UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR
SOLVENTE
Por: Emanuela Almeida de Oliveira Alves
Orientador
Prof. Dr. Jean Almeida
Rio de Janeiro
2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR
SOLVENTE
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Direito
Processual Civil.
Por: Emanuela Almeida de Oliveira Alves
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu marido José
Luiz, que tanto me apoiou para concluir
este curso.
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RESUMO
Este trabalho procurou de forma objetiva dar ao leitor uma visão geral
da execução por quantia certa contra devedor solvente após a introdução da
Lei 11.232/2005.
Tivemos alterações significativas no Código de Processo Civil as quais
puderam ser brevemente abordadas aqui. Assim, como alguns artigos
sofreram mudanças que interferem e muito no processo de execução,
procuramos abordar alguns pontos mais significativos para o leitor.
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METODOLOGIA
O método utilizado para o desenvolvimento do trabalho foi a pesquisa
bibliográfica, que abrangessem o tema em questão, bem como a consulta a
jurisprudência. As alterações são recentes por isso foi interessante consultar o
que tem está sendo abordado pelos doutrinadores. Alguns julgados foram
importantes para completar o trabalho já que temos algumas divergências na
doutrina.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Parte Histórica 10
CAPÍTULO II – Princípios informativos da fase executiva 12
CAPÍTULO III – Pressupostos da execução e do cumprimento
de sentença 16
CAPÍTULO IV – Do título executivo 19
CAPÍTULO V – Da execução por quantia certa contra devedor solvente
34
CONCLUSÃO 51
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52
ÍNDICE 53
FOLHA DE AVALIAÇÃO 55
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INTRODUÇÃO
A atividade jurisdicional tem por finalidade aplicar a vontade da lei,
buscando uma decisão mais justa possível, dando ao vencedor da ação o bem
jurídico pleiteado através da sentença.
Por muitas vezes o comando contido na sentença é cumprido
voluntariamente, mas não sendo este comando suficiente, a jurisdição usa
artifícios jurídicos para efetivar o direito do credor. A execução é um meio de
ver o decreto sentencial cumprido e conseqüentemente o direito do credor
satisfeito.
Conforme conceitua Cândido Rangel Dinamarco (1997, p.115):
“A execução é um conjunto de atos estatais através de
que, com ou sem o concurso da vontade do devedor (e
até contra ela), invade-se seu patrimônio para, à custa
dele, realizar-se o resultado prático desejado
concretamente pelo direito objetivo material”.
É praticamente unânime na doutrina afirmar a natureza jurisdicional da
execução, por exemplo, segundo o jurista Vicente Greco Filho a “atividade
executória seria eminentemente jurisdicional e não meramente administrativa,
porque nela o juiz determina as medidas necessárias para o cumprimento da
sentença, observando ainda nesta fase o contraditório, o respeito ao devedor e
a nossos valores culturais”(Vicente, 2008, p.7).
Acompanhando o mesmo entendimento Alexandre Freitas Câmara
quando afirma que “a natureza da execução é jurisdicional, porque sendo a
jurisdição a função estatal de substituir a atividade das partes e atuar a
vontade concreta da lei” (Câmara, 2008, p.140).
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Na execução a fase de cognição é eventual e acontece por iniciativa do
devedor que pode utilizar-se dos embargos do devedor ou da impugnação.
Porém, deve-se observar a imutabilidade da coisa julgada quando se tratar de
execução de sentença.
No momento processual atual, estão em parte unificadas as execuções
fundadas em título judicial (sentença), e as execuções fundadas em titulo
extrajudicial (negócios jurídicos documentados).
O código atual abrange praticamente todas as espécies de execução e
recentemente foi complementado pela Lei nº 11.232, de 22 de dezembro de
2005, onde separou a execução de títulos judiciais, sendo denominado
cumprimento de sentença da execução, da execução por títulos extrajudiciais.
Algumas outras espécies de execução estão regulamentadas em leis
extravagantes: a) a execução fiscal, prevista na lei nº 6.830, de 22 de setembro
de 1980; b) a execução de créditos resultantes de financiamento de bens
imóveis vinculados ao Sistema Financeiro da Habitação, regulada na Lei nº
5.741, de 1º de dezembro de 1971; c) a falência, que é uma execução coletiva
e universal do patrimônio do devedor comerciante insolvente, disciplinada pela
Lei nº 11.101/2005; e d) as execuções de cédulas hipotecárias – Decreto-lei nº
70, de 21 de novembro de 1966 – e de títulos de crédito rural ou industrial –
Decretos-leis nº 167, de 14 de fevereiro de 1967, e 413, de 9 de janeiro de
1969.
Neste breve estudo que vamos fazer nos voltaremos para a execução
regulamentada pelo código de processo civil que sofreu algumas alterações
com a Lei nº 11.232/2005.
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CAPÍTULO I
PARTE HISTÓRICA
No antigo direito romano, a execução era uma atividade privatística
segundo Vicente Greco Filho; da qual o juiz era um jurisconsulto ao qual as
partes concordavam em submeter-se as suas questões.
Têm-se relatos que a execução mais antiga era realizada diretamente
na pessoa do devedor, que, era vendido pelo credor para fora da cidade
perdendo a condição de cidadão romano e até mesmo de membro de uma
família, tendo sua condição de liberdade transformada em coisa.
Segundo Celso Neves “o primeiro processo referido de execução
patrimonial foi a apreensão de bens como pena, podendo ao credor até
mesmo destruir o referido bem apreendido” (Neves, 1958, p.24-5). Essa forma
de execução era um privilegio de certas categorias sociais em contraste com a
execução que acarretava a perda da liberdade. Após sentença determinando o
pagamento era estipulado ao devedor um prazo de trinta dias para quitar o
débito, caso ele não quitasse a dívida ele era entregue pelo magistrado para a
execução pessoal.
A execução foi evoluindo e no chamado terceiro período do direito
romano ocidental foi utilizado a apreensão dos bens do devedor para serem
vendidos pelo credor até o limite de seu crédito.
No direito romano privativo predominou a idéia de que a execução
visava coagir a vontade do devedor para constrangê-lo e não a finalidade de
satisfazer o crédito do credor.
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No período das Ordenações Filipinas, em Portugal, a execução vinha de
um processo de conhecimento e era realizada sobre o patrimônio do devedor
mantida a precedência de que primeiro penhorava.
No Brasil a execução foi regulamentada em nosso primeiro diploma
processual, no regulamento nº 737.
O código de 1939 previa a ação executiva para títulos extrajudiciais, a
ação executória de sentença e o concurso de credores no processo de
execução. Também neste diploma desapareceu a precedência do credor que
primeiro penhora; e a segunda penhora transformava o processo de execução
em concurso de credores.
No código atual a execução para títulos extrajudiciais acontece num
processo autônomo enquanto os demais títulos como a execução contra a
Fazenda Pública, os alimentos, a sentença penal condenatória, a sentença
arbitral e a sentença estrangeira acontecem no cumprimento de sentença.
Tanto no cumprimento de sentença como na execução, a precedência do
credor que primeiro penhorava, agora desaparece, dando lugar à igualdade
entre credores de igual categoria perante a lei civil, quando a insolvência for
decretada.
As sentenças para serem cumpridas não mais dependem de processo
de execução, porque se cumprem por ordem judicial.
12
CAPÍTULO II
PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DA FASE EXECUTIVA
A execução forçada esta regulada pelos mesmos princípios do processo
cognitivo, porém aqui eles recebem características novas.
2.1. Princípio do desfecho único
Este princípio tem por finalidade a satisfação do crédito exeqüendo,
realizando o direito substancial. O único fim pretendido na fase executiva é a
satisfação do exeqüendo.
2.2. Princípio do ônus
Todas as despesas correm por conta do executado (art.651 e 659 do
CPC), inclusive os honorários advocatícios do advogado do credor.
2.3. Principio da atipicidade dos meios executivos
Faculdade do juiz em adotar meios executivos necessários para
satisfazer a execução.
2.4. Princípio do contraditório na execução civil
Alguns doutrinadores acham que esse princípio não existe no processo
de execução. Para outros na fase executiva existe uma forma atenuada do
princípio do contraditório, para uma terceira corrente, entendem que o
contraditório existe sim na fase executiva encontrando ainda respaldo no art.
5º, LV, da Constituição da República. Ele só não tem contraditório a respeito
do montante devido já decidido. No mérito, o valor do título não se pode
discutir.
