UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DO
SERVIDOR PÚBLICO CIVIL DO PODER EXECUTIVO FEDERAL
Por: Márcio Pereira Rezende
Orientadora
Professora Ana Paula Pereira da Gama Alves Ribeiro
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DO
SERVIDOR PÚBLICO CIVIL DO PODER EXECUTIVO FEDERAL
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Gestão Pública.
Por: Márcio Pereira Rezende
3
AGRADECIMENTOS
À Deus, que me da à força e o impulso em todos os
momentos da minha vida.
À minha orientadora, Professora Ana Paula Ribeiro
agradeço por ter acreditado no meu projeto.
Aos meus colegas de turma, especialmente àqueles dos
grupos de trabalho, que tanto colaboraram com o meu
desempenho no curso.
4
DEDICATÓRIA
À minha família que sempre me apoiou. À minha mulher
Bianca uma guerreira que caminha ao meu lado lutando
diariamente nessa jornada dura da vida, com o objetivo
de tornar nossos sonhos uma realidade, a minha filha
Yasmin, motivo da minha luta constante por dias
melhores.
5
RESUMO
Este trabalho visa analisar os valores morais e éticos aplicados no
serviço público, buscando suas bases históricas e suas características na
sociedade atual.
Tem como objetivo geral, fornecer os fundamentos adequados à
compreensão da escolha e aplicação dos preceitos éticos no ambiente
profissional do serviço público do poder executivo federal. Como objetivo
específico, aponta os fundamentos e a evolução histórica da ética na
humanidade, possibilita o entendimento da aplicação dos princípios éticos no
exercício profissional, analisa a conduta ética dos servidores e verifica como o
código de ética pode ser um instrumento que busca a realização dos princípios,
visão e missão da empresa.
O trabalho se estrutura em três capítulos. Inicialmente, apresenta-se a
ética, a partir de seus conceitos, sua história e suas doutrinas. Na seqüência, a
questão da ética no serviço público, processo administrativo disciplinar, o
código de ética profissional do serviço público, a criação de comissões de ética
e finalizando o capítulo II a ética pública e susceptibilidade a desvios éticos. No
último capítulo, a insatisfação da sociedade, o perfil moderno, a transparência e
as mudanças no serviço público.
PALAVRAS-CHAVE: Ética, Valores Morais, Ética Pública e Serviço Público.
6
METODOLOGIA
A metodologia de pesquisa adotada para a elaboração do presente
trabalho será um levantamento bibliográfico, seguido de artigos pesquisados na
internet. Com isso foram utilizados os seguintes procedimentos no processo de
pesquisa desse trabalho:
. Levantamento bibliográfico realizado através de pesquisa de autores
e especialistas no tema abordado;
. E o uso da internet para pesquisa, com artigos variados e de bom
conteúdo para evolução do trabalho.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................8
CAPÍTULO I – ÉTICA..........................................................................................9
1.1 – Conceito de Ética......................................................................................9
1.2 – História da Ética......................................................................................12
1.3 – Doutrinas Éticas......................................................................................16
1.3.1 – Ética Grega...........................................................................................17
1.3.2 – Ética Cristã Medieval...........................................................................17
1.3.3 – A Ética Moderna...................................................................................18
1.3.4 – A Ética Contemporânea......................................................................18
CAPÍTULO II – ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO..............................................21
2.1 – A Questão da Ética no Serviço Público................................................21
2.2 – Processo Administrativo Disciplinar....................................................22
2.3 – Código de Ética Profissional do Servidor Público..............................24
2.4 – Criação de Comissões de Ética.............................................................26
2.5 – Ética Pública e Susceptibilidade a Desvios Éticos.............................27
CAPÍTULO III – SERVIDOR PÚBLICO.............................................................30
3.1 – A Insatisfação da Sociedade com o Serviço Público..........................30
3.2 – O Perfil Moderno do Serviço Público....................................................33
3.3 – Transparência no Serviço Público........................................................34
3.4 – Mudanças no Serviço Público...............................................................35
CONCLUSÃO....................................................................................................38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................39
ÍNDICE...............................................................................................................41
8
INTRODUÇÃO
É certo que a crítica que a sociedade tem feito ao serviço público, seja
ela por causa das longas filas ou da morosidade no andamento de processos,
muitas vezes tem fundamento. Também, com referência ao gerenciamento dos
recursos financeiros, têm-se notícia, em todas as esferas de governo, de
denúncias sobre desvio de verbas públicas, envolvendo administradores
públicos e políticos em geral.
O setor público esteve ao longo dos anos submetido a todas formas de
apropriação e comportamentos que, certamente, em virtude de seus gestores,
chefes ou dirigentes serem alocados através de critérios que não levavam em
conta a condição do conhecimento técnico, mas sim a ascensão política. A
consciência acerca de que o serviço público é um bem do povo e a serviço do
povo era pouco compreendido.
Com isso, os procedimentos no setor público, trazem até os dias atuais
uma certa tendência histórica em funcionar de forma a beneficiar um círculo de
poucos, não importando com os demais, predominando o nepotismo e o
clientelismo como se fosse um comportamento ético, e assim a sensação de
injustiça é observada e os serviços públicos são prestados de forma
inconveniente do ponto de vista ético e até humano. A aplicação de normas
éticas aliadas aos valores morais pode possibilitar uma espécie de controle
disciplinar no setor público.
9
CAPÍTULO I
ÉTICA
1.1 – Conceito de ética
De um modo geral, a ética pode ser definida de várias formas, podendo
significar justiça, incluindo princípios que todas as pessoas racionais deveriam
adotar, a fim de reger seu comportamento social, sabendo que eles podem ser
aplicados também a si mesmas. Por meio do estudo da ética, a sociedade
entende o que é moralmente certo ou errado. No entanto, o tema ainda é
bastante controvertido, afinal, aquilo que é eticamente correto para uma pessoa
pode ser errado para outra.
Em sua análise, Vázquez (2000, p.17) afirma que assim como os
problemas teóricos morais não são os mesmos problemas práticos, mesmo
que estejam estritamente relacionados, também não pode ser confundida ética
com moral. A moral não é criada a partir da ética. Mas, é correto afirmar que
todos os princípios morais pressupõem determinadas regras ou normas de
comportamento. No entanto, não cabe à ética estabelecer estas regras morais
em nenhuma sociedade, procurando, apenas, motivar a essência da moral, sua
iniciação na sociedade, bem como as principais qualidades objetivas e
subjetivas deste ato.
Continuando com o tema, o autor ainda afirma que “a ética é a teoria
ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. ou seja, é
ciência de uma forma específica de comportamento humano”. (VÁZQUEZ,
2000, p.23).
