19
1 A homogeneização e o agendamento nos três jornais diários de Goiânia Quézia Alcantara 1 Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa exploratória das manchetes de capa de três jornais diários de Goiânia realizada durante os meses de agosto e setembro de 2008, que pretendeu observar se existe uma homogeneização de pautas nas redações e porque isso acontece. A pesquisa não fecha a questão, mas indica que em Goiânia, a chamada mídia das fontes realiza seu trabalho com relativa eficiência, pois consegue inserir nos três periódicos pesquisados, as notícias de seu interesse. Palavras-Chave: jornalismo, newsmaking, agendamento, mídia das fontes, homogeneização Abstract This article aims to present the results of a research project of the headlines on the cover of three daily newspapers in Goiânia during the months of August and September 2008, which sought to observe whether there is a homogenization of guidelines in the newsroom and why it happens. The research does not close the question, but indicates that in Goiânia, called sources‟media does its job with relative efficiency because it can insert in the three newspapers surveyed, the news that interests you. Key-words: journalism, newsmaking, agenda-setting, sources‟ media, homogenization 1 - INTRODUÇÃO: É possível por meio da soma do número de matérias coincidentes nas capas de três jornais diários identificar as características do jornalismo que é feito em Goiânia? Há homogeneização de conteúdos entre estes periódicos? De onde surgem estas matérias? Quem pauta a imprensa? Qual a importância dessas manchetes no contexto regional? Os temas globais ou nacionais merecem mais, igual ou menos destaque que os temas locais? Os temas apresentados nos jornais de Goiânia mostram que a imprensa ainda se pauta pelo que a grande imprensa do chamado „centro‟ em detrimento ao que acontece na „periferia‟ do país? O objetivo deste artigo não é responder tais questões, mas indicar o que acontece nas redações da capital goiana. Utilizou-se para isso uma pesquisa comparativa das principais manchetes de três jornais diários de Goiânia, realizada durante dois meses no ano de 2008, cujo alvo foi demonstrar se há homogeneização de temas que pautam as redações nesta capital e com que frequencia ela ocorre. 1 Graduada em Comunicação Social pela UFG-Universidade Federal de Goiás, especialista em Gestão Pública e em Métodos e Técnicas de Ensino Superior, atua em Assessoria de Comunicação desde 2004 e é assessora de imprensa da Câmara Municipal de Goiânia.

A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Relato de pesquisa efetuada entre agosto a outubro de 2008 nos três principais jornais da cidade de Goiânia: O Popular, Diário da Manhã e O Hoje. Buscou-se identificar se havia homogeneização das pautas nos três periódicos, o que leva a crer que não têm muita criatividade na produção de pautas, antes, buscam releases de assessorias de comunicação e sites institucionais, os temas para suas edições.

Citation preview

Page 1: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

1

A homogeneização e o agendamento nos três jornais diários de Goiânia

Quézia Alcantara1

Resumo:

Este artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa exploratória das manchetes de

capa de três jornais diários de Goiânia realizada durante os meses de agosto e setembro de 2008, que

pretendeu observar se existe uma homogeneização de pautas nas redações e porque isso acontece. A

pesquisa não fecha a questão, mas indica que em Goiânia, a chamada mídia das fontes realiza seu

trabalho com relativa eficiência, pois consegue inserir nos três periódicos pesquisados, as notícias de

seu interesse.

Palavras-Chave: jornalismo, newsmaking, agendamento, mídia das fontes, homogeneização

Abstract

This article aims to present the results of a research project of the headlines on the cover of three daily

newspapers in Goiânia during the months of August and September 2008, which sought to observe

whether there is a homogenization of guidelines in the newsroom and why it happens. The research does

not close the question, but indicates that in Goiânia, called sources‟media does its job with relative

efficiency because it can insert in the three newspapers surveyed, the news that interests you.

Key-words: journalism, newsmaking, agenda-setting, sources‟ media, homogenization

1 - INTRODUÇÃO:

É possível por meio da soma do número de matérias coincidentes nas capas de três jornais diários

identificar as características do jornalismo que é feito em Goiânia? Há homogeneização de conteúdos

entre estes periódicos? De onde surgem estas matérias? Quem pauta a imprensa? Qual a importância

dessas manchetes no contexto regional? Os temas globais ou nacionais merecem mais, igual ou menos

destaque que os temas locais? Os temas apresentados nos jornais de Goiânia mostram que a imprensa

ainda se pauta pelo que a grande imprensa do chamado „centro‟ em detrimento ao que acontece na

„periferia‟ do país?

O objetivo deste artigo não é responder tais questões, mas indicar o que acontece nas redações da

capital goiana. Utilizou-se para isso uma pesquisa comparativa das principais manchetes de três jornais

diários de Goiânia, realizada durante dois meses no ano de 2008, cujo alvo foi demonstrar se há

homogeneização de temas que pautam as redações nesta capital e com que frequencia ela ocorre.

1 Graduada em Comunicação Social pela UFG-Universidade Federal de Goiás, especialista em Gestão Pública e em Métodos e

Técnicas de Ensino Superior, atua em Assessoria de Comunicação desde 2004 e é assessora de imprensa da Câmara Municipal

de Goiânia.

Page 2: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

2

O embasamento será feito pela hipótese do agendamento descrito nas Teorias de Comunicação

por Maxwell McCombs e Donald Shaw, mas que nesta análise será olhada do ponto de vista de quem

pauta a grande imprensa, que nas opiniões de Francisco San‟tanna e Manoel Chaparro são as „mídias das

fontes‟ ou as „fontes das fontes‟ – assessorias institucionalizadas de empresas, governo e organizações.

Outra teoria que subsidiará este estudo é a do „newsmaking‟, ou segundo Wolf (1985, p.82), o

enfoque dado aos emissores e aos processos produtivos nas comunicações de massa, o qual tenta explicar

o fazer jornalístico e os critérios de noticiabilidade. Neste estudo surgiu a figura do gatekeeper, aplicada

ao jornalismo por White em 1950 para descrever a pessoa que toma a decisão do que é notícia e portanto

o que entra na edição do dia.

