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A CONSTRUÇÃO HISTÓRICO SOCIAL DA INFÂNCIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL Simone Helen Drumond Ischkanian Atualmente a modernidade vem contribuindo de forma positiva para caracterização da concepção da criança como um ser distinto, extremamente importante e sobre tudo respeitável. Infância é um conceito, e como todo conceito é resultado de múltiplos poderes: saber, pensar, agir, falar. Nele ficam incorporados, não necessariamente em proporções igualitárias, valores sociais, econômicos, políticos, morais, dentre outros étnicos, raciais, religiosos etc. Daí, ser impróprio falar-se da infância como se fôra um evento único e igualmente vivenciado por todas as crianças. A infância inscreve-se, tanto para cada criança em particular quanto para os sujeitos de seu ambiente familiar e social, de modos distintos e, o mais grave, de modo desigual! Infelizmente, ainda na modernidade, a infância não é passível e possível de uma única representação totalizante de vivência, nem mesmo de uma só ideação sobre ela. A concepção moderna de criança está presente na música, de Martinho da Vila, Tom maior: Está em você O que o amor gerou Ele vai nascer e há de ser sem dor Ah! Eu hei de ver Você ninar, ele dormir Hei de vê-lo andar, falar, sorrir... Também é possível compreender a concepção moderna de criança na música Relampiano de Lenine e Paulinho Moska, não se guarda quaisquer dúvidas quanto à impossibilidade de falar-se de uma só infância: Tá relampiano, cadê neném? Tá vendendo dropes No sinal pra alguém Todo dia é dia, toda hora é hora Neném não demora pra se levantar Mãe passando roupa, pai já foi embora. O caçula chora Mas há de se acostumar Com a vida lá de fora do barraco Hai que endurecer um coração tão fraco

A construção historico social da infancia e as politicas públicas da ed infantil

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A CONSTRUÇÃO HISTÓRICO SOCIAL DA INFÂNCIA E AS

POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Simone Helen Drumond Ischkanian

Atualmente a modernidade vem contribuindo de forma positiva para

caracterização da concepção da criança como um ser distinto, extremamente

importante e sobre tudo respeitável. Infância é um conceito, e como todo conceito é

resultado de múltiplos poderes: saber, pensar, agir, falar. Nele ficam incorporados,

não necessariamente em proporções igualitárias, valores sociais, econômicos,

políticos, morais, dentre outros – étnicos, raciais, religiosos etc. Daí, ser impróprio

falar-se da infância como se fôra um evento único e igualmente vivenciado por todas

as crianças. A infância inscreve-se, tanto para cada criança em particular quanto para

os sujeitos de seu ambiente familiar e social, de modos distintos – e, o mais grave, de

modo desigual! Infelizmente, ainda na modernidade, a infância não é passível e

possível de uma única representação totalizante de vivência, nem mesmo de uma só

ideação sobre ela. A concepção moderna de criança está presente na música, de

Martinho da Vila, Tom maior:

Está em você

O que o amor gerou Ele vai nascer e há de ser sem dor

Ah! Eu hei de ver Você ninar, ele dormir

Hei de vê-lo andar, falar, sorrir...

Também é possível compreender a concepção moderna de criança na música

Relampiano de Lenine e Paulinho Moska, não se guarda quaisquer dúvidas quanto à

impossibilidade de falar-se de uma só infância:

Tá relampiano, cadê neném?

Tá vendendo dropes No sinal pra alguém

Todo dia é dia, toda hora é hora Neném não demora pra se levantar

Mãe passando roupa, pai já foi embora. O caçula chora

Mas há de se acostumar Com a vida lá de fora do barraco

Hai que endurecer um coração tão fraco

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Para vencer o medo do trovão Sua vida aponta a contra-mão.

[...]. É mais uma boca dentro do barraco

Mais um quilo de farinha do mesmo saco Para alimentar um novo João Ninguém

Ou quando se escuta O pivete de Francis Hime e Chico Buarque:

No sinal fechado

Ele transa chiclete E se chama pivete E pinta na janela

Capricha na flanela Descola uma bereta Batalha na sarjeta

E tem as pernas tortas.

