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Análise Conteúdo Notícias de VBG antes e após a Implementação da Lei que estabelece VBG como Crime Público 20-06-2014 Docente: Carlos Santos Discente: Dúnia Gonçalves

Análise conteúdo vbg

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Análise ConteúdoNotícias de VBG antes e após a Implementação da Lei que estabelece VBG como Crime Público

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20-06-2014Docente: Carlos SantosDiscente: Dúnia Gonçalves

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Introdução

O presente trabalho tem como análise de conteúdo, “As notícias de Violência Baseada

no Género (VBG) antes e depois da implementação da Lei que estabelece VBG como crime

público”. A Lei entrou em vigor em Março de 2011 e foi aprovada no ano anterior pela

unanimidade dos deputados do Parlamento cabo-verdiano. A nova lei, nº 84/VII/2011, vem

estabelecer que quem cometer o crime de VBG poderá ser punido com uma pena de prisão de 1 a

5 anos ou pena de multa consoante a natureza do crime praticado.

Escolhemos este tema, como forma de conhecer como os meios de comunicação

difundiram as matérias relativas a este tema e quais as contribuições que deram, para a

manutenção ou para o fim desta prática, bem como trazer mais consciencialização para a

mudança das relações entre homem e mulher baseado no princípio da equidade e igualdade de

género.

A violência baseada no género, trata-se de um problema histórico na sociedade cabo-

verdiana. De acordo com especialistas, somente após a independência o país começou a se

debruçar sobre a questão da desigualdade de género ao proclamar, na primeira Constituição da

República, a igualdade entre homens e mulheres e tratar pela primeira vez da protecção das

mulheres contra a violência doméstica.

Segundo a cartilha fornecida pelo Instituto Cabo-verdiano para Igualdade e Equidade de

Género (ICIEG) “a violência baseada no género é um comportamento aprendido - na escola, na

família e na comunidade. É neste seio que aprendemos por exemplo que os homens são mais

fortes e que as mulheres são, por sua vez, mais frágeis e submissas.

De acordo com os dados do II Inquérito Demográfico de Saúde Reprodutiva (2006), 22%

das 1.333 mulheres entrevistadas, com idade compreendida entre 15 e 49 anos, confessaram

terem sido vítimas de violência desde os 15 anos. E 20%, ou seja, uma em cada cinco declarou

ter sido vítima de violência nos últimos 12 meses.

Ainda de acordo com os dados da pesquisa, nas cidades foram detectados maiores índices

de violência contra a mulher do que no campo. Enquanto nas zonas urbanas 24% das mulheres

afirmaram ter sofrido algum tipo de violência, no campo o índice era de 19%. A pesquisa

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concluiu também que a maioria das mulheres sofria mais de um tipo de violência (19%) e que a

violência física (16%) prevalecia sobre os demais tipos de violência (emocional 14% e sexual

4%).

O inquérito analisou também a relação entre violência e a escolarização das mulheres.

Verificou-se que 22% das cabo-verdianas que concluíram o ensino básico e 19% daquelas que

cursaram o secundário relataram ter sofrido algum tipo de violência. De salientar que, em Cabo

Verde, a violência de género é exercida em qualquer estrato sócio – económico, grupo etário, ou

nível de educação.

A violência baseada no género também ocorre contra os homens. Ela vai no sentido de

pressioná-los para que sejam mais ambiciosos, mais másculos, e sobretudo para que não tenham

manifestações de homossexualidade.

Este trabalho tem como objectivo analisar e compreender como foram retratados as

notícias de VBG antes e após a publicação da nova lei que estabelece VBG como crime público.

De salientar que, para sua compreensão recorremos da seguinte técnica de comunicação – a

Análise de conteúdo.

Trata-se de um instrumento metodológico cada vez mais subtil, em constante

aperfeiçoamento que se aplica a “discursos” extremamente diversificados. È um instrumento de

investigação laboriosa de documentos que prima pelo rigor da objectividade e a fecundidade da

subjectividade, baseada em deduções: a inferência. Por outro lado, a análise de conteúdo é uma

ferramenta que serve de base para investigação de temas diversos e tem como objetivo

primordial descobrir algo que esteja “escondido, o latente, o não aparente, o potencial de

inédito (do não dito, retido por qualquer mensagem). No fundo, trata-se de analisar mensagens

onde uma segunda leitura se substitui à leitura normal do leigo.

