UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS – CCT
DEPARTAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
PÓS-GRADUAÇÃO EM GERENCIAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
PEDRO LUIS DOMINGUES FILHO
ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO SISTEMA KANBAN EM CANTEIROS DE
OBRA NO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE-CE
JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ.
2017
PEDRO LUIS DOMINGUES FILHO
ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO SISTEMA KANBAN EM CANTEIROS DE
OBRA NO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE-CE
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Regional do Cariri.
Orientador: Prof. Msc. Edgar Peixoto de Oliveira
JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ.
2017
PEDRO LUIS DOMINGUES FILHO
ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO SISTEMA KANBAN EM CANTEIROS DE
OBRA NO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE-CE
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Pós-
Graduação em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Regional
do Cariri
Monografia defendida e aprovada, em (___ / ___ / 2017), pela banca
examinadora:
_____________________________________________________________
Prof. Msc. Edgar Peixoto de Oliveira
Orientador
_____________________________________________________________
Profª.
Examinador Interno
_____________________________________________________________
Prof.
Examinador Interno
2017
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus, aos meus pais, a
minha espoa e a minha filha, Maria Eduarda, que hoje
está com quatro meses de vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, ao meu orientador, à Universidade Regional do Cariri
e as empresas que abriram as suas portas para a minha pesquisa.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar o impacto que a aplicação do
sistema kanban no canteiro de obras produz na produtividade de obras no
município de Juazeiro do Norte. Para alcançar este objetivo, foi feita uma
revisão da literatura existente e realizados estudos de casos em empresas que
atuam no setor da Construção Civil através de questionário. Foram analisadas
três empresas situadas na cidade de Juazeiro do Norte – CE. Pela análise
pode-se ter uma ideia do grau de conhecimento sobre o sistema estudado
neste município. Com os resultados encontrados nos estudos de casos e com
o que se encontra disponível na literatura sobre o tema, conclui-se que há uma
boa parcela dos profissionais envolvidos na área de logística e suprimento da
construção civil que tem algum grau de conhecimento nesta área, entretanto
esta filosofia ainda precisa ser mais difundida.
Palavra-chave: kanban, construção civil, Sistema Toyota de Produção
ABSTRACT
The present work has as objective to analyze the impact that the application of
the Kanban system at the construction site implies in the productivity of
constructions in the municipality if Juazeiro do Norte. To reach this objective, a
review of the existing literature was done and case studies were carried out in
construction companies through a questionnaire. Three companies located in
the city of Juazeiro do Norte – CE were analyzed. By the analysis, is possible to
have an overview of the degree of knowledge of the involved professionals
about the studied system in this municipality. With the results found in the case
studies and with what is available in the literature on the subject, it is concluded
that there is a good part of the professionals involved in the area of logistics and
civil construction supply who have some degree of knowledge in this area,
however this Philosophy still needs to be more widespread.
Key words: kanban, civil construction, Toyota production system
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Situações relevantes para diferentes métodos de pesquisa ........................ 14
Quadro 2 - Esquema mostra como a rotina da imagem 01 funciona............................... 28
Quadro 3 - Comparativo da utilização do kanban entre as empresas 1 e 2. .................. 39
Quadro 4 - Comparativo da utilização do kanban entre as empresas 1 e 3 ................... 41
Quadro 5 - Comparativo da utilização do kanban entre as empresas 2 e 3. .................. 43
LISTA DE FIGURAS
Imagem 1 – Toyotismo x Fordismo (Weolowski, s.d.) ................................................................ 16
Imagem 2 - Sistema Toyota de Produção ................................................................................... 17
Imagem 3 – Just in time .............................................................................................................. 19
Imagem 4 - Kanban ..................................................................................................................... 20
Imagem 5 – Fluxo de produção ................................................................................................... 21
Imagem 6 - Quadro de argamassas de uma empresa de construção civil. ................................. 27
Imagem 7 - Quadro de materiais a serem repostos na obra ...................................................... 29
Imagem 8 - A grua é uma importante ferramenta para transportes de materiais. .................... 31
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
FCP – Fluxo Contínuo de Produção
JIT – Just in Time
PIB – Produto Interno Bruto
STP – Sistema Toyota de Produção
TPS – Toyota Production System
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 11
1.1. JUSTIFICATIVA .................................................................................................................... 12
1.2. OBJETIVOS .......................................................................................................................... 12
1.2.1. OBJETIVOS GERAIS ...................................................................................................... 12
1.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................... 13
1.3. MÉTODO DE PESQUISA .................................................................................................... 13
1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO ........................................................................................... 15
2. O SISTEMA KANBAN .............................................................................................................. 16
2.1. SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO ................................................................................. 16
2.2. JUST IN TIME ....................................................................................................................... 18
2.3. FLUXO DE PRODUÇÃO ..................................................................................................... 21
2.4. PRODUÇÃO ENXUTA ......................................................................................................... 22
2.5. CONSTRUÇÃO ENXUTA .................................................................................................... 23
2.6. KANBAN ............................................................................................................................... 25
2.7. KANBAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL .................................................................................. 26
3. ESTUDO DE CASO .................................................................................................................. 33
3.1. EMPRESA 1 .......................................................................................................................... 33
3.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA.............................................................................. 33
3.1.2. SISTEMA KANBAN ......................................................................................................... 34
3.2. EMPRESA 2 .......................................................................................................................... 34
3.2.1. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA.............................................................................. 35
3.2.2. SISTEMA KANBAN ......................................................................................................... 35
3.3. EMPRESA 3 .......................................................................................................................... 36
3.3.1. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA.............................................................................. 36
3.3.2. SISTEMA KANBAN ......................................................................................................... 36
3.4. ANÁLISE CRUZADA DOS DADOS ................................................................................... 37
4. CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 45
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 47
APÊNDICES ...................................................................................................................................... 50
11
1. INTRODUÇÃO
O setor da construção civil apresenta grande destaque na economia
brasileira, representando parcela significativa do Produto Interno Bruto – PIB.
Apesar da importância desse setor na economia brasileira, ainda hoje ele é
considerado como um setor com baixa produtividade, excesso de perdas, alto
índice de retrabalho e mão de obra pouco qualificada.
De forma a melhorar sua produtividade e a permanecer no mercado
competitivo, as empresas de construção civil vêm cada vez mais aplicando
conceitos e modelos antes somente utilizados na indústria.