A importância desses questionamentos na atualidade passa pela democratização do acesso aos

conteúdos midiáticos, em uma sociedade cada vez mais planificada, tratada como massa única, sem

diversidades, sem direito à informação completa e ampla, mas retrita ao discurso que os meios de

comunicação de massa ditam e assim a fazem pensar e falar a médio e longo prazo.

O método empregado foi o descritivo exploratório e analisou a frequência com que ocorreu o

fenômeno, neste caso, a quantidade de temas coincidentes nas manchetes de capa em um mesmo dia nos

três jornais periódicos. O levantamento das manchetes foi realizado durante dois meses – agosto e

setembro do ano de 2008. Foram anotadas as principais manchetes desses jornais em uma tabela

comparativa. Depois, foi feito o cruzamento destes dados para determinar a veracidade das questões

elencadas na introdução deste, entre os principais, se há repetição de pautas ou homogeneização de

conteúdos. Em seguida, os dados foram transformados em valores e porcentagens.

A pesquisa realizada nesses periódicos não tem como objetivo a realização de análise

morfológica, cuja base é descrever a quantidade de páginas, quantas e quais são as editorias, os detalhes

técnicos e gráficos de um periódico. Trata-se, no entanto, de quantificar as notícias que coincidem, num

mesmo dia, em mais de um jornal, para assim, aferir a porcentagem com que ocorre a homogeneização e

a repetição de pautas.

1.1- O Jornal como objeto de estudo

Escolheu-se o jornal como objeto deste trabalho por vários motivos. O primeiro, e este fator não é

exclusivo da pesquisa em comunicação, refere-se ao fato de que um periódico contém o dia a dia da

cidade, mostra um dado momento histórico dos acontecimentos. Reflete o cotidiano da sociedade, a

descrição de narrativas da vida de um povo - a linguagem, a cultura, as inovações, o fazer de uma

sociedade em um espaço predeterminado e em um tempo predefinido.

Page 3: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

3

Destacado pelo professor José Marques de Melo(1972, p.33), o antropólogo Gilberto Freyre -

um dos pioneiros no uso de periódicos como fonte científica para a pesquisa acadêmica - disse que o

jornal é “riqueza humana que se esconde”, “valioso material”, “verdadeira mina de conhecimentos” para

análise em vários campos: antropologia, psicologia social, história, geografia, política e linguística.

Assim, é por meio do jornal que o sujeito se conhece e conhece a realidade que o cerca.

Consegue se situar num mundo cada vez mais globalizado e globalizante. Diz Daltoé (2004, p.3) que “o

jornalismo tem um espaço significativo na vida das pessoas. As notícias ocupam um papel relevante na

imagem que elas controem da realidade. Acreditamos que buscar entender como elas são construídas

contribui para o aperfeiçoamento democrático da sociedade”.

O segundo motivo é que o jornal é o produto do fazer jornalístico. Ele é o resultado concreto,

palpável do trabalho de uma categoria profissional de destaque no mundo contemporâneo - o jornalista.

Ele é a materialização de um processo intelectual e industrial que tem como objetivo dar voz aos fatos de

um dia em uma determinada comunidade. E por relatar atos e fatos de pessoas, exercidos por outras

pessoas, essa atividade não se atem apenas a questões técnicas, mas é altamente ideológica.

As questões subjetivas e ideológicas, no entanto, não farão parte deste artigo, uma vez que não é

objetivo do mesmo realizar uma análise de conteúdo. Isso não impede que se tenha conciência da

presença e da influência subjetiva do jornalista na construção diária do jornal. Como salienta Cavalcante

(2009)“fazendo isso, ele (o pesquisador) poderá, inclusive, melhor entender certas contradições que

frequentemente encontrar no tratamento dado pelo jornal a um mesmo acontecimento”.

A observação se ateve às capas dos jornais porque a primeira página é o resumo do dia, é um tipo

de índice do que merece ser destacado naquela edição, é o local que dá visibilidade às manchetes. Por si

só a primeira página reflete o trabalho do gatekeeper - figura que será mais bem analisada nos tópicos

seguintes - que em contato com as matérias de uma edição, seleciona, mediante critérios jornalísticos,

editoriais e ideológicos, aquilo que vai para a capa. Explica Cavalcanti que:

A primeira página...adquire um caráter cartográfico de mapeamento do conjunto de

conteúdos oferecidos pelo próprio jornal; nela, o leitor encontrará sempre as notícias de

maior efeito social, seja como reação provável ou esperada, no interior de uma cadeira de

acontecimentos em curso, seja no sentido de uma intenção deliberda do jornal em formar

opinião, em função de sua inserção no jogo político e ideológico vigente.

(CAVALCANTE, 2009, p.4).

A capa de um periódico é como a propaganda daquela edição. Manchetes são como anúncios do

produto completo que poderá ser consumido naquele número de jornal; são como as chamadas que eram

Page 4: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

4

gritadas pelas ruas por um antigo jornaleiro ou os destaques na abertura de um telejornal e nos

informativos on-line vêm geralmente na forma de „últimas notícias‟.

Feitas tais observações, parte-se para uma reflexão acerca das teorias e hipóteses da comunicação

que embasam esta pesquisa. Depois, será mostrado o resultado da pesquisa das manchetes de capa de três

jornais de Goiânia e a seguir, os caminhos indicativos dos motivos que levam à homogeneização e os

critérios de noticiabilidade do gatekeeper ao selecionar o que vai sair numa edição, para enfim, chegar-se

à conclusão.

