35
MARTIN W. BAUER GEORGE GASKELL ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA: UMA REVISÃO

ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

MARTIN W. BAUERGEORGE GASKELL

ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA: UMA

REVISÃO

Page 2: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

BAUER, Martin W. e GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um Manual prático. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2002

Page 3: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

A ABORDAGEM A organização de uma análise de conteúdo - Considerações teóricas e textos - Definição e amostragem de unidades de

texto Categorias e codificação - Categorias e categorização - O processo de codificação Qualidade na análise de conteúdo - Coerência: a beleza de um referencial - Transparência durante a documentação - Fidedignidade e Validade - Dilema Análise de conteúdo com auxílio de

computador Forças e fraquezas da análise de conteúdo

Page 4: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

A ENTREVISTA

É base para a maioria das pesquisas sociais;

É um método conveniente e estabelecido de pesquisa social (seja estruturada ou não)

Os pesquisadores utilizam de perguntas sobre a idade, modo de vida, quais os sentimentos dos entrevistados, enfim, pedem que contem ou narrem fatos.

Os textos e as falas, de forma idêntica, dizem mais do que seus autores imaginam.

Page 5: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

MATERIAIS TEXTUAIS Os textos, assim como as falas, referem-

se aos pensamentos, sentimentos, memórias, planos e discussões das pessoas;

Os materiais textuais tendem a ser subestimados pelos pesquisadores sociais;

Dados em forma de texto – para o autor a Word Wilde web (www) , arquivos on-line para jornais, programas de rádio e televisão, oportunizaram a criação dos dados em forma de textos.

Page 6: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

DA ANÁLISE DE CONTEÚDO Questões discutidas pelos

pesquisadores, através da AC:

. a reconstrução de valores sociais, através de colunas de jornais, pode ser alcançada?

. que informação trazem os documentos institucionais?

. a audiência na televisão pública ou comercial, difere?

. ciência e tecnologia, a divulgação em jornal popular ou especializado, diverge?

Page 7: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

DA ANÁLISE DE CONTEÚDO É um método de análise de texto

desenvolvido dentro das ciências sociais empíricas; faz uma ponte entre o formalismo estatístico e a análise qualitativa dos materiais;

É uma técnica híbrida que pode mediar a discussão sobre virtudes e métodos;

é uma técnica para ler e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos, que analisados abrem as portas ao conhecimento de aspectos e fenômenos da vida social de outro modo inacessíveis - OLABUENAGA e

ISPIZÚA (1989),

Page 8: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

DA ANÁLISE DE CONTEÚDO Características :

. reduz a complexidade de uma coleção de textos, abreviando leituras em uma descrição curta de algumas de suas características;

. serve aos serviços de informação em tempo de guerra (AC da propaganda inimiga);

. é uma técnica para produzir conclusões de um texto focal para seu contexto social, de forma objetivada;

. muitas vezes implica em um tratamento estatístico das unidades

Page 9: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

DA ANÁLISE DE CONTEÚDO Objetivos básicos da AC sobre a natureza

tríplice da mediação simbólica (reflexões):

Um símbolo representa o mundo, que remete a uma fonte e faz apelo a um público (a AC é pesquisa de opinião pública com outros meios, pois, permite reconstruir valores atitudes, opiniões, pré-conceitos, etc)

Inferências básicas de uma AC – traçar um perfil ou comparar os perfis para identificar o contexto. Ex: avaliar os motivos de uma pessoa, através de cartas pessoais ou diário. O uso de determinado vocabulário ao atingir um público.

Page 10: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

DA ANÁLISE DE CONTEÚDO

DECISUM:

Vistos, etc. Com base no preceito do venire contra factum proprium, sem adentrar ao meritum causae, concedo a antecipação de tutela pretendida pelo autor, nos termos insertos na peça vestibular, arbitrando astreintes de R$ 300,00/dia em caso de inércia do demandado.

