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CADERNO ESPECIAL DIARIO de P P E E R R N N A A M M B B U U C C O O DOMINGO Recife, 10 de julho de 2011 EXPEDIENTE: Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Anamaria Nascimento, Nina Wicks e Tânia Passos Edição: Karla Veloso e Gabriel Trigueiro Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro Para fazer o Recife andar Com quantos prédios e carros se faz a imo- bilidade de uma cidade? Depende das ruas, do próprio sistema viário e da qualidade do transporte público. Mas a mobilidade vai mui- to além do transporte individual ou público. Todas as formas de deslocamento são váli- das. O bê-à-bá deveria começar pelas calça- das. Somente no Recife, cerca de 20% da po- pulação se deslocam a pé. Nossos passeios são mal cuidados, em geral têm obstáculos. Ou- tros são desnivelados, quase ladeirados. Ou- tros sequer existem. É nessa condição que a macromobilidade vem sendo discutida e o nosso dever de casa ainda não foi feito. Esta- mos longe também de dispor de um sistema de ciclovias eficiente. O que existe são trechos sem nenhum tipo de conexão. As necessida- des são urgentes e o calo aperta mais quanto entra em cena o transporte individual. Na contramão de uma lógica de mobilida- de, a aposta pelos automóveis tem sido uma opção preferencial não só aqui, mas em to- do o mundo. O preço dessa escolha pode ser visto nos engarrafamentos que enfrentamos todos os dias. O tempo que perdemos no trân- sito é em média de 30%. Imagine o desperdí- cio disso em uma semana, um mês ou um ano. O Plano de Mobilidade do Recife prevê alternativas a longo prazo. Mas já há inter- venções sendo apresentadas para reduzir o im- pacto dos entraves, como a construção da Via Mangue, o alargamento do Capitão Temudo e a reestruturação da CTTU. Igualmente im- portante é a operação sistemática de manu- tenção das vias que, por enquanto, é pouco perceptível. E, finalmente, a aposta no trans- porte público. As linhas alimentadoras do transporte complementar são hoje peças fun- damentais no contexto da mobilidade, mas sem esquecer a imprescindível necessidade de melhoria do sistema viário. No Fórum De- safios para o Trânsito do Amanhã, promovi- do pelos Diários Associados, fizemos um raio x do que existe hoje na capital pernambuca- na e do que ainda está por vir. Até 2014, espe- ramos um novo trânsito e principalmente uma nova mobilidade urbana para a capital e a Região Metropolitana. ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

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CADERNO

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DOMINGORecife, 10 de julho de 2011

EXPEDIENTE: Diretora de redação: Vera Ogando Textos: Anamaria Nascimento, Nina Wicks e Tânia Passos Edição: Karla Veloso e Gabriel Trigueiro Edição de fotografia: Heitor Cunha Edição de arte: Christiano Mascaro

Para fazer oRecife andarComquantos prédios e carros se faz a imo-

bilidade de uma cidade? Depende das ruas,

do próprio sistema viário e da qualidade do

transportepúblico.Masamobilidadevaimui-

to além do transporte individual ou público.

Todas as formas de deslocamento são váli-

das. O bê-à-bá deveria começar pelas calça-

das. Somente noRecife, cerca de 20%da po-

pulação se deslocam a pé. Nossos passeios

sãomalcuidados,emgeral têmobstáculos.Ou-

tros são desnivelados, quase ladeirados. Ou-

tros sequer existem. É nessa condição que a

macromobilidade vem sendo discutida e o

nosso dever de casa ainda não foi feito. Esta-

mos longe tambémdedispor de um sistema

decicloviaseficiente.Oqueexiste são trechos

semnenhum tipode conexão. As necessida-

des sãourgentes e o calo apertamais quanto

entra em cena o transporte individual.