2- O AGENDAMENTO DAS FONTES QUE PAUTAM A MÍDIA E O PAPEL DO GATEKEEPER

Dentre os estudos das modernas teorias ou hipóteses de comunicação de massa encontram-se dois

que darão suporte a este artigo: agenda-setting e o newsmaking com desdobramento para o gatekeeper.

Estudos recentes dos professores Chaparro e Sant‟anna indicam a existência de um novo tipo de

agendamento no hieraquizado processo de comunicação, que são as mídias de assessorias de

comunicação a serviço das fontes. Estas mídias pautam, ou ainda, agendam temas que a grande imprensa

vai divulgar e poderão, por conseguinte, fazer parte da agenda pública do cidadão.

2.1 - A agenda-setting

A hipótese do agendamento foi formulada em 1972 pelos professores Maxwell McCombs e

Donald Shaw e explicitada no artigo “The agenda-setting function of mass-media”, relatando a pesquisa

realizada por eles durante as eleições presidenciais americanas em 1968 e baseada nos estudos de Walter

Lippman no livro Public Opinion. Oliveira (1997, p.1-2) ainda destaca os estudos dos sociólogos Kurt e

Glayds Lang que “apontavam para o fato da mídia fornecer uma grande quantidade de informação que os

receptores absorvem” e também que a “mídia pode construir, na sua essência, imagens públicas de

figuras públicas... sugerindo aos indivíduos o que pensar e saber”.

Shaw(1979, p.96) conceitua a teoria da agenda-setting dizendo que “em consequencia da ação

dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou

descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos”. Ele fala ainda que as

pessoas tanto incluem como excluem assuntos que a mídia inclui ou exclui e dão importância aos fatos

segundo a ênfase que os meios de comunicação dão a esses fatos.

Além dos temas que a mídia impõe sobre o cidadão, existe um tipo de agendamento que

funciona pela omissão de temas, um tipo de autocensura dos veículos de comunicação, seja por critérios

ideológicos ou meramente técnicos de limitação de espaço nos impressos ou de tempo nos audiovisuais.

Page 5: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

5

A omissão provoca no receptor a percepção de que aquilo que a mídia não divulga não aconteceu ou é

importante.

Conforme Wolf (1985, p.65), “a omissão, a não-cobertura de certos temas, a cobertura

intencionalmente modesta ou marginalizada que alguns assuntos recebem” é um tipo de agenda-setting

por omissão porque o público não tem acesso a fontes alternativas, por ser algo oneroso e complicado.

Mesmo com o crescimento do acesso à Internet, a web contém muita informação disponível, porém ainda

dispersa pela rede e quando é organizada encontra-se em sites jornalísticos que seguem as mesmas pautas

dos demais veículos.

2.2 - O Newsmaking e a função do gatekeeper

Se de um lado está a hipótese do agendamento centrada no receptor e nos efeitos que os meios

causam, na outra ponta do processo comunicativo aristotélico (a pessoa que fala=emissor/

assunto=mensagem/a pessoa a quem se fala=receptor), surge a teoria do newsmaking que se atém a

estudar o fazedor da notícia, o emissor. Ela tenta esclarecer por que as notícias são como são e por que

alguns fatos viram notícia e outros não?

Hohlfeldt(2001, p.219) defende que “...a hipótese de estudo é importante porque ajuda a

entendermos o modo pelo qual a informação flui, neste caso, de uma fonte primeira para o intermediário

ou mediador, que é o jornalista – profissional da informação – e deste até o receptor final”.

Desdobrando os estudos do newsmaking, David Manning White aplicou a figura do gatekeeper

ao jornalismo. O termo foi usado pelo psicólogo social Kurt Lewin em 1947 e descrevia a pessoa da

família que tomava a decisão sobre as compras no lar. White, conforme Daltoé (2004, p.13), falou que no

“processo de produção da informação como uma série de escolhas onde o fluxo de notícias é filtrado,

tem que passar por diversas portas(gates), que são áreas de decisão nas quais o jornalista(gatekeeper)

seleciona se uma notícia vai entrar ou não”. Paillet(1986, p.30) enumerou alguns gatekeepers - árbitros,

diretores, redatores-chefes, animadores em posição elevada, editorialistas bem-cotados. “Eles decidem

deixar ou não passar esse ou aquele elemento escolhido no fluxo dos acontecimentos, e frequentemente

são eles mesmos que determinam a escolha”, disse.

Dines(1986, p.120) avalia o difícil trabalho exercido pelos tomadores de decisão nas redações,

que vão além dos já citados por Paillet: “...está permanentemente tomando decisões em ritmo veloz. Se

fotógrafo, é o ângulo da fotografia que importa...se repórter, é o enfoque da notícia, a pergunta ao

entrevistado e a escolha do próprio entrevistado”. Se é editor, tem em sua mesa uma gama de

Page 6: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

6

acontecimentos que previsa avaliar e decidir o que fará parte daquela edição e em qual dará destaque.

Então, a função do gatekeeper também é omitir alguns temas e privilegiar outros.

Não é portanto, uma tarefa aleatória e descompromissada. Antes, conforme Sousa (2006, p.15),

“qualquer notícia é fruto de condicionamentos pessoais, sociais, ideológicas, culturais e históricos, do

meio físico em que é produzida e dos dispositivos tecnológicos que afetam a sua produção”.

A este estudo cabe ressaltar que o gatekeeper está inserido no processo de construção da agenda

pública divulgada pela mídia. É ele quem escolhe o que vai sair numa edição jornalística, seja no meio

impresso, on-line ou audiovisual, quem filtra os conteúdos que o receptor vai ler, ver e ouvir, ou melhor,

quem seleciona os temas que o leitor, telespectador, internauta ou ouvinte a longo prazo vai pensar,

discutir e dar importância. Ele é o destinatário de dezenas de releases que chegam às redações, produtos

do trabalho dos jornalistas em assessorias de organizações.

