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3 Estava assistindo a um filme na TV quando minha mãe chega em casa, meia hora depois do incidente com Erik ter acabado. Cecília prepara a pipoca e senta-se comigo no quarto. Ficamos vendo filme à noite toda. Era quase três horas da manha quando finalmente consegui dormir. ***** Olho pela janela do quarto, a que tem vista para a entrada do terreno e vejo o carro de Erik parado na calçada. Erik estava encostado na lataria do carro olhando para a casa. Ele me vê. Sorri. Seu sorriso era encantador, quase como o de Scott, a única diferença era que o de Scott tinha um toque assustador que Erik não tinha. Então Erik aponta para o carro, ele está me chamando para sair! Balanço a cabeça afirmativamente e vou me arrumar. Estava saindo do banho, quando ouço uma batida na porta do banheiro. Não pode ser. Não tem

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Estava assistindo a um filme na TV quando minha mãe chega em

casa, meia hora depois do incidente com Erik ter acabado.

Cecília prepara a pipoca e senta-se comigo no quarto. Ficamos vendo filme à noite toda. Era quase três horas da manha quando finalmente consegui dormir.

*****

Olho pela janela do quarto, a que tem vista para a entrada do terreno e vejo o carro de Erik parado na calçada. Erik estava encostado na lataria do carro olhando para a casa. Ele me vê. Sorri. Seu sorriso era encantador, quase como o de Scott, a única diferença era que o de Scott tinha um toque assustador que Erik não tinha. Então Erik aponta para o carro, ele está me chamando para sair!

Balanço a cabeça afirmativamente e vou me arrumar. Estava saindo do banho, quando ouço uma batida na porta do banheiro. Não pode ser. Não tem ninguém em casa. Mamãe saiu faz mais de duas horas. Termino de me vestir e ouço novamente batidas, mas dessa vez elas ecoam pela porta vinda do corredor.

Entro em pânico.

-Quem está aí?

Silencio. Alguns minutos se passaram.

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- Tem alguém aí? – Mal termino de falar e ouço mais duas batidas na porta.

O silencio foi tomando conta da casa. Esperei um tempo em absoluto silencio até que tenho certeza de que não escutara nada. Que tudo tinha sido minha imaginação que sempre fora muito fértil. Abri a porta. Nada. Ninguém. A casa está em absoluto silêncio.

Olho pela janela, Erik não estava mais lá, só o carro. A porta da frente bateu, eu grito assustada. Scott estava na porta do meu quarto com uma faca na mão. Como ele conseguiu entrar? Mamãe devia ter chaveado a porta, ela sempre tranca a casa toda.

A porta da frente bate de novo, entro em pânico, alguém mais está aqui. Scott não parecia ter notado que a porta lá em baixo havia batido, a não ser que ele estivesse esperando por mais alguém. Scott deu dois passos em minha direção. Um homem, que ela não reconheceu adentrou silenciosamente o quarto.

Pulou. E veio em minha direção. E... Arrancou a faca de Scott. Jogando-o no chão. Eles começaram a brigar.

Vi Scott recuperar a faca e apunhalar o homem bem no meio das costelas com ela. O homem sangrava, Scott ria e eu, desesperada, gritava.

Erik entrou no quarto cambaleando sem ser notado, pelos outros que ainda brigavam. O homem misterioso havia arrancado a faca e agora apontava ela na direção do pé esquerdo de Scott. Erik envolveu-me protetoramente com seus braços e sussurrou palavras sem sentido em meu ouvido. E a escuridão me pegou.

Naquele dia acordou mais tarde do que o normal, e por conseqüência perdi o primeiro período de aula. Em quanto ia para a escola, pensou ter sonhado com Erik durante a noite anterior, mas não lembrou o que acontecera no sonho.