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No processo de execução a discussão se dá do título em diante (já feita
a liquidação de sentença). Se não houvesse contraditório, como é que poderia
o devedor não concordar com os cálculos feitos pelo contador ou com o valor
do bem vendido.
O juiz, quando decide a respeito de um pedido de impenhorabilidade,
ele decide até no processo de execução. Na exceção de pré-executividade
poderá ser alegado até mesmo antes da penhora. Hoje, quando nos
insurgimos contra o valor do bem, preço vil, penhora, tudo isso é cognição,
pois o juiz deve dar vistas à outra parte e decidir com fundamentação. Então, é
impossível hoje, negar esse princípio do contraditório na execução (art. 92 CF).
Há matérias dentro do processo de execução, que o juiz deve conhecer de
ofício, mas pode passar despercebido alguma coisa, devido ao grande volume
de processos.
2.5. Princípio da Realidade da Execução
O cumprimento, a responsabilidade dos bens do devedor para que a
execução atinja a sua realidade. Tanto o patrimônio presente ou futuro do
executado é responsável pela dívida, enquanto ela não for prescrita.
2.6. Princípio da Máxima Utilidade da Execução
Esse princípio beneficia o credor dizendo que a execução deve apanhar
do devedor o máximo de bens, para que se aproxime do que o credor teria que
receber. Uns dizem que é derivado do princípio da atuação jurisdicional. É uma
redundância, mas não é igual a esse princípio. Em suma, esse princípio quer
que o credor receba aquilo que realmente tem direito.
Esse é um princípio de resultado, se pretende o resultado máximo
dentro do processo de execução. O contrabalanceamento desse princípio é o
princípio da não oneração indevida do devedor. A própria lei no artigo 653 do
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CPC autoriza a proceder ao arresto, para depois procurar o devedor. Durante o
processo de execução transformam-se em bens penhorados.
2.7. Princípio do Menor Sacrifício do Executado
Este princípio tenta balancear o prejuízo do executado, pois, se por um
lado, preocupa-se com a total realização da execução, por outro, a justiça tenta
onerar da menor forma possível o devedor. Ordena o juiz que fique como
depositário o próprio devedor.
2.8. Princípio da Proporcionalidade:
Conforme o art. 655 do CPC para o princípio da proporcionalidade
existem alguns mecanismos para tornar viável a retirada de bens do executado
ocorrendo a gradação de penhora com a relação de bens. É preciso ver qual é
a finalidade da penhora e garantir que o credor irá receber. A liquidação existe
para transformar uma sentença transitada em julgado em título executivo.
Em razão do princípio do menor sacrifício não pode-se desfalcar o
estabelecimento comercial. Não pode deixar que alguém fique sem seu
rendimento diário.
Até o momento da arrematação ou adjudicação, o devedor pode pedir a
substituição do bem penhorado por uma quantia em dinheiro. Se a quantia
cobre o valor devido, deve-se evitar a venda do imóvel (contrabalanceamento
entre o direito do credor e do devedor). Caso não seja feito a arrematação ou a
adjudicação, deverá ser penhorado o bem, senão houver lance, seguirá para
um segundo lance, que não poderá ser aceita lance vil (aquele que não condiz
com a realidade, é insignificante). Esse lance depende do caso, não existe
parâmetro. Deve-se fazer uma análise da jurisprudência, e esta tem
considerado como lance vil, o lance abaixo de 60%. Pode-se embargar a
venda do bem e recorrer, dizendo que o bem foi vendido por preço vil.
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O credor pode dar lance no praceamento. Dando lance na arrematação
ou adjudicação, pode ofertar o crédito que ele tem, mas sempre pagando
acima da base.
Sempre é possível ao devedor alegar embargos ou, sua esposa ou
descendentes, poderão usar o direito de remissão de bens. Há a remissão do
processo (ato pelo qual o devedor vai a juízo dois minutos antes do
praceamento), ou remissão depois que vende (24 horas depois de arrematado
o bem). A adjudicação só pode ocorrer se não houver lançador. Se houver um
lançador é praceamento.
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CAPITULO III
PRESSUPOSTOS DA EXECUÇÃO E DO CUMPRIMENTO
DE SENTENÇA
3.1. Das Partes
Tanto no cumprimento de sentença como no processo de execução é
necessário que as partes sejam legítimas para que se cumpram às condições
da legitimatio ad causam. As partes na execução são denominadas como
credor e devedor.
Podem promover a execução forçada ou o cumprimento de sentença:
• o credor a quem a lei confere o título executivo
• o Ministério Público nos casos prescritos em lei (art. 566)
• o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que,
por morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título
executivo;
• o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe foi
transferido por ato entre vivos;
• o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional
(art. 567)
A legitimação ordinária e comum para a execução é a do credor que
figure no título executivo. No título pode constar mais de um credor,
resolvendo-se a legitimidade pelas regras civis referentes á natureza da
obrigação. Somente nos casos previstos em lei pode o Ministério Público
propor a execução, e ainda nos casos que é autorizado a propor ação de
conhecimento conseqüentemente terá legitimidade para a execução.
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Podem ainda promover a execução os sucessores por atos inter vivos
ou causa mortis, o sub-rogado legal e o convencional nos termos dos arts. 346
a 351 da lei civil.
O sujeito passivo da execução, em regra, é aquele que figura como
devedor no título executivo, por força da lei civil ou comercial. São devedores
os emitentes do título, o avalista, o endossante, o aceitante, nos termos da lei
comercial. Havendo solidariedade passiva, qualquer devedor pode ser
executado, ou todos em litisconsórcio passivo.
O fiador civil também pode ser parte na execução, pois ele é devedor ou
pelo menos responsável pela obrigação. Caso ele não tenha renunciado
expressamente ao benefício de ordem (direito de ver penhorado primeiro os
bens do devedor principal), poderá indicar os bens do devedor para serem
penhorados, mas a execução poderá ser proposta contra ele. Se ele renunciou
ao benefício de ordem, converte-se em devedor solidário.
Para Alcides de Mendonça cabe assistência na execução baseada em
título extrajudicial e se houver embargos. Segundo Vicente Greco Filho, tanto
para execução fundada em título judicial ou extrajudicial; desde que haja
embargos ou impugnação, é sempre possível em tese à assistência.
3.2. Da Competência
Segundo Vicente Greco Filho, “a competência em se tratando de
cumprimento de sentença segue o processo funcional, ou seja, pelas fases do
processo” (Vicente, 2008, p.21). Se o processo tem competência originária nos
tribunais, a fase executiva também será de competência dos tribunais. Agora,
se a ação iniciar no primeiro grau de jurisdição este também será o juízo
competente para a execução, mesmo que no processo tenha havido recurso e
que haja alguma decisão proferida em tribunal superior.
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O art. 475 – P, III traz uma exceção, pois quando o título executivo for
de sentença penal condenatória ou sentença arbitral, a execução processar-
se-á perante o juiz cível competente.
Quando o credor se deparar com a competência de dois foros
alternativos ele poderá optar: * pelo local onde se encontram bens sujeitos à
expropriação, ou, * pelo local do atual domicilio do réu.
Em execuções fundada em título extrajudicial será determinada para
fixar competência as mesmas regras gerais relativas ao processo de
conhecimento.
3.3. Inadimplemento do devedor
Conforme art. 580 do CPC são necessários dois requisitos para verificar
o inadimplemento do devedor: * que a dívida seja certa, líquida e exigível e *
que seja consubstanciada em título executivo.
Tem-se como início para começar a contar o inadimplemento à partir do
vencimento do título ou do momento de sua exigibilidade. A mesma maneira é
usada para contar a inclusão dos juros. Se o credor possui título executivo os
juros são devidos à partir do vencimento, se o credor não tem título e propõe
uma ação de conhecimento para adquirir o título os juros são contados à partir
da citação válida, conforme art. 219 do CPC.
Conforme previsto no art. 475 J, se depois de prolatada a sentença
(título executivo judicial) o devedor não pagar a quantia devida no prazo de 15
dias, o credor deverá requerer a expedição de mandado de penhora dentro do
prazo se 6 meses sob pena de arquivamento do processo.
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CAPITULO IV
DO TÍTULO EXECUTIVO
4.1. Conceito
É um dos requisitos indispensável para propor uma execução. Para
Alexandre Freitas Câmara o título executivo é um dos temas mais
controvertidos de toda ciência processual. Na doutrina há divergência acerca
de seus conceitos e de sua função. Parte da doutrina afirma que o título
executivo é o documento que consiste na prova legal da existência do crédito
afirmado pelo exeqüente. Para a teoria documental o título executivo, seria um
documento representativo da existência do crédito exeqüendo. Este
documento seria uma prova do crédito, daí ser considerada uma prova legal.