O modelo seguido por muitas empresas para o chão-de-fábrica é
proveniente do Japão, da empresa automobilística Toyota. Este modelo surgiu
através da vivência da produção da fábrica de forma empírica. Os americanos,
observando a eficiência obtida pelos japoneses, resolveram estudar a fundo o
motivo de tal melhoria na produção. Mais tarde este modelo ficou conhecimento
como Sistema Toyota de Produção ou toyotismo. Este sistema tem como
finalidade a melhoria continua da produção, através da redução do estoque,
diminuição do retrabalho e aumento da produtividade.
Tendo o just in time como principal filosofia do Sistema Toyota de
Produção - STP, termo utilizado pelos americanos para definir um modelo onde
nada deve ser produzido antes que seja necessário, evitando assim estoques
desnecessários. O STP necessita de algumas ferramentas de controle para
garantir o Fluxo Continuo de Produção, onde cada etapa do processo conclui seu
produto antes da etapa subsequente necessitar desse produto, tendo atenção
para que não haja produtos em excesso, diminuindo o estoque. Uma dessas
ferramentas é o kanban, que aplicado à construção civil, é o objeto de estudo do
presente trabalho.
12
1.1. JUSTIFICATIVA
Uma das formas de diminuir os custos no setor da construção civil é
eliminar o desperdício, que ainda é considerado bastante alto. Algumas ideias que
deram certo na indústria foram levadas para a construção civil, de forma a obter
os bons resultados obtidos e difundidos no meio industrial.
Uma das ferramentas há muito tempo utilizada em fábricas, o
sistema kanban, vem sendo utilizado também em obras de construção civil, como
forma de aumentar a eficiência do setor. Com isso, verificou-se a necessidade de
estudar a aplicação desse sistema no setor da construção civil, de forma a
analisar a sua contribuição na diminuição dos custos com a redução de
desperdícios e no aumento da produtividade com a eliminação do retrabalho.
1.2. OBJETIVOS
Com a finalidade de conhecer e difundir o sistema kanban, propõe-
se os objetivos gerais e específicos do trabalho.
1.2.1. OBJETIVOS GERAIS
Analisar o impacto que a utilização do sistema kanban na construção
civil gera na redução de desperdícios e na melhoria contínua do processo
produtivo dentro de um canteiro de obras.
13
1.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Para alcançar o objetivo principal deste trabalho, foi necessário:
Estudar o sistema kanban;
Identificar a utilização do sistema kanban em empresas de
construção civil;
Identificar os pontos críticos da aplicação do sistema kanban na
construção civil;
Analisar os pontos positivos e negativos da utilização do sistema
kanban na construção civil.
1.3. MÉTODO DE PESQUISA
Para alcançar os objetivos propostos neste trabalho foi preciso
determinar o método de pesquisa a ser utilizado. De acordo com Yin (2005), têm-
se cinco principais métodos de pesquisa, que são:
Experimentos – quando se determina um objeto de estudo,
selecionam-se as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo,
definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos
que a variável produz no objeto;
Levantamentos – pesquisa que envolve a interrogação direta
das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer;
Análise de arquivos – pesquisa onde são analisados os
arquivos existentes do objeto de estudo;
Pesquisas históricas – pesquisa em que são utilizados os
dados históricos existentes;
Estudos de caso – quando envolve o estudo profundo e
exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o
seu amplo e detalhado conhecimento.
14
A escolha do método apropriado se dá através do tipo de
questionamento que a pesquisa enfoca, conforme mostrado no Quadro 1.
Quadro 1 – Situações relevantes para diferentes métodos de pesquisa
Estratégia Forma de
questão de pesquisa
Existe controle sobre eventos
comportamentais?
Focaliza acontecimentos
contemporâneos?
Experimento como, por que Sim sim
Levantamento quem, o que,
onde, quantos, quanto
Não sim
Análise de arquivos
quem, o que, onde, quantos,
quanto Não sim/não
Pesquisa histórica como, por que Não não
Estudo de caso como, por que não sim
Fonte: Yin, 2005
O método adotado nesta pesquisa é o estudo de caso, que segundo
Gil (1991, p. 38), “é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de
poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento”.
Os estudos de caso foram realizados em três empresas que atuam
no ramo da Construção Civil, detalhadas no capítulo 3.
15
1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO
O trabalho está estruturado em quatro capítulos, descritos a seguir.
No capítulo 1 é apresentada a introdução do trabalho, contendo sua
justificativa, os objetivos, o método de pesquisa utilizado para alcançar os
objetivos e a estrutura do mesmo.
O capítulo 2 aborda alguns temas necessários para a compreensão
do processo de projeto: o conceito de projeto, as fases do processo de projeto, a
engenharia simultânea, a coordenação de projetos e a compatibilização de
projetos.
O capítulo 3 apresenta os estudos de caso realizados em três
empresas do ramo da Construção Civil. Em cada uma das empresas foi analisada
uma obra concluída.
No capítulo 4 são apresentadas as considerações finais do trabalho
monográfico.
16
2. O SISTEMA KANBAN
Este capítulo apresenta o sistema kanban e sua aplicação na
indústria da construção civil. Para entender a aplicação desse sistema, convém
apresentar a origem do Sistema Toyota de Produção – STP.
2.1. SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO
O fordismo, sistema utilizando de forma maçante utilizado em todas
as grandes fábricas no inicio do século XX, iniciou a produção em série nos
Estados Unidos e posteriormente foi difundido para a Europa e Ásia. O sistema
Toyota surge após a segunda guerra mundial a partir do fordismo. A imagem 1
mostra um comparativo entre estes dois sistemas de produção:
Imagem 1 – Toyotismo x Fordismo (Weolowski, s.d.)
Logo após a segunda guerra mundial, devido a escassez recursos
(materiais, financeiros e humanos) da indústria japonesa, Taiichi Ohno,
17
engenheiro de produção da Toyota, na tentativa de eliminação do desperdício,
criou o Sistema Toyota de Produção (Toyota Production System – TPS).
Desperdício passa a ser entendido como qualquer atividade que utiliza recursos
mas não agrega valor ao produto final. Transporte, manutenção de máquinas,
estoques, etc. são atividades que passam a ser consideradas como desperdícios,
e tratadas com mais importância.
OHNO (1988), define sete tipos de desperdício: superprodução,
espera, transporte, processamento desnecessário, estoque, movimento, defeitos,
e diferencia dois tipos de desperdícios:
“muda tipo1” – atividades que não agregam valor, do ponto de
vista do cliente, mas que são necessárias no atual estágio de
desenvolvimento tecnológico (ex.: alguns tipos de inspeção);
“muda tipo 2” – atividades que não agregam valor e que
podem ser eliminadas imediatamente.
