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Tema I MONOGRAFIA DO TESOURO NACIONAL Política Fiscal e Dívida Pública WAGNER CUNHA E TORRES 1 1 Técnico de Finanças da Secretaria de Fazenda do Estado de Alagoas, exercendo atualmente o cargo de Gerente de Gestão Fiscal e Estatística. Formado em Administração de Empresa (UCSAL), Pós-Graduado em Marketing (ESPM) e Especialização em Gestão Fazendária (UCSAL). Curso em Gestão Macroeconômica (FMI) e Curso de Análise de Sustentabilidade da Dívida Pública (Banco Mundial).

Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

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Tema I MONOGRAFIA DO TESOURO

NACIONAL

Política Fiscal e Dívida Pública

WAGNER CUNHA E TORRES1

1 Técnico de Finanças da Secretaria de Fazenda do Estado de Alagoas, exercendo atualmente o cargo de Gerente de Gestão Fiscal e Estatística. Formado em Administração de Empresa (UCSAL), Pós-Graduado em Marketing (ESPM) e Especialização em Gestão Fazendária (UCSAL). Curso em Gestão Macroeconômica (FMI) e Curso de Análise de Sustentabilidade da Dívida Pública (Banco Mundial).

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Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida do Estado de São Paulo no médio e em longo prazo?

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RESUMO

A presente monografia analisa a sustentabilidade da dívida do estado de São Paulo no âmbito da Lei nº 9.496/97, avaliando os impactos sobre a situação de endividamento no período de 2001 a 2012 e realizando projeções sobre a sustentabilidade da dívida concentrando em cenários no médio e em longo prazo. Na primeira parte, analisa o conceito de solvência fiscal e esta tem como principal determinante, a dinâmica da dívida pública. Avalia que a sustentabilidade da dívida pública (% do PIB) é função, principalmente, do superávit primário (% do PIB) e, considerando o comportamento do IGP-DI em 2002 em face da turbulência eleitoral avalia a trajetória de insustentabilidade da dívida pública do estado de São Paulo em face da geração de alto volume de resíduos da dívida Lei nº 9.496/97. Posteriormente, busca compreender os impactos do Programa de Ajuste Fiscal (PAF) na dinâmica da gestão das finanças do estado de São Paulo em face que houve redução do endividamento em relação a Receita Corrente Líquida (RCL) e Receita Líquida Real (RLR) de 2001 a 2012, entretanto avalia a sua fragilidade, pois foi alcançado via aumento da Receita Líquida Real e deterioração do resultado primário em % do PIB. Analisa a vulnerabilidade da sustentabilidade fiscal em face do modelo de esgotamento da arrecadação do ICMS em % do PIB e, portanto do crescimento da RLR em face da combinação do modelo de ampliação do crédito em % do PIB e do processo de abertura econômica e financeira pós Plano Real. Na segunda parte, utilizando o programa Analytica e dados certos parâmetros correlacionando aos cenários de crescimento do PIB e comportamento do IGP-DI avalia os reflexos no tocante ao incremento da RLR no sentido de projetar a relação dívida/receita relativa ao estoque da dívida Lei nº 9.496/97. Finalmente, realizadas as projeções para o período de 2013 a 2028, indicando não só o alto risco de refinanciamento da dívida do estado de São Paulo, bem como a trajetória de insustentabilidade da dívida no âmbito da Lei nº 9.496/97 em relação ao PIB, a RCL e RLR correlacionando aos cenários de crescimento do PIB e ao comportamento do IGP-DI.

Palavras-chave: Dívida estadual. Gestão Fiscal. Sustentabilidade da dívida.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 8

2. O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA DOS

ESTADOS 12

2.1 Uma discussão sobre sustentabilidade da Dívida Pública 12

2.2 A análise da dinâmica explosiva da Dívida do Estado de São Paulo em

2002 16

2.3 O risco Lula e o impacto na dívida do estado de São Paulo 19

3. A RELAÇÃO DÍVIDA CONSOLIDA E DÍVIDA CONSOLIDADA LÍQUIDA DE

2000 A 2012 21

4. A EVOLUÇÃO DA DÍVIDA CONSOLIDADA 25

5. A FRAGILIDADE DO MODELO DO AJUSTE FISCAL DO ESTADO DE

SÃO PAULO 31

6. O MODELO DE ESGOTAMENTO DE INCREMENTO DA ARRECADAÇÃO

DO ICMS 38

7. DESINDUSTRIALIZAÇÃO E O EFEITO NA DINÂMICA DO CRESCIMENTO

DA DÍVIDA PÚBLICA 47

8. A ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA DO ESTADO

DE SÃO PAULO DE 2013 A 2051 50

8.1 Cenários Macro-Econômicos e Aspectos Metodológicos 50

8.2 Análise da Sustentabilidade da Dívida do Estado de São Paulo

2013 a 2051 51

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS 64

REFERÊNCIAS 69

ANEXOS 71

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Geração de resíduos da Dívida da Lei nº 8.727/93 e Lei nº 9.496/97

2002 – 2012 28

Gráfico 2 - Relação entre RLR Média e RLR -2001 – 2012 29

Gráfico 3 - Resultado Primário X Déficit Nominal – 2001 – 2012 (% do PIB) 32

Gráfico 4 - Superávit Primário / ICMS x ICMS/PIB – 2001 – 2012 35

Gráfico 5 - Superávit Primário X ICMS – 2001 – 2012 36

Gráfico 6 - Despesa de Pessoal (% do PIB) – 2001 – 2012 36

Gráfico 7 - Relação ICMS / RCL – 2001 – 2012 39

Gráfico 8 - Evolução do crédito do Estado de

São Paulo (R$) – 2007 – 2012 40

Gráfico 9 - ICMS (% do PIB) E Crédito (% do PIB ) – 2007 - 2012 41

Gráfico 10 - Brasil saldo da Conta Capital e Financeira, de Transações

Correntes, Saldo da Balança Comercial e Investimentos Diretos e Estrangeiro -

2003 - 2012 (US$ Bilhões) 43

Gráfico 11 - Participação do Estado de São Paulo no PIB do Brasil e Taxas de

crescimento do PIB do Brasil e São Paulo – 2005- 2010 46

Gráfico 13 - Projeção da Dívida Lei Nº 9.496/97 (% DO PIB) –

2013 A 2028 59

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Superávit Primário em relação ao PIB, em condições de estabilidade

da relação Dívida / PIB, como função da taxa de crescimento do PIB e da taxa

de juros (%) 19

Tabela 2 - Variação real anual dos componentes do PIB a preços de mercado

do estado de São Paulo - 2002 - 2010 20

Tabela 3 - DC/RCL e DCL/RCL x Superávit Primário (% do PIB) –

2001 – 2012 25

Tabela 4 - Indicadores fiscais e econômicos do estado de São Paulo – 2001 –

2012 27

Tabela 5 - Taxa de variação de crescimento dos Indicadores Fiscais do Estado

de São Paulo – 2001 – 2012 30

Tabela 6 - Indicadores Fiscais em % do PIB do Estado de São Paulo –

2001 – 2012 31

Tabela 7 – Superávit Primário em relação ao PIB, em condições de

estabilidade da relação Dívida / PIB, como função da taxa de crescimento do

PIB e da taxa de Juros (%) 34

Tabela 8 - Despesa de Pessoal - Taxas de variação real da despesa do Estado

De São Paulo – 2001 – 2012 37

Tabela 9 - Déficit da Previdência do Estado de São Paulo – 2003 – 2012 38

Tabela 10 - Importação dos Produtos Industrializados –

2007 - 2012 (US$) 45

Tabela 11 - Projeção de Indicadores – 2013 – 2051 51

Tabela 12 – Projeção do PIB do Estado de São Paulo – 2012 - 2028 –

R$ Trilhões 53

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Tabela 13 - Projeção do ICMS do Estado de São Paulo – 2013 - 2028 –

R$ Bilhões 54

Tabela 14 – Projeção da RCL do Estado de São Paulo – 2013 - 2028 –

R$ Bilhões 55

Tabela 15 - Projeção da Receita Líquida Real do Estado de São Paulo -

2013 A 2028 – R$ Bilhões 56

Tabela 16 - Projeção da Receita Líquida Real Média do Estado de São Paulo –

2013 A 2028 – R$ Bilhões 57

Tabela 17 - Projeção da dívida lei nº 9.496/97 do Estado de São Paulo -

2013 a 2028 58

Tabela 18 - Projeção da Dívida Lei Nº 9.496/97 do Estado de São Paulo

em 2028 – R$ Bilhões (% do PIB) 59

Tabela 19 - Projeção da Dívida Lei Nº 9.496/97 do Estado de São Paulo

em 2028 – R$ Bilhões (% da RCL) 60

Tabela 20 - Projeção do Serviço da Dívida Lei Nº 9.496/97 do Estado de

São Paulo – 2013 – 2028 61

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INTRODUÇÃO

A sustentabilidade da dívida pública do estado de São Paulo,

especialmente no que tange àquelas refinanciadas junto à União no passado,

tem sido objeto de discussão na sociedade em face do alto volume de gastos

com o pagamento de juros e amortização da dívida e da redução dos

investimentos públicos, os quais além do impacto direto sobre a taxa de

investimento impactou negativamente os investimentos privados através da

deterioração da infraestrutura, refletindo na perda de competitividade da

indústria de transformação. Se, por um lado, tais refinanciamentos foram

realizados em condições emergenciais e, efetivamente, provaram trazer alívio

para a finança estadual em um primeiro momento, por outro lado, passados 15

anos desde o advento do último refinanciamento - Lei nº 9.496/97 – o

endividamento do estado de São Paulo no tocante ao alusivo contrato se

tornou insustentável em face do seu crescimento.

Em junho de 1998 a dívida renegociada no âmbito da Lei nº 9.496/97

do estado de São Paulo era de R$ 50,4 bilhões e atingiu a magnitude de

R$ 183,4 bilhões em 2012.

Portanto, o reflexo deste incremento explosivo da dívida Lei nº

9.496/97 se deve ao comportamento do índice de atualização monetária –

Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getúlio

Vargas (FGV), o qual atualiza monetariamente o estoque da dívida refinanciada

no âmbito da Lei nº 9.496/97, sendo o principal responsável pela inadequação

da trajetória da dinâmica deste significativo crescimento.

O presente estudo aborda a dinâmica da trajetória de crescimento da

dívida do estado de São Paulo relativos aos estoques da dívida Lei nº

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8.727/93 e Lei nº 9.496/97 no período de 2000 a 2012 a luz da análise da

sustentabilidade da dívida pública tendo por objetivo responder as seguintes

questões :

1. Por que a redução do endividamento do estado de São Paulo em

relação à Receita Corrente Líquida de 2000 a 2012 apresenta um alto grau de

risco no que concerne a uma trajetória de deterioração no médio e em longo

prazo ?

2. Por que há evidência de fragilidade do ajuste fiscal do estado de São

Paulo no que se refere à geração de superávits primários (% do PIB) ?

3. Por que a explosão do crédito (% do PIB) não resultou no incremento

da arrecadação do ICMS (% do PIB ) de 2007 a 2012 ?

4. Por que o atual modelo de esgotamento do crescimento da

arrecadação do ICMS em (% do PIB) é reflexo da política neoliberal

fundamentada pela combinação de abertura financeira e

econômica, valorização dos termos de troca e câmbio apreciado ?

5. Por que se utilizando o programa Analytica se evidencia a trajetória de

insustentabilidade da dívida do estado de São Paulo e que após 2028

comprometerá entre 16% e 21% de sua RLR com os pagamentos relativos ao

refinanciamento do resíduo refletindo em um desequilíbrio estrutural para as

finanças do estado ?

Salienta-se que esses percentuais são bastante superiores aos 13%

estabelecidos nos contratos assinados e representam um risco para as

finanças estaduais em face que a dívida Lei nº 9.496/97 não prevê limite de

pagamento para o refinanciamento do resíduo acumulado.

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Nesse contexto, esse trabalho analisa a sustentabilidade da dívida

pública do estado de São Paulo após o advento da Lei de Responsabilidade

Fiscal (Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000), abrangendo o período

2001 a 2012, com base nos dados apresentados no relatório de Programa de

Ajuste Fiscal (PAF) do Estado e nos Relatórios de Lei de Responsabilidade

Fiscal (LRF).

Avalia que a LRF contribuiu para a melhora das contas públicas do

estado de São Paulo nos últimos anos, entretanto o PAF, o qual refinanciou a

dívida mobiliária do estado refletiu em uma trajetória de insustentabilidade do

crescimento da dívida no âmbito da Lei nº 9.496/97 em face da combinação do

modelo de esgotamento do incremento de arrecadação do ICMS em percentual

do PIB, resultando no baixo crescimento da Receita Corrente Líquida ante ao

custo de refinanciamento da dívida Lei nº 9.496/97 baseado em IGP-DI mais

6,0% no período de 30 anos com vinculação de 13% da Receita Líquida Real

Média (RLRM).

Esta monografia, subdividida em nove Capítulos, incluindo esta Introdu-

ção. No Capítulo 2, apresentaremos uma revisão teórica relacionada ao

conceito sobre sustentabilidade da dívida dos estados e exporemos os

argumentos sobre o alto risco da insustentabilidade da dívida pública baseado

no financiamento do índice IGP-DI e observaremos o efeito sobre exercício de

2002 em face da turbulência eleitoral, a qual impactou na dinâmica do

crescimento do alusivo índice alcançando 26%, resultando em um impacto

sobre a dívida do estado de São Paulo em relação ao PIB. O Capítulo 3,

avaliará o êxito do PAF no tocante a redução do endividamento da Dívida

Consolidada (DC) do Estado de São Paulo em relação à Receita Corrente

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Líquida (RCL) e da Dívida Consolidada Líquida (DCL) em relação a RCL no

período de 2000 a 2012.

No Capítulo 4, será abordado o crescimento da Dívida Consolidada no

tocante a redução da dívida no âmbito da Lei nº 8.727/93 e o incremento

explosivo da dívida Lei nº 9.746/97 no período de 2001 a 2012.

