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Uma aventura Musical
Era uma vez, uma menina chamada Raquel que era
especial, tocava violino desde os seus nove anos de idade.
Toda a gente a admirava por tocar tão bem!
Raquel tinha um sonho: gostava de ser a melhor
violinista que já alguma vez existira na terra.
Quando olhava para as partituras dizia que as notas
cantavam para ela e lhe diziam como tocar bem; era como
se as notas da partitura fossem uma história e ela estava
a contá-la a todos os que a ouviam.
Raquel também adorava cantar, e, de facto, cantava
muitíssimo bem.
Um dia, como qualquer outro dia, estava Raquel a
estudar violino, quando pela primeira vez a sua partitura
em vez de cantar parecia gritar. Raquel tentou acalmar
as notas cantando numa voz meiga uma canção de
embalar. Um DÓ parecendo ouvi-la começou a acalmar as
suas irmãs. Num segundo já todas as notas estavam fixas
a olhar para Raquel. A rapariga muito calma disse-lhes:
- Porque gritam?
- Estamos descontroladas - disse DÓ – a ampulheta
da música foi roubada.
-Isso é mesmo uma má notícia! - concordou Raquel.
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- Tu podes ajudar-nos? – pediram em coro.
- Eu?! – perguntou Raquel espantada – mas porquê
eu?
- Visto que só tu é que nos ouves. És especial –
declarou o MI – Tu vês e ouves mais do que as outras
pessoas.
- Então expliquem-me o que é a ampulheta mágica.
- Como é que te explico… Ah! Já sei, a ampulheta é
conhecida como uma espécie de temporizador neste
mundo, não é? – indagou o DÓ.
-Sim, porquê? – perguntou Raquel.
- No outro lado a ampulheta é
um coração do Reino da Música, e
se ela for roubada as claves
morrem e não haverá mais música.
- E sabem quem roubou a
ampulheta? – quis saber Raquel.
- Foi o duende traquinas. – afirmou FÁ.
- Mas porque quereria o duende roubar a
ampulheta? – estranhou Raquel.
- Como consta no nome, ele é traquina e adora
pregar partidas, mas desta vez exagerou!
- Bem acho que percebi! Só há uma coisa que não
consegui entender.
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- E o que é? – perguntou DÓ.
- Há bocado disseste que eu sou especial e que ouço
e vejo mais do que todos. Então em que reino estou eu?
- Bem, tu és esperta! – disse DÓ – As pessoas como
tu podem pertencer a três reinos: Música, Pintura e
Teatro. Tu és a última e fazes parte do Reino da Música.
- Isto é, não haverá mais ninguém como eu.
- Talvez, se não inventarem outro reino.
- Quero ajudar-vos – declarou Raquel.
- Bem, então terás de passar para o outro lado ainda
esta noite.
- Está bem, eu vou preparar-me. – concordou Raquel
pegando numa mochila.
Enquanto Raquel metia tudo o que era preciso para a
viagem, reparou numa semínima a saltitar na direção dela.
Era preta tinha mais ou menos cinquenta centímetros.
Raquel esfregou os olhos, para ter a certeza que não
estava a sonhar. A semínima chegou-se, virou-se para a
menina e disse-lhe:
- Acabo de receber a notícia de que és a salvadora
do reino da música, estou certa?
- Sim sou eu.
- Então como te chamas? – perguntou a semínima.
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- Raquel e tenho treze anos.
- Bem, gostaria de te dar duas coisas essencias para
a tua aventura. Aqui tens, é um caderno de música em
branco, mas que ficará cheio de notas musicais quando
fores ao outro lado.
Raquel pegou no caderno e folheou-o. De facto
estava em branco!
- E aqui tens a partitura. Acho que já se
conheceram.
- Sim é verdade elas já me explicaram tudo.
- Estás pronta Raquel? – perguntou MI.
- Acho que sim.
- Calma, ainda te falta o mais importante. – avisou a
semínima.
- E o que é? – perguntou Raquel impressionada.
- O teu violino.
Raquel pegou no violino e saiu de casa em bicos de
pés para que os pais não a ouvissem.
- Então onde vamos?
- Para a tua escola de música. – disseram as notas da
partitura em coro.
Raquel dirigiu-se, então, para a sua escola. Quando
chegou à porta da escola, perguntou:
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- E agora?
- Vou dizer-te uma música que terás de cantar para
a porta se abrir. – disse DÓ.
- Está bem, e qual é a música?
- Mmm, como estamos no Natal, pode ser “Tocam
sinos”.
- Ei! Estou a cantar essa música no coro.
- Bem, então do que estás à espera?
- “Tocam sinos, tocam hinos
É o natal a chegar…”
Raquel tinha uma voz lindíssima, e, num ápice, a
porta abriu – se. Mas o que estava do outro lado era
totalmente diferente da escola de Raquel.
Tudo era colorido: Amarelo, vermelho, azul. E no ar
esvoaçavam notas musicais.
Podia-se ouvir uma música
doce e suave vinda do além,
parecia ser um violino e um
piano em sintonia.
- Que lindo! -
exclamou Raquel.
- Bem vinda ao reino da música. – disseram as notas
em coro.
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Raquel beliscou-se para confirmar que estava
acordada.
- E agora, o que fazemos?
- Temos de ir falar com as claves – afirmou o DÓ.
- E por onde vamos?
- Basta seguires a música. – infirmou o SI.