O STP estabeleceu dois pilares de sustentação: Just In Time e
jidoka (autonomação).
Imagem 2 - Sistema Toyota de Produção
Fonte: Mota e Alves, 2008
18
O Just In Time se baseia no suprimento da quantidade certa na hora
certa, reduzindo ao máximo o estoque, aumentando o comprometimento com os
clientes e fornecedores (externos e internos).
De acordo com o Lean Institute Brasil (2017), o jidoka baseia-se no
princípio de oferecer a capacidade de detectar a ocorrência de anormalidades em
máquinas e equipamentos e interromper a produção de maneira autônoma,
evitando a produção de produtos defeituosos. No momento em que se
implementa a autonomação em uma máquina, ela deve ser capaz de parar no
momento em que produzir a primeira peça defeituosa, para que o defeito seja
corrigido e a produção possa prosseguir normalmente sem gerar desperdícios.
A partir da percepção de que o STP atendia às necessidades do
ambiente competitivo ocidental, surgiu entre as décadas de 1970 e 1980, o que foi
chamado de Produção Enxuta ou Lean Production (WOMACK; JONES; ROOS,
2004).
2.2. JUST IN TIME
Just in time pode ser definido como um sistema no qual a produção
e movimentação de materiais ocorrem à medida que estes são necessários -
produto certo, no momento certo, nas quantidades certas (Pinto, 2008).
O JIT visa reduzir ou eliminar funções e sistemas desnecessários ao
processo global da manufatura. No processo produtivo, o JIT visa
eliminar atividades como inspeção, retrabalho, estoque etc.. Muitas das
funções improdutivas que existem em uma empresa foram criadas devido
à ineficiência ou incapacidade das funções iniciais. Assim, o conceito de
integração e otimização começa na concepção e projeto de um novo
produto (ALVES, 2016).
No just in time, as partes necessárias à montagem devem chegar à
linha de montagem no momento em que são necessárias e somente na
19
quantidade exata, reduzindo custos que poderiam ser desnecessários à
produção. Para isso é necessário um método eficaz de comunicação entre os
diferentes processos de produção, de forma que um processo posterior possa
sinalizar ao processo anterior o que, quanto e quando precisa.
Segundo. Guimarães (2010), existem dois tipos de just in time:
Quando se busca eliminar as perdas de todos os aspectos das atividades de produção de uma empresa como relações humanas, relações com o fornecedor, tecnologia e administração de materiais e de estoques trata-se, portanto, do JIT compreendido como “JIT amplo”, mas se a concentração for mais especificamente à programação de estoques de bens e na provisão de recursos de serviços onde e quando necessário trata-se do “JIT restrito.
Nesse sistema, os japoneses consideram o processo de fabricação
como uma grande rede composta de elementos menores conectados, onde a
organização ideal se dá quando cada componente da equipe termina a sua tarefa
e passa para o próximo responsável pela fase imediata fazendo com que ocorra a
redução do tempo dos processos com o objetivo direto de minimizar o estoque e
respondendo às mudanças de demanda.
Imagem 3 – Just in time
.
Fonte: Blog gerenciamento de produção1
1 Disponível em: gerenciamentodeproducao.blogspot.com.br/2013/01/just-in-time-e-kanbam.html, acesso em dezembro de 2016.
20
A imagem 3 trás mostra um esquema simplificado do surgimento e
conceito do Just in Time. A filosofia lean, visando criar uma estrutura de trabalho
organizada, buscando qualidade e a melhoraria continua da produção, chegou no
conceito do just in time, sistema onde as demandas de trabalho são vinculadas à
outras atividades trazendo a ideia que nada deve ser produzido caso não seja
exatamente no período correto, evitando a locação de funcionários para setores
desnecessários, bem como o aumento do estoque sem necessidade.
Imagem 4 - Kanban
Fonte: Blog gerenciamento de produção 2
A imagem 4 trás mostra um esquema simplificado do surgimento e
conceito da ferramenta administrativa aplicada ao modelo Just in Time, kanban.
As imagens 3 e 4 mostram de forma objetiva através de seus conceitos as
diferenças entre Just in time e o kanban, apresentando a segunda como uma
ferramenta com o objetivo de garantir a primeira.
De forma geral o kanban juntamente com a principal ideia da filosofia
JIT, é o fator deles, unidos, marcarem o ritmo de produção em uma fábrica,
acelerando o processo como um todo (ALBUQUERQUE et al., 1999)..
2 Disponível em: gerenciamentodeproducao.blogspot.com.br/2013/01/just-in-time-e-kanbam.html, acesso em dezembro de 2016.
21
2.3. FLUXO DE PRODUÇÃO
O fluxo de produção tem sua importância no processo de produção
enxuta, pois o mesmo permite uma visualização de todo processo em si. O
fluxograma da imagem 5 exemplifica um fluxo de produção.
Imagem 5 – Fluxo de produção
Fonte: Adaptaddo de Senai (2004).
No exemplo da imagem 5, o fluxograma esquematiza o
departamento de estoque de uma empresa onde a verificação de estoque é feita
de forma manual (passo 2), logo após este passo é feita a tomada de decisão
baseado na disponibilidade de do produto em estoque. Caso não haja o produto
suficiente, deve-se verificar o tempo de entrega ao solicitante e ver a possibilidade
do mesmo desistir ou não do produto, caso tenha o produto em disponibilidade,
entrega o material ao solicitante e por fim é feito a baixa do mesmo do estoque.
22
Este sistema tem por finalidade criar um fluxo continuo de produção,
com o auxilio do fluxograma, facilita o entendimento de todos os funcionários
envolvidos, bem como a visualização de todo o processo. Este esquema também
serve para a identificação de pontos de estrangulamentos, onde estes devem ser
corrigidos para evitar o excesso de produto intermediário ou tempo ocioso
proveniente da pouca produção.
2.4. PRODUÇÃO ENXUTA
A produção enxuta, como o próprio nome sugere, busca enxugar o
processo produtivo das empresas para tentar produzir somente o que agrega
valor para os clientes (COELHO, 2009). O principal objetivo da produção enxuta é
reduzir as perdas.
A produção enxuta tem a finalidade de aumentar a produtividade,
melhorando a qualidade e reduzindo o desperdício, que são atividades que
absorvem recursos, mas não agregam valor.
