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        Mestrado em Economia e Administração de Empresas Mudança Organizacional  Introspeção sobre mudança da cultura organizacional à luz da crise no Banco Espírito Santo, S.A.   Cláudio Carvalho ‐ n.º mecanográfico 200500442   Porto, junho de 2015    

Introspeção sobre mudança da cultura organizacional à luz da crise no Banco Espírito Santo, S.A

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Mestrado em Economia e Administração de Empresas 

Mudança Organizacional 

 

Introspeção sobre mudança da cultura 

organizacional à luz da crise no Banco Espírito 

Santo, S.A. 

 

 

Cláudio Carvalho ‐ n.º mecanográfico 200500442 

 

 

Porto, junho de 2015 

 

 

 

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i  

 

 

 

 

 

 

 

 

Venho, por este meio, declarar que o presente trabalho é da minha autoria e não foi utilizado 

previamente noutro ciclo de estudos ou unidade curricular, desta ou de outra  instituição. As 

referências  a  autores  terceiros  respeitam  as  normas  da  referenciação  e  encontram‐se 

devidamente indicadas no decorrer do texto e na listagem das referências bibliográficas. 

 

 

 

 

 ____________________________________________ 

Cláudio Daniel da Silva Carvalho 

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ii  

   

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iii  

Resumo 

As organizações são hoje vistas como meios com histórias, mitos, folclore, emoções, rituais 

e cerimónias. A cultura destas é social e historicamente construída resultando num sistema de 

crenças, normas e expectativas que moldam o pensamento e comportamento dos indivíduos. 

Neste sentido, neste documento sugere‐se que as responsabilidades da crise do Banco Espírito 

Santo (BES) poderão ter assentado mais na sua cultura organizacional do que tão‐somente numa 

"maçã podre". O documento evidencia que a cultura não é só uma variável passível de alteração, 

mas a cultura é também uma metáfora  ("as organizações são"), pelo que há que atender ao 

paradigma, símbolos, rotinas, rituais, histórias e mitos passados. Esta necessidade é sobretudo 

patente no caso de estudo do ex‐BES/atual Novo Banco. Assim, ainda que seja bastante difícil 

alterar a cultura organizacional (que terá propiciado a crise que se conhece), há que procurar 

adotar  uma  abordagem  incremental  de  everyday  reframing  e  com  foco  em  aspetos mais 

complexos e dinâmicos da organização. Este  trabalho  tem uma perspetiva cética quando ao 

paradigma managerialista de mudança planeada aparentemente adotado na resolução da crise 

no BES. Por conseguinte, procura‐se sensibilizar para a  importância de combinar a perspetiva 

planeada  com a perspetiva emergente da mudança e de envolver o global  com o  local. Por 

inerência, procura‐se alertar para a necessidade de envolver vários stakeholders no processo de 

mudança da cultura organizacional, assim como para a relevância de averiguar como as pessoas 

se  entendem  a  si  próprias  e  como  estas  se  relacionam  com  as  iniciativas  de  mudança. 

Concomitantemente, há que  ter cautela quanto ao horizonte  temporal da  resolução efetiva, 

visto que a mudança cultural é um processo lento mas central no sucesso da operação de fusão 

e aquisição (F&A). Neste documento é também sugerido que a estratégia de absorção é a melhor 

decisão de integração no processo de F&A, à luz do conceito estudado. Finalmente, efetua‐se 

uma breve referência aos equívocos da mudança cultural à luz do caso de estudo, apresentando 

sugestões para os evitar ou mitigar. Das várias conclusões deste caso de estudo, destaca‐se o 

facto da cultura organizacional do ex‐BES poder ter estado na origem da crise, a possibilidade 

da cultura organizacional de outros bancos poder potenciar crises similares e a necessidade de 

alterar  o  paradigma  de mudança  de  cultura  planeada  adotado  até  ao momento,  para  um 

paradigma em que coexistam as duas perspetivas (mudança planeada e mudança emergente). 

Palavras‐chave: mudança organizacional, cultura organizacional, Banco Espírito Santo, Grupo Espírito Santo. 

Sistema de classificação JEL: M14  ‐ Corporate Culture, Diversity, Social Responsibility; L29 ‐ Firm Objectives, Organization, and Behavior (Other). 

   

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iv  

Lista de abreviaturas/siglas 

BdP ‐ Banco de Portugal 

BES ‐ Banco Espírito Santo, S.A. 

CMVM ‐ Comissão do Mercado de Valores Mobiliários 

CPIBES ‐ Comissão Parlamentar de Inquérito à Gestão do BES e do GES 

F&A ‐ Fusão e Aquisição ou Fusões e Aquisições (utilizados indistintamente) 

GES ‐ Grupo Espírito Santo  

 

Lista de abreviaturas em latim 

e.g. – exempli gratia (por exemplo) 

i.e. – id est (isto é; ou seja) 

vd. – vide (ver) 

v.g. – verbi gratia (por exemplo) 

 

   

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v  

Índice de conteúdos 

Resumo ................................................................................................................................... iii 

Lista de abreviaturas/siglas ..................................................................................................... iv 

Lista de abreviaturas em latim ................................................................................................ iv 

Índice de figuras ....................................................................................................................... v 

Introdução ................................................................................................................................ 1 

Análise à luz da mudança da cultura organizacional ............................................................... 2 

As origens da crise: “maçã podre” ou problema de cultura organizacional? ...................... 2 

A alteração do BES para “Novo Banco” e a mudança na cultura organizacional ................ 5 

Equívocos da mudança cultural à luz do caso de estudo em causa ................................... 10 

O “Novo Banco” enquanto banco de transição, a estratégia corporativa futura e a mudança 

na cultura organizacional ........................................................................................................ 13 

Conclusões ............................................................................................................................. 15 

Referências bibliográficas ...................................................................................................... 17 

 

Índice de figuras 

Figura 1: Influência cultural no desenvolvimento da estratégia. ............................................. 7 

Figura 2: Matriz de integração em processos de F&A. Fonte: Johnson et al. (2014, p. 339)  14 

 

 

 

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1  

Introdução   

No âmbito da unidade curricular de Mudança Organizacional do Mestrado em Economia 

e Administração de Empresas da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, apresenta‐

se  este  documento  que  consubstancia  uma  introspeção  sobre  o  conceito  de  "mudança  da 

cultura organizacional" à luz da crise no "Banco Espírito Santo, S.A." (doravante, apenas “BES”) 

e  consequente  transferência  da  generalidade  da  sua  atividade  para  o  "Novo  Banco,  S.A.” 