A outra parte da doutrina defende a teoria do título executivo como ato
jurídico capaz de tornar adequada à via executiva como meio de atuação
concreta da vontade da lei, através da imposição da sanção processual
consistente na responsabilidade patrimonial.
Ainda houve parte da doutrina que tentou estabelecer a teoria mista, em
que o título executivo é visto a um só tempo como ato e documento. Outros
autores afirmam ser o título executivo um ato de acertamento do direito.
Segundo a análise realizada pelo professor Alexandre Freitas Câmara a
teoria do título executivo como ato de acertamento do direito substancial tem
duas falhas: em primeiro lugar, é difícil reconhecer a existência de acertamento
do direito em atos extrajudiciais. Em segundo lugar, ao exigir o acertamento do
direito como requisito da execução, esta concepção liga a execução,
excessivamente, à existência do direito substancial.
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Quanto a teoria documental, ao afirmar que o título é um documento,
está dando a ele a função de demonstrar a existência do direito de crédito
afirmado pelo demandante. Ao afirmar que o título executivo prova a existência
do direito, os defensores da teoria documental estão modificando,
arbitrariamente o conceito de prova.
Em segundo lugar, se o título fosse mesmo uma prova, deveria haver na
execução uma atividade cognitiva, consistente na valoração da prova
produzida, cabendo ao juiz afirmar se a existência do crédito está mesmo
demonstrada ou não, e só depois disto é que se poderia passar aos atos
executivos.
A teoria documental confunde a prova do ato jurídico com a sua forma.
O que a lei exige para, todos eles, forma escrita. A forma escrita que revestem
os títulos executivos é, tão somente, a forma do ato jurídico, e não a sua prova.
O título executivo não é o escrito, mas o seu conteúdo.
O título executivo é, portanto, um ato (ou fato) jurídico que a lei (e só
ela) atribui eficácia executiva. A eficácia executiva consiste na aptidão para
produzir o efeito de fazer incidir sobre o devedor a responsabilidade
patrimonial.
Alexandre Freitas Câmara conceitua título executivo
como ato (ou fato) jurídico a que a lei atribui eficácia
executiva, tornando adequada à utilização da via
executiva como forma de fazer atuar a responsabilidade
patrimonial (Câmara, 2008, p.164).
Para Vicente Greco Filho o título é o documento ou o ato
documentado que consagra obrigação certa e que
permite a utilização direta da via executiva (Vicente,
2008, p.25).
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4.2. Função do título executivo
Há autores que vêem no título executivo um fator de legitimação, ligando
o título à legitimidade das partes para a demanda executiva. Outra posição é a
que afirma ser o título executivo a causa petendi da demanda executiva.
A verdadeira função do título executivo liga-se ao interesse de agir. O
título executivo é, pois, responsável por tornar adequada à via executiva como
instrumento de atuação da vontade concreta do ordenamento jurídico. Verifica-
se que o título executivo encontra-se localizado no campo das condições da
ação, como um dos elementos formadores do interesse de agir in executivis.
4.3. Dos Títulos Executivos Judiciais
Conforme o “Art. 475 – N do CPC, são títulos executivos judiciais:
I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência
de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;
II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;
III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda
que inclua matéria não posta em juízo;
IV – a sentença arbitral;
V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado
judicialmente;
VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de
Justiça;
VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao
inventariante, os herdeiros e aos sucessores a título singular ou
universal.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial
(art.475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para
liquidação ou execução, conforme o caso”.
Faremos breve comentário sobre cada título executivo judicial.
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I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de
obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;
Se a sentença impõe uma obrigação ela tem força condenatória e
executória. Nas sentenças declaratórias, elas por si mesmas declaram a
existência ou inexistência de uma relação jurídica. As sentenças constitutivas
podem provocar alterações no mundo jurídico ou vão se cumprir através de
mandado ao registro competente.
Uma sentença condenatória ainda pode encontrar a inércia ou
resistência do devedor quanto a sua satisfação, necessitando ser cumprida por
meios executivos.
Com este inciso entende-se que a sentença declaratória que reconheça
a existência de uma obrigação, bem como as condenatórias tem naturalmente
efeito executivo por força de lei.
Segundo Vicente Greco Filho “ A obrigação contém dois elementos, o
vínculo e a exigibilidade: o juiz, ao reconhecer a obrigação declara a existência
do vínculo e condena ao cumprimento da prestação exigível.” (Vicente, 2008,
p.28)
II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;
Neste caso o ofendido tem duas opções: pode aguardar o encerramento
da ação penal e seu trânsito em julgado tendo em mãos um título executivo
judicial e indiscutível ou propor imediatamente a ação civil de conhecimento
onde é possível incluir outro eventual responsável. O credor de um título
executivo de uma sentença penal condenatória pode ser o ofendido, seu
representante legal ou seus herdeiros independente de quem tenha promovido
a ação penal.
O Ministério Público pode promover a execução como um substituto
processual com legitimação extraordinária conforme preceitua art. 566, II CPC.
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III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda
que inclua matéria não posta em juízo;
Este inciso quando na sua parte final inclui a expressão “ainda que
inclua matéria posta em juízo”, quis o legislador afastar a orientação
jurisprudencial que restringia a coisa julgada e o título executivo judicial
somente à matéria objeto do processo, excluindo as questões que
ultrapassassem essa matéria. Significa ainda dizer que deve haver o
contencioso e nele ocorrendo conciliação ou transação, poderão ser
acrescidas disposições não cogitadas no processo sendo muito comum para
facilitar a transação.
Nas sentenças referidas aqui pela lei, o juiz não terá julgado o objeto do
processo, o qual terá sido resolvido nos termos do ato de composição de
interesses celebrados pelas partes. Aqui o juiz verificará a validade do ato
autocompositivo e homologá-lo, conferindo assim eficácia ao ato. A sentença
será definitiva, pois que contém resolução de mérito embora não contenha o
julgamento dele.
IV – a sentença arbitral;
A arbitragem é o mecanismo que substitui a jurisdição do estado para
resolver um conflito. Ela pode ocorre para dirimir litígios relativos a direitos
patrimoniais disponíveis sendo as partes maiores capazes. Ao escolherem a
arbitragem, as partes podem também decidir se a decisão será de direito ou de
eqüidade e ainda se as regras de direito aplicadas serão as nacionais ou
estrangeiras, desde que não haja violação dos bons costumes e à ordem
pública.
Foi conferida eficácia executiva à decisão proferida pelo árbitro, pondo
termo a um conflito que tenha sido levado à solução por via arbitral.
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Conforme Alexandre Freitas Câmara a “inclusão da sentença arbitral
entre os títulos executivos coloca o Brasil no caminho de uma tendência
internacional, de valorização da arbitragem como meio de pacificação social,
essencial para o descongestionamento do Judiciário, e permitindo um novo
meio de acesso aos escopos sociais da jurisdição e de seus equivalentes.”
(Câmara, 2008, p.174)
V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado
judicialmente;
É a homologação judicial do acordo extrajudicial de qualquer natureza
ou valor, celebrados entre as partes. Após a homologação judicial, o acordo
torna-se um título executivo judicial.
Apesar de alguns doutrinadores como Vicente Greco Filho entender que
homologar acordos extrajudiciais não é função do Poder Judiciário, quando
homologado o acordo torna-se um título executivo judicial.
VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de
Justiça;
A sentença de homologação não acrescenta eficácia diferente à
sentença estrangeira, de modo que somente será executada a sentença
estrangeira condenatória.
A execução das sentenças estrangeiras homologadas pelo Superior
Tribunal de Justiça é da competência da Justiça Federal da Capital do Estado
do domicílio do devedor, obedecidas as regras normais para a execução de
julgado nacional de mesma natureza (art. 484 CPC). Em se tratando de título
extrajudicial estrangeiro não depende de homologação e a competência é da
justiça comum.
VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao
inventariante, os herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal.
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A execução do formal de partilha é da competência do juiz do inventário.
Conforme a natureza do bem que integra o quinhão sucessório, a execução
fundada neste título poderá ser por quantia certa (dinheiro) ou entrega da coisa
(qualquer outro bem diverso do dinheiro) neste caso a execução não será
processo autônomo, mas sim um prolongamento do processo de inventário e
partilha.
