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RELATÓRIO DE PESQUISA MERCADO INFORMAL Maio 2013 www.spcbrasil.org.br/imprensa/pesquisas

Análise do mercado informal no Brasil

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A pesquisa foi realizada pela CNDL e SPC Brasil com os proprietários de estabelecimentos/profissionais autônomos dos setores de comércio e serviço do Brasil, que não possuem inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (sem CNPJ). O estudo tem como objetivo observar o comportamento e hábitos dos empreendedores que trabalham no mercado informal e identificar os motivos para a situação de informalidade. Tamanho amostral da Pesquisa: 612 casos, gerando um erro máximo de 4,0% com uma confiança de 95%. A pesquisa foi realizada em todas as capitais com alocação para cada capital proporcional ao tamanho da População Economicamente Ativa (PEA). Coleta realizada em cada capital aleatoriamente.

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RELATÓRIO DE PESQUISA

MERCADO INFORMAL

Maio 2013

www.spcbrasil.org.br/imprensa/pesquisas

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MERCADO INFORMAL BRASILEIRO

A pesquisa foi realizada pela CNDL e SPC Brasil com os proprietários de estabelecimentos/profissionais autônomos dos setores de comércio e serviço do Brasil, que não possuem inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (sem CNPJ).

O estudo tem como objetivo observar o comportamento e hábitos dos empreendedores que trabalham no mercado informal e identificar os motivos para a situação de informalidade.

Tamanho amostral da Pesquisa: 612 casos, gerando um erro máximo de 4,0% com uma confiança de 95%.

A pesquisa foi realizada em todas as capitais com alocação para cada capital proporcional ao tamanho da População Economicamente Ativa (PEA). Coleta realizada em cada capital aleatoriamente.

QUEM SÃO OS EMPREENDEDORES DO MERCADO INFORMAL?

Na caracterização do empreendedor/proprietário informal percebemos que 50,2% são do sexo masculino e 49,8% do feminino. A maior parte destas pessoas é casada ou se encontra em união estável (59%), 27% são solteiros, 11% são separados/divorciados e apenas 3% disseram serem viúvos.

No quesito idade, 42% se encontram entre 35 e 49 anos e 29% se encontram na faixa acima dos 50 anos. Ou seja, a grande maioria se encontra em faixas relativamente altas de idade. Além disso, a maior parte possui no máximo Ensino Médio completo/incompleto (88%).

Deste modo, podemos concluir que a maior parte das pessoas que hoje estão à frente de negócios informais são pessoas acima dos 35 anos e que possuem escolaridade relativamente baixa. São pessoas que provavelmente não tiveram oportunidades de estudo quando mais novas, e que também encontraram dificuldades para conseguir emprego, dado que há dez anos as taxas de desemprego eram significativamente mais altas (12,4% em 2003 e 5,5% 2012).

Essas pessoas, que encontraram dificuldades na sua vida profissional anos atrás, decidiram empreender por conta própria de maneira informal para obter uma fonte de renda. Podemos observar que o fator baixa escolaridade aliado a taxa de desemprego em patamares maiores serviu de um catalisador para a informalidade.

Desses empreendedores informais, 81% pertencem às classes B/C (renda de R$906,00 a R$7.000), com maior predominância da classe C, 44% (renda de R$906,00 a R$2.200,00) e com uma jornada de trabalho diária aproximada de oito horas, durante segunda a sábado. A exceção é domingo, em que o tempo de trabalho cai para seis horas, pois é o dia que esse trabalhador tem para estar com a família e descansar. Mas chama atenção o fato da diferença ser de apenas duas horas, pois sabem que têm de trabalhar, pois não são formalizados e não possuem uma renda fixa no mês (a maioria só recebe, ou ganha, se trabalhar).

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Além da jornada de trabalho puxada, períodos de férias não são garantias para o empresário/comerciantes informais. 42% dos pesquisados disseram nunca tirar férias e 22% disseram tirar férias raramente. Apenas 27% disseram tirar férias pelo menos uma vez ao ano.

A maioria (90%) dos informais diz ter algum grande sonho que pretende realizar nos próximos cinco anos, e destes, 51% dizem que este sonho é de cunho pessoal, 15% dizem que o sonho é de cunho profissional e 35% dizem ter sonhos que envolvem ambos.

