem do sujeito a concepção de que é um ser consciente e
reflexivo, na medida em que é capaz de fazer escolhas intencionalmente, ou seja,
opções que têm significado e que correspondem a desejos, necessidades, etc.
Ao contrário da Psicanálise, o Existencialismo defende que toda a vida mental é o
resultado de escolhas que se fazem de forma consciente (e não inconscientemente), e
donde resulta o significado da nossa existência.
Desta forma, o sofrimento psicológico pode ser o resultado de determinadas escolhas,
não por que as pessoas escolham ficar perturbadas, mas porque o ficam no resultado
das suas escolhas.
Este modelo dá importância à existência (diferente de vida). Viver é o percurso
biológico. Só o Homem existe, na medida que só o Homem consegue escolher e
construir significados para o seu mundo psicológico.
Responsabiliza-se/ Compromete-se
A responsabilização aparece aqui não numa acepção moral ou social, mas existencial.
Só o Eu é capaz de construir, através de escolhas/ projectos significantes, a sua
existência.
3. Temas Existenciais
Angústia
Aparece em relação com o sentimento de ter sido lançado no mundo e sentir-se
obrigado a fazer escolhas, nomeadamente em relação às quais não se conhecem
consequências. A angústia advém da necessidade de escolher (quando tomamos
decisões importantes, quando tomamos consciência que temos de decidir por nós
próprios, mas ligada à liberdade e autonomia de escolher a sua própria história).
Morte
A angústia é a luta do Homem enquanto pessoa viva contra o não-ser. O medo não
viria da ameaça de morte em si, mas do conflito ambivalente em relação a essa
ameaça.
A consciência da morte própria produz individualidade, por destacar o Homem da
banalidade e evidência do seu carácter de ser-para-a-morte.
A decisão resoluta do Homem em assumir a sua finitude permite atenuar o medo que
o pensar na morte inspira, e ao mesmo tempo introduzir modificações no ser,
causadas pela necessidade constante de auto conhecimento.
A consciência da morte tem outro efeito mais indirecto sobre a individualidade, que
está relacionado com a autenticidade das escolhas.
Liberdade
Liberdade que permite ao Homem escolher um projecto (fundamental e individual de
ser) que exprime a totalidade do seu movimento para ser, a sua relação original
consigo próprio, o mundo e os outros, patente na sua conduta.
Ser livre é fazer escolhas concretas e toda a liberdade é situada na realidade
objectiva.
Trata-se de uma liberdade de eleição na qual o Homem pode determinar-se a querer
por si mesmo, com autonomia de escolha.
Quando há limitações a esta liberdade, foi o sujeito que as colocou, ao estabelecer os
obstáculos a enfrentar no caminho que escolheu.
O Homem é condenado a ser livre.
Projecto
O projecto fundamental, enquanto coerência interna de cada pessoa, que emerge
temporalmente a todas as suas condutas (acções, emoções, sentimentos, discurso...),
reflectindo uma escolha originária.
O projecto emerge de um desejo abstracto de ser.
A estrutura da existência do Homem é narrativa, a narrativa que ele faz sobre si
próprio e que constitui a sua história.
Tomando como ponto de partida essa narrativa é possível analisar o projecto
existencial, a chave organizadora da existência.
Implicações terapêuticas - a análise da existência como expressão de um projecto
concreto permite confrontar abertamente esse projecto para assumi-lo e reelaborá-lo,
na linha da auto-realização.
Valores
Os pontos de vista existenciais referem que a vida de cada homem é marcada por
perdas irreparáveis, pelo que os sentimentos de frustração, insegurança e dor seriam
inerentes. Deles são gerados os valores, que assim são os únicos suportes para o
Homem continuar a caminhada. Genericamente são: a liberdade de escolha, a
dignidade, a individualidade, o amor e a criatividade.
4. Método Fenomenológico
Nas duas abordagens Fenomenológica e Existencial, o método correspondente é o
mesmo, nomeadamente o método fenomenológico.
Permite aceder directamente aos fenómenos tal como aparecem à
consciência, tornando inteligível tudo que é marcado pela subjectividade
Ausência de Interpretação – focaliza-se totalmente na experiência do outro,
através de técnicas de análise do discurso. Há várias destas técnicas, das
quais salientamos a análise semântica do discurso, uma vez que esta
procura os significados acerca da experiência interna do sujeito.
Utiliza-se para tal, no contexto de investigação, a gravação das entrevistas.
Fala falante – sobre a experiência
Fala não falante – construções racionais
sobre a experiência (banalidades)
Exige uma descrição cuidadosa e sistemática daquilo que é percebido na
experiência vivida e procura identificar e elucidar o seu significado essencial.
2 falas
Aplicações do método
1º momento – o método foi aplicado à vivência psicológica do “aqui e agora”,
isto é, qual a perturbação, como é vivida (experiência individual) e qual o seu
significado. Assim, uma qualquer patologia, por exemplo a depressão, é
apenas uma abstracção que apenas existe fora das pessoas. O que
interessa, portanto, é o indivíduo que está deprimido: estar deprimido.
2º momento – o mesmo método foi aplicado à existência total do sujeito,
procurando-se a narrativa que ele faz da sua própria história e finalmente
como a perturbação se integra no contexto da existência.
4. Compreensão Fenomenológica
A abordagem fenomenológica da psicopatologia tem por finalidade a compreensão
dos fenómenos psicopatológicos tal como são dados e vividos, e elucidar qual a forma
do funcionamento mental do paciente.
Compreensão das Vivências Patológicas de K. Jaspers
1º descrição fenomenológica da perturbação – estudo descritivo dos estados
de consciência perturbados.
2º compreensão genética – relações de significado entre uma experiência
actual perturbada e acontecimentos anteriores
3 conceitos:
Reacção patológica – quando uma pessoa se perturba em relação a um
qualquer acontecimento que tenha um grande impacto psicológico para o
sujeito (ex. luto) – perturbação de adaptação.
Análise fenomenológica
Análise existencial
Desenvolvimento – Quando uma perturbação ocorre tendo como
antecedente determinadas características da personalidade.
Processo – experiência de perturbação em que não se encontra relação
nenhuma com a experiência anterior, verifica-se portanto uma ruptura, uma
perda de continuidade (ex. Alzeimer)
Compreensão Genético- Estrutural de Minkowsky
Perturbação geradora do acontecer vital
Fenomenologia Categorial de Binswanger.
Flexões existenciais do ser
5. Compreensão Existencial
Daseinanalyse de Binswanger
Análise da existência (DaSEIN), do sujeito transcendental e não do existente
(DAsein), inspirada na obra de Heidegger.
Preocupação onto(pato)lógica e psiquiátrica – o patológico seria o que se afastaria
da estrutura apriorística do ser (temporalidade, corporalidade, espacialidade...) e
que se tornou uma estrutura existencial modificada.
Análise Existencial
Baseada na obra de Sartre, vê o Homem como hermeneuta no seu próprio mundo
através da sua própria história e do seu projecto existencial.
A análise existencial parte da existência total com o objectivo de trazer claridade
às escolhas que o Homem faz para se tornar pessoa.
Procura, portanto, a análise no existente, como se estrutura o seu mundo particular
e concreto.
Análise do Homem como ser, cuja existência precede a essência. A vida não é
determinada nem antecedida de nenhuma realidade ideal, pelo que a existência é
contingente e gratuita.
Deste modo, o Homem fica obrigado a escolher, principalmente o projecto espácio-
temporal através do qual se projecta o ser – o Homem não é uma totalidade
acabada.
Todas as manifestações do comportamento humano são expressões do projecto
existencial.
A relação com os outros é essencialmente conflituosa, porque o outro, dotado da
mesma liberdade que eu, ameaça a minha existência.
Outras Conceptualizações
Angústia gerada pelos conflitos existenciais
Falta de significado e de autorrealização
Qualidade existencial de limitação da psicopatologia
5.1 Abordagem Existencial do estar perturbado
Psicopatologia Contextualizada na Existência
O que é essencial é a existência do sujeito e não da patologia, que, se existir, faz
parte do todo. Para a perceber temos de perceber o todo, a existência. Assim, o
diagnóstico tem uma importância relativa.
Perturbar-se como possibilidade universal
Todas as pessoas podem perturbar-se.
Estranheza e afastamento em relação a si
Os fenómenos psicopatológicos são resultado de inautenticidade e alienação de si
e consequentes escolhas pouco sintónicas.
Fracasso da relação com o seu mundo interno
Com o fracasso da relação com o se mundo interno, o sujeito não poderia
experimentar o ser-no-mundo, a existência. Seria então incapaz de aceder ao
mundo interno dos outros, pelo que não seria possível o encontro, nem as
interacções significativas (estar-com). Teria lugar, desta forma, uma redução
importante da experiência, com bloqueio de desenvolvimento pessoal. Finalmente
surgiria a angústia relacionada com o afastamento de si mesmo e o vazio
associado à falta de sentido.
Impasse em relação a projectos e modos de ser
Os projectos que não são realizados, mas que o sujeito também não abandona,
nem tenta perceber o que fez com que não desse certo (ou faz atribuições
externas).
Perda da Liberdade de Escolha
Perda da possibilidade de fazer uma escolha e de se comprometer com uma
decisão, compromisso que faz referência à sua responsabilidade e posicionamento
activo perante o mundo, conferindo à experiência uma dimensão de
superficialidade, vazio e falta de sentido.
Teoria Psicanalítica
1. Teoria Psicanalítica
A teoria psicanalítica propõe que as manifestações clínicas reflectem conflitos intra
psíquicos entre pulsões, o principio do prazer, as operações defensivas que reflectem
o principio da realidade e as motivações inconscientes do super ego.
Os conflitos do Inconsciente entre impulso e defesas são expressos sob a forma de
conflitos entre as instâncias da estrutura tripartida:
Id é o repositório das pulsões
Super ego representa a internalização das regras dos pais e da cultura
Ego modula as pulsões através dos mecanismos de defesa
Conflitos: Os conflitos intra psíquicos (na medida em que são o resultado de
desejos não realizados) resultam do movimento que o sujeito faz na procura
da gratificação do desejo e percebe esse movimento como ameaçador e
gerador de ansiedade, culpa ou punição externadefesas do ego contra
impulsos do Id
o superego leva à inibição do Ego
a expressão repetida dos impulsos do Id constitui uma defesa contra as
pressões do Superego
Inibições das funções do ego no que respeita à sexualidade, intimidade,
relações sociais e activação dos afectos
Formações de compromisso entre impulsos reprimidos e defesas directas
contra eles
Expressão dissociativa do impulso e da defesa
A resolução dos conflitos
Passa pela análise destes conflitos intersistémicos
2. Compreensão Psicanalítica em Psicopatologia
Compreender
Cada vez que recebemos um paciente, esperamos poder compreendê-lo (e que ele se
sinta compreendido)
Ensinam-nos, desde muito cedo, que esse desejo de compreender o outro não pode
cegar a necessidade de ser útil!
Os esforços de compreensão devem fazer-se para com a pessoa e não para com a
doença
Por muitos livros que tenhamos lido não saberemos entender o funcionamento dos
pacientes... conhecer as teorias e os dados que se aplicam a determinados tipos de
pacientes permite-nos falar/pensar sobre as pessoas que têm este ou aquele tipo de
problema... Mas não nos diz nada sobre o paciente que nos consulta pela primeira
vez.
Para reduzir essa incerteza (esse não saber) muitos profissionais introduzem uma
metodologia standard. No entanto, a única possibilidade de compreendermos uma
pessoa em concreto é por-mo-nos em relação interpessoal com ela!