Nos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art.475-J) incluirá a ordem de
citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução.
4.4. Dos Títulos Executivos Extrajudiciais
Conforme o “Art. 585 do CPC, são títulos executivos extrajudiciais:
I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o
cheque;
II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo
devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas
testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério
Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;
III – os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e
caução, bem como os seguros de vida;
IV – o crédito decorrente de foro e laudêmio;
V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel
de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e
despesas de condomínio;
VI – o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou
de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem
aprovados por decisão judicial;
VII – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos Municípios,
correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;
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VIII – todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei
atribuir força executiva.”
Faremos breve comentário sobre cada título executivo extrajudicial.
I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o
cheque;
A letra é um título de crédito que enuncia uma ordem de pagamento de
uma quantia determinada dada pelo sacador ao sacado em favor do tomador
ou à sua ordem.
A promissória (livrança) é uma promessa feita, no título, pelo subscritor
de pagar determinada quantia ao tomador ou à sua ordem.
E o cheque, tal como a letra, é uma ordem de pagamento dada pelo
sacador a um Banco (sacado) para que pague determinada quantia por conta
da provisão bancária constituída pelo sacador. E pode apresentar-se como
título de crédito à ordem ou ao portador.
Porém, para que a letra, a promissória e o cheque possam reclamar-se
da categoria de título de crédito cada um deles tem de satisfazer determinados
requisitos exigidos pela respectiva Lei Uniforme.
Assim, a letra tem de satisfazer os requisitos essenciais prescritos no
artº 1º, enquanto a promissória os do no artº 75º da Lei Uniforme Sobre Letras
e Livranças, e o cheque, por sua vez, os requisitos enunciados no artº 1º da Lei
Uniforme Sobre Cheques, sob pena de não poderem valer como letra,
promissória ou cheque.
Entendemos que uma letra, uma promissória ou um cheque que reúna
todos os requisitos exigidos pela respectiva Lei Uniforme possa constituir título
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executivo, apesar da alteração introduzida pela Reforma de 95/96 ao artº 46 do
CPC.
Antes da Reforma de 1995/1996, as espécies de documentos
particulares exequíveis e os respectivos requisitos de exequibilidade
constavam da al. c) do artº 46 e do artº 51 CPC.
A alínea “c” dizia, que à execução apenas podiam servir de base: "As
letras, livranças, cheques, extractos de factura, vales, facturas conferidas e
quaisquer outros escritos particulares, assinados pelo devedor, dos quais
conste a obrigação de pagamento de quantias determinadas ou de entrega de
coisas fungíveis".
Com aquela reforma processual, o Código deixou de elencar
especificadamente e à parte os títulos de crédito (letras, livranças, cheques,
etc.) como documentos particulares executivos. Mas essa alteração não visou
restringir o número dos títulos executivos, muito pelo contrário teve antes em
vista - como se pode ler do preâmbulo do Dec. Lei nº 329-A/95, de 12/12 - uma
«ampliação significativa do elenco dos títulos executivos, conferindo-se força
executiva aos documentos particulares, assinados pelo devedor, que importem
constituição ou reconhecimento de obrigações pecuniárias, cujo montante seja
determinável em face do título.
Antes da alteração já havia quem defendesse que a referência genérica
que a alínea c) do artº 46 faz a todos os documentos particulares retira toda a
utilidade à especificadamente feita às letras, livranças, cheques e extractos de
facturas, que se não distinguem dos demais títulos, no que aqui interessa,
senão na disciplina substancial própria da relação cartular.
II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo
devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas
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testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público,
pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;
A reforma ampliou sensivelmente o alcance desse inciso II de forma a
abranger várias espécies de documentos. Na realidade, pela redação atual
desse dispositivo, podemos considerar como títulos executivos extrajudiciais
todos os atos jurídicos documentados por escrito, desde que presentes os
requisitos da liquidez e da certeza, conforme se verá. O primeiro seria a
escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor.
O documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas
também tem força executiva. Na realidade, trata-se do ato praticado pelo
devedor assumindo uma obrigação e a promessa de cumpri-la. Entretanto, o
CPC condicionou a eficácia executiva de tais documentos à assinatura de duas
testemunhas. A esse respeito, ARAKEN DE ASSIS colaciona jurisprudência no
sentido de que em julgado da 3ª. Câm. Cív. do TARS, estatuiu-se que rubrica
não é assinatura, nem ‘avalista’ substitui testemunha. Teori Albino ZAVASCKI
ainda revela que a chamada assinatura a rogo não é assinatura do devedor e
sim de terceiro e, portanto, não vale para os fins desse dispositivo. Por outro
lado, têm-se entendido de que não se exige o reconhecimento das firmas.
O inciso II ainda trata da executividade do instrumento de transação
referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos
advogados dos transatores. São os chamados atos referendado sem que
estão incluídos todos os atos pelos quais os litigantes se compõem para a
solução de uma situação conflituosa. A participação do Ministério Público, da
Defensoria Pública e dos advogados se justificam na medida em que são
idôneos para orientar e fiscalizar que as partes não assumam compromissos
além do razoável e do que serão capazes de cumprir.
III – os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução,
bem como os seguros de vida;
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Para alguns doutrinadores esse inciso é considerado um aglomerado
heterogêneo de negócios jurídicos, afinal, em um só dispositivo, o legislador
enumerou oito figuras de títulos executivos. Os contratos de caução ou de
garantia previstos nesse dispositivo configuram o ajuste que visa dar ao credor
uma segurança de pagamento. Desdobram-se em duas classes: os de
garantia real e os de garantia pessoal. Hipoteca, penhor e anticrese são
direitos reais de garantia sobre coisas alheias previstos no Código Civil. São
meios do credor da obrigação assegurar a responsabilidade patrimonial de
certos bens do devedor. A hipoteca tem como garantia um bem imóvel; no
penhor se dá em garantia um objeto móvel mediante a efetiva entrega ao
credor; e a anticrese consiste na entrega ao credor um imóvel para que este
perceba os frutos e rendimentos dele provenientes para compensação da
dívida. Note-se que a hipoteca, o penhor e anticrese não impedem a penhora
do bem por outro credor que não o com garantia real. Entretanto, esse credor
quirografário tem o ônus de intimar o credor preferencial sob pena de ineficácia
da penhora. Como visto, a caução também é uma forma de garantia do credor.
A forma mais comum de caução é a fiança. A fiança acaba por gerar um
vínculo obrigacional entre o fiador e o credor do afiançado. O instituto da fiança
pertence ao direito privado e é no Código Civil que reside sua disciplina.
Por fim, o inciso III deixa claro que os contratos de seguro também dão
ensejo à execução forçada, sejam eles de vida ou de acidentes pessoais.
Nesses casos, a liquidez desses títulos extrajudiciais pode ficar condicionada a
documentos ou declarações posteriores à celebração do contrato, como a
certidão de óbito ou o atestado médico.
IV – o crédito decorrente de foro e laudêmio;
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O senhorio direto de um imóvel sobre o qual incide uma enfiteuse
poderá exigir do titular do domínio útil, através do processo de execução, não
só o foro, mas também o laudênio.
O foro é a verba anualmente paga pelo enfiteuta ao proprietário como
prestação pelo domínio útil do imóvel na enfiteuse da lei civil. Entretanto, o
Novo Código Civil proibiu expressamente a figura da enfiteuse (art. 2.038,
caput). O laudêmio também dizia respeito à enfiteuse e tratava da indenização
a ser paga ao proprietário toda vez que o domínio útil for transferido por venda
ou dação em pagamento.
V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de
imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de
condomínio;
Havendo locação de imóvel em condomínio, celebrada por contrato
escrito, e deixando o locatário de pagar as despesas que estejam em seu
encargo, poderá o locador executar tais créditos.
Aluguel e renda são os frutos periódicos do imóvel que o proprietário
recebe em função do uso da coisa locada ou arrendada. As palavras "aluguel"
e "renda" se equivalem, sendo que a primeira se refere aos imóveis urbanos e
a segunda ao imóvel rural. Embora a locação tenha forma livre, a lei
processual limita a eficácia executiva ao contrato celebrado por escrito. Já não
foi assim outrora. No CPC de 1939 o contrato de locação verbal tinha força
executiva.