A Produção Enxuta surgiu como um sistema de manufatura cujo objetivo
é otimizar os processos e procedimentos através da redução contínua de
desperdícios, como, por exemplo, excesso de inventário entre as estações
de trabalho, bem como tempos de espera elevados. Seus objetivos
fundamentais são a qualidade e a flexibilidade do processo, ampliando
sua capacidade de produzir e competir neste cenário globalizado
(NAZARENO; RENTES; SILVA, 2001).
Na literatura (Ohno, 1988; Corrêa e Gianesi, 1996; Ghinato, 2002),
são encontrados sete tipo de desperdícios:
Superprodução – produzir acima do que é preciso para o
próximo passo da produção gera estoques, impedindo um fluxo
adequado de materiais, utilizando recursos e mão-de-obra que
poderiam estar sendo utilizados em outras atividades mais úteis.
23
Espera – a espera por um determinado material, equipamento,
ferramenta ou informação gera filas e estoques. Reduzir o tempo
de espera melhora o fluxo e aumenta a produtividade.
Transporte – a movimentação de materiais não agrega valor ao
produto, apesar de ser uma atividade necessária. Diminuir as
distâncias entre os diversos setores de trabalho faz com que o
tempo gasto na atividade de transporte também seja reduzido.
Processamento – cada etapa no processo de produção deve
agregar valor ao produto e não apenas custo.
Movimento – toda movimentação existente deve ser inerente ao
processo e simplificada de forma a reduzir o tempo e os custos.
Planejar os espaços e organizar as ferramentas de trabalho pode
reduzir o excesso de movimento dos trabalhadores.
Produção de produtos defeituosos – os defeitos devem ser
prevenidos e combatidos. Deve haver um processo de melhoria
contínua para reduzir defeitos.
Estoques – armazenamentos excessivos são desnecessários e
representam perda de investimento e espaço.
A eliminação desses desperdícios é o objetivo da produção enxuta.
Essa mentalidade foi levada para o setor da construção civil e recebeu o nome de
construção enxuta, discutida a seguir.
2.5. CONSTRUÇÃO ENXUTA
Lauri Koskela publicou em 1992 um trabalho intitulado Application of
the New Production Philosophy to Construction, onde adaptou os princípios do
STP para a construção civil, estendendo os benefícios da Produção Enxuta para
esse setor. Essa nova filosofia no setor da construção civil foi chamada de Lean
Construction ou Construção Enxuta, que busca adaptar os conceitos e princípios
24
da Produção Enxuta para aplicação na Indústria da Construção, buscando um
melhor desempenho no processo de produção desse setor.
Koskela (1992, p. 16) propõe a mudança conceitual do processo de
produção tradicional com a aplicação de onze princípios:
1. Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor;
2. Aumentar o valor do produto através da consideração das
necessidades dos clientes;
3. Reduzir a variabilidade;
4. Reduzir o tempo de ciclos;
5. Simplificar o processo reduzindo o número de etapas ou partes;
6. Aumentar a flexibilidade de saída;
7. Aumentar a transparência do processo;
8. Controle do processo total;
9. Estabelecer melhorias contínuas no processo;
10. Introduzir melhorias dos fluxos com a melhoria de conversões;
11. Fazer benchmarking (processo utilizado nos Estados Unidos que
utiliza a comparação de produtos, serviços e práticas empresariais).
No tocante à implementação da “Lean Construction”, Souza e
Cabete (2014), afirmam que:
“é viável e deve ser entendida como uma filosofia que busca aperfeiçoar
acima de tudo o processo de gestão da produção, consolidando assim uma
nova forma de competitividade sustentada em ambientes de elevados
níveis de incerteza e risco”.
Na construção enxuta, o processo é constituído por atividades de
processamento, transporte, espera, conversão e inspeção.
25
2.6. KANBAN
Muitas técnicas foram desenvolvidas na busca da eliminação de
desperdícios, dentre elas o kanban, que é um termo que significa sinal ou cartão
em japonês. Louis (1997) define kanban como o método operacional pelo qual o
sistema Just In Time é utilizado e gerenciado.
O kanban é um sistema de controle de manufatura desenvolvido no
Japão, consistindo em um mecanismo pelo qual um posto de trabalho informa a
sua necessidade de mais peças e/ou materiais para a seção precedente.
A visão geral do sistema kanban é o fato dele “puxar” o processo de
produção, em que o processo subsequente retirará as partes do processo
precedente. O kanban pode ser entendido como um intercâmbio de informações
sobre a produção e o transporte de itens, através de cartões preenchidos com
dados sobre essas ações.
Uma das principais características do kanban é que os produtos
devem ser “puxados” apenas quando há necessidade deles no processo,
reduzindo o excesso de estoques.
Conforme descrito por Moura (1989, p. 28-29) e Shingo (1996), a
função do Kanban pode ser resumida nos seis pontos seguintes:
1. O Kanban estimula a iniciativa por parte dos empregados da área;
2. O Kanban é um meio de controle de informações;
3. O Kanban controla o estoque;
4. O Kanban ressalta o senso de propriedade entre os empregados;
5. O Kanban simplifica os mecanismos de administração do trabalho,
através do controle de informações e estoque;
6. O controle de informações e estoque também permite a administração
visual do trabalho na área.
Segundo Moura (1989), controlar visualmente tudo o que está
ocorrendo na produção é o principal objetivo do sistema kanban. Com esse
26
controle visual facilitado, os colaboradores da produção têm um maior
comprometimento, pois eles se tornam responsáveis também pelo controle.
De acordo com Fontanini (2009), os cartões kanban são exemplos
de sinalização e podem ser feitos em cartões comuns ou em placas de metal e
tem como principal objetivo fornecer informações necessárias, evitando desta
forma um erro, em função de informações ou instruções imprecisas.
Nakhla apud Donatelli (2008, p.30) distingue dois tipos principais de
kanban:
Kanban de produção, que equivale à ficha de identificação do
produto e de instrução da operação a ser efetuada. Ele é
utilizado no centro da produção;
Kanban de movimentação do produto e de transporte do mesmo
a outro posto ou zona de estocagem. Ele é utilizado no centro de
recebimento do produto.
2.7. KANBAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL
No canteiro de obras, o sistema kanban é responsável por transmitir
informações de forma organizada e rápida. Segundo Leite et al (2004, p. 671), o
cartão deve conter as seguintes informações:
a) A quantidade do material;
b) O material a ser transportado e sua unidade;
c) Etiqueta para informar o local a ser levado o material;
d) Um desenho para ilustrar de forma clara o material.