(doravante, designado de “Novo Banco”). Não pertencendo o autor aos quadros da empresa em 

causa,  nem  tendo  qualquer  relação  assente  em  colaboração,  esta  análise  assenta  numa 

perspetiva estritamente externa. Apesar do distanciamento e das  conceções pessoais que o 

autor possa possuir, este documento procura efetuar uma análise tão científica quanto possível, 

mas ainda assim apresenta‐se uma análise que não está desprovida de sentido crítico. 

Depois  uma  caracterização  sintética  do  conceito  de  "cultura  organizacional",  no 

primeiro subcapítulo abordar‐se‐ão as origens da crise e se estas residem num único responsável 

ou pequeno grupo de  responsáveis ou  residem num problema de cultura organizacional. De 

seguida, aborda‐se o conceito de cultura e mudança organizacional à  luz da alteração do BES 

para "Novo Banco". O terceiro subcapítulo aborda os equívocos da mudança cultural à  luz do 

caso de estudo em causa. O quarto subcapítulo lança uma perspetiva sobre o horizonte futuro 

do "Novo Banco" inserido num processo de fusão e aquisição, relacionando‐o com o conceito 

de cultura organizacional. 

Este trabalho é totalmente original, contudo  importa referir que trata‐se de um olhar 

mais aprofundado quanto à  crise no BES. Para efeitos da unidade  curricular de Governo da 

Empresa do mesmo Mestrado, o autor deste documento académico já havia estudado a crise 

do BES na perspetiva dos conflitos de agência e da aplicação das recomendações de governo 

societário de diversas personalidades e entidades.1 Desta feita, este relatório incide na cultura 

organizacional da empresa e do grupo empresarial do qual faz parte e relaciona‐o, de forma 

apenas  sumária,  com  os  conceitos  associados  à  governação  das  sociedades. 

Concomitantemente,  também de  forma  inovadora,  aqui  aborda‐se  a  transição para o Novo 

Banco  e  as  futuras  transições  à  luz  dos  conceitos  da  unidade  curricular  de  Mudança 

Organizacional. 

 

                                                            1 O  trabalho em  causa pode  ser  consultado em http://claudiocarvalho.pt/estudo‐de‐caso‐sobre‐o‐

corporate‐governance‐do‐banco‐espirito‐santo‐s‐a/.  

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2  

Análise à luz da mudança da cultura organizacional   

A  cultura  empresarial  ou  corporativa  tornou‐se  um  conceito  popular  em  estudos 

organizacionais na década de 80 e, particularmente, devido ao sucesso de empresas japonesas. 

As organizações deixaram de ser vistas como burocracias weberianas para passarem a ser vistas 

como meios com histórias, mitos, folclore, emoções, rituais e cerimónias. (Gabriel 2008, p. 56) 

Pina e Cunha et al. (2007) definem cultura organizacional "como um conjunto de valores 

e  práticas  definidas  e  desenvolvidos  pela  organização,  com  base  nos  quais  é  socialmente 

construído  um  sistema  de  crenças,  normas  e  expectativas  que moldam  o  pensamento  e  o 

comportamento  dos  indivíduos"  (p.  636).  Os  autores  acrescentam  que  as  práticas  supra 

referidas  ainda  que  sejam  específicas  de  cada  organização,  na  generalidade,  são  também 

compatíveis  com  os  valores  dominantes  no  contexto  externo,  nomeadamente  no  domínio 

regional e nacional. Daqui decorre que a  cultura organizacional  tem  cariz multidimensional, 

podendo  ser  analisada  nos  seguintes  níveis:  individual,  grupal,  organizacional  e  nacional. 

Importa,  também,  salientar  outras  características  como  o  facto  de  possuírem  influência 

histórica, um alcance coletivo, um caráter dinâmico e por ser algo que pode ser aprendido e 

partilhado  (Pina  e  Cunha  et  al.  2007,  p.  638).  Os  mesmos  autores  realçam  ainda  como 

características a regularidade nacional e a existência de elementos invisíveis e subjetivos, para 

lá dos elementos objetivos e visíveis. 

Daqui resultam, desde logo, seis pontos (divididos por quatro subcapítulos) relevantes 

para abordar a temática a que o autor deste documento de cariz académico se propõe.  

As origens da crise: “maçã podre” ou problema de cultura organizacional? 

O primeiro ponto foca‐se nas origens da crise. Poder‐se‐á acreditar que a crise no BES e 

no Grupo Espírito Santo (GES) poderá ter sido criada por uma “maçã podre”? Ou terá sido – pelo 

menos, em certa medida  ‐ a cultura organizacional do BES e do GES que  terá propiciado ou 

potenciado a crise?  

Se,  como  se  referiu  acima,  a  cultura  organizacional  é  socialmente  construída  e  é 

desenvolvida coletiva e historicamente ‐ i.e. a cultura é criada coletivamente e as organizações 

têm e são culturas, vd. Pina e Cunha et al. (2007, p. 638) ‐ será pouco crível acreditar que a culpa 

da "prática de atos de gestão gravemente prejudiciais aos interesses do Banco Espírito Santo, 

S.A. [e a culpa da] violação de determinações do Banco de Portugal que proibiam o aumento da 

exposição  a  outras  entidades  do  Grupo  Espírito  Santo"  (BdP  2015)  residia  somente  na 

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3  

administração do BES ou tão só no ex‐Presidente da Comissão Executiva Ricardo Espírito Santo 

Silva Salgado. Ainda que possa ser confortante acreditar que uma "maçã podre" ou uma fração 

possa ter sido responsável por eventos destes (i.e. "maçãs podres" fazem maus barris ou cestos) 

‐ perspetiva micro ‐, maus barris ou cestos também podem fazer "maçãs podres" ‐ perspetiva 

macro ‐, como destacam Ashforth et al. (2008, p. 672 e 678). Não obstante, os mesmos autores 

consideram que uma perspetiva mais profunda considera que as variáveis interagem dentro e 

entre níveis de análise e esta perspetiva mais profunda é tida como de cariz mais processual. 

Alinhados com esta posição, a título exemplificativo, Nielsen e Massa (2013, p. 143) consideram 

que as causas da crise da grande recessão de 2008‐2009 foram muito mais do que meras causas 

individuais (ou devido a "maçãs podres") e até muito mais do que apenas algumas organizações 

com práticas incorretas (ou "maus barris" ou "maus cestos"). 

