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Antropologia Filosófica e Educação – ED 325 Prof. Dr. Jonas Bach Jr Departamento de História e Filosofia da Educação - FE-Unicamp (PNPD/Capes)

Antropologia Filosófica e Educação - Prof. Dr. Jonas Bach Jr

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Antropologia Filosófica e Educação – ED 325

Prof. Dr. Jonas Bach Jr

Departamento de História e Filosofia da Educação - FE-Unicamp (PNPD/Capes)

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As quatro questões kantianas:

O que posso saber? – teoria do conhecimento

O que devo fazer? – teoria do agir ético

O que me é permitido esperar? – filosofia da religião

O que é o homem? – Antropologia filosófica

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Max Scheler (1874-1928)

- fundador da Antropologia Filosófica

- fenomenologia

- Ser humano: corpo, alma e espírito

- “A posição do homem no cosmos”

- “Visão filosófica de mundo”

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Weltanschauung

Cosmovisão

Antropologia

Filosófica

Pedagogia

Prática educativa

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Wilhelm Dilthey (1833-1911)

- Ciências do Espírito

- Weltanschauungen: cosmovisões

- hermenêutica

- “Filosofia e Educação”

- “Tipos de Concepção do Mundo”

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Cosmovisão

Concepção de Mundo

Weltanschauung

Visão de Mundo

Mundividência

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Dilthey : tipos de cosmovisões

1 A vida - A raiz última da mundividência é a vida. 2. A experiência da vida - Da reflexão sobre a vida nasce a experiência da vida. 3. O enigma da vida – O rosto da vida, cheio de contradições, vitalidade e lei, razão e arbitrariedade, mostrando sempre aspectos novos e, embora talvez clara nos pormenores, inteiramente enigmática na totalidade. 4. Lei da formação das concepções do mundo. Repetição e a ligação de tais experiências, surgem as nossas disposições anímicas em face da vida.

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Dilthey : tipos de cosmovisões 5. A estrutura da concepção do mundo. As mundividências contêm a mesma estrutura, uma imagem cósmica, de onde se decidem as questões acerca do significado e do sentido da vida e daí se deduzem o ideal, o sumo bem, os princípios supremos da conduta de vida. 6. A multiplicidade das concepções do mundo. As mundividências desenvolvem-se em condições diversas. A vida que brota em condições tão especializadas é muito diversificada, e assim o é também o próprio homem, que apreende a vida.

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Monismo: idealismo realista

O homem é: Corpo, Alma e Espírito

Pedagogia Waldorf

Escolas Waldorf

Rudolf Steiner (1861-1925)

Weltanschauung

Cosmovisão

Antropologia

Filosófica

Pedagogia

Prática

educativa

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Antropologia Filosófica

Métodos:

Empírico-formal: modelo nas ciências da natureza

Dialético: modelos nas ciências da história

Fenomenológico: modelo nas ciências do psiquismo

Hermenêutica: modelo nas ciências da cultura

Ontológico: modelo na Antropologia clássica

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Antropologia Filosófica

Três planos de compreensão

Pré-compreensão: tem lugar num determinado contexto histórico-cultural onde

predomina imagem de homem

Compreensão explicativa: ciências do homem, explicação científica, obedece

determinada metodologia

Compreensão filosófica: (ou transcendental)

Transcendental (sentido clássico): considera o objeto enquanto ser,

transcende metodologia

Transcendental (sentido moderno, kantiano): conhecimento como condição

de possibilidade (inteligibilidade), dar razão ao próprio ser, formula resposta à

pergunta antropológica, originalidade da experiência filosófica = o objeto é o sujeito

da experiência

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Antropologia Filosófica

1 Categorias antropológicas

Pergunta antropológica faz emergir subjetividade, autocompreensão, princípio

socrático; não é saber sobre sujeito, é saber do sujeito; atualização de um saber

sobre si mesmo

2 Experiência antropológica

Não se refere à subjetividade abstrata Eu penso, é experiência situada, na

finitude da situação o Homem se torna objeto de si mesmo. Experiência é

interpenetração de presenças:

Presença no mundo (ser-no-mundo) Natureza

Ser-com-os-outros Sociedade

Presença a si mesmo Eu

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Antropologia Filosófica

3 Itinerário metodológico:

Objeto (só na compreensão filosófica o sujeito é tematizado como sujeito)

Conceito (forma da categoria, do conceito que exprime o objeto como ser,

no domínio da sua inteligibilidade última; compreensão filosófica = concretude

conceptual ontológica)

Discurso: movimento lógico, articulação dialética

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Antropologia Filosófica

4 Estrutura e mediação do sujeito

Mediação empírica: pré-compreensão, a Natureza é o mundo da vida, o sujeito

da mediação empírica é o Eu da linguagem ordinária,

Mediação abstrata: compreensão explicativa, o sujeito da mediação abstrata é

o sujeito metodologicamente abstrato do conhecimento científico

Mediação transcendental: compreensão filosófica, objetivação do sujeito

como sujeito; o sujeito da mediação transcendental é o Eu penso da tradição

filosófica na sua egoidade transcendental ou na sua subjetividade absoluta... o

sujeito como instituidor de um logos no qual ele dá razão de si mesmo...