As despesas de condomínio também encontram sua força executiva no
largo espectro da lei processual civil brasileira desde estejam devidamente
documentados pelo síndico. De acordo com a lei do inquilinato, despesas de
condomínio são aquelas necessárias à administração das áreas comuns,
manutenção de elevadores, equipamentos em geral, etc. (art. 23, §1.º). A
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documentação necessária a conferir força executiva seria a prova da
investidura do síndico, o orçamento geral, relação das unidades autônomas
bem como o valor de cada quota, balancete mensal e apresentação da
convenção de condomínio. Entretanto, há clara orientação jurisprudencial no
sentido de que as despesas de condomínio só autorizam o ingresso na via
executiva quando o condômino locador pretender reaver do locatário aquilo
que pagou. Em outras situações, como quando o síndico cobra do condômino,
deve seguir o rito sumário do processo comum de conhecimento previsto no
art. 275, III, b, do CPC.
VI – o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de
tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por
decisão judicial;
Trata dos créditos dos auxiliares da justiça aprovados por decisão
judicial. Entretanto, essa decisão é dada incidentalmente no curso do processo
em que esses auxiliares da justiça trabalharam: não é provimento resultante de
discussão em contraditório, nem necessariamente homologatório do consenso
entre os envolvidos. Auxiliares da justiça são os serventuários, como o
escrivão, os oficiais de justiça, o contador, o avaliador, o distribuidor, o porteiro,
bem como o perito, intérprete e tradutor. O devedor das custas será a parte
vencida no processo. Os valores a cobrar serão somente aqueles que já não
foram adiantados no curso do processo.
VII – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos Municípios, correspondente
aos créditos inscritos na forma da lei;
A execução da dívida ativa da Fazenda Pública está regulada pela Lei
6.830/80, porém, esta lei não contém nenhuma disposição a respeito do título
executivo.
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Conforme o jurista Alexandre Freitas Câmara, (2008, p.187), passamos
a “enumerar alguns títulos executivos extrajudiciais que recebem sua eficácia
executiva de outras leis, que não o Código de Processo Civil:
a) cédula hipotecária (art. 29 do Decreto-lei nº 70/66);
b) crédito de alienação fiduciária em garantia (art. 5º do Decreto-lei nº
911/69);
c) contrato escrito de honorários advocatícios (art. 24 da Lei nº 8.906/94);
d) crédito alimentar decorrente do “ajustamento dos interessados às
exigências” do Estatuto da Criança e do Adolescente (art.211 do ECA);
e) compromisso arbitral que fixa os honorários do árbitro (art.11, parágrafo
único, da Lei nº 9.307/96).”
Entretanto, importante destacar que a jurisprudência não tem
considerado como título executivo o contrato de cheque especial
acompanhado pelos extratos da conta-corrente sob o fundamento de que falta
liquidez a esse crédito, uma vez que no momento da formalização do negócio
não há débito algum a ser reconhecido pelo correntista. Tal entendimento já
está consolidado no STJ na Súmula 233, in verbis: "O contrato de abertura de
crédito, ainda que acompanhado de extrato de conta-corrente, não é título
executivo".
O CPC reconhece a total validade do título executivo extrajudicial,
oriundo de país estrangeiro, ao qual empresta força executiva, nesses termos:
"Art. 585.
§2.º. Não dependem de homologação pelo STF, para serem
executados, os títulos executivos extrajudiciais, oriundos de
país estrangeiro. O título, para ter eficácia executiva, há de
satisfazer aos requisitos de formação exigidos pela lei do lugar
de sua celebração e indicar o Brasil como o lugar de
cumprimento da obrigação".
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Entretanto, o entendimento jurisprudencial dominante afirma que o título
há de ser devidamente traduzido para a língua portuguesa, convertendo-se o
valor da moeda estrangeira para a nossa no ato da propositura da ação, posto
que é nulo o título que estipula o pagamento em moeda que não a nacional
(Resp. 4819-RJ, RSTJ 27/313).
Processo
REsp 4819 / RJ RECURSO ESPECIAL 1990/0008530-6
Relator(a)
Ministro WALDEMAR ZVEITER (1085)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
30/10/1990
Data da Publicação/Fonte
DJ 10.12.1990 p. 14805 RSTJ vol. 27 p. 313 RT vol. 668 p. 182
Ementa
PROCESSUAL CIVIL - TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL ORIUNDO DE PAIS ESTRANGEIRO - VALIDADE. I - LEGISLAÇÃO ESPECIFICA (DECRETO-LEI 857/69), DISPONDO SOBRE CONTRATOS E TITULOS REFERENTES A IMPORTAÇÃO OU EXPORTAÇÃO DE MERCADORIAS OU A EMPRESTIMOS OU QUAISQUER OUTRAS OBRIGAÇÕES CUJO CREDOR OU DEVEDOR RESIDA NO EXTERIOR OU NESTE TENHA SEU DOMICILIO, CONSIDERA COMO CERTA PARA EFEITO DE AJUIZAMENTO A QUANTIA EM DOLARES. II - O CODIGO DE PROCESSO CIVIL RECONHECE A TOTAL VALIDADE DO TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, ORIUNDO DE PAIS ESTRANGEIRO, AO QUAL EMPRESTA FORÇA EXECUTIVA. TODAVIA HA DE SER O TITULO TRADUZIDO PARA A LINGUA NACIONAL, CONVERTENDO-SE O VALOR DA MOEDA ESTRANGEIRA EM CRUZEIRO, NO ATO DA PROPOSITURA DA AÇÃO, POSTO QUE E NULO DE PLENO DIREITO O TITULO QUE ESTIPULE O PAGAMENTO EM MOEDA QUE NÃO A NACIONAL. III - RECURSO NÃO CONHECIDO.
Acórdão
POR UNANIMIDADE, NÃO CONHECER DO RECURSO.
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CAPÍTULO V
DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA
DEVEDOR SOLVENTE.
Este rito divide-se em três fases: postulatória, instrutória e satisfativa. A
primeira fase é formada pelo ajuizamento da demanda e pela citação. A
segunda, pela penhora e demais atos preparatórios do pagamento. A fase
satisfativa é formada pelo pagamento ao demandante, que pode se dar por
diversas formas.
A execução por quantia certa tem por objeto a expropriação de bens,
que a atividade executiva incidirá sobre os bens que compõem o patrimônio do
executado. Sua finalidade, porém, não é a expropriação, mas a satisfação do
crédito exeqüendo.
5.1. Da execução provisória e da definitiva
O art. 475-I § 1º, preceitua que: “É definitiva a execução da sentença
transitada em julgado e provisória quando se tratar de sentença impugnada
mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo”.
Em regra os recursos de apelação e os embargos infringentes tem efeito
suspensivo; e o agravo de instrumento, o recurso especial e o recurso
extraordinário tem efeito devolutivo. Porém, a apelação correspondente a
segunda parte do art. 520 do CPC, não tem efeito suspensivo, permitindo
assim, a execução provisória.
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Tivemos até aqui um aparato geral do que é execução. Porém, existem
várias espécies de execução: execução para a entrega de coisa certa e de
coisa incerta, execução das obrigações de fazer e não fazer, execução por
quantia certa contra devedor solvente, execução contra a fazenda Pública e da
execução de prestação alimentícia e da execução da dívida da fazenda
Pública. Desta forma, tomaremos como tópico para o desenvolvimento do
trabalho a Execução por quantia certa contra devedor solvente.
5.2. Citação e Arresto
5.2.1. Citação
Proposta a execução a citação não poderá ser feita por via postal,
conforme proibição decorrente do art. 222, d, do CPC. Como regra, a citação
será feita através do oficial de justiça.
Quando o demandado encontrar-se em local ignorado, a citação poderá
ser feita por edital. O que se discute é a possibilidade da citação por hora
certa. A jurisprudência predominante tem negado tal possibilidade, mas na
doutrina são encontrados alguns posicionamentos no sentido de aceitarem
essa modalidade de citação.