Compreender um paciente inclui (para além do pedido objectivo e da história que nos
conta) os aspectos afectivos e relacionais
Há um perigo que decorre da esperança e do desejo de que tudo tem que
compreender (omnipotência) e que, na maior parte das vezes, o leva a nada
compreender (mas que continua a funcionar como se tudo percebesse...) “não, não,
compreendo perfeitamente o que me diz...”
A pseudocompreensão que, por vezes, ocorre e decorre da impotência de quem
pensa que tudo deve saber, é trágica para quem trabalha nesta área.
“não precisa de me dizer mais nada: já compreendi tudo” (mêdo de não compreender,
de não entender, de não poder ser útil).
Compreender implica esperar, poder suportar durante algum tempo a ignorância, a
dúvida, a frustração a quem investiga um sistema que influencia (ainda que de modo
inconsciente) nossa actividade e atitude
Não é possível compreender o outro (e a si mesmo) sem se ser tolerante...
Ser capaz de receber o sofrimento do outro e suportá-lo dentro de si (sem o actuar,
por ex. dando conselhos precipitados) ou de suportar o medo de ser depreciado, ou
agredido, ou abandonado.... Exige que se seja tolerante sem que se seja
condescendente com a parte doente do paciente.
Podem sentir-se pressionados à colusão (cumplicidade inconsciente) com aspectos
mais doentes do paciente por via da sua própria vivência (culposa, temerosa, de
dificuldade em opor-se ao paciente ou que o paciente procure outro terapeuta) e isso
frustre a esperança do terapeuta no seu desejo de ser reconhecido no seu esforço, na
sua dedicação ou mesmo na sua capacidade para ser útil ao paciente.
Identificação projectiva, Identificação introjectiva,
Há processos psicológicos que ocorrem sempre que duas pessoas estão em relação
interpessoal e que não diferem no essencial daquilo que se passa na relação
terapêutica.
Para se entender o outro, o que sente, muitas vezes o que fazemos é pensar o que
sentiríamos numa situação semelhante. Normalmente, nem pensamos nisso, há um
movimento psicológico automático que nos leva a introjectar, a introduzir em nós o que
o outro estará a pensar, a vivenciar
Em simultâneo estaremos a comparar com o que sentimos nós...
Porque cremos que partilhamos com os outros um conjunto de atitudes, emoções
básicas e motivações, o que o paciente sente não poderá ser muito diferente do que
nós pensamos (empatia), Existem perigos relacionados com esta situação.
Essa compreensão é baseada na identificação projectiva que consiste em por-mo-nos
no lugar do outro, que é diferente de nós!
Pomos no outro partes de nós (experiências, sentimentos, fantasias, projecções) para
que nos possamos identificar com o outro, sentir o mesmo que o outro (identificação).
Este outro a quem invadimos imaginariamente com as nossas coisas, permite-nos
deixar de as sentir dentro de nós e senti-las de forma criativa como se fossemos o
próprio paciente. Sentir como o próprio paciente, projectando nele partes de nós
mesmos.
O que se faz é assim um reconhecimento do funcionamento do paciente
Graças a esta possibilidade o conhecimento do paciente é muitíssimo aumentado já
que ao que é habitual que ele expresse se junta a informação que o terapeuta colhe
por via dos processos de identificação projectiva e identificação introjectiva.
Este conceito criado por Melanie Klein e retomado por Bion tem por base uma fantasia
inconsciente que é a de que nos podemos desembaraçar dos aspectos do self que
não gostamos, introduzindo-os noutra pessoa (projectando)
É este processo que permite a intuição clínica que suporta a compreensão profunda
dos processos interpessoais que nos são externos
Transferência e Contratransferência
Transferência é a vivência, no presente, de sentimentos, pulsões, atitudes,
fantasias e defesa em relação a uma pessoa, que são inadequadas a essa
pessoa e são uma repetição, um deslocamento de reacções que reportam a
pessoas significativas da infância. Para que se a reacção seja considerada
como transferencial deve ter duas características:
ser uma repetição do passado
ser inadequada ao presenteContratransferência é a transferência do
terapeuta face ao paciente. Está ligada à história do terapeuta e os
processos são equivalentes.
É o conjunto de respostas emocionais especificas despertadas no terapeuta
pelas características do seu paciente.
A análise destes movimentos permite ao terapeuta uma maior compreensão
interna dos processos que ocorrem no paciente.
“a contratransferência permitida é a necessária para que se compreenda o paciente”
C.Matos
A intuição é a utilização criativa da identificação projectiva por via da cuidadosa
análise da contratransferência.
Resulta da capacidade de observar (o outro) enquanto se observa (a si, a observar)
A ansiedade é a pedra angular da manifestação da transferência e do seu
reconhecimento pelo clínico, assim como da própria contratransferência e do insight
(ou capacidade de introspecção do clínico)
Que diz o paciente quando solicita ajuda? Porque é que evoca no terapeuta este ou
aquele sentimento? O reconhecimento “do que está a pôr no terapeuta” e que tipo de
ansiedade está a vivenciar é fulcral para o processo.
Interpretação
É o primeiro dos instrumentos do analista. Envolve uma afirmação explanatória feita
pelo analista que ligue um sintoma, pensamento ou sentimento ao seu significado
inconsciente.
Interpretações genéticas são aquelas que ligam pensamentos, conflitos e
sentimentos do presente com os seus antecedentes na infância. O analista
reconstrói o passado do paciente com base nas memórias, sonhos e
associações, nas distorções transferenciais de modo a ligar o como as
situações do presente repetem o passado
Interpretações transferenciais são vistas como a actividade mutativa central
do analista. Mostra ao paciente como a sua percepção do analista é uma
repetição de relações significativas do seu passado. Ajuda o paciente a ver
como os desejos e expectativas actuais são influenciados pelo passado.
Tem, basicamente, duas categorias:
resistência à resolução da transferência
resistência ao conhecimento da situação transferencial
1. IntroduçãoAs perturbações ansiosas são bastante comuns
Ex. Perturbação de ataques de pânico – 2/3 %, pessoas jovens (20-30 anos)
Perturbação de ansiedade generalizada – 5%, início na infância ou adolescência,
prolongando-se no tempo. Distribuição por sexos: 2 mulheres/ 1 homem
Ansiedade
É um estado emocional desagradável, em que o sujeito se sente tenso,
atemorizado e alarmado.
Experiência Comportamento
Inquietação Psíquica Inquietação motora
Tensão Emocional Manifestação de Hiperactividade
Insegurança/ medo Sistema Nervosa Simpático
Ansiedade Patológica
Ansiedade Traço (de personalidade) – manifesta-se por uma preocupação
excessiva e constante consigo, sendo esta preocupação associada a
cognições catastróficas, ou seja, percepção de ameaça permanente, o que
resulta em insegurança. Existe, igualmente, uma avaliação negativa do
próprio, com baixas expectativas de eficácia. São sujeitos com assertitividade
baixa (fraca comunicação).
Ansiedade Estado - Muitas vezes consequência de ansiedade traço. Trata-se
de um indivíduo com experiência psicológica feita de três vivências:
percepção de ameaça (medo sem saber qual a causa), sensação de não
conseguir fazer nada (avaliação negativa das suas capacidades de resposta
às ameaças: insegurança) e estar à espera (expectativa) do que irá
acontecer de mau (atenção focalizada, o que leva a desatenção em geral:
verifica-se muito frequentemente acidentes). É acompanhada de
manifestações corporais: tremores, suores, dor toráxica, sensação de
adormecimento, aumento do batimento cardíaco, dificuldades respiratórias e
alterações do sono (insónia de adormecimento) e do comportamento sexual.
Crise de Ansiedade – Ansiedade muito intensa, de que o ataque de pânico é
um exemplo. Dura pouco tempo, mas tem um efeito desorganizador máximo.
O seu começo é súbito (endógeno). Dominam as manifestações corporais:
Coração bate muito depressa (150 pulsações/ minuto), dificuldade
respiratória (provoca tonturas e enjoos). O sujeito experimenta
despersonalização ou desrealização (menos frequente), só havendo espaço
mental para pensar na morte eminente.
Modalidades de vivência da ansiedade
Estados Ansiosos – ansiedade não ligada a nenhum estímulo ambiental, não
relacionado com nenhuma experiência
Ansiedade Livre a Generalizada (endógena, principalmente)
Estados Fóbicos – há um estímulo externo que desencadeia a ansiedade
Ansiedade Sistematizada e Ligada
Existe, no entanto, um parentesco entre estas duas modalidades, que se prende com
o facto de terem factores causais semelhantes (genéticos, dinâmicos, cognitivos) e de
se tratar da mesma ansiedade patológica, embora vivida de diferentes formas, tanto
que é comum um sujeito viver, numa primeira fase, um estado ansioso e em seguida
passar para uma fase fóbica.
2. Estados Ansiosos
Ansiedade Primária
Perturbações onde a ansiedade é a manifestação principal
Pode manifestar-se numa perturbação de ataques de Pânico (angústia de
separação real/ imaginada), ansiedade generalizada (neurótica clássica: angústia
de castração) ou ansiedade Reactiva – falência dos processos de coping
Perturbações de Ataques de Pânico
Episódios recorrentes de ataques de pânico, sem causa externa identificável.
Experiência prévia de perda, separação, ameaça...
Ataques de Pânico: 15-30 min
Vivido psicológico de medo intenso
Conteúdos: perder o controlo, enlouquecer, morrer.
Grande intensidade das manifestações corporais de ansiedade
Limitações Agorafóbicas: evitamento de locais não-familiares
Ansiedade antecipatória- intervalo de ataques de pânico “pode acontecer
outra vez”
Evolução depressiva - Vivido de inferioridade e incapacidade, isolamento,
vivido nosofóbico (medo de doença concreta)/ hipocondria (medo de estar
doente)
Ligada a angústia de separação
Perturbação Ansiedade Generalizada
Ansiedade estado num indivíduo com ansiedade traço, na maioria das vezes
Manifestações persistentes de ansiedade, sem relação com pessoas ou com
situações específicas
Ansiedade Flutuante
Sentimento de insegurança, preocupação excessiva e particular – feita de
cognições catastróficas - representação perigosa do mundo
Queixas de insónias, disfunção sexual e fadiga crónica, manifestação de
excesso de actividade do sistema nervoso vegetativo (tremores,
taquicardias...)
Pode ter causas orgânicas ou psicológicas (Conflito intrapsíquico neurótico –
angústia de castração)
Ansiedade Reactiva patológica
Resposta induzida por acontecimentos vividos com significado individual
ameaçador. Resultado da falência de estruturas psicológicas de gestão do
stress. Desorganização causa sintomas. Perturbação de Ajustamento – contexto
de adaptação
Ansiedade Secundária
Perturbações em que a ansiedade aparece associada a outras quadros, não sendo a
manifestação principal. Por exemplo:
Ansiedade Psicótica
A ansiedade mais grave encontra-se associada a psicoses, sendo muito intensa
(semelhante aos ataques de pânico, com medo da morte), mas manifestando-se
corporalmente, não conseguindo o sujeito actuar no sentido de a aliviar.
Ansiedade Neurótica
Perturbações obsessivo compulsivas, perturbações hipocondríacas e
perturbações histéricas.
Ansiedade associada a perturbações depressivas
Depressões ansiosas
Ansiedade associada a perturbações deficitárias
Deterioração cognitiva.
