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1 BRASIL OUTLOOK 2015

Brasil Outlook 2015

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BRASIL OUTLOOK 2015

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POR Thais Heredia

O ano de 2014 caminha para um desfecho melancólico para a economia brasileira mas, ao mesmo tempo, desafiante. O país está pronto para desempenhar seu papel por vocação: destino de forte investimento e um mercado consumidor atuante e sedento por novas conquistas sociais. Desde a estabilização da moeda, há 20 anos, o Brasil não enfrentava um dilema tão ardiloso quanto o que se impõe agora. De qual fonte devemos buscar as melhores ferramentas para construir as bases de um crescimento mais robusto e equilibrado?

Como na vida, há sempre duas escolhas - pelo menos. As alternativas disponíveis colocam em lados opostos aqueles que enxergam o Estado como provedor inesgotável de recursos para estimular a economia e os que acreditam no papel regulador do poder público, mas apontam a eficiência da iniciativa privada como melhor instrumento para o desenvolvimento. Os movimentos nas economias internacionais pós-crise de 2008 indicam que pender a balança para um lado só pode causar estragos mais difíceis de serem contornados no curto e médio prazo.

No Brasil, nos últimos quatro anos, forçamos um sério desequilíbrio na economia ao aumentarmos a intervenção do Estado e asfixiarmos a iniciativa privada. O desempenho pífio da indústria nos últimos anos é prova irrefutável dessa configuração. A contra prova aparece na queda expressiva do volume de investimentos para melhorar a capacidade de produção e reduzir o custo país - via infraestrutura. O nível de endividamento das famílias brasileiras, financiado pelo aumento de renda dos últimos anos e por taxas subsidiadas pelo governo, deixa claro que nem a disparada do consumo foi capaz de alimentar o Produto Interno Bruto. A queda abissal da taxa de desemprego, que deve fechar 2014 próxima a 5%, completa o cenário de distorções e consequente ineficiência na relação entre todos aqueles que contribuem para pavimentar o caminho para o crescimento. Empregamos mais e produzimos menos.

Nos bastidores do dia a dia dos brasileiros, trabalhadores e empresários, o governo assumiu o papel de provedor absoluto dos meios e soluções para nossos gargalos, numa atuação quase utópica diante de resultados tão discrepantes. O aumento de gastos públicos financiou toda sorte de atalhos para o crescimento do PIB sem que nada tenha se tornado sustentável. O volume de recursos destinados ao crédito para investimento foi recorde na história nacional e provocou efeito contrário: o

EDITORIAL O Brasil é inevitável.

investimento caiu nos últimos anos. As iniciativas tributárias do governo federal reduzindo impostos, desonerando taxas de setores produtivos e adiando reajustes de tarifas sustentaram uma bolha de consumo em setores como automobilístico, bens duráveis e serviços. A bolha já se desfez e deixou de herança uma conta bem salgada para os brasileiros pagarem.

A teoria explica que os ciclos econômicos são inevitáveis na história mundial: crescimento, retração, estagnação e recuperação. A diferença entre o tempo e a intensidade de cada um deles vai depender dos exageros cometidos na bonança. A crise financeira internacional de 2008 foi a maior experiência global da ilusão do crescimento infindável através do consumo. No Brasil, experimentamos do mesmo elixir mas com uma diferença da dose dos países ricos: lá fora, a poupança privada bancou o deslumbramento; aqui, foi o dinheiro público. Lá fora, os cidadãos perderam patrimônio, reservas e muitos sonhos. Aqui, ninguém perdeu patrimônio (ainda), mas perdemos a confiança na capacidade do governo de gerir o país e promover o desenvolvimento. Também herdamos uma inflação mais alta e o enfraquecimento das instituições.

Aqui o enigma da economia brasileira dá uma dica de como decifrá-lo. No Brasil, tudo (ou quase tudo) está por fazer: estradas, portos, aeroportos, ferrovias, geração de energia, tratamento da água, serviços para educação e saúde, entre tantos outros buracos abertos na trajetória do país. Onde mais alguém oferece tantas oportunidades num mundo em que os ricos já estão prontos, mas estão “pobres” e fracos, e os emergentes estão “ menos pobres”, mas “inacabados”?

Alguém pode logo dizer: a concorrência com nossos parceiros no BRICS - Rússia, Índia, China e África do Sul - está muito forte. Ainda tem o México, a Austrália, podem também citar. Nós ganhamos de todos eles porque o Brasil é inevitável. Esta é a nossa vocação: somos inevitáveis, imperdíveis, inescapáveis. Quem conhece e reconhece esses poderes, aguarda apenas um sinal de que as distorções serão sanadas, o equilíbrio entre Estado e iniciativa privada será retomado para que o país possa exercer seu papel a pleno vapor. Nos contentarmos com menos do que isso será tirar do Brasil um destino que a ninguém mais pertence.

Thais Heredia é jornalista e assina a coluna de economia do G1 (Portal da TV Globo).

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O SOL DA MEIA NOITE

Estratégia e gestão integrada da Sustentabilidade Corporativa

O desafio da lucratividade

Crescimento por Fusões e Aquisições

Estar ou não em Compliance?

Aliança do Pacífico: O nascimento de uma nova potência na América Latina?

Mercado de Capitais Brasileiro – A um passo do futuro!

EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO

Real EState: A construção de um novo Brasil precisa de iniciativa privada

Talento x Custo: Como Gerir este conflito no mercado altamente competitivo

O novo relato corporativo: integrando informações financeiras e não-financeiras para gerar valor

SUMÁRIO

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O Sol da Meia-NoitePor Luis ReSende

Por mais que diversas previsões e análises sustentem que o Brasil viverá um cenário absolutamente difícil em 2015, eu me recuso a aceitar que o motor da América Latina seja entregue a um longo processo recessivo.

Vimos investindo sucessivamente no país, projetando um 2015 de reassentamento dos ativos e dos setores da economia. Felizmente, conseguimos enxergar um país com um sem número de microambientes e microeconomias que crescem a taxas absolutamente relevantes.

A economia primária deve ter um belo ano em função de um quadro, mesmo que lento, de recuperação das principais economias do mundo. A mesma característica da relevância da indústria primária brasileira, que para tantos é uma vulnerabilidade, em momentos de crise e incerteza é um sólido pilar de sustentação das bases do Brasil.

A demanda de consumo não secou nem secará, ela será movimentada lateralmente. Uma economia estratificada como a nossa, com tantas camadas e maneiras de fomentar seu

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giro, criará por si só uma forma de circular os ativos reais, trocando-os de mão, fazendo com que os princípios básicos da manutenção da arrecadação e geração de riqueza sejam mantidos.

Embora possa ser caracterizada como uma posição otimista, e de fato é, ela não é baseada em nenhuma euforia ideológica ou com qualquer viés político. Essa análise é decorrente da percepção de uma relação direta entre produção, desenvolvimento tecnológico, comportamento do setor primário e no conceito de que as economias sempre operam em ciclos.

John Maynard Keynes tratou de uma maneira muito certeira a forma como as flutuações acontecem baseadas nas variações da demanda efetiva na economia. A relação direta entre o mercado financeiro e o investimento público sustenta ainda mais a tese

de que o crescimento multisetorial brasileiro retornará a partir do equilíbrio entre as demandas e ofertas público e privadas.

Cada uma das camadas sociais terá suas próprias dificuldades. Cada um dos setores terá seus desafios. Felizmente, há uma inequívoca retenção de liquidez do sistema financeiro nacional através de medidas como o depósito compulsório dos bancos. Essa foi uma das principais, se não a principal razão de termos suportado a escassez de liquidez mundial na crise pós-Lehman Brothers. Se passamos por aquele momento, financiaremos, da mesma origem, a volta do crescimento.

Segundo estudo do The Institute of International Finance “IIF”, o fluxo de investimentos para os chamados países emergentes somente caiu drasticamente exatamente em 2009, e claramente não por falta de motivação para tal, mas por absoluta falta de capacidade de acessar capital para investir.