10 Segundo Vázquez (2000, p.35), o objeto da ética é a moral, que, por
sua vez, relaciona-se ao comportamento humano. A esse respeito, o autor
ainda afirma que a palavra “moral” é derivada da “mores”, ou seja, costumes.
Assim, o autor conclui que o principal objetivo da ética é a moralidade positiva.
Portanto, ética não se confunde com moral, uma vez que pode ser
compreendida como teoria dos costumes ou a ciência dos costumes. A moral é
o objeto de estudo ético, retirando dela fatos morais e os principais princípios
aplicáveis.
Vázquez (2000, p.12) afirma que a “ética é a teoria ou ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade, é a ciência de uma forma
específica de comportamento humano, isto é, corresponde à necessidade de
uma abordagem científica dos problemas morais”.
Ainda para Vázquez (2000, p.16), a ética pode ser definida como “um
conjunto sistemático de conhecimentos racionais e objetivos a respeito do
comportamento humano moral, a ética nos apresenta com um objeto específico
que se deve estudar cientificamente”. Revela, ainda, que a ética é uma
disciplina normativa, não por criar normas, mas por descobri-las. Seu alicerce
está baseado em valores, normalmente em valores do bom. Partindo do
conceito do bom é o que é valioso e do mau o que não tem valor, ou um vício.
Vázquez (2000, p.20) ainda considera que norma é regra de conduta
que impetra dever, qualquer percepção normativa, é regra de conduta, mas o
inverso não ocorre, haja vista que nem toda regra de conduta é norma. As
noções de normas ficam mais claras quando são comparadas à lei natural ou
às leis físicas, as físicas tem finalidades explicativas e as normas têm fim
prático. As normas não têm a ambição de elucidar nada, mas determinar um
comportamento. A norma mostra um dever, direcionada as pessoas com
capacidade para cumprir ou não. É próprio da norma à possibilidade de
violação.
11 Em uma conceituação mais abrangente, Holanda (1986, p.276) afirma
que ética é “a parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com
Deus e a sociedade, ciência da moral”. No entanto, o autor não destaca que a
ética é,também , a obrigação do homem perante si mesmo.
Já para Eler (2007):
Um conceito de ética de origem estritamente humana
pressupõe uma ênfase nos direitos como ponto de
partida que regula todo relacionamento humano
(intrapessoal, interpessoal e estrutural). Um conceito de
ética que flutua do próprio caráter do Deus Criador,
pressupõe que todo relacionamento humano deva ser
regulado por deveres e responsabilidades em relação a
Deus, à verdade, à integridade pessoal, ao semelhante e
às estruturas conjunturais, sociais e institucionais.
Souza (2002, p.13), de uma forma bem simples, explica que ética é um
conjunto de princípios e valores que guiam e orientam as relações humanas.
Esses princípios devem ter características universais, precisam ser válidos
para todas as pessoas e para sempre.
Em sentido restrito, a ética é utilizada para conceituar deveres e
estabelecer regras de conduta do indivíduo, no desempenho de suas
atividades profissionais e em seu relacionamento com clientes e demais
pessoas. É o que se chama de ética profissional, existente em praticamente
todas as profissões e resultado dos usos e costumes que prevalecem na
sociedade. Dessa forma, surgiram os Códigos de Ética, eles oferecem
orientações, estabelecem diretrizes para um nível digno de conduta
profissional. A ética profissional é o conjunto de princípios que regem a
conduta funcional de uma profissão.
12Entende-se por princípios éticos as idéias básicas que devem nortear
o comportamento das pessoas na sociedade.
O setor público esteve ao longo dos anos submetido a todas formas de
apropriação e comportamentos que, certamente, em virtude de seus gestores,
chefes ou dirigentes serem alocados através de critérios que não levavam em
conta a condição do conhecimento técnico, mas sim a ascensão política. A
consciência acerca de que o serviço público é um bem do povo e a serviço do
povo era pouco compreendido.
Com isso, os procedimentos no setor público, trazem até os dias atuais
uma certa tendência histórica em funcionar de forma a beneficiar um círculo de
poucos, não importando com os demais, predominando o nepotismo e o
clientelismo como se fosse um comportamento ético, e assim a sensação de
injustiça é observada e os serviços públicos são prestados de forma
inconveniente do ponto de vista ético e até humano. A aplicação de normas
éticas aliadas aos valores morais pode possibilitar uma espécie de controle
disciplinar no setor público.
1.2 – História da Ética
Todo ser humano é dotado de uma consciência moral, que o faz
distinguir entre certo ou errado, com isso é capaz de avaliar suas ações; sendo
portanto, capaz de ética. Esta vem a ser os valores, que se tornam os deveres,
incorporados por cada cultura e que são expressos em ações. A ética,
portanto, é a ciência do dever, da obrigatoriedade, a qual rege a conduta
humana.
Isso implica dizer que ética pode ser conceituada como o estudo dos
juízos de apreciação que se referem à conduta humana suscetível de
13qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à
determinada sociedade, seja de modo absoluto.
As questões éticas fundamentais devem ser abordadas a partir de
pressupostos básicos, como a história da filosofia, e é nesta que ela busca
fundamentos para regular o desenvolvimento histórico-cultural da humanidade.
A origem da Ética é um assunto muito relativo e discutível.
SANCHEZ ressalta que os problemas éticos são objetos de uma
atenção especial na filosofia grega quando se democratiza a vida política da
região, especialmente de Atenas.
Pitágoras, no século VI a.C., já estudava a ética.
Os sofistas fizeram parte de um movimento intelectual na Grécia do
século V antes de Cristo.
Protágoras de Abdera, nascido em 480 a.C., já pregava o que se devia
fazer perante terceiros para ser virtuoso. Além de protagonizar o célebre
pensamento de que o ser humano é a medida de todas as coisas, reconhecera
no respeito e na justiça as condições de sobrevivência, ou seja, o caminho pelo
qual se chega ao bem, por meio da conduta.
Sócrates nasce em Atenas, no ano de 470 a.C. adversário da
democracia teniense, o mestre de Platão foi acusado de corromper a juventude
e morreu envenenado no ano de 399 a.C. A ética socrática é racionalista. Nela
podemos encontrar: “ a) uma concepção do bem ( como felicidade da alma ) e
do bom ( como o útil para a felicidade ); b) a tese da virtude ( Arete ) –
capacidade radical e última do homem – como conhecimento, e do vício como
ignorância ( quem age mal é porque ignora o bem; por conseguinte, ninguém
faz o mal voluntariamente ), e a tese de origem sofista, segundo a qual a
virtude pode ser transmitida ou ensinada “.
14 Platão em Ética das virtudes, estuda a mesma como objeto de seu
exame a disposição da alma, estudando as suas funções de forma a
desenvolver. Platão desenvolve o estudo das funções da alma, pela virtude,
nas obras Filebo e A República.