A  corporate  governance  (também  denominada  por  governo  societário,  governo  da 

sociedade, governo da empresa ou governança corporativa) abrange estruturas de autoridade 

e estruturas de fiscalização ‐ internas e externas ‐ do exercício da sociedade para assegurar que 

esta estabelece e concretiza eficaz e eficientemente atividades e relações contratuais alinhadas 

com os fins privados com as quais foi criada, assim como para assegurar que são mantidas as 

responsabilidades sociais associadas à existência da sociedade (Silva et al. 2006, p. 12). Alguns 

dos  elementos  concretos  são  os mecanismos:  (i)  de  votação  e  controlo  da  sociedade;  (ii) 

supervisão, administração e fiscalização (estando aqui incluídas matérias associadas à eficácia e 

eficiência dos sistemas de gestão de risco e do sistema de controlo interno); (iii) remuneratórios; 

(iv)  de  auditoria;  (v)  de  prevenção  de  conflitos  de  interesses  e  transações  com  partes 

relacionadas; (vi) de reporte ou de informação (CMVM 2013). Por outro lado, se se considerar 

que a "rede cultural abrange artefactos ou subsistemas organizacionais como as assunções tidas 

em comum e como garantidas no seio da organização (i.e. o paradigma), símbolos, estruturas 

de poder, a estruturação organizacional, sistemas de controlo, rotinas e rituais e, ainda, histórias 

e mitos (Johnson 1992, p. 31; Johnson et al. 2014, p. 155‐162), verifica‐se uma "interseção" entre 

os  conceitos  de  "cultura  organizacional"  e  "corporate  governance". Neste  sentido,  importa 

destacar que o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito à Gestão do BES e do GES 

(doravante CPIBES) datado de 28 de abril de 2015,  cujo deputado  relator  foi Pedro Saraiva, 

detetou deficiências ao nível dos mecanismos ou estruturas de corporate governance referidos, 

como, por  exemplo, os mecanismos  de  fiscalização,  estruturação organizacional  e  auditoria 

(CPIBES 2015, p. 249) e ao nível dos conflitos de  interesses  (CPIBES 2015, p. 263). Portanto, 

parece estar implícita a ideia de que a cultura organizacional proporcionou ou potenciou a crise 

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4  

conhecida.  Não  obstante,  o mesmo  relatório  da  CPIBES  (2015)  parece  suportar  ambas  as 

hipóteses de influência da cultura organizacional e a da afetação da "maçã podre": 

"A gestão do GES, sobretudo na área financeira, mas igualmente na área não financeira, assentava num regime centralizado, essencialmente, na pessoa de Ricardo Salgado, que era profundo conhecedor, até ao detalhe, de tudo o que de mais relevante se passava no GES, tomando frequentemente decisões de  forma  unilateral,  que  eram  depois  comunicadas  aos  restantes  ramos  da família e estruturas de gestão;  (...) Esta  cultura organizacional nalguns  casos decorre de um verdadeiro casamento conveniente, especialmente no que diz respeito  a  alguns  membros  da  família  Espírito  Santo,  por  conjugar  a  sua passividade  com  um  estilo  de  liderança  autocrática  exercido  por  Ricardo Salgado, concentrando em si mesmo  informação e decisões que nem sempre eram  partilhadas,  ou  só  o  eram  de  forma  parcial  junto  de  outros administradores ou  responsáveis do GES;  (...) Este  estilo de  gestão encontra tradução nos  inúmeros cargos de presidência assumidos por Ricardo Salgado, no modo como eram conduzidas as reuniões do Conselho Superior do GES, do Conselho de Administração e da Comissão Executiva do BES, mas  igualmente nas soluções de orgânica interna adotadas no BES, onde determinadas funções eram diretamente por ele tuteladas, ou ainda do seu envolvimento direto, sem ser  através  das  correspondentes  hierarquias  ou  por  vezes  sequer  do  seu conhecimento, em diferentes tipos de assuntos". (CPIBES 2015, p. 262)  

 

Neste excerto estão também patentes diversas características da cultura organizacional 

ou da referida rede cultural (culture web), nomeadamente quanto aos rituais e rotinas inerentes 

ao  GES  e  BES,  quanto  à  estrutura  de  poder  tida  como  autocrática  e  quanto  à  estrutura 

organizacional tida como centralizada. Ou seja, uma cultura baseada no poder. Ademais, pode 

ler‐se  que  "prevalecia  portanto  ao  que  tudo  indica  no  GES  uma  cultura  organizacional  de 

centralização  das  tomadas  de  decisão  e  onde  eventuais  divergências  perante  orientações 

superiores  não  eram  fáceis  de  assumir,  pelas  eventuais  consequências  que  tal  poderia 

representar" (CPIBES 2015, p. 306). Ainda, assim, não parecem ser taxativas as referências que 

suportam a hipótese da "maçã podre", visto que são também imputadas responsabilidades aos 

gestores de  conta na  transação de determinados produtos  financeiros,  como o produto do 

mercado monetário “papel comercial”. No CPIBES (2015), pode ler‐se que a comercialização de 

tais produtos  financeiros eram efetuados de  forma  "especialmente  agressiva por diferentes 

gestores  de  conta  do  BES,  junto  de  diversos  tipos  de  clientes,  mesmo  quando  estes 

apresentavam um perfil conservador ou muito conservador" (p. 384). Concomitantemente, para 

lá das características referidas acima, perante este excerto, pode‐se verificar as rotinas e rituais 

dos gestores de conta, assim como o paradigma de comercialização de produtos financeiros. 

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5  

Este documento realça também a necessidade de criação de uma cultura de exigência, o que 

reforça a necessidade de mudar o paradigma (CPIBES 2015, p. 400). 

O exposto permite, à partida, afastar que as responsabilidades tenham origem numa 

única fonte, uma "maçã podre", isto é, ao Presidente da Comissão Executiva do BES à altura. O 

sistema  de  corporate  governance  e  a  própria  cultura  organizacional  parecem  ter  tido  uma 

influência  mais  substantiva.  Consequentemente,  parece  justo  inferir  que  existem 

responsabilidades partilhadas entre os stakeholders internos (i.e. acionistas, gestores de topo, 

gestores  intermédios e pessoas  com  responsabilidades mais operacionais  como gestores de 

conta), mas também externos  (i.e. auditores externos e, eventualmente, reguladores). Daqui 

resulta que um afastamento da hipótese da "maçã podre" e eventuais alterações das estruturas 

de poder ou de estruturas organizacionais poderão não ditar propriamente o fim do paradigma 

passado, dos  rituais  e  rotinas,  isto  é, da  cultura organizacional.  Este  será um ponto que  se 

analisará mais adiante de forma mais aprofundada. 