Escolhemos o jornal A Semana para a realização deste trabalho, pelo facto de este ser um

semanário de maior referência e tiragem (cinco mil exemplares) em Cabo Verde, um jornal que

preza pela atualidade, a importância, a proximidade e o interesse, o que lhe dá a soberania de ser

o mais lido tanto dentro e fora do país. O jornal A Semana, foi fundado em 1991.

Para início de investigação, estabelecemos a seguinte metodologia, delimitamos o tempo

da nossa investigação. Neste caso, foram examinados 36 jornais, num período de 3 (Três) anos,

que decorre de Janeiro de 2010 a janeiro de 2012. Foram encontrados um total de 14 itens,

conforme a tabela que se segue na página seguinte:

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1º Grelha - Frequência com que os jornais noticiam os acontecimentos relacionados a VBG

Ano 2010 Mês Itens recolhidosJaneiro 1Fevereiro 0Março 0Abril 1Maio 0Junho 0Julho 3Agosto 2Setembro 0Outubro 0Novembro 1Dezembro 0

Total 8

Ano 2011 Mês Itens recolhidosJaneiro 0Fevereiro 0Março 1Abril 2Maio 0Junho 0Julho 0Agosto 0Setembro 0Outubro 0Novembro 0Dezembro 2

Total 5

Ano 2012 Mês Itens recolhidosJaneiro 0Fevereiro 0Março 0Abril 0Maio 0Junho 1Julho 0Agosto 0Setembro 0Outubro 0

5

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Novembro 0Dezembro 0

Total 1 TOTAL Itens 14

De acordo com a tabela, o número de itens relacionados á VBG é relativamente pouco,

insuficiente, tanto para uma publicação durante 1 ano, bem como, para num espaço de 3 anos. Se

repararmos bem, esse número diminui consideravelmente a cada ano. Recorde-se que, o nosso

tema tem como objetivo analisar as notícias antes e depois da implementação da nova lei que

estabelece VBG como crime público. Pelos números da tabela, poderíamos dar por satisfeito ao

aperceber o decréscimo das publicações, respondendo assim á nossa pergunta inicial – Será que

houve menos publicações de notícias após a implementação da nova lei? Diríamos que antes da

nova lei, houve mais noticias e graças á nova lei, temos menos publicações! Mas, esta construção

da realidade é muito reducionista. Por isso, fomos á procura de mais respostas, formulamos as

seguintes questões:

O que tem sido noticiado acerca do VBG?

Quando o VBG é escolhido como tema de notícia?

Quem são as fontes de informação mais utilizadas na elaboração da notícia

relacionada a VBG

Quais os critérios utilizados pelo jornal na paginação das notícias de VBG

Existe continuidade no tratamento da notícia relacionada a VBG?

Colocamos ainda a seguinte hipótese:

Será que após a publicação da nova lei os jornais deram uma devida importância

na cobertura deste assunto VBG.

Será que após a publicação os jornais deram um tratamento igualitário aos

géneros na cobertura de VBG.

Será que após a implementação da nova lei houve menos publicação de notícias

de VBG.

Será que os jornais dão importância a este assunto só quando as vítimas recorrem

á comunicação social para denunciar ou em caso excepcional.

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Pensamos que, com estas formulações, teremos um bom ponto de partida para a nossa

investigação, deste modo, não desvirtuar-nos-emos do nosso objetivo inicial, assim elas

conduzir-nos-ão a um bom porto.

Então, foi construída ainda uma segunda grelha onde codificamos os itens recolhidos na

1ª grelha repartindo-as segundo os géneros jornalísticos. Como sabemos, o jornalismo é

considerado como um subgénero da literatura, onde estão presentes os vários géneros

jornalísticos como: a reportagem, a notícia, a entrevista, a opinião, entre outros. Mas, antes de

apresentarmos o leitor a segunda grelha contextualizamos-lhe dos seguintes conceitos

jornalísticos, importantes para o seu entendimento:

1. O que são Géneros Jornalísticos

O produto da actividade jornalística é geralmente materializado em textos, que recebem

diferentes nomenclaturas de acordo com sua natureza e objectivos. Uma matéria é resultante de

apuração de vários géneros jornalísticos, incluindo notícias, reportagens e entrevistas. Os

diferentes géneros jornalísticos têm como função primordial veicular a informação, através duma

linguagem clara, precisa, concisa. Segundo, Ana Gradim, a linguagem utilizada nos géneros

jornalísticos deverá reger-se pelo “uso preferencial duma ideia por frase; de um rigoroso

encadeamento lógico entre as ideias explanadas por texto e de uma utilização económica da

linguagem” com o objectivo de informar um maior número possível de pessoas.

a) O que é uma notícia?

