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Imprimir () 28/08/2015 - 05:00 Odebrecht assumirá outro trecho da BR-163 no MT Por Daniel Rittner e Carolina Oms A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) começou a desmontar o modelo "híbrido" de concessão de rodovias adotado no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Em resolução publicada ontem, no Diário Oficial da União, a agência reguladora autorizou um reajuste de 66% nas tarifas de pedágio da BR-163 no Mato Grosso. Outra alta de 25% deverá ser aplicada em março de 2016. Mais importante do que o valor é a razão do aumento. Para reduzir a tarifa na rodovia privatizada, que é um dos principais corredores logísticos do país para o escoamento da safra de grãos, Dilma resolveu dividir a tarefa de conservá-la e duplicá-la entre o vencedor do leilão e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Quase dois anos depois da licitação, os resultados são nítidos: a parte sob responsabilidade da Odebrecht, vitoriosa no certame, é praticamente um tapete. Boa parte dos trechos executados pelo Dnit simplesmente não andou. O conserto do estrago não sairá barato. A Rota do Oeste, subsidiária criada pela Odebrecht para administrar a BR-163, assumirá 108 quilômetros da rodovia que vinham sendo cuidados pela autarquia federal e faziam parte da concessão. Esse trecho está semiabandonado, com más condições de trafegabilidade, segundo constatou a reportagem do Valor em junho. Com o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato, que foi aprovado pela ANTT, a concessionária estende seus trabalhos de restauração e conservação do pavimento também para esse trecho. Isso exigirá investimentos adicionais de R$ 300 milhões. A Rota do Oeste assumirá ainda a duplicação dessa parte da rodovia. Estima-se um desembolso em torno de R$ 1 bilhão, que não estava no contrato original de concessão, mas o valor exato depende do projeto executivo de engenharia e das condições de financiamento para a obra. Por isso, a ANTT já deixou autorizado um novo aumento de 25% no pedágio em março de 2016, mas deixa essa alta condicionada à aprovação do projeto e à obtenção do financiamento. Da extensão total de 855 quilômetros que foi concedida, em leilão ocorrido no fim de 2013, a Rota do Oeste já duplicou 10% do trecho sob sua responsabilidade e pode iniciar a cobrança de pedágio no dia 6 de setembro. A tarifa aumentou de R$ 2,7 3 para R$ 4,53 a cada 100 quilômetros. A alta leva em conta não apenas os trabalhos de restauração no antigo trecho do Dnit, mas outros dois fatores: atualização monetária (o valor de referência era março de 2012) e compensação pela Lei dos Caminhoneiros, que isenta de pedágio os veículos com eixos suspensos. Depois, ao assumir os trabalhos de duplicação deixados de lado pelo Dnit, a concessionária poderá elevar a tarifa para R$ 5,69 em março. Pela resolução da ANTT, a Rota do Oeste também cuidará de outros 26 quilômetros que eram mantidos pela autarquia em travessias urbanas em três municípios. Cerca de 250

CONCESSÕES DE RODOVIAS "HÍBRIDAS": BR 163-ANTT X ODEBRECHET

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Page 1: CONCESSÕES DE RODOVIAS "HÍBRIDAS": BR 163-ANTT X ODEBRECHET

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28/08/2015 - 05:00

Odebrecht assumirá outro trecho da BR-163 no MT

Por Daniel Rittner e Carolina Oms

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) começou a desmontar o modelo "híbrido" de

concessão de rodovias adotado no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

Em resolução publicada ontem, no Diário Oficial da União, a agência reguladora autorizou um reajuste de

66% nas tarifas de pedágio da BR-163 no Mato Grosso. Outra alta de 25% deverá ser aplicada em março de

2016.

Mais importante do que o valor é a razão do aumento. Para reduzir a tarifa na rodovia privatizada, que é um

dos principais corredores logísticos do país para o escoamento da safra de grãos, Dilma resolveu dividir a

tarefa de conservá-la e duplicá-la entre o vencedor do leilão e o Departamento Nacional de Infraestrutura de

Transportes (Dnit).

Quase dois anos depois da licitação, os resultados são nítidos: a parte sob responsabilidade da Odebrecht,

v itoriosa no certame, é praticamente um tapete. Boa parte dos trechos executados pelo Dnit simplesmente

não andou.

O conserto do estrago não sairá barato. A Rota do Oeste, subsidiária criada pela Odebrecht para administrar

a BR-163, assumirá 108 quilômetros da rodovia que v inham sendo cuidados pela autarquia federal e faziam

parte da concessão. Esse trecho está semiabandonado, com más condições de trafegabilidade, segundo

constatou a reportagem do Valor em junho. Com o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato, que foi

aprovado pela ANTT, a concessionária estende seus trabalhos de restauração e conservação do pavimento

também para esse trecho. Isso exigirá investimentos adicionais de R$ 300 milhões.

A Rota do Oeste assumirá ainda a duplicação dessa parte da rodovia. Estima-se um desembolso em torno de

R$ 1 bilhão, que não estava no contrato original de concessão, mas o valor exato depende do projeto

executivo de engenharia e das condições de financiamento para a obra. Por isso, a ANTT já deixou

autorizado um novo aumento de 25% no pedágio em março de 2016, mas deixa essa alta condicionada à

aprovação do projeto e à obtenção do financiamento.

Da extensão total de 855 quilômetros que foi concedida, em leilão ocorrido no fim de 2013, a Rota do Oeste

já duplicou 10% do trecho sob sua responsabilidade e pode iniciar a cobrança de pedágio no dia 6 de

setembro. A tarifa aumentou de R$ 2,7 3 para R$ 4,53 a cada 100 quilômetros. A alta leva em conta não

apenas os trabalhos de restauração no antigo trecho do Dnit, mas outros dois fatores: atualização monetária

(o valor de referência era março de 2012) e compensação pela Lei dos Caminhoneiros, que isenta de pedágio

os veículos com eixos suspensos.

Depois, ao assumir os trabalhos de duplicação deixados de lado pelo Dnit, a concessionária poderá elevar a

tarifa para R$ 5,69 em março. Pela resolução da ANTT, a Rota do Oeste também cuidará de outros 26

quilômetros que eram mantidos pela autarquia em travessias urbanas em três municípios. Cerca de 250

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quilômetros do trecho privatizado da BR-163, no Mato Grosso, continuam sob responsabilidade pública.

Nesses lugares, porém, a duplicação está andando.

Em 2013, quando lançou o programa de investimentos em logística, Dilma havia planejado usar o modelo

"híbrido" em mais duas rodovias: a BR-262 (entre Minas Gerais e o Espírito Santo) e a BR-101 (na Bahia). No

leilão da BR-262, que inaugurava os certames, não houve interessados.

Uma das razões apontadas foi justamente a incerteza causada pela div isão de tarefas e pela forte

responsabilidade atribuída ao Dnit. Depois, o governo desistiu de conceder a BR-101. Finalmente, em

dezembro, levou a leilão o trecho matogrossense da BR-163, que teve 52% de deságio.