3. Estados Fóbicas
Perturbações, cujas manifestações são as fobias, ou seja, quando o medo é um medo
fóbico
Fobia – É um medo desproporcionado na sua intensidade em relação à
perigosidade real da situação (estímulo), de tal forma que, se o sujeito estiver
perante a situação tem um comportamento semelhante a um ataques de pânico. É
inexplicável para o sujeito, irracional, involuntário, recorrente e conduz ao
evitamento.
Fobias Primárias
Fobias Simples
Fobias isoladas e específicas e, portanto, pouco incapacitantes
Fobias Sociais
Medo de ficar embaraçado, de ser humilhado, de corar ou sentir-se mal em
público (ex. Comer em público, falar em público...). A experiência subjectiva está
associada ao sentimento de exposição aos outros e consequente avaliação
negativa, devido à avaliação própria de menor eficácia (baixa auto estima).
Agorafobias
Fobias múltiplas e difusas (agorafobia, claustrofobia, fobias de lojas, transportes,
túneis, cinemas...).
Ansiedade livre e generalizada.
Limitação da actividade, que gera muito sofrimento psicológico e leva a
sentimentos de incapacidade muito significativos (evitamento).
Podem acompanhar-se por ataques de pânico (causa ou consequência).
É uma das perturbações mais graves, uma vez que coexistem muitas fobias em
situações variadas
Fobias Secundárias
Associadas a perturbações de ansiedade – neurose ansiosa (nosofobias,
claustrofobias e agorafobias)
Associada a perturbações obsessivas – neurose obsessiva (fobias
obsessivas de contaminação e fobias de impulso)
Associada a perturbações psicóticas (dismorfofobias)
Tristeza
Normal – adequada, duração
breve, sem repercussões,
reactiva-vivencial
Patológica – desproporcionada,
duração longa, c/ repercussões,
reactiva/ endógena
Frequência
Num determinado momento 5% da população está deprimida.
20% das pessoas com doença grave, principalmente incapacitante e com dor crónica
estão deprimidas.
50% das pessoas com patologia mental experimentam depressão primária ou
secundária.
15% das pessoas com depressão tem depressão crónica (mais de 2 anos).
Caracterização da Experiência Psicológica da Depressão
As perturbações depressivas são múltiplas e variadas, com diferentes factores
causais, embora a experiência psicológica seja sempre a mesma.
Vivências Associadas às Depressões
Abandono – ninguém gosta de mim; depressões endógenas e dos indivíduos
neuróticos
Perda – verifica-se mais nas depressões reactivas
Culpa – o sujeito acha que fez coisas mal no seu passado ou não fez o que
devia (orientação pelo princípio do dever). A culpa aspira castigo, que é
muitas vezes procurado no suicídio. (15% das pessoas com depressões
psicóticas suicidam-se)
Inferioridade/ Incapacidade
Manifestações da Depressão
Depressão
Manifestações Fundamentais
Humor deprimido
Lentificação Psicomotora
Auto-desvalorização: o que concretiza a baixa de auto-estima e que se
exprime pela inferioridade, inutilidade e culpa, sendo que esta última pode ser
delirante.
Manifestações Acessórias
Perturbações do Comportamento Alimentar
Anorexia
Bulimia
Perturbações do Sono
Insónias
Hipersómnia
Perturbações da Actividade Sexual
Diminuição do desejo sexual
Percepção da dor: diminui o limiar à dor, pelo que pode fazer-se acompanhar
de dor corporal psicogénica. Estas dores caracterizam-se por serem
lateralizadas (experiência de dor hemicorporal), sendo as mais frequentes as
dores de cabeça, lombares e pélvicas (baixo-ventre nas mulheres).
Fadiga (cansaço físico e psicológico, antes de qualquer esforço, o que o
distancia de uma patologia de causa orgânica, por exemplo: anemia)
Desinteressado das actividades habituais (anhedonia), o que leva à redução
das actividades ou a realização das mesmas actividades, mas com muito
mais esforço
Tipos Principais de Depressão
Depressão Reactiva
Existe uma relação clara entre o estado patológico e o acontecimento - é reactiva em
continuidade histórica. A depressão é uma resposta patológica - Tristeza natural e
compreensível como expressão de perda; está relacionada com dinâmicas
psicológicas que focam os significados de perda para o sujeito (alguém, saúde...).
Enquadram-se, portanto, no grupo das Perturbações de Ajustamento.
Depressão Orgânica
Estar deprimido na base de doença orgânica. Manifestação directa no sistema mental
por doença ou por indução de medicamentos. São exemplo de depressões orgânicas
as que ocorrem em relação com Alzeimer, hipotiroidismo, cancro da cabeça do
pâncreas...
Depressões Endógenas
O sujeito aparece de repente intensamente deprimido. Existe auto-desvalorização
significativa, ideação suicida precoce. Não relacionada com estímulos externos, sendo
os factores causais intrínsecos ao indivíduo. Não se sabe exactamente quais são,
embora se adivinhe uma predisposição genética. Existe uma influência nos ritmos
biológicos: vigília/ sono (insónia terminal) e dos afectos (o humor piora de manhã,
assim como nas estações do Outono e inverso)
Perturbação Afectiva da Personalidade
Tendência habitual para estar deprimido. Temperamento depressivo
Factores de Personalidade – facilitadores do deprimir-se:
Traços obsessivóides e dependência afectiva
(funcionamento da personalidade: perfeccionista, associado a
uma vinculação excessiva ao sentido do dever; quando algo não
corre como o devido gera-se culpa)
Descargas agressivas com culpabilidade
Introversão com pessimismo
Autoconfiança baixa
Controlo percebido baixo
Depressão nas Neuroses
Estar-deprimido como pessimismo conflituoso (intra / interpsíquico)
Perturbações Psicóticas
Tristeza vital, experimentada no corpo com mal-estar difuso e insuportável.
Quase todas as depressões psicóticas são endógenas, embora nem todas as
depressões endógenas sejam psicóticas.
Existe um corte com a realidade, ausência de consciência de perturbação, ideias
delirantes, alucinações (não frequentes)...
Psicóticas/ Endógenas Neuróticas/ Reactivas
Factores CausaisHereditariedade/ perturbação
afectiva da personalidade
Perturbação do
desenvolvimento,
acontecimento de vida,
neuroticismo
Início Brusco Variável
Curso Fásico Contínuo
Afecto Básico Tristeza vital Tristeza e ansiedade
Ritmo Diurno Melhoria vespertina Agravamento vespertino
Sono Insónia terminal Insónia Inicial
Psicomotórica Inibição/ agitação ————
DelíriosPossíveis (culpa, ruína,
hipocondria)Ausentes
Suicídio Possível Excepcional
História Familiar Frequente Rara
Análise EstruturalRotura biográfica, falta de
contacto
Continuidade compreensível,
busca de contacto
Futuro da Depressão
Suicídio
Ansiedade hipocondríaca, nos mais velhos
Dependência dos outros
Abuso de substâncias (estimulantes)
Modelo Teóricos de Explicação da Depressão
Modelo Médico
A depressão é um estado mental que resulta de alterações das concentrações de
neurotransmissores, nomeadamente a seretonina, a dopamina e a acetilcolina no
sistema límbico – Modelo Neuroquímico
Modelo Comportamental
Aprendizagem Social - modelagem: identificação com figuras significativas deprimidas
Desespero Aprendido (learned helplessness) de Seligman.
Modelo Cognitivista
Estilo cognitivo alterado
Tríade Cognitiva de Beck (cognições disfuncionais)
Cognições depressivas
Hipergeneralização
Alteração selectiva
Estas explicações têm grande aplicabilidade nas depressões reactivas. Contudo,
também se aplicam às depressões endógenas se pensarmos que estas são
reactualizações de momentos depressivos despertados por determinados
acontecimentos
Eu perdedor
Futuro Negro
Mundo frustrante
Modelo Psicanalítico
Distingue a perda de objecto – luto – e a perda do amor do objecto – depressão .
Neste último caso, a experiência de abandono e perda é afectiva – a agressividade
devia voltar-se para o outro que abandona, mas volta-se para o próprio (deflexão da
agressividade).
Modelo Fenomenológico
Estuda o aspecto essencial (constante estrutural) da experiência de depressão, que é
a vivência do tempo psicológico. A vivência de sucessão tem normalmente uma
direcção: vem do passado, passa pelo presente e vai para o futuro. Isto é a
intencionalidade da consciência, que na depressão está invertida: vem do passado,
passa pelo presente e volta para o passado.
Modelo Existencial
Inflexão do projecto existencial. A não existência de futuro implica a não existência de
um projecto existencial ou a repetição do passado no futuro.
A tematização da existência (temporalidade).
Diferenças nas listas das perturbações depressivas
França Aglo-saxões
Fenomenologia
Depressões Ansiosas
Melancolias
Depressões mascaradas
Depressões Atípicas
Depressões Reactivas
Depressões nas neuroses
Perturbação afectiva da personalidade
Psicoses Afectivas Bipolares
Psicoses Afectivas Unipolares
Depressões Orgânicas
Perturbação Distimica (depressões com mais de dois anos
e em indivíduos com traços neuróticos significativos:
patologia de personalidade só com depressão)
1. Sintomas Neuróticos
Sintoma Neurótico
Usa-se o termo sintoma e não manifestação pois a principal teoria que tem estudado
as neuroses é o modelo psicanalítico. Na teoria psicanalítica está generalizado o uso
do conceito de sintoma neurótico. Os sintomas neuróticos são as principais
manifestações das neuroses. Os sintomas podem apresentar diferente estruturação e
diferentes variedades clínicas; podendo ser:
Ansiosos
Fóbicos
Histéricos
Obsessivos
Todas têm por base a ansiedade neurótica e a diferente estrutura faz com que haja
diferentes neuroses com diferentes sintomas.
A ansiedade neurótica é a típica ansiedade endógena. O neurótico também reage de
forma ansiosa aos acontecimentos, mas a sua principal ansiedade vem de dentro. Há
uma fonte interna de ansiedade muito intensa, nomeadamente, do conflito
intrapsíquico.
Quando a ansiedade é do tipo livre e generalizada, temos a perturbação da ansiedade
generalizada, que corresponde ao conceito clássico de ansiedade neurótica.
A ansiedade fóbica também é um sintoma neurótico (ex. agorafobia – perturbação
simples), corresponde ao conceito de neurose fóbica. Através dos mecanismos de
difusão do eu, esta ansiedade por apresentar-se por sintomas corporais (ex. perda de
força nas pernas, converte num sintoma corporal, é a principal característica da
ansiedade neurótica histérica.)
Estados Neuróticos e Neuroses
Outras vezes o processo ansiogénico é mais ideativo, sendo que as ideias levam o
sujeito a fazer algo, é a ansiedade obsessiva.
Por fim, a ansiedade pode levar a uma preocupação permanente com a saúde – é a
ansiedade hipocondríaca.
2. Natureza das perturbações neuróticas
É verdade que se podem desenvolver sintomas neuróticos a situações reactivas, se a
perturbação que está presente é uma patologia fóbica ou obsessiva temporária. Assim
teriam carácter reactivo, mas isto não é o mais frequente.
A natureza mais frequente das perturbações neuróticas diz respeito ao
desenvolvimento patológico da realidade (a perturbação aparece no indivíduo que
anteriormente já tinha perturbação e essa desenvolve-se no sentido de os sintomas
irem aparecendo).
Ou seja, o indivíduo já tinha alguma perturbação de personalidade, que terá começado
na infância e que, a partir de certa altura, com relação a acontecimentos, se
desenvolve no sentido de uma perturbação neurótica.