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2005 Q1 2007 Q1 2009 Q1 2011 Q1

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IIF Forecast

2013 Q1

A entrada de capitais de mercados emergentes$ bilhões, dados trimestrais, IIF EM 7 = BRIC, Turquia, Mexico e Indonésia, IIF EM 30 = exemplo completo IIF

IIF.com - 2013

CONCLUSÃOO dinheiro VAI VOLTAR. E vai porque temos uma economia efetivamente apoiada na criação de valor e geração de riqueza. Nosso mercado de capitais transaciona na sua grande maioria ativos reais e menos operações de “vapor”, aquelas chamadas de derivativos. A alavancagem do mercado de capitais vista nos EUA em um passado recente não acontece por aqui. Não temos créditos securitizados passíveis de refinanciamento. Nossos financiamentos habitacionais são lastreados pelos verdadeiros valores dos ativos, não importando as flutuações livres que o mercado faça.Um eventual grau elevado de inadimplência não vem de uma disfunção orgânica das premissas econômicas, mas sim de um processo de aculturamento de um povo que jamais soube poupar porque nunca teve como fazê-lo. Aqui não há absolutamente nenhuma menção a classe social ou faixa de renda. A falta de cultura do investimento e poupança vem de um histórico de hiperinflação, depreciação colossal do valor real das moedas e da subtração sumária do poder de compra dos cidadãos e empresas nacionais.O brasileiro, pessoa física ou jurídica, hoje zela muito mais pelo “seu nome”. Ele compreende a responsabilidade de estar adimplente com suas obrigações nas mais diversas áreas e das mais diferentes origens. A dificuldade em honrar compromissos assumidos por uma avalanche de crédito não tem, em si, um processo infeccioso de nenhuma das faixas da nossa pirâmide

econômica. A repactuação dessa enorme quantidade de dinheiro, mais uma vez lembrando que lastreada em ativos reais, será forçosamente uma etapa de reeducação de todas as partes do jogo econômico brasileiro.Crescer dói. Sempre dói. Por tantas vezes nosso crescimento não é tangível, por consequência, mensurável por indicadores ou estatísticas. O Brasil vive um desses momentos. O reassentamento da ordem social e econômica, a interdependência dos mais diversos setores está nos forçando a amadurecer. Instituições mais sólidas em um ambiente mais seguro somente poderão resultar em novos ciclos de desenvolvimento. Que nossas dores do crescimento estejam diretamente ligadas à percepção de corresponsabilidade de cada um de nós, representando uma pequena peça do enorme quebra cabeça da economia nacional. Se todos estivermos dispostos a nos encaixar no espaço que a nós foi definido, viveremos em breve as alegrias de um novo ciclo de desenvolvimento. Para todos aqueles que se preocupam com a escuridão, posso dizer com confiança que estamos preste a ver brilhar nos céus do Brasil o Sol da Meia Noite.Luis Resende é Presidente da Volvo Cars do Brasil. Economista com especializações em BRGAAP, USGAAP, IAS, ROI. Carreira marcante como Controller e CFO em multinacionais como Volvo e Phillips.

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Estratégia e gestão integrada da Sustentabilidade CorporativaPor Isabela Domenici

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O debate sobre as mudanças na administração e gestão das grandes, médias e até pequenas empresas é uma constante que foi acentuada nos últimos anos: o maior foco e abertura nas relações com as pessoas, com o mercado, com as organizações de terceiro setor, com as comunidades, com o meio ambiente e com outros públicos que fazem parte da cadeia do negócio da companhia é uma necessidade visível e cada vez mais exigida pelos investidores e consumidores.

Segundo César Souza, escritor do “Blog do Management”, da revista EXAME, nesse momento “a alma é a propagada do negócio”. Ou seja, importam os valores, a missão e a visão das empresas, além de como ela atua diariamente para cumprir e entregar essas promessas. Essa nova administração enxerga que uma melhor relação interpessoal e com o planeta gera maior lucro no longo prazo, garantindo assim a sustentabilidade dos negócios. Além disso, uma atitude da empresa que não vá ao encontro às suas promessas pode ser um perigo para sua reputação, visto que ela “pega fogo como pólvora” dentro das novas ferramentas de comunicação.

Diante deste cenário, o conceito de sustentabilidade corporativa foi criado e desenvolveu práticas que mensuram o mercado, facilitando a análise das ações e relações das empresas com seus públicos de relacionamento e a consequente comparação entre elas. Exemplos desses mecanismos de mercado são a criação dos Relatórios de Sustentabilidade (que podem ou não seguir diretrizes globais, como as da Global Reporting Initiative - GRI), Índices de Sustentabilidade (como o Dow Jones Sustainability Índex - DJSI e Índice de Sustentabilidade Empresarial - ISE da BM&FBovespa, por exemplo) e metodologias de engajamento de stakeholders (públicos de relacionamento), além de prêmios para as melhores práticas, que ampliam a visibilidade das empresas mais engajadas.

No entanto, todas as novas práticas exigem que a sustentabilidade esteja presente na agenda da alta gestão para que as empresas estejam preparadas para divulgar suas ações e demonstrar que a sustentabilidade realmente faz parte da sua estratégia de negócio e não é apenas um conceito que passa por ações pontuais. Neste contexto, podemos citar as novas diretrizes G4 da GRI como uma consequência dessa necessidade, com indicadores que questionam o envolvimento do Conselho de Administração nas decisões de grande impacto e até a relação da remuneração da alta gestão com os temas relevantes para a sustentabilidade da Companhia.

Como consequência direta dessa nova agenda têm sido criados departamentos voltados à Sustentabilidade, cargos como Chief Sustainability Officer (CSO) ou Diretores de Sustentabilidade, comitês de Sustentabilidade que se relacionam diretamente com a Diretoria Executiva ou com o Conselho de Administração ou até mesmo grupos de trabalho específicos para participar de cada mecanismo de mercado separadamente (o departamento

de RH, por exemplo, é muitas vezes o responsável pelo questionário das Melhores Empresas para se Trabalhar da Revista Você SA/ EXAME).

Essas equipes se apoiam na boa vontade de líderes de todas as áreas da empresa para conseguir responder às perguntas que cada prática do mercado solicita. Porém, como não há uma visão integrada das iniciativas em que a empresa vai participar, o tempo desses profissionais tem sido esgotado, na maioria das vezes, preenchendo formulários e questionários com suas ações dirigidas à sustentabilidade e tentando se enquadrar nos mecanismo de avaliação das instituições do mercado. Ademais, a participação em cada iniciativa como responsabilidade de diferentes grupos de trabalho na organização pode fazer com que a mesma informação seja pesquisada internamente e divulgada de forma diversa, o que não gera credibilidade ao conteúdo informado.

Mas será que esse é o papel verdadeiro desses profissionais? Não deveriam eles estar focados em desenvolver caminhos para que os impactos econômicos, sociais e ambientais sobre a empresa sejam cada vez menores e mais lucrativos?

A jornalista Silvia Dias abordou, há algum tempo, esse tema na Revista Sustentabilidade, descrevendo várias atividades pertinentes para essa área. No entanto, o que se vê é que não há tempo ou investimento para a criação e desenvolvimento de oportunidades de melhoria das ações de sustentabilidade pelas empresas, mas sim uma competição entre elas tentando correr atrás do que os mecanismos impõem como práticas relevantes.

Diante desses pontos, é importante refletir sobre o papel dessas novas áreas e profissionais, pensando como eles podem, ao mesmo tempo, ser estratégicos e alcançar um bom posicionamento junto aos mecanismos de mercado. Para isso, é necessária uma maior conexão entre todas as áreas da empresa, tanto para reunir informações sobre a atuação da companhia e seus impactos como para decidir quais são as melhores formas de divulgar suas ações que buscam o desenvolvimento sustentável.

Dessa forma é possível afirmar que o papel dessa área é olhar de maneira global para a empresa, avaliando seu impacto no mercado, na sociedade e no planeta e, assim, desenvolver um planejamento estratégico para que o negócio da companhia se sustente ao longo do tempo, já que não há negócio de sucesso em um macroambiente econômico, social e ambiental degradado.

Isabela Domenici é Diretora de Conteúdo e Sustentabilidade da Ricca RI. Jornalista especializada em comunicação para o mercado de capitais, com MBA em Economia, Setor Financeiro e Desenvolvimento Sustentado. Especialista na aplicação de metodologias e consultoria para projetos de sustentabilidade. [email protected]

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Há que se ter em mente que essas são as bases para uma boa tomada de decisão.

aos olhos da matriz, precisam ser claras as diferenças e particularidades de cada mercado. É fundamental expor ao headquarter como se joga o jogo. Não significa dizer que irá prevalecer a recomendação do mercado. Consiste simplesmente em estabelecer uma relação de transparência e confiança que, em último caso, objetiva alcançar o melhor resultado para o negócio. Em resumo, que as decisões sejam conscientes.

buscar garantir que haja um balanço adequado entre tomada de decisão local e central. Em um mercado como o Brasil, em que o contexto de negócio pode mudar da noite para o dia, a capacidade de reação rápida (tanto para riscos como para oportunidades) muitas vezes pode ser determinante. É extremamente conveniente que os executivos tenham relativa autonomia para agir sob essas circunstâncias.

estar preparado para eventuais frustrações. O fato de uma operação local ser bem sucedida não garante necessariamente sua existência. Em momentos de crise nas economias desenvolvidas por vezes prevalece a decisão de proteger esses mercados, exigindo desinvestimentos ou remessas maiores de recursos de suas subsidiarias.