O Capítulo 5 analisará a fragilidade do ajuste fiscal do estado de São

Paulo no período de 2001 a 2012. O Capítulo 6 analisará o modelo de

esgotamento do incremento da arrecadação do ICMS (% do PIB) do estado de

São Paulo correlacionando aos reflexos da expansão do crédito em percentual

do PIB e ao processo de abertura econômica e financeira. O Capítulo 7

avaliará o risco da insustentabilidade da dívida pública em face da necessidade

de depreciação do real para reverter a tendência de desindustrialização

impactando no IGP-DI. O Capítulo 8 será utilizado o programa Analytica no

sentido de avaliar o risco de insustentabilidade da dívida pública do estado de

São Paulo no âmbito da Lei nº 9.496/97 no médio e em longo prazo em face da

projeção do cenário de crescimento do PIB e incremento da Receita Líquida

Real (RLR) no período de 2013 a 2051. Por fim, no Capítulo 9 será

apresentada a conclusão.

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CAPÍTULO 2

O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA

DOS ESTADOS2.1 Uma discussão sobre sustentabilidade da Dívida Pública

A solvência fiscal tem como principal determinante a dinâmica da

dívida pública. Apesar de não ser possível determinar o nível de endividamento

ótimo de um estado ou um país, pode-se definir claramente a composição e

determinantes desta dinâmica. Dado um estoque inicial, será exposto que a

sustentabilidade da dívida pública é função, principalmente, do superávit

primário.

Basicamente, definem o estudo da sustentabilidade da dívida pública,

que seriam, ceteris paribus, dados um estoque e a composição inicial, qual é o

superávit primário mínimo para assegurar a sustentabilidade; e se o superávit

primário requerido é compatível com as condições objetivas para gestão da

política fiscal.

Além disso, é necessário avaliar a estrutura das receitas e despesas

públicas e projetar o cenário macroeconômico e verificar os reflexos em relação

à receita e despesa no médio e em longo prazo. Posteriormente, analisar se o

estoque inicial da dívida reflete adequadamente as obrigações efetivas do setor

público ou existem passivos contingentes e dívidas não registradas que

poderão alterar a trajetória de endividamento associada ao estoque de dívida

conhecido.

Assim, o debate sobre a posição de endividamento do setor público

envolve, antes de tudo, a análise da condição de equilíbrio da relação dívida

pública/PIB.

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A evolução da dívida pública ao longo do tempo, em função de

diferentes níveis de superávit primário ou déficit primário, pode ser

compreendida com auxílio de algumas equações (ALÉM ; GIAMBIAGI; 2001).

Definindo a dívida líquida do setor público estadual como externa e interna –

como D e resultando do fato de que a dívida em geral refere-se ao final do

período, bem como o PIB e o valor de D no período t é

Dt = Dt-1 + Jt – SP (2.1)

em que J é a despesa de juros nominais, SP é o valor do superávit primário

definido como Receitas não financeiras excluindo Despesas não Financeiras.

A despesa de juros nominais é igual a

Jt = Dt-1.i (2.2)

em que i é uma taxa nominal média ponderada, incidente sobre a dívida

pública. Substituindo (2.2) em (2.1) e dividindo D pelo PIB nominal, definido em

função da taxa de crescimento real (g) e da taxa de inflação π – ambas por

hipótese constantes para qualquer período de tempo – conclui-se que a relação

dívida pública / PIB (d), a cada período de tempo é dada por :

Ressalta-se que desconsideramos (s), que seria o poder de

senhoriagem do ente público, tendo em vista que os estados não têm

competência para emitir moeda,

dt = dt-1. (1+i) / [ (1+g). (1+ π) ] – h (2.3)

em que h representa a relação de superávit primário (% do PIB) também por

hipótese constante.

Segundo (GIANBIAGGI, ALÉM, 2001,p. 222) a equação, a qual analisa

a sustentabilidade da dívida pública sinaliza que postergação de um ajuste

fiscal implica na persistência de déficits, os quais geram um aumento da dívida

pública retroalimentada pela geração de juros.

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A equação permite entender por que postergar o ajustamento fiscal tende a torná-lo cada vez mais difícil, pois a postergação das medidas destinadas a obter esse ajuste implica a persistência de déficits, que por sua vez geram um aumento da dívida pública, que tende reali- imentar através da conta de juros os déficits em períodos subsequen- tes, tornando requerido maior.

Considere-se a definição das Necessidades de Financiamento do Setor

Público, no conceito nominal, dadas por :

NFSPt = Jt – SPt (2.4)

em que as variáveis J e SP são a despesa de juros e o superávit primário, já

definidos, sendo J dado por (2). As NFSP são financiadas pela variação –

expressa com o símbolo da dívida líquida total nominal .

NFSP t = Dt ( 2.5)

Assim, o que nos interessa agora é identificar em que condições a

relação dívida pública/PIB (d) é constante ao longo do tempo, de modo em que

dt = d t – 1. Para isso, a taxa de variação nominal do PIB deve ser igual à taxa de

variação nominal da dívida pública de modo a manter a constância de d.

Consequentemente em (2.3).

Dt = y. Dt-1 (2.6)

Substituindo (2.2) em (2.4) e (2.6) em (2.5), igualando (2.4) e (2.5) e

dividindo pelo PIB, conclui-se que a condição de equilíbrio exigida para que a

relação dívida pública/PIB seja estável, é obter o superávit primário do setor

público, expresso como proporção do PIB (h).

h = d. [ (i-g) / ( 1+g) – s (2.7)

O que nos diz essa fórmula ? Ela indica que, aritmeticamente o

superávit primário como proporção do PIB, requerido para estabilizar a relação

dívida/PIB, é uma função inversa do crescimento real da economia (g) – para

uma certa taxa de inflação. Níveis de superávits primários superiores

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(inferiores) aos definidos por (2.7) geram uma queda (aumento) da relação

dívida / PIB.

Segundo a análise da fórmula a obtenção do superávit primário

depende da correlação existente entre o custo de financiamento da dívida e do

crescimento da economia (GIANBIAGGI, ALÉM, 2001,p. 227)

Assim, quanto maior é a dívida ou a taxa de juros, mais o governo tem que se ajustar para arcar com a despesa de juros, sem pressionar mais a relação dívida / PIB. Por outro lado, quanto maior é o crescimento da economia menos penoso para o governo é para manter a dívida constante como proporção do PIB, pois maior pode ser o crescimento dessa dívida e, portanto menor a necessidade de gerar superávits primários. Nesse caso, na relação dívida / PIB, aumentam o numerador e o denominado, mas não na razão d.

Esse conceito de sustentabilidade da dívida pública em relação ao PIB

correlacionado a geração de superávit primário é de fundamental importância

para o entendimento desta monografia em face que o acordo negociado entre o

estado de São Paulo e a Secretaria de Tesouro Nacional não aborda este

conceito ao limitar o serviço da dívida em 13% da RLR Média, refletindo na

insustentabilidade da trajetória de crescimento da dívida no âmbito da Lei nº

9.496/97 através da geração da conta de Resíduos. O fato desta dinâmica da

trajetória de insustentabilidade da dívida Lei nº 9.496/97 está correlacionada as

condições de refinanciamento da alusiva dívida baseada no encargo fixado na

ordem de 6% acrescidos de um componente de variação medido pelo IGP-DI.

Salienta-se que este mecanismo de vinculação do serviço da dívida em

13% da RLR Média visou impedir o alto comprometimento do orçamento

estadual com o pagamento do serviço da dívida, dando maior espaço fiscal ao

Estado, entretanto impactando no médio e em longo prazo através da geração

de resíduos.

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Além disso, é necessário estabelecer o conceito de Receita Liquida

Real Média (RLRM) para a compreensão desta monografia em face que a

RLRM é utilizada para o cálculo do limite mensal de pagamento. Portanto, é

uma média móvel simples da RLR dos últimos 12 meses e com uma

defasagem de três meses entre a apuração dessa média e sua efetiva

aplicação como balizadora do limite. Esse mecanismo suaviza a sazonalidade

das receitas tributárias dos estados e permite uma maior previsibilidade do

fluxo de pagamento. No presente trabalho, referirmos à RLR e a RLRM como

forma de demonstrar que as respectivas previsões de crescimento impactam

na trajetória de insustentabilidade da dívida pública Lei nº 9.496/97 no médio e

em longo prazo, a qual será demonstrada no Capítulo 8.

2.2 A análise da dinâmica explosiva da Dívida do estado de São Paulo em

2002

A Dívida Consolidada (DC) do estado de São Paulo ao fim do exercício

de 2001 era de R$ 70,3 bilhões sendo que a desagregando no tocante aos

estoques da dívida Lei nº 8.727/93 e Lei nº 9.496/97 eram de R$ 2,755 bilhões

e de R$ 68,543 bilhões, respectivamente. Considerando que o refinanciamento

da dívida baseia no índice IGP-DI acrescido de 6,0% os efeitos foram

devastadores para o equilíbrio orçamentário em termos de serviço da divida

com vinculação de 13% da RLRM, refletindo na dinâmica explosiva da dívida

pública. Em 2002, a DC atingiu R$ 90,2 bilhões, sendo que as dívidas Lei nº

8.727/93 e Lei nº 9.496/97 corresponderam R$ 2,753 bilhões e R$ 84,8 bilhões,

respectivamente.

Considerando ainda que o PIB do estado de São Paulo em 2001 foi de

R$ 463,5 bilhões e em 2002 de R$ 511,7 bilhões refletia em uma relação

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DC/PIB em 2001 de 16,75% e passou para 18,94% em 2002. Por outro lado, o

superávit primário obtido foi de R$ 3,326 bilhões refletindo em uma relação

superávit primário/PIB de 0,65% em 2002.

Assim considerando que h = d. [ (i-g) / (1 + g] - s verifica-se que o

superávit primário para manter a sustentabilidade da dívida pública do estado

de São Paulo em 2002 seria de 4,85% do PIB correspondendo a 7,5 vezes ao

superávit primário real obtido. Salienta-se que a deterioração do cenário

macroeconômico foi reflexo do alto risco Brasil em face do risco Lula, o qual

resultou em uma depreciação significativa do real em relação ao dólar em face

que era ao redor de R$ 2,00 e atingiu R$ 3,96 impactando em um IGP-DI2 de

26,41%.

Verificando que a relação dívida / PIB do estado de São Paulo ao final

do exercício de 2001 era correspondente 16,75% e com a criação do mercado

do risco Lula aumentou a dívida em 2,19% do PIB em 2002 apesar de um

superávit primário de R$ 3,326 bilhões (0,65% do PIB), ou seja, como o acordo

com STN vinculava o serviço da dívida ao limite máximo de 13% da RLRM

resultou em geração de resíduo de R$ 16,3 bilhões ao invés de um

serviço de dívida de R$ 23,2 bilhões. Ressalta-se que este montante de serviço

de dívida é resultado do montante das dívidas concernente a Lei nº 8.727/93 e

2   O IGP-DI/FGV foi instituído em 1.944 com a finalidade de medir o comportamento de preços em geral da economia. É uma média aritmética, ponderada dos seguintes índices:            IPA  que é o Índice de Preços no Atacado e mede a variação de preços no mercado  atacadista. O IPA ponderada em 60% o IGP-DI/FGV.            IPC  que é o Índice de Preços ao Consumidor e mede a variação de preços entre as famílias que percebem renda de 1 a 33 salários mínimos nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. O IPC pondera em 30% o IGP-DI/FGV.            INCC que é o Índice Nacional da Construção Civil e mede a variação de preços no setor da construção civil, considerando no caso tanto materiais como também a mão de obra empregada no setor. O INCC pondera em 10% o IGP-DI/FGV.            DI ou Disponibilidade Interna é a consideração das variações de preços que afetam diretamente as atividades econômicas localizadas no território brasileiro. Não se considera as variações de preços dos produtos exportados que é considerado somente no caso da variação no aspecto de Oferta Global.

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18

Lei nº 9.496/97 no exercício de 2001 (R$ 71,3 bilhões) correlacionado a

condição de refinanciamento baseado no IGP-DI acrescido de 6,0%, resultando

em uma taxa anual ponderada de 32,5%.

A Tabela 1 demonstra que para uma relação Dívida / PIB de 16,75%

correlacionado a um custo de refinanciamento da dívida de 7% combinado a

um incremento real do PIB de 3% o superávit primário para manter a

sustentabilidade da dívida pública necessário é de 0,65% do PIB.

TABELA 1

SUPERÁVIT PRIMÁRIO EM RELAÇÃO AO PIB, EM CONDIÇÕES DE

ESTABILIDADE DA RELAÇÃO DÍVIDA / PIB, COMO FUNÇÃO DA TAXA DE

CRESCIMENTO DO PIB E DA TAXA DE JUROS (%)

Fonte : Elaboração do autor

Verifica-se que a deterioração do cenário macroeconômico e a

imposição de uma política contracionista para recuperar a credibilidade do

mercado resultaram em uma redução do PIB real de 0,4% do estado de São

Paulo (Tabela 2) agravando ainda mais a necessidade de gerar superávit

primário para manter a sustentabilidade da dívida pública em relação ao PIB,

portanto seria necessário um resultado primário de 3,16% do PIB em face que

o custo de refinanciamento da divida em 2002 foi de 21%.

i 0,4% 1% 2% 3% 4%

21,00% 3,16% 3,05% 2,86% 2,69% 2,51%13% 1,93% 1,83% 1,66% 1,49% 1,33%12% 1,78% 1,68% 1,51% 1,34% 1,18%11% 1,62% 1,52% 1,36% 1,19% 1,04%10% 1,47% 1,37% 1,21% 1,05% 0,89%

8,5% 1,24% 1,14% 0,98% 0,82% 0,67%8% 1,16% 1,07% 0,90% 0,75% 0,59%6% 0,86% 0,76% 0,60% 0,45% 0,30%

g= Taxa de crescimento real do PIB

Taxa de financiamento da dívida do estado de São Paulo

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19

Assim, como o contrato de refinanciamento das dívidas da Lei

8.727/933 vinculava o serviço da dívida em 11% da RLR e 13% da RLR em

relação a Lei nº 9.496/97 o reflexo foi o incremento de resíduos. Ressalta-se

que a prioridade é o pagamento da dívida Lei nº 8.727/93 em face do prazo de

amortização ser de 20 anos.

TABELA 2

VARIAÇÃO REAL ANUAL DOS COMPONENTES DO PIB A PREÇOS DE

MERCADO DO ESTADO DE SÃO PAULO

2002 - 2010

Componentes do PIB 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Valor Bruto da Produção (0,8) 6,2 3,1 3,8 6,9 5,6 (2,1) 8,1

Consumo Intermediário (-) (1,3) 6,4 2,8 3,9 6,8 5,7 (3,2) 9,0

Valor Adicionado Bruto a Preços Básicos (0,3) 5,9 3,4 3,6 7,1 5,5 (0,9) 7,2

Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios (+) (0,7) 6,9 4,1 5,7 8,8 8,2 (0,4) 11,9

Produto Interno Bruto a Preços de Mercado (0,4) 6,1 3,5 4,0 7,4 5,9 (0,8) 7,9Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE; Fundação Seade.