A alteração do BES para “Novo Banco” e a mudança na cultura organizacional 

O segundo ponto relaciona‐se com o exposto supra. O exposto também implica que a 

alteração da designação da empresa para Novo Banco e da imagem comunicacional, ainda que 

com algumas  reestruturações nomeadamente na estrutura de ativos e no  topo da estrutura 

organizacional,  terão  pouco  impacto  efetivo.  Isto  suporta‐se  no  facto  do  Conselho  de 

Administração do Banco de Portugal  ter deliberado a  transferência de  recursos humanos  (e 

demais recursos materiais para  lá da generalidade dos ativos e passivos) do BES para o Novo 

Banco (BdP 2014a), da cultura organizacional ser construída social e coletivamente e pelo facto 

da cultura organizacional ser difícil de alterar, existindo uma "ancoragem" das pessoas às suas 

ideias,  valores e  tradições. Tal matéria poderá  ter  importância  acrescida  se  for  verossímil  a 

acusação de que os gestores de conta do BES tiveram um comportamento ético condenável ou 

até violaram disposições  jurídicas‐legais aquando da comercialização de papel comercial das 

holdings GES (Cavaleiro 2015; JN 2015), como referido. Tal poderá resultar num loop, ou seja, 

existindo uma “ancoragem” das pessoas às  suas  ideias, valores e  tradições,  fruto da cultura 

organizacional do BES que terá transitado para o “Novo Banco” poder‐se‐á dar uma repetição 

dos acontecimentos. Poderá aceitar‐se questionar se tais práticas não se manterão mesmo, no 

limite,  afastando  todos  os  gestores  de  conta.  Este  cenário  “virtual”  ou  “ideal”  mesmo 

verificando‐se, não afasta a hipótese de loop, visto que não justifica a potencial passividade de 

terceiros, nomeadamente de gestores intermédios ou de outros recursos humanos da empresa 

ou de empresas do grupo. 

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6  

Quanto ao terceiro ponto, como se referiu, se se efetuar uma análise ao contexto da 

cultura organizacional do BES à luz de Johnson (1992, p. 31) e Johnson et al. (2014, p. 155‐162), 

devem‐se considerar elementos como as assunções tidas em comum e como garantidas no seio 

da organização (i.e. o paradigma), símbolos, estruturas de poder, a estruturação organizacional, 

sistemas de  controlo,  rotinas e  rituais  e,  ainda, histórias. A  informação disponível e  a  visão 

externa (e não interna) do autor deste documento não permitem uma análise detalhada neste 

domínio, contudo, pode‐se identificar algumas diferenças na culture web do BES face ao Novo 

Banco. Como  já se referiu, existe uma alteração de símbolos, de determinadas estruturas de 

poder e organizacionais, assim como – ao que tudo indica ‐ dos sistemas de controlo, todavia as 

histórias, rotinas e rituais da empresa estão potencialmente bastante enraizadas. Até porque 

importa alertar que o BES é uma instituição com origens que remetem para o século XIX, pelo 

que naturalmente histórias, rotinas e rituais estarão fortemente enraizadas. Tal levanta dúvidas 

quanto à eficácia da ação das entidades  reguladoras, nomeadamente do Banco de Portugal, 

visto  que  as  ações  parecem  assentar  sobretudo  em  medidas  planeadas  e  à  superfície, 

removendo  (as  consideradas)  “maçãs  podres”  e  designações/símbolos  (i.e.  Banco  Espírito 

Santo). Além disso, a suposta intenção da CPIBES em criar uma “cultura de exigência” poderá 

não  passar  de  uma  declaração  de  intenções  não  praticáveis.  No  entender  do  autor  deste 

documento, estas ações  (e  intenções) poderão ser escassas para evitar a repetição de novos 

eventos similares, ainda que perante o desempenho conhecido do BES pareça ser efetivamente 

necessário alterar‐se a cultura desta  instituição, visto que esta propiciou ou potenciou a sua 

crise  (conforme suportado acima). Note‐se que, à  luz de  Johnson et al.  (2014, p. 154‐155), a 

mudança de cultura deve ser o terceiro passo depois de procurar estabelecer controlos mais 

apertados  (e  de  procurar  melhorar  a  operacionalização  da  estratégia  atual)  e  depois  de 

reconstruir ou desenvolver novas estratégicas (vd. figura 1). 

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7  

 Figura 1: Influência cultural no desenvolvimento da estratégia.  

Fonte: Johnson et al. (2014, p. 155). 

 

Ainda que a crise do BES, pela gravidade da situação e potencial de risco sistémico, possa ter 

suscitado  inicialmente uma mudança de cariz mais  top‐down e portanto uma mudança mais 

disruptiva ou de  rutura, para que a mudança seja eficaz e eficiente, existe a necessidade de 

melhorias contínuas, incrementais e de cariz mais local (ou, em melhor rigor, conciliar o global 

com o local). Ou seja, há a necessidade de conciliar a perspetiva da mudança planeada com a 

perspetiva da mudança emergente, equilibrando o nível global com o nível  local. A mudança 

organizacional deve assentar num processo contínuo, sendo a mudança vista como o resultado 

de decisões operacionais e administrativas e de ações tomadas diariamente por membros da 

organização  (Alvesson  e  Sveningsson  2008,  p.  27).  Este  tipo  de  mudança  na  perspetiva 

processual  implica  perceber  o  ambiente  complexo  e  caótico  de  uma  organização  ‐  e, 

particularmente do BES,  ‐ procurando adaptar a empresa a consequências  imprevistas como 

resistências,  processos  políticos,  ambiguidades,  negociações  e  salvaguardar  interpretações 

diversas e maus entendimentos. A mudança planeada não salvaguarda estas consequências, 

como referem Alvesson e Sveningsson (2008, p. 28). Este caso revela claramente a necessidade 

de que  "os  gestores devem  estruturar  as  suas  intervenções de mudança  em  função  (...) da 

situação particular vivenciada pela própria organização e pelos elementos que a constituem" 