As infâncias, aqui retratadas são infâncias que foram e ainda são. em menor

escala, é claro. Essas infâncias estão presentes em nossas escolas públicas e são

alvo preferencial dos meios de comunicação de massa, quando de notícias

envolvendo práticas de atos delitivos, a elas, atribuídos; que, igualmente, são fonte de

inspiração de políticos, quando da busca, sem freios, de votos, para garantia de

ingresso ou de renovação de permanência numa cadeira do legislativo ou do

executivo em quaisquer das três esferas; que, também, lotam as instituições e

tornam-se vítimas de práticas que colidem com os preceitos constitucionais; crianças

e adolescentes que ficam, muitas vezes, à mercê da vontade e da discricionariedade

de dirigentes e técnicos de espaços constituídos pelo Poder Público, para se portarem

como abrigos ou centros educacionais, mas que passam ao largo de tais funções.

Enfim, infâncias que conhecem, cedo, os braços que as abraçam, e que sabem o

quanto pesa, sobre seus corpos e mentes, a mão forte do Estado sancionador, ao

mesmo tempo, em que não têm a precisão.

A contraposição a uma concepção da criança “pequeno adulto” é algo que a

educação vem por tempos projetando aos professores, mestres e doutores da

educação a importância da criança no contexto educacional. Essas medidas

educativas que figuram como se fossem, fundamentalmente algo real nas instituições

públicas, de atendimentos a necessidades e direitos as crianças, não o são, na realidade

– embora, inegavelmente, até se prestem a tal. Melhor, talvez, seja afirmar que não são

isso, em exclusividade, ou que seu propósito fique aí encerrado. O que, de fato, elas

trazem, em sua origem, é a função de um determinada influência, razão por que se

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encontram em constante metamorfose e necessitam, sistematicamente, de re-adequação,

de renovação e de reformulação discursiva. Eis a causa de seus eternos sepultamento e

ressurreição.

O DESENVOLVIMENTO DAS POLITICAS PÚBLICAS PARA A INFÂNCIA, PAUTADAS

PELAS DIFERENÇAS ENTRE CRIANÇAS RICAS E POBRES DO BRASIL.

Numa folha qualquer

Eu desenho um sol amarelo

E com cinco ou seis retas

É fácil fazer um castelo

Corro o lápis em torno da mão

E me dou uma luva

E se faço chover

Com dois riscos tem um guarda-chuva

Se um pinguinho de tinta

Cai no pedacinho azul do papel

Num instante imagino uma linda gaivota

A voar no céu [...].

(Trecho da canção Aquarela de Toquinho e Vinícius de Moraes)

O desenvolvimento das políticas públicas para a infância, pautadas pelas

diferenças entre crianças ricas e pobres do Brasil é como os poetas em Aquarela

retratam, basta imaginar, objetivar e perseguir o pensamento real que um “mundo”

melhor para as crianças das diversas classes sociais, haverá de surgir. Como pais e

educadores (educadores de um modo amplo, englobando as mais diversas

profissões), temos o dever de buscar e encontrar entendimento de questões tão

relevantes como está “O desenvolvimento das políticas públicas para a infância,

pautadas pelas diferenças entre crianças ricas e pobres, revela-se de modo real na

sociedade brasileira?”. Educação e Políticas públicas, não transcendem fato e de

direito, por corriqueiramente confrontar-se com os limites e com as impossibilidades.

Como educadores da rede pública que enveredamos por este caminho cabe

inventariar – e, não raro, inventar – as possibilidades de uma educação digna as

crianças menos desfavorecidas. Por este motivo, que sem viabilizar lucros,

disponibilizo materiais pedagógicos relacionados a realidade brasileira em meu site

http://simonehelendrumond.blogspot.com, pois neste percurso educacional, almejo

deixar marcas positivas, Espero, com isso, estar, de algum modo, colaborando para

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que, pelo menos, sejam discutidas as formas de olhar, perceber e agir em relação às

crianças que habitam este nosso querido Brasil.