Em resumo, para os executivos financeiros de multinacionais no Brasil é complexa a tarefa de balancear os papéis tradicionais de preservar os ativos da companhia, minimizando os riscos e garantindo a integridade dos livros da empresa, protegendo os interesses dos acionistas (que no contexto abordado estão lá fora), sempre agindo como estrategista, que é aquele que dá o direcional e atua como catalisador das oportunidades desempenhando papel ativo na instauração de uma mentalidade de busca contínua pela melhoria dos resultados.

Ao longo das últimas décadas muitas organizações entraram nos mercados emergentes atraídos por uma perspectiva de crescimento por vezes substancial. A estratégia se tornou até clichê na agenda estratégica das multinacionais. O que se verifica, na prática, é que poucas empresas foram capazes de refletir esse crescimento em retorno efetivo para o acionista.

Nesse contexto, as subsidiárias brasileiras também passaram a disputar recursos internamente e a serem consideradas por suas matrizes como alternativas concretas de crescimento, sobretudo naqueles momentos em que os mercados maduros encontravam-se estagnados ou mesmo em situação de crise.

A grande verdade é que com esses movimentos os mercados foram se tornando cada vez mais competitivos, e consequentemente cresceu o desafio da lucratividade. Além do aumento da concorrência, podemos enumerar outros motivos pelos quais nós, executivos, devemos estar atentos ao tomar uma decisão de investimento no país:

à medida que aumentam as participações das operações, cresce a visibilidade do desempenho desses mercados no resultado consolidado, bem como o impacto de um resultado negativo ou abaixo do esperado.

aumento dos custos. De maneira genérica refiro-me à mão-de-obra, impacto dos preços das commodities, custos logísticos muitas vezes decorrentes de uma precária infraestrutura (o exemplo clássico é a rede de transportes) e elevado custo de capital.

carga tributária abusiva.

outros fatores, nem sempre tangíveis ou quantificáveis, tais como burocracia e complexidade do sistema legal e tributário.

Para ser bem sucedido hoje e amanhã é crucial entender todas as forças que definem o contexto em que atuamos, desafiar continuamente a maneira como estamos conduzindo os negócios, revisando os modelos e processos tradicionais. A fim de lidar com todos esses dilemas, destacaria como essencial estar atento aos seguintes princípios:

planejamento: embora no curto prazo amarguem-se perdas, o ponto da virada (quando e como) precisa estar bem definido nos planos.

por vezes, especialmente em mercados como o brasileiro, há uma dificuldade latente em obter informações acuradas.

O desafio da lucratividadePor Thyana S. L. Otsuka

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Tantas vezes as oportunidades de crescimento parecem tão óbvias e certas, mas é preciso dar um passo para fora do contexto, deixar as emoções de lado e analisar, sob a perspectiva global, se a estratégia faz sentido ou não. O grande desafio, e talvez até a chave do sucesso, seja saber declinar. É fundamental estar preparado para acalmar os ânimos internamente, pois muitas vezes a decisão acertada não é a mais popular, ou não é aquela que a organização local quer e espera ouvir.

Thyana Otsuka é CFO da Volvo Cars do Brasil. Graduada em administração de empresas pelo Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa em São Paulo, com MBA Executivo pela mesma instituição. Traz passagens por empresas como Unilever e American Express, nas quais acumulou experiência em planejamento financeiro e controles operacionais. Entrega à gestão das finanças corporativas da Volvo Cars do Brasil a dinâmica necessária para combinar rentabilidade, liquidez e apoio aos operadores do mercado.

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Crescimento por Fusões e AquisiçõesPor PATRÍCIA PERINAZZO COSTA

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As operações de Fusões e Aquisições - F&A, ou Merger and Aquisitions - M&A, em inglês, são considerados os mais eficazes métodos de crescimento de empresas. Tais operações são comumente empregados para captar investimentos, expandir as atividades da companhia, absorver concorrentes, aumentar o market-share, seja por conta de aumento do faturamento por expansão regional ou base de clientes em nichos selecionados. A aquisição de posição de mercado pode ser mais barata do que enfrentar as barreiras de entrada, necessidade de inovação, dentre outros.

Transações de F&A são estrategicamente ferramentas de globalização de empresas extremamente eficazes e largamente utilizadas. Na medida em que facilitam o acesso ao know-how dos mercados locais, os processos de consolidação permitem que a empresa adquirente acesse as geografias-alvo com celeridade e eficácia. Assim serão antecipadas condições

econômicas, políticas e culturais. Outra razão é a superação de eventuais barreiras regulatórias, tais como licenças operacionais e permissões governamentais das mais variadas, que advindas da empresa adquirida, garantem um acesso diferente das vias orgânicas.

Um dos mais recentes exemplos é o caso da Electrolux. A gigante sueca, uma das maiores fabricantes mundiais de eletrodomésticos, anunciou em setembro de 2014 a compra da divisão de eletrodomésticos da GE. Uma estratégia de expansão por aquisição que alavanca sua posição no mercado, aumentando a capilaridade dos canais de venda e o alcance global.

Segundo a Pesquisa de Fusões e Aquisições 2014 - 2º trimestre, elaborada pela KPMG, apesar da baixa expectativa de crescimento do Brasil, o número de operações de M&A confirmam que esse tipo de operação é o mais utilizado para expansão de empresas.

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5Grandes gestores e visionários aproveitaram-se de momentos de incerteza e volatilidade para realizar movimentos arrojados e com grandes resultados. Steve Kaufman, principal executivo da Arrow no início da década de 90, e responsável pelas aquisições que consolidaram a empresa como líder no mercado de componentes eletrônicos à época, afirmou: “Adquirimos em tempos difíceis”. A ideia é exatamente essa. Partindo do princípio de que valha a pena manter e fazer crescer o negócio, aquisições durante períodos recessivos reduzem o risco, ao invés de aumentá-lo. Nesses cenários, companhias bem-sucedidas fazem apostas que fogem ao senso comum para alavancar suas posições de mercado.

Por diversas vezes no decorrer deste ano me deparei com a seguinte pergunta: “Como você enxerga o mercado de

M&A em meio ao instável cenário econômico no Brasil, e a consequente baixa atratividade para investimentos?” Eis minha resposta: Historicamente crises e recessões sempre trazem oportunidades de aquisições e parcerias. O absoluto foco e compromisso com o desenvolvimento permite que gestores e empreendedores reconheçam que “o copo pode estar meio cheio e não meio vazio”. Em cada momento de retração e incerteza macroeconômica, a capacidade de reconhecer setores da economia com espaços de crescimento pode ser o diferencial entre acomodação e defesa ou ousadia e crescimento.

Patrícia Perinazzo Costa é sócia da OPP Brasil, advogada, especialista em direito contratual, com larga experiência em operações de M&A, cross border transactions e contratos de alta complexidade. [email protected]

Transações Domésticas: entre empresas de capital brasileiroCB1: Empresa de capital majoritário estrangeiro adquirindo, de brasileiros, capital de empresa estabelecida no Brasil.CB2: Empresa de capital majoritário brasileiro adquirindo, de estrangeiros, capital de empresa estabelecida no exterior.CB3: Empresa de capital majoritário brasileiro adquirindo, de estrangeiros, capital de empresa estabelecida no Brasil.CB4: Empresa de capital majoritário estrangeiro adquirindo, de estrangeiros, capital de empresa estabelecida no Brasil.CB5: Empresa de capital majoritário brasileiro adquirindo, de brasileiros, capital de empresa estabelecida no exterior.