Na contramão de uma lógica demobilida-

de, a aposta pelos automóveis tem sido uma

opção preferencial não só aqui, mas em to-

do omundo. Opreço dessa escolha pode ser

visto nos engarrafamentos que enfrentamos

todososdias.O tempoqueperdemosno trân-

sito é emmédia de 30%. Imagine odesperdí-

cio disso em uma semana, um mês ou um

ano. O Plano de Mobilidade do Recife prevê

alternativas a longo prazo. Mas já há inter-

vençõessendoapresentadasparareduziro im-

pactodosentraves, comoaconstruçãodaVia

Mangue, o alargamento doCapitão Temudo

e a reestruturação da CTTU. Igualmente im-

portante é a operação sistemática demanu-

tenção das vias que, por enquanto, é pouco

perceptível. E, finalmente, a aposta no trans-

porte público. As linhas alimentadoras do

transportecomplementar sãohojepeças fun-

damentais no contexto da mobilidade, mas

sem esquecer a imprescindível necessidade

demelhoriado sistemaviário.NoFórumDe-

safios para o Trânsito doAmanhã, promovi-

dopelosDiáriosAssociados, fizemosumraio

x do que existe hoje na capital pernambuca-

naedoqueaindaestáporvir.Até2014, espe-

ramos um novo trânsito e principalmente

uma novamobilidade urbana para a capital

e a RegiãoMetropolitana.

ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS

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Desde 2003, quando foicriada, a Companhiade Trânsito e Trans-porte Urbano (CTTU)

nunca viveu uma transformaçãotão intensa. Medidas como dupli-cação do número de agentes, aqui-sição de viaturas, melhoria na si-nalização das vias e instalação desemáforos que funcionam mes-mo com chuva forte devem se tor-nar realidade até o próximo ano.A reestruturação foi um dos te-mas debatidos na 3ª edição do Fó-rum Desafios para o Trânsito doAmanhã, promovido pelos Diá-rios Associados.

Aumentar o contingente de téc-nicos e guardas municipais foi to-mado como prioridade pela presi-dente da CTTU, Maria de PompéiaLins, que elaborou o projeto dereestruturação. No início do ano,eram 290 agentes de trânsito.Atualmente são 400 e o efetivo de-ve aumentar ainda mais após a

realização de um concurso públi-co previsto para agosto. Mais 200agentes serão contratados, totali-zando 600, ou seja, mais que o do-bro da quantidade inicial.

Segundo Maria de Pompéia, astransformações na empresa abran-gem três segmentos: a parte físi-ca, os equipamentos e o quadro depessoal. “Nosso maior desafio éfazer com que os motoristas fi-quem felizes com o trânsito. To-das as questões necessárias paraque tenhamos uma empresa defiscalização e controle de trans-porte que responda às necessida-des dos recifenses são levadas emconsideração”, frisou.

Entre as ações já desenvolvidaspela CTTU está a melhoria dos se-máforos da cidade. Mais de 200equipamentos estão recebendobateria como fonte de energia al-ternativa. “Uma das principais re-clamações era quanto ao desliga-mento dos semáforos quando cho-via. Esses equipamentos são mui-to importantes para o fluxluxf o deveículos e não podem ter só umafonte de energia”, explicou Ma-ria de Pompéia, autora da ideiadas baterias. Os semáforos das ave--nidas Agamenon Magalhães, Ca-

xangá e Norte funcionam com afonte alternativa. “Até agosto, osequipamentos da Rua Real da Tor-re, das avenidas ConselheiroAguiar e Dois Rios e de outras viasestarão com as baterias”.

A ideia da presidente da CTTU jáfoi, inclusive, exportada para SãoPaulo. “A capital paulista tambémtem problemas de desligamentode semáforos com a queda de ener-gia. Os paulistas viram reporta-gens sobre nossa ideia e quiseramimplantá-la por lá também. Umaempresa recifense desenvolve a tec-nologia que eles vão implementarna cidade. É muito bom ver nossaideia expandindo”.