Vemos jurisprudências nos dois sentidos: admitindo a citação por hora
certa e outras inadmitindo, conforme podemos observar pela transcrição
abaixo:
2008.002.06915 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª
Ementa
DES. FERNANDO FOCH LEMOS - Julgamento: 14/03/2008 - TERCEIRA CAMARA CIVEL PROCESSUAL CIVIL. Execução por quantia certa contra devedor solvente. Arresto da cota-parte de um dos executados - como os demais, não localizado - sobre determinado imóvel. Frustração da
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citação que deveria ser procedida em seguida, em razão de não ter sido o devedor encontrado pelo oficial de justiça incumbido de citá-lo. Requerimento da exeqüente no sentido de citação com hora certa, o que foi indeferido. Agravo de instrumento contra tal decisão.1. Feito o arresto, se nos dez dias subseqüentes o oficial de justiça procurar em datas distintas o devedor para citá-lo, mas não o encontrar, certificará o ocorrido (CPC, art. 653, parágrafo único), sendo ônus do credor requerer a citação por edital (idem, art. 654). Descabimento da citação com hora certa.2. Recurso manifestamente improcedente ao qual se nega seguimento. INTEIRO TEOR Decisão Monocrática: 14/03/2008
2007.002.11449 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 2ª
Ementa
DES. MILTON FERNANDES DE SOUZA - Julgamento: 10/07/2007 - QUINTA CAMARA CIVEL AGRAVO LEGAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. ÂMBITO. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. EXECUÇÃO. TÍTULO. OBRIGAÇÃO. INEXIGIBILIDADE. 1- A doutrina e jurisprudência aceitam a exceção de pré-executividade, embora sem a previsão no ordenamento positivo, como incidente capaz de deter a atividade executiva quando se alega matéria de ordem pública.2- Assim, esse incidente excepciona o sistema que disciplina a execução, os respectivos embargos, e seu âmbito restringe-se à apreciação daquelas matérias imediatamente conhecíveis pelo juiz.3- Nesse aspecto, as normas relativas à citação por hora certa se harmonizam com o processo de execução e subsidiariamente regem o respectivo ato processual que, se regularmente realizado, afigura-se válido e eficaz para autorizar a constrição patrimonial necessária ao seguimento da atividade executiva. INTEIRO TEOR
SESSÃO DE JULGAMENTO: 10/07/2007
Íntegra do Acórdão
Decisão Monocrática: 08/05/2007
Para os doutrinadores Alexandre Freitas Câmara e Figueiredo Teixeira
Assis a citação por hora certa é possível por força do art. 598 do CPC, apesar
a interpretação literal da lei determinar que o oficial de justiça deverá voltar ao
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endereço do executado por três vezes, a fim de realizar a citação. Após as três
tentativas, e não encontrado o executado, determina o CPC que o demandante
requeira sua citação por edital.
5.2.2. Arresto
Determina o art. 653 do CPC que, não sendo encontrado o executado,
deverá ser realizado o arresto de tantos bens quantos bastem para garantir a
realização do crédito exeqüendo. Este arresto é um ato de apreensão
provisória de bens do executado, destinado a garantir a execução, de natureza
controvertida.
Para alguns doutrinadores este arresto é uma medida cautelar inserida
no processo de execução.
5.3. Pagamento ou Penhora
5.3.1. Pagamento
O executado é citado para que no prazo de três dias pague a dívida da
execução por quantia certa contra devedor solvente. Após o pagamento a
execução será extinta.
Não tendo o executado realizado o pagamento, é necessária a
realização da penhora que será efetivada com a constrição do bem para a
satisfação da execução por quantia certa contra devedor solvente. A seguir
teremos mais minúcias com relação a realização da penhora e seus efeitos no
processo.
5.3.2. Penhora
Para Vicente Greco Filho a “penhora é o ato de apreensão de bens com
finalidade executiva e que dá início ao conjunto de medidas tendentes à
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expropriação de bens do devedor para pagamento do credor.” (Vicente, 2008,
p.82)
Na definição de Barbosa Moreira a “penhora é o ato pelo qual se
apreendem bens para empregá-los, de maneira direta e indireta, na satisfação
do crédito exeqüendo.” (Moreira, 1997, p.225)
De acordo com a precisa definição este ato de apreensão judicial de
bens garante a satisfação do direito do exeqüendo. Os bens penhorados
podem ser entregues ao exeqüente, passando a integrar seu patrimônio
satisfazendo assim diretamente seu crédito. Quando os bens são
desapropriados e convertidos em dinheiro a satisfação do crédito é indireta
porque o bem primeiro será convertido em dinheiro para somente após ser
entregue ao exeqüente o numerário obtido até o limite de seu crédito.
Existe divergência doutrinária acerca da natureza jurídica da penhora,
há quem entenda ser medida cautelar, para outros é ato executivo, outros
consideram que ela tem natureza de cautelar e executiva ao mesmo tempo.
5.3.3. Efeitos da penhora
O principal efeito da penhora é a vinculação definitiva do bem à
execução. Ocorrendo alienação posterior do bem penhorado torna-se
irrelevante para o processo de execução, prosseguindo-se na expropriação de
bem ainda que em poder de terceiro. O bem não se torna inalienável;
simplesmente sua eventual alienação é ineficaz ou irrelevante para a
execução.
A penhora produz efeitos processuais e materiais. Os processuais são:
a garantia do juízo, a individualização dos bens que suportarão a execução e o
direito de preferência para o exeqüente. Os efeitos materiais são: retirar do
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executado a posse direta do bem penhorado e tornar ineficazes os atos de
alienação ou oneração do bem apreendido judicialmente.
Faremos aqui um breve resumo sobre cada um dos efeitos processuais
da penhora.
Da garantia do juízo
O intuito da penhora é garantir o juízo para que o processo possa
prosseguir com segurança suficiente para assegurar a realização do direito do
exeqüente. A penhora tem o efeito processual de conservação e preservação
do bem penhorado nas mãos do depositário judicial que ficará com ela até que
seja objeto de expropriação ou até que ocorra fato novo que libere o encargo
sobre o bem.
Da individualização dos bens que suportarão a execução
A expropriação dos bens incidirá sobre os bens apreendidos, e não
sobre o restante dos bens pertencentes ao executado. Todavia, sabe-se que a
responsabilidade patrimonial atinge todos os bens do executado tanto os que
integram o seu patrimônio no momento que se inicia a execução, como
aqueles que venham a ser adquiridos no curso do processo. E ainda os bens
que forem alienados antes de instaurada a execução que comprovadamente
tenha sido realizada mediante fraude.
Do direito de preferência para o exeqüente
Quando num determinado bem recair mais de uma penhora, terá
preferência no recebimento do dinheiro em que aquele bem será convertido, o
exeqüente que em primeiro lugar, tiver realizado a penhora e os outros
receberão sucessivamente.
Retirar do executado a posse direta do bem penhorado
Para que melhor se entenda este efeito é bom que recordar que com a
penhora não se encontra o efeito da perda do domínio do bem, ou seja, o bem
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penhorado continua integrando o patrimônio do executado. Em regra,
conforme o art. 666, o executado será o depositário dos bens penhorados
podendo ser escolhido um terceiros para esta função. Desta forma, o
depositário terá mera detenção sobre o bem penhorado, ainda que seja ele o
próprio executado, titular do domínio sobre o bem.
Tornar ineficazes os atos de alienação ou oneração do bem apreendido
judicialmente
O executado pode alienar ou instituir ônus sobre os bens penhorados,
porém, este ato será relativamente ineficaz, ou seja, a alienação ou oneração
do bem será incapaz de retirar o bem penhorado do campo de incidência da
responsabilidade patrimonial.
5.3.4. Dos Bens Impenhoráveis
Todos os bens que se encontram no campo de incidência da
responsabilidade patrimonial podem ser penhoráveis. Pode ainda a penhora
recair sobre os bens elencados no art. 592 do Código de Processo Civil.
Porém, há que se atentar com o disposto na parte final do art. 591 do CPC que
se refere aos bens excluídos da responsabilidade patrimonial sendo estes
bens impenhoráveis por força de lei.
Da impenhorabilidade absoluta
O art. 649 do CPC enumera os bens absolutamente incapazes de recair
a penhora. Sobre estes bens a penhora não pode incidir sobre forma alguma
ainda que o executado não disponha de outros meios para pagar o valor da
execução.
I – os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos
à execução.
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Como um exemplo temos o instituto do bem de família e ainda os bens
dados como doação com cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade.
II – Os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a
residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as
necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida.
III – Os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do
executado, salvo se de elevado valor.
IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações,
proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias
recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e
sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal, observando o disposto no § 3 deste artigo;
Esta redação em vigor esclareceu a impenhorabilidade sobre às
aposentadorias e honorários de profissionais liberais. Cabe ressaltar aqui que
o § 3º foi vetado e ele defendia a penhorabilidade de vencimentos e
rendimentos em determinado percentual e acima de certo valor.