1º SEMESTRE

2013 2014

Domésticas 184 165

Cross border 1 127 142

Cross border 2 25 19

Cross border 3 14 24

Cross border 4 32 50

Cross border 5 4 6

TOTAL 386 406

Número de operações por tipo de negócio

205

54

43

27

2421

Tecnologia da Informação

Serviços para empresas

Alimentos, bebidas & fumo

Instituições financeiras

Telecomunicação e mídia

Empresas de internet

Companhias energéticas

Outros

Setores em destaque no semestre (nº de transações)

Fonte: Pesquisa de Fusões e Aquisições 2014 – 2º trimestre - KPMG

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Estar ou não em Compliance?Por Eduardo Rezende de Borba

Já se passaram 12 anos desde a aprovação da lei americana Sarbanes-Oxley (SOX) e, dependendo da Organização, cerca de uma década em que as empresas com ações listadas na New York Stock Exchange (NYSE) foram obrigadas a cumprir com os controles internos sobre suas demonstrações financeiras, conforme estabelecido na seção 404 da SOX.

Porém, as empresas ainda sofrem constantes desafios neste processo de “estar em compliance”, em função de seus processos sofrerem alterações no decorrer dos períodos.

Em um ambiente globalmente competitivo, as constantes mudanças nas atividades de uma empresa são normais. Da mesma forma, os controles internos devem ser periodicamente revisados e atualizados, para fazerem sentido às novas rotinas dos processos.

Muitas companhias ainda possuem uma abordagem manual para os testes de controles, o que gera maior demanda de tempo e mão de obra, enquanto algumas poucas organizações já estão utilizando procedimento de teste continuo automatizado. Este é um importante passo para aquelas empresas que já possuem a cultura de risco e controles, sendo de conhecimento e aplicação por parte de seus funcionários, principalmente nos cargos de gerência e diretoria.

Existem aquelas empresas que não têm ações listadas na NYSE, ou seja, não têm a obrigatoriedade em estarem em compliance com a SOX, mas que no entanto, adotam uma abordagem de regulamentação e divulgação própria, inclusive seguindo os requerimentos desta lei. Temos visto algumas empresas de médio e grande porte trabalhando dentro desta filosofia e estrutura.

No Brasil a própria Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que é o órgão regulador de nosso mercado de capitais, tem trabalhado para harmonizar as regras de compliance brasileiras e internacionais, com um esforço ainda maior para alinhar o Brasil com as normas aplicadas nos mercados mais desenvolvidos. Percebe-se que atualmente, a maioria dos conceitos básicos da SOX já foram incorporados na legislação brasileira, havendo um bom grau de alinhamento entre CVM e SOX.

Devido ao seu grau único de liquidez, a NYSE é a referência mundial para listar as ações. As empresas que cumprem

as demandas e exigências dela, de certa forma, são invariavelmente melhor preparadas ou até mesmo tem uma vantagem competitiva para receber investimentos estrangeiros.

Mas o que isso tem a ver com empresas privadas e outras não listadas na NYSE e obedecendo regras da SEC? No que isso impacta as quais não possuem necessidade do cumprimento à SOX? Essa é uma questão de boa estratégia de negócio ao adotar os princípios da regulamentação e compliance, fortalecendo o ambiente de controles internos.

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As companhias que possuem um forte sistema de controles internos, revelam-se bem sucedidas em seus respectivos segmentos de mercado. Controles internos fortes forçam a empresa além de seus limites padrão, ajudando a implementar melhores práticas de mercado, fortalecer a credibilidade, e atender as necessidades de seus clientes de uma forma melhor em relação a seus concorrentes.

Competindo em um mercado de capitais ainda restrito e com poucas fontes de funding para desenvolvimento e capitalização, estar em Compliance deixa de ser uma opção e passa a ser um

caminho inevitável para a solidificação de qualquer companhia. Acionistas e “stakeholders” certamente vão agradecer esta escolha, tanto quanto os responsáveis pela solidez da gestão corporativa.

Eduardo Rezende de Borba é Sócio-Senior das Operações OPP Brasil nos EUA. Graduado em Ciências Contábeis, com MBA em Gestão de Tecnologia e Administração, tem importantes passagens por Ernst & Young, HSBC e Bunge. Um dos melhores especialistas brasileiros em Compliance e Lei Sarbanes-Oxley. [email protected]

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Aliança do Pacífico O nascimento de uma nova potência na América Latina?Por João Henrique Oliveira

A Aliança do Pacífico é uma iniciativa de integração regional criada em 2011 por Chile, Colômbia, México e Peru.

Seus objetivos são:

Construir, de forma participativa e consensual, um espaço de profunda integração para avançar gradualmente para a livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas;

Impulsionar o crescimento, desenvolvimento e a competitividade das economias das partes envolvidas com vista a alcançar um maior bem-estar, superar a desigualdade socioeconômica e promover a inclusão social de seus habitantes;

Tornar-se uma plataforma de articulação política, integração econômica e comercial e de projeção para o mundo, com destaque para a região da Ásia-Pacífico.

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BRASIL E ALIANÇA DO PACÍFICO SEMELHANÇAS E DIFERENÇASConsiderando os objetivos da Aliança, cabe avaliar como esse conjunto de países se compara ao Brasil e quais as possíveis consequências deste novo bloco econômico para o comércio brasileiro e a nossa capacidade de liderança regional.

Analisando o quadro acima, a primeira conclusão interessante é que, do ponto de vista de população e economia, o Brasil e o conjunto do bloco do Pacífico são muito similares. Ambos possuem população ligeiramente acima de 200 milhões de pessoas e suas economias movimentaram, em 2013, perto de 2,2 trilhões de dólares.

Porém, ainda sob esse aspecto, começam a aparecer as primeiras diferenças entre o nosso país e o bloco do Pacífico. Analisando-se o PIB corrigido pela Paridade de Poder de Compra (PPP), observa-se que os países da Aliança do Pacífico possuem custo de vida consideravelmente abaixo do custo brasileiro.

Além disso, verifica-se que, enquanto exportações e importações somadas correspondem a aproximadamente 22% do PIB brasileiro, para o bloco do pacífico encontram-se praticamente em 50%. Essa diferença demonstra que, enquanto o Brasil concentra-se, devido a diversos fatores, em seu mercado interno, os países da Aliança do Pacífico têm uma vocação muito maior para a abertura de mercados e para o comércio internacional.

Tal fato evidencia-se também quando lembramos que, ao contrário do Brasil, todos os quatro países membro da Aliança do Pacífico possuem tratado de livre comércio (TLC, ou FTA segundo a sigla em inglês) tanto com os Estados Unidos quanto com a União Europeia.

Ao mesmo tempo em que o Brasil busca restringir o relacionamento comercial livre com europeus e americanos, utilizando-se de diversas formas de barreiras comerciais, os países do bloco do Pacífico buscam cada vez mais flexibilizar e incentivar essas relações.

Por último, e não menos importante, cabe comparar a carga burocrática a que estão expostos empresários e investidores em cada um dos países, impactando diretamente o custo de operação.

PopulaçãoPIB Câmbio

Oficial (Bilhões USD)

PIB PPP (Bilhões USD)

PIB PER CAPITA(Milhares USD)

Exportações (BUSD)

e vs PIB (%)

Importações(BUSD)

e vs PIB (%)

BRASIL 202.656.788 2.190 2.416 12.100 245 241

11% 11%

MÉXICO 120.286.655 1.327 1.845 15.600 371 371

COLÔMBIA 46.245.297 369 527 11.100 59 54

PERU 30.147.935 210 344 11.100 42 42

CHILE 17.363.894 282 335 19.100 78 76

Total Aliança 214.043.781 2.188 3.051 14.278 549 542

25% 25%Fonte: https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook - População estimada em julho/2014 e demais dados estimados para 2013.

Fonte: http://www.doingbusiness.org/rankings - Banco Mundial - Posição no ranking Mundo (Posição no ranking América Latina)

Facilidade de se fazer negócios

CHILE 34 (1)

PERU 42 (3)

COLÔMBIA 43 (4)

MÉXICO 53 (5)

BRASIL 116 (23)

A tabela acima mostra o ranking dos países avaliados pela facilidade de se fazer negócios considerando prazos, procedimentos e custos para abrir e encerrar empresas, entre outros. Mais uma vez vemos que o Brasil ocupa uma posição bem desfavorável em relação aos demais países da Aliança do Pacífico.

CONCLUSÃOA Aliança do Pacífico desponta como importante potência econômica e política na América Latina, pautada nos ideais de livre acesso aos mercados, segurança jurídica e funcionamento eficiente e descomplicado de suas instituições.