FuturoDe acordo com Maria de Pompéia,ainda há muito o que ser feito pa-ra se chegar a uma situação idealpara o trânsito do Recife. Entreas melhorias previstas para os pró-ximos anos está o aumento nonúmero de equipamentos eletrô-nicos. O Recife conta hoje com 24fotossensores que registram oavanço de sinal e aumento de ve-locidade. O projeto de reestrutu-ração da empresa prevê um au-mento no número dos equipa-

mentos. “A aquisição de mais se-máforos, fotossensores e lombadaseletrônicas está sendo discutida eainda vai passar por processo delicitação, por isso ainda não háum prazo, mas podemos garan-tir que o número de equipamen-tos vai aumentar”, disse.

Outra questão que está sendodiscutida pela CTTU é a estrutu-ra física da empresa. A CTTU fun-ciona, desde 2003, na Rua FreiCassimiro, 91, em Santo Amaro,área central do Recife. O prédio

não pertence à empresa e não ofe-rece estrutura física sufucientepara os funcionários e visitantesda companhia. “As salas são real-mente pequenas e não dão confor-to suficiente às pessoas. Não é im-possível trabalhar aqui, mas a es-trutura pode ser melhorada”, afiriraf -mou Maria de Pompéia. Segundoela, a intenção é se instalar noimóvel da antiga Companhia deTransportes Urbanos (CTU), loca-lizado na Rua Treze de Maio, 207,também em Santo Amaro.

desafios para o trânsito do amanhã

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2 DIARIOddddeeeePPPPEEEERRRRNNNNAAAAMMMMBBBBUUUUCCCCOOOO - Recife, domingo, 10 de julho de 2011especial

saibamais+

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ÓrÓrgão intensificamonitoramentodo trânsito diantedo aumento dofluxo de veículos

CTTU investeempessoal e tecnologia

Plano deMobilidadeUrbana doRecife

Oplano inclui cinco eixos a seremdesenvolvidos pela CTTU:

1.Eliminação de giros àesquerda:Entre a Avenida Norte e a Ruada Hamonia: proibido a partir de9 de julho

Entre a Avenida AgamenonMagalhães e a Avenida RuiBarbosa e entre a AvenidaAgamenonMagalhães e a RuaHenrique Dias: proibido a partirde 23 de julho

Entre a a Avenida Norte para aRua Gomes Coutinho: proibidoa partir de 30 de julho

NaAvenida Mascarenhas deMorais, embaixo do viadutoTancredo Neves: proibido apartir de 3 de setembro

2.Melhoria nos semáforos:Até agosto deste ano, 210 gruposde semáforos estarão operandocomo sistema de baterias

3. Sinalizações mais eficientes:ACTTU tematé 2012 paramelhorar a sinalização, complacas e pintura, por exemplo, nasprincipais vias do Recife

4. Disciplinamento nosentornos dos mercadospúblicos:Inclui a regulamentação deestacionamento, alémdaimplantação emanutenção desinalização horizontal e vertical.Osmercados deAfogados,ÁguaFria, BoaVista,CasaAmarela,Cordeiro, Encruzilhada,Madalena,NovaDescoberta eSãoJosé receberão oordenamento até o próximo ano

5.Melhoria viária:Ações paramelhorar o tráfegonas principais vias do Recife.ARuaJosé deAlencar, no bairro daBoaVista, por exemplo, terá osentido invertido até dezembrodeste ano

Fonte: CTTU

“O grande vilão do trânsito é oprocesso de carga e descarga”. Foicom essa frase que a presidente daCTTU começou a falar sobre osproblemas de mobilidade no Re-cife. Segundo Maria de Pompéia,além de intervenções físicas, a em-presa está elaborando um proje-to de lei que pretende regulamen-tar a operação de carga e descar-ga de mercadorias além do Cen-tro Expandido (Bairro do Recife,Boa Vista, Santo Antônio, São Jo-sé, Santo Amaro, Ilha do Leite e Ca-banga), onde a lei municipal, de1996, que estabelece regras paraque esse tipo de transtorno nãoaconteça, já vale.