O discípulo de Sócrates considerava que a ética se relacionava
intimamente com a filosofia política. Ela dependia da sua concepção
metafísica, da sua doutrina da alma ( "princípio que anima ou move o homem e
consta de razão, vontade ou ânimo, e apetite; a razão que contempla e quer
racionalmente é a parte superior, e o apetite, relacionado com as necessidades
corporais, é a inferior").
Ante as dificuldades do indivíduo de aproximar-se da perfeição, torna-
se necessária ao ser humano a participação em um Estado ou Comunidade
política. O homem é bom enquanto cidadão. A idéia do homem somente se
realizaria na comunidade. A ética levaria necessariamente à política.
Aristóteles em Ética a Nicômaco, trata a política e em outros trabalhos
exerce grande influência sobre os pensadores de então e de toda a história da
humanidade.
Discípulo de Platão, também chamado de estagirita, viveu de 384 a
322 antes de Cristo, Aristóteles se opões ao dualismo ontológico de Platão.
Para ele a idéia não é uma realidade distinta dos indivíduos. A idéia existe
somente nos seres individuais. Entretanto, o homem deve tornar concreta uma
realidade que é só potencia em seu pensamento. A grande resposta, o grande
objetivo para ele está na felicidade. Para se alcançar a felicidade, entretanto, o
homem deve ter uma vida elevada, uma vida contemplativa guiada pela razão.
A ética de Aristóteles está unida à sua filosofia política, em razão de
ser a comunidade social e política o meio necessário da moral. Somente nela
poderia alguém realizar o ideal da vida teórica na qual se baseia a felicidade. O
15homem é um animal político que só se realiza vivendo em sociedade, a vida
moral é necessária para esta vida social e, finalmente, somente assim o ser
humano poderia se realizar em sua vida teórica na qual consistiria a felicidade.
Dos filósofos estóicos, há menor rigor no tratamento da Ética. Estobeu
considera a ética como uma conduta volvida à realidade de cada época,
portanto, mutável.
Lopes de LOPES DE SÁ conclui que em todos (...) estudos filosóficos
da questão, mesmo diante das mudanças do ambiente por alterações
conceituais, observa-se que a preocupação é o homem, em suas formações
espiritual e mental, com vistas aos seus procedimentos perante terceiros, mas
sempre buscando praticar o que não venha a ferir ou prejudicar a quem quer
que seja, inclusive o responsável pelo ato.
Hobbes achava que o básico na conduta humana era a conservação
de si mesmo como o bem maior.
O filósofo holandês, de origem portuguesa, desenvolveu em sua Ética
o que Descartes preconizara.
Fichte encara a ética como auto-afirmação do ser.
Hegel confundia a lei e o Estado como as materializações do bem. O
mesmo autor, além de Green e de Corce, entre outros, chegaram a entender a
ética como o buscar assumir a Deus, como algo infinito em virtudes.
Bérgson estabelece uma ética caracterizada por:"análises restritas ou
fechadas e amplas ou abertas, mas, denuncia um forte sentimento de respeito
à consciência ética como regente da atividade ética e uma forte ligação entre
os fenômenos da matéria e do espírito".
Pode-se resumir a ética dos antigos, ou ética essencialista, em três
aspectos:
161) o agir em conformidade com a razão;
2) o agir em conformidade com a natureza e com o caráter de cada indivíduo;
3) a união permanente entre ética e política. A ética era uma maneira de
educar o sujeito moral no intuito de propiciar a hamonia e os valores
coletivos, sendo ambos virtuosos.
1.3 – Doutrinas Éticas
As doutrinas éticas fundamentais nascem e se desenvolvem em
diferentes épocas e sociedades como respostas aos problemas básicos
apresentados pelas relações entre os homens, e, em particular, pelo seu
comportamento moral efetivo. Por isto, existe uma estreita vinculação entre os
conceitos morais e a realidade humana, social, sujeita historicamente à
mudança. Por conseguinte, as doutrinas éticas não podem ser consideradas
isoladamente, mas dentro de um processo de mudança e de sucessão que
constitui propriamente a sua história. Ética e história, portanto, relacionam-se
duplamente: a) com a vida social e, dentro desta, com as morais concretas que
são um dos seus aspectos; b) com a sua história própria, já que cada doutrina
está em conexão com as anteriores (tomando posição contra elas ou
integrando alguns problemas e soluções precedentes), ou com as doutrinas
posteriores (prolongando-se ou enriquecendo-se nelas)
Em toda moral efetiva se elaboram certos princípios, valores ou
normas. Mudando radicalmente a vida social, muda também a vida moral. Os
princípios, valores ou normas encarnados nela entram em crise e exigem a sua
justificação ou a sua substituição por outros. Surge então a necessidade de
novas reflexões ou de uma nova teoria moral, pois os conceitos, valores e
normas vigentes se tornaram problemáticos. Assim se explica a aparição e
sucessão de doutrinas éticas fundamentais em conexão com a mudança e a
sucessão de estruturas sociais, e, dentro delas, da vida moral. Sobre este
17fundo histórico-social e histórico-moral, examinemos agora algumas doutrinas
éticas fundamentais.
1.3.1 – Ética Grega
Os problemas éticos são objeto de uma atenção especial na filosofia
grega exatamente quando se democratiza a vida política da antiga Grécia e
particularmente de Atenas. Ao naturalismo dos filósofos do primeiro período (os
pré-socráticos), sucede uma preocupação com os problemas do homem, e,
sobretudo, com os problemas políticos e morais. As novas condições que se
apresentam no século V (a. n. e.) em muitas cidades gregas — e
especialmente em Atenas — com o triunfo da democracia escravista sobre o
domínio da velha aristocracia com a democratização da vida política, com a
criação de novas instituições eletivas e com o desenvolvimento de uma intensa
vida pública, deram origem à filosofia política e moral. As idéias de Sócrates,
Platão e Aristóteles neste campo estão relacionadas com a existência de uma
unidade democrática limitada e local (o Estado-cidade ou polis), ao passo que
a filosofia dos estóicos e dos epicuristas surge quando este tipo de organização
social já caducou e a relação entre o indivíduo e a comunidade se apresenta
em outros termos.
