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Faroeste Caboclo – Da música para as telas A análise a seguir tem como objetivo estudar a letra da música “Faroeste Caboclo”, lançada pela banda nacional “Legião Urbana” no álbum “Que País é Esse”, de 1987. A música sem refrão escrita por Renato Russo, virou um filme devido a riqueza de informações contidas em seus 9 minutos de composição. A composição inspirada em Rocky Raccoon, dos Beatles, conta a história de João de Santo Cristo, que ao mudar para Brasília conhece Maria Lúcia e se apaixona. João, porém, é um anti-herói. Nasceu e cresceu em um lugar humilde e teve uma infância difícil. Foi preso diversas vezes, violentado e estuprado. Com os contatos errados, o antigo carpinteiro, virou traficante e mais tarde começou a roubar. O ápice da história é seu duelo com Jeremias, também traficante que deseja e conquista Maria Lúcia. João é atingido por um tiro de seu rival, mas ainda consegue revidar o ataque com uma Winchester 22 trazida pela amada Maria Lúcia. Após a morte dos dois, Maria tira a própria vida. A nossa intenção é analisar situações da música e como elas foram traduzidas para a telona. E, como acontece com toda adaptação, quais foram as divergências e semelhanças entre o que o Renato pensava em transmitir ao escrever a música e o que foi passado ao público pela visão do diretor. A maior divergência entre a música e o filme é a forma que a mensagem é passada ao público. Assim como o próprio público, que foi se modificando de acordo com o tempo. Na música, a linguagem é bem mais subjetiva, ao contrário do filme, que se adequa ao público que necessita de uma abordagem mais explícita e escancarada dos fatos, explorando mais os elementos visuais. Já a maior semelhança é o modo de influenciar as emoções dos espectadores através das melodias. Durante a música podemos sentir o tom da música mudar de acordo com as ações cantadas por Russo. Isso também acontece no filme, que usa bastante da trilha sonora para passar o tom de cada cena. Os personagens mantiveram sua essência, porém suas características passaram da música para o filme através das vestimentas. As características dos três personagens principais: João de Santo Cristo, Maria Lúcia e Jeremias são mostradas de forma bem clara pela visão do diretor do filme. João, o anti-herói é mostrada como o garoto/homem humilde, com roupas simples em todas as cenas em que é referenciado como mocinho, e com roupas mais despojadas, com jaquetas, entre outros, em cenas de mais ação ou em que mostra seu lado não tão bom. Maria Lúcia no filme é uma versão atualizada de sua personagem na música. Suas roupas porém passam sua personalidade feminina, porém forte, através de vestidos e blusas soltas. Já Jeremias, o vilão, é reconhecido instantaneamente quando aparece na tela. A barba por fazer, as joias em excesso e os trajes escuros marcam suas aparições durante todo o filme. Em entrevistas, atores descrevem o filme como uma releitura da música e não uma versão completamente fiel da mesma para o cinema. O diretor, Rene Sampaio a descreve como “uma adaptação da essência da música”. Suas escolhas em relação ao filme se basearam no que ele sentia ao ouvir a música. E essa releitura vem montada no “rock revolução” do final da década de 80. Essa parte do filme foi acompanhada de perto pelos pais de Renato, que fizeram questão de auxiliar no processo criativo de todo o filme.

Análise Intersemiótica - Faroeste Caboclo: Da música para as Telas

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Page 1: Análise Intersemiótica - Faroeste Caboclo: Da música para as Telas

Faroeste Caboclo – Da música para as telas

A análise a seguir tem como objetivo estudar a letra da música “Faroeste Caboclo”,

lançada pela banda nacional “Legião Urbana” no álbum “Que País é Esse”, de 1987. A música

sem refrão escrita por Renato Russo, virou um filme devido a riqueza de informações contidas

em seus 9 minutos de composição.