(Pina  e Cunha  et al. 2007, p. 861),  visto que  só  as  intervenções desenhadas  em  função do 

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8  

contexto poderão  ser eficazes. Há que perceber que as pessoas  resistem à mudança, que a 

tarefa é gerir a dinâmica e não as peças e que as pessoas não podem ser geridas como se se 

tratassem de sistemas fechados ou máquinas. A gestão da mudança é um processo de eficácia 

contingente e não passível de  lógicas prescritivas e universais,  como demonstra a evidência 

empírica existente. (Pina e Cunha et al. 2007, p. 860‐861) 

Na verdade, a mudança do BES para Novo Banco parece ter sido idealizada como um grande 

projeto  tecnocrático e não parece  ter existido um equilíbrio entre ambas  as perspetivas da 

mudança e entre o global e o local. Uma das “provas” deste ponto é o facto da demissão dos 

administradores cooptados para a administração do Novo Banco ‐ i.e. Vítor Bento (presidente 

executivo), José Honório (vice‐presidente) e João Moreira Rato (administrador financeiro) ‐ ter 

ocorrido  por  supostas  divergências  de  visões. Ao  que  é  noticiado  a  administração  cessante 

pretendia  apostar  numa  estratégia  de médio  prazo  para  desenvolver  o  banco,  contudo  o 

Governo e o Banco de Portugal pretendiam (e pretendem) vender a curto prazo. (BdP 2014b; 

Ferreira 2014; Público 2014). Ora, acabou por prevalecer a visão do Governo e do Banco de 

Portugal, numa tónica aparentemente top‐down e managerialista. Parecem ter sido definidas as 

metas  e  a  direção  estratégica,  sinalizando  a  mudança  como  um  grande  projeto, 

independentemente da avaliação das circunstâncias locais. Esta abordagem parece dificultar a 

mudança de comportamentos dos recursos humanos que transitam do BES para o Novo Banco 

e é possível que surjam mais más interpretações e maus entendimentos a nível local, tal como 

surgiu, desde logo, com Vítor Bento e os demais administradores. Mudança não é um processo 

puro,  apolítico  e  linear  como  sugere  a  orientação  racionalista  e  não  é  expressado  em 

recomendações para se seguir um número de passos como um guia (Alvesson e Sveningsson 

2008, p. 33), típico da abordagem de mudança planeada. Concomitantemente, como realçam 

Alvesson e Sveningsson (2008, p. 46), há que ser cauteloso quanto a visualizar a cultura como 

um objeto homogéneo que pode  ser mudado apenas pela adoção de mensagens e práticas 

(como parece o ser o caso da mudança aparentemente aplicada no ex‐BES/atual‐Novo Banco). 

A perspetiva da mudança emergente parece ir mais longe, procurando envolver os membros de 

toda  a  organização  numa  abordagem  incremental,  informal  e  diária  (everyday  reframing)  e 

focando‐se em aspetos mais complexos e dinâmicos da organização, assim como em aspetos do 

domínio  político  e  cultural. Neste  sentido,  havia  e  há margem  para  entidades  reguladores 

atuarem,  nomeadamente  na  mobilização  de  energia,  na  criação  da  nova  direção,  na 

identificação de barreiras organizacionais  e no desenvolvimento da  visão, mas  tal pode  ser 

partilhado com a gestão de topo do Novo Banco e esta pode, por sua vez, conferir empowerment 

aos gestores intermédios e tolerar e dar liberdade para a participação e iniciativas da restante 

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organização, particularmente da linha hierárquica e do centro operacional da empresa. Tal como 

a combinação da  teoria E  (que procura a maximização do valor acionista) e a  teoria O  (que 

defende o desenvolvimento de capacidades organizacionais) advogam, deve ser estabelecida a 

direção  no  topo  e  envolver  as  pessoas  abaixo,  focando  a mudança  simultaneamente  nas 

estruturas e sistemas como na cultura e planear para a espontaneidade (Beer e Nohria 2000, p. 

134  e  137).  Ademais  os  incentivos  ‐  financeiros  e  os  voltados  para  o  desenvolvimento  de 

competências  ‐ devem ser utilizados para reforçar a mudança mas não para a conduzir, e os 

consultores externos deverão ser especialistas que dão empowerment aos empregados e não 

que analisam meramente os problemas ou formulam apenas soluções. Portanto, o Novo Banco 

deveria ter adotado ou deverá adotar iniciativas tipicamente incrementais e informais e onde 

pequenos  grupos  de  pessoas  tenham  um  papel  central  juntamente  com  uma  liderança 

pedagógica (Alvesson e Sveningsson 2008, p. 34 e 46). Esta abordagem, que procura averiguar 

como as pessoas se entendem a si próprias e como estas se relacionam com as  iniciativas de 

mudança, parece ser a abordagem mais consentânea com os  intuitos de salvaguardar que o 

processo de reestruturação do BES é bem‐sucedido. Trata‐se de uma abordagem que combina 

o global com o  local, que promove uma maior  ligação ao nível dos significados e que é mais 

realista que a abordagem managerialista (Alvesson e Sveningsson 2008, p. 47). O Conselho de 

Administração do Novo Banco e os  gestores  intermédios devem  inspirar,  legitimar e  apoiar 

continuamente as iniciativas locais dos constituintes do centro operacional. 

Tal  como  salientam  Alvesson  e  Sveningsson  (2008,  p.  176)  a  transformação  da  cultura 

organizacional deve envolver todas as pessoas e não apenas uma elite e, no entender do autor 

deste documento académico, o que vem acontecendo é precisamente uma abordagem oposta 

à sugerida por estes autores. Como Alvesson e Sveningsson (2008) referem “a base da mudança 

cultural deve ser os significados e as orientações da maioria dos trabalhadores e não o mundo 

dos  sonhos  de  gestores  de  topo  e  consultores  com  pouco  contacto  com  os  significados  e 

orientações expressos no dia‐a‐dia da vida organizacional”  (p. 176). Com  isto, o autor deste 

documento académico não advoga que não haja intervenção dos reguladores, nomeadamente 

do Banco de Portugal, mas que haja um equilíbrio que salvaguarde os  interesses de todos os 

stakeholders  de  forma mais  duradoura,  ao  invés  de  uma  postura  de  procura  de  resultados 

imediatos. Até porque a cultura é um fenómeno lento (“culture is a slow‐moving phenomenon”), 

como suportam Alvesson e Sveningsson (2008, p. 176). Outro aspeto relevante é assegurar que 

a mudança tem um sentido coletivo forte, visto que “se aqueles que promovem e forem vistos 

como  simbolizando  a mudança  cultural  forem  tidos  como outsiders ou na periferia de uma 

organização, então a credibilidade do projeto de mudança (…) será questionada” (Alvesson e 