A intenção é fazer com que acarga e descarga seja regulamen-tada em todos os bairros do Reci-fe. A lei já proíbe a parada e o es-

tacionamento de veículos detransporte, com comprimento su-perior a 6 metros nos dias úteis noCentro Expandido, nos corredo-res de transporte coletivo do Cen-tro e nos corredores metropolita-nos, urbanos principais e secun-dários, das 7h às 19h. Na AvenidaBoa Viagem, as sinalizações colo-cadas pela CTTU estabelecem re-gras para carga e descarga na via.O serviço pode ser realizado das5h às 8h e das 17h às 20h e só po-de ser executado por cargas e des-cargas de mercadorias especiaisou emergenciais, pois a legisla-ção dá respaldo a esses serviços.

O projeto será encaminhado àCâmara dos Vereadores neste anoe, caso seja aprovado, ficará proi-bida a parada e o estacionamen-to de carga e descarga das 6h às

22h, de segunda a sábado, em vá-rios bairros. “A ideia é fazer comque não só o motorista do veícu-lo que está realizando a carga oua descarga seja punido, mas tam-bém a empresa que está receben-

do ou enviando mercadoria. Éuma ação conjunta com outrosórgãos da prefeitura”, explicouMaria de Pompéia, afiriraf mando queainda não há prazo para a proibi-ção entrar em vigor.

Carga e descargaserão regulamentadas

Números da CTTU

66 câmeras demonitoramento

24 fotossensores

24 lombadas eletrônicas

400 agentes detrânsito

642 semáforos detrânsito

31 motocicletas

38 viaturas

Fonte: CTTU

FOTOS: TERESA MAIA/DP/D.A.PRESS

Número de agentes atuando nas ruas dobrou neste ano

Central de operações da companhia em Santo Amaro. Projeto de reestruturação buscamelhorar as estruturas interna e externa

>>diariodepernambuco.com.br

Vídeo do FórumDesafios para oTrânsito do Amanhã

acesse

/vidaurbana

Falta de ordenamento atrapalha o trânsito e gera risco para os próprios trabalhadores

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Quando se fala se mobilida-de urbana, desafogamen-to do trânsito e sustenta-

bilidade, muitos planos de açãoapontam para o uso de bicicletascomo transporte, seja prioritárioou complementar. Hoje o Recifepossui 24km de ciclovias construí-das. As principais estão localiza-das na avenidas Norte, Boa via-gem e do Forte. Não há ligaçõesentre elas, uma das principaisqueixas dos usuários, que preci-sam se aventurar no meio do trân-sito para chegar ao seu destino.

O plano de mobilidade urbanada Prefeitura do Recife prevê aconstrução de 424km de ciclovias.A solução integrada às outras su-gestões de mobilidade, como oaperfeiçoamento das calçadas eincentivo ao transporte público,procura minimizar o uso de car-ros. Mas tem prazo de construçãoprevisto para 20 anos.

Para o garçom Luiz Carlos Go-mes, 43, que mora no Prado, Zo-na Oeste do Recife, visitar a mãeem Olinda virou uma tarefa di-fícil. Desde que adotou a bicicle-ta como meio de transporte, elepassou a restringir as visitas, queagora acontecem uma vez pormês. “Percorrer 20km até Olin-da sem uma estrutura que meofereça segurança e facilite meuacesso é muito desgastante”, ava-liou o ciclista.

Também adepto da bicicleta, omotorista Henrique Lucena da Sil-va, 20, já quebrou dois dedos dopé em uma colisão com um veí-culo. “Por falta de ciclovias, a gen-te tem que se arriscar no trânsi-to mesmo. E os carros não respei-tam as bicicletas. Quando saio decasa, tenho a ciclovia da Avenidado Forte. Mas quando chego naAvenida Caxangá não tem mais”.