1.3.2 – Ética Cristã Medieval
O cristianismo se eleva sobre as ruínas da sociedade antiga; depois
de uma longa e sofrida luta, transforma-se na religião oficial de Roma (séc. IV)
e termina por impor o seu domínio durante dez séculos. Ruindo o mundo
antigo, a escravidão cede o seu lugar ao regime de servidão e, sobre a base
deste, organiza-se a sociedade medieval como um sistema de dependências e
de vassalagens que lhe confere um aspecto estratificado e hierárquico. Nesta
sociedade, caracterizada também pela sua profunda fragmentação econômica
18e política, devido à existência de uma multidão de feudos, a religião garante
uma, certa unidade social, porque a política está na dependência dela e a
Igreja — como instituição que vela pela defesa da religião —; exerce
plenamente um poder espiritual e monopoliza toda a vida intelectual. A moral
concreta, efetiva, e a ética - como doutrina moral — estão impregnadas,
também, de um conteúdo religioso que encontramos em todas as
manifestações da vida medieval.
1.3.3 – A Ética Moderna
Entendemos por moderna a ética dominante desde o século XVI até
os começos do século XIX. Embora não seja fácil reduzir as múltiplas e
variadas doutrinas éticas deste período a um denominador comum, podemos
destacar a sua tendência antropocêntrica — em contraste com a ética
teocêntrica e teológica da Idade Média — que atinge o seu ponto culminante na
ética de Kant.
1.3.4 – A Ética Contemporânea
Incluímos na ética contemporânea não só as doutrinas éticas atuais,
mas também aquelas que, embora tenham surgido no século XIX, continuam
exercendo o seu influxo em nossos dias. Tal é o caso das idéias de
Kierkegaard, Stirner ou Marx.
As doutrinas éticas posteriores a Kant e a Hegel surgem num mundo
social que, depois da Revolução de 1789, não só conheceu a instauração de
uma ordem social que se apresenta conforme a natureza racional do homem,
mas também uma sociedade na qual afloram e se aguçam as contradições
profundas que explodirão nas revoluções sociais do século passado e do
presente. A sociedade racional dos iluministas do século XVIII, bem como o
19Estado hegeliano, encarnação da razão universal, revelam na realidade
burguesa uma profunda irracionalidade. A ética contemporânea surge,
igualmente, numa época de contínuos progressos científicos e técnicos e de
um imenso desenvolvimento das forças produtoras, que acabarão por
questionar a própria existência da humanidade, dada a ameaça que seus usos
destruidores acarretam. Finalmente, a ética contemporânea, na sua fase mais
recente, não só conhece um novo sistema social — o socialismo —, mas
também um processo de descolonização e, paralelamente a ele, uma
reavaliação de comportamentos, princípios e heranças que não se enquadram
no legado ocidental tradicional.
No plano filosófico, a ética contemporânea se apresenta em suas
origens como uma reação contra o formalismo e o racionalismo abstrato
kantiano, sobretudo contra a forma absoluta que este adquire em Hegel. Na
filosofia hegeliana, chega a seu apogeu a concepção kantiana do sujeito
soberano, ativo e livre; mas, em Hegel, o sujeito é a Idéia, Razão ou Espírito
absoluto, que é a totalidade do real, incluindo o próprio homem como um seu
atributo. A sua atividade moral não é senão uma fase do desenvolvimento do
Espírito ou um meio pelo qual o Espírito — como verdadeiro sujeito — se
manifesta e se realiza.
A reação ética contra o formalismo kantiano e o racionalismo absoluto
de Hegel é uma tentativa de salvar o concreto em face do formal, ou também o
homem real em face da sua transformação numa abstração ou num simples
predicado do abstrato ou do universal. De acordo com a orientação geral que
segue o movimento filosófico, desde Hegel até os nossos dias, o pensamento
ético também reage:
a) contra o formalismo e o universalismo abstrato e em favor do homem
concreto (o indivíduo, para Kierkegaard e para o existencialismo atual; o
homem social, para Marx);
20b) contra o racionalismo absoluto e em favor do reconhecimento do irracional
no comportamento humano (Kierkegaard, o existencialismo, o pragmatismo e a
psicanálise);
c) contra a fundamentação transcendente (metafísica) da ética e em favor da
procura da sua origem no próprio homem (em geral, todas as doutrinas que
examinamos, e, com um acento particular, a ética de inspiração analítica, a
qual, para subtrair-se a qualquer metafísica, refugia-se na análise da linguagem
moral).
21
CAPÍTULO II
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
2.1 - A Questão da Ética no Serviço Público
Quando falamos sobre ética pública, logo pensamos em corrupção,
extorsão, ineficiência, etc, mas na realidade o que devemos ter como ponto de
referência em relação ao serviço público, ou na vida pública em geral, é que
seja fixado um padrão a partir do qual possamos, em seguida julgar a atuação
dos servidores públicos ou daqueles que estiverem envolvidos na vida pública,
entretanto não basta que haja padrão, tão somente, é necessário que esse
padrão seja ético,acima de tudo.
A questão deveria ser conduzida com muita seriedade, porque
desfazer a imagem negativa do padrão ético do serviço público brasileiro é
tarefa das mais difíceis.
Refletindo sobre a questão, acredita-se que uma alternativa, para o
governo, poderia ser a oferta à sociedade de ações educativas de boa
qualidade, nas quais os indivíduos pudessem ter, desde o início da sua
formação, valores arraigados e trilhados na moralidade. Dessa forma, seriam
garantidos aos mesmos, comportamentos mais duradouros e interiorização de
princípios éticos.
Outros caminhos seriam a repreensão e a repressão, e nesse ponto há
de se levar em consideração as leis punitivas e os diversos códigos de ética de
categorias profissionais e de servidores públicos, os quais trazem severas
penalidades aos maus administradores.
22As leis, além de normatizarem determinado assunto, trazem, em seu
conteúdo, penalidades de advertência, suspensão e reclusão do servidor
público que infrigir dispositivos previstos na legislação vigente. Uma das mais
comentadas na atualidade é a Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabelece
normas de finanças públicas voltadas para responsabilidade na gestão fiscal.
O fundamento que precisa ser compreendido é que os padrões éticos
dos servidores públicos advêm de sua própria natureza, ou seja, de caráter
público, e sua relação com o público. A questão da ética pública está
diretamente relacionada aos princípios fundamentais, sendo estes comparados
ao que chamamos no Direito, de “Norma Fundamental”, uma norma hipotética
com premissas ideológicas e que deve reger tudo mais o que estiver
relacionado ao comportamento do ser humano em seu meio social, aliás,
podemos invocar a Constituição Federal. Esta ampara os valores morais da
boa conduta, a boa fé acima de tudo, como princípios básicos e essenciais a
uma vida equilibrada do cidadão na sociedade.
2.2 – Processo Administrativo Disciplinar
O regime disciplinar contempla um conjunto de regras que visam não
só a orientar condutas e procedimentos a serem observados por servidores
públicos, como também a prever as sanções cabíveis quando restarem
infringidas as regras estabelecidas. Compreende, pois, o regime disciplinar o
sistema normativo a ser observado na esfera das relações estatutárias
mantidas entre a Administração Pública e seus servidores.