As informações que devem constar no cartão podem variar conforme
a utilização do kanban. A ideia é criar um sistema de comunicação simples,
facilitando a compreensão entre os envolvidos.
27
A seguir serão apresentados três dos tipos de kanban mais
utilizados em canteiros de obras:
Kanban para a produção de material:
Imagem 6 - Quadro de argamassas de uma empresa de construção civil.
Fonte: Site equipe de obra pini3
A imagem 6 mostra o funcionário de uma empresa de construção
civil utilizando o kanban para otimizar a rotina de trabalho, esse simples ato
acelera a produção, evita desperdícios, direciona o material para cada setor e
controla a produção de argamassas.
A imagem 6 será utilizada para exemplificar como o sistema kanban
pode ser utilizado. Neste caso o sistema funciona da seguinte maneira conforme
o Quadro 02:
3 Disponível em: equipedeobra.pini.com.br/construção-reforma/64/artigo297842-2.aspx, acesso em dezembro de 2016.
28
Quadro 2 - Esquema mostra como a rotina da imagem 01 funciona.
HORA M
INU
TO
S
MATERIAL A SER PRODUZIDO
FICHAS DO TIPO DE MATERIAL E DO SETOR
Fonte: Próprio autor.
Para que fique clara a utilização do sistema foi necessária a
elaboração do Quadro 02, nele é possível visualizar de forma sistemática a
imagem 6.
O Quadro 02 em sua primeira coluna mostra a disposição dos
minutos dentro de uma hora divido a cada dez minutos. Da mesma maneira a
primeira linha do mesmo quadro mostra a disposição das horas de um dia de
trabalho, sendo as horas uteis de atividade entre sete e dezesseis horas, visto
que nenhuma argamassa será produzida após as dezessete horas uma vez que o
expediente terá sido encerrado e assim qualquer argamassa produzida neste
horário terá sido desperdiçada.
A interseção da primeira linha com a primeira coluna do Quadro 02
mostra o instante onde a argamassa deve ser produzida. Assim fica nítido que o
funcionário exemplificado na imagem 01 está colocando o cartão de modo que às
treze e trinta a argamassa esteja no local determinado.
O campo “material a ser produzido” no Quadro 02 deve ser
alimentado levando em consideração os seguintes aspectos: o tipo de argamassa
requerido, a hora em que essa argamassa deve ser produzida e qual local que a
mesma deve ser entregue. No exemplo da imagem 01, pode se observar que os
cartões de localidade não estão sendo utilizados. Este fato se deve ao estágio da
obra não estar tão avançado a ponto de ter várias frentes de trabalho,
dispensando, temporariamente a localidade. O tipo de argamassa deve ser
alimentado pelo funcionário responsável pelo serviço, onde deve ser descrito a
argamassa ou concreto com traço utilizado.
29
Percebe-se que a utilização do kanban auxilia tanto no controle da
produção como no controle do transporte de materiais. A aplicação desse sistema
em empresas de construção civil será discutida no capítulo 3.
Kanban para controle de estoque de material:
Imagem 7 - Quadro de materiais a serem repostos na obra
Fonte: Blog lkxlokmax4
Este tipo de kanban apresentado na Imagem 7 é mais simplificado
se comparado com o que Imagem 6 apresenta. Neste caso, os materiais estão
sendo monitorados por sua quantidade em obra.
Dessa forma a primeira linha expõe uma espécie de família do
material, como por exemplo, tijolos que podem ser fabricados em diferentes tipos
de materiais bem como suas dimensões diversas ou cerâmicas que podem ter
vários modelos e tamanhos.
No caso das colunas, ficam os itens a serem monitorados
efetivamente. Em cada célula deste kanban será sinalizado com um cartão de
cores diferentes conforme o que se quer informar. Normalmente as cores
utilizadas para estes cartões são verde, amarelo e vermelho, sendo que a verde
indica que o estoque é suficiente e nada precisa ser feito a respeito, o cartão de
cor amarela aponta que o estoque está baixando e que já é possível tomar
4 Disponível em: lkxlokmax.blogspot.com.br/2015/02/kanban-e-uma-palavra-japonesa-que.html, acesso em dezembro de 2016.
30
alguma providência, e no caso dos cartões de cor vermelha, eles representam
alerta iminente e que, caso alguma medida não tenha sido tomada no estágio
anterior, deve ser tomada imediatamente.
Para que este kanban funcione corretamente, algumas medidas são
importantes. A maioria das empresas tem uma data pré-estabelecida para serem
feitos os pedidos de materiais, portanto deve-se levar em conta na hora de
dimensionar o estoque dos materiais, o tempo entre os pedidos e o tempo que
leva para que o material seja comprado e entregue na obra. Com esse período
em mãos deve ser feito uma avaliação por meio de observação da quantidade de
material que é consumido no período entre a tomada de providência e a chegada
do material na obra. Com esse serviço realizado, basta que um funcionário faça a
verificação diariamente das quantidades de material utilizado e com a eventual
necessidade de mudanças do cartão de verde para amarelo e para o vermelho,
dependendo de qual for a situação, levando sempre em consideração que o
cartão verde sinaliza que o estoque está garantido pelo menos a mais uma data
de pedido de material, o cartão amarelo indica que o estoque está garantido até a
próxima data de pedido, mas que já está baixo e no caso do cartão de cor
vermelha, este indica que o estoque está baixo e que não irá durar caso não seja
feito um novo pedido deste material na próxima data que a empresa estabeleceu.
31
Kanban utilizado em transporte de materiais em canteiro de
obras:
Imagem 8 - A grua é uma importante ferramenta para transportes de materiais.
Fonte: Página gruascopa5
No caso da imagem 8, o kanban é menos comum que os demais,
isto se da devido á peculiaridade do tipo de obra em qual ele é aplicado. O
kanban utilizado na logística de materiais se justifica sempre que a obra
necessitar de um ritmo arrojado.
O mais comum uso deste kanban em uma obra de construção civil
está associado ao uso de gruas, mas ele ainda pode ser adaptado juntamente
com guinchos de carga (conhecidos como foguetes), elevadores de carga e
tratores do tipo retroescavadeira, bobcats e escavadeiras.
No caso da grua, geralmente é colocado um quadro de fácil
visualização para o operador e assim o mesmo possa identificar quais materiais
devem ser transportados para qualquer localidade da obra. Deve-se sempre fazer
a especificação do tipo de material e da quantidade necessária, uma vez que o
uso de gruas de uma forma geral está relacionado a obras verticais e o estoque
5 Disponível em: www.gruascopa.com.br, acesso em dezembro de 2016.
32
em excesso em lajes pode comprometê-las trazendo consequências à
estabilidade das mesmas devido à sobrecarga aplicada que geralmente não é
projetada para suportar o peso de materiais e insumos utilizados por toda a
construção civil.