Segundo o presidente do Insti-tuto da Cidade do Recife - Pelópi-das Silveira, Milton Botler, a prio-ridade é para as ciclovias que dãoacesso aos corredores de transpor-

te público. “Inicialmente pensa-mos nas bicicletas como transpor-te complementar. Ao invés de per-correr 20km, o ciclista pedalaria3km e em seguida utilizaria al-gum transporte público. Para is-so, precisamos também da cons-trução de bicicletários”, esclare-ceu Botler. “Faz muito pouco tem-po que se incorporou o tema deacessibilidade às políticas públi-cas. Com o plano todo executado,teremos uma malha perfeita de li-gamento entre as ciclovias. Maspara isso é preciso tempo e inves-timento”, completou.

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desafios para o trânsito do amanhã

Recife tem 24km desseacesso contruído. Metaé implantar mais 424kmno prazo de 20 anos

Percorrer 20km

atéOlinda sem

estrutura que

ofereça segurança

é um risco”

“Luiz Carlos , 43, que mora no Prado e usaa bicicleta para visitar a mãe, em Olinda

Na Avenida Caxangá, ciclistas se aventuram emmeio aos carros por falta de uma via apropriada para o veículo

Anecessidadede ciclovias

FOTOS:

RICARDO

FERNANDES/DP/D

.APRESS

Hoje existem 24 km deciclovias construídas, nosseguintes pontos

Avenida do ForteEngenho domeioAvenida 21 deAbrilAvenida NorteCentroAvenida Brasília FormosaAvenida BoaViagem

Os novos trechos

74kmde cicloviasnos corredores hidrográficos

Rio BeberibeRio CapibaribeCanal do arrudaIlha do RetiroMustardinhaRio MornoRio TejipíóVia MangueCanal do Jordão

120km de cicloviasnos corredores de transporte

Avenida BeberibeAvenida NorteCorredor Leste-OesteAvenida Abdias de CarvalhoAvenida Mascarenhas deMoraisCorredor Norte-Sul3ª Perimetral4ª perimetral

156km de ciclofaixas

Avenida NorteAvenida Maurício de NassauAvenidaAgamenonMagalhãesCais José EstelistaIbura a Boa viagemRuaMaria IreneDois IrmãosVárzea

saibamais+

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Andar pelas calçadas doRecife tem sido umato cada vez mais tor-tuoso. São tantos os

obstáculos no passeio que a mo-bilidade dos 20% da populaçãoque se deslocam a pé pela cidadeé dificultada ou até impedida. Osgalhos ou raízes de árvores, bar-racas ambulantes, sacos de lixoou desníveis que atrapalham o ca-minho dos que transitam pelasvias da capital pernambucana são,também, responsabilidades doscidadãos. O fato é que a lei muni-cipal das calçadas - n°16.890/03,aprovada há oito anos, não tem si-do respeitada. A legislação deter-mina que os proprietários façama manutenção de sua própria cal-çada. Muitos recifenses, porém,não conhecem a lei. Outros sa-bem que devem cuidar do passeioem frente à residência, mas con-tinuam a desrespeitar a norma.

A pedagoga aposentada Luzine-te Lopes, 68 anos, moradora dobairro de Santo Amaro, na áreacentral do Recife, conhece a leimunicipal e sabe que deve cuidardo trecho da calçada da Rua Pau-

lino Câmara que fica em frente àsua casa. “Sei que tenho que man-ter minha calçada bem cuidada elivre de obstáculos. Já fiz um repa-ro nela, inclusive”, contou. O vizi-nho dela, no entanto, desconheciaa legislação até a chegada da repor-tagem do Diario de Pernambucona rua. “Nunca tinha ouvido falarnesta lei. Estava por fora, mas ago-ra estou sabendo”, afirmou o en-genheiro Sílvio Rêgo, 59 anos.