Sem dúvida este é o mais comum dos géneros jornalísticos. A notícia é um formato de

divulgação de um acontecimento por meios, jornalísticos. É a matéria-prima do Jornalismo,

normalmente reconhecida como algum dado ou evento socialmente relevante. Uma notícia deve

ser actual e verídica e ter a capacidade de interessar. A notícia é um texto informativo que segue

uma estrutura fixa. Dependendo do jornal para jornal esta estrutura pode ter todos os elementos

ou não. As notícias são constituídas por um “Lead”, que constitui o primeiro parágrafo onde o

leitor encontra respostas às seguintes questões fundamentais:

O quê (o que aconteceu, está ou vai acontecer) Quem (os agentes da acção) Quando (dia da semana e do mês, horas)

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Onde (o local do acontecimento) Como (as circunstâncias) Porquê (os motivos e as razões)

b) O que é uma reportagem?

A reportagem é um conteúdo jornalístico, escrito ou falado, baseado no testemunho

directo dos factos e situações explicadas em palavras e, numa perspectiva actual, em histórias

vividas por pessoas, relacionadas com o seu contexto. A reportagem é uma notícia mais

aprofundada, que pode conter opiniões de terceiros. É o género nobre da actividade jornalística.

c) O que é uma opinião?

O texto de opinião é claramente diferente de todos os outros géneros (notícia, entrevista,

reportagem). Um texto de opinião não tem uma estrutura rígida, pode ser rigoroso com uma forte

análise e argumentos ou pode ser leve e bem-humorado, ou misturar os dois estilos ou ainda

situar-se entre eles. A estrutura do texto de opinião é a mais simples, apenas um título e o corpo

do texto opinativo.

Após esta contextualização de conceitos, o leitor está em condições de perceber a

segunda grelha que divide os itens recolhidos da anterior tabela categorizando-as conforme os

géneros jornalísticos. Aqui está:

Jornal A SemanaGéneros Jornalísticos

Categorias Colocação

Ano Mês Report Not Art. Op.

Social Outros Central Meia Pág.

Nota Rodapé

Lateral

2010 Jan X X XAbr X X XJul X X XJul X X XJul X X 1pagiAgo X X XAgo XNov X

2011 Mar X XAbr X X 2pagiAbr X 1pagiDez X X X X X

2012 Jun X X X*pagi. – Página inteira

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Ao cruzarmos os dados da 1º com a segunda tabela, notamos que dos 14 itens recolhidos

durante os três anos, observamos um total de: 5 reportagens, 7 notícias, 3 artigos de opinião.

Se repararmos bem, embora a disparidade de números de publicação entre notícias e

reportagens não seja significativa, ainda assim, verificamos que há mais publicação de notícias

do que reportagens. Como vimos, anteriormente, a reportagem baseia-se “no testemunho direto

dos factos e situações (…) em histórias vividas por pessoas, relacionadas com o seu contexto.”

Um género que se adequa perfeitamente na apresentação dos factos relativos á VBG, mas

infelizmente, a escolha das informações recaem sobre o formato de notícias. Pensamos que esta

escolha possa se dar por respeito ao código deontológico dos jornalistas. Ora, vejamos o que diz

o código:

“O jornalista deve respeitar os direitos à honra e consideração das pessoas, o

direito ao bom-nome, à imagem e à intimidade da vida pessoal e familiar, excepto quando

estiver em causa o interesse público ou quando a conduta do indivíduo contradiga valores e

princípios que publicamente defende.”

Relembramos que, os veículos de comunicação social têm um papel social, que é o de

trazer para o espaço público determinadas temáticas para o debate público. O compromisso da

comunicação social é com a verdade e com o cidadão. Segundo Alverca (2005), os órgãos de

comunicação social “servem como uma plataforma para denunciar essas agressões (…). Além

disso, os meios de comunicação podem converter-se em mecanismos que ajudam a resolver o

problema, especialmente da vítima e do agressor”. Desta forma, os órgãos de comunicação social

estarão, “contribuindo, para mudanças de mentalidades, bem como denunciando esse fenómeno e

fiscalizando as políticas para o seu enfrentamento”1.