Dos objetivos pessoais, 56% desejam comprar uma casa própria. Esse dado leva a conclusão de que boa parte dos informais não possui moradia própria e vários fatores podem contribuir para isso. Os principais empecilhos para a aquisição de imóveis por parte destas pessoas são as baixas faixas de renda registradas e o fato de essas pessoas não terem seus negócios formalizados, o que dificulta a comprovação de renda necessária para a aquisição de empréstimos e financiamentos com os bancos.

Além da casa própria, vale destacar outros objetivos, como a compra de um automóvel (10%), uma viagem (8%), quitar dívidas/limpar o nome (6%), garantir ensino superior para os filhos (4%), reformar o imóvel (4%) e se aposentar (1%). Já nos objetivos profissionais, 66% dos empreendedores informais desejam ampliar seus negócios, enquanto apenas 18% desejam formalizar seu negócio/comércio. 5% deseja quitar o que gastou para abrir o negócio e 4% desejam abrir um novo negócio.

Apesar de terem objetivos pessoais e profissionais para os próximos 5 anos, poucos informais demonstram preocupação com a futura aposentadoria. Isso é percebido quando vemos que 72% dos pesquisados não pagam o INSS por conta própria, ou seja, não se preocupam em garantirem o direito à aposentadoria, seja por falta de informação ou mesmo por não prestarem atenção no futuro.

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Os informais demostram ter interesse no crescimento dos seus negócios dado que 82% deles disseram tentar sempre melhorar seu negócio e que 75% pensam em ampliá-lo. Além disso, 81% procuram se manter informados sobre novidades nos setores em que atuam e 57% não se consideram satisfeitos com seus negócios e pretendem fazer mudanças. Por outro lado, 62% dos informais acham que o conhecimento que tem atualmente é suficiente para gerenciar seu negócio.

Tendo em vista as respostas acima, conclui-se que aproximadamente 60% dos empreendedores entrevistados possuem um perfil mais ousado, enquanto 40% pertencem a um perfil mais moderado. Nota-se que, dentre os comerciantes classificados como ousados, é maior o percentual de pessoas com nível superior (completo ou incompleto) em relação aos empreendedores ditos moderados (12% contra 6%). Por ter uma formação superior, mesmo que em andamento, os comerciantes ousados possuem uma maior tendência ao empreendedorismo visto que a ampliação do conhecimento proporciona mais segurança quanto à gestão de seu negócio, contribuindo para esta característica de empreendedor “ousado”, o que não ocorre da mesma forma com os empreendedores moderados.

Como consequência, o percentual de ousados que apresenta algum tipo de gestão financeira é maior do que entre os moderados, sendo 21% contra 17%. Os empreendedores ousados também demonstram um maior interesse em se formalizar, chegando a 51% dos entrevistados com este perfil, enquanto no perfil dos moderados, a maioria não possui o interesse em se formalizar (60%).

Podemos observar que esses empresários informais são pessoas empreendedoras que conseguiram encontrar outra fonte de renda, quando desempregadas e com baixa escolaridade, e que se viram sem oportunidades no mercado de trabalho formal. São pessoas que encontraram novas oportunidades dentro de uma ordem econômica já existente, desenvolvendo novos produtos ou serviços, ou mesmo alocando os recursos já existentes e os explorando de maneiras diferentes de acordo com suas necessidades.

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QUAL A SUA ATIVIDADE ATUAL?GERAL

DAS AFIRMATIVAS ABAIXO, QUAL VOCÊ CONCORDA?

COMO É O NEGÓCIO DESSES EMPREENDEDORES INFORMAIS?

Com relação à atividade atual dos entrevistados, 41% são prestadores de serviços e 59% são comerciantes. Estes dados reforçam a grande importância que o setor de comércio e serviços tem hoje para a economia brasileira. Em 2012, por exemplo, o setor representou 62,5% do PIB brasileiro, o melhor resultado desde 2000. Por conseguinte, essa participação estende-se também ao mercado informal.