As calçadas mal cuidadas pre-judicam muitas pessoas, mas, prin-cipalmente, os idosos e deficien-tes físicos. A aposentada MarianaPereira, 88 anos, por exemplo, sen-te muita dificuldade ao caminhariculdade ao caminhardifpelo Recife. Além da idade avan-çada, ela sofre de artose, umadoença degenerativa das articula-ções. “Já levei três quedas nas cal-çadas da cidade. Ando forçada pe-las ruas, mas preciso resolver meusproblemas e não tenho quem fa-ça isso por mim”, disse. O cadei-rante Marcelo Costa, 47, trabalhana área central do Recife e se ar-risca pelas calçadas do centro. “Osburacos e ausência de rampas sãoos maiores obstáculos para os queusam cadeira de rodas. É um so-frimento enorme circular por aquie acabamos nos arriscando aindamais passando pela pista com osveículos”, ressaltou.

FiscalizaçãoA Lei Municipal das Calçadas de-termina, desde 2003, que a ma-

nutenção delas cabe ao proprie-tário do imóvel. Porém, o que sepercebe é que a legislação nãotem sido respeitada. De acordocom a lei, o cidadão pode sermultado de R$ 161,36 a R$2.418,77, dependendo do tipo deinfração cometida.

A Diretoria de Controle Urba-no do Recife (Dircon) é responsá-vel pela fiscalização do cumpri-mento da legislação. A diretorado órgão, Maria José D’Biase, afir-ma que o papel da Dircon vemsendo feito. “Exigimos o cumpri-mento da legislação vigente. An-tes da Lei das Calçadas, já exis-tia a lei federal de acessibilida-

de, de 2000. Novos projetos sósão aprovados se estiverem deacordo com a legislação”.

Ainda segundo D’Biase, a Dir-con faz um trabalho em parce-ria com o Núcleo de Acessibilida-de da Prefeitura e está elaboran-do uma cartilha sobre a manu-tenção das calçadas. “A ideia éoferecer várias opções de padrõesconstrutivos a partir das normasda Associação Brasileira de Nor-mas Técnicas (ABNT). Hoje todosos projetos da prefeitura são con-templados com as normas deacessibilidade. Estamos tambémfazendo trabalhos junto às esco-las, hospitais e praças”, explicou.

desafios para o trânsito do amanhã

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Lei municipaldetermina que osproprietários façam amanutenção dopasseio. Regra que nãovem sendo cumprida

Exigimos o

cumprimento

da legislação

vigente. Novos

projetos só

são aprovados

se a seguirem”

“Maria José D’Biase,diretora da Dircon

saibamais+

Calçadas,o dever de casa

Lei Municipal 16.890/03(“Lei das Calçadas”)

Regulamentada pelodecreto 20.604/04

Trata da construção,manutenção e recuperaçãodas calçadas no Recife

A lei determina queproprietários de imóveisou condôminos sãoresponsáveis pelaconservação das calçadas

Os cidadãos sãolegalmente obrigados aconsertar a calçada emfrente ao seu imóvel dentrodo prazo de 90 dias

Caso não realize o consertoda calçada, o proprietáriopode ser notificado pelaPrefeitura do Recife, sobpena de multa

O valor da multa varia deR$ 161,36 a R$ 2.418,77 edepende do tipo de infração

Caso omunicípio execute oserviço de conserto dacalçada, o proprietário teráainda que pagar umpercentual de 10%acima dopreço do reparo

Cabe a Prefeitura conservaras calçadas quemargeiamosrios, canais, lagos, praias,praças e as que ficamemfrente aos prédios públicos,alémde canteiros centrais deavenidas, praças, parques

Estragos causados por obraspúblicas e privadas devem serconsertados pelas empresasresponsáveis pelas obras

Rampas construídas para aentrada de veículos só sãopermitidas se ocuparematéum terço da largura dacalçada

Aconstrução das rampas sópodeser feita senãoprejudicara arborizaçãoda rua

As calçadas devem serconstruídas e reformadascommateriaisantiderrapantes

Não é permitido deixaralgum obstáculo que impeçao livre trânsito de pedestrespelas calçadas

FOTOS: LAIS TELLES/ESP DP/D.A PRESS

Mariana Pereira, 88: dificuldade para andar nas ruas

Moradora de Santo Amaro, Luzinete Lopes, 68, sabe que deve cuidar do espaço

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desafios para o trânsito do amanhã