Constatada a inobservância ou o desrespeito a tais normas, passo
seguinte consistirá em atender de forma ágil e imediata ao dever de apurar a
irregularidade cometida. Tal orientação exsurge dos termos da própria Lei
8.112/90 que, em seu art. 143, dispõe que “a autoridade que tiver ciência de
irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração
23imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar,
assegurada ao acusado ampla defesa”. A completar essa
orientação,inscrevem-se na aludida disposição legal os deveres de comunicar
à autoridade competente as irregularidades de que se tiver ciência (art. 116,
VI), assim como o dever de representar contra ilegalidade, omissão ou abuso
de poder (art.116.XII).
A apuração de irregularidade, todavia, não pode ser feita de qualquer
modo ou sem a observância e o respeito a fórmulas procedimentais.
Indispensável, para que o ato punitivo não sofra questionamento e não venha a
ser posteriormente anulado, que a autoridade competente oriente a apuração
correspondente por meio de mecanismos instrumentais representados e
concretizados pelo Processo Administrativo Disciplinar.
O Processo Administrativo Disciplinar passa a desempenhar, nesse
contexto, importante papel, constituindo-se em meio que a lei coloca à
disposição do administrador para, no exercício do poder disciplinar que lhe é
inerente, apurar e coibir, quando for o caso, os atos irregulares e ilícitos
funcionais por servidores públicos.
A punição de eventual conduta irregular praticada por servidor no
desempenho de suas atribuições exige, pois, não só a tipificação desta,
conforme as disposições legais inscritas no regime disciplinar respectivo, como
também a sua apuração por meio do processo administrativo disciplinar.
O processo disciplinar presta-se,como visto, a realizar a integração
entre as normas de conduta que em lei se vêem explicitadas e a sanção
prevista para o caso de infringência a qualquer delas.
Oportuno ver, pois, que a exata compreensão dos procedimentos
estabelecidos é de todo necessária para que, punida uma conduta
induvidosamente inadequada, não venha a decisão a ser anulada por vícios e
24falhas insanáveis, impondo uma insuportável desmoralização às normas e à
própria autoridade administrativa, criando uma descabida e inaceitável
aparência de impunidade que se presta a incentivar de forma crescente outras
atitudes igualmente irregulares e a impor ao servidor honesto e dedicado as
conseqüências de atos irresponsáveis, imorais e desonestos praticados por
pessoas pouco ou nada compromissadas com a Administração pública.
2.3 – Código de Ética Profissional do Servidor Público
O Sistema de Gestão de Ética do Poder Executivo Federal é
fundamentado nos Decretos 1.171 de 1994.
Os principais objetivos do Código de Ética são incentivar a adesão de
todos os agentes públicos e administrados; estabelecer regras de conduta
internas e externas; preservar a imagem e a reputação do agente público e da
Administração Pública; evitar conflitos de interesse; possibilitar o exercício da
cidadania sendo mais um canal de acesso ao cidadão; e dar transparência às
atividades desenvolvidas no serviço público.
Nele estão estabelecidos princípios e valores (regras deontológicas)
que visam a estimular um comportamento ético na Administração Pública.
Merecem destaque os seguintes:
I – A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a consciência dos princípios
morais como primados maiores que devem nortear a conduta do servidor
público;
II – A honestidade como um valor a ser perseguido: o servidor público “não
terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o
conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente
25entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, “caput”
e 4º, da Constituição Federal”;
III – O bem comum como fim último da Administração Pública;
VIII – O direito à verdade que toda pessoa tem: “O servidor pode omiti-la ou
falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou
Administração Pública”;
IX – Cortesia e boa vontade no trato com cidadão que paga seus tributos,
direta ou indiretamente, os quais custeiam, inclusive, a remuneração do
servidor;
X – Respeito aos usuários dos serviços públicos, não deixando as pessoas à
espera de solução que compete ao setor em que exerça suas funções nem
permitindo a formação de longas filas ou qualquer outra espécie de atraso na
prestação do serviço.
Esse código também estabelece deveres e vedações que devem ser
observados pelos servidores públicos, alguns dos quais já se encontram
estabelecidos na lei que instituiu o Regime Jurídico do Servidor Público, Lei nº
8.112/90. Dentre as condutas vedadas, destaca-se:
a) usar do cargo ou função para obter favorecimento, para si ou para outrem;
d) usar de artifícios para procrastinar ou dificultar o exercício regular de direito
por qualquer pessoa, causando-lhe dano moral ou material;
g) pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber qualquer tipo de ajuda
financeira, gratificação, prêmio, comissão, doação ou vantagem de qualquer
espécie, para si, familiares ou qualquer pessoa, para o cumprimento da sua
missão ou para influenciar outro servidor para o mesmo fim;
26j) desviar servidor público para atendimento a interesse particular;
m) fazer uso de informações privilegiadas obtidas no âmbito interno de seu
serviço, em benefício próprio, de parentes, de amigos ou de terceiros;
p) exercer atividade profissional aética ou ligar o seu nome a empreendimentos
de cunho duvidoso.
Esse código não foi instituído por lei. Logo, em atenção ao princípio
constitucional da legalidade estrita (“ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, art. 5º, II, da CF), o
descumprimento de suas regras não podem gerar sanção que afete o
patrimônio jurídico do servidor. Por isso a penalidade nele prevista é apenas a
de censura. De qualquer modo, esse Código serve para estimular o
comportamento ético no setor público, desde que as regras deontológicas e as
que fazem referência a deveres e vedações sejam devidamente divulgadas.
2.4 – Criação de Comissões de Ética
O Decreto nº 6.029 de 2007 instituído pelo Presidente da República
Luís Inácio Lula da Silva determinou a Comissão de Ética Pública do Poder
Federal visando a promoção de atividades éticas dos executivos do Poder
Público Federal por meio da integração de órgãos e programas que motivem o
desenvolvimento da ética pública. Com isso, busca auxiliar com a implantação
de políticas públicas com ações transparentes, bem como fácil acesso da
comunidade como forma primordial ao exercício da gestão pública confiável.
Para isso, é primordial a promoção de procedimentos que
compatibilizem as normas com a ética pública, articulando ações,
estabelecendo e efetivando metodologias de incentivo ético na gestão federal.
27 Embora regido por um Código de Ética, o servidor público nem sempre
tem conhecimento das normas de conduta por ela estabelecidas. Cabe às
comissões de Ética, portanto, não somente a avaliação da conduta do servidor,
mas a disseminação dos preceitos éticos descritos no código. Sendo assim,
importante se faz que o trabalho das comissões de ética não se restrinja a
reuniões para analisar e julgar os comportamentos inadequados dos
servidores, mas propiciem espaços de discussão e reflexão onde os servidores
possam se auto-avaliar enquanto equipe, tendo em vista a prestação de
serviços à comunidade pautadas nos valores éticos.