O Brasil vive um momento da mais pura efervescência política, coroado pelas eleições presidenciais mais competitivas da era republicana. Independentemente da corrente política que sair vencedora, o país definitivamente precisará escolher, em breve, se seguirá o mesmo caminho dos nossos vizinhos do Pacífico, abraçando verdadeiramente o livre comércio internacional e tornando-se, portanto, um ator econômico e político da mais alta relevância global ou se vai se fechar em torno de um Estado cada vez mais protecionista, burocrático e interventor.

A resposta saberemos em breve!

João Henrique Oliveira é Diretor de Operações da Volvo Cars para América Latina e Caribe. Engenheiro Mecânico, com MBA em Marketing, Relações Internacionais e Direito. Mescla diferentes habilidades gerando um resultado de altíssima qualidade na análise, compreensão e definição de estratégias em mercados multi-culturais.

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Mercado de Capitais Brasileiro A um passo do futuro!Por ADEODATO NETTO

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A transformação da BM&FBovespa no que ela é hoje começou em 2002, após a aquisição da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Este parecia ser um definitivo movimento na solidificação de um grande operador brasileiro no mercado de capitais.

Nos mais diversos contextos macro e micro e econômicos a BM&FBovespa refletiu movimentos internacionais, sempre mantendo uma posição muito peculiar da realidade interna de nosso país, por tantas vezes na contramão do mundo.

Se olharmos os momentos em que o Ibovespa atingiu os 70.000 pontos e vivemos basicamente uma euforia de fluxo de capital ingressante e circulante, havia um olhar muito atento e otimista para todo o ambiente de desenvolvimento do Brasil.

Curiosamente, nossos indicadores não foram capazes até hoje de sobrepor as barreiras de entrada no mercado aberto de capitais por companhias brasileiras. Ainda é caro, burocrático e por consequência “incerto” demais para as PMEs brasileiras terem a abertura de capital como estratégia de geração de liquidez ou captação de recursos.

Nosso sistema financeiro tem uma das melhores regulações do mundo no sentido de retenção de liquidez circulante e integração tecnológica. Estas são algumas das boas heranças do período de instabilidade econômica que tanto nos ensinou a sobreviver em meio às tormentas da volatilidade.

Incrível como esta qualidade toda não foi capaz de trazer consigo um universo relevante de empresas dispostas a se expor ao mercado de ações. Não culpem-se somente os processos de regulação, investimento necessário e burocracia citados acima. As regras de transparência e gestão foram também muito temidas pelo empresariado verde e amarelo.

Vivemos um círculo vicioso neste sentido. Quanto menos empresas listadas, menos opções de investimento, menos dinheiro circulando, maior a concentração das operações de crédito nas mãos dos bancos de varejo. Desta maneira ficamos suscetíveis aos spreads incríveis hoje praticados nas cessões de crédito e ainda aos comitês de avaliação de risco altamente conservadores e demandando garantias reais ou colaterais que represam a capacidade das companhias de investir em desenvolvimento seja ele orgânico ou não.

Vemos com grande esperança movimentos sólidos e determinados do mercado em prol da aproximação de nossas empresas do mercado de capitais. Novo Mercado, planos de incentivo e racionalização das exigências para abertura de capital são definitivamente um caminho para atração de investimentos das mais diversas fontes.

Para ilustrar o tamanho do nosso universo de opções, a BM&FBovespa tem cerca de 360 empresas listadas. Somente em outubro foi realizado o primeiro e provavelmente o único IPO de 2014, já no início do último trimestre do ano com a chegada da Ouro Fino. Traçando um paralelo com a Bolsa de Nova York, a NYSE, lá são aproximadamente 3.000 empresas listadas e

somente em 2014, 188 empresas levantaram cerca de US$ 40 bilhões em IPOs nos EUA de acordo com estudo da Renaissance Capital. Nos EUA há a expectativa que o último quartil do ano movimente aproximadamente outros US$ 40 bilhões, em um período sem precedentes deste a crise internacional de 2007.

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04/13 7/13 10/13 1/14 4/14 7/14

Fonte: Renaissance Capital

Pedidos de Registro de IPOs nos EUA

Quanto dinheiro poderíamos estar trazendo para nossos mercados, se tivéssemos uma gama de opções maior e mais sólida? Quantos pequenos investidores não institucionais, como as chamadas velhinhas de Wall Street poderiam estar escolhendo seus ativos através de bons indicadores e operando por meio de seus “home brokers”?

Este é um momento de muita discussão nacional sobre o futuro do Brasil. O que fazer? Como fazer? Independentemente de qualquer política pública, parafraseando o Editorial deste material, o Brasil é inevitável. Representamos uma oportunidade de investimento inegável para investidores internacionais. Mas tão melhor seria fazermos a nossa lição de casa, e compreendermos que temos aqui dentro uma força propulsora colossal e atualmente ociosa. Permitir o acesso de PMEs ao mercado de capitais naturalmente acelerará o processo de desenvolvimento, de crescimento do país, oferecendo a tantos milhões de brasileiros a possibilidade de investir suas economias na bolsa.

A pulverização dos ativos e também da origem dos investidores representa um salto quântico no grau de maturidade e atratividade do nosso mercado. É fundamental que sejamos capazes de dar ao mercado e aos brasileiros uma oportunidade de crescimento e ganho proporcional à dimensão continental de nosso território e da nossa economia.

Este será o definitivo passo na consolidação brasileira como uma economia sólida e absolutamente relevante no contexto desenvolvimentista e de sustentação do modelo integrado macroeconômico global. Não é mais uma questão de “se”, é uma questão de “quando” ... esperamos que logo!

Adeodato Netto é COO & Head de Fusões e Aquisições da OPP Brasil. Especialista em Mercado Privado de Capitais pela DePaul University em Chicago, IL e M.Sc. em Finanças Corporativas pela University of Liverpool. [email protected]

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EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃOPor Marcus Vinicius Tsukuda

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Atualmente, no Brasil, mais pessoas abrem negócios por vislumbrarem uma oportunidade do que pela necessidade de obtenção de renda.

Segundo relatório divulgado pela Global Entrepreneurship Monitor em julho de 2014 sobre a atividade empreendedora no Brasil, em 2013, 71,3% dos “empreendedores iniciais” foram motivados a abrir um negócio próprio porque identificaram uma oportunidade, mesmo com uma possibilidade alternativa de geração de renda. Quando comparado com o ano de 2002, esse percentual era apenas de 42,4%.

Embora as pessoas tenham passado a empreender pela visualização de oportunidades, e não mais por necessidade, em 98,8% dos empreendimentos iniciais ninguém considera o produto como novo. Em relação à existência da tecnologia, em 99,5% desses empreendimentos a tecnologia existe há mais de 5 anos. A inovação relacionada a esses empreendimentos é extremamente baixa.

Em comparação a outros países em desenvolvimento, o Brasil mantém uma posição relativamente inferior de inovação em empreendimentos iniciais. Na China, 16,6% dos empreendimentos iniciais apresentam produtos que são novos para todos. Já na Índia, esse mesmo indicador é de 17%. As tecnologias com menos de um ano nos empreendimentos iniciais representam 5,7% na China e 23,1% na Índia.

Joseph Schumpeter, em sua teoria do desenvolvimento econômico, afirma que a economia se desenvolve somente a partir de inovações. Não se considera, nessa teoria, que o desenvolvimento seja gerado por fatores exógenos como guerras, mudanças de políticas econômicas, sociais ou comerciais ou até mesmo o próprio crescimento da economia pela expansão da população ou da riqueza. São as inovações o motor do desenvolvimento econômico.

Segundo Schumpeter, as inovações ocorrem quando:

(1) há a introdução de um novo produto no mercado que os consumidores não conheçam;

(2) ocorre a utilização de um novo método de produção;

(3) há a exploração de um novo mercado;

(4) uma nova fonte de matéria-prima ou de bens semi-manufaturados passa a ser explorado; e

(5) a criação de nova ou a quebra dessa estrutura de mercado (monopólio, oligopólio, etc.).

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O responsável por realizar essas mudanças é o empreendedor e sua principal característica - a de introduzir inovações - o difere dos demais homens e mulheres de negócios.

Ao analisar os dados mencionados acima percebe-se que ,embora as empresa criadas recentemente tenham surgido pelo vislumbre de uma oportunidade, poucos são os negócios que foram fundados por empreendedores, segundo o conceito de Schumpeter. As empresas criadas não estão contribuindo para o desenvolvimento econômico, mas apenas contribuindo para o crescimento da economia. Obviamente deve-se levar em consideração outros aspectos sociais do desenvolvimento como saúde, educação e segurança, mas no contexto econômico de Schumpeter, as novas empresas estão muito aquém da contribuição para a criação de desenvolvimento. Vale ressaltar que as inovações contribuem diretamente para a geração de vantagens competitivas que podem, inclusive, auxiliar no processo de introdução de novos produtos em outros países.