A composição inspirada em Rocky Raccoon, dos Beatles, conta a história de João de

Santo Cristo, que ao mudar para Brasília conhece Maria Lúcia e se apaixona. João, porém, é um

anti-herói. Nasceu e cresceu em um lugar humilde e teve uma infância difícil. Foi preso

diversas vezes, violentado e estuprado. Com os contatos errados, o antigo carpinteiro, virou

traficante e mais tarde começou a roubar. O ápice da história é seu duelo com Jeremias,

também traficante que deseja e conquista Maria Lúcia. João é atingido por um tiro de seu rival,

mas ainda consegue revidar o ataque com uma Winchester 22 trazida pela amada Maria Lúcia.

Após a morte dos dois, Maria tira a própria vida.

A nossa intenção é analisar situações da música e como elas foram traduzidas para a

telona. E, como acontece com toda adaptação, quais foram as divergências e semelhanças

entre o que o Renato pensava em transmitir ao escrever a música e o que foi passado ao

público pela visão do diretor.

A maior divergência entre a música e o filme é a forma que a mensagem é passada ao

público. Assim como o próprio público, que foi se modificando de acordo com o tempo. Na

música, a linguagem é bem mais subjetiva, ao contrário do filme, que se adequa ao público

que necessita de uma abordagem mais explícita e escancarada dos fatos, explorando mais os

elementos visuais.

Já a maior semelhança é o modo de influenciar as emoções dos espectadores através

das melodias. Durante a música podemos sentir o tom da música mudar de acordo com as

ações cantadas por Russo. Isso também acontece no filme, que usa bastante da trilha sonora

para passar o tom de cada cena.

Os personagens mantiveram sua essência, porém suas características passaram da

música para o filme através das vestimentas. As características dos três personagens

principais: João de Santo Cristo, Maria Lúcia e Jeremias são mostradas de forma bem clara pela

visão do diretor do filme. João, o anti-herói é mostrada como o garoto/homem humilde, com

roupas simples em todas as cenas em que é referenciado como mocinho, e com roupas mais

despojadas, com jaquetas, entre outros, em cenas de mais ação ou em que mostra seu lado

não tão bom. Maria Lúcia no filme é uma versão atualizada de sua personagem na música.

Suas roupas porém passam sua personalidade feminina, porém forte, através de vestidos e

blusas soltas. Já Jeremias, o vilão, é reconhecido instantaneamente quando aparece na tela. A

barba por fazer, as joias em excesso e os trajes escuros marcam suas aparições durante todo o

filme.

Em entrevistas, atores descrevem o filme como uma releitura da música e não uma

versão completamente fiel da mesma para o cinema. O diretor, Rene Sampaio a descreve

como “uma adaptação da essência da música”. Suas escolhas em relação ao filme se basearam

no que ele sentia ao ouvir a música. E essa releitura vem montada no “rock revolução” do final

da década de 80. Essa parte do filme foi acompanhada de perto pelos pais de Renato, que

fizeram questão de auxiliar no processo criativo de todo o filme.

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Para uma análise mais detalhada e, também, para demonstrar como foi essa passagem

da música de 1987 para o filme de 2012/2013, decidimos analisar a última cena do filme, o

duelo.

Algumas mudanças feitas da cena descrita na música e da cena filmada para o cinema

foram realizadas por pura adequação da época em que a mesma seria passada ao público. O

que podemos evidenciar mais é o seguinte.

Como podemos ver nesse trecho da música

“ Quando viu o repórter da televisão

Que deu notícia do duelo na TV

Dizendo a hora e o local e a razão

No sábado então, às duas horas,

Todo o povo sem demora foi lá só para assistir”

a grande sacada da cena era a confusão da multidão e o fato de acontecer um duelo, o que

naquela época, ao contrário da atualidade era coisa rara. Hoje em dia, um duelo não chamaria

tanto a atenção da mídia, a menos que fosse com pessoas de grande poder aquisitivo ou de

grande destaque na mídia. A violência hoje em dia não é novidade na mídia. Apesar dessa

releitura atual, o filme se passa no mesmo ano descrito na música, mostrando personagens

carregados de emoção, que vivem na época pós ditadura militar.

A mesma cena foi parar nas telas de forma menos dramática, mostrando os dois rivais

se enfrentando no meio do deserto e Maria Lúcia defendendo seu verdadeiro amor, João de

Santo Cristo, e posteriormente morrendo pelas mãos de Jeremias, de quem estava grávida.