Sistema quesubstituiu as kombisatende demanda de

populações queantes sofriam

para se locomover

O sistema é bom,

mas como só

funciona até as

22h, ainda subo

a ladeira a pé

quando chego”

“Anílson Edson, auxiliar de cozinha,morador do Alto do Rosário

saibamais+

Transporte complementarfacilita odeslocamento

Quem lembra das vans ekombis que invadiam ocentro do Recife e trans-

formavam o trânsito em um caos?Oito anos depois, essa cena já nãofaz mais parte da paisagem urba-na da cidade. No lugar delas, sur-giu o transporte complementarcom a função de não mais con-correr com os ônibus e sim fazera complementação do sistema emáreas de difícil acesso ou onde nãohá demanda suficiente. Das 26 li-nhas previstas para entrar em ope--ração desde 2003, oito ainda nãocomeçaram a operar. Elas foram di-vididas em interbairros e alimen-tadoras. Essas últimas são gratui-tas e transportam o passageiro atéa parada de ônibus mais próxima.Já a interbairro tem a função deatender demandas de menor por-te de um bairro para outro. De

acordo com a Companhia de Trân-sito e Transporte Público (CTTU),o sistema complementar atendehoje toda demanda dos altos da ci-dade. De fato melhorou e a própriapopulação reconhece. Mas aindanão é o ideal.

No Alto do Rosário, Zona Nor-te, uma van faz o transporte depassageiros dos moradores até aparada de ônibus mais próxima.Nem sempre foi assim. Antes, pa-ra ter acesso aos ônibus, os mora-dores precisavam vencer a distân-cia do alto até uma região maisplana onde houvesse paradas dosistema regular de transporte. Pa-rece perfeito, mas não é. As ali-mentadoras, em geral, atuam nospontos onde o sistema viário é

ruim. Na Rua Chagas Ferreira, Al-to do Rosário, a via esburacada éum tormento para os passageirose motoristas. “O ônibus quebraumas duas vezes por mês”, reve-la o motorista Giliarde da Silva, 28anos. Na van, encontramos o au-xiliar de cozinha Anílson Edson,32 anos, que estava indo para o tra-balho e pegou carona na linhaalimentadora. “Ficou muito me-lhor para a gente. Mas quandovolto do trabalho subo a ladeiraa pé. Saio depois da meia-noite eas vans só funcionam até as 22h”.

Para a dona de casa Adriana San-tos, 39, a opção da van é suficienticientsuf e.“Vou raramente ao centro. Muitacoisa resolvo no bairro. Desço esubo na van sem pagar. Se precis-

ar ir ao centro, tem ônibus”, afir-mou. De fato, a circulação de ôni-bus nos morros é cena bastantecomum. Segundo o engenheiro eespecialista em transporte, Ger-mano Travassos, a cidade é bemservida de ônibus. “Há uma con-centração de linhas nos morros,mas o ônibus não chega onde o sis-tema viário não permite e ondenão há demanda que justifique”.

A comunidade de Sítio dos Pin-tos, Zona Norte, é uma das que so-licitaram uma linha alimentado-ra, mesmo dispondo de ônibus.“No caso de Sítio dos Pintos, háum problema do sistema viárioque precisa ser resolvido antes deimplantarmos uma alimentado-ra”, explicouadiretorade transpor-

te da CTTU, Bárbara Estolano. Adistância para justificar uma ali-mentadora é de 600 a 700 metros.

Das oito linhas complementaresque ainda não entraram em ope-ração, pelo menos duas não de-vem sair do papel. São as inter-bairros Shopping/Setúbal e Tor-re/CDU. “Essas regiões hoje sãobem servidas de ônibus e não jus-tificaria a implantação de com-plementares. Provavelmente va-mos fazer ajustes dos itinerários”,explicou Estolano. De 2003 a 2011,houve modificações no sisicações no sismodif tema. Oedital previa um número maiorde linhas interbairros. “Hoje agente percebe que há uma deman-da maior pelas alimentadoras”,explicou Bárbara.