Ambiente econômico ou políticas de fomento à criação de empresas que tenham condições de introduzir inovações ou, ainda, educação que desenvolva mais pessoas com criatividade para gerar inovações são questões que podem ser trabalhadas para melhorar a capacidade do país para criação de inovações.

Setores como educação, infraestrutura e um trabalho mais eficiente quanto à formulação e execução de políticas econômicas e fiscais, entre outros fatores, podem ser a base inicial de trabalho para fomentar a inovação.

Marcus Vinicius Tsukuda é Gerente de M&A e Novos Negócios na OPP Brasil. Administrador e Economista. Marcus liderou equipes de alta performance em inovação e especializou-se em desenvolvimento de negócios e planejamento. [email protected]

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02002

42,453,3 52,3 52,3 50,9

56,166,7

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Evolução da Oportunidade como % dos Empreendimentos Iniciais

Fonte: GEM Brasil 2013

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Real EStateA construção de um novo Brasil precisa de iniciativa privada.Por RODRIGO CORRÊA DE BARROS

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O mercado brasileiro de incorporações imobiliárias se elevou a um novo patamar na última década. Nas metrópoles, em quase toda esquina onde antes havia uma casa simples ou antiga agora surgem lojas destinadas à farmácias, brand stores e pequenos condomínios de sobrados. O investidor descobriu que fragmentar investimentos é uma alternativa que independe do seu poder de fogo.

Terrenos com vocação para edificações verticais adensadas, localizados em regiões centrais de cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e São Paulo se tornaram raros e os negócios envolvendo tais propriedades não param, não importa o nível da euforia desse segmento. Terrenos bons nas grandes cidades estão lastreados em ouro.

O interior dos estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro foi redescoberto pelos empreendedores varejistas que, em busca da diversificação e da expansão dos negócios em cidades médias e com alta renda per capita, investem na execução de shoppings e stripmalls. Seus primos em primeiro grau, os verdadeiros outlets, já fazem ensaios nas rodovias de Santa Catarina.

A região Norte aponta para o caminho da urbanização e infraestrutura urbana, necessárias em uma região que tem sido o centro das atenções dos governos recentes e cujo desenvolvimento ajudará a manter equilibrado o centro de custos da nação.

No Nordeste a teoria de que construir uma pousada ou resort cinco estrelas perto das areias paradisíacas pode se converter em sucesso imobiliário foi comprovada desde que os números projetados em 1994 para o crescimento do turismo internacional no estado se superam ano após ano. Há sentido na teoria de que a rota mais curta para a Europa é também a mais atraente.

E há marinas, estaleiros, shoppings, presídios, hospitais, centros médicos, escolas, lofts, cemitérios, condomínios logísticos, condomínios off shore, portos, bairros inteiros... Cada novo negócio aberto em nosso país obrigatoriamente sofre a intervenção direta da construção civil. Do jovem médico que inicia consultório em sala alugada ao industrial que implanta a manufatura, a construção tem operado a mudança física do país e sua presença no ambiente de negócios encontra espaço para se multiplicar inúmeras vezes.

O cenário econômico interno, no entanto, cria obstáculos para o desenvolvimento de projetos de envergadura nesse segmento. No entanto, ao mesmo tempo em que as oportunidades brotam, fomentadas pela necessidade de se empreender, o desempenho das construtoras e incorporadoras é ameaçado

pelo peso excessivo dos tributos e pelos equívocos de uma política trabalhista paternalista, getulista e ultrapassada.

O horizonte revela que no próximo quinquênio o Brasil será obrigado a assumir uma postura corporativa pós-moderna. Se desejar prosseguir no jogo do comércio mundial, o investimento em capital tecnológico construtivo nos conduzirá à inevitável revolução da infraestrutura.

Há de se ponderar que a ideia de ser o celeiro do mundo parece tentadora, mas ela corrompe o desenvolvimento tecnológico, corrói a matriz industrial e causa impactos profundos na construção civil. O Estado, entulhado de atribuições, não terá outra escolha senão ajustar sua política de desenvolvimento para se debruçar sobre a produção.

Muito mais do que um segmento que assegura a geração de empregos em escala, a construção civil mantém, em moto contínuo, uma área da economia capaz de incorporar, caso preciso, os desafios do crescimento da infraestrutura do Estado.

Embora travado e economicamente cambaleante, o Brasil oferta oportunidades futuras sólidas e em todos os níveis do segmento produtivo. A próxima década nos reserva um quadro desafiador, propenso a premiar a engenharia como liderança na fabricação de novas riquezas.

Para os governos que vierem está claro que a trilha para o desenvolvimento está intimamente ligada aos processos de construção. Estradas, ferrovias, portos, aeroportos, centros de controle logísticos, quartéis, hidrelétricas, sítios eólicos, escolas, universidades e até cidades inteiras. O Brasil irá descobrir na engenharia e na arquitetura um raro potencial para fomentar projetos fundamentais. Costuma-se dizer que em nosso país há tudo por fazer, e de fato, a remodelação nacional precisa estar amparada em bases que suportem o futuro.

A ponte para esse momento começa a ser desenhada agora, enquanto estamos por definir quais serão os limites que podemos ampliar nesse segmento. A indústria da construção civil serve tanto à construção de uma unidade do projeto Minha Casa Minha Vida, quanto pode definir uma nova Itaipu e esse espectro tão amplo revela que todo investimento futuro nessa área, seja formando profissionais, seja executando obras de relevância, serão reverenciados pelas próximas gerações.

Rodrigo Corrêa de Barros é publicitário e planejador do mercado imobiliário, diretor da Cross Marketing. [email protected]

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Talento x Custo Como Gerir este conflito no mercado altamente competitivo.Por Eliane Trinca

Teoricamente uma definição simples para uma situação que representa um dos aspectos mais complexos dentro das organizações modernas. O talento é tratado como uma aptidão natural, limitando o entendimento e confundindo sua definição com a de competência.

Dentro do escopo da área de Recursos Humanos, uma das maiores responsabilidades é identificar talentos e desenvolver competências, sendo esta uma das ações estratégicas esperadas no mundo corporativo. O altíssimo grau de competitividade dos mais diversos setores, somados a movimentos intermináveis, tanto de processos de terceirização ou a redução de custos,

vêm naturalmente transformando a tarefa dos gestores de RH em uma árdua tarefa. Na mais pura definição de economia, ela é a ciência que permite administrar necessidades ilimitadas com recursos escassos. Outsourcing, downsizing, headcount... são palavras e ações capazes de confundir a cabeça de qualquer empresário ou gestor de organizações.

Como fato, o processo empírico demonstra que quanto maior a capacidade de uma empresa de engajar seus funcionários na busca de seus reais objetivos, tanto maior será sua relação de transparência com as pessoas. Assim, maior será a doação de todos na busca por superar metas gerando resultados e retorno para todos.

TALENTO

CUSTO

Substantivo masculino que significa aptidão invulgar, natural ou adquirida.

Medida monetária dos sacrifícios financeiros que uma organização deve fazer para alcançar seus objetivos

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Como realizar investimentos reais nas pessoas, sendo estratégico e respeitando as diretrizes corporativas de controle de custos? Efetivamente estamos diante de um dos maiores desafios de Recursos Humanos.

Enganam-se aqueles que entendem que quantidade e qualidade estão amarradas quando a questão é a administração dos recursos humanos. Uma empresa pode tranquilamente terceirizar serviços, reduzir seu quadro, aumentando sensivelmente seus compromissos com todos aqueles que dedicam seus esforços diariamente para que a empresa alcance seus objetivos.

Times menores tendem a ser mais comprometidos. A dispersão das tarefas, a obscuridade de planos de carreira confusos e a incapacidade de perceber real valor em seu trabalho e posição são fatores determinantes para o processo de insatisfação e, por consequência, acréscimo dos índices de rotatividade (turnover) nas organizações.

Adicionalmente e, segundo a pesquisa realizada pelo Manpower Group, 77% das empresas nas Américas apontam algum grau de deficiência na formação dos profissionais. Interessante como, ainda que uma parcela absolutamente substancial do mercado reconheça que a falta de condições nos mais diversos aspectos do capital humano impactam diretamente em suas operações, muito poucas são aquelas realmente dispostas a investir seriamente no desenvolvimento, formação e retenção de profissionais.