A maioria dos entrevistados já trabalhou no mercado formal (78%), sendo que, destes, 88% atuaram como funcionários de empresa privada. As principais razões que levaram esses comerciantes a migrarem para o mercado informal foram o desemprego no mercado formal/não conseguir emprego formal após demissão (48%), não depender de patrões/funcionários (44%) e o retorno financeiro mais atrativo (41%). Embora as taxas de desemprego no período recente estejam em patamares baixos, alguns fatores, como o baixo nível de instrução contribui para o aumento da informalidade. Além disso, muitos também preferem não lidar com a rigidez das leis trabalhistas, partindo assim para o mercado informal.

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A maior parte dos entrevistados está no mercado informal de 2 a 5 anos (39%), seguido da opção acima de 10 anos (33%). Quando perguntados há quanto tempo o atual negócio existe, o resultado seguiu a mesma linha, com a opção 2 a 5 anos abrangendo 41% dos entrevistados e acima de 10 anos, 30% dos entrevistados. Ou seja, esses empresários estão conseguindo se manter no mercado e, pela similaridade dos resultados, o atual negócio é o único desde a inserção destes entrevistados no mercado informal. 70% dos entrevistados precisaram de algum capital para a abertura do atual negócio, sendo que, destes, 76% utilizaram capital próprio. Isso pode ser justificado pela dificuldade dessas pessoas em obter crédito tendo em vista a dificuldade em comprovar renda, dado que seus empreendimentos não são formalizados.

Os canais de venda dos produtos são em sua maioria realizados pessoalmente (91%) e por telefone (22%), principalmente os prestadores de serviço (63%). A divulgação é feita principalmente por meio da indicação por boca a boca (73%). Além disso, os itens comercializados pela maioria dos entrevistados tem um ticket médio de R$ 45,00. Quando se faz o corte por setor, serviços apresentam um percentual maior de vendas acima de R$100,00 (28%), enquanto o comércio apresenta o maior percentual de vendas até R$20,00 (63%). Como o serviço é mais caro que os produtos vendidos no varejo, você consegue comprar um presente, ou seja, uma lembrancinha, com um ticket médio menor, mas ao contratar um serviço, por exemplo, de um bombeiro ou eletricista, o valor pago para esse tipo de mão de obra é maior.

A forma de pagamento oferecida é, por unanimidade, o dinheiro (100%), mas, concomitantemente, algumas outras formas de pagamento também são aceitas por uma pequena parte dos entrevistados (12% aceitam cheque à vista, 6% cheque pré-datado, 5% cartão de crédito à vista, 4% cartão de débito e 1% cartão de crédito parcelado). Consequentemente, a forma mais utilizada também é o dinheiro, conforme respondido por 95% dos entrevistados.

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POSSUI ALGUM TIPO DE GESTÃO FINANCEIRA?

Tendo em vista que os produtos comercializados no mercado informal são de faixas de valores mais baixas, e que a forma de pagamento mais utilizada é o dinheiro, a maioria dos entrevistados afirmou não possuir inadimplentes (82%). A inadimplência no mercado informal geralmente ocorre em situações de venda “fiado”. 12% dos entrevistados afirmaram vender fiado, mas 47% só o fazem para clientes que considera de confiança. Outras formas que estes comerciantes utilizam para evitar a inadimplência é só aceitar dinheiro e cartão como forma de pagamento (40%), ou ainda analisa o tempo que o cliente possui conta em banco, no caso de pagamento feito com cheque (5%).

81% dos entrevistados afirmaram não possuir qualquer tipo de gestão financeira, seja para controlar, analisar e planejar o dinheiro do negócio. Isso pode ser constatado pelo fato de que 82% dedicam-se integralmente ao negócio, e 68% não contam com a ajuda de parentes. Tais características demonstram que estes empreendimentos são, em sua maioria, de estruturas simples, não possuem capacidade de produzirem ou prestarem serviços em grande escala, muitas vezes seu mercado é local (na região onde mora), dependem de mercado e fonte de suprimentos próximos de onde trabalham. No entanto são livres de controle externo e têm o poder decisório no seu trabalho. A ausência de gestão nessas empresas muitas vezes pode ser pela falta de tempo (com uma média de trabalho de oito horas diárias e seis no domingo) para planejar e especializar sua administração (definir funções e tarefas).