2.3 O risco Lula e o impacto na dívida do estado de São Paulo

A deterioração do cenário macroeconômico foi reflexo da própria

depreciação do real a partir de julho de 2002, provocada pelo tumulto eleitoral

de uma vitória cada vez mais próxima de um candidato da esquerda de

alcançar a presidência, Luís Inácio da Silva. Assim, o mercado perdeu a

credibilidade da manutenção da política macroeconômica baseada no tripé :

metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário.

Assim, segundo (PAULANI, 2008, p.38) os índices começaram a

demonstrar o impacto do choque a partir de outubro e novembro. 3 A dívida dos estados com as instituições financeiras federais foi refinanciada pelo Tesouro Nacional com critérios definidos pela Lei 8.727/93. O prazo de amortização é de 20 anos e o limite de comprometimento da receita líquida real com encargos da dívida foi fixado em 9% para 1994 e em 11% para os anos subsequentes.

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Mas a assincronia existente no processo de reajuste de preços e o peso que neles têm as tarifas públicas e os chamados preços administrados (combustível,gás etc) tornavam impossível que todo ele fosse absorvido de uma só vez. Assim, com ou sem política monetária contracionista, os índices de preços continuariam a subir até que todo o choque tivesse sido incorporado, passando a declinar a partir daí, empurrados também pelo declínio do câmbio (que foi exatamente trajetória por eles descrita). Nenhum descontrole inflacionário à vista, portanto. E como ele poderia existir com a economia andando de lado, praticamente estagnada há tanto tempo ? Tampouco existiam – como continuam a não existir – na economia brasileira mecanismos capazes de começar por aí a girar a roda da inflação inercial, como sugeriu inadvertidamente o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, em agosto de 2003.

Além disso, o governo justificou a razão de aplicar o receituário de uma

política de tamanho grau de ortodoxia no sentido de recuperar a credibilidade

do mercado (PAULANI,2008,p.39).

Seria preciso recuperá-la para não comprometer as contas externas, pois o ajuste efetivo do balanço de pagamentos do país ainda estava em curso. O sinal da recuperação dessa credibilidade era justamente a queda do risco-país, a elevação do preço C-Bond e a apreciação da moeda doméstica. Para conseguir isso era preciso reduzir drasticamente os índices de inflação e fazer uma sólida profissão de fé nos remédios da contração de liquidez e da restrição monetária e fiscal. Em poucas palavras era preciso “beijar a cruz” da ortodoxia econômica, e ela foi beijada com devoção.

Em síntese, a deterioração do cenário macroeconômico em face do

risco Lula aumentou a dívida pública, bem como resultou em um baixo

crescimento econômico em 2002 impactando o estado de São Paulo em duas

dimensões aumentando a dívida pública no tocante aos resíduos gerados e

ao baixo crescimento econômico.

CAPÍTULO 3

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21

A RELAÇÃO DÍVIDA CONSOLIDA E DÍVIDA CONSOLIDADA

LÍQUIDA DE 2000 A 2012

A renegociação das dívidas em 1997 teve como objetivo buscar o

equilíbrio das contas brasileiras e, portanto o PAF visa manter em uma

trajetória de sustentabilidade a política fiscal dos Estados. O PAF estabelece

metas para três anos e é revisado anualmente por solicitação. Portanto, no que

tange ao PAF são definidos o nível de endividamento em relação à RLR e o

resultado primário, os quais devem ser alcançados, entre outras metas.

Nesse contexto, o refinanciamento da dívida do estado de São Paulo

no âmbito da Lei nº 9.496/97 em junho de 1998 era de R$ 50,3 bilhões e

passou para R$ 183,4 bilhões em 2012, representando um incremento nominal

de 263,9%. Assim, o endividamento comprometeu os custos de investimentos

de infraestrutura e políticas sociais impactando a geração atual como também

afetará a geração futura.

Em maio de 1997, o estado de São Paulo assinou vários contratos com

o Governo Federal renegociando a maior parte da sua dívida. Esses contratos

foram os primeiros de uma série de acordos, pelo qual a dívida do Estado

passaria a se pautar por novas condições, com a União assumindo o papel de

credor principal.

Ressalta-se que as dívidas refinanciadas do Estado de São Paulo

concernente a Lei nº 9.496/97 e a Lei nº 8.727/93 tiveram encargos fixados na

ordem de 6%, acrescidos de um componente de variação monetária medido

pelo IGP-DI. Considerando o prazo de vencimento da dívida Lei nº 9.496/97 de

30 anos e com parcelas mensais, as quais seriam calculadas com base na

Tabela PRICE. Foi instituído, também, percentual de 13% da RLRM como li-

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22

mite de comprometimento com o pagamento de parcelas da dívida Lei nº

9.496/97. Este mecanismo visou impedir o alto comprometimento do orçamento

estadual com o pagamento do serviço da dívida, resultando maior espaço

fiscal.

Salienta-se que o valor das parcelas da dívida Lei nº 9.496/97, o qual

excedesse ao limite de comprometimento da RLR seria acumulado em uma

conta chamada Resíduo, sobre a qual incidiriam os mesmos encargos do

contrato original. Assim, este saldo somente seria amortizado no momento em

que as prestações globais intralimite fossem inferiores ao referido percentual,

onde o valor restante seria utilizado para abater seu saldo, ou, ainda, após o

decorrer do prazo de 30 anos do contrato. Neste caso, o Governo Federal

previu a possibilidade de refinanciamento do eventual saldo na conta Resíduo

por mais 10 anos a contar do término do contrato original, sendo mantidas as

demais condições contratuais.

Mecanismo similar a este fora definido anteriormente para a dívida

refinanciada ao amparo da Lei nº 8.727/93, cujas parcelas estavam limitadas

ao percentual de 11% da RLR, e o eventual resíduo gerado poderia ser

refinanciado por mais 10 anos.

Observa-se através da Tabela 3 o êxito do PAF no tocante a redução da

relação Dívida Consolidada (DC) do Estado de São Paulo e Receita Corrente

Líquida (RCL), bem como da Dívida Consolidada Líquida (DCL) e RCL no

período de 2001 a 2012. Em 2001, DC/RCL era de 217,59% e reduziu para

180,00% em 2012. No tocante a DCL/RCL em 2001 correspondia a 197,03% e

reduziu para 153,87% em 2012.

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23

Realizando uma análise desagregada por período evidencia-se o risco

da insustentabilidade da dívida com o refinanciamento baseado no IGP-DI

acrescido de 6,0% no que se refere à relação DC/RCL e DCL/RCL. Em 2001, a

DC/RCL era de 217,59% e passou para 244,23% em 2002, apesar de um

superávit primário de 0,65% do PIB em 2002. Por outro lado, a DCL/RCL que

correspondia a 197,03% aumentou para 227,37%.

Considerando, o período de 2002 a 2004, a DC/RCL teve uma leve

redução em face do comportamento do IGP-DI, Observa-se que a DCL/RCL

teve uma redução maior do que a DC/RCL em face que em 2002 era de

227,37% e reduziu para 222,98% em 2004.

No tocante ao exercício de 2005 ante a 2004 a redução da DC/RCL foi

mais significativa em face que em 2004 era de 243,70% e reduziu para

221,99% sem que houvesse aumento do superávit primário em % do PIB e

incremento do esforço fiscal (ICMS/PIB). Assim, essa diminuição foi reflexo do

comportamento do IGP-DI.

No que se refere a DCL/RCL a redução foi ainda maior em função que

em 2004 era de 222,98% e reduziu para 197,12% em 2005.

Avaliando que de 2006 a 2012 não houve aumento do esforço fiscal e

do superávit primário em % do PIB conclui-se que o comportamento do IGP-DI

no período foi determinante para a redução da DC/RCL no alusivo período.

Realizando uma análise dissociada evidencia-se que mesmo com um

cenário pós crise de 2007 a 2012 foi observada uma redução da DC/RCL,

entretanto o mesmo não foi verificado quanto a DCL/RCL em face do modelo

de esgotamento do crédito, o qual impactou no crescimento da arrecadação do

ICMS aliada a deterioração do resultado primário (% do PIB).

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A combinação do refinanciamento da dívida baseado em IGP-DI mais

6,0% impactou no incremento da relação DCL/RCL de 2012 em relação a

2011. A título de comparação a DC em 2011 era de R$ 198 bilhões e passou

para R$ 207,6 bilhões em 2012 e que correlacionado ao resultado primário de

R$ 7,615 bilhões (0,56% do PIB) e R$ 6,490 bilhões (0,45% do PIB),

respectivamente resultou na ampliação do endividamento DCL/RCL de

145,69% para 153,87%.

Reiteramos na análise através da Tabela 3 que em face de estabelecer

um serviço da dívida com limite vinculado a 13% da Receita Líquida Real

Média resultou em maior espaço fiscal. Por outro lado, em função da geração

de resíduos tornará insustentável a trajetória da Dívida em relação a RCL em

um cenário de baixo crescimento da receita e que será abordado no Capítulo 8.

TABELA 3

DC/RCL E DCL/RCL X SUPERÁVIT PRIMÁRIO (% DO PIB) – 2001 A 2012

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012DC/RCL 217,59% 244,23% 244,69% 243,70% 221,99% 212,09% 204,58% 196,22% 187,01% 187,54% 183,25% 180,00%DCL/RCL 197,03% 227,37% 223,98% 222,98% 197,12% 189,47% 170,70% 162,95% 151,13% 152,86% 145,69% 153,87%Sup. Primário (% PIB) 0,64% 0,65% 0,75% 0,67% 0,57% 0,74% 0,70% 0,60% 0,33% 0,50% 0,56% 0,45%Déficit nominal (% PIB) -0,26% -0,23% -0,18% -0,19% -0,30% -0,34% -0,11% -0,28% -0,53% -0,30% -0,28% -0,41%IGP-DI 10,40% 26,41% 7,66% 12,13% 1,23% 3,80% 7,90% 9,11% -1,44% 11,31% 5,01% 8,10%índice IGP-DI acum. 1,00 1,26 1,36 1,52 1,54 1,60 1,72 1,88 1,86 2,07 2,17 2,35

Fonte : SEFAZ/SPNota : Projeção do superávit primário e do déficit nominal em percentual do PIB foi baseada na participação do PIB do estado de São Paulo em relação ao Brasil do exercício de 2010 (33,09%) e portanto foi mantida para os exercícios de 2011 e 2012.

CAPÍTULO 4

A EVOLUÇÃO DA DÍVIDA CONSOLIDADA

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Considerando que houve um incremento da Dívida Consolidada

mediante que em 2001 era de R$ 77,6 bilhões e passou para R$ 207,8 bilhões

em 2012, refletindo em um incremento nominal de 167,46%. Salienta-se, ainda,

a fragilidade fiscal em face da deterioração dos resultados primários em % do

PIB, principalmente considerando a média do período de 2009 a 2012

contrastando com a média do período de 2001 a 2004. Além disso, evidencia-

se o alto custo de refinanciamento da dívida com base IGP-DI mais 6,0%

(Tabela 4).

Assim, a Tabela 4 demonstra a evolução da dívida sob amparo da Lei

nº 9.496/97 ao longo do período de 2001 a 2012 reflexo do custo de

refinanciamento da dívida. Ressalta, ainda, que demonstra um incremento

nominal de 212,08% da Receita Liquida Real.

Analisaremos, agora, o comportamento da Receita Líquida Real (RLR),

pois, em última instância, é sua taxa de crescimento real que determinará a

convergência ou não do estoque da dívida refinanciada ao amparo da Lei nº

9.496/97. Isso acontece como já salientamos em face que foi estabelecido um

limite de pagamento atrelado à RLR Média, refletindo que as parcelas de

pagamento excedentes são acumuladas em forma de resíduo sobre os quais

incidem os mesmos encargos contratuais.

Apresentamos, na Tabela 4, os valores apurados para a RLR anual

utilizada para pagamento do serviço da dívida entre 2001 e 2011 e projetamos

a RLR Média em face do serviço da dívida intralimite. Para o exercício de 2012

projetamos a RLR e RLR Média conforme os valores observados da execução

orçamentária do estado.

TABELA 4

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INDICADORES FISCAIS E ECONÔMICOS DO ESTADO DE SÃO

PAULO – 2001 A 2012

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012DC 77.643 96.900 106.926 120.581 126.032 132.489 144.371 161.257 161.989 187.378 198.004 207.670DCL 70.309 90.210 97.877 110.331 111.916 118.356 120.462 133.921 130.902 152.728 157.420 177.518Lei nº 8.727/93 2.755 2.753 2.748 2.694 2.639 2.523 2.181 1.870 1.541 1.178 788 460Lei nº 9.496/97 68.543 84.815 95.139 109.270 113.290 120.586 130.564 146.867 145.469 162.196 171.399 183.368RCL 35.684 39.676 43.699 49.480 56.775 62.468 70.568 82.183 86.619 99.915 108.054 115.370Superávit Primário 2.953 3.326 4.341 4.293 4.178 5.918 6.302 5.972 3.526 6.254 7.615 6.490Receita Líquida Real 29.334 32.986 36.288 39.100 44.863 49.454 56.155 65.532 66.501 78.808 87.258 92.924 Reeceita Líquida Real Média 27.954 29.769 33.815 36.485 42.385 45.408 52.169 59.808 65.815 71.800 81.623 86.923 Serviço da dívida total 4.141 4.527 5.407 5.508 6.384 8.679 7.317 8.778 9.247 9.979 11.483 12.484Juros - Intra-limite 3.078 3.094 3.545 3.734 4.783 4.716 4.987 5.818 5.533 5.958 6.823 7.418Amortização - Intra-limite 556 776 851 1.009 727 1.187 1.795 1.957 3.023 3.376 3.788 4.118Investimento 690 995 773 999 2.849 2.831 3.026 5.637 6.178 9.678 8.020 8.101Inversões Financeiras 2.286 2.094 1.225 2.537 2.225 1.270 3.783 3.722 3.995 3.422 4.386 3.197ICMS 33.166 36.453 39.451 45.223 49.989 55.026 61.543 74.395 76.513 89.517 98.390 105.289PIB do estado val. nom. 463.478 511.736 579.847 643.487 726.984 802.655 902.784 1.003.015 1.084.353 1.247.596 1.371.005 1.456.887 IGP-DI 10,40% 26,41% 7,66% 12,13% 1,23% 3,80% 7,90% 9,11% -1,44% 11,31% 5,01% 8,10%IGP-DI acum. 1,00 1,26 1,36 1,52 1,54 1,60 1,72 1,88 1,86 2,07 2,17 2,35PIB Brasil val. nominais 1.302.136 1.477.822 1.699.948 1.941.498 2.147.239 2.369.484 2.661.344 3.032.203 3.239.404 3.770.085 4.143.013 4.402.537

Fonte : SEFAZ/São Paulo, Fundação Getúlio Vargas (FGV), IBGE Valores em R$ milhões

Considerando a soma da dívida Lei nº 8.727/93 e Lei nº 9.496/97 e

para realizar este estudo foi estabelecida uma vinculação de 13% da RLR

Média tendo como objetivo resultar no montante pago do serviço da dívida

intralimite no período 2001 a 2012 (Tabela 4). Posteriormente, se obtém a

geração de resíduos anualmente do refinanciamento da dívida do estado.