Paillet ao discorrer sobre a função do gatekeeper conta que seu trabalho vai além da escolha das

pautas ou dos temas que vão compor a edição. Nessa tarefa de escolhas, existem outros critérios:

A formalização da informação dá igualmente ocasião a manipulações mais ou menos sutis.

A escolha dos elementos a serem colocados no alto, a ordenação dos diferentes parágrafos,

os detalhes retidos, as citações feitas, as insinuações, as aproximações maliciosas, tudo

pode contribuir para dar uma determinada impressão, para colocar numa certa pista, para

sugerir uma conclusão...A paginação, a titulagem, a utilização da iconografia são

colocados igualmente de modo a produzirem certos efeitos. (PAILLET, 1986, p.30).

É o gatekeeper, com seus filtros ideológicos, com os constrangimentos organizacionais ou

baseados nos valores-notícia, que vai determinar, dia-a-dia, os assuntos sobre os quais o público vai

conversar. E mais: é esta figura – que no jornal é exercida tanto pelo pauteiro como pelo editor e o

repórter e nos audiovisuais, pelo produtor – que vai contribuir para a construção de “significados e

interpretações da realidade” e que para DeFleur(1993, p.280) “é função da imprensa”.

2.3 – Da mídia das fontes para a grande mídia

Mas quem pauta os pauteiros ou os gatekeepers dos veículos de comunicação? Sant‟anna (2009,

p.3) responde que este trabalho recai sobre as “mídias das fontes” e os canais de que dispõem para

produzir pautas. Além de releases, elas têm investido em produtos do jornalismo 2.0 (blogs, twitters,

redes sociais, newsletters e sites institucionais).

Nas palavras de Chaparro (2009) são as “fontes das fontes” que cada vez mais impõem sua

presença como importantes agentes, se não na construção direta da notícia, pelo menos, na indicação ou

Page 7: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

7

agendamento das mesmas. Elas são jornalistas que conhecem os dois lados do processo: vivem ou já

viveram o ambiente da redação, têm muitos contados e conseguem mídia espontânea para seus

assessorados. O autor conceitua essas fontes como “sujeitos sociais organizados, produtores de

acontecimentos e/ou detentores de conhecimentos com irrecusáveis atributos de noticiabilidade. São

sujeitos sociais dotados de saber estratégico para agir e interagir nos espaços vivos da atualidade”.

Hohlfeldt (1993, p.216), faz distinções entre os vários tipos de „fontes‟, distinguindo-as em fontes

institucionais e oficiosas, com relação ao tipo de relacionamento com as instituições de administração

pública ou empresarial. Ele diz que “a fonte ou agência institucional é aquela que fala formal e

legalmente em nome de alguém ou alguma instituição”, enquanto a oficiosa “não gostaria de ser

identificada e que, embora integrante da estrutura administrativa, dela pode vir a discordar, fazendo vazar

uma informação que pode chegar e gerar constrangimento junto à autoridade”.

Esses autores estão discorrendo, em suma, sobre as assessorias de comunicação ou de imprensa

de corporações, empresas, organizações não governamentais ou governos. São as fontes institucionais ou

oficiais às quais o jornalista estava acostumado a recorrer e que agora, tomam a iniciativa de produzir

material jornalístico para ser distribuído para a grande imprensa e que por diversas vezes, serve de

sugestão de pauta, ou até mesmo de subsídio para matérias. Diz Sant‟anna”( 2009, p.4) que “a Mídia

Corporativa, ou mais especificamente a Mídia das Fontes, busca interferir no processo de construção da

notícia (newsmaking) e na formação do imaginário coletivo, principalmente naquele do setor formador

de opinião”.

A explicação de Lima (1985, p.45) é que: “o processo de busca da informação começou a

inverter-se, ou seja, ao invés do repórter ir diretamente à fonte, as fontes, representadas pelos inúmeros

press-releases de assessorias, passaram a inundar as redações dos órgãos de comunicação”. Chamando a

prática no Brasil de „releasemania‟, ele destaca também que “o aproveitamento do press-release como

notícia pronta, acabada, é cada vez mais frequente”, deixando de lado o trabalho de checar a fonte,

investigar o fato.

Nesse aproveitamento de matérias prontas, as fontes das mídias, de acordo com Marques de Melo

e citado por Lima(1985, p.14) tem como aliadas as empresas jornalísticas, pois “antecipando-se à

iniciativa dos repórteres e, sem dúvida, desestimulando-a, os assessores de imprensa oferecem o prato

feito da notícia”. Com isso as empresas “podem até mesmo suprimir a reportagem. E não são raras as que

sobrevivem e se alimentam exclusivamente dessa fonte”, completa o autor.

2.4 - Razões para a existência da homogeneização de pautas

Page 8: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

8

A existência da homogeneização dos jornais é tema que há muito levanta discussões dentro da

teoria do newsmaking. Porém, os motivos que levam à tematização não podem ser categoricamente

indicados, mas sugeridos. Além do aproveitamento de releases das assessorias feito pelas redações, ela

pode ser inerentes ao fazer jornalístico e à estrutura de uma empresa de comunicação, alertam estudiosos.

Lage(2003, p.15) afirma que a decisão dos editores sobre o que vai ou não ser publicado se

orienta “ora por leis de mercado, ora por conveniências que traduzem o jogo dos grupos de pressão ou

entidades abstratas”.

Outra razão da existência de pautas coincidentes em várias mídias em um mesmo dia pode ser a

prática conhecida como troca de figurinhas. Cardoso e Coelho(2009, p.75) discorrem que “ao mesmo

tempo que disputam entre si o „furo‟, os jornalistas dividem informações, retribuem favores aos colegas

de profissão, enfim, por vezes, há uma ajuda mútua que influencia as pautas diárias”.

E por fim, outro motivo pode estar relacionado à uma função antiga que com o surgimento da

Internet está tomando outra dimensão - a de radioescuta. Cardoso e Coelho(2009, p.75) contam que “este

profissional, geralmente em início de carreira, acompanhava emissoras de rádio, assistia aos telejornais e

consultava as agências de notícia” – hoje fica conectado em portais jornalísticos na Internet.