33
3. ESTUDO DE CASO
Foram realizados estudos de casos em três empresas que atuam no
ramo de construção civil na cidade de Juazeiro do Norte, estado do Ceará. Em
cada empresa foi analisada uma obra em andamento, onde foi possível avaliar a
utilização do sistema kanban.
Após contato telefônico, foi enviado por e-mail um questionário que
tinha como objetivo caracterizar as empresas, conforme mostra o Apêndice A. Em
outro momento, foram realizadas entrevistas com pessoas responsáveis pela
administração das obras das referidas empresas, para verificar a utilização do
sistema kanban, objeto de estudo dessa pesquisa.
3.1. EMPRESA 1
Na Empresa 1, a entrevista foi realizada com a engenheira
responsável pela sala técnica da construtora.
3.1.1. Caracterização da empresa
A Empresa 1 é uma empresa privada de médio porte, atuando há
aproximadamente 30 anos no mercado de construção civil e incorporação,
possuindo um quadro de funcionários de 60 pessoas, sendo 25 na área técnica e
35 na área administrativa.
34
3.1.2. Sistema kanban
A empresa utiliza o sistema kanban em todas as suas obras. No
período da contratação do funcionário que irá trabalhar no setor que utiliza esse
sistema (almoxarifado, na logística da execução de concretos e argamassas), a
empresa oferece um treinamento sobre o mesmo. Nesse treinamento, geralmente
com a participação do engenheiro responsável pela obra, é focada a importância
da utilização do sistema para a melhoria contínua da produção, de modo a
otimizar os serviços e evitar desperdícios.
Mesmo que o funcionário seja relocado para outra obra da empresa,
o mesmo já recebeu treinamento na sua contratação, continuando a aplicação do
sistema nas demais obras das quais integrar o quadro de operários.
A engenheira colocou que a utilização do sistema kanban aumentou
a produtividade e diminuiu o desperdício, mas ressalta que a sua utilização
poderia ser ampliada para outros setores da empresa.
A maior dificuldade na utilização do sistema kanban, segundo a
engenheira, é o treinamento inicial do funcionário, que requer uma metodologia
que garanta não só o aprendizado de como utilizar o sistema, mas também a
importância da aplicação desse sistema. Como existe uma contratação contínua
na empresa durante a execução da obra, a engenheira sugere que a equipe de
treinamento seja parte integrante do quadro efetivo da empresa.
3.2. EMPRESA 2
Na Empresa 2, a entrevista foi realizada com um engenheiro
responsável pela obra de duas torres em concreto armado residenciais onde a
construtora tem a intenção de venda desses apartamentos.
35
3.2.1. Caracterização da empresa
A Empresa 2 é uma empresa privada de médio porte, atuando desde
janeiro de 2013 no mercado de construção civil e incorporação na região,
possuindo um quadro de funcionários de 54 pessoas, sendo 15 na área técnica e
39 na área administrativa.
3.2.2. Sistema kanban
Foi possível observar, através das ferramentas de identificação da
casa de cimento e dos quadros utilizados próximos as betoneiras, que o sistema
kanban é aplicado parcialmente nas obras, apesar de os funcionários não
receberem nenhum treinamento por parte da empresa.
Dessa forma constatou-se que o funcionário acaba utilizando esse
sistema de forma empírica, através da rotina de trabalho. Apesar da falta de
conhecimento desta ferramenta de controle, o engenheiro residente da obra
acredita que os funcionários adquirem este conhecimento, mesmo que não da
forma mais eficiente, devido ao kanban se tratar de uma ferramenta simples e ser
muito utilizada em diversas empresas, não apenas no ramo da construção civil.
O engenheiro colocou que a correta utilização do sistema kanban,
com treinamento e não empiricamente, poderia aumentar a produtividade e
diminuir o desperdício caso houvesse um treinamento para tal, e ressalta que a
falta de direcionamento para a capacitação da equipe para ferramentas
administrativas pode ocorrer devido a pouca idade da empresa, que está há
apenas quatro anos no mercado, e acredita que em breve esse será um novo
foco da construtora.
36
3.3. EMPRESA 3
Na Empresa 3, a entrevista foi realizada com um engenheiro
responsável pela obra de duas torres em concreto armado residenciais onde a
construtora tem a intenção de venda desses apartamentos, entretanto após se
inteirar do conteúdo do questionário, encaminhou o mesmo para uma técnica em
edificações que controla diversos setores da obra, entre eles o pedido de material
e demanda de concreto e argamassas pelo canteiro.
3.3.1. Caracterização da empresa
A Empresa 3 é uma empresa privada de médio porte, que foi criada
para a construção das torres citadas e está atuando no mercado de construção
civil e incorporação há cerca de um ano e meio, possuindo um quadro de
funcionários de 73 pessoas, sendo 32 na área técnica e 41 na área administrativa
e marketing.
3.3.2. Sistema kanban
A empresa utiliza o sistema kanban em sua obra. No período da
contratação do funcionário que irá trabalhar no setor que utiliza esse sistema
(almoxarifado, na logística da execução de concretos e argamassas), a própria
técnica responsável pelo suprimento e logística da obra realiza um treinamento
rápido sobre o assunto. Nesse treinamento é focada a importância da utilização
do sistema para a melhoria contínua da produção, de modo a aperfeiçoar os
serviços e evitar desperdícios.
37
A técnica colocou que a utilização do sistema kanban vem
aumentando a produtividade e diminuiu o desperdício, mas ressalta que a sua
utilização poderia ser ampliada para outros setores da empresa.
A maior dificuldade na utilização do sistema kanban, segundo a
técnica, é o treinamento inicial do funcionário, pois é necessário que o funcionário
entenda a importância do sistema para que ele o pratique. A técnica em
edificações ressalta que para que o kanban fosse utilizado de forma mais prática
e ampliada para outros setores, seria necessário que os donos da construtora
tivessem uma visão do Lean Construction e assim difundissem esse sistema de
forma hierárquica na empresa para garantir o FCP.
3.4. ANÁLISE CRUZADA DOS DADOS
Neste item é apresentada a análise dos dados coletados nas
empresas estudadas, relacionando as semelhanças e diferenças entre elas. Nos
itens 3.1, 3.2 e 3.3 estão apresentadas as principais características das
empresas.