Verifica-se que houve uma redução da Lei nº 8.727/93, pois conforme

contrato da União este refinanciamento deve ser pago antes da Lei nº

9.496/97.

O Gráfico 1 ilustra a geração de resíduos anualmente de 2002 a 2012

em face do comportamento do IGP-DI. Observa-se uma geração de resíduos

R$ 16,2 bilhões em 2002. Por outro lado, analisa-se que o incremento da RLR

e o comportamento do IGP-DI em 2009 resultaram na diminuição do resíduo

em R$ 1,7 bilhão.

GRÁFICO 1

GERAÇÃO DE RESÍDUOS DA DÍVIDA DA LEI Nº 8.727/93 E LEI Nº 9.496/97

2002 - 2012

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Fonte : SEFAZ/São PauloNota : Valores em R$ milhões

Ressalta-se que se verifica o risco de trajetória de crescimento da

dívida pública em face do baixo crescimento da RLR de 4,9% de 2012 em

relação a 2011.

Outro ponto a ser observado é o comportamento da Receita Líquida

Real Média (RLRM) e da Receita Líquida Real ao longo do período de 2001 a

2012 em face da crise de 2002 a relação atinge o seu ponto mínimo e por outro

lado, em 2009, atinge o seu ponto máximo.

GRÁFICO 2

RELAÇÃO ENTRE RLR MÉDIA E RLR DO ESTADO DE SÃO PAULO -2001 -

2012

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012Receita Líquida Real 32.986 36.288 39.100 44.863 49.454 56.155 65.532 66.501 78.808 87.258 91.548

Geração de Resíduos 16.270 10.319 14.077 3.965 7.180 9.636 15.992 -1.727 16.364 8.813 11.641

-20.000

-

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

Page 28: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

28

Fonte : Programa de Ajuste Fiscal do EstadoNota : Para o exercício de 2012 projeção do autor.

A Tabela 5 demonstra que o crescimento da Dívida Consolidada é

resultado do incremento da dívida Lei nº 9.496/97.

Por outro lado, observa-se que o crescimento nominal da RLR foi

inferior ao incremento da dívida Lei 8.727/93 e Lei nº 9.496/97 considerando o

período de 2012 ante 2001.

TABELA 5

TAXA DE VARIAÇÃO DE CRESCIMENTO DOS INDICADORES FISCAIS DO

ESTADO DE SÃO PAULO – 2001 A 2012

0,84

0,86

0,88

0,9

0,92

0,94

0,96

0,98

1

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Relação RLR Média/RLR

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29

2002/2001 2003/2002 2004/2003 2005/2004 2006/2005 2007/2006 2008/2007 2009/2008 2010/2009 2011/2010 2012/2011DC 24,80% 10,35% 12,77% 4,52% 5,12% 8,97% 11,70% 0,45% 15,67% 5,67% 4,88%DCL 28,31% 8,50% 12,72% 1,44% 5,75% 1,78% 11,17% -2,25% 16,67% 3,07% 12,77%Lei nº 8.727/93 -0,07% -0,18% -1,97% -2,04% -4,40% -13,56% -14,26% -17,59% -23,56% -33,11% -41,62%Lei nº 9.496/97 23,74% 12,17% 14,85% 3,68% 6,44% 8,27% 12,49% -0,95% 11,50% 5,67% 6,98%RCL 11,19% 10,14% 13,23% 14,74% 10,03% 12,97% 16,46% 5,40% 15,35% 8,15% 6,77%Superávit Primário 12,63% 30,52% -1,11% -2,68% 41,65% 6,49% -5,24% -40,96% 77,37% 21,76% -14,77%Receita Líquida Real 12,45% 10,01% 7,75% 14,74% 10,23% 13,55% 16,70% 1,48% 18,51% 10,72% 4,92%Reeceita Líquida Real Média 6,49% 13,59% 7,89% 16,17% 7,13% 14,89% 14,64% 10,05% 9,09% 13,68% 6,49%Serv. da dívida total 9,32% 19,44% 1,87% 15,90% 35,95% -15,69% 19,97% 5,34% 7,92% 15,07% 8,72%Juros - Intra-limite 0,52% 14,58% 5,33% 28,09% -1,40% 5,75% 16,66% -4,90% 7,68% 14,52% 8,72%Amortiz. Intra-limite 39,57% 9,66% 18,57% -27,95% 63,27% 51,22% 9,03% 54,47% 11,68% 12,20% 8,71%

IGP-DI 26,00% 7,66% 12,13% 1,23% 3,80% 7,90% 9,11% -1,15% 11,31% 5,01% 8,00%

IGP-DI acum. 1,00 1,26 1,36 1,52 1,54 1,60 1,72 1,88 1,86 2,07 2,17

Fonte : SEFAZ/São Paulo, Fundação Getúlio Vargas (FGV)

A Tabela 6 demonstra que houve um arrefecimento da Dívida

Consolidada em percentual do PIB ao longo do período de 2001 a 2012,

entretanto se analisa um alto risco fiscal em face de se observar uma pequena

redução de 2012 ante 2011. Outro ponto importante a ser salientado que

corrobora para esta análise é a diminuição do superávit primário em % do PIB

a partir de 2006, sendo que este atinge o seu ponto mínimo em 2009.

O crescimento do déficit nominal ao longo do período de 2001 a 2012

é explicado pela vinculação a Receita Líquida Real. A título de comparação em

2001, a Receita Líquida Real Média era de R$ 27,954 bilhões (6,03% do PIB) e

passou para R$ 86,923 bilhões (5,97% do PIB). Assim, observa-se o risco de

insustentabilidade da dívida do Estado de São Paulo em face que em 2009 a

RLR Média atingiu o seu ponto máximo de 6,07% do PIB e desde 2010 vem

apresentando tendência de redução em % do PIB.

Por outro lado, evidenciamos o modelo de esgotamento em ICMS (%

do PIB), refletindo no baixo crescimento da RLR. Ressalta-se que a relação

ICMS/PIB atingiu sue ponto máximo em 2008 (7,42% do PIB).

TABELA 6

Page 30: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

30

INDICADORES FISCAIS EM PERCENTUAL DO PIB DO

ESTADO DE SÃO PAULO – 2001 A 2012

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

DC (% do PIB) 16,75% 18,94% 18,44% 18,74% 17,34% 16,51% 15,99% 16,08% 14,94% 15,02% 14,44% 14,25%

DCL ( % do PIB) 15,17% 17,63% 16,88% 17,15% 15,39% 14,75% 13,34% 13,35% 12,07% 12,24% 11,48% 12,18%

Superávit Primário (% do PIB) 0,64% 0,65% 0,75% 0,67% 0,57% 0,74% 0,70% 0,60% 0,33% 0,50% 0,56% 0,45%

Déficit nominal (% do PIB) -0,26% -0,23% -0,18% -0,19% -0,30% -0,34% -0,11% -0,28% -0,53% -0,30% -0,28% -0,41%

Receita Líquida Real (% do PIB) 6,33% 6,45% 6,26% 6,08% 6,17% 6,16% 6,22% 6,53% 6,13% 6,32% 6,36% 6,28%

Receita Líquida Real Média (% do PIB) 6,03% 5,82% 5,83% 5,67% 5,83% 5,66% 5,78% 5,96% 6,07% 5,76% 5,95% 5,97%

ICMS / PIB 7,16% 7,12% 6,80% 7,03% 6,88% 6,86% 6,82% 7,42% 7,06% 7,18% 7,18% 7,23%

Fonte : SEFAZ/SP, SEADENota : Projeção dos indicadores em percentual do PIB foi baseada na participação do PIB do estado de São Paulo em relação ao Brasil do exercício de 2010 (33,09%) e portanto foi mantida para os exercícios de 2011 e 2012.

Em suma, a dívida pública do estado de São Paulo cresceu em face

da geração de resíduos apesar de um cenário favorável ao incremento da

Receita Líquida Real em valores nominais no período de 2012 em relação a

2001.

CAPÍTULO 5

A FRAGILIDADE DO AJUSTE FISCAL DO ESTADO

DE SÃO PAULO

Page 31: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

31

Considerando o ano de 2001 como o ano base para o escopo desta

monografia e observando os dados apresentados na Tabela 3, o Estado de

São Paulo conseguiu melhorar a relação Dívida / RCL, entretanto se evidencia

a trajetória de piora do resultado primário (% do PIB), refletindo na dinâmica do

déficit nominal em face da vinculação do serviço da dívida em 13% da Receita

Líquida Real Média para o serviço da dívida Lei nº 9.496/97.

GRÁFICO 3

RESULTADO PRIMÁRIO X DÉFICIT NOMINAL – 2001 – 2012 (% DO PIB)

-0,60%

-0,40%

-0,20%

0,00%

0,20%

0,40%

0,60%

0,80%

1,00%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Superávit Primário

Déficit nominal

Fonte : SEFAZ/São Paulo

A Tabela 6 demonstra a deterioração do resultado primário em face do

cenário pós crise 2008 aliado ao modelo de esgotamento do crédito em % do

PIB, refletindo no modelo de exaustão do incremento da arrecadação do ICMS

em % do PIB. Salienta-se, ainda, o efeito da vinculação da receita a despesa

aliado ao crescimento da despesa de pessoal em % do PIB, refletindo na

insustentabilidade do equilíbrio das contas púbicas no médio e em longo prazo.

Neste contexto, o Estado de São Paulo firma acordo anualmente com a

Secretaria de Tesouro Nacional e mantendo esta tendência dificilmente obterá

resultado primário consistente de 1,30% do PIB no exercício de 2013

considerando que a Tabela 7 demonstra que para uma dívida de 14,25% do

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32

PIB ao final do exercício de 2012 correlacionado a um refinanciamento da

dívida ao custo de IGP-DI mais 6,0% totalizando 11,64% conforme Boletim

Focus4 e a uma previsão de crescimento real do PIB de 2,21%. Foi

considerado a fim do escopo deste trabalho o mesmo crescimento real do PIB

para o estado de São Paulo.

Ressalta-se que em face do acordo do Estado de São Paulo com a

Secretaria de Tesouro Nacional (STN) se basear em uma projeção de

sustentabilidade da dívida pública em longo prazo, portanto desconsidera o

conceito de sustentabilidade da dívida pública em face que a geração de

resíduos é bem maior do que a atual capacidade de geração de resultado

primário (% do PIB).

Assim a Tabela 7 demonstra que o custo de refinanciamento da dívida

do Estado torna explosiva a dinâmica de crescimento da dívida Lei nº 9.496/97.

TABELA 7 –

SUPERÁVIT PRIMÁRIO EM RELAÇÃO AO PIB, EM CONDIÇÕES DE

ESTABILIDADE DA RELAÇÃO DÍVIDA / PIB, COMO FUNÇÃO DA TAXA DE

CRESCIMENTO DO PIB E DA TAXA DE JUROS (%)

4 Boletim Focus de 9 de agosto de 2013, o qual projetou IGP-DI de 4,64% para o exercício de 2013

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i 1,0% 2,21% 3% 4%

14,00% 1,83% 1,64% 1,52% 1,37%13% 1,69% 1,50% 1,38% 1,23%12% 1,55% 1,36% 1,25% 1,10%

11,5% 1,48% 1,30% 1,18% 1,03%10,64% 1,36% 1,18% 1,06% 0,91%

9% 1,13% 0,95% 0,83% 0,69%8% 0,99% 0,81% 0,69% 0,55%7% 0,85% 0,67% 0,55% 0,41%

g= Taxa de crescimento real do PIBTaxa de financiamento da dívida do estado de São Paulo

Fonte : Elaboração do autor

Dado o grau de importância das receitas do ICMS para o equilíbrio das

contas públicas do estado correlacionaremos a geração dos resultados

primários ao ICMS no sentido de observar o grau de contribuição do ICMS, ao

longo do período de 2001 a 2012, o qual resultou em superávits primários.

Observa-se que, ao longo do período de 2001 a 2012, foi se

deteriorando a capacidade de geração de superávit primário em relação ao

ICMS, pois foi no exercício de 2003 o maior índice da série histórica e sendo a

menor justamente em 2009 em face dos reflexos da crise econômica mundial.

Salienta-se que no tocante ao esforço fiscal (ICMS/PIB) evidencia-se o

modelo de esgotamento em percentual do PIB (Gráfico 4).

GRÁFICO 4

SUPERÁVIT PRIMÁRIO / ICMS X ICMS / PIB – 2001 - 2012

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2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012Superávit / ICMS 8,90% 9,12% 11,00% 9,49% 8,36% 10,75% 10,24% 8,03% 4,61% 6,99% 7,74% 6,16%

ICMS (% PIB) 7,16% 7,12% 6,80% 7,03% 6,88% 6,86% 6,82% 7,42% 7,06% 7,18% 7,18% 7,23%

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

Fonte : SEFAZ/SP

Outra análise, a qual se evidencia a insustentabilidade da dívida

pública do estado é observada através do Gráfico 5 em face que ao

correlacionarmos o resultado primário e o ICMS observamos tendência de

redução em preços constantes, sendo que o superávit primário teve maior

redução real.