Pratica uma espécie de „vigilância‟ entre os jornalistas. Há uma grande preocupação em

não se perder uma notícia importante, mas também em não ter um noticiário tão diferente

dos outros veículos de comunicação. Importa muito o que os líderes de audiência estão

dizendo ao seu público.(CARDOSO E COELHO, 2009, p.75)

Após estas opiniões quanto às razões que levam os jornais a uma tematização em seu

conteúdo informativo e com a ressalva que nem sempre as ações que geram a homogeneização são

premeditadas ou intencionais, passa-se ao detalhamento da pesquisa realizada em Goiânia e que

serve de palco para este artigo.

3- FREQUÊNCIA EM QUE HÁ HOMOGENEIZAÇÃO NOS JORNAIS DE GOIÂNIA

3.1-Periódicos pesquisados

Os jornais, objeto desta pesquisa, são: O Popular, Diário da Manhã e o Hoje. Com exceção do

Hoje, que na primeira semana da análise não circulava ainda às segundas-feiras, todos circulam de

segunda a domingo.

Page 9: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

9

O jornal O Popular, o mais antigo da capital, iniciou suas atividades em 1938, tornando-se

diário em 1944. Ele é também o jornal de maior circulação com uma tiragem de 30 mil unidades

diariamente. Autodenomina-se “como carro-chefe dos veículos dos veículos da Organização Jaime

Câmara (OJC) - como é conhecida a holding que reúne as empresas do grupo”.

O Diário da Manhã foi fundado em 1980 pelo casal Batista Custódio e Consuelo Nasser. Ele é

oriundo do semanário Cinco de Maio, o primeiro jornal de esquerda fundado em Goiás. Fechado em 3 de

outubro de 1984, foi reaberto dois anos depois, em 10 de outubro de 1986. Atualmente imprime 16 mil

exemplares aos sábados e domingos e 8 mil durante os demias dias da semana.

Já o jornal Hoje, o mais novo periódico de Goiânia, foi fundado em 2005 e naquela época

continha apenas 8 páginas. Em 2008 passou para 12 páginas após ganhar um caderno de Economia e

Política. Em 2010 passou a ser considerado de grande circulação. Conta atualmente com tiragem de

23.500 exemplares.

Os três periódicos possuem editorias políticas, econômicas, de cidades, suplemento cultural,

nacionais e internacionais. Possuem redações próprias, com sedes nesta capital e contam com jornalistas

e colaboradores em seu corpo de trabalho.

3.2- O resultado da pesquisa

Assim, tentando identificar se o fenômeno da homogeneização das pautas ocorre entre os

periódicos de Goiânia, dispensou-se um olhar mais atento aos percentuais e valores encontrados com a

pesquisa exploratória dos jornais O Popular, Diário da Manhã e Hoje Notícias nos meses de agosto e

setembro de 2008, motivação deste artigo.

Foram 59 dias de análise – de 19/08/2008 a 19/10/2008. Somente em oito dias não houve

redundância entre os periódicos aferidos, ou seja, nenhuma manchete de capa foi coincidente nos três

jornais. Todas as chamadas desses oito dias foram diferentes. Isso representa 13,55% dos dias analisados.

Desses oito dias, cinco caíram no domingo ou na segunda-feira (07 e 08/09/08; 15, 21 e 29/09/08).

Nesses dias é de praxe que as redações recorram a matérias especiais e de gaveta, devido a redação

trabalhar em regime de escala, com 50% de seu efetivo. Então, sobram apenas três dias(27/08/08;

04/09/08; 10/09/08) nos quais as capas dos jornais pesquisados não tiveram nenhuma manchete

coincidente.

Nos demais 86,45%, ou 51 dias da pesquisa, ocorreu a homogeneização de pautas. E mais:

49,15% foi o índice alcançado para os 29 dias em que os três veículos em discussão, ao mesmo tempo,

tiveram pelo menos uma manchete com o mesmo tema, de acordo com o quadro:

Page 10: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

10

Quadro 1 - Frequência da mesma manchete nos 3 jornais em 59

dias

8 dias; 13,55%

29 dias; 49,15%

22 dias; 37,30%

- 8 dias não houve nenhuma coincidência

- 29 dias pelo menos uma manchete foi igual nos 3 jornais

- 22 dias pelo menos uma manchete foi redundante em 2 jornais

Fonte: Pesquisa Comparativa de 3 jornais goianienses-2008

Após o cruzamento das mesmas manchetes de capa com apenas dois dos jornais verificou-se

percentuais mais elevados, sendo que o Diário da Manhã e o jornal O Popular são os mais redundantes

entre si. Em 39 dias (66%) o Diário da Manhã e o Hoje ou O Popular e o Hoje tiveram manchetes

coincidentes. Em 49 dias (83%) o jornal O Popular e o Diário da Manhã tiveram as mesmas pautas

estampadas em suas capas. Ou seja, nesses dias, se o leitor goianiense leu um quanto o outro recebeu as

mesmas informações, conforme quadro a seguir:

Quadro 2 - Frequencia em que pelo menos dois informativos

foram redundantes em suas manchetes

O POP e DM - 49

dias; 83%

DM e HOJE - 39

dias; 66%

O POP e HOJE -

39 dias; 66%

Fonte: Pesquisa Comparativa de 3 jornais goianienses-2008

Nos dias 3, 5 e 18 de setembro e 6 e 18 de outubro(Quadro 3), os três informativos tiveram 2

manchetes iguais e apesar deste não ter como objetivo a análise de conteúdo, verifica-se no quadro

abaixo que os temas globais, passados pelas agências de notícias, bem como um sequestro de uma moça

em São Paulo dominam os noticiários de Goiânia, em detrimento de outras notícias locais.