O sistema de transporte com-plementar atende 63 bairros e al-tos da cidade e transporta cercade 70 mil pessoas por dia. São 36comunidades atendidas pelas se-te linhas interbairros e 27 que re-cebem as 17 linhas alimentado-ras. Uma das razões para essa dis-paridade é a distância. As linhasinterbairros percorRem trechosde até 30 quilômetros e cobremum número maior de comunida-des. E as alimentadoras têm a fun-ção apenas de levar o passageiro

para a parada mais próxima.Atualmente a CTTU estuda a

implantação de duas novas linhas:uma interbairro ligando o Jordãoao Aeroporto e uma alimentado-ra na Cidade Universitária. “A Ali-mentadora na Cidade Universitá-ria vai evitar que uma grandequantidade de ônibus circule nasruas do campus. O passageiro vaipoder descer nas imediações dareitoria e pegar um transporte. Osistema também vai atender a de-manda interna de um prédio pa-

ra outro já que as distâncias sãograndes”, explicou Bárbara Esto-lano. Segundo ela, tanto a univer-sidade como os empresários deônibus estão simpáticos à inicia-tiva, que ainda não tem data pa-ra ser implantada.

Em oito anos de implantaçãodo complementar a frota estásendo renovada. Os micro-ôni-bus vão dar lugar a ônibus de 21lugares. A mudança na classifi-cação é uma exigência de umalei federal para que todos os veí-

culos tenham o elevador para ocadeirante. “A gente tambémconseguiu redução no IPVA e noICMS da mesma forma que osônibus convencionais”, comemo-rou o presidente da CoopeNorte,Manoel Leôncio Correia. Segun-do ele, já foram adquiridos 40novos ônibus, dos 170 que com-põem a frota do complementar.“Até 2014 toda a frota deverá serrenovada, inclusive das linhasalimentadoras que ainda funcio-nam com vans”, afirmou.

Números do transportecomplementar do Recife

70 milpessoassão transportadas pordia no sistema

63 bairros e altos doRecife são atendidos peloscomplementares

141 veículos compõema frota do sistema

28% da frota já foramrenovados com40 novos ônibus

8 anos é o tempode vida útil dos primeirosmicro-ônibus adquiridos em2003

2014 é o prazo limitepara renovação de toda a frota

Números dos ônibusconvencionais na RMR

385 linhas

2.730 ônibus

1,8 milhãode passageirostransportados ao dia

Fonte: CTTU e Grande Recife

Linhas têm funções distintas

Moradores tinham

quecaminharpor

longasdistâncias

atéasparadas

FOTOS: MARCELO SOARES/ESP. DP/D. A PRESS

No Alto do Rosário, linha alimentadoramelhora o transporte demoradores, mas via está emmás condições

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As obras da nova Estrada da Batalha avançam. Em Prazeres, o segundo elevado do Viaduto do

Bandepe já foi liberado. É mais mobilidade para a Região Metropolitana do Recife e 40 mil

veículos que circulam diariamente pelo local. É mais facilidade de acesso à Suape e às praias do

Litoral Sul. A reforma da via integra, também, as obras de infraestrutura viária do Governo do

Estado para a Copa 2014. Significa novo impulso para o turismo e para o desenvolvimento, com

mais oportunidades para os pernambucanos. Agora e no futuro próximo.

Comprimento: 736m | Largura: 12m | Altura: 8,8m | Investimento: R$ 19,5 milhões

ARMRGANHOUMAISMOBILIDADE.

ODESENVOLVIMENTOTAMBÉM.

Entregueo2ºtrechodoViadutodaEstradadaBatalha.

6 DIARIOddddeeeePPPPEEEERRRRNNNNAAAAMMMMBBBBUUUUCCCCOOOO - Recife, domingo, 10 de julho de 2011especial