O superávit primário de 2012 teve uma redução real de 25,24% de

2012 ante ao exercício de 2007 reflexo da combinação do modelo de

vinculação da receita a despesa e da necessidade crescente do aporte do

Tesouro para o financiamento do déficit da Previdência. Por outro lado, a

arrecadação do ICMS apresentou uma redução real de 5,07% de 2012 ante o

exercício de 2011 em face do modelo de esgotamento do crédito em percentual

do PIB aliado ao processo de abertura econômica e financeira.

GRÁFICO 5

SUPERÁVIT PRIMÁRIO X ICMS – 2001 - 2012

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35

Fonte : SEFAZ/São PauloNota : Valores em R$ milhões a preços constantes IPC-A de dez/2012

O Gráfico 6 ilustra que o governo está controlando a despesa de pessoal

em percentual do PIB em face que o ponto máximo alcançado foi em 2002,

entretanto foi observado um crescimento de 0,23% do PIB de 2012 em relação

a 2011.

GRÁFICO 6

DESPESA DE PESSOAL (% DO PIB) – 2001 - 2012

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Despesa de Pessoal (% do PIB) 4,63% 4,67% 4,52% 4,40% 4,33% 4,37% 4,10% 3,99% 3,92% 3,73% 3,75% 3,98%

0,00%

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

2,50%

3,00%

3,50%

4,00%

4,50%

5,00%

Fonte : SEFAZ/São Paulo, IBGENota : Para os exercícios de 2011 e 2012 a projeção da despesa em % do PIB foi feita pelo autor

Por sua vez, a Tabela 8 demonstra o risco da deterioração do superávit

primário ao correlacionarmos à despesa de pessoal em face que foi observado

um incremento real de 26,19% de 2012 ante 2001.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

10000

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

ICMS

Superávit Primário

Page 36: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

36

TABELA 8

DESPESA DE PESSOAL - TAXAS DE VARIAÇÃO REAL DA DESPESA DO

ESTADO DE SÃO PAULO – 2001 - 2012

Ano Despesa de Pessoal

Taxa de crescimento real da despesa de

pessoal

Depesa com Aposentados e

Pensionistas

Taxa de crescimento real

de Aposentados e Pensionistas

2001 45.946.205 17.482.871 2002 47.491.985 3,36% 17.846.718 2,08%2003 46.317.125 -2,47% 17.364.799 -2,70%2004 45.703.863 -1,32% 17.102.172 -1,51%2005 47.247.793 3,38% 17.762.263 3,86%2006 49.847.249 5,50% 15.005.792 -15,52%2007 50.970.183 2,25% 15.031.127 0,17%2008 52.745.798 3,48% 14.166.864 -5,75%2009 52.967.265 0,42% 14.222.898 0,40%2010 55.563.438 4,90% 14.288.742 0,46%2011 57.957.369 4,31% 16.211.072 13,45%2012 57.978.306 0,04% 17.359.455 7,08%

Fontes : SEFAZ/São Paulo e IBGEValores em R$ 1.000,00Nota : Valores da despesa de pessoal e da despesa com Aposentados e Pensionistas a preços constantes do IPC-A de dezembro de 2012

A Tabela 9 mostra o risco de insustentabilidade do ajuste fiscal do

estado mediante a necessidade crescente do aporte do Tesouro para o

financiamento do déficit da Previdência, sendo que este foi considerada a

diferença entre as Receitas de Contribuições e a despesa com Aposentados e

Pensionistas excluindo as Contribuições Patronais.

Da análise da Tabela 9 podemos concluir que :

i) O déficit da Previdência do estado teve um crescimento real de 13,83% de

2012 em relação a 2001.

ii) O déficit da Previdência alcançou o seu ponto máximo em 2006 e

considerando o déficit do exercício de 2012 foi de 7,01% ante a 2011.

iii) O risco da insustentabilidade do déficit da Previdência se evidencia em face

que ao correlacionar o exercício de 2012 em relação a 2011 o total das

Receitas de Contribuições teve um crescimento real de 1,11% contrastando

com o incremento real do total das Despesas de Aposentados e

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37

Pensionistas de 6,06%, refletindo na tendência de deterioração do resultado

primário.

TABELA 9

DÉFICIT DA PREVIDÊNCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO – 2003 - 2012

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012Total das Receitas de Contribuições 2.010.638 2.613.575 2.677.338 3.060.298 3.153.697 3.029.007 3.095.381 3.147.238 3.412.614 3.450.474 Pessoal Civil 1.707.187 2.285.009 2.351.492 2.706.976 2.804.009 2.631.152 2.674.918 2.721.492 2.922.038 2.877.175 Contribuição de Servidor Ativo Civil 1.301.582 1.906.794 1.950.749 2.225.479 2.347.855 2.154.226 2.217.435 2.258.752 2.391.513 2.340.685 Contribuição de Servidor Inativo Civil 405.606 439.908 305.560 355.026 339.475 322.595 318.262 316.120 380.464 390.818 Contribuição de Pensionista Civil - 61.693- 95.183 126.471 116.679 154.331 139.221 146.619 150.060 145.672 Pessoal Militar 303.451 328.566 325.847 353.322 349.687 397.856 420.463 425.747 490.576 573.299 Contribuição de Militar Ativo 163.068 237.137 248.300 254.939 273.631 304.785 320.540 321.165 341.912 362.819 Contribuição de Militar Inativo 140.384 107.919 60.586 77.025 57.697 68.299 72.408 75.654 108.839 160.987 Contribuição de Pensionista Militar - 16.490- 16.960 21.358 18.359 24.771 27.515 28.927 39.824 49.493 Comp. Previd. entre RGPS e RPPS 29.865 41.849 21.425 34.392 - 30.656 101.865 103.299 61.974 63.365 Despesas Previdenciárias - - - - - - - - - Total das Desp. Aposentados e Pensionistas 17.364.799 17.097.735 17.756.117 20.889.772 18.361.683 17.177.905 17.957.689 18.257.686 19.731.703 20.928.318 Pessoal Civil 14.089.540 13.932.236 14.476.931 15.005.792 15.031.127 13.549.421 14.222.898 14.288.742 15.123.712 15.493.619 Aposentadorias 11.142.341 10.937.371 11.463.992 11.886.570 11.651.151 10.415.382 11.009.726 10.914.002 11.642.297 12.054.625 Pensões 2.947.200 2.994.865 3.012.939 3.119.222 3.379.976 3.134.039 3.213.173 3.374.740 3.481.415 3.438.994 Pessoal Militar 3.275.258 3.165.499 3.279.186 5.883.980 3.330.556 3.628.484 3.734.791 3.968.944 4.607.991 5.434.699 Reformas 2.347.439 2.274.361 2.327.944 3.469.964 2.313.348 2.503.157 2.563.509 2.715.575 3.181.024 3.843.441 Pensões 927.819 891.138 951.242 2.414.017 1.017.208 1.125.328 1.171.283 1.253.369 1.426.967 1.591.258 Déficit da Previdência -15.354.161 -14.484.160 -15.078.778 -17.829.473 -15.207.987 -14.148.898 -14.862.308 -15.110.448 -16.319.090 -17.477.844

Fonte : Elaboração do autorValores em R$ 1.000,00Nota : Valores da Receita de Contribuições e da Despesa com Aposentados e Pensionistas em preços constantes do IPC-A de dezembro de 2012

Em resumo, portanto o Estado obteve êxito ao reduzir a despesa de

pessoal em % do PIB, entretanto evidencia o risco cada vez maior da

insustentabilidade do déficit da Previdência e, portanto, necessidade crescente

de aporte do Tesouro para o financiamento do alusivo déficit. Por outro lado,

uma vez constatada que a relação superávit primário vem se reduzindo agrava

ainda mais o problema do financiamento da dívida.

CAPÍTULO 6

O MODELO DE ESGOTAMENTO DE INCREMENTO DA

ARRECADAÇÃO DO ICMS

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A arrecadação do ICMS é o sustentáculo do equilíbrio das contas

públicas do estado de São Paulo em face que correspondeu a 91,26% da RCL

em 2012

O Gráfico 7 ilustra o risco da insustentabilidade do equilíbrio das contas

públicas em face que em 2003 o ICMS representava 92,94% da RCL e em

2012 foi de 91,26%. Salienta-se, ainda, que em 2007 a relação ICMS/RCL

atingiu o seu menor índice (87,21%) no período de 2001 a 2012.

GRÁFICO 7

RELAÇÃO ICMS / RCL – 2001 - 2012

84,00%

85,00%

86,00%

87,00%

88,00%

89,00%

90,00%

91,00%

92,00%

93,00%

94,00%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Fonte : Elaboração do autor

O Gráfico 8 demonstra a evolução do crédito de pessoa física e jurídica

de 2007 a 2012. A título de comparação de 2012 ante ao exercício de 2007 o

total de crédito de Pessoas Física e Jurídica cresceu R$ 417,5 bilhões, sendo

que de Pessoa Física e Jurídica teve um incremento de R$ 186,8 bilhões e

R$ 230,6 bilhões, respectivamente.

GRÁFICO 8

EVOLUÇÃO DO CRÉDITO DO ESTADO DE SÃO PAULO (R$) – 2007 - 2012

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2007 2008 2009 2010 2011 2012Pessoas física e Jurídica 302.141 390.173 439.728 530.824 626.927 719.599Pessoa Física 109.831 141.898 169.332 207.736 254.161 296.636

Pessoa Jurídica 192.310 248.275 270.396 323.088 372.766 422.963

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

Fonte : BCB - Sistema Gerenciador de Séries TemporaisBNB/ETENE/Célula de Informações Econômicas, Sociais e Tecnológicas.Valores em R$ milhões

O Gráfico 9 demonstra um dos fatores para o baixo crescimento da

arrecadação do ICMS do Estado de São Paulo em face que ao

correlacionarmos o ICMS (% do PIB) ao crédito (% do PIB) evidenciamos que

houve um incremento deste sem a correspondência do aumento daquele. A

título de comparação em 2008 o ICMS (% do PIB) foi de 7,42% e o crédito (%

do PIB) era de 38,90%. Em 2012, o ICMS (% do PIB) atingiu 7,23% do PIB e o

crédito (% do PIB) alcançou 49,39%. Ressalta-se que a evolução do crédito em

% do PIB não impactou no incremento da arrecadação do ICMS em face da

semi estagnação da economia brasileira reflexo da política neoliberal

consubstanciada no modelo de abertura financeira e econômica.

GRÁFICO 9

ICMS (% DO PIB) E CRÉDITO (% DO PIB ) – 2007 - 2012

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2007 2008 2009 2010 2011 2012Crédito (% PIB) 33,47% 38,90% 40,55% 42,55% 45,73% 49,39%

ICMS ( % PIB ) 6,82% 7,42% 7,06% 7,18% 7,18% 7,23%

6,50%6,60%6,70%

6,80%6,90%

7,00%7,10%

7,20%7,30%

7,40%7,50%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

Fontes : SEFAZ/São Paulo, IBGE e BCB - Sistema Gerenciador de Séries TemporaisNota : Para os exercícios de 2011 e 2012, a projeção do crédito (% do PIB) e do ICMS (% do PIB) foi feita pelo autor.

Considerando o Estado de São Paulo como maior representatividade

em percentual do PIB em relação ao Brasil e, portanto, é o estado que vem

sendo mais impactado pelo o reflexo do baixo crescimento da economia

brasileira resultado da abertura econômica e financeira.

É de fundamental importância para compreender a razão de que a

evolução do crédito de 2007 a 2012 não resultou no crescimento da

arrecadação do ICMS em face do desempenho da conta de Transações

Correntes, sendo esta composta da Balança comercial5, da Balança de

rendimentos6 e da Balança de transferências7. Assim sendo, o saldo do déficit

de transações correntes de 2003 a 2012 correspondeu a US$ 161,5 bilhões,

considerando apenas o período de 2007 a 2012 foi de US$ 204,9 bilhões.

Neste contexto, realizando uma análise desagregada no que tange ao déficit de

serviço de rendas de 2003 a 2012 correspondeu a US$ 504,9 bilhões e de

5 Balança comercial : regista as exportações e as importações de mercadorias e serviços. 6 Balança de rendimentos: agrega as transações que correspondem a rendimentos decorrentes de ativos que residentes possuem no exterior e de estrangeiros no território nacional; 7 Balança de transferências: regista as transferências unilaterais, ou seja, aquelas que não correspondem a rendimentos dos fatores de produção ou destinam-se a pagamentos.

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2007 a 2012 foi de US$ 384,8 bilhões, refletindo uma rigidez do serviço de

rendas.

Por outro lado, a conta de serviços e rendas responde parcialmente à

mudança cambial pós 1999, quando registrou breve recuo. No entanto, depois

de curto interregno, o seu déficit cresceu substancialmente, de cerca de US$ 25

bilhões em 1997 e atingiu o ápice no montante de US$ 85,3 bilhões em 2011.

As remessas de lucros e dividendos ao exterior, assim como o pagamento de

juros sobre a dívida externa foram os fatores preponderantes para esse

desempenho.

Os ingressos de fluxos de capitais foram determinantes para o

superávit nas contas de capital e financeira de US$ 112,4 bilhões em 2011,

entretanto em face da redução da taxa Selic diminuiu consideravelmente a

entrada do capital financeiro, refletindo na redução do superávit para US$ 72,8

bilhões em 2012 (Gráfico 10).

Em suma, a valorização cambial combinada com a demanda aquecida

causou um déficit na balança comercial do segmento de produto

industrializado, na medida em que estimulou as importações refletindo na

diminuição do valor adicionado e impactando no baixo crescimento da

arrecadação do ICMS do Estado de São Paulo. Além disso, observou-se o que

o aumento do déficit na conta transações correntes foi agravada pela

historicamente deficitária balança de serviços.

GRÁFICO 10

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BRASIL SALDO DA CONTA CAPITAL E FINANCEIRA, DE TRANSAÇÕES

CORRENTES, SALDO DA BALANÇA COMERCIAL E INVESTIMENTOS

DIRETOS E ESTRANGEIRO - 2003 - 2012 (US$ BILHÕES)

Fonte : Banco Central do Brasil

A Tabela 10 mostra os efeitos da perda da competitividade da indústria

e considerando a análise do Diese8 no tocante aos impactos das diretrizes

nacionais de política econômica em relação ao PIB do Estado de São Paulo.