Qualificação formal

Experiência

Habilidades técnicas

Candidatos

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

Razões da dificuldade para encontrar talentos

AMÉRICAS

21%

23%

24%

32%

77% das respostas apontam deficiência na formação dos profissionais, podendo ser técnica, formal ou de experiência.

23% das respostas aponta a falta de candidatos disponíveis.

Empresários ou gestores de corporações deveriam observar de maneira recorrente uma das mais perenes teorias da administração, a Hierarquia das Necessidades, de Abraham Maslow. Filho de judeus nascido nos Estados Unidos em 1908, ele revolucionou a maneira com que a psicologia organizacional tratava a relação interpessoal. Com uma forma diferente de perceber e analisar as necessidades humanas, daquelas trazidas por Freud ou pelo “Behaviorismo” ou Teoria Comportamental de Watson oportunizou reflexões novas sobre práticas vigentes.

Maslow ilustrou sua teoria com a chamada pirâmide. Com uma abordagem absolutamente objetiva, criou uma figura que era capaz de tangibilizar estágios da vida de cada uma das pessoas e que eram, por consequência, naturalmente correlacionáveis à vida dentro das organizações.

Fundamental é ser capaz de suportar as equipes internas a partir da percepção e análise dos diferentes estágios de cada uma das pessoas, transportando e respeitando seus momentos de vida com consequência do desenvolvimento pessoal. A identificação do estágio dessas vidas, seguindo o racional da pirâmide de Maslow, traria às organizações a clara condição de um melhor engajamento e consequentes condições de aperfeiçoar o gerenciamento de projetos de desenvolvimento de talentos e competências.A multidisciplinaridade obriga os profissionais de Recursos Humanos a transpor as barreiras naturais da subjetividade representada pela complexidade das relações humanas e unir-se a modelos de observação e medição pragmáticos e cartesianos. É fato inequívoco que não conseguimos medir aquilo que não controlamos.O resultado disso tudo é a obrigatoriedade de alinhamento entre as áreas de gestão estratégica, financeira e de recursos humanos. Esses três pilares são absolutamente e necessáriamente interdependentes. O equilíbrio entre as mesmas é condição mandatória para obtenção e manutenção de uma linha bem sucedida de performance no mercado tão competitivo quanto o atual.Indo mais além, e aproximando-se do mercado de capitais, seja ele público ou privado, é cada vez mais clara a receptividade dos agentes financeiros às companhias que têm práticas efetivamente responsáveis e sustentáveis nas suas relações pessoais e sociais.Recursos Humanos definitivamente não é mais uma área na qual conjecturam-se movimentos de indução. O capital humano não pode mais limitar-se às sugestões de direcionamento. Esse recurso inestimável nas organizações deve necessariamente ser conduzido na mesma direção de toda a cadeia que cerca a empresa e seus chamados “Stakeholders”.No mercado globalizado do século XXI a diferença entre a crise, o desenvolvimento, o fracasso ou o sucesso, certamente pode estar na capacidade de cada companhia de engajar seus profissionais, desenvolvendo talentos, aprimorando as competências e aprendendo a fazer além do que seria suficiente. E fundamental a percepção de que esforços ordinários jamais serão geradores de resultados extraordinários.Eliane Trinca é Diretora de RH e Responsabilidade Social da Volvo Cars do Brasil. É graduada em Psicologia e Pós-Graduada em Administração de empresas e gestão de pessoas. Tem especialização em Gestão do Conhecimento. Combina os skills de responsabilidade social, desenvolvimento e retenção de talentos. Reconhecida por sua capacidade de extrair grandes performances das equipes, integrando o respeito individual com os objetivos corporativos.

Necessidades Fisiológicas

Necessidade de Segurança

Necessidades Sociais

Necessidades de Auto Estima

Necessidades de Auto Realização

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O novo relato corporativointegrando informações financeiras e não-financeiras para gerar valor. Por Fabiane Goldstein

A função de elaboração de relatórios é uma atividade intrínseca ao capitalismo. Os participantes do mercado precisam de informação para suas tomadas de decisão. Mas as críticas à forma como os relatórios financeiros têm desempenhado sua função de informação tem se tornado cada vez mais frequentes, e se intensificaram nos últimos 20 anos.

Com a economia cada vez mais baseada em conhecimento e informação, e menos em máquinas e propriedades físicas,

muitos dos ativos de uma empresa hoje não são capturados no balanço. A crescente base de ativos intangíveis que não são medidos no balanço é citada como uma das falhas dos relatórios financeiros em exercer sua função de informação. Isso pode ser verificado pela análise do valor de mercado das empresas que compõem o Índice S&P 500 nos últimos 35 anos: seu valor de mercado desviou-se muito do seu valor contábil, e isso está diretamente ligado aos valores intangíveis.

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Mas a questão dos intangíveis começou a ser discutida bem antes disso. Acredita-se que o termo Responsabilidade Social Empresarial (RSE), ou Corporate Social Responsibility (CSR) foi cunhado pela primeira vez em 1953, com a publicação do livro “Social Responsibilities of the Businessman“ de Howard R. Bowen , que fez a pergunta “Quais responsabilidades perante a sociedade os empresários devem assumir, de maneira razoável?”. Mais de 60 anos depois, será que já temos uma resposta ampla e correta para essa pergunta? Os relatórios não financeiros, ou de dados ESG (Environmental, Social & Governance, ou Ambiental, Social e Governança) podem ser considerados uma dessas respostas.

Os primeiros exercícios de relatórios não financeiros – os chamados Balanços Sociais - se deram na década de 60, nos EUA e na Europa. A época foi marcada pela guerra do Vietnã, que incitou o repúdio da população e deu início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de algumas empresas diretamente ligadas ao conflito. Naquele momento a sociedade passou a exigir uma nova postura ética das empresas e, como resultado, diversas delas passaram a prestar contas de suas ações e objetivos sociais.

Ao mesmo tempo, a preocupação com o meio-ambiente também entrava na agenda das nações, justamente após um período de grande crescimento e estabelecimento de grandes corporações. Os Estados Unidos foram o primeiro país a perceber a necessidade e urgência da intervenção do poder público sobre as questões ambientais. Em 1969 formalizaram o instrumento de Avaliação dos Impactos Ambientais (AIA) e lançaram a National Environmental Policy Act (NEPA). Em 1970, estabeleceram a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, encarregada de proteger a saúde humana e o meio ambiente: ar, água e terra.

Ao longo dos anos 70 e 80, a discussão acadêmica do conceito de RSE cresceu, mas a primeira empresa reconhecida por realmente publicar um relatório social foi a Ben & Jerry’s, em 1989, e a primeira grande corporação foi a Shell, quase dez anos depois, em 1998. (1)

Outras iniciativas relevantes a serem citadas como referência são o Pacto Global da ONU (UN Global Compact) e o CDP – Carbon Disclosure Project, ambos lançados no ano 2000, voltados ao envolvimento do mundo corporativo nas questões relevantes de responsabilidade corporativa e direitos humanos e da emissão de gases de efeito estufa.

Atualmente, já são milhares de empresas ao redor do mundo, sejam elas públicas, privadas, de grande ou de médio porte, que emitem relatórios de sustentabilidade. Enquanto os relatórios financeiros são moldados por normas de contabilidade e auditoria, os relatórios de sustentabilidade seguem normas voluntárias, como as criadas pela GRI – Global Reporting Initiative e pelo SASB – Sustainability Accounting Standards Board, e mais recentemente, pelo IIRC - International Integrated Reporting Council, responsável pelo Modelo do Relato Integrado.

Existe uma visão de que os relatórios financeiros são voltados para investidores, enquanto os relatórios de sustentabilidade são voltados para todos os stakeholders, incluindo funcionários, clientes, fornecedores, mídia, comunidades locais e ONGs. Mas essa parece estar deixando de ser uma verdade absoluta.

(1) http://www.mallenbaker.net/csr/nl/51.html

100%

80%

60%

40%

20%

0%17%

83% 68% 32% 20% 20%

32%

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1975 1985 1995

Ativos Tangíveis

Ativos Intangíveis

2005 2010

Valor de mercado das empresas que compõem o S&P 500

Fonte: Ocean Torno

250

200

150

100

50

02000

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20032004

20052006

20072008

20092010

20112012

2013

Fonte: GRI - Global Reporting Initiative

Número de relatório registrados na GRI que abordam Sustentabilidade - Brasil

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Nota-se, recentemente, um número crescente de investidores interessados em informações sobre sustentabilidade na forma de dados ESG. Esse interesse é impulsionado por alguns investidores por motivos éticos ou morais; para outros, por motivos economicos, uma vez que esses dados podem aprimorar o perfil de risco-retorno de uma carteira. Seja qual for a razão, o investidor está interessado em dados, e fato é que os balanços, na forma como são divulgados hoje, não fornecem informações sobre o desempenho ambiental, social e de governança.