Raquel concentrou-se na música e começou a andar
na sua direção.
Após cinco minutos
de marcha, viu duas torres enormes, uma tinha a forma
de clave de FÁ e a outra era da forma de uma clave de
SOL.
Raquel estupefacta entrou pelo portão principal
onde foi saudada por toda a gente. Lá estavam eles, a
clave de FÁ e a de SOL. Pareciam pálidas e estavam
sentadas em cadeirões vermelhos revestidos de um
tecido fofo e brilhante.
- Bem vinda ao Reino da Música – disse a clave de
SOL tentando inclinar-se a todo o custo.
- Deixe-se estar, Alteza, não se esforçe. – declarou,
gentilmente, Raquel com pena da clave.
- Então, tu é que és a salvadora do Reino da Música?
– perguntou a clave de FÁ.
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- Sim, e vou fazê-lo custe o que custar.
- Pelo que parece, já sabes do sucedido. – confirmou
a clave de FÁ.
- Então não há mais nada a dizer. - acrescentou a
clave de SOL.
- Vossa Alteza, - pediu delicadamente Raquel – pode
informar-me por onde
poderei começar a
procurar o duende
traquina?
- O farol do nevoeiro,
é lá que ele vive!
- Obrigada, Vossa
Alteza.
E fazendo uma vénia,
Raquel dirigiu-se para o
farol do nevoeiro. Raquel
começou pela floresta que estava direcionada para o
farol. Esta mostrava-se enevoada e o único som que se
ouvia, era as folhas das árvores a mexerem-se ao sabor
do vento.
Porém, Raquel ouvira um gemido: parecia ter vindo
do lado direito dela e era pequenino. Raquel inclinou-se e
viu um pequeno ouriço-cacheiro preso por um espinho!
- Ajudem-me, SOCORRO! – gritava o ouriço-
-cacheiro – alguém me ajude!
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- Calma, eu ajudo-te – tranquilizou-o Raquel.
- Estou preso à planta por um espinho!
Raquel puxou com cuidado o espinho e soltou o
ouriço.
- Estou-te grato. – disse o ouriço. – O que posso
fazer por ti?
- Podias vir comigo, estou à procura do duende
traquina, porque ele roubou a ampulheta da música.
- Eu ajudo-te a encontrá-lo - gritou o ouriço aos
saltos.
- Chamo-me Raquel e tu?
- Tico.
- Bem, Tico, sabes o caminho para o farol do
nevoeiro?
- Sei. .
Raquel seguiu Tico até chegarem a um espaço que
parecia não ter fim. Estava tudo enevoado e a única luz
que se via era a de um foco que rodava sem parar. No ar
sentia-se o cheiro a maresia e podia ouvir-se as ondas a
bater na areia.
- Sabes, Raquel, eu não tive tempo de te dizer, mas
és muito bonita. – elogiou o ouriço.
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Raquel era de estatura média, tinha cabelos
castanhos e uns olhos azuis muito claros. A jovem corou
e agradeceu:
- Bem… obrigada. – tinha as faces rosadas – Olha é o
farol!
- Pois é! – confirmaram as notas e o ouriço-cacheiro.
Raquel pegou no ouriço e foi a correr até à porta do
farol. Lá dentro era tudo azul e verde, era a casa do
duende.
Ouviu-se nas escadas uns passos pequeninos e logo
apareceu o duende traquina.
- O que fazes aqui? Quem és tu? – inquiriu o duende.
Raquel empalideceu.
- Chamo-me Raquel.
- O que te leva a fazer-me esta visita tão
inesperada?
- Vim aqui para que me dês a ampulheta. Sabes que
ao retirares do Reino da Música a ampulheta tudo
desaparecerá?
- Oh… peço imensa desculpa! É que, às vezes,
exagero. – reconheceu o duende.
- Obrigada - disse Raquel.
- Podias tocar uma música no violino? – pediu o
duende.
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- Sim, claro.
Raquel pegou no violino, colocando a partitura numa
estante, posicionou-se e começou a tocar. O som era o
mais maravilhoso que se possa imaginar e Raquel dançava
ao som da música.
Depois de uma belíssima sonata, Raquel preparou-se
para partir.
- Espera! – acrescentou o duende – leva este cinto.
- Obrigada, mas o que faz ele?
- É mágico! Levar-te-á para todo o lado, o que tens a
fazer é desejar esse lugar. – informou o duende.
Raquel pôs o cinto e desejou do fundo do coração
chegar ao Reino da Música.
- Obrigada – despediu-se ela.
Depois fechou os olhos com força e
quando os abriu estava ao pé das claves. Elas
estavam prestes a morrer quando Raquel
atirou a ampulheta e ela brilhou dando força
às claves.
- Raquel, - clamaram elas em uníssono–
tu és uma verdadeira heroína! Como é que podemos
compensar-te?
- Apenas continuando a cantar as músicas – pediu
emocionada a menina.
- Bem, agora podes voltar a casa.
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Raquel voltou a desejar do fundo do coração voltar,
mas desta vez, para casa. Num abrir e fechar de olhos
estava em casa.
Pegou no
caderno que a
semínima lhe
tinha dado e
folheou-o.
Estava cheio
de músicas!
- Bem, agora só me resta tocá-las e encher as
pessoas de músicas maravilhosas.
Era tarde e Raquel estava cansada da aventura,
deitou-se na cama e adormeceu num sonho musical…
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