Já o PIB nacional mostra uma grande dependência de influência das commodities, enquanto a economia paulista caracteriza-se por ser mais industrializada e integrada ao mercado interno - concentra 42% da indústria de transformação brasileira e cadeias produtivas de maior nível tecnológico, com produtos a preços mais estáveis, diretamente atrelados ao incremento de produtividade e estratégias de diferencia- ção de produtos.

O processo de desindustrialização nos últimos 20 anos é resultado da

combinação perversa entre abertura financeira, valorização dos termos de

troca e câmbio apreciado (Loures, Oreiro e Passos, 2006; Bresser-Pereira e

Marconi, 2009 apud Feijó, Oreiro, 2010).

8 PIB paulista avança 0,6% em abril puxado pela indústria. Brasil Econômico. 25 de junho de 2013. Disponível em < http://brasileconomico.ig.com.br/noticias/pib-paulista-avanca-06-em-abril-puxado-pela-industria_133376.html > Acesso em 13 de agosto de 2013.

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012Transações Correntes 4.177 11.679 13.985 13.643 1.551 -28.192 -24.302 -47.273 -52.473 -54.246

Balança comercial (FOB) 24.794 33.641 44.703 46.457 40.032 24.836 25.290 20.147 29.794 19.431 Serviço e Rendas -23.483 -25.198 -34.276 -37.120 -42.510 -57.252 -52.930 -70.322 -85.251 -76.523 Investimento Direto 9.894 8.339 12.550 -9.380 27.518 24.601 36.033 36.919 67.689 68.093

-100.000 -80.000 -60.000 -40.000 -20.000

-20.000 40.000 60.000 80.000

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A noção do impacto do segmento da Indústria de transformação é

resultado do processo de valorização de câmbio e do custo Brasil (corrupção

administrativa pública elevada ; déficit público elevado ; manutenção de taxas

de juros reais elevadas; carga tributária alta ; altos custos trabalhistas ;

legislação fiscal complexa e ineficiente ; infraestrutura precária (sistema de

portos, aeroportos, estradas e ferrovias e baixa qualidade educacional e falta

de mão de obra qualificada), os quais refletem na perda de competitividade

(Tabela 10).

Considerando-se que uma alta representatividade da importação do

segmento industrializado como sendo da indústria de transformação do Estado

de São Paulo aliado ainda ao fato de demonstrar o alto impacto no tocante a

perda de volume de vendas para os demais estados, refletindo no baixo

crescimento da arrecadação do ICMS. Assim, foram disponibilizada os dados

da Tabela 10.

Assim, a Tabela 10 mostra que em 2007 a importação do segmento de

produto industrializado era de US$ 120,6 bilhões e passou para US$ 223,2

bilhões em 2012, resultando na perda de dinamismo da indústria de

transformação do Estado de São Paulo impactando no baixo crescimento da

arrecadação do ICMS.

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TABELA 10 - IMPORTAÇÃO DOS PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS – 2007 A 2012 (US$)

2007 2008 2009 2010 2011 2012Bens de Capital 25.125.082.177 35.928.836.222 29.698.357.206 40.995.305.437 47.908.604.020 48.622.829.267

Máq e Aparelhos de escritorio Serv.C 5.501.646.400 7.085.090.633 5.729.254.191 7.372.209.286 7.731.296.205 7.845.722.897Ferramentas 465.316.249 695.915.916 560.485.825 869.849.185 1.251.762.437 1.274.252.425Acessorios de Maq.Industrial 1.825.003.418 2.417.906.580 2.042.829.697 3.131.368.762 3.337.576.253 3.420.184.986Maquinaria Industrial 7.355.542.035 10.989.639.825 9.804.267.636 13.475.063.814 16.376.868.724 16.055.081.601Partes Peças para Bens de Capital para Ind 4.186.469.992 5.419.659.443 3.934.981.315 5.298.353.685 6.762.841.674 7.071.926.053Equip Moveis de Transporte 1.881.739.793 3.486.610.894 3.200.399.323 4.862.407.807 5.241.895.071 6.000.066.196Outros Bens de Capital 3.909.364.290 5.834.012.931 4.426.139.219 5.986.052.898 7.206.363.656 6.955.595.109

Bens de Consumo 16.026.655.043 22.524.654.135 21.523.959.702 31.425.761.027 40.087.477.218 39.373.646.166 Bens de Consumo não duráveis 7.775.834.805 9.815.579.148 9.910.262.114 12.847.126.446 15.991.313.721 17.150.316.636 Produtos Alimentícios 2.081.523.871 2.811.846.557 2.757.268.826 3.897.438.304 4.881.378.853 5.109.564.918Produtos de Toucador 434.834.863 542.733.141 534.773.395 785.753.629 1.005.819.629 1.103.168.715Vestúario e Outras Confecções Texteis 683.637.199 886.756.426 939.395.798 1.283.810.916 1.973.214.164 2.442.988.234Produtos Farmaceuticos 2.907.903.330 3.492.509.008 3.686.217.617 4.411.959.708 5.102.539.876 5.351.185.540Outros Bens de Consumo não duráveis 1.667.935.542 2.081.734.016 1.992.606.478 8.199.672.024 3.028.361.199 3.143.409.229Bens de consumo Duráveis 8.250.820.238 12.709.074.987 11.613.697.588 18.578.634.581 46.697.056.228 22.223.329.530Objetos de Adorno,de Uso Pessoal e Outros 1.838.988.844 2.411.991.096 2.281.852.175 3.014.668.057 3.786.015.030 4.117.999.959Moveis e Outros Equipamentos Para Casa 397.298.533 568.335.246 486.786.882 915.448.842 1.025.504.692 1.017.546.525Maquinas e Aparelhos de Uso Doméstico 1.577.649.411 2.488.235.718 1.895.050.354 3.994.275.127 4.677.692.278 4.706.772.114Veículos e Automóveis de Passageiros 3.521.173.414 6.051.221.967 5.892.685.513 9.129.159.825 12.741.482.721 10.397.746.877Partes e Peças P/ Bens de Cons.Duráveis 640.239.442 807.872.426 680.110.264 943.183.299 1.117.833.393 1.251.985.145Outros Bens de Consumo Duráveis 275.470.594 381.418.534 377.212.400 581.899.431 23.348.528.114 731.278.910

Bens Intermediários 59.380.729.818 83.277.326.983 59.753.734.587 83.883.787.532 102.076.192.701 99.840.014.535Outras Matérias Primas P/Agricultura 5.528.748.353 10.954.853.831 5.374.640.031 6.712.601.610 11.426.327.921 11.164.414.337Produtos Alimentícios 2.589.705.451 3.575.469.287 2.879.119.921 3.281.007.413 3.795.870.323 3.924.380.104Produtos Agropecuários não Alimentícios 4.073.605.965 5.469.991.266 4.239.296.398 6.426.513.142 7.849.930.806 6.774.270.165Produtos Minerais 11.631.488.919 15.672.744.312 9.746.468.241 17.830.660.850 20.438.577.816 18.081.953.130Produtos Intermediários- Partes e Peças 8.839.308.987 11.130.651.487 8.480.525.617 11.435.547.621 12.821.749.072 13.001.205.922Produtos Quimicos e Farmaceuticos 15.671.937.844 21.184.301.423 17.272.576.927 22.962.992.097 27.044.688.705 27.285.539.170Materiais de Construção 1.167.000.331 1.875.006.429 1.716.955.247 2.126.093.427 2.893.580.829 3.194.748.626Acessorios de Equipamentos de Transporte 8.471.649.692 11.677.497.661 8.422.799.492 11.586.450.543 13.936.889.230 14.377.705.109Outros Bens Intermediários 1.407.284.276 360.248.965 1.621.352.713 1.521.920.829 1.868.577.999 2.035.797.972

Combustíveis e Lubrificantes 20.084.979.212 31.465.816.415 16.746.291.493 25.343.821.608 36.173.624.182 35.312.640.350Total 120.617.446.250 173.196.633.755 127.722.342.988 181.648.675.604 226.245.898.121 223.149.130.318

Fonte : Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior

Page 45: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

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O impacto da política macroeconômica e o efeito no crescimento da

economia do Estado de São Paulo podem ser demonstrados através do

Gráfico 11. Quando se analisa a alta correlação existente entre o desempenho

da economia brasileira e a do Estado de São Paulo. Nota-se que em 2009 o

incremento da economia brasileira teve uma retração de -0,3% e o estado de

São Paulo de -0,8%. Considerando, ainda, a recuperação econômica do Brasil

de 7,5% em 2010 a economia do Estado de São Paulo teve um incremento de

7,9%.

GRÁFICO 11

PARTICIPAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO NO PIB DO BRASIL E TAXAS

DE CRESCIMENTO DO PRODUTO INTERNO BRUTO BRASIL E SÃO

PAULO – 2005- 2010

Fonte: Instituto Brasileiro Geografia e Estatística- IBGE e Fundação Seade

Page 46: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

46

De tudo o que foi mencionado no capítulo, concluímos que o modelo de

esgotamento da arrecadação do ICMS do estado de São Paulo em (% do PIB)

é reflexo da correlação entre a evolução do crédito (% do PIB) aliada a

combinação entre abertura financeira, valorização dos termos de troca e

câmbio apreciado, os quais refletiram no baixo crescimento da arrecadação do

ICMS (% do PIB) de 2012 em relação a 2011 e projetando que se manterá em

face da ausência de uma política de desenvolvimento de longo prazo do

Governo Federal. Além disso, a política econômica do Governo Federal tem um

impacto significativo sobre a economia do Estado de São Paulo.

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CAPÍTULO 7

A DESINDUSTRIALIZAÇÃO E O EFEITO NA DINÂMICA DO

CRESCIMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA

O processo de desindustrialização resultará na necessidade da

depreciação do real e segundo economistas o dólar poderá atingir de R$ 2,60 a

R$ 3,30 impactando no IGP-DI e, portanto, na dinâmica do crescimento da

dívida do estado de São Paulo agravando ainda mais a insustentabilidade da

dívida em relação a RCL.

A economia brasileira tem apresentado um desempenho pífio em

termos  de crescimento econômico nos últimos 30 meses impactando o Estado

de São Paulo. Depois de um crescimento em 2010, quando o PIB apresentou

uma alta de 7,5%, o crescimento foi se  desacelerando para 2,7% em 2011 e

0,9% em 2012. As projeções para 2013 apontam  para um crescimento do PIB

de 2,2%. Mantido esse ritmo de crescimento, o  Estado de São Paulo será

afetado não só em face do baixo crescimento da arrecadação do ICMS,

refletindo no baixo incremento da RLR, resultando no incremento da dívida via

geração de resíduos.

O desempenho da economia paulista se deve ao processo de

desindustrialização vivenciado desde 1985, mas que vem se acentuando mais 

recentemente. Após a indústria de transformação ter alcançado uma

participação de 24,8% do  PIB do Estado de São Paulo em 1995 foi iniciado um

lento  processo de perda de importância no PIB, o qual se acentuou atingindo

um patamar de 21,2% do PIB em 2010.

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Segundo (LOURES, OREIRO,2013) a brutal apreciação da taxa real

de câmbio atuou, de  fato, como um “choque de liberalização comercial”.

Esse processo de perda de importância relativa da indústria de trans- formação  está na raiz da desaceleração do crescimento que a eco-nomia brasileira vivenciou  nos anos 80 e 90 com respeito ao perío- do 1950-1980; bem como explica porque -  passado o período de bo-nança na economia mundial (2004-2008), no qual a economia bra-sileira consegue acelerar seu crescimento para uma média próxima de de 4% ao ano  – voltamos a ter um desempenho econômico me- díocre a partir de 2011.

Assim, conforme análise de (LOURES, OREIRO,2013) o processo de

desindustrialização é reflexo da perda de competitividade externa causada

pela sobrevalorização da taxa real de câmbio ocorrida no Brasil desde 1994.

Por que a economia brasileira está se desindustrializando? A razão  fundamental desse fenômeno é a perda de competitividade externa causada pela  tendência à sobrevalorização crônica da taxa real de câmbio ocorrida no Brasil  desde 1994, a qual resulta das entradas maciças de capitais especulativos – para  aproveitar o enorme diferencial entre a taxa de juros interna e externa – e da  doença holandesa. De fato, quando olhamos para os dados da taxa real efetiva de  câmbio verificamos que no período 2003-2010 ocorreu uma apreciação real de mais  de 33%. A desvalorização do câmbio nominal ocorrida em meados de 2012 não foi  suficiente para corrigir esse problema, pelo contrário, alguns economistas  argumentam que para a taxa real de câmbio voltar ao nível prevalecente em  janeiro de 2007 o dólar deveria estar sendo cotado hoje a R$ 3,20.

Considerando um cenário no médio e em longo prazo de baixo

crescimento da RLR do estado de São Paulo aliada ainda a uma projeção de

uma taxa real de câmbio de R$ 3,20 resultaria em um alto índice do IGP-DI e

que combinado ao estudo de (GODOY,2012,p.63) agravaria ainda mais a

insustentabilidade da dívida em relação a RLC e ao PIB.

Já para uma taxa de 3,0% ao ano, observamos que os Estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo – coincidentemente, os estados com os menores níveis de crescimento real efetivamente observados no período de 2002 a 2011, conforme a Tabela 20 – apresentariam níveis de resíduo que exigiriam maior comprometimento da RLR ou um prazo mais dilatado que os dez anos previstos nos contratos da Lei nº 9.496/97.

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49

No tocante estudo (GODOY,2013,p.68) analisa a evolução da DT/RT

dada a premissa de um crescimento da RLR de 3,0% o estado de São Paulo

terminaria com resíduos significativos (Gráfico 12).

GRÁFICO 12

RELAÇÃO DÍVIDA/RLR DO ESTADO DE SÃO PAULO – 2010 A 2030

Fonte : Elaboração Daniel Voigt Godoy

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CAPÍTULO 8

A ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA DO

ESTADO DE SÃO PAULO DE 2013 A 2051

8.1 Cenários macroeconômicos e aspectos metodológicos

Este capítulo tem como objetivo averiguar se as atuais condições de

refinanciamento da dívida baseado no IGP-DI acrescido de 6,0% e

correlacionando aos diferentes cenários de crescimento da RLR e

considerando os parâmetros da Tabela 11, a fim de realizar simulações no que

tange a trajetória da dívida Lei nº 9.496/97. Assim, verificar o montante de

geração de resíduo em 2028 em face que conforme contrato assinado com o

Governo Federal ao final do refinanciamento se ainda houver algum resíduo,

este pode ser pago nos dez anos subsequentes.