Chego à escola dez minutos antes do sinal do segundo período tocar. Enquanto aguardava, fui andando em direção a minha próxima aula,

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biologia. Ao passar pelo banheiro masculino, vi uma figura sair de lá. Erik estava com uma mochila nas costas. Parecia que ele também havia perdido o período.

- Passou bem à noite? - Erik sorriu.

- É, acho que sim – Respondi confusa, as palavras relutavam em sair – e você?

- Também, embora não tenha dormindo muito – Ele sorriu como se isso fosse uma piada particular.

Notei que ele não tinha olheiras muito profundas. Naquele instante o sinal tocou. Esperamos que todos saíssem antes de Erik segurar a porta aberta e fizesse sinal para que eu passasse primeiro.

Sentamos lado a lado em nossos lugares. Erik não tirara os olhos de mim até aquele momento. Devolvo o olhar, esperando que ele percebesse que isso estava me incomodando. Mas esta pequena ação haviatido um efeito inesperado. Erik sorriu – aquele sorriso que me deixa hipnotizada – não consegui desviar os olhos até que o professor, chamou a atenção de todos.

- Na aula de hoje, quero que vocês interajam com seus parceiros e busquem saber mais de sua vida. Quero um relatório escrito a mão amanhã sobre o que descobrirão.

Fico quieta, Erik olha ao redor da sala e então volta a olhar para mim.

- Então? – Erik perguntou – Não sei de você, mas eu não to nem um pouco a fim de fazer nada agora. O que você acha de a gente sair pra jantar e aí fazer o trabalho?

Fico muda. Não sei o que responder. Minha mãe não estaria em casa, então eu podia sim ir jantar. O único problema era que eu não sabia se queria sair sozinha com Erik. Afinal, eu não sabia nada sobre o cara e também não tava a fim de falar nada agora.

- Ta.

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- Vai querer que eu te pegue em casa? – Ele sorriu, percebi na hora o duplo sentido daquelas palavras.

- Só vou querer uma carona. Às oito da noite pra mim ta OK.

- OK. Estarei lá às oito.

Passei o restante da aula pensando e fantasiando como seria a noite. Já Erik, pegou uma folha do caderno e começou a desenhar.

No final da aula dei uma espiada discreta por cima de seu ombro só pra ver o que ele estava desenhando, mas Erik notou meu olhar antes mesmo de ele chegar à folha de papel. E guardou o desenho, mesmo eu implorando para que ele me mostrasse o que estivera desenhando ele não disse nada. Nem mostrou do desenho.

*****

A noite se aproximava, já eram quase sete horas quando fui me arrumar para o jantar. Não sei por que, mas uma saia rosa – que não vestia há mais de dois meses - estava chamando minha atenção, resolvi colocá-la. Ficou ótima principalmente agora que estava mais justinha.

Acabo escolhendo uma blusa branca com um decote meio grandinho, mas que combina perfeitamente com a saia. Dou um pulo quando ouço a campainha soar. Não esperava por isso, na verdade - Erik não parecia o tipo de pessoa que encantava as mães das namoradas. Se bem que eu não estou namorando com ele para ele ter que encantar minha mãe. – Mas eu esperava que ele desse uma buzinada com seu carro.

- Já vai! – Grito enquanto pego a bolsa que havia ganhado no natal passado.

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Desço a escada correndo e abro a porta. Erik estava lindo, na verdade, ele parecia um Deus, com uma jaqueta de couro preta e uma calça jeans azul marinho. Ah, e ele estava com um óculo super escuro, tão escuro que eu não conseguia nem ver o brilho de seus olhos por trás deles.

- Oi, Você está linda.

- Oi, hmm você também. – De repente fico nervosa, não sabia o que fazer em seguida. Mas não foi preciso pensar. Erik falou.

- Podemos? – Seu sorriso se amplia quando balanço a cabeça afirmando.

Fecho a porta e o sego até o carro. Erik abre a porta do carona e faz sinal para que eu entre. Rapidamente, entro no carro, sentindo a insegurança do primeiro encontro.