Perturbação de Personalidade Perturbação Neurótica ou Neurose
Personalidade Neurótica
Neuroticismo – Características mais primitivas do funcionamento do indivíduo que são
comuns ao indivíduo que sofre de personalidade neurótica (traços comuns e traços
específicos)
ex. personalidade obsessiva – (é um tipo de personalidade neurótica,
está dentro das personalidades neuróticas) perturbação obsessiva que em 90% dos
casos tem presente uma neurose obsessiva – tem características que são específicas
de ele próprio – ou personalidade histérica.
O indivíduo apresenta um conflito interno muito activo. Permanentemente em conflito
consigo próprio – dois níveis:
1º - sempre à procura do ideal do eu (sentimento de inferioridade);
2º - dificuldade em harmonizar os seus desejos e as normas interiorizadas (conflito
entre o id e o superego). Conflito dele com ele próprio. Que se acompanha de um
outro aspecto – o indivíduo não consegue realizar os seus projectos existenciais mais
significativos (tem projectos existenciais significativos) não os consegue realizar, mas
também não os abandona. Projectos fracassados que não são abandonados por
projectos mais realistas – frustração.
Há vários tipos de perturbações neuróticas de personalidade – têm todas traços
comuns:
Controlo deficiente dos afectos
Varia entre o excessivo controlo dos afectos (por ex. agressividade muito
inibida) e o deficiente controlo dos seus estados emocionais e afectivos.
Obsessivo – raramente se emociona – carapaça, uma contenção enorme.
Histérico – controlo efectivo muito escasso. Chora, ri, etc. – desinibição
excessiva.
Segundo a teoria psicanalítica, a patologia neurótica é estruturada durante a
infância, período em que o indivíduo é levado a construir uma representação
muito má e perigosa do mundo externo, o que gera ansiedade - sentimento
de insegurança permanente. Houve dificuldade em fazer uma identificação
com a figura parental do mesmo sexo. Dificuldades profissionais,
interpessoais, relações amorosas. Vida profissional de sucesso e vida
pessoal de fracasso.
Insegurança e Ansiedade - ligadas à auto-estima baixa. Sentimentos de
inferioridade. Alta depressividade.
Baixa Auto-confiança - que vai significar uma
Resistência Baixa à frustração
6. Perturbações Neuróticas
Características das perturbações neuróticas
São perturbações mentais menos graves que as psicoses. Metáfora: tumores malignos
(psicoses), tumor benigno (neuroses). Os tumores malignos invadem outros órgãos ou
sistemas, os benignos são localizados, circunscritos. As neuroses são perturbações do
indivíduo consigo próprio – bem localizadas e circunscritas no funcionamento
psicológico. Localizada nos aspectos do funcionamento afectivo. Perturbação a esse
nível e a esse nível se mantém, não invade outras zonas do funcionamento
psicológico do indivíduo. Grau de adaptação razoável. Certo grau de ajustamento.
Perturbações Psicóticas Perturbações Neuróticas
Invade todos os aspectos do
funcionamento mental – desadaptação,
alteração do comportamento
(pânico, fobia, obsessiva, histérica - casos
excepcionais) em que os sintomas
causam incapacidade. Perturbação
menos grave e mais circunscrita
Factores Causais das Neuroses
Perturbação causada por factores psicológicos, os modelos psicogénicos explicam
melhor as perturbações neuróticas.
Perturbação de ataques de pânico, perturbação de fobias sociais, perturbação neurose
obsessiva – factores genéticos equilibrados com os factores psicológicos (excepções)
e sociais;
Estas perturbações costumam ter como antecedente uma perturbação neurótica de
personalidade (antecedente – pode ou não desenvolver-se numa perturbação). Há
mesmo perturbações neuróticas em que a perturbação de personalidade é muito
próxima, relacional:
neurose obsessiva – prévia perturbação da personalidade – perturbação
obsessiva;
neurose histérica – perturbação histérica de personalidade;
Perturbações Mentais que se incluem dentro das Perturbações Neuróticas
(São as perturbações neuróticas propriamente ditas, não as de personalidade)
a) Perturbação de ansiedade:
perturbações de pânico;
perturbações de ansiedade generalizada;
b) Perturbações Fóbicas:
perturbação agorafóbica;
perturbação de fobias sociais;
perturbação de fobia simples;
c) Perturbações Obsessivas
Acontecem em sujeitos normais nas situações aborrecimento, fadiga, insónia.
Manifestações obsessivóides
A patologia obsessiva não é exclusiva das neuroses obsessivas – quando não são
neuroses obsessivas trata-se de manifestações obsessivóides. As manifestações
obsessivóides têm normalmente causa psicológica (esquizofrenias; depressões;
personalidades pré-melancólicas), exceptuando as psicoses orgânicas.
Neurose obsessivo-compulsiva
“Por mais que queira não consigo deixar de pensar que estou sujo,
por fora e por dentro.”
Patologia do pensamento ao nível de ideias obsessivas acompanhada por patologia
do comportamento ao nível dos actos compulsivos. Já que estes aliviam o sentimento
obsessivo temporariamente.
Ideias de dúvida – comportamentos de verificação – fica muito ansioso se
não fizer as verificações).
tema da contaminação – medo de estar sujo. Compulsões de lavagens.
tema das ideias de contraste – raro.
tema das ideias obsessivas de contagem.
As duas mais importantes
Formas mais graves – doença obsessiva; a neurose obsessiva – menos grave. A
doença obsessiva refere-se a graus de incapacidade muito graves – neuroses
obsessivas com factores genéticos muito significativos – relação com algumas lesões
cerebrais muito específicas. A neurose obsessiva diz respeito a um menor grau de
incapacidade – factores mais psicológicos das neuroses.
Personalidade compulsiva
(isolada; acompanhada)
Em 90% dos casos trata-se de indivíduos muito inteligentes do ponto de vista
cognitivo, mas pouco inteligentes do ponto de vista emocional. Verifica-se uma grande
contenção emocional - dificuldade em exteriorizar, exprimir as emoções - nível verbal e
discurso.
Pessoas muito convencionais, adequadas à norma (“deve”/ “dever” muito frequente no
discurso) – aspiração sempre à perfeição. São pessoas com vinculação excessiva ao
sentido de dever, o que tem uma vinculação social positiva (traços muito reforçados
pelo meio social – o indivíduo é um paradigma do que ‘deve ser’). A grande
preocupação com a ordem (perfeccionismo) das coisas e das pessoas. – cada coisa
no seu lugar e cada lugar para uma coisa. A palavra ‘moderação’’ perturba muito.
Também se manifesta com as pessoas. Faz um conjunto muito variado de
racionalizações de relações amorosas.
Está presente igualmente uma absolutização (ou 8 ou 80, “as coisas ou são pretas ou
brancas!”). Intolerância à incerteza -que causa enorme ansiedade. Inflexibilidade e
rigidez estão presentes.
Personalidade compulsiva de base é bastante rara, corresponde a cerca de 4% de
todas as perturbações neuróticas. Com frequência é moderada ou muito grave –
incapacidade social e incapacidade psicológica. Desenvolvem-se muitas vezes, a nível
secundário, perturbações depressivas graves.
Ideias obsessivas que são geradoras de muita ansiedade, levam a actos compulsivos,
para aliviar.
d) Perturbações Somatoformes
Grupo de perturbações com manifestações sugestivas de doença física, ou seja, que
se manifestam ao nível do corpo, embora inexplicáveis pela condição física;
desproporcionados à situação médica; com repercussões importantes (familiar;
profissional). São muito variadas:
Perturbação de somatização
Indivíduo que apresenta um elevado grau de neuroticismo – patologia da
personalidade. Sintomas fundamentalmente físicos – múltiplos, vagos e mal
localizados. Estes sintomas são vários ao mesmo tempo – dores, perturbações
digestivas, perturbações do sono, perturbações sexuais, fadiga – graus variados de
incapacidade.
Tal como outros sintomas neuróticos, esta queixa permite obter ganhos secundários,
quanto mais não seja afecto dos outros.
Perturbação de conversão
Perturbação de personalidade histérica ou histriónica – sintomas físicos – doença
física a nível motor ou sensorial. Aparecem de forma súbita e repentina. Sugerem uma
doença física grave. Paralesia, perda de sensibilidade, ou perda de visão. Sintomas
que sugerem a doença física do sistema nervoso central que o indivíduo não tem.
Características:
aparecem subitamente mas num contexto emocional relevante – frustração;
atitude do próprio – no lugar de ficar ansioso, ou mesmo pânico – atitudes
de indiferença entre o que lhe está a acontecer.
Perturbação de dor somatoforme
A manifestação principal é a dor física (corpo) que não tem causas físicas – factores
causais psicológicos – característica do sintoma neurótico, que se desenvolve em
indivíduos com sintomas neuróticos de personalidade.
Dismorfofobias
Preocupação estética
Perturbação hipocondríaca
Preocupação com a saúde do corpo, nomeadamente, ansiedade sistematizada na
saúde corporal – objecto da ansiedade: corpo vivido (vivido na sua perda de saúde);
Não existe mais nada além da saúde e da doença, vive-se na bipolaridade corpo são/
corpo doente.
O discurso hipocondríaco é, portanto, perseverante – discurso enquanto modalidade
única. É, por vezes reforçado socialmente. “Portugueses falam de futebol, do tempo e
de doenças.”
Pode-se falar em hipocondria psicótica ou hipocondria neurótica.
conteúdos : cancrofobias, fobia da SIDA, cardiofobias, venereofobias, febre
de loucura,
tipos : neurose hipocondríaca; hipocondria associada a perturbações de
ansiedade e fobias; depressões; perturbações obsessivas e perturbações
orgânicas cerebrais;
e) Perturbações de Adaptação
Características:
manifestações emocionais relacionadas com o stress psicossocial
(“reactivas” – reacções vivências patológicas);
provocam limitações profissionais e pessoais;
acontecimentos precipitantes:
conflitos interpessoais;
dificuldades profissionais;
separação e divórcio;
reforma;
insucesso financeiro,
traumatismo físico;
7. Modelos Explicativos das Neuroses
Biológico
factores genéticos (plurifactoriais);
alterações diencefálicas (aumento da susceptibilidade ao castigo e às
recompensas) – perturbações de ataques de pânico, fobias sociais, neurose
obsessiva.
Comportamental
A neurose é um padrão de comportamento desadaptado aprendido por
condicionamento e que se mantêm por reforço (alívio do reforço / aprovação
social) – só funciona em alguém perturbado.
O sintoma alivia a ansiedade – reforço – temporariamente;
Aprovação social – reforço – (hipocondria)
Desenvolvimentista
A neurose desenvolve-se na consequência do desequilíbrio do Eu e
representação ameaçadora do mundo por dificuldade de identificação com a
figura parental e/ ou vivência duma situação de fragilidade.
Psicanalítico
É o modelo mais potente.
A neurose é a expressão simbólica do conflito intrapsíquico inconsciente,
originado no desenvolvimento infantil;
Existencial
A neurose reflecte a não realização / não abandono do projecto existencial;
Sociogénico
mais para reacções neuróticas do que para neuroses propriamente ditas
considera a neurose o resultado da falência no conflito com pressões sociais.
1. Introdução
Não se identificam através de manifestações clínicas, mas pela análise de traços de
personalidade.
Nível Sintomático Nível da Personalidade
Para a identificação de traços da personalidade requere-se a recolha de padrões de
relacionamento com os outros, interacção com o mundo. É um padrão aquilo que for
estável no tempo e numa variedade de situações.
As perturbações personalidade vêm do senso comum (“maus feitios”). Houve a
passagem deste construto para um nível científico, no entanto, tal não foi pacífico. A
polémica mantêm-se pela existência de duas correntes interpretativas/ avaliativas da
personalidade.
Modelo Categorial/ Tipológico – tenta-se discriminar as categorias
Modelo Dimensional – em que se discriminam as dimensões da
personalidade. São mais correcto, mas têm menos aplicação prática
A abordagem aqui focada é a correspondente ao DSM IV
2. Percurso Histórico
Pinel (1809) – identifica uma categoria – a mania sem delírio. Tal teve grande
importância, uma vez que, até a altura, a psicopatologia dividia-se apenas em
neuroses e psicoses.
Pritchard (1837) – Chama a atenção para as perturbações categoriais,
publicando um livro – Análise do Carácter, em que alerta para o facto dos
traços caracteriais funcionarem como resistência. Diz dos traços que são
muito rígidos (armadura caracterial), tendo de ser derrubados.
Perturbações da Personalidade
nota
Personalidade
Carácter
Traços que se formam na relação com os outros,
sendo importante a relação precoce com figuras
significativas (a Psicanálise sobrevaloriza o
carácter)
Temperamento
Traços de personalidade com origem biológica (as
teorias biológicas sobrevalorizam o
temperamento)
Schneider (1934) – descreve as perturbações psicopáticas, que actualmente
correspondem às perturbações da personalidade
3. Aspectos Clínicos que se aplicam a todas as Perturbações da Personalidade
Situam-se entre as psicoses e as neuroses, mas noutro plano (não
sintomático). As pessoas com perturbações da personalidade estão dentro da
realidade, como os neuróticos (não há actividade delirante), mas, tal como os
psicóticos, não reconhecem a patologia.
Resposta inflexível, não adaptada ao stress.
A capacidade de amar e trabalhar está geralmente afectada, já que têm
dificuldades no relacionamento interpessoal.
Há tendência para conflitos interpessoais e para provocar rejeição nos outros.
Não aprendem com os erros e o sofrimento psíquico é aceite como imutável.
Os traços caracteriais são
Aloplásticos – porque se reflectem nos outros
Egossintónicos – dificuldade no reconhecimento da patologia
Os traços mais patológicos têm tendência a diminuir com a idade
3.1 Diagnóstico Diferencial
Patologias que se podem confundir com perturbações da personalidade
Patologias com causas orgânicas – quando há viragem brusca da
personalidade
Alcoolismo
Abuso de opiáceos
Simulação
4. Perturbações de Personalidade – DSM IV
Grupo A Grupo B Grupo C
Perturbações cujo
funcionamento está próximo
de uma psicose, no sentido
da bizarria, excentricidade e
desadequação social
Perturbações com as
seguintes características:
egocentrismo, impulsividade
Perturbações próximas do
funcionamento neurótico
Paranóide
Esquizóide
Esquizotípica
Anti-social
Estado limite
Histriónica
Narcísica
Evitante
Dependente
Obsessivo-Compulsivo
Outras não especificadas
Frequência igual nos dois
sexos
Mais frequente nos homens
a anti-social e narcísica
4.1 Grupo A
Perturbação Esquizóide
Considerada, primeiramente, uma situação pré-mórbida, anunciadora de um posterior
surto psicótico. Só com Schneider se considera a esquizóidia como uma
personalidade patológica qualitativamente diferente do processo esquizofrénico;
embora façam parte, juntamente com as personalidades esquizotípicas, de um
espectro esquizofrénico.
Há que perceber se a perturbação da personalidade acontece antes ou depois do consumo
Na sua descrição é possível distinguir dois aspectos: por um lado, a pobreza da vida
afectiva e relacional com introversão marcada e, por outro, o aparecimento de uma
forma minor de dissociação do pensamento e autismo.
O diagnóstico é dado pela existência de um padrão persistente de indiferença às
relações sociais e capacidades diminuídas para experimentar e exprimir emoções.
Os sujeitos perturbados escolhem actividades solitárias, não têm amigos íntimos nem
confidentes e aparentam frieza e distância.
Devem distinguir-se da perturbação de personalidade evitante, na qual o isolamento
social é devido à hipersensibilidade à rejeição, com permanência do desejo de
estabelecer relações.
Personalidade Esquizotípica
A presença de peculiaridades ideativas, na aparência, no comportamento ou ainda no
campo do relacionamento interpessoal, começando no início da idade adulta, aponta
para o diagnóstico de personalidade esquizotípica, desde que estas características
não sejam suficientemente acentuadas para preencherem os critérios de
esquizofrenia.
A nível do pensamento podem existir ideias bizarras e pensamento mágico, em
desacordo com as normas culturais.
O discurso mostra peculiaridades acentuadas, podendo apresentar-se digressivo,
vago ou abstracto; os conceitos expressos são expressos de forma bizarra e as
palavras são usadas de modo a provocar reacções de estranheza nos outros.
Os comportamentos são excêntricos e a aparência pode ser desleixada com
maneirismos ou falando sozinhos.
As relações interpessoais são invariavelmente perturbadas.
Personalidade Paranóide
A descrição clássica das personalidades paranóides comporta quatro elementos
principais: a hipertrofia do eu é o traço principal que se exprime pelo orgulho; a certeza
de ter razão; o desprezo, desqualificação ou exploração dos outros; rigidez e
intolerância que roça o fanatismo.
A desconfiança domina as relações com os outros e vai desde o sentimento de ser
incompreendido, não estimado, isolado, à suspeita activa e à interpretação das
atitudes alheias como hostilidade sistemática. Alimenta ideias megalómanas de
perseguição, crime, erotomania...
Os erros de julgamento compreendem-se a partir da submissão do processo lógico às
posições afectivas.
Por fim, a anadaptabilidade é o resultante social destas atitudes psicológicas.
As dificuldades relacionais dos domínios familiar, profissional e pessoal, levam a um
isolamento social e a uma retirada do investimento no próprio, o que acentua os outros
traços.
Estes indivíduos são geralmente litigantes, com tendência para exagerar as
dificuldades, hipervigilantes, tendendo a evitar a culpa própria, mas quando tal se
justifica.
Revelam extrema dificuldade em aceitar críticas dirigidas a si próprio, evita a
intimidade, ostentando um necessidade excessiva em serem auto suficientes.
Deve fazer-se o diagnóstico diferencial com as psicoses paranóides e esquizofrénicas,
na medida em que nestas últimas existem sintomas psicóticos persistentes (ideias
delirantes e alucinações), que não fazem parte da perturbação de personalidade
paranóide.
4.2 Grupo B
Personalidade Anti-social (personalidade psicopática)
Esta perturbação, conhecia classicamente como psicopatia, apresenta uma biografia
típica com início na infância onde se acumulam desde logo: fugas de casa, absentismo
escolar, crueldade com pequenos animais ou crianças mais pequenas, mentiras
patológicas, fogo posto e pequenos roubos.
Durante a adolescência estes indivíduos agravam as características pré-existentes
como instabilidade e impulsividade com ocasião para passagem ao acto repetidas, tais
como delitos vários, tentativas de suicídio, violência, abuso de álcool e drogas e
experiências sexuais não usuais para o seu grupo etário.
Quando procuram ajuda, geralmente coagidos, queixam-se de insatisfação pessoal,
incapacidade para tolerar o aborrecimento e humor disfórico.
A perturbação é incapacitante resultando na falência de autonomia e auto-suficiência,
com muitos anos de institucionalização, geralmente do tipo penal.
São conhecidos factores predisponentes tais como instabilidade e síndrome de
hiperactividade com défice de atenção na infância, assim como abuso sexual,
crescimento sem figuras parentais ou ausência de disciplina consciente.
A prevalência na população geral é de cerda de 3% nos homens e menos de 1% nas
mulheres.
Deve fazer-se o diagnóstico diferencial quer com a criminalidade comum não atribuível
a doença mental quer com abuso de substâncias.
Neste último caso, o comportamento anti-social é anterior ao consumo.
Episódios maníacos podem estar associados com comportamento anti-social. No
entanto, a natureza episódica destes comportamentos exclui o diagnóstico de
personalidade anti-social.
Personalidade Limite
A noção de personalidade borderline com origem na teoria psicanalítica, impôs-se
progressivamente ao longo dos últimos 50 anos.
Deve ser evitada como saco sem fundo diagnóstico quando não é possível o doente
ser enquadrado na classificação de neurose ou psicose.
Pelo contrário, o diagnóstico está sujeito a critérios precisos tais como: padrão global
de instabilidade aos níveis do humor, relações interpessoais, profissional e afectiva.
Impulsividade em áreas potencialmente auto-lesivas, como por exemplo, consumo de
substâncias, auto agressões, excesso de velocidade…
Baixa tolerância à frustração com descontrolo dos impulsos e tendência fácil para
passagem ao acto, sentimentos crónicos de aborrecimento e vazio e difusão da
identidade quer a nível da auto imagem, orientação sexual ou escolha de objectivos e
valores.
Dos aspectos estruturais psicodinâmicos presentes nesta perturbação, salientamos a
perturbação da identidade, utilização de mecanismos de defesa primitivos (clivagem,
negação, identificação projectiva e idealização primitiva) e teste de realidade mantido.
As complicações possíveis incluem crises depressivas, abuso de substâncias,
episódios psicóticos breves ou morte prematura por suicídio. Este perturbação é mais
frequente em mulheres.
Personalidade Narcísica
A DSM IV utiliza a designação de personalidade narcísica para um padrão global de
grandeza em fantasia ou comportamento, hipersensibilidade à avaliação dos outros e
ausência de empatia.
De modo frequente estes sentimentos de grandeza alternam com sentimentos de auto
desvalorização.
A auto-estima é frágil, sendo compensada por uma necessidade exibicionista de
constante atenção e admiração. Em resposta à crítica respondem com raiva, vergonha
ou humilhação.
No relacionamento amoroso manifestam ausência de empatia, sendo o parceiro
considerado um prolongamento de si próprios.
Muito preocupados com fantasias de êxito ilimitado, poder, brilho ou beleza, reagem
com inveja intensa em relação àqueles que são percebidos como tendo maior êxito.
Associa-se muitas vezes às personalidades histriónica, borderline e anti-social.
Uma complicação frequente é a depressão, quando o indivíduo atinge a idade média
de vida, apercebendo-se das suas limitações físicas e de que não alcançará todo o
sucesso desejado.
Personalidade Histriónica
Os comportamentos sedutores com conotação sexual, excessiva emocionalidade,
teatralidade e procura de atenção, caracterizam esta patologia.
As pessoas com perturbação histérica procuram constantemente encorajamento,
aprovação e o elogio dos outros, exprimindo as suas emoções de modo
desproporcionado.
Vivem centrados sobre si próprios, com baixa tolerância à frustração, dirigindo as suas
acções para a obtenção de satisfação imediata.
Extremamente preocupados coma aparência física, geralmente atraentes e sedutores,
podem parecer brilhantes aos olhos dos outros. Necessitam constantemente de
novidade, estimulação e excitação, aborrecendo-se rapidamente com a rotina.
São percebidos como superficialmente encantadores, mas pouco verdadeiros.
Revelam pouco interesse na actividade intelectual e no pensamento analítico, mas são
frequentemente criativos e imaginativos.
As relações interpessoais são caracterizadas por uma exuberância facilitadora de
novos contactos, sendo contudo impressionáveis e facilmente influenciáveis.
Apresentam com frequência queixas físicas; mais frequente no sexo feminino.
4.3 Grupo C
Personalidade Evitante
Conhecida classicamente como personalidade fóbica, era descrita em termos dos
comportamentos ligados à timidez com evitamento das situações relacionais, sempre
que a proximidade implicasse sexualidade ou agressividade.
Em estado de alerta e de hiper vigilância em situações percebidas como perigosas ou
a tudo o que as possa representar simbolicamente, podem utilizar a fuga para a frente
como defesa.
O DSM IV utiliza a expressão personalidade evitante para descrever um padrão
persistente de desconforto social, medo de avaliação negativa e timidez.
São facilmente magoados pelo critica e muito susceptíveis ao mais pequeno sinal de
desaprovação, são retraídos, sem amigos intimos ou confidentes. Anseiam, no
entanto, por afecto e aceitação.
Os perigos físicos e os riscos envolvidos em atitudes vulgares, mas fora de rotina, são
amplamente exagerados. A fobia social pode ser uma complicação desta perturbação,
distinguindo-se dela pelo facto do evitamento ser feito mais para situações específicas,
do que globalmente as situações sociais.
Personalidade Obsessiva
Pessoas que investem muito na ordem, obstinação e economia (o que Freud chama
tríade anal).
O DSM IV aponta como características essenciais desta perturbação o perfeccionismo
e a inflexibilidade. A preocupação excessiva com as regras, eficiência e pormenores
insignificantes, prejudicam as suas actividades, privilegiando o trabalho e a
produtividade em relação ao lazer a às relações inter-pessoais.
Os sujeitos são excessivamente conscienciosos, moralistas e escrupulosos no
julgamento de si próprios e dos outros, avarentos, convencionais e adiam
sucessivamente a tomada de decisões.
A perturbação é mais frequente no sexo masculino, sendo vulgares complicações da
linha depressiva.
Personalidade Dependente
Os sentimentos de apego e dependência são universais. Contudo, quando aparecem
em excesso tal pode-se tornar problemático.
O DSM IV insiste no comportamento submissivo e dependente, com incapacidade
para tomar decisões quotidianas e consentindo que os outros assumam a
responsabilidade de decidir sobre assuntos importantes das suas vidas.
Sentindo-se desconfortáveis ou desesperados quando sozinhos, fazem grandes
esforços para evitar esta situação, concordando com as outras pessoas mesmo
quando acredita que estas estão erradas, com medo de rejeição e abandono.
São comuns sintomas como a ansiedade e a depressão, assim como a subvalorização
das suas capacidades e autocrítica exagerada.
É aparentemente mais comum no sexo feminino.
Perturbações da Personalidade não especificadas
Utiliza-se esta categoria quer em relação a quadros mistos em que haja traços de uma
perturbação de personalidade específica, quer ainda em relação a perturbações de
personalidade que o clínico julgue aproximadas, embora não façam parte desta
classificação por necessitarem de investigação adicional; como sejam os casos de
perturbação de personalidade impulsiva, imatura, auto-destrutiva e sádica.
5. Modelos Explicativos das Perturbações de Personalidade
Biológico
Gémeos monozigóticos têm mais perturbações deste tipo que gémeos
dizigóticos
Trabalhos de ... e Sheldon tentaram relacionar alguns traços de personalidade
com a forma do corpo
Thomas e Chess (1977) fizeram um estudo longitudinal (dos 3 aos 20 anos),
em que confirmaram que alguns traços se fixam muito precocemente.
Psicodinâmico
Tem em atenção tanto os comportamentos das pessoas, como os critérios estruturais.
Distingue três organizações psicopatológicas de peso:
Neurótica
Psicótica
Borderline
Definidos por três critérios
Integração da personalidade
Mecanismos de defesa (de alto nível do tipo neurótico, tendo defesas dos
outros grupos – B e C)
Teste de realidade (mantido nos neuróticos e borderline e alterado nos
psicóticos)
1. Características universais nas psicoses
Presença de manifestações psicóticas
Delírios
Alucinações
Perturbação do juízo Crítico
Não é capaz de fazer uma avaliação correcta do que é real ou imaginário,
tomando como real o imaginário. Não tem
Distanciamento em relação à realidade
O facto de acreditar na existência de factos que não existem a não ser para o
próprio, faz com que o indivíduo se distancie da realidade partilhada pelos
outros, isto é, a sua neorealidade faz um corte com a realidade comum.
Este distanciamento confere incoerência do pensamento / discurso e
também comportamento.
Consequências pessoais, familiares e sociais
Psicoses
Principais manifestações
2. Tipos de Psicoses
2.1 Psicoses Orgânicas
São estados psicopatológicos resultantes de efeitos directos ou indirectos de
alterações orgânicas cerebrais, funcionais ou estruturais, sendo que a disfunção
cerebral pode ser transitória ou permanente.
Factores Causais Principais
Traumáticos – por exemplo, traumatismo craniano
Vasculares – por exemplo, arteriosclerose cerebral
Tóxicos – resultantes de intoxicações agudas ou crónicas de álcool, heroína
ou cocaína
Infecciosos – infecções no sistema nervoso central, por exemplo meningites
ou, mais frequentemente, encefalites
Degenerativos – a situação mais relevante é a doença de Alzeimer (perda
substancial de massa cinzenta do córtex e sua substituição por placas de
nome Alzeimer)
Podem ser de dois tipos:
a) Perturbações Cognitivas Generalizadas
Manifestam-se por défices progressivos cognitivos permanentes e amplos (memória,
percepção, pensamento...). O sujeito pode ter consciência disso (arteriosclerose), ou
não (doença de Alzeimer). São acompanhadas de demência ou delírios. Neste último
caso, a perturbação é classificada como Perturbação psicótica orgânica aguda
transitória (ingleses) ou Estados confusionais ou confuso-oníricos (franceses)
b) Perturbações Cognitivas Selectivas
Traduzem-se num estado amnésico. São normalmente provocadas pelo abuso de
álcool – síndrome de Korsakov
Grupos de Risco
Idosos – mais predispostos à demência
Jovens (15- 25/30 anos) – como consequência dos traumatismos cranianos
provocados por acidentes, mais frequentes nestas idades ou pelo abuso de
substâncias.
2.2 Psicoses Esquizofrénicas
Psicoses esquizofrénica breve/ reactiva – até 3 semanas
Perturbações Esquizomorfas ou Esquizoformes – duração de 3 semanas a 6
meses. Estados transitórios que podem até não voltar a repetir-se
Psicoses Esquizofrénicas
Definição
CID (OMS)
Grupo de psicoses, cujo transtorno fundamental é uma alteração de
personalidade, distorção das características do pensamento, com sentimento de
ser controlado por forças externas, ideias delirantes, afecto alterado, sem relação
com a situação real e autismo.
DSM (APA)
Perturbações caracterizadas por deterioração do nível de funcionamento anterior
(profissional, social, cuidados pessoais), perturbação do pensamento (forma e
conteúdo), do afecto, da percepção, da relação com o mundo, aparecimento
antes dos 45 anos e duração de, pelo menos, 6 meses
Manifestações psicológicas - 4 níveis:
Perturbação do pensamento (comum nas psicoses hebefrénicas, que
começam aos 14/15 anos):
Forma – ruptura do processo associativo, não havendo relações
lógicas, que provocam desorganização e desagregação do
pensamento.
Conteúdo – Dominam delírios de influência ou de perseguição, no
caso das esquizofrenias tipo paranóide.
Perturbação da percepção
Existência de alucinações, sendo que dominam as auditivas, as
psico-sensoriais ou psíquicas.
Perturbação do afecto
Mudança dos afectos em relação aos familiares próximos (de
positivo a agressivo)
Progressiva diminuição da resposta emocional – o indivíduo torna-
se menos reactivo, deixando de haver reacção afectiva – frieza
afectiva. Pode existir igualmente afectos sem relação ou afectos
discordantes.
Perturbação do comportamento
Existe um movimento de introversão, com retirada autista (não
relação)
Manifestações de 1ª linha (Kurt Schneider, 1958)
“fortemente sugestivas”, mas não exclusivas
Fenómenos Alucinatórios
Sonorização do pensamento, duas ou mais vozes comentando as acções do
sujeito.
Fenómenos Delirantes
Influencia no pensamento e nos actos - Imposição do pensamento/ roubo do
pensamento/ divulgação do pensamento/ sensações corporais impostas/
percepção delirante
2.3 Psicoses Afectivas
Grupos de Psicoses, cujo transtorno fundamental é uma alteração do humor e dos
afectos
No sentido depressivo
No sentido maníaco
De alternância entre mania e depressão
Tipos Principais
1- Perturbações afectivas Unipolares
Episódios depressivos psicóticos sem episódios maníacos
Aparece em pessoas mais velhas (mais de 40 anos) que não têm
antecedentes familiares semelhantes.
Quase sempre antes de desenvolver a psicose unipolar apresentava
perturbação de personalidade com aspectos do funcionamento obsessivo e
de dependência dos outros – personalidade pré-melancólica
Os episódios prolongam-se tendencialmente por 6 meses.
A proporção entre sexos é de 2 mulheres : 1 homem.
2- Perturbações Afectivas Bipolares
Episódios depressivos e maníacos alternados ou apenas episódios
maníacos.
Na maioria dos caso esta patologia é antecedida por uma perturbação da
personalidade ciclotímica.
Aparecem principalmente em indivíduos jovens (20 anos), numa proporção
igualitária entre sexos.
História familiar positiva.
Episódios que dura tendencialmente 3 meses.
1. O que são e o quais são os Comportamentos Auto Destrutivos
Comportamento auto destrutivo
Comportamento que ocorre quando um indivíduo tenta fazer mal a si próprio.
De ressalvar que as expectativas são diversificadas, variando entre o desejo genuíno
de morrer, entre o desejo de escapar à morte e a não existência de expectativas
definidas (deixar a morte ao acaso).
Tipos de Comportamentos Auto destrutivos
Suicídio
Comportamento auto destrutivos, cujo resultado é a morte do próprio
Tentativa de Suicídio
Comportamento que corresponde a um acto deliberadamente auto destrutivo,
do qual o indivíduo escapa de morrer.
Para suicídio
Comportamento auto destrutivo que não tendo uma relação directa com o
desejo de morrer pode resultar nisso.
Ex. um indivíduo com insuficiência renal crónica terá de fazer hemodiálise e
falta a algumas sessões, assim como deliberadamente faz erros alimentares.
Ex2. Um indivíduo ingere uma grande quantidade de substâncias, podendo
ter uma overdose (relacionado com o desafio de limites, a ocorrência de
morte é deixada ao acaso, se algo correr mal o indivíduo pode morrer).
Comportamentos Auto Destrutivos
Diferentes perfis constituídos por tendências estatísticas significativas
Suicídio Tentativa de Suicídio
Sexo Homem (2 a 3: 1) Mulher (2:1)
Idade (*1) Mais velhos (45-55 anos) Mais jovem (20-30 anos)
Motivos (*2) Separação e divórcio
Crises situacionais (Luto, decepção amorosa, conflito interpessoal); situação social (desemprego, dificuldades económicas – falta de suporte social)
Psicopatologia (*3)
Psicopatologia prévia: depressão, psicoses e alcoolismo
Psicopatologia prévia (neuroses)
Métodos (*4)Principalmente meios físicos e químicos (também ingestão de medicamentos)
Principalmente medicamentos (também meios físicos e químicos)
Nota (*1) – as taxas de suicídio aumentam com a idade, no entanto, na adolescência o
suicídio é a segunda causa de morte, a seguir aos acidentes.
Nota (*2) – muitas vezes estes acontecimentos desencadeiam uma crise suicida, altura
em que a pessoas está deprimida e tem ideação suicida.
Nota (*3) – pode não haver psicopatologia associada (10 – 15% dos casos).
Nota (*4) – o suicídio está mais relacionado com meios físicos e químicos violentos
(letalidade muito elevada). No entanto, a intencionalidade suicida não pode ser
avaliada apenas pela gravidade do método usado.
Verifica-se que, nestes casos, existe uma predominância de história familiar positiva,
isto é, naquela família já houve outras pessoas que se suicidaram ou se tentaram
suicidar. Tal pode-se dever a um processo de aprendizagem social (imitação ou
modelagem), ou pela doença aniversário (muitas pessoas suicidam-se no aniversário
da morte de um ente querido). De ressalvar que no caso das psicoses existe um factor
genético que explica 15% dos suicídios.
2. Factores Causais dos Comportamentos Auto Destrutivos
São vários os factores causais das condutas auto destrutivas, nomeadamente do
suicídio, podendo estes agrupar-se em três condições: problemas situacionais,
doenças físicas e psicopatologia propriamente dita.
Problemas situacionais
Verifica-se que o indivíduo confronta-se com situações indutoras de stress (mais
frequentemente crises pessoais associadas a luto, separação, divórcio,
dificuldades económicas, desemprego, etc.), podendo desenvolver uma
perturbação de ajustamento e ser conduzido ao suicídio.
Doenças físicas
Doenças físicas que provocam incapacidade são incuráveis/ terminais ou que
comportam dor crónica, têm uma probabilidade de desenvolver condutas auto-
destrutivas, como o suicídio, até porque estas situações costumam estar
associadas a depressões reactivas, principalmente quanto mais novo for o sujeito
e quanto mais repentino for o acontecimento.
Psicopatologia
Os comportamentos auto destrutivos atravessam toda a psicopatologia, estando
fortemente relacionados com ela, tema que desenvolvemos em seguida.
3. Relação entre Comportamentos Auto destrutivos e Psicopatologia
Perturbações depressivas
A patologia mais associada ao suicídio, estimando-se que aumenta a
probabilidade de suicídio em vinte e quatro vezes. Podemos diferenciar as:
Depressões psicóticas, cujo protótipo são as psicoses maníaco-depressivas,
onde os motivos estão associados à libertação do sofrimento e às ideias
delirantes de culpa;
Depressões neuróticas, onde o os comportamentos auto destrutivos surgem
numa dinâmica interpessoal, nomeadamente a hetero-agressão, a obtenção
de afecto e a manipulação do outro;
Depressões reactivas, cuja finalidade principal identificada é o apelo, o
pedido de ajuda para acabar com o sofrimento.
O suicídio ocorre normalmente na altura do dia em que o humor está mais
deprimido, o que corresponde às manhãs nas depressões psicóticas, ao fim da
tarde nas neuróticas e ao início da noite nas reactivas.
Alcoolismo e dependência de drogas
Existe uma associação destes casos à depressão reactiva (dificuldades muitas
vezes decorrentes do próprio consumo), sendo que o que funciona em termos de
autodestruição é o próprio consumo. Muitas vezes, o impulso auto-destrutivo é
deixado ao acaso, sem uma intencionalidade bem definida (eg. poder ter, ou não,
uma overdose)
Psicoses esquizofrénicas
Estima-se uma probabilidade de suicídio três vezes superior à da população em
geral. Aqui o suicídio poderá ter lugar em três contextos: numa fase inicial, quando
não há muitos delírios, mas uma angústia psicológica marcada associada a
fenómenos de despersonalização; numa fase mais avançada, pela presença de
alucinações auditivas que dão ordens de auto-destruição, de notar que o indivíduo
não tem juízo crítico; ou quando o indivíduo começa a melhorar e a ter consciência
da sua doença, já que pode desenvolver uma depressão pós-psicótica.
Psicoses Orgânicas
Estados confusionais – o suicídio é uma consequência catastrófica, uma vez
que o sujeito não tem intenção de se matar, mas por causa da sua
desorientação tal pode acontecer.
Demências – nas fases iniciais de demência o sujeito pode ainda ter
consciência que está a perder capacidade, o que origina uma depressão por
incapacidade.
Neuroses
Aqui predominam as tentativas de suicídio.
Neurose Obsessiva – depressão uma vez que não consegue lutar contra as
ideias obsessivas
Neuroses histriónica - significado predominante a agressão contra o outro,
assim como o ganho secundário (manipulação)
Depressão subsequente aos ataques de pânico (incapacidade)
4. Prevenção do Suicídio
Evolução das Ideias de Suicídio
“A ideia suicida é a ponta da navalha a remexer no golpe até ao desespero decisivo”
Teixeira de Pascoaes
Fase 1 – Tem a ideia de suicídio, entre outras
Fase 2 – Aumento da frequência da ideia de suicídio
Fase 3 – Luta interna contra as próprias ideias
Fase 4 – Receptividade à informação
Fase 5 – Decisão suicida
No período de ambivalência existe, na maioria das vezes, avisos feitos a diferentes
pessoas. Estas comunicações podem ser directas (“estou a pensar em matar-me”) ou
não tão directas (“estou muito cansado, já me custa viver”).
Em termos de prevenção é particularmente importante que haja uma intervenção
nesta altura.
Entrevista de Avaliação do Risco de Suicídio
O objectivo é perceber o significado psicopatológico do suicídio de forma a definir a
estratégia mais adequada.
Perguntas:
Desejou alguma vez matar-se ?
Tem pensado em ferir ou matar-se?
Já tentou alguma vez? Quando e como ?
Ultimamente tem tido ideias de se matar?
Tendo pensado, pensou como ?
Pensou matar mais alguém?
Ideação suicida
Ambivalência
A partir deste momento já não há prevenção possível
Ao contrário do que muitas vezes se pensa, a possibilidade de falar no assunto é
muitas vezes aliviante e preventiva.
O risco de suicídio é avaliado em termos de determinados factores: sexo, idade,
depressão, tentativas anteriores, abuso de álcool, plano organizado, vontade muito
forte, suporte social escasso, ausência de ganho secundário, doença física.
Tipo ideal de suicida: homem de 75 anos, viúvo, deprimido há três meses, já fez
tentativas de suicídio, considera que não tem nada a perder, consome bastante álcool,
não tem amigos, nem suporte social, diagnosticado um cancro na semana anterior.
1. Consequências para a Integração Social
(esta é uma área eminentemente de outros técnicos, mas os psicólogos podem e
devem desenvolver competências a este nível)
As consequências para a integração social situam-se a vários níveis:
redução do suporte social;
insucesso escolar
desemprego;
problemas legais;
pobreza e sem abrigo;
acidentes;
Técnicos de Saúde Mental
Funções de prevenção e identificação precoce de qualquer tipo de desadequação
ao nível da integração social. Deverão actuar no sentido de promover e aumentar
a competência de outros técnicos.
No contexto actual, no nosso sistema de saúde, os cuidados não são prestados
em equipa, quando esse é um dos aspectos fundamentais para o sucesso da
prevenção/intervenção no domínio da saúde mental. Os técnicos das diferentes
áreas trabalham isoladamente (cada um dos técnicos de saúde mental procede
independentemente à avaliação e diagnóstico dos indivíduo que lhe são
apresentados. O psiquiatra faz o seu diagnóstico independentemente do psicólogo,
do dermatologista, etc., etc. e vice-versa. Cada qual trabalha e actua apenas no
nicho que domina sem estabelecer relações com outras zonas técnicas de
prevenção, avaliação e diagnóstico). Acontece frequentemente que uma pessoa
com saúde mental deteriorada seja diagnosticada e avaliada por um técnico
isoladamente.
O facto de um indivíduo ter uma perturbação mental pode ser um viés ao nível da
avaliação por outras disciplinas. Outros médicos (que não de saúde mental)
podem negligenciar diversos aspectos da sua sintomatologia pelo simples facto do
Consequências da Psicopatologia
indivíduo ser doente mental. A queixa não é levada a sério. Entende-se portanto
que, ainda hoje, ter uma doença mental é um risco para a saúde.
Redução do suporte social
As redes de suporte social (família, amigos, trabalho) são muito importantes para a
nossa adaptação e suporte psicológico. O que se recebe dos outros é muito
importante. O suporte social é um factor fundamental para evitar que acontecimentos
indutores de stress tenham consequências graves para a saúde mental e física do
indivíduo.
Quando se fala de suporte social, está-se a falar de suporte social de qualidade – que
se caracteriza por ser um suporte social percepcionado como estando presente
quando é preciso. É esta percepção, e a sua concretização na prática, que é o suporte
social de qualidade. Funciona como tampão ou amortecedor dos efeitos negativos que
o stress pode ter sobre a saúde.
Para evitar esses efeitos negativos do stress, é necessário estabilizar o suporte social
de qualidade dos indivíduos.
Diferentes perturbações mentais podem alterar (diferentemente) as redes sociais do
indivíduo.
Exemplo: Psicoses esquizofrénicas ou algumas perturbações de personalidade
Que perturbações da personalidade vão acarretar diminuição do suporte social? (ex.
perturbações do tipo paranóide – as pessoas não estão para aturar aquela
agressividade, são as pessoas que se afastam, neste caso). (ex. perturbação anti-
social – rouba, cheques sem cobertura, etc.).
As pessoas tendem a afastar-se de pessoas com grande instabilidade emocional
(border-line, perturbação esquizóide – é o indivíduo que se retira). Na perturbação
esquizóide existe uma certa tendência para a prazo se instalar um certo isolamento.
Por um lado há movimento de afastamento em que o indivíduo se isola, se retrai –
retirada social. Por outro lado, o seu comportamento estranho afasta as outras
pessoas.
Consequência – redes sociais muito pequenas – rede social de 2 a 3 pessoas (quando
o normal são 30 pessoas)
Indivíduos muito desprotegidos, não beneficiam do efeito tampão ou amortecedor.
Atenção: esta relação não é linear. Não é só quantidade mas também qualidade.
A psicopatologia pode afectar outras áreas do desenvolvimento
insucesso escolar – perturba o sucesso escolar;
- psicoses infantis;
- psicoses na adolescência;
O maior risco encontra-se ao nível da patologia psicótica – o indivíduo não deixa de ter
a eficiência cognitiva, mas a perturbação vai desorganizar os comportamentos
intelectuais (ex. concentração – capacidade de estudo necessária para essa trajectória
de sucesso). Estas problemáticas também se podem alargar aos jovens adultos,
adolescentes. Por outro lado, é óbvio que existem as debilidades.
Integração profissional
Há um problema sério. Pode haver uma relação estreita entre a perturbação mental e
desemprego. As perturbações mentais podem conduzir ao desemprego. Há um certo
risco que pessoas com perturbações mentais perderem os empregos, sobretudo
quando são empregos com vínculos precários. Por outro lado, estar desempregado há
muito tempo (desemprego de longa duração) pode desencadear perturbações mentais
(pelo stress). Desemprego de longa duração = stress.
Quais os indivíduos que correm maior risco?
Sobretudo os indivíduos com psicoses (sobretudo com esquizofrenias). Se a
esquizofrenia surge durante a adolescência o indivíduo vai ficar (com muita
probabilidade) com um nível de habilitações baixo (desiste da escola). O
sujeito pode nem sequer conseguir entrar no mercado de trabalho.
Outra situação relativamente frequente é o desenvolvimento de uma
esquizofrenia mais tardia, um indivíduo já se encontrava integrado e
perturba-se. Perde o emprego, por atitudes e comportamentos ligados à
patologia. Perdendo o emprego torna-se muito difícil encontrar outro.
O desemprego de uma maneira ou de outra pode espreitar estas pessoas -
esquizofrénicos.
Temos ainda, dentro das psicoses, as maníaco-depressivas, de tipo bipolar.
Que começam subitamente e têm um impacto significativo na situação
profissional. Conduzindo a períodos longos de ausência e baixa prolongada.
Não é necessário referirmo-nos a patologias tão graves para falarmos de
baixas muito longas. Pessoas com perturbações de ansiedade (agorafobias)
podem permanecer longos períodos sem trabalhar, a perturbação impede o
indivíduo de sair de casa, não podendo deslocar-se até ao emprego.
Perturbações agorafóbicas – fobias múltiplas e defesas, o sujeito desenvolve
medos fóbicos e defesas, não se afasta de casa com medo que lhe aconteça
alguma coisa.
Perturbações por dependência de substâncias – álcool e drogas. Dificuldade
em conservar os empregos. Problemas laborais, conflitos no local de
trabalho. São pessoas que têm, com enorme frequência, acidentes. O
alcoolismo crónico e as toxicodependências são outras varáveis de risco em
relação à adaptação profissional.
Perturbações de personalidade que se traduzem em temas de instabilidade
ao nível das relações afectivas. Os indivíduos envolvem-se facilmente em
conflitos, também no local de trabalho.
Finalmente, convém recordar que as dificuldades profissionais (diminuição
do rendimento profissional) são, por vezes, a primeira manifestação de
psicopatologia até aí desconhecida. Esta perturbação profissional é
reveladora, em alguns casos, de perturbação mental. Sobretudo nos casos
de psicoses orgânicas - primeira manifestação de uma perturbação orgânica
cerebral. Evoca a possibilidade do indivíduo estar a desenvolver uma
demência.
(+ 45 anos) – arteriosclerose cerebral e
Alzheimer;
(- 45 anos) – traumatismos cranianos e
HIV;
Problemas legais
(Pode haver alguma relação entre psicopatologia e justiça.)
Perturbações mentais que mais frequentemente conduzem a problemas com a justiça
Perturbação de personalidade anti-social e borderline - impossibilidade de
se obedecer ao normativo social. Um dos critérios para a sua identificação é
a existência de problemas com a justiça e comportamentos delinquentes ou
criminosos sem aprendizagem (o facto de haver sanção não implica
reabilitação ou aprendizagem com a experiência).
Criminalidade associada à dependência das drogas. Há 20% mais
dependência das drogas como o álcool, que é legal e está associado a baixa
criminalidade, que das restantes drogas. Problemas legais ligados às drogas
- droga e álcool.
2. Consequências para a Saúde Física
Diferença entre o que é um tratamento e uma reabilitação:
tratamento - é uma ajuda que se pode proporcionar através de técnicas e
dirige-se ao controle da perturbação – trata-se a perturbação;
reabilitação e inserção social – dirige-se não à perturbação mas à pessoa,
promover competências a nível social e profissional, que lhe permita viver de
forma contínua.
Tratam-se de dois conceitos distintos mas indispensáveis na acção sobre os
indivíduos perturbados. São conceitos que se complementam.
O trabalho em equipa é efectivamente eficaz – proporcionando a relação entre o
tratamento e a reabilitação. É necessário tratar a perturbação mental para que o
indivíduo possa participar em programas de reabilitação. Tratar a perturbação mental é
uma condição necessária mas não suficiente.
O tratamento e a reabilitação, tanto quanto possível, devem ser simultâneos – ao
mesmo tempo. Quando se começa a tratar começa-se a integrar.
Ligação entre comportamento patológico mental com os comportamentos relacionados
com a saúde física.
Envolvimento em comportamentos de risco para a saúde
Os comportamentos de risco são comportamentos através dos quais o indivíduo
aumenta a probabilidade de vir a adoecer consequência do seu comportamento
(ex. fumar).
O nosso envolvimento em comportamentos de risco aumenta a probabilidade de
se desenvolver uma doença relacionada com esse comportamento.
Há muitos comportamentos de risco, alimentação, condução, relações
desprotegidas, etc.
Importa enfatizar que as pessoas com perturbações mentais, quando comparadas
com as pessoas sem perturbações mentais, têm, normalmente, uma vida menos
saudável. Psicopatologia – maior frequência de comportamentos de risco para a
saúde.
a) Que comportamentos de risco:
tabagismo;
consumo abusivo de álcool, drogas e medicamentos (sem receita médica);
comportamentos de risco por maus hábitos alimentares;
sedentarismo – ausência de actividade física regular;
Este tipo de comportamentos aumenta, em primeiro lugar, as probabilidades das
doenças vasculares – diminui a esperança de vida. Há uma relação com a gravidade
da psicopatologia, entre os psicóticos é onde é mais frequente encontrar estes
Psicopatologia e Psicologia da Saúde
A psicologia da saúde é uma área que estuda o comportamento humano relacionado
com a saúde (quer o comportamento propriamente dito, quer as formas como
concebem a saúde, como a pensam, a comunicação, como se relacionam, etc., etc.)
problemas. Esta relação é tal que os psicóticos morrem mais cedo que os não
psicóticos, e não é por suicídio.
Em segundo lugar, as pessoas com psicopatologia tendem a solicitar menos os
recursos existentes, não vão ao médico quando estão doentes, não usam os meios de
que dispõem. Menor utilização dos recursos de saúde. Dispõem de menos informação
acerca dos problemas de saúde e das doenças que as podem afectar.
Em terceiro lugar, as pessoas com psicopatologia tendem a frequentar consultas de
saúde mental. Com frequência não frequentam o médico de família. Quando têm uma
doença ou não se tratam ou vão a um médico qualquer.
Por fim, como os serviços de saúde mental estão desarticulados em relação aos
serviços de saúde física, os técnicos de saúde mental tendem a desvalorizar a saúde
física, ou nem chegam a passar pelo assunto. Por outro lado, os técnicos que não são
de saúde mental tendem a atribuir a queixa ao facto da pessoa ser doente mental.
Podemos concluir então que a variável psicopatologia é uma variável de risco para a
saúde física.
b) Quais são os contextos em que as pessoas com perturbações se envolvem mais
em comportamentos de risco para a saúde?
Os mesmos que as pessoas normais. Mesmo um indivíduo normal, num contexto de
stress, pode desencadear comportamentos de risco. Porque um dos tipos de
estratégias para lidar com o stress é o escape comportamental.
Em termos de psicopatologia o que há de específico?
Pessoas com psicopatologia têm tendência a utilizar menos estratégias activas
(cognitivas e emocionais) e utilizam mais estratégias passivas (negação e evitamento).
A ansiedade e a depressão aumentam com as estratégias passivas. Espreita o risco
dos comportamentos de risco sexuais, uma vez que estes possibilitam a revalorização
narcísica do indivíduo.
Nesta questão do stress as pessoas com psicopatologia estão à partida fragilizadas
por dois outros factores:
Diminuição do suporte social – melhor suporte social contraria a tendência
para se envolver em comportamentos de risco. Estratégias mais activas, não
de escape comportamental;
Ansiedade – as pessoas percepcionam mais ameaças do que as que
existem, tudo é perigoso.
c) Os comportamentos de risco podem proporcionar o alívio dos estados perturbados
Dificuldade em tolerar sintomas físicos – menor tolerância a experiências
corporais desagradáveis. Patologia Neurótica – neuroticismo – personalidade
neurótica – intolerância a experiências corporais desagradáveis,
especialmente experiências dolorosas → Auro-medicação: anti-inflamatórios,
analgésicos. A sua intolerância à frustração (neuroticismo) e a facilidade com
que desenvolvem ansiedade → tranquilizantes e hipnóticos.
Dificuldades no confronto com procedimentos médicos indutores de stress –
há um conjunto de procedimentos médicos (diagnóstico, terapia) que são,
eles próprios, indutores de stress. Acarretam dois factores importantes: -
experiência corporal desagradável; - medo. A pessoa pode pensar que o
exame quer dizer que ela tem uma doença grave, o que faz com que os
exames sejam indutores de stress. Os exames são, muitas vezes, invasivos.
São sempre mais complicados para as pessoas com psicopatologia, evitam
fazer os exames que são necessários. Os indivíduos com psicopatologia
utilizam estratégias de evitamento, podem não fazer os exames que lhes são
recomendados - pessoas com perturbações ansiosas e fóbicas. Todos os
exames que envolvam intrusão são muito indutores de stress e ansiedade
para as pessoas com psicoses, nestes casos não se trata de evitamento mas
de recusa. Os indivíduos com patologia neurótica tendem a ter maiores
níveis de ansiedade. Têm receio de todas as experiências corporais.
Dificuldade de comunicação e de relação com os técnicos – as pessoas com
psicopatologia têm comportamentos patológicos que são normalmente
rejeitados quando não são compreendidos. Há muita gente com
psicopatologia que tem uma enorme instabilidade (border-line) e
imprevisibilidade de comportamentos. Comportamentos provocadores
(aproximação sedutora); comportamentos ameaçadores (perturbação de
personalidade anti-social e border-line); comportamentos controladores
(obsessivos).
O comportamento patológico é uma fonte de perturbação da relação e da
comunicação entre os indivíduos com psicopatologia e os técnicos de saúde.
Dificuldades de adaptação à doença e à hospitalização – psicopatologia
aumenta a probabilidade de aumentar o stress e posteriores consequências
(conflitos com técnicos, depressões, dependências).
Problemas de adesão a tratamentos médicos – comportamento de adesão –
grau de concordância entre o comportamento e a recomendação do técnico
de saúde. Pode ser satisfatório ou insatisfatório – quando é insatisfatório, os
tratamentos vão ser desajustados e inadequados. A adesão pode ser muito
diversa em indivíduos com psicopatologia, dos que aderem excessivamente
(obsessivos), passando pelos que aderem pouco (medos fóbicos), chegando
aos que oscilam consideravelmente (border-line).
Comportamentos inadequados de procura de cuidados – forma como o
individuo se relaciona com os serviços de saúde quando percepciona uma
alteração do seu estado de saúde. As pessoas que têm comportamentos
pouco adequados tem uma razão para isso, normalmente trata-se de
psicopatologia - hipocondria. Há pessoas que consultam mais quando estão
em stress. O contrário, a diminuição da procura dos técnicos, também existe
– perturbações psicóticas, esquizofrénicas, que se caracterizam por um
grande isolamento, autismo, grande dificuldade em entrar em relação.
Pessoas que tenham problemas evitativos.
Stress ocupacional dos técnicos – stress profissional nos técnicos de saúde
(dava pano para mangas…!). Médicos, enfermeiros, psicólogos, etc. Dois
pontos:
É frequente a psicopatologia nos próprios técnicos de saúde; o stress a nível
profissional pode associar-se a perturbações mentais – perturbações de
ansiedade, suicídio, abuso de substâncias (álcool, estimulantes,
tranquilizantes);
Em relação às profissões de saúde há um risco enorme: as qualidades
profissionais exigidas ou desejáveis são opostas às qualidades familiares
exigidas ou desejáveis. Isto é, o técnico deve, enquanto técnico permanecer
distante, frio, analítico, contido, etc., e a pessoa deve, no contexto entra-
profissional, deixar este conjunto de características à porta do local de
trabalho e mudar significativamente. Conflitualidade entre profissão e família.
– psicopatologia dos próprios técnicos.
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