Analisar e projetar cenários de crescimento das receitas do ICMS ,

Receita Corrente Líquida e Receita Líquida Real e posteriormente avaliar o

impacto da projeção da dívida Lei nº 9.496/97 para o período de 2013 a 2051 é

necessário adotar uma série de premissas e metodologias especializadas e

aliada ainda a necessidade da utilização do programa Analytica.

Desta maneira, apresentaremos a seguir alguns critérios adotados

para definição do comportamento para o incremento real do Produto Interno

Bruto (PIB) do Brasil no tocante aos cenários básico, otimista e pessimista.

No que se referem às premissas adotadas no campo macroeconômico,

adotamos três cenários de projeção do PIB de 2013 a 2028, levando em

conta um cenário básico, otimista e um pessimista. No tocante aos cenários

otimista e pessimista tomou-se como base um incremento de mais 1% e de

menos 1% em relação ao cenário básico. No que tange ao IGP-DI foi

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considerado que o Higher IGP-DI (Alto IGP-DI) e o Lower IGP-DI (Baixo IGP-

DI), sendo aquele um aumento de mais de 2% em relação ao BaseLine IGP-DI

(Básico IGP-DI) e este uma redução de 1% em relação ao cenário básico.

Considerando o horizonte temporal abordado para este relatório,

optamos por estabelecer projeções do IPC-A (IBGE), IGP-DI e o PIB real que

abrangessem esse mesmo período. Após analise de diversas projeções do

mercado e do Ministério da Fazenda para um período de médio prazo e tendo

a necessidade de realizar uma projeção em longo prazo definimos como

premissa a síntese exposta da Tabela 11.

TABELA 11

PROJEÇÃO DE INDICADORES – 2013 A 2028

Fonte: Projeção do autor

8.2 Análise da Sustentabilidade da Dívida do Estado de São Paulo 2012 a 2028

Foi projetado o PIB do Estado de São Paulo, de 2012 a 2028, no

sentido de demonstrar a evolução do ICMS (% do PIB), RLR (% do PIB), Dívida

no âmbito da Lei nº 9.496/97 (% do PIB).

A Tabela 12 sinaliza que conforme os cenários de crescimento real do

PIB e da inflação refletem em um substancial incremento nominal do PIB.

Ano PIB real IPC-A IGP-DI2013 - 2020 3,00% 5,50% 5,50%2021 - 2028 3,50% 5,50% 5,50%

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TABELA 12 –

PROJEÇÃO DO PIB DO ESTADO DE SÃO PAULO – 2012 - 2028 – R$

TRILHÕES

Fonte : Elaboração do autor

Analisamos na seção a seguir a principal fonte de recurso do

Estado de São Paulo e projetaremos o ICMS para o cenário de 2013 a

2028 no sentido de analisar os resultados em relação ao PIB.

Adotamos como premissa norteadora básica o modelo de

esgotamento do incremento da receita do ICMS em % do PIB conforme já foi

analisado em tópico anterior. Assim, o potencial efetivo de crescimento da RCL

e RLR deve obedecer a uma inter-relação com o PIB do Estado de São

Paulo, no intuito de explicitar o modelo de esgotamento do aumento de carga

tributária em % do PIB.

Cenário Básico PIB Cenario Pessimista PIB Cenário Otimista PIB2012 1.456.799.529.679 1.456.799.529.679 1.456.799.529.679 2013 1.582.841.824.987 1.568.273.829.691 1.597.409.820.284 2014 1.719.789.299.685 1.688.278.143.138 1.751.591.816.138 2015 1.868.585.469.894 1.817.465.186.651 1.920.655.458.232 2016 2.030.255.484.749 1.956.537.622.734 2.106.037.123.060 2017 2.205.913.189.290 2.106.251.881.626 2.309.311.826.178 2018 2.396.768.798.427 2.267.422.275.608 2.532.206.603.641 2019 2.604.137.234.867 2.440.925.428.137 2.776.615.185.024 2020 2.829.447.188.428 2.627.705.041.898 3.044.614.082.682 2021 3.089.544.121.224 2.842.979.777.456 3.354.936.373.060 2022 3.373.550.464.567 3.075.890.895.724 3.696.888.262.884 2023 3.683.664.091.023 3.327.883.257.356 4.073.693.599.078 2024 4.022.284.912.590 3.600.520.093.215 4.488.904.819.165 2025 4.392.033.453.180 3.895.492.701.851 4.946.436.442.858 2026 4.795.771.128.363 4.214.630.941.451 5.450.601.977.296 2027 5.236.622.389.338 4.559.914.581.329 6.006.154.583.832 2028 5.717.998.902.478 4.933.485.583.404 6.618.331.889.789

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TABELA 13

PROJEÇÃO DO ICMS DO ESTADO DE SÃO PAULO – 2013 - 2028 –

R$ BILHÕES

Fonte : Elaboração do Autor

A Tabela 14 ilustra a projeção da RCL no período de 2013 a 2028.

Considerando o cenário básico de crescimento do PIB a RCL correspondeu a

R$ 115,4 bilhões (7,92% do PIB) em 2012 e alcançaria R$ 469,8 bilhões

(7,09% do PIB) em 2028.

Cenário Básico PIB Cenário Pessimista PIB Cenário Otimista PIB2012 105.288.966.585 105.288.966.585 105.288.966.585 2013 114.216.375.946 113.184.544.074 115.248.207.819 2014 123.604.276.751 121.412.381.321 125.815.776.986 2015 134.512.403.616 130.888.666.248 138.202.390.557 2016 146.499.557.171 141.204.735.011 151.941.864.136 2017 159.174.698.858 152.009.721.334 166.607.292.862 2018 172.946.493.803 163.641.505.211 182.688.228.769 2019 187.909.824.447 176.163.353.189 200.321.296.610 2020 204.167.782.458 189.643.372.975 219.656.308.159 2021 222.935.905.860 205.179.906.306 242.044.777.368 2022 243.429.289.007 221.989.270.130 266.715.191.301 2023 265.806.526.398 240.175.741.086 293.900.137.174 2024 290.240.791.338 259.852.138.674 323.855.908.656 2025 316.921.176.081 281.140.525.135 356.864.922.146 2026 346.054.155.193 304.172.962.657 393.238.379.335 2027 377.865.183.409 329.092.332.623 433.319.201.149 2028 412.600.440.394 356.053.221.973 477.485.260.726

Page 54: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

54

TABELA 14 –

PROJEÇÃO DA RCL DO ESTADO DE SÃO PAULO – 2013 - 2028 –

R$ BILHÕES

Fonte : Elaboração do autor

A Tabela 15 mostra a projeção da RLR para o período de 2013 a 2028.

Ressalta-se que em face do modelo de esgotamento do incremento da

arrecadação do ICMS em % do PIB evidencia-se uma redução na projeção da

RLR (% do PIB).

Considerando o cenário básico de crescimento do PIB a RLR, a qual

era de R$ 92,2 bilhões (6,38% do PIB) em 2012 e alcançaria R$ 246,5 bilhões

(4,31% do PIB) em 2028.

Cenário Básico PIB Cenário Pessimista PIB Cenário Otimista PIB2012 115.396.999.541 115.396.999.541 115.396.999.541 2013 124.645.263.834 123.517.182.623 125.773.345.045 2014 133.713.127.481 131.399.989.799 136.051.970.811 2015 143.757.565.416 140.051.872.554 147.543.075.547 2016 154.748.237.379 149.427.083.859 160.239.776.127 2017 166.479.078.868 159.333.616.110 173.928.187.238 2018 179.226.880.290 169.994.469.061 188.949.271.719 2019 193.083.547.913 181.469.821.042 205.437.841.882 2020 208.232.044.634 193.894.200.181 223.639.474.266 2021 225.785.509.518 208.266.997.460 244.802.414.253 2022 244.984.540.079 223.832.364.577 268.180.086.356 2023 266.019.431.712 240.718.564.736 294.048.178.885 2024 289.048.810.606 259.022.907.467 322.653.112.019 2025 314.262.951.934 278.864.713.044 354.287.149.921 2026 341.880.278.419 300.381.243.770 389.286.287.959 2027 372.136.723.261 323.718.424.770 428.018.699.547 2028 405.291.968.415 349.035.220.759 470.893.844.585

Page 55: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

55

TABELA 15

PROJEÇÃO DA RECEITA LÍQUIDA REAL DO ESTADO DE SÃO PAULO –

2013 A 2028 – R$ BILHÕES

Fonte : Elaboração do autor

A Tabela 16 demonstra a projeção da Receita Líquida Real Média

para o período de 2013 a 2028 e consideramos o comportamento do exercício

de 2012 ante ao exercício de 2011 para todos os exercícios posteriores.

Considerando o cenário básico de crescimento do PIB a RLR Média, a

qual correspondeu a R$ 88,7 bilhões (6,09% do PIB) em 2012 alcançaria

R$ 235,4 bilhões (4,12% do PIB) em 2028.

Cenário Básico PIB Cenário Pessimista PIB Cenário Otimista PIB2012 92.866.145.310 92.866.145.310 92.866.145.310 2013 98.127.905.192 97.497.197.174 98.758.613.211 2014 102.831.161.626 101.657.018.182 104.005.520.665 2015 107.955.408.462 106.200.902.643 109.705.191.388 2016 113.035.268.561 110.732.537.499 115.315.637.070 2017 118.075.683.355 115.261.264.303 120.831.926.441 2018 123.478.066.478 120.131.338.414 126.711.736.778 2019 129.393.144.286 125.462.576.035 133.137.398.810 2020 136.096.582.604 131.472.989.778 140.448.045.977 2021 143.248.927.448 137.983.483.358 148.110.015.986 2022 151.460.090.656 145.388.541.366 156.983.864.852 2023 161.112.825.110 153.971.598.077 167.572.603.816 2024 172.578.197.725 163.992.527.112 180.388.423.068 2025 186.308.729.107 175.765.252.366 196.064.105.624 2026 202.822.991.971 189.643.670.522 215.337.445.104 2027 222.688.164.823 206.007.358.469 239.030.951.780 2028 246.518.323.592 225.260.617.906 268.049.668.360

Page 56: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

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TABELA 16

PROJEÇÃO DA RECEITA LÍQUIDA REAL MÉDIA DO ESTADO DE SÃO

PAULO – 2013 A 2028 – R$ BILHÕES

Fonte : Elaboração do autor

A partir das projeções da RLR Média analisaremos o comportamento da

trajetória da dívida no âmbito da Lei nº 9.496/97 e os reflexos em relação a

RCL e RLR.

A Tabela 17 mostra a trajetória de projeção da dívida no que se refere

a Lei nº 9.746/97, sendo esta correlacionada ao cenário básico do crescimento

do PIB e aos cenários de IGP-DI de 2013 a 2051.

Assim, a Tabela 17 demonstra a trajetória de insustentabilidade da

dívida correlacionada ao cenário de crescimento básico do PIB correlacionado

ao cenário Higher IGP-DI.

Cenário Básico PIB Cenário Pessimista PIB Cenário Otimista PIB2012 88.687.168.771 88.687.168.771 88.687.168.771 2013 93.712.149.459 93.109.823.301 94.314.475.616 2014 98.203.759.353 97.082.452.364 99.325.272.235 2015 103.097.415.081 101.421.862.024 104.768.457.775 2016 107.948.681.476 105.749.573.312 110.126.433.402 2017 112.762.277.605 110.074.507.409 115.394.489.751 2018 117.921.553.486 114.725.428.185 121.009.708.623 2019 123.570.452.793 119.816.760.114 127.146.215.863 2020 129.972.236.386 125.556.705.238 134.127.883.908 2021 136.802.725.713 131.774.226.607 141.445.065.266 2022 144.644.386.576 138.846.057.005 149.919.590.933 2023 153.862.747.980 147.042.876.164 160.031.836.644 2024 164.812.178.828 156.612.863.392 172.270.944.030 2025 177.924.836.297 167.855.816.009 187.241.220.870 2026 193.695.957.332 181.109.705.349 205.647.260.074 2027 212.667.197.406 196.737.027.338 228.274.558.950 2028 235.424.999.030 215.123.890.100 255.987.433.284

Page 57: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

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TABELA 17

PROJEÇÃO DA DÍVIDA LEI Nº 9.496/97 DO ESTADO DE SÃO PAULO –

2013 A 2028

Fonte : Elaboração do autor

O Gráfico 13 demonstra a trajetória da Dívida no âmbito da Lei nº

9.496/97 em (% do PIB) correlacionada ao cenário básico de crescimento do

PIB no período de 2013 a 2028.

GRÁFICO 13

PROJEÇÃO DA DÍVIDA LEI Nº 9.496/97 (% DO PIB) – 2013 A 2028

BASELINE IGP DI LOWER IGP DI HIGHER IGP DI2012 183.368.432.043 183.368.432.043 183.368.432.043 2013 192.878.338.124 190.934.632.744 196.765.748.883 2014 202.929.356.808 198.731.803.975 211.448.082.137 2015 213.533.235.758 206.732.555.303 227.542.425.634 2016 224.760.888.956 214.964.322.917 245.251.265.418 2017 236.691.006.031 223.456.884.406 264.804.720.856 2018 249.361.750.092 232.193.388.904 286.415.177.462 2019 262.797.086.264 241.136.458.026 310.305.935.855 2020 276.989.590.839 250.210.463.825 336.697.223.176 2021 291.973.105.093 259.373.776.436 365.882.131.466 2022 307.709.753.171 268.504.561.903 398.118.918.551 2023 324.109.659.733 277.420.345.983 433.654.350.452 2024 341.026.249.232 285.872.933.998 472.723.549.092 2025 358.239.425.798 293.531.220.271 515.538.255.472 2026 375.438.675.416 299.964.058.241 562.275.367.657 2027 392.206.335.055 304.623.451.650 613.066.045.782 2028 407.999.094.618 306.826.147.519 667.983.509.295

Page 58: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

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20202012 2014 2016 2018 2022 2024 2026 2028

0.1

0.05

0.06

0.07

0.08

0.09

0.11

0.12

0.13

Time

Dívi

da L

ei 9

496/

97/S

GDP

IGP-DIBASELINE IGP DI LOWER IGP DI HIGHER IGP DI

Fonte : Elaboração do autor

A Tabela 18 demonstra o alto grau de risco em face que se

correlacionarmos ao cenário pessimista de crescimento do PIB e ao Higher

IGP-DI e compararmos ao resultado no que tange ao cenário otimista de

crescimento do PIB correlacionado ao Lower IGP-DI observamos uma margem

de risco entre os dois de uma variação da dívida de R$ 308,4 bilhões (8,24%

do PIB) em 2028. Ressalta-se que a Dívida no âmbito da Lei nº 9.496/97 em

2012 correspondeu a 12,59% do PIB.