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Antropologia Filosófica

5 Estrutura da conceptualização filosófica

Processo metodologicamente ordenado de construção das categorias

1º momento: determinação do objeto, aporético (aporia: perplexidade) = o que é?

Aporética histórica: recuperação temática do problema, acompanha linhas de

evolução, rememoração

Aporética crítica: pergunta se refere a contexto problemático do saber do

homem sobre si mesmo, atualmente, na pré-compreensão e compreensão

explicativa

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Antropologia Filosófica

5 Estrutura da conceptualização filosófica

2º momento: elaboração da categoria (parte do empírico, passa pelo sujeito

abstrato, para alcançar o nível do conceito ontológico, que é o sujeito do discurso

sobre o ser do homem)

3º momento: dialética, o discurso sobre as categorias

1 – princípio da limitação eidética : conhecimento intelectual não intuitivo,

delimitado pelo conceito intelectual

2 – princípio da ilimitação tética : infinidade do ser, além do horizonte

3 – princípio da totalização: alvo na igualdade inteligível entre o objeto e o ser...

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6 Linhas fundamentais da Antropologia filosófica

Conceitos de Estrutura

a) Estrutura somática (categoria do corpo próprio)

b) Estrutura psíquica (categoria do psiquismo)

c) Estrutura espiritual (categoria do espírito)

Conceitos de Relação

a) Relação com o mundo (categoria de objetividade)

b) Relação com o outro (categoria de intersubjetividade)

c) Relação com o Absoluto (categoria da Transcendência)

Conceitos de Unidade

a) Unidade como unificação (categoria de realização)

b) Unidade como ser-uno (categoria de essência)

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Como unidade, o homem é pessoa. A pessoa aparece, assim,

como ato total, que opera a síntese entre as categorias de

estrutura e as categorias de relação através do seu

autodesenvolvimento existencial, ou seja, da sua

autorrealização.

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CATEGORIA DO CORPO PRÓPRIO (corporalidade)

- não enquanto entidade físico-biológica

- dimensão constitutiva e expressiva do ser do homem

- a simbólica do corpo: fases de simbolização do corpo (grega, romana, cristã-

medieval, moderno-burguesa, cultura contemporânea)

- ponto de partida da Antropologia Filosófica

- autocompreensão do Homem: núcleo na compreensão da condição corporal

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Pré-compreensão da corporalidade

1 - como substância material (totalidade física) Körper

2 - como organismo (totalidade biológica) Körper

3 - como corpo próprio (totalidade intencional) Leib

Autoexpressão do sujeito (Eu corporal)

1 e 2 – o homem é seu corpo, como o animal

3 – o homem é e tem seu corpo próprio, não só identidade, lhe dá intencionalidade

que transcende o nível do físico e do biológico; corpo vivido no sentido da vida

intencional

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A presença no mundo através do corpo

Presença natural (estar-aí) – passivo (espaço-tempo físico e biológico do seu

corpo)

Presença intencional (ser-aí) – ativo (espaço-tempo humano, do sujeito:

psicológico, social e cultural).

Corpo próprio: lugar fundamental do espaço propriamente humano, evento

fundamental do tempo propriamente humano

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Reestruturação do espaço-tempo físico-biológico

- onde se forma a imagem do corpo próprio, o espaço-tempo humano se estrutura e se

significa como postura do corpo (espaço) e como ritmo do corpo (tempo)

Reestruturação do espaço-tempo psíquico

- presença do corpo próprio na ordem da afetividade, espaço-tempo humano significado

através do sentimento, da emoção, da imagem.

Reestruturação do espaço-tempo social

- comunicação do corpo próprio pelo sinal, gesto ou linguagem

Reestruturação do espaço-tempo cultural

- modelo corporal regulador da Gestalt do corpo em certa cultura (ginástica, conduta

interpessoal, jogo, refeição, rito, etiqueta, moda...)