Page 11: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

DA ANÁLISE DE CONTEÚDO Estratégias de pesquisa: (Krippendorff) : . 1º. Construção do corpo de um texto

como um sistema aberto, a fim de verificar tendências. Textos adicionais são sempre acrescentados;

. 2º. Comparações que revelam diferenças que podem ser observadas (notícias em jornais diferentes; fala de um político para diferentes eleitorados, etc);

. 3º. A AC é usada para construir índices (que é um sinal que é casualmente relacionado a outro fenômeno, ou sintoma)

Page 12: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

ONDE HÁ FUMAÇA (ÍNDICE)

HÁ FOGO! (SINTOMA)

Page 13: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

A CONSTRUÇÃO DE ÍNDICES Mudanças no vocabulário são um

índice de valores societais - colunas do tipo “corações solitários” observadas pelo espaço de 100 anos – o pressuposto é que a maneira como as pessoas se descrevem e a seus parceiros ideais é uma expressão do que é desejável em uma sociedade.

A AC pode reconstruir ‘mapas de conhecimento’ à medida que estão corporificados em textos (linguagem usada pelas pessoas para representar o mundo como conhecimento e autoconhecimento)

Page 14: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

Pedido para noivado – Século XIX

“A primeira vez que os meus olhos tiveram a ventura de a ver, minha senhora, senti um sobressalto encantador, que me revelou que vossa excelência havia de decidir a minha sorte.

O meu coração disse-me – eu amo – e todos os esforços que eu fiz para a esquecer, julgando-me indigno do seu amor, foram improfícuos. No canto melodioso das avezinhas, no suave perfume das plantas, em tudo enfim, que é belo, releva os encantos da natureza, eu vejo o suave perfil de V. Ex.ª. Creia V. Ex.ª em toda a sinceridade do meu amor! Foi inspirado por um anjo e por isso mesmo é puro, isento de toda a mácula!

Aceite-o V. Ex.ª e creia que a minha gratidão será eterna”.

Page 15: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

Anúncio em Jornal (atual) “Homem descasado procura...”

Homem de 40 anos, que só gosta de mulher, após casamento de sete anos, mal sucedido afetivamente, vem através deste anúncio, procurar mulher que só goste de homem, para compromisso duradouro, desde que esta preencha certos requisitos:

O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE tenha idade entre 28 e 40 anos, não descartando, evidentemente, aquelas de idade abaixo do limite inferior, descartando as acima do limite superior.

Devem ter um grau razoável de escolaridade, para que não digam, na frente de estranhos: 'menas vezes', 'quando eu si casar', 'pobrema no úter', 'eu já si operei de apênis', 'é de grátis', 'vamo de a pé', 'adoro tar com você' e outras pérolas gramaticais.

Os olhos podem ter qualquer cor, desde que sejam da mesma e olhem para uma só direção. Os dentes, além de extremamente brancos, todos os 32, devem permanecer na boca ao deitar e nunca dormirem mergulhados num copo d'água.

Os seios devem ser firmes, do tamanho de um mamão papaia, cujos mamilos olhem sempre para o céu, quando muito para o purgatório, nunca para o inferno.Devem ter consistência tal que não escapem pelos dedos, como massa de pão.

Page 16: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

A ORGANIZAÇÃO DE UMA AC A AC trabalha tradicionalmente com

materiais textuais escritos, mas, pode ser aplicado a imagens, ou sons.

Tipos de Textos – aqueles que são construídos no processo de pesquisa (transcrições de entrevistas), e os que já foram produzidos para outras finalidades quaisquer (jornais, memorandos, etc)

Materiais Clássicos da AC – são textos escritos que já foram usados para alguns outros propósitos, e que poderão ser manipulados pelo pesquisador

Page 17: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

AMOSTRAGEM DE UNIDADES DE TEXTO A AC emprega, por vezes, uma amostra

aleatória para selecionar seus materiais;

A amostragem aleatória exige uma lista completa de unidades de onde se possa fazer uma seleção (às vezes as listas já existem, ou deverão ser criadas).

As unidades da amostragem são, em regra, definidas fisicamente (um livro, jornal, notícias da televisão, etc)

O tamanho da amostra depende do problema de pesquisa.

Page 18: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

AMOSTRAGEM DE UNIDADES DE TEXTO Krippendorf distingiu os seguintes tipos:

Físicas – são livros, cartas, filmes, etc

Sintáticas – capítulos de um livro, títulos , frases em um jornal, cenas de um filme. A palavra é a unidade mais óbvia.