Nessa perspectiva, a luta pela educação pública de qualidade voltada para a

emancipação humana, saber e superação de exclusões encontra sentido se inserida

no movimento de constituição de identidade política do povo, bem como dos seus

dirigentes e, mais especificamente, dos dirigentes responsáveis pela definição,

implementação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas para a educação

pública. Essa luta, por si só, é um momento educativo que no processo possibilita

contradições, divergências, saberes, convívio das diferenças e crescimento da

sociedade.

A FUNÇÃO DAS POLITICAS PÚBLICAS NA CONSOLIDAÇÃO DA EDUCAÇÃO

INFANTIL COMO MEIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E SOCIAL DAS

CRIANÇAS.

Na busca de compreensão da totalidade da função das políticas públicas na

consolidação da educação infantil como meio de desenvolvimento humano e social das

crianças, podemos nos reportar à Boris Lima, citado por Carvalho (1986) que, ao tentar

interpretar o método de Marx, configura o processo de conhecimento do real a partir da

análise do concreto, ideia reiterada em sua afirmação:

O caminho para o conhecimento vai do estudo dos fenômenos diretos à descoberta de sua essência, da aparência à sua estrutura (...) Conhecer é uma operação que se inicia por captar o exterior, perceber os objetos, assimilar o concreto.

A reconstrução histórica da função das políticas públicas na consolidação da

educação infantil como meio de desenvolvimento humano e social das crianças,

possibilita uma aproximação da realidade com recusa óbvia de todo dogmatismo, de

toda visão cética e fragmentada do mundo e do relativismo como ponto de partida. A

busca das articulações que explicam os nexos e significados do real e levam à

construção de totalidades sociais, relativas a determinados objetos de estudo pode

ser contraproposta aos sistemas explicativos fechados e funcionais e à visão

fragmentada da realidade.

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O processo histórico sobre a função das políticas públicas na consolidação da

educação infantil como meio de desenvolvimento humano e social das crianças, é

dinâmico e a dimensão política da escola quando não abandonada e potencializada

por sua capacidade de elevação do nível cultural dos seus integrantes, poderá

apontar para todos nós uma via de superação das fragilidades do controle social.

Vislumbrar uma fase nova de superação e de enfrentamento com lucidez e

perspicácia no sentido de buscar-se ampliação dos mecanismos de transparência

pública, tomada de decisões coletivas na definição das políticas educacionais e

fiscalização mais eficaz do erário de modo a, minimamente, garantir os direitos de

acesso, permanência e conclusão dos estudos de nosso alunado. Mais do que apenas

executar políticas pensadas na esfera governamental, a escola deve assumir seu papel

político dimensionando e potencializando as forças internas e externas num movimento

de convergência aderente às suas reais necessidades para que possa verdadeiramente

receber do poder público, as condições materiais e humanas para execução de um

projeto que de fato dê conta da superação dos inúmeros e desafiadores problemas da

educação pública brasileira, frutos do abandono histórico promovido pelo Estado e seu

descaso com a educação de qualidade para as camadas mais populares.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, Alba Maria Pinho de. A questão da transformação e o trabalho

social:uma análise gramsciana. São Paulo: Cortez, 1986.

KRAMER, Sonia. O papel social da educação infantil, Disponível em:

http://cefort.ufam.edu.br/posinfantil/

SILVA, Michelle Pereira & CARVALHO, Carlos Henrique infância e modernidade:

redimensionando o ser criança. Disponível em: http://cefort.ufam.edu.br/posinfantil/

SILVA, Carmem Virgínia Moraes da & FRANCISCHINI, Rosangela. O surgi mento da

educação infantil na história das políticas públicas para a criança no Brasil. Disponível

em: http://cefort.ufam.edu.br/posinfantil/