Ciente do papel social e do poder que tem, como entidade fiscalizadora, de poder

colaborar com as instituições para a formação e consciencialização desta e outras temáticas,

poderia trazer-se mais questionamentos, buscar abordagens mais profundas e sérias que não

noticias e explorando mais as reportagens, os artigos quer de opinião, quer de análise trazendo

1 Cunha Fernandes, Isis Cleide. Representação da Violência baseada no género contra a mulher nos jornais de Cabo verde, análise de conteúdo de A Semana, A Nação, Expresso das Ilhas,

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reflexões á volta da temática que podem consciencializar e formar a opinião publica acerca do

assunto.

O nosso jornal, em estudo tem como linha editorial a actualidade, a importância, a

proximidade e o interesse. Ao analisarmos a grelha acima observamos a importância que ela

atribui a esta temática VBG pela forma como estão distribuídos os géneros jornalísticos. Estes

merecem um lugar de destaque de pouca importância cabendo-lhes um espaço de meia página e

notas de rodapé.

Como sabemos, para elaboração de uma notícia até esta chegar como um produto

acabado, ela percorre várias fases, que vão desde a sua selecção, hierarquização e que constituem

as rotinas de produção jornalística. Esta selecção e hierarquização são, muitas vezes resultado de

uma “acção pessoal” do jornalista que no decorrer da sua profissão adquire o “faro para ver quais

as noticias mais importantes e interessantes para os leitores” – são os critérios de noticiabilidade.

Segundo alguns estudiosos ela varia de jornalista para jornalista, de veículo para veiculo

conforme a linha editorial de cada um, etc.

Para percebermos como as notícias são elaboradas, o que tem sido noticiado acerca da

VBG e quando elas entram como tema na agenda dos produtores de notícias, construímos uma 3ª

e 4ª grelha. A 3ª grelha, nos dirá o que foi noticiado acerca da VBG e a 4ª grelha é relativo às

fontes de informação.

3ª grelha - o que tem sido noticiado acerca da VBG

Tipos de crimeReportagens Noticias Artigo Opinião

Tentativa de Homicídio Homicídio OutrosOutros Homicídio OutrosOutros OutrosOutros HomicídioOutros Agressão Sexual

- Homicídio

De acordo com a tabela, VBG é notícia, na maioria das vezes, quando há casos de

homicídio2. Mas como é que esses casos se tornam notícia?

2. Fontes de informação

2 Homicídio é um crime, vem do latim "hominis excidium", e consiste no ato de uma pessoa matar outra. É tido como um crime universal, sendo punido em praticamente todas as culturas.

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Como sabemos, as fontes de informação constituem óptimas ferramentas de trabalho

para o jornalista/jornalismo. Toda e qualquer notícia têm por base as fontes de informação. As

fontes de informação podem ser pessoas, falando por si ou colectivamente, ou documentos

escritos ou audiovisuais, por meio dos quais os jornalistas tomam conhecimento de

informações. Existem diferentes patamares pelos quais a informação chega até um jornalista,

elas dividem-se em:

Fontes Internas

Fontes Externas

a) Fontes Internas – as fontes internas podem ser classificadas como fontes

próximas ou muito próximas, ligadas ao órgão de comunicação que trata a informação. Podem

ser repórteres, correspondentes, colaboradores, arquivos.

b) Fontes Externas - são fontes através dos quais uma informação chega até o órgão

de comunicação e são externas a este órgão, por exemplo: agências noticiosas, entidades

oficiais e não oficiais, os contactos pessoais e o público.

“A regra é sempre identificar a fonte do texto noticioso. Porque desta forma o

jornalista remete para a fonte a informação e dá mais credibilidade à notícia. Desta forma o

leitor saberá quem disse o quê, quem viu, quem esteve presente…Há por vezes necessidade

de não identificar as fontes para protecção das mesmas3.” São as fontes anónimas.

c) Existem vários níveis das fontes de informação:

a) On the record (a fonte é identificada em tudo que ela profere, pode ser publicada)

b) On Background (a fonte não é totalmente identificada, embora sejam dadas pistas

superficiais; há uma reserva na sua identificação)

c) On deep background (a fonte não é totalmente identificada, embora as

informações proferidas possam ser difundidas; há uma reserva total na sua identificação)

d) Off the record (a fonte não pode ser identificada e a informação proferida por ela

também não podem ser difundidas)

3 Manual de Jornalismo Impresso, João Simão

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Como as fontes de informação constituem um papel fundamental na produção

jornalística, o jornal A Semana, também conta com um conjunto de profissionais para a

produção de notícias, tem atualmente 20 colaboradores distribuídos pelas ilhas do Sal, São

Vicente, Santiago e Portugal, 5 correspondentes espalhadas pelas ilhas de Santo Antão, São

Nicolau e município de Santa Catarina.