O Decreto nº 6.029, veio reforçar que no regime democrático brasileiro
os agentes públicos devem agir, somente, como representantes dos interesses
públicos, a fim de subsidiar o processo de tomada de decisão da autoridade
pública, desde que, dentro dos padrões legais e éticos. Pra isso, é primordial
que não haja qualquer tipo de tratamento privilegiado do servidor, parentes,
amigos ou do partido político.
2.5 – Ética Pública e Susceptibilidade a Desvios Éticos
Programas de fortalecimento institucional e de modernização do
Estado, desenvolvidos principalmente nos anos 90, não contemplaram ações
específicas para o estabelecimento de um modelo efetivo de gestão da ética.
Países que tradicionalmente deram atenção aos problemas
relacionados com a ética desenvolveram programas de sucesso, tendo em
comum aos seguintes pontos:
a) definição de valores éticos;
b) profissionalização dos recursos humanos;
28c) adoção de normas claras que traduzem, para a prática do dia-a-dia, os
valores éticos definidos;
d) Estrutura de gestão com independência e autonomia para executar ações
voltadas para o aperfeiçoamento das normas – capacitação, orientação,
investigação e sanção, tornando efetivo os limites que devem ser observados
na conduta dos servidores(CEP,2001).
Os eixos primordiais para o desenvolvimento de um modelo de Gestão
da Ética seriam:
a) normalização, relacionado com a existência de normas eficazes
disciplinadoras da conduta funcional;
b) administração, relacionado com as capacidades de promoção e gestão das
referidas normas;
c) infra-estrutura, relacionado com a disponibilidade das condições
instrumentais e capacidade gerencial para que as instituições públicas
cumpram suas missões.
Em maio de 1999 foi criada a Comissão de Ética Pública (CEP) do
Governo Federal, vinculada ao Presidente da República. As principais funções
dessa Comissão são revisão das normas que dispõem sobre conduta ética na
Administração Pública Federal e a elaboração e proposição da instituição do
Código de Conduta das Autoridades, no âmbito do Poder Executivo Federal.
A CEP vem desenvolvendo atividades destinadas a ampliar o
conhecimento da problemática da ética pública, por meio da promoção de
seminários abertos, divulgação do seu trabalho junto às entidades públicas e a
sociedade em geral, e a realização de estudos específicos.
29Um desses estudos relaciona-se com a tentativa de identificar e
relacionar os componentes que influem no contexto ético de entidades
públicas, possibilitando assim implementar as medidas compensatórias
necessárias para minimizar a ocorrência de desvios éticos.
30
CAPÍTULO III
SERVIDOR PÚBLICO
3.1 – A Insatisfação da Sociedade com o Serviço Público
Segundo Muller (2006), a insatisfação com a conduta ética no serviço
público é um fato que vem sendo constantemente criticado pela sociedade
brasileira. De modo geral, o país enfrenta o descrédito da opinião pública a
respeito do comportamento dos administradores públicos e da classe política
em todas as suas esferas: municipal, estadual e federal. A partir desse cenário,
é natural que a expectativa da sociedade seja mais exigente com a conduta
daqueles que desempenham atividades no serviço e na gestão de bens
públicos.
A falta de ética, tão criticada pela sociedade, na condução do serviço
público por administradores e políticos, generaliza a todos, colocando-os no
mesmo patamar, além de constituir-se em uma visão imediatista.
Refletindo sobre a questão, acredita-se que um alternativa, para o
governo, poderia ser a oferta à sociedade de ações educativas de boa
qualidade, nas quais os indivíduos pudessem ter, desde o início da sua
formação, valores arraigados e trilhados na moralidade. Dessa forma, seriam
garantidos aos mesmos, comportamentos mais duradouros e interiorização de
princípios éticos (MULLER, 2006).
Outros caminhos seriam a repreensão e a repressão, e nesse ponto há
de se levar em consideração as leis punitivas e os diversos códigos de ética de
categorias profissionais e de servidores públicos, os quais trazem severas
penalidades aos maus administradores.
31 Para Mafra Filho (2008, p.113), os códigos de ética trazem, em seu
conteúdo, o conjunto de normas a serem seguidas e as penalidades aplicáveis
no caso do não cumprimento das mesmas. Normalmente, os códigos lembram
aos funcionários que estes devem agir com dignidade, decoro, zelo e eficácia,
para preservar a honra do serviço público. Enfatizam que é dever do servidor
ser cortês, atencioso, respeitoso com os usuários do serviço público. Também,
é dever do servidor ser rápido, assíduo, leal, correto e justo, escolhendo
sempre aquela opção que beneficie o maior número de pessoas. Os códigos
discorrem, ainda, sobre as obrigações, regras, cuidados e cautelas que devem
ser observadas para cumprimento do objetivo maior que é o bem comum,
prestando serviço público de qualidade à população. Afinal, esta última é quem
alimenta a máquina governamental dos recursos financeiros necessários à
prestação dos serviços públicos, através do pagamento dos tributos previstos
na legislação brasileira – ressalta-se, aqui, a grande carga tributária imposta
aos contribuintes brasileiros. Também, destaca-se nos códigos que a função do
servidor deve ser exercida com transparência, competência, seriedade e
compromisso com o bem estar da coletividade.
Os códigos não deixam dúvidas quanto às questões que envolvem
interesses particulares, as quais, jamais, devem ser priorizadas em detrimento
daquelas de interesses públicos, ainda mais se forem caracterizadas como
situações ilícitas. Dentre as proibições, tem-se o uso do cargo para obter
favores, receber presentes, prejudicar alguém através de perseguições por
qualquer que seja o motivo, a utilização de informações sigilosas em proveito
próprio e a rasura e alteração de documentos e processos. Todas elas evocam
os princípios fundamentais da administração pública: legalidade,
impessoalidade, publicidade e moralidade – este último princípio intimamente
ligado à ética no serviço público. Além desses, também se podem destacar os
princípios da igualdade e da probidade.
Do ponto de vista da Comissão de Ética Pública, a repressão, na
prática, é quase sempre ineficaz. O ideal seria a prevenção, através de
identificação e de tratamento específico, das áreas da administração pública
32em que ocorressem, com maior freqüência, condutas incompatíveis com o
padrão ético almejado para o serviço público. Essa é uma tarefa complicada,
que deveria ser iniciada pelo nível mais alto da administração, aqueles que
detém poder decisório.