Como pode-se observar todas as três empresas possuíam
conhecimentos sobre o Kanban, entretanto foi possível verificar que a empresa 2
não utilizava este sistema como uma ferramenta de trabalho, e sim pela
qualificação de profissionais que agregaram este sistema de forma empírica,
tendo adquirido este conhecimento pela experiência de trabalho ou por ter
recebido treinamento em empresas anteriores.
Já no caso da empresa 1, ficou claro que o sistema é aplicado e
todos os seus gestores permanecem com a linha de pensamento Lean, visando
uma construção mais enxuta, evitando o desperdício e também aumentando a
produtividade. Mesmo que a engenheira da sala técnica da construtora admita ser
necessário mais treinamentos de modo a expandir este sistema e outros da
filosofia Lean, ela ressalta que os ganhos de tempo para as atividades em todos
os seus canteiros de obra são significativos.
38
A empresa 3, que também aplica o kanban como uma ferramenta de
controle em seu canteiro, utiliza desta filosofia por iniciativa de sua técnica em
edificações que conseguiu organizar sua obra utilizando ferramentas para garantir
o fluxo continuo de produção. Mesmo assim, a técnica da obra acha que seja
necessária à participação dos setores de gestão da empresa, e não só da obra,
para que a seja possível à aplicação de forma correta e eficiente, tanto o sistema
kanban, quanto as demais ferramentas administrativas de modo que os serviços
executados em canteiros sejam mais fluidos, eficientes e com menor taxa de
desperdício. Para isso a técnica em edificações entende que seja necessário que
todos os funcionários envolvidos estejam engajados nesta filosofia de produção
viabilizando a melhoria continua das frentes de trabalho e mostrando a
funcionários novos a tal modo de produção e seus benefícios.
39
Quadro 3 - Comparativo da utilização do kanban entre as empresas 1 e 2.
Empresa 1 Empresa 2
O kanban é aplicado na empresa? Sim Sim
O entrevistado possui conhecimentos
sobre o sistema kanban?
Sim Sim
O entrevistado recebeu treinamento da
empresa sobre o sistema kanban?
Sim Não
O treinamento foi suficiente para a correta
utilização do sistema kanban?
Sim Inexistente
Os cartões e painéis kanban são de fácil
entendimento?
Sim Inexistente
As informações contidas nos cartões são
suficientes para a execução das
atividades?
Sim Inexistente
Os painéis kanban estão posicionados em
local de fácil visualização a todos os
envolvidos?
Sim Inexistente
O entrevistado acredita que o sistema
kanban aumentou a produtividade dos
serviços?
Sim Inexistente
O entrevistado recomendaria o sistema
kanban em outras obras?
Sim Sim
A utilização deste sistema poderia ser
ampliada para outras obras?
Sim Sim
Fonte: Próprio autor.
40
O quadro 03 ilustra de forma simplificada a diferença entre a
aplicação do sistema kanban na empresa 1 e na empresa 2. Assim pode-se
observar na prática que empresa 1, por ter uma imersão da filosofia lean em seus
canteiros, possui melhores resultados quanto a eficiência dos serviços realizados
bem como uma menor taxa de desperdício. É importante ressaltar neste trabalho
que a empresa 1 está no mercado há cerca de 30 anos, o tempo de atividade
desta construtora pôde proporcionar experiência e permitir que a empresa
pudesse explorar as ferramentas administrativas que fossem mais convenientes e
adaptáveis à realidade da construção civil na região.
41
Quadro 4 - Comparativo da utilização do kanban entre as empresas 1 e 3
Empresa 1 Empresa 3
O kanban é aplicado na empresa? Sim Sim
O entrevistado possui conhecimentos
sobre o sistema kanban?
Sim Sim
O entrevistado recebeu treinamento da
empresa sobre o sistema kanban?
Sim Não
O treinamento foi suficiente para a correta
utilização do sistema kanban?
Sim Inexistente
Os cartões e painéis kanban são de fácil
entendimento?
Sim Sim
As informações contidas nos cartões são
suficientes para a execução das
atividades?
Sim Sim
Os painéis kanban estão posicionados em
local de fácil visualização a todos os
envolvidos?
Sim Sim
O entrevistado acredita que o sistema
kanban aumentou a produtividade dos
serviços?
Sim Sim
O entrevistado recomendaria o sistema
kanban em outras obras?
Sim Sim
A utilização deste sistema poderia ser
ampliada para outras obras?
Sim Sim
Fonte: Próprio autor.
42
O quadro 04 ilustra de forma simplificada a diferença entre a
aplicação do sistema kanban na empresa 1 e na empresa 3. Mesmo a empresa 3
tendo um funcionário com liberdade de aplicar o sistema kanban em seu canteiro
e podendo ser identificado pela obra a sua prática, fica evidente que caso a
administração da empresa não esteja envolvida com a filosofia lean, os resultados
podem não ser tão eficientes quando se comparados, por meio de observação
dos canteiros envolvidos, com uma empresa que esteja totalmente engajada no
sistema kanban como é o caso da empresa 1. Vale ressaltar mais uma vez que a
empresa 3 está no mercado a pouquíssimo tempo quando comparada com a
empresa 1, fator este que pode explicar a falta adequada da utilização das
ferramentas da construção enxuta como o kanban.
43
Quadro 5 - Comparativo da utilização do kanban entre as empresas 2 e 3.
Empresa 2 Empresa 3
O kanban é aplicado na empresa? Sim Sim
O entrevistado possui conhecimentos
sobre o sistema kanban?
Sim Sim
O entrevistado recebeu treinamento da
empresa sobre o sistema kanban?
Não Não
O treinamento foi suficiente para a correta
utilização do sistema kanban?
Inexistente Inexistente
Os cartões e painéis kanban são de fácil
entendimento?
Inexistente Sim
As informações contidas nos cartões são
suficientes para a execução das
atividades?
Inexistente Sim
Os painéis kanban estão posicionados em
local de fácil visualização a todos os
envolvidos?
Inexistente Sim
O entrevistado acredita que o sistema
kanban aumentou a produtividade dos
serviços?
Inexistente Sim
O entrevistado recomendaria o sistema
kanban em outras obras?
Sim Sim
A utilização deste sistema poderia ser
ampliada para outras obras?
Sim Sim
Fonte: Próprio autor.