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Sveningsson 2008, p. 177). Ora, considerando que o projeto é liderado pelo Governo e Banco de 

Portugal,  aparentemente  de  forma  top‐down,  pode  haver  aqui  um  risco  na  transição  bem‐

sucedida para um novo paradigma e para novos  rituais e  rotinas. Neste  sentido é,  também, 

importante envolver empregados e gestores intermédios no projeto de mudança e proporcionar 

interações frequentes e intimistas, promovendo diálogo, dando sentido e fazendo sense making, 

reportando  e  efetuando  follow‐up  e  encorajando mecanismos  de  feedback,  como  sugerem 

Alvesson e Sveningsson (2008, p. 177‐178). Por exemplo, o comprometimento com a mudança 

cultural não pode ser desenvolvida por correio eletrónico, tem que ser feito cara a cara e em 

tempo real, visto que esta mudança é alcançada através de ações ao invés de palavras (Cameron 

e Green 2009, p. 268)  

O  quarto  ponto  trata‐se  de  uma  reserva  quanto  ao  facto  de  se  considerar  o  BES  uma 

excecionalidade,  o  que merece  uma  referência  neste  trabalho.  Como  se  apresentou  supra, 

considera‐se frequentemente a cultura organizacional do BES como uma cultura que promove 

a autocracia e a centralização do poder. Ora, em matéria de estrutura e de cultura existe a 

tendência das organizações se conformarem com a moda do momento e as organizações de um 

determinado setor têm a tendência a estruturarem‐se de modo similar, ainda que a estrutura 

possa não se adequar a todas as organizações da mesma forma (Mintzberg 2010, p. 323). Tal 

revela, não só, a característica managerialista one size fits all, como também o facto de culturas 

deste género não serem características do GES ou BES. Portanto, poderá ser necessário rever a 

visão que se tem sobre as culturas organizacionais dos bancos e se estas promovem o melhor 

alinhamento dos  interesses entre gestores, acionistas e demais stakeholders, nomeadamente 

os  seus  próprios  recursos  humanos  e  a  própria  sociedade.  Tal  faz  salientar  ainda mais  a 

importância de envolver os próprios quadros da empresa no processo da mudança da cultura 

organizacional.  

Equívocos da mudança cultural à luz do caso de estudo em causa 

O quinto ponto que convém alertar é para a possibilidade de equívocos da mudança cultural 

à  luz  do  caso  de  estudo  que  se  tem  vindo  a  analisar.  Entre  os  equívocos,  destaca‐se  a 

hipercultura  (hyperculture),  a  anorexia  simbólica  (symbolic  anorexia),  o  valor  limitado  dos 

valores  (the  limited value of values), a  cultura como  "aquilo ao  invés de nós"  (working with 

culture as an ‘it’ rather than ‘we’) e o conhecimento limitado (limited knowledge). (Alvesson e 

Sveningsson 2008, p. 165‐171) 

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A hipercultura tem a tendência de seguir o exemplo de outros e de utilizar rótulos e temáticas 

usadas comummente em imprensa na área de gestão e em visões empresariais, resultando em 

problemas de desconexão da realidade organizacional específica. Ainda que a hipercultura possa 

ser positiva para consultores externos, especialistas em comunicação, gestores de tempo e  ‐ 

acrescenta o autor deste documento académico ‐ entidades reguladoras e governamentais, para 

a produção de documentos com vocabulário adequado e para a produção de discursos públicos, 

tem inconveniências a nível local, onde as palavras devem ser utilizadas de forma mais concreta 

e aplicadas às experiências reais. (Alvesson e Sveningsson 2008, p. 165‐166) 

A anorexia simbólica está associada à utilização limitada de material simbolicamente rico ao 

longo da mudança (Alvesson e Sveningsson 2008, p. 166). Como já foi referido, em certa medida, 

‐ e como é reforçado por Alvesson e Sveningsson (2008, p. 166) ‐ a cultura é um conceito que 

incide na partilha de significados e símbolos (i.e. eventos, ações, objetos materiais, expressões 

e histórias), que sintetizam e expressam significados de uma forma rica e condensada. Daqui 

decorre  a  importância  de  comunicar  exemplos  credíveis  e  com  caráter  pedagógico  que 

transmitam alguma mensagem ou valor relevante, nomeadamente para a escala local (i.e. será 

recomendável  interligar  este  conceito  com  o  abordado  no  conceito  anterior)  (Alvesson  e 

Sveningsson 2008, p. 167). 

Ao contrário de diversa literatura, Alvesson e Sveningsson (2008, p. 167) consideram que os 

valores não são elementos tão centrais na cultura organizacional, nomeadamente na influência 

que  exercem.  Os  valores  são  indispensáveis,  contudo  existem  algumas  dificuldades  em 

compreender o significado por detrás dos mesmos e estes são demasiado consensuais, leia‐se 

desprendidos de conteúdo. Assim é importante estabelecer um foco nos significados, que são 

habitualmente subestimados e até negligenciados. (Alvesson e Sveningsson 2008, p. 167‐168) 

É  bastante  comum  os  indivíduos  verem  a mudança  como  a mudança  "daquilo"  ou  dos 

"outros", ao invés da mudança dos próprios valores e significados. A mudança é habitualmente 

percebida como a mudança (dos valores e crenças) do segmento da maioria das pessoas alvo de 

mudança pela gestão de topo (eventualmente, juntamente com consultores externos). Assim, a 

mudança deve ser vista como "nós temos que mudar", incluindo todos os indivíduos, entre os 

quais os agentes da própria mudança. Estes devem também rever as suas próprias assunções, 

crenças e significados. (Alvesson e Sveningsson 2008, p. 169‐170) 

A autoconfiança combinada com a ignorância dos atores que promovem a mudança faz com 

que estes conheçam efetivamente muito pouco do que realmente se passa. Ademais, existem 

casos em que a gestão de topo acredita que os recursos humanos são especialistas em mudança 

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cultural  e  outros  casos  em  que  os  gestores  de  topo  acreditam  que  há  alguém  a  encetar  a 

mudança cultural sem ser eles. Este conhecimento  limitado característico da gestão de  topo 

sobre os diferentes níveis da organização pode, contudo, ser mitigado ouvindo melhor as outras 

partes da organização (nomeadamente, as suas visões e significados), sendo modesto e curioso 

para com os outros e abrindo canais para a emissão de críticas e  feedback para os alvos da 

"melhoria". (Alvesson e Sveningsson 2008, p. 170‐171) 

Do exposto decorre que, à luz do caso de estudo, as entidades reguladoras e o atual Conselho 

de  Administração  do  Novo  Banco  devem  ter  o  cuidado  de  tornar  claro  os  documentos  e 

discursos produzidos para o centro operacional da empresa e demais stakeholders, evitando 

ambiguidades e o  surgimento de  resistências e garantindo o  sucesso da mudança desejada. 