Então vejamos a tabela seguinte:

Fontes de Informação Tipos de fontes Níveis de FontesMês Data Fonte

InternaFonte Externa

FonteAnonima

On the Record

On background On Deep Backgrd

Off the Record

2010 29/01 X X30/04 X X23/07 X X30/07 X ?06/08 X X12/11 X

2011 18/11 X ?15/03 X X X21/12 X X21/12 X X

2012 29/06 X ?

Segundo os dados acima, notamos que, para a feitura de notícias relacionadas a VBG o

jornal A Semana, aposta fortemente nas fontes internas, ou seja, parte da iniciativa do jornal

fazer a cobertura destes eventos, destacando um profissional para o efeito. Esta iniciativa pode

ser considerada positiva, o que demonstra que as noticias relacionadas a VBG estão na agenda

dos produtores de notícias demonstrando, igualmente, a sua importância.

Notamos que, em nenhum momento foram utlizadas fontes anónimas de protecção às

vítimas, e que ao longo das publicações, pelo menos duas vezes as vítimas recorreram

pessoalmente á denúncia contactando o jornal.

Consideramos positivo o tratamento e uso das informações relativo aos níveis das fontes.

Quando o jornalista recebe uma informação directamente da sua fonte e este permite a sua

publicação, o jornal procede correctamente, na citação das informações, observando as normas

de ética e deontologia da profissão.

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O próximo capítulo tem objectivo analisar os títulos de notícias. A próxima grelha

contabilizará os títulos, analisará o tamanho das letras, as fotos que acompanham cada notícia.

Recorde-se que esta é uma forma de ver a valorização que o jornal atribui a um determinado

tema.

3. O que são Títulos de notícias?

Para além da sua função estética nas páginas dos jornais, ajudando a quebrar a monotonia

das extensas colunas e servindo ao equilíbrio gráfico da página, os títulos anunciam o texto

jornalístico que encabeçam, e são aquilo que em primeiro lugar o leitor apreende quando se

debruça sobre as páginas de um jornal, viajando de título em título até encontrar algo que lhe

prenda a atenção e corresponda os seus interesses quotidianos. Nenhum jornalista desconhece a

importância da arte de titular.

O título é sempre o mais delicado e o mais difícil de obter numa peça jornalística. Um

bom truque consiste em deixá-lo para o fim. Os títulos de notícias devem ter o carácter directo,

informativo, estar relacionado com o assunto do texto, ser original, criativo, prender atenção,

fácil de perceber, e apelativo.

Uma das regras de ouro na constituição dos títulos de notícias é nunca enganar o leitor,

prometer em título mais do que aquilo que se tem para lhe oferecer, pode defraudar, frustrar o

leitor, por esta razão o título sempre reporta o texto jornalístico, ou seja, apresenta vestígios de

informação sobre o qual se escreve.

Segue abaixo a grelha que apresenta os títulos de notícias apresentados pelo nosso jornal

relativamente a VBG:

5ª grelha – Analise dos títulos das noticias

Géneros Títulos Tamanho FotografiaDas Letras Fonte

Reportagem Agente da Policia baleada por ex-companheiro

Grande A cores

Noticia Homem que matou mulher condenado a 17 anos de prisão

Médio Negrito X

Noticia Jovem Julgada por homicídio

Pequeno Simples

Reportagem Violência Domestica entre “Vip’s” do

Grande Preto e branco

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MindeloNoticia Mulher condenada a 12

anosPequeno Simples Preto e branco

Art.º opinião Violência doméstica na 1ªpessoa á guisa de conclusão…espero

Grande

Noticia Mulher acusada de matar marido presa em S. Martinho

Médio Preto e branco

Reportagem Justiça Atrasada Grande Preto e brancoReportagem Lei da Violência

doméstica preocupa juristas - prazos impraticáveis e excessiva

Grande/Médio Preto e Branco

Artigo Violência Domestica assola S. Filipe

Grande

Reportagem Violência Domestica tem empresários a limpar latrina

Grande A cores

Noticia 5 Abusos e agressões sexuais no Sal

Noticia Homicídio de Milena julgado em S.Vicente

Médio Preto e branco

Como podemos observar os títulos são, no geral, informativos e pouco criativos.