A Comissão defende que o administrador público deva ter Código de
Conduta de linguagem simples e acessível, evitando termos jurídicos
excessivamente técnicos, que norteie o seu comportamento enquanto
permanecer no cargo e o proteja de acusações infundadas. E vai mais longe ao
defender que, na ausência de regras claras e práticas de conduta, corre-se o
risco de inibir o cidadão honesto de aceitar cargo público de relevo. Além disso,
afirma ser necessária a criação de mecanismo ágil de formulação dessas
regras, assim como de sua difusão e fiscalização. Deveria existir uma instância
à qual os administradores públicos pudessem recorrer em caso de dúvida e de
apuração de transgressões, que seria, no caso, a Comissão de Ética Pública,
como órgão de consulta da Presidência da República (MULLER, 2006).
Diante dessas reflexões, a ética deveria ser considerada como um
caminho no qual os indivíduos tivessem condições de escolha livre e, nesse
particular, é de grande importância a formação e as informações recebidas por
cada cidadão ao longo da vida.
A moralidade administrativa constitui-se, atualmente, num pressuposto
de validade de todo ato da administração pública. A moral administrativa é
imposta ao agente público para sua conduta interna, segundo as exigências da
instituição a que serve, e a finalidade de sua ação: o bem comum. O
administrador público, ao atuar, não poderia desprezar o elemento ético de sua
conduta.
A ética tem sido um dos mais trabalhados temas da atualidade, porque
se vem exigindo valores morais em todas as instâncias da sociedade, sejam
elas políticas, científicas ou econômicas.
33 É a preocupação da sociedade em delimitar legal e ilegal, moral e
imoral, justo e injusto. Desse conflito é que se ergue a ética, tão discutida pelos
filósofos de toda a história mundial.
3.2 – O Perfil Moderno do Serviço Público
A prestação de um serviço público cada vez mais satisfatório e
adequado às necessidades da população atende hoje a uma exigência da
própria Constituição Federal, segundo o Princípio da Eficiência que deve
orientar toda a atuação da Administração Pública. Vale dizer que a eficiência
constitui, conforme acréscimo da Emenda Constitucional 19/98, ao lado da
legalidade, da impessoalidade, da moralidade e da publicidade (transparência)
da atuação administrativa, alicerce norteador dos modos de agir no serviço
público em geral, sempre para a produção de resultados pontuais, justos e
úteis à sociedade.
Vázquez (2000, p.170), Brasileiros cada vez mais bem informados e
conscientes dos seus direitos reclamam avanços significativos na condução
estatal, certos de que o respeito aos valores democráticos não se coaduna com
a lentidão ou com o descaso burocrático. A Administração Pública, portanto,
deve modernizar-se, sintonizada com a urgência das novas agendas da
cidadania. E bem mais do que uma simples conveniência, a modernização do
serviço público é um imperativo inafastável.
A transformação, é claro, passa pela valorização dos servidores
públicos, que precisam ser reconhecidos segundo méritos objetivamente
apurados. O Estado deve, por isso mesmo, investir no constante
aperfeiçoamento de seus quadros, estimulando a qualificação técnica
continuada dos seus colaboradores, independentemente dos diferentes níveis
de carreira que ocupem. Do servidor mais humilde aos mais graduados, todos
devem ter oportunidades de crescimento intelectual e profissional. Enquanto
militam pela prestação de um serviço público mais ágil, mais produtivo,
34iniciativas desse tipo contribuem ainda para a melhoria da própria auto-estima
dos funcionários, como é naturalmente desejável.
3.3 – Transparência no Serviço Público
Do ponto de vista do setor há que se estabelecer um padrão de
conduta efetiva, legitimado pela sociedade, e que se expresse não
prioritamente na existência de normas e regulamentos proibitivos das condutas
lesivas ao interesse público, mas através de políticas e ações do Estado que
resgatem a credibilidade institucional que se perdeu ao longo do tempo,
gerando resultados e promovendo o bem estar social de maneira inequívoca,
recuperando o interesse público como foco e finalidade da existência de um
Estado nacional e assegurando, pelo que se denomina transparência, a
participação cidadã nas ações de um governo.
Segundo o Presidente da Comissão Nacional de Ética Pública, Carneiro
(2002), o processo de modernização do Estado se desenvolveu em quatro
fases distintas. Numa primeira, o foco da modernização estava voltado para o
ganho de eficiência: ou seja, a Administração tinha o objetivo de fazer mais
rapidamente e melhor a prestação do serviço público. Numa segunda fase, a
ênfase se deslocou para o conceito da eficácia, o foco no resultado desejado
pela clientela, significando a sociedade usuária dos serviços do Estado. Na
terceira fase, o Estado percebeu que não adiantava apenas fazer certa a coisa
certa, mas faze-la com transparência, com o alcance do olhar da cidadania; a
publicidade dos atos da Administração passa a ter tanta importância quanto o
próprio ato. A perseguição de modelos de gestão pública que possam ser
entendidos como éticos esbarra em algumas importantes indagações
merecedoras de reflexão, dentre as quais: O que se constitui um padrão ético
par o setor público? É a transparência plena dos atos públicos o caminho mais
curto para se alcançar o conceito da ética como um conjunto de princípios,
valores, ideais e regras que constituem um padrão requerido pela sociedade
35para todos os que exercem os chamados poderes deveres do Estado? Os
recursos tecnológicos disponíveis na sociedade podem ser os agentes
diferenciais na promoção da ética pela transparência plena dos atos públicos?
A Constituição Federal estabelece no seu artigo 37, os princípios
norteadores da atuação das Administrações nas três esferas de Governo que
integram a Federação, que são os princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência, integrada à exigência de licitação pública
como regra de aquisição de bens e serviços.
Segundo Ramos (2000), a transparência é uma importante
característica do que se espera da administração pública, a qual vem sendo
cada vez mais vigiada e controlada pelo cidadão, o verdadeiro patrão do
servidor público. Sendo assim, uma nova cultura na área de comunicação deve
considerar a cidadania, no sentido de se buscar novas formas de organização
do trabalho em um Estado democrático, com o objetivo de reduzir as
desigualdades sociais (Educação para todos); a responsabilidade, no sentido
de concretizar o desejo de interesse público à realização do bem comum.
Desejo de todo o cidadão; e a responsabilização de informar a gestão
realizada. Obrigatoriedade de prestação de contas ao cidadão, o que
pressupõe o maior envolvimento dos funcionários na busca da maior eficácia
do Estado.
3.4 – Mudanças no Serviço Público
De acordo com Nunes (2008), a mudança que se deseja na
administração pública sugere numa gradativa mais necessária transformação
cultural dentro da estrutura da organizacional da pública, isto é, uma
reavaliação e valorização das tradições, valores morais e educacionais que
nascem em cada um de nos e se forma ao longo do tempo criando assim um
36determinado estilo de atuação no seio da organização baseada em valores
éticos.