QUADRO 3 – DUAS MANCHETES COINCIDENTES NOS TRÊS JORNAIS

DIAS EM QUE 2

MANCHETES

COINCIDIRAM NOS 3

INFORMATIVOS

O POPULAR DIÁRIO DA MANHÃ HOJE NOTÍCIAS

03/09/08

Arapongagem CPI dos grampos

-Petróleo:pré-sal para pagar dívidas

-CPI dos Grampos

-O sal da Vida(petróleo)

-Petróleo:pré-sal

-Congresso quer fiscalizar ABIN e

PF

05/09/08

Produção industrial goiana é a que mais cresce no país / Juiz de Aparecida decide

contra lei seca / Saneago investiga mau

cheiro em água

Lei seca é inconstitucional, diz juiz de Aparecida / Produção na

indústria, Goiás é líder em julho

Indústria goiana lidera crescimento no país / Juiz declara lei seca

inconstitucional

Page 11: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

11

18/09/08 Crise se agrava mesmo com socorro de

85 bi nos EUA / Rapaz é morte após

seqüestro de jornalista/ Chuva interrompe seca de 4 meses

Lei seca de ressaca/ Enfim, chuvas/

Goiás é o nono em qualidade de

vida/ Alcides: vou asfaltar todo o estado / Jornalista é seqüestrada e

estuprada

Dólar sobe e bolsa cai / Chuva-pena

que durou pouco / Sequestrador

morre em tiroteio / Governador Alcides mostra pavimentação da

GO-156

06/10/08 Iris e Maguito eleitos no 1º turno /

Anápolis:Gomide e Onaide vão disputar

2º turno.

Iris reeleito / Maguito chega a 81%

dos votos/ Lista dos prefeitos

eleitos, votação nos municípios

Com 74% dos votos, Iris é reeleito

no 1º turno/ Câmara Renovada/

Anápolis-o petista Antônio Gomide

venceu 1º turno e vai para o 2º com Onaide Santillo/O ex-governador

Maguito Vilela pôs fim a mais de 20

anos de domínio político em

Aparecida

18/10/08 Drama em Santo André-sequestro acaba

em tragédia/ Gol acumula 98 mil reais em multas, carro tem 211 infrações

Sequestro em SP tem desfecho

dramático/Motorista tem 210 multas por excesso de velocidade

Carro tem 97 mil reais em multas/

Sequestro em SP acaba em tragédia

Fonte: Pesquisa Comparativa de 3 jornais goianienses -2008

Para reafirmar a tematização e homogeneização das pautas na imprensa de Goiânia, nos dias 11 e

12 de setembro de 2008 e 7 de outubro do mesmo ano, conforme o Quadro 4, os três periódicos

apresentaram as primeiras páginas praticamente iguais – tiveram três manchetes com a mesma pauta. Os

temas políticos como eleições, o escândalo envolvendo os vereadores da capital mereceram lugar

privilegiado nas manhetes de capa, além de um crime cometido por policias militares, fato que também

ocupou o noticiário no mês anterior. E mais: o aniversário de sete anos do atentado às torres gêmeas em

Nova York-EUA mereceu lugar nas capas dos três periódicos no dia 12/09.

QUADRO 4 - TRÊS MANCHETES COINCIDENTES NOS TRÊS JORNAIS

DIAS EM QUE 3

MANCHETES FORAM

REDUNDANTES NOS 3

JORNAIS

O POPULAR DIÁRIO DA MANHÃ HOJE NOTÍCIAS

11/09/08 Taxa Selic sobe / Camara cria 13º,14º e 15º

salários / Advogado baleado tem morte

cerebral

Imoral: vereadores aprovam 15º

salário para eles / Juro sobe 0,75 -

Copom eleva taxa Selic / Quadro é

irreversível –estudante baleado para

policiais

Câmara derruba veto e mantém 15º

salário / Copom aumenta juros em

0,75 pontos / Rapaz baleado por PM

tem morte cerebral

12/09/08 Desgaste leva vereadores a ensaiar recuo / Confirmada a morte do bacharel em direito /

7º aniversario do 11 de setembro

Morre inocente baleado por PM/ 11 de setembro reúne adversários nos

EUA/ Goiás em obra na GO-

060/Pressionados vereadores

desistem do 15º salário

Vereadores recuam e 15º pode cair/ Morre rapaz baleado por PM/

Memória – atentado 11 de setembro

07/10/08 Crise-pânico domina mercados, Bovespa pára

duas vezes/ Eleições-alternam forças políticas em Goiás, com o PMDB fortalecido e PSDB

sofre perda./Renovação da Câmara inclui

veteranos e herdeiros políticos/ (Foto de Iris

cortando cabelo)

Efeito Bush-mundo treme com medo

da recessão global/ As prioridades de Iris-criação de 12 subprefeituras/ BC

injeta dinheiro no mercado/ (Foto de

Iris em salão da Tamandaré cortando

cabelo)

Iris retoma projeto de 12

subprefeituras. / Iris corta cabelo com Ruimar Ferreira (com foto)/O

governador diz que resultado foi

satisfatório no Estado /Pânico leva

Bovespa a parar por 2 vezes.

Fonte: Pesquisa Comparativa de 3 jornais goianienses -2008

3.3-Analisando o porquê da existência da homogeneização

Destes resultados verifica-se que há homogeneização de temas nos veículos de imprensa da

capital goiana durante o período avaliado. Não se pode afirmar categoricamente, antes de pesquisas junto

aos editores e diretores dos impressos, as razões que levam a essa tematização.

Page 12: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

12

Pode-se observar, no entanto, que pelas primeiras páginas dos três periódicos analisados,

matérias relativas aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário municipal e estadual e as enviadas por

agências internacionais e nacionais são as que aparecem nas capas nos três veículos nos mesmos dias.