Observamos que, através dos títulos, temos notícias de violência cometida pelos dois géneros,

tanto no feminino, tanto no masculino. Vemos também, títulos vagos e generalistas.

Entretanto, os títulos só encontram concorrência nas fotografias. Ou seja, estes dois

elementos são as primeiras manchas gráficas a prender o leitor. No entanto, pela tabela acima

não é o que se verifica, os títulos são pouco chamativos, as fotografias são na maioria, a preto e

branco, grandes, ocupando o espaço do jornal que deu lugar a publicação de matérias de, meias

paginas e notas de rodapés. Ou seja, há uma fraca aposta e consciencialização do jornal do seu

papel social e do poder que tem, como entidade fiscalizadora, de poder colaborar com as

instituições para a formação e consciencialização deste tema como forma de mudar

mentalidades.

Conclusão/ Recomendações

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Durante muito tempo a violência baseada no género foi um fenómeno assistido em

silêncio pela sociedade e pelas instituições e tratado muitas vezes como um crime semipúblico.

Ou seja, um crime no qual é necessária a queixa da pessoa com legitimidade para a exercer (por

norma o ofendido ou seu representante legal ou sucessor). Nos crimes semipúblicos é admissível

a desistência da queixa. Com o estabelecimento da nova lei, que estabelece a VBG como crime

público, ou seja, basta a sua notícia pelas autoridades judiciárias ou policiais, bem como a

denúncia facultativa de qualquer pessoa, para que o crime, mesmo contra a vontade do titular dos

interesses ofendidos, seja denunciado, quer pelas entidades policiais e funcionários públicos

prevendo ainda penas de prisão de 1 a 5 anos ou pena de multa consoante a natureza do crime

praticado.

Na nossa opinião, os órgãos de comunicação social têm um papel social na formação e

reforço da opinião pública pouco colaborou com as instituições, no sentido de consciencializar,

explorando os géneros jornalísticos para a divulgação desta temática. Pensamos que, os

produtores de notícias, poderiam ter publicado mais, serem mais pró-ativos na procura de

questionamentos, de buscar outros ângulos de abordagens mais profundas e sérias trazendo

reflexões á volta da temática.

Relembramos que o objecto da nossa investigação colocaria uma tónica principal sobre as

seguintes questões,

Será que após a publicação da nova lei os jornais deram uma devida importância

na cobertura deste assunto VBG?

Será que após a publicação os jornais deram um tratamento igualitário aos

géneros na cobertura de VBG?

Será que após a implementação da nova lei houve menos publicação de notícias

de VBG?

Entretanto, é de salientar que, a diminuição das publicações podem dever-se á realização

das eleições autárquicas e Presidenciais relativo aos anos 2011/12, o que poderá ter ofuscado a

atenção para a cobertura desta temática. Quanto á importância, este está na ordem do dia mas

precisa ser mais bem explorado suscitando o debate publico. E quanto ao tratamento das notícias

em questão de género, não se verifica desequilíbrios. Em relação á continuidade das notícias não

se dá muita importância. Temos referência de apenas dois casos de continuidade.

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É importante que as instituições responsáveis por esta temática apostem na formação e

sensibilização dos jornalistas para este assunto para que ela se torne visível e contribua para a

mudança de mentalidades e para a igualdade e equidade de género.

FIM

Bibliografia

- PLANO NACIONAL DE COMBATE À VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO, Novembro 2006.- Cartilha do ICIEG “o que precisa saber sobre a Lei de Violência baseada no Género- Cunha Fernandes, Isis Cleide. Representação da Violência baseada no género contra a mulher

nos jornais de Cabo verde, análise de conteúdo de A Semana, A Nação, Expresso das Ilhas, universidade Federal Rio Grande do Sul, porto alegre, 2012.

- Gradim, Ana, Manual de jornalismo.

Webliografia

www.icieg.cv - Instituto cabo-verdiano para a igualdade e equidade do género

www.pgdporto.pt - Site Ministério Publico – Procuradoria Distrital do Porto

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