Quanto às resistências e ambiguidades há que efetuar uma breve referência. Isto é, tal importa 

atender aos efeitos no gap entre o que a gestão pretende e expõe e aquilo que os membros da 

organização  acreditam  que  é  verdadeiro,  até  porque  atualmente  os  recursos  humanos  de 

diferentes níveis hierárquicos atribuem razões muito diferentes para as iniciativas de mudança 

(Ogbonna e Harris 1998, p. 284). A cultura organizacional é de difícil alteração, mas ainda assim 

é possível alterá‐la e controlá‐la, como se aludiu e em consonância com Harris (2002, p. 699). 

Não obstante, existem potenciais consequências indesejadas e as alterações de valores podem 

não ser genuínas, sendo fruto de técnicas coercivas sofisticadas pela gestão de topo ou um mero 

cumprimento  ou  adesão  instrumental  aos  valores  por  trabalhadores  mais  astutos,  como 

destacam os mesmos autores. Quanto a estas potenciais  consequências  indesejadas há que 

atender  aos  fatores  que  podem  influenciar  as  reações  positivas  e  resistências  ou  reações 

negativas dos recursos humanos, entre os quais: força subcultural, o grau de diferença entre as 

atitudes e  comportamentos  atuais e os desejados, as  condições do mercado  laboral  local e 

nacional,  a  sofisticação educacional, os mecanismos de persuasão e  coerção,  a posição dos 

recursos  humanos  na  hierarquia  da  empresa,  as  perspetivas  de  desenvolvimento  de  uma 

carreira no seio da empresa, as experiências anteriores em programas de mudança, género, 

situação  laboral,  a  natureza  da  posição  no  emprego  do  recurso  humano,  extensão  da 

ambivalência,  extensão  em  que  as  medidas  adotadas  foram  tidas  como  exploradoras, 

proximidade  de  recursos  humanos  alternativos  e  capacidades  e  carisma  dos  gestores  de 

mudança mais próximos (Harrir 2002, p. 700). No contexto particular do caso de estudo que se 

vem analisando, as maiores resistências poderão advir do grau de diferença entre as atitudes e 

comportamentos  atuais  e  os  desejados,  a  posição  dos  recursos  humanos  na  hierarquia  da 

empresa  e  as  perspetivas  de  desenvolvimento  de  uma  carreira  no  seio  da  empresa. 

Considerando que o Novo Banco é um banco de transição, poderá haver poucas perspetivas de 

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desenvolvimento  de  uma  carreira  ou  perspetiva  de  evolução  desfavorável  do  status  na 

hierarquia. Ademais, as atitudes e comportamentos desejados poderão ser bastante diferentes 

das anteriores, dada a cultura organizacional típica do ex‐BES. Poder‐se‐á avizinhar como fontes 

de resistências as pessoas mais próximas do Conselho de Administração e da Comissão Executiva 

do  ex‐BES  que  se  mantenham  (eventualmente)  na  empresa,  nomeadamente  na  gestão 

intermédia,  caso não  sejam envolvidas – por exemplo, por empowerment – no processo de 

mudança que está a decorrer. 

Ademais, a nova administração deve acentuar o caráter simbólico, transmitindo mensagens 

e valores  relevantes,  credíveis e pedagógicos e não apenas diretrizes genéricas que possam 

induzir  ambiguidades  interpretativas.  Não  basta  só  pretender  sinalizar  a  necessidade  de 

estabelecer uma "cultura de exigência" no Novo Banco (ex‐BES) como vem sendo feito e que se 

exemplificou com o relatório da CPIBES. É fundamental tentar demonstrar o que está por detrás 

da  "cultura  de  exigência",  focando  a  preocupação  nos  significados  e  interpretações. 

Concomitantemente,  entidades  reguladoras, o poder  legislativo  e o poder  executivo devem 

conceber a mudança da cultura do Novo Banco como a sua própria mudança cultural.  Isto é, 

estas devem refletir sobre a cultura de transparência que promovem, sobre as suas próprias 

assunções ou paradigmas, as suas rotinas e rituais no que a esta temática diz respeito, ou seja, 

quanto à regulação do setor bancário e financeiro. Por conseguinte, o autor deste documento 

advoga  que  mais  do  que  imputar  responsabilidades  a  posteriori‐  como  as  que  vêm  sido 

realizadas ‐, deve ocorrer uma mudança cultural de reguladores e poder político para prevenir 

situações futuras (ou a priori). A mudança não deve ser vista tão só como a mudança do ex‐BES 

ou até do setor bancário e financeiro, mas também como a mudança de todo um sistema que 

se articula e que deve funcionar tão harmoniosamente quanto possível por checks and balances. 

A este respeito, também, o próprio Conselho de Administração do Novo Banco deve assumir a 

mudança como uma mudança sua e não só do seu centro operacional (e.g. gestores de carteiras 

dos seus clientes). Finalmente, é recomendável que estes atores (i.e. Conselho de Administração 

do Novo Banco, entidades  reguladoras e poder  legislativo e executivo) evitem ou mitiguem 

equívocos  advindos do  seu  conhecimento  limitado do que  realmente  se passa na  realidade 

quotidiana do Novo Banco. Neste sentido, sugere‐se uma abordagem humilde do processo de 

mudança dos atores supra referidos e a abertura de canais abertos de feedback e de críticas 

para com todos os constituintes do Novo Banco. 