Assim, a presença do repórter in loco, muitas vezes pode ser substituída pela do rádio-escuta, que hoje

tem a seu favor a rede mundial de computadores facilitando a pesquisa e o acompanhamento dos fatos

em tempo real.

Com isso, vê-se que os produtos produzidos pelas assessorias em Goiânia estão estampados nas

capas dos jornais. Exemplo são as matérias relacionadas ao governador do estado e ao prefeito da capital.

Todos os periódicos avaliados publicaram em uma determinada edição a mesma notícia relacionada a

uma dessas autoridades. Como exemplo cita-se o dia 7/10/2008 (Quadro 4) em que os três informativos

pesquisados divulgaram a mesma foto do prefeito eleito Íris Rezende, cortando o cabelo. Como o

pauteiro ou editor desses jornais chegaram a esta pauta? Certamente pelas informações publicadas ou

distribuídas pelas assessorias desses governos em seus sítios na Internet, pois hoje a prática de envio de

release está cada vez mais sendo substituída pelos links com notícias recentes ou agendas das autoridades

inseridas nas homepages oficiais.

Hoje, o que se vê é a concretização da Lei de Lavoisier “na natureza nada se cria, nada se perde,

tudo se transforma”. Pode-se parafrasear a lei dizendo que no jornalismo atual, institucionalizado e

globalizado, quase nada se cria, muito de copia. É o famoso recurso do editor de texto da Microsoft – o

Word: control C e control V – copiar e colar.

Portanto, não se observa muita criatividade no trabalho dos pauteiros dessas redações. Muitas

notícias sequer são redigidas por funcionários desses veículos, e o que se pode ver são que elas são

copiadas de agências de notícias2 ou clonadas das assessorias. É o caso da manchete sobre um veículo

que acumulou R$ 97 mil de multas, que saiu nos três jornais no dia 18/10/08 e que revela ter sido

pautada pela assessoria do Detran de Goiás(Anexo 1, 2 e 3).

Sabe-se que esses periódicos também refletem as pautas da grande imprensa do país.

Reproduzem o que acontece nos grandes centros político (Brasília) e econômicos (São Paulo, Rio de

2 O jornal O Popular recebe notícias da AE(Agência Estado), FP (folhapress), AP(Associated Press), Reuteurs, Agência Globo e

Portal IG. O Diário da Manhã tem convênio com a AE e a Folhapress e O Hoje, AE e Agência Brasil. Eles também se pautam pelos portais

regionais:www.noticias.go.gov.br (Do Governo do Estado de Goiás); www.goiania.go.gov.br (da Prefeitura de Goiânia);

www.camara.go.gov.br (da Câmara Municipal de Goiânia); www.assembleia.go.gov.br (da Assembléia Legislativa do Estado de Goiás);

www.tjgo.jus.br(do Tribunal de Justiça de Goiás; www.mp.go.gov.br(do Ministério Público de Goiás) e outros.

Page 13: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

13

Janeiro e Minas Gerais). Constata-se na mídia goianiense a influência do centro sobre a periferia com

a quantidadede de matérias sobre o que acontece especialmente nos já citados estados de relevância

econômica e política do país, conforme os anexos.

Pelas capas dos jornais locais de Goiânia, vê-se que os gatekeepers reservam grande parte de seu

espaço dentro das editorias nacional, política, econômica e até mesmo nos suplementos culturais para as

pautas de eventos e acontecimentos daquelas localidades, em detrimento dos acontecimentos regionais

ou locais. O que vem de fora, do centro, sempre tem mais importância para a periferia. Raramente um

tema local ocupa espaço na capa. Quando o faz são matérias de repercussão nacional como escândalos ou

tragédias.

A imprensa local reflete a relação centro-periferia porque Goiás é considerado um estado

periférico. Conforme o economista da Secretaria do Planejamento de Goiás, Jeferson Vieira (2007, p.1),

“é o fato de Goiás ser um Estado periférico na lógica da acumulação global do capital” um dos motivos

que mantiveram o estado até o ano 2000 à margem das transformações econômicas que ocorriam em

nível mundial.

Da mesma forma, as empresas de comunicação de Goiás mantêm-se ora como repetidora dos

acontecimentos do centro, ora subserviente ao se pautar quase que exclusivamente pelos releases das

assessorias governamentais ou de órgãos públicos, as fontes das fontes goianas. Ainda deixam

transparecer pelas notícias divulgadas, a influência que a internet, especialmente que os sites

corporativos, têm sobre seus gatekeepers.

Outros critérios que influenciam essa tomada de decisão do gatekeeper e por consequinte, o fazer

jornalístico são: o dead-line da redação, a atualidade, as facilidades para se obter a informação e até

mesmo a falta de funcionários, onde várias redações passaram por um enxugamento de seu pessoal, caso

conhecido no jornal Diário da Manhã. Em O Popular há, de tempos em tempos, demissão de parte da

redação, quando os jornalistas com mais tempo de casa são substituídos por iniciantes, ou „focas‟,

segundo relato desses profissionais.

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, sejam pelos critérios de noticiabilidade já definidos por Galtung e Ruge, Wolf,

Hohlfeldt, Traquina e Sousa, sejam pelo comodismo e facilidade em conseguir a matéria, pela baixa

autoestima dos jornalistas que interiorizam as questões de viverem na „periferia‟, pela imprensa

embrionária (apesar de ter iniciado suas atividades em Goiás em 1836) ou ainda pela falta de estrutura

das empresas de comunicação goiana que dependem de verbas governamentais e anunciantes detentores

de oligopólios no estado e que acabam por cometer ingerência sobre o funcionamento dos jornais, pode-

se dizer que existe homogeneização de temas nos três periódicos sob análise.

Page 14: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

14

Não se pode com esta pesquisa preliminar indicar os motivos dessa homogeneização: se advém

do fato das assessorias - as mídias das fontes - serem tão eficientes e terem também a seu favor o

esvaziamento das redações e a facilidade para se ter acesso à notícia, da reprodução do que as agências

noticiosas nacionais e internacionais enviam ou da globalização e conseqüente padronização que a

Internet proporciona.