V – Os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os
instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de
qualquer profissão.
Estes bens são impenhoráveis porque garantem a subsistência do
devedor e de sua família. Esta proteção refere-se apenas aos bens ligados
diretamente a atividade profissional do devedor que deverá ser pessoa natural.
Se a atividade se dá no regime de empresa individual ou como pessoa jurídica,
não se aplica este dispositivo.
VI – O seguro de vida.
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VII – Os materiais necessários para obras em andamento, salvo se
estas forem penhoradas.
Se a obra puder ser objeto de penhora, ela se estenderá aos bens
materiais para a construção.
VIII – A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família.
IX – Os recursos públicos recebidos por instituições privadas para
aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social.
X – Até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada
em caderneta de poupança.
Esta norma não pode ser estendida a outros meios de aplicações
financeiras, pois todas as outras podem ser penhoráveis.
5.4. Da execução por quantia certa contra devedor solvente fundada em
título judicial
Como bem colocado por Vicente Greco Filho, “Caso o devedor,
condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o
efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de
multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado
o disposto no art. 614, inciso II, desta lei, expedir-se-á mandado de penhora e
avaliação” (Vicente, 2008, p.86), (art.475- J incluído pela Lei n. 11.232, de
2005).
Esta lei trouxe para o nosso ordenamento jurídico um procedimento
para ser usado como regra geral na execução por quantia certa contra devedor
solvente fundada em título judicial. Este procedimento será empregado nos
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títulos previsto nos incisos I, III, V ou VII do art. 475-N do CPC e terá início a
partir do momento em que a sentença condenatória a pagar dinheiro tornar-se
eficaz.
Após a sentença condenando o devedor em quantia certa e líquida, o
advogado será intimado da sentença (art.236 e 237 CPC), ou na falta deste o
seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio para
que no prazo de quinze dias o devedor pague a condenação; caso ele não
pague será acrescido no décimo sexto dia após da intimação da sentença uma
multa de dez por cento sobre o valor da condenação. A multa de dez por cento
determinada no art. 475-J do CPC é automática, a fim de desestimular a
inadimplência.
Não tendo havido recurso para instância superior e decorrido o prazo
sem o depósito, o credor deverá requerer a penhora de bens do devedor com
o acréscimo de dez por cento. Caso o devedor tenha recorrido e o recurso for
recebido no efeito devolutivo, ao credor compete extrair cópias para requerer a
execução provisória.
A sentença de liquidação, mesmo que seja por simples cálculo deverá
ser liquidada nos termos dos arts. 475-B a 475-H a partir do requerimento do
credor do qual deverá o devedor ser intimado, correndo o prazo para a
incidência da multa da intimação da decisão de fixa o valor do pagamento,
aplicando-se a partir do décimo sexto dia a multa de dez por cento sobre o
valor total do cálculo.
O credor não requerendo a execução no prazo de seis meses contados
da publicação da sentença que não teve recurso, o juiz mandará arquivar os
autos, sem prejuízo de seu posterior desarquivamento a pedido da parte.
No requerimento de execução poderá o exeqüente indicar os bens do
executado aos quais ele deseja que a penhora recaia. Na execução de
sentença não reconhece ao executado a faculdade de nomear bens à
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penhora. Desconhecendo o credor os bens que compõe o patrimônio o
executado, caberá ao juízo auxiliar o credor na determinação dos bens que
suportarão a penhora.
5.4.1. Da impugnação
A lei nº 11.232/05 criou a impugnação como o meio de defesa do
executado quando a execução for fundada em título executivo judicial, salvo
nos casos da execução contra a Fazenda Pública e da insolvência civil,
quando permanece cabível o oferecimento de embargos do executado
(falaremos sobre estas exceções da lei no tópico referente aos Embargos do
Executado).
Após lavrado o auto de penhora, o devedor será intimado para que no
prazo de 15 (quinze) dias querendo oferecer impugnação. A impugnação para
alguns doutrinadores não é considerada ação, mas sim um incidente
processual da fase executiva do procedimento comum, mediante o qual o
devedor exerce a sua defesa.
Conforme o art. 475-L do CPC, “A impugnação somente poderá versar
sobre:
“I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;
II – inexigibilidade do título;
III – penhora incorreta ou avaliação errônea;
IV – ilegitimidade das partes;
V – excesso de execução;
VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação,
como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição,
desde que superveniente a sentença.”
Este rol não é taxativo, porque há outras razões legais que podem
impedir a execução. Desta forma, se o fundamento da impugnação é
45
pertinente e consistente, ela deve ser recebida no efeito suspensivo da
execução.
A impugnação em regra, não terá o efeito suspensivo, porém o juiz pode
atribuí-lo, desde que relevantes seus fundamentos e ainda quando o
prosseguimento da execução puder causar ao executado grave dano de difícil
e incerta reparação.
O ato do juiz que resolve a impugnação é decisão interlocutória,
impugnável por agravo de instrumento. Porém, se ao julgar a impugnação o
juiz determinar a extinção do processo executivo, caso em que se estará diante
de sentença, impugnável por apelação.
5.4.2. Da execução por quantia certa contra devedor solvente
fundada em título extrajudicial
O art. 652 do CPC preceitua que após proposta a execução por título
extrajudicial, o devedor será citado para, no prazo de três dias efetuar o
pagamento da dívida. O pagamento da dívida incluindo honorários
advocatícios fixados pelo juiz extinguirá a execução.
Não efetuando o pagamento, o oficial de justiça procederá de imediato à
penhora de bens, sua avaliação e nesta mesma oportunidade lavrará o auto de
penhora intimando o executado de tais atos. O sistema anterior a esta lei
previa um arresto cautelar se o devedor não fosse localizado e a oportunidade
do devedor indicar os bens para a penhora. Com a inovação da Lei nº
11.382/2006, caso o executado não seja localizado para a intimação da
penhora, o juiz poderá dispensar a intimação ou determinará novas diligências.
Porém, o art. 653 do CPC determina que se o devedor não for encontrado para
a citação, mesmo sem novo despacho judicial, o oficial de justiça arresta-lhe-á
tantos bens quantos bastem para garantir a execução. O § ú do mesmo artigo
informa que nos dez dias seguintes da efetivação do arresto, o oficial de justiça
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procurará o devedor três vezes em dias distintos e não o localizando certificará
ao juízo o ocorrido. Sendo o devedor intimado do arresto, cabe o credor dentro
de dez dias contados desta intimação, requerer a intimação por edital do
devedor, passando este prazo e não havendo pagamento, o arresto converterá
em penhora.
A ordem de preferência da penhora obedecerá ao art. 655 do CPC.
I – dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição
financeira;
II – veículos de via terrestre;
III – bens móveis em geral;
IV – bens imóveis;
V – navios e aeronaves;
VI – ações e quotas de sociedades empresárias;
VII – percentual do faturamento de empresa devedora;
VIII – pedras e metais preciosos;
IX – títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com
cotação em mercado;
XI – outros direitos
Esta ordem expressa pelo art. 655 do CPC tem por finalidade facilitar a
execução, dando preferência aos bens de mais fácil conversão em dinheiro, o
que atua em favor da efetividade da execução. Porém, tem-se a necessidade
de atentar para a menor onerosidade do devedor se a sua falta de iniciativa
não prejudicar ou dificultar a efetivação do título. O executado pode pedir a
substituição do bem penhorado e o juiz irá analisar neste caso o princípio da
menor onerosidade e efetividade.
O código no seu art. 655-A dispõe sobre a possibilidade de ser realizada
a penhora on line. É uma das mais recentes inovações que possibilita ao
exeqüente obter uma maneira mais célere e efetiva de ver realizada a
satisfação da execução. A penhora on line acontece a requerimento do
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exeqüente e o juiz solicita por meio eletrônico ao Banco Central, supervisora
do sistema bancário brasileiro; que seja expedido ofício aos bancos com
informações pessoais do executado, solicitando o bloqueio do valor indicado
na execução. Este valor quando encontrado em alguma das contas correntes
existentes em nome do executado, o bloqueio é realizado para a garantia do
cumprimento da execução. Cabe ao executado comprovar que o valor
bloqueado refere-se à hipótese de impenhorabilidade para que o juízo
determine seu desbloqueio.