44
O quadro 05 ilustra de forma simplificada a diferença entre a
aplicação do sistema kanban na empresa 2 e na empresa 3. As empresas 2 e 3
tem praticamente o mesmo tempo de mercado, tendo seus resultados muito
parecidos quanto a aplicação do kanban em seus canteiros. Nos dois casos,
tratam-se da utilização da ferramenta graças à iniciativa de funcionários que, de
forma empírica praticam o kanban em partes, acreditando obter o melhor
resultado possível (empresa 2) ou então tendo conhecimento cientifico do assunto
e tentando aplicar esses conhecimentos em obra visando uma melhoria continua
da produção (empresa 3). Nos dois casos, destacam-se o pouco tempo de
atividade das empresas no mercado, fazendo com que as ainda não tenham
percebido a importância do sistema enxuto de produção para o melhor
desempenho de suas obras.
O resultado deste questionário aplicado às três empresas mostrou
que todas possuem conhecimentos sobre o kanban, e em todos os casos afirmam
que a ferramenta pode melhor a produção de seus canteiros de obra e que a falta
de profissionais capacitados, obrigam as empresas a dar este treinamento, o que
geralmente acontece de uma forma bem simplificada e rápida, por meio de uma
palestra no próprio refeitório do canteiro, sem a utilização de ferramentas
didáticas como vídeos, fotos entre outros e em alguns casos, o treinamento não
acontece.
De uma forma geral, as empresas conhecem a ferramenta kanban e
a filosofia lean construction, mas ainda não estão dispostas a investir no
treinamento necessário para os seus profissionais, mesmo que essa seja uma
prática que vem mudando nos últimos anos, pois já é possível observar que esse
sistema já está sendo conhecido em muitas empresas nesta região.
Salientando a importância da filosofia lean para a construção civil,
segue algumas sugestões para trabalhos futuros:
Aplicação do sistema kanban em uma empresa que não ainda
não utiliza a ferramenta;
Cartilha ilustrada apresentando as principais ferramentas da
filosofia lean:
Estudo do sistema de advertência andon;
45
4. CONCLUSÃO
O objetivo principal desta monografia foi analisar o impacto que a
utilização do sistema kanban na construção civil gera na redução de desperdícios
de uma obra. Esse objetivo foi alcançado com os resultados obtidos nos estudos
de caso e apresentados no capítulo 3.
Para a realização dos estudos de caso, foi preciso um embasamento
teórico, através da revisão da literatura, conforme mostrado no capítulo 2. Os
resultados encontrados nos estudos de caso estão alinhados com o que é
discutido amplamente na literatura, apontando ideias não só sobre o kanban, mas
também sobre Sistema Toyota de Produção, just in time e fluxo contínuo de
produção.
Os estudos de caso foram realizados em três empresas que atuam
no ramo da Construção Civil. Como pode ser visto no capítulo 3 cada uma das
empresas questionadas sobre a ferramenta kanban da filosofia Lean tiveram um
resultado diferente, mesmo as três possuindo conhecimentos sobre o assunto. As
três empresas acabam utilizando o método kanban, demonstrando ainda que
quanto maior for o conhecimento sobre o assunto, maior seria a eficiência da
produção e da redução de desperdício.
A experiência do pesquisador no ramo da construção civil na região
viabilizou o acesso aos canteiros de obra pesquisados, permitindo que a etapa de
pesquisa em campo fosse realizada em curto período de tempo. A proximidade
com a realidade local das obras pode facilitar ainda a disseminação deste
trabalho, servindo como incentivo para o uso da ferramenta kanban nas obras de
Juazeiro do Norte e consequentemente uma melhoria nas mesmas.
Mesmo já atingindo os resultados supracitados, é possível ainda
ampliar o presente estudo para mais empresas em Juazeiro do Norte bem como
para outros municípios da região metropolitana do Cariri para que seja possível
avaliar se todas tem o conhecimento do sistema kanban e como este afeta a
produção em seus canteiros. Outro ponto que poderia ser explorado nesta mesma
vertente seria a elaboração de uma cartilha apresentando a ferramenta para os
46
profissionais da construção civil tendo em vista os impactos positivos que a
mesma apresentou nas obras.
47
REFERÊNCIAS
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48
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49
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução de Daniel Grassi. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. 212 p.
50
APÊNDICES
APÊNDICE A – Questionário utilizado para a caracterização das empresas
BLOCO 1 - Caracterização da empresa pesquisada Nome do entrevistado: Cargo na empresa: 1. Nome da empresa: 2. Número de funcionários:
Administrativos: Técnicos:
3. Porte da empresa: ( ) Micro Empresa ( ) Pequena Empresa ( ) Média Empresa ( ) Grande Empresa
Classificação das empresas de acordo com o número de
empregados
Fonte:
https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/UFs/SP/Pesquisas/MPE_conceito_empregados.pdf
(Acesso em 22/02/2017)
4. Data de fundação da empresa: 5. Como está estruturada a empresa (setores, departamentos,...)? 6. As obras executadas pela empresa são: ( ) De Pequeno Porte ( ) De Médio Porte ( ) De Grande Porte
51
APÊNDICE B – Formulário utilizado na realização das entrevistas nas empresas BLOCO 2 - Diagnóstico da utilização do sistema kanban Nome do entrevistado: _______________________________________________________ Cargo na empresa: __________________________________________________________ 1. O sistema kanban é aplicado na empresa? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei responder 2. Você possui conhecimento sobre o sistema kanban? ( ) Sim ( ) Não ( ) Um pouco 3. Foi dado treinamento sobre o sistema kanban pela empresa? ( ) Sim ( ) Não 4. Se sim, o treinamento foi suficiente para a correta utilização do sistema?
( ) Sim ( ) Não 5. Os cartões kanban utilizados são de fácil entendimento? ( ) Sim ( ) Não ( ) Em parte
6. As informações contidas nos cartões kanban são suficientes para a execução das atividades? ( ) Sim ( ) Não 7. Se não, quais informações seriam necessárias? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. O painel do kanban está localizado em local de fácil visualização de todos os envolvidos?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não tem painel 9. Você acha que a utilização do sistema kanban aumentou a produtividade?
( ) Sim ( ) Não ( ) Com a utilização, a produtividade diminuiu. 10. Você acha que a utilização do sistema kanban diminuiu o desperdício?
( ) Sim
52
( ) Não 11. Você recomendaria a utilização do sistema kanban em outras obras?
( ) Sim ( ) Não 12. Quais as dificuldades encontradas na utilização do sistema kanban? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 13. Quais as vantagens da utilização do sistema kanban? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 14. A utilização desse sistema poderia ser ampliada na empresa? ( ) Sim ( ) Não
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