A sociedade brasileira, consiste em direito e deveres onde muitos
deixam levar pelo poder econômico, fazendo com que muitas pessoas sofram
com a desigualdade social. O desempenho profissional público precisa ser
desenvolvido dentro da ética, onde as instituições públicas e privadas
valorizam esta postura moral. O profissional tem cumprido suas funções
respeitando seus colegas e seu espaço físico de trabalho.
A administração pública, porém esta limitada as disciplinas com
direitos e deveres dando liberdade ao ser humano buscando forma de se
interagir com o outro alem de regular suas praticas do dia a dia.
Para Nunes (2008), o estado é constituído de três elementos
originários e indissociáveis, povo, território, e governo soberano. Povo é o
componente humano do estado; território é sua base física; governo soberano
é o elemento condutor do estado que exerce o poder de autodeterminação e
auto-organização, emanada do povo, não há poder sem estado
independentemente em soberania, segundo a vontade livre de seu povo e de
fazer cumprir as decisões forçadas pelo poder do estado.
A organização do estado é matéria constitucional que divide a
política do território nacional, poderes, forma de governo, investimetos diretos.
Através da legislação, organização administrativa de suas autarquias, objeto do
direito administrativo que visa uma administração com responsabilidade ao
serviço publico de uma sociedade.
A democracia é a mais delicada de forma política e social, também a
mais difícil de realizar, pois pressupõe cultura política e estabilidade
econômico-social. As políticas sócias se situam no interior de um tipo particular
de estado. São formas de interferência do estado visando à manutenção das
relações sócias de determinada formação social. O processo de definição de
37política para a sociedade reflete aos conflitos, os arranjos feitos nas esferas de
poder que perpassam as instituições do estado e da sociedade como um todo.
O comportamento humano no ambiente de trabalho é que faz uma
boa eficaz na empresa em que trabalha, pois as mesmas selecionam pessoas
que possam também trazer lucros e uma inter relação bem favorável ao interior
e exterior da empresa.
Ainda para Nunes (2008), a gestão de pessoas esta ocorrendo para
manifestar mudanças nas pessoas, e esta exigindo cada vez mais aos
profissionais de cada setor de trabalho mais fidelidade pelo que faz alem de
desenvolver trabalhos que possam trazer informações e conhecimentos para
sua auto-realização. Hoje o mundo esta passando pelo momento competitivo,
onde as empresas procuram qualificar seus servidores, somos sabedores que
as pessoas precisam das organizações, pois seus objetivos precisam esta
direcionados para a empresa. Porem o cidadão precisa se atualizar para poder
lidar com o publico dando atenção ao grupo de pessoas qual estão em
constante movimento em busca de uma ética profissional descente e um bom
poder de eficácia .
A ação e a cooperação das pessoas são fundamentais para mudar a
forma de administrar e persistir boas atitudes e reconhecer o papel da cultura
organizacional, percebendo as pessoas como atores que participam e
influenciam as mudanças.
38
CONCLUSÃO
Conclui-se, assim, que as questões éticas, estão cada vez mais
visíveis na cena pública brasileira dada a multiplicação de casos de corrupção
e, sobretudo, a reação da sociedade frente a um tal grau de desmoralização da
relações sociais e políticas. Com os escândalos e as denúncias de corrupção
expostas pela mídia, refletir sobre essas questões traz à tona os conceitos
éticos que envolvem a busca por melhores ações, tanto na vida pessoal como
na vida pública daqueles a quem, legalmente, devem decência à sociedade.
Assim, a ética é esperada na conduta responsável por parte do
agente público, com o claro e definitivo objetivo de diminuir o mau uso da
máquina pública, evitando, por conseguinte, as vantagens desleais e as
práticas que prejudiquem o contribuinte.
Depois de décadas de preconceito e de abandono, no sentido de não
cumprir o seu papel por falta de condições objetivas, de formação e
capacitação profissional, de motivação para a importância de seu trabalho, o
servidor público compreende o sentido de seu espaço nas instituições do
Estado; recebe treinamento especializado e permanente para desempenhar
cada vez melhor as sua funções e capacita-se para participar das decisões da
gestão pública.
O servidor público, independente do que reza a sua legislação, seja
de qualquer setor, precisa, antes de mais nada, ser fiel ao serviço que presta à
comunidade, ser digno do respeito da sociedade e assim passar a ser a
imagem de um serviço público honesto, mesmo nos tempos atuais. É
necessário que tenha respeito ao povo e à vocação natural da cidade.
398 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARMANDO DA COSTA, José. Teoria e Prática do Processo Administrativo
Disciplinar. Brasília: Brasília Jurídica, 1999.55p.
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MAFRA FILHO, Francisco de Salles Almeida. Servidor Público e a Reforma
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40MULLER, Desirée Brandão. Ética e Serviço Público. Disponível em
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VERGARA, Sylvia Constant.; Branco, P. D.. Competências gerenciais
requeridas em ambiente de mudança. Revista de Administração
Contemporânea/ANPAD. Rio de Janeiro, v.1, n.1.1995.
41
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS..........................................................................................3
DEDICATÓRIA....................................................................................................4
RESUMO.............................................................................................................5
METODOLOGIA..................................................................................................6
SUMÁRIO............................................................................................................7
INTRODUÇÃO.....................................................................................................8
CAPÍTULO I – ÉTICA..........................................................................................9
1.1 – Conceito de Ética......................................................................................9
1.2 – História da Ética......................................................................................12
1.3 – Doutrinas Éticas......................................................................................16
1.3.1 – Ética Grega...........................................................................................17
1.3.2 – Ética Cristã Medieval...........................................................................17
1.3.3 – A Ética Moderna...................................................................................18
1.3.4 – A Ética Contemporânea......................................................................18
CAPÍTULO II – ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO..............................................21
2.1 – A Questão da Ética no Serviço Público................................................21
2.2 – Processo Administrativo Disciplinar....................................................22
2.3 – Código de Ética Profissional do Servidor Público..............................24
2.4 – Criação de Comissões de Ética.............................................................26
2.5 – Ética Pública e Susceptibilidade a Desvios Éticos.............................27
CAPÍTULO III – SERVIDOR PÚBLICO.............................................................30
3.1 – A Insatisfação da Sociedade com o Serviço Público..........................30
3.2 – O Perfil Moderno do Serviço Público....................................................33
3.3 – Transparência no Serviço Público........................................................34
3.4 – Mudanças no Serviço Público...............................................................35
CONCLUSÃO....................................................................................................38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................39
ÍNDICE...............................................................................................................41