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COMPREENSÃO FILOSÓFICA TRANSCENDENTAL DO CORPO

Dualismo alma e corpo

1 versão religiosa: dualismo órfico, pitagórico, gnóstico e maniqueísta

2 versão filosófica: dualismo platônico, dualismo cartesiano

3 versão bíblico-cristã: implica em uma desontologização da oposição alma-corpo e

sua transposição numa perspectiva moral e soteriológica

4 versão científica: dualidade alma-corpo explicada por esquemas reducionistas

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COMPREENSÃO FILOSÓFICA TRANSCENDENTAL DO CORPO

Aporética crítica: Oposição entre sujeito interrogante e corpo objeto

Duas direções do estar-no-mundo: mundo dos objetos e interioridade do sujeito

(corpo assumido no âmbito da intencionalidade) = possibilidade de coisificação e

espiritualização do corpo

Corpo próprio: ser-no-mundo, aberto à objetividade da natureza e suprassumido na

identidade do Eu.

Campo de expressão do Eu, desde a percepção mais simples até a prolação dos

sinais. Assim, o eidos do corpo deve ser afirmado como estruturalmente

constitutivo da essência do Eu.

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Categoria do Psiquismo

Formulações clássicas do problema:

Psyché (alma) e Soma (corpo)

Psyché (alma) e Nous (intelecto)

Psyché (alma) e Pneuma (espírito)

Esquema Dual Esquema Triádico

Relação corpo e alma Relação corpo, alma e espírito

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PRÉ-COMPREENSÃO do PSIQUISMO

Presença corporal: imediata (aqui e agora no mundo)

Presença anímica: mediata (através da percepção e do desejo)

Corpo: presença natural, estar-no-mundo

Alma: presença intencional, ser-no-mundo (constituição de um mundo interior)

O ser humano plasma a figura interior, o Eu psíquico ou psicológico

Eu: centro da interioridade, da consciência

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PRÉ-COMPREENSÃO do PSIQUISMO

Captação do mundo exterior e sua tradução em dois eixos: o imaginário e o afetivo

(eixo da representação e da pulsão)

Eu consciente lida com raízes inconscientes (estados oníricos e paranormais)

No nível do psíquico, o espaço-tempo é submetido a um movimento de

interiorização: a origem das suas coordenadas não é mais o corpo, situado na

exterioridade do mundo, mas o Eu que emerge como polo do mundo interior.

No âmbito anímico, delinea-se a identidade do sujeito, o “sentimento-de-si”

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COMPREENSÃO EXPLICATIVA DO PSIQUISMO

Psicologia = ciência da alma

Com modelo epistemológico empírico-formal, torna-se psicologia experimental,

onde não há lugar para a ideia de alma.

Diversidade de métodos e modelos: “psicologias”

Behavorismo: opera exclusivamente como esquema estímulo-resposta, exclui toda

descrição dos estados interiores do sujeito.

Impossibilidade de total objetivação da vida psíquica, impossibilidade da eliminação

do sujeito

Caráter abstrato do sujeito que segue prescrição metodológica

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COMPREENSÃO FILOSÓFICA (TRANSCENDENTAL DO PSIQUISMO)

Aporética histórica da alma (psyché ou anima)

Filosofia clássica

Tradição bíblico-cristã

Racionalismo e empirismo moderno

Psicologia

Aporética crítica

Tensão ou oposição entre o psíquico e o somático, entre o psíquico e o noético

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COMPREENSÃO FILOSÓFICA (TRANSCENDENTAL DO PSIQUISMO)

O eidos do psiquismo se define por esta posição mediadora entre a presença

imediata no mundo pelo “corpo próprio” e a interioridade absoluta (ou a presença

de si a si mesmo) pelo espírito.

O psíquico se organiza segundo um espaço-tempo que não coincide com o espaço-

tempo físico-biológico, ao qual está ligado o corpo, mas tem suas dimensões e seu

ritmo próprios.

Tempo psíquico: não mensurável (não matematizável), estruturado em ritmos

distintos de intensidade vivida, constitui uma “duração” (durée)

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COMPREENSÃO FILOSÓFICA (TRANSCENDENTAL DO PSIQUISMO)

Momento tético: “o que é o homem?” = oposição entre a unidade do Eu que se

interroga sobre si mesmo e a pluralidade das formas de consciência psicológica

Estrutura do psiquismo: o sujeito exprimindo-se na forma de um Eu psicológico,

unificador de vivências, estados e comportamentos.

O espaço-tempo se interioriza e o tempo tende a prevalecer na medida em que o

mundo humano, como mundo interior, se distende entre o que foi e o que será. A

consciência interior do tempo constitui-se entre a retenção e a protensão.