Embora os relatórios de sustentabilidade visem preencher essa lacuna, os críticos destacam que eles o fazem de forma incompleta. Os dados que estão incluídos em um relatório de sustentabilidade freqüentemente não são auditados e, mesmo quando o são, o processo de asseguração ainda não se equipara ao de uma auditoria. Uma das principais razões para isso é que não existem normas de medição e relatórios rigorosos semelhantes ao existentes para relatórios financeiros. Organizações como a GRI e o SASB já estão trabalhando para mudar isso, assim como as grandes empresas de auditoria. Mas ainda há resistência, por parte das empresas, em contratar esse serviço.

O maior questionamento dos investidores tem sido de que a informação contida nos relatórios de sustentabilidade raramente é apresentada no contexto do modelo de negócios e da estratégia de uma organização, fato esse que torna difícil a compreensão de como o desempenho ESG relaciona-se com o desempenho financeiro e como as questões de sustentabilidade afetam o processo de criação de valor de uma organização. Felizmente, os investidores já compreendem que esses dados precisam ser monitorados, e que existe uma relação risco-retorno envolvida. A tendência de maior pressão de operadores de mercado para que as empresas divulguem essas informações de maneira clara, transparente e totalmente integrada ao modelo de negócios só tende a crescer. Fundos de pensão de todo o mundo já têm incluído o assunto em seus manuais de Governança Corporativa, e têm incentivado fortemente suas investidas a se posicionarem favoravelmente à publicação de relatórios de sustentabilidade. Podemos citar TIAA-CREF nos Estados Unidos, e PREVI aqui no Brasil como exemplos nessa linha.

Pensamento e comunicação integrada para mudar o descasamento que há hoje entre o relatado e o real

Conteúdo dos relatórios Geradores de valor do negócio

Performance passada

Planos e objetivos

Temas estratégicosEstratégia de governança

Capacidade de implementação das metas e objetivos

Operações

Nessa linha, o movimento do Relato Integrado <IR> tem crescido globalmente, e nos parece uma tendência que precisa ser acompanhada com bastante cuidado pelas organizações. A visão de longo prazo das organizações participantes do IIRC é um mundo em que o pensamento integrado (integrated thinking) é incorporado dentro da prática das empresas dos setores público e privado, facilitado pelo Relato Integrado como orientador de relatórios corporativos. O objetivo é alcançar o ciclo de pensar, gerir e relatar de maneira integrada, resultando na alocação de capital eficiente e produtiva e, assim, agindo para a estabilidade financeira e a sustentabilidade do negócio.

PENSAMENTO INTEGRADO

A consideração proativa por parte da companhia das relações entre vários capitais que a organização usa ou afeta. O pensamento integrado leva à tomada de decisões e ações que contemplem a criação de valor a curto, médio e longo prazo.

REPORTE INTEGRADO

Um processo fundado no pensamento integrado, que resulta em um reporte integrado periódico por uma organização sobre a criação de valor ao longo do tempo, linkado com as comunicações relacionadas relativas aos diversos aspectos de criação de valor.

RELATO INTEGRADO

Uma comunicação concisa sobre como a estratégia, governança, desempenho e perspectivas de uma organização, no contexto de seu ambiente externo, levam à criação de valor no curto, médio e longo prazo.

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O <RI> é necessário para empresas e investidores. As empresas precisam de um ambiente de elaboração de relatórios que seja propício para a compreensão e articulação de sua estratégia, o que ajuda a impulsionar o desempenho internamente e atrair capital financeiro. Os investidores precisam entender como a estratégia que está sendo perseguida cria valor ao longo do tempo. Na visão do IIRC, essa é a evolução do processo de elaboração de relatórios corporativos.

No modelo do <IR> divulgado globalmente em dezembro de 2013(2), a empresa deve organizar seu modelo de negócios baseando-se nos Seis Capitais (Financeiro, Manufaturado, Intelectual, Humano, Social & de Relacionamento, Natural). A motivação é uma melhor compreensão do modelo de negócios da companhia e dos capitais relevantes – como eles são transformados ao longo do processo de operação da companhia, tendo como características básicas a concisão e a conectividade.

Países como África do Sul e Austrália já estão tornando o <RI> obrigatório, dentro do modelo Relate ou Explique. No Reino Unido, berço do IIRC, essa é uma forte tendência. O Japão é outro importante signatário – o Relato Integrado faz parte do Abenomics (nova estratégia de política monetária, fiscal e de crescimento econômico para incentivar o crescimento do país). Mais de 100 empresas no mundo todo fizeram parte do Projeto Piloto, que se encerrou agora em setembro de 2014, 12 delas brasileiras.

Cada vez mais, os líderes empresariais estão compreendendo que o sucesso e a rentabilidade sustentável dos negócios são fortemente dependentes da manutenção de uma boa reputação corporativa, o que inclui a compreensão dos riscos de reputação estratégica, incluindo riscos ESG. Para estarem bem posicionadas nessa área, as empresas devem adotar medidas robustas para construir resiliência organizacional, tanto em sua próprias operações como em sua cadeia de negócios.

Fabiane Goldstein é sócia-fundadora da Ricca RI. Publicitária com MBA em Administração, especialista em Mercado de Capitais, entrega sua multidisciplinaridade à criação de um modelo diferenciado de gerenciamento das relações de companhias com stakeholders, projetos, processos e relatórios de sustentabilidade. [email protected]

INTEGRATED REPORTING <IR>

Comunicação concisa sobre geração de valor

Reporte Financeiro

Outros reportes

Estratégia, governança, desempenho

Impacto sobre os fornecedores de capital financeiro

Aqueles que publicaram pelo menos um relatório constataram que a comunicação integrada ajuda a construir relacionamentos mais fortes e melhor entendimento pelos provedores de capital financeiro.

Relataram um benefício positivo nas relações com investidores institucionais

Acreditam que fornecedores de capital financeiro entenderam melhor a estratégia da organização

Relataram um benefício positivo nas relações com analistas

Acreditam que fornecedores de capital financeiro têm mais confiança na viabilidade a longo prazo do modelo de negócio

56%

87%

52%

79%

Organizações que já produziram um relatório integrado

Verificaram um benefício para seu conselho de melhor compreensão de como a organização criar valor.

79%

Fizeram de moderadas a significativas mudanças na estratégia e alocação de recursos.

67%

Experimentaram de moderadas a significativas mudanças na forma de pensar sobre o seu modelo de negócio

64%

(2) http://www.theiirc.org/international-ir-framework/

PATROCÍNIO

DESENVOLVIMENTO

Fusões e AquisiçõesComunicação Multistakeholder

Reunimos um time de especialistas para oferecer ao mercado, parceiros e stakeholders uma visão multisetorial e dinâmica da realidade e das perspectivas para o Brasil em 2015.

A intenção é aproveitar o momento de um nível de discussões sem precedentes sobre os mais diversos aspectos do futuro nacional em função das eleições majoritárias e colaborar com estatística e opinião.

Destacamos uma equipe de pesquisa para definir os temas a serem abordados a partir das mais relevantes questões levantadas por executivos e empresários de diversas partes do país e de diferentes indústrias.

Agradecemos o apoio da Volvo Cars do Brasil, por reconhecer o valor do conhecimento e da aproximação da marca com o mercado, fundamentada mais uma vez pelo alto grau de humanização de suas ações.

As equipes da OPP Brasil, Ricca RI e Cross Marketing, trabalharam extremamente focadas na elaboração de um material que agregue valor a todos aqueles que buscarem no Brasil Outlook uma fonte adicional de informação e opinião.

Especial agradecimento à jornalista Thais Heredia, colunista do G1 e da GloboNews pela dedicação e crença na qualidade da equipe e relevância da iniciativa.

Esperamos ter contribuído para sua percepção do contexto nacional e nos orgulhamos de dividir um olhar que mescla a tecnicidade da realidade com a motivação e o otimismo daqueles que acreditam no país.

Muito obrigado

Equipe Brasil Outlook

São Paulo, outubro de 2014.

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