O “Novo Banco” enquanto banco de transição, a estratégia corporativa futura e a mudança na cultura organizacional 

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14  

O sexto e último ponto a analisar assenta no facto do Novo Banco ser tido como um 

banco  de  transição  pelo  Banco  de  Portugal,  pelo  que  importa  refletir  sobre  que  estratégia 

corporativa deverá ser adotada pela empresa adquirente (tomando em conta o framework da 

figura 2). A integração é frequentemente um desafio devido a problemas de fit organizacional, 

nomeadamente pelas potenciais diferenças de cultura organizacional entre empresas ou grupos 

empresariais (Johnson et al. 2014, p. 337). Uma má integração pode ditar o insucesso de uma 

operação de fusão ou aquisição (F&A), como se espera que seja este caso. 

 

Figura 2: Matriz de integração em processos de F&A. Fonte: Johnson et al. (2014, p. 339) 

 

Se  a  estratégia  for  de  preservação,  considerando  que  preservar‐se‐á  a  autonomia 

organizacional, vai‐se acabar por perpetuar estratégias e práticas antigas, assentes na cultura e 

sistemas anteriores –  tal como  refere, em certa medida,  Johnson et al.  (2014, p. 339)  ‐ que 

propiciaram a crise. Se a estratégia for de manter como holding, considerando que haverá uma 

estrutura paralela, o que é comum quando se adquire empresas em más condições financeiras 

(como menciona desde logo Johnson et al. 2014, p. 340), também existe o risco de “perpetuar” 

os modos de pensar, valores e ideias. O mesmo se aplica se a estratégia for de simbiose, que 

assenta  na  manutenção  da  autonomia  organizacional  e,  consequentemente,  na  cultura 

organizacional  (Johnson et al. 2014, p. 339‐340). Em alternativa, a estratégia de absorção do 

adquirente  sobre o Novo Banco parece  ser a mais adequada,  se  se  considerar que o grupo 

empresarial adquirente será uma  instituição bancária (tal como se espera). Tal suporta‐se no 

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facto de existir baixa necessidade de autonomia organizacional, até porque tal não é desejável 

pela  crise  ocorrida  e  pela  imagem  transmitida  aos  diversos  stakeholders,  e  na  elevada 

interdependência estratégica entre  adquirente e Novo Banco. Concomitantemente,  importa 

referir que esta parece ser a estratégia mais comum em fenómenos de F&A de bancos a nível 

nacional. Não obstante, no capítulo da mudança na cultura organizacional, tal cenário levanta 

dúvidas sobre qual é a cultura que se conseguirá impor: será a do Novo Banco (ex‐BES) ou a do 

grupo empresarial adquirente? De qualquer das formas, a estratégia de absorção parece ser a 

única plausível e a menos arriscada, à luz do conceito da cultura organizacional. Ainda assim, há 

que atender que as empresas do setor tendem a seguir estruturas por modas, como já se referiu: 

“(…) em matéria de estrutura e de cultura existe a tendência das organizações se conformarem 

com  a moda  do momento  e  as  organizações  de  um  determinado  setor  têm  a  tendência  a 

estruturarem‐se  de modo  similar,  ainda  que  a  estrutura  possa  não  se  adequar  a  todas  as 

organizações da mesma forma (Mintzberg 2010, p. 323).”. Paralelamente, no entender do autor 

deste documento, as próprias culturas organizacionais dos bancos como um  todo têm claras 

semelhanças, não obstante, o caso do BES  ter certas particularidades, nomeadamente a sua 

história.  

 

Conclusões 

Neste documento, de forma crítica, procura‐se levantar algumas reservas quanto à assunção 

comum de que crise do BES terá tido origem na estratégia e práticas de um só indivíduo ou de 

uma  fração.  Em  alternativa,  sugere‐se  que  a  origem  poderá  ter  incidido  na  sua  cultura 

organizacional  baseada  no  poder  autocrático  e  faz‐se  alusão  a  um  certo  paralelismo  de 

estruturas e culturas no setor bancário. Por este raciocínio, a cultura organizacional de outros 

bancos poderá potenciar crises similares.  

Assim, e considerando que a cultura é um processo holístico, que envolve uma construção 

social e histórica e não é tão só a "soma das partes", exige‐se que as pessoas mudem os seus 

comportamentos, mas  sobretudo  que  as  pessoas  alterem  a  sua  forma  de  pensar  para  se 

identificarem com os comportamentos mais desejáveis para todos os stakeholders e não apenas 

para uma minoria de stakeholders (como a gestão ou acionistas). Não obstante, a cultura não é 

só uma variável passível de alteração, mas a cultura é também uma metáfora ("as organizações 

são"),  pelo  que  há  que  atender  ao  paradigma,  símbolos,  rotinas,  rituais,  histórias  e mitos 

passados.  

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Apresentando argumentos que suportam uma crítica ao paradigma managerialista patente 

na mudança planeada da cultura organizacional no processo de reestruturação do ex‐BES/atual 

Novo Banco, no presente documento deixa‐se notória a possibilidade e importância de conciliar 

elementos  da  perspetiva  de mudança  planeada  com  elementos  da  perspetiva  de mudança 

emergente. Particularmente, é  importante assegurar um processo de mudança duradouro e 

incremental, de conciliar o global com o  local, de estabelecer um foco nos resultados e de se 

procurar averiguar como as pessoas se entendem a si próprias e como estas se relacionam com 

as  iniciativas de mudança. Concomitantemente, verifica‐se que será natural o surgimento de 

ambiguidades na estrutura organizacional e  resistências advindas de pessoas eventualmente 

próximas da gestão de topo do ex‐BES. No sentido de evitar equívocos da mudança cultural, 

sugere‐se que a nova administração acentue o caráter simbólico,  transmitindo mensagens e 

valores relevantes, credíveis e pedagógicos e não apenas diretrizes genéricas que podem induzir 

ambiguidades de interpretação. Sugere‐se também a abertura de canais abertos de feedback e 

de  críticas  para  com  todos  os  constituintes  do  Novo  Banco  e  que  entidades  reguladoras. 

Adicionalmente,  sensibiliza‐se para a necessidade do poder  legislativo e do poder executivo 

conceberem  a mudança  da  cultura  do Novo  Banco  como  a  sua  própria  (oportunidade  de) 

mudança cultural. 

Finalmente, tendo em conta a reestruturação do Novo Banco, refere‐se também que à luz 

do conceito de "cultura organizacional", a estratégia de F&A potencialmente mais adequada 

seria a de absorção. Esta estratégia exige uma baixa necessidade de autonomia organizacional 

e permite uma elevada interdependência estratégica entre os intervenientes. 

 

   

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