A homogeneização de pautas entre os veículos assemelha-se ao monópolio que grandes empresas

têm sobre determinado setor da economia. Uma quantidade de agências informativas „vende‟ a notícia

para diversas empresas de comunicação, o que pode visto nos seus produtos – jornais, telejornais, sites

noticiosos. O uso da rede mundial de computadores, tecnologia que poderia ser aliada da democratização

da informação, ao contrário, é utilizada para um nivelamento das pautas, para a tematização dos

conteúdos veiculados pelas mídias tradicionais. O que se vê na internet pauta o jornal do dia seguinte.

De 59 dias de pesquisa das manchetes em três redações desta capital, somente em oito dias não

houve coincidência de pautas. Apenas nesses dias as redações diversificaram seu conteúdo, o que não

indica necessariamente que modificaram a maneira como vinham realizando a captação e a filtragem dos

temas que ocupariam as primeiras páginas, pois desses oitos, cinco caíram no domingo ou segunda-feira,

é de praxe o uso de matérias especiais e de gaveta nas edições de fim de semana.

Devido à extensão do tema, o resultado desta pesquisa indica a existência do trabalho que os

gatekeepers e as „mídias das fontes‟ no jornalismo goianiense. Porém, não se aprofunda, necessitando

ratificar tais conclusões com novas pesquisas ouvindo editores, pauteiros, produtores e outros

responsáveis por filtrar as informações recebidas para somente assim, determinar de onde surgem os

temas, além de determinar a quantidade de matérias oriundas da rua pelos repórteres, a quantidade de

pautas surgidas a partir dos releases recebidos e a quantidade de matérias enviadas por agências

noticiosas.

Nas redações de Goiânia, a homogeneização existe- o que é verificado pelas capas dos três

principais jornais, podendo ser fruto do aproveitamento de produtos das mídias das fontes goianienses.

Resta uma nova pesquisa para indicar as razões que levam os gatekeepers dos jornais O Popular, Diário

da Manhã e O Hoje, da capital de Goiás, a repetirem os mesmos temas todos os dias nas páginas de seus

impressos.

* * *

Page 15: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

15

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CAVALCANTE, Maria Juraci Maia. “O Jornal como Fonte Privilegiada de Pesquisa Histórica no

Campo Educacional”. Disponível em www.sbhe.org.br/novo/congressos. Acesso em 15/10/2009.

CHAPARRO, Manoel Carlos. “O conhecimento do Jornalismo na Assessoria de Imprensa - A fonte das

Fontes”- In: 17º Enjac-Encontro Nacional de Jornalistas em Assessorias de Comunicação, Goiânia, GO,

2/10/2009.

COELHO, Cláudio Novaes Pinto e CARDOSO, Marcelo. “A homogeneização das notícias: a ditadura

dos índices”. In: Líbero- Revista do Programa de Pós-Graduação da Faculdade Casper Líbero – SP: v. 12,

n. 24, p. 71-80, 11/12/2009.

DALTOÉ, Andrelise. “Teorias da Notícia: uma tentativa de construção”.In: GT História do Jornalismo,

II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho, Florianópolis,15 a 17/04/2004.

DE FLEUR, Melvin L.de e BALL-ROKEACH, Sandra. “Teorias da Comunicação de Massa”. RJ: Jorge

Zahar Editor, 1993.

DINES, Alberto. “O Papel do Jornal”. 4ª Edição. SP: Summus Edtorial, 1986.

DUARTE, Jorge. “Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia”. SP: Atlas, 2010.

HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C. e FRANÇA, Vera Veiga. “Teorias da Comunicação:

conceitos, escolas e tendências”. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

LAGE, Nilson. “Estrutura da Notícia”. 5ª Edição. SP: Editora Ática, 2003.

LIMA, Gerson Moreira. “Releasemania: uma contribuição para o estudo do „press-release‟ no Brasil”.

SP: Summus, 1985.

MELO, José Marques. “Estudo de Jornalismo Comparado”. SP: Livraria Pioneira Editora, 1972.

OLIVEIRA, Cassiano Francisco. “Agenda-setting.A cobertura jornalística nas eleições municipais de

1996 em Caxias do Sul”. In: Revista Famecos. Porto Alegre, RS: nº 07 –novembro 1997

PAILLET, Marc. “Jornalismo, o Quarto Poder”. SP: Editora Brasiliense, 1986.

SANT‟ANNA, Francisco.“Mídia das Fontes: o difusor do jornalismo corporativo‟ – Disponível em

www.bocc.ubi.pt. Acesso em 22/12/2009.

SOUSA, Jorge Pedro. “Construindo uma Teoria do Jornalismo”. Disponível em www.bocc.ubi.pt.

Page 16: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

16

Acesso em 23/11/2006.

TRAQUINA, Nelson. “Ser ou não ser notícia” (capítulo 2) In Teorias do Jornalismo, volume II.

Florianópolis, SC: Insular/UFSC, 2005.

VIEIRA, Jefferson de Castro. “A Experiência do Planejamento em Goiás”. Disponível em

http://www.seplan.go.gov.br/sepin. Acesso em 15/08/2010.

VIZEU, Alfredo.”O Jornalismo e as teorias intermediárias: cultura profissional, rotinas de trabalho,

constrangimentos organizacionais e as perspectivas da análise do discurso”. Disponível em

www.bocc.ubi.pt. Acesso em 25/11/2006.

WOLF, Mauro. “Teorias da Comunicação”. 8ª Edição. Lisboa, Portugal: Editorial Presença, 1985.

Page 17: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

17

ANEXOS:

ANEXO 1

Page 18: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

18

ANEXO 2

Page 19: A homogeneizaçao nos jornais diários goianienses

19

ANEXO 3