Temos também a possibilidade da penhora ser realizada sobre o
percentual de faturamento, quando a parte executada é uma empresa. Neste
caso, será nomeado depositário, com a atribuição de submeter-se à aprovação
judicial a forma de efetivação, bem como de prestar contas mensalmente,
entregando ao exeqüente as quantias recebidas, a fim de serem imputadas no
pagamento da dívida.
Com relação ao direito de meação do bem indivisível, o cônjuge poderá
através de embargos de terceiro pleitear a separação da sua meação. Se os
embargos forem julgados procedentes ele terá direito a meação do produto de
arrematação.
5.4.3. Embargos do executado
Nos Embargos do executado fundado em título extrajudicial pode o
devedor alegar todas as matérias relevantes em direito, além das relacionadas
no art 741, e que poderiam ser apresentadas no processo de conhecimento
(art.745, V).
Os Embargos do Executado tem natureza jurídica de processo de
conhecimento autônomo em relação à execução. Podendo ser definido como
processo de conhecimento, autônomo em relação ao processo executivo
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fundado em título extrajudicial, embora a ele ligado por uma relação de
prejudicialidade.
Os Embargos do Executado deverá serão ser apreciado pelo juízo antes
do desfecho do processo executivo, pois através dele o processo de execução
poderá ser declarado extinto ou ainda diminuir o excesso na execução. Um dos
elementos desta demanda cognitiva é ter um pedido imediato consistente na
postulação de uma sentença de mérito.
Embora os Embargos do Executado seja uma demanda incidente à
execução fundada em título extrajudicial, há no nosso código duas exceções
referentes à execução fundada em título judicial em que o executado pode
oferecer embargos: a execução contra a Fazenda Pública (art. 741) e a
execução por quantia certa contra devedor insolvente.
Nos termos do art. 738 do CPC “os embargos serão oferecidos no prazo
de 15 (quinze) dias, contados da juntada aos autos do mandado de citação”,
isto torna um requisito específico para o ajuizamento desta demanda.
No caso dos Embargos serem opostos pela Fazenda Pública o prazo é
alterado para 30 (trinta) dias.
Se a citação ocorrer por carta precatória o juízo deprecado informará ao
juízo deprecante que a citação foi realizada e o prazo neste caso começa a
contar da juntada do mandado aos autos da execução.
A competência para apreciar os Embargos do Executado é do mesmo
juízo da execução. Os embargos poderão ser opostos tanto no juízo
deprecante como no deprecado, mas o juízo deprecado só poderá apreciar
embargos do executado que versem exclusivamente sobre vícios da penhora,
avaliação e expropriação de bens. Todos os outros demais casos, competente
para os embargos do executado será o juízo deprecante.
49
Com relação a legitimidade das partes é legitimado ativo o executado e
passivo o exeqüente. O que se tem de divergente na doutrina com relação a
legitimidade está quando no processo de execução temos um litisconsórcio
passivo. Neste caso, se a penhora ocorresse em relação ao bem de um
executado; somente ele ou todos os outros executados teriam legitimidade
para opor os Embargos do executado.
Para alguns doutrinadores só o executado que teve seus bens
penhorados é que teria legitimidade para ajuizar os embargos do executado
porque só ele estaria sendo executado. Outros, porém, entende que todos os
litisconsortes passivos podem opor os embargos isso porque a penhora tem
por finalidade a garantia do juízo, razão pela qual deve ela ser feita sobre bens
que bastem para assegurar a satisfação do crédito exeqüendo.
A partir da entrada em vigor da lei 11.382/2006 todos os litisconsortes
passivos na execução podem após a citação oferecer seus embargos. Isso fez
com que a prévia garantia do juízo deixasse de ser requisito para oferecimento
dos embargos do executado e toda essa controvérsia perdeu sentido.
Recebidos os embargos do executado, será o embargado citado para
oferecer sua impugnação, no prazo de quinze dias, com efeito, de contestação.
Na ausência de impugnação aos embargos implica revelia, presumindo
verdadeiros os fatos alegados em sua petição inicial. Contra a sentença dos
embargos cabe apelação.
5.4.4. Exceção de Pré-Executividade
A exceção de pré-executividade é mais um recurso utilizado na fase de
execução onde só tínhamos os Embargos do devedor e a impugnação. É um
meio de defesa de que o executado pode utilizar alegando qualquer matéria de
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ordem pública, ligada à admissibilidade da execução, e que poderia ser
conhecida de ofício pelo juiz da execução.
Através da exceção de pré-executividade pode ser alegada alguma das
condições da ação (a falta de liquidez da obrigação ou a inadequação do meio
escolhido para obtenção da tutela jurisdicional executiva, legitimidade das
partes, a possibilidade jurídica da demanda, capacidade processual e
irregularidade formal da demanda executiva).
A exceção de pré-executividade permite ao executado, dentro do próprio
módulo processual de execução, sem necessidade de opor embargos ou
impugnação, apresentar alegação em defesa, restritas tais alegações às
matérias que podem ser conhecidas de ofício, por dizerem respeito à
admissibilidade da tutela jurisdicional executiva.
A exceção pode ser apresentada a qualquer tempo, ao longo do
processo de execução, já que versa matérias de ordem pública, a cujo respeito
não se opera a preclusão.
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CONCLUSÃO
A redação deste trabalho procurou de forma simplificada expor os
entendimentos mais diversos e recentes sobre a introdução da Lei
11.232/2005.
O código de processo civil teve alterações significativas no que tange a
execução de sentença e a execução de títulos extrajudiciais. Tentamos
propiciar ao leitor do trabalho uma visão geral das mudanças ocorridas em
relação à Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente.
Doutrinadores renomados com os mais conflitantes entendimentos
enriquecem o nosso horizonte ao interpretar a lei. Com isso o trabalho
alcançou o objetivo de expor as alterações do Código de Processo Civil com
relação ao processo de execução e seus meios mais eficazes de satisfazer o
direito do exeqüente.
52
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALVIM, J.E.Carreira. Alterações do Código de Processo Civil, 3ª. Edição, RJ: Editora Impetus, 2006.
ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução, 5ª. Edição, SP: Editora RT, 1998.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, Volume 2,15ª edição RJ: Editora Lúmen Juris, 2008.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil, 5ª edição SP: Editora Malheiros, 1997.
FILHO, Vicente Greco. Direito Processual Civil Brasileiro, Volume 3, 19ª edição SP: Editora Saraiva, 2008.
GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do Processo, 23ª edição, SP: Editora Malheiros, 2007.
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução Civil – teoria geral e aspectos fundamentais, 2ª. Edição, SP: Editora RT, 2004.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro, 19ª ed., Rio de Janeiro: Editora Forense, 1997.
NEVES, Celso. Da Arrematação de real a real, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1958.
NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal, 6ª ed., São Paulo: Editora RT, 2000.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim e outros. Processo de Execução – Série Processo de Execução e Assuntos Afins - v. 2, 1ª. Edição, SP: Editora RT, 2001.
Vade Mecum. Legislação Brasileira, 4ª edição, Editora Saraiva, 2007.
ZAVASCKI, Teori Albino. Comentários ao Código de Processo Civil, Volume 8, SP: Editora RT, 2000.
53
ÍNDICE
2
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - Parte Histórica 10
CAPÍTULO II – Princípios informativos da Fase Executiva 12
CAPÍTULO III – Pressupostos da execução e do cumprimento de sentença
16
3.1 – Das partes
16
3.2 – Da competência
17
3.3 – Inadimplemento do devedor
18
CAPÍTULO IV – Do título executivo 19
4.1 – Conceito 19
4.2 – Função do título executivo
21
4.4 – Dos títulos executivos extrajudiciais
25
CAPÍTULO V – Da execução por quantia certa contra devedor solvente
34
5.3 – Pagamento ou penhora 37
5.1 – Da execução provisória e da definitiva
34
5.2 – Citação e arresto
35
5.2.1 – Citação 35
5.2.2 – Arresto 37
5.3.1 – Pagamento 37
4.4 – Dos títulos executivos extrajudiciais
21
54
5.3.3 – Efeitos da Penhora 38
5.3.4 – Dos bens impenhoráveis 40
5.4 – Da execução por quantia certa contra devedor solvente
fundada em título judicial
42
5.4.1 – Da impugnação 44
5.4.2 – Da execução por quantia certa contra devedor solvente fundada em título extrajudicial
45
5.4.3 – Embargos da execução 47
5.4.4 – Exceção de pré-executividade 49
CONCLUSÃO 51
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52
ÍNDICE 53
5.3.2 – Penhora 37