Proposicionais – são núcleos lógicos de frases; e são desconstruídas em núcleos na forma sujeito/verbo/objeto.

Temáticas (Semânticas) – são definidas como características dos textos que implicam um juízo humano (Ex: cartas que podem ser ‘de amor’)

Page 19: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

CATEGORIA E CODIFICAÇÃO Conceito de Codificação – é um modo

sistemático de comparação, ou um conjunto de questões (códigos) com o qual o codificador trata os materiais e consegue respostas, ou seja, é a classificação dos materiais colhidos na amostra.

A construção de um referencial de codificação é processo interativo, e a AC interpreta o texto apenas à luz do referencial de codificação.

Page 20: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

CATEGORIA E CATEGORIZAÇÃO Cada código, no referencial, possui um

número finito de valores de código, e devem ser exclusivos (para cada unidade é atribuído um único valor em cada código).

Os códigos são independentes um do outro.

A mistura de categorias deve ser evitada, pois, os códigos devem se originar de uma única dimensão.

Por razões estatísticas, atribuem-se números aos valores de código.

Page 21: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

EXEMPLO (artigos de imprensa)

c1 Tamanho (escala ordinal) =

1 = pequeno 2 = médio 3 = grande

c3 Contagem de palavras

(escala de intervalo e proporcional )

100, 165, 367

c2 Formato de notícias (escala categorial)

1 = últimas notícias 2 = reportagem 3 = entrevista 4 = comentário 5 = editorial 6 = revista 7 = outro

Page 22: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

CATEGORIA E CATEGORIZAÇÃO O sentido do número (estatística) varia:

Nas escalas categoriais não possuem significância maior, apenas distinguem;

Nas escalas ordinais preservam uma ordem entre os valores (pequeno < médio < grande)

Nas escalas proporcionais a contagem de palavras para cada artigo constitui uma escala que preserva a diferença entre os valores (um artigo de 165 palavras é 65% maior que um de 100 palavras)

Page 23: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

O PROCESSO DE CODIFICAÇÃO A codificação pode ser feita tanto com

papel e lápis, quanto através do computador.

Se em papel e lápis – o codificador receberá instruções na forma de um livro de codificações, o material textual e as folhas de codificação (página quadriculada com uma célula reservada para cada código). E irá colocar o seu julgamento para cada código/célula. A análise de dados é feita por computador.

Se através de computador – permite ao codificador o julgamento diretamente no computador.

Page 24: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

O PROCESSO DE CODIFICAÇÃO

Page 25: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

QUALIDADE NA ANÁLISE DE CONTEÚDO A metodologia da AC tem como

preocupações-chave a fidedignidade e a validade, a essas o autor acresce a coerência e a transparência.

Coerência – a construção de um referencial de codificação, provém de idéias superiores, que trazem ordem ao referencial, tornando-o internamente coerente e simples, fluindo num único princípio. É aquilo que o autor chama de construção modular (blocos bem estruturados que são usados repetidamente, ex: tipo, gênero, atividade, etc)

Page 26: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

QUALIDADE NA ANÁLISE DE CONTEÚDO Transparência – a documentação detalhada do

processo de codificação assegura uma prestação pública de contas, e serve para que outros pesquisadores possam reconstruir o processo caso queiram imitá-lo.

Fidedignidade – é definida como uma concordância entre intérpretes. Nenhum analista de conteúdo espera perfeita fidedignidade quando estão implicados julgamentos humanos. Depende, portanto, da quantidade de treinamento, das categorias, do referencial de codificação, e do material.

Page 27: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

QUALIDADE NA ANÁLISE DE CONTEÚDO Validação – se refere a até que grau o resultado

representa corretamente o texto, ou seu contexto. Devendo-se garantir que os dados se refiram a palavras usadas no texto, e que a amostra represente o corpo inteiro do texto.