- Como foi a tarde? – A voz de Erik estava tão sedutoramente melosa que acabo sentindo os pelos da nuca se arrepiar.

- Boa. E a sua? – Estava tentando não parecer tão nervosa quanto estava, mas naturalmente não conseguiu esconder muito bem meu nervosismo, pois Erik me lançou aquele sorriso encantador.

- Eu não mordo. – Assim que terminou de dizer isso arrependeu-se, meus olhos encheram-se de lágrimas. Ele pega minha mão delicadamente e a aperta suavemente. – Que houve? Disse alguma coisa errada?

Demoro a responder. Quase não conseguindo segurar as lágrimas que ameaçavam escorrer por meu rosto. Ele foi paciente, esperando eu me recompuser.

Quando consigo controlar as lágrimas falo.

- Meu pai – Será que posso contar para ele? Será que consigo? – Há dois anos, eu, minha mãe e meu pai. Estávamos passeando na chácara do meu tio. No final da tarde ouvimos um barulho que parecia um uivo. E corremos. Eu caí, tropecei em uma pedra. Meu pai foi me ajudar a levantar. Voltamos a correr – Erik parecia fascinado com a história, tirou

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os óculos e olhou-me, me dando apoio – Estávamos correndo tão rápido que mal ouvimos meu pai gritar por ajuda. A roupa dele havia se enroscado em um galho de árvore. Minha mãe disse para eu continuar correndo, que logo estaríamos na casa do meu tio. Eu corri, fiz o que ela pediu. Ela voltou correndo para ajudar meu pai. Então vi o lobo que havia uivado. Gritei alertando-os. Mas não acho que ela tenha ouvido... – Minha voz foi sumindo até quase não se escutar mais, quando percebi isso parei de falar para me recuperar. As lágrimas finalmente escorriam por meu rosto.

- Calma, calma. Está tudo bem. Vem cá – Ele me puxou para seu peito e eu fui. Estava tão arrasada. Nunca havia contado essa história para ninguém.

Quando me perguntavam de meu pai, eu só dizia que ele não morava mais comigo e mudava de assunto.

- Minha mãe não chegou perto de papai a tempo. Quando o lobo uivou novamente ela parou e olhou para mim. Gritou para que eu corresse que tudo ia ficar bem. Mas meu pai ainda estava preso em um galho. Ele gritou por minha mãe de novo, levando a direção dos seus pensamentos para ele. Ele gritou ‘Cecília, corre, vá com nossa filha’. Ela ficou parada por um tempo...

Ele começou a acariciar meus cabelos. Um leve sorriso aparece em meus lábios.

- Ela ficou parada por um tempo, enquanto o lobo se aproximava por trás de meu pai. Mas logo em seguida ela entendeu o que papai havia falado. Ela saiu correndo atrás de mim, deixando papai distraindo o lobo para que tivéssemos tempo para entrar na casa antes que alguma coisa acontecesse. – Lágrimas brotaram em meus olhos, mas já não escorriam mais.

Erik me abraçou com força. Quando finalmente percebi que não estava mais chorando, olhei para o relógio do painel. 20:45 PM. Desvencilhei-me devagar de seus braços.

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- Tudo bem – Ele não parecia irritado por termos perdido tanto tempo – quer ir jantar?

- Claro. – sorri, nunca tinha pensado que contaria sobre meu pai, muito menos para meu namorado. Quer dizer, para minha companhia da noite. Para meu colega de biologia, acho que fica melhor.

Não demorou nem cinco minutos e já tínhamos chegado ao restaurante. Era um daqueles restaurantes que minha mãe nunca me levaria. Minha mãe é uma daquelas pessoas que tentam economizar em tudo. Mas esse restaurante, nossa, Erik parecia encantado em ter me surpreendido.

- Não sabia se você já tinha vindo aqui, mas parece que ainda não.