TABELA 18

PROJEÇÃO DA DÍVIDA LEI Nº 9.496/97 DO ESTADO DE SÃO PAULO EM

2028 – R$ BILHÕES (% DO PIB)

Fonte : Elaboração do autor

No que segue, analisamos o comportamento do estoque da Dívida Lei

nº 9.496/97 em relação a RCL e observamos a mesma trajetória de

insustentabilidade em relação a RCL correlacionando a um cenário de

crescimento básico do PIB, pois em 2012 a referida Dívida correspondia a

BASELINE IGP DI LOWER IGP DI HIGHER IGP DICenário Básico PIB R$ 408 bilhões (7,13% do PIB) R$ 306,8 bilhões (5,37% do PIB) R$ 668 bilhões (11,68% do PIB)Cenário Pessimista PIB R$ 431,3 bilhões (8,74% do PIB) R$ 328,9 bilhões (6,67% do PIB) R$ 694,1 bilhões (14,07% do PIB)Cenário Otimista PIB R$ 385,7 bilhões (5,83% do PIB) R$ 285,7 bilhões (4,32% do PIB) R$ 643 bilhões (9,72% do PIB)

Page 59: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

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159% da RCL e em 2028 correlacionando ao cenário Higher IGP-DI a dívida

alcançaria uma trajetória de crescimento explosivo.

Em 2028, considerando a correlação entre o cenário pessimista de

crescimento do PIB ao cenário Higher IGP-DI a dívida no que concerne a Lei nº

9.496/97 em relação à RCL alcançaria R$ 694,1 bilhões (198,9 % da RCL).

Avaliando sob a ótica do cenário de crescimento otimista do PIB e o

Lower IGP-DI a referida dívida atingiria R$ 285,7 bilhões (60,68% da RCL) em

2028.

TABELA 19

PROJEÇÃO DA DÍVIDA LEI Nº 9.496/97 DO ESTADO DE SÃO PAULO EM

2028 – R$ BILHÕES (% DA RCL)

Fonte : Elaboração do autor

A Tabela 20 demonstra o impacto do serviço da dívida de 2013 a 2028

em relação às contas públicas mantendo o limite de 13% da RLR Média.

Evidencia-se que o estado arcará com um alto serviço da dívida de 2012 a

2028.

TABELA 20

PROJEÇÃO DO SERVIÇO DA DÍVIDA LEI Nº 9.496/97 DO ESTADO DE SÃO

PAULO – 2013 - 2028

BASELINE IGP DI LOWER IGP DI HIGHER IGP DICenário Básico PIB R$ 408 bilhões (101% da RCL) R$ 306,8 bilhões (75,7% da RCL) R$ 668 bilhões (164,8% da RCL)Cenário Pessimista PIB R$ 431,3 bilhões (123,6% da RCL) R$ 328,9 bilhões (94,23% da RCL) R$ 694,1 bilhões (198,9% da RCL)Cenário Otimista PIB R$ 385,7 bilhões (81,91% da RCL) R$ 285,7 bilhões (60,68% da RCL) R$ 643 bilhões (136,6% da RCL)

Page 60: Há razões para duvidar da sustentabilidade da dívida  do estado de são paulo no médio e em longo prazo versão 7.0 final

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Fonte : Elaboração do autor

Podemos verificar nos gráficos anteriores que, pela própria dinâmica do

custo de refinanciamento da dívida Lei nº 9.496/97 evidencia-se uma alta

margem de risco da trajetória de insustentabilidade em relação ao PIB e a RCL

e tende a ser maior quando correlacionamos a um cenário pessimista de

crescimento do PIB combinado a uma projeção de alto IGP-DI.

Ressalta-se ainda que mesmo em um cenário de alto crescimento do

PIB correlacionado a um alto IGP-DI foi verificado uma trajetória de

insustentabilidade da dívida pública em relação a RCL e ao PIB.

Além disso, não foi considerada a previsão um cenário de alto risco

caso se confirme a projeção de (LOURES,OREIRO,2013) de uma depreciação

do real frente ao dólar atingindo R$ 3,20 para reverter a tendência do processo

de desindustrialização, o que resultaria em um incremento do IGP-DI bem

Cenário Básico PIB Cenário Pessimista PIB Cenário Otimista PIB2012 11.529.331.940 11.529.331.940 11.529.331.940 2013 12.182.579.430 12.104.277.029 12.260.881.830 2014 12.766.488.716 12.620.718.807 12.912.285.391 2015 13.402.663.961 13.184.842.063 13.619.899.511 2016 14.033.328.592 13.747.444.531 14.316.436.342 2017 14.659.096.089 14.309.685.963 15.001.283.668 2018 15.329.801.953 14.914.305.664 15.731.262.121 2019 16.064.158.863 15.576.178.815 16.529.008.062 2020 16.896.390.730 16.322.371.681 17.436.624.908 2021 17.784.354.343 17.130.649.459 18.387.858.485 2022 18.803.770.255 18.049.987.411 19.489.546.821 2023 20.002.157.237 19.115.573.901 20.804.138.764 2024 21.425.583.248 20.359.672.241 22.395.222.724 2025 23.130.228.719 21.821.256.081 24.341.358.713 2026 25.180.474.453 23.544.261.695 26.734.143.810 2027 27.646.735.663 25.575.813.554 29.675.692.664 2028 30.605.249.874 27.966.105.713 33.278.366.327

Total 311.442.394.064 297.872.476.549 324.443.342.079

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61

acima de 7,5% e, portanto impactaria no médio prazo em uma trajetória de

insustentabilidade da dívida no âmbito da Lei nº 9.496/97 em relação a RCL e

ao PIB.

Ressaltamos que os níveis de resíduos gerados exigiriam maior

comprometimento da RLR ou um prazo mais dilatado que os dez anos

previstos nos contratos no âmbito da Lei nº 9.496/97 considerando o cenário

básico do crescimento de 6,31% da RLR Média, portanto sendo muito mais

enfático do que o estudo de simulação estocástica desenvolvido por

(GODOY,2013,p.63) o qual se baseou em uma previsão de 3% de crescimento

da RLR Média e que ele concluiu que a manutenção das atuais condições de

refinanciamento da dívida Lei nº 9.496/97 exporá a necessidade de que o

estado de São Paulo comprometa entre 16% e 21% de sua RLR com os

pagamentos relativos ao refinanciamento do resíduo.

Entretanto, para os Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo, a realidade é bem diversa. Em valores medianos, esses entes comprometerão entre 16% e 21% de sua RLR com os pa-gamentos relativos ao refinanciamento do resíduo. Esses percentuais são bastante superiores aos 13% estabelecidos nos contratos assinados e representam um risco para as finanças estaduais – a Lei nº 9.496/97 não prevê limite de pagamento para o refinanciamento do resíduo acumulado.

Este estudo analisando a dívida do Estado de São Paulo avalia a

condição de insustentabilidade em relação a RCL e ao PIB no médio e em

longo prazo mantida as atuais condições de refinanciamento da dívida Lei nº

9.496/97.

.

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62

CAPÍTULO 9.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Programa de Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscal dos Estados,

proposto pela União em 1997 é marco importante nas finanças públicas do

país. A partir dele, o estado de São Paulo realizou esforços no sentido de

sanear suas finanças, reduzindo despesas e aumentando as receitas. O

refinanciamento, pela União, de diversas dívidas – internas, externas e

mobiliárias – ao amparo de sucessivas leis editadas para esse fim, trouxe alívio

imediato para o Estado de São Paulo em face de se encontrar em severas

dificuldades principalmente pelas condições de financiamento via bancos

privados. É inegável o sucesso do programa como um todo, ao promover a

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responsabilidade fiscal ao ponto do Estado ter gerado superávit primário de

0,75% do PIB em 2003, todavia em face das condições de refinanciamento da

Dívida no âmbito da Lei nº 9.496/97 resultou em crescimento da DC no período

de 2001 a 2012.

Nesse contexto, esse trabalho teve como principais objetivos: i)

identificar as razões pelas quais, passados 15 anos do advento da Lei nº

9.496/97 e doze anos da Lei de Responsabilidade Fiscal, o Estado de São

Paulo não logrou êxito na redução de seu estoque da dívida refinanciada; ii)

dadas as informações conhecidas em 2001 e utilizando o conceito de

sustentabilidade da dívida, verificou que a geração de superávit primário (% do

PIB) foi ao longo do período de 2001 a 2012 sempre inferior a real necessidade

para manter a sustentabilidade da dívida (% do PIB) e; iii) dadas as previsões

de crescimento da receita do ICMS e o seu impacto em relação a RLR foi

possível realizar projeções para analisar a trajetória da Dívida sob amparo da

Lei nº 9.496/97, utilizando o programa Analytica.

No Capitulo 2 foi definido o conceito de sustentabilidade da dívida

pública em relação ao PIB e foi demonstrado que apesar da geração de

superávit primário de 0,65% do PIB do Estado de São Paulo em 2002 em face

da deterioração do cenário macroeconômico resultou em um incremento

significativo da dívida no âmbito da Lei nº 9.496/97. Ressaltou, ainda, a própria

sistemática do acordo de refinanciamento da alusiva dívida com o Governo

Federal, a qual limita o pagamento do serviço da dívida em 13% da RLRM não

refletiu no incremento do déficit nominal no exercício de 2002, resultando no

incremento da dívida através da geração de resíduos. Além disso, demonstrou

o impacto sobre o PIB do Estado com retração de 0,4% aumentando ainda

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mais a necessidade de geração de superávit primário para manter a

sustentabilidade da dívida.

No Capítulo 3, foi demonstrado o êxito do PAF no tocante a redução do

endividamento do Estado em relação a RCL, entretanto ao realizar uma análise

dissociada evidenciou-se que no cenário pós crise de 2007 a 2012 foi

observada uma redução da DC/RCL, entretanto o mesmo não foi verificado

quanto a DCL/RCL em face da combinação do baixo crescimento da

arrecadação do ICMS (% do PIB) e da deterioração do resultado primário (%

do PIB)

Foi analisado que em face de estabelecer um limite de 13% da Receita

Líquida Real Média com o serviço da dívida intralimite resultou em maior

espaço fiscal. Por outro lado, resultou na geração de resíduos, refletindo na

trajetória de aumento da DCL em relação a RCL em um cenário de baixo

crescimento da receita .

O Capítulo 4 analisou a dinâmica do crescimento da dívida pública e

verificou a geração de resíduos apesar de um cenário favorável ao incremento

da Receita Líquida Real em valores nominais.

No Capítulo 5, foi avaliada a fragilidade do ajuste fiscal do Estado em

face que ao longo do período de 2001 a 2012 foi constatada a deterioração do

resultado primário em % do PIB, sendo este reflexo da combinação do modelo

de esgotamento da arrecadação do ICMS em % do PIB aliado ao modelo de

ampliação do crédito em % do PIB impactado pela política macroeconômica, a

qual resultou na abertura econômica e financeira. Por outro lado, foi

demonstrada a deterioração do resultado primário, sendo este reflexo do

modelo de vinculação da receita a despesa aliada a necessidade crescente de

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aporte do Tesouro para o financiamento do déficit da Previdência. Avaliou que

o resultado primário obtido pelo Estado de São Paulo é inferior as reais

necessidades da despesa de juros e amortizações, ou seja, o déficit nominal do

exercício é inferior ao real impacto estrutural nas contas públicas e, portanto o

acordo de refinanciamento da dívida Lei nº 9.496/97 ao estabelecer um limite

de comprometimento de 13% da RLR Média não reflete a realidade, resultando

na geração de Resíduos.

No Capítulo 6, analisamos que o modelo de esgotamento da

arrecadação do ICMS do estado de São Paulo é reflexo da correlação entre a

evolução do crédito (% do PIB) aliada a combinação entre abertura financeira,

valorização dos termos de troca e câmbio apreciado refletindo no baixo

crescimento da arrecadação do ICMS de 2012 ante 2011. Além disso, foi

demonstrada que a política macroeconômica teve um impacto significativo no

Estado de São Paulo no tocante ao PIB , no processo de desindustrialização e

na perda de receita do ICMS em função do crescimento significativo da

importação de produto industrializado.

O Capítulo 7 identificou o processo de desindustrialização no Brasil

como de alto risco não só por afetar o segmento da indústria de transformação

do Estado de São Paulo ,e, portanto impactando na geração de receita do

ICMS, bem como o possível impacto no IGP-DI caso se confirme o cenário de

previsão de alta depreciação do real o que resultaria em uma trajetória de

insustentabilidade da dívida sob amparo da Lei nº 9.496/97 no médio prazo

conforme o que ocorreu em 2002.

O Capítulo 8 baseada na análise de modelo de esgotamento da

arrecadação do ICMS em percentual do PIB do Estado de São Paulo e se

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utilizando do programa Analytica e correlacionando a projeção de cenários de

crescimento do PIB (básico,otimista e pessimista) a cenários de IGP-DI

(básico, alto e baixo) resultou em previsão de RCL, RLR e da Dívida no âmbito

da Lei nº 9.496/97 para o período de 2013 a 2051.

Por último, ajustamos o modelo para realizar simulações de alto risco

da insustentabilidade na trajetória da dívida correlacionando aos cenários de

crescimento pessimista do PIB ao alto IGP-DI e verificamos que a dívida

alcançaria R$ 694,1 bilhões (190,1 da RCL ) em 2028 após um pagamento do

serviço da dívida no montante de R$ 297,9 bilhões de 2012 a 2028.

Concluímos, então, que apesar da geração de superávits primários

robusto em % do PIB no inicio da década de 2000 a dívida do Estado de São

Paulo nunca apresentou uma trajetória de sustentabilidade apesar de ter sido

verificado que de 2001 a 2012 apresentou redução em relação a RCL e ao PIB

em face que a correlação existente entre o custo de financiamento da dívida

foi bem superior ao crescimento real da economia.

Assim, manter as atuais condições de refinanciamento apresenta um

alto risco para as finanças públicas do Estado, bem como o elevado impacto

em termos de crescimento econômico.

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