A estimativa de ganho bruto dos negócios para a maioria dos entrevistados é inferior a R$30.000,00 (88%).

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VOCÊ JÁ VIVENCIOU SITUAÇÕES COMO...POR RAMO DE ATIVIDADE

Embora o comércio informal esteja sujeito a alguns riscos, apenas 20% dos entrevistados afirmaram passar por uma situação

de apreensão de suas mercadorias; 23% já sofreram furtos e roubos e não puderam registrar boletim de ocorrência; 18% já mudaram de ponto em função

das fiscalizações; 17% já foram questionados em relação à qualidade das mercadorias vendidas, sofrendo rejeição de clientes, e 28% afirmaram não ter capital suficiente para

adquirir mercadorias ou matérias-primas. Considerando-se o corte por tipo de negócio, o comércio apresentou maiores percentuais de empreendedores que vivenciaram tais situações em relação aos

prestadores de serviços, sendo situação de apreensão de suas mercadorias: comércio 31% / serviços 4%; furtos e roubos sem poder registrar boletim de ocorrência: comércio 27% / serviços 4%; mudança de ponto em função das fiscalizações: comércio 30% / serviços 12%; questionamentos em relação à qualidade das mercadorias vendidas, sofrendo rejeição de clientes: comércio 35% / serviços 17%; falta de capital suficiente para adquirir mercadorias ou matérias-primas: comércio 24% / serviços 6%. Esta diferença nos resultados por tipo de negócio é esperada, tendo em vista que os prestadores de serviços só dependem da execução de seu serviço em si, enquanto os comerciantes necessitam adquirir produtos, possuir um ponto de venda e infraestrutura, ficando mais suscetíveis a passar pelas situações em questão.

A única vantagem da economia informal para o trabalhador é que ele não paga impostos. Pelo menos, aqueles impostos destinados às empresas como o Simples. Do outro lado, não ser formal acaba atrapalhando outras coisas na vida desse trabalhador. Fica mais difícil, por exemplo, alugar um imóvel ou conseguir um empréstimo, além de estar vulnerável à fiscalização e autuação dos vários órgãos regulatórios. Formalizar essas empresas é um desafio que pode beneficiar não só o governo, mas os próprios micros empresários.

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CONCLUSÃO

De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o mercado informal brasileiro representava em 2012 16,8% do PIB. Este resultado foi considerado como uma estagnação da formalização frente à última divulgação em 2011, quando o Índice de Atividade Subterrânea (IES) encontrava-se em 17%. Ainda assim, quando comparado ao início da década, pode-se dizer que o Brasil tem experimentado uma redução da atividade informal, posto que, em 2012, este mercado representava 21%.

Este movimento de redução do mercado informal brasileiro é fortemente influenciado pelo crescimento econômico e pelo aumento do emprego formal no país nos últimos anos. Em 2012, a taxa de desocupação no Brasil ficou em 5,5%, ante 12,4% em 2003. Além disso, o crescimento do nível de instrução na última década contribui para que um maior número de pessoas tenha acesso a oportunidades no mercado formal, contribuindo para a redução da informalidade no país. 1

Muitos empreendedores também têm procurado sair da informalidade para que possam ter acesso ao crédito, que se expande cada vez mais no país. Na condição de trabalhadores informais, estas pessoas encontram muitas dificuldades em obter empréstimos/financiamentos, impedindo-as de realizar maiores investimentos ou melhorias em seu negócio.

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Entretanto, alguns fatores levam os empreendedores informais a continuarem na informalidade, como, por exemplo, a alta carga tributária e a rigidez das leis trabalhistas no Brasil. Além disso, o desconhecimento de muitos destes comerciantes quanto aos meios de formalização como o Microempreendedor Individual (MEI) e o Simples Trabalhista dificultam um maior índice de trabalhadores formais.

Convém aqui ressaltar a importância do aumento da formalização para o desenvolvimento econômico do país, tendo em vista que as atividades informais não pagam impostos, e muitas delas são ilegais. Algumas medidas como a flexibilização das leis trabalhistas, o fortalecimento da educação no país, e maior divulgação dos meios de formalização exercem, direta ou indiretamente, o impacto positivo no aumento da atividade formal, devendo ser consideradas na redução informalidade no país.

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