► Entretanto, a grande utopia pedagógica do
século XVIII e que teve maiores conseqüências
foi a obra do filósofo francês JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-78)
intitulada Emilio(1762), a qual
propunha um sistema de educação que
permitisse ao homem manter sua bondade, inocência e virtudes
naturais.
Jean-JacquesRousseau(1712-78)
Educação de Emílio
► ROUSSEAU intentava fazer possível a existência do “bom selvagem” no mundo contemporâneo, através
de um regresso ao seu “estado natural” com a manutenção de sua independência e liberdade ao
longo da vida (Utopia rousseauniana).
Jean-JacquesRousseau
(1712-78)
Educação através da Natureza
► As idéias de ROUSSEAUe dos demais utopistas
românticos tiveram grandes repercussões na concepção do que seria a cidade ideal setecentista, a qual
deveria, em um primeiro momento,
reintegrar o homem à natureza, idéia que
acabou influenciando o Park Movement do
século XIX.
Frederick L. Olmsted
Central Park(1850/58, New York EUA)
Cidade ideal setecentista
►A possibilidade de ruptura com uma forma de organização já estabelecida, de abandono radical
das convenções e comportamentos mais tradicionais, sem esboçar a possibilidade de uma
ordem a ser construída nem mentalmente, permitiu a reflexão sobre a CIDADE UTÓPICA.
►No século XVIII, passou-se a aceitar uma nova complexidade urbana que serviria de estímulo à criatividade e fundamentaria toda a teoria da
construção da cidade da ILUSTRAÇÃO.
► Foi MARC-ANTOINE LAUGIER (1713-69) quem enunciou a teoria sobre o
desenho das cidades como se fossem bosques ou
florestas, abrindo oficialmente a investigação
teórica da CIDADE NATURALISTA, a qual
estaria reduzida a um fenômeno natural que
superaria qualquer idéia priorística de ordenamento
urbano.
► Com seu Essai surl’architecture (1753),
LAUGIER inaugurava a estética pitoresca, defendendo um
traçado citadino marcado pela abundância, pela variedade e pelo contraste, cujo resultado
seria de uma “beleza estimulante e deliciosa”
(TAFURI, 1997).
► Em meados do século XVIII, tomou-se consciência de que a grande cidade havia se transformado em um sistema de fatos significativos e isolados, que
precisava ser tratado, do ponto de vista urbanístico, como algo policêntrico e dinâmico
(CONCEPÇÃO URBANA ROMÂNTICA).
► Por este motivo, nesse período não existiram planos gerais de construção de uma única cidade ideal, mas somente projetos parciais, de setores urbanos ou inclusive de edifícios particulares, os quais representariam esses lugares significativos
da “cidade como bosque” de LAUGIER.
► As principais experiências a serem citadas como representativas do ideal da CIDADE NATURALISTAforam as de:
a) Giovanni B. Piranesi (1720-78)
b) Pierre Patte (1723-1812)
c) John Gwynn (1713-86)
d) Francesco Milizia (1725-98)
Place pour le Roi(1765)
Pierre Patte (1723-86)
► PIRANESI publicou a planta do Campo Marzio dell’antica
Roma (1757/61) e suas perspectivas, onde já não existia qualquer fidelidade ao princípio tardo-barroco da “unidade na variedade”.
► Para ele, a cidade antiga –uma Roma reconstruída
completamente reinventada – passava a ser formada
pela bricolagem de edificações tratadas
isoladamente, resultando em um conjunto caótico e
sem ligações entre si.
Giambattista Piranesi(1720-78)
Roma diPiranesi
Campo Marzio dell’antica Roma(1757/61)Giambattista Piranesi (1720-78)
Fontana di Trevi
Piazza diSan Pietro
Veduto delTevere
Roma diPiranesi
► PATTE realizou uma proposta para Paris em
1765, na qual a representava construída por pontos monumentais
imersos em um tecido homogêneo e compacto,
cujas novas praças – estas concebidas como
elementos transformadores da
cidade medieval, isentos de seu tradicional papel
utilitário – eram tratadas de modo formal e individualizado.
Monuments érigés en Franceà la gloire de Louis XV (1765)
Pierre Patte (1723-1812)
PlacesRoyales
► Em 1749, GWYNN redesenhou o plano de reconstrução de Londres pós-incêndio, feito em 1667 por Christopher Wren, incluindo uma longa
e detalhada explicação, além da sua própria sugestão de se criar um órgão permanente para
“[...] inspecting & condemning old & useless buildings and regulating new ones”.