DILEMAS OBSERVADOS: (três)

. Um projeto de pesquisa deverá equilibrar o esforço colocado na amostragem e os procedimentos de codificação (deve permitir tempo suficiente para desenvolver o referencial de codificação, e alçar uma amostra perfeita);

Page 28: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

QUALIDADE NA ANÁLISE DE CONTEÚDO . O espaço de tempo e a complexidade da

codificação (poucas observações por longo período de tempo, ou muitas observações em curto período) - a AC irá preferir amostras prolongadas a procedimentos de codificação complexos (análises longitudinais).

. A fidedignidade e a validade – a AC não pode supor um ‘valor verdadeiro’ do texto que pode sofrer perturbação devido à inexatidão da codificação (valor). Essa interobjetividade protege contra alegação de extravagância e arbitrariedade.

Page 29: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

A AC COM AUXILIO DE COMPUTADOR Correntes básicas anotadas:

. KWOC (keyword out of context) – palavra-chave fora do contexto – classifica palavras singulares em conceitos (agrupa em dicionário)

KWIC (keywords in context) – palavras-chave dentro do contexto – é uma análise estatística de ocorrências freqüentes de duas palavras juntas, semanticamente significantes. Tais programas podem manipular mais ou menos quantidades de textos, para conferir a relevância dos materiais.

Page 30: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

A AC COM AUXILIO DE COMPUTADOR CAQDAS (computer-assisted Qualitative Data

Analysis Software) – software para análise de dados qualitativos com auxilio de computador) – comporta a etiquetação, codificação e a indexação de textos, dando conta por isso da segmentação, ligação, ordenação e reordenação, estruturação e a busca e reapresentação de textos para fins de análise.

Críticas – ambigüidade das palavras (conceitos); distanciamento do objetivo da pesquisa; incapacidade de substituir o codificador humano (o ato de interpretação).

Page 31: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

FORÇAS E FRAQUEZAS DA AC

Vantagens – é sistemática e pública; faz uso de dados brutos que ocorrem naturalmente; o pesquisador pode lidar com grande quantidades de dados; presta-se para dados históricos, podendo construí-los; oferece um conjunto de procedimentos maduros e bem documentados; o pesquisador investe na construção de uma interpretação; é um caminho barato para estabelecer tendências sociais (ao usar dados remanescentes da atividade passada).

Page 32: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

FORÇAS E FRAQUEZAS DA AC Desvantagens – a AC apresenta dados

de nível coletivo (caracterizando algo coletivo); a separação de unidades de análise introduz interpretações inexatas; a codificação automática e computadorizada mostrou-se limitada; tende a focalizar freqüências (descuidando do que é raro ou do que está ausente); a categorização perde a seqüencialidade da linguagem e do texto (o momento em qual algo foi dito pode ser mais importante que o que foi dito);

Page 33: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

CONCLUSÕES DO AUTOR A AC não conseguiu estimular um

interesse acadêmico contínuo, movendo-se para um ‘gueto metodológico’, com ocasionais eclosões de atenção externa na década de 1940, 1970 e 1990.

A AC sofreu as conseqüências de muita pesquisa rápida e nebulosa que deixou a impressão de que poderia provar tudo.

Concepções simplistas, escalas de tempo limitadas e questões de pesquisa insignificantes confinaram a AC a projetos de pequena escala, realizados por estudantes.

Page 34: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

PASSOS NA ANÁLISE DE CONTEÚDO 1. A teoria e as circunstâncias sugerem a seleção de textos específicos;

2. Faça uma amostra caso existirem muitos textos para analisá-los completamente.

3. Construa um referencial de codificação que se ajuste tanto às considerações teóricas, como aos materiais.

4. Faça um teste piloto, revise o referencial de codificação e defina explicitamente as regas de codificação.

Page 35: ANÁLISE DE CONTEÚDO CLÁSSICA

PASSOS NA ANÁLISE DE CONTEÚDO 5. Teste a fidedignidade dos códigos, e sensibilize os codificadores para as ambigüidades.

6. Codifique todos os materiais na amostra, e estabeleça o nível de fidedignidade geral do processo.

7. Construa um arquivo de dados para fins de análise estatística.

8. Faça um folheto incluindo a) o racional para o referencial de codificação b) as distribuições de freqüência de todos os códigos c) a fidedignidade do processo de codificação.