► GWYNN propôs um plano para a parte Oeste de
Londres em 1776, em que reestruturava a cidade
visando o resgate de sua complexidade, dividindo-a por um eixo Norte-Sul em
02 partes distintas:
uma mais urbanizada ao redor da Oxford Street, que mantinha uma continuidade ao norte com
o tecido das squares pré-existentes;
uma parte não urbanizada ao redor do Hyde Park, ainda
campo, sobre a qual se traçaria um sistema viário ortogonal de
dimensões inusitadas;
► Por fim, MILIZIA defendia o fragmatismo urbano, quando, em Principi di
architettura civile (1781), escreveu que a planta da
cidade deveria ser distribuída de tal modo que a magnificência da
totalidade fosse subdividida em uma infinitude de belezas
particulares, todas de fato diferentes e que não se
encontrassem nunca nos mesmos objetos.
Francesco Milizia(1725-98)
► Como alternativa radical à cidade de alta densidade,
surgiu na ILUSTRAÇÃO a idéia da cidade dispersa na natureza que estabeleceria com esta uma relação de
completa imersão.
► Este mito, bastante recorrente na arquitetura do período, apareceu nas formulações utópicas de
alguns franceses, que buscaram a imagem da
perfeição através de propostas de casas isoladas
imersas na paisagem.
Pyramid (1785)
E.L. Boullée (1728-99)
Musée française (1785)
► Paralelamente, a CIDADE IDEAL SETECENTISTApassou a ser pensada em
termos de uma nova geometria da natureza, fundamentada na Razão
ideal, que propunha a ordem das coisas e a
possibilidade de reordenação através da força transformadora da
sociedade.
Maison de gardes agricoles (1780)
C.N. Ledoux (1736-1806)
Maison pour Marie-Madeleine Guimard(1773/76, Paris França)
► ÉTIENNE-LOUIS BOULLÉE (1728-99) propôs, entre 1780
e 1790, obras enormes e radicalmente reduzidas a
formas volumétricas puras (pirâmides, esferas e cones), que simbolizavam a harmonia
perfeita, destacando-se o “cenotafio” da Bibliothèque
Nationale de Newton (1783).
► Em Architecture: essai surl’art (1775/90), propunha
como princípios os mesmos da natureza para construir uma
“segunda natureza”.
Cenotaph Bibliothèque Nationalede Newton (1783)
E.L. Boullée (1728-99)
Bibliothèque du Roi (1785)
► Já CLAUDE-NICOLAS LEDOUX(1736-1806)
realizou uma autêntica pesquisa experimental de elementos arquitetônicos fixos que gerariam uma arquitetura atemporal –
essencialmente neoclássica – e uma cidade hierárquica
e harmônica. Em 1774, projetou a primeira cidade ideal da era industrial, La Saline de Chaux, perto de
Besançon, na França.
La Rotonde de la Villette(1785, Paris, França)
C.N. Ledoux (1736-1806)
La Saline de Chaux(1774/1804, Arc-et-Senans Fr.)
Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806)
►O apelo à forma romântica da cidade serviu, em um primeiro momento, para persuadir quanto às necessidades objetivas dos processos postos em
movimento pela burguesia capitalista pré-revolucionária, os quais seriam por fim
consolidados na CIDADE INDUSTRIAL.
►O naturalismo urbano, a inserção do pitoresco na cidade e na arquitetura ou a valorização da
paisagem na ideologia artística, tudo tendia a negar a dicotomia, já patente, entre a realidade
urbana e o campo. Logo, o verde acabaria incorporado pelo novo organismo urbano liberal
enquanto máquina produtora de novas formas de acumulação econômica.
Bibliografia BENÉVOLO, L. História da cidade. São Paulo:
Perspectiva, 2001.
CARANDELL, J. M. Las utopías. Barcelona: Salvat, 1974.
CASTELNOU, A. M. N. Ecotopias urbanas. Curitiba: Tese de Doutorado – UFPR, 2005.
FERRARI, C. Curso de planejamento municipal integrado. 7a. ed. São Paulo: Pioneira, 1991.
KOSTOF, S. The city shaped: urban patterns and meanings through history. London: Thames & Hudson, 1991.
TAFURI, M. Projecto e utopia: arquitectura e desenvolvimento do capitalismo. Lisboa: